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Fórum II – Brasil III

Segunda – 21.03
Batalha inicia seu texto chamando a atenção para a ideia generalizada de que classe
operária está ligada a fenômeno econômico, político, ou a um tipo de trabalho (o
fabril, mais notadamente). Para o autor, a ideia de classe requer que um grupo
compartilhe de interesses coletivos fincados na experiência comum, ou seja, o modo
com trabalhadores se percebem. Assim, este acaba sendo um processo mais ou menos
demorado. Outra ideia propagada erroneamente, segundo o autor, é de que a classe
operária brasileira durante a Primeira República era “branca, fabril e masculina”.
Batalha refuta esta caracterização argumentando que pretos, pardos ou caboclos
(quando se considera o país todo) também tinham participação nesta classe. Ela
também não era só fabril, pois também havia a existência de manufaturas e oficinas
que, mesmo que pequeno, ainda assim compunha um número de operários. Além
disso, a classe não era constituída só de homens, uma vez que a mão de obra em
fabricas do ramo têxtil e de vestuário era significativamente feminina.
Terça – 22.03
A classe operária no Brasil nasce na época da produção cafeeira e do trabalho de
imigrantes. Com o surgimento da incipiente industrialização no período da Primeira
República, aquele contingente de trabalhadores do campo migram, então, para as
cidades e preenchem vagas de trabalho nas indústrias. Assim, o movimento operário
ganha novas configurações. É necessário destacar que os contingentes dos
trabalhadores das produções cafeeiras eram formados majoritariamente por
imigrantes europeus. Alguns destes, por sua vez, vieram da Europa trazendo algumas
ideias de reinvindicações e de organização operária. Foi neste cenário que a classe
operária da Primeira República se organizou para divulgar suas ideias (marcadamente
anarquistas até meados dos anos 1920) em partidos, escrevendo periódicos e
panfletos, ou realizando peças teatrais. Neste período se realizaram alguns Congressos
(1906, 1912) e também houve reinvindicações em forma de ação direta, como as
greves de 1907 e 1917.

Quarta-feira – 23.03
Outra ideia generalizada que Cláudio Batalha vem contradizer em seu texto é a do
“mito do imigrante militante”. Referindo aos estudos de Hall (1975), Batalha
argumenta que “a maioria dos imigrantes provinha do campo e, na maior parte das
vezes, não tinha nenhuma experiência prévia de engajamento sindical ou político”. No
entanto, isso não quer dizer que alguns imigrantes não tivessem experiências de
sindicalismos em seus países de origem, mas este perfil não era o dominante. Sem
distinguir brasileiros de imigrantes, Batalha nos conta que a classe operária que mais
facilmente se organizou foram os trabalhadores qualificados, detentores de algum
ofício. Estes, por deterem um saber qualificado, detinham “um certo poder de
barganha nas negociações por melhores salários ou condições de trabalho” em
comparação com os trabalhadores desqualificados, que estavam fora dos sindicados.
Quinta – 24.03
Ao contrário do que se acreditava, o advento do sistema republicano no Brasil em
1889 não trouxe adventos de direitos políticos e sociais para todas as classes sociais do
país. O novo regime instaurado “mostrou-se incapaz de atender aos anseios da classe
operária”. Contudo, estas configurações despertaram reações do movimento operário.
As investidas da classe foram diferenciadas, de acordo com os setores a qual
pertenciam. Houve aqueles que só buscavam obter diretos sociais, como era os caso
dos cooperativistas e positivistas. Outros, com os socialistas e aqueles mais politizados
do sindicalismo reformista buscavam não só a conquista de direitos sociais, mas
também políticos, visando uma maior participação no processo político-eleitoral. Uma
outra ala de trabalhadores, identificados pelas ideias anarquistas, propunham uma
negação total da política institucional, defendendo a ação direta para a obtenção de
conquistas.

Sexta – 25.03 – Religião e Política no Alvorecer da República...


