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A Linguística passou por três fases sucessivas antes de reconhecer seu verdadeiro objeto.
A primeira fase foi a Gramática, estudo iniciado pelos gregos e continuado até hoje,
principalmente pelos franceses. É uma disciplina normativa, baseada na lógica.
A seguir passou a fazer-se Filologia, que, modernamente, foi iniciada por August Wolf, a
partir de 1777. Além da língua, o principal objeto da Filologia são os textos, os quais pretende
interpretar e comentar pelo método crítico.
A terceira fase é a da Gramática comparada, quando se descobriu que as línguas podiam
ser comparadas. Iniciado por Franz Bopp (1816), seguido por Jacob Grimm, Pott, Kuhn,
Benfley e Aufrecht.
Merecem destaque, entre os últimos integrantes da escola comparatista, Max Muller, G.
Curtius e August Schleicher.
A escola comparatista constitui o primeiro período da Lingüística indo-européia, mas nunca
chegou a delimitar seu objeto de estudo.
A linguística propriamente dita surgiu do estudo das línguas românicas e germânicas,
principalmente a partir dos neogramáticos alemães, que colocaram em perspectiva histórica
todos os resultados das comparações e encadearam os fatos em sua ordem natural.
Assim, o fenômeno lingüístico é sempre dualista, possui duas faces que se correspondem,
e uma não vale senão pela outra. Qualquer que seja o lado pelo qual se aborde a questão,
o objeto não se oferece integralmente.
Entretanto, há uma solução para todas as dificuldades: é necessário colocar-se no terreno
da língua e tomá-la como norma de todas as outras manifestações. Dentre tantas dualidades,
a língua parece suscetível duma definição autônoma e fornece um ponto de apoio
satisfatório.
A Língua é parte fundamental da linguagem. É um produto social da faculdade de linguagem
e um conjunto necessário que permite o exercício da linguagem pelos indivíduos.
A linguagem é física, fisiológica e psíquica. Pertence ao domínio social e individual ao mