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Escola Estadual Conceição Martins de Jesus

A Primeira República no Brasil

Richard Elias Soares Viana 23/05/2023


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Escola Estadual Conceição Martins de Jesus

23/05/2023
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Sumário
1 Introdução................................................................................................................................4
2 Questão religiosa, sociopolítica, militar...................................................................................5
2.1 Introdução.........................................................................................................................5
2.2 A questão social: abolicionismo (1871 a 1888)................................................................6
2.3 As leis abolicionistas........................................................................................................7
2.4 Consequências da ablição da escravidão..........................................................................8
2.5 A questão religiosa (1872 a 1875)....................................................................................9
2.6 A questão militar (1883 a 1887).....................................................................................10
2.7 A Proclamação da República .........................................................................................11
3 República da Espada e Oligárquica......................................................................................13
3.1 Introdução.......................................................................................................................13
3.2 Governo provisório (1889-1891)....................................................................................13
3.3 A crise do Encilhamento.................................................................................................14
3.4 A Constituição de 1891 ..................................................................................................15
3.5 As eleições indiretas e a escolha do primeiro presidente...............................................16
3.6 República da Espada......................................................................................................16
3.7 Repúbllica oligárquica....................................................................................................20
3.8 O Movimento Operário..................................................................................................22
3.9 Sociedade na Primeira República...................................................................................23
4 Conclusão...............................................................................................................................24
5 Referências.............................................................................................................................26
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1 Introdução

O objetivo deste trabalho é apresentar de forma básica e concisa os principais


aspectos da formação política e econômica brasileira no fim do Segundo Reinado,
no Período Imperial, e durante a Primeira República no Brasil a fim de expor um
pouco do conhecimento acerca da constituição da economia, da sociedade e da
política brasileira. Ademais, o presente trabalho tem como um dos principais
objetivos fomentar o olhar crítico da sociedade sobre os temas aqui tratados, de
forma a se poder constituir uma visão que relaciona as formas de vida, os aspectos
políticos e econômicos, os movimentos sociais, os direitos garantidos pela
Constituição Federal ao contexto histórico relacionado à sociedade brasileira e às
lutas promovidas pelas mulheres, pelo operariado e pelos demais segmentos
marginalizados da população, que sofreram intensa repressão dos segmento
dominantes da sociedade. Em síntese, o principal objetivo deste trabalho é
possibilitar o entendimento de que período hodierno está intrinsecamente
relacionado ao contexto histórico que antecede a contemporaneidade e destacar a
importância da ação dos agentes sociais para a constituição das sociedades.
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2 Questão religiosa, sociopolítica, militar

2.1 Introdução
A partir da década de 1870, o Império brasileiro começou a entrar em
decadência, com a perda de importantes bases de sustentação, o que contribuiu
com sua queda e a proclamação da República no Brasil. O declínio tem relação
direta com a modernização pela qual o país passava e as transformações
econômicas resultantes principalmente da expansão da lavoura cafeeira e do
desenvolvimento de uma nova mentalidade econômica, especialmente no Oeste
Paulista. A vitória militar na Guerra do Paraguai fortaleceu o exército, que exigia
cada vez mais espaço e não era atendido plenamente, o que colocava alguns
militares contra o Império, que se isolava cada vez mais. O isolamento político do
Império cresceu com a Questão Religiosa, que opôs setores da Igreja ao governo, e
a abolição da escravidão, que afastou grandes proprietários rurais escravistas e
políticos conservadores do Império. A perda das bases religiosa, militar e
sociopolítica para alguns historiadores resulta no entendimento de que foi a
Monarquia que sucumbiu, mais por sua fragilidade, do que pela força do Movimento
Republicano.
Nesse contexto, o mais longo governo brasileiro, sob o comando de D. Pedro
II, enfrentava sérias dificuldades para manter a estabilidade, especialmente após a
Guerra do Paraguai, quando a percepção por parte dos militares de sua limitada
atuação política era diretamente associada ao modelo político vigente. Além disso, a
participação dos escravos na Guerra do Paraguai contribuiu para mudar a visão
sobre a escravidão por parte de alguns militares que passaram a simpatizar com a
causa abolicionista. O avanço dessas ideias comprometia em muito a relação do
Imperador com os escravocratas, que cobravam uma atuação mais enérgica do
Estado a fim de que não tivessem seus interesses econômicos contrariados.
A relação do Trono com o Altar (Igreja) também estava desgastada após
episódios envolvendo a Igreja, o Estado e a maçonaria. A condição de continuidade
de uma monarquia parecia cada vez mais remota devido à saúde do Imperador e à
questão de gênero da sucessora (Princesa Isabel), a tal ponto que o fim do Império
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foi, no dizer de alguns historiadores, uma simples parada militar, não havendo
tentativas de reação. Enfim, o golpe republicano em 1889 foi resultado da
conjugação de interesses convergentes entre cafeicultores, segmentos médios e
militares, em que, mais uma vez, a grande maioria da população esteve alijada do
processo político do seu país, como atesta o jornalista Aristides Lobo ao afirmar que
“O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem saber o que significava.
Muitos acreditavam estar vendo uma parada”.

