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INTRODUÇÃO GERAL
Gramática: definição
Gramática é uma palavra de origem grega formada a partir de grámma, que quer dizer letra. Originalmente,
gramática era o nome das técnicas de escrita e leitura.
Posteriormente, passou a designar o conjunto das regras que garantem o uso modelar da língua, a chamada
gramática normativa, que estabelece padrões de certo e errado para as formas do idioma. Gramática também é,
actualmente, a descrição científica do funcionamento de uma língua. Nesse caso, é chamada de gramática descritiva.
A gramática normativa estabelece a norma culta, ou seja, o padrão linguístico que socialmente é considerado
modelar e é adoptado para ensino nas escolas e para a redacção dos documentos oficiais.
Há línguas que não têm forma escrita (como algumas línguas indígenas brasileiras e não só). Nesses casos, o
conhecimento linguístico é transmitido oralmente. As línguas que têm forma escrita, como é o caso do Português,
necessitam da gramática normativa para que se garanta a existência de um padrão linguístico uniforme no qual se
registre a produção cultural.
Conhecer a norma culta é, portanto, uma forma de ter acesso a essa produção cultural e à linguagem oficial.
Gramática: divisão
A Gramática divide-se em…
- Fonologia (dimensão fonológica) - estuda os fonemas ou sons da língua e a forma como esses fonemas dão
origem às sílabas. Fazem parte da fonologia a ortoepia ou ortoépia (estudo da articulação e pronúncia dos vocábulos),
a prosódia (estudo da acentuação tónica dos vocábulos) e a ortografia (estudo da forma escrita das palavras/ conjunto
de normas que define a utilização dos sinais gráficos); estuda os sistemas sonoros da língua.
- Fonética (dimensão fonética) - estuda os sons da fala, especialmente no que diz respeito à sua produção,
transmissão e recepção e pode subdividir-se em fonética acústica que estuda as propriedades físicas dos sons da fala,
fonética articulatória que estuda o modo como os sons da fala são produzidos pelos órgãos do aparelho fonador, e em
fonética auditiva, que estuda o modo como se dá a percepção dos sons da fala pelo ouvido humano.
- Morfologia (dimensão formal) - estuda as palavras e os elementos que as constituem. A Morfologia analisa a
estrutura, a formação e os mecanismos de flexão das palavras, além de dividi-las em classes gramaticais.
- Sintaxe (dimensão funcional) - estuda as formas de relacionamento entre palavras ou entre orações. Divide-
se em sintaxe das funções, que estuda a estrutura da oração e do período, e sintaxe das relações, a qual inclui a
regência, a colocação e a concordância.
- Morfossintaxe (dimensão formal e funcional) - estuda as categorias gramaticais a partir de critérios extraídos
da morfologia e da sintaxe. A classificação morfológica de uma palavra só pode ser feita eficientemente se se observar
a sua função nas orações. Esse facto demonstra a profunda interligação existente entre a morfologia e a sintaxe. É por
isso que se tem preferido falar actualmente em morfossintaxe, ou seja, a apreciação conjunta da classificação
morfológica e da função sintáctica das palavras.
- Semântica (dimensão significativa) - estuda a relação de significação nos signos1 e da representação do
sentido dos enunciados; estuda as mudanças ou as translações sofridas, no tempo e no espaço, pela significação das
palavras.
1
Semiologia: segundo Ferdinand de Saussure, ciência geral dos signos que estuda todos os fenómenos culturais como se fossem sistemas de signos, isto é,
sistemas de significação. Em oposição à linguística que se restringe ao estudo dos signos linguísticos, ou seja, da linguagem, a semiologia tem por objecto qualquer
sistema de signos (imagens, gestos, vestuários, ritos etc.). Os autores norte-americanos preferem a expressão semiótica (Ferreira, 2004).
Comunicação unilateral. A comunicação é unilateral quando estabelecida de um emissor para um receptor sem
reciprocidade. Os meios de comunicação social como o jornal, a rádio e a televisão que difundem mensagem sem
receber resposta são exemplos deste tipo de comunicação.
Comunicação bilateral. A comunicação é bilateral no caso de se estabelecer uma alternância de papéis entre o
emissor e o receptor realizando-se assim, um intercâmbio de mensagens.
Ruído. Entende-se por ruído tudo aquilo que perturba a perfeita transmissão e recepção da mensagem. São
exemplos de ruídos, a interferência de terceiros numa conversa, as gralhas etc.
Redundância. Entende-se por redundância a existência, numa mensagem, de um número de elementos maior
do que o estritamente necessário à transmissão de um conteúdo informativo. Estes elementos em excesso podem
contribuir ao tornar mais clara e inteligível a mensagem.
A redundância manifesta-se de diversas formas:
- sintácticas: Nós estudamos. (O pronome nós é redundante pois marca da primeira pessoa do plural já está
presente na terminação do verbo.)
