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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – DEPARTAMENTO

DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA E CULTURA NO


BRASIL

Carlos Eduardo de Souza Miranda

INFLUÊNCIA POLÍTICA, SOCIAL E CULTURAL NORTE-


AMERICANA NO BRASIL: DA COLÔNIA À DITADURA
MILITAR

Minas Gerais

2015
CARLOS EDUARDO DE SOUZA MIRANDA

INFLUÊNCIA POLÍTICA, SOCIAL E CULTURAL


NORTE- AMERICANA NO BRASIL: DA COLÔNIA À
DITADURA MILITAR

Trabalho de Conclusão de curso


apresentado como requisito para
aprovação no curso de pós-graduação
em História e Cultura no Brasil, da
Estácio de Sá, sob orientação da
professora Rita de Cássia Alves.

JUIZ DE FORA – MG
2015
RESUMO

Este artigo tem por pretensão elaborar um breve estudo sobre a influência norte-
americana na cultura, na política e consequentemente na sociedade brasileira ao
longo da história. Tal influência remonta os tempos coloniais, sendo que os
Estados Unidos da América (EUA) e o Brasil tem, portanto, uma correlação
crivada de controvérsias nem sempre favoráveis a este segundo. Procuraremos
ilustrar através de uma linha cronológica, que se inicia no período colonial
brasileiro e se prolonga até o Golpe Civil Militar deflagrado em 1964, uma
sucessão de eventos que venham a corroborar a singularidade dessa relação e o
posicionamento nem sempre amistoso por parte dos EUA. País cujos anseios
econômicos vieram a sobrepujar sua ideologia liberal em detrimento da
emancipação do continente latino-americano em relação à Europa. Tentaremos
mostrar que os EUA se consolidaram como uma grande potência econômica
concomitantemente a Indústria Cultural, e que se utilizaram amplamente de
recursos midiáticos para propagar de forma mais eficiente o alcance de suas
influencias ideológicas. Com base na leitura e observância de informações
contidas em materiais e obras bibliográficas, procuraremos evidenciar, através de
fatos históricos, o nível e o teor dessa influência cultural, entendendo que tal
realidade, relativamente ignorada, é de suma importância para o conhecimento e
conscientização da sociedade brasileira.

Palavras-chave: Influência. Cultura. Política. EUA. Brasil.


ABSTRACT

This article has the pretense prepare a brief study of the North American influence
in culture, politics and consequently in Brazilian society throughout history. Such
influence dates back colonial times, and the United States of America (USA) and
Brazil has therefore a correlation riddled with controversy not always favorable to
the latter. We seek to illustrate through a timeline, which begins in the Brazilian
colonial period and extends to the Civil Military coup in 1964 triggered a chain of
events that will support the uniqueness of this relationship and positioning not
always friendly from the US. Country whose economic aspirations came to
overcome their liberal ideology at the expense of the emancipation of Latin
American continent with Europe. We will try to show that the US has
consolidated as a major economic power concurrently the Cultural Industry, and
are widely used for media resources to spread more efficiently achieve their
ideological influences. Based on reading and observance of information contained
in material and bibliographical works seek to demonstrate through historical facts,
the level and content of this cultural influence, understanding that such a reality,
relatively ignored, is of paramount importance for the understanding and
awareness of Brazilian society.

Keywords: Influence. Culture. Politics. USA. Brazil.


INFLUÊNCIA POLÍTICA, SOCIAL E CULTURAL NORTE- AMERICANA
NO BRASIL: DA COLÔNIA À DITADURA MILITAR.

Carlos Eduardo de Souza Miranda

1 HISTÓRICO DE PERMISSIVIDADES E INGERÊNCIAS

Inicialmente julgamos pertinente traçar uma linha cronológica de certos


acontecimentos relativos aos dois países envolvidos: a atual República Federativa
do Brasil e os Estados Unidos da América (EUA), que vão do período colonial
brasileiro (1500-1822) ao Golpe Civil Militar de 1964, de forma a facilitar o
entendimento e o propósito deste estudo.
Comecemos com o fato da emancipação das Treze Colônias norte-
americanas ocorrida em 1776. Elas declararam sua independência da Coroa
Inglesa num processo violento, adotando o nome de Estados Unidos da América e
o sistema republicano, no qual o Tratado de Paris de 17831, concluiu e legitimou
(JUNQUEIRA, 2001).
No hemisfério sul, o Brasil figurava como colônia, parte da Coroa
Portuguesa, enquanto certos movimentos conspiratórios, que objetivavam a
autonomia perante Portugal, inspirados pelas ideias francesas e pelo liberalismo 2
americano, começavam a se estruturar secretamente, como veremos a seguir.
Sendo a primeira nação americana a se emancipar, os EUA, aliados à
literatura iluminista3, se tornaram para a América Latina, a representação 4 do
mundo social para a formação de uma nação livre, democrática e soberana.
Observe que em outubro de 1786, Thomas Jefferson5, então embaixador
dos EUA na França, teve contato através de correspondência, com um estudante
brasileiro de medicina da Universidade francesa de Montpellier, identificado
apenas como Vendek.6


