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Linguística Histórica

Neste texto, Souza (2006) trata do processo de construção da Linguística


Histórica. De roldão, a autora já aponta que os estudos históricos sobre as línguas têm se
ocupado da linguagem sob a perspectiva do tempo. Segundo Souza (2006), as dinâmicas
teóricas desta disciplina se constroem em torno de perguntas como “As línguas sofrem o
efeito do tempo? Como e por que? Como podemos estuda-las?”. Desde o surgimento da
Linguística Histórica, vêm-se tentando responder a estas questões.

No entanto, conforme Souza (2006), diferentes concepções de língua e de


história coexistem neste campo do conhecimento, que devem, acima de tudo, se pautar
na separação entre o tempo de análise e o tempo do objeto analisado, o que, segundo a
autora, sugere ao investigador apenas duas opções de estudo: o recurso à documentação
e o recurso à reconstrução.

Souza (2006), portanto, constrói o texto a partir de uma retrospectiva do


processo de formação da Linguística Histórica. De acordo com Souza (2006), este
campo teórico se fundou inicialmente com pesquisas genéticas sobre as origens comuns
e os desenvolvimentos históricos particulares de diferentes idiomas. Buscava-se, por
exemplo a ideia de uma herança linguística latina, mas ainda assim, este período
inaugurou uma concepção inteiramente nova na história das histórias do tempo e da
linguagem.

Conforme Souza (2006), a Linguística Histórica pensava em uma identidade


comum a todas as línguas e conseguiu observar regularidades compatíveis com essa
ideia de herança comum, encontrando o conceito de famílias de línguas, mas as
diferenças entre elas obrigavam os pesquisadores a pensar justificativas para as
mudanças linguísticas.

Souza (2006) aponta que, com isto, a Linguística Histórica teve de sistematizar
processos de mudança linguística como a assimilação (progressiva e regressiva), a
dissimilação, as deleções (síncope, apócope, aferese), a epêntese ou inserção (prótese,
excrescência, paragoge), alongamento, rotacismo, entre outras leis fonéticas. De acordo
com Souza (2006), para que chegasse a resultados mais consistentes, a Linguística
Histórica desenvolveu a abordagem histórico-comparada, que acrescentou a dimensão
documental: a combinação da reconstrução linguística com a busca de registros
passados.

Desta forma, Souza (2006) afirma que o fenômeno da mudança linguística pode
ser considerado fruto da mistura entre línguas, ao adotar-se uma perspectiva histórico-
evolutiva, pois nesta perspectiva teórica, as línguas são mistas, resultado dos inúmeros
contatos linguísticos, ou seja, de interferências externas à língua, apesar de haver
inicialmente, proposições opostas, como a de M. Muller, por exemplo.

Mais adiante, segundo Souza (2006), a preocupação passou a ser a dimensão


estática dos fenômenos, que se relaciona com a proposição inicial de Saussure: o objeto-
língua definido como sistema. Para Souza (2006), os estudos da Linguística Histórica
precisam superar a cisão entre Língua e Fala, antes mesmo do binômio sincronia-
diacronia, facilmente detectáveis pela escolha metodológica.

Segundo a autora, “a língua não escolhe estar ou não no tempo” (p. 20), por isso
é preciso trabalhar nas duas direções, já que a sincronia se interessa por cada etapa da
língua e a diacronia, pelo processo que leva de uma etapa a outra ao longo do tempo. Na
língua, cada termo tem seu valor por oposição a outros termos, o sistema varia e
depende também das regras que o compõem e as mudanças inferem apenas sobre
elementos isolados.

Segundo Souza (2006), a Linguística Histórica se definiu a partir da herança


estruturalista, em uma perspectiva diacrônica. Uma das possíveis linhas teóricas a serem
adotadas é a dos estudos históricos, que investigam as marcas deixadas pelos processos
de mudança (por herança ou contato). Outras linhas teóricas surgem, como a dos
funcionalistas, gerativistas, que veem, cada um a seu modo, a mudança linguística.

