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Revista

Literatura
Volume 73 N. 145
o
Janeiro a junho de 2011 Madrid Espanha) ISSN: 0034-849X

INSTITUTO DE LÍNGUA, LITERATURA E ANTROPOLOGIA

CONSELHO SUPERIOR DE INVESTIGAÇÕES CIENTÍFICAS


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ESTUDOS
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Revista de Literatura, 2011, janeiro-junho, vol. LXXIII, nº 145,


pág. 15-34, ISSN: 0034-849X

A 'HISTÓRIA DE VIAGEM': MARCOS E FORMAS


NA EVOLUÇÃO DO GÊNERO

LUIS ALBURQUERQUE-GARCÍA
CCHS-CSIC

RESUMO

A ‘história de viagem’ surge como um rótulo que caracteriza um género com alguns traços comuns ao longo
da história, apesar dos diferentes moldes que assume consoante os períodos e correntes em que se insere. Trata-
se de mostrar quais obras foram marcos na evolução do gênero. Ao mesmo tempo, aponta-se a relação dialética
entre gênero e alguns paradigmas culturais, cujos traços nela podem ser traçados.

As crônicas indianas, por exemplo, trazem a marca renascentista. Por sua vez, a virada esclarecida e o viés
romântico deixam sua marca no gênero com um fortalecimento do docere e uma ampliação dos moldes genéricos
no primeiro (memórias, epistolars, crônicas) e uma conversão da voz do autor em instância decisiva , no segundo.
Em suma, a ‘história de viagem’ sobreviveu ao longo do tempo, adaptando-se às inúmeras vicissitudes históricas e
culturais. Talvez por isso tenha sido descrita como híbrida, interdisciplinar e com notável capacidade de metamorfose.

Palavras-chave: literatura de viagem, histórias de viagem, gênero.

'NARRATIVA DE VIAGEM': MARCOS E FORMAS


NA EVOLUÇÃO DO GÊNERO

ABSTRATO

A ‘narrativa de viagem’ tornou-se o rótulo caracterizador de um género que manteve certos traços comuns ao
longo da história, apesar dos diferentes moldes a que teve de se adaptar em função dos períodos e movimentos em
que se encontra. serviram como marcos em sua evolução, bem como para destacar a relação dialética entre o
gênero e diversos paradigmas culturais cujos rastros podem ser traçados nele. As crônicas das Índias, por exemplo,
trazem uma marca renascentista. Além disso, a reviravolta iluminista e a virada romântica deixam sua marca no
gênero no estabelecimento do docere e na expansão dos moldes do gênero no caso do primeiro (memórias, cartas
coletâneas, crônicas) e na conversão da voz do autor como um momento decisivo neste último. Em suma, a
“narrativa de viagem” sobreviveu ao longo do tempo, adaptando-se a diferentes mudanças históricas e culturais.

Talvez por isso tenha sido considerada híbrida, interdisciplinar e com notável capacidade de metamorfose.

Palavras-chave: literatura de viagem, narrativa de viagem, gênero.


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16 LUIS ALBURQUERQUE-GARCÍA

Há alguns anos publiquei o artigo «Livros de viagem como


gênero literário", no qual refletiu sobre alguns aspectos teóricos
relação com a literatura de viagens. Gostaria agora de fazer, tendo em conta
o que foi escrito desde então sobre a matéria apodêmica, uma segunda abordagem do
gênero tentando ilustrar os aspectos teóricos em sua evolução
ao longo da história. Trata-se, por um lado, de repensar e sistematizar o que já foi dito e,
por outro, de contrastá-lo com exemplos de
nossa tradição literária em diferentes períodos, para apresentar uma teoria mais qualificada
do gênero. Por isso, às vezes alude ou retorna a ideias ou
tópicos de trabalhos anteriores, pois, por se tratar de uma visão geral, é
é quase impossível não aproveitá-los integrando-os na exposição.

TEORIA DE GÊNERO

Não é novidade afirmar que a viagem presidiu às grandes histórias da humanidade.


Partes importantes da Bíblia ou da Odisséia, sem ir
mais longe, eles se estruturam em torno de uma jornada. Mas ainda mais. A viagem e seus
história não deixaram de ter uma presença constante ao longo da história. Como já disse
noutra ocasião, viagem e vida são, num certo sentido, sinónimos, uma vez que a sua fonte
e raiz se encontra no próprio deslocamento. Tendo em conta estas duas premissas (a sua
amplitude e a sua
sobrevivência secular), poderíamos começar sugerindo que a literatura de viagens cobre
toda a história (ou uma grande parte da história) e que a viagem forma
parte da condição humana, mas não apenas como produto da curiosidade, mas como uma
verdadeira necessidade vital.
De acordo com isso, seus limites como gênero seriam tão abrangentes que é quase
se sobreporia à própria literatura. Não sou o primeiro a sustentar, portanto,
que a maioria das grandes obras da literatura universal são livros de
jornada. A Eneida, a Divina Comédia, Dom Quixote... É preciso discernir o gênero 'história
de viagem', frase cunhada com uma expressão muito
preciso de Carrizo Rueda (1997), da literatura de viagens em geral.
Na minha opinião, as ‘histórias de viagem’ respondem a três características fundamentais
que são complementadas por mais algumas que veremos mais tarde: (1) são histórias
factual, em que (2) a modalidade descritiva é imposta à narrativa e
(3) em cujo equilíbrio entre o objetivo e o subjetivo tendem a optar pelo
lado do primeiro, mais conforme, em princípio, com o seu caráter testemunhal.
(1) Lembremos que a distinção de Genette (1993: 53-76) entre histórias
conceitos factuais e ficcionais facilitaram a consideração de certos textos como literários
até então exilado daquela área. Histórias historiográficas, biografias,
diários, memórias e, claro, relatos de viagens (embora não tenham sido expressamente
citados naquele relatório), entre outros, compõem um friso de textos cujo denominador
comum é a sua factualidade. Baseiam-se em factos, em

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realidade, nos testemunhos, naquilo que é verificável. O ficcional não adquire


forma substantiva nesses textos, mas sim adjetivo. Não é o mesmo,
Pois bem, uma história ancorada num acontecimento real (numa viagem específica, sem ir mais longe
longe), embora sujeito a um certo grau de ficcionalização, que um texto
fictício que se origina de um evento real ou se baseia em experiências pessoais.
A história factual nasce, se desenvolve e termina seguindo o fio de alguns fatos
realmente aconteceu que formam sua espinha dorsal. A história fictícia,
Por sua vez, é sempre tomado como uma invenção de quem o conta ou de outra pessoa de
quem o herda. O que não impede - como sublinha Ge-nette - "que um historiador invente um
detalhe ou ordene uma intriga ou uma
o romancista é inspirado por um acontecimento; o que conta neste caso é o status
oficial do texto e do seu horizonte de leitura» (1993: 55). A factualidade destes
histórias, cuja componente cronológica e topográfica remete para um tempo e uma
espaço vivido pelo viajante, não exclui a sua condição de literário. (Como
Vemos, o conceito de 'literariedade', nomeadamente, o que torna um texto ou não
literário, chama a nossa atenção de uma forma ou de outra em qualquer reflexão teórica).
(2) A predominância nestas histórias da descrição sobre a narração supõe que a
primeira atue como formadora de um discurso que não
leva ao próprio resultado da narrativa. O discurso é amaldiçoado
na viagem, nos lugares e em tudo o que o rodeia (pessoas, situações, costumes, lendas,
mitos, etc.), que se tornam o próprio nervo
da história. Acrescentaremos, parafraseando Raúl Dorra (1983), que o fator
“risco” que caracteriza a narrativa específica e que parece sempre
No final, ele aparece nessas 'histórias de viagem' engolfado pela própria viagem e pelo
mundo que lhe serve de cenário. Em suma, as representações de objetos e personagens,
que constituem o núcleo da descrição, assumem o protagonismo da história, deslocando
consequentemente
à narrativa do seu lugar secular de privilégio1 .
Todo o cortejo de figuras retóricas que determinam o gênero articula-se em torno da
descrição ou ékphrasis, entendida como um mecanismo que
procura “colocar diante dos olhos” a realidade representada. Nos referiremos apenas a
passou para figuras como prosografia (descrição do físico das pessoas), etopeia (descrição
das pessoas por seu caráter e costumes),
cronografia (descrição de tempos), topografia (descrição de lugares), pragmatografia
(descrição de objetos, eventos ou ações),
hipotipose (descrição de coisas abstratas através do concreto e do perceptível), etc. É claro
que também poderiam ser selecionadas figuras importantes, como, por exemplo, tropos
(metáforas, metonímias, sinédoques, etc.)
mas nos referimos apenas àqueles que se inclinam para o descritivo, como
espinha dorsal da história2 .

1 Ver a este respeito as reflexões de Carrizo Rueda (1997: 13-34).


2
Uma das classificações mais completas de figuras retóricas pode ser vista em García
Barrientos (1998).

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(3) O caráter testemunhal, por fim, intervém como outra característica fundamental do
gênero “história de viagem”. Por um lado, diz sobre objetividade
daquilo que foi vivido (e percorrido), por outro, diz da proximidade e
compromisso com o que é narrado que, inevitavelmente, nos aproxima do
caráter parcial do que é relatado, apesar da equanimidade que se busca
casaco. O testemunho que, sem dúvida, aponta para a objetividade, às vezes se inclinará
para o subjetivo, como veremos nas 'histórias de
viagens' do século XIX, o que representou uma mudança radical na concepção de
género como consequência da mudança de paradigma cultural: a lâmpada,
metáfora do romantismo, substitui o espelho (neoclassicismo), segundo a
A famosa cunhagem de Abrams em seu livro sobre a teoria do romantismo.
Recapitulando, o campo da “escrita de viagens” restringe necessariamente
seus limites ao abraçar relatos estritamente factuais. É preciso dizer que, se
Pois bem, todo livro de viagens está enquadrado no âmbito da literatura de
viagens, nem toda a literatura de viagens está incluída nas 'histórias de
viagens'. A literatura de viagem inclui obras em que a viagem
Faz parte do tema ou em que atua como motivo literário. Como já
Notei em outras ocasiões, um épico, uma comédia, um romance ou
um conto, por exemplo, em cujo esquema narrativo intervém uma viagem
(na forma de peregrinação, expedição, viagem, etc.), tende a ser classificado na categoria
geral de livro de viagem ou literatura. Mas, insisto, corremos o risco de confundir o conteúdo
de um rótulo tão amplo com o da própria literatura. Fez a famosa Jornada por aí

Meu Quarto , que Xavier de Maistre escreveu no final do século XVIII, não poderia ser
considerado um livro de viagens com todo o rigor?
Desses três aspectos configuradores da 'história de viagem' derivam
outros que sustentam, parece-me, a natureza do gênero. Quero dizer o
paratextualidade e intertextualidade. O primeiro atua como ingrediente
natural dessas histórias e não como uma mera excrescência derivada de sua condição
factual. Os próprios títulos dos livros, os títulos e incipits dos capítulos, os prólogos ou as
próprias ilustrações constituem o
mosaico das manifestações mais conhecidas do procedimento que, como
marcas paratextuais, encorajam a suposição, por parte do leitor, de ser
antes de uma viagem realmente realizada que é apresentada na forma de uma história. Em
Em suma, essas marcas atuam de certa forma como o correlato da factualidade do texto,
que os autores utilizam para explicitar a
autenticidade do seu conteúdo.
A intertextualidade, por sua vez, alerta-nos para as diferentes e variadas famílias de
histórias que dialogam entre si, cujas ressonâncias nos falam sobre a tradição e as influências
culturais. Em muitos casos - eu diria que
em todas as épocas – as ‘histórias de viagens’ dialogam com obras
anteriores que servem de guia ou referência literária. Romero Tobar (2005:
132) expressa corretamente:

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[...] as histórias de viagem são alimentadas tanto pela experiência real do viajante quanto pela
a escrita de histórias anteriores. A história pessoal de uma viagem vai vislumbrar um “eu”
Eu vi" com um "eu li" de uma forma inextricável que, em muitas ocasiões, torna muito difícil
para o leitor conseguir separar o que foi uma experiência direta
do escritor e ecos de leituras de outros relatos de viagens anteriores, seja porque estes foram
tomados como um “guia” prático para o novo viajante ou
porque sua memória não consegue apagar os vestígios deixados pelos textos lidos antes de
escrever os seus. O livro de viagens oferece fontes
fontes latentes e patentes ou, em outras palavras, sequências de imitação direta e sequências
de imitação composta.

Ressaltemos que o simples fato de dialogar com trabalhos anteriores


do mesmo teor – pertencente ou não ao mesmo paradigma – já supõe
uma certa consciência de género.
Por fim, enfatizamos o caráter fronteiriço dessas histórias, pois
outra das características que são óbvias de acordo com as considerações
anterior3 . Teremos que ter em mente, no entanto, que as considerações
em relação a um gênero tão esquivo e fronteiriço, elas não são claras e, portanto,
Portanto, os deslizamentos em direção a um ou outro terreno são medidos (falando
figurativamente) em termos de grau ou intensidade, ou seja, predominância.
ou, se preferirem, de imposição: do ponto de vista pragmático, o factual predomina sobre o
ficcional; Do ponto de vista formal, o descritivo prevalece sobre a narrativa e do ponto de
vista testemunhal, o
O objetivo prevalece sobre o subjetivo, mas dependerá dos tempos e do
paradigmas em que as histórias estão inseridas. De qualquer forma, a “história de
viagens' é sempre "depoente", o que implica que o narrador está comprometido com o autor,
já que sua identidade é plena. Como vemos, as fronteiras são instáveis e mutáveis. Além
disso, as histórias de viagens também, segundo
períodos históricos, compartilharam fronteiras com outras séries literárias4 .
Quero dizer que estas características das “histórias de viagem” que
nos acompanhe em sua longa trajetória histórica – com todas as suas vicissitudes – até
o momento atual alude a uma certa vocação para a durabilidade que
É intrínseco ao gênero, como tentaremos ver. Assim, a “história de
viagens' atravessam os séculos e seus diferentes períodos, englobando variados
formas literárias e metamorfoseando sua condição em moldes mutáveis.
Uma abordagem à sua poética exige um traçado dos seus vestígios em diferentes períodos
da história se quisermos delimitar, mesmo que apenas em grandes
características, seus contornos que, em última análise, é o objeto que perseguimos. Para
isso, a partir de agora tentaremos focar a atenção em alguns momentos (marcos) decisivos
na evolução do gênero que podem nos ajudar
iluminar seu caminho.

