Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Relatório Final
PIBIC, PIBIC-AF, PIBITI e PIBIC-MS
<Observação: Favor não alterar o layout desta página de rosto. Apenas preencha os dados nos campos
solicitados. A partir da segunda página estão os demais itens do modelo a serem preenchidos.>
ESTUDANTE IC
(Digitar nome completo, sem abreviações).
ORIENTADOR (A)
(Digitar nome completo, sem abreviações).
Salvador,Bahia
agosto /2018
INTRODUÇÃO
O presente relatório apresenta os resultados da pesquisa com catalogação e transcrição de
documentos históricos. A pesquisa foi desenvolvida no Instituto de Letras da
Universidade Federal da Bahia - UFBA, com o auxílio de bolsa CNPQ-UFBA e está
vinculada ao grupo de pesquisa Studia Philologica e ao projeto de pesquisa “Guerras,
revoltas e contextos de violência em documentos de arquivos histórico-culturais: edição e
estudo linguístico”, coordenado pela Prof.ª Dr.ª Eliana Correia Brandão Gonçalves.
O referido projeto tem por objetivo a elaboração de produções editoriais e o
desenvolvimento de estudos semântico-lexicais e terminológicos de documentos
históricos sobre a Bahia, que façam referência à história das guerras, revoltas e violência
na Bahia do século XVIII ao XX. Tais documentos se encontram disponibilizados em
acervos de instituições arquivísticas, nacionais e estrangeiras, como os documentos da
Capitania da Bahia constantes no Arquivo Histórico Ultramarino. Além destes, busca-se
os documentos constantes nos fundos arquivísticos de instituições como a Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro e o Arquivo Público do Estado da Bahia.
A proposta do plano de trabalho foi construída a partir do mapeamento, em forma
de inventário documental, como também leitura, descrição e transcrição de Cartas
históricas datadas do século XVIII, advindas do antigo Conselho Histórico Ultramarino,
que foram catalogadas pelo Projeto Resgate (2009) e que estão disponibilizadas na base
de dados digitais da Biblioteca Nacional Digital do Brasil da Fundação Biblioteca
Nacional.
A elaboração de um inventário documental relaciona-se com a necessidade de
visualizar melhor o material histórico de que se dispõe, facilitando o acesso às
informações para melhor observar suas características, não só as que se referem à
tipologia documental e seus aspectos paleográficos e diplomáticos, mas também o que diz
respeito ao conteúdo destes documentos, cujo principal assunto é o cotidiano da Bahia
colonial, sob diferentes aspectos, como primeira sede administrativa do Brasil.
Segue-se a isto, o intuito de ler, descrever e transcrever os documentos
relacionados à temática em estudo para indagar a origem dos sujeitos, dos grupos que
resistiram a esta realidade e como resistiram e confrontaram as instâncias de poder e
conduziram ou lideraram os embates corporais e discursivos (GONÇALVES, 2017, p.
193). Por meio de Cartas, muitos destes sujeitos relataram seus modos de vida, os
embates de seu povo, as dificuldades enfrentadas, as situações de conflito em que se
achavam, à maneira como as enfrentavam. Deste modo, trata-se de uma documentação
que registra parte deste passado histórico e se faz um rico instrumento para análise,
interpretação e restituição destes aspectos da vivência de um povo.
Estas questões encontram-se presentes nos mais variados documentos que trazem
as narrativas pretéritas deste passado histórico. São arquivos que merecem e necessitam
ser preservados por trazerem informações escritas a respeito do povo que o construiu, sua
memória, sua cultura. Representam, portanto, fonte inestimável para o pesquisador,
especialmente para o filólogo, interessado no texto como objeto de estudo e no resgate da
materialidade, na restituição de sua genuinidade através de procedimentos técnicos que
viabilizem a sua publicação, explorando os mais variados aspectos: linguístico, literário,
crítico-textual, sociohistórico etc. (CAMBRAIA, 2005, p. 1 - 18).
MATERIAIS E MÉTODOS
Os documentos que compõem o corpus selecionado para a pesquisa estão
disponibilizados na base de dados digitais da divisão de manuscritos da Biblioteca Nacional
e no acervo do Arquivo Público do Estado da Bahia. Estes documentos pertencem ao
Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), localizado em Lisboa, Portugal e, mais
especificamente do Conselho Ultramarino (CU) e tratam das relações político-
administrativas existentes entre as várias instâncias provenientes de Lisboa e a colônia
brasileira.
