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13/09/2021 19:00 Linguística

LINGUÍSTICA
CAPÍTULO 4 - COMO ABORDAR A
LINGUAGEM EM USO?
Adriana Paula da Silva Amorim

INICIAR

Introdução
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Você parou para pensar que a partir do enfoque funcionalista da linguagem,


iniciado na segunda metade do século XX, os linguistas deixaram de considerar
apenas a forma linguística em situações hipotéticas e ideais e passaram a
privilegiar a língua em situação de uso? A abordagem mais formal ficou de lado, e
foram surgindo novas perspectivas de análise social e prática da língua.
Nessa perspectiva, começaram também a ganhar importância nos estudos da
linguagem os fatores extralinguísticos envolvidos na comunicação. Emergiram,
então, estudos de ordem pragmática, com os trabalhos de John Austin (1990) e
Paul Grice (1975), tais como a análise da conversação, a teoria dos atos de fala e a
teoria da polidez; a teoria da enunciação de Benveniste (1976) e a linguística
aplicada, em que se destaca Angela Kleiman (1998).
É importante destacar a relevância que os estudos linguísticos têm ganhado no
campo da linguística aplicada, em especial, no ensino de língua materna e
estrangeira. O ensino pautado na norma tradicional, a partir do qual se aprendia a
pura memorização de classificações gramaticais, vem dando espaço à reflexão
sobre a língua e a linguagem, sobre suas diversas formas de manifestação (verbais
e não verbais) e suas implicações para a vida cotidiana e profissional.
Portanto, os campos de estudo abordados neste capítulo configuram-se como
importantes fontes de conhecimento para o futuro profissional de Letras, como
forma de arrematar o caminho que percorremos pelas principais abordagens da
ciência linguística.
Bom estudo!

4.1 Pragmática
Os primeiros estudos no campo da pragmática linguística surgiram para responder
às seguintes questões: como as estruturas gramaticais podem ser compreendidas
quando utilizadas com funções específicas em determinados contextos? Como
interpretar a interação entre as pessoas na conversação? Há regras ou atitudes
linguísticas padronizadas na interação verbal?
A pragmática estuda a relação entre a estrutura linguística e seu uso, haja vista
que muito do que dizemos, na prática, ganha novos significados a partir dos
nossos interesses e objetivos comunicativos. Se alguém, por exemplo, bate à porta

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e diz “tem alguém aí?”, certamente não deseja simplesmente saber se existe
alguém no local, mas deseja ser recepcionado. 

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Figura 1 - Análise da língua pode ser feita sob a perspectiva da conversação. Fonte: Jane0606,
Shutterstock, 2018.

Dessa forma, Yule (1996) apud Wilson (2017, p. 89) define pragmática como “o
estudo do significado contextual”, em que importam como as coisas são ditas, a
quem são ditas, onde, quando e sob que circunstâncias. Mais que isso, a
pragmática também é “o estudo do como se diz além daquilo que é dito” (YULE,
1996 apud WILSON, 2017, p. 89), ou seja, o que está implícito. As investigações
pragmáticas são fazem distinção entre o que é interno e o que é externo à língua.
Todos os fatores envolvidos da situação comunicativa são importantes para a
compreensão do fenômeno.
As teorias pragmáticas convergem sobre o pensamento de que existe uma
regularidade nos comportamentos linguísticos dos indivíduos, de acordo com sua
cultura, suas crenças e as convenções sociais da comunidade linguística a que
pertencem. Vejamos, então, algumas dessas teorias.
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4.1.1 Implicaturas conversacionais e análise da conversação


O pioneiro nos estudos da conversação é o americano Paul Grice que, na década
de 1950 elaborou o princípio da cooperação, segundo o qual os interlocutores
contribuem para o êxito da conversação, falando o que é solicitado, no momento
devido, com propósitos comuns. A partir desse princípio, Grice (1975) apontou
implicaturas conversacionais, quais sejam:
máxima da quantidade: falar somente o necessário, sendo objetivo e
informativo, não mais do que o que é exigido na conversação;
máxima da qualidade: falar somente a verdade, algo que possa ser
comprovado por meio de evidências;
máxima da relação: falar somente o que é relevante para o interlocutor no
contexto da conversação;
máxima do modo: falar de modo claro, breve e organizado, evitando
ambiguidades.
O não atendimento a alguma dessas implicaturas pode ocasionar mal-entendidos
ou, até mesmo, complicações de relacionamento entre os interlocutores. Imagine,
por exemplo, que em dia comum você está sentado na estação do metrô e
comenta com alguém ao seu lado: “nossa, está tão quente!” e, de repente, essa
pessoa lhe passa o relatório completo de previsões meteorológicas para esse dia.
Houve, na resposta, uma quebra da máxima da quantidade, na medida em que o
interlocutor não foi objetivo, e da relação, por não ter apresentado informações
relevantes para o contexto em questão, já que provavelmente, ao dizer que está
quente, você não esperava receber informações técnicas sobre a previsão do
tempo. No entanto, o interlocutor, nesse caso, foi fiel à máxima da qualidade, por
apresentar informações verdadeiras que podem ser evidenciadas.

