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Aula 03

História do Brasil p/ CACD (Primeira e Segunda Fases) - Pós-Edital

Diogo D´angelo, Pedro Henrique Soares Santos, Rafael Nogueira

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Diogo D´angelo, Pedro Henrique Soares Santos, Rafael Nogueira
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Sumário
Apresentação .................................................................................................................... 2

Desenvolvimentos internos ............................................................................................... 3

A política sob Pedro I .................................................................................................................................... 5

A economia do Primeiro Reinado ............................................................................................................... 15

Desenvolvimentos externos ............................................................................................ 17

A Guerra da Cisplatina (1825-1828) ........................................................................................................... 17


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O incidente de Chiquitos ............................................................................................................................. 24

A missão Santo Amaro................................................................................................................................ 25

O fim do Primeiro Reinado .............................................................................................. 26

Exercícios ........................................................................................................................ 30

Exercícios apresentados .................................................................................................. 40

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Apresentação

Olá, caro aluno!

Esta aula que vamos te apresentar abordará um dos temas mais importantes de nossa história pátria: o
reinado de Pedro I no Brasil. Vimos na aula anterior as consequências da vinda da família real portuguesa
para as terras americanas e como, depois da Revolução do Porto em 1820, a relação entre as duas partes
que compunham o império português se deteriorou a ponto da cesura formal de laços e início da guerra de
independência do Brasil.

Nesta aula, abordaremos a construção do Estado brasileiro após 1822, com exceção da guerra externa contra
Portugal e do processo de reconhecimento da independência dos quais já falamos. Aqui abordaremos os
aspectos relevantes do período em seus aspectos internos e externos, particularmente a guerra da
Cisplatina.

Ave Império!

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Desenvolvimentos internos
Feita sua decisão por ficar no Brasil e propugnar pela independência formal do Reino do Brasil, D. Pedro fazia
uma escolha difícil e com amplas consequências. Embora o monarca pudesse contar com importante apoio
das províncias do Centro-Sul, particularmente São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, as demais províncias,
ao Sul e ao Norte não estavam unânimes em apoiá-lo. Para além da divisão interna a grupos dentro das
províncias, havia ainda a necessidade de lidar com as tropas portuguesas estacionadas em pontos vitais do
território: na Cisplatina, na Bahia e no Norte. Assim, a guerra de independência, além de ser uma luta contra
os projetos das Cortes portuguesas seria, mais importante ainda, uma guerra para forjar e manter um
território gigantesco, multiforme, multiétnico e com múltiplos interesses. Claríssimo nesse sentido foram as
campanhas do Almirante Cochrane no Maranhão e no Pará que, por meio de blefes e ataques militares,
conseguiu “convencer” as elites daqueles locais a prestarem seus juramentos ao jovem rapaz que se coroava
imperador do Brasil.

Dois pontos relevantes merecem então ser destacados da criação do Império do Brasil: a continuidade
dinástica sob a casa de Bragança e a formação do Estado antes da Nação. Esses dois aspectos são pontos
pacíficos para a historiografia brasileira e merecem ser bem compreendidos.

A continuidade dinástica de D. Pedro I é um dos elementos que explica – para além do uso das armas – a
manutenção da unidade territorial. Diferentemente dos hermanos latino-americanos que, ao longo do
processo de separação de sua metrópole, passaram pela desagregação dos antigos vice-reinos, o Estado
Brasileiro não foi dissolvido em múltiplas e pequenas províncias autônomas, alcançando, em verdade, um
grau de concentração política na corte que, em alguns países vizinhos, levou décadas a se concretizar. A
continuidade no trono do Brasil de um membro – e mais, o herdeiro mesmo – do trono português deu aos
habitantes das províncias legitimidade ao governo que se formava. E aqui se requer que nos detenhamos
um pouco em aspectos de cultura política.

A revolução francesa, da qual falamos em nossa aula de história mundial, inaugurou um princípio basilar e
completamente novo com consequências profundas que foi o da soberania popular. Isso significa(va) que
os poderes do Estado emanam do povo, não rivalizando com nenhuma outra fonte. A partir desse princípio,
mesmo os reis, os parlamentos e todas as instâncias de poder somente poderiam tomar decisões e governar
por delegação dessa soberania popular. Essa perspectiva se implantou de modo definitivo no Ocidente e
marca nossa teoria político-jurídica atual.

Ocorre, entretanto, que nos estertores do Congresso de Viena, os princípios revolucionários, dentre os quais
a soberania popular, foram combatidos e tentou-se restaurar o princípio da legitimidade dinástica, isto é,
que o poder emana da figura real, de sua história, de seu papel como árbitro das dissensões políticas da
sociedade e harmonizador dos interesses egoístas em prol do bem comum.

Quando da independência das ex-colônias hispanoamericanas, os novos Estados optaram pela República
como modelo político. Acontece é que o chefe do executivo de uma república é eleito por voto, envolvendo

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o maior cargo do país – que conjuga chefia de governo com chefia de Estado – em disputas político-
partidárias ou, nesse período histórico mais propriamente falando, disputas entre facções diferentes. Essas
disputas políticas acaloradas entre diferentes facções e grupos foi um dos principais fatores para
desagregação dos países latino-americanos. Esses caudilhos puderam muito bem pensar: “Afinal, se
qualquer homem poderia ser eleito e governar, por que aceitar o governo de outro e não simplesmente
fundar o meu próprio? O que o outro tem que eu não tenho?”

É aí que a legitimidade dinástica entrou em cena para manter unidas as diferentes províncias do antigo Reino
do Brasil um uma nova entidade política. Ora, não era um comerciante de grosso trato ou um grande
fazendeiro que estava lutando pela independência do país, mas o herdeiro da Casa de Bragança que, pela
teoria política da época, tinha direitos dinásticos sobre o país, em certo sentido. Essa questão pode ser
particularmente exemplificada num pedido feito ao governo imperial pelo comandante de armas da
Província de Goiás de 1823 a 1826, José Raimundo da Cunha Mattos, em que requisitava quadros e pequenas
pinturas do jovem imperador, já que o povo poderia até não saber o que era constituição, mas sabiam o que
era um rei.

A outra questão, da formação do Estado antes da Nação também é muito importante. Ponto implícito, mas
pouco explorado pela historiografia, é a da multietnicidade do povo que compunha o imenso território do
Império do Brasil. Para além da religião católica – um catolicismo bastante popular e sincrético – que ligava
todos os súditos do império, pouco mais se poderia dizer de comum aos vários habitantes do Brasil. Mesmo
o português não vigorava completamente nos rincões, com a chamada “língua geral” ainda persistindo em
alguns bolsões; ou ainda os vários dialetos das várias etnias indígenas que habitavam o que chamamos hoje
de “Centro-Oeste” e “Norte”; ou mesmo o espanhol da província Cisplatina (que viria a se separar e vamos
abordar isso adiante) e o português misturado com espanhol do Rio Grande do Sul. Essas “peças de um
mosaico” não compunham uma nação no sentido moderno do termo. Antes, cada um desses povos poderia
se entender como uma nação diferente. Tanto que, se olharmos os Anais da Câmara dos Deputados,
perceberemos, muitas vezes, o uso do termo “gentes” e “povos” – cujo plural demonstra a ausência de
unidade de um único povo – concomitantemente com o uso do conceito de “nação”, mostrando-nos,
claramente, que o processo de construção desta última estava em curso e não finalizado. Esse ponto é
normalmente destacado como uma diferença fundamental entre os Estados americanos – mesmo o próprio
EUA – comparativamente com, por exemplo, a Alemanha.

Feitas essas considerações iniciais importantes, vamos agora passar para os desenvolvimentos políticos e
econômicos do período, para então avançarmos para o aspecto externo. Vale a pena destacar, para que não
haja dúvidas, que os dois planos se interpenetram e que sua divisão serve somente para facilitar o
entendimento.

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A política sob Pedro I

Feita a declaração de independência em São Paulo, aclamado e depois coroado, D. Pedro I deu início a seu
governo como imperador do Brasil. Vimos como desde o início, o jovem imperador de 24 anos, deu
prosseguimento à guerra de independência e ao reconhecimento diplomático junto às Cortes e a seu pai.

Enquanto se lutava pela independência e os ministros de D. Pedro no exterior buscavam apoio para a
consecução de tratados diplomáticos, a vida política do Brasil se encaminhava para a criação de uma
monarquia constitucional.

A Assembleia Constituinte, que havia sido convocada em 1822 antes mesmo do grito do Ipiranga, reuniu-se
no Rio de Janeiro em 1823 e abriu seus trabalhos em 3 de maio, dia que passou a ser comemorado, desde
então, como dia do Parlamento.

A Assembleia Geral e Constituinte do Império do Brasil cumpria dois propósitos, assim votados pelos próprios
membros: votar questões ordinárias e regulamentares e, mais importante, criar a Constituição do país. Ou
seja, ela já se propunha, sem mesmo haver determinação constitucional – já que não havia constituição ainda
– a legislar.

Os membros que compuseram esta primeira legislatura não foram eleitos por partidos, como foi o caso até
1837. Assim sendo, torna-se bastante difícil categorizá-los. Os votos eram completamente atomizados, isto
é, sem bancada do governo ou bancada de oposição ou algo do gênero. Assim, houve deputados que
votavam com o governo em determinadas matérias e contra o governo em outras – algo que ocorreria
durante toda a primeira legislatura depois da Constituinte. Mesmo assim, é possível divisar três grandes
grupos que dividiam algumas características comuns e que persistiram durante o Primeiro Reinado até por
volta de 1834: aqueles mais “conservadores” que haviam se formado na universidade de Coimbra e ficaram
conhecidos como “coimbrãos”. Defendiam uma monarquia centralizada e a figura do monarca com grandes
poderes; os “liberais moderados”, que defendiam uma monarquia menos centralizada – alguns proporão
uma “monarquia federativa” – cujo papel do imperador fosse reduzido frente ao do Parlamento; e o “liberais
exaltados” que propunham, em casos radicais, a República, em outros, um papel bastante reduzido do
Imperador com ampla autonomia às províncias.

Esses três grandes grupos iniciaram os trabalhos constituintes e desde o início, nas sessões preparatórias
para a Constituinte, mostrariam suas diferenças e aqui vale recapitular o evento para melhor
compreendermos as posições políticas e os jogos de poder que viriam a ocorrer durante os primeiros anos
do nascente império.

Duas questões de protocolo emergiram durante as discussões das sessões preparatórias: onde o presidente
da Assembleia deveria se sentar: no mesmo nível do imperador ou abaixo dele? O imperador deveria entrar
coroado e com todo paramentado ou não, descoroado?

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A elite coimbrã, com Antônio Carlos de Andrada nessa discussão se destacando, defendeu que o presidente
da Assembleia deveria se sentar um nível abaixo do Imperador, já que este último, era um representante
vitalício da soberania nacional, enquanto que o segundo, um representante provisório. Quanto à Coroa e
demais paramentos, defendeu que o imperador aparecesse com toda a gala, uma vez que fora ele quem
convocara a Assembleia, ou seja, ele precedera a Assembleia, logo, em suas mãos repousava o poder
originário desta última. Os liberais exaltados e parte dos liberais moderados, por sua vez, pensavam (e
votaram nesse sentido) que o presidente da Assembleia, representando todo o poder constituinte, deveria
se sentar no mesmo nível, por representar soberania idêntica ao do monarca. Já o imperador não deveria
entrar coroado já, que a constituinte é que deveria validá-lo como imperador, já que seria a constituição, a
definir todo o edifício político do Império! Fim do episódio: o presidente ficou um nível abaixo do imperador,
mas este entrou sem coroa (sua Coroa entrou no cortejo e foi depositada ao seu lado em uma almofada).

Embora possa parecer banal, esse conflito já no início de 1823 mostra as grandes correntes políticas e a que
ponto chegavam as tendências políticas da época. Embalado no mundo político pós-revolução francesa e
suas teses de soberania, o Império do Brasil não passava incólume. Apesar do caráter “conservador” com a
manutenção da monarquia, também aqui se desvelavam questões inauguradas da modernidade e tudo isso
foi colocado às claras nos debates parlamentares que se iniciariam em 1823 e continuariam de 1826 em
diante.

Também já nos é possível perceber desde o início, que o papel que o Imperador iria desempenhar no novo
sistema político seria objeto de ferrenhas disputas. Isso, por sua vez, nos permite antever os problemas que
Pedro I viria a enfrentar em seus quase nove anos de reinado.

Definidas as questões iniciais para a abertura da Assembleia Geral e Constituinte, os trabalhos foram
iniciados a 3 de maio. Várias questões importantes eram colocadas aos homens daquele período: reformar
o fisco, lidar com a guerra externa, criar leis regulamentares, reformar o direito, excluindo os elementos do
direito português que não mais coubessem na nova realidade e, o mais importante, votar uma constituição
para o novo país.

O ano de 1823 foi bastante atribulado para o Império internamente. A Constituinte arrogou-se amplos
poderes, o que não agradou ao imperador e, relacionado a esse processo, ocorreram desentendimentos
entre os irmãos Andrada com o Imperador, resultando na saída de Bonifácio do ministério e a mudança de
posição política deles dentro do parlamento, passando para a oposição. Assim, quando no início de setembro
de 1823 foi apresentado o anteprojeto de constituição – chamada constituição da mandioca –, o imperador
havia perdido um grupo importante de apoio dentro do parlamento.

Contando com o apoio de poucos, particularmente aí podemos citar o Visconde de Cairu, o governo começou
a perder totalmente o controle dos trabalhos constituintes. Mais e mais os exaltados faziam discursos
inflamados no parlamento em prol de suas ideias, atacavam o governo do imperador e buscavam implantar
suas mudanças na constituição sendo criada.

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O auge da crise entre Parlamento e Imperador veio quando se discutiu a questão do veto imperial para leis
ordinárias e o veto para a própria constituição. Aqui cabe uma explanação rápida sobre como estava
funcionando o governo imperial naquele momento. O governo imperial funcionava, ainda sem a
promulgação constitucional, pelo apontamento de ministros feito pelo imperador. Neste sentido, e assim
como será definido pela constituição de 1824, o imperador era o chefe do Executivo. Entretanto, o “dia a dia
da máquina” estava nas mãos dos ministros que eram, assim, responsáveis. Decretos e decisões continuavam
a ser tomadas pelo monarca e seus ministros ao mesmo tempo em que a Assembleia se dedicava a criar
projetos de lei.

A questão do veto imperial foi muito séria. Ao fundo dela girava a questão de qual seria o tamanho do poder
do imperador. Caso ele não pudesse vetar lei alguma, seu poder seria bastante diminuto frente ao do poder
Legislativo. Assim, muito interessava a Pedro I qual seria o desfecho dessa discussão.

A Constituinte se dividiu bastante nesse ponto. Os mais exaltados afirmavam que o imperador não poderia
ter o poder de vetar nada, nem leis ordinárias nem constitucionais, já que se a representação máxima da
nação e da soberania, a Assembleia, havia decidido por transformar um projeto em lei, ao imperador não
cabia vetar. Outros, moderados, defenderam a ideia de que as determinações constitucionais deveriam ficar
fora da alçada do imperador, já que eram – para usar uma expressão de hoje – “poder constituinte”. Depois
disso, o imperador poderia sim vetar leis ordinárias. Por fim, um grupo mais “conservador”, apoiava a ideia
de como fora o imperador quem convocara a assembleia e ele fora aclamado e coroado antes do início dos
trabalhos legislativos, assim ele compartilhava do mesmo poder originário e poderia, assim, vetar artigos
desse projeto de constituição assim como quaisquer outras leis.

Enquanto se debatiam no Parlamento essas e outras questões, jornais das mais diferentes posições
difundiam as notícias e opinavam abertamente sobre os temas. Havia jornais ultraliberais, outros mais
conservadores, até mesmo um jornal que veiculava as posições dos gabinetes imperiais. Outro traço
interessante dos jornais desse período é o de que traziam, por vezes, capítulos de livros europeus traduzidos
– traduzidos tal como se entendia à época, isto é, traduzir o texto mas “reduzindo” ou comentando a obra
original. Esse tipo de atividade difundiu muitas obras de pensadores europeus no Império e ajudou a dar
argumentos para os mais variados posicionamentos políticos.

Os jornais eram lidos em praça pública ou em reuniões em casas e palacetes. A partir dessa disseminação de
ideias e notícias, foi-se criando o que poderíamos chamar, junto com Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves,1
de “opinião pública”, ainda que restrita a algumas cidades e alguns grupos sociais. Essa opinião pública
passou a se atentar cada vez mais para as políticas governamentais, a acompanhar os debates parlamentares
– que saíam também nos jornais – e a pressionar por mudanças em algumas ocasiões.

1
NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira. Corcundas e Constitucionais: a cultura política da Independência (1820-1822). Rio de Janeiro:
Faperj; Editora Reva, 2003.

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Acalorando-se as discussões no Parlamento e a opinião pública acerca dos temas constitucionais e


percebendo que havia uma grande chance de perder poder, D. Pedro I ordenou o fechamento da Assembleia
Constituinte em novembro de 1823, por volta de sete meses depois de seus trabalhos, e prometeu entregar
ao “povo brasileiro” uma constituição duas vezes mais “liberal”. Expurgos se seguiram, com deputados
oposicionistas, dentre os quais Bonifácio, sendo banidos – Bonifácio ficou exilado na França por seis anos.

O fechamento da assembleia foi um choque político às elites do país. Haviam experimentado o poder e
imaginavam tudo poder realizar a partir daquele momento. A confiança no imperador foi abalada, já que o
movimento militar havia mostrado que não era um príncipe “liberal”, mas, antes, autoritário. Não foi o fim
das boas relações entre Imperador e suas elites, entretanto, foi um golpe bastante duro na imagem do
imperador.

Com o fechamento da Assembleia, o Imperador encarregou seu Conselho de Estado – um órgão diferente
dos ministérios que servia para assessorar o imperador, mas que não era deliberativo – para redigir o texto
constitucional. Foi um gabinete de figuras reconhecidamente importantes no meio jurídico e todos
brasileiros natos. A Constituição que seria escrita por eles foi certamente influenciada pelas experiências
constitucionais de Cádiz, de Lisboa e, sem dúvida alguma, pelo próprio projeto constitucional apresentado
pela Constituinte. Realizada com grande rapidez, o texto constitucional foi enviado para a apreciação das
cidades e vilas brasileiras, que deveriam concordar ou não com o texto e sugerir modificações se quisessem.
Pouquíssimas cidades se manifestaram contrariamente, até mesmo por temor de retaliação do governo
imperial, e, assim, a constituição foi outorgada – que, muito tecnicamente dentro dos termos do direito, não
é uma imposição, mas é assim, como imposta, que essa constituição é tratada.

Vamos então o que estabelecia esse texto constitucional – o que vigorou por mais tempo no Brasil:

Constituição de 1824
Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário, Moderador
Forma de Governo Monarquia Constitucional
Forma de Estado Unitário
Legislativo Bicameral: Câmara dos Deputados e Senado. A Câmara poderia ser
dissolvida por ordem do imperador. A bicameralidade brasileira foi
inspirada no modelo inglês e não tanto nas Cortes portuguesas ou
espanholas ou mesmo na Assembleia francesa (todas elas unicamerais).
Câmara dos Deputados Eleita a cada quatro anos ou quando dissolvida.
Senado Vitalício. Membros escolhidos pelo imperador a partir de lista tríplice.
Possuía a metade dos membros da Câmara.
Chefiado pelo monarca, exercido pelos ministros por ele apontados. Como
chefe do Executivo, o imperador era irresponsável, ou seja, não poderia
Executivo sofrer processo sobre responsabilidade administrativa. A partir de 1847, foi
criado o cargo de Presidente do Conselho de Ministros – espécie de
primeiro-ministro – que nomearia os demais.
O governo era montado pelo Imperador ou regente como chefe do
Executivo. A partir de 1847, o governo era montado pelo Presidente do

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Formação do Governo Conselho de Ministros, que por sua vez era indicado pelo Imperador. A
escolha do Presidente do Conselho, durante o Segundo Reinado,
normalmente levava à formação de maiorias na Câmara. Alguns
historiadores do período chamaram esse sistema de “Parlamentarismo às
avessas”.
Exercido pelos juízes de fora e cortes de apelação. Tinha no Superior
Judiciário Tribunal de Justiça seu órgão máximo. O Imperador era o último possível a
ser apelado num processo judicial.
Moderador Considerado a “chave de toda a organização política” de acordo com a
Constituição imperial e cujo objetivo era zelar pela harmonia e
independência dos demais poderes. Era um atributo exclusivo do monarca
com o qual: escolhia os senadores, convocava extraordinariamente a
Assembleia, sancionava leis e decretos da Assembleia, dissolvia a câmara
dos deputados, nomeava ministros, suspendia magistrados, perdoava ou
comutava penas e concedia anistias. Esse poder foi inspirado, em grande
medida nos escritos de Benjamin Constant (o filósofo francês).
O Estado era confessional, adotando a religião católica. Por meio do
Padroado, tinha de manter a Igreja e zelar pela religião do Estado. Por sua
vez, o Estado recebia os valores pagos de dízimo. As religiões acatólicas
poderiam realizar seus cultos desde que os prédios não tivessem face
Religião exterior de templo nem se realizasse cerimônia pública. Toda autoridade
pública tinha de jurar manter a religião do Estado. Não-católicos não
podiam assumir cargos eletivos. Os cemitérios eram religiosos, logo, não-
católicos não poderiam ser enterrados neles. Os registros de nascimento
eram os registros de batismo.
Cidadão Eram considerados cidadãos os aqueles nascidos no Brasil, ainda que ex-
escravos (chamados “libertos”), os filhos de pais brasileiros, os nascidos em
Portugal que eram residentes no Brasil na época da independência e que a
apoiaram contra a ex-metrópole.
Aquele que possuía direitos civis, mas não políticos, como os ex-libertos,
Cidadão passivo
mulheres, jovens abaixo de 25 anos, o clero regular.
Cidadão ativo Aquele que tinha o direito de votar, isto é, homens com determinada faixa
de renda.
Estavam garantidos os direitos individuais dos cidadãos brasileiros sob o
artigo 179. É importante destacar alguns, já que esse tópico caiu em prova:

I. Nenhum Cidadão pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma


coisa, senão em virtude da Lei.

Direitos dos cidadãos III. A sua disposição não terá efeito retroativo.

IV. Todos podem comunicar os seus pensamentos, por palavras, escritos, e


publica-los pela Imprensa, sem dependência de censura; contanto que
hajam de responder pelos abusos, que cometerem no exercício deste
Direito, nos casos, e pela forma, que a Lei determinar.

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V. Ninguém pode ser perseguido por motivo de Religião, uma vez que
respeite a do Estado, e não ofenda a Moral Publica.

VII. Todo o Cidadão tem em sua casa um asilo inviolável. De noite não se
poderá entrar nela, senão por seu consentimento, ou para o defender de
incêndio, ou inundação; e de dia só será franqueada a sua entrada nos
casos, e pela maneira, que a Lei determinar.

VIII. Ninguém poderá ser preso sem culpa formada, exceto nos casos
declarados na Lei.

XVI. Ficam abolidos todos os Privilégios, que não forem essenciais, e


inteiramente ligados aos Cargos, por utilidade pública.

XIX. Desde já ficam abolidos os açoites, a tortura, a marca de ferro quente,


e todas as mais penas cruéis.

XXIX. Os Empregados Públicos são estritamente responsáveis pelos abusos


e omissões praticadas no exercício das suas funções, e por não fazerem
efetivamente responsáveis aos seus subalternos.

XXX. Todo o Cidadão poderá apresentar por escrito ao Poder Legislativo, e


ao Executivo reclamações, queixas, ou petições, e até expôr qualquer
infracção da Constituição, requerendo perante a competente Autoridade a
efetiva responsabilidade dos infratores.

XXXII. [A Constituição garante] A Instrução primária, e gratuita a todos


os Cidadãos.

XXXIII. [A Constituição garante] Colégios, e Universidades, aonde serão


ensinados os elementos das Ciências, Belas Letras e Artes.
Eleições Censitárias e em dois turnos (eleições indiretas). Os votantes escolhiam
eleitores. Esses escolhiam deputados e senados. A faixa de renda para
votante era considerada bem baixa, permitindo a largas faixas da população
masculina participar da primeira etapa da eleição. As faixas então
aumentavam substancialmente para eleitor, mais para ser candidato a
deputado provincial, mais para deputado imperial e a mais alta para
candidato a senador. Somente em 1881 é que a eleição passou a ser direta.

Carta Magna efetivamente liberal, a Constituição do Império, por demarcar os aspectos essenciais da
organização do Estado, teve longevidade ímpar em nossa história. Alterada somente uma vez em 1834, a
Constituição de 1824 deu ao país estabilidade e balizas para lidar com os mais diversos problemas pelos quais
passou, mesmo as crises da regência e a as guerras externas. Em termos de garantia dos direitos dos cidadãos
do Império, estava atualizada com as principais teorias políticas da época e sua massa de participantes na

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política – considerando os dois turnos até 1881 – bastante similar ou por vezes maior que taxas apresentadas
nas eleições inglesas e francesas.

Com a constituição outorgada, novas eleições foram organizadas para a abertura da primeira Assembleia
depois da Constituinte, que viria a se reunir em 1826. O número total de cadeiras era de 100 deputados e 50
senadores, com mudanças ocorrendo ao longo do período imperial. Um deputado poderia se candidatar por
mais de uma província, mesmo sem lá ter seu domicílio. Enquanto vigorava o mandato, também era pago
um “salário” aos parlamentares – o que na época era considerado um avanço legislativo, já que permitia às
pessoas se dedicarem à política; uma requisição por “salário” aos membros do parlamento seria feita pelo
movimento cartista na Inglaterra em 1830!

Entretanto, nem tudo ia exatamente bem no império tropical. O Tesouro não estava conseguindo manter as
despesas do Império, os preços dos víveres básicos aumentaram (ou seja, inflação) e as decepções políticas
com o Imperador e seu governo na condução dos assuntos relativos à Assembleia Constituinte continuavam
a amargurar parte das elites econômicas e políticas. Neste cenário, a província do Pernambuco, que havia se
rebelado em 1817, decidiu iniciar novo movimento de caráter separatista em 1824 e criar sua própria
república, a Confederação do Equador.

Antes de adentrarmos o meandro da revolta, vale a pergunta: por que Pernambuco tinha políticos tão
radicais e tomou esse caminho do secessionismo por duas vezes? Uma possível interpretação recai no
passado colonial da província, particularmente sobre o período de ocupação dos holandeses. Vale recordar
que no período da ocupação, Portugal estava sob domínio espanhol. Quando se emancipou em 1640, a Coroa
de Bragança não possuía os recursos levar à cabo uma guerra de expulsão dos holandeses. Assim, coube aos
elementos coloniais o preparo e a luta contra o “estrangeiro invasor”. Forças próprias, gastos privados, foram
responsáveis pela retirada dos neerlandeses. Assim, os colonos de Pernambuco escolheram permanecer com
o reino de Portugal – na interpretação dos nativos. Tendo sido uma escolha política a união com Portugal,
teriam eles também o direito de se separar do Império, entendido como herdeiro de Portugal. Situação
agravada pelo fato de que Pernambuco também fizera a escolha, quando da Revolução do Porto, de unir-se
às Cortes. E de novo, outra escolha, de aderir ao plano do regente cujo contrato político seria forjado na
Constituinte. Ao ser suprimida a Constituinte, o pacto político não foi celebrado. Assim, em face dessa
história e da cultura política ibérica, aos pernambucanos parecia possível e moral a saída do Império.

O movimento insurrecional se iniciou em julho de 1824 em Pernambuco, em grande medida pelas


frustrações políticas mencionadas. Inflamados por jornais liberais e republicanos e por lideranças como Frei
Caneca, a províncias se rebelou, proclamou uma república e, mais ainda, convidou as províncias próximas a
se unirem por laços federativos, com ampla autonomia administrativa – o exato oposto da centralização
demarcada na constituição de 1824. Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte uniram-se à proposta
pernambucana.

O movimento pernambucano não duraria muito tempo, por dois grandes motivos: dissidências internas e a
repressão do governo imperial. Dissidências surgiram no seio do movimento pela decisão de libertar os

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escravos. Os grandes senhores sentiram ares de uma revolução à la Haiti, com escravos libertos matando
seus antigos senhores e deixaram de apoiar a nova república. Por outro lado, ainda que o Brasil estivesse em
guerra com Portugal, o imperador desviou tropas lideradas por Cochrane para lidar com os insurretos. Em
face das tropas regulares, o novo governo não resistiu e caiu em fins do mesmo ano. Uma comissão militar
foi instalada para julgar os rebeldes e muitos foram condenados à morte, incluso frei Caneca.

Dois aspectos são importantes acerca da Confederação: as dissidências e radicalidades existentes nesse
período e a repressão ao movimento.

O movimento revolucionário da Confederação do Equador nos mostra o quanto que a elite política imperial
e provinciais tinham conhecimento das ideias revolucionárias e estavam atentas às diversas possibilidades
de alteração da realidade político-institucional vigente. Muito embora a monarquia fosse largamente aceita
e tivesse muitos apoiadores pelo que percebiam como vantagens inerentes a essa forma de governo, o
republicanismo em sua vertente radical, inspirada nos norte-americanos e latino-americanos, não passou
despercebido no Brasil. Essa busca pela autonomia, que em nosso país e à época muito se identificava com
a forma de governo republicana, viria também a influenciar o debate dos “moderados” e suas tentativas de
reforma da constituição em momento posterior.

Também é relevante salientar que a repressão feita pelo imperador aos pernambucanos e demais revoltosos
causou um dano muito grande a sua imagem – justamente após o problemático fechamento da Assembleia
Constituinte. Não que a elite reunida no Centro-Sul e mesmo em outras regiões concordasse com atos de
rebeldia, longe disso. Mas os excessos das comissões militares instauradas nas províncias rebeldes, os
processos judiciais sumários e as execuções mostraram mais uma vez a face autoritária de d. Pedro que foi
incapaz de demonstrar sua “graça” pelo perdão – característica esperada dos monarcas. Esses excessos na
supressão da revolta são comumente apontados como causas da queda do primeiro imperador.