3 Sobre a história de viagem como gênero fronteiriço, ver Champeau (2004).


4
Para uma delimitação do gênero de história de viagem de outros gêneros da Idade de Ouro,
Você pode ver Alburquerque (2005).

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Obras como a Odisseia são frequentemente citadas quando se fala em literatura de viagens.
de Homero, a Argonáutica de Apolônio de Rodes, a Vida e os feitos de
Alexandre da Macedônia ou a própria Eneida , todos eles relacionados com
literatura de ficção. E também aqueles textos de viagem mais próximos
o que hoje chamamos de ficção científica, como As Maravilhas de Tule
de Antônio Diógenes (através dos resumos de Diodoro e Fócio), o
Histórias verdadeiras ou a Verdadeira História de Luciano ( século II), divulgadas
na época romana por Apuleio.
Agora, no caso das “histórias de viagens”, a fonte mais direta
Devemos procurá-lo na História ( século V a.C.) de Heródoto e na Anábase ( século IV a.C.)
de Xenofonte, em que o caráter histórico-documental pesa mais que qualquer outro. Heródoto
e Xenofonte pertencem à linhagem dos viajantes reais, que nos contam os acontecimentos
memoráveis vistos
e ouvido em suas viagens e contado com espírito de historiador e repórter
avant la lettre, respectivamente. No caso de Heródoto, as viagens percorrem a geografia dos
povos bárbaros cuja etnografia e história são
eles nos transmitem com minúcia. Ele certamente não é o protagonista do
acontecimentos narrados - embora seja muito preciso ao apontar as fontes
em que se baseia - como fez Xenofonte ao nos transmitir sua experiência
como um soldado mercenário grego recrutado por Ciro. Das três fontes
referidas (literatura de viagem de ficção, literatura de viagem de ficção científica e literatura
de viagem de base historiográfica), as “histórias de viagem” encontram as suas raízes neste
lado da historiografia. Eles se conectam com um
linhagem de textos cuja marca literária é indubitável. Heródoto, aliás, sempre foi conhecido
na antiguidade pelo epíteto de “grande imitador de Homero”, que Aristófanes já parodiou em
uma de suas comédias.
cedo, os Acharnianos.
Uma primeira taxonomia já está estabelecida nestas primeiras manifestações do gênero.
Por um lado, uma literatura de viagem ficcional, por outro,
uma literatura de viagem enraizada em factos cujo testemunho nos é transmitido pelo autor:
são as 'histórias de viagem' cujo fundamento corresponde
à viagem efetivamente realizada. Estamos fora dos limites do
ficção. De acordo com isto, as “histórias de viagens” não são ficção, mas estão dentro
do literário, do lado da literatura, embora à margem da ficção. Talvez se possa extrair como
corolário que a literatura nem sempre
É ficção, ou não só. Poderíamos apelar para a autoridade da Poética do
Aristóteles contra esta posição, mas bastaria lembrar que o Estagirita também argumenta a
favor de obras (leia-se tragédias) que recorrem a nomes que já existiram, já que – argumenta
ele – “o que aconteceu é claro”.
que é possível, pois não teria acontecido se fosse impossível»5 . E também:
«E se em todo caso se ocupa de coisas que aconteceram, não é menos poeta»6 . E mais
5
Aristóteles, Poética, 1451b.
6 1451b.

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avançado em Poética podemos ler: «Sendo o poeta um imitador, tal como um


pintor ou qualquer outro criador de imagens, necessariamente imitará sempre
numa das três formas possíveis; pois ou representará as coisas como foram
ou são, ou como se diz ou se acredita que sejam, ou como deveriam ser7 . As
«histórias de viagem» movem-se nas fronteiras entre o literário e o documental
ou historiográfico, razão pela qual alguns críticos referem a sua natureza
bilateral8. .
A distinção relevante, creio eu, não deveria ser aquela que discrimina entre
viagens ficcionais e viagens não ficcionais; mas sim aquela que diferencia entre
'histórias de viagens' (de modalidade factual) e romances de viagens (de
modalidade ficcional) nos quais teriam lugar os romances de aventura, a ficção
científica, as utopias, etc. A distinção que, ao diferenciar as viagens não
ficcionais (nomeadamente, as viagens científicas ou naturalistas) das ficcionais,
divide estas últimas em “viagens imaginárias” – ligadas a uma estrutura fictícia
– e “viagens realistas”.
De acordo com esta classificação, as ‘histórias de viagens’ são consideradas
“livros de viagens de ficção realista” o que representa, do nosso ponto de vista,
uma abordagem pouco esclarecedora que tende, em última análise, a
considerar o facto literário exclusivamente do lado da ficção. O diagrama
apresentado abaixo ilustra a posição da 'história de viagem' (factual/não
ficcional/literária, beirando a história) em relação aos romances de viagem
(fictícios/literários) e seus correspondentes limites (tudo frágil como você
quiser) entre, em por um lado, a história/documentário e as “histórias de
viagem” e, entre estas últimas, os romances de viagem, por outro.

HISTÓRIA

Literatura factual histórias de viagens


DE
VIAGENS Ficcional romances de viagem

IDADE MÉDIA E HUMANISMO

Alguns estudiosos da literatura de viagens na Espanha focaram na Idade


Média como um período especialmente fecundo para obras deste gênero.
Devemos a López Estrada obras pioneiras que abriram caminho para uma

7 1460b.
8 Carrizo Rueda (1997).

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território ainda por explorar na década de setenta9 O texto.da Embaixada em Tamorlán


( século XV) constitui, na esteira do Livro das Maravilhas do Mundo de Marco Polo ( século
XIV), a 'história de viagem' por excelência, que recebeu solvente estudos e edições10.
Missões diplomáticas, de reis ou pastores da Igreja, viagens comerciais, peregrinações, são
os principais motivos que empurram os viajantes para as suas viagens e histórias
subsequentes.

Ainda estamos diante de um gênero em formação. É por isso que encontramos algumas
crónicas do final da Idade Média que contêm in nuce algo como pequenas 'histórias de
viagens' que em algumas ocasiões descrevi como micro-histórias, como é o caso da Crónica
Abreviada de Espanha (1482) de Diego de Valera11. Disse ali que essas crônicas medievais
do século XV, de origem historiográfica, sugeriam certos traços da modernidade que mais
tarde se cristalizariam nas crônicas das Índias. Em primeiro lugar, a presença do self como
um novo argumento de autoridade que foi projectado no uso da primeira pessoa e, em
segundo lugar, um desejo claro de reflectir a realidade tal como ela é, uma atitude pouco
comum nos escritores medievais, para quem a observação de a realidade era geralmente
limitada ao uso literário. Estas particularidades (a história de uma viagem efectivamente
realizada, o seu testemunho e a descrição objectiva da mesma) típicas das ‘histórias de
viagens’ medievais, têm muito a ver com esta tradição das crónicas de que tenho falado.

