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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO-UEMA

CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE CAXIAS-CESC


DISCIPLINA: HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE.
PROF º. Msc. FRANCISCO LOPES DA SILVA FILHO
DISCENTE: NAIRA DA SILVA NASCIMENTO

RESENHA: A DOUTRINA MONROE E SUAS INFLUÊNCIAS: IMPACTOS NAS


AMÉRICAS
Byron Kuhn
Raquel Aréval
O artigo analisa as diferentes fases da presença imperial dos Estados Unidos na
América Latina, as diversas estruturas ideológicas envolvidas durante o processo da
implementação da Doutrina Monroe e suas mutações de acordo com o contexto
histórico, observando as atuações e consequências destas nos países latino-
americanos desde suas formações. Levanta-se a ideia de que os Estados Unidos
nunca detinham uma política definida para a América Latina, apenas ideias
convenientes para os interesses estadunidenses e mutáveis de acordo com a agenda
política do momento.
As relações entre os Estados Unidos e a América Latina sempre foi marcada por certa
tensão, que cresceria com o passar do tempo, a primeira iniciativa de estabelecer um
contato mais direto com a vasta América hispânica foi efetuada pela Doutrina Monroe,
em 1823. Até o fim do século XIX, uma outra imagem de integração, mais pragmática
e capitaneada pelos Estados Unidos, passou a predominar. Sua base ficou conhecida
como Doutrina Monroe, sintetizada pela clássica expressão “América para os
americanos”, segundo a qual o presidente James Monroe (1758-1831) defendia uma
espécie de autonomia das Américas, monitorada pelos norte-americanos.
Os norte-americanos nunca viram os latino-americanos de maneira positiva. Desde o
século XIX, os habitantes do "México para baixo" são tidos como irremediavelmente
inferiores em todos os sentidos: subdesenvolvidos, tornando-os alvo de intervenções
culturais, religiosas, políticas, sociais e econômicas.
Desde o início, no processo de colonização, os países latino-americanos foram
dominados e explorados pelas respectivas metrópoles, e desde cedo não aprenderam a
ser independentes, seguindo aquilo que lhes era ditado. O desenvolvimento local e os
habitantes da colônia ficavam em segundo plano, o objetivo era sempre enriquecer a
Coroa. Contrariamente, nos Estados Unidos a colonização foi de povoamento, e apesar
de isso não significar que eles foram inicialmente independentes, é uma vantagem no
sentido que desde o início eles tiveram que aprender a ter autonomia sobre o que lhes
era colocado. O objetivo era desenvolver a terra com habitação, criando formas de
comércio e ampliando as estruturas básicas das colônias.
O processo de integração das Américas faz parte de uma estratégia histórica dos EUA
através da qual as relações econômicas, o comércio, a segurança, assim como o
sentido da missão civilizadora e do estabelecimento de laços culturais compõem os
principais vetores da política externa norte-americana na criação do hemisfério
ocidental.
Os autores ressaltam que a Doutrina Monroe, inicialmente, fora elaborada como uma
medida de segurança a fim de proteger os Estados Unidos contra a ameaça de uma
invasão europeia em seu território. O autor Marcelo Santos, em sua obra O poder
americano e a América Latina no pós guerra fria (2007), explica que os Estados
Unidos, sendo na época um país periférico no sistema mundial, tinha por prioridade
garantir sua defesa através de uma política isolacionista em relação à Europa. Com o
tempo, os americanos expandiriam tal postura pelo resto do continente americano,
estabelecendo assim a sua hegemonia na região.
A chamada Doutrina Monroe, sob seu aspecto formal, pretendia postar a posição dos
EUA enquanto liderança continental capaz de garantir a soberania das nações latino-
americanas frente às potências européias. Entre outros princípios, essa doutrina
defendia que nenhuma nação americana poderia ser recolonizada. Além disso, pautava
a autonomia econômica dessas mesmas nações, assinalando que a Europa não poderia
interferir nos negócios estabelecidos pelas nações da América.
Entretanto, esse princípio de autonomia e soberania política continental era contrário à
necessidade que alguns líderes viam em ampliar as áreas de influência econômica dos
EUA. Dessa forma, a postura de liderança acabou sendo reinterpretada como um meio
pelo qual os Estados Unidos poderiam apoiar as nações latino-americanas com o claro
interesse de fixar seus interesses econômicos.