VOCÊ QUER VER?


No seriado de TV americano The Big Bang Theory, o personagem Sheldon é um exemplo de indivíduo
que não costuma respeitar as máximas conversacionais, por isso não possui muitos amigos. Ele não
costuma “medir” as palavras e acaba sendo inconveniente em muitos momentos da série. Veja como
assistir em: <http://www.warnerchannel.com/br/thebigbangtheory/
(http://www.warnerchannel.com/br/thebigbangtheory/)>.
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A partir do princípio de cooperação de Grice (1975), deu-se início à investigação


das práticas de conversação pela descrição da organização da interação
espontânea entre as pessoas, a fim de perceber como os falantes agem. As
conversações entre amigos, familiares, em entrevistas ou conversas telefônicas
são gravadas em áudio e vídeo, caso seja possível, para posterior transcrição e
análise.
A base da conversação é a troca de turno, “segmento produzido por um falante
com direito a voz” (CASTILHO, 2000, p. 36 apud WILSON, 2017, p. 106). Toda
intervenção do falante é, pois, um turno, ainda que seja apenas um aceno de
cabeça ou um gesto significativo. Para que a haja harmonia na troca de turnos na
conversação, é necessário que os interlocutores estejam engajados no princípio de
cooperação. Duas pessoas falando ao mesmo tempo numa conversação, por
exemplo, tornam a comunicação confusa e incômoda.
Além disso, na conversação, há o chamado tópico conversacional, que é o
assunto abordado na conversação. Sabe-se que, numa mesma conversa, é
possível haver mais de um tópico, quando alguém muda completamente de
assunto, ou subtópicos relativos ao macrotópico, o tópico principal da
conversação, a exemplo de entrevistas que possuem um eixo principal, mas no
processo de interação abordam variados subtópicos relacionados ao assunto mais
geral. Por fim, os estudos em análise da conversação categorizam o uso de
marcadores conversacionais, tais como: “bem”, “bom”, “né?”, “sabe?”, entre tantos
outros. 

4.1.2 Teoria dos atos de fala


A teoria dos atos de fala, desenvolvida pelo filósofo inglês John Austin, é um dos
importantes princípios da pragmática linguística. Segundo Austin (1990), quando
nos expressamos por meio da linguagem, não apenas falamos, mas realizamos
ações, como pedir, ordenar, questionar, reclamar, julgar, entre tantas outras. 

VOCÊ QUER LER?


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O livro “Quando dizer é fazer: palavras e ações”, do filósofo da linguagem John Langshaw Austin (1990),
trata da teoria dos atos de fala. Considerando que a linguagem é uma prática social concreta, Austin
defende nessa obra que numa conversa existe uma espécie de contrato entre os interlocutores, a fim
de que haja eficácia na comunicação.

Conforme a teoria de Austin (1990), ao falar, realizamos três atos: o ato locutório, o
ato ilocutório e o ato perlocutório. O primeiro se refere ao que é dito, o segundo ao
que se quis dizer (performativo) e o terceiro aos efeitos do que se disse no
ouvinte/receptor. Assim, quando alguém profere a frase “você quer casar
comigo?”, temos o ato locutório explícito fonética e sintaticamente; o ato
ilocutório é o pedido propriamente dito (a ação realizada por meio da frase) e o
perlocutório é o efeito que se espera a partir dessa pergunta: o próprio casamento
(AUSTIN, 1990).
Austin (1990) dá ênfase ao ato ilocutório, também chamado de performativo, que
é a ação realizada por meio da linguagem. Existem os perlocutórios explícitos –
expressos pelos verbos pedir, declarar, prometer, batizar, entre outros verbos de
ação performativa, como em “eu te batizo”, “prometo que virei” – e os implícitos,
em que as ações não são expressamente indicadas pelo verbo utilizado, mas
percebidas por meio da interpretação, como quando você pergunta a alguém:
“você tem horas?” e não apenas espera a resposta “sim” ou “não”, mas realiza um
pedido para que o outro lhe diga que horas são (AUSTIN, 1990).
A análise dos atos de fala no contexto de interação humana é de grande relevância
no campo das investigações pragmáticas, pois leva à compreensão dos ditos e dos
não ditos no jogo da linguagem.

4.1.3 Estratégias de polidez


Do princípio de cooperação de Grice (1975) e dos postulados de Goffman (1967)
sobre face, surgiu o princípio da polidez, desenvolvido por Brown e Levinson
(1987), Lakoff (1973) e Leech (1983). 

