Você está na página 1de 2

Linguística: Da Antiguidade até Saussure

Por ser tão intrínseca ao ser humano, a linguagem quase que passa
despercebida aos nossos olhos, e, por conseguinte, não nos damos conta do quão
rica, complexa e essencial é para a constituição do homem. Pode-se dizer, em
primeira análise, que é através da linguagem que o ser humano cria, caracteriza,
compartilha sua visão de mundo, sua cultura, sua história, sua concepção sobre a
vida. Vê-se, portanto, que o homem se constitui pela linguagem.
O que se sabe é que os primeiros estudos sobre linguagem tiveram início antes
de Cristo, por cunho religioso, com os hindus, quando esses povos começaram a se
preocupar em preservar seus textos sagrados. Por outro lado, os gregos, no campo
da filosofia, tinham indagações como qual seria a relação entre significante e
significado, além de pensarem, também, em algum modo de organização estrutural
da língua (PETTER, 2015 p. 12). Já na Idade Média, houve uma concentração nos
estudos gramaticais, que foram expandidos durante os séculos XVII e XVIII, durante
o Iluminismo, quando a linguagem se funde à razão, sendo a imagem do pensamento.
(PETTER, 2015 p. 12). No século XIX, começasse ver os estudos comparativistas
(PETTER, 2015 p. 12-13), e a partir desse período tem-se uma maior noção de que a
língua é viva, de que ela se transforma com o tempo, e independe da vontade do
homem. Mas o maior marco vem no século XX, com a publicação do Curso de
Linguística Geral. A partir daí, a linguística se estabelece, de fato, como uma ciência.
O Curso foi composto por anotações de alunos do linguista suíço Ferdinand Saussure,
professor da Universidade de Genebra. A obra foi publicada em 1916, três anos após
sua morte. Saussure deixou o maior legado para os estudos linguísticos, sendo
considerado o pai da linguística moderna.
Discorreremos agora sobre a importância dos estudos deixados por Saussure
no seu Curso de Linguística Geral. Veremos o porquê dos estudos do linguista suíço
serem tão importantes, ao ponto dele ser considerado o pai da linguística. Saussure
começa a delimitar as áreas da linguística, em que estabelece métodos, bases,
perguntas para que se possa pensar na linguagem como ciência. Ele começa a se
questionar sobre o que seria de fato a língua, a linguagem, a fala, e quais métodos
deveriam ser usados nos estudos, fazendo todo um mapeamento da nova ciência. Vê-
se, na obra de Saussure, que ele caracteriza a linguagem como multifacetada e
heteróclita, porque ela abrange diversos domínios, desde o seu campo físico (onde se
usa os aparelhos sonoros), fisiológico (quando se usa das nossas funções corporais),
até o psíquico (porque também se tem a questão cognitiva). Já a língua, segundo
Saussure, é um sistema de signos que se relacionam entre si, sendo a língua a parte
social da linguagem, fruto de um contrato social determinado por uma comunidade.
Seguindo com a fala, que seria o ato individual, o uso que cada falante fará do sistema
da língua (PETTER, 2015, p. 14). Além disso, Saussure também passa por alguns
assuntos fundamentais que abriram caminhos para a linguística moderna, como o
conceito de imagem acústica, que é a imagem psíquica do som (SAUSSURE, 2012 p.
80). Também, voltando ao questionamento dos gregos, ele exprime o conceito de
signo (significante/significado) e prova sua arbitrariedade (SAUSSURE, 2012, p. 79-
84). Ademais (talvez o assunto mais importante tratado no Curso), Saussure nos
mostra a teoria do valor linguístico, em que ele explica que o valor de cada signo só
se estabelece quando este signo está em contato com outro, ou seja, o valor só se
estabelece pelo todo, o signo sozinho não tem valor algum (SAUSSURE, 2012, p.
132-141).
Diante do que foi exposto, percebe-se o quão importante foi a publicação do
Curso de Linguística Geral, que perpassou por toda as questões que rodeavam a
linguística até então e que deixou uma base sólida para a continuação dos estudos
acerca da linguagem. Sendo assim, todos os outros linguistas, ainda que discordem
de alguns conceitos de Saussure, são devedores dos estudos dele.

Bibliografia
IN Linguages we Live, Voices of the World. Direção: Janus Billeskov Jansen e Signe Byrge Sørensen.
[S.l.]: [s.n.]. 2005.

PETTER, M. Linguagem, Língua, Linguística. São Paulo: Contexto, 2015.

SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 2012.

WEEDWOOD, B. A Concise History of Linguistics. Tradução de Marcos Bagno. 2ª edição fevereiro -


2013. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.

Você também pode gostar