Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
- A abolição assume-se impossível sem o gesto sacrifical do poder moderador — a princesa regente e
sobretudo o imperador —, que teria extirpado a escravidão ao custo da perda do trono.
- INTERPRETAÇÕES DA ABOLIÇÃO:
- Essas três famílias interpretativas, resumidas aqui a alguns de seus membros, operaram uma
divisão do trabalho intelectual: uma privilegia fatores estruturais, outra o ativismo dos escravos, a
terceira, as instituições políticas. (P. 119)
- A mobilização brasileira pela abolição da escravidão foi, pois, grande, estruturada e duradoura. (p.
121)
- A partir da segunda metade dos anos 1860, o cenário internacional deixou o Brasil na situação
incômoda de candidato a última nação escravista do mundo civilizado.
- O segundo processo foi de crise política doméstica, em parte decorrente da dificuldade de lidar
com a escravidão e que, em 1868, levou parte do Partido Liberal a protestar contra o governo
Conservador no espaço público e reclamar reformas modernizadoras, aí incluída a abolição gradual
da escravidão. O fato de esses políticos fazerem política fora das instituições, em conferências e
jornais, funcionou como efeito demonstração de uso do espaço público para vocalizar temas que o
sistema político barrava.
- O terceiro elemento estruturante dessa conjuntura foi uma reforma modernizadora. A reforma
expandiu o acesso ao ensino superior e as possibilidades de criação de jornais, ampliando os
participantes e espaços de debate público no Brasil. Também aprovou a Lei do Ventre Livre, em
1871, que libertou os escravos por nascer e dilacerou a unidade dos Conservadores.
- Como foi possível uma mobilização de tal magnitude ao longo de tempo tão longo? A expansão
geográfica e a continuidade longitudinal se viabilizaram graças a três dimensões da arquitetura
interna do movimento: redes de ativismo, articuladores políticos e estratégias modulares.
- Três tipos de redes sociais estruturaram o ativismo: pessoais (parentesco, compadrio, amizade),
profissionais (professor‐aluno, estudantis, ocupacionais) e políticas (afiliação a mesmos clubes ou
seitas — positivistas, por exemplo — e partidos
- Esta interpretação do abolicionismo como movimento social per‐ mite, creio, questionar três mitos.
- Terceiro mito é o da apatia política da sociedade brasileira no Império, a ideia de que o Estado
operaria sobre uma sociedade inerte. Encontrei o contrário. Houve, de um lado, um escravismo
politicamente organizado, que lutou com unhas e dentes pela manutenção da escravidão. E, de
outro, um movimento social forte e organizado, que pressionou os governos em favor da abolição.
Dos dois lados, a sociedades e mobilizou, às vezes junto, às vezes contra o Estado, muito longe do
imobilismo que usualmente se lhe atribui.