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AUSTIFICATIVA O interesse em estudar este tema decorre do inedimodo pessoal que me provoca a tendéncia do brasileiro em resolver situagdes por meio das titicas da malandragem © da transgressdo das leis. comumente recorrendo a tentativas de condiciona- as ¢ adapti-las aos proprios interesses. Mas apesar disto, entre os adeptos do famigerado “jeitinho brasileiro”, apenas 16% conside' am estar agindo de maneira correta. conforme acusa a pesquisa da Confederagiio Nacional da Indastria (CNI), realizada em 2012. Em contrapartida, 62% das pessoas admitem ter nenhuma ou quase nenhuma confianga em outras pessoas. tendo reduzida esta porcentagem no que se refere a membros da familia € amigos: 73% demonstram muita confianga na familia e 48% referem ter alguma confianga nos amigi .egundo a mesma pesquisa Deste modo, cabe questionamento: Se a grande maioria julga incorreto 0 comportamento que caracteriza 0 “jeitinho brasileiro”, por que motivo este se mantém € se consolida? Carlos Alberto Almeida (2007) da ideia da resposta ao constatar em sua pesquisa, que o “jeitinho” © a “malandrager io melhor aceitos entre pessoas de menor grat de instrugdo ¢ escolaridade: mais de 50% entre os que nfo chegaram a concluir a oitava série, 48% entre os que coneluiram o ensino médio, contra apenas 33% dos que possuem um nivel superior, ‘Além deste autor, a temética da malandragem e do “jeitinho brasileiro” ja foi abordada pelo antroplogo Roberto da Matta, autor de extrema relevancia na area, nos seus clissicos livros Carnavais, Malandros e Herois (1997) ¢ O que faz o Brasil, Brasil? (1986), sendo a primeira referéncia principal em qualquer discussio sobre o assunto. Outros pesquisadores como Livia Barbosa (1992) e Sérgio Mota (2012) também fizeram interessantes consideragdes acerca deste tema. Ainda assim, as discussdes e reflexdes sobre © assunto permanecem motivo de relevancia ¢ pertinéncia, sob a ética de que nao se devem esgotar as preocupagdes sobre este habito que se perpetua entre os brasileiros e que se apresenta como elemento caracterizador da nossa sociedade e identidade nacional, Habito que necessita ser constantemente avaliado ¢ criticado, visto que, como constata 0 proprio DA MATA (1997), algumas vezes conduz a criminalidade. anned by TapScanner \ manutengaio desta conduta através dos anos ¢ os raros debates a este respeito evelam certa indiferenga pelo assunto, Torna-se importante, portanto, buscar reconhecer taisfalhas para entender as causas que deram origem a estes comportamentos. as cireunsténeias que o favorecem e o mantém € os motivos pelos quais esta caracteristic ainda nao foi modificada. DELIMITACAO DO TEMA Por que o brasileiro age de: fa mancita? O que o leva a querer dar um jeito em tudo? “jeitinho brasileiro” se caracteriza como uma ferramenta para o bem ou para 0 mal? F inocente ou culpado na formagdo do eardter de nosso povo? F benéfico ow Prejudicial as nossas relagdes? Seria o povo brasileiro uma pécie de fe que di um jeito em tudo © que nao consegue se valer pela autor lade? Tem jeito para tudo, menos para a morte?” E cotteto ou ineorreto “dar um jeitinho™? Scanned by TapScanner IAMENTO 1: O que faz 0 Brasil, Brasil? No capitulo 7 do fivro O gue faz 0 Brasil, Brasil? (1986), Roberto da Matta aborda as caracteristicas da_makandragem ¢ do “jeitinho brasileiro” de adaptar as situagdes. analisande r analisando a maneira que utilizamos para sobreviver as regras proced mentos absurdos que a lei nos impoe para viver em sociedade DA MALTA (1986) faz referéneia a tese que langou no livro Carnavais malandray © herais (1997) sobre o dilema da oscilagdo entre as leis universais. na qual o suieito © apenas um individuo, também ahordando as situagdes em que cada qual se salva como pode, recorrendo as suas relagdes pessoas, Segundo © autor, esta condigao do sujeito resulta num sistema social dividido, mas tambem equilibrade entre