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ONIPRESENÇA DE SAUSSURE?

Helênio Fonseca de Oliveira


(Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

RESUMO
O Cours de linguistique générale, obra póstuma de Saussure,
fruto de insights geniais, é fundador de uma nova teoria,
nascida com o destino de ser rapidamente ultrapassada pela
torrente de inovações que ela própria suscita. As categorias
saussurianas continuam subjacentes à produção científica
dos atuais estudiosos da linguagem, às vezes reformuladas,
às vezes enriquecidas, mas de tal forma entranhadas na cul-
tura linguística posterior a 1916 (ano da publicação do
Cours...), que as empregamos sem nos darmos conta de que
se trata delas, a tal ponto que descrever línguas sem as levar
em conta é muitas vezes, ainda hoje, um erro epistemológico.
Com exemplos frequentemente “portuguescêntricos”, pro-
cura-se, neste artigo, a partir das dicotomias langue/parole,
substância/forma e sincronia/diacronia, ilustrar a forma como
a “onipresença” sedimentada de Saussure se dá. Isso não
implica minimizar as diferenças existentes entre as teorias
que estudam a linguagem, mas tem-se falado tanto nelas,
que a prioridade agora é lembrar as semelhanças.
PALAVRAS-CHAVE: Saussure, langue,, parole, substância,
forma, sincronia, diacronia

1. Introdução: Em que medida se pode falar de


uma atualidade de Saussure?
Ferdinand de Saussure, como se sabe, fundou o estruturalismo
linguístico, com a publicação póstuma, em 1916, do clássico Cours de
linguistique générale , organizado por Charles Bally e Albert
Sechehaye, com a colaboração de Albert Riedlinger. Apesar da im-
portância de Baudoin de Courtenay – a quem Saussure conhecia pes-

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soalmente e que é considerado cofundador da linguística estrutural –


não se pretende aqui, por limitações de espaço e de tempo, entrar em
detalhes sobre sua participação nesse processo.
Bally, Sechehaye e Riedlinger foram alunos dos três famosos
cursos ministrados por Saussure na universidade de Genebra: o pri-
meiro, de janeiro a julho de 1907, com o foco em fonologia sincrônica
e diacrônica; o segundo, de novembro de 1908 a julho de 1909, que
lançava as bases epistemológicas da teoria saussuriana; e o terceiro
(de outubro de 1910 a julho de 1911), que tratava do “tema ‘das lín-
guas’, isto é, [d]a Linguística Externa” (SALUM, In: SAUSSURE, 1970,
p. XVII [prefácio]). Havia um quarto curso previsto, que – em
consequência do falecimento de Saussure – não chegou a ser minis-
trado. Trataria da Linguística da Fala (ou Linguística da Parole). “Pro-
metido aos ouvintes do terceiro curso, este estudo teria tido lugar de
honra nos seguintes” – afirmam Bally e Sechehaye, no prefácio da
edição de 1916 (BALLY; SECHEHAYE. In: SAUSSURE, 1970, p. 4).
Se nos perguntarmos se Saussure está ou não ultrapassado, a
resposta será SIM e NÃO. O “prazo de validade” de uma obra é variável.
Existem as que duram pouco e as de maior duração. Há ainda a que
funciona como discurso fundador de uma nova teoria e que nasce
com o destino de ser rapidamente ultrapassada pela torrente de ino-
vações que ela própria suscita. É o caso do Cours... de Saussure, obvi-
amente superado pelos trabalhos nele inspirados, mas que é fruto de
insights geniais que tornaram possível a existência destes. As catego-
rias saussurianas – em forma de dicotomias – continuam subjacentes
à produção científica dos atuais estudiosos da linguagem, às vezes
reformuladas, às vezes enriquecidas, mas sempre presentes. Ficaram
de tal forma entranhadas na cultura linguística posterior a 1916, que
às vezes as empregamos sem nos darmos conta de que se trata delas.
Quando, por exemplo, os estudiosos das disciplinas transfrásticas (Aná-
lise do Discurso, Linguística do Texto, Análise da Conversação etc.),
precisam “descer” a níveis microestruturais, entrando nos domínios da
morfologia, da sintaxe e da fonologia, se o fizerem insensíveis às cate-
gorias “inauguradas” por Saussure, cometerão falhas metodológicas e
epistemológicas. A respeito disso, é bom lembrar – como disse certa
vez Patrick Charaudeau numa reunião com pesquisadores brasileiros –
que os estudiosos do discurso não podem ignorar objetos de estudo
como flexão verbal, emprego de preposições, uso de pronomes etc.

