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20/08/2021 Linguística

LINGUÍSTICA
CAPÍTULO 2 - QUE PRINCÍPIOS
SUSTENTAM A CIÊNCIA
LINGUÍSTICA?
Adriana Paula da Silva Amorim

INICIAR

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Introdução
Você já aprendeu os principais pressupostos da linguística, como seu objeto de
estudo e alguns conceitos de base para a ciência linguística, bem como as funções
que a linguagem pode assumir no processo de comunicação humana. Agora, é
hora de começar a visitar as diferentes correntes teóricas de estudos linguísticos.
Nos primeiros estudos linguísticos da modernidade, o objeto de estudo da
linguística foi delimitado por meio de definições da teoria do signo linguístico, da
arbitrariedade e da iconicidade. Além disso, a linguagem humana, verdadeiro alvo
da linguística, difere da comunicação animal pela dupla articulação da linguagem,
em morfemas e fonemas.
Muito bem, esses pontos são bastante relevantes para todo o estudo realizado a
seguir. Como falamos no início dessa conversa, vamos partir para o estudo das
correntes teóricas da linguística. Cada uma com seu modo peculiar de observar o
fenômeno da linguagem. Saussure (2012, p. 39) afirmava que “é o ponto de vista
que cria o objeto”.  Dessa forma, é importante destacar que essas vertentes de
estudo não são concorrentes ou contrárias umas às outras, apenas observam a
linguagem sob um determinado ponto de vista.
Neste capítulo, você irá conhecer o estruturalismo, ou estruturalismos, tendo em
vista que há o estruturalismo europeu, representado por Saussure, e o norte-
americano, representado por Bloomfield e Sapir. O que há em comum entre eles é
que o estruturalismo considera a língua como um sistema, uma estrutura, que vai
além do uso que os falantes fazem dela.
Em seguida, será apresentado o gerativismo, ainda de base estruturalista,
representado por Chomsky, que também é um dos grandes ícones da linguística,
junto a Saussure. Os gerativistas buscaram na matemática a inspiração para
explicar e descrever como funciona a linguagem.

2.1 Estruturalismo: o legado de


Saussure

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Neste tópico, retomaremos alguns conceitos de linguística (como os de linguagem


e de língua) e avançaremos na apresentação do pensamento estruturalista no
âmbito da linguística moderna.
É importante destacar que houve mais de um grupo de cientistas conhecidos
como estruturalistas. Chamamos atenção para os pioneiros, o grupo composto por
Saussure e seus discípulos – que desde a década de 1910 deixaram seu legado na
linguística – e também para os estruturalistas norte-americanos, tais como
Leonard Bloomfield, nas décadas de 1930 a 1950. De fato, o estruturalismo
realizou uma verdadeira revolução nos estudos sobre a linguagem, que, a partir da
primeira metade do século XX, passaram de uma abordagem histórica (por meio
da comparação entre línguas e da formação de famílias de línguas) a uma
abordagem descritiva da língua.
O Círculo Linguístico de Praga, que será estudado na teoria funcionalista da
linguagem, também pode ser considerado um grupo de base estruturalista.
Posteriormente, você entenderá por quê. Neste momento, nos cabe descrever o
primeiro grupo.
O que, de fato, há em comum entre esses linguistas é sua concepção de que “a
língua é uma estrutura, ou sistema, e que é tarefa do linguista analisar a
organização e o funcionamento de seus elementos constituintes” (COSTA, 2017, p.
114).

VOCÊ QUER LER?


O livro “Curso de Linguística Geral” é organizado por Charles Bally e Albert Sechehaye, a partir de aulas
ministradas por Ferdinand de Saussure na Universidade de Genebra, entre 1910 e 1911. Trata-se de
uma obra póstuma, visto que Saussure faleceu em 1913, e a primeira edição da obra só fora publicada
em 1916. Essa tem sido, de fato, considerada a obra fundadora das ciências humanas no século XX e
contém os conceitos fundamentais do modelo teórico estruturalista (SAUSSURE, 2012).

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Conceber a língua como um sistema é o mesmo que dizer que há nela certos
elementos que, de alguma forma, se assemelham e se organizam constituindo um
todo, assim como outros sistemas: sistema solar, sistema digestório, entre tantos
outros. A organização desses elementos ocorre por meio de regras internas.
Assim, os indivíduos de uma determinada comunidade se comunicam porque
conhecem as regras da gramática de uma determinada língua. E isso não está
relacionado ao nível de escolaridade desses indivíduos, posto que até aqueles que
nunca frequentaram uma escola ou leram os manuais escolares, sabem se
comunicar.
Como podemos observar, crianças ainda na fase de aquisição da linguagem são
capazes de internalizar certas regras da gramática da língua materna (aquela que
aprende com seus parentes mais próximos, no ambiente familiar) a partir do
convívio social com falantes da mesma língua. Da mesma forma, se elas passarem
a viver, junto com sua família, em um outro país, aprendem e utilizam a nova
língua a partir da convivência com os falantes dessa segunda língua, tornando-se
bilíngues. Essa relação entre a língua e a coletividade, ou seja, esse fator social que
a língua possui levou Saussure a afirmar que ela não é pura e simplesmente um
sistema fonológico, uma substância material sonora, mas uma estrutura
hierarquicamente maior. Em outras palavras, a regras dessa estrutura “são
independentes do suporte físico – som, movimento labial, gestos etc. – em que se
realizam” (COSTA, 2017, p. 115).