2.2 A questão social: abolicionismo (1871 a 1888)

No final da década de 1870, o movimento em prol da abolição da escravidão


cresceu significativamente no Brasil. Foram fundados clubes e sociedades
abolicionistas que denunciavam as arbitrariedades da escravidão e colhiam apoio na
sociedade civil em prol da libertação dos negros.
O movimento abolicionista atuava de várias formas. Era comum a realização
de rifas e leilões, além do recolhimento de doações para a compra de escravos e
concessão de alforria a estes. Na imprensa e na literatura, intelectuais criticavam a
escravidão, lembrando a vergonha que era para o Brasil ser o único país americano
a possuir escravos e o atraso que isso representava. Caifazes atacavam fazendas
para libertar os negros das senzalas e jangadeiros cearenses e ferroviários se
recusavam a transportar escravos. Vale lembrar que a maioria dos soldados que
atuaram na Guerra do Paraguai eram negros e grande parte do Exército passou a
defender abertamente a abolição, inclusive prestando homenagens a integrantes do
movimento abolicionista. De uma maneira geral, militares se recusavam a caçar
negros fugitivos, não aceitando o humilhante papel de capitão do mato.
Os grandes proprietários rurais estavam divididos: enquanto alguns
fazendeiros nordestinos e paulistas percebiam que o trabalho livre era mais
vantajoso e apoiavam a abolição, representantes de lavouras mais tradicionais como
donos de velhos engenhos nordestinos e cafeicultores do Vale do Paraíba eram
contrários à abolição, pois a economia do país não suportaria a abolição. Alguns
destes até eram capazes de tolerar a libertação dos negros, desde que fosse
gradativa e o Estado se encarregasse de indenizá-los.
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2.3 As leis abolicionistas

As pressões internas e externas levaram o Governo Imperial a assinar leis


abolicionistas, respondendo à demanda dos abolicionistas sem, contudo, afetar
diretamente os proprietários escravistas para não perder seu apoio.
Em 1871 foi assinada a Lei Visconde do Rio Branco, conhecida por Lei do
Ventre Livre, pois declarava livres os escravos nascidos a partir de setembro
daquele ano. Segundo a lei, os negros recém-nascidos poderiam fi car com seus
pais até completar 8 anos, estando, portanto, sob a autoridade do senhor. Quando a
criança atingisse tal idade, o senhor poderia decidir se a libertava, recebendo uma
indenização do Estado, ou se utilizava seus trabalhos até que completasse 21 anos,
quando então seria libertado sem custos para o Estado. Apesar da empolgação
inicial, a lei suscitou várias críticas, pois não alterava em nada a realidade da
escravidão e benefi ciava somente os senhores de escravos. Em resposta às
críticas, o Governo decretou em 1885 a libertação dos escravos com mais de
sessenta anos de idade, através da Lei Saraiva-Cotegipe ou Lei dos Sexagenários.
A lei foi considerada totalmente sem nexo e alvo de severas e variadas críticas, uma
vez que dificilmente um escravo chegava e esta idade e, se chegasse,
provavelmente não teria mais condições de trabalhar. Além disso, segundo a lei, os
escravos sexagenários ainda teriam de trabalhar de três a cinco anos para indenizar
seu senhor. Sem condições de manter a escravidão por mais tempo, o Governo
Imperial acabou extinguindo totalmente a escravidão no Brasil no dia 13 de maio de
1888, quando a Princesa Regente Isabel sancionou a Lei Áurea, libertando todos os
escravos brasileiros.

2.4 Consequências da ablição da escravidão

A libertação dos escravos não foi acompanhada de políticas públicas que


garantissem a inserção dos negros na sociedade e no mercado de trabalho. Assim,
não foi dado aos negros educação, saúde, terras ou empregos, relegando-os à
marginalidade, desemprego, mendicância e exclusão social. O trabalho nas
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fazendas foi ocupado pelos imigrantes europeus e o preconceito reinante impedia


que os negros conseguissem emprego.
A abolição da escravidão não foi um golpe na economia do país, mas os
decadentes cafeicultores do Vale do Paraíba e alguns outros grandes proprietários
rurais, que dependiam do trabalho escravo, não perdoaram o Governo,
especialmente por não lhes ter indenizado, e por isso aderiram ao movimento
republicano, retirando seu apoio político ao Império, enfraquecendo-o e contribuindo
para sua queda.

2.5 A questão religiosa (1872 a 1875)


A Constituição de 1824 estabelecia o Padroado e o Beneplácito, sendo a
religião católica subordinada ao Estado e os membros da Igreja pagos pelo Governo
como funcionários públicos. Estes dispositivos constitucionais distanciavam o clero
brasileiro de Roma e os padres adotavam posturas pouco condizentes com sua
função: não respeitavam o voto de castidade, constituindo família; acumulavam
grandes riquezas; e participando ativamente da política imperial.
Em 1864, o papa Pio IX decretou a Bula Syllabus, que proibia católicos e
membros do clero de participarem de sociedades secretas. No Brasil, a medida se
aplicava diretamente à maçonaria, uma sociedade secreta que tinha padres,
membros de irmandades católicas e principalmente políticos e pessoas da elite
brasileira como membros. Através do dispositivo constitucional do Beneplácito, o
Imperador proibiu a aplicação da bula papal no Brasil.
Apesar de parte do clero brasileiro apoiar a decisão do Imperador, alguns
bispos resolveram seguir a orientação papal. Em 1872, o bispo de Rio de Janeiro
suspendeu o padre Almeida Martins, que era maçom, por ter participado de uma
cerimônia maçônica que homenageava o Visconde do Rio Branco pela assinatura da
Lei do Ventre Livre.
Ainda em 1872, os bispos de Olinda e Belém, respectivamente D. Vital de
Oliveira e D. Antônio de Macedo, ordenaram que os padres que participassem da
maçonaria em suas dioceses abandonassem a sociedade ou então seriam excluídos
de suas ordens. Como vários padres se recusaram a abandonar a maçonaria, foram
excluídos, ou suas irmandades foram fechadas. O Governo interveio em virtude da
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pressão do Visconde do Rio Branco e ordenou a prisão dos bispos, que foram
condenados a quatro anos de prisão com trabalhos forçados.
A prisão dos bispos não foi bem vista e considerada arbitrária pelos católicos,
então o Imperador interviu, transformando a pena em prisão simples. Em 1875, os
bispos foram anistiados, mas o fato demonstrou a insatisfação da Igreja com o
Beneplácito e fez com que vários clérigos e fiéis católicos deixassem de prestar
apoio ao governo de D. Pedro II, que perdia cada vez mais bases de sustentação
política.

2.6 A questão militar (1883 a 1887)


A Guerra do Paraguai foi a grande responsável pelo crescimento numérico e
fortalecimento do exército brasileiro, que ocupava uma posição secundária desde a
criação da Guarda Nacional pelo Ministro da Regência Padre Diogo Feijó. A vitória
brasileira na Guerra do Paraguai levou os militares a exigir maior respeito e
valorização para a instituição, que cresceu e se organizou.
Os oficiais do exército geralmente eram originários das camadas médias
urbanas que não tinham recursos sufi cientes para arcar com a educação superior e
preferiam seguir a carreira militar, através da qual teriam possibilidade de seguir com
os estudos. Sua visão política era geralmente mais progressista, contrária aos
políticos tradicionais do Império, tidos como reacionários e corruptos.
Com a Guerra do Paraguai, a base das tropas passou a ser constituída por
brancos pobres, mulatos, escravos e ex-escravos que, ao fi nal da guerra, com o
apoio de oficiais passaram a lutar contra a escravidão. Além disso, os militares de
uma maneira geral entraram em contato com regimes republicanos e passaram a
defender a implantação desse regime no Brasil. A escravidão e o atraso eram identifi
cados com o Império, enquanto a abolição e as ideias republicanas caminhavam de
mãos dadas e angariavam cada vez mais simpatizantes, especialmente nos meios
militares e urbanos. Nas escolas militares, difundia-se e ganhava cada vez mais
adeptos a filosofia Positivista, através da qual os militares se identificavam como os
únicos capazes de “salvar” o Brasil do atraso e da estagnação econômica e social,
através da ordem e da disciplina. Os militares brasileiros não admitiam a
subordinação a políticos civis, entrando em atrito com estes constantemente, nas
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chamadas Questões Militares. A primeira destas ocorreu em 1883, quando o


tenente-coronel Sena Madureira criticou através da imprensa as reformas propostas
pelo Governo ao montepio militar, uma espécie de aposentadoria dos oficiais.
Insatisfeito, o Ministro da Guerra Carlos Afonso de Assis Figueiredo proibiu militares
de se manifestarem através da imprensa.
Em 1884, Sena Madureira prestou uma homenagem na unidade que
comandava, a Escola de Tiro de Campo Grande, no Rio de Janeiro, ao jangadeiro
cearense Francisco José do Nascimento – o Dragão do Mar, por este ter liderado um
grupo de jangadeiros que se recusaram a embarcar escravos para os navios, sendo
festejado como abolicionista. O Ministro da Guerra demitiu o tenente-coronel,
enviando-o para o Rio Grande do Sul. Em 1886, o coronel Cunha Matos percebeu
irregularidades na compra de fardamentos ao inspecionar um quartel no Piauí,
pedindo o afastamento do comandante da unidade, capitão Pedro José de Lima. O
caso foi parar na imprensa e o coronel Cunha Matos foi acusado de perseguição
política. Ao se defender através da imprensa sem a autorização do Ministro da
Guerra, Cunha Matos foi advertido e condenado a 48 horas de prisão. O caso
repercutiu em todo o Brasil, e no Rio Grande do Sul o tenente-coronel Sena
Madureira atacou novamente o Ministro da Guerra através da imprensa. O caso
levou ainda oficiais gaúchos a se reunirem com o Marechal Deodoro da Fonseca,
que ocupava os cargos de Comandante das Armas e Vice-Presidente da província,
exigindo maior autonomia para os militares. Deodoro foi então convocado pelo
Ministro da Guerra a prestar esclarecimentos no Rio de Janeiro. Chegando à capital
do Império, Deodoro foi festejado pelos militares, que exigiam a revogação das
punições e da proibição das manifestações dos oficiais na imprensa. D. Pedro II não
atendeu às exigências e, apesar de ter demitido o Ministro da Guerra, Carlos Afonso
de Assis Figueiredo, viu crescer entre os militares a oposição a seu governo.

2.7 A Proclamação da República


O ano de 1889 foi marcado por grandes agitações políticas nos meios civis e
militares brasileiros. O movimento republicano crescia e a cada dia ganhava mais
adeptos, enquanto o Império fraquejava e D. Pedro II perdia bases políticas. O
desgaste da monarquia demandava reformas urgentes e, para efetuá-las, foi
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nomeado um novo presidente para o Conselho de Ministros: o Visconde de Ouro


