Você está na página 1de 19

LINGUAGEM

PROF.: CARLOS BRITO


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO
◻ “E no mundo havia apenas uma língua e um modo de falar. E aconteceu que eles
viajaram do leste e encontraram uma planície na terra de Sinear, e ali se
instalaram.
◻ E disseram uns para os outros, vamos fazer tijolos, e queimá-los bem.E os tijolos
serviram com pedras, o bolo serviu como argamassa.
◻ E eles disseram, vamos construir uma cidade e uma torre cujo ponto mais alto
possa alcançar o céu; e vamos nos dar um nome, para que não sejamos dispersos
pelo mundo inteiro.
◻ E o senhor desceu para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens
construíram.
◻ E o senhor disse, o povo é um só, todo falam a mesma língua; eles começaram
isso, e agora não há restrição a qualquer coisa que queriam fazer.
◻ Vamos descer e confundir sua língua, para que um não entenda o que o outro diz.
◻ E o senhor espalhou-os por toda a face da terra, e eles deixaram de construir a
cidade.
◻ Por isso, o nome é Babel, por ali o senhor confundiu a língua de todas as pessoas
no mundo; e daí por diante o senhor dispersou-os por toda a face “
A natureza da Linguagem
◻ A linguagem é Simbólica: As palavras são símbolos
arbitrários, sem qualquer significado em sim mesmas.A
palavra cinco, por exemplo, é uma espécie de código,
que só representa o número de dedos de uma mão
porque concordamos que assim é. Até mesmo a
linguagem de sinais, conforme é “falada” pela maioria
dos surdos, é simbólica em sua natureza, e não a
pantonimia que pode parecer. Apesar dos fatos de os
símbolos serem arbitrários, as pessoas co freqüência
agem como se eles tivessem algum significado em si
mesmos.
◻ A linguagem é subjetiva: Mostre a uma dúzia de
pessoas o mesmo símbolo e pergunte-lhes o
significado. É provável que você obtenha várias
respostas diferentes.As palavras podem ser
interpretadas de muitas maneiras diferentes.E, como
não podia deixar de ser, essa é a base para muitos
mal-entendidos.A necessidade de negociar significado
destaca as deficiências e os pontos fortes da linguagem.
◻ A linguagem é regida por regras: A única razão
pela qual as linguagens simbólicas funcionem é o
fato de que as pessoas concordem sobre a maneira
de usá-las.Os acordos lingüísticos que tornam a
comunicação possível podem ser codificados por
regras.Os idiomas contêm vários tipos de regras.
1- As regras fonológicas: Determinam como os sons de uma
língua são combinados para formarem uma palavra.

2- As regras sintáticas: regem a maneira como os símbolos


podem ser dispostos.Embora a maioria das pessoas não seja
capaz de descrever as regras sintáticas que regem a própria
língua, é fácil reconhecer a sua existência, notando como
parece estranha uma frase que as transgrida.
3- As regras semânticas: Também regem o nosso uso da
linguagem. Mas, enquanto a sintaxe lida com a estrutura, a
semântica trata do significado das palavras.As regras
semânticas refletem as maneiras como os falantes de uma
língua reagem a um símbolo específico.

4- As regras pragmáticas: Aprendemos a dar um sentindo a


atos de fala, através de regras pragmáticas, que nos ajudam a
decidir qual é a interpretação adequada de uma determinada
mensagem em um determinado contexto.
Considerações sobre signo Linguístico