VOCÊ SABIA?
Surdos conseguem internalizar algumas regras da língua oficial do país onde vivem
sem jamais terem escutado. São capazes de emitir sons enquanto articulam o
sistema fonador e, concomitantemente, comunicam-se na língua de sinais. Essa
oralização geralmente ocorre pela observação do movimento dos lábios dos
ouvintes (sensação visual). Isso corrobora com a teoria de Saussure (2012) de que a
língua é uma estrutura e não uma substância; ou seja, a simples materialidade do
som, pois indivíduos que nunca ouviram internalizam suas regras e as põem em
prática (VIOTTI, 2008).

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Nessa perspectiva, segundo Costa (2017), para os estruturalistas a língua é forma


(estrutura) e não substância (manifestação sonora ou visual). Por isso também são
chamados de formalistas. No entanto, eles reconhecem a importância da análise
da substância para que se possam formular algumas hipóteses sobre a
forma/estrutura. 
Outro fator importante na análise da língua sob a óptica estruturalista é o estudo
imanente da língua, ou seja, a análise da língua por ela mesma, desconsiderando-
se todos os fatores extralinguísticos, tais como cultura, localização geográfica,
contexto sócio-histórico, entre outros que possam estar envolvidos na
comunicação. Para essa corrente teórica, importam as relações internas dos
elementos da língua (COSTA, 2017).
A crítica que se faz, hoje, ao modelo de análise estruturalista é a sua concepção de
homogeneidade da língua. Ou seja, para Saussure (2012) e os demais linguistas
europeus no início de século XX, todos os membros de uma mesma comunidade
linguística falam exatamente a mesma língua, sem variações. Em tese, todos os
falantes nativos de um idioma utilizariam a língua exatamente da mesma forma,
sem qualquer diferença de pronúncia, gramática ou vocabulário.
O que se percebe na prática, no entanto, é que todas as línguas possuem
variações. Um exemplo é o que chamamos de sotaque, diferenças na pronúncia
das palavras em diversas regiões do país no qual o idioma é utilizado. É o que
acontece com o sotaque paulista, bem diferente do sotaque gaúcho. Da mesma
maneira, os dialetos são diferenças existentes em um mesmo idioma, resultantes
de influências culturais, ou seja, quando uma mesma língua é falada em mais de
uma nação. Assim, o inglês americano, por exemplo, é bem diferente do inglês
britânico. E o português brasileiro é bem diferente do português de Portugal. As
diferenças são de pronúncia, de vocabulário e, até mesmo, de gramática, já que
enquanto no Brasil se diz formalmente “falarei com você”, em Portugal a mesma
frase é dita sob a forma “estarei a falar contigo”. Assim, estudos linguísticos
chamados de funcionalistas, ao longo da segunda metade do século XX,
contestaram o pressuposto estruturalista de que a língua é homogênea.
A proposta do estruturalismo europeu é sintetizada em quatro pares de conceitos,
chamados de dicotomias, que significa a divisão de um conceito em dois. No
entanto, para Fiorin (2010, p. 76):

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[...] não se deve pensar, no caso de uma dicotomia presente no texto saussuriano,
que se trata de algo que é dividido em dois, deve-se pensar de outro modo. Uma
dicotomia em Saussure diz respeito a um par de conceitos que devem ser definidos
um em relação ao outro, de modo que um só faz sentido em relação ao outro. 

É o caso da dicotomia significante e significado, a qual já estudamos


anteriormente. Um só pode ser plenamente compreendido em relação ao outro, e
vice-versa. Além disso, não quer dizer que um seja o oposto do outro, apenas são
como as duas faces de uma folha de papel. Essa metáfora da folha de papel foi
utilizada pelo próprio Saussure (2012) ao explicar esses conceitos dicotômicos.
Assim, além de significante e significado, as outras três dicotomias em Saussure
(2012) que você estudará na sequência são: língua e fala, sincronia e diacronia,
paradigma e sintagma.

2.1.1 Língua e fala


Para Saussure, a linguagem possui duas faces: uma é a língua – ou langue –, de
caráter social, independentemente do indivíduo; a outra é a fala – ou parole –, de
caráter individual. Dessa forma, o autor afirma que “a linguagem tem um lado
individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o outro”
(SAUSSURE, 2012, p. 27). Para ele, a linguística deve ocupar-se de estudar a língua,
embora as duas faces estejam intrinsecamente ligadas. Observe o quadro a seguir
e perceba as diferenças entre língua e fala:

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Quadro 1 - Distinções entre língua e fala. Fonte: Elaborado pela autora, 2018

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Como vimos anteriormente, o signo linguístico é uma entidade psíquica; assim


também é a língua, dada a sua característica abstrata, enquanto a fala é a sua
manifestação psicofísica, dependente de meios físicos para sua realização.
Sendo a língua considerada um fato social, é também homogênea, ou seja, as
mesmas regras são aplicadas a toda a comunidade linguística, enquanto a fala é
heterogênea, pois cada indivíduo pode combinar os elementos da língua de
diferentes formas. Na mesma linha de raciocínio, a língua é sistemática, o que
permite que possamos estudá-la. A fala, por sua vez, não é passível de
sistematização, devendo ser posta à margem dos estudos linguísticos.