Graduado em História pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora/ PUC
Minas, Pós-graduado em História e Cultura do Brasil pela Faculdade Estácio e Sá.
carlaomiranda1@gmail.com
O estudante, possivelmente7 ligado à Inconfidência Mineira8, discorreu
sobre a iminência de um processo revolucionário contra o jugo português, mas se
fazia necessário o apoio poderoso dos EUA para concretizá-lo.
Jefferson esclareceu que não tinha autoridade para assumir tamanho
compromisso com o Brasil e que os EUA não entrariam numa guerra contra
Portugal, pois queriam cultivar sua amizade, com quem mantinham um lucrativo
comércio. Sendo assim, as expectativas de Vendek se esvaíram entre o descaso e a
decepção (MAXWELL, 1978).
Em 1801, outra conspiração emancipatória de base maçônica 9 chamada
Areópago de Itambé, partiu de Pernambuco na pessoa de José Francisco de Paula
Albuquerque Montenegro, buscando apoio dos EUA e da França para liderar e
reconhecer a nova nação (BANDEIRA, 1973). O movimento falhou e: “Da
viagem de Albuquerque Montenegro aos Estados Unidos nada chegou aos nossos
dias”.10
Eduardo Prado11 comenta na sua obra “A ilusão Americana”, de 1890, a
abstenção dos EUA nos movimentos de independência das colônias ibéricas e
critica em especial a chamada Doutrina Monroe12, que, segundo Prado, pregava a
América apenas para os americanos do norte (PRADO, 2003)!
O artigo de Carmem Lucia Felgueiras (2010:76-79) sintetiza a obra de
Prado quando diz que tal doutrina não tinha outro propósito a não ser o da
conquista pessoal e de um projeto para um protetorado servil na América Latina,
não respeitando convenções, acordos ou tratados, nos quais apenas redefiniriam
suas amizades conforme suas conveniências.
Em outro episódio, durante o desenrolar da Revolução Pernambucana de
181713, outro brasileiro chamado António Gonçalves Cruz, de codinome Cabugá,
também viajou aos EUA com a missão de convencer o governo americano a
apoiar a criação de uma república independente no Nordeste brasileiro. O governo
norte-americano além de negar o apoio, ainda delatou o ocorrido a Portugal
(PRADO, 2003).
Igual dissabor, teve a Confederação do Equador 14 sete anos mais tarde,
quando Manuel de Carvalho Paes de Andrade, um dos líderes do movimento, foi
aos EUA pedir apoio ao presidente Monroe, já em pleno vigor da doutrina que
levava seu nome. Mais uma vez os brasileiros voltariam de mãos vazias (GOMES,
2007).
Destarte, o processo emancipatório do Brasil se iniciou em 7 de setembro
de 1822 sem o apoio formal dos EUA, que procrastinaram o reconhecimento
oficial por dois anos. O desprezo dos norte-americanos pelo sistema monárquico,
que justificaria tal delonga, seria sobrepujado pelos interesses econômicos na
venda de produtos mais caros como o algodão e o sabão (BANDEIRA, 1973).
E apesar de figurar em diversos livros didáticos que os EUA foram os
primeiros a reconhecerem a independência do Brasil, sabe-se que foram reinos
africanos os primeiros a fazê-lo, o do Benim, e o de Eko, Onim ou Lagos (SILVA,
1994).
Convenientemente, interesses econômicos e políticos foram demonstrados
em momentos oportunos, como no apoio dos EUA fornecendo logística aos
rebeldes brasileiros na Guerra dos Farrapos15, na Cabanagem16 e na Sabinada.17
Surpreendentemente, durante a Guerra de Secessão18, os EUA protestaram
formalmente contra a atitude legal do Império Brasileiro em reconhecer a
legitimidade dos Confederados e de lhes permitir abastecerem seus navios com
água e carvão no litoral do Brasil (PRADO, 2003).
Durante a Guerra do Paraguai 19, o serviço secreto do império brasileiro
interceptou correspondências do representante dos EUA no Paraguai, Charles A.
Washburne, que provava uma aliança secreta do governo norte-americano com o
paraguaio (BANDEIRA, 1973). Washburne ainda atuaria como agente duplo no
decorrer da guerra causando embaraços e um desconforto diplomático entre os
dois países (PRADO, 2003).
O fim da guerra civil norte-americana representou a estruturação final do
país que seria a próxima superpotência mundial e cujas influências transporiam as
questões meramente políticas e econômicas, cooptando outras nações por um
modo indireto de dominação imperialista20: a cultura.

