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INSTITUTO FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO

LICENCIATURA EM LETRAS

CARINA DE GIROLAMO FALCHI


EDILAINE APARECIDA RODRIGUES PEREIRA
IVONICE ARAUJO CARNEIRO
MARTHA FARACO ZANETTI

ATIVIDADE PRÁTICA VIRTUAL


Questionário sobre Gramática

2021.1
ATIVIDADE PRÁTICA VIRTUAL
Questionário sobre gramática

Trabalho apresentado na disciplina de Estudos


Gramaticais, licenciatura em Letras. Professora
Telma Aparecida da Silva Santos.

2021.1
INTRODUÇÃO

Neste estudo iremos abordar o uso da gramática no dia a dia das pessoas, mas o que é a
Gramática? Segundo Edair Görski e Heronides Moura:
Gramática' é um termo polissêmico, pois pode ser usado com várias acepções, como
por exemplo: (i) gramática universal – a faculdade da linguagem, o próprio
conhecimento inato dos falantes; (ii) gramática particular – o sistema abstrato que
subjaz às realizações linguísticas dos falantes de uma dada língua; (iii) gramática
prescritiva – inspirada na gramática tradicional, pode ser definida como conjunto de
regras que devem ser seguidas (opera com as noções de “certo” e “errado”); (iv)
gramática descritiva – assentada na linguística, pode ser definida como conjunto de
regras que são seguidas. A concepção de língua(gem) adotada vai implicar uma certa
concepção de gramática. (2011, p. 72).

Tal pesquisa teve como objetivos: entender dentro de um senso comum um tema tão
complexo “O que é Gramática?”; saber o grau de importância da gramática na comunicação
para este grupo e perceber se os membros entrevistados distinguem o falar bem do escrever
bem. Com base nesta experiência fizemos análises das respostas do que realmente essas pessoas
achavam do uso da gramática, seja de forma oral ou escrita, no seu cotidiano e a relevância que
o uso “adequado” traz para se ter uma comunicação eficaz, visto que o uso da gramática
apresenta-se hoje como um dos grandes desafios ao ensino brasileiro.

METODOLOGIA

Para a realização deste trabalho foi usada a metodologia da pesquisa descritiva em que
destacamos estudos sobre o que é gramática e enfatizamos o uso da gramática em “correto” ou
“adequado’, acompanhada com uma abordagem qualiquantitativa, pois ao mesmo tempo em
que abrangemos dados qualitativos, também fizemos análises quantitativos destes. Ademais, o
meio utilizado foi o estudo de caso: Como a gramática e suas concepções são vistas pelas
pessoas, ao qual utilizamos como instrumento para realização deste estudo um questionário
com perguntas abertas e fechadas, Ao todo foram treze questões, com amostra de onze pessoas
e seus resultados e interpretações serão abordados no decorrer do trabalho.

DESENVOLVIMENTO

Para a realização deste trabalho foram entrevistadas onze pessoas, divididas entre os
estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, na faixa etária entre trinta e quarenta e
sete anos. O público obteve predominância de mulher cisgênera, com grau de escolaridade de
nível superior (graduação e pós-graduação), de cor branca e profissão voltada ao campo
artístico, seguida por atividades administrativas, conforme apresentado nos gráficos abaixo.
QUESTÃO 7 - O que você entende por gramática?

Dos entrevistados, 81,8% responderam a questão “O que você entende por gramática?”
fazendo bastante alusão à Gramática Normativa, buscando sempre conceituar seu entendimento
sobre o tema como ‘regras’ e ‘normas’ a serem seguidas.
Dentre outro questionamento, 9,1% mostraram tendências de Gramática Descritiva,
dizendo que é a utilização da língua na forma prática a partir de uma base referencial.

E no total dos entrevistados, 9,1% consideram a gramática como um todo de conjuntos


de regras infinitas, que formam a língua, ou seja, remetendo a gramática particular de uma
língua.

QUESTÕES 8 E 8.1 – Você gosta de gramática? Explique de forma breve sua resposta anterior.

Dos entrevistados, 72,73% afirmaram que SIM, gostam de gramática. O motivo mais
citado é a importância de falar corretamente dentro das profissões, seguido pela apreciação do
uso correto e a aquisição de conhecimento e aprendizagem.