2.1.2 Sincronia e diacronia


Essa dicotomia está associada aos métodos de investigação da linguagem. A
linguística estática, ou sincrônica, interessa-se pelos fatos linguísticos ocorridos
num determinado momento histórico, num recorte de tempo específico. A
linguística evolutiva, ou diacrônica, por sua vez, diz respeito aos estudos dos fatos
linguísticos ao longo do tempo, numa continuidade histórica.
Conforme afirmamos, os estruturalistas primam pelo estudo imanente da língua,
desconsiderando a realidade extralinguística, o que inclui a questão histórica e
cultural da comunidade linguística. Por isso, Saussure (2012) prioriza a linguística
sincrônica, pois para os falantes o que importa numa língua é o seu estado
sincrônico. Este é um dos pontos que mais diferenciam Saussure dos seus
antecessores nos estudos sobre a linguagem, já que estes preocupavam-se
demasiadamente com a investigação histórica das línguas, buscando formular
regras para a evolução linguística com base nos estudos filológicos, como se pode
visualizar no quadro a seguir.

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Quadro 2 - Semelhança entre idiomas de mesma origem. Fonte: FIORIN, 2010, p. 78.

Não podemos, no entanto, deixar de destacar a importância dos estudos históricos


da linguagem, visto que através deles se tornou possível perceber o grau de
parentesco entre as línguas e organizá-las em famílias. No exemplo apresentado,
todas são oriundas do latim, de Roma, sendo denominadas línguas latinas ou
românicas.
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Sincronicamente, ao estudar a estrutura linguística, deve-se isolar a palavra de seu


processo de mudança ou evolução histórica, analisando um dado elemento em
um recorte temporal, sem considerar sua origem. Como exemplo, observemos a
composição da palavra beber, classificada como verbo, em que beb- define-se
como seu radical, visto que a partir dele é possível a formação de outras palavras,
tais como bebedouro e bebida.
Por fim, para facilitar a assimilação dessa dicotomia, Saussure lança mão de uma
metáfora, segundo a qual a língua é comparada a uma árvore em crescimento, de
modo que um corte transversal em seu tronco revela uma relação sincrônica entre
seus elementos, e um corte longitudinal revela um desenvolvimento diacrônico
desses elementos (SAUSSURE, 2012).

2.1.3 Paradigma e sintagma 


Para compreender bem essa dicotomia, é necessário identificar como as unidades
da língua se agrupam para a formação de sentenças. Primeiramente, tomemos por
base o caráter linear do signo linguístico, ou seja, eles se combinam um após o
outro, em linha, numa extensão. Essas combinações devem ser realizadas de
acordo com as regras da língua, não ocorrendo de forma aleatória, e são
chamadas de relações sintagmáticas. Nessa perspectiva, os sintagmas se formam
(COSTA, 2017, p. 121):

a) No nível fonológico: os fonemas vocálicos (representados por V) e


consonantais (representados por C) se combinam para formar as sílabas.
Exemplo: O menino gosta de bolo.
                    V CVCVCV CVCCV CV CVCV

b) No nível morfológico: os morfemas (radical, prefixo, sufixo, vogal


temática, desinências) se combinam para formar palavras.
Exemplo: menin – o
                    RAD      VT

c) No nível sintático: as palavras (sintagma nominal e sintagma verbal) se


combinam para formar frases.
Exemplo: O menino – gosta de bolo.

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                       SN                   SV

Esses são, portanto, os sintagmas aos quais Saussure (2012) se refere. Mas existem
também as relações paradigmáticas, relacionadas à associação e seleção mental
de termos para as frases que formamos. Assim, de acordo com a noção de valor
que estudamos anteriormente, um termo utilizado numa frase ganha valor em
relação aos outros termos de mesma função que estão ausentes na frase, posto
que não foram selecionados pelo falante.
É importante notar que as relações paradigmáticas ocorrem entre termos de
mesma classificação ou função e que possuem também alguma relação de
sentido. Vejamos que no exemplo da frase  O menino gosta de bolo, o
verbo  gosta  possui relação paradigmática com os verbos  aprecia, estima, ama,
adora, dentre outros. No nível fonológico, na palavra  bolo, o fonema  /b/  possui
relação paradigmática com os fonemas /r/, /t/, dentre outros.
Na prática, as relações sintagmáticas e paradigmáticas ocorrem
concomitantemente. Ao formular uma sentença, selecionamos do sistema
linguístico os elementos que nos serão úteis, consequentemente excluindo outros.
Ao mesmo tempo, combinamos linearmente esses elementos para formar a frase.
Com o que estudou até aqui, esperamos que tenha sido satisfatória a sua
compreensão sobre as bases da teoria estruturalista europeia. Adiante, trataremos
do estruturalismo norte-americano.