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Optou-se, neste artigo, pelas dicotomias langue/parole, subs-


tância/forma e sincronia/diacronia, para ilustrar a forma como a
“onipresença” sedimentada de Saussure se dá. O que pode acontecer é
não nos darmos conta facilmente dela, em consequência da necessi-
dade que tem cada pesquisador – para afirmar identidades e delimitar
territórios – de enfatizar as diferenças entre sua teoria e as demais,
em detrimento das semelhanças. Trata-se, portanto, de política do
saber... Politizar a produção de conhecimento impede a criação do
ambiente de busca da verdade – socrático, e não sofista – que essa
atividade requer. Dizer, por exemplo, que a preocupação de Bakhtin
com o caráter dialógico da linguagem o colocaria em campo oposto
ao de Saussure, já que o foco da linguística saussuriana é a língua
como código (langue), seria sublinhar mais as diferenças que as se-
melhanças. É preciso não confundir oposição com acréscimo. Como
digo em outro trabalho:
Presencia-se atualmente uma disputa entre diferentes abordagens
do fenômeno linguístico: umas põem o foco na língua como códi-
go, outras no aspecto comunicacional (língua como instrumento
de comunicação) e outras na interação entre as pessoas por meio
da linguagem. A existência de tais debates, no entanto, é, ela
própria, um equívoco, visto que resulta de um pensamento
disjuntivo, que deveria ser conjuntivo ( OLIVEIRA, 2010).
Perguntar se a língua “é código ou instrumento de comunica-
ção ou está a serviço da interação” é equacionar incorretamente o
problema. Ela é tudo isso. Cada um desses atributos não exclui os
demais. O que pode ocorrer é – compreensivelmente – uma corrente
teórica enfatizar mais um deles. O que aqui se diz não implica
minimizar as diferenças entre as teorias, mas o fato é que de tais
diferenças se tem falado tanto, que talvez a prioridade agora seja
lembrar as semelhanças.
Os exemplos dados são em geral “portuguescêntricos”, porque
são fruto de uma experiência de anos descrevendo o português em
cursos de graduação, mestrado e doutorado. Não se trata de um saber
“só de experiência feito”, como o do personagem de Camões, porque
essa temática, pela sua própria natureza, pressupõe algum tipo de
fundamentação teórica, mas de um conhecimento construído no dia a
dia de um trabalho como professor e pesquisador. Não foi minha
intenção produzir um trabalho erudito.

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2. Langue e parole ou como demonstrar que


certos “problemas” são pseudoproblemas
Saussure é mentalista, ou seja, considera que a língua se “situa”
na mente do falante, o que fica evidente em várias passagens do
Cours...(SAUSSURE, 1970, p. 33, 143, 149, 161 etc). A dicotomia
saussuriana langue / parole (língua e fala), embora ao longo do tem-
po tenha passado por reformulações, continua operacionalmente vá-
lida no que tem de essencial, a saber, na distinção entre o que na
linguagem é código (langue) e o que é mensagem (parole). Podemos
produzir e interpretar mensagens (isto é, textos orais e escritos) por-
que temos em nossa mente um código, ou seja, a langue, o sistema da
língua. Isto ficou. O mais são detalhes de refinamento conceitual.
O exemplo a seguir é bastante esclarecedor de como a dicotomia
langue/parole (e suas continuadoras sistema / norma / fala; compe-
tência / desempenho e outras) torna possível demonstrar que certos
“problemas” são na verdade pseudoproblemas, possibilitando distin-
guir o que é código do que pertence ao uso desse código para produ-
zir mensagens.
Tomemos como exemplo o debate (comum em certa época) so-
bre a existência, nos enunciados “Mas que droga!” e “Quero, mas não
posso”, de um único “mas” ou de dois. A resposta seria: trata-se de
um único “mas” na langue saussuriana, na competência gerativista,
no sistema de Coseriu (COSERIU, 1962. p. 11-113); e de dois, na parole
de Saussure, no desempenho (performance) de Chomsky, na fala de
Coseriu, no uso, no discurso etc. No entanto, pseudoproblemas como
esse têm ocupado desnecessariamente tempo e energia mental dos pes-
quisadores. Bastaria distinguir o que é código do que é mensagem,
com ou sem a terminologia saussuriana, para evitar tal desperdício.
Em “Quero, mas não posso”, mas tem inconfundivelmente (como
é normal nas sequências “A, mas B”, “A, porém B” “A, entretanto B”
etc.) valor adversativo, no sentido de que a orientação argumentativa
da segunda oração é oposta à da primeira: querer fazer algo é um
argumento em favor de fazê-lo (se o queremos fazer, é de esperar que
o façamos), ao passo que não poder fazê-lo se orienta
argumentativamente para a conclusão de não o fazer. Sabemos disso
com base em nosso conhecimento do mundo e de discursos que circu-
lam na sociedade – cf. o conceito de topos da semântica argumentativa.
Sobre isso, ver Anscombre (In: ANSCOMBRE (Dir.), 1995, p 11-47).