individuo ¢ pessoa, O individuo, que ¢ visto apenas como peyat ac soria ma logica das leis ¢ a pessoa que & portadora de direitos signifi que interage com o meio social. Ou seja. a divisio ¢ o equilibrio entre o sujeito que deve respeito ¢ obediéncia as leis universais e aquele que esté em interagdo social com outros individuos. Lntre estes dois polos, subsiste j1inho", bem como 0 malandragem © 6 jargi be Com quem est falando?”, que auxiliam © brasileiro a enfrentar a realidade de contradigdes ¢ paradoxos em que vive. © autor meneioy edades, como a francesa, inglesa e norte- que em outras soe americana, no ha a essidade de transgredir as leis, porque as normas sociais esto perfeitamente de acordo com a vida pritica dos cidadios. Logo, as leis que os regem so ‘os que a ela esto submetidos. compreendidas e aceitas por todo Segundo DA MATTA (1986), a visto destes exemplos leva @ crer que estes paises sio mais civilizados ¢ disciplinados, que seu povo é mais organizado, educado ordeiro, Porém, o autor afirma categoricamente, que na realidade, trata-se apenas da coeréneia entre © mundo constitucional © juridico € a pritiea social, pois nestas sociedades a lei nao existe para subjugar o cidadao ou corrigir e reinventar os possiveis erros, mas sim como instrumento para fazer as coisas funcionarem bem, Com isto, a lei & aplicada de forma segura, sem brechas ao privilégio ou a existéncia de leis particulares. Para o autor, o que permite que as relagdes pessoais interfiram na execugiio das leis universais € a exivténeia de graus € hierarquias no interior das instituigaes legais brasileiras, que. ao se jar mio do “jeitinho’, avaliam distintamente cada caso conforme a influéneia que a pessoa solicitante exerga. pTor- Ula by TapScanner © autor aponta também que a legistagdo brasileira regu penta intimeras, Testrigdes © inpedimentos & autononria do cidadao, submetende-e ad vontade: npositiva do Estado. Sey » DA MATTA (1986) foi em virtude disto que © brasileiro conse descobrir © aperfeigoar um modo, um jeito, um estilo de navepagdo social, de conviver com ats normas que The foi imposta. © autor, de um modo geral, 0 “jeitinho’ € uma mancira paciliew € as vezes até legitima de resolver ox problemas que esta legislagao contusa traz. de Forma que possi conciliar os int resses do. Estado com os seus proprios © eriar uma relagiio harmonica entre © solicitante, 0 funciondrio-autoridade © a lei universal, Isto porque, segundo DA MATTA (1986), 0 brasileiro recorre ao jeitinho, mais comumente, porque para além das props 1s leis vigentes, 0 funciondrio responsivel por atendé-lo o trata com indiferenga € de forma desagradivel, Ao descobrir qualquer elo em comum, evora-se ria ow Fencontra uma telagdo pessoal. suticiente p: uma resolugdio mi menos njusta, que seja favoravel para ambos os lados. s nas. Segundo o autor, sendo deste modo, os individues com maiores intluéne’ relagées sociais utilizam-se do famoso “Voeé sabe com quem esti falando!” para que, de forma coercitiva © autoritiria, se consiga aleangar os objetives anelados: qualquer modo, um jeito foi dado, (...) so dois pélos de uma mesma situagiio MATTA, 1986, p. 85). © autor aponta entio © malandro, que representa 0 especialista em dar “jeitinhos”. profissional da arte de sobreviver em situagdes diticeis. O ra” que sabe como conjugar © pessoal com © impessoal. DA MATTA (1986) ainda menciona a jurado despachante, que € como se fosse um padrinho, um mediador entre a lei ea of pessoa. que guia seus clientes por entre os impedimentos das repartigdes . facilitando a resolugdo de seus problemas. Este personagem & o aliado de quem nao tem um amigo ou uma rel jo que possa fucultar o “jeitinho” imediatamente. DA MATTA (1986) define a malandragem como “uma possibilidade de proceder socialmente, um modo tipicamente brasileiro de cumprir ordens absurdas, uma forma ou estilo de coneiliar ordens impossiveis de serem cumpridas com situagdes especificas™, Ainda assim, s gundo o autor, a malandragem ¢ privileziada na érea do prazer e da sensibilidade, onde s concretiza a boemia a boa vida | com minime de trabalho € ra DA MATTA (1986), 0 malandro representa um Segundo 0 autor, estorgo i person: ‘m nacional. 