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VOCÊ O CONHECE?
Erving Goffman foi sociólogo, antropólogo e escritor canadense. Seus trabalhos sobre o
comportamento verbal foram importantes não somente para a linguística, mas também para a
psicologia, a psicanálise, a educação, a sociologia, entre outras áreas de estudo (FERNANDES, 2000).
Para saber mais, acesse o endereço: <http://periodicos.unb.br/index.php/les/article/view/1293
(http://periodicos.unb.br/index.php/les/article/view/1293)>.

Wilson (2017, p. 97) afirma: “A polidez está associada aos processos de elaboração
de face (autoimagem pública dos indivíduos)”. Dessa forma, na interação, as
pessoas tendem a preservar sua autoimagem com base em certas regras de
conduta para que as pessoas atinjam seus objetivos. Por exemplo, quando se faz
uma ligação telefônica e alguém atende, geralmente se diz: “gostaria de falar com
fulano”, de forma respeitosa e polida, e não “chame o fulano que eu quero falar
com ele”, o que poderia ser interpretado como uma ofensa. Até mesmo quando se
ordena algo existe uma forma de atenuar a imposição, dizendo “você poderia me
passar o arroz?”, ao invés de utilizar o imperativo “me passe o arroz”.
Nessa perspectiva, Lakoff (1973, p. 298) aponta três regras de polidez:
não imponha;
dê opções;
faça o outro sentir-se bem, seja amigável.
Brown e Levinson (1987), por sua vez, distinguem a face positiva da face negativa.
A face positiva é construída quando há preocupação de ser apreciado e aprovado
pelo outro, “é a boa imagem que o sujeito tem de si mesmo” (FIORIN, 2010, p. 174);
a face negativa revela-se quando há uma preocupação em preservar, defender a
própria face e de não ferir a sua privacidade. As duas se relacionam na interação
verbal. Para os autores supramencionados, a face de um indivíduo numa interação
verbal pode ser perdida, mantida ou engrandecida, por meio das estratégias de
polidez, que consistem justamente na tentativa de manter a própria face e a face
do outro, do interlocutor.

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No entanto, há situações em que os indivíduos já não se esforçam por manter a


face diante do outro, geralmente em casos de reclamações insistentes em que não
há um retorno. Nesses casos, expressões de hostilidade, gafes, insultos e ofensas
constituem-se como estratégias de impolidez.

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Figura 2 - Estratégias de polidez são importantes para a interação verbal. Fonte: Ollyy, Shutterstock,
2018.

Leech (1983) concebe a polidez como a adequação às normas sociais de


determinada comunidade. Ele leva em consideração, portanto, a cultura local na
definição das normas de comportamento aceitas na interação. Com base nessas
normas, Leech estabelece as máximas de polidez, quais sejam:
máxima do tato;
máxima da generosidade;
máxima da aprovação;
máxima da modéstia;
máxima da concordância;
máxima da simpatia.
As máximas de polidez são facilmente identificáveis na interação verbal. A fim de
preservar sua própria face, quando queremos solicitar um favor a alguém,
procuramos minimizar o custo que esse favor pode gerar (máxima do tato),

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dizendo “queria lhe pedir algo, não é nada demais, rapidinho você faz” ou pedindo
de forma indireta, como quando você diz “nossa, a sala está bem quente”,
sugerindo que alguém abra as janelas, sem imposição.
Além disso, expressar generosidade com o outro, nos oferecendo para fazer algo
em benefício dele (máxima da generosidade), quando dizemos “deixa que eu
pego, você merece”, elogiando-o (máxima da aprovação); somos despretensiosos
(máxima da modéstia), quando respondemos “são seus olhos” diante de um
elogio; procuramos minimizar os conflitos (máxima da concordância) e tentamos
demonstrar aproximação com o interlocutor (máxima da simpatia), quando
dizemos “desculpe-me pela demora, não fique chateado comigo, somos amigos”.
Em síntese, as estratégias de polidez são meios de se atingir o princípio da
cooperação de Grice (1975), sendo linguisticamente polido a fim de não magoar o
outro no processo de comunicação.

4.2 Semiótica, enunciação e dêixis


Em contraposição às abordagens formalistas da língua, os estudos pragmáticos e
enunciativos dão ênfase à linguagem em uso efetivo. Não há, portanto, sentido no
estudo de estruturas prototípicas, sem qualquer atualização. Entende-se por
atualização, neste caso, a passagem do virtual para o real, da possibilidade para o
ato efetivo.
“A enunciação é o ato de produzir enunciados, que são as realizações linguísticas
concretas” (FIORIN, 2010, p. 167). É, pois uma passagem da língua para a fala, por
meio de categorias: a pessoa, o tempo e o espaço, conforme Benveniste (1976).
O termo enunciado foi utilizado anteriormente como sinônimo de frase, sentença,
porém a partir dos postulados da teoria da enunciação, ele deixa de representar
frases hipotéticas, ditas virtualmente por falantes ideais da língua, e passa a
significar um construto social, produzido por um sujeito real, num dado tempo e
num dado espaço. Privilegia-se, então, o estudo do texto ao invés de frases soltas e
descontextualizadas. 

