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Nuevo mundo mundos nuevos

Nouveau monde mondes nouveaux - New World New


Worlds
Débats | 2024

“No nosso mesmo Brasil mil exemplos encontrei”: as


províncias do Brasil e a experiência insurgente
(1817-1850)
“In our same Brazil, a thousand examples were found”: the provinces of
Brazil and the insurgent experience (1817-1850)

Murillo Dias Winter

Edição electrónica
URL: https://journals.openedition.org/nuevomundo/94679
DOI: 10.4000/nuevomundo.94679
ISSN: 1626-0252

Editora
Mondes Américains

Este documento é oferecido por École des hautes études en sciences sociales (EHESS)

Refêrencia eletrónica
Murillo Dias Winter, «“No nosso mesmo Brasil mil exemplos encontrei”: as províncias do Brasil e a
experiência insurgente (1817-1850)», Nuevo Mundo Mundos Nuevos [Online], Debates, posto online no
dia 18 dezembro 2023, consultado o 27 fevereiro 2024. URL: http://journals.openedition.org/
nuevomundo/94679 ; DOI: https://doi.org/10.4000/nuevomundo.94679

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“No nosso mesmo Brasil mil exemplos


encontrei”: as províncias do Brasil e a
experiência insurgente (1817-1850)
“In our same Brazil, a thousand examples were found”: the provinces of
Brazil and the insurgent experience (1817-1850)

Murillo Dias Winter

NOTA DO AUTOR
Essa pesquisa conta com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo (FAPESP), processo n. 2021/01011-2.

1 Forte de São João Batista do Brum, Recife, Pernambuco, 10 de fevereiro de 1838. Pedro
Boticário (1799-1850), liderança do movimento farroupilha no Rio Grande do Sul,
através de uma carta para um correligionário, celebrava as notícias que havia recebido.
Mesmo no cárcere, era otimista: “Não penseis, meu amigo, que eu me entreguei à dor e
ao abatimento. Sentimentos mais nobres ocuparam a minha alma. Na História antiga e
moderna, no nosso mesmo Brasil, mil exemplos encontrei que me inspiram coragem
para suportar os furores da tirania”. As lições vinham da luta nas províncias: “A guerra
no Pará continua”, “Pernambuco, que é a sede dos tiranos, já da cidade marchou forças
para conter os matutos” e “A causa dos livres na Bahia prospera”. O preso destacou
alguns conceitos-chave, “Eu invoquei os nomes sagrados”, como elementos necessários
para a vitória de sua causa: “Da união, da nossa Pátria; pois em todo o Brasil, o trono da
tirania vacila”. 2 Boticário apresenta uma visão ampla e integrada dos eventos. Ainda
que a sua causa fosse a da República Riograndense, criada dois anos antes, os conflitos
de outras partes eram tomados como importantes e que, em união, poderiam combater
um inimigo comum: a tirania do Império do Brasil. Portanto, os personagens desses
movimentos de insurgência, ao compartilharem seus exemplos, estariam mais perto de
seus objetivos.

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2 Neste trabalho, tenho como objeto compreender as conexões entre as capitanias/


províncias da Bahia, Cisplatina, Grão-Pará, Pernambuco e Rio Grande do Sul, desde 1817
até 1850, na construção do que nomeio como uma "experiência insurgente"3, ou seja, o
resultado do encontro de aprendizados e experiências de contestação à ordem
ocorridos no Brasil na primeira metade do século XIX e seus efeitos políticos. Em
importantes contribuições que ajudaram a mudar a forma de olhar para as revoltas do
século XIX, ressaltando seus elementos populares, Marcus Carvalho e Matthias
Assunção, ao analisar na longa duração esses movimentos de contestação à ordem
vigente, explicando que foram produzidas experiências envolvendo personagens que
lutaram em mais de uma revolta ou até mesmo através do relato de suas vivências a
conhecidos ou às gerações mais novas, apontando para a recuperação e
reinterpretações desses eventos em outros posteriores. Todavia, esses trabalhos
observaram essa experiência através da repetição de insurgências em um mesmo
espaço, nesses casos específicos em Pernambuco4 e no Maranhão 5, respectivamente.
Meu objetivo é, a partir desses esforços, investigar como os movimentos de contestação
política e guerra civil que ocorreram em diferentes locais, ao dividirem vivências e
lições, ajudaram a criar um espaço compartilhado e uma linguagem política6 comum
que forneceu elementos para a construção do Império do Brasil.
3 Para tanto, considero não apenas as variadas formas e intensidades de interações
possíveis ocorridas entre Bahia, Cisplatina, Grão-Pará, Pernambuco e Rio Grande do Sul,
mas, sobretudo, como esses eventos e processos ocorridos em diferentes espaços e
tempos tocavam uns aos outros concretamente, eram modificados e, dessa maneira,
ajudavam a criar, a partir da diversidade, uma experiência única, uma experiência
insurgente.7 Assim, é preciso reconhecer na longa duração a historicidade destes
espaços nas dinâmicas territoriais da América portuguesa e do Brasil. Nesse sentido, as
capitanias de Pernambuco e Bahia destacam-se por serem partes importantes dos
domínios lusitanos na América desde o início da colonização e fundamentais na
dinâmica territorial e econômica imperial portuguesa.8 Caso mais emblemático destas
mudanças é do Grão-Pará. O Estado do Maranhão foi criado em 1621, e a partir da
administração pombalina, passou a ser denominado Estado do Grão-Pará e Maranhão.
Na década de 1770, surgem duas unidades separadas, o Estado do Grão-Pará e Rio Negro
e o Estado do Maranhão e Piauí.9 Ao Sul, a ocupação da região é tardia em relação às
demais e surge em função da fronteira com a América hispânica e, apenas, no ano de
1807 é criada a capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul.10 Já a Cisplatina é criada
em 1821, no bojo dos movimentos liberais, e em 1828, como parte do Tratado
Preliminar de Paz, deixa de ser posse brasileira.11
4 Uma dinâmica com ritmos, temporalidades e espacialidades desiguais, formando um
complexo movimento de avanços e recuos, negociações e disputas. Entre os anos de
1817 e 1850, estes locais vivenciaram parte dos conflitos mais agudos do período e que,
quando pacificados, de acordo com Roderick Barman, significaram o triunfo do ideal de
Estado-Nação no Brasil.12 Em um período caracterizado pela convulsão social, pelas
incertezas em relação ao futuro e pela politização dos militares13, as frequentes e
importantes interações entre Bahia, Cisplatina, Grão-Pará, Pernambuco e Rio Grande do
Sul construíram uma conjuntura belicosa que ultrapassou os seus próprios limites
regionais. Esse processo pode ser dividido em dois momentos de conflitos: aqueles
ligados ao processo de independência e todo o Primeiro Reinado (1822-1831) e de
consolidação (1831-1850) do Brasil como um império independente. As guerras de

