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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE (UFAC)

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO (PROGRAD)


CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS (CFCH)
COORDENAÇÃO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA
HISTÓRIA DA AMÉRICA VI

JASON ALMEIDA DO NASCIMENTO

ENTENDENDO A DOUTRINA MONROE, E SEUS EFEITOS NO CONTINENTE


AMERICANO

RIO BRANCO ACRE


2021
JASON ALMEIDA DO NASCIMENTO

ENTENDENDO A DOUTRINA MONROE, E SEUS EFEITOS NO CONTINENTE


AMERICANO

Trabalho apresentado à disciplina de


História da América VI, orientado pelo
professor José Sávio da Costa Maia, para
a composição da N1

RIO BRANCO ACRE


2021
Este trabalho tem por objetivo estabelecer os efeitos da Doutrina Monroe
exercida pelos Estados Unidos para com os países vizinhos, cortando relações com
nações europeias e utilizado dela para ampliar seu território e domínios políticos,
visando no processo ser o detentor exclusivo dos recursos que a América possui em
seus solos, como a califórnia uma importante fonte ouro “tomada” e anexada ao
imperialismo exercido pelos estadunidenses, e consequentemente tendo uma
relação de “suserania e vassalagem” para com as outras nações independentes.
Durante o século XIX, alguns países da Europa estavam passando por uma
forte crise econômica, que se espalhava levando miséria aos europeus, isso se dá
devido à perda recente de várias de sua colônia principalmente as situadas na
América, tanto a denominada/dominada pelas nações espanholas e portuguesas,
essa perda ocorre devido aos fortes e crescentes movimentos de independência que
havia eclodido em praticamente todo o território, sendo o norte, central e o do sul.
As independências, tinham como principal função se libertar do jugo de
submissão das “mãos” da Europa, que à algumas centenas anos atrás havia não
somente invadido aquelas terras, devido o sentimento e a necessidade de expansão
oriundos do início da decadência do mundo feudal, e o começo primitivo da
acumulação de capital, por isso a forte extração do ouro e outros recursos valiosos
encontrados nas diversas colônias que foram conquistadas pelos países europeus,
agora os dois “donos do mundo” a Espanha e Portugal, que sozinhas detinham 70%
das terras conhecidas, incluindo o domínio quase que total do continente africano,
com pouquíssimas nações, conseguindo resistir ao empreendimento europeu de
“dominação mundial”.
Com o sucesso de várias dessas colônias situadas na América, como, por
exemplo, os Estados Unidos, Paraguai, Colômbia, Peru, entre outros, as
colonizadoras perdem a fonte de inúmeras fonte de recursos que sustentavam a
Europa, fornecendo a maioria das matérias-primas utilizadas por ela para o amplo
crescimento buscando a hegemonia global.
Após uma série de tumultos na Europa, e guerras pelo poder em diversas
nações, Fernando VII, que havia sido destronado, consegue através de uma aliança
com a Rússia, Prússia, Áustria e o apoio da França, reaver seu antigo cargo como
monarca da Espanha. Após essa significativa vitória em frente aos combates
perdidos e os infortúnios causados pela perda das colônias situadas na América, ele
se “sente” motivado a reaver suas preciosas fontes de recursos que haviam se
rebelado, desta forma, um movimento de recolonização é iniciado pela Espanha.
Esse movimento desperta também em outras potências o desejo de fazer o mesmo
que a sua vizinha estava se deslocando a realizar, pois, além de Espanha e Portugal
existiam outras nações que estavam desfalcadas pela independência das suas
valiosas fontes rentáveis.
Como mencionado, algumas dessas novas nações americanas estavam
passando por uma fase de crescimento, como os Estados Unidos, que ao descobrir
dos interesses da Espanha e outros países como a Inglaterra de quem era colônia,
começa a formulação da chamada Doutrina Monroe, porém antes ir mais afundo
nela o autor Voltarie Schilling em seu livro “Estados Unidos e América Latina: da
Doutrina Monroe à Alca” destaca o conceito de doutrina, sendo ele;

“[...] leis maiores que orientam a política norte-americana por longos


períodos históricos. [...] emanação direta do poder executivo e servem para
orientar a diplomacia e os negócios americanos nas suas questões
internacionais. [...].” (SCHILLING, 2002, p.14)

Tendo o receio de ser recolonizado, a estruturação da doutrina Monroe é


implementada no ano de 1823, sob a direção de James Monroe (1758-1831), que foi
presidente dos Estados Unidos durante os anos de (1818-1825). Ela defendia três
pontos principais;