2.2 Estruturalismo norte-americano


Enquanto as ideias de Saussure (2012), publicadas do Curso de Linguística Geral,
eram difundidas na Europa, até a década de 1950, linguistas como Leonard
Bloomfield e Edward Sapir desenvolviam uma teoria linguística chamada
distribucionalismo ou linguística distribucional nos Estados Unidos. Por existirem
muitos pontos em comum entre essa teoria e a linguística saussuriana, a
linguística distribucional é considerada uma vertente estruturalista – veja a seguir.

2.2.1 Linguagem, pensamento e cultura

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Neste ponto especificamente, Leonard Bloomfield (1933) e Edward Sapir (1985)


apresentam pontos de vista divergentes. Edward Sapir reconhece uma forte
relação entre pensamento e linguagem. Para ele, “os resultados da análise
estrutural de uma língua devem ser confrontados os resultados da análise
estrutural de toda a cultura material e espiritual do povo” (COSTA, 2017, p. 125), ou
seja, ele ultrapassa os limites do estudo imanente da língua, proposto pelo
estruturalismo europeu. Bloomfield, por sua vez, influenciado pela psicologia
behaviorista de Skinner, considerava a língua como uma estrutura ensinada pela
sociedade aos mais jovens, excluindo de sua teoria os estudos relativos aos
significados: semântica.

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Figura 1 - As teorias sobre a relação
entre linguagem e pensamento são divergentes. Fonte: style-photography, Shutterstock, 2018.

Na perspectiva de Sapir (1985), de que a linguagem é fruto do pensamento e da


cultura humana, pessoas que falam línguas diferentes também pensam
diferentemente, pois veem o mundo de formas diversas, devido às influências de
fatores sociais. E, embora Sapir reconheça o caráter social da língua (característica
marcante entre os estruturalistas), não corrobora com o método behaviorista
utilizado por Bloomfield em suas análises, o qual conheceremos a seguir.

2.2.2 As contribuições de Bloomfield e Sapir


Como vimos anteriormente, Sapir (1985) considera que a língua como estrutura é,
no seu aspecto interno, a marca do pensamento, porém configurada como uma
faculdade não instintiva, mas adquirida socialmente. No cenário estadunidense do

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início do século XX, com a existência de várias línguas indígenas americanas, Sapir
contribuiu para a linguística através da descrição de línguas pouco familiares.
Bloomfield (1933), por sua vez, propõe uma análise sincrônica da língua, a partir
da delimitação de um corpus (enunciados coletados de usos reais da língua por
seus falantes) e da elaboração de um inventário desse corpus, em que os
elementos são distribuídos em classes para que, por fim, seja realizada a
verificação das leis que regem as combinações possíveis desses elementos.
Ademais, ele sugere que questões sobre o significado dos enunciados sejam
deixados de lado, em função da necessidade de objetividade.
 De acordo com Costa (2017), alguns postulados nos quais Bloomfield apoia seus
estudos são:
cada língua apresenta uma estrutura específica;
há três níveis de estruturação da língua: o fonológico, o morfológico e o
sintático, sendo o sintático hierarquicamente mais importante em relação
ao morfológico e este mais importante que o fonológico;
a descrição da língua exige extrema objetividade, sendo necessário excluir
totalmente o estudo da semântica.

Como se pode observar, trata-se de um estudo formalista, assim como o


estruturalismo europeu. Em “Language”, obra de Bloomfield (1933), o autor sugere
um método mecanicista de observação e descrição da língua, pois se apoia na
psicologia behaviorista de Skinner, segundo a qual a linguagem não passa de uma
resposta a um estímulo externo, não passando por nenhum processo mental
interno. Em outras palavras, ele afirma que aprendemos a falar a partir da
imitação de sons de palavras que nossos familiares mais próximos falavam.

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Figura 2 - A capacidade de linguagem dos indivíduos é inata. Fonte: Lightspring, Shutterstock, 2018.

Nesse sentido, o interesse de Bloomfield estava na observação do corpus para a


descrição de seus elementos de acordo com as possibilidades de combinação com
outros elementos. Com isso, o autor percebeu que a organização das sentenças
não acontece de forma arbitrária, já que elementos pertencentes a uma mesma
classe geralmente ocupam as mesmas posições, não sendo possível a aceitação de
sentenças que não obedeçam às regras de organização (BLOOMFIELD, 1933).
De acordo com este autor, cada unidade da língua existe em função de suas
relações e oposições. Assim, cada palavra é classificada pela sua função em
relação às demais palavras da frase. Além disso, uma palavra é o que as outras não
são, exercendo a noção de valor. Para compreender essa afirmação de Bloomfield,
basta lembrar que o artigo sempre antecede o substantivo numa frase. Assim, uma
frase como“menino o subiu escada a” não é cabível, já que essa combinação não é
possível em nossa língua.
No caso a seguir, você verá um exemplo prático do método distribucionalista para
a análise do corpus, denominada como análise dos constituintes imediatos. 