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Quanto à exclamação “Mas que droga!”, pode-se dizer que é


uma forma abreviada, digamos, de algo como “Eu pretendia bater o
martelo no prego, mas – que droga! – acertei o dedo”, em que “Eu
pretendia bater o martelo no prego” se orienta para a conclusão de que
eu teria êxito na minha intenção, enquanto “acertei o dedo” se orienta
para a de que fracassei, contrária à primeira (aqui também o conceito
de topos ajudaria a entender a relação da conclusão com a premissa).
Teriam ficado implícitas as partes mais referenciais desse enunciado,
“sobrevivendo” apenas a sequência “mas que droga!”, referencialmente
menos relevante, mas discursivamente mais importante.
Visto dessa forma, esse “mas” pode ser interpretado como tão
adversativo quanto o primeiro, ou seja, pode-se entender que os dois
“mas” são um só vocábulo no sistema da língua, isto é, na langue,
embora nada impeça que, num estudo centrado no discurso (o que
implica focado na parole), se sublinhe a diferença entre os dois. Pode-
se afirmar, portanto, que, na análise da langue (do sistema da língua),
“mas” é adversativo, com potencial para gerar efeitos de sentido, como
o de “Mas que droga!”, que podem ser “debitados” na “conta” da
parole. Curiosamente, a tradição escolar brasileira costuma classifi-
car o “mas” de “Mas que droga!” como palavra denotativa de
afetividade, ou seja, sob esse aspecto, privilegia a parole, mas tenho
razões para suspeitar que o faz acreditando tratar-se da langue. Isto,
porém, seria assunto para outro trabalho.
Fez-se abstração, aqui, da dicotomia entre o chamado “mas PA”
(do qual “Quero, mas não posso” é um exemplo típico) e o “mas SN”
(correspondente a “e sim”: “Portugal não fica na África, mas na Euro-
pa”) (cf. KOCH, 2002 [1984] ).
Questões desse tipo estão ligadas à polêmica (às vezes acirrada)
sobre a existência ou não do sentido literal – opta-se aqui por tomar
os termos significado e sentido como sinônimos, embora haja quem
tome o primeiro como fato de língua (langue) e o segundo como fato
de discurso (parole): o significado seria o do “dicionário” e o sentido,
o do texto. Aqui, dá-se conta dessa diferença por meio da adjetivação:
significado ou sentido literal e significado ou sentido figurado. Re-
jeitar a noção de sentido literal (ou significado básico) implica
depreender os valores semânticos das formas linguísticas a partir da
observação de textos, em seus contextos de produção e interpretação
(até aí tudo bem), mas sem os correlacionar com o sistema da língua.
A descrição linguística, para ser epistemologicamente correta, tem de

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distinguir, como vimos, o que é mensagem (parole) do que é código


(langue).
É claro que o conceito de sentido básico precisa ser refinado.
Esse sentido, às vezes, é – ele próprio – polissêmico, não
correspondendo necessariamente a um ponto na significação de uma
forma linguística, mas a uma área nessa significação. Observem-se,
por exemplo, estes três sentidos de porta: (a) porta como espaço aberto
numa parede para pessoas e coisas passarem; (b) porta como objeto,
geralmente retangular e frequentemente de madeira, usado para fe-
char essa passagem; (c) porta num de seus empregos metafóricos,
como em “O concurso é a porta de entrada para o serviço público”. O
sentido (c) é figurado e o sentido básico (ou literal) corresponde à
soma de (a) com (b); logo a própria denotação muitas vezes é
polissêmica.
Na verdade, existe uma relação dialética entre código e mensa-
gem. Só se descreve o código a partir da observação de mensagens
(textos), e o usuário da língua só produz mensagens porque existe um
código em sua mente.
Na diacronia, pode dar-se o caso de um sentido metafórico
tornar-se frequente no uso, fazendo cair em desuso o sentido básico.
Quando isso acontece, o que era sentido figurado se torna literal. É o
caso do verbo bajular (do latim bajulare), cujo significado básico era
de início, em latim, “levar às costas” (cf. BECHARA, 1999, p. 401;
CUNHA, 2007, p. 93). Daí o acepção metafórica de “lisonjear servil-
mente” adquirida com o tempo: “Não gosto de funcionários que
bajulam o chefe”. Em algum momento da evolução semântica dessa
palavra, o sentido figurado se tornou tão frequente no uso, que aca-
bou fazendo cair em desuso a acepção de “carregar nas costas”, o que
transformou em literal o sentido que até então era figurado.
Um último esclarecimento sobre langue e parole. É evidente:
o
(1 .) que langue não é sinônimo de competência, nem parole o é de
performance (ou desempenho); (2o.) que a langue saussuriana não é
exatamente o sistema do trinômio sistema, norma e fala de Coseriu: se
Saussure opera com dois termos e Coseriu com três, a correspondên-
cia não pode ser exata (cf. COSERIU, 1962. p. 11-113); (3o.) que as
propostas dos estudiosos que se seguiram a Saussure tendem a ser
superiores à dele, já que são um aperfeiçoamento dela (devem-lhe,
contudo, tributo); (4o.) que sinonímia perfeita entre terminologias de
teorias diferentes é impossível – ou, no mínimo, muito difícil. Relembre-

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se, porém, que a proposta do presente artigo, pelas razões já explicitadas,


é realçar semelhanças, e não diferenças, entre tais teorias.

3. Substância e forma
Segundo Saussure, o linguista opera todo o tempo com o con-
ceito de signo linguístico, que, como sabemos, é a associação de um
significante (de natureza sonora) a um significado (a que ele frequen-
temente se refere como uma “ideia”), ressaltando que o significante
não é o som como realidade física nem o significado equivale exata-
mente ao caleidoscópico conjunto de pessoas e coisas do mundo,
acrescentando que, tanto os sons quanto as “ideias”, são um continuum
nebuloso. O continuum dos sons é a substância do significante e o das
“ideias” é a substância do significado. O que funciona na língua, con-
tudo, são os sons estruturados (ou forma do significante) e os concei-
tos estruturados (ou forma do significado). Vejamos como isso se dá,
primeiro no plano no significante, depois no do significado.

3.1 Substância e forma do significante


“A substância do significante é o som, como realidade física, e
sua forma é o que a fonologia estrutural denomina fonema, que,
como se sabe, não é o som, considerado acústica ou
articulatoriamente (substância do significante), e sim uma entidade
fonológica teórica e abstrata” situada na mente do falante, entidade
essa que só existe na medida em que se opõe a outras (cf. OLIVEIRA,
In: COSTA (Org.), 2010, p. 10). O fonema dos estruturalistas é, pois,
forma do significante. O que há no significante de rua que o
distingue do de lua não é a variante vibrante alveolar do /R/, nem a
vibrante uvular, nem a fricativa velar surda (como o <j> do espa-
nhol), nem a fricativa glotal surda (como o <h> do inglês), e sim um
denominador comum teórico e abstrato entre todas elas, o qual pode
dar-se ao “luxo” de apresentar todas essas variantes (e mais algu-
mas), porque tais sons não distinguem significados em português.
Já em espanhol, por exemplo, a troca da fricativa velar surda pela
vibrante alveolar múltipla acarreta uma mudança semântica. Por
exemplo: jamón (“presunto”) e Ramón (nome próprio). Esses dois
sons, portanto, embora sendo em português variantes do mesmo
fonema, correspondem, em espanhol, a dois fonemas diferentes.
“Não cabe aqui historiar” – como digo no trabalho citado há

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pouco – “[...] as diferentes maneiras como a relação forma/substância


tem sido tratada nas várias correntes da teoria fonológica, mas lem-
bremos pelo menos que não damos um passo em fonologia, qualquer
que seja nossa opção teórica, sem operar com essa dicotomia” (OLI-
VEIRA. In: COSTA (Org.), 2010, p. 10).

3.2 Substância e forma do significado


Um significado também só tem existência por opor-se a outros.
Como diz o autor do Cours...:
O que haja de ideia ou de matéria fônica num signo importa
menos que o que existe ao redor dele nos outros signos. A prova
disso é que o valor de um termo pode modificar-se sem que se lhe
toque, quer no sentido, quer nos sons, unicamente pelo fato de
um termo vizinho ter sofrido uma modificação. (SAUSSURE, 1970,
p. 139).
Um pouco adiante, diz ele: “todos os erros de nossa terminolo-
gia, todas as maneiras incorretas de designar as coisas da língua pro-
vêm da suposição involuntária de que haveria uma substância no
fenômeno linguístico” (SAUSSURE, 1970, p. 141). Um exemplo sim-
ples: Temos em português três palavras para designar seres humanos
masculinos: menino, rapaz e homem (para simplificar a análise, fez-
se abstração de garoto). Em inglês, ao contrário, só há duas palavras
para corresponder a essas três: boy e man. No continuum nebuloso
da substância do significado de que se falou acima, o que há são
indivíduos do sexo masculino, com as mais variadas idades, mas o
português classifica os menores (digamos) de 18 anos como meninos,
os que estão aproximadamente entre os 18 e os 30, como rapazes, e
os que têm idades superiores – suponhamos – a 30 anos, como ho-
mens. É evidente que, em virtude da polissemia (elasticidade dos sig-
nificados), tais fronteiras se flexibilizam, mas são esses, grosso modo,
os sentidos dessas palavras. Não se pode, por conseguinte, dizer que
o vocábulo boy do inglês corresponda exatamente a menino em
português, uma vez que ele ocupa, no sistema da língua inglesa,
“metade” do “espaço” equivalente aos seres humanos masculinos, ao
passo que menino “compete” com rapaz e com homem, existindo,
portanto, num espaço dividido entre três signos. Logo, o valor se-
mântico de uma palavra se define não por sua relação com pessoas
ou coisas do mundo (substância), mas pela maneira como se relaci-
ona com as demais palavras da língua (forma).