Com a instauração do novo regime no Brasil em 1889, que seja o republicanismo, as
relações entre a Igreja Católica e o Estado brasileiro sofreram mudanças. Com o fim do
padroado e do regalismo, a Igreja Católica se viu diante de uma situação paradoxal de
“alívio e apreensão” (Hermann, 2008). Segundo Hermann, a Igreja via-se diante de
uma liberdade de ação, podendo expandir suas instalações de dioceses e
arquidioceses, por exemplo. Por outro lado, com a laicização do estado, a Igreja perdia
controle sobre outras esferas: o casamento civil passa a ser obrigatório, o ensino
público é laicizado, os cemitérios são secularizados e os religiosos e clérigos de
qualquer corrente confessionária são proibidos de elegerem-se para o Congresso. É
neste contexto que surgem os movimentos messiânicos brasileiros durante a Primeira
República. Hermann traz distintas visões (social, política e econômica) de diferentes
autores sobre este fenômeno. Maria Isaura Pereira de Queiroz classifica os
movimentos messiânicos em primitivos e rústicos. Para a autora, ambos tipos
procuram uma transformação ou reorganização social, uma vez que os dois
“movimentos teriam em seus aspectos sociopolíticos sua determinação fundamental.
Rui Facó, por outro lado, coloca estes movimentos no campo do caráter político e
material, enxergando-os como uma “reação dos pobres do campo à situação de
completa exclusão social”, trazida pelos males do monopólio da terra. Esta reação (luta
social) estaria fincada no crime (cangaço) ou na religião (“fanatismo”).
Sábado 26.03

O movimento messiânico causado por Padre Cícero no então Juazeiro, CE, no final
do século XIX e início do XX é caracterizado como uma questão de cunho religioso-
popular. Liderado pelo padre, este movimento, na visão de Della Cava, ganha uma
racionalidade política. Padre Cícero já era um religioso respeitado, desprendido e
íntegro quando, supostamente, teria presenciado seguidamente o “milagre” da
hóstia que teria acontecido com a beata Maria de Jesus. A partir deste suposto
ocorrido, Padre Cícero viu ainda mais seu poder crescer diante da população. Neste
tempo, o Cariri era uma região onde predominava as “práticas litúrgicas populares
e as crendices e superstições”, onde o povo do interior não tinha uma aproximação
com o catolicismo ortodoxo. No entanto, Roma não reconheceu o “milagre” e
Padre Cícero foi excomungado em 1916. Mas este fato não abalou sua relação com
seus seguidores e afilhados; pelo contrário, Padre Cícero tornou-se politicamente
ainda mais prestigiado não só no Cariri, mas em todo o Nordeste, tornando-se o
primeiro prefeito de Juazeiro em 1911. Vale também destacar que as estruturas de
poder e relações de trabalho eram intensamente frágeis nesta época. Desde então,
muitos penitentes, peregrinos e romeiros dirigem-se à Juazeiro do Norte com o
intuito de venerar a imagem de Padre Cícero Romão Batista. 

Domingo 27.03
O movimento de Canudos, sediado na Aldeia de Belo Monte, Bahia, liderado pelo
beato Antônio Conselheiro também é estudado como um movimento de religiosidade
popular nos tempos do final do século XIX. No tempo do arraial de Canudos, o Brasil da
Primeira República vivia um momento de grande instabilidade com a sua recente
instaurada república. Canudos, apesar de ter sido eriçada sob a alcunha de um líder
religioso, por outro lado, era vista como uma resposta às questões políticas próprias de
seu tempo. Antônio Conselheiro não era a favor do regime republicano, sendo um
explícito saudosista dos tempos da monarquia. O beato pregava em seus
conselheiristas uma moral extremamente rígida. Antônio e seus conselheiristas eram,
então, vistos com preocupação pelas autoridades por seu espírito de insubordinados.
Euclides da Cunha, com o seu Os Sertões, contribuiu para a divulgação desta imagem
negativa de Conselheiro, descrevendo-o como um subversivo, louco, fanático. A partir
de 1950, Rui Facó, em Cangaceiros e fanáticos, inicia uma nova corrente de
interpretação da guerra sertaneja de Canudos (oposta à euclidiana), sendo agora
associada à luta pela terra, contra o latifúndio e a opressão, ligada à uma “expectativa
de mudanças significativas da estrutura política e social brasileira”.
Segunda – 28.03
A Guerra do Contestado (1912-1916) é vista “como um referencial de resistência do
camponês contra o avanço das forças capitalistas que ampliam sua área de atuação no
Brasil a partir do início do século XX” (Amador, 2010). Apesar de para alguns autores o
movimento do Contestado ser explicitamente messiânico e milenarista, a Guerra que
aconteceu em uma área entre os estados do Paraná e Santa Catarina foi causada pela
luta por posse de terras. Os caboclos da região do Contestado, sob a “liderança
espiritual” do monge José Maria (saudosista monárquico), “se revoltou contra os
governos estaduais, que promoviam a concentração da terra em benefício dos grandes
fazendeiros”. Ou seja, a Guerra do Contestado não pode ser lida somente pelo seus
viés religioso, mas também como “um fenômeno de ordem econômica e política que
provocou profundas mudanças sociais na região oeste catarinense e, principalmente,
para a população cabocla.”

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