No entanto, segundo Souza (2006), todos estes estudos contribuem para elucidar
a relação entre ambiente linguístico e gramática universal no processo de surgimento da
gramática internalizada dos falantes, principalmente os do gerativismo, que aproxima-se
da linha socio-variacionista, desenvolvendo estudos estatísticos e populacionais, mas
para quem o fenômeno da mudança linguística é concebido como um fenômeno de
aquisição da linguagem.

Deste modo, Souza (2006) afirma que a mudança é vista pelo funcionalismo a
partir de seus resultados através do tempo e pelo gerativismo, como um processo. A
perspectiva histórica, relativa à passagem do tempo, foi se desenvolvendo pouco a
pouco. No recorte saussureano, a diacronia pertence à esfera da fala (parole) e não da
língua (langue) (p. 23), já no recorte chomskiano, a diacronia pertence à língua e não à
gramática. Apesar das diferenças, ambas as abordagens abordam o ponto de vista socio-
histórico. Por outro lado, o socio-variacionismo constrói um objeto de língua
heterogêneo, como objeto central.

Diante deste quadro, Souza (2006) aponta que a Linguística Histórica se fez por
diversos caminhos teóricos, porém, para a autora, nem todo estudo dito histórico é de
fato, histórico, pois a abordagem dos fatos linguísticos em uma escala cronológica não
constitui por si só característica de um estudo histórico.

Numa perspectiva sincrônica, a língua é vista em um dado momento estático e


na perspectiva diacrônica, a língua é tratada em sua sucessão ao longo do tempo. Mas
para a autora, nenhuma dessas abordagens revela o caráter histórico de um estudo, pois
vê o jogo linguístico como que suspenso no tempo. É por isso que Souza (2006) retoma
o argumento da superação da cisão sincronia-diacronia da perspectiva histórica/a-
histórica dos fenômenos linguísticos.

Estas duas perspectivas marcam as diferenças entre uma perspectiva


historicamente situada no contexto e outra não situada. Então a autora, mais
pormenorizadamente, apresenta a distinção dos termos diacronia e história, destacando
que a história, diferentemente da diacronia, constitui a narrativa de fatos
contextualizados no tempo e no espaço e não apenas na sucessão do tempo.

À posteriori, Souza (2006) faz outra distinção já mencionada como relevante


para estes estudos: a tradição documental e a tradição experimental. A autora menciona
a lacuna existente nesse tipo de registro como um problema para os estudos de corpora,
atrelado ao fato de que a realidade teórica da linguagem se encontra presente na língua
falada, mais que na escrita e que a língua falada nem sempre é registrada de modo a
garantir a consulta em outro momento histórico.

O problema lançado por Souza (2006) então é “como depreender a história da


língua falada a partir de registros escritos”. Segundo Souza (2006), o que tem se
observado nestes estudos é a experimentação. Mas eis o problema para Souza (2006),
pois esta metodologia se vincula muito mais a uma perspectiva cronológica, do que
histórica, seja qual for a linha teórica adotada.

De acordo com Souza (2006), analisou-se a mudança linguística em um sentido


orgânico: “evolução-transformação-desenvolvimento” no eixo do tempo, de modo
unidimensional, tratando a sucessão do tempo de forma linear, enquanto passado-futuro
(p. 26). Para resolver o problema, adotou-se a perspectiva da reversibilidade do
fenômeno, podendo este ser visualizado a partir do fenômeno anterior para o novo e
vice-versa. Deste modo, a mudança linguística foi vista como reprodução dos
acontecimentos em forma de análise.

Já na tradição filológica, segundo Souza (2006), os estudos históricos se


concentram na análise documental e se constituíram como estudos da tradição escrita.
Logo, para este campo do conhecimento, a esfera documental é extremamente relevante.
Contudo, segundo Souza (2006), essa abordagem inicialmente foi relegada à periferia
da reflexão “científica” (p. 27), somente depois dos anos 1960, a tradição filológica será
retomada como referência de pesquisa. Segundo Souza (2006), essa retomada dos
estudos históricos no socio-variacionismo, por exemplo, é herança da tradição
filológica, culminando numa nova abordagem, que é a recomposição das narrativas.