Preto. Pertencente ao Partido Liberal, o Visconde de Ouro Preto era consciente da
difícil situação enfrentada pela monarquia e da necessidade de reformas políticas
urgentes para evitar seu fim. O novo Primeiro-Ministro apresentou à Câmara um
projeto de reforma política que tinha como principais medidas o fim do senado
vitalício, a elaboração de um código civil e a concessão de maior autonomia para as
províncias. Como o Legislativo era composto majoritariamente por membros do
Partido Conservador, tais medidas não foram aprovadas e a Câmara foi dissolvida,
no dia 17 de julho de 1889, sendo convocadas novas eleições legislativas. O
impasse aumentou a turbulência política no país e levou os republicanos militares e
civis a começarem a tramar um golpe de Estado para derrubar D. Pedro II. No dia 14
de novembro foi plantado nos meios militares, pelo major Sólon Ribeiro, um boato de
que o Visconde de Ouro Preto tinha ordenado a prisão do marechal Deodoro da
Fonseca e do tenente-coronel Benjamim Constant. Em resposta, vários militares
ficaram aquartelados, enquanto Deodoro preparava uma reação. Liderando uma
marcha iniciada na madrugada do dia 15 de novembro, que contou com a adesão de
vários quartéis do Rio de Janeiro, o marechal conduziu seus homens em direção ao
Ministério da Guerra, onde se encontrava o Visconde de Ouro Preto para exigir sua
renúncia, e não para derrubar a monarquia. A marcha pela cidade do Rio de Janeiro
deu ao povo a impressão de uma parada militar, refletindo a falta de participação
popular no movimento, expressa na famosa frase atribuída a Aristides Lobo, que
dizia: “e o povo assistiu bestializado…” Diante dos acontecimentos, o Visconde de
Ouro Preto foi deposto e a República proclamada em meio a gritos dos militares que
acompanhavam Deodoro que exclamavam continuamente “Viva a República!”. Ainda
no dia 15 de novembro de 1889, a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro se
reuniu, sob a liderança de José do Patrocínio, e lavrou a ata de proclamação da
República. D. Pedro II estava em Petrópolis e voltou imediatamente ao Rio de
Janeiro, mas não conseguiu reverter a situação. A República já era um fato
consumado e o Segundo Reinado chegava ao fim.
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3 República da Espada e Oligárquica

3.1 Introdução
É certo que na fase republicana do Brasil golpes e revoluções se processam
ainda que possamos questionar o conceito idealizado de revolução. A própria
república que trazia muitas expectativas para alguns segmentos da população findou
em grande decepção, especialmente pelo projeto excludente da Constituição de
1891 que impedia a grande maioria da população o direito cidadão do voto. O
próprio equilíbrio entre os poderes proposto neste projeto durou pouco, pois
Deodoro da Fonseca, tendo seus interesses centralizadores contrariados pelo
Congresso de maioria civil e de ideais federalistas, optou pelo fechamento do poder
legislativo, numa clara atitude golpista. Embora, nesta fase, a atuação popular pelo
voto fosse limitada, a primeira república presenciou vários movimentos sociais que
de alguma forma representavam uma reação ao latifúndio, a miséria e a opressão
política das oligarquias dominantes, como nos movimentos messiânicos de
Canudos.

3.2 Governo provisório (1889-1891)


Depois de proclamada a República, no dia 15 de novembro de 1889, foi
formado um Governo Provisório cuja chefia ficou a cargo do Marechal Deodoro da
Fonseca, tendo ainda um ministério composto por republicanos históricos,
positivistas e militares. Foram excluídos republicanos revolucionários sendo
constituídos pelos seguintes ministros: Rui Barbosa (Fazenda), almirante Eduardo
Wandenkolk (Marinha), tenente-coronel Benjamin Constant (Guerra), Demétrio
Nunes Ribeiro (Agricultura), Campos Sales (Justiça), Quintino Bocaiúva (Relações
Exteriores) e Aristides Lobo (Interior).
As primeiras medidas do Governo Provisório foram os decretos de
implantação do regime republicano e o banimento da Família Imperial, publicados no
Diário Oficial no dia seguinte à proclamação. Ao receber a notícia de que teria que
deixar o Brasil em 24 horas, D. Pedro II não resistiu e embarcou com sua família
para a Europa. O embarque da Família Imperial sem resistência frustrou os
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monarquistas que imaginavam poder reverter a situação, especialmente na Bahia,


onde a proposta de resistência previa até mesmo a separação da província. As
Câmaras Municipais e Assembleias Legislativas Provinciais foram dissolvidas e seus
presidentes destituídos. As províncias foram transformadas em estados e, para
governá-los, foram nomeados interventores. Foram adotadas ainda as seguintes
medidas:a grande naturalização dos estrangeiros residentes no Brasil; separação da
Igreja do Estado; instituição do casamento civil; adoção da nova bandeira; a reforma
financeira de Rui Barbosa (Encilhamento); – a promulgação da Constituição de
1891.

3.3 A crise do Encilhamento


O ministério da Fazenda do Governo Provisório foi ocupado por Rui Barbosa,
que tentou realizar uma reforma financeira que tinha como objetivos desenvolver a
industrialização do Brasil e a redução da dependência em relação ao capital
estrangeiro. Para conseguir realizar seus objetivos, o Governo adotou uma política
de emissão monetária para garantir a circulação de capitais e o pagamento dos
operários, bem como facilitava a concessão de créditos para a criação de empresas.
As tarifas alfandegárias foram elevadas e a entrada de matérias-primas no país foi
facilitada. A facilidade de crédito e a emissão de dinheiro realizada inclusive por
bancos privados levaram à grande especulação financeira. Foram criadas várias
empresas fantasmas que vendiam desenfreadamente ações na bolsa de valores. Da
noite para o dia, especuladores acumularam grandes fortunas à custa do dinheiro de
pessoas que eram enganadas e tapeadas.
A grande emissão monetária desvalorizava constantemente o mil-réis,
provocando aumentos constantes na inflação, e refletia diretamente no aumento do
custo de vida da população, que sofria com preços cada vez mais altos. A
desvalorização monetária prejudicava as empresas que importavam produtos e
matérias-primas, levando-as à falência e aumentando o desemprego.
Tentando socorrer empresas falidas e compensar a especulação financeira na
bolsa de valores, o Governo aumentava mais ainda a emissão monetária,
aprofundando a espiral inflacionária. A especulação e a inflação descontroladas
deixaram clara a falência da política econômica de Rui Barbosa, que ficou conhecida
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como Encilhamento, referência feita às apostas realizadas nas corridas de cavalo no


jóquei.
É importante lembrar que a desvalorização monetária favoreceu inicialmente
os cafeicultores, que produziam gastando em mil-réis e vendiam em moeda
estrangeira valorizada. Todavia a instabilidade econômica prejudicava seus negócios
internos e a proteção dada à indústria lhes desagradava, colocando-os contra a
política financeira do Governo Provisório. Além destes, os importadores exigiam
estabilidade cambial, pois com as constantes desvalorizações da moeda nacional,
as importações ficavam cada vez mais caras e o mercado consumidor para produtos
importados decrescia constantemente.