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independência, ocorridas no Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Cisplatina e Bahia, entre


1822 e 1824, como destaca João Paulo Pimenta, envolveram uma parte significativa do
território, da população e da economia brasileira.14 As batalhas representaram a
combinação de interesses regionais, a adesão ao projeto brasileiro ou a manutenção dos
vínculos com Portugal e eventuais vantagens econômicas e políticas para esses grupos
de interesses localizados, além das dinâmicas imperiais do projeto de uma monarquia
constitucional centralizada no Rio de Janeiro. Elas foram parte não apenas do processo
de separação política entre Brasil e Portugal, mas também da construção do novo
Estado e da nova nação. Em 1825, o Brasil envolveu-se na Guerra da Cisplatina, um
conflito emblemático, pois foi a última guerra de independência na América do Sul e, ao
mesmo tempo, a primeira guerra internacional do continente. Foi finalizada em 1828
com o acordo que deu origem à República Oriental do Uruguai. Esse conflito contribuiu
para a intensificação de uma crise política e financeira no Brasil, aumentando a pressão
sobre D. Pedro, que culminaria com a sua abdicação em 1831.
5 O segundo período, marcado, sobretudo, pelo intervalo de nove anos entre a abdicação
do Trono por D. Pedro I em 1831 e o golpe da Maioridade em 1840, quando foi
antecipado para os 15 anos a idade legal para D. Pedro II assumir o trono com o objetivo
de pacificar a complexa situação política brasileira, foi de guerra civil. Nesse período,
em absolutamente todas as províncias do Brasil, sem exceção, aconteceram motins
militares, revoltas populares e guerras civis. Não raro, cada província vivenciou isso
mais de uma vez ou mais de uma modalidade desses elementos citados.15 Ainda assim,
quatro movimentos tiveram maior intensidade e ofereceram riscos verdadeiros de
fragmentação política. Diferentes dos demais, especialmente, as regiões periféricas
apresentavam projetos de futuro que contestavam a autoridade central do Brasil
Império por meio de alternativas mais populares, como a Cabanagem (1835-1840) e a
Balaiada (1838-1841), ocorridas no Grão-Pará e no Maranhão, respectivamente, até a
Guerra dos Farrapos (1835-1845) liderada por latifundiários do Rio Grande do Sul e a
Sabinada (1837-1838), conduzida por uma classe média descontente na Bahia. Mesmo
derrotadas, essas insurgências criaram um repertório comum de experiências,
vocabulário e ações políticas que, como veremos, será fundamental na construção do
estado e da nação no Brasil. A sua pacificação iniciaria a consolidação e o apogeu do
Império nas décadas seguintes.
6 A historicidade e complexidade da formação territorial dos espaços analisados, somada
aos diferentes conflitos nestes locais e suas ligações uns com os outros, são reveladoras
de uma parte pouco explorada do intricado processo de formação do Estado e da nação
no Brasil: as conexões entre os movimentos de guerra civil. Como se sabe, a construção
do Antigo Regime português na América foi resultado de um complexo processo com
interesses, ritmos e interações desiguais. Entre outras razões, como resultado, a
América portuguesa foi constituída como um mosaico, composto por múltiplas e
compósitas peças que, em processo de politização frente à crise desse mesmo sistema,
indicavam diversas alternativas políticas e possibilidades de futuro, não raramente
conflitantes umas com as outras.16 Com base nestas contribuições historiográficas e
dando continuidade a elas, acrescento a guerra civil como parte fundamental na
elaboração e reelaboração das identidades políticas portadoras destes diferentes
projetos de tipo nacional. Acredito que as guerras civis são igualmente parte do
desenvolvimento da modernidade, ou seja, uma manifestação e radicalização das novas
formas de representação política, do desenvolvimento da cena pública e seus debates, e

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do confronto de ideias e projetos que caracterizou o processo de independência e de


formação do Estado e da nação no mundo ibero-americano.17

O desenvolvimento da modernidade no Atlântico


ibérico e as revoltas no Brasil
7 Como define Reinhart Koselleck, entre a segunda metade do século XVIII e as primeiras
décadas do século XIX, a Europa central, passou por uma série de profundas mudanças
simbólicas, políticas e culturais. Essa transformação teve implicações múltiplas,
trazendo consigo um reajuste nas maneiras de conceber o tempo, com suas novas
vocações presentista e futurista, o que alterou as realidades políticas e sociais.18 O
Atlântico ibérico, em particular, a partir das invasões napoleônicas, da prisão da família
Real espanhola e da fuga da Coroa lusitana para a América, também entrou nesse
processo e passou a sentir mais intensamente a crise, as mudanças políticas e as novas
formas de olhar, sentir e medir o tempo. Javier Fernández Sebastián sintetiza que a
crise monárquica ibérica, em suas duas manifestações, foi um catalisador das mudanças
já em andamento e fundamental para o crescente desenvolvimento da consciência de
crise. Dadas as circunstâncias políticas e sociais excepcionais que atravessavam, as
experiências anteriores serviam muito pouco, sendo necessário improvisar saídas
imaginativas para a crise política e fixar o olhar para o futuro.19 Esse futuro, pintado
como grandioso e promissor pelo discurso revolucionário, ao que tudo indica, aos olhos
da maioria da população e dos governantes, aparecia como incerto e, inclusive,
ameaçador, repercutindo na cena pública em transformação. Como exemplificado pelo
próprio redator do Diário do Rio de Janeiro, que alertava em 1838 que "o Brasil está em
crise e que uma violenta tempestade ameaça o seu futuro. A época de sangue começa
agora. Nossas tristes previsões se vão, para grande miséria nossa, realizando".20
8 Nesse sentido, acredito que os conflitos bélicos, sobretudo as guerras fratricidas, são,
por um lado, igualmente manifestação e radicalização do desenvolvimento da cena
pública moderna e seus debates. Segundo Clément Thibaud, o papel central dos
conflitos armados na construção das nações no continente americano deu-se porque se
tratava de um combate de opiniões que tomou forma de uma guerra civil.21 Por outro
lado, compreendo essas guerras civis como elemento indissociável das disputas de
projetos de futuro e da reelaboração das práticas políticas que caracterizaram a
modernidade no Atlântico ibérico. Ou seja, como Annick Lempériere, ao apontar para a
necessidade de estudar as guerras nos processos de independência na América,
sintetiza: "las guerras son inseparables del problema político interno que estuvo en su
origen y que, a su vez, evolucionó sin cesar debido a su enlazamiento con las dinámicas
bélicas".22
9 Apenas recentemente as guerras civis ganharam maior destaque na historiografia sobre
a formação do Estado e da Nação no Brasil. Em geral, desde o processo de
independência, passando pela criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em
1838, até meados do século XIX, a narrativa enfatizou mais as continuidades do que as
rupturas e criou um discurso de ordem e paz. Em obras muitas vezes patrocinadas pelo
governo imperial, justificava-se a legitimidade do Império do Brasil, justamente, na
continuidade dos Bragança através de um caminho pré-determinado e na ideia de uma
transição pacífica, sem movimentos bruscos e de ruptura, uma evolução natural até a
emancipação e maioridade brasileira.23 O que ofereceu igualmente subsídios para a