Conforme Souza (2006), o problema já discutido acerca da sincronia-diacronia,


não inclui o problema da historicidade, que inclui a experiência de todos os sujeitos
envolvidos na história da língua. Mais uma vez, Souza (2006) reforça que abordar a
língua na dimensão histórica não se resume a considera-la do ponto de vista temporal-
cronológico, confundindo historicidade com diacronia, como nos estudos estruturalistas.

Souza (2006) defende sua proposição, indicando que este é um problema


pertinente a todo e qualquer estudo linguístico e não só para a Linguística Histórica. No
entanto, segundo a autora, para a Linguística Histórica, o pensar sobre o Tempo no
estudo da língua implica em pensa-lo como conhecimento: um fazer historiográfico que
considera os tempos do Tempo e analise a historicidade das próprias narrativas em
construção (p. 27). Deste modo, para Souza (2006), deve-se trabalhar a dimensão da
duração e da pluralidade do tempo, considerando os resultados do próprio tempo.
Segundo Souza (2006) estamos inevitavelmente presos ao passado e por isso, os
estudos históricos devem trabalhar no plano das narrativas e não da experimentação,
como foi feito anteriormente. Um dos muitos problemas já mencionados pela autora
acerca desta visão é a questão da reconstituição das etapas dos fenômenos passados,
pois só podemos verificar os sinais do tempo e não o passado propriamente dito.
Portanto, segundo Souza (2006) é preciso traçar uma metodologia e uma mediação
teórica adequadas para analisar esses sinais, que não é a ideia de reversibilidade das
etapas da mudança, pois só podemos analisar as narrativas permitidas e não o ciclo
completo dos acontecimentos.

Para a autora, nos iludimos acerca da possibilidade de reconstrução e


reconstituição das línguas, pois acreditamos que as etapas registradas do passado
correspondem à realidade passada. Para Souza (2006), é preciso estar ciente de que
trabalhamos com que o tempo deixou e não com o que aconteceu (p. 29), é preciso
recompor as narrativas e não reproduzir os supostos fatos.

Um exemplo disso, dado pela autora, é a nossa pretensão de propor estudos


sobre “O Português”, “O Francês” e não sobre fenômenos particulares das línguas,
pressupondo universos homogêneos no interior das línguas e supostamente
diferenciados do entorno (p. 29). Para a autora, não será possível pensar a Linguística
Histórica a partir do conceito de reversibilidade dos fenômenos linguísticos, já que não
temos acesso a todos os registros passados e nem garantias de que os recortes que
fazemos remetem mesmo aos objetos teóricos estudados. Segundo Souza (2006), é
preciso refletir anteriormente sobre as concepções de língua e de tempo que nos
baseamos para recortar e interrogar os espaços de análise.

Conforme Souza (2006), no estudo das línguas românicas observou-se certos


fatores sociais e culturais que neutralizaram, em parte, a tendência para a variação. Estes
estudos basearam-se tanto na observação e sistematização das semelhanças estruturais
entre essas línguas, quanto no conhecimento histórico sobre a colonização dos
territórios onde as línguas românicas surgiram. Souza (2006) ressalta o quanto esta
delimitação espacial é importante, pois pode implicar em diferenças marcantes no
interior de uma mesma língua, como no caso do português brasileiro e do português
europeu, por exemplo.
A exemplo das mudanças introjetadas nas línguas por meio dos contatos
linguísticos da interação entre os povos, Souza (2006) aponta para o vocabulário
românico e aspectos estruturais em comum. De acordo com Souza (2006), a
identificação tão natural encontrada entre as línguas românicas não existia antes da
Idade Média. Essas semelhanças são justificadas pela Teoria Genética Tradicional da
Linguística Histórica.

Souza (2006) afirma que esse processo de mudança, fruto do contato entre
línguas distintas e dessemelhantes é chamado por Duarte Nunes de desencaminhamento
das regras. E à medida que uma língua se sobrepõe à outra, caminhando lado a lado da
história das civilizações, novas transformações vão ocorrendo, sob diferentes
circunstâncias, distanciando as línguas da sua concepção original, até que não seja
possível reconhecer com naturalidade de onde vem cada particularidade da língua.