4 malandragem nao € simplesmente inconsequéncia do brasil leiro. E Scanned by TapScanner HAMENLO 2: Carnavais, matandros ¢ herois No livro °Camayais, malandros ¢ herois” (1997), de Roberto da Matta, © autor ynteressa-se por entender © que ele mesmo chama de dilema brasilein permanente entre individuo a tensdo © pessoa, em que as classes sociais ou grupos individualizados ¢ racionats digladiam-se pelo controle do sistema. DA MATIA (1997) desejou ver a totalidade da conjuntura brasileira como um. drama. 1 consegunu © seu intento, langando-se a conquista de dois objetivos: contribuir pa a as teorias da d natizagio ¢ da ideologia ¢ realizar isto tomando como base 0 caso brasileino o or analisa, entdo, os personagens prineipais deste drama: os malandros € 0S herois, Penetra nas razdes socials que originam tal dilema: um sister sundo em que. Se ele, s0 os trabalhadores correm riseos, com ca evidente pela exploragao das massas Segundo 0 autor fess massa andnima ¢ chamada de “povo"” (DA MATTA, 1997), que € foco da sua investigagao, em busea das esperangas € perplexidades deste mesmo povo. Neste livre. DA MATA (1997) discute 0 que torna a sociedade brasileira tao Unica € diferenciada, buscando analisicla em suas especiticidades. interpretando-a por meio de modelos de ayo. De todo mado, o autor aponta a sociedade brasileira como um universo hierarquizante. comparando-a com as sociedades da India e dos Estados Unidos. par exemplo. part perceber ma nitidamente a logica do sistema, © autor trata de localizar mecanismos sociolégicos explicitos ou implicitos nestas sociedades. desmistiticando as questdes historicamente dadas ¢ relativizando aquilo que é creditado pelo senso comum como caracteristi a dominante, Com base na nogao de que a ideologia econdmica & predom nante no mundo ocidental. pondera 0 caso brasileiro neste contexto, procurando conh F como se divide ¢ classifica 0 nosso sistema e em que logica se fundamenta, DA MATTA (1997) coloca em diivida a nogio de individuo e pessoa, localizando ay areas em que este aspecto € importante, pois, segundo ele, com base nesta ideia, os individuos passam a ser forga de impiedosamente explorados. trabalho, estando sujeitos a serem “sta vertente, modelada ¢ inspirada na ideologia burgue: segundo © autor, estd presente na sociedade brasilei em concomitancia com uma outra Caracteristica.na qual existe um eonjunto de relagdes pessoais estruturais Pars 0 autor, € este sistema de relaci i autor: este sistema de relagdes pessoais que permite © salto a regra e ao deereto. diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos onde & praticamente Scanned by TapScanner pene! fugit a0 sistema. A propesta de DA MATI Na A (1997) entao, & Fruice a dimensio historica ¢ temporal, buscando teconhecer y Jeologias que nao se sosiais, deologias que nao se encontram Neste patamar. Segundo © autor, dissociar um alores. relagties © grupos Sneepeao adotada do tempo nas sociedades tradicionais possibilita que algumas destas tenham atividades de trabalho intrinse tempo. vineuladas ao homem que scamente ligadas ao as realiza, o que fundamenta a ideia de trabalho © explorar © homem, P ara 0 autor, ideologias domin Possuir o algumas sociedades tradicionais apresentam ales © outras no, mas sempre hao dilema humano de estar dentro ou fora do tempo. © foco de DA MATTA (1997) incorre sobre a questo dos rituais e personagens. Para ele. os rituais servem para promover a identidade social e construir seu carater, marcam o instante em que Se busca transformar © particular no universal, © autor classifica 0 ¢: Amaval. as procissdes ¢ os destiles militares como ritos, set um Tito sem dono, em que a ndo 0 carnaval, festa ¢ apenas festa e esté acima dos resultados. Nesta, todos os personayens podem conviver em “pé de igualdade.” Segundo o autor. na sociedade industrial, individualista e moderna, o ritual tende a criar um momento coletivo, por meio dele se cria uma totalidade abrangente, ilusdo de que criando a todos pertencem ao mesmo grupo, DA MATTA (1997) introjeta entiio, 0 pensamento de que: “€ pela dramatizagao que o © grupo individualiza algum fendmeno (...) tudo que € “elevado” © colocado em foco pela dramatizay’io é deslocado, ¢ assim pode adquirir um significado surpreendente, capa de alimentar a reflexdo ¢ a criatividade.” (DA MATTA, 1997, p.36), Com esta informagao, pode-se notar € entender a ilusdio de cada individuo ao Participar de festivos carnavalescos. DA MATTA (1997) ainda que para algo se tomar um tito nao é preciso a Fepetigio, Segundo ele, tudo pode ser posto em ritualizagaio, por ser personificdvel ¢ caracteriziivel em eoisa material. U ‘ma ago banal e trivial pode adquirir alto significado se posta em destaque em determinado ambiente, canned by TapScanner © autor completa, afirmando que a resposta social aos ritos pode ter algumas Foaracteristicas: (1) tender & especiticidade individualizando algum elemento dado na infraestrutura natural: (2) atribuir & cultura um compromisso entre uma pressdo externa € uma Tespostt especifica e (3) definir uma resposta especial, reforgando a individualidade do grupo, Permitindo criar as condigdes de uma consciéneia de identidade comum, Segundo 0 autor, o rito & portanto, “o veiculo da permanéncia ¢ da mudanga” (DA MATTA, 1997, p, 39), a0 mesmo tempo em que se consagra e se cristaliza habitos, © posibilitada a mudanga, a introjegao de novos aspectos identitarios. Para DA MATTA, (1997) ha dois modos de estudar os rituais: tomé-lo como resposta a fatores concretos ou tomar como foco o que vem antes e depois de seu ponto de chegada. a sua finalidade. Desta forma, © autor estuda 0 ritual como a dramatizagao de certos elementos, valores, ideologias ¢ relagdes presentes na sociedade. Esta visto. segundo ele. permite unir 0 estudo dos ritos com o dos mitos, por Pertencerem a um universo situado acima do cotidiano e serem respostas onde a coletividade pode apresentar seus dilemas. “O mito e o ritual seriam, deste modo, dramatizagdes ou maneiras cruciais de chamar a atengdo para certos aspectos da realidade social” (DA MATTA, 1997, p. 42) Ao comparar © ritual camnavalesco brasileiro com 0 que ocorre em Nova Orleans, nos Estados Unidos, DA MATTA (1997) constata que o carnaval verdadeiramente inclusivo, aberto e “democratico” é o brasileiro. Para ele, o carnaval & lum rito que se utiliza do principio bisico da inversdo, ou seja, a transmutacao dos papeis sociais durante as festividades, sinalizando que € preciso ter cuidado com as visOes substantivas “que pretendem ver o rito como um momento social dotado de forga e qualidades préprias” (DA MATTA, 1997, p. 169). Segundo 0 autor. © mundo invertido do camaval, nos Estados Unidos, ao contrario da realidade brasileira. apresenta abertamente a hierarquizagao dos grupos seciais. recria os exclusivismos de classe, Para ele, o carnaval de Nova Orleans tema recolocar os principios de dilerenciagio entre os individuos num meio em que isto ja foi extinto legal e juridicamente, Ja no Brasil, a hierarquia cotidiana ¢ transformada na ‘eualdade mégica de um momento passageiro. Esta flexibilidade do camaval de colocar ‘a DA MATTA (1997), & que o faz Ser associado @ ilusdo e a Scanned by TapScanner tudo fora do lugar, par loucura. para © autor. enquanto o simbolo carnavalesco de Nova Orlean: . o rei (Rex), ia, onde se a abandona o universo de iguais e patalelos para jjentrar um mundo hiera i ‘al hierarquizado: no Rio de Janeiro, o simbolo di fa ‘ola do carnaval & 0 esentante da aristoc galandro, © personag . m agem deslocado, que vive nos intersticios ent d Slicios entre a ordem ¢ a desordem. No camaval