Tais documentos foram selecionados pelo Projeto Resgate de documentação histórica
Barão do Rio Branco. Foram consultados dois catálogos produzidos pelo projeto referentes
aos documentos manuscritos avulsos da Capitania da Bahia (1604 – 1828; 1701-1827), que
reúnem parte da documentação transmitida desse território para a metrópole portuguesa, e
vice-versa. Entretanto, a organização desta documentação foi feita com base na datação e
para realizar uma seleção por tipologias documentais, foi necessário realizar uma nova
seleção e, por sua vez, um inventário com base em outros critérios.
Durante os meses de agosto de 2017 a janeiro de 2018, se desenvolveu a primeira
etapa da pesquisa voltada para a leitura, fichamento e discussão de textos relativos à área de
Filologia, História, Paleografia e Diplomática, entre os quais Gonçalves (2017), Cambraia
(2005), Saéz & Castillo (1999), Karnal e Tasch (2011), Tavares (2009), Nunes (2013), Le
Goff (1996), entre outros, com o objetivo de desenvolver o aporte teórico necessário ao
andamento da pesquisa. Esta etapa foi importante para a compreensão dos principais temas
desenvolvidos durante este período de pesquisa, pois essas leituras refletem sobre a
importância da história política e social da Bahia colonial, por meio de documentos escritos
de diversas tipologias documentais, constantes nos fundos documentais de instituições
arquivísticas nacionais e internacionais e também apresentam aspectos linguísticos que
permitem o desenvolvimento de reflexões e debates a respeito de atividades filológicas, por
meio do resgate dos textos representados pela tipologia documental Carta.
Desse modo, depois de ler, fichar e discutir os textos teóricos com o grupo de
pesquisa, de agosto de 2017 a janeiro de 2018, deu-se início à seleção e inventário das
Cartas, que fazem referência a guerras, revoltas e contextos de violência. Em seguida, entre
os meses de outubro de 2017 a junho de 2018, foram realizadas as descrições e transcrições
paleográficas de Cartas do século XVIII, que registram contextos do recorte temático da
pesquisa.
Dessa maneira, a partir das leituras, deu-se início ao mapeamento, à seleção e à
análise da espécie documental Carta, com o objetivo de compor um inventário detalhado,
considerando o critério tipológico, cronológico, tópico, além do assunto do texto, a
quantificação dos documentos, o número de fólios, o número de série, o registro e
informações sobre quem emitiu a Carta e os referidos destinatários. Estas informações foram
disponibilizadas em um quadro quantitativo geral e outro temático, com a finalidade de
realizar a descrição e transcrição dos manuscritos.
Este quadro temático foi organizado a partir de chaves de busca. Posteriormente,
identificou-se a correlação com a temática através dos resumos dos documentos e algumas
vezes verificando a própria documentação. Para a realização das transcrições utilizaram-se
critérios baseados nas normas técnicas para transcrição e edição de documentos manuscritos
da Comissão de estabelecimento de normas para transcrição de documentos manuscritos para
a História do Português do Brasil, adaptados conforme as características dos documentos.
São considerados o contexto histórico-social em que os manuscritos estão inseridos e outros
RESULTADOS
Nos primeiros meses dedicados à pesquisa, realizaram-se leituras, fichamentos e
discussões de textos relacionados à Filologia, Paleografia, Diplomática, História Militar,
entre outros temas associados à temática abordada. Fez-se também a seleção de Cartas
referentes ao século XVIII, totalizando 3.678 Cartas datadas do século XVIII, localizadas
nos dois catálogos do Projeto Resgate (2009): 3282 Cartas correspondentes ao volume I e
396 Cartas referentes ao volume II, conforme pode ser visualizado no quadro abaixo:
1
Apesar do volume I do catálogo do Projeto Resgate (2009) apontar a seleção de documentos até o ano 1753,
encontraram-se exemplos de Cartas até o ano 1766 neste mesmo volume.
2
O volume II do catálogo oferece a lista dos documentos a partir do ano 1766, dando continuidade ao volume I.
Não se inicia a partir de 1604, como indicam as informações presentes na capa do catálogo.
Figura 1 – Fac-símile da Carta do [governador-geral do Brasil, conde de Vimieiro, D. Sancho de Faro e Sousa]
ao rei [D. João V] sobre os escravos velhos ou incapacitados que são desprezados pelos seus senhores.