Finda a revolta e realizadas as eleições para a primeira Assembleia Geral do Brasil, os representantes se
reuniram no Rio de Janeiro em abril de 1826 para a abertura solene em 3 de maio. Diferentemente da
Constituinte, o imperador abriu a assembleia geral com todos os seus paramentos, coroa inclusa, e realizou
sua Fala do Trono abordando o fechamento da Constituinte – que ele considerou como tendo desviado de
seu propósito e tomado por espíritos exaltados –, a Confederação do Equador, a conclusão do tratado de
reconhecimento da independência por parte de Portugal, a guerra que estourara no Sul e a situação
econômica periclitante do Império. Ao término do discurso, pedia o empenho e diligência dos deputados e
senadores para a reforma do Estado e consequente melhora da situação do Império.

Aqui é significativo abordarmos alguns pontos da política imperial que se inaugurará com a primeira
legislatura brasileira. Como vimos acima, o Legislativo brasileiro era bicameral. Assim sendo, para a
tramitação das leis, era necessário que houvesse acordo entre as duas casas legislativas. Ocorreu que,
sentindo a tenaz oposição que sofrera durante a constituinte, d. Pedro I estimulou muitos de seus aliados
políticos a se candidatarem ao Senado, já que ele seria o responsável pela escolha dos representantes
vitalícios. Dessa forma, pensava o imperador, conseguiria barrar qualquer lei mais radical que pudesse surgir

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da Câmara. Sua atitude, porém, criou um beco sem saída para a política imperial e acabou radicalizando
bastante os ânimos. Como nos diz Roderick Barman,2 colocando seus aliados no Senado, retirou possíveis
aliados do ambiente político mais crítico a suas políticas – a Câmara – deixando-a como um fórum de debates
da oposição. Por outro lado, a política imperial “emperrou” porque o Senado simplesmente “engavetava” as
propostas da Câmara ou simplesmente as rejeitava. Como informa Vantuil Pereira,3 várias leis chamadas de
“regulamentares” foram aprovadas na Câmara, mas não encontraram discussão imediata no Senado. Esse
impasse, por sua vez, forneceu mais elementos para os membros de oposição ao imperador o criticarem.

Também nos é significativo na história política do primeiro reinado abordar um ponto fundamental para a
queda de Pedro I, já antecipada no parágrafo anterior: o crescente antagonismo Imperador x Câmara. A casa
temporária reuniu lideranças muito críticas à maneira como Pedro havia conduzido os negócios públicos
desde o fechamento da Assembleia e usavam sua prerrogativa parlamentar para criticarem o governo sem
a possibilidade de serem processados ou punidos. Também alimentavam jornais críticos ao monarca, o que
colaborava para “jogar” a opinião pública contra o imperador. Essa situação poderia ter sido contornada caso
o governo não fosse tão direcionado por d. Pedro. Contudo, a constituição imperial, ao colocar o imperador
como chefe do executivo, ainda que irresponsável, tornava-o o centro ou fonte dos problemas que ocorriam
no Império. Esse aspecto da política retirava o caráter “sagrado” da figura imperial, tal como expresso no
artigo 99 da mesma constituição.

Algumas questões levantaram muitas críticas ao imperador e seus ministros: a carestia dos víveres básicos,
os problemas do Banco do Brasil, a condução da Guerra no Sul, abusos cometidos por ministros,
particularmente em assuntos militares, e os tratados secretos negociados com a Inglaterra. Abordaremos
neste tópico estes dois últimos elementos para, em seguida, entrarmos na economia e em questões de
política externa.

Junto com os tratados que reconheciam a independência, os ingleses propugnavam pela renovação dos
termos do tratado realizado em 1810 e que expirariam em 1827 (quinze anos de vigência com prorrogação
possível por mais dois anos). Assim, condicionaram sua mediação junto a Portugal a essa renovação. Para
piorar a situação – já que o tratado diminuía consideravelmente as fontes de receita de produtos importados
da Inglaterra, a principal exportadora para o Brasil – uma cláusula foi colocada e que seria razão de furor por
parte da elite política e econômica do país: a extinção do tráfico de escravos em até três anos, isto é, 1830.

A fúria das classes dirigentes do Império com os tratados secretos era de múltipla natureza. Primeiramente,
foram secretamente negociados, ou seja, não contou com a participação e o debate público antes da
assinatura, sendo anunciado somente depois de consumado. Segundamente, a Assembleia já estava reunida
quando da ratificação do tratado – diferentemente do tratado de reconhecimento por Portugal em 1825. E
isso é importante: pelo artigo 102, inciso VIII, ao Executivo cabia firmar tratados e alianças, mas deveria levar

2 BARMAN, Roderick. The forging of a Nation. Stanford: Stanford University Press, 2003.
3 PEREIRA, Vantuil. “Ao Soberano Congresso”: Petições, Requerimentos, Representações e Queixas à Câmara dos Deputados e ao
Senado – Os direitos do cidadão na formação do Estado Imperial brasileiro (1822-1831). Tese de doutorado: Universidade Federal
Fluminense, 2008.

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os termos desses tratados e alianças “ao conhecimento da Assembléa Geral, quando o interesse, e segurança
do Estado permitirem”, o que não foi feito. Assim, os parlamentares se viram atacados sem suas
prerrogativas, particularmente os deputados. Por fim, e o mais grave, entenderam que o tratado foi uma
submissão aos interesses ingleses em detrimento dos interesses nacionais por retirar um elemento
considerado fundamental para a agricultura e “indústria” (leia-se, produção) nacionais, o escravo, e reduzir
as receitas nacionais por renovar a taxa de 15% como nação favorecida.

Ataques foram desferidos contra o imperador e seu gabinete. Em resposta ao teor dos tratados secretos e à
própria Inglaterra, os parlamentares decidiram por uma resolução radical – e que muito piorou a situação
fiscal brasileira: a redução da taxa de importação para todos os países exportadores para o Brasil! Assim,
países que, em situações “normais” não teriam privilégios alfandegários, receberam, sem dar nada em troca,
encargos reduzidos nos portos. Essa situação somente viria a ser alterada em 1844 (quando se finalizava os
termos do tratado de 1827: quinze anos mais dois) com a conhecida Tarifa Alves Branco.

Ainda no âmbito parlamentar, vale a pena destacar uma série de críticas que o governo recebeu por conta
das questões militares. Trataram-se não só da dificuldade em levar a cabo a guerra do sul como também de
excessos cometidos nos recrutamentos. Centenas de jovens morreram no processo de serem recrutados e
transferidos para a Corte e para o teatro de guerra. Práticas condenáveis, como prisão e uso de correntes,
foram utilizadas para, como se dizia à época, “caçar os homens” que se embrenhavam nos “matos” para
escapar dos recrutadores. Além disso, muito se atacou as comissões militares instauradas nas províncias
rebeladas de 1824, como já mencionado.4

Para além da esfera do governo, isto é, do Executivo, boas iniciativas foram tomadas pelos parlamentares
para a reforma do Estado. Para a elite política imperial era clara a necessidade de superar o que eles
chamavam de “herança colonial” e criar instituições propriamente nacionais. O Imperador havia dado o
passo inicial com a Constituição – que de fato era considerada uma das mais liberais do mundo naquele
momento histórico. Mas era imperativo a criar um código de leis, um sistema de ensino, criar leis de
responsabilidade dos funcionários públicos e ministros. Tudo isso conforme o ideário liberal de “império das
leis”.5 A preocupação dos parlamentares propriamente dita ficou manifesta nos vários debates que
ocorreram na primeira legislatura.

Vale destacar que foi nesse período que se iniciaram as discussões sobre o Código Criminal e Código de
Processo Criminal e que tiveram suas aprovações respectivamente em 1830 e 1832. A ideia era justamente
a de reformar as antigas leis previstas nas Ordenações Afonsinas e Filipinas que ainda serviam de modelo
para o arcabouço jurídico da época. A lei de responsabilidade ministerial também foi discutida e aprovada
nesse período, sendo um marco legal fundamental que criou mecanismos de controle parlamentar sobre a

4 SANTOS, P.H.S. Recrutamento, castigos e os direitos do cidadão no Exército do Primeiro Reinado (1822-1831). Universidade de
Brasília: Dissertação de Mestrado, 2016.
5 SANTOS, P.H.S. “A construção do Brasil Constitucional”. EM TEMPO DE HISTÓRIAS, v. 29, p. 126-137, 2016.

SLEMIAN, Andrea. Sob o Império das leis. São Paulo: Unesp, 2009.

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atividade ministerial. Essas reformas, vistas como essenciais, buscavam modernizar e nacionalizar o direito
do Brasil e trazer o país para as “luzes do século”.6

Aqui é importante destacar um elemento de controvérsia historiográfica relevante: o liberalismo do Brasil


imperial. Alguns historiadores da década de 1970 afirmavam que o liberalismo no Brasil era uma “ideia fora
de lugar”7, já que, apesar da afirmação de “liberal”, o país ainda convivia com a escravidão. Seria, assim, um
liberalismo de fachada, um liberalismo hipócrita, um liberalismo falso.

Mais recentemente, os historiadores do Império se debruçaram sobre a questão e perceberam que o


liberalismo do Brasil não foi uma mera transposição de ideias europeias para cá. O ideário liberal havia sido
apropriado, ressignificado e aplicado à realidade nacional conforme suas particularidades. Podemos
perceber isso, por exemplo, nas ideias de Bonifácio que percebia o mal da escravidão, mas sabia que não se
poderia extingui-la de imediato. Outrossim, podemos nos remeter à análise que fez José Reinaldo de Lima
Lopes ao afirmar que o “liberalismo” do Brasil pode ser interpretado como “constitucionalismo”, ou seja, um
governo representativo e balizado por uma constituição, como típico do século XIX.

Antes de adentrarmos a política externa do período de Pedro I, e abordarmos, enfim, sua queda, precisamos
abordar a questão a economia nesse momento.

A economia do Primeiro Reinado

A guerra contra Portugal e os custos para o reconhecimento da independência (2 milhões de libras


esterlinas), os gastos militares contra a Confederação do Equador e contra as Províncias Unidas do Rio da
Prata (atual Argentina) geraram imensos rombos orçamentários. As principais fontes de receita – os impostos
hauridos com importações – mostravam-se incapazes de sustentar a máquina pública e os gastos militares.
Por outro lado, o recrutamento para a guerra retirava braços da lavoura e da produção – particularmente
dos camponeses livres e pobres – responsáveis pela criação de gado e produção agrícola alimentícia que
abasteciam as grandes cidades. O abastecimento da tropa e da marinhagem por sua vez, requisitava
alimentação. Tudo isso – retirada de membros da produção, desvio de abastecimento para os frontes de
guerra e emissão de dívida – fazia com que os custos de vida nas cidades aumentassem significativamente.

Essa situação foi tornada pior com a decisão do governo de emitir moedas de cobre e depois, papel-moeda,
num momento em que o valor das moedas era baseado na quantidade de metal precioso que nelas havia –
lastro no padrão-ouro. Emitindo-se mais moeda, o valor do mil-réis depreciou-se significativamente frente à
libra esterlina, aumentando ainda mais a inflação. Para tornar o quadro mais difícil para o nascente país, um

6 LOPES, José Reinaldo de Lima. “Iluminismo e jusnaturalismo no ideário dos juristas da primeira metade do século XIX”. In:
JANCSÓ, István. Brasil: formação do Estado e da Nação. São Paulo: Hucitec, 2003, p. 195-218.
7 SCHWARZ, Roberto. As ideias fora do lugar. São Paulo: Penguin-Companhia, 2014.

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número significativo de moedas falsas começou a circular, já que o papel e o cobre poderiam ser facilmente
manipuláveis para criar moedas sem valor real.

O Banco do Brasil, por sua vez, passou por graves problemas. Instituição fundada por D. João quando de sua
vinda para o Brasil, o Banco serviu de apoio ao Tesouro. Entendam bem: o Banco não era o Tesouro, portanto,
não era o responsável pela emissão da dívida pública. Entretanto, dada a natureza da cultura política e
econômica da época, havia estreita relação entre Banco do Brasil e Tesouro Régio.

Quando da cesura de laços entre Portugal e Brasil, o Banco do Brasil acabou perdendo letras creditícias já
que um de seus principais devedores era o Tesouro Régio português. Entretanto, diz-nos Amaro Cavalcanti,8
até 1825 o Banco conhecera relativa prosperidade, até porque era o único estabelecimento do gênero no
país. A relação estreita entre o Banco e o agora Tesouro imperial não cessou e o primeiro passou a comprar
letras de crédito (leia-se dívida) do Tesouro para alimentar a máquina pública e as necessidades do governo.
Os problemas foram se avolumando na medida em que as reservas metálicas do país não aumentavam para
continuar a dar lastro à moeda, o câmbio foi se desvalorizando por maiores emissões de moeda de cobre e
de papel, na medida em que essas mesmas moedas de cobre eram desvalorizadas e o governo não parava
de aumentar seus gastos. Em 1828/1829, o maior credor do Tesouro Imperial era o Banco do Brasil. Incapaz
de dar solução à crise, de aumentar receitas, melhorar o câmbio e o lastro, o governo imperial decidiu pela
dissolução do banco em 1829.

Em termos produtivos, o Brasil inseria-se no mercado internacional da mesma forma como estivera inserido
desde os tempos coloniais: como exportador de matérias-primas agrícolas produzidas em latifúndios. Eram
significativas para a balança comercial brasileira as exportações de açúcar, tabaco, couro, cacau e,
progressivamente, o café. Entretanto, na década de 1820, o preço desses produtos encontrava-se em baixa,
afetando a entrada de divisas no país dado o déficit nas trocas com os demais países. Esse cenário produtivo
dificultava ainda mais as questões monetárias e financeiras descritas acima.

Neste ponto, é fundamental falarmos de uma instituição que marcou a colonização e quase todo o período
imperial: a escravidão. Instituição secular, a escravidão continuou a vigorar no Brasil como o principal meio
de suprir “braços” à economia brasileira. Havia escravos em quase (se não todos) os ramos econômicos:
escravos ligados à construção, escravos ligados ao comércio (inclusive ao comércio de outros escravos),
escravos ligados a serviços além, obviamente, de escravos produtores agrícolas. Até mesmo o Estado, na
década de 1820, se utilizava de escravos na construção e reparação de obras, como pode se depreender da
leitura de decretos e ordens imperiais.

Como dito em aula anterior, a importância da escravidão para o país tornava os grandes comerciantes de
escravos pessoas influentes na política. Isso, somado à necessidade visceral de escravos para quase todos os
ramos da economia, tornava essa instituição um problema imenso nas mãos do governo imperial: era

8 CAVALCANTI, Amaro. O Meio Circulante Nacional. Brasília: Universidade de Brasília, 1983 p. 57-176.

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necessário acabar com a escravidão, mas quando? Qual expediente se utilizar para findar com essa
“mácula”? Como substituir rápida e eficientemente a mão-de-obra escrava?

Poucos homens, entretanto, se preocupavam em acabar com a escravidão naquele período. Desses, destaca-
se, sem dúvida, a voz imponente de José Bonifácio:

É tempo pois, e mais que tempo, que acabemos com um tráfico tão bárbaro
e carniceiro; é tempo também que vamos acabando gradualmente até os
últimos vestígios da escravidão entre nós, para que venhamos a formar em
poucas gerações uma nação homogênea, sem o que nunca seremos
verdadeiramente livres, respeitáveis e felizes.9

Apesar disso, a esmagadora maioria da elite política imperial não se manifestou nem apoiou semelhantes
palavras de Bonifácio e silenciou-se sobre o tema. Quando da publicização dos tratados com os ingleses e a
negociação pelo fim do tráfico, ao contrário, manifestaram-se em uníssono contra os termos do tratado,
como vimos.

A economia do Primeiro Reinado, assim, pode ser considerada como uma clara continuidade do período
colonial, com poucas modificações. Dessas, a mais relevantes trata-se do livre comércio e os tratados
bilaterais, típicos dos países independentes. Mas as estruturas econômicas e os meios de sua perpetuação
continuaram. A continuidade da escravidão, inclusive, seria considerada uma razão importante para a
diminuta produtividade brasileira e do atraso tecnológico nos campos – o que prejudicou o avanço
econômico do país.

Passemos então agora para as importantes questões externas que influíram diretamente sobre o governo
de Pedro I e que são fundamentais para compreendermos sua queda e vários dos problemas internacionais
pelos quais passou o Brasil e seus vizinhos platinos nas décadas subsequentes.

Desenvolvimentos externos

A Guerra da Cisplatina (1825-1828)

A guerra da Cisplatina foi a conflagração ocorrida entre 1825 e 1828 que envolveu o Império do Brasil e as
Províncias Unidas do Rio da Prata, unidade política da qual a Argentina atual é herdeira, pela posse da Banda
Oriental, território que hoje constitui a República Oriental do Uruguai.

9
DOLHNIKOFF, Miriam (org.). Projetos para o Brasil. São Paulo: Cia das Letras, 2005, p. 48

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Somente podemos entender esse conflito se voltarmos ao período de D. João no Brasil. Vimos como D. João
buscava alcançar as chamadas “fronteiras naturais” do Reino do Brasil com a anexação da Banda Oriental.
Tentou e fracassou em 1810. Em 1816, face ao movimento independentista de Artigas, D. João novamente
invadiu a região e depois de quatro anos de lutas, alcançou a vitória e anexou o território ao reino do Brasil.

Quando da independência brasileira, a Cisplatina10 (nome da província sob domínio luso-brasileiro) ficou
dividida, com tropas portuguesas a favor da manutenção de laços com Portugal e outras tropas, comandadas
por Lécor, a favor da independência brasileira. Depois de breves contendas, as tropas pró-Portugal se
retiraram e a província passou a compor o Império brasileiro.

Cabe salientar, contudo, que a elite política imperial compreendia que as “gentes” que habitavam as pampas
uruguaias não se identificavam com a história “brasileira”, nem com sua colonização (com exceção da cidade
de Colônia do Santíssimo Sacramento), nem com sua língua. Ou seja, formavam povo a parte e alguns viam
os brasileiros como meros sucessores dos invasores portugueses.

Nesse sentido, a província foi tratada de modo diferente desde a independência. Já no projeto de
constituição de 1823, em seu artigo segundo, listava que o “Estado Cisplatino” estava unido ao Império por
federação. David Carneiro afirma que tal situação manteve-se na constituição de 1824 até o fim do conflito
na região.11 E de fato, quando da constituinte e mesmo da Assembleia de 1826, expediram-se ordens para
que eleições ocorressem também na Cisplatina.

Ocorre que outro país também tinha interesses na região, as Províncias Unidas do Rio da Prata, que haviam
feito sua independência de Espanha e se consideravam herdeiras do Vice-Reino do Rio da Prata. Suas
pretensões de manter o mesmo território unido fracassaram com a tentativa malfadada de invasão do
Paraguai e da tentativa de manter parte do território boliviano sob sua alçada. Entretanto, as Províncias
Unidas não aceitavam o domínio brasileiro do outro lado do Prata e tinha pretensões de anexar a Banda
Oriental. Alguns historiadores, dentre eles Ricupero e Doratioto, afirmam que Brasil e Argentina, chamemos
assim, tornaram-se herdeiras dos conflitos coloniais que haviam marcado a região desde o século XVII.

Duas preocupações, uma geopolítica e outra econômica, se colocavam ao governo do Rio de Janeiro em
relação ao controle da região cisplatina. O primeiro tratava-se da navegabilidade dos rios interiores que
formavam o rio da Prata. Para o Império era fundamental manter esses rios abertos para que se pudesse
manter contato com a província do Mato Grosso (que à época tinha o território equivalente hoje de Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia). Caso a Argentina anexasse a Banda Oriental e controlasse ambas
as margens do rio, poderia fechá-lo à navegação internacional e cortar as comunicações fluviais de que
necessitava o Império – tal controle de margens se dava no caso do rio Amazonas, do qual o Brasil nunca
abriu mão de controlar sua navegabilidade.

10 Com o prefixo “Cis” do latim, que significa “deste lado”, seria a margem “deste lado” do rio da Prata (plata em espanhol).
Logo, Cisplatina.
11 CARNEIRO, David. História da Guerra Cisplatina. Brasília: Universidade de Brasília, 1983.

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Por outro lado, as províncias do Sul, Rio Grande de São Pedro do Sul e Cisplatina, eram economicamente
ligadas e ambas forneciam alimentos para demais partes do Império. As pampas platinas possuíam grandes
vacarias e isso tornava o preço do charque mais barato para o Brasil.

Os problemas que o Brasil enfrentava, no entanto, não deixavam de afetar a escassa população da Cisplatina
(hoje o Uruguai tem por volta de 3,444 milhões de habitantes, naquele período, menos de 500 mil). As
situações elencadas acima somada com o descontentamento de alguns membros das elites platinas levou
ao estouro de um movimento de revolta na província em 1825, similar ao que havia estourado em
Pernambuco um ano antes.

33 homens, alguns que já tinham servido em forças luso-brasileiras, como Lavalleja, líder do movimento,
desembarcaram na Cisplatina vindos da Argentina e começaram a articular com seus conhecidos no interior
dos pampas a revolta contra o governo imperial. O governo argentino observava de perto a situação e
compôs um exército, chamado Ejército Republicano, e o estacionou na fronteira com o Brasil, sem, contudo,
declarar guerra. Sua intenção era esperar para saber se a revolta inflamaria os ânimos dos ‘uruguaios’ e se o
Império seria capaz de detê-los. Havia um grande temor por parte dos argentinos para com o Brasil, que
viam como um gigante poderoso. Essa imagem seria desfeita ao longo da guerra.

Os 33 revolucionários conseguiram ganhar adeptos e rapidamente alcançaram as centenas. Confiantes,


decidiram atacar o local onde o Império mantinha sua tropa de cavalos, no chamado Rincão das Galinhas.
Vencendo sem dificuldade os poucos homens que guarneciam o local, tomaram os cavalos e alimentaram a
esperança de sucesso, aumentando o número de recrutas. A batalha do Rincão das Galinhas é considerada
a primeira do conflito.

Diante do ocorrido, o governo imperial despachou o coronel Bento Manuel Ribeiro para conter os rebeldes.
O coronel saiu de Montevidéu com 1154 homens, aos quais se juntaram 354 milicianos arregimentados por
Bento Gonçalves, e foram atrás de Lavalleja e Rivera. Encontraram os dois reunidos próximo ao arroio
Sarandi. Os revoltosos contavam por volta de 2600 homens. Apesar da inferioridade, Bento Manuel
acreditava que suas tropas gaúchas seriam mais que o suficiente para lidar com os platinos. Numa batalha
marcada basicamente por cavalaria, as forças imperiais foram completamente derrotadas a 12 de outubro
de 1825. Com a derrota, as tropas sulistas saíram do interior uruguaio, entrando em solo gaúcho, e o Império
perdeu por completo – com exceção de Montevidéu e Colônia – o controle da província.

No Rio de Janeiro, a notícia foi recebida com surpresa e frustração. Um movimento pequeno agora se tornara
uma força expressiva. O Império lidava com várias questões em 1825 que retiravam seu foco para lidar com
a situação: negociações para reconhecimento da independência, negociações com a Inglaterra, pacificação
do Nordeste, eleições para a Assembleia geral e problemas econômicos. Para piorar, o teatro de guerra era
distante dos centros mais povoados do país, o que significava muito tempo para o abastecimento da tropa e
sua recomposição com novos recrutas, já que esses tinham que vir do Centro-sul e Nordeste.

Em Buenos Aires, a vitória em Sarandi foi o sinal que o governo esperava para dar seu apoio formal aos
rebeldes. Em fins de 1825, declarou que apoiaria o movimento militar de Lavalleja e Rivera, o que foi

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entendido como um ato de guerra por parte do governo imperial. De imediato, em 10 de dezembro de 1825,
o Imperador mandou que se iniciasse o bloqueio naval da cidade de Buenos Aires e declarou guerra.

Aqui vale fazer algumas considerações sobre a correlação de forças no início da guerra. O Brasil possuía uma
força armada total de uns 30 mil homens, mas espalhados pelo Império. O chamado “Exército do Sul”, que
seria a força principal de guerra era composto de uns 10 mil homens estacionados no Rio Grande do Sul.
Como mencionado, a capacidade de abastecimento era limitada e muito se demorava para pagar os
soldados, provê-los com uniforme e comida adequada e para alimentar os cavalos. A maior arma deste
exército era a infantaria, por cuja atuação o brio nacional seria redimido frente à atuação da cavalaria.
Também é importante frisar que para além do Exército de primeira linha, isto é, o exército “profissional”,
também atuaram com muito importância as milícias gaúchas, ou seja, homens que não eram soldados por
profissão, mas que, em caso de invasão, tomavam armas e serviam de “força auxiliar” à primeira linha.

Comparativamente, o Ejército Republicano era pouco maior e a ele seriam somados os soldados de Lavalleja
e Rivera. Seus números deviam oscilar entre 11 e 14 mil homens. Sua principal arma era a cavalaria – dada a
longa tradição dos platinos de criar gado e cavalgar – que era beneficiada pelo relevo de planície da região.

Contudo, se o Império tinha suas dificuldades em terra, possuía grande vantagem no mar. Diz-nos Brian Vale
que a Marinha Brasileira na década de 1820 era a maior da América. Seu grande problema era a marinhagem,
que não era treinada, e a ausência de oficiais. Por isso, pagava um alto preço por oficiais ingleses. Também
a marinha argentina, pequena, era comandada por ingleses, razão pela qual Brian Vale chama a guerra naval
da Cisplatina de “guerra entre ingleses”.12

Vamos começar pelos desenvolvimentos navais e suas consequências, para então passarmos para os
conflitos em terra. Apesar de sua clara vantagem numérica e tradição, o Brasil sofreu bastante para manter
o bloqueio naval a Buenos Aires e a vencer a pequena flotilha platina. Duas batalhas merecem ser
destacadas, de várias que tomaram parte na guerra: a batalha de Juncal e a batalha de Monte Santiago,
ambas de 1827. A primeira, entre 8 e 9 de fevereiro, foi uma grande derrota para o Brasil, que teve 12 navios
capturados e três destruídos. Foi a maior vitória argentina no mar. Contudo, essa vitória revertida em abril,
quando a frota brasileira esmagou por completo a armada argentina e feriu seu comandante, Brown. A partir
daí, a supremacia brasileira no mar foi total.

Para contrabalançar o controle dos mares pela marinha brasileira, o governo platino utilizou-se de um
expediente comum na idade moderna: o corso. O governo emitiu cartas de corso a qualquer navio que
lutasse contra os navios brasileiros e isso levou a batalhas navais em vários pontos da costa brasileira, em
geral resultando em sucesso para os corsários.

Para além da dificuldade em ter de enfrentar os navios argentinos, o Brasil teve uma série de complicações
com outras nações, particularmente os Estados Unidos, por conta do bloqueio naval. Vários navios norte-

12 VALE, Brian. A War Betwixt Englishmen: Brazil Against Argentina on the River Plate. New York: I.B. Tauris, 2000.

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americanos foram capturados tentando furar o bloqueio, o que causou um extremo mal-estar entre os dois
países, nada facilitado ou mitigado pela atuação acrimônia do cônsul norte-americano, Condy Raguet. A
Argentina contava, inclusive, que os problemas diplomáticos advindos com o bloqueio pudessem trazer os
Estados Unidos para seu lado, o que não ocorreu. Também a Inglaterra teve problemas com o bloqueio
brasileiro, já que dificultava o comércio na região.

A principal reclamação dos países mercantes da região tratava-se das perdas de mercadorias e das avarias
aos navios. Para evitar problemas diplomáticos num momento bastante difícil, o governo imperial, embora
estivesse de acordo com as tradições e direito da época, decidiu indenizar os navios capturados e avariados.
Isso resultou em grandes despesas, que foram pagas com emissão de títulos da dívida.

Em terra, a situação seria diferente. Tendo recuado para o Rio Grande do Sul, o Império perdia a iniciativa
da guerra. O Ejército Republicano invadiu o Uruguai e avançou em território brasileiro. Depois da inação do
General Rosado no comando das tropas, foi enviado o então Visconde de Barbacena para assumir o controle
e dar cabo dos adversários, em 1827. Recebendo um Exército bastante debilitado e com baixas provisões,
Barbacena fez o que pôde para barrar as tropas platinas que se encaminhavam Brasil adentro. Perseguindo
o general Alvear – líder platino –, Barbacena iniciou a principal batalha da guerra, a chamada batalha do
Passo do Rosário, em fevereiro de 1827.

A Batalha do Passo do Rosário, ou Ituzaingó, foi considerada uma derrota no Brasil. Barbacena iniciou a luta,
mas o Exército brasileiro não foi capaz de derrotar o inimigo, realizando uma retirada em ordem. Depois da
batalha, a deserção foi enorme em ambos os Exércitos.

Alvear, apesar de ter ‘vencido’ os brasileiros não aproveitou sua vantagem, não perseguiu os brasileiros nem
avançou sobre outras cidades gaúchas. O motivo disso, ele o explicitou depois:

(...) o exército brasileiro não tinha sido destroçado, enquanto pode sê-lo um
exército; como havia o Imperador de fazer a paz, sendo bloqueado
restritamente nosso único porto, e sem esperanças de libertar-se desse jugo;
sabendo que os vazios de nossas tropas se não enchiam; contemplando o
estado de nossas províncias e o ódio que tinham jurado ao governo,
contando com os partidos da capital se queria que um exército de 6200
homens, e dos quais 5200 eram milicianos, fossem bastantes a conquistar o
Brasil?13

Também se deve destacar que embora os platino dominassem o interior, foram incapazes de tomar as
grandes cidades. Montevidéu e Colônia permaneceram firmemente em mãos brasileiras, assim como as
cidades maiores do Rio Grande do Sul.

Com a retirada de Alvear, o Exército do Sul conseguiu recompor-se e manter o controle do Rio Grande do
Sul, embora nada tenha feito para retomar o controle da Cisplatina.