brasilei bi ‘amnaval ci | brasileiro, os marginais pertencentes ao suburbio transformam em doutores do samba e do ritmo, « de nando aos patrdes os element seu proprio universo baseado na explora " lo de sua forga de trabalho. rian, DA MATTA (1997) considera o camaval brasileiro diverso do carnaval americano. Aqui, os marginais sio transformados em pessoas € € as pessoas em individuos, ou seja, os papeis se invertem. Neste momento, os inferiores podem ser vistos como gente e possuit os mesmos direitos ao lazer, & alegria ¢ & diversdo, Porem. segundo 0 autor, esta inversio no extermina a desigualdade ¢ a hierarguia. apenas & submete a uma recombinagdo passageira, como uma experiéncia controlada. Os momentos caracterizados por DA MATTA (1997) como rituals estilo oficialmente vinculados & sociedade ¢ a cultura brasileiras por meio do Estado. Porém, segundo ele, ha outro ritual brasileiro que ndo € mencionado em pesquisas sociolégicas: 9 tito do “sabe com quem esté falando?”, por ser visto como um modo de set indese}avel do brasileiro, revelador dos nossos mais secretes preconceitos. Para o autor, esta expressio é reflexo de uma separagao social que nos coloca Jonge da figura do malandro ¢ dos seus recursos de sobrevivéne jeitinho” ea alandragem. Mas, segundo ele, esta forma de interaglo, assim com? ‘8 outros rites, ara 0 std implantada no nosso coragao cultural. apesar de nao a divulgarmos mesmos, atribuindo- ondendo-a de né estrangeiro ou levarmos a sério tal expresso, es acters e néo como uma vertente da a, muitas vezes, a uma sociedade brasileira como um todo: eastigam 0 agente © mantém 0 sistema. Segundo o autor, a negagdo desta expresso denota a nossa dificuldade em lidar com erises € conilitos: 0 conflite tende a ser visto como uma irregularidade num mundo fe as engrenagens de uma hierarquia vista como natural, DA MATTA (1997) gu diz que numa sociedade a ris que ce pode indicar algo a ser corrigide, enquanto, em outta pode representar um sinal de catistrofe, Porém. 9 autor alega que 0 contlito nao pode mas como uma revolta que deve € precisa ser intoma de eris ser visto como um si reprimida Para DA MATTA (1997), na realidade. a verdadeira posigdo sociologi idade. $ a nao gundo ele, ver esta questdo somente pela Scanned by TapScanner exclui nem o individuo, nem a cole wotiva individual & seguir uma condicionante historica € social. DA MATTA ) afirma que 0 individuo deve ser o ponto central para o qual a sociedade deve vonvergir. sendo esta, sempre modificada para que 0 individuo possa aleangar a tio sonhada felicidade. dos atores que dao DA MATTA (1997) conelui sua abordagem com a 16g dinamismo ao sistema, Segundo ele. a sociedade também determina seus atores. Questiona, entdo, ao leitor sobre quem sao estes atores. A discussdio do texto segue para a polémica dos malandros ¢ herois mencionados anteriormente. Para o autor. 0 heroi é caracterizado por uma ascensiio social violenta ¢ irremediavel, devendo sempre ser um pouco trigico para ser interessante: a pessoa comum se transforma em um personagem. Porém, segundo 0 autor, para se cheyar a esta posigdo, o individuo nao pode ser portador de mediocridade e falta de nobreza, mas sim protagonista da pobreza ¢ desgraga. Segundo DA MATTA (1997), em geral os herois esto sozinhos © sem familia no mundo, tendo que demonstrar enorme € inabalével fortaleza diante dos obsticulos. Segundo 0 autor, 0s modelos de ascensio social apresentam as possibilidades de jo social € transformagdo da pobreza, mas sem alterar a estrutura social. A posi ‘econémica fica subordinada a moralidade: consegue-se © sucesso no por revolta, mas como um prémio pelo comportamento resignado. DA MATTA (1997) se refere também a um triangulo de rituais, no qual convivem a ideologia das trés ragas, imaginativamente, em harmonia, Segundo ele, em carnavais, paradas e procissbes é possivel encontrar correspondéncias nos trés modelos basilares da formagao do povo