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Figura 3 - A interrogação “Como higienizar os alimentos sem desperdiçar água?”, por estar inserida
em seu contexto real de comunicação, é considerada um enunciado. Fonte: BRASIL, 2017.

Surge também a noção de discurso. Conforme Fiorin (2013), o discurso é o


produto social resultante da enunciação. Assim como o signo linguístico de
Saussure, o discurso possui duas faces: a da expressão – do significante – e a do
conteúdo, dos significados que circulam entre emissor e receptor (FIORIN, 2010, p.
46). E há fatos linguísticos que só podem ser explicados a partir do ato de enunciar,
como veremos a seguir.

4.2.1 Dêixis
Os dêiticos são elementos linguísticos que se referem a elementos
extralinguísticos, mas que mantêm relação com a interação. Em outras palavras,
os dêiticos se referem às pessoas envolvidas na enunciação, por meio de
pronomes pessoais como eu e tu; ao lugar em que o enunciado foi produzido, por
meio de advérbios de lugar e pronomes demonstrativos como aqui, ali, este e
esse; e ao tempo em que houve a enunciação, por meio de marcadores temporais
ou advérbios de tempo como hoje e agora. Dêixis é, portanto, o fenômeno de
“apontar” para elementos extratextuais.

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Um dêitico só pode ser compreendido dentro da situação enunciativa. Assim, se


você escreve o seguinte bilhete: “Hoje a encontrarei naquele mesmo local”, porém
o perde no meio da rua, a pessoa que o encontrar jamais conseguirá compreender
seu significado, posto que não conhecendo a situação comunicativa, não
conseguirá resgatar quem são as pessoas envolvidas, tampouco a que dia
específico e a que local o bilhete se refere.

VOCÊ SABIA?
A teoria da enunciação converge em vários pontos com a teoria dos atos de fala.
Podemos perceber, por exemplo, que os performativos, ou atos ilocutórios, por
meio dos quais se realiza uma ação, só podem ser compreendidos se levarmos em
consideração o contexto enunciativo, pois seu sentido extrapola a estrutura da
língua.

Outro exemplo muito usual é quando duas pessoas conhecidas se encontram


inesperadamente e, ao colocarem os assuntos em dias, uma pergunta: “e aquela
moça ainda mora lá?”. Neste caso, somente as pessoas envolvidas na enunciação
são capazes de compreender os referentes dos dêiticos “aquela” e “lá”. Mesmo
conhecendo o significado linguístico de cada um desses elementos, a sua
interpretação – sem o conhecimento partilhado que os participantes possuem em
relação ao contexto – torna-se inviável.
“No caso dos dêiticos, de nada adianta o conhecimento do sistema linguístico, o
que é preciso, para entendê-los, é conhecer a situação de uso” (FIORIN, 2010, p.
167).

4.2.2 Inferência
Conforme já foi demonstrado anteriormente, os interlocutores expressam muito
mais do que o que é dito. Há muitas informações implícitas, mas recuperáveis por
meio de informações explícitas no enunciado. Esse processo de interpretação é
chamado de inferência. Nessa perspectiva, quando um cônjuge diz ao outro: “a
lata de lixo está cheia”, não está simplesmente fazendo uma declaração, mas
implicitamente e polidamente está solicitando que o outro leve a lata para fora.

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Portanto, muitos enunciados são interpretados por meio de inferências e para isso
é necessário o conhecimento da situação de comunicação. Por isso não se usa nos
estudos enunciativos a terminologia frase, visto que ela se configura como um
conjunto de elementos linguísticos organizados sintaticamente, cuja significação
está vinculada à significação clássica dos elementos que a compõem. O
enunciado, por sua vez, “é uma frase a que se acrescem as informações retiradas
da situação em que é anunciada, em que é produzida” (FIORIN, 2010, p. 168),
como se percebe na figura apresentada anteriormente.
A mesma frase pode ocorrer em diferentes situações enunciativas. Por exemplo, a
frase “o filme é legal” proferida por um jovem em uma roda de amigos quer dizer
que o filme a que o jovem se refere é interessante, divertido. No entanto, se a
mesma frase for proferida por um advogado em um júri, certamente quer dizer
que o filme é legítimo, ou seja, está em concordância com a legislação.
Analogamente, a significação é indicada pelos próprios elementos que compõem
a frase, enquanto o sentido é acrescido de elementos contextuais e situacionais.
Assim, embora a frase “o filme é legal” possua uma única significação, o
enunciado “o filme é legal” proferido numa roda de amigos possui um sentido
diferente do enunciado “o filme é legal” no contexto jurídico, conforme
mencionado anteriormente.
A teoria da enunciação é muito útil aos estudos pragmáticos, na medida em que
fornece subsídios teóricos para a análise e interpretação dos sentidos de
enunciados, ou seja, de atos concretos de fala, em situações reais de uso.