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criação de uma auto imagem, ainda hoje aceita, de um país pacífico, sem grandes
eventos belicosos e de contestação tido como revolucionários. No início do século XX,
autores como Manuel de Oliveira Lima questionaram aquilo que era definido como um
“desquite amigável entre dois reinos”24, realçando que havia rusgas e diferenças, ainda
assim era sublinhado que os desacordos não haviam significado algum tipo de violência
e guerra civil.
10 Importantes contribuições seguiram nas primeiras décadas do século XX. Entre elas as
reflexões de autores, como Caio Prado Junior e Sérgio Buarque de Holanda, que a partir
de pontos diferentes demonstraram em comum a inexistência de um sentimento
nacional brasileiro já formado que oferecesse subsídios para a independência do Brasil
e para a posterior construção do Estado e da nação.25 A ênfase na dimensão bélica e das
guerras nesse processo de formação é destacada no trabalho de José Honório Rodrigues,
porém o trabalho apresenta um grande anacronismo enquadrando esse conflito dentro
de uma visão nacionalista da guerra, descrita como um confronto entre dois blocos
únicos, brasileiros contra portugueses. Por outro lado, há a constatação da ideia de que
o Estado não é demiurgo da nação, com uma pluralidade de estudos sobre as mais
variadas províncias na variedade identitária e política do mosaico dos domínios lusos
na América e, assim, destacando-se a necessidade de compreender as múltiplas formas
que estas partes se articularam com o todo e os processos nem sempre pacíficos entre
estas diferentes partes.
11 É nesse sentido que João Paulo Pimenta demonstra a articulação da América portuguesa
e do Brasil com as alterações ocorridas no mundo ocidental entre o final do século XVIII
e início do século XIX. Esse conjunto de transformações, em que se destacam a crise do
Antigo Regime, as revoluções e os movimentos de independência, as guerras civis e a
formação de Estados nacionais quando apreendidos, lidos, reinterpretados nos
diferentes locais em convulsão política ofereciam padrões de aprendizado e influências,
as informações daquilo que evitar e o que poderia ser repetido em outros locais para
superar a crise política. Ou seja, as experiências advindas de outros espaços, cruzadas,
reelaboradas e transformadas em conhecimento e prática política nos diferentes locais
do mundo ocidental, ajudaram a construir uma experiência comum, um “espaço de
experiência revolucionário moderno” no qual o Brasil se inseria. Entre estes diversos
fatores que compõe essa experiência revolucionária moderna, me volto para um em
especial: a maneira que as guerras de independência do Brasil e as disputas bélicas do
Período Regencial (1831-1840) compunham parte uma dinâmica mundial de surgimento
da guerra moderna.26 Assim, o Brasil, com suas semelhanças e particularidades, faria
parte do advento da modernidade e, portanto, integradas às grandes transformações
que ocorriam naquele momento no mundo ocidental.
12 Como explica David Bell, as Guerras Napoleônicas não produziram apenas uma escalada
da violência e o crescimento vertiginoso dos contingentes militares, seu feito mais
significativo foi a profunda transformação na “cultura de guerra”. Os antigos
confrontos travados em campos de batalha bem definidos, com símbolos e hierarquias
marcadas pela nobreza, seu distanciamento dos ritos e da vida cotidiana vão sendo
rapidamente substituídos por guerras em um novo escopo e intensidade, marcados
pelas dinâmicas políticas e ideológicas em transformação, em que se borram os limites
entre combatentes e não combatentes e as formas de combate se tornam mais
irregulares. Em outras palavras, a guerra agora não era mais travada por alguns
indivíduos escolhidos e treinados profissionalmente através das longínquas tradições