2 SERVILISMO VOLUNTÁRIO
Deflagrada a proclamação da República no Brasil em 1889, era necessário
elaborar uma nova constituição que a legitimasse. Com a adoção do sistema
republicano, o Brasil foi progressivamente se alinhando com a ideologia 21 norte-
americana.
A apropriação, segundo o conceito de Chartier (2002: 223), da força
simbólica norte-americana se manifestou na nova carta magna, promulgada em
1891, amplamente inspirada na constituição norte-americana no qual o ex-império
assinava como Estados Unidos do Brasil e na proposta da nova bandeira nacional
que chegou a ser uma versão em verde e amarelo da bandeira dos EUA
(CARVALHO, 1990).
A proficiência do Governo de Washington em costurar alianças
politicamente estratégicas, aliada ao que Eduardo Prado chamou de “servilismo
voluntário” por parte do Brasil, estabeleceu uma conexão que permitiu a gradativa
construção de um modus vivendi estruturado no padrão social dos hábitos norte-
americanos. Mas o poder simbólico do modelo republicano norte-americano não
era apenas ideológico.
No período conhecido como Primeira República 22 o café foi o principal
produto de exportação e arrimo da economia nacional, oscilando entre 60 e 70%
desse total.23
Todavia, a má organização comercial nos primeiros tempos da república
possibilitou a intermediação de firmas norte-americanas na compra do café com o
valor mais baixo possível e revenda a preço fixo aos seus consumidores. Isso,
aliado a uma crescente superprodução, foi suficiente para não equilibrar a
economia deficitária herdada do Império (BANDEIRA, 1973).
Como ainda não avançasse no processo de industrialização, e subordinado
aos constantes financiamentos da Inglaterra, o Brasil se estabelecia como uma
economia dependente e periférica, mais sujeita portanto aos impactos das
oscilações do mercado externo (FURTADO, 2005).
Concomitantemente à esfera econômica, a busca pela identidade nacional
se inspirava na cultura estrangeira para se edificar. Importavam-se cultura e
pessoas, numa prática que José Murilo de Carvalho assim explica:
“O fenômeno de buscar modelos externos é universal. Isso não
significa no entanto, que ele não possa ser útil para entender uma
sociedade particular. Que ideias adotar, como adota-las que
adaptações fazer, tudo isso pode ser revelador das forças políticas e
dos valores que predominam na sociedade importadora”
(CARVALHO,1990, p. 22).

O século XIX foi marcado por uma onda migratória diversificada. Se por
consequência da Guerra da Secessão vieram para o Brasil entre 2 ou 3 mil norte-
americanos sulistas24, em 1888 o número se elevou para mais de 90 mil, vindos de
diversas procedências.25
Enquanto isso, por volta de 1899 na região amazônica, os EUA firmavam
um acordo com a Bolívia, comprometendo-se a apoiá-la em caso de embate com o
Brasil pela posse do Acre, em troca de lucrativos acordos aduaneiros relativos a
extração da borracha, principal interesse econômico na região.26
A ingerência dos EUA se externou quando Theodore Roosevelt, presidente
dos EUA de 1901 a 1909, introduziu a expressão Big Stick27. Grande parte dos
EUA considerava que o povo sul-americano não possuía o vigor anglo-saxão, e
que vivendo em desordem seriam incapazes de instalar um autogoverno. Esse
argumento justificou algumas intervenções na América Latina durante a década de
1920 (JUNQUEIRA, 2001).
Com o advento da Primeira Guerra Mundial 28, as relações financeiras da
Europa devastada pelo conflito, em especial da Inglaterra, figura central do
imperialismo e do capitalismo29 até então, foram abaladas. Como ainda estavam
distantes da guerra, a economia mundial passou a gravitar ao redor dos EUA,
cujos financiamentos lhes foram transferidos, se tornando os grandes credores
tanto da Inglaterra quanto dos países que solicitavam empréstimos aos ingleses
(RINKE, 2014).
Nesse momento, o surgimento sistemático da exploração através dos
instrumentos culturais, foi a constatação de que o mundo se encontrava na era
moderna da industrialização. A era do capitalismo buscava homogeneizar as
sociedades através da tecnologia e da ciência, disseminando sua ideologia através
dos bens culturais: cinema, rádio, jornais, revistas, vestuário, comportamento,
dentre outros bens de consumo (ADORNO, 1999).
No Brasil, a importação assídua desse capital social 30 não agradava a todos
os intelectuais, conforme visto em 1922 durante a Semana de Arte Moderna 31, na
qual a resistência e a busca pela autonomia cultural impeliu a contestação da
superioridade internacional.
Outro intelectual, Gilberto Freyre32, lançou o Manifesto Regionalista por
volta de 1926, no qual condenava a aceitação ilógica da cultura estrangeira.
Julgou ridículo a burguesia brasileira celebrar o Natal invernal do hemisfério
norte em pleno verão tropical, com arvores vindas dos EUA (FREYRE, 1933).
Se pelos modernistas e por Freyre o Brasil teve suas táticas, a estratégia 33
que retratava a proficiência dos norte-americanos em pluralizar sua cultura se
mostrava mais eficaz: em 1927 o Brasil foi o quarto importador de automotivos
fabricados nos EUA, em 1928, dos 941 filmes exibidos no Brasil, 402 eram de
procedência da América do Norte (BANDEIRA, 1973).
Já na chamada Era Vargas34, para se combater a concorrência comercial na
América Latina, o Presidente norte-americano entre 1933 a 1945, Franklin
Delano Roosevelt, criou sua política de “boa vizinhança” 35 prevendo permutas
comerciais e solidariedade política entre as nações americanas (VAINFAS, 2010).
O intercâmbio cultural36 desse período só se intensificaria, pois foi durante
o Estado Novo37 que o Brasil entrou definitivamente na órbita dominante norte-
americana. Foi nessa época que o personagem Zé Carioca foi criado pelos
Estúdios Disney e Carmem Miranda foi eleita o símbolo da boa vizinhança, entre
EUA e o Brasil.
A partir daí o american way of life38 ou seja, o cinema, o rádio (do qual
Vargas se utilizava amplamente), a música e posteriormente muito das relações
sociais, fizeram dos EUA uma presença constante no cotidiano brasileiro. A nossa
incessante busca pela identidade nacional se digladiaria com a “americanização”
de costumes, comportamentos, vestuário, entre outros (D’ARAUJO, 2000).
As histórias em quadrinhos do Super-Homem, do Capitão América,
símbolos do bem, que permeavam entre a pureza e a brutalidade justificada pelo
imperialismo, cooptaram a simpatia da juventude brasileira (BANDEIRA, 1973).
Diante dessa situação, os manifestos dos intelectuais envolvidos no I
Congresso Brasileiro de Escritores em 1945, contra a cultura estrangeira, foram
táticas ineficazes (MOURA, 1984).