brasileiro. Nesta mesma linha de pensamento, 0 autor apresenta as figuras paradigmaticas dos herois (renunciadores, malandros © caxias) associadas aos vértices do tidngulo de de um continuum que rituais. nas mesmas categorias. Evidencia portanto, a existéncii i da ordem a desordem, trazendo esteredtipos das posigdes sociais. ‘Ao dar énfase ao rito do carnaval, DA MATA (1997) apresenta novamente 0 malandro como sua imagem representativa, destacando que 0 malandro € um ser deslocado das regras formais, excluido do mercado de trabalho € também a ele avesso, individualizado em sua forma de agir, vestir e se portar. hm oposigao ao malandro, 0 autor mostra 0 eaxias, ator das paradas militares € dos rituais da ordem, eximio seguidor das leis, burocrata, absolutamente leal € patriota cdo, Ha ainda, honesto, diferente do primeiro, que inventa as proprias regras com o core Scanned by TapScanner 10-6 autor 4 Figura do renunciadyp aquele que ENA & dese deseia eriar un, Feleita o mundo social como ele se 1 outra realidade. CDA MATTA, 1997 alternative. p Arvinis ncn Shine pe 30 com 0 fro P. 265), 0 renunei: | UM Universo ador promete um mundo MV0 autor, € um verdadeito revolucionario neste imNerso social hicrarquizante Segundo o tundo © autor. o malandro é 9 Profissional dos pequenos golpe S. que pode ser socialmente aproy ado como esperto ¢ sap 4 de ser cavias renunciador ZOU Visto como desonesto. Surge a medida que dei: mAs avangando um pouco mais, pode se tomar handido, Ou Todos, segundo o autor, esta Presentes tanto no meio popular. quanto na ‘ara DA MATTA (1997), entao, resolver este Tesolver o sistema de “alta cultura”. p, sistema de ritos é também Papels saciais que marca e caracteriza estes rituais © aun ‘score ento. a uma narrativa popular e difundida em todo o Brasil: a historia de Pedro Malasartes. Nesta harrativa_ aparentemente Imocente. © autor busca Seneo para o entendimento dos modos pelos quais nos de! Sociedade. povo ¢ nagao. mar a finimos como Segundo © autor, nesta histori Pedro engana pessoas em posi¢do social de Poder e prestigio, confundindo a distancia entre sagacidade e ofensa social, = um heroi T converter desvantagens em vantagens. sinal da boa malandragem. Pedro Malasartes. é portanto, para DA MATA (1997), “0 modelo sem cardter, sua marea & sabe Prototipico do mal 1997. p. 276). jandro e do heroi nas zonas ambiguas da ordem social” (DA MATTA, DA MATTA (1997) observa dois planos circundando a historia de Pedro: 0 Plano exterior, marcado pela oposigao entre o grupo doméstico ¢ Pedro e entre ele ¢ 0 fazendciro, © © interior. caracterizado pelas diferengas existentes entre Pedro ¢ os membros de seu grupo doméstico. © autor investiga ¢ aponta as relagdes complementares. existentes neste ambiente, que acabam por levar o grupo para fora, expulsando Pedro e o irmao para 0 trabalho fora do lar. ja que. apesar da pobreza, existe a riqueza da forga de trabalho ¢ da capacidade reprodutiva, que, segundo DA MATTA (1997), deve ser posta para fora do srupo. Para ele. repetem-se, desta forma, as relagdes hierarquizantes presentes no ‘ena social brasileiro. pois 0 grupo doméstico reproduz 0 mesmo prineipio estrutural * ene © autor, o mito de Pedro Malasartes também pode ser tomado como 0 rior. e que precisa “ganhar a vida", 0 mito do trabalhador brasileiro, pois representa o pobre que precisa “g: Scanned by TapScanner Sane ara 9 é autor, equivale a “ter de se mexer Oa + Sair de casa em busca do trabalho, do f Me cada dia”, Noy amente, DA MATTA (19 Mdividuo, 997) retoma a discussio entre Pessoa e Desta forma, o g i ; “ Torma, o autor acusa que o sistema econdmico tende a estar submerso ao sistema moral: ¢ “moral: como o trabalhador volta para easa derrotade ¢ forgas para a indigna explorado, no tem necessidade ¢ ou vinganga, Surge entio, para DA MATTA (1997), a barganha, por meio de favores do patrdo que “da a mao” ¢ “ajuda a subir” na escala soc i . 