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beligerantes, era lutada por cidadãos comuns, anteriormente civis, que eram
arregimentados para lutar de maneira brutal em nome (ou contra) os projetos políticos
de futuro que surgiam na Era das Revoluções. Esta associação entre guerra e política
contribuiu para a radicalização da violência e para a crescente militarização das
sociedades, que eram atravessadas e mobilizadas em direção a um engajamento total no
confronto que também influenciava a mais esferas da vida política, economica e social.27
13 Nesse sentido, Jeremy Adelman argumenta que o processo político de crise do Antigo
Regime e as Guerras Napoleônicas, especialmente a invasão da península ibérica,
produziram, a partir de 1808, um movimento concêntrico de violência no mundo
hispano-americano: as disputas imperiais desencadeando guerras dentro de outras
guerras e revoluções dentro de revoluções. A instabilidade e a luta acerca da soberania
e do poder fez com que todos os envolvidos buscassem diferentes medidas para a sua
superação, o que incluía a guerra civil, que se somava a outras improvisações e
inovações institucionais da época (como a liberdade de imprensa, o desenvolvimento
dos espaços públicos, e as novas práticas de representação) como características de uma
vida política na modernidade.28 Diante de um futuro que se abria, a guerra é tanto um
agente de mudança, que causa a fragmentação, politização, reorganização e
militarização do espaço imperial quanto o espelho da mudança revolucionária.
14 Formas de fazer política e construir a sociedade, observadas também no Brasil,
marcaram os anos entre a independência e a década de 1850, que foram corretamente
definidos pelo Diário do Rio de Janeiro como "uma época de sangue". Diferentes projetos
políticos foram apresentados, e o território foi atravessado por confrontos bélicos
longos e enganosos, envolvendo diferentes camadas da sociedade e tornando-se um
vetor de manifestação da população e de construção da cena pública. Esses eventos
definiram traços identitários fundamentais. Portanto, ao observar esse processo em
suas características beligerantes e violentas, é possível compreender a modernidade
não apenas como pano de fundo, mas como uma forma de entender a relação entre
diferentes espaços e sua própria conformação ao longo do tempo.

A formação de uma experiência insurgente no Brasil


15 Dessa forma, entendo que a conexão entre as capitanias/províncias da Bahia,
Cisplatina, Pará, Pernambuco e Rio Grande do Sul formam uma aquilo que nomeio de
uma experiência insurgente. Acredito que essa experiência é resultado de uma ampla
dinâmica de circulação de impressos, correspondências e pessoas já existente em
função de trocas comerciais, e que foi potencializada pelas demandas políticas e sociais
advindas da crise do Antigo Regime e do processo de construção do Estado e da Nação
no Brasil. Movimento que recebeu um impacto ainda mais radical com o
desenvolvimento de movimentos insurgentes e de guerras civis no território da
América Portuguesa e depois brasileiro.
16 Para tanto, compreendo as insurgências ocorridas na Bahia, Cisplatina, Pará,
Pernambuco e Rio Grande do Sul como uma cadeia que ao se integrar e oferecer, uns
para os outros, lições, que são recriadas e reinterpretadas, criaram uma experiência
histórica específica que forneceu importantes elementos na formação do Estado e da
nação no Brasil. Como argumenta William Sewell Jr., um acontecimento torna-se um
evento histórico quando desencadeia uma série de outras ocorrências que transformam
as estruturas prévias. Movimento que têm por característica uma sucessão de rupturas

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posteriores não só em tempos, mas necessariamente, também, em espaços variados.


Afinal, estes eventos ocorrem em núcleos que são importantes politicamente,
economicamente e socialmente e, por isso, têm grande potencial de transformação e de
abrangência. Acontecimentos históricos tendem a produzir mais acontecimentos,
provocando desarticulações e rearticulações de estruturas anteriores, criando uma
cadeia de relações de longos períodos e amplos escopos geográficos.29
17 Esse elo entre os acontecimentos, seus exemplos, suas modificações e essa síntese, ou
seja, o impacto histórico de um evento sobre o outro, é categorizada por João Paulo
Pimenta, ao estudar os processos de independência e de formação do Brasil em relação
ao contexto mundial entre o final do século XVIII e início do XIX, como a formação de
um “espaço de experiência revolucionário moderno”30. Para o autor, a independência
do Brasil foi resultado de uma experiência histórica. A história, especialmente os
exemplos da América hispânica, de proximidade temporal e geográfica, forneceram aos
atores do processo no Brasil uma série de lições, informações, leituras de mundo que se
transformaram em parâmetros de ação, exemplos positivos e negativos, indicando
caminhos a serem seguidos para superar a situação entendida como de crise e incerteza
sobre o futuro. Assim, o Brasil, com suas semelhanças e particularidades, faria parte do
advento da modernidade e, portanto, integradas às grandes transformações que
ocorriam naquele momento no mundo ocidental.
18 Desse modo, a categoria criada por Pimenta oferece uma importante ferramenta para a
compreensão daquilo que categorizo como experiência insurgente no processo de
construção do Estado brasileiro. O historiador, ao demonstrar como as lições e
experiências de formação dos Estados em outros espaços foram fundamentais para a
construção do Estado brasileiro, em uma ampla conjuntura ocidental formada pela
experiência revolucionária moderna, indica caminhos para compreender a articulação
de tempos, espaços e experiências dentro do mesmo Estado nacional em processo de
formação. Portanto, ao entender que os eventos históricos ocorridos nesses locais
tinham elos, eram recriados e reinterpretados em outros espaços, é possível investigar
de maneira ampla temporal e geograficamente a formação do Estado e da Nação no
Brasil. Entendo que a experiência insurgente ajudou na construção desse processo, que
seguia como parte de sua inserção nos eventos do mundo ocidental, mas, na mesma
medida, era reelaborada em cada província e oferecia às demais regiões do Brasil
parâmetros de ação. As vivências dos grupos de contestação articuladas entre si
colaboraram para a formação brasileira.
19 O comércio, sobretudo, seria o principal responsável não apenas em articular esses
diferentes espaços, mas também em ajudar a alimentar o crescente interesse nas
informações sobre as revoltas e as guerras civis da Era das Revoluções. Afinal, entre
meados do século XVIII e XIX, de maneira assimétrica, é dado o impulso para a
consolidação da integração das Américas em uma “economia-mundo” e da expansão
territorial do capitalismo, conectando, estes locais através das rotas comerciais.31 Desse
modo, por exemplo, que a ebulição em torno dos diferentes projetos de futuro abertos
com o processo de independência do Brasil, as tensões políticas em Salvador, quando os
grupos militares favoráveis a independência brasileira davam mostras que poderia se
insurgir contra o exército de Portugal, eram objeto de interesse na província Cisplatina.
Elementos que justificavam, como salientava o redator Manuel Torres, o espaço
ocupado nas páginas do jornal El Patriota, publicado em Montevidéu em agosto de 1822:
“tratar de la Bahía, deben convenir que las actuales disidencias de unos pueblos del