3 O TRIUNFO NEOCOLONIALISTA39

Getúlio Vargas buscava a industrialização, símbolo do progresso e


desenvolvimento. Portanto seu alinhamento aos interesses dos Aliados, durante a
Segunda Guerra Mundial40, incluiu a cessão de bases no Norte e Nordeste
brasileiro e do fornecimento de borracha e minérios em troca de empréstimos para
o investimento na indústria de capital de base: eletricidade, siderurgia e petróleo
(VAINFAS, 2010).
Vale ressaltar que no período do pós-guerra, houve modificações
substantivas no ritmo, na extensão e na forma da expansão do imperialismo norte-
americano, trazendo uma sobrecarga retórica e ideológica que dificulta a
percepção real das transformações então em curso (FONTES, 2010).
Um ponto importante seria as ações anticomunistas41iniciadas a partir de
1945 na Conferência Pan Americana de Chapultepec, no México, quando os EUA
“alertaram” os militares sul-americanos contra o Comunismo42, iniciando uma
série de acordos de assistência militar (ABRAMOVICI, 2001).
Portanto, com o advento da Guerra Fria43, o sucessor de Vargas, o General
Eurico Gaspar Dutra44 reforçou os laços ideológicos com os EUA de maneira
incondicional, chegando a romper diplomaticamente com a URSS, de orientação
socialista45, em 194746. Em 1948, Dutra concordou com o projeto de
estabelecimento da Comissão Mista Brasil-EUA (CMBEUA), liderada por John
Abbink47, que viria a declarar:

“Os Estados Unidos devem estar preparados para guiar a inevitável


industrialização dos países não desenvolvidos, se se deseja realmente
evitar o golpe de um desenvolvimento econômico intensíssimo fora da
égide norte-americana… A industrialização, se não é controlada de
alguma maneira, levará a uma substancial redução dos mercados
norte-americanos de exportação”. (GALEANO, 1982, p.170).
Vargas retornaria para cumprir o mandato de 1951 a 54, mas sua política
de desenvolvimento econômico nacional em detrimento do capital estrangeiro,
não o ajudou a se perpetuar no poder. Haviam poderes legais48 para expropriar
qualquer organização cujos negócios lesassem o interesse nacional, mencionando
especificamente, as empresas nacionais e estrangeiras, vinculadas a trustes 49 e
cartéis50 (BANDEIRA, 1973).
Nesse meio tempo, é eleito presidente nos EUA, o republicano Dwight
“Ike” Eisenhower (1953-61), com um discurso ferrenho de combate ao
comunismo. Eisenhower alega a necessidade de corte nos gastos públicos,
rompendo com a CMBEUA e cobrando dívidas vencidas.
Os países convalescentes da II Guerra Mundial voltavam aos poucos ao
mercado mundial e ofereciam uma saída opcional para o Brasil, fora da influência
norte-americana, fornecendo maquinaria e equipamentos. Em resposta os EUA
iniciam uma campanha contra o café brasileiro, implicando na queda do preço e
diminuição da exportação do produto (FERREIRA, 2003).
Independente da miríade de fatos que culminaram no suicídio de Getúlio
Vargas em 1954, a comoção pela morte do presidente levou uma multidão às ruas
e um consequente ataque a seus inimigos internos e externos: partidos, rádios,
jornais e o grande inimigo segundo a carta-testamento51: o imperialismo dos EUA.
O sentimento anti norte-americano se manifestou violentamente na
representação diplomática, no National City Bank, assim como em outras
empresas e instituições também depredadas (FERREIRA, 2003).
No governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960) a cultura, as maneiras, o
consumismo se confundiram com conforto 52
e se deu início a uma invasão
midiática e cultural de padrões norte-americanos na sociedade brasileira, nunca
antes visto, reestruturando a mobilidade social, o investimento na educação e na
saúde, necessárias ao ingresso nessa nova sociedade industrial (MELLO;
NOVAIS, 1998).
O antigo defensor da “vocação agrícola”, se rendeu à industrialização financiada
com capital estrangeiro (GUIMARÃES, 2001).
Assim prevaleceu o caráter expansionista do consumo cultural, um dos
aspectos que caracterizam as sociedades detentoras da ordem econômica
dominante (CERTEAU, 1998).
Em 1959 havia sido criado o Instituto Brasileiro de Ação Democrática
(IBAD)53 e em 1961 o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES),
considerado o “Ovo da Serpente” do golpe civil-militar, pretensos grupos de
pesquisa política e social (O DIA, 2012).
No Brasil, Jânio Quadros, eleito para o mandato 1961 a 1965, pretendia
aproximar a diplomacia brasileira dos países comunistas, na tentativa de diminuir
a dependência constante do capital norte-americano. Em 1961, o presidente
condecorou Ernesto “Che” Guevara54, herói da Revolução Cubana55, com a
medalha da Ordem do Cruzeiro do Sul, enquanto seu vice Jango56 visitava a China
comunista.
Misteriosas “forças terríveis” impediram Jânio Quadros de continuar seu
governo, sendo ele sucedido por João Goulart ainda em 1961 (FAUSTO, 1995).
A aproximação visível do Brasil com Cuba e com os demais países de
ideologia socialista impeliu o então presidente norte-americano, John Fitzgerald
Kennedy (1961-63) a escrever a João Goulart, pedindo ajuda na adoção de
medidas que impedissem esse país de receber qualquer auxílio da China ou da
URSS. Jango refutou o pedido e o Deputado Federal, Bocayuva Cunha, líder do
governo João Goulart, completou:

“Se tropas americanas forem enviadas contra Fidel Castro, vocês


verão o Brasil inteiro, não estou exagerando, apoiando Fidel Castro.
Nós queremos que a política externa do Brasil seja brasileira e
queremos colocar os interesses do Brasil acima de tudo” (O DIA,
2012).