Em alguns trechos da Crônica Abreviada da Espanha, de Diego de Valera, essas


características são percebidas, principalmente quando ele narra suas viagens em missões
diplomáticas, nas quais se refere a países e lugares que visitou e que conhece em primeira
mão. Como também acontecerá posteriormente com as crônicas das Índias, o viajante/
narrador utilizará os recursos da retórica clássica que, ao fornecer esquemas e temas
compositivos, facilitará a apresentação das novidades recém-descobertas nas viagens. A
relação entre ambos os géneros, crónicas e ‘histórias de viagem’,

9 Ver Albuquerque (2006).


10 Muitos outros livros de viagens da época enquadram-se mais apropriadamente no domínio da
ficção. É o caso da Fazienda de Ultramar, de meados do século XII (cuja tradução espanhola se situa no
primeiro terço do século XIII), um guia peculiar para os peregrinos da Terra Santa com um viés
claramente livresco; o Livro do conhecimento de todos os reinos, terras e senhorios que existem no
mundo, escrito por volta de 1350 por um franciscano anônimo; o Livro do Infante D. Pedro de Portugal,
atribuído a Gómez de Santisteban, de que normalmente se destaca o carácter fabuloso das suas
aventuras, escrito no século XIX, cujas versões conhecidas são do século XVI, ou as traduções do Livro
de Maravilhas de Juan de Mandeville (segunda metade do século XIV). Um caso intermediário encontra-
se no já citado Andanças e Viajes por Diverso Parts del Mundo, de Pero Tafur, escrito por volta de 1454,
caracterizado como um conto de aventura com certo parentesco com os romances de cavalaria da época.

11
Albuquerque (2011).

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Também se manifestará na medida em que as técnicas composicionais dos primeiros


servirão de inspiração para os segundos12. É claro que algumas “histórias de viagens” são
Apropriam-se de certos procedimentos das crônicas.
Embora na crônica de Diego de Valera seja apenas um começo testemunhal, já
representa um novo modo de autoridade que rivaliza com
o dos clássicos. Embora o peso da tradição e das tradições prevaleça
autoridades que legitimam o aparecimento do maravilhoso na crónica, também o “eu”,
insisto, se destaca como uma autoridade que compete ao mesmo nível que a dos
clássicos. Esta parte da crónica de Valera, em que ele próprio se refere aos locais que
conheceu, funciona da mesma forma.
que as 'histórias de viagens' da Idade Média, caracterizadas por deixar
passagem para uma geografia mais ajustada à realidade. Em outras palavras, a
geografia acadêmica, com toda a sua carga de maravilhas e fábulas, está começando a parecer
de certa forma questionada pelo peso da “realidade” que o
'histórias de viagem' e crônicas, como a de Valera, que a incluem dentro de si.

Ao fazer uma descrição geográfica do mundo, por exemplo, a narração às vezes


assume que a primeira pessoa fala sobre países e regiões.
que o autor conhece diretamente. A intenção didática desta composição se sobrepõe
ao desejo de protagonismo do autor que projeta o desejo
ser reconhecido por seus feitos, façanhas e aventuras. Esse sublinhado testemunhal
provoca digressões, desliza a história para o descritivo
e incentiva o uso de figuras retóricas como a evidencia ("colocar diante do
olhos").
Outro exemplo cronologicamente anterior de uma crônica peninsular incrustada de
'histórias de viagens' é encontrado na Crònica de Ramón
Muntaner ( século XIV) em que as experiências pessoais assumem grande
parte de suas histórias. Teremos que esperar por López de Ayala ou Diego de
Vale a pena encontrar histórias autênticas em que o 'eu' adquire um
tão notável destaque. Grande parte da crônica é organizada em torno
as viagens que o cronista fez ao longo de sua agitada vida: ficar
em Paris com a comitiva de Pedro o Grande, participação ativa com o
tropas dos Almogávars de Roger de Flor pelas terras do Levante e, agora
no comando deles, viajou por todo o Mediterrâneo, permanecendo sete anos no Oriente.
Em todas as suas histórias a intenção de
"ver" para "contar". Naquelas partes que podemos considerar autênticas ‘histórias de
viagem’, apenas se conta o que ele “viu”, a “vera veritat”:

12
López Estrada (1984: 134-135) aponta a coincidência, na forma de oferecer a
itinerários, entre a Embaixada em Tamorlán e a Crônica de Juan II. Especificamente, o caminho
do infante Dom Fernando de Córdoba a Antequera da citada crônica é utilizado como
padrão narrativo no texto da Embaixada.

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Muntaner sente a eficácia persuasiva do eu com o qual ele endossa sua narrativa e de uma vez por todas
novamente ele a faz servir. Mesmo agora estamos impressionados com a eficácia do
procedimento, embora não vejamos nele nada mais do que um truque estilístico inteligente. Para o
primeira audiência da Crônica, o recurso tinha que ter uma energia de convicção, um
alcance incisivo, que já não sabemos imaginar. Normalmente, a “história” não chegava às
pessoas através de um canal tão certificado: tão certo. Na Crônica
Eles encontraram a música mais forte que poderiam desejar, porque tudo veio
emoldurado com frases de confiança (Fuster, 1970: XIV).

Curiosamente, a parte da crónica dedicada à viagem guerreira através


Oriente foi publicado isentamente por Blasco Ibáñez na coleção
"Prometheus" sob o título Os Almogávars em Bizâncio e, já nos anos
anos sessenta, na editora Feltrinelli foi publicado como livro de bolso com o
título La spedizione di catalani in Oriente, que credencia o status de
'história de viagem' de algumas de suas passagens mais memoráveis.
Os dois procedimentos assinalaram, o sublinhado do “I” como novo
autoridade sobre os clássicos e uma vontade cada vez mais acentuada de
refletem a realidade de forma direta (o autor/narrador é uma testemunha
exceção), será realçado posteriormente em algumas crônicas indianas. Quero centrar
novamente a minha atenção13 em alguns em particular, que respondem a características
que coincidem com as do género em questão :
diário das viagens de Colombo , suas Cartas aos Reis, As Cartas de Relacionamento
de Hernán Cortés, os Naufrágios de Alvar Núñez Cabeza de Vaca, A Verdadeira História da
Conquista da Nova Espanha de Bernal Díaz del Castillo ou a primeira parte da Crônica do
Peru de Pedro Cieza de León.
Essas crônicas, como me lembrava então, relatam a viagem e
transmitir as impressões recebidas da descoberta do Novo Mundo
em textos de indubitável valor literário e incluídos na maioria dos
as histórias da literatura na seção “Historiadores das Índias”.
A identidade entre o autor, o narrador e as instâncias do personagem emerge como
um dos pilares desses textos. Lembremo-nos de como Colombo em seu Diário
usa repetidamente a primeira pessoa e usa o verbo 'ver' para
fortalecer a autoria do que é relatado. Alvar Núñez, no proêmio dos Náufragios, justifica a
narração dos acontecimentos também como testemunhos em primeira pessoa e encerra o
proémio com uma declaração de autenticidade: «O
que escrevi com tanta certeza, que embora alguns sejam lidos nele
coisas muito novas, e para alguns muito difíceis de acreditar, podem sem dúvida
acredite neles; e acredite, de fato, que sou em todas as coisas mais curto do que longo, e
para isso bastará tê-lo oferecido a Vossa Majestade como tal"14.
Notemos também que a descrição funciona como elemento configurador do discurso,
ao qual se soma o fato de que nestas crônicas de
Índias, o que foi descoberto responde a uma novidade absoluta. Você poderia dizer isso,

13 Como já fiz em Alburquerque (2008a).


14
Em Albuquerque (2008: 14).

Revista de Literatura, 2011, janeiro-junho, vol. LXXIII, nº 145, 15-34, ISSN: 0034-849X
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A 'HISTÓRIA DE VIAGEM': MARCOS E FORMAS NA EVOLUÇÃO DO GÊNERO 25