Se partimos de um pressuposto, no qual a Doutrina Monroe foi o começo de uma
pequena ideia de imperialismo, certamente podemos debater que o Destino Manifesto
veio para sacramentar essa noção. De um certo ponto de vista, podemos analisar o
Destino Manifesto como uma sensação de superioridade absurda para com os países
adjacentes aos Estados Unidos. Tão grande é esta soberba que eles se acham no
direito de educar, levando um pouco da cultura americana para os seus ‘’pobres
vizinhos’’.
A doutrina do “Destino Manifesto” é uma filosofia que expressa a crença de que o povo
dos Estados Unidos foi eleito por Deus para comandar o mundo, sendo o
expansionismo geopolítico norte-americano apenas uma expressão desta vontade
divina.
Em meio a esta ideia de predomínio mundial norte-americano estava também a ideia do
destino norte-americano de predominar sobre os povos da América Latina, por estes
estarem localizados no mesmo continente e não terem desenvolvido a capacidade de
exercer domínio sobre outros povos, com o objetivo demonstrar o quanto a cultura dos
EUA era atraente e digna de apreço, fazendo uma imagem de que o país seria o melhor
do mundo, com os melhores e mais preparados indivíduos, e, em última instância, fazer
com que os cidadãos de outros países passassem a desprezar suas próprias pátrias,
adorando o ideal americano de progresso e superioridade.
“A doutrina do Destino Manifesto lentamente foi sendo aperfeiçoada com o objetivo de
poder justificar a expansão dos interesses norte-americanos para além dos limites
continentais do país.” (Schilling, Voltaire. “O Destino Manifesto e a Guerra contra o
México”). Schilling aborda o conceito de fronteira móvel do imperialismo dos Estados
Unidos.Suas intervenções serão tão fortes a partir daqui, que o mesmo gerará conflitos
internos de países por benefício próprio. É importante mencionar também que Schilling
aborda essas intervenções como um resultado lógico da competição entre as nações
européias pela posse de colônias. Em meio de conflitos por volta da América Latina, que
não eram do interesse dos Estados Unidos, eis que eles precisam de uma forma de
controlar esses “rebeldes”. Foi então que o presidente Theodor Roosevelt assume uma
medida intervencionista hostil, nomeada como política do big stick. Essa intervenção
tomou rumos maiores e chegou a ser considerada como uma polícia internacioinais.
No tópico ‘’americanos e américa latina’’, discorre sobre o desenvolvimento industrial do
Ocidente no século XIX. Sobre o destaque da América Latina como fornecedora de
produtos primários. Que ela vai se tornando um importante consumidor dos produtos
industriais e de capitais de empréstimos. Já no final do século XIX se observa o
começo dos primeiros problemas econômicos na região: produção local desestimulada
para o consumo interno, crises no abastecimento de produtos básicos, dependência
internacional de produtos primários e controle de capital estrangeiro em vários setores
econômicos.
E até o período de sua Guerra Civil (1861-1865), os EUA estavam mais centrados em
desenvolver seu território, o que consumia boa parte de seus recursos humanos e
capitais. No final do século XIX, a produção industrial americana ultrapassa a Grã-
Bretanha e a Alemanha com uma grande capacidade competitiva que passa a disputar
com as grandes potências europeias o lucrativo mercado latino-americano: Se antes a
política do país para a América Latina visava a segurança militar frente à Europa,
agora as prioridades na região vizinha eram de ordem econômica.
Para os Estados Unidos expandirem seus interesses na região, foi necessário a
neutralidade ou a cumplicidade da Inglaterra. Esta foi a fase do Pan-Americanismo,
que era estratégia norte-americana que visava institucionalizar regras mercantis e
concorrenciais em todo o continente.