4.3 Linguística aplicada


A linguística aplicada emergiu em meados da década de 1950 com o fito de
resolver problemas relacionados ao ensino de línguas (CUNHA; COSTA;
MARTELOTTA, 2017). Assim, quando uma investigação envolve a análise do uso da
linguagem num campo externo às teorias linguísticas, passa a ser de interesse da
linguística aplicada.
Ao pensarmos rapidamente sobre a linguística aplicada, podemos achar que se
trata, simplesmente, da aplicação dos conceitos teóricos produzidos pelas
correntes de estudos linguísticos estudados até aqui. De fato, há inúmeras
aplicações práticas dos pressupostos desenvolvidos por teóricos como a teoria
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gerativista da linguagem, de Chomsky (1957), que é muito utilizada em áreas como


neurolinguística ou psicolinguística. No entanto, a linguística aplicada vai além e
configura-se, de fato, como uma área de estudos científicos interdisciplinar, ou
seja, nela podem convergir conhecimentos de linguística, educação, psicologia,
sociologia, história, entre outras disciplinas. Na figura a seguir, elaborada por
Kleiman (1998), é possível identificar as diversas áreas que podem relacionar-se
nos estudos de linguística aplicada.

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Figura 4 - Interdisciplinaridade da
linguística aplicada. Fonte: KLEIMAN, 1998, p. 134.

Ainda sobre a interdisciplinaridade da linguística aplicada, Celani (1998, p. 131)


afirma:

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Não há dúvida quanto ao caráter multi/pluri/interdisciplinar da Linguística


Aplicada. Os que nela militam a todo momento se dão conta de que estão entrando
em domínios outros que os de sua formação inicial (na maioria das vezes, na área
de Letras), se dão conta de que precisam ir buscar explicações para os fenômenos
que investigam em outros domínios do saber que não os da linguagem stricto-
senso. Esse diálogo já faz parte da prática dos linguistas aplicados.

As pesquisas em linguística aplicada, segundo Celani (1998, p. 136) versam sobre:


a interação em contextos formais e informais: linguagem literária, linguagem
científica/acadêmica, análise da conversação, análise do discurso, interação
entre médico e paciente / professor e aluno, entre outros;
aquisição e desenvolvimento da linguagem (língua materna, estrangeira e
de sinais): projetos de letramento, aquisição e desenvolvimento da escrita,
da leitura, da oralidade, entre outros;
tradução: teoria, prática e ensino dos processos de tradução.
A relevância da linguística aplicada reside no fato de que os complexos estudos e
teorias sobre a linguagem e a língua de nada valeriam se não servissem para
compreender e solucionar questões práticas. E, conforme estamos verificando ao
longo dos nossos estudos sobre linguística, os cientistas da linguagem passaram
de uma visão mais teórica para uma visão mais prática do fenômeno linguístico.
Além disso, a grande preocupação da sociedade com a educação também motivou
muitos linguistas a se debruçarem sobre esse assunto buscando soluções para a
melhoria do ensino.
Nessa perspectiva, no Brasil, como em países mais desenvolvidos, a partir dos
resultados de discussões e investigações em linguística aplicada, o paradigma do
ensino de língua materna – antes pautado na aquisição de estruturas da língua
pelos alunos por meio da memorização – vem passando por uma profunda e
intensa mudança, a partir da qual o aluno é levado a refletir sobre a estrutura da
língua em função do contexto situacional, considerando todas as variantes
linguísticas e não somente a norma culta. É o que veremos no tópico seguinte.

4.4 Linguística e ensino

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Conforme afirma Mendonça (2006, p. 233), popularmente, o ensino e a


aprendizagem de línguas, maternas ou estrangeiras, pautam-se na gramática. Por
conseguinte, estudantes de Letras não percebem nos estudos científicos de
Linguística relevância para sua atuação profissional em sala de aula. Esse fato
decorre justamente porque o estudo de línguas que se realiza em muitas escolas
está distante do que se estuda nas universidades. Mas isso vem mudando a partir
da intervenção dos linguistas aplicados. 
Como vimos, uma das preocupações da linguística aplicada (senão a mais forte) é
o ensino de línguas (materna e estrangeira), focalizando a linguagem do ponto de
vista processual, conforme explica Moita Lopes (1996, p. 20):

Coloca-se foco na linguagem da perspectiva do uso/usuário no processo da


interação linguística escrita e oral. Portanto, a teoria linguística que interessa ao
linguista aplicado deve dar conta dos tipos de competências e procedimentos de
interpretação e produção linguística. Só uma teoria do uso da linguagem é que
pode fornecer subsídios teóricos em relação à linguagem com que o linguista
aplicado se defronta.

Perceba a relevância que Moita Lopes (1996) dedica às teorias do uso da


linguagem, tais como as que estudamos: sociolinguística, pragmática, enunciação.
Assim, cada uma das correntes linguísticas estudadas: formalistas, funcionalistas e
pragmáticas, interferem de diferentes formas no ensino de língua, seja língua
materna (L1) ou estrangeira (L2), embora hoje os linguistas defendam a
abordagem processual do ensino de línguas, do ponto de vista do usuário, o
aprendente.
Vygotsky (1979), considerado psicólogo da linguagem, defende que o sujeito, o
usuário da língua, possui um papel central na aquisição da linguagem. Assim, ele
deve ser interativo no processo de aprendizagem, pois é a partir das relações intra
e interpessoais, da troca com outros sujeitos, que ele aprende.
Bakhtin (1987), por sua vez, também defende o sujeito interativo e social no
processo de aprendizagem da língua, pois para ele a língua é um aspecto
intrínseco à sociedade. Ele criou o conceito de dialogismo, conforme o qual há um
constante diálogo entre o que é dito hoje, o que já foi dito por outras pessoas e o
que ainda será dito no futuro. Levando em consideração o que esses dois autores

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defendem sobre o processo de aprendizagem da língua, reafirma-se o pressuposto


de que a linguagem é um instrumento de comunicação e interação entre os
indivíduos e que essa interação não pode ser rejeitada no contexto educacional.

4.4.1 Os tipos de ensino da língua 


Língua é o mesmo que gramática? Vimos em nossos estudos nesta disciplina que a
resposta é não.
Franchi (1991, p. 48) apud Mendonça (2006, p. 234) aponta:

Gramática é o conjunto sistemático de normas para bem falar e escrever,


estabelecidas pelos especialistas, com base no uso da língua consagrado pelos bons
escritores. Dizer que alguém sabe gramática significa dizer que esse alguém
conhece essas normas e as domina tanto nocionalmente quanto operacionalmente.

Essa é, portanto, a definição de gramática normativa, a variante linguística de


maior prestígio social dentro da língua que prescreve o que é certo e o que é
errado no uso da língua. No entanto, Franchi (1991) também atesta a existência da
gramática descritiva e da gramática internalizada.
A gramática descritiva, como o próprio título sugere, é a que descreve as regras de
estruturação e uso de uma língua, “de modo a separar o que é gramatical do que
não é gramatical. Saber gramática significa, no caso, ser capaz de distinguir [...] as
categorias, as funções e as relações que entram em sua construção” (FRANCHI,
1991, p. 52-53 apud MENDONÇA, 2006, p. 237). A gramática descritiva,
diferentemente da normativa, não possui caráter prescritivo, mas descrever como
é uma língua, considerando todas as suas variedades.
Por conseguinte, a gramática internalizada “corresponde ao saber linguístico que
o falante de uma língua desenvolve dentro de certos limites impostos pela sua
própria dotação humana, em condições apropriadas de natureza social e
antropológica” (FRANCHI, 1991, p. 54 apud MENDONÇA, 2006, p. 238). Fruto dos
estudos gerativistas e também da visão interacionista da linguagem, para a
gramática internalizada, saber uma língua é ter internalizada a gramática dessa
língua, sem necessariamente tê-la estudado formalmente. Por isso, diz-se que
todo falante de Português sabe Português, mesmo que nunca tenha frequentado
uma escola. Da mesma forma, se você for morar em outro país, pode aprender o

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idioma sem necessariamente participar de aulas em cursos de língua estrangeira.