Através de uma análise detalhada das descrições, vislumbramos uma


dimensão que ultrapassa o literário, a rigor, e da qual
Deve ser realizado com as ferramentas linguísticas então disponíveis.
Os cronistas encontram-se, como sabemos, com uma realidade completamente nova e
com recursos logicamente limitados à sua formação.
cultural e intelectual.
Parece evidente que los signos paratextuales, como apuntábamos al
início, atuam nesses textos de certa forma como um correlato de seus
factualidade, explicitam a autenticidade do seu conteúdo (como as explicações e
justificações dos prólogos) ou são usados como estrutura para
as histórias: as cronologias dos diários de Colombo, as epígrafes dos
capítulos dos Naufrágios, os títulos das Relações de Cortés
ou, finalmente, as enumerações e listas que acompanham alguns deles,
como aquele ligado ao fim do primeiro relacionamento.
A intertextualidade também se reflete nesses textos como uma característica do
gênero. Assim, as histórias bíblicas, os romances e novelas que faziam parte da cultura
tradicional, os romances de cavalaria ou alguns
textos legais como Os sete jogos são leituras que são, conscientemente
ou inconscientemente, presente. A intertextualidade permeia as crônicas e
constitui uma das particularidades textuais mais interessantes: fala da
forma de ver o outro, da cultura, da tradição e da psicologia,
que funcionará como um filtro para o conhecimento dos outros.
Uma exposição mais detalhada sobre a relação entre as crônicas de
As Índias e as 'histórias de viagens' nos levariam a refletir sobre o alcance formidável
da figura da descrição15. Aqui quero apenas lembrar a transcendência que esta figura
realmente alcança, que vai além de uma mera
consideração estilística e sugere aspectos mais profundos.
Apesar da tradição livresca que pesa nas histórias desses descobridores, vislumbra-
se uma vontade gradual de descrever com certa fidelidade o que foi observado. Atrevo-
me a afirmar – em linha com algumas reflexões sobre outro propósito do grande
antropólogo John Howland Rowe (1965) –
que, gracias a estos viajeros y exploradores del Nuevo Mundo y a la cola-boración de
humanistas como Nebrija o Mártir de Anglería, se acelera un
mudança de paradigma que resumo da seguinte forma: se a antiguidade clássica
considerava que para nos compreendermos melhor era necessário estudar-nos melhor,
com estas 'histórias de viagem' da descoberta começa a consideração de que para nos
compreendermos melhoramos
nós mesmos é necessário estudar melhor os outros.
Ignoramos agora as ligações entre as “histórias de viagens” (género
fronteira) com o resto dos gêneros limítrofes na idade de ouro (romance

15 Já preparei uma análise nesse sentido no artigo, ainda no prelo, intitulado «Crónicas
das Índias e histórias de viagens: uma miscigenação genérica.

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romance sentimental, bizantino, romance de cavalaria e, sobretudo, romance


picaresco), que nos levaria muito longe e a cuja consideração, como já disse,
dediquei um artigo16.

DO ILUMINISMO AO SÉCULO XX

Durante a primeira metade do século XVII , ocorreram dois acontecimentos


de enorme importância para a consolidação do gênero. Em primeiro lugar,
foram criadas em Inglaterra as condições necessárias para o fenómeno que
conhecemos como Grand Tour, que incentivou a vontade de conhecimento
através de viagens pela Europa. Em segundo lugar, a publicação em 1625 do
ensaio On Travel de Francis Bacon , cujas considerações tiveram clara
influência na literatura de viagens estimulada pelo Grand Tour.
Teremos que esperar até a segunda metade do século XVIII para descobrir
outra reflexão sobre a literatura de viagens que mais uma vez contribui para
a consolidação do gênero: o Emílio de Rousseau (1760) continha o ensaio
Sobre a Viagem, cuja influência na Europa não foi menor que a de Bacon. .
As contribuições teóricas a respeito das viagens (às 'histórias de viagem' no
sentido em que as tomamos aqui) atingem sua máxima consideração no
artigo Viagem da Enciclopédia de Diderot e D'Alambert, que estabelece a
viagem como um fato fundamental na instrução. dos jovens17.
Señala Arbillaga la influencia de estos textos en la gestación del ensayo que
Cadalso incluyó dentro de Los eruditos a la violeta, titulado «Instruc-ciones
dadas por un padre anciano a su hijo que va a emprender sus via-jes» (1772),
en el que el autor aconseja, entre otras cosas, «anotar cada noche lo
observado durante el día y, lo más importante, evitar los pre-juicios que el
joven traiga de su nación», lo que confirma algunas de las premisas del
género comentadas hasta o momento.
A viagem durante o Iluminismo torna-se um elemento nuclear na formação
dos jovens. A curiosidade pelo conhecimento do outro que se notava no
Renascimento consolida-se hoje como um facto assumido com absoluta
naturalidade. As viagens científicas e de formação tornam-se os canais
fundamentais através dos quais essas histórias fluem. Os primeiros foram
utilizados para criar grandes coleções naturalísticas cujo estudo ainda é
válido com um grande número de obras. Estas últimas enquadram-se
diretamente nas “histórias de viagens”.
Nessa época, autores como Antonio Ponz e sua Viagem à Espanha
(172-1774) se destacaram na prática do gênero, cujo acentuado desequilíbrio
em direção ao descritivo em relação à narrativa o aproximou de um certo

16
Albuquerque (2005).
17
Ver, para esta questão e para todas as relacionadas com o Grand Tour e a ‘Viagem
a Itália’ em Espanha, o trabalho documentado de Arbillaga (2005).

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A 'HISTÓRIA DE VIAGEM': MARCOS E FORMAS NA EVOLUÇÃO DO GÊNERO 27

ou seja, guias de viagem. De teor igual ou semelhante são a Viagem Literária às Igrejas da
Espanha, de Jaime Villanueva ou o resumo do
Viagem Ponz feita por Conca. Mais uma vez o carácter fronteiriço destas histórias é óbvio. Se
um texto como o evocado por Ponz é
descompensa a ponto de quase anular o fio narrativo minimamente exigido
para atingir a condição de história, ela se afastará, por excesso de descrição,
do gênero como tal. Seria necessário estudar mais detalhadamente em que momento
a fronteira genérica é encontrada. O fio narrativo nunca pode desaparecer. Nesse caso,
estaríamos diante das “histórias de carimbo”, às quais
aos quais aludiremos mais tarde, que eliminam qualquer indício de narração.
Jovellanos ou Leandro Fernández de Moratín se destacam na prática
do gênero que, durante o século XVIII, abriga as formas de notas, diários, memórias e cartas.
As Cartas de Jovellanos contêm autênticos tesouros em termos de “histórias de viagens”. Das
dez cartas para Antonio Ponz
A primeira, especificamente, narra uma viagem de Madrid a Leão; a segunda
contém uma descrição do convento de San Marcos; o terceiro conta um
viagem de Leão a Oviedo; a oitava parece um afresco de costumes e
tradições folclóricas do povo asturiano. Alguns estudiosos do século XVIII consideram que As
Dez Cartas a Don Antonio Ponz são as mais
parte valiosa do trabalho de Jovellanos. Algo semelhante acontece com o Diário, embora neste
caso possa ser considerado no seu conjunto como uma autêntica 'história de viagem' que
Jovellanos fez por diferentes regiões espanholas como forma de
de Itinerários nos quais você anota incidentes diários, lugares visitados
e omni re scibili, conforme as circunstâncias aconselharam. Destaca o
o rigor das descrições, o rigor com que os factos são colocados e
a sensibilidade com que a natureza é desenhada. Não é em vão que o seu estatuto de precursor
das 'histórias de viagem' de 98 foi destacado ao comparar
o detalhe de suas descrições de paisagens com as de mestres como
Azorín.
E o mesmo se pode dizer das “histórias de viagem” de Leandro Fernández de Moratín, que
constam das suas Obras Póstumas em forma de notas e cartas. Julián Marías (1963: 107)
comenta a sua importância de uma forma
eloquente:

Com ele deixou, se não me engano, a possibilidade de que a literatura espanhola do


O século XIX teria sido totalmente autêntico, não afetado por uma doença oculta
que a impedia de ser como os franceses ou os ingleses, como fora no século
Ouro, como deveria ser novamente desde 98 [...] o documento - se a expressão é
válida - que prova que esta é justamente a prosa deste Moratín de sua autoria
viagens. Aí vemos o que poderia ser a prosa espanhola, o que deveria ter sido.
e não foi. Se ele tivesse seguido esses caminhos, teria poupado meio século de
maneirismo, dengue, clichês, afetação, insinceridade, enfim.

As “histórias de viagens” mais conhecidas e difundidas da época são as


Cartas de família do Padre Andrés. Dirigido ao seu irmão Carlos em seu

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28 LUIS ALBURQUERQUE-GARCÍA

no caminho de volta de Mântua foram publicados em primeira instância sem


sua permissão, embora o volume seguinte já tenha aparecido com seu consentimento. Duas
traduções foram feitas imediatamente na Alemanha e outra na
Itália, o que explica a sua projeção na época.
Além de cartas, diários, memórias, etc., no século XVIII existem muitos
viagens à Itália que intelectuais esclarecidos nos deixaram na forma de
coleções de 'histórias de viagens' e que merecem atenção. Entre eles
Os destaques incluem A Viagem à Itália de José Viera y Clavijo, as Cartas de Família da
Itália do próprio Padre Andrés e A Viagem à Itália de Leandro Fernández de Moratín, que
terá continuidade no século seguinte.
Em suma, a 'história de viagem' ilustrada está imersa no contexto de formação e
instrução que tem como objetivo o professor .
principal. Trata-se de conhecer outras culturas, outras pessoas, outras cidades,
outras naturezas - Rousseau aconselhará em Emilio - A viagem é feita
necessário dentro da cultura esclarecida como meio indispensável de educação e sua
história será o precipitado do conhecimento acumulado através
através da experiência de viagem. As formas que a “história de viagem” assume não têm
mais a ver principalmente com relacionamentos, crônicas ou
embaixadas de séculos anteriores, mas com as memórias, as notas, o
cartas, os jornais, a imprensa. O gênero se metamorfoseia em outros moldes
diferentes daqueles da Idade Média e do Renascimento, mantendo sua
mecanismos básicos: são viagens reais narradas posteriormente com
uma vontade descritiva clara e um sentido de testemunho profundamente enraizado
como argumento do “eu” que se estabelece naturalmente em seu maquinário narrativo.

O viés romântico deixará sua marca neste gênero ao converter o


voz do autor/narrador numa instância decisiva. Como Huenen (2008: 40) correctamente
assinalou, durante o século XIX a literatura de viagens
sofreu importantes mudanças na forma e no conteúdo "devido a uma inversão na sua
relação com a literatura simples: a narrativa deixa de ser
uma sequência da viagem para se tornar sua justificativa. A jornada se instala
totalmente dentro dos limites da literatura e dos viajantes
Tornam-se cada vez mais intercambiáveis com a figura do escritor.
É claro – insistimos – que a literatura ficcional de viagens, tão abundante no período
romântico, não partilha o quadro genérico da “história”.
de viagem", como propusemos. É verdade que partilha procedimentos – como não poderia
ser de outra forma – mas está enquadrado no
lado da ficção. Pelo contrário, não é incomum a pseudo-história de viagem ou viagem
artístico-literária, modalidade romântica onde a descrição se impõe de tal forma à
componente narrativa que neutraliza
sua própria condição de história. A História dos Templos de Espanha (cuja
primeiro e único volume é o referente a Toledo) de Bécquer ou os escritos
que Galdós também dedicou à cidade do Tejo, pertenceria a este tipo

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de obras “imóveis”, mais próximas de pinturas de costumes ou de “histórias-gravuras” do


que de qualquer outra coisa18.
A “história de viagem”, lembramos, contém um tema de dupla experiência: viagem e
escrita. É um sujeito de dupla instância: um sujeito viajante, individual e insubstituível que,
além disso, escreve essa experiência. Dele
o status ficcional é certamente peculiar. É sobre o homem de carne e
osso, sem a mediação de qualquer outro tipo de voz imaginária. O leitor
suspende sua capacidade de descrença e aceita como não-ficcional o que
o sujeito narra, embora às vezes recorra ao ficcional (sem prejuízo do
credibilidade), mas sempre com o objetivo de garantir verossimilhança. O
A identidade completa do narrador/autor é projetada no leitor na forma de um
compromisso semelhante ao exigido pelo “pacto autobiográfico”.
O fato é que o gênero goza de extraordinária vitalidade durante
XIX e fortalece a figura do viajante cada vez mais identificado
com a do escritor. Tal como no século anterior, as viagens faziam parte
da formação do indivíduo que de alguma forma foi pressionado à sua
realização, agora a própria história se torna - como lembra Le Hue-nen - a primeira condição
da jornada, em vez de ser o resultado ou um dos
suas possíveis consequências19.
A ‘história de viagem’ também se torna, segundo o mesmo autor (2008:
43), num gênero ao qual alguns escritores se dedicam, pelo menos
na França: «A entrada na literatura da história de viagem é, portanto, a oportunidade que a
literatura tem de reivindicar a autonomia do seu espaço significativo e das suas práticas,
bem como dos dispositivos que são o seu
próprio na produção de sentido.
A tipologia, como vemos, é variada e os autores e obras são tão numerosos em
Espanha como no resto da Europa. O gênero é totalmente
enraizado no século XIX e o interesse por este tipo de trabalho é crescente.
A lista é imensa. Para me referir apenas aos mais conhecidos, cito como botão
São exemplos: o Duque de Rivas (Viagem ao Vesúvio ou Viagem
às ruínas de Pesto), Galdós (Viagem à Itália, Memórias da Itália, Quarenta Léguas pela
Cantábria, etc.), Amós de Escalante (Do Ebro ao Tibre),
Pedro Antonio de Alarcón (De Madrid a Nápoles, La Alpujarra), Mesone-ro Romanos
(Memórias de viagem pela França e Bélgica), Emilia Pardo Ba-zán (Pela França e
Alemanha), etc., etc. Vicente Blasco Ibáñez e Valera
Destacam-se pelas crônicas jornalísticas das viagens compiladas posteriormente
em forma de histórias. É o que acontece com o primeiro em Paris (Impressões de
um emigrado) 1890-1891 e No país da arte. (Três meses na Itália),
embora este não seja o caso de A Novelist's Around the World , um dos
as obras mais valiosas do autor.