“[...] a) o continente americano não pode ser objeto de uma recolonização;


b)é inadmissível a intervenção de qualquer país europeu nos negócios
internos ou externos de países americanos; finalmente, c) os Estados
Unidos, em troca, se absterão de intervir nos negócios pertinentes aos
países europeus.” (SCHILLING, 2002, p.19, grifo nosso)

Essas foram os ideais defendidos pela doutrina, para tentar impedir o avanço
das metrópoles europeias, porém naquele período de 1823 os Estados Unidos
apesar de seu forte crescimento ainda não detinha tanto poder, nem influência para
as suas reivindicações fossem aceitas e respeitadas, e durante alguns anos nada
era realmente feito por parte dos Estados Unidos para cessar os movimentos de
recolonização, porém essa relação somente muda após o fim da Guerra de
Sucessão, que era uma guerra civil no país, que finda em 1865, os Estados Unidos
experimenta uma enorme crescimento econômico, ele começa a tomar mais espaço
e exercer a partir de então uma certa imponência sobre as demais metrópoles.
Antes do apogeu do poderio estadunidense, as demais metrópoles não
reconheciam a validade da Doutrina Monroe, mas com a regência de Theodor
Roosevelt com o fim da guerra civil e o crescimento alarmante dos Estados Unidos,
agora eles poderiam exercer sua força sobre as demais, impondo suas vontades
sobre eles, principalmente devido ao arsenal militar que os Estados Unidos detinham
posse, isto até os dias atuais demonstram a efetividade e quantidade bélica portada
pelos estadunidenses, favorecendo em diversos conflitos durante todo o século.
Paulo Freire, autor de diversos livros sobre a educação formula a frase
“Quando a educação não é libertadora, o sonho oprimido é se tornar o opressor”,
obviamente esse autor e frase não dizem respeito direto ao evento ou séries de
eventos aqui analisados, todavia ela pode ser aplicada ao contexto devido sua
expressão e significado.
Os Estados Unidos foram durante anos uma colônia inglesa, e teve seus
recursos remanejados para a sua metrópole. Uma vez alcançado a independência e
o forte crescimento com o fim da Guerra de Secessão, ele percebe a alta
rentabilidade dos seus vizinhos, a Doutrina Monroe quando foi instituída em 1823 já
tinha essa “noção” da rentabilidade que poderia ser alcançada se as metrópoles
europeias não pudessem reaver suas antigas poses, com essa ambição de poder
ela mesma usufruir dos recursos de seus vizinhos a doutrina é posta em prática.
As três palavras principais para definir a doutrina eram recolonização,
intervenção e abstenção. Funcionava da seguinte maneira, as metrópoles europeias
não poderiam tentar reaver suas colônias, e independente dos acontecimentos
ocorridos dentro do continente elas nada poderiam fazer, ou seja, em caso de
alguma ação dos Estados Unidos sobre algum país vizinho eles não teriam ajuda “de
fora”, para que assim respeitando essas duas primeiras partes do acordo, os EUA
não iriam se envolver em questões europeias favorecendo uma ou outra oferecendo
sua força militar, assim eles teriam carta-branca como maior potência da América
para realizar seus planos de como o continente deveria funcionar, o ideal “América
para os americanos” é um exemplo deste protocolo, porém ele dava margem para o
projeto imperialista hegemônico dos Estados Unidos. A própria “tomada para si” do
termo americano enquanto população é uma prova de que a América e todos os
seus recursos eram devidamente destinados a eles. Uma vez com essa ideologia
implantada e amplamente difundida entre os “americanos” inicia o plano hegemônico
estadunidense sobre a América Central e do Sul.
A Doutrina Monroe sofre várias roupagens, entretanto em seu cerne a ideia
de “América para os Estados Unidos” é posta em prática onde passa ser o principal
contato das recém-nações independentes, sendo o fornecedor de recursos
financeiros e empréstimos visto que a relação delas para com os países da Europa
havia sido rompida.
O expansionismo território norte-americano inicia com a tomada de grandes e
densas terras pertencentes ao México, como, por exemplo, a área do Texas, que
após terem sido derrotados, tiveram boa parte de seu território anexado aos Estados
Unidos, nesta guerra os próprios texanos lutam contra os mexicanos devido o alto
contingente de estadunidenses naquela região;