13 Apud CALÓGERAS, José Pandiá. A Política Exterior do Império, vol. II. Brasília: Senado Federal, 1998, p. 447.

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Em 1827, portanto, temos uma situação de “empate” em relação ao conflito. Como nos diz Calógeras,
contudo, enquanto a guerra era mal-vista no Brasil e causava seus inconvenientes, para as Províncias Unidas
era desoladora:

Se a guerra era impopular e antipática, no Brasil, não lhe desorganizava a


vida. A par disto, no Prata a situação manifestava-se de desespero. [Segue
narrativa de uma fonte]: A pena recusa traçar o quadro da República
naqueles dias. Bastará dizer que era tal que o governo considerava-a
ameaçada de uma dissolução próxima, se não se fizesse logo a paz. 14

Assim, em 1827, foi enviado um ministro plenipotenciário para negociar a paz com o Brasil, d. Manuel Garcia.
Os termos da paz de 1827 eram bastante generosos para com o Brasil: mantinha a posse da Cisplatina com
o Império, desmilitarizava-se a ilha de Martin Garcia (que tinha a capacidade de controlar a entrada de navios
no Prata se devidamente guarnecida), os exércitos seriam desmobilizados, as Províncias Unidas abririam mão
de qualquer pretensão à Cisplatina e ambos os governos se reconheceriam reciprocamente.

O acordo foi recebido em Buenos Aires com profunda resistência. Membros do Congresso se insurgiram
contra o negociador e o tratado não foi ratificado. Embora a situação da República fosse difícil, os opositores
pensavam poder contar com a atuação da Inglaterra como mediadora.

Frustrados os planos de paz de 1827, a guerra continuou, mas sem grandes movimentações e batalhas.
Depois de Barbacena, assumiu o comando o general Lécor, que adotou uma estratégia fabiana de atrição ao
inimigo, evitando grandes batalhas para evitar possíveis grandes derrotas. Com o status quo imutável, a
Inglaterra intensificou sua atuação diplomática para cessar as hostilidades, por meio de Lorde Ponsonby.
Este conseguiu realizar um acordo em que nenhum dos dois países conseguiu exatamente o que queria com
o início da guerra: nenhum ficaria de posse da Banda Oriental. Esta se tornaria independente com um
governo que seu povo escolhesse e teria sua independência garantida pela Inglaterra, pelo Brasil e pela
Argentina. A livre navegação do rio da Prata e de seus rios interiores foi garantida. Nenhuma das partes
pagaria indenizações. Pior para o Brasil foi a questão da ilha de Martin Garcia: esta passaria para controle
argentino, com consequências ulteriores graves para o Brasil geopoliticamente falando.

A Convenção Preliminar de Paz de 1828 foi assinada a 27 de agosto, ratificada pelo Imperador a 30 e pela
República Argentina a 27 de setembro. Criava-se um novo país, que Ponsonby disse que haveria de ser um
“algodão entre dois cristais”, isto é, um estado-tampão que, diminuindo as fronteiras diretas entre os dois
países, diminuiria as tensões. Ponsonby não poderia ter errado tanto, como veremos depois. Vale destacar
que nunca foi assinado um tratado de paz definitivo entre os três envolvidos até o presente momento.

Um último elemento é importante e dois detalhes factuais precisam ser destacados de todo esse movimento
político-diplomático. O primeiro se refere a uma tentativa argentina de jogar o continente americano contra
o Brasil sob bases “ideológicas”. O governo argentino utilizou seus diplomatas para buscar junto a Bolívar e

14 Idem, p. 447; 448.

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aos Estados Unidos apoio contra o Império sob a argumentação de que era a única monarquia presente no
continente e que poderia, facilmente, se tornar um braço da Santa Aliança contra as repúblicas americanas.
Nesse sentido, a Argentina encarnava as liberdades republicanas e o Brasil, a subserviência monárquica. Por
outro lado, o Brasil articulava uma imagem de agredido e de país estável, sem intenções hostis. Seja pela boa
atuação diplomática brasileira e/ou má disposição dos demais latino-americanos a entrar num novo conflito,
fato é que nenhum outro hispano-americano decidiu apoiar a Argentina em sua luta contra o Império.

O detalhe importante a ser mencionado é o recrutamento de mercenários irlandeses e alemães para a guerra
no Sul. O uso de mercenários fora extremamente comum na Europa moderna e estava começando a declinar
no início do século XIX. O Império, incapaz de sustentar e prover suas tropas por meio do recrutamento
ordinário, decidiu por empregar braços estrangeiros na luta, tanto na marinha, como vimos com os ingleses,
mas também escoceses e irlandeses, quanto no Exército.

A grande questão é que muitos dos soldados foram enganados ao vir para o Brasil. Esses embarcaram
pensando que se tornariam pequenos agricultores em colônias que estavam sendo criadas no Sul, com a
comunidade de São Leopoldo. Ao chegar aqui, foram alistados, sem chances de dizer não. A terra ficaria para
depois do serviço militar. Por outro lado, o Império tinha dificuldades em manter em dias os soldos – tanto
dos nacionais quanto dos mercenários. Por fim, a disciplina do Exército brasileiro era “diferente”. O soldado
raso era, por vezes, tratado como escravo, dada a condição quase mendicante em que vivia. Os oficiais com
frequência abusavam de punições e a vida da soldadesca era, em geral, miserável.

Todas essas circunstâncias acabaram levando a um motim na capital do Império em 1828. Depois que um
alemão foi punido a mais de centena de chibatadas, os soldados alemães e irlandeses se sublevaram,
atacaram o oficial e iniciaram um motim que tomou conta da cidade por três dias, 9-11 de junho. Para
resolver a situação, o governo imperial necessitou, além dos corpos de milicianos e policiais, do auxílio de
tropas francesas e inglesas estacionadas nos navios ancorados no Rio de Janeiro para poder conter os
insurretos. Pacificados, os batalhões de mercenários foram dissolvidos, o líder, August von Steinhousen,
morto e muitos deportados de volta para a Europa. Foi um golpe grande no prestígio do governo e do
Imperador.

As consequências da Guerra da Cisplatina para o Brasil e para a região platina como um todo foram enormes.
Para o Império, a guerra foi uma catástrofe política e econômica. Gastos imensos foram feitos para a
manutenção das tropas e pagamentos de indenizações por navios apresados durante o bloqueio e de nada
adiantou uma vez que o objetivo proposto não foi alcançado. Críticas e mais críticas foram desferidas ao
Imperador, seus generais e ministros por toda a condução da guerra, mas particularmente pelos motins de
estrangeiros e pela maneira como o conflito terminou. Não só a Banda Oriental foi perdida, como o Brasil
também perdera Martín García e agora necessitava de acordos para a navegação livre do Prata. Findo o
conflito, o Parlamento passaria a discutir os gastos militares do país e reduziu grandemente o efetivo
terrestre e desfez-se de um grande número de navios de guerra.

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Para a geopolítica do Prata, o “nascimento” do Uruguai resultou em mais um elemento de confusão na


política internacional. Depois de 1828, Brasil e Argentina passariam a rivalizar-se na região buscando
controlar ou influenciar os governos locais do Paraguai e Uruguai. Esses, por sua vez, em busca da
manutenção de sua autonomia frente aos dois gigantes sul-americanos, jogariam com essa rivalidade,
pendulando suas alianças conforme a conveniência.

Para a Argentina, a guerra representou quase o colapso do Estado e guerras civis tomaram o país entre
federales e unitários. Somente com a subida em fins da década de 1820 de Juan Manuel de Rosas, um dos
federales, mas que, ironicamente, centralizou o país, é que as Províncias Unidas encontrariam estabilidade
– para perdê-la quando o ditador viesse a cair em 1851.

A Guerra da Cisplatina, ao contrário do que esperavam os signatários da Convenção Preliminar de Paz, não
resolveu nenhum dos problemas que haviam originado o conflito. Ao contrário, acrescentou novos
catalisadores. Esse conflito ficou conhecido como a primeira das intervenções platinas ou guerras platinas,
às quais se somam a Guerra contra Rosas em 1851 e a Guerra do Paraguai, de 1864 a 1870.

O incidente de Chiquitos

Em meio ao conflito com os platinos, o governo imperial preocupava-se em não atrair para si a ira dos demais
vizinhos. Uma situação em particular chamava a atenção do governo imperial para sua relação com o
governo da Bolívia e que muito preocupava a corte no Rio de Janeiro. Trata-se do pequeno incidente
diplomático chamado incidente de Chiquitos.

Este incidente está ligado diretamente ao processo de independência da América espanhola. Bolívar, em
1824, havia empreendido o processo de “libertação” da região da atual Bolívia do jugo espanhol. Contudo,
havia membros da administração da “Bolívia” que não aceitavam o fim do governo espanhol. Dentre esses,
destacou-se d. Sebastião Ramos, governador de Chiquitos, província limítrofe com o Brasil. Inconformado
com a independência, Sebastião Ramos enviou, a 13 de abril de 1825, um ajudante de ordens a Cuiabá para
requisitar a proteção do Imperador à região até a América espanhola fosse reconquistada pelas armas por
“Sua Majestade Católica”, o rei de Espanha.15

Os vereadores do Senado da Câmara da cidade de Cuiabá deliberaram sobre o assunto e acabaram por
aprovar a medida. Enviaram então sua resolução ao governo imperial e sem maiores demoras enviaram
tropas para ocupar Chiquitos. A situação das comunicações entre o Mato Grosso e o Rio de Janeiro era
complicada e meses se passavam em trocas de cartas e documentos. Assim,

15 Calógeras, op. cit., p. 420.

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No momento em que a decisão mato-grossense chegou à Corte sabia-se


também da invasão dos Trinta e Três. Logo depois, divulgaram-se os revezes
de Rincón de las Gallinas e de Sarandí, e a declaração do governo
buenayrense sobre a reincorporação da Banda Oriental. Aceitar o alvitre da
anexação de Chiquitos, desencadearia a guerra em toda a fronteira, e
armaria contra o Brasil e a dinastia todas as forças republicanas da América
do Sul, certos os brasileiros de antemão de que a elas se ligariam os
elementos anti-monárquicos existentes no território nacional.16

A proposta, portanto, foi completamente rejeitada e “formulada em termos duros para as autoridades do
Mato Grosso” a 13 de agosto de 1825.17 Ordenou a retirada das tropas da Bolívia e a restituição de todos os
bens que porventura pudessem ter sido confiscados ou tomados. A medida enérgica e pronta do governo
para amenizar e distender as relações evitou que Bolívar e Sucre se juntassem aos exércitos da República
platina e, logo, salvaram o Império de uma guerra em várias frentes.

A missão Santo Amaro

Após o fim das hostilidades no Prata e uma paz desvantajosa para o Brasil, d. Pedro I divisou uma estratégia
para conquistar preponderância na região platina. Tratava-se de uma missão diplomática secreta para
reforçar a posição de D. Maria II em Portugal e organizar, junto às cortes europeias da época, uma alteração
política no Prata, de modo a substituir as repúblicas por monarquias na região. D. Pedro esperava, então,
conseguir criar esferas de influência e países satélites ao Império – buscava-se, por exemplo, transformar a
Banda Oriental num (grão-)ducado cujo monarca seria um membro da dinastia Bourbon a se casar com uma
das filhas de Pedro I.

A ideia era se aproveitar do espírito político conservador que ainda pairava sobre a Europa justamente no
momento em que as repúblicas sul-americanas passavam por problemas internos e rebeliões.

A situação encontrada por Santo Amaro, contudo, não foi receptiva aos planos de Pedro I. A Inglaterra
iniciava seu movimento de isolamento e, pragmática como era, não lhe importava se monarquias ou
repúblicas vigoravam na América. E as demais potências se desinteressaram ou passaram pelas
preocupações de uma nova onda revolucionária que tomava a Europa a partir da França, a revolução de
1830, que fez cair a monarquia restaurada dos Bourbons. Nem mesmo seus planos para assegurar maior
apoio a d. Maria II obtiveram sucesso.

Tendo finalizado os pontos centrais da diplomacia do Primeiro Reinado, passemos para os desenvolvimentos
que levariam à abdicação do primeiro monarca brasileiro.

16 Idem, p. 420-421.
17 Idem, p. 421.

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O fim do Primeiro Reinado

Depois do fim da guerra da Cisplatina e de todos os desenvolvimentos políticos e econômicos que vimos, a
situação do Imperador começou a ficar cada vez mais complicada no Brasil. Cabe-nos aqui elencar alguns
pontos que nos permitirão entender com maior precisão a queda de Pedro I: sua condução política dos
negócios públicos, suas preocupações com o destino de sua dinastia em Portugal, e sua vida pessoal.

Como ficou claro pela exposição das situações internas e externas, o Imperador passou por uma rápida
transformação aos olhos da opinião pública que se formava no Brasil: de “O Libertador” passou,
progressivamente, a ser taxado e acusado de “absolutista” e “autoritário”. Essas acusações referiam-se ao
modo como lidara com a Assembleia Constituinte, como governara sem o apoio da Assembleia (embora isso
não fosse inconstitucional), como sufocara a Confederação do Equador, sua condução ruim da guerra da
Cisplatina, sua negociação dos tratados com a Inglaterra, a falência do Banco do Brasil, a inflação elevada,
déficits públicos crescentes, enfim, sua intromissão geral num governo que se mostrou desastroso em vários
aspectos. Num balanço geral, na calma de uma análise que só existe numa situação ex-post, podemos
entrever aspectos positivos do período, como a manutenção territorial, a organização e funcionamento
adequado de instituições liberais, o reconhecimento relativamente rápido da independência nacional, etc.
Contudo, para as elites que haviam criado a expectativa de governar o país, a forma de governo de Pedro I
mostrou-se frustrante e todos os seus erros – que não foram poucos – acabaram exacerbando os ânimos
num movimento de radicalização política que foi se acentuando após 1828. Também aqui vale retomar o
aspecto constitucional que levava as elites reunidas na Assembleia – principalmente na Câmara – a criticarem
o Imperador diretamente: como chefe do Executivo, a ele cabia dirigir o governo a partir de seus ministros.
Assim, os erros dos ministros poderiam, facilmente, ser creditados ao Imperador. As frequentes críticas
levaram a frequentes demissões e trocas de ministérios, razão de instabilidade e descontinuidade
governamental em algumas pastas.

Para além dos pontos sumarizados, D. Pedro teve sua imagem abalada pelas preocupações que mantinham
quanto ao futuro do reino português. Pelos acordos de reconhecimento da independência do Brasil, D. Pedro
e seus filhos não ficaram exclusos da linha sucessória de Portugal. Em 1826, com a morte de d. João VI, criou-
se uma celeuma grave envolvendo as duas monarquias atlânticas: quem deveria herdar? O filho mais velho,
Pedro, que havia abandonado a pátria? Ou Miguel, o filho mais novo que havia ficado com o pai durante
todo o processo?

Em Portugal, os liberais apoiavam o reinado de D. Maria da Glória porque significaria o retorno do liberalismo
ao país depois que D. João conseguira retomar o modo de governo absoluto em 1824. D. Pedro, na condição
de rei de Portugal, durante o pouco tempo que ficara coroado, outorgou uma nova carta constitucional ao
país, bastante inspirada na constituição brasileira.

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Contudo, os tradicionalistas portugueses se negavam a reconhecer D. Pedro e sua linhagem como o legítimo
ramo da dinastia. Entendiam que as leis fundamentais do reino excluíam os membros da família real que
tivessem pegado em armas contra o reino, justamente o que fizera Pedro. Assim, articularam um movimento
para que D. Miguel assumisse a coroa lusitana, formando-se o partido miguelista.

Situação difícil, a solução foi uma tentativa de compromisso: D. Pedro assumiu a Coroa e de imediato abdicou
em favor de sua filha, D. Maria da Glória, que assumiria como D. Maria II. Para apaziguar os ânimos de seu
irmão, casou sua filha com ele, de modo que ele seria rei consorte.