◻ Signo: Unidade básica da linguagem constituída


pela articulação do significante com o
significado.Algumas teorias da linguagem
entendem o signo como composto de uma estrutura
triádica.Além de significante e significado, o signo
portaria também um referencial ou a imagem da
coisa ou daquilo que está sendo representado;
◻ Significado: é a idéia ou conceito veiculado pelo
significante.Trata-se de um fenômeno psicológico,
posto que o significado não é o referente ou o
objeto real, mas a idéia formada sobre ele e que o
representa na mente do sujeito,
◻ Significante: No uso corrente, refere-se ao substrato
material do signo, isto é, designa tudo aquilo que
transporta o significado: Sons, imagens visuais,
impressões táteis, olfativas, gustativas, sinestésicas,
etc. Entretanto, é preciso considerar que tal
substrato material é, antes de tudo, um fenômeno
psicológico, ou seja, não é o som em sim, mas a
impressão ou imagem acústica gerada pelo
psiquismo.
Linguagem, Língua, Fala e Discurso.

◻ A língua

A língua, desde o curso de Ferdinand Saussure (1916), tem sido concebida


como um sistema de signos, em que cada signo é constituído de um
significante e de um significado e da relação arbitrária entre dois
elementos.A língua constitui ainda uma teia de relações entre esses
elementos linguísticos formado assim um sistema, um conjunto
compartilhado em que cada um dos elementos constitutivos só pode ser
definido em relação aos demais.Sendo um fato puramente social, sua
existência fundamenta-se nas necessidades de comunicação.
A língua, para Saussure, é um fato social porque pertence a todos os
membros de uma determinada comunidade, é exterior ao indivíduo, e esse
não pode nem criá-la nem modificá-la.Parece ser um patrimônio bastante
extenso e ninguém a possui em sua totalidade.Cada falante, retém uma
parte do sistema, que não existe perfeito em nenhum indivíduo.
Acredito ser interessante nesse momento tecer algumas
considerações sobre a ciência da língua, ou melhor, sobre a
linguística enquanto disciplina científica.
A linguística é o estudo científico das línguas individuais, das leis
da linguagem em geral e dos processos do uso da linguagem na
comunicação cotidiana.Saussure foi o responsável pela grande
revolução na lingüística, ao introduzir nessa disciplina uma
abordagem preocupada com o estudo das estruturas e leis das
línguas, sem levar em consideração a evolução histórica dessas
leis.
É interessante chamar a atenção para as críticas feitas ao trabalho
de Saussure, principalmente aquelas amparadas numa perspectiva
interacionista.De acordo com esta última, a elaboração do conceito
de língua na lingüística, com a expulsão do sujeito e da fala, é
atribuída a Saussure, seu fundador.
Língua é entendida como sistema de regras, uma estrutura regida
por leis próprias.A tarefa dessa ciência consiste em fazer operar
esse sistema, essas regras.Sem dúvida alguma, a linguística tem se
empenhado em dar conta dessa missão.
Embora tenha reconhecido o caráter dual da linguagem,
constituída de uma instância subjetiva (a fala) e de outra instância
objetiva (a língua) Saussure priorizou a língua, deixando a fala à
marginalidade.
A noção de língua, tomada separadamente da de sujeito e da fala,
tem sido o “objeto clássico”, ou melhor, dizendo, o objeto ideal da
lingüística.
A Fala

A fala é concebida por Saussure como ato lingüístico individual, material,


concreto, psicofísico, dependente da vontade e da inteligência do
indivíduo (portanto, subjetivo), um impulso expressivo, ato inovador
(lugar de liberdade), acessório e mais ou menos acidental.Com essas
qualidades, a fala não é passível de sistematização ou de se constituir num
objeto de ciência.
A prática discursiva das ciências e disciplinas de século XX sempre
rejeitou objetos subjetivos e individuais.A própria lingüística somente se
organizou como ciência graças à marginalização da fala e de todos os
fatores subjetivos e individuais da linguagem.(revolução concebida por
Saussure).Embora reconhecendo a necessidade de uma “lingüística da
fala”, ao lado de uma “lingüística da língua”.A fala, tal como foi
concebida por Saussure, jamais saiu da marginalidade.Não se pode dizer
que o discurso seja a reabilitação da fala, pois ele constitui um terceiro
elemento: nem a língua nem a fala.
O Discurso