1 escala social, pois, ao ue parece, ninguém muda de posigdo somente com o trabalho e 0 dinheiro, €m-se, portanto. segundo o autor, uma ideolog compensacdes sociais, complexa de DA MATTA (1997) entdo, escolhe admitir que a malandragem pode ser traduzida sociologicamente como a recusa de vender a propria forga de trabalho, tetendo-a para si, Junto as qualificagdes e fugindo ao sistema. Neste ponto. & Compara esta astiicia ao ~eitinho que + definido como um modo de utilizar as regras da ordem vigente em proveito proprio, porém sem destrui-las Neste caso. como © personagem referenciado segue as ordens de seu pattio ao pé da letra, se wiliza, como diz 9 autor, de seu poder de fraco, de obedecer, para conseguir seus objetivos. Portanto, segundo o autor, o je itinho © a malandragem sao Construidos no espago entre os polos da riqueza e da pobreza As figuras que se doutoraram nas priticas da lei. como alega DA MATTA (1997), tm a fungao de pessoalizar a regra geral, abrindo caminho para se colocarem como criminosos em potencial, sempre retomando ao ciclo inicial. com © papel de despachante. Porém, este individuo, segundo 0 autor, que consegue transviar as leis, nao pode fixar-se e viver como os demais, tem uma existéncia soci qual depo: | individualizada, na 1a enorme confianga. Por fim, 0 autor afirma que o destino do malandro s6 pode ser entendido quando nos livramos dos preconeeitos que ainda carre; mos para pereeber a lus do seu carte é ndo ter cardter e ainda assim ser um homem de earater, sem pretender reformar 0 que a mundo colocando-se como exemplo Scanned by TapScanner sUMOL Neste artigo. Lisete Barlach fiz uma reviste de literat jektinho ‘bexsleim, sobre a tematica do seleconande artigos correlacionados aw tema, publicadas entre os — . wads en anos de O14, Barlach (201 pora as discusses fellas por a, (2013) incorpora as discusses feitas p . 9) Sobre fi bre brasilidade, identidade nacional © cultural ne Brasil, buscundy Westionar o jei AWestionar o jeitinho como traye da identidade mac porte two POTS teoneo, a autora ti Aldo brasileiry Alem dist, come fz uma releitura dos classicos livros de Pivia Barbosa (2006) & Roberto da Matta (1997) acerca deste . sunt, unl vando prineipalmente a primeia como guia para — sis Pant a interpretagde dos artigos selectonades: em sur pesquisa Barlach (2013) realiza a pe: Pesquisa no google académico, encontrande mais de oitocentos Tesultades. dos quais: ese quais escotheu nove, utilizando como eriterio a represent qualidade autoral ¢ a diversidade tematica, Fm cada artigo anahistde, a atte identiticou a presenya do “jeitinho” nas engrenagens das situagdes demonstradtas pelos autores referenciados, tendo est . Vertentes altenadas, as vezes come a expresso de carater criative do povo brasileiro, noutras vezes como meio de corrupy’y, Dest forma, a autora conelui que pode s¢ considerar 0 “jeitinho brasileiny” come um dos elementos qe caracteriza como criativa a identidade nacional, Palavras- Acesso em: 13/03/2016. DA MATTA, R, Carnavais, malandros ¢ herois. 6, ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. Disponivel em: < www.minhateea.com.br > Acesso em: 22/02/2016. DA MATTA, R. O que faz 0 Brasil Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986, cap. 7: 0 modo de navegagilo social: a malandragem ¢ o “jeitinho”. p. 79 - 89. FERNANDE L. ‘Jeitinho’ Brasileiro’: 82% acham que maioria pretende tirar vantagem, diz pesquisa. © Globo, Rio de Janeiro, 11 mar. 2014, Disponivel em hitp:/oglobo.globo.com/brasiljeitinho-bra: acham-que-maioria-pretende-tirar= vantaem-diz-pesquisa-11842428 > Acesso em: 14/03/2016. FLACH, L. © Jeitinho Brasileiro: analisando suas caracteristicas € influéncias nas priticas organizacionais, Revista Gestio ¢ Plancjamento, Salvador, v. 12. n. 3, p. 499 - si4, setidez, 2012. Disponivel em e/view/ 119° x php/rab/artiel Acesso em: chup:/www revista 14/03/2016. Scanned by TapScanner

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