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Brasil con otros interesan la curiosidad y no son insignificantes para el giro de las
especulaciones mercantiles”.32 O principal temor, como anteriormente revelado em
outro periódico cisplatino, era a guerra civil e a fratura territorial da América
portuguesa. Na edição de edição de 05 de abril de 1822, Francisco de Paula Pérez,
redator do Pacífico Oriental de Montevideo, argumentava sobre as contendas noticiadas
em Montevidéu: “La Bahia que imitando á la madre patria proclamo enérgicamente su
libertad ha padecido ya los horrores de la guerra civil o de los partidos”33 . A
possibilidade de uma guerra de independência na Bahia era para Pérez o reflexo das
tensões políticas no interior da América portuguesa, que na sua interpretação se
agravariam com a confirmação da separação entre Brasil e Portugal e, desse modo, as
guerras civis que já aconteciam no Prata em outros espaços do mundo hispânico,
também alçariam o território brasileiro.
20 Já nos jornais soteropolitanos a mesma preocupação, da quebra da unidade, era
apresentada com argumentos que apontavam para o Rio da Prata, mais especificamente
os eventos em Montevidéu, que vivia em guerra intermitente desde 1810 com os
conflitos primeiro entre Buenos Aires e as tropas fiéis a Espanha, depois de Buenos
Aires contra o projeto confederado de José Gervásio Artigas (1764-1850). Em um
primeiro momento, ainda em 1821, na edição de 06 dezembro do Semanário Cívico, era
demonstrada preocupação com a totalidade do Reino do Brasil, afinal, “desde o Rio da
Prata até o Amazonas, todas as províncias do Brasil, estão em desassossego, não
podemos deixar de conhecer que está chegada a fatal crise”34. Quando explodem os
conflitos em Salvador, o exemplo platino é utilizado para demonstrar a necessidade de
pacificação e de ordem. Para tanto, o militar Bento de Araújo Lopes de Vilas Boas
(1775-1850), partidário da causa brasileira e em conflito com as tropas lusitanas na
cidade, foi acusado de ser “o novo Artigas” e “fazer o mesmo que o outro fazia nas
dilatadas campinas do Rio da Prata”.35 A Cisplatina, que já havia sido alvo de publicação
anterior, inclusive com cópia dos termos oficiais da ata final do Congresso Cisplatino,
agora servia para emular o mesmo discurso feito em Montevidéu quando da sua
criação36: os perigos da guerra civil e da anarquia representados pela figura de Artigas e
o papel das tropas lusitanas na sua contenção.37
21 É justamente esse processo de circulação de pessoas, mercadorias e informações que
Richard Graham aponta como fundamental pra a criação de comunicação clandestinas
em Salvador na primeira metade do século XIX. Os navios que chegavam à cidade eram
recebidos por vendedores ambulantes e canoeiros que enquanto abasteciam as
embarcações, invariavelmente trocavam informações com os marinheiros a bordo. A
movimentação aumentava quando se chegava em terra firme, com funcionários das
docas, pessoas escravizadas, vendedores de rua e marujos estabelecendo dinâmicas de
contanto que levavam as notícias do mar para dentro do sistema urbano e, assim,
encontrando os diversos interessados em seu conteúdo, inclusive aqueles que poderiam
ou já planejavam contestar as autoridades.38 Movimento semelhante ao que acontecia
em Montevidéu em que a chegada dos navios, observados do alto das casas, acionava
uma agitação de pessoas que convergiam até o porto em busca de informações que logo
seriam difundidas dentro das muralhas da cidade e no interior, na região da campanha,
onde as conversas e bebedeiras nas pulperías seriam também animadas por informações
vindas do porto.39
22 O medo que as conexões portuárias que circulavam as mercadorias e informações
fossem utilizadas para a guerra chamou atenção das lideranças do projeto brasileiro no

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Rio de Janeiro. José Bonifácio Andrada e Silva (1763-1838), por exemplo, solicitava para
as autoridades alfandegárias da cidade uma ampla fiscalização dos navios que
circulavam na costa brasileira e fizessem parada no porto carioca, evitando, sobretudo,
contatos entre as diferentes partes que estavam em maior ebulição política: “Não dê
despacho de saída a embarcações, algumas carregadas de mantimentos, ou apetrechos
de guerra, sem que seus donos assinem termo por onde façam certo que as ditas cargas
não são dirigidas para o porto da Bahia ou para algum outro, onde existam tropas
europeias”.40 O principal objetivo era, justamente, evitar a aproximação entre os
militares que permanecera fiéis a Portugal e a organização de uma defesa da causa
lusitana coordenada entre os grupos localizados em Belém, em Caxias (bastião realista
no Maranhão), em Salvador e Montevidéu. O que representaria grandes riscos não
apenas no andamento das batalhas, mas igualmente por ser capaz de articular as
demandas e as dinâmicas locas e regionais das guerras de independência do Brasil com
identidades políticas portuguesas e da causa realista em âmbito atlântico.
23 Ainda que seja um recurso retórico, de exagero, apontando para os opositores não
apenas como inimigos da causa política da independência, mas igualmente como
destruidores, vândalos e traidores, uma carta enviada para a Gazeta Pernambucana,
publicada em 18 de setembro e 1823, endereçada a Cipriano Barata (1762-1838), mostra
as condições de possibilidade de uma conexão entre estas diferentes partes em que
estavam as tropas lusitanas:
Agora com a saída da Tropa Portuguesa da Bahia, mostram-se todos tristes, porque
ainda tinham esperanças nelas para alguma traição contra nós e ainda não podem
crer em tal: e assoalham que eles vão ou para Montevidéu juntar-se a D. Álvaro, ou
para Pará e Maranhão: e eles depois de terem destruído a Bahia, deixando somente
os edifícios, por não os poderem carregar, e que por isso a quiseram incendiar,
talvez vão para outra Cidade, para saquear e roubar.41
24 Como observado, a independência do Brasil e a unidade política, não eram os únicos
projetos vigentes naquele momento. As guerras de independência foram fundamentais
imposição às demais províncias de um projeto político centralizado no Rio de Janeiro,
no entanto isto também não significou imediatamente uma acomodação de todos os
interesses políticos e a pacificação completa. Ainda que restritos a espaços mais ou
menos periféricos do território brasileiro, muitos movimentos de contestação com
projetos políticos alternativos a centralização e até mesmo a monarquia surgiram,
confrontaram o poder imperial e, não raro, motivaram guerras civis durante o Período
Regencial. Eventos que superavam os seus limites provinciais encontravam uns aos
outros concretamente.
25 Era frequente a troca de correspondências, de papéis públicos sobre os eventos de
outras províncias e a partir disso a elaboração de diagnósticos e prognósticos sobre
seus próprios espaços de atuação. Uma demonstração possível deste circuito pode ser
construída a partir da província do Rio Grande de São Pedro. Nas edições do jornal O
Povo, o periódico oficial do governo estabelecido pelos farroupilhas, os eventos no
restante do Brasil recebiam especial atenção. Cartas, documentos, relatos sobre Bahia,
Pernambuco, Pará eram frequentemente publicados para os leitores “detidamente
reflexionem sobre o futuro”42. Já na segunda edição, em 05 de setembro de 1838, em
manifesto, assinado pelo “Presidente da República Rio-grandense”, ao justificar a
ruptura com o Império brasileiro, considerado opressor e injusto, era apresentado o
argumento que a tirania do Imperador afetava diversos espaços, pois “estes males, além
de muitos outros, nós temos suportado em comum com outras províncias da União do