Isso ocorre pela sua experiência com a língua e pela interação com outros falantes
do mesmo idioma.
Conclui-se, portanto, que ensino de língua não é, necessariamente, ensino de
gramática. A gramática é, pois, um dos aspectos da língua que deve ser estudado,
dentre tantos outros como a produção escrita e oral, a análise e a descrição dos
usos reais da língua e os efeitos de sentido de palavras e expressões.
É interessante observar que professores de língua divergem em sua forma de
ensinar, não somente pela metodologia, mas principalmente pela concepção de
língua (e, consequentemente, de gramática) que adotam em sua prática
profissional. Da mesma forma, se você analisar um livro didático, em especial o
manual do professor, verá que o autor aponta a concepção de língua que assume
na elaboração do material. Essa concepção que o autor e o professor possuem
sobre língua e gramática determina todo o processo de ensino da língua que se faz
nas escolas e nos cursos independentes.
No livro “As ciências linguísticas e o ensino de línguas”, Halliday, McIntosh e
Strevens (1974) apresentam três tipos de ensino de língua, com base nos tipos de
gramática que vimos anteriormente: o prescritivo, o descritivo e o produtivo. Cada
um desses tipos está baseado em uma concepção distinta de língua.
O ensino baseado na análise da língua apenas no âmbito da palavra ou da oração,
ou atividades de interpretação textual com base num sentido único,
desvinculando a língua dos fatores extralinguísticos – como quem, como, quando
ou para que(m) se faz uso da língua – possui uma concepção formalista da
linguagem, também chamado de ensino prescritivo. É o ensino mais tradicional,
centralizado nas noções de certo e errado.
Por conseguinte, o ensino fundamentado no tratamento da linguagem como
instrumento de comunicaçãocom detalhamento dos elementos envolvidos na
situação comunicativa – emissor, receptor, código, mensagem, canal e contexto – e
nas funções da linguagem, considerando que a estrutura da língua, não é
autônoma, mas motivada por fatores comunicativos e possui uma concepção
funcionalista da linguagem. A análise linguística, nesse modelo, é descritiva, não
pretende, pois, prescrever o que é certo ou errado, mas descrever e explicar a
estrutura com foco na função dos elementos que a constituem, sem desprezar a
variação linguística.

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Por fim, o ensino pautado na linguagem como produto da interação humana, no


uso da linguagem decorrente de fatores intra e extralinguísticos, possui uma
concepção funcional e pragmática da linguagem. Esse tipo de ensino considera
a importância da norma culta, por fatores sociais e políticos, mas não a sobrepõe
às demais variantes linguísticas. Por isso compreende a relevância dos diversos
contextos que determinam os usos linguísticos. Nessa perspectiva, o professor
deixa de ser o centro das atividades de ensino e passa a ser um mediador entre o
conhecimento e o aluno, potencializando o estudo da língua a partir dos usos dos
próprios alunos.

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Quadro 1 - Comparativo entre os tipos de ensino de língua. Fonte: Elaborado pela autora, baseado
em HALLIDAY; MCINTOSH; STREVENS, 1974.

Nesse contexto, conhecer as relações entre as diferentes concepções de linguagem


e os tipos de ensino de língua que são praticados nas escolas é fundamental e
pertinente para o estudo da linguística, na medida em que reconhecemos a
relevância social dos estudos linguísticos.

4.4.2 Contribuições da linguística aplicada


Conforme Cunha, Costa e Martelotta (2017), o termo “linguística aplicada” surgiu
em meados da década de 1950, como desejo de alguns professores de línguas de
associarem as pesquisas científicas no campo da linguística à prática de ensino de
língua materna e estrangeira. Os estudiosos da linguística aplicada, tais como
Kleiman (1998) e Moita Lopes (2006), procuram compreender os contextos de
ensino e aprendizagem de línguas e propor a elaboração de métodos, materiais
didáticos e de avaliação.

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Figura 5 - A partir dos resultados das pesquisas em linguística aplicada, passou-se a valorizar
atividades de ensino baseadas nas interações, oral ou escrita, por meio da linguagem. Fonte:
Ditty_about_summer, Shutterstock, 2018.

Para a linguística aplicada (LA), a língua deve ser considerada em seu aspecto
pragmático e interacional, centrada no uso e não no código em si. Essa visão tem
contribuído para uma mudança de paradigma no ensino de língua, de uma
perspectiva mais tradicional – voltada para o interior do sistema linguístico – para
uma perspectiva mais inovadora – e para o uso efetivo da linguagem, por meio de
estratégias intra e extralinguísticas.

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Em várias universidades brasileiras existem grupos de pesquisa voltados para o


ensino de aprendizagem de línguas estrangeiras com base nas teorias linguísticas.
Segundo Freeman e Long (1994) apud Baptista (2000), há, pelo menos, quarenta
teorias de aquisição de segundas línguas, todas elas baseadas nos pressupostos
de teorias e pesquisas linguísticas com ênfase na aquisição e no processamento
da linguagem.

CASO
Na Faculdade de Educação da Unicamp existe o Grupo de Pesquisa
Pensamento e Linguagem (GPPL), que atua com projetos de linguagem
voltados para aplicação em salas de aula de escolas públicas. Tratam-se de
estudos interdisciplinares, visto que consideram pressupostos da
psicologia, da filosofia, da linguística, da educação, da sociologia, entre
outras áreas do conhecimento. Para acompanhar o desenvolvimento
destes estudos, acesse: <https://www.gppl.fe.unicamp.br/
(https://www.gppl.fe.unicamp.br/)>.