- gestuais: Não quero a sopa. (A frase é acompanhada por um movimento da cabeça).
Quando a redundância é excessiva a linguagem torna-se confusa e diz-se prolixa; quando a redundância é
insuficiente a linguagem diz-se lacónica e pode tornar-se ininteligível (sobretudo se o excesso de laconismo suprime
elementos essenciais).
Cacofonia: má sonância, resultante da disposição das palavras. Ex.: Alma minha; não pode o Gama mais.
Hiato: dissonância, resultante do emprego de vogais sucessivas. Ex.: Correu-o o Orlando; Maria vá à arca.
Eco: repetição seguida dos mesmos sons. Ex.: Os pardais tais como os pinta Junqueiro; o pai sai e vai com ele;
quando mando, tenho empenho.
Colisão: sequência de consoantes ásperas. Ex.: O rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia; pelos montes,
verdejantes quintas, sombreadas de viçosas árvores.
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
petróleo, poço, reservatório, perfilagem, sonda, Este conjunto de palavras integra o vocabulário técnico da área
complementação, elevação, escoamento, terrestre, marítimo de engenharia petrolífera.
lei, decreto, acórdão, legislação, código, jurisprudência, parecer, Este vocabulário pertence ao domínio profissional e técnico do
arbitragem, procuração, edital, processo direito.
amor, pátria, tempo, engano, humano, vida, peito, sorte, glória, Na lírica de Camões, poder-se-á inventariar o vocabulário mais
fama, honra, senhora, mulher, pena, prazer, fortuna recorrente.
Prosa e poesia
Prosa: forma de discurso oral ou escrito que não obedece às normas da métrica e da rima; forma de escrever
em linhas contínuas.
Poesia: composição (de texto) em verso em que se exprimem emoções ou sentimentos segundo uma
organização rítmica das palavras, aliada a recursos estilísticos e imagéticos.
PROSA POESIA
EM PROSA/ PROSA
VERSIFICADA LITERÁRIA NÃO LITERÁRIA INTEGRAL
VERSIFICADA
1ª Em verso Não versificada Não versificada Não versificada Versificada
expressão do "não estrutura frásica estrutura frásica expressão do "eu"
2ª expressão do "eu"
eu" apurada corrente
linguagem conotativa
3ª linguagem denotativa linguagem conotativa linguagem denotativa linguagem conotativa
não provoca emoção marcas pessoais do
4ª --- provoca emoção poética provoca emoção poética
poética autor
5ª --- representa o real --- realidade exterior interiorizada realidade exterior interiorizada
rica nos níveis fónico,
6ª --- --- --- ---
morfossintáctico e semântico
7ª --- --- --- --- desvio máximo da norma
a) Protoportuguês - do século IX ao século XII. A documentação desse período é muito rara: são textos
redigidos em Latim Bárbaro, nos quais se encontram algumas palavras portuguesas;
b) Português Histórico - do século XII aos dias actuais. Esse período subdivide-se em duas fases:
- fase arcaica: do século XII até ao século XV. Nessa fase, houve inicialmente uma língua comum ao noroeste
da Península Ibérica (regiões da Galiza e norte de Portugal), o Galego-Português ou Galaico-Português, fartamente
documentado em textos que incluem uma literatura de elevado grau de elaboração (a lírica galego-portuguesa). Com a
separação política de Portugal e sua posterior expansão para o sul, o Português e o Galego se foram individualizando,
transformando-se o primeiro numa língua nacional e o segundo num Dialecto Regional.
- fase moderna: do século XVI aos dias actuais. Deve distinguir-se o Português Clássico (séculos XVI e XVII)
do Português Pós-clássico (do século XVIII aos dias actuais). Na época do Português Clássico, tiveram início os
estudos gramaticais e desenvolveu-se uma extensa literatura, em grande parte influenciada por modelos latinos. No
período pós-clássico, a Língua começou a assumir as características que hoje apresenta.
A partir do século XV, as navegações portuguesas iniciaram um longo processo de expansão linguística.
Durante alguns séculos, a Língua Portuguesa foi sendo levada a várias regiões do planeta por conquistadores, colonos
e emigrantes.
Actualmente, a situação do Português no mundo é aproximadamente a seguinte:
a) em Portugal e no Brasil, é Língua Nacional;
b) em alguns países como Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Macau
(Ásia), é a Língua Oficial, o que lhe confere unidade, apesar da existência de variações regionais e da convivência com
idiomas nativos;
c) em certas regiões da Ásia (Goa, Damão, Diu) e da Oceania (Timor), é falado por uma pequena parcela da
população ou deu origem a dialectos2.
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Crioulo: um outro modo da presença lusófona em África, na Ásia e na Oceânia, através dos vestígios da sua estrutura, seja em nível da gramática seja em nível do
léxico.
Dialecto: variante regional de uma língua cujos traços característicos são visíveis essencialmente em termos fonéticos e lexicais.