CASO
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Na frase “a garota leu o livro”, há dois constituintes imediatos. No nível


sintático, hierarquicamente mais importante, temos o sintagma nominal (a
garota) e o sintagma verbal (leu o livro). Segmentando mais a frase, temos
cinco palavras: a / garota / leu / o / livro; no nível morfológico, temos a
seguinte divisão: a / garot/a / le/u / o / livr/o. Por fim, no nível
hierarquicamente menor, o fonológico, temos os seguintes elementos: a /
g/a/r/o/t/a / l/e/u / o / l/i/v/r/o.

Percebeu como essa análise é bastante formal, a partir da descrição, análise e


classificação dos elementos que aparecem nos enunciados, excluindo qualquer
interferência semântica?
Segundo o distribucionalismo de Bloomfield, “as palavras são distribuídas como
se fossem as cartas de um jogo de baralho. Cada jogador recebe uma carta
determinada, e com ela realizará suas jogadas. Cada carta tem uma função
específica.” (SILVA, 2009, p. 88). O artigo é distribuído em relação ao substantivo,
pois se refere diretamente a ele e possui a função de determiná-lo ou indeterminá-
lo. Da mesma forma, o adjetivo é distribuído em torno do substantivo, pois possui
a função de especificá-lo ou qualificá-lo. Assim, o artigo não é distribuído em
relação a um verbo, pois sua função não se realiza em torno deste, com exceção
dos casos em que o verbo é substantivado, exercendo a função de substantivo,
como em “gosto de ouvir o cantar dos pássaros”. Neste caso, a palavra cantar
refere-se ao canto, toada dos pássaros.
Em síntese, enquanto Bloomfield (1933) rompe com qualquer ideia de que a
linguagem é fruto do pensamento, ao contrário, ela é influenciada por fatores
como cultura e sociedade, embora esses elementos não devam ser levados em
conta na descrição e análise estrutural da língua. E como visto anteriormente,
Edward Sapir (1985), também estruturalista, assume um outro ponto de vista,
mais antropológico, considerando a relação entre pensamento e linguagem, sem,
no entanto, afastar-se do método de análise estruturalista (COSTA, 2017).
É mérito do estruturalismo norte-americano o desenvolvimento de técnicas de
descrição da língua inglesa, por meio da análise objetiva que não designa as
estruturas como certas ou erradas, conforme a gramática tradicional. Por isso, o
legado deixado por Bloomfield e Sapir é útil ao estudo e ao ensino de línguas
estrangeiras. 

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2.3 O empreendimento gerativo


Neste tópico, trataremos dos pressupostos de uma importante corrente teórica da
linguística, visto que tem influenciado muitos estudos posteriores. A teoria
gerativista também parte do princípio formalista da linguagem. Desenvolvida nos
Estados Unidos, no final da década de 1950, por Chomsky, preocupa-se com a
elaboração de um modelo teórico inspirado na matemática para descrever e
explicar como funciona a linguagem humana (KENEDY, 2017). O linguista se
opunha à tendência classificatória dos estruturalistas distribucionalistas
(americanos), afirmando que estes supervalorizavam a língua em relação ao seu
produtor: o falante. Portanto, ao contrário de Saussure e Bloomfield, Chomsky
priorizava a figura do falante, considerando essencial explicar a língua com base
no ser humano que a produz, já que sem ele a língua não pode se efetivar.

VOCÊ O CONHECE?
Avram  Noam Chomsky, autor norte-americano de mais de 70 livros, foi bom leitor desde a infância.
Tornou-se professor no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), atuando nos estudos de
filosofia e de linguagem, apesar de sua formação híbrida de matemática, psicologia, filosofia e
linguística (FISCHER, 2016). Para saber mais, acesse o endereço:
<https://super.abril.com.br/cultura/dentro-da-cabeca-de-noam-chomsky/
(https://super.abril.com.br/cultura/dentro-da-cabeca-de-noam-chomsky/)>.

A seguir, discutiremos a concepção de linguagem para Chomsky e para os demais


gerativistas, bem como as importantes contribuições que deixaram para os
estudos linguísticos, em especial, para a linguística cognitiva, que hoje trabalha
com alguns princípios do gerativismo.

2.3.1 A concepção de linguagem para Chomsky


Desde a publicação de seu primeiro livro, “Syntactic Structures” (estruturas
sintáticas), em 1957, Chomsky revolucionou o estudo científico da linguagem. Os
dois grandes marcos anteriores à teoria chomskyana foram os estudos clássicos
da linguagem, pelos filósofos gregos, e a criação do estruturalismo de Saussure.
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Dessa forma, as descobertas de Chomsky sobre a linguagem são elementares não


somente para a linguística, mas para outras áreas que têm a linguagem como um
componente importante.  

A importância da obra de Chomsky para campos do conhecimento diversos da


linguística decorre, portanto, e principalmente, da reconhecida relevância da
linguagem em todas as áreas da atividade humana e da relação peculiarmente
íntima que se diz existir entre a estrutura da linguagem e as propriedades ou
capacidades inatas do espírito (LYONS, 1976, p. 14). 