Torna-se verificável que até mesmo a elaboração de material didático a ser


utilizado nas escolas em relação ao ensino de línguas está mudando, se
adequando à nova realidade e aos novos contextos de produção linguística,
embora ainda haja muitos manuais didáticos que se propõem a ser inovadores,
mas não vinculam os conteúdos e as atividades de análise linguística a situações
reais de comunicação. Veja na figura a seguir o panorama histórico do livro
didático de língua portuguesa no ensino brasileiro.

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Figura 6 - As mudanças nos livros didáticos de
língua portuguesa. Fonte: Elaborada pela autora, baseada em DIONÍSIO (2018) e MALFACINI (2015).

Nessa perspectiva, Malfacini (2015) afirma que, na atualidade, vivemos um


momento de transição em que “os professores recém-formados já perceberam
que não é mais possível simplesmente dar as costas a todas as contribuições da
ciência linguística contemporânea”. Dessa forma, não são excluídos dos estudos
linguísticos as questões gramaticais importantes para a formação linguística do
indivíduo, mas busca-se ir além da memorização de regras e classificações
gramaticais para a produção efetiva de textos orais e escritos com ênfase na
interação.

4.4.3 Uma visão de futuro

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Levando em consideração que a língua não se resume a uma gramática (embora a


gramática seja importante), para que o aluno desenvolva as habilidades
necessárias para ler, interpretar e produzir textos com eficiência é necessário o
estudo da língua além da gramática pura e simples. Dessa forma, é perceptível a
tendência cada vez maior de crescimento da abordagem funcional e pragmática
da linguagem nas salas de aula. A gramática não deixa de ser estudada, mas passa
a ser vista de forma contextualizada.

VOCÊ QUER LER?


O livro “Gramática contextualizada: limpando o pó das ideias simples”, de Irandé Antunes (2014) é
considerado uma ótima indicação de leitura para estudantes de cursos de licenciatura na área de
línguas. Embora seja voltado para o ensino contextualizado da gramática da língua portuguesa, a
discussão realizada pela autora pode ser aplicada ao ensino de línguas estrangeiras, sob uma
perspectiva funcional e pragmática.

Por outro lado, o papel do professor de línguas também está passando por
modificações. Com o advento da concepção funcional e pragmática da linguagem
aplicada ao ensino, emerge a figura do sujeito, aquele que produz textos orais ou
escritos a partir de um contexto extralinguístico, a fim de produzir sentidos. Dessa
forma, o professor não é (ou não deve ser) mais o centro das atividades de ensino.
O conhecimento não é repassado do professor para o aluno, mas construído com
ele. 

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Figura 7 - O ensino de línguas na atualidade exige uma nova postura do professor. Fonte:
Rawpixel.com, Shutterstock, 2018.

Não se trata, porém, da diminuição da responsabilidade docente, pelo contrário,


essa mudança de posicionamento do professor em relação ao aluno e a sua
prática profissional, o torna corresponsável pelo sucesso ou fracasso do aluno,
que antes era considerado o único responsável pelo seu desempenho, já que o
ensino e a aprendizagem eram considerados bem diferentes um do outro. Ao
professor, cabia compartilhar seus conhecimentos com a turma, a quem recaía a
tarefa de absorver todo o conteúdo. Sob a nova perspectiva do professor, o
conhecimento não é repassado de um para o outro, mas construído por todos os
envolvidos no processo de aprendizagem. O docente passa a ser um “interlocutor
privilegiado, um mediador mais experiente que irá concorrer para que seus alunos
usem efetiva e eficientemente os recursos linguísticos a fim de produzirem e
receberem textos com competência” (OLIVEIRA; WILSON, 2017, p. 240).
Assim, podemos concluir que, na efetividade da comunicação humana, não
interessa somente a estrutura linguística padrão, mas os fatores extralinguísticos
envolvidos da produção de sentidos pelos interlocutores em situação real de

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comunicação.

Síntese
Ao finalizarmos os estudos que abordaram as questões de uso da linguagem,
esperamos que as ideias apresentadas estejam claras para você, e que as
discussões realizadas tenham sido produtivas em relação à sua aprendizagem e
formação profissional.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
conhecer a teoria dos atos de fala e as máximas conversacionais;
analisar as estratégias de polidez em situações cotidianas;
entender os pressupostos da linguística da enunciação;
identificar as noções de significação e sentido, e de frase e enunciado;
entender os pressupostos da linguística de texto;
identificar a coesão e a coerência de um texto;
compreender de que maneira a linguística pode auxiliar no ensino e na
aprendizagem de línguas.

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Paulo: Parábola Editorial, 2014.

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