Para os antigos gramáticos, como Duarte Nunes, estas mudanças representavam


barbarismos, solecismos, desvios e vícios absurdos com relação à língua, representando
uma corrupção, mas do ponto de vista da Linguística Histórica, as mudanças são a
representação da variação linguística ao longo do tempo, resultantes de inúmeros fatores
sociais, históricos, geográficos, etc. Segundo Souza (2006), as mudanças que deram
origem as diversas línguas da “Família Romance”, que resultaram nas línguas hoje
consideradas românicas, são, mais uma vez, advindas de evoluções paralelas do Latim,
a língua-mãe, representada pela sua forma mais conhecida como Latim Vulgar.

De acordo com Souza (2006), mesmo o Latim Vulgar já havia passado por
transformações, diferenciando-se nos vernáculos medievais e depois se re-latinizando.
Souza (2006) cita Otto Jespersen, para quem os fenômenos de divisão e fragmentação
das línguas não ocorrem apenas da unidade para a variedade, mas também o contrário.
A exemplo disto, depois de 1500, quando toda a Península Ibérica se torna cristã,
também passa a se encontrar culturalmente inserida em um movimento de re-
romanização.

Entretanto, segundo Souza (2006), não foi somente o latim que contribuiu para a
formação dessas línguas, mas também o árabe e o germânico, já que os povos
vinculados a estas línguas também habitaram essas regiões e exerceram influência
política e social nestes espaços. Conforme Souza (2006), na disputa de narrativas
históricas sobre a identidade linguística, o romanismo cristão se sobressai, no entanto,
as outras línguas não deixam de influenciar por este fato, pois também motivaram
efeitos linguísticos de alguma expressão nas línguas que se formaram.

Assim, Souza (2006) alerta mais uma vez para o sentido histórico da história que
se fez contar, da narrativa que vence a disputa e observa que raramente foram
formuladas perguntas diferentes sobre outras marcas linguísticas além dos estudos
latinizantes. Do árabe, por exemplo, destaca-se poucas influências lexicais da toponímia
e vocabulário tecnológico, por exemplo e menospreza-se as possíveis semelhanças
fonéticas existentes tanto no espanhol quanto no português, tomando ainda por senso
comum que não há grandes consequências estruturais na influência do árabe nessas
línguas. Souza (2006) sinaliza que alguns poucos contestaram a origem latina da língua
portuguesa, mas não conquistaram grande repercussão na “linhagem científica” da
Linguística Histórica.

Souza (2006) reforça o pensamento de que não podemos trabalhar com os fatos,
mas com os registros que se têm deles, que são apenas fragmentos dos acontecimentos,
destacando que o único argumento disponível é documental e atribui também os
resultados de nossos estudos ao lugar teórico vinculado ao contato linguístico, à
concepção de língua e de temporalidade nas diferentes abordagens históricas da
Linguística, percebendo que o que julgamos útil examinar também é resultante de um
momento histórico. Logo, para além do que não foi digno de registro ou de preservação,
há o que consideramos digno de ser estudado. Outro dado importante é o falar das
camadas mais populares das sociedades, que, normalmente, são os que mais impactam
nas mudanças linguísticas.

Souza (2006) sugere então, que busquemos conceber o tempo em pluri-


dimensões, compreendendo que há uma superposição de eixos temporais atuando
concomitantemente com ciclos distintos, no eixo do acontecimento e no eixo do
conhecimento (p. 37), já que, por exemplo, a herança românica não é a única que
precisa ser considerada na reflexão sobre a história linguística da Península Ibérica.
Estruturas, léxico e fonologias mistas são os resultados esperados em situação de
contato linguístico com qualquer língua.
Entretanto, Souza (2006) aponta que essa não é a única teoria possível para o
contato linguístico como fator de mudanças linguísticas. Segundo a autora, para o
gerativismo, uma situação de contato pode resultar em mudanças na medida em que
provoque uma desestruturação da situação ótima de aquisição da linguagem numa
população, pois mudando um único parâmetro, a lógica das possibilidades de geração de
estruturas poderia ser alterada profundamente, a exemplo disto tem-se o português
brasileiro e o português europeu, que possuem gramáticas bem distintas, apesar de se
tratarem da mesma língua.