Conforme afirma Kenedy (2017), ao contrário ao método behaviorista praticado no


estruturalismo norte-americano, segundo o qual a linguagem é considerada uma
resposta mediante estímulos externos à linguagem, Chomsky chama atenção para
o fato de que os seres humanos estão sempre agindo criativamente no uso da
linguagem, a partir da criação de frases novas e inéditas, até mesmo por crianças
bem pequenas, rompendo com a hipótese bloomfieldiana da aquisição da
linguagem pela imitação. O linguista defendia que todos nós temos em nossas
mentes “[...] um conjunto finito de regras que nos capacitam a gerar frases
infinitas. As frases são infinitas em número, mas são finitas em comprimento [...]”,
pois “[...] o conjunto de possibilidades estruturais é limitado” (SILVA, 2009, p. 91).
Nesse sentido, Chomsky (1957) considera a criatividade como o principal aspecto
que caracteriza a linguagem humana, o que a distingue do sistema de
comunicação dos animais. Além disso, ele defende que a linguagem humana é
uma capacidade genética dos indivíduos, portanto inata aos seres humanos,
radicada na biologia do cérebro/mente e não determinada pelo mundo exterior
(KENEDY, 2017).
Isso pode ser observado pelo fato de que, excluindo os casos patológicos, todos os
seres humanos nascem com a faculdade de linguagem, ou competência linguística
de compreender e produzir frases com sentido, independente de nível de
escolaridade, raça, localização geográfica ou classe social. Com efeito, nenhum
sistema de comunicação animal ou artificial é capaz de equiparar-se à linguagem
humana (KENEDY, 2017). 

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VOCÊ QUER VER?


No vídeo Noam Chomsky – o conceito de linguagem, Chomsky apresenta seu posicionamento,
considerando a linguagem uma disposição inata, ou seja, genética, dos indivíduos humanos. Ouvir do
próprio linguista a explicação de sua concepção de linguagem, lhe ajudará a compreender melhor a
teoria gerativa dos estudos linguísticos. Confira no endereço: <https://www.youtube.com/watch?
v=W53UvJoLAwI (https://www.youtube.com/watch?v=W53UvJoLAwI)>.

Nessa perspectiva, o modelo teórico gerativista propõe a descrição do


funcionamento da linguagem de forma matemática e abstrata (formal), o que
balizou diversos estudos da mente humana, denominados como ciências
cognitivas (KENEDY, 2017).

2.3.2 Competência e desempenho linguístico


A partir dos estudos da gramática gerativa, surgiram algumas indagações, tais
como: como o falante nativo de uma língua reconhece que um enunciado é
possível, ou seja, que é gramatical? E como ele percebe que uma frase é
agramatical, ou seja, que sua forma causa estranhamento, como é o caso da
sentença “comprou bola a menino o”? Logo, percebeu-se que cada falante possui
uma espécie de instinto, um conhecimento linguístico que distingue as
possibilidades gramaticais de sua língua.
Esse conhecimento linguístico inconsciente que o falante tem sobre sua própria
língua é chamado pelos gerativistas de competência linguística. É, pois, uma
capacidade inata. Todos nós possuímos competência linguística do nosso idioma,
independentemente do nível de conhecimento formal, escolarizado, que
tenhamos. Por isso, nota-se que mesmo pessoas com pouco conhecimento escolar
sobre a língua da qual são falantes nativos sabem distinguir a gramaticalidade ou
agramaticalidade de uma frase como a mencionada anteriormente, pois o
conceito de gramática adotado pelo gerativismo não é o de um livro cheio de
regras que nos ensina o que é certo e o que é errado na língua, conforme a
gramática prescritiva estudada nas escolas tradicionais.

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Já o comportamento linguístico do falante, ou seja, o uso real que ele faz das
estruturas gramaticais é chamado de desempenho linguístico ou performance.
Logo, se você, enquanto falante nativo do Português deseja falar a frase “o menino
comprou uma bola”, mas sem querer fala “o menino comprou a bopa”, isso não quer
dizer que você não sabe falar a língua, mas que houve um problema de
desempenho linguístico.
É relevante compreender que o conceito de gramática internalizada defendido
pelos gerativistas não ensina ou prescreve o que é certo ou errado na língua, seu
objetivo é descrever a estrutura abstrata da língua.
O interesse maior dos gerativistas é, pois, a competência linguística, mesmo
reconhecendo que é através do desempenho que ela se manifesta. Assim, o
objetivo central dos estudos gerativistas é o funcionamento da linguagem na
mente dos indivíduos, de forma abstrata.

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Figura 3 - Para os gerativistas, importa a explicação abstrata do funcionamento da língua. Fonte:


Michael D Brown, Shutterstock, 2018.

Alguns estudos aplicados da linguagem, com a psicolinguística e a


neurolinguística, realizam testes e experimentos em pessoas de diferentes idades,
inclusive em fase de aquisição da linguagem, a fim de explicar a competência
linguística e o funcionamento do cérebro quando em atividade de linguagem
(KENEDY, 2017). 