18 Ver Rubio Jiménez (1992).


19
Le Huenen (2008: 43).

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As Cartas da Rússia de Valera , por sua vez, são um exemplo memorável de uma
'história de viagem' em que, além do molde epistolar em que
destacado por seu autor com verdadeira maestria, fica evidente o processo de
intertextualidade, uma das características mencionadas no início como típica do
gênero. Para Romero Tobar (2005: 150) Cartas de Valera da Rússia
Estão relacionadas com as cartas escritas alguns anos antes pelo Marquês de
Custine: «Mas o leitor de ambas as viagens não pode ficar impassível
“diante do que, legitimamente, deve ser lido como mais um caso de funcionamento da
reescrita em livros de viagem”.
Muitas destas histórias citadas acima abrirão caminho para a literatura itinerante de
98, que você encontrará em alguns desses autores - creio eu
em Alarcón, por exemplo – um verdadeiro precursor. Arbillaga (2005: 375)
lembre-se de como De Madrid a Nápoles (1861) foi o livro de viagens mais lido
na Espanha no século XIX: «É essencial para este estudo que o
A obra de viagem mais lida na Espanha do século 19 era um livro de viagens
pela Itália, o que não deixará de surpreender os críticos europeus mal informados que
ainda desconhecem a contribuição espanhola para esta tradição, ou que
talvez ele saiba disso e o exclua injustificadamente. Os artigos publicados
publicados na imprensa periódica e posteriormente recolhidos gratuitamente, deram origem
a muitas das «histórias de viagens» da época. Jornalismo e
No século XIX , a literatura teve um dos seus pontos de encontro precisamente na literatura
viática e Alarcón não escapa a esse facto20.
Não é possível passar para o século XX sem perceber a influência das 'histórias de
viagem' da geração de 98. Ainda está por fazer, que eu
sabemos, um estudo global que analisa o desenvolvimento e a importância
gênero na década de noventa e na produção posterior. «As notas de caminhar
e ver. Viagens, pessoas e países", de Ortega y Gasset, deu o tom teórico para grande
parte dos escritos de viagens da primeira metade do século XX .
Espanhol.
Para Ortega, a união do homem e da natureza através da paisagem constitui uma
forma de ver a realidade em que ambas as instâncias (homem e meio ambiente) atuam
metonimicamente. As 'histórias de viagem' de Una-muno, Baroja ou Azorín não são bem
compreendidas sem esta teoria da paisagem
mal esboçado. Falar do homem implica necessariamente referir-se ao
médio e vice-versa21. O homem é a sua paisagem e isso, sem isso, é matéria
inerte, desumanizado. O eu e a circunstância ortegiana assumem uma
dimensão de enorme significado nas 'histórias de viagem' de 98 que serão
singularmente incorporada pelo brilhante trabalho itinerante de Cela. A figura

20
Uma revisão detalhada através da modalidade ‘história de viagem’ à Itália pode
pode ser consultado no citado trabalho de Arbillaga (2005), que mostra o vigor que
adquiriu o gênero ao longo do século XIX.
21 O tema é abordado com mais detalhes por Pozuelo Yvancos (1991: 22).

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de Ciro Bayo se destaca nesse panorama por atuar como uma dobradiça, lembremos seu
Peregrino divertido (viagem romântica) publicado em 1910, entre 98 e
a obra que acabamos de mencionar de Camilo José Cela.
A grande contribuição de Ciro Bayo ao gênero está na incorporação do “romance” a
uma história muito próxima do documentário.
Bayo, sem abrir mão dos elementos essenciais do gênero, aproxima-o do
fronteiras do romance, apropriando-se de alguns de seus recursos e tendo
transformou certos elementos da narrativa em fictícios, sem prejudicar sua modalidade
factual. O género expandiu os seus limites, preparando-se para uma renovação que terá
o seu máximo aproveitamento na literatura de viagens de Cela e em toda a tradição
subsequente22. De
novo, o caráter lábil dessas histórias emerge à medida que elas podem deslizar em direção ao que
fictício sem perder seu status factual. Ninguém fica surpreso que Bayo ou
Eles sublimem personagens ou objetos ou às vezes até os inventam. Continuamos no
plano factual (a viagem efetivamente realizada) que
Incorpora o ficcional como outro ingrediente.
Não podemos ignorar o género de “histórias de viagens” sociais
da Espanha do pós-guerra. Juan Goytisolo (Campos de Níjar), Armando
López Salinas y Ferres (Caminhando pelas Urdes), Antonio Ferres (Tierra de Olivos) ou
Grosso y López Salinas (Descendo o rio), são alguns
dos nomes essenciais do gênero, que contribuiu com um número significativo de obras.

A lista de autores contemporâneos de ‘histórias de viagens’ é imensa: Javier


Reverte23, Manuel Leguineche, Julio Llamazares, Juan Pedro
Aparição, José Maria Merino, Manuel Lope, Luís Mateus Ten, Antonio
Muñoz Molina, Lorenzo Silva, Alfonso Armada, Rafael Argullo, Jordi
Carrión, representam apenas uma pequena parte dos viajantes que nos transmitiram
suas histórias24. Champeau (2004) oferece uma tipologia do gênero a partir de
início do século XX a autores como Luis Mateo Díez ou Alfonso
Marinha baseada na diversidade no que diz respeito à jornada única consagrada pela
autores como Cela e mantida ao longo do século passado. Em consonância com o seu
monitoramento fornece conclusões muito consistentes com o nosso propósito: «Um
uma visão panorâmica de mais de um século de literatura de viagens prova
uma evolução no sentido de uma maior interligação das obras, de uma
maior homogeneidade e purificação, uma subordinação dos componentes documental e
ensaístico à narração e o quase desaparecimento de
os traços de escrita típicos dos discursos do conhecimento.

22 Ver Albuquerque (2008).


23
Existe até um volume editado por Julio Peñate (2005) dedicado ao trabalho de viagens
quem é o autor
24
Um interessante seguimento de autores e histórias de viagens das últimas décadas do
O século XX pode ser visto em María Rubio (2004).

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Nos últimos anos, a literatura de viagens também absorveu aspectos


ligados ao pós-modernismo e ao mundo globalizado. Neste contexto,
abundam as “metanarrativas de viagem”. Jordi Carrión (2007: 33) dá as
chaves dos caminhos percorridos pelo gênero pós-moderno de ‘história de
viagem’:

O metaviajante da nossa última pós-modernidade não vai, ele retorna (por isso devemos
entenda os livros da virada do século de WG Sebald, Juan Goytisolo ou Cees
Nooteboom), ou quando você vai pela primeira vez, a informação prévia acumulada é
tal que na sua experiência há menos conhecimento do que reconhecimento (os relatos
de Martín Caparrós ou David Foster Wallace, por exemplo). A viagem é
Corre paralelamente à dos viajantes anteriores, como sempre aconteceu; mas
Pela primeira vez a estrutura semiótica está saturada de textos e linguagens,
para que a distância irônica, tanto em relação aos precursores quanto à própria
possibilidade de compreensão da realidade que se visita, torne-se uma premissa
inevitável da inteligência em movimento. Os filtros tornam-se problemáticos. ELE
explicitar o testemunho, a leitura, o intérprete, a língua franca (inglês,
geral) ou fatores contextuais. No fundo, como horizonte de toda arte
viagem do nosso tempo, a dificuldade acrescentada
a globalização.