Fonte: Fundo AHU-Baía, cx. 10, doc. 69 AHU_ACL_CU_005, Cx. 12, D. 1047
TRANSCRIÇÃO DA CARTA
f. || 1r ||
3
Senhor.
Constamepor pessoas zellosas, tementes
aDEOS, eque nesta Cidade vivem com an
mo mais pio, e catholico, que algun’s dos mo
5 radores destaCapitania quecostumaó ter es
cravos, ouparaServiço das suas fazendas, ou
das suas Cazas, sealguns’, ou pellos annos, ou
pellos achaques se incapacitaó para terlhes
preStimo, os deitaó de sy, eos dizem parao n[ilegível]
10 gandosse esua suStentaçaò, com animo tam
maLevolo, eferino, queescandalliza aos
deCoraçaò mais piedozo, eassim tem sucedi[ilegível]
jâ acharemSe algun’s negros mortos pella
Rua, eaodezemparo: e’como VossaMagestade hé
15 hum Rey de animo taó pio, etaò Christaò, dou [ilegível]
estaconta aVossaMagestade, asuas Lastimado na mes=
maReprezentaçaò, paraque VossaMagestade seja ser=
3
Inserção realizada por outro scriptor antes da primeira linha:
“Baía
10 Setº 1719”
DISCUSSÃO
Este plano de trabalho se insere no campo de estudos da Filologia, pois se utiliza do
texto escrito para analisar, interpretar e restituir aspectos culturais, históricos e linguísticos
destes materiais, buscando resgatar a memória, a história e a cultura de um povo, as origens
e a genealogia dos textos, por meio da história da transmissão textual destes textos.
Portanto, o interesse da pesquisa está voltado para a investigação de documentos relativos à
Bahia do século XVIII, que registram situações de guerra, revolta e violência preponderante
na trajetória histórica do povo baiano, a fim de que “a memória possa emergir dos textos
editados e dos usos linguísticos, mas também das imagens dos lugares, dos sujeitos e das
comunidades, que compõem o universo fragmentado da história da Bahia” (GONÇALVES,
2017, p. 193). A sua importância surge justamente do intuito de restituir essa memória,
restituir a voz dos antepassados que não puderam traçar as próprias narrativas e que hoje,
podem ser retratados por meio da investigação científica.
O estudo do texto escrito, sua produção material, a transmissão no decorrer do tempo
e sua edição são finalidades dos estudos filológicos. Para Santos (2014):
Nesta pesquisa, os textos sobre a Capitania da Bahia nos dizem dos primeiros indícios
da ocupação dos portugueses, dos poderes e privilégios transmitidos aos mais abastados, que
dominavam léguas e mais léguas de terras, as quais deveriam povoar e explorar (NUNES,
2013, p. 59). São documentos que relatam informações sobre o passado da história da Bahia
e referem-se às terras pertencentes a diferentes capitanias dessa época: 1. Baía de Todos os
Santos; 2. Ilheus; 3. Porto Seguro; 4. Ilha de Itaparica; e 5. Paraguaçu ou Recôncavo
(TAVARES, 2001, p. 92).
Há registros de conflitos em muitas destas terras como a violência dos colonos para
com os indígenas, tentativas de escravização e rapto em suas roças. Desde o início, na
Capitania da Baía de Todos os Santos e na região do Paraguaçú, houve embates com povos
indígenas locais (tupinambás). Na Capitania dos Ilhéus também aconteceram inúmeras
tentativas de subjugação dos povos indígenas, tendo o Governador Mem de Sá como
precursor dos ataques (NUNES, 2013, p. 66). Mais tarde, os negros foram retirados das
terras africanas e trazidos forçosamente ao Brasil para serem explorados como escravos,
permanecendo assim durante séculos, como parte do desenvolvimento histórico do país. Em
contrapartida, os povos subjugados também reagiam, resistindo aos ataques a que estavam
submetidos, muitas vezes recorrendo a meios de violência.