Pode-se, por outro, dizer que dialectos são as subdivisões da língua que apresentam características próprias consoante a região do país onde é falada. São estas
características verificadas tanto em nível de pronúncia como de vocabulário, que permitem identificar a região de origem de um Português do Minho, do Alentejo,
dos Açores etc.
Outubro de 2022, Pela Coordenação do Curso de Língua Portuguesa
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como modelo, como norma, desempenha uma função unificadora. Assim se explica que um português compreenda
sem dificuldade o falar de um brasileiro ou de um angolano (ou vice-versa), ou ainda que um cunenense entenda um
malangino.
Língua: registos
Apesar das variedades, é patente na língua uma base comum que se converte num código conhecido e
partilhado por todos os falantes de uma mesma comunidade, permitindo a comunicação entre todos – a língua padrão
ou norma ou registo corrente.
Quem mais contribui para a normalização linguística é a escola, os meios de comunicação social e a literatura.
É a língua padrão que é exigida habitualmente nas relações sociais de carácter profissional ou oficial (entrevista de
trabalho, carta de pedido de emprego, relatório, prova de concurso público…). A norma deve, pois, ser adquirida
durante a vida escolar, já que o seu domínio é essencial como forma de ascensão social e profissional.
Em relação à norma (ou registo corrente), cada um dos outros registos constitui um desvio, uma variação.
Vejamos alguns desses registos:
. Registo familiar: emprega-se em situações informais (em família, com amigos…), não se afastando muito da
língua corrente. Faz uso de vocabulário e sintaxe simples e pouco variados.
. Registo cuidado: emprega-se em situações mais formais (em discursos parlamentares, em conferências…).
Usa um vocabulário mais seleccionado e uma construção frásica mais elaborada.
. Registo popular: este registo está geralmente associado a um baixo grau de instrução; faz uso de um
vocabulário muito próprio, afastando-se frequentemente das regras da gramática normativa. O registo popular pode
recorrer a:
- regionalismos: usos da língua característicos de determinada região, em nível do vocabulário, da construção
frásica, da pronúncia…;
- gíria: código construído por determinados grupos sociais ou profissionais (por exemplo, a gíria futebolística e
a gíria académica), sendo dificilmente compreendido por quem não pertence ao grupo;
- calão: caracteriza-se pela utilização de termos considerados grosseiros ou obscenos.
Substrato: o Céltico
No entanto, as línguas antigas não desaparecem sem deixar marcas, nomeadamente através das palavras que
ficam. Em Portugal, o mais importante substrato é o Céltico. Dele nos ficaram palavras como: caminho, camisa, légua,
tona.
Outras línguas eram faladas através da Península Ibérica, mas em muito menor escala e, por isso, de
importância muito menor como substrato: o Íbero, o Lígur, o Fenício, o Grego.
A maioria das palavras da Língua Portuguesa veio (para o Português) por via popular: foi o povo que as captou
do falar romano na Península (por vezes já com deturpações fónicas) e as foi transformando segundo os princípios
seguintes…
… do menor esforço: o povo tem a tendência para modificar os fonemas de pronúncia mais difícil;
… da lenta evolução: as modificações processam-se muito lentamente;
… da inconsciência: o povo não se apercebe das modificações que vai fazendo, em virtude da lentidão do
processo.
As alterações sofridas pelos fonemas (sons articulados) ao longo dos tempos são chamadas fenómenos
fonéticos.
Alguns destes fenómenos fonéticos são:
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Bem perto do léxico, está o vocabulário que é o conjunto de palavras que ocorre num determinado contexto ou numa área específica de saber, como profissional,
científica ou técnica (engenharia náutica, biologia, direito, filosofia etc).
Outubro de 2022, Pela Coordenação do Curso de Língua Portuguesa
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- Por analogia e etimologia popular
+ Analogia: relacionando duas palavras, geralmente pertencentes à mesma classe, e com certa ligação
etimológica:
estis – sois, por uma analogia com sumus – somos
vester – vosso, por uma analogia com noster – nosso
tuus – teu, por uma analogia com meus – meu
+ Etimologia popular: o povo, perante uma palavra nova, relaciona-a instintivamente com outra, ou outras,
fonicamente semelhantes, guiando-se, assim, por uma falsa etimologia. Ex.: A palavra “viatura” proveio do francês
voiture. Como é que voiture – “viatura”? Por influencia das palavras conhecidas “via” e “viagem”.
. étimos diferentes dão origem a palavras com a mesma forma – palavras convergentes:
COMO como conjunção ou advérbio, deriva de quomodo
como forma verbal, de comedo
FIO como forma verbal, deriva de fidu
como substantivo, tem origem em filu
RIO como forma verbal, tem por étimo rideo
como substantivo, provém de rivu
SÃO como adjectivo, provém de sanu
como forma verbal, deriva de sunt
VÃO como adjectivo, provém de vanu
como forma verbal, de vadunt