3.4 A Constituição de 1891


Nesse momento além do fi m de instituições monárquicas famosas como o
poder Moderador, o voto censitário, o Senado Vitalício e do Conselho de Estado, em
termos políticos, estabeleceu-se a clássica divisão em três poderes, transformando
ainda as antigas províncias em estados. Verifi camos que as diversas tendências
ideológicas atuantes na implantação da República se manifestaram nos artigos da
Constituição de 1891. O ideal liberal, desejo maior dos cafeicultores, infl uenciados
pelo exemplo norte-americano, se apresenta na adoção do modelo federalista que
concedia relativa autonomia para os estados. Nosso legislativo federal seria
bicameral e eletivo formado por Deputados Federais e Senadores eleitos pelos
estados. O pensamento positivista também estava presente neste projeto
constitucional com o estabelecimento do Estado Laico (separação da Igreja do
Estado), pondo fi m ao caráter confessional do projeto anterior que durou 67 anos. A
grande decepção fi cou por conta da limitação da participação política pelo voto que
era permitido apenas aos homens maiores de 21 anos e que fossem alfabetizados,
excluindo da vida política mulheres, padres, soldados, mendigos e analfabetos. O
fato do voto ser do tipo aberto era outro entrave que impedia a garantia da lisura e
da idoneidade do processo político, na medida que tal dispositivo facilitava muito as
manobras políticas promovidas pelos coronéis que passavam a controlar o voto
popular ou pela promessa de concessões e benefícios, ou mediante a intimidação
pessoal e violência.
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3.5 As eleições indiretas e a escolha do primeiro


presidente
Conforme determinava a Constituição de 1891, logo depois de sua
promulgação, a Assembleia Constituinte se transformou em Congresso Nacional,
que teve de escolher o primeiro Presidente e o Vice. Duas chapas foram inscritas
para a eleição: a primeira era encabeçada pelo Marechal Deodoro da Fonseca e
tinha como vice o Almirante Eduardo Wandenkolk; a segunda tinha como candidatos
o cafeicultor Prudente de Moraes e o Marechal Floriano Peixoto para Vice-
presidente. Havia uma clara tendência do Congresso para a escolha de Prudente de
Moraes. Entretanto, os militares faziam grande pressão sobre os parlamentares e o
Exército deixara claro que não aceitaria um Presidente civil, havendo inclusive
ameaça de golpe, caso Deodoro não fosse eleito. Diante da pressão, os
parlamentares elegeram o Marechal Deodoro, que ganhou com pequena diferença
de votos. Já o vice, escolhido em separado, foi o Marechal Floriano Peixoto, da
chapa oposicionista, que chegou a ter mais votos que o próprio Marechal Deodoro
da Fonseca.

3.6 República da Espada


O curto governo de Deodoro da Fonseca, na nova fase, foi caracterizado pelo
autoritarismo do presidente e pelos reflexos econômicos do encilhamento.
Enfrentando uma oposição acirrada do Parlamento brasileiro, Deodoro mostrou-se
indisposto com a Lei de Responsabilidade votada no Congresso, que, na prática,
cumpria o papel de limitar as ações do presidente e abria a possibilidade de seu
afastamento, caso descumprisse as normas legais do Estado Nacional. Como a lei
foi vetada por Deodoro, o Legislativo, agindo na contramão do Poder Executivo,
aprovou o projeto no dia 2 de novembro de 1891. Insatisfeito, o presidente fechou a
casa no dia seguinte e decretou estado de sítio (suspensão de direitos e garantias
individuais, na totalidade ou em parte do território nacional). A Primeira República
começava autoritária.
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A reação à atitude do presidente veio das próprias Forças Armadas. A


Marinha brasileira, ainda simpática ao Antigo Regime monárquico, mas sem um
projeto de retorno da antiga ordem, deu início à conhecida Primeira Revolta da
Armada. Conduzida pelo almirante Custódio José de Melo, alguns navios de guerra
colocaram suas armas apontadas para a capital e exigiram a restauração da ordem
democrática no país. A atitude da Marinha veio acompanhada da oposição de vários
setores da sociedade que se indispuseram com a arbitrariedade do presidente da
República. Este, pressionado pelas surpreendentes reações, renunciou ao cargo no
dia 23 de novembro de 1891.
O controle do Executivo cabia agora ao vice-presidente Floriano Peixoto, que
reabriu o Congresso e encerrou o estado de sítio. O novo governante, também
autoritário, estava longe de representar uma unanimidade no Brasil do período. Um
dos elementos mais agravantes de contestação da ordem vigente cabia a uma falha
constitucional. A lei determinava que o vice-presidente, após a renúncia de Deodoro,
deveria convocar novas eleições para o cargo Executivo. Entretanto, Floriano
argumentava que a lei possuía uma contradição jurídica evidente: como convocar
novas eleições em um país que nunca tivera uma eleição para presidente?
Aproveitando-se da situação, resolveu cumprir o parágrafo 2º do artigo 1º das
disposições transitórias, que estabelecia: “O presidente e o vice-presidente, eleitos
na forma deste artigo, ocuparão a Presidência e a Vice-Presidência durante o
primeiro período presidencial”. Assim, Floriano governaria até o fim do mandato.
A oposição ao novo presidente foi conduzida em várias frentes. Em março de
1892, Floriano recebeu uma carta-manifesto de treze generais, exigindo convocação
de eleições. Foram todos punidos. A Marinha repetiu o ato e apontou os canhões
dos navios para o Rio de Janeiro, em setembro de 1893, no episódio conhecido
como Segunda Revolta da Armada, conduzida pelo mesmo almirante, Custódio José
de Melo.
Paralelamente, no mesmo ano, o Sul foi palco de um dos mais violentos
episódios ocorridos em solo nacional durante a República: a Revolução Federalista
(1893-1895). Oscar Pereira da Silva / Domínio Público Tais episódios ocorreram
sobretudo no RS, onde as disputas políticas acerca do projeto republicano e pelo
poder se intensificavam. Os defensores do ideal positivista, concentrados no PRR
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(Partido Republicano Rio-grandense), liderados por Júlio de Castilhos, enfrentavam