A violência é, portanto, tema frequente em diversos documentos da Capitania da
Bahia. Salvador era um espaço estratégico para sediar processos e manifestações gerais da
colonização portuguesa no Brasil; um núcleo da estrutura de redes de poder e mecanismos de
controle econômico e populacional. Com tal sobrecarga de funções em um mesmo polo
administrativo, são frequentes também os relatos sobre a fraqueza do sistema colonial
português e sua administração pública, as fortificações e defesa do território, que
culminavam em insatisfação popular e medidas violentas. Além disso, são mencionados os
roubos e pilhagens realizadas pelos piratas e estrangeiros, que atracavam com facilidade nos
portos e a destacada presença da Igreja Católica na Bahia Colonial, sempre ativa no que diz
respeito à educação e formação espiritual e moral do povo baiano, contribuindo também para
a manutenção de contextos de violência. Posteriormente, os territórios correspondentes a
estas Capitanias foram palcos de lutas por independência e movimentos revolucionários.
intimidação e força contra grupos oprimidos, por meio de atos violentos, que
provocam sofrimento, medo e opressão, evidenciados na leitura dos contextos em
que se tem unidades lexicais representadas por advérbios como “violentamente” e
verbos como “maltratar”, que expressam às punições sofridas pelos sujeitos
colonizados (GONÇALVES, 2017, p. 209).
A partir destas leituras, nota-se que o documento se faz testemunha, que orienta o
pesquisador, que auxilia a reconstituir o passado, a estabelecer relações e tirar conclusões,
promovendo “diálogos entre a subjetividade atual e a subjetividade pretérita” (KARNAL;
TATSCH, 2004, p. 24). Portanto, para encontrar elementos tão diversos presentes num único
texto e poder estabelecer inferências históricas, a Filologia se utiliza de ferramentas e
métodos da Paleografia e da Diplomática para retratar aspectos textuais e discursivos. A
partir da análise paleográfica e diplomática dos documentos, podemos reafirmar o seu valor
histórico. Partindo deste pressuposto, o pesquisador pode e deve relacionar o texto com
outros conhecimentos e outros fatos históricos, que assumam papel decisivo na apreensão e
compreensão dos acontecimentos.
Assim, essas Cartas do século XVIII pressupõem um diálogo com o tempo presente.
Neste diálogo, o entendimento sobre o passado se transforma, fazendo com que o documento
histórico seja uma construção permanente e permitindo leituras diversas sobre um mesmo
material. Le Goff (1996) considera que um documento pode vir a ser monumento, ou seja,
uma herança do passado. Sob esta perspectiva, o fato histórico se transforma conforme o
olhar que lhe direcionamos.
As Cartas emitidas no século XVIII poderiam ser correspondências provenientes do
alto escalão ou de outra natureza (comercial, industrial, social). Quando dirigidas ao Rei, o
conteúdo versava sobre questões que lhe deveriam ser expostas, sem que tivessem caráter
peditório. Há espécies de Cartas que funcionam como documento diplomático, como as
Cartas de Lei, as Cartas Patentes, Cartas de Perdão, Cartas de Sesmaria, Cartas Régias,
entre outras, que retratam e comprovam procedimentos jurídicos ou administrativos e/ou
interferem em regulamentos e estatutos.
Munhoz (2015) também considera que a espécie documental Carta, que figura mais
entre parentes e amigos na esfera do privado é do tipo não diplomática. Mas afirma que:
Embora os documentos não-diplomáticos não sejam condicionados
a uma estrutura fixa de redação obrigatória, em oposição ao “texto
livre”, permitem uma leitura diplomática por contarem com
regularidades estruturais, tais como a saudação e o fecho, além de
sua gênese derivar da motivação da evidente necessidade de
comunicação dos governos ultramarinos e sua sede na Europa
(MUNHOZ, 2015, p. 509).
julho de 2017.
• Divulgação da pesquisa:
QUADROS, Tamires Sales de; GONÇALVES, Eliana Correia Brandão. Breves reflexões
sobre a importância dos registros documentais históricos para o resgate da memória. In: XIII
Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura – ENECULT. Salvador. UFBA. 2017
(Apresentação/Comunicação/Publicação).
QUADROS, Tamires Sales de; JESUS, Pollyanna Macêdo de; GONÇALVES, Eliana
Correia Brandão. Comentários paleográficos de documentos históricos: Carta do século
XVIII. In: I Seminário Nacional de Paleografia. Salvador. UFBA. 2017
(Apresentação/Comunicação/Publicação).
QUADROS, Tamires Sales de; GONÇALVES, Eliana Correia Brandão. A Violência contra
a mulher a partir de edição semidiplomática de carta do Século XVIII. In: II Colóquio
Nacional de Língua, Documentos e História. Fortaleza. UECE. 2018
(Apresentação/Comunicação/Publicação).
Secretaria do Programa
Rua Basílio da Gama, 06. Canela.
Salvador – BA. 40.110-040.
Tel.: 71 3283-7968 / 3283-7970
E-mail: pibic@ufba.br