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Gramáticas: Internalizada,

Descritiva, Normativa e Reflexiva


Situações de Comunicação
A Gramática é instrumento fundamental para o domínio
do padrão culto da língua. [...]. A Gramática que mostra o
lado lógico, inteligente, racional dos processos lingüísti-
cos. A Gramática que esmiúça a estrutura da frase, do tex-
to. A Gramática que mostra o porquê.

(CIPRO NETO e INFANTE, 2008, p.3)

Como definir Gramática? É uma palavra que veio do grego, sendo formada
a partir de grámma (que significa letra), designando um conjunto de regras
que regem uma língua e determinam e determinam o uso considerado
correto tanto da língua escrita como da falada.

Existem línguas que não possuem uma gramática escrita, formalizada,


como, por exemplo, algumas línguas indígenas brasileiras. Em casos assim,
todo o conhecimento linguístico é transmitido de forma oral, de maneira
que todos tenham acesso à língua mesmo que não seja de forma escrita.

As línguas que possuem uma forma escrita, como, por exemplo, o portu-
guês, “necessitam da Gramática normativa para que se garanta a existência
de um padrão linguístico uniforme no qual se registre a produção cultural”
(CIPRO NETO e INFANTE, 2008, p.16). Isso nos leva a compreender que
uma forma de termos acesso à produção cultural e à linguagem oficial se
dá por meio do conhecimento da norma culta da língua.
A gramática normativa divide-se em áreas de estudo:
Fonologia

Estudo dos fonemas e sons da língua. Como parte dos es-


tudos da Fonologia estão a ortoepia ou ortoépia (do grego
orthos = reto, direito + épos= palavra), que trata da correta
articulação e pronúncia das palavras; a prosódia, que estuda
a correta acentuação e entoação dos vocábulos na palavra e a
ortografia, que trata da forma escrita das palavras.

Morfologia

Estudo que analisa a estrutura, a formação e os mecanismos


de flexão das palavras. A morfologia também é responsável
por dividir as palavras em 10 classes gramaticais: substantivo,
artigo, numeral, adjetivo, verbo, advérbio, pronome, conjun-
ção, preposição e interjeição.

Sintaxe

Do grego syntaxis (ordem, disposição); parte da gramática que


estabelece as relações de combinação (ordenação, dependên-
cia e concordância) entre as palavras para compor sentenças.

Semântica

Estudo do significado das palavras, frases e textos de uma lín-


gua. A semântica estuda, também, a denotação e a conotação
das palavras.

Estilística

Estudo da expressividade e variação da língua para atribuir às


palavras e frases sentidos emotivos e estéticos, tanto na ora-
lidade quanto na escrita. A estilística estuda, também, as fun-
ções da linguagem.

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Em uma língua há várias regras que podem ser acionadas e, muitas vezes, há
diferenças de uso entre elas. Um exemplo é o poema de Oswald de Andrade:

Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da nação brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

No primeiro verso (Dê-me um cigarro) o pronome me aparece depois do


verbo e, no último verso (Me dá um cigarro), aparece antes do verbo. De
acordo com as regras prescritas pela gramática normativa, ao iniciarmos
uma sentença (e não tendo fator de atração), devemos fazer uso da ênclise
em que o pronome oblíquo aparece após o verbo. Porém, embora contra-
riando a regra, o último verso nos apresenta um uso bastante comum entre
os falantes (até mesmo os mais escolarizados).

Outro exemplo da diferença que há entre o que prescrevem as regras da


gramática normativa e a língua falada/escrita é o uso alternado que se faz
dos pronomes pessoais tu e você. Muito comum no Brasil, em determina-
das regiões usa-se tu para designar a segunda pessoa e, em outras, usa-se
o pronome você.

Tais observações nos levam a entender que há diferenças de uso dentro


da própria língua. Assim, é necessário conhecermos a complexidade da
língua e entendermos que existem diversas gramáticas.

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Tipos de Gramática
• Gramática Normativa: gramática que funciona como um ma-
nual de regras de bom uso da língua, um conjunto de regras
a serem seguidas por aqueles que pretendem se expressar
adequadamente. Tal gramática também é conhecida como
prescritiva, pois dita normas e regras a serem seguidas e con-
sidera como erros todas as outras formas de uso da língua (o
que inclui as variedades linguísticas), não considerando, por-
tanto, as características próprias da língua oral. Baseando-se
em parâmetros como purismo, tradição e classe gramatical de
prestígio, seu maior objetivo é levar seus leitores a falar e es-
crever corretamente.

• Gramática Descritiva: conjunto de regras que corresponde


à descrição de qualquer variedade da língua, seja oral ou es-
crita, que seja objeto de estudo de um pesquisador. Ela des-
creve e/ou explica o funcionamento da língua “Seu objetivo,
nesse caso, é apresentar um registro geral das regras que são
realmente seguidas pelos falantes” (CAMPOS, 2014, p.31).
Segundo Possenti (2012, p.64), o que diferencia a Gramática
Normativa da Gramática Descritiva é que a primeira se cons-
titui em um “conjunto de regras que devem ser seguidas” e, a
segunda, em um “conjunto de regras que são seguidas”.

• Gramática Internalizada: conjunto de regras que um falan-


te domina, correspondendo ao conhecimento que ele tem
da língua. Para este tipo de gramática, não há erro (como na
Gramática Normativa), mas sim inadequação do uso de deter-
minado recurso linguístico, trabalha, portanto a competência
linguística do falante. De acordo com Hilgert (2010, p.295),
“As crianças, quando começam a estudar a língua materna na

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escola, já sabem sua língua. Isso quer dizer que falam com a
competência necessária para as interações que constituem
suas práticas sociais e que dominam, com grande discerni-
mento, a adequação dos usos linguísticos às variadas situa-
ções em que se realiza a comunicação por meio da lingua-
gem verbal”.

• Gramática Reflexiva: gramática que leva o falante a refletir,


partindo de exemplos que facilitem o entendimento dos me-
canismos de funcionamento da língua. De acordo com Tra-
vaglia (2003, p.33), essa gramática está presa ao processo de
“constituição e funcionamento da língua” e, por meio da refle-
xão e observação sobre a língua, faz uso de uma metodologia
em que se parte do geral para o específico. Em outras pala-
vras, é a partir dos fatos linguísticos que são estabelecidas as
normas e as regras de funcionamento da língua. Quando pen-
samos na utilização efetiva e produtiva da língua, do ponto de
vista da produção, interpretação e uso nas áreas acadêmica e
profissional, percebemos que é imprescindível que tenhamos
conhecimentos gramaticais seguros da língua (oral ou escrita),
pois nossa inserção nas esferas sociais e no mundo do traba-
lho muitas vezes se dá por meio do domínio da norma culta
considerada de prestígio.

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