o Partido Federalista, defensor de um projeto liberal e descentralizador. Entre suas
lideranças, destacava-se Gumercindo Saraiva. As disputas no Sul assumiram uma
feição de guerra civil a partir do ano de 1893, quando as forças federalistas pegaram
em armas contra o governo estadual, chegando a ocupar os estados do Rio Grande
do Sul, Santa Catarina e Paraná. Como as tropas de Júlio de Castilhos contavam
com o apoio do governo de Floriano Peixoto, os federalistas, também chamados de
maragatos, assumiram uma postura antiflorianista, unindo-se aos participantes da
Segunda Revolta da Armada, que haviam se deslocado para a cidade de Desterro,
capital de Santa Catarina. Apenas em 1895, durante o governo de Prudente de
Morais, as tropas federalistas foram derrotadas por meio da união entre contingentes
do governo central e de tropas estaduais. A revolução teve como saldo a morte de
mais de cinco mil pessoas, sendo muitas degoladas quando capturadas pelas tropas
inimigas. Quanto à Segunda Revolta da Armada, a rebeldia da Marinha foi derrotada
no ano de 1894, com o apoio de navios estrangeiros que colaboraram com o
governo de Floriano Peixoto.
As atitudes repressoras de Floriano foram responsáveis por duas
homenagens: o tratamento como Marechal de Ferro e a mudança do nome da
capital de Santa Catarina, que passou de Desterro para Florianópolis
Um considerável debate político marcou a organização da República nos seus
primeiros anos. O fortalecimento do novo regime foi pautado pela construção de
símbolos que pudessem garantir a autenticidade do projeto que, agora, firmava-se
como representante do novo e do moderno. A Primeira República brasileira foi
erigida por meio de um movimento elitista que excluía grande parte da população
brasileira. Nesse sentido, era preciso a criação de símbolos que possibilitasse a
necessária identificação entre o povo e o nascente Estado republicano. No livro A
Formação das Almas, José Murilo de Carvalho retrata como os símbolos
republicanos – como hino, bandeira, monumentos, heróis e outros ícones – foram
fundamentais para a consolidação de uma nova concepção de pátria. Porém, na
mesma obra, o autor destaca a ausência de uma unanimidade quanto ao projeto
político republicano a ser implantado. Não existia no Brasil um consenso acerca do
encaminhamento do governo inaugurado em 1889, principalmente no que tange ao
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controle do poder e à atuação dos setores governamentais nas estruturas de nossa


sociedade. Entre as correntes conflitantes, destacam-se três grupos: positivistas,
jacobinos e liberais.
Os defensores do positivismo articulavam suas ideias em torno do
pensamento do francês Auguste Comte, afirmando que um governo fortalecido e
consciente das necessidades do Estado seria capaz de arbitrar as questões gerais
da nação. O papel centralizador desse modelo, assim como a secundarização de
questões sociais, era condizente com os anseios dos militares, que se tornaram os
principais defensores do positivismo. Da mesma forma, a crença positivista no
avanço racional e industrial se conformava com o desejo militar de modernização do
Brasil. A própria bandeira brasileira, renovada a partir da Proclamação da República,
carregava a máxima positivista: Ordem e Progresso. Já os jacobinos projetavam
uma pátria com o ideal de participação popular, apesar de não terem um claro
conceito em que consistiria o povo brasileiro e quais os mecanismos de participação
para este. Os adeptos de tal corrente, oriundos dos grupos urbanos de média e
baixa renda e intelectuais, inspiravam-se nas ações de alguns líderes da Revolução
Francesa, como Robespierre e Danton. Cercados do imaginário dessa Revolução,
os jacobinos interpretavam Floriano Peixoto como uma referência política no Brasil,
apesar de o vice-presidente não ter a mesma identificação com o projeto jacobino.
Essa ligação com Floriano se deu por conta de medidas progressistas, como
construção de casas populares e o incentivo ao desenvolvimento industrial do Brasil
feito pelo vice-presidente, sem contar o fato de que este assumiu o poder no lugar
de um líder com traços positivistas.
O terceiro projeto, chamado de liberal, era defendido pelos cafeicultores,
partidários de uma organização política elitista e desejosos de uma estrutura
administrativa descentralizada que garantisse a manutenção da propriedade e da
liberdade individual. Inspirado na república estadunidense, esse projeto foi aquele
que mais influenciou os governos posteriores à República da Espada, principalmente
após a vitória de Prudente de Morais, em 1894, tornando-se hegemônico na vida
política nacional durante o Período Oligárquico.
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3.7 Repúbllica oligárquica