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“No nosso mesmo Brasil mil exemplos encontrei”: as províncias do Br... 10

Brasil”.43 Ou seja, era compartilhada o desejo de ruptura e os repertórios de acusações


contra o governo. A província era incluída dentro da união para justificar a separação.
Para tanto, o histórico de contestações na América portuguesa e no Brasil era
mobilizado para convocar as demais províncias a lutar contra a arbitrariedade, assim se
questionava: “onde estão os pernambucanos de 1824? Que fazeis baianos de 1837?
Acreditam por acaso que aqui se combate puramente para nós?”.44
26 Em meio as revoltas e guerras civis, contingentes de centenas milhares de pessoas se
deslocaram através do atlântico fugindo dos conflitos, trabalhando como mercenários,
sendo presos ou refugiados, em nome de uma ideologia, entre outros tantos motivos.
Movimentos que geraram questões importantes em torno das redefinições de
identidades políticas e de soberania, além de alterar as dinâmicas das guerras locais.45
Sobre a movimentação de militares, Patrick Puigmal demonstra que com o fim das
Guerras Napoleônicas, o contingente de cerca de 5 milhões de soldados na Europa
rapidamente diminui para 2 milhões de homens em armas, muitos deles, cerca de vinte
mil, migraram em busca de emprego, em nome da difusão de seus ideais políticos,
desejo de colaborar na construção de sociedades novas, em geral repúblicas, ou até o
espírito de aventura em um mundo que se abria.46 Alguns deles estiveram ou se
estabeleceram no Brasil durante a independência e no Período Regencial. Uma
demonstração significativa dessa mobilidade é o caso Pierre Labatut (1776-1849) que
depois da passagem na Europa (ainda nebulosa e difícil de rastrear pela historiografia),
se exilou nos Estados Unidos da América, acompanhou Francisco Miranda (1750-1816)
na Capitania da Venezuela, esteve no Cartagena até chega ao Brasil na década de 1820.
Durante as guerras de independência liderou tropas brasileiras contra os militares
lusitanos na Bahia e durante o Período Regencial combateu os farroupilhas no Rio
Grande do Sul.
27 Outra forma de circulação de homens também se dava de maneira forçada, através das
prisões e do recrutamento. Durante o Primeiro Reinado, embora grande parte do
contingente brasileiro fosse formado por milícias e mercenários estrangeiros, na
Guerra da Cisplatina (1825-1828), a circulação de tropas teve consequências nacionais e
gerou preocupações nas autoridades locais, especialmente em função do trânsito de
indivíduos em São Pedro do Rio Grande do Sul, servindo ao exército e oriundos da Bahia
e de Pernambuco. Sobre o período Regencial, José Iran Ribeiro, para o Rio Grande de
São Pedro, e Magda Ricci, sobre o Pará, demonstram que a organização de um Exército
nacional em função das revoltas gerou um grande afluxo de militares circulando pelos
locais em conflito, possibilitando a convivência entre pessoas de diferentes origens,
além do contato desses grupos com a população local. Esse elemento é importante na
compreensão de uma unidade nacional e das semelhanças e diferenças regionais na
construção de uma identidade comum.47
28 O contato entre esses indivíduos foi, por um lado, objeto de atenção dos governantes
com o risco do encontro de ideias de contestação em espaços de tensões políticas. A
exemplo de José Bonifácio que, em 1822, em função da cisão das tropas aliadas ao
projeto de independência do Brasil e os Voluntários Reais que se mantiveram fiéis a
Portugal, chamava atenção a necessidade de vigiar os soldados oriundos de
Pernambuco que serviam na província Cisplatina. Esse grupo lutava no Prata como
punição ao seu envolvimento nos eventos de 1817 e, desse modo, o Ministro ordenou
“separar os soldados pernambucanos que se incorporaram aos Voluntários Reais na
última revolta dos mesmos e destacá-los em pequenas porções onde possam ser

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vigiados e contidos”.48 E, por outro lado, mecanismo de contenção dos conflitos ao fazer
circular as tropas pelo território evitando a permanência no mesmo local de grupos que
contestavam o poder. O presidente da província do Pará, Francisco José de Sousa Soares
de Andrea (1781-1858), em correspondência com o Ministério da Guerra, em 1838,
informava da necessidade de conter os avanços dos cabanos e, para tanto, a melhor
medida era a província “não ter soldados filhos dela. Melhor partido se faz trocar seus
filhos por outros da Província do Sul”.49
29 Ao entender que os eventos históricos ocorridos nesses locais tinham elos, eram
recriados e reinterpretados em outros espaços, é possível investigar de maneira ampla
temporal e geograficamente a formação do Estado e da Nação no Brasil. As vivências
dos grupos de contestação articuladas entre si colaboraram para a formação brasileira.
Uma variedade que se tornou mecanismo de construção do Estado e da Nação em meio
a estas transformações de uma modernidade política.

Conclusão
30 Não obstante a crescente e pujante produção, ainda existem importantes lacunas para
estudar os movimentos de contestação em perspectiva ampla, rompendo com os
recortes regionais. Isso demonstra que os eventos não ocorreram apenas no interior das
capitanias/províncias e nas suas relações com a autoridade central, mas também
afetaram o seu entorno (muitas vezes parte destes projetos e palco de conflitos) e suas
relações com o todo. Houve a circulação de ideias, impressos, missivas e homens pelo
território da América portuguesa e Império do Brasil. Isso significa um esforço
historiográfico para incorporar a insurgência e a dimensão conflitiva, seus projetos de
desagregação e contestação, via guerra civil, como elementos da formação nacional.
Conhecer esses outros projetos, o vocabulário, suas semelhanças e particularidades em
perspectiva integrada é entender a complexidade do processo de formação do Estado
brasileiro após a dissolução do império lusitano em um amplo contexto de
transformações.

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NOTAS
2. Correspondência ativa de Jerônimo Teixeira de Almeida a José da Silva Brandão –
Documentos CV 2199 A 2982. In: Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. Anais. Vol. 4. Porto
Alegre: Instituto Estadual do Livro, 1980. p. 49-50.
3. O termo "insurgente" é utilizado devido a existência de dois códigos criminais
distintos no período abordado (1817-1850) nesta pesquisa: as Ordenações Filipinas até
1830 e, a partir desse ano, o Código Criminal do Império do Brasil. Esses textos tratavam
de maneira diferente a rebelião, a revolta e a sedição, impondo punições distintas para
cada um desses crimes e em cada um desses códigos. Dessa forma, "insurgência" refere-
se de maneira geral a um movimento de contestação à ordem, sem especificar seu
caráter jurídico e suas implicações legais. Para acompanhar as discrepâncias nas leis e
nas penalidades aplicadas aos envolvidos, além de abordar os interesses do governo
imperial nessas mudanças, ver: DANTAS, Mônica. De Rebeliões a Sedições: Protesto
popular e construção do Estado no Brasil oitocentista. Canoa do Tempo – Revista do Prog.
Pós-Graduação de História, Manaus v. 5/6 – no 1, jan./dez 2011/2012.

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4. Carvalho, Marcus J. M. de. Negros armados por brancos e suas independências. In:
JANCSÓ, István (Org.) Independência: história e historiografia. São Paulo: Hucitec/
Fapesp, 2005. p. 881-914.
5. Assunção, Matthias Röhrig. “Sustentar a Constituição e a Santa Religião Católica,
amar a Pátria e o Imperador’. Liberalismo popular e o idéario da Balaiada no
Maranhão”. In: Dantas, Monica Duarte (Org.). Revoltas, motins, revoluções: homens
livres pobres e libertos no Brasil do século XIX. São Paulo: Alameda, 2011. p. 295-328.
6. Valho-me aqui da definição de “linguagem política” de Elías Palti: o conjunto de
conceitos-chave, metáforas, figuras de linguagem que estruturam os discursos dos
atores políticos no século XIX, e estão em disputa semântica por diferentes grupos.
Palti, Elías. O tempo da política: o século XIX reconsiderado. Belo Horizonte: Autêntica, 2020.
p. 17-48.
7. Pimenta, João Paulo. Tempos e espaços das independências: a inserção do Brasil no mundo
ocidental (1780-1830). São Paulo: Intermeios, 2017.
8. Bernardes, Denis. O patriotismo constitucional: Pernambuco, 1820-1822. São Paulo: Recife:
Aderaldo & Rothschild Editores : FAPESP ; Editora Universitária UFPE, 2006.
9. Brito, Adilson Junior Ishirara. Insubordinados sertões. O Império português entre guerras e
fronteiras no norte da América do Sul-Estado do Grão-Pará, 1750-1820. Tese de Doutorado –
USP. São Paulo, 2016.
10. Alden, Dauril. Royal Government in Colonial Brazil, with special reference to the
administration of the Marquis of Lavradio, Viceroy, 1769-1779. Berkeley: University of
California Press, 1968.
11. Winter, Murillo Dias, As revoluções adotam o seu dialeto peculiar: os significados da
independência do Brasil em uma região-fronteira (Província Cisplatina, 1821-1824),
Revista Brasileira de História, vol. 42, no 89, p. 195-220, 2022.
12. Barman, Roderick J. Brazil: the forging of a nation, 1798 - 1852. Stanford, Calif: Stanford
University Press, 1994. p. 17.
13. Carvalho, José Murilo de. A construção da ordem, a elite política imperial: Teatro de
sombras, a política imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
14. Pimenta, João Paulo. Independência do Brasil. São Paulo: Contexto, 2022. p. 104.
15. Carvalho, José Murilo de. A construção da ordem, a elite política imperial: Teatro de
sombras, a política imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
16. Jancsó, István. Pimenta, João Paulo G. Peças de um mosaico (ou apontamentos para
o estudo da emergência da identidade nacional brasileira). In: MOTA, Carlos Guilherme
(org.). Viagem incompleta. A experiência brasileira (1500-2000). São Paulo: Ed. SENAC, 2001.
17. Armitage, David, Las guerras civiles. Una historia en ideas. Madrid: Alianza Editorial,
2018; Thibaud, Clément. Repúblicas en armas: Los ejércitos bolivarianos en la guerra de
Independencia en Colombia y Venezuela. Bogotá: Editorial Planeta, 2003.
18. Koselleck, Reinhart. Futuro passado. Contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio
de Janeiro: Contraponto, 2006. p. 97-190.
19. Fernández Sebastián, Javier. H istoria conceptual en el Atlántico ibérico: lenguajes,
tiempos, revoluciones. Madrid: Fondo de Cultura Económica, 2021. p. 436-474.
20. Diário do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, no 39, 18/02/1838.
21. Thibaud, Op. Cit, p. 3