Mesmo com essa tentativa de aproximação, D. Miguel e seus apoiadores não desistiram da ideia de governar
Portugal. Para além da questão dinástica – muito importante para a época – encontrava-se a questão de qual
era a melhor forma de governar Portugal: monarquia absoluta ou monarquia liberal? Diante dessa situação,
do exemplo da vizinha Espanha, do espírito restaurado da Europa e do apoio da grande nobreza portuguesa,
==146f25==

D. Miguel reuniu as Cortes tradicionais portuguesas (não a Assembleia do tipo reunida em 1820) e as fez
proclamá-lo rei, depondo D. Maria II, em 1828, restabelecendo a monarquia absoluta em Portugal e iniciando
uma guerra civil que acabaria somente em 1834.

Quando a notícia chegou ao Rio de Janeiro, D. Pedro decidiu reagir. Aqui do Brasil organizou a resistência ao
governo de seu irmão. Isso gerou uma grande preocupação nas elites imperiais: que o imperador usasse os
escassos recursos brasileiros para a “reconquista” do trono português e que houvesse alguma possibilidade
de restauração dos dois reinos sobre uma mesma cabeça coroada. Também o tempo dedicado aos
problemas lusitanos frustrava os nacionais que viam seu monarca dedicando-se a problemas estrangeiros
quando muito havia por se fazer no país.

É necessário elencar, para criar um quadro mais abrangente do período, um elemento significativo: o
sentimento antilusitano que foi latente e crescente na primeira década brasileira. Esse sentimento, estudado
por Gladys Ribeiro,18 é um elemento extremamente complexo: quem era português? Quem era brasileiro?

A Constituição tentou responder em parte à problemática criando o dispositivo conceder a cidadania


brasileira àqueles nascidos em Portugal que haviam apoiado a causa da independência. Ora, esse era o caso
do próprio monarca! Então, o ‘ser português’ e o ‘ser brasileiro’ nesse momento histórico mesclava outros
elementos que o mero local de nascimento. Podemos compreendê-lo como perpassando uma série de feixes
políticos: apoiar os interesses “nacionais” versus apoiar os interesses “portugueses”; apoiar a interferência
do imperador em questões portuguesas ou ser contrário a essa política; além disso, questões econômicas
entravam na equação, muitos dos varejistas no Rio de Janeiro e outros centros sendo de origem portuguesa,
era acusados de manipular os preços inflacionados para extorquir o ‘bom brasileiro’.

18RIBEIRO, Gladys Sabina. A liberdade em construção: identidade nacional e conflitos antilusitanos no Primeiro Reinado. Rio de
Janeiro: Relume-Dumará, 2002.

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Tudo isso foi alcançando ares de radicalização na medida em que a situação brasileira não melhorava, o
conflito em Portugal se prolongava e o imperador se cercava de elementos mal vistos pela elite imperial e
pela população em geral, um grupo de “áulicos” portugueses, pés-de-chumbo, interessados mais em
Portugal do que no Brasil, ou assim muitos dos jornais liberais e oposicionistas entendiam.

É nesse ponto que a vida pessoal do imperador entra como um componente significativo para nossa história.
D. Pedro I conseguiu haurir mais críticas a si mesmo a partir de sua vida privada. Particularmente, foram
importantes nesse sentido sua relação extraconjugal com Domitila de Castro (futura Marquesa de Santos) e
com seu amigo Francisco Gomes da Silva, o Chalaça. A partir da relação deles, foi-se criando um grupo ao
redor do imperador que passou a influir decisivamente na condução do governo, mesmo quando esses dois
saíram da Corte.

Monarcas possuírem amantes era algo extremamente comum na tradição das famílias nobres europeias, já
que os casamentos eram considerados mais como contratos e alianças do que relações amorosas. O que
transformou a relação entre Domitila de Castro e o monarca em algo odioso à opinião pública foi a maneira
como o imperador passou a lidar com sua esposa – D. Leopoldina – e os grandes benefícios dados à Marquesa
e sua família – benefícios econômicos, sem dúvida, mas também o reconhecimento de uma filha bastarda
dos dois que acabou recebendo o título de Duquesa de Goiás, um escândalo à época. A Marquesa perderia
sua influência, paradoxalmente, após a morte da Imperatriz em dezembro de 1826, muito provavelmente
vítima de depressão. O Chalaça, por sua vez, era considerado uma péssima influência, uma pessoa de maus
hábitos, que somente com muita manobra de seus adversários foi retirado do círculo do imperador.

Depois desses, outros assumiram os encargos de conselheiros de D. Pedro, formando o que os liberais da
época chamavam de “gabinete secreto”. Eram figuras ligadas a Portugal e interessados em fortalecer o
governo pessoal do monarca nos dois reinos. Esse grupo ficaria conhecido como Partido Português. A ele se
contrapôs um grupo de liberais reunidos na Câmara e que requisitava um quinhão maior na administração
do Império, o chamado Partido Brasileiro.

As situações foram se exacerbando com fatos trágicos. Em 1830 o jornalista liberal de oposição Libero Badaró
foi assassinato, crime que foi imputado a D. Pedro indiretamente e muito diminuiu seu prestígio pelos
círculos políticos importantes. Para poder melhorar a situação, decidiu fazer uma viagem a Minas Gerais,
mas lá foi friamente recebido. Grupos de portugueses ligados ao imperador decidiram realizar uma grande
festa em seu retorno ao Rio de Janeiro, mas o evento acabou se transformando num conflito entre
‘portugueses’ e ‘brasileiros’, a conhecida Noite das Garrafadas.

Encurralado pela oposição da Assembleia, pelos jornais e pelo populacho, D. Pedro decidiu nomear um
gabinete com membros liberais do “Partido Brasileiro”. Mesmo assim, a Câmara, radicalizada, não cedeu
suas pressões, não apoio o governo nem diminuiu suas críticas. Em resposta, Pedro I destituiu o gabinete
brasileiro e nomeou o “Ministério dos Marqueses” em abril de 1831, composto de marqueses do Império
vistos como de tendências portuguesas e absolutistas.

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De imediato, “tropa e povo”, como na expressão da época, iniciaram uma revolta contra a destituição do
gabinete brasileiro e cercaram o palácio de São Cristóvão. A Assembleia Geral ainda não havia se reunido e
poucos membros da elite imperial se encontrava na Corte. A ideia daqueles revoltosos não era a saída de
Pedro I, mas uma mudança nos rumos de seu governo.

Recluso em seu palácio, D. Pedro I acabou tomando uma decisão que ninguém esperava: abdicaria em favor
seu filho, Pedro de Alcântara, e iria para Portugal lutar pelo trono de sua filha. A 7 de abril, abdicou e pouco
depois partiu. A medida foi um choque para as elites imperiais: o novo monarca contava com 5 anos e uma
regência precisaria ser formada para compor um novo governo. Seria formada, inicialmente, uma regência
trina provisória composta por Vergueiro, Carneiro de Campos e Francisco de Lima e Silva, até que a
Assembleia pudesse organizar um novo governo.

Como entender a abdicação de Pedro I? Uma interpretação importante e que com persiste nos meios
acadêmicos é a de que a saída do primeiro monarca foi a “verdadeira independência” do país, liberto dos
interesses de um monarca português mais preocupado com sua dinastia do que com o Império – uma
interpretação que surgiu exatamente do discurso liberal dessa época! A partir daí o governo passou para a
mão dos “verdadeiros brasileiros”, que governariam em consonância com a “vontade nacional”. Uma leitura
um pouco simplista e enviesada, mas que se faz necessário conhecer dada a historiografia que vem sendo
cobrada para a prova.

É importante destacar, contudo, que o período regencial que se seguiu foi um verdadeiro laboratório de
experiências políticas, com muitas discussões, mudanças constitucionais, conflitos de interesses e a
experimentação de um modo de governo quase republicano.

Tendo visto todo o período histórico do primeiro reinado, vamos agora praticar?

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Exercícios
Questão 51

As disputas entre D. Pedro I e a Câmara dos Deputados marcaram o Primeiro Reinado e resultaram
na abdicação do imperador. Acerca do Primeiro Reinado e do período da Regência, julgue (C ou
E) os itens subsequentes.

1 A Constituição de 1824 foi elaborada com base no projeto votado pela Assembleia Constituinte
e Legislativa, fechada por D. Pedro I no ano anterior. Seu texto foi enviado para as câmaras
municipais das principais cidades do Império, as quais juraram cumpri-la sem contestações.

Comentário:

O grupo de áulicos que foram incumbidos de escrever a constituição (e que segundo D. Pedro I,
seria mais liberal que o projeto constituinte) de fato levou em consideração muitos dos pontos
elencados pelos deputados de 1823. O processo de outorga não foi uma simples declaração do
imperador. Cópias foram enviadas para as cidades do Império para que fossem analisadas pelas
Câmaras Municipais (uma prática que encontra raízes nas tradições ibéricas). Ainda que a maior
parte das cidades tenha dado o aval para o texto enviado, outras a criticaram, destacando-se Itu
e Recife, enviando sugestões – não acatadas – para o Rio de Janeiro. Item errado.

2 A política exterior adotada pelo Império no Primeiro Reinado recebeu duras críticas da Câmara
dos Deputados. A condução da Guerra Cisplatina, o envolvimento com as questões da sucessão
portuguesa e os termos dos tratados de amizade foram retratados na tribuna como fruto do
governo pessoal e centralizador de D. Pedro I.

Comentário:

O governo de D. Pedro I teve um período de “lua de mel” com a Câmara por um pequeno período
em 1826. A partir daí, passou a ser duramente criticado tanto por suas políticas internas quanto
externas. Em relação a essas últimas, foram alvos de crítica todos os elementos elencados no
item. A guerra da Cisplatina foi um grande insucesso militar para o Império e agravou a situação
financeira do país. Ao mesmo tempo, o imperador passou a se imiscuir na sucessão da coroa
portuguesa e a guerra criada por seu irmão Miguel contra sua filha Maria II. Por fim, o tratado de
amizade, firmado entre Brasil e Inglaterra como contrapartida pelo auxílio inglês na negociação
da independência em 1827, além de secreto (algo que os deputados repudiaram) propunha a
continuidade dos termos do tratado de 1810 em relação aos impostos de alfândega (Inglaterra
como nação mais favorecida, com somente 15% de impostos) e o fim do tráfico em 1831 (que não
foi implementado na prática). Por tudo isso, o imperador foi cada vez mais atacado na Câmara e
a pressão política associada a seus erros levou à sua abdicação. Item correto.

Questão 54

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Considerando a célebre frase de Karl Clausewitz: “A guerra é a continuação da política por outros
meios”, julgue (C ou E) os itens a seguir, a respeito da participação brasileira no Teatro da Guerra
ao longo de sua história.

1 D. Pedro I declarou guerra às Províncias Unidas do Rio da Prata após a aceitação da incorporação
da Banda Oriental, província da Cisplatina para os brasileiros, pelo congresso argentino, em 1825.
As forças dos adversários se equilibravam e a prolongação indefinida do conflito levou à
intervenção da Inglaterra. A violência do recrutamento forçado para a guerra, os altos custos
financeiros e a desmoralização do império frente a um adversário supostamente mais fraco
acirraram a oposição interna ao monarca brasileiro.

Comentário:

Tranquila descrição dos eventos referentes à guerra da Cisplatina. Tal como colocamos em nosso
PDF, foi um evento capital para o desgaste do imperador e a corrosão das finanças imperiais. Item
correto.

CACD 2017

Questão 47

Durante o Primeiro Reinado consolidou-se a independência nacional, construiu-se o arcabouço


institucional do Império do Brasil e estabeleceram-se relações diplomáticas com diversos países.
Acerca desse período da história do Brasil, julgue os itens subsequentes.

1.O Senado era fator de estabilidade política no Império, tanto pelo caráter vitalício dos mandatos
dos senadores, quanto por ter prerrogativas constitucionais como a de aprovar a nomeação de
presidentes das províncias e a de assinar tratados internacionais.

Comentário:

O Senado Imperial era de caráter vitalício e proporcional às representações provinciais na Câmara.


No entanto, o caráter centralizador da Constituição de 1824 concentrava no Poder Executivo a
capacidade de assinar tratados internacionais, que só deveriam ser ratificados pela Assembleia
do Império (e não apenas pelo Senado) quando envolvessem a cessão de territórios. Além disso,
a nomeação de presidentes de províncias era atribuição exclusiva do Imperador, sem qualquer
observação por parte do Senado. Item errado.

2.Nas negociações para o reconhecimento da independência brasileira pela Grã-Bretanha, foi


importante o interesse de Pedro I em preservar sua dinastia.

Comentário:

A saída pela estabilidade na independência brasileira, preservando a linhagem de D. Pedro I, foi


um ponto importante para que a Grã-Bretanha reconhecesse o novo país. Sob a chancela da
grande potência europeia, a independência brasileira começava a assumir ares de
irreversibilidade, sendo um passo fundamental para a ruptura. Por isso, o esforço da corte

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brasileira em convencer Londres sobre a estabilidade do processo de independência,


conseguindo atrair um apoio político internacional poderoso. Item correto.

3.Originalmente uma questão concernente apenas ao eixo das relações simétricas entre os
Estados envolvidos, a Guerra da Cisplatina encerrou-se com a interferência de uma potência
externa ao conflito.

Comentário:

Guerra que ocorreu entre 1825 e 1828, a Guerra da Cisplatina opôs o governo imperial brasileiro,
os nacionalistas independentistas da Cisplatina e a República Argentina. Os nascentes Estados sul-
americanos e suas dificuldades de organização burocrático-militar criavam uma situação de
relativa simetria de relações, mesmo com as desproporções do território brasileiro. Se os
independentistas da Cisplatina lutavam dispondo de menos recursos do que Rio de Janeiro e
Buenos Aires, o risco de uma guerra prolongada e cara em meio à necessidade de estabilizar os
novos Estados equilibrou de maneira importante o teatro militar. As desconfianças brasileiras e
os ânimos expansionistas argentinos foram travados com a ação britânica decisiva no sentido de
criar a República Oriental do Uruguai, encerrando o conflito. Assim, item correto.

4.Contribuíram para a consolidação da independência brasileira importantes ações militares


contra tropas leais a Lisboa.

Comentário:

A resistência de tropas leais à metrópole foi verificada em alguns pontos do território brasileiro,
com importante destaque para a Batalha do Jenipapo e a Batalha de 4 de Maio. Tratou-se de uma
guerra civil luso-brasileira em que, em diversos pontos do território, tropas portuguesas se
insurgiram contra a independência brasileira, havendo reação civil e militar do Império nascente.
Com diferentes matizes e momentos, o resultado geral da guerra de independência, que se
extinguiu em 1825, foi a garantia da unidade territorial brasileira e a consolidação do Império.
Item correto.

CACD 2014

Questão 47

Quando o Brasil se tornou independente, em 1822, a elite política brasileira optou por uma
monarquia representativa como forma de governo, de acordo com o modelo francês da época. A
Constituição de 1824, outorgada por D. Pedro I, continha todos os direitos civis e políticos
reconhecidos nos países europeus. Afastava-se do sistema inglês pela adoção do Poder
Moderador, que dava ao imperador grande controle no ministério. (José Murilo de Carvalho.
Fundamentos da política e da sociedade brasileiras. In: Lúcia Avelar e Antônio Octávio Cintra
(Orgs.). Sistema político brasileiro: uma introdução. Rio de Janeiro: Fundação Konrad-Adenauer–
Stifund. São Paulo: Fundação UNESP Ed., 2004, p. 27-8, com adaptações).