Apesar da instabilidade do país nos primeiros anos da República, nota-se
uma lenta solidez do novo regime, fruto de uma organização política que garantiu os
interesses dos grupos oligárquicos da sociedade. Cria-se, portanto, um recorte de
longa duração da história republicana brasileira, que percorre o final do século XIX e
encerra-se apenas com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder em 1930.
Nos primeiros anos do regime oligárquico, o Brasil ainda vivia as graves
consequências do Encilhamento. Buscando solucionar essa crise, o presidente
Campos Sales, antes mesmo de sua posse, iniciou um acordo econômico externo,
assinado com banqueiros ingleses, conhecido como Funding Loan. O acordo tratou-
se de uma renegociação da dívida brasileira e da entrada de um novo montante
monetário de 10 milhões de libras, o que permitiria ao Brasil evitar a insolvência
monetária.
Na pauta econômica do Brasil, o café ainda mantinha a sua importância,
construída durante o Segundo Reinado, já que permanecia como principal produto
de exportação.Produção lucrativa, a atividade cafeeira expandiu-se por todo o
Sudeste brasileiro até o ano de 1929, momento da Crise da Bolsa de Valores. No
contexto de grandes lucros para os produtores de café, aumentou-se, cada vez
mais, a produção de café, se expandindo para o sul do país. Os sinais de
superprodução já eram evidentes no final do século XIX.A tentativa de solução foi
organizada por meio de um encontro entre os representantes dos governos do Rio
de Janeiro, de São Paulo e de Minas Gerais, que articularam o conhecido Convênio
de Taubaté (1906). Neste, foi acertada uma intervenção dos estados, que realizariam
empréstimos no exterior para comprarem as sacas de café excedentes, valorizando
artificialmente o produto com a criação de estoques reguladores, ao mesmo tempo
que buscariam desestimular a expansão da produção no interior do país. A
produção, no entanto, continuou crescendo em ritmo acelerado, demonstrando a
incapacidade do Estado em gerir tal problema. O Convênio foi responsável pela
imediata retomada dos preços do produto no mercado externo. Porém, como o
procedimento era artificial, não solucionou as graves questões do setor cafeeiro do
Brasil, culminando na superprodução de 1929.
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Outros produtos também tiveram destaque, como a borracha, no final do


século XIX e início do século XX. Sendo utilizada como matéria-prima para pneus de
automóveis e bicicletas, a borracha foi fundamental durante a Segunda Revolução
Industrial. A região amazônica, rica em seringais nativos, tornou-se referência
mundial na extração de látex. O crescimento econômico levou a um fluxo imigratório
extraordinário para as principais cidades brasileiras, principalmente de nordestinos
vitimados pela seca. O enorme desenvolvimento gerado pela borracha foi efêmero.
Buscando fugir dos elevados preços, as indústrias estrangeiras optaram pela
compra da borracha produzida em larga escala na região asiática (Sri Lanka e
Singapura) a partir de 1910, o que acirrou a concorrência e levou a uma natural
retração econômica na região Norte do Brasil.
A indústria ampliou o seu espaço na economia brasileira durante a República
Oligárquica . Como exemplo, basta citar que, entre 1889 e 1907, o Brasil passou de
600 fábricas para 3 258, concentradas principalmente no Rio de Janeiro (33%), no
Rio Grande do Sul (15%) e em São Paulo (16%).Repetindo o que ocorreu durante o
Segundo Reinado, a produção cafeeira continuou a gerar capital excedente, que foi,
em parte, alocado para o setor secundário. Prova disso é a expansão do café para
São Paulo, que veio acompanhada do crescimento das indústrias.Além dos recursos
oriundos das exportações, a atividade industrial foi estimulada pela necessidade de
substituir importações durante a Primeira Guerra Mundial – indústria de substituição
–, já que os fornecedores de produtos industrializados para o Brasil estavam
envolvidos em questões bélicas, dificultando o envio desses produtos para o país.
Houve também a colaboração de imigrantes para a industrialização brasileira, sendo
o estrangeiro muitas vezes visto como operário mais especializado que o
trabalhador brasileiro, portanto, mais adaptável ao setor. Os principais setores da
indústria eram os de bens de consumo não duráveis, como tecidos e alimentos, que
dispendiam menor investimento de capital e menor sofisticação tecnológica.

3.8 O Movimento Operário


Uma das consequências do desenvolvimento industrial foi a formação do
movimento operário no Brasil. A luta por melhores condições de trabalho e por uma
reestruturação do modo de produção foi conduzida, em grande parte, por imigrantes
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que chegavam ao país influenciados pelas novas ideias que desafiavam a ordem
capitalista. Nesse cenário, destaca-se, em um primeiro momento, o anarquismo,
difundido principalmente por italianos e espanhóis, por meio do fenômeno do
anarcossindicalismo. O sindicato servia como instrumento de luta por melhores
condições de trabalho, ao mesmo tempo que cumpria o papel de núcleo autônomo
de desafio da ordem imposta pelo Estado. Para dimensionar a influência dessa
ideologia no país, basta perceber que, no transcorrer da Primeira República, foram
criados 334 jornais anarquistas.A luta operária centrava-se no combate às péssimas
condições de trabalho do operariado no país. Não havia uma lei imposta pelo
Estado, inspirado em ideias liberais, que fosse capaz de limitar a exploração dos
empresários que submetiam seus funcionários a condições subumanas de trabalho
(carga horária de 12 a 16 horas diárias, baixos salários, exploração de mulheres e
crianças). A relação entre patrão e empregado, ou capital e trabalho, era
determinada pelo regulamento de fábrica, criado pelos proprietários das empresas.
Ao Estado, inclinando-se a favor do empresariado, cabia o papel punitivo daqueles
que contestassem a ordem capitalista vigente.Prova do papel repressor do Estado
veio no ano de 1907 com a Lei Adolfo Gordo, que permitia ao governo expulsar
estrangeiros considerados subversivos e, já no final da Primeira República, com a
Lei Celerada (1927), aprovada no Congresso Nacional, que autorizava o fim de
manifestações grevistas e a possibilidade de as autoridades legais fecharem
qualquer grupo representativo considerado contrário à ordem pública, como
sindicatos e partidos. Tamanha arbitrariedade governamental não foi capaz de
eliminar a luta do operariado no Brasil. Em 1906, 28 sindicatos de São Paulo e Rio
de Janeiro iniciaram o Primeiro Congresso Operário, criando as bases para a
fundação, em 1908, da Confederação Operária Brasileira (COB), que unificou a luta
pela causa trabalhadora no Brasil. O Congresso Operário seguia tendências
anarquistas e socialistas, além de optar pelo uso da greve como instrumento de luta.
Observa-se, assim, que manifestações grevistas ocorreram no Brasil durante toda a
primeira década do século XX. Porém, o grande instante do movimento operário
ficou por conta da Greve Geral de 1917. A partir do mês de junho daquele ano, em
muitas fábricas de São Paulo, intensificou-se a luta por melhores salários, redução
do trabalho noturno, abolição das multas e regulamentação do trabalho feminino.
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3.9 Sociedade na Primeira República