Com a ascensão de Lyndon Johnson (1963-1969) à presidência dos EUA a


política externa dos EUA endureceu. O programa “Aliança para o Progresso 57”
beneficiou apenas os políticos contrários a Goulart.
A aliança entre a sociedade civil e o imperialismo colocava fim a
experiência de redemocratização iniciada em 1945, impondo pela força e de cima
para baixo, uma das formas do capitalismo, como se não houvesse outra
alternativa (FERREIRA, 2003).
A rede de conspiração formada pela associação militar, política e civil
direitista-conservadora nacional coligadas às agências internacionais 58
ultrapassaram as barreiras meramente corporativas no sentido de conter a
organização nacional e intervir nos diversos setores da sociedade brasileira: a
mídia, o parlamento, a área rural, o movimento estudantil e a Igreja Católica
(STARLING, 1986).
Em 1º de abril de 1964 foi deflagrado o complexo Golpe Civil Militar que
duraria 21 anos. No dia seguinte os EUA reconheceram o novo regime e sobre o
sucesso do golpe, o Presidente Lyndon Johnson comentou em conversa particular
com o secretário de Estado adjunto para Assuntos Internacionais, Thomas Mann:
“Espero que nos deem algum crédito e não críticas” (MARTINS FILHO, 2012, p.
19).
O estudo a respeito da influência norte-americana no Golpe de 64 já foi
classificada como “Versão Conspiratória”59 mas, segundo Moniz Bandeira, a
afirmação categórica de que a interferência norte-americana foi a questão nuclear
da conspiração, no sentido da concretização do Golpe Civil-Militar de 1964, pode
justificar-se por alguns fatores.
Por exemplo, pelos amplos investimentos da CIA nos diversos setores da
sociedade brasileira, na estratégia política, midiática, religiosa, educacional e na
organização da Operação Brother Sam60, que previa o desembarque de marines
norte-americanos no Brasil, caso houvesse uma reação do governo João Goulart e
dos movimentos populares ao golpe de 64 (DELGADO, 2004).
Na educação, acordos negociados secretamente foram implementados no
Brasil e só se tornaram públicos em Novembro de 1966, após intensa pressão
política e popular. Foram estabelecidos entre o Ministério da Educação (MEC) do
Brasil e a United States Agency for International Development (USAID) para
reformar o ensino brasileiro de acordo com padrões impostos pelos EUA
(MOTTA, 2010).
O quadro de dominação simbólica (CHARTIER, 2002) se completou. A
persistente importação cultural se encarregou de escamotear essa realidade do
povo brasileiro, de modo a incorporar a situação violenta a que foram submetidos
de forma espontânea.
Contemporaneamente, a carga de responsabilidade do governo dos EUA se
volatilizou ante a admiração e a alienação 61provocada pela prática midiática
disseminadora da ideologia norte-americana, viabilizada pela crescente
globalização.62
As gerações posteriores foram sistematicamente violadas por filmes de
Hollywood, empresas de fast-food com seus hamburgers, chiclets, sorvetes Kibon,
gibis do Batman, vídeo games, skates, surf, musica rock’nroll hippie e punk
(MOURA, 1984).
Esse Habitus (BOURDIEU, 1983) se inseriu de forma progressiva e foi
cordialmente incorporado por grande parte da sociedade brasileira.
Os EUA foram fundados com base numa mitologia narcisista eficiente, e
sendo esse mito uma representação de uma realidade, ofereceu um paradigma para
outros povos, inclusive o Brasil (JUNQUEIRA, 2001).
Segundo Mary A. Junqueira, os EUA, vistos como uma sociedade
exclusiva e centro irradiador que a humanidade inevitavelmente seguiria, foi um
mito forjado nas suas origens e utilizado para justificar muitas de suas ações
(JUNQUEIRA, 2001).
As partes que couberam ao Brasil nesse intercâmbio cultural, ou seja, as
representações que se imbuíram culturalmente na sociedade denotam que:

“As representações do mundo social assim construídas, embora


aspirem a universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são
sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam”
(CHARTIER, 2002, p.17).

Enfim, a indolência brasileira associada à autocontemplação norte-


americana e toda a consequente avaria social, política e cultural pode se encerrar
nas palavras do Deputado Francisco Julião 63: “O norte-americano é nosso irmão
como Caim foi irmão de Abel” (BANDEIRA, 1973, p. 448).
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1
Tratado no qual o governo inglês reconheceu a independência das Treze Colônias norte-americanas entre
outros assuntos envolvendo algumas nações europeias (VAINFAS, 2010. p. 352).
2
O liberalismo político, surgiu no século XVIII a partir do Iluminismo, como uma nova forma de organizar o
poder, contrária ao regime vigente (SILVA, 2009. p. 257-258).
3
Filosofia do século XVIII, usada para designar a condição para que o homem e a humanidade, fossem
autônomos. Isso só seria possível, afirmava o Iluminismo, se cada indivíduo pensasse por si próprio, utilizando a
razão (AZEVEDO, 1999, p. 2010).
4
Conforme o conceito, segundo o historiador Roger Chartier (CHARTIER, 2002).
5
Político e principal autor da Declaração de Independência; terceiro presidente dos EUA entre 1801 e 1809
(JUNQUEIRA, 2001).
6
José Joaquim Maia e Barbalho (Rio de Janeiro, 1757- Coimbra, 1788), formou-se em Matemática pela
Universidade de Coimbra, Portugal, ingressando no curso de Medicina em Montpellier, França em 1786. Fazia
parte de um grupo de estudantes brasileiros, que durante seus estudos em Coimbra, juraram dedicação a causa da
independência do Brasil (MAXWELL, 1978).
7
A afiliação de Vendek a é controversa, podendo ele, ter sido ligado a outro movimento articulado no Rio de
Janeiro (BANDEIRA, p. 17, 1973).
8
Movimento conspiratório de inspiração liberal e republicana, que tinha por objetivo a independência da
Capitania de Minas Gerais em 1789 (AZEVEDO, 1999, p. 118).
9
Fraternidade ou associação secreta (AZEVEDO, 1999, p.287).
10
GRIECO, 1939, p. 13 apud BANDEIRA, 1973, p.18.
11
Eduardo Paulo da Silva Prado (São Paulo, 1860-1901), Bacharel em Direito, membro fundador da Academia
Brasileira de Letras; era também monarquista (FELGUEIRAS, 2010).
12
Declaração do então presidente dos EUA, James Monroe (1821-1825) feita em 1823 na qual ele não permitiria
uma reação monárquica europeia nas Américas, pois os norte-americanos reconheciam as independências dos
países latino-americanos e reforçavam a intenção dos EUA em defender “os direitos de todos os povos
americanos à autodeterminação nacional” (JUNQUEIRA, 2001, p. 99).
13
Insurreição de caráter liberal, iniciada em Pernambuco no dia 6 de março de 1817, que contou com a adesão
da Bahia, Paraíba e Rio Grande do Norte. Não obtiveram reconhecimento internacional e a repressão da Coroa
portuguesa esmagou o movimento, prendendo e até executando alguns de seus líderes (AZEVEDO, 1999, p.
399-400).
14
Movimento separatista ocorrido em 1824 na província de Pernambuco, devido a dissolução da Assembleia
Constituinte por D. Pedro I, caracterizando o retorno da influência portuguesa em detrimento da estrutura
brasileira então constituída (AZEVEDO, 1999, p. 115).
15
Movimento de caráter separatista e republicano ocorrido no Rio Grande do Sul e Santa Catarina entre 1835 e
1845 (AZEVEDO, 1999. p. 194).
16
Revolta irrompida na província do Grão-Pará nos anos de 1835 a 1840 (ibid., p. 76).
17
Rebelião que eclodiu na Bahia em 1837, exprimindo ideias federalistas (ibid., p. 405).
18
Guerra civil entre os estados do sul (Confederados) e do norte (União) nos EUA entre 1861 e
1865 por conta da situação escravista sulista e desejos de emancipação (AZEVEDO, 1999. p. 221).
19
Guerra entre a Tríplice Aliança formada pelo Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai, então governado
por Solano Lopes, entre 1864 e 1870 (AZEVEDO, 1999. p. 440-441).
20
Termo empregado para caracterizar a expansão política, econômica e cultural de uma nação. (AZEVEDO,
1999, p. 248-249).
21
Conjunto de ideias e de valores respeitantes à ordem pública e tendo como função orientar os comportamentos
políticos coletivos (BOBBIO, 1998, p. 585).
22
Período de 1889 a1930. Também chamada de República do “Café com Leite” devido a aliança entre os
estados de Minas Gerais e São Paulo em alternarem-se no poder federal (FAUSTO, 1995, p. 265).
23
Ibid.
24
MOOG, 1966, p. 35
25
FAUSTO, 1995, p. 207.
26
A questão só foi definitivamente resolvida, por meios diplomáticos em 17 de novembro de 1903, tendo o
Brasil incorporado a região do Acre, por meio de pagamento de 2 milhões de libras (BANDEIRA, 1973).
27
“Porrete grande”. Referindo-se a forma de se lidar com os países sul-americanos, “falando-lhes suavemente
mas com um big stick na mão” (JUNQUEIRA, 2001, p. 107-109).
28
Conflito internacional ocorrido entre 1914 e 1918 envolvendo principalmente a Tríplice Entente, formada por
Inglaterra, França e Império Russo contra a Tríplice Aliança constituída por Império Alemão, Império Austro-
Húngaro e Itália. O Brasil apoiou a Entente, que venceu o embate. (AZEVEDO, 1999, p. 226-227).
29
Forma de atividade socioeconômica baseada na propriedade privada nos meios de produção e no lucro, que é
quase exclusivamente dividido entre o Estado e proprietários privados (ibid., p. 86-87).
30
Conforme o conceito segundo Pierre Bourdieu (BOURDIEU, 2002, p. 66).
31
Ocorrida entre 13 e 17 de fevereiro de 1922, na qual um grupo de intelectuais brasileiros, entre apresentações,
exposições, palestras e debates, discutiram sobre a modernização do Brasil, propondo a valorização da memória
e das raízes nacionais em detrimento dos valores estrangeiros, tidos como modelo (VAINFAS, 2010, p. 579).
32
Gilberto de Melo Freyre (1900-1987), sociólogo, antropólogo e historiador (ABREU, 2010).
33
Táticas e estratégias como os conceitos segundo Michel de Certeau (CERTEAU, 1998).
34
Período de presidência do Brasil entre 1930 e 1945, exercida por Getúlio Dornelles Vargas (1882-1954)
(BRANDI, 2010).
35
Tratava-se de uma nova proposta de relacionamento com o continente que visava fundamentalmente apagar as
marcas da política do Big Stick que caracterizara as ações anteriores dos EUA na região latino-americana
(HIRST, 2010).
36
Conforme o conceito de hibridismo cultural segundo Peter Burke (BURKE, 2010).
37
Período de 1937-1945, no Brasil, marcado pelo golpe de estado apoiado por militares e políticos e governo de
características autoritárias do Presidente Getúlio Vargas (AZEVEDO, 1999, p. 182).
38
Estilo de vida norte-americano baseado no consumo (VAINFAS, 2010, p. 689).
39
Forma sutil de controle e dominação de um país desenvolvido sobre outro em desenvolvimento, agindo nos
setores econômicos, comerciais, militares e de mercado (AZEVEDO, 1999, p. 323).
40
Conflito internacional ocorrido entre 1939 e 1945 envolvendo principalmente os Aliados, formados por
Inglaterra, EUA, França e União Soviética contra o Eixo constituída por Alemanha, Japão e Itália. O Brasil
apoiou os Aliados que venceram o embate. (Ibid., p.227-228).
41
Contenção do influxo dos Estados socialistas; interferência nos negócios internos de cada um dos países, a fim
de prevenir e/ou reprimir os movimentos de inspiração comunista, ou tida como tal (BOBBIO, 1998, p. 35).
42
Doutrina e regime econômico, político e social caracterizado, essencialmente, pela posse e propriedade
comum dos bens e meios de produção (AZEVEDO, 1999, p. 113).
43
Bipolarização e disputa por cooptar adeptos entre os sistemas ideológicos dos EUA (capitalismo) e da União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas- URSS (socialismo) após o fim da Segunda Guerra Mundial (AZEVEDO,
1999, p.224).
44
Presidente do Brasil entre 1946 e 1951 e ex-ministro da Guerra de Vargas (FAUSTO, 1995).
45
Conjunto de doutrinas contrárias ao liberalismo capitalista, que propõem uma sociedade sem classes
(AZEVEDO, 1999, p. 419-420).
46
VAINFAS, 2010.
47
Chegou ao Brasil em 1948, chefiando uma missão econômica oficial composta de dez técnicos e destinada a
retomar com o governo brasileiro a cooperação iniciada durante a Segunda Guerra Mundial, a CMBEUA.
(ABREU, 2010).
48
Vide a Lei Malaia, denominação dada ao Decreto-Lei nº 7.666, de 22 de junho de 1945, que dispunha sobre os
atos contrários à ordem moral e econômica (VENÂNCIO FILHO, A., 2010).
49
Associação ilegal de empresas para eliminar a concorrência e impor seus preços e produtos (XIMENES, 1999,
p. 591).
50
Acordo no qual empresas do mesmo ramo unem-se para determinar um preço único, em geral elevado, de seus
produtos, eliminando a livre concorrência. (ibid., p. 148).
51
Carta deixada por Getúlio Vargas em 24 de agosto de 1954, explicando seu suicídio (CASTRO,1968).
52
Segundo o conceito de Industria Cultural, desenvolvido por Theodore Adorno, a criação das “necessidades”
constantes criadas pela ideologia capitalista, possibilitadas pela acelerado desenvolvimento tecnológico, alocou a
sociedade no mero papel de consumidor, comprometendo serialmente sua capacidade de julgamento (ADORNO,
1999).
53
De acordo com Philip Agee, ex-agente da CIA, o IBAD era uma organização de ação política anticomunista da
CIA, no Rio de Janeiro, utilizado para controle e financiamento dos políticos brasileiros (STARLING, 1986, p.
44).
54
Ernesto Guevara de la Serna (1928-1967), médico, ativista político, guerrilheiro. Participou da Revolução
Cubana entre outras atividades de guerrilha (ANDERSON, 2012).
55
Movimento político-militar que em, 1959, derrubou o regime ditatorial em Cuba representado por Fulgêncio
Batista, substituindo-o pelo socialismo marxista de Fidel Castro (AZEVEDO, 1999, p. 394).
56
João Belchior Marques Goulart (1919-1976). Em 1961 assumiu a presidência da república após a renúncia de
Jânio Quadros (FERREIRA, 2010).
57
Programa de assistência ao desenvolvimento socioeconômico da América Latina formalizado quando os
Estados Unidos e 22 outras nações do hemisfério, entre elas o Brasil, assinaram a Carta de Punta del Este em
agosto de 1961 (ABREU, 2010).
58
A CIA, sigla de Central Intelligence Agency, foi uma agencia criada em 1947 para levantamento de
informações e dirigir operações secretas, inclusive no exterior (BANDEIRA, 1973, p. 340).
59
DELGADO, 2004.
60
Operação Brother Sam: Os EUA mobilizaram um destacamento naval, incluindo um porta-aviões, para
fornecer aos sediciosos o carregamento de quatro petroleiros, além de 110 toneladas de armamentos (DAHÁS,
2012, p. 26).
61
O uso corrente do termo designa, frequentemente em forma genérica, uma situação psicossociológica de perda
da própria identidade individual ou coletiva, relacionada com uma situação negativa de dependência e de falta de
autonomia (BOBBIO, 1998, p. 20).
62
Crescentes mudanças tecnológicas e econômicas (BURKE, 2003, p. 103).
63
Francisco Julião Arruda de Paula (1915-1999). Advogado e Político. Como deputado estadual e depois
federal, tutelou as Ligas Camponesas, organizações cujo objetivo era lutar pela distribuição de terras e os direitos
para os camponeses em Pernambuco (ABREU, 2015).

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