Não se pode dizer que o discurso se confunde com a fala.Concebido fora da


dicotomia saussureana, como um terceiro elemento (nem a língua nem a fala), o
discurso é o fruto do reconhecimento de que a linguagem tem uma dualidade
constitutiva e que a compreensão do fenômeno da linguagem não deve ser buscada
apenas na língua, sistema ideologicamente neutro, mas num nível situado fora do
pólo da dicotomia língua /fala. Em outras palavras, ao mesmo tempo em que a
linguagem é uma entidade formal, constituindo um sistema, é também
atravessada por entradas subjetivas e sociais.O discurso é, pois, um lugar de
investimentos sociais, históricos, ideológicos, psíquicos, por meio de sujeito
interagido em situações concretas.
Em outras palavras, pode-se dizer que, como forma, a língua constitui uma
estrutura, mas como funcionamento, a língua se transforma em discurso, que é o
fenômeno temporal da troca, do estabelecimento do diálogo, é a manifestação
interindividual -não individual -da enunciação, é o seu produto.
O discurso, segundo Foucault, é atravessado não pela unidade do
sujeito, mas pela a dispersão.Diferentes indivíduos podem ocupar
o lugar de sujeito no discurso, que não é, pois um Ego todo
poderoso, senhor do seu discurso, fonte poderosa de sua palavra;
é um sujeito descentrado, que cinde e muitos porque é partícula de
um corpo histórico-social.
O discurso, tal como concebido por Foucault, torna-se objeto da
Análise do discurso de linha francesa (AD), disciplina que nasceu
o final de década de 60, no século passado, sob a liderança de
Michel Pêcheux, como uma proposta interdisciplinar, unindo três
áreas do conhecimento: a Lingüística, o Materialismo Histórico e a
Psicanálise.
Propondo-se ir além da distinção saussureana-lingua (sistema
abstrato) e fala (realização individual)-.a AD tem como grande
meta os processos discursivos inscritos em relações ideológicas,
ou seja,o ponto em que se articula um funcionamento discursivo e
sua inscrição histórica.Pode-se dizer, pois, que os conceitos
nucleares da AD são discurso – “uma dispersão de textos cujo
modo de inscrição histórica permite defini-lo como um espaço de
regularização enunciativo”.
Em outras palavras, a AD se preocupa com as condições de
“enunciabilidade” do discurso, ou fato de que tenha sido objeto de
atos de enunciação por um conjunto de indivíduos.A com que se
considere o discurso ao mesmo tempo como enunciado e
enunciação, como dito e dizer.
A Linguagem

De alguma maneira, todas as abordagens teóricas preocupadas no


estudo da linguagem, parecem conservar de alguma forma o gesto
de Saussure ao considerar a linguagem uma dualidade
fundamental: língua / fala, código/ competência língua/discurso.Se
contesta, o objetivo da Linguística tradicional ,nunca o fazem de
uma maneira radical.Mesmo quando buscam no objeto da
lingüística, à parte marginalizada por Saussure, a linguagem
continua a ser concebida como uma entidade de duas faces: uma
formal, constituída pelo núcleo duro da língua (o sistema abstrato
das formas) e uma outra da qual a linguagem se relaciona com o
mundo pela ação dos falantes.
Essa dualidade fundamental da linguagem, que nasce da
Oposição sassureana língua/fala, foi radicalmente criticada
pelo filósofo soviético Bakhtin (1929).A ENUNCIAÇÃO, a
verdadeira substância da língua, é, para Bakhitin, a síntese
do processo da linguagem, o conceito-chave para entender
os processos lingüísticos.Sendo a realidade essencial da
linguagem seu caráter dialogo, a categoria básica da
concepção de linguagem em Bakhtin é a interação.Toda
enunciação é um diálogo; faz parte de um processo de
comunicação ininterrupto.

Você também pode gostar