No espaço da manutenção, fica clara a condição agrária do país. A
concentração da população ativa no setor primário em 1920 era de 69,7%. Desse
enorme contingente populacional, a maioria era composta de uma população
camponesa, pouco politizada, afastada do pleno exercício da cidadania e sem
acesso à educação, apesar de muitos exercerem o direito de voto. Submetidos ao
controle dos chamados coronéis, esses camponeses tinham como prioridades a
subsistência e os poucos elementos de integração social, como a religião e o direito
ao voto. O desolador quadro social brasileiro de exclusão não impossibilitava a
eclosão de alguns movimentos contestatórios da ordem vigente. Exemplos como a
Revolta da Vacina (1904) ou os movimentos messiânicos são manifestações
explícitas de uma sociedade capaz de agir e reagir.
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4 Conclusão
A Primeira República foi um período marcante na história política do Brasil,
estendendo-se de 1889 a 1930. Também conhecida como República Velha, essa
fase é caracterizada pela instauração do regime republicano no país, após a queda
da monarquia, e pela consolidação de uma nova ordem política, social e econômica.
A transição do Império para a República ocorreu em 15 de novembro de 1889,
quando o Marechal Deodoro da Fonseca liderou um movimento militar que resultou
na proclamação da República. Com o advento do novo regime, o Brasil passou a
adotar um sistema presidencialista e uma Constituição que substituiu a antiga Carta
Imperial.

No entanto, a Primeira República não trouxe grandes mudanças sociais e


políticas para o país. O poder político permaneceu nas mãos de uma elite
oligárquica, representada principalmente pelos cafeicultores paulistas e pelos
pecuaristas mineiros. Essas oligarquias dominaram o cenário político através do
voto de cabresto, fraude eleitoral e controle das estruturas políticas locais. Durante
esse período, o país passou por profundas transformações econômicas. A produção
de café se tornou o principal motor da economia, impulsionada pela expansão da
lavoura no oeste paulista e no sul de Minas Gerais. O café brasileiro era exportado
em larga escala, gerando grandes lucros para os barões do café, mas também
criando uma economia extremamente dependente de um único produto, o que
gerou problemas no longo prazo.

Além disso, a Primeira República foi marcada por uma série de conflitos
políticos e sociais. A política dos governadores, conhecida como "política do café
com leite", estabelecia uma alternância de poder entre os estados de São Paulo e
Minas Gerais, que se revezavam na indicação dos presidentes da República. Essa
prática, embora tenha garantido certa estabilidade política, também perpetuou o
domínio das oligarquias regionais. As tensões sociais também eram evidentes
durante esse período. A população urbana, em especial os trabalhadores e
imigrantes, vivia em condições precárias, enfrentando baixos salários, jornadas de
trabalho exaustivas e falta de direitos trabalhistas básicos. Essas condições levaram
a uma série de movimentos sociais e greves, como a Revolta da Vacina em 1904, a
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Greve Geral de 1917 e a Semana de Arte Moderna de 1922, que refletiam o


descontentamento e a busca por mudanças.

No âmbito cultural, a Primeira República também testemunhou o surgimento


de importantes movimentos artísticos e literários. A Semana de Arte Moderna de
1922, realizada em São Paulo, marcou a ruptura com os padrões estéticos
tradicionais e influenciou a produção cultural nas décadas seguintes. A instabilidade
política e social crescente, aliada à crise econômica resultante da quebra da Bolsa
de Valores de Nova York em 1929, contribuiu para o desgaste da Primeira
República. Em 1930, o país viveu a chamada Revolução de 1930, liderada por
Getúlio Vargas, que resultou na deposição do presidente Washington Luís e no fim
da República Velha.

Apesar de suas limitações e contradições, a Primeira República


desempenhou um papel fundamental na consolidação da democracia brasileira,
abrindo caminho para as transformações políticas e sociais que ocorreriam nas
décadas seguintes. O período foi marcado por avanços e retrocessos, conflitos e
mudanças, mas foi um marco crucial na construção da identidade republicana do
Brasil.
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5 Referências
Apostila de História Sistema de Ensino Poliedro

Apostila de História Sistema de Ensino Bernoulli

https://brasilescola.uol.com.br/historiab/primeira-republica.htm

https://www2.camara.leg.br/a-camara/conheca/historia/a1republica.html

https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/movimento-operario-no-seculo-xix.htm

ALENCAR, Francisco. História da Sociedade Brasileira.

AQUINO e outros. Sociedade Brasileira – uma história.

CAMPOS, Raimundo. História do Brasil.

CHIAVENATO, Júlio José. As Lutas do Povo Brasileiro.

DONATO, Hernani. Dicionário das Batalhas Brasileiras.

FAUSTO, Bóris. Negócios e ócios.

JÚNIOR, Caio Prado. História econômica do Brasil.

NOVAIS, Fernando A. História da Vida Privada. vol. 2


NARLOCH, Leandro. Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil

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