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Outro exemplo: diante da assertiva de que o pretérito perfeito


– “o lago em que eu pesquei” (uma vez) – corresponde ao aspecto
pontual e de que o imperfeito – “o lago em que eu pescava” (habitu-
almente) – equivale ao aspecto durativo, “poder-se-ia objetar que,
por menor que seja a duração de um fato, ele sempre durará uma
faixa de tempo, ainda que de alguns milissegundos, e que, portanto,
nada é momentâneo [ou pontual]. Por esse raciocínio todo fato seria
durativo.” (OLIVEIRA, 2000, p. 43). Essa maneira de ver as coisas,
contudo, é filosófica (tem a ver com a substância), não sendo
linguisticamente relevante, porque não se refere à forma. O texto
prossegue:
O momento está para o tempo, assim como o ponto [daí “aspecto
‘pontual’] está para o espaço: ambos são entidades desprovidas
de dimensão, sem existência no mundo físico, mas são abstra-
ções teóricas necessárias, tanto para a ciência como para a
tecnologia, como o são os conceitos de subconsciente, infinito,
números negativos e tantos outros; [...] do ponto de vista grama-
tical, o importante é que o usuário da língua veja determinado
fato como pontual ou como durativo, pois o que o falante verbaliza
é sua percepção dos fatos [estruturada na língua] e não os fatos
em si (OLIVEIRA, 2000, p. 43).
“Quem diz ‘o lago em que eu pesquei’ “ – prossigo – “intui esse
acontecimento como momentâneo [pontual]” (OLIVEIRA, 2000, p. 43).
O ato de pescar aí relatado pode ter durado alguns minutos, algumas
horas, um dia inteiro etc. O fato é que, “na vivência subjetiva do
falante tal período de tempo é insignificante, tendo sido intuído como
aproximadamente igual a zero”, daí ter sido codificado na língua
como “pontual” (OLIVEIRA, 2000, p. 43). Este é um dos muitos exem-
plos de que “o que funciona na comunicação é o modo como a reali-
dade objetiva é percebida e codificada pela língua [isto é, a forma do
significado], e não essa própria realidade [a substância do significa-
do]” (OLIVEIRA, 2000, p. 43). Por isso afirma Saussure que “ a língua
é uma forma, e não uma substância” (SAUSSURE, 1970, p. 141).

3.3 Substância e forma da situação comunicativa


Com o surgimento da Análise do Discurso, na década de 1960,
passa-se a valorizar, no estudo da linguagem, a situação comunicati-
va, isto é, as circunstâncias em que se dá a comunicação: quem fala
ou escreve? para quem? quando? onde? utilizando que canal? qual a

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relação hierárquica entre o emissor e o receptor? é o emissor quem


está acima na hierarquia, é o receptor ou estão ambos no mesmo
nível hierárquico? etc. Isso levou o analista do discurso Teun Van
Dijk a propor os conceitos de substância e forma da situação comuni-
cativa, o que demonstra a vitalidade da dicotomia saussuriana ( VAN
DIJK, In: HENRIQUES (Org.), 2003, p. 389-414). Segundo Van Dijk,
como há forma e substância do significante e do significado, existe
também substância e forma da situação comunicativa. Comentando,
num artigo de 2010, os conceitos de Van Dijk, digo:
A substância da situação comunicativa é o conjunto infinito das
circunstâncias em que a comunicação se dá, do qual sua forma é
um subconjunto. Imaginemos, por exemplo, que transpareça em
determinado poema a origem geográfica do poeta. Neste caso,
saber de que região ele é será relevante para a interpretação do
texto, sendo, pois, um dos elementos da forma da situação comu-
nicativa. Imaginemos, porém, para tomar um exemplo um tanto
caricatural, que o autor o tenha escrito na capa de um caderno
velho. Supondo-se que esse fato não tenha consequências na pro-
dução do sentido do texto, poderemos dizer que ele pertence à
substância da situação comunicativa, mas não à sua forma.