CONCLUSÃO

As três características nucleares indicadas no início da exposição podem


ser esquematizado em três binômios a que me referi em trabalhos anteriores25:
factual/ficcional, descritivo/narrativo e objetivo/subjetivo. De acordo com
o que foi dito, e com relação ao primeiro binômio, se o equilíbrio textual pender
Do lado ficcional (dependendo do grau em que é feito), afastamo-nos do
género em si (é o caso dos romances de viagem).
na forma de aventuras, ficção científica, utopias, etc.). Sim no casal
descritivo/narrativo o segundo termo do par domina o primeiro
Também nos distanciamos do descritivo, um dos pilares destes
histórias. Pelo contrário, se o descritivo invade completamente a cena,
encontramos os casos já mencionados ( As Viagens de Ponz no século XIX)
XVIII, histórias carimbadas do século XIX) em que por excesso de descritivo
nos desviamos do esquema genérico (os guias de viagem exemplificariam isso
caso extremo). Quanto ao terceiro binômio, objetivo/subjetivo (ligado
muitas vezes a uma certa carga ideológica), acontece algo semelhante:
Se o subjetivo for valorizado em detrimento do objetivo, gradualmente nos
afastaremos do modelo. Na medida em que a história se torna pura
A subjetividade sai do quadro genérico. Outra coisa é que o subjetivo
prevalece sem diminuir os elementos testemunhais (como acontece,
por exemplo, com as histórias ensaísticas de viagens dos escritores de 1998).

25 Ver Albuquerque (2009).

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A 'HISTÓRIA DE VIAGEM': MARCOS E FORMAS NA EVOLUÇÃO DO GÊNERO 33

Ou seja, a hipertrofia dos aspectos ficcionais em detrimento do factual, do


subjetivo em detrimento do objetivo e do descritivo em detrimento da narrativa,
enquadraria-se por defeito (do factual e do objetivo) e por excesso (do
descritivo) dos limites do gênero. Estes binômios, aliados aos esclarecimentos
feitos sobre a importância dos aspectos paratextuais e intertextuais, podem
facilitar a classificação da variada gama de obras que se enquadram no
gênero 'história de viagem'.
Concluo voltando ao início. Ainda penso que a definição que expliquei
naquele artigo a que aludi no início pode basicamente continuar a servir com
alguns esclarecimentos que agora estão em itálico (Alburquerque, 2006: 86):

O gênero [das histórias de viagem] consiste em um discurso factual que se modula por ocasião
de uma viagem (com seus correspondentes marcos de itinerário, cronologia e lugares) e cuja
narração está subordinada à intenção descritiva, o que confere ao gênero uma certa dose do
realismo. Geralmente adota a primeira pessoa (às vezes a terceira), o que sempre nos remete à
figura do autor como testemunha dos acontecimentos e aparece acompanhado de certas figuras
literárias que, embora não sejam exclusivas do gênero, pelo menos o determinam. . [...] As
marcas da paratextualidade (como correlato da modalidade factual) e da intertextualidade são
típicas, embora logicamente não exclusivas, dessas 'histórias de viagens'. Não há dúvida de que
os limites deste gênero não têm contornos claros. Ressalte-se, porém, que, em suas sucessivas
manifestações, os limites do gênero adquirem contornos mais definidos. Ou seja, embora as suas
origens pareçam mais evanescentes, podemos propor características que o distinguem de outros
géneros vizinhos e que o estabeleceram ao longo do tempo. Caso contrário, é normal. Nenhum
gênero começou sua jornada como tal. Só com o passar do tempo estaremos em condições de
nomear algo que já tem um histórico sólido.

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Data de recepção: 19 de janeiro de 2010


Data de aceitação: 8 de setembro de 2010

Revista de Literatura, 2011, janeiro-junho, vol. LXXIII, nº 145, 15-34, ISSN: 0034-849X
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Revista

Literatura
Volume 73 Nº 145 Janeiro a junho de 2011 368 páginas ISSN: 0034-849X

Resumo Apresentação
Alburquerque-García, Luis.—Teoria e história em relatos de viagem.
Estudos
Alburquerque-García , Luis.—'A história de viagem': marcos e formas na evolução do gênero.
'Narrativa de viagem': marcos e formas na evolução do gênero.
García Barrientos, José Luis.—Teatro de viagem? Paradoxos modais de um gênero literário.
Teatro de viagem? Paradoxos modais de um gênero literário.
Rubio Martín, María.—Nos limites do livro de viagens: sedução, canonicidade e transgressão de um gênero.
Na fronteira com o livro de viagens: sedução, cânone e transgressão de gênero.
Carrizo Rueda, Sofía.— Viagens infantis. Perigos, mitos e espetáculo.
Viagens infantis. Perigos, mitos e espetáculo.
Guzmán Rubio, Federico.—Tipologia da história de viagem na literatura latino-americana: definições e desenvolvimento.
llo.
Tipologia de contas de viagens latino-americanas: definições e desenvolvimento.
Pérez Priego, Miguel Ángel.—Encontro do viajante Pero Tafur com o humanismo florentino do primeiro século XIV.
eles.
Encontro entre o viajante Pero Tafur e o humanismo florentino do século XV.
Rodríguez Temperley, María Mercedes.—Impressão e crítica textual: a iconografia do Livro das Maravilhas do Mundo de Juan de Mandevilla .

Impressão e crítica textual: a iconografia no Livro de las maravillas del mundo de John Mandeville.
Arellano, Ignacio.—O motivo da viagem nos autos sacramentales de Calderón, I: viagens mitológicas.
O motivo da viagem nas peças sacramentais de Calderón, I: as viagens mitológicas.
Madroñal Durán, Abraham.—Sobre La doncella Teodor, uma comédia de viagens de Lope de Vega.
Sobre The Virgin Theodore, uma comédia de viagens de Lope de Vega.
Farré Vidal, Judith. — Festa e poder na Viagem do Vice-Rei Marquês de Villena (México, 1640).
Celebração e poder em A viagem do vice-rei marquês de Villena (México, 1640).
Uzcanga Meinecke, Francisco.—O relato de viagem na imprensa do Iluminismo: entre a prodesse et delectare e o
instrumentalização satírica.
O diário de viagem na imprensa do Iluminismo: entre prodesse et delectare e o uso instrumental satírico.
Romero Tobar, Leonardo.— Imagens poéticas em textos de viagens românticas ao Sul da Espanha.
Imagens poéticas em escritos de viagens românticas ao sul da Espanha.
Peñate Rivero, julho.—Viajantes espanhóis pela Europa nos anos quarenta do século XIX: três formas de compreensão
a história da viagem.
Viajantes espanhóis pela Europa na década de 1840: três formas de compreender a literatura de viagens.
Carrión, Jorge. — O viajante franquista.
O viajante pró-franco.
Almarcegui, Patricia.—O outro e seu deslocamento na literatura de viagem mais recente.
O outro e seu deslocamento na literatura de viagem mais recente.
Champeau, Geneviève.—Texto e imagem na Espanha de sol a sol por Alfonso Armada.
Texto e imagem na Espanha de sol a sol de Alfonso Armada.
Bibliografia
Simón Palmer, María del Carmen.—Notas para uma bibliografia do percurso literário (1990-2010).
Notas para uma bibliografia do percurso literário (1990-2010).

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