2.4 Gramática inata e universal


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Para concluir nossa discussão sobre o gerativismo, apresentaremos mais um


importante conceito desenvolvido a partir da evolução dos estudos da gramática
gerativa e da competência linguística: a gramática universal (GU).
A hipótese da GU surgiu a partir da observação de que todos os seres humanos
possuem uma herança biológica que lhes permitem conhecer instintivamente um
conjunto de regras, como num programa de computador, para que aprendam a
gramática de uma língua. Essa herança é a gramática universal, conjunto de
propriedades gramaticais comuns a todas as línguas naturais (KENEDY, 2017).

VOCÊ SABIA?
Em 2001, um geneticista inglês integrante de Projeto Genoma descobriu o gene
responsável pela linguagem humana: o FOXP. A partir da análise de amostras de
DNA de pessoas com dificuldades de articular a fala, foi identificado um defeito
nesse gene. Com o prosseguimento das investigações, será possível desenvolver
terapias para deficiências de linguagem. Para saber mais, acesse o endereço: <
(http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2001/011003_linguagem.shtml)http://w
ww.bbc.com/portuguese/noticias/2001/011003_linguagem.shtml
(http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2001/011003_linguagem.shtml)>.

De acordo com a teoria gerativista da linguagem, todos nós possuímos um estado


inicial que nos permite, salvo em casos patológicos, adquirir linguagem e, por isso,
sua origem é biológica e não cultural, porque nascemos com ela. No entanto,
Chomsky (1957) valoriza nossas experiências com a língua, a partir do que chama
de input, aquilo que o ambiente e as pessoas com quem convivemos nos oferecem
em relação a um idioma específico. Sobre isso, Mussalim (2009, p. 74) afirma que:

Em outras palavras, postula-se que a criança nasce pré-programada com princípios


universais e um conjunto de parâmetros, mas estes últimos somente serão fixados
de acordo com os dados de língua a qual a criança está exposta.

Os dados de língua aos quais se refere a autora são o input, a experiência do ser
humano com a língua que determina como ele adquire a língua. Isso é perceptível
ao observarmos a forma como as crianças aprendem a falar. Chamamos de língua
materna a sua primeira língua, aquela que ela aprende no meio familiar, com os
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pais e parentes mais próximos. Mas isso não a impede de aprender outras línguas
ao longo de sua vida, pois além da capacidade linguística inata, esse indivíduo
pode ter contato com outros idiomas.
Dessa forma, o analisar e explicar a gramática universal, os gerativistas
formularam a teoria de princípios parâmetros e da gramática transformacional, a
qual você conhecerá na sequência. 

2.4.1 A teoria de princípios e parâmetros


A teoria de princípios e parâmetros foi desenvolvida no nível da sintaxe, na medida
em que considera que nas estruturas sintáticas é que se percebem as semelhanças
entre as diferentes línguas, o que facilita o estudo da gramática universal. Por
exemplo, é visível que todas as línguas possuem orações adjetivas, orações
interrogativas, sujeito, predicado e complementos verbais.
Outro postulado da gramática universal é de que os módulos da gramática –
fonologia, morfologia, sintaxe e semântica – devem ser estudados
separadamente, com ênfase nos estudos sintáticos, pelos motivos já explicitados
acima. É interessante notar que esse modelo de estudo perdura até hoje na
gramática tradicional abordada em algumas escolas de educação básica. No
entanto, é preciso considerar que existem pontos de interesse comum entre os
módulos da gramática, pois no nível do desempenho linguístico, eles ocorrem
concomitantemente.
Nesse contexto, são princípios “as propriedades gramaticais que são válidas para
todas as línguas naturais” enquanto os parâmetros são “as possibilidades de
variação das línguas” (KENEDY, 2017, p. 136).
Por exemplo, é consenso que a existência de sujeito na oração é um princípio da
gramática universal, visto que todas as línguas possuem essa função sintática em
sua estrutura. Porém, nem todas as línguas – como é o caso do inglês –
possibilitam a existência do sujeito nulo, ou oração sem sujeito, como é o caso de
“choveu hoje”, em português. O sujeito nulo é, portanto, um parâmetro da
gramática universal.
Diante do exposto, é papel do linguista gerativista comparar os fenômenos
linguísticos, em especial os sintáticos, nas diversas línguas, a fim de descrever os
princípios e os parâmetros da gramática universal, componente da faculdade de
linguagem. 

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2.4.2 A estrutura das sentenças 


Além dos estudos da gramática universal (GU), existia entre os linguistas
gerativistas o interesse na descrição da estrutura da língua chamada de gramática
transformacional, desenvolvida entre 1960 e 1970. Recebeu esse nome porque
defende que a partir dos elementos que compõem uma sentença, é possível
transformá-la em outras sentenças. Ou seja, é possível formar um número infinito
de sentenças através de um número finito de regras. Por exemplo, a partir da frase
“o menino comprou uma bola”, é possível realizar novas combinações para a
formação das frases: “a bola foi comprada pelo menino”, “quem comprou a bola?”, e
“o que o menino comprou?”, entre outras formações possíveis.
Veja um exemplo de análise gerativista da frase “o menino comprou uma bola”,
representada pelo sistema arbóreo a seguir:

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Figura 4 - Representação arbórea da sentença. Fonte: Elaborada pela autora, baseada na teoria
gerativista, 2017.