[...] ficam [, pois,] sem sentido as polêmicas que se travavam [...]


sobre a validade da utilização de dados biográficos do autor na
interpretação de um texto. O recurso a um dado biográfico será
válido, toda vez que for relevante [, isto é, toda vez que pertencer
à forma, e não meramente à substância da situação comunicati-
va] ( OLIVEIRA, in: COSTA, 2010, p. 10) .

4. Linguística “estática” e linguística “evolutiva”:


sincronia e diacronia
A ciência do século XIX – nela incluída a linguística – é
sabidamente historicista. Acreditava-se nessa época que o estudo da
língua hoje denominado “sincrônico” se limitava a manuais didáti-
cos, sem relevância científica, o que de fato era verdade na época.
Embora a formação de Saussure se tenha dado nesse contexto (haja
vista sua tese sobre o genitivo absoluto em sânscrito, de 1880), o
capítulo do Cours... intitulado “A linguística estática e a linguística
evolutiva” lança os princípios de um estudo científico da linguagem
não só diacrônico, mas também sincrônico, enfatizando a importân-
cia de não se confundirem as duas abordagens. Esses conceitos foram,

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como passar do tempo, sofrendo pequenos reajustes, mas sua essência


permanece ainda hoje. Novas aplicações de determinado conceito
dificilmente acontecem sem algum tipo de reformulação. O que im-
porta, porém, é que, hoje, sem o binômio sincronia/diacronia ficaria
difícil fazer linguística.
O ponto em que essa dicotomia mais necessita de reajustes é
talvez no conceito saussuriano de lei sincrônica. Para Saussure, quando
se diz que “AA passa a B ”, se trata sempre de um “passar a” diacrônico.
Embora o autor fale em “lei sincrônica”, refere-se, com esse termo, à
descrição de um sistema de oposições (cf. SAUSSURE, 1970, p. 108), e
não a um “passar a” sincrônico. Não opera, por conseguinte, com o
conceito de dinamismo sincrônico, tanto que usa o termo “linguística
estática” como sinônimo de linguística sincrônica, reservando a de-
nominação “linguística evolutiva” (portanto dinâmica) para o estudo
diacrônico da linguagem. Como exemplo de “leis diacrônicas”, men-
ciona as alterações fonéticas ocorridas ao longo da história das lín-
guas, como estas, por exemplo, observáveis na passagem do latim
para o português: (A) Consoantes surdas intervocálicas tendem a
sonorizar-se: mutum à mudo; acutum à agudo; profectum à proveito
etc. (B) O ditongo “au” tende a transformar-se em “ou”: aurum à ouro;
laurum à louro; paucum à pouco etc. (C) As consoantes [d], [g] e [l]
intervocálicas tendem a cair: crudum à cruu à cru; legenda à leendaà
lenda; palum à pau etc. Existem também mudanças em outros
subsistemas da língua, mas Saussure vai buscar seus exemplos no
campo da fonética histórica (quanto à diferença entre fonética histó-
rica e fonologia estrutural diacrônica, ver o capítulo “Fonología
Diacrónica” da Fonología española de Emilio Alarcos Llorach (cf.
ALARCOS LLORACH, 1969, p. 107-134).
Voltemos ao conceito de “lei sincrônica” (hoje se prefere “re-
gra” a “lei”). Saussure o ilustra com a “lei” segundo a qual, na língua
grega, “o acento nunca vai além da antepenúltima sílaba” (SAUSSURE,
1970, p. 108), o que, aliás, também vale para o latim e, até certo
ponto, para o português, com a ressalva de que temos uns raros bis-
esdrúxulos, como rítmico, técnico, étnico etc., pronunciados respec-
tivamente /’Ritii miku/, /’tåkii niku/ e /’åtii niku/. Optou-se pela transcri-
ção fonêmica, para evitar complicações, aqui irrelevantes, que a trans-
crição fonética acarretaria.
O que está implícito no tratamento dado a esse conceito pelo
autor é a noção, reformulada a partir de Chomsky, de que a sincronia