Tendo o texto acima como referência inicial, julgue os itens que se seguem, relativos a aspectos
marcantes do quadro político brasileiro nas décadas iniciais do período monárquico.

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1.Criação brasileira e sem fundamentação teórica consistente, o Poder Moderador acabou por
ser responsável direto pelas crises políticas que, recorrentes em todo o Primeiro Reinado,
acabaram por levar D. Pedro I à abdicação.

Comentário:

O Poder Moderador, instituído por D. Pedro I na Constituição de 1824, tinha por base o ideário
político-institucional de Benjamin Constant. De fato, a existência do quarto poder, que era
acumulado à chefia do Executivo pelo imperador, acabava por dar uma centralidade elevada para
a figura de D. Pedro I nas discussões públicas, atribuindo-lhe grande responsabilidade sobre tudo
que acontecia. No entanto, a questão da abdicação ao trono brasileiro estava mais ligada à crise
sucessória aberta em Portugal com a abdicação de D. João VI a seu favor quando a Constituição
de 1824 era explícita quanto à proibição da unificação das coroas de Brasil e de Portugal. Mesmo
tendo abdicado em Portugal a favor de sua filha Maria da Glória, D. Pedro I enfrentou grande
desconfiança por parte das cortes brasileiras e ainda veria seu irmão, D. Miguel, agindo para
assumir o controle da coroa portuguesa. Com o falecimento da popular Imperatriz Maria
Leopoldina, os descontentamentos com a derrota na Guerra da Cisplatina, os escândalos
envolvendo a Marquesa de Santos e o assassinato de Libero Badaró, jornalista oposicionista de
São Paulo, a situação de D. Pedro I ficava delicada para tentar equilibrar as duas coroas. Na
eminência de uma guerra civil contra D. Miguel, optou D. Pedro I por garantir o trono brasileiro a
seu filho, retornando a Portugal para lutar pela coroa portuguesa. Ou seja, a abdicação de 1831
foi muito mais um resultado de uma complexa teia de acontecimentos do que um desgaste
propriamente dito do Poder Moderador, que seria mantido no ordenamento brasileiro até o final
do regime monárquico. Item, portanto, errado.

2.A opção pela monarquia, no momento da independência do Brasil, é entendida como estratégia
para facilitar a preservação da unidade do país em torno da figura do imperador e para a
manutenção da ordem social, em contraste com a fragmentação na antiga área de dominação
espanhola.

Comentário:

No momento da independência brasileira, já havia uma acumulada experiência das ex-colônias


hispânicas, que, apesar de serem repúblicas, tinham grandes dificuldades de organização e de
adesão popular. A fragmentação generalizada do antigo império espanhol criou uma noção muito
clara no Brasil de que a monarquia, galvanizando elites e população em torno da figura real, seria
capaz de aglutinar o país para uma transição sem prejuízo para a integridade territorial. A ordem
social, por sua vez, seria assegurada pela lógica da legitimidade inata do imperador, sem mobilizar
a sociedade brasileira numa disputa pelo poder. Ou seja, tanto pelo território quanto pela ordem,
viu-se na via monárquica o caminho mais seguro para independência e para a construção de um
Estado. Portanto, alternativa correta.

3.A crise política dos primeiros tempos do Brasil independente teve sua expressão máxima na
dissolução da Assembleia Constituinte, razão pela qual a Constituição de 1824, outorgada,
afastava-se do contexto histórico da época ao não incorporar elementos da nova ordem política
nascida nos movimentos revolucionários liberais burgueses.

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Comentário:

A grande chave para o item está no conhecimento do candidato sobre história mundial. A década
de 1820 vinha do rescaldo da derrocada napoleônica e, portanto, em plena reação contra todo o
ideário dos levantes liberais burgueses. Assim, a Constituição brasileira estava em consonância
com o momento político mundial, já que as monarquias europeias retornavam ao centro da cena
com força para reorganizar o sistema internacional. Além disso, é impreciso falar que o ápice da
crise do primeiro reinado tenha sido o (importante) momento da dissolução da Assembleia
Constituinte, já que a independência brasileira enfrentaria momentos difíceis com os levantes
pela restauração portuguesa, com a Guerra da Cisplatina e com a confluência para a crise da
abdicação em 1831. Item errado.

4.O texto remete à expressão “parlamentarismo às avessas”, utilizada para definir a forma como
o governo de gabinete foi introduzido no Brasil, forma que, em determinados aspectos, afastou-
se da experiência inglesa, que lhe servira de modelo.

Comentário:

Parece-nos arriscado demais atribuir à Constituição inglesa a inspiração maior para a nossa
Constituição monárquica, já que também houve decisiva influência da Restauração francesa
(1814-1830) sobre a experiência brasileira. De fato, a criação do Poder Moderador foi o embrião
fundamental do “parlamentarismo às avessas”, já que cabia ao imperador o controle sobre o
exercício do poder, e não ao parlamento, como seria adequado numa experiência
parlamentarista. Na experiência parlamentarista brasileira, cabia ao imperador – e não ao
parlamento, como ocorre no parlamentarismo normal – a indicação do presidente do Conselho
de Ministros. Além disso, até a reforma constitucional de 1848, o Brasil não adotara de fato um
parlamentarismo, já que a chefia do Poder executivo era também deixada ao imperador, sem a
figura de um primeiro-ministro. Portanto, é muito estranho que a banca tenha insistido em
considerar o item correto, já que o enunciado pede referência às primeiras décadas da monarquia
brasileira, quando predominava a influência restauradora francesa e a fragilização do parlamento.
Se considerarmos tão somente o item, já nos estamos reportando para segunda metade do século
XIX, com a estruturação do parlamentarismo, aí sim com influência inglesa, mas com as bases da
experiência centralizadora em torno do imperador, contribuindo, aí sim, para o “parlamentarismo
às avessas”. Com dúvidas, o item está correto.

CACD 2012

Questão 42

No Brasil, o processo interno da independência e os problemas internacionais suscitados


apresentam mais pontos divergentes que semelhantes em relação ao restante da América Latina.
Um século antes da Sociedade das Nações, primeira tentativa de conferir institucionalidade
formal ao sistema internacional, a aceitação de um ator recém-independente no cenário mundial
dependia, em última instância, do reconhecimento da legitimidade do novo participante pelas
grandes potências. (Rubens Ricupero. O Brasil no mundo. In: Lilia Moritz Schwarcz (dir.). História

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do Brasil nação: 1808-2010, v. 1. Madri: Fundación Mapfre; Rio de Janeiro: Objetiva, 2011, p. 139,
com adaptações)

Tendo o texto acima como referência inicial e considerando o contexto histórico da


Independência do Brasil bem como aspectos marcantes do Primeiro Reinado (1822-1831), julgue
os itens que se seguem.

1.O reconhecimento da independência do Brasil, diferentemente do que se verificou com as


colônias espanholas na América, ocorreu mediante negociação tripartite, na qual se destacou a
mediação da Inglaterra entre metrópole e ex-colônia.

Comentário:

A atuação britânica no reconhecimento da independência brasileira por Portugal foi


inquestionável. Tanto na triangulação diplomática, quanto nos empréstimos para os pagamentos
das indenizações, o Reino Unido teve papel central na vida nascente monarquia brasileira, fato
muito relacionado com a hegemonia inglesa sobre Portugal, ainda decorrente das alianças da Era
Napoleônica. Por sua vez, a América hispânica, em muitos casos, optou pela via confrontacionista
com relação à velha metrópole, já incapaz de empreender com êxito uma nova guerra colonial.
Item correto.

2.A Inglaterra demorou a reconhecer o Brasil independente, porque, a despeito da importância


relativamente pequena do mercado brasileiro para as exportações britânicas e do fim do tráfico
africano assegurado pelo governo de D. Pedro I, era forte a resistência das elites locais à
renovação dos tratados de 1810, extremamente vantajosos para os ingleses.

Comentário:

O Reino Unido assinou o Tratado de Amizade, Navegação e Comércio com o Brasil em agosto de
1827, quase cinco anos após a independência brasileira. O mercado brasileiro era atraente para
as manufaturas inglesas, principalmente desde as concessões aduaneiras feitas por Portugal nos
tratados de 1810. No entanto, o que estava em jogo era o tamanho do preço a ser pago pelo Brasil
por todos os serviços prestados pelos ingleses na triangulação diplomática feita com Portugal para
o reconhecimento da independência brasileira em 1825. Vencida a etapa da negociação com
Lisboa, Londres queria tanto a adaptação dos tratados de 1810 para a nova realidade do
capitalismo britânico – já livre da ameaça e dos custos da França napoleônica –, mas havia uma
antipatia importante da sociedade brasileira contra o aumento das vantagens comerciais aos
ingleses. Além disso, o Reino Unido insistia na sua convenção de extinção do tráfico de escravos
de 1826, prevendo o fim definitivo dos navios negreiros até 1830. Sem nenhuma convicção, D.
Pedro I aderiu à convenção e a questão da escravidão no Brasil se arrastaria por quase todo o
século XIX e o tráfico de escravos só seria, de fato, proibido no Brasil em 1850 (Lei Eusébio de
Queirós). Assim, não se pode dizer que havia firme disposição do imperador brasileiro no combate
ao tráfico. Item errado.

3.O trecho final do texto sugere que o reconhecimento do Estado nacional brasileiro pelos Estados
Unidos da América (EUA) era condição essencial para que outras potências também o fizessem,

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devido à relevância de Washington no jogo de poder mundial e à amplitude de sua ação


internacional na primeira metade do século XIX.

Comentário:

Item que exige do conhecimento de história mundial do candidato para ler os caminhos da vida
brasileira. Os Estados Unidos, à época da independência brasileira, ainda estavam empreendendo
sua expansão territorial para o oeste, sendo um país territorialmente menor que o Brasil e
marcadamente agrário em meio à revolução industrial europeia. Apesar de começar a projetar
alguma influência no continente americano e haver certa preocupação sobre a possibilidade de
uma liderança estadunidense na região, ainda não se configurava como uma grande potência
capaz de rivalizar com aquelas resultantes do Congresso de Viena, principalmente frente à
capacidade paralisante da Marinha britânica. Item errado.

4.Com a independência do Brasil, foram prejudicados tanto os setores dominantes da ex-colônia,


dado o rompimento da ponte estabelecida com a Coroa portuguesa na abertura dos portos
estabelecida brasileiros ao comércio internacional, quanto as elites do Vale do Paraíba, dados os
acordos celebrados com a Inglaterra e com Portugal para o reconhecimento do novo Estado,
mediante os quais foi renovada a perspectiva de poder da aristocracia açucareira nordestina.

Comentário:

A agroexportação brasileira não foi prejudicada com a independência, já que houve a manutenção
da abertura dos portos às nações amigas. O que estava em pauta de fato era o lugar do acordo
britânico dentro do mercado brasileiro, já que os acordos deixados por Portugal desde 1810
previam grandes preferências dentro do mercado brasileiro sem relativa contrapartida, já que os
produtos brasileiros não poderiam competir no mercado inglês com as colônias britânicas.
Tampouco se pode falar em uma já estabelecida elite cafeeira do Vale do Paraíba, já que o ciclo
do café só se estabeleceria, de fato, em meado do século XIX, muito depois das negociações sobre
as preferências aduaneiras britânicas. Item errado.

CACD 2008

Questão 17

O processo de Independência do Brasil concluiu-se durante o Primeiro Reinado (1822-1831). Este


foi, contudo, um período conturbado da história nacional, em razão, entre outros fatores, de
contradições da vida política interna e da política exterior. A esse respeito, julgue (C ou E) os itens
a seguir.

1.O Parlamento fez graves críticas a D. Pedro, por entender que ele sacrificou a expansão das
manufaturas mediante acordos de comércio com países capitalistas mais avançados.

Comentário:

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O avaliador foi generoso ao insistir em um “países capitalistas mais avançados”, deixando bem
amplo e sem causar grandes dúvidas no candidato. D. Pedro I, no processo de consolidação da
independência brasileira, optou por divorciar as razões de Estado de algumas exigências do
parlamento e da sociedade brasileiros. Ao firmar o acordo comercial de 1827 com o Reino Unido,
o Brasil, ao mesmo tempo que garantia o respeito internacional à sua independência de maneira
irreversível, atrasou em muitos anos o desenvolvimento das manufaturas nacionais por conta da
adesão de taxas aduaneiras francamente favoráveis aos produtos manufaturados ingleses sem
relevante contrapartida, já que as colônias britânicas estavam protegidas da concorrência
brasileira. Assim, D. Pedro I sacrificou parte importante do apoio doméstico, abrindo uma crise
clara com o Legislativo. Item correto.

2.A Constituição de 1824 consagrou democraticamente a vontade nacional, que se expressou por
meio dos representantes junto à Assembleia Constituinte.

Comentário:

A Assembleia Constituinte, ao recusar-se a aderir alguns pontos exigidos pelo imperador, acabou
sendo dissolvida pelo próprio. A Constituição de 1824 foi redigida e outorgada por D. Pedro I à
revelia da Assembleia anteriormente instituída. Item errado.

3.A Constituição de 1824 descuidou da educação popular ao não fixar o preceito da gratuidade
para o ensino primário.

Comentário:

Item bastante específico e pouco analítico, já que a educação primária gratuita, assegurada pela
Constituição de 1824, não conseguiu reverter para níveis significativos o quadro profundo do
analfabetismo brasileiro. Item errado.

4.No Congresso do Panamá de 1826, em que se discutiu a ordem hemisférica, a delegação


brasileira fez a defesa da guerra que o governo movia contra Buenos Aires pela posse da Província
Cisplatina.
Comentário:

A posição brasileira no Congresso do Panamá de 1826 foi insistentemente clara quanto à


importância da construção de uma América livre e pacífica, refletindo posicionamentos favoráveis
à unidade territorial. A diplomacia imperial optou por abrir mão da posição confrontacionista,
superando o episódio da Guerra da Cisplatina. Item errado.

CACD 2005

Questão 22

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À época da independência, a economia colonial podia ser descrita de maneira simplificada. Era
composta por: latifúndios voltados para a produção de mercadorias exportáveis, como o açúcar,
o tabaco, o algodão; fazendas dedicadas à produção para o mercado interno (feijão, arroz, milho)
e à criação de gado, estas sobretudo no norte e no sul; e centros mineradores já em fase de
decadência. Acrescente-se, ainda, grande número de pequenas propriedades voltadas para a
agricultura e a pecuária de subsistência. Nas cidades costeiras, capitais de províncias,
predominavam o grande e o pequeno comércio. Os comerciantes mais ricos eram os que se
dedicavam ao tráfico de escravos.
A única alteração importante nessa economia deu-se com o desenvolvimento da cultura do café.
Já na década de 30, o produto assumira o primeiro lugar nas exportações. Mas o café não mudou
o padrão econômico anterior: era também um produto de exportação baseado no trabalho
escravo. Esse modelo sobreviveu ainda por mais cem anos. Só começou a ser desmontado após
1930. As conseqüências da hegemonia do café foram principalmente políticas. O fato de se ter
ela estabelecido a partir do Rio de Janeiro ajudou a consolidar o novo governo do país, sediado
nesta província. Se não fosse a coincidência do centro político com o centro econômico, os
esforços da elite política para manter a unidade do país poderiam ter fracassado.