A partir de análises como essa é possível explicar a geração de frases simples, mas
essa decomposição dá conta de formações mais complexas, como orações na voz
passiva. Nesse caso, aplica-se a regra transformacional, segundo a qual é possível
formar novos enunciados a partir de um primitivo. Dessa forma, subentende-se
que uma frase estruturada na voz passiva deriva de uma anterior na voz ativa. A
primeira formação, primitiva, exemplificada aqui pela voz ativa, é chamada de
estrutura profunda. Em contrapartida, a estrutura derivada, exemplificada aqui
pela voz passiva, é chamada de estrutura superficial.
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Veja uma análise transformacional da estrutura da voz ativa em voz passiva, em


língua portuguesa:

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Figura 5 - Transformação de voz ativa em voz passiva. Fonte: Elaborada pela autora, baseada na
teoria gerativista, 2017.

A ocorrência de transformações na estrutura da língua, por meio da derivação, é o


foco de muitos estudos gerativistas, inclusive nos dias atuais. 

VOCÊ QUER LER?


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  “O instinto da linguagem”, de Steven Pinker, foi escolhido pelo “New York Times” como um dos
melhores livros do ano em que foi publicado, 2002. Pinker aborda a aquisição da linguagem por
crianças de forma detalhada, desde a aprendizagem até o funcionamento do cérebro em relação a esse
processo de aquisição. O referido autor corrobora com as ideias de Chomsky sobre a relação entre
linguagem e mente. Leia trechos da entrevista de Pinker no endereço:
<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2109200201.htm
(http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2109200201.htm)>.

De fato, o gerativismo tem contribuído fortemente para os estudos sobre a


aquisição da linguagem. Basta observarmos crianças pequenas em seu
comportamento linguístico para perceber como essa teoria pode ser aplicada à
compreensão do processo de aprendizagem da língua pelos pequenos indivíduos.
Desde muito pequenas, por volta de 2 ou 3 anos de idade, as crianças vão
demonstrando rapidamente um uso eficiente da língua para se comunicarem,
deixando de simplesmente chorar para expressar fome ou frio, por exemplo.
De acordo com o que vimos na teoria chomskyana, todos nascemos com a
capacidade de desenvolver linguagem (Chomsky não se afeiçoa ao uso da
expressão adquirir linguagem, visto que defende a teoria inatista).  Assim, mesmo
que no início a criança profira “mamãe, a roupa cabeu”, ela demonstra já ter
aprendido a flexão dos verbos regulares na terceira pessoa do singular do pretérito
perfeito do indicativo, como comeu, bebeu, adoeceu e tantos outros. Por isso a
criança, instintivamente, realiza a analogia entre as terminações dos verbos e a
aplica ao verbo caber, sem considerar, por questões óbvias, que se trata de verbo
irregular, que, portanto, possui outra forma para essa conjugação – na 3ª pessoa
do singular, que seria coube. Com o tempo, no entanto, é possível perceber a
internalização dessas irregularidades da língua por parte da criança, a partir de
suas experiências sociais e amadurecimento linguístico.

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Figura 6 - A aquisição da linguagem pelas crianças ocorre nos primeiros anos de vida, e o uso
eficiente da língua evolui rapidamente. Fonte: Ollyy, Shutterstock, 2018.

No entanto, não podemos esquecer que, segundo Chomsky (1957), as crianças


não imitam simplesmente o que (e como) os adultos falam, mas evoluem e
desenvolvem gradativamente as regras da língua, por meio de sua competência
linguística, para que possam criativamente formar novas frases, mesmo que nunca
as tenham ouvido das pessoas que vivem em seu entorno.

Síntese
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Concluímos o estudo das duas correntes linguísticas que marcaram fortemente os


estudos linguísticos no século XX. O estruturalismo, dividido em estruturalismo
europeu e norte-americano, e o gerativismo são, junto a seus idealizadores – em
especial Saussure e Chomsky – fundamentais para a ciência linguística, pois suas
investigações ainda hoje contribuem para nossa compreensão do fenômeno
linguístico, independentemente do ponto de vista científico que queiramos
assumir. Dessa forma, ainda que você não concorde com alguns dos pressupostos
apresentados aqui, jamais poderá dizer que não são relevantes, posto que a partir
deles torna-se possível traçar novas formas de enxergar a língua, enquanto
construto abstrato, e sua manifestação concreta pelos indivíduos.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
conhecer os conceitos que serviram de base para a linguística moderna;
entender e discutir as dicotomias saussurianas: língua/fala,
sincronia/diacronia, significante/significado e paradigma/sintagma no
âmbito da linguística; 
analisar a relação entre linguagem, pensamento e cultura;
reconhecer as contribuições de Bloomfield e de Sapir para os estudos
linguísticos;
compreender a concepção da linguagem segundo os pressupostos de
Chomsky;
distinguir as noções de competência e desempenho linguístico;
reconhecer a teoria de princípios e parâmetros da gramática universal (GU),
formulada pelos gerativistas;
descrever a estrutura sintática das sentenças.

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_VERSAO_REVISADA.pdf)http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoForma
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