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22. Lempériere, Annick. Revolución, guerra civil, guerra de independencia en el mundo


hispánico 1808-1825. In: Ayer, Quilmes, no 55, vol. 3, 2004. p. 17.
23. Pimenta, João Paulo. A independência do Brasil. Um balanço da produção
historiográfica recente. In: Chust, Manuel; Serrano, José Antonio. (Org.). Debates sobre
las independencias iberoamericanas. Madrid/Frankfurt: Iberoamericana/Vervuert, 2007.
p. 143-158.
24. Oliveira Lima, Manuel de. O Movimento de independência (1821-1822). Brasília: FUNAG,
2019. p. 7.
25. Holanda, Sérgio Buarque de. A herança colonial: sua desagregação. In: ___. História
geral da civilização brasileira (v. 3: O Brasil monárquico). São Paulo: Difusão Européia do
Livro, 1965. p. 09-24, Prado Jr. Caio. Evolução política do Brasil. São Paulo, Brasiliense,
1933. p. 28.
26. Pimenta, João Paulo. Independência do Brasil. São Paulo: Contexto, 2022. p. 106.
27. Bell, David A. A primeira guerra total. A Europa de Napoleão e o nascimento dos confrontos
internacionais como conhecemos. Rio de Janeiro-RJ: Editora Record, 2012. p. 355-406.
28. Adelman, Jeremy. The Rites of Statehood: Violence and Sovereignty in Spanish
America, 1789–1821. Hispanic American Historical Review, vol. 90, no 3, p. 391-422, 2010,
p. 391-422.
29. Sewell Jr, William. Lógicas da história. Teoria social e transformação social. Petrópolis:
editora vozes, 2017. p. 230.
30. PIMENTA, João Paulo. Tempos e Espaços das Independências. A Inserção do Brasil no
Mundo Ocidental. 1780 a 1830. São Paulo: Intermeios, 2017. p. 13-37.
31. Wallerstein, Immanuel. El moderno Sistema mundial. Tomo III. La segunda era de gran
expansión de la economía-mundo capitalista, 1730-1850. Madrid: Siglo XXI, 2010. p. 123-180.
32. El Patriota. Montevidéu, no 2, 23 de agosto de 1822.
33. Pacífico Oriental de Montevidéu. Montevidéu, no 16, 5 de abril de 1822.
34. Semanário Cívico. Salvador, no 41, 6 de dezembro de 1821.
35. Semanário Cívico. Salvador, no 73, 25 de julho de 1822.
36. Semanário Cívico. Salvador, no 42, 13 de dezembro de 1821.
37. Winter, Murillo Dias. Viva o Rei de Portugal e A Cisplatina oriental: Imprensa e a
linguagem política do liberalismo lusitano no Rio da Prata (1817-1824). Almanack
[online]. 2021, no 28. p. 1-43.
38. Graham, Richard. Alimentar a cidade. Das vendedoras de rua à reforma liberal (Salvador,
1780-1860). São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 143-146.
39. Grandin, Greg. O império da necessidade. Escravatura, liberdade e ilusão no novo mundo.
Rio de Janeiro: Rocco, 2014, p. 39.
40. Correspondência de José Bonifácio de Andrada e Silva. Para o juiz de alfandega. Palacio
do Rio de Janeiro, em 2 de setembro de 1822.
41. Gazeta Pernambucana. Recife, no 21, 18/09/1823
42. O Povo. Piratini, no 9, 29 de setembro de 1838.
43. O Povo. Piratini, no 2, 05 de setembro de 1838.
44. O Povo. Piratini, no 42, 29 de janeiro de 1839.

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45. Jansen, Jan C. Aliens in a Revolutionary World: Refugees, Migration Control and
Subjecthood in the British Atlantic, 1790s–1820s, Past & Present, 2021.
46. Puigmal, Patrick. Militares y agentes napoleónicos en la independencia de América
latina. De forjadores de los ejércitos nuevos a actores del debate político. In: Almanack,
no 23, 2020. p. 16-34.
47. Ribeiro, José Iran. O império e as revoltas. Estado e nação nas trajetórias dos militares do
Exército imperial no contexto da Guerra dos Farrapos. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional,
2013.
Ricci, Magda. Fronteiras da nação e da revolução: identidades locais e a experiência de
ser brasileiro na Amazônia (1820-1840). In: Boletín Americanista, Barcelona, Año LVIII,
no 58, 2008.
48. Oficio del ministro de Negocios Extranjeros del Brasil, José Bonifacio de Andrada y
Silva, al Barón de la Laguna, Rio de Janeiro, 2 de marzo de 1822.
49. Ofício do Marechal Andréa ao Ministério da Guerra, Belém, Pará, de 18 de dezembro
de 1837.

RESUMOS
Este artigo tem por objeto analisar os processos da emergência do Brasil como corpo político
autônomo e sua estruturação como Estado nacional na primeira metade do século XIX. Meu
objetivo é investigar as conexões e as relações mútuas entre as capitanias/províncias da Bahia,
Cisplatina, Grão-Pará, Pernambuco e Rio Grande do Sul, entre 1817 e 1850, através dos
movimentos de contestação política e guerra civil que ocorreram nestes locais. Apresento a
hipótese de que ao se aproximarem em função dos movimentos de insurgência, grupos
politicamente atuantes nesses lugares dividiram vivências e lições, ajudaram a criar um espaço
compartilhado e uma linguagem comum que forneceu elementos para a construção do Estado e
da nação no Brasil. Desse modo, como objetivos específicos busco compreender de que maneira se
davam essas relações, a politização e a militarização desses vínculos em um contexto de
efervescência política, tratadas como demonstrações das mudanças do advento da modernidade
no mundo ocidental. Como fontes principais utilizo as correspondências e a imprensa.

This article aims to analyze the emergence processes of Brazil as an autonomous political body
and its structuring as a national state in the first half of the 19th century. My objective is to
investigate the connections and mutual relations between the captaincies / provinces of Bahia,
Cisplatina, Grão-Pará, Pernambuco and Rio Grande do Sul, between 1817 and 1850, through the
movements of political contestation and civil war that occurred in these places. I present the
hypothesis that when they got closer due to the insurgency movements, groups that were
politically active in these places shared experiences and learnings, helped to create a shared
space and a common language that provided elements for the construction of the State and the
nation in Brazil. Therefore, Therefore, I seek to understand how these relationships occurred, the
politicization and militarization of these ties in a context of political effervescence, treated as
demonstrations of the changes of the advent of modernity in the western world. As main sources
I use correspondence and the press.

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ÍNDICE
Keywords: experience, formation of the State and the nation in Brazil, Civil War, insurgency,
modernity
Palavras-chave: experiência, formação do Estado e da nação no Brasil, Guerra Civil, insurgência,
modernidade

AUTOR
MURILLO DIAS WINTER

Universidade de São Paulo

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