Os 27,27 % que disseram NÃO gostar de gramática, justificam que houve resistência
por conta da metodologia aplicada no ensino, a não inclusão de dialetos, regionalismos e cultura
local. Entretanto, mais da metade ressalta que reconhece a importância de estudar gramática.
QUESTÃO 9 - Algumas pessoas consideram que estudar gramática é “unir o inútil ao
desagradável”. O que você pensa sobre isso?

Quanto à pergunta número 9, após análise das respostas, foi feita uma categorização em
“concorda”, “discorda”, “concorda em parte” e “discorda em parte''. De um total de 11
entrevistados, 9 pessoas discordam da afirmação apresentada, considerando ser importante o
estudo da gramática para agregar conhecimento necessário à vida em sociedade.
Quanto ao resultado “discorda em parte”, foi levantada a situação de que, ao longo da
história, o estudo e aplicação da gramática, bem como o acesso a esse saber foi elitizado,
restrito a um grupo de pessoas e com grande distanciamento da realidade de outro grupo, à
margem da escolarização, a grande maioria. Foi reconhecido também que, por outro lado, o
estudo linguístico vem ampliar essa noção de gramática reconhecendo que a língua portuguesa
é heterogênea, portanto não se pode negar as variedades linguísticas. Já a resposta “concorda
em parte” trouxe a questão, abordada por Görski e Moura (2011), de que o ato de escrever não
é uma representação da fala. A fala irá se adequar ao meio, canal e ao receptor da mensagem,
sendo também influenciada pelo contexto situacional, o papel social desempenhado pelo
interlocutor e o assunto (GÖRSKI E MOURA, 2011).
QUESTÕES 10 E 11
10- O que é "falar certo" para você?

11- O que é "falar errado" para você?

De acordo com as respostas das questões 10 e 11, a maioria das pessoas relacionaram
o ato de “falar certo e errado” com a gramática normativa, isto é, em muitas respostas foi
utilizado o termo “correto” e, ainda, associação com a norma culta. Para esses casos, vale o
destaque de algumas respostas utilizadas, como “Falar de acordo com a linguagem padrão”
quando questionada sobre falar certo e “O "foge" do padrão da norma culta.” quando
questionada sobre falar errado. O que reforça a confusão que as pessoas fazem em relação às
variedades linguísticas e, consequentemente, fazendo da norma culta/ padrão como definição
do que é certo ou errado na língua portuguesa. Entretanto, muitos também correlacionaram
com a função da comunicação, priorizando o ato de fazer-se ou não entendido, levando em
consideração o contexto e situação entre os falantes. Por isso, entendemos que apesar deles não
dominarem a teoria da gramática descritiva e as variações que uma língua pode apresentar,
classificamos suas respostas de acordo com estes conceitos. Para essa abordagem, vale o
destaque das respostas: “Não gosto deste termo.. não existe certo, existe apenas diferentes
formas de se comunicar.” quando questionada sobre falar certo e “Usar um discurso
incompatível com o lugar ou grupo que você acessa.” quando questionada sobre falar errado.

QUESTÕES 12 E 12.1

12- Considerando o uso da gramática na comunicação, como você reage quando alguém utiliza
termos como: Tu vai sair? 𝐀 𝐠𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐯𝐚𝐦𝐨𝐬 𝐬𝐚𝐢𝐫? 𝐍ó𝐬 𝐯𝐚𝐢 𝐬𝐚𝐢𝐫?
12.1- Explique de forma breve sua resposta anterior.

Analisando as respostas da questão 12, vê-se que 63,6% aceitam os usos dos termos
apresentados. Na questão 12.1 foi aberto um campo para os entrevistados apresentarem suas
justificativas. Analisando as justificativas, embora os participantes aceitem o uso dos termos
apresentados, aliam tais usos ao não acesso à educação formal. Nesse sentido deve-se trazer o
que Bago (2007) apresenta sobre preconceito linguístico:
O preconceito lingüístico se baseia na crença de que só existe,
como vimos no Mito n° 1, uma única língua portuguesa digna deste nome e que
seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos
dicionários. Qualquer manifestação lingüística que escape desse triângulo escola-
gramática-dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito lingüístico,
“errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente”, e não é raro a gente ouvir que “isso
não é português”. (BAGNO, p. 38, 2007)
Outros, têm como referência a norma culta e, embora considerem ser uma violação a
essas regras, aceitam os termos apresentados se a comunicação ocorreu de modo efetivo. Outra
resposta levanta a questão da diferença entre o falar e o escrever, já mencionada acima,
relatando não usar esses termos na escrita. Também foi apresentada a questão do direito de
fala, ou seja, o interlocutor tem o direito e a liberdade de usar um discurso que o representa.
Quanto à porção que rejeita, vê-se que, embora rejeitem tais usos, reconhecem as variedades
linguísticas e o fato de que o uso desses termos não obsta que a mensagem seja compreendida.