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seja “estática”. Atualmente se pode dizer que o aspecto dinâmico da


linguagem está presente não só na diacronia, mas também na sincronia.
Sabe-se hoje que, quando dizemos que “A A passa a B B”, tanto pode
tratar-se de mudança através do tempo (“semper passa a sempre”),
quanto de um “passar a” sincrônico. A forma básica de um vocábulo,
por exemplo, passa a sua forma “pronunciável”, na fonologia gerativa
de The sound pattern of English (CHOMSKY; HALLE, 1968).
Na fonologia natural, diz-se que a forma fonética de um vocábu-
lo ou sequência de vocábulos sofre alterações – do ponto de vista
sincrônico – quando se muda de um ritmo pausado de pronúncia –
[‘awkoow] em português e “I do not know” em inglês, por exemplo –
para um ritmo “médio” – [‘awkow] e “I don’t know” – ou para um ainda
mais rápido, em que ocorrerão as pronúncias [‘awku] e “I dunno”, ou
seja, uma forma passa a outra no plano sincrônico. É o dinamismo da
sincronia. Adotou-se, com o exemplo do inglês, a transcrição ortográ-
fica, já que existe, na tradição escrita dessa língua, uma grafia para
cada um dos ritmos enfocados, o terceiro dos quais pode ser encontra-
do, por exemplo, nos “balões” dos quadrinhos. Poder-se-ia concluir –
do fato de a fonologia natural só operar com pronúncias concretamen-
te existentes em algum ritmo de fala – que ela abordaria a substância
do significante, mas isso não é verdade. Apuro fonético absoluto não
existe. A transcrição fonética – que apresenta sempre algum grau de
abstração – nunca registra todos os detalhes de realização dos sons,
logo é com uma forma mais próxima da substância que a fonologia
natural trabalha, mas não com a substância propriamente dita.
Continua, pois, de pé o ponto essencial da dicotomia sincrônico/
diacrônico, que é a noção de que existe uma abordagem da língua
num dado momento de sua história e outra que a acompanha ao lon-
go dessa história.
Para não nos limitarmos a exemplos no campo da fonologia,
exemplifiquemos com fenômenos de outros subsistemas da língua. A
própria crase da tradição escolar é um exemplo interessante no terre-
no do que Sousa da Silveira denomina “fonética sintática” (SILVEIRA,
1952). Comparando “fotografar o encontro” com “fotografar a reu-
nião”, “ir ao encontro” e “ir à reunião”, não é difícil concluir que,
num nível mais abstrato da análise, existe algo como “ir aa reunião”,
que, num nível mais concreto, passa a “ir à reunião”.
O exemplo a seguir ilustra o que se quer dizer com “nível mais
abstrato de análise” (optou-se, mais uma vez, pela transcrição fonêmica,

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Helênio Fonseca de Oliveira

para evitar o apuro – aqui irrelevante – da transcrição fonética): A


sequência /toda’taRdi/, num contexto em que existe o artigo, contém
três vocábulos, correspondendo à grafia “toda a tarde” (ou seja, “a
tarde inteira”) e somente dois, num outro, em que o artigo não ocor-
re, equivalendo, na escrita, a “toda tarde” (isto é, “todas as tardes”).
No primeiro caso, pode-se dizer que algo como /todaa aa
aa‘taRdi/ passa
(sincronicamente) a /toda a ’taRdi/. O mesmo ocorre com “todo o dia”
(“o dia inteiro”) por oposição a “todo dia” (“todos os dias”, “diaria-
mente”). Nas sequências “todo o” e “toda a”, o artigo se funde foneti-
camente com a última vogal das palavras “todo” e “toda”, ficando
reduzido a zero na pronúncia. Nesse contexto, por conseguinte, /aa/
passa a /a/ e /uu/ (<oo> na grafia) passa a /u/. É o que se poderia
denominar “crase sincrônica”, por oposição à passagem de seer (por-
tuguês arcaico) a ser (português atual), de cruu (arcaico) a cru (atual),
de poomba (arcaico) a pomba (atual) etc., que seria a “crase diacrônica”.
Nesta, uma forma existente num período mais remoto passa a outra,
em época mais recente, ao passo que na crase sincrônica uma forma
pertencente a determinada sincronia da língua e existente num plano
“teórico” (ou abstrato) passa a outra, MAIS CONCRETA, dessa mesma
sincronia. Há correntes dentro dos estudos da linguagem que procu-
ram – com razão – reduzir ao mínimo a abstração na análise linguística,
mas mesmo estas reconhecem que algum grau de abstração é inevitá-
vel, principalmente nos casos que têm implicações morfológicas e/ou
sintáticas, como o que se acaba de examinar.
Outro detalhe: para que a passagem de “A A ” a “B
B ” seja um pro-
cesso diacrônico, não há necessidade, evidentemente, de que “A A ” es-
B ” por certo número de séculos. De uma geração
teja distanciado de “B
para a seguinte já se podem registrar alterações fonológicas,
morfológicas, sintáticas etc. Pode ter havido um momento em que os
pais pronunciavam seer (dissílabo), e os filhos, ser (monossílabo).
Até mesmo na “biografia” linguística de um único indivíduo
pode existir diacronia. Em conversa com pesquisadores do projeto
NURC do Rio de Janeiro, tomei conhecimento de que estes procura-
ram localizar informantes cuja fala foi gravada na década de 1970,
observando sua produção linguística atual, donde resultou a
constatação de que alguns já não falam como naquela época. É claro
que esse processo envolve muitas variáveis, como a sociolinguística
tem demonstrado, podendo dar-se, inclusive, o caso de retrocessos
(substituição de formas historicamente mais recentes por outras mais