Souza (2006) apresenta a percepção de Lightfoot, de que as gramáticas são como


entidades psicológicas que emergem quando expostas a experiências desencadeadoras,
algo muito diferente da perspectiva estruturalista, que rejeita a ideia de que cada sistema
tem, organicamente, sua própria lógica, resultando na concepção de um objeto-língua
que não muda, não evolui, não se transforma e não se desenvolve.

Na perspectiva gerativista, a que Souza (2006) se refere, o objeto está na


possibilidade de se gerarem estruturas, ou seja, a gramática, pois a aquisição da
linguagem, para este constructo teórico, é um processo pelo qual as gramáticas internas
amadurecem a partir do contato com a experiência linguística. Por outro lado, na
concepção mentalista-chomskiana, a mudança linguística é um evento catastrófico para
a experiência linguística de uma geração de falantes, pois, em condições ideais, a
gramática seria adquirida sem mudanças.

Para Souza (2006), isto não faz sentido, pois se a linguagem for reduzida à
gramática, as gêneses dos processos estruturais não devem ser buscadas nos rastros
deixados por essas estruturas. Segundo Souza (2006), as observações feitas pelo
gerativismo, como os deslocamentos populacionais e as inúmeras situações de contato
que resultam em mudanças catastróficas na língua, ou mesmo implicações menores
oriundas do contato dialetal, quando vistas como experiência linguística, são ingerências
externas que implicam em mudança nas línguas. Esta discussão, segundo Souza (2006)
retorna ao problema sobre a mudança ser motivada interna ou externamente.

De acordo com Souza (2006), para a perspectiva gerativista, é a gramática que


possui lugar de estabilidade e não a língua, pois, seguindo a concepção de Lightfoot, a
língua é uma criatura mítica, imaginária, um epifenômeno. Deste modo, Souza (2006)
afirma que surgem inúmeros problemas metodológicos decorrentes de considerar a
gramática como objeto de estudo. Mas, segundo a autora, para sanar este problema, o
gerativismo recorre à metodologia da experimentação, partindo da produção linguística
como dado empírico e propondo experimentos que consultem a intuição gramatical dos
falantes. No entanto, como foi dito anteriormente, este método não se aplica a estudos
sobre o passado.

Em síntese, Souza (2006) distingue que os fatos de língua não representam a


evolução das gramáticas, mas possivelmente, apenas os reflete. Segundo a autora, do
ponto de vista da gramática, pode haver catástrofe e ruptura, mas nas operações
graduais de mudança linguística, operam o tempo linear e a herança. Isso explica as
mudanças graduais percebidas no campo documental. Por isso, Souza (2006) retoma a
perspectiva de uma teoria da mudança que leve em consideração os tempos do Tempo,
numa posição pluri-dimensional e como só se pode fazer inferências sobre as gramáticas
a partir dos registros das línguas, surge o desafio de articular uma teoria complexa das
gramáticas e uma reflexão historiográfica crítica.

Finalmente, Souza (2006) conclui reafirmando múltiplas realidades superpostas


nas diferentes realidades de linguagem (p. 43) e propondo um maior refinamento e
crítica sobre o olhar acerca do “discurso do tempo”, estando ciente de que as novas
narrativas se baseiam nas anteriores e que podemos refletir sobre o que resta narrar. A
autora conclama para uma postura historiográfica crítica, em qualquer quadro teórico,
sinalizando a necessidade de diferenciação entre mudança gramatical e mudança
linguística, no quadro gerativista.

Assim, Souza (2006) propõe revisitarmos os nossos olhares, os lugares de


observação dos acontecimentos, entendendo que observamos a partir do plano do tempo
do conhecimento e não do acontecimento. Segundo Souza (2006, p. 44), “faz-se
necessário, neste sentido, refletir criticamente sobre as condições do conhecimento – o
recorte das análises, a herança das narrativas passadas, as contingências da nossa
própria narração.”

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