(J. M. de Carvalho. Fundamentos da política e da sociedade brasileiras. In: L. Avelar e A. O. Cintra


(orgs.). Sistema político brasileiro: uma introdução. Rio de Janeiro: Fundação Konrad-Adenauer-
Stiftung; São Paulo: Fundação UNESP, 2004, p. 23.)

Segundo o texto, a única alteração importante verificada no cenário econômico colonial, à época
da independência, foi o desenvolvimento da cultura do café. A propósito desse e de outros
aspectos relativos ao sentido histórico dos acontecimentos de 1822, assinale a opção correta.

A.O surgimento do Estado nacional brasileiro em 1822, em face da decisão do príncipe regente,
configurou-se como um indiscutível processo revolucionário, visto que foram rompidos padrões
essenciais que sustentaram os três séculos de dominação colonial.

Comentário:

Não houve propriamente uma ruptura nas estruturas anteriores à independência brasileira. Pelo
contrário, a integridade territorial se manteve galvanizada sob a legitimidade “inata” do
imperador; a aristocracia rural teve seus privilégios mantidos; a escravidão sobreviveria por mais
seis décadas; e a centralidade da agroexportação não seria tocada no século XIX. Além da
concentração dos acontecimentos em torno das elites tradicionais, a independência brasileira não
pode ser considerada um movimento revolucionário. Alternativa errada.

B.A manutenção das relações escravistas de produção, mesmo após a independência, explica-se
pela configuração, naquele momento, do capitalismo mundial, o qual, impulsionado pelos
negócios britânicos, exigia a expansão do consumo nas regiões periféricas do sistema.

Comentário:

A alternativa não se sustenta logicamente. Ora, se o capitalismo estava se organizando para uma
nova fase e precisava, decididamente, de novos mercados consumidores; qual seria o interesse
de se manter a maior parte da população trabalhando sem remuneração alguma? Se o escravo

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não tem renda, ele está alijado do capitalismo, que perde um consumidor. Assim, alternativa
errada.

C.A novidade trazida pelo café, tal como se pode deduzir do texto, consistia na incorporação de
conceitos e métodos capitalistas modernos nas fazendas do Vale do Paraíba, o que explica a
posição de liderança do produto na pauta de exportações brasileiras já na década de 30 do século
XIX.

Comentário:

O texto é muito claro quanto à manutenção de lógicas e de práticas estabelecidas ainda no


período colonial. A monocultura de exportação não foi tocada no Brasil até, praticamente, o
século XX, numa lógica pré-capitalista de exclusão e de manutenção exclusivista de reprodução
de privilégios. Portanto, não faz sentido associar a ascensão do café no Brasil a uma modernização
capitalista. Alternativa errada.

D. O texto reitera o caráter inovador — e, sob determinado prisma, revolucionário — do café


no contexto da economia brasileira na primeira metade do século XIX, a começar pela mudança
que esse cultivo impôs nas formas de trabalho e pelo volume de sua exportação.

Comentário:

O café não impôs, por si só, alteração alguma nas relações de trabalho da economia brasileira,
que continuou marcadamente escravista por décadas. Não há nada de revolucionário com o café,
mas sim uma coincidência (do centro econômico com o centro político) capaz de afirmar, de
maneira definitiva, o sucesso da estabilização do Estado nascente com a independência.
Alternativa errada.

E. A onda revolucionária que tomou conta da Europa a partir da Revolução Francesa e que
se expressou nos movimentos de 1820, 1830 e 1848 também repercutiu no Brasil, a exemplo da
própria independência — na esteira da Revolução do Porto — e da abdicação de D. Pedro I, em
1831.

Comentário:

A reação liberal contra a Restauração (1820), o Segundo Império francês (1830) e os movimentos
nacionalistas (1848) pintaram o imaginário coletivo com importantes possibilidades no campo
político-ideológico. A Revolução Liberal do Porto (1820) custara a volta de D. João VI a Portugal
sob uma Constituição que lhe limitava os poderes e que, exigindo o retrocesso na situação
político-institucional brasileira, precipitava a independência dois anos depois. A queda da
monarquia na França (1830) sinalizava ao mundo uma possibilidade de ação para os liberais, que
se desdobraria no Brasil com a pressão liberal e as tentativas de revisão da Constituição de 1824
no sentido de descentralizar o poder político. Portanto, alternativa correta.

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Exercícios apresentados
Questão 51

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na abdicação do imperador. Acerca do Primeiro Reinado e do período da Regência, julgue (C ou
E) os itens subsequentes.

1 A Constituição de 1824 foi elaborada com base no projeto votado pela Assembleia Constituinte
e Legislativa, fechada por D. Pedro I no ano anterior. Seu texto foi enviado para as câmaras
municipais das principais cidades do Império, as quais juraram cumpri-la sem contestações.

2 A política exterior adotada pelo Império no Primeiro Reinado recebeu duras críticas da Câmara
dos Deputados. A condução da Guerra Cisplatina, o envolvimento com as questões da sucessão
portuguesa e os termos dos tratados de amizade foram retratados na tribuna como fruto do
governo pessoal e centralizador de D. Pedro I.

Questão 54

Considerando a célebre frase de Karl Clausewitz: “A guerra é a continuação da política por outros
meios”, julgue (C ou E) os itens a seguir, a respeito da participação brasileira no Teatro da Guerra
ao longo de sua história.

1 D. Pedro I declarou guerra às Províncias Unidas do Rio da Prata após a aceitação da incorporação
da Banda Oriental, província da Cisplatina para os brasileiros, pelo congresso argentino, em 1825.
As forças dos adversários se equilibravam e a prolongação indefinida do conflito levou à
intervenção da Inglaterra. A violência do recrutamento forçado para a guerra, os altos custos
financeiros e a desmoralização do império frente a um adversário supostamente mais fraco
acirraram a oposição interna ao monarca brasileiro.

CACD 2017

Questão 47

Durante o Primeiro Reinado consolidou-se a independência nacional, construiu-se o arcabouço


institucional do Império do Brasil e estabeleceram-se relações diplomáticas com diversos países.
Acerca desse período da história do Brasil, julgue os itens subsequentes.

1.O Senado era fator de estabilidade política no Império, tanto pelo caráter vitalício dos mandatos
dos senadores, quanto por ter prerrogativas constitucionais como a de aprovar a nomeação de
presidentes das províncias e a de assinar tratados internacionais.

2.Nas negociações para o reconhecimento da independência brasileira pela Grã-Bretanha, foi


importante o interesse de Pedro I em preservar sua dinastia.

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3.Originalmente uma questão concernente apenas ao eixo das relações simétricas entre os
Estados envolvidos, a Guerra da Cisplatina encerrou-se com a interferência de uma potência
externa ao conflito.

4.Contribuíram para a consolidação da independência brasileira importantes ações militares


contra tropas leais a Lisboa.

CACD 2014

Questão 47

Quando o Brasil se tornou independente, em 1822, a elite política brasileira optou por uma
monarquia representativa como forma de governo, de acordo com o modelo francês da época. A
Constituição de 1824, outorgada por D. Pedro I, continha todos os direitos civis e políticos
reconhecidos nos países europeus. Afastava-se do sistema inglês pela adoção do Poder
Moderador, que dava ao imperador grande controle no ministério. (José Murilo de Carvalho.
Fundamentos da política e da sociedade brasileiras. In: Lúcia Avelar e Antônio Octávio Cintra
(Orgs.). Sistema político brasileiro: uma introdução. Rio de Janeiro: Fundação Konrad-Adenauer–
Stifund. São Paulo: Fundação UNESP Ed., 2004, p. 27-8, com adaptações).

Tendo o texto acima como referência inicial, julgue os itens que se seguem, relativos a aspectos
marcantes do quadro político brasileiro nas décadas iniciais do período monárquico.

1.Criação brasileira e sem fundamentação teórica consistente, o Poder Moderador acabou por
ser responsável direto pelas crises políticas que, recorrentes em todo o Primeiro Reinado,
acabaram por levar D. Pedro I à abdicação.

2.A opção pela monarquia, no momento da independência do Brasil, é entendida como estratégia
para facilitar a preservação da unidade do país em torno da figura do imperador e para a
manutenção da ordem social, em contraste com a fragmentação na antiga área de dominação
espanhola.

3.A crise política dos primeiros tempos do Brasil independente teve sua expressão máxima na
dissolução da Assembleia Constituinte, razão pela qual a Constituição de 1824, outorgada,
afastava-se do contexto histórico da época ao não incorporar elementos da nova ordem política
nascida nos movimentos revolucionários liberais burgueses.

4.O texto remete à expressão “parlamentarismo às avessas”, utilizada para definir a forma como
o governo de gabinete foi introduzido no Brasil, forma que, em determinados aspectos, afastou-
se da experiência inglesa, que lhe servira de modelo.

CACD 2012

Questão 42

No Brasil, o processo interno da independência e os problemas internacionais suscitados


apresentam mais pontos divergentes que semelhantes em relação ao restante da América Latina.

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Um século antes da Sociedade das Nações, primeira tentativa de conferir institucionalidade


formal ao sistema internacional, a aceitação de um ator recém-independente no cenário mundial
dependia, em última instância, do reconhecimento da legitimidade do novo participante pelas
grandes potências. (Rubens Ricupero. O Brasil no mundo. In: Lilia Moritz Schwarcz (dir.). História
do Brasil nação: 1808-2010, v. 1. Madri: Fundación Mapfre; Rio de Janeiro: Objetiva, 2011, p. 139,
com adaptações)

Tendo o texto acima como referência inicial e considerando o contexto histórico da


Independência do Brasil bem como aspectos marcantes do Primeiro Reinado (1822-1831), julgue
os itens que se seguem.

1.O reconhecimento da independência do Brasil, diferentemente do que se verificou com as


colônias espanholas na América, ocorreu mediante negociação tripartite, na qual se destacou a
mediação da Inglaterra entre metrópole e ex-colônia.

2.A Inglaterra demorou a reconhecer o Brasil independente, porque, a despeito da importância


relativamente pequena do mercado brasileiro para as exportações britânicas e do fim do tráfico
africano assegurado pelo governo de D. Pedro I, era forte a resistência das elites locais à
renovação dos tratados de 1810, extremamente vantajosos para os ingleses.

3.O trecho final do texto sugere que o reconhecimento do Estado nacional brasileiro pelos Estados
Unidos da América (EUA) era condição essencial para que outras potências também o fizessem,
devido à relevância de Washington no jogo de poder mundial e à amplitude de sua ação
internacional na primeira metade do século XIX.

4.Com a independência do Brasil, foram prejudicados tanto os setores dominantes da ex-colônia,


dado o rompimento da ponte estabelecida com a Coroa portuguesa na abertura dos portos
estabelecida brasileiros ao comércio internacional, quanto as elites do Vale do Paraíba, dados os
acordos celebrados com a Inglaterra e com Portugal para o reconhecimento do novo Estado,
mediante os quais foi renovada a perspectiva de poder da aristocracia açucareira nordestina.

CACD 2008

Questão 17

O processo de Independência do Brasil concluiu-se durante o Primeiro Reinado (1822-1831). Este


foi, contudo, um período conturbado da história nacional, em razão, entre outros fatores, de
contradições da vida política interna e da política exterior. A esse respeito, julgue (C ou E) os itens
a seguir.

1.O Parlamento fez graves críticas a D. Pedro, por entender que ele sacrificou a expansão das
manufaturas mediante acordos de comércio com países capitalistas mais avançados.

2.A Constituição de 1824 consagrou democraticamente a vontade nacional, que se expressou por
meio dos representantes junto à Assembleia Constituinte.

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3.A Constituição de 1824 descuidou da educação popular ao não fixar o preceito da gratuidade
para o ensino primário.

4.No Congresso do Panamá de 1826, em que se discutiu a ordem hemisférica, a delegação


brasileira fez a defesa da guerra que o governo movia contra Buenos Aires pela posse da Província
Cisplatina.

CACD 2005

Questão 22

À época da independência, a economia colonial podia ser descrita de maneira simplificada. Era
composta por: latifúndios voltados para a produção de mercadorias exportáveis, como o açúcar,
o tabaco, o algodão; fazendas dedicadas à produção para o mercado interno (feijão, arroz, milho)
e à criação de gado, estas sobretudo no norte e no sul; e centros mineradores já em fase de
decadência. Acrescente-se, ainda, grande número de pequenas propriedades voltadas para a
agricultura e a pecuária de subsistência. Nas cidades costeiras, capitais de províncias,
predominavam o grande e o pequeno comércio. Os comerciantes mais ricos eram os que se
dedicavam ao tráfico de escravos.
A única alteração importante nessa economia deu-se com o desenvolvimento da cultura do café.
Já na década de 30, o produto assumira o primeiro lugar nas exportações. Mas o café não mudou
o padrão econômico anterior: era também um produto de exportação baseado no trabalho
escravo. Esse modelo sobreviveu ainda por mais cem anos. Só começou a ser desmontado após
1930. As conseqüências da hegemonia do café foram principalmente políticas. O fato de se ter
ela estabelecido a partir do Rio de Janeiro ajudou a consolidar o novo governo do país, sediado
nesta província. Se não fosse a coincidência do centro político com o centro econômico, os
esforços da elite política para manter a unidade do país poderiam ter fracassado.

(J. M. de Carvalho. Fundamentos da política e da sociedade brasileiras. In: L. Avelar e A. O. Cintra


(orgs.). Sistema político brasileiro: uma introdução. Rio de Janeiro: Fundação Konrad-Adenauer-
Stiftung; São Paulo: Fundação UNESP, 2004, p. 23.)

Segundo o texto, a única alteração importante verificada no cenário econômico colonial, à época
da independência, foi o desenvolvimento da cultura do café. A propósito desse e de outros
aspectos relativos ao sentido histórico dos acontecimentos de 1822, assinale a opção correta.

A.O surgimento do Estado nacional brasileiro em 1822, em face da decisão do príncipe regente,
configurou-se como um indiscutível processo revolucionário, visto que foram rompidos padrões
essenciais que sustentaram os três séculos de dominação colonial.

B.A manutenção das relações escravistas de produção, mesmo após a independência, explica-se
pela configuração, naquele momento, do capitalismo mundial, o qual, impulsionado pelos
negócios britânicos, exigia a expansão do consumo nas regiões periféricas do sistema.

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C.A novidade trazida pelo café, tal como se pode deduzir do texto, consistia na incorporação de
conceitos e métodos capitalistas modernos nas fazendas do Vale do Paraíba, o que explica a
posição de liderança do produto na pauta de exportações brasileiras já na década de 30 do século
XIX.

D. O texto reitera o caráter inovador — e, sob determinado prisma, revolucionário — do café


no contexto da economia brasileira na primeira metade do século XIX, a começar pela mudança
que esse cultivo impôs nas formas de trabalho e pelo volume de sua exportação.

E. A onda revolucionária que tomou conta da Europa a partir da Revolução Francesa e que
se expressou nos movimentos de 1820, 1830 e 1848 também repercutiu no Brasil, a exemplo da
própria independência — na esteira da Revolução do Porto — e da abdicação de D. Pedro I, em
1831.

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