[...] Os texanos, vitoriosos, ratificaram sua nova constituição, legalizaram a


escravidão, içaram a bandeira da estrela solitária e elegeram Sam Houston
presidente, tratando logo de obter o reconhecimento dos Estados Unidos
encaminhando uma solicitação de anexação pela União [...] (SCHILLING, p.
22-23)

Além da doutrina, o Destino Manifesto foi de total importância para o avanço


norte-americano durante aquele período, pois ele dava alicerces justificatórios de
que o ideário estadunidense precisaria ser implantado em toda a América;

“[...] Os Estados Unidos, segundo ele, estavam vocacionados à tarefa de


cumprir uma “missão civilizadora” junto aos povos da América Latina, da
mesma maneira que as potências coloniais européias o faziam com os
africanos, polinésios e asiáticos. [...] ‘pacificar e democratizar’ [...]
permanecer camufladas atrás dos grandes princípios liberais e
humanitários. [...].” (SCHILLING, p.28)

O crescimento é alarmante, em pouco mais de 50 anos os EUA crescem nos


âmbitos populacional, econômico e militar, essa "ascensão" como a principal
potência da América, faz com que, em um futuro próximo os seus vizinhos a se
espelharem na maneira política dos norte-americanos e querer algo semelhante em
suas nações, construindo uma relação de dependência delas para com os Estados
Unidos como afirma Octávio Ianni;

“[...] Os interesses do governo e das empresas, ou conglomerados, dos


Estados Unidos nesses países variam em função de condições como as
seguintes: o volume de negócios, o montante de investimentos, o grau
de independência ou subserviência dos governantes e burguesias
locais, a posição geopolitica de cada país no sistema de segurança
hemisférica, o estado e as tendências das forças políticas internas nesses
países, e assim por diante. [...].” (IANNI, p.17-18) grifo nosso.

O poderio imperialista faz com que os estadunidenses detenham um controle


sobre os demais Estados, onde sempre haveria como tirar proveito de diversas
situações, houve alguns poucos países que resistiram a hegemonia norte-
americana, porém o custo de tal ato era grande demais, para esses pequenos
Estados revoltosos conseguissem viabilizar a custear uma segunda independência –
a primeira era contra a metrópole europeia e a segunda dos Estados Unidos, que
tinha interesse de estabelecer essa relação, mas com nomes diferentes, para não
estar tão óbvio o desejo de ter uma colônia moderna – podendo ser citado o exemplo
de Cuba, que ao se impor, recebe um “bombardeio” das ações “americanas”
entrando em uma séria crise econômica.
Os EUA como a superpotência que chegaram a ser, exercem sobre seus
vizinhos uma relação de “vassalo e suserano moderno”, onde os países latinos
tendem, quase que majoritariamente a uma relação de dependência direta e indireta
da grande nação, e a sua intervenção nestes lugares ocasiona a centralização de
diversas tomadas de decisões, na qual elas ficam a mercê dos “americanos”.

“[...] a dependência dos governos e elites latinoamericanos do apoio


econômico-militar norte-ameriano;(2) o medo de revoltas populares internas;
e (3) o interesse em estimular padrões ocidentais de comportamento
sòciopolítico, isto é, certa independência política, um alto nível de consumo
e assim por diante. [...].” (IANNI, p.50)

Em termos leigos a doutrina aponta que países exteriores não podem explorar
os da América, mas em nenhum artigo dela consta que os Estados Unidos não
poderiam fazê-lo, resumindo ela de maneira simplória assim é a doutrina Monroe e o
seu expansionismo, e reconquista do continente.
Octávio Ianni em seu livro o “Imperialismo na América Latina” apresenta com
essa política se estende para o passado recente e como continua a ser desenvolvida
e ampliada pela política norte-americana, e potencial que a doutrina conseguiu
atingir, se tornando a principal potência americana, tanto na economia e
principalmente militar, sendo responsável pelo seu sucesso a ascensão mundial pós,
Segunda Guerra Mundial onde consegue chegar e se estabelecer como a principal
potência global, e expandindo seu império e levando a “civilização” para outros
lugares do mundo, principalmente onde fosse mais rentável. Os Estados Unidos nas
suas relações interamericanas seria um jogador de xadrez a movimentar suas
peças, elas no que lhe concerne são as nações americanas, e o tabuleiro é a própria
América.
REFERÊNCIAS

SCHILING, Voltaire. EUA X América Latina: Da Doutrina Monroe à ALCA. Porto


Alegre: Mercado Aberto, 2003.

IANNI, Octávio. Imperialismo na América Latina. Rio de Janeiro: Civilização


Brasileira, 1988.

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