Pan-Americanismo: as duas vertentes e várias faces da solidariedade no continente
americano. Diversas discussões existem acerca da verdadeira origem do pan-
americanismo, que se diz ser um movimento de solidariedade entre os países
americanos. Mais associado ao monroísmo, o pan-americanismo é um movimento
amplo que, a princípio, visa ordenar e fortalecer as relações e associações nos
Estados da América em seus diversos pontos comuns de interesse, sejam eles
diplomáticos, sociais, econômicos ou políticos a fim de preservar a integridade do
continente e protegê-lo da intromissão de outros, buscando a independência
econômica e política dos países europeus, os colonizadores. O Pan Americanismo
atingiria a soberania dos países latino-americanos, sob o pressuposto de que estes,
junto aos Estados Unidos, tinham objetivos e interesses em comum.
Ou autores destacam que a presença militar ostensiva na América Central nos anos
entre 1920 e 1930 reflete a política do Big Stick (em inglês, grande porrete), iniciada
pelo presidente Ted Roosevelt. Este defendia como método diplomático “falar manso,
mas sempre carregar um grande porrete”. Sua inspiração, na tradução livre: política do
grande porrete veio de um provérbio africano, no qual dizia “fale com suavidade, e
carregue um grande porrete, assim irás longe”. Ou seja, havia uma busca incessante
pela liberdade, desde que seguisse as ordens dos Estados Unidos através da coerção.
O seu ponto de vista era levado de forma autoritária para os outros países, tendo a
imagem deles retratada com os grandes libertadores. As suas influências foram tão
grandes que conseguiram atingir fortemente a América Central.
No período entre-guerras (1918-1939), os EUA sentiriam a necessidade de reformular
novamente sua política para a América Latina, essas mudanças começaram no
governo de Herbert Hoover. A fim de preservar a supremacia na região, inicia uma
série de medidas que vão basear a futura Política da Boa Vizinhança, implementada
por F. D. Roosevelt nos anos 30. Procuravam criar a ilusão de que na América existia
uma harmoniosa comunidade de nações soberanas, unidas pelos mesmos ideais de
amizade.
A política Externa da Boa Vizinhança na América Latina tinha, a princípio, dois objetivos:
recuperar os efeitos da Crise de 1929 sobre a economia estadunidense e conter a
crescente presença da Alemanha nazista no comércio com os países da região,
especialmente com o Brasil e a Argentina. Os americanos chegaram à conclusão de
que primeiramente deveriam adequar sua política aos crescentes movimentos
nacionalistas a fim de cortar a influência e o comércio do Eixo na América Latina para
depois tornar a economia latino-americana mais competitiva.
Ela foi praticada em diversas frentes, sendo centrais o cinema e o rádio, e se
manifestava tanto nos EUA como na América Latina. Porém, a política nunca foi
simétrica: enquanto na América Latina propagavam-se as qualidades da cultura norte-
americana, como os valores democráticos e a industrialização, nos EUA caracterizava-
se a cultura Latina pelas belezas naturais e o exotismo.
Havia outro fator levado em consideração nas Conferências, que era o fator do
comércio. Os resultados apresentados pelas várias conferências realizadas sugerem
uma constante dominante. Constante essa era a de que os países latino-americanos
somente se tornariam aliados dos EUA à medida que esses substituíssem a Alemanha
como compradores de produtos de exportação e como fornecedores de produtos
manufaturados e equipamentos para a região.
Neste contexto, a indústria cinematográfica chegava a seu auge. Como parte deste
projeto, houve parceria cultural através do cinema. Os cineastas Walt Disney e Orson
Welles, vinham com constância para o Brasil e o Ministro brasileiro de relações de
Exteriores, Osvaldo Aranha desempenhava magnificamente seu papel diplomático.
Personagens como o Zé Carioca surgiram como parte desse projeto, o símbolo da FEB,
a cobra fumando criada na Itália pelos brasileiros, ganhou uma versão desenhada por
Disney. Produtos como a Coca-Cola, foram trazidos pelos americanos para o Brasil.
‘’Com o fim da Segunda Guerra, Santos afirma, as economias latino-americanas
estavam definitivamente ligadas aos EUA. A Política da Boa Vizinhança perde força
com os americanos voltando sua atenção para a Europa e Ásia, mas os americanos
retomariam o expediente desta política com a Aliança para o Progresso (SANTOS,
2007). No início da Guerra Fria, Tota afirma que não havia uma “ameaça comunista”
iminente na América Latina. Da década seguinte em diante, os Estados Unidos
observam com apreensão seus vizinhos latino-americanos, pois a ideologia dos
vermelhos explodirá durante as revoluções na região.’’
A Política da Boa Vizinhança se referiu ao período das relações políticas
estadunidenses com os países da América Latina entre 1933 até 1945 - ao final da
Segunda Guerra Mundial e Harry Truman assumindo a presidência do país.
Na segunda metade do século XX, a América Latina volta a ser considerada como
importante para a segurança americana, os americanos, no início da Guerra Fria, se
preocupavam com as posturas nacionalistas de governos e movimentos latino-
americanos. o problema em relação aos nacionalistas latino-americanos era sua
tendência a proteger suas economias do mercado internacional, além da postura
liberal
Com a eclosão da Guerra Fria, o governo Trumam começou a considerar o combate ao
comunismo na América Latina mais prioritário do que a democratização da região e
buscou estabelecer uma organização de segurança regional, além de pregar a restrição
das atividades dos partidos comunistas latino-americanos. Com efeito, em 1947-1948 os
partidos comunistas foram proibidos em vários países da América Latina (no Brasil em
maio de 1947).
A luta contra o comunismo era interna e externa. A América Latina, apesar de muito
distante do comunismo, sofre uma série de golpes militares apoiados pelos Estados
Unidos, sob a justificativa de conter o ‘’avanço vermelho‟ no hemisfério.
Durante as gestões Kennedy-Johnson nos anos 1960, a América Latina cresce em
importância, exigindo uma mudança na estratégia americana: aumentam as
preocupações com a constatação de que a política intervencionista de antes falhara,
dando espaço para que situações como a Revolução Cubana acontecesse.
Excetuando-se Cuba, a Argentina foi o país latino-americano que mais demonstrou
resistência à “autoridade imperial americana”. ao final da década de 1960, caiu o
prestigio americano nas forças armadas da Argentina devido a derrota no Vietnã e a
recusa de Washington em vender-lhes armas de última geração.
Nos anos 1980, inicia-se uma crise de proporções surpreendentes: a América Central
é tomada por uma série de movimentos revolucionários, provocando guerras civis em
países como El Salvador, Nicarágua e Guatemala. Washington temia que um “efeito
dominó” marxista chegasse ao México e talvez nos Estados Unidos. A gestão do
presidente Reagan então financia os Contras na Nicarágua.
Na mesma década, a agenda americana para a América Latina também foca na
questão do narcotráfico. O combate às drogas nos Estados Unidos passou a fazer
parte da política de segurança nacional devido ao alto consumo de entorpecentes
observado no país – por volta de 10% dos americanos – movimentando pelo menos
100 bilhões de dólares anuais no país.
O fim da Guerra Fria coincide com o início da decadência do poder americano.
Especula-se que os Estados Unidos precisam de um inimigo de porte, como foi a
União Soviética, para liderar seus aliados, mostrar e exercer o seu poder; o perigo
vermelho justificava as intervenções e a presença militar efetuada em muitos países.
Desde a queda do Muro de Berlin, os argumentos para a presença da força americana
tornam-se escassos.
Ayerbe explica que no mundo pós Guerra Fria, a América Latina se converte em uma
“zona de ameaça” para os Estados Unidos. Apesar de ser uma fonte de recursos
energéticos e de crescente consumo dos produtos americanos, ainda apresenta o
preocupante narcotráfico, detém de um crescimento populacional desordenado que
consequentemente gera pobreza e a imigração ilegal para os Estados Unidos.
A política americana em relação à América Latina sempre foi inconstante, mudando de
acordo com o contexto geopolítico do tempo. Mas sempre existiu, e também sempre
foi baseada em um objetivo bem definido e com justificativas. Primeiro, foi por
segurança ao perigo europeu colonizador, depois foi pelo Destino Manifesto, mais
tarde foi pela luta contra o totalitarismo nazi-fascista, e logo em seguida para impedir o
avanço vermelho; hoje é para combater a pobreza e o narcotráfico. Em qualquer
período observado, a política americana para os seus vizinhos latino-americanos
sempre teve um fundamento para existir e ser exercida.

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