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ONIPRESENÇA DE SAUSSURE?

antigas), mas o fato é que mudanças linguísticas (isto é, fenômenos


diacrônicos) podem ocorrer não só de uma geração para outra, mas
até ao longo da história de um idioleto.
Outro aspecto digno de nota é a existência do que se poderia
denominar “formas mutantes”, como as chamadas “conjunções
adversativas” e “conclusivas” do português, quando “deslocáveis” para
o meio ou o final da oração, a saber, todas as conclusivas (com exce-
ção de logo) e todas as adversativas (exceto mas e a conjunção colo-
quial só que).
Um esclarecimento sobre terminologia: segundo Perini, apenas
e, ou e mas seriam inquestionavelmente “coordenadores”, denomina-
ção com que se refere o autor às “conjunções coordenativas” (cf.
PERINI, 1996, p.143-148). As outras conjunções coordenativas da
tradição escolar precisariam ser mais bem estudadas. Para ele, algu-
mas das palavras e locuções classificadas como conjunções
adversativas e conclusivas (precisamente as “deslocáveis”), como po-
rém, contudo, no entanto, portanto, por conseguinte etc. , apresentam
características próprias dos advérbios e locuções adverbiais (cf. PERINI,
1996, p.143-148 e OLIVEIRA, 2000, p. 20).
Essa “deslocabilidade” decorre da natureza “mutante” dessas
palavras e locuções, ou seja, do fato serem fronteiriças entre conjun-
ção e advérbio. Observa-se, na história do português e de outras lín-
guas, uma tendência no sentido de certos advérbios e locuções ad-
verbiais se tornarem conjunções. Exemplos: “porém” (do latim pro
inde; “contudo” (= “com” + “tudo”); “logo” (do latim loco, forma abre-
viada de in loco: “no lugar”, “ali mesmo”) (NASCENTES, 1966, p.
451); “portanto” (= “por” + “tanto”), cujo equivalente francês – pourtant
– tem valor adversativo ...e outros. O próprio “mas”, que não é
“deslocável”, é um advérbio que passou a conjunção. A adversativa
“mas” provém do latim magis, que significava “mais”; ou seja, “mas”
(sinônimo de “porém”) tem a mesma origem “mais” (antônimo de
“menos”). Nos dias atuais, a locução “por isso” vem seguindo esse
mesmo percurso: é uma locução adverbial com tendência a tornar-se
conjunção, constando, inclusive, na lista de conjunções conclusivas
de várias gramáticas.
Na verdade, a língua está mudando sempre. A sincronia é um
artifício indispensável, para fins científicos e didáticos. Fazer um corte
sincrônico é como parar um filme numa cena, na qual sempre haverá
processos em andamento, daí a existência de “mutantes”.

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Helênio Fonseca de Oliveira

5. Considerações finais
O que se pretendeu demonstrar foi que o original conjunto de
conceitos que Saussure nos legou lança as bases da Linguística (ou
pelo menos da Linguística Sincrônica) e que tais conceitos – uns mais
intactos que outros, com diferentes graus de reformulação – conti-
nuam até hoje subjacentes ao trabalho dos estudiosos da linguagem.

ABSTRACT:
A new theory with brilliant insights was created by
Saussure´s posthumous book Cours de linguistique générale,
whose destiny was to be outmatched by its great number of
followers. Saussure’s ideas still indirectly underpin the works
within Linguistics published since 1916 (year in which his
classical book was published). Such ideas are still
automatically and unconsciously applied. It is perhaps
impossible to describe a language nowadays without taking
them into account. One takes the risk of committing
epistemological mistakes if one does not. In this article,
using examples often taken from the Portuguese language, I
try to show signs of Saussure’s “omnipresence”. The pairs on
which I have worked are language versus speech (langue/
parole ) , substance versus form and syncronic versus
diacronic. My saying that Saussure is in a sense omnipresent
does not imply minimizing the aspects under which the
various theories on language differ from each other, but so
much has been said about their difference that it is perhaps
the time to underline what they have in common.
KEY-WORDS: Saussure, langue, parole, substance, form,
syncronic, diachronic

matraga, rio de janeiro, v.21, n.34, jan/jun. 2014 51


ONIPRESENÇA DE SAUSSURE?

REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS

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Helênio Fonseca de Oliveira

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Recebido em 15 de abril
Aprovado em 25 de abril

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