QUESTÕES 13 E 13.1

13 . Você concorda com a afirmativa: "𝐀 𝐥𝐢𝐧𝐠𝐮𝐚𝐠𝐞𝐦 𝐭𝐚𝐦𝐛é𝐦 é 𝐮𝐦 í𝐧𝐝𝐢𝐜𝐞 𝐝𝐞 𝐩𝐨𝐝𝐞𝐫"?


13.1 Comente de forma breve sua resposta anterior.

Verificamos que nesta alternativa, apenas uma pessoa discordou, ela acha que a
linguagem não é um índice de poder em si, mas apenas que esta só empodera quem tem o uso
da palavra em cargos, ou seja, segundo o entrevistado a linguagem só lhe dá poder se você tem
o poder para através deste demonstrar o uso apropriado desta em determinada circunstância.
Os demais concordaram que a linguagem é sim um índice de poder, ratificando que o falar bem
além de dar um empoderamento pessoal, impõe-lhe uma confiança que transborda
naturalmente ao coletiva na sua comunicação. Adentrando mais, abordaram que o uso coerente
da linguagem faz com que se tenha o poder de persuasão, de sedução e alcance dos objetivos
através da oratória, independente de você estar numa posição superior ou não.
Diante das reflexões acima, sabemos que a Gramática estabelece um padrão de escrita
e fala com o fim de nortear o uso da língua e necessariamente nem sempre quem fala
corretamente, escreve corretamente, sendo que em grande parte sim. Assim, há de convir que
a gramática tem suas infinitas regras, mas é notório como o poder da linguagem determina a
posição do indivíduo dentro do contexto social, possibilitando ascensões em empregos,
prestígio entre a comunidade que vive, respeito, admiração. Seria então uma miopia não
enxergarmos a relação de proximidade que existe entre linguagem e sociedade.

CONCLUSÃO

Nossa Língua Portuguesa é heterogênea e rica de variedades, neste aspecto não se pode
pensar em uma unidade linguística, mas sim na diversidade de normas como aponta Gorski e
Moura (2009, p. 74), que se mesclam e influenciam mutuamente. Percebe-se, no entanto, uma
valorização da gramática normativa e um possível sinal de desconhecimento e negação da
gramática descritiva e das variedades linguísticas. Isso pode ser devido ao alto grau de
escolarização apresentado pelo público dessa pesquisa, como apontado pelos autores GÖRSKI
e MOURA (2011, p. 75) “[...] norma culta está associada a certos valores sociais: os indivíduos
que a praticam têm alto grau de escolarização, circulam em ambientes que exigem certa
formalidade e onde tem destaque a cultura escrita.”
Ademais, o problema de uma linguagem não adequada tem suas bases diversificadas
desde a metodologia do ensino, que em muitas vezes a gramática é imposta de uma forma
decorativa sem saber o porquê do uso; até as variedades linguísticas. Diante destas análises
constatamos que a linguagem traz empoderamento, mas não podemos ter preconceitos
linguísticos com quem não fala de forma adequada diante de certos contextos, pois a própria
gramática em si tem suas divisões que flexibilizam o uso da linguagem - a gramática descritiva.
É fundamental salientar que nós como futuros mestres temos a responsabilidade de
transmitir ensinamentos aos nossos alunos de forma que os aceitem na sua linguagem, no uso
da sua gramática universal (inata), não os censurando ou aprovando-os, mas orientando-os
através da mediação e práticas diárias que os façam perceber o porquê do uso da gramática,
de tal forma que o aprendizado flua naturalmente e torne-se um hábito falar e escrever
corretamente. Somente desta forma estaremos desempenhando nosso papel e exaltando o
poder que a linguagem pode exercer nesses futuros cidadãos.
REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico – o que é, como se faz. 15 ed. Loyola: São Paulo,
2007;
GÖRSKI, Edair. MOURA, Heronides. Estudos Gramaticais, UFSC, UAB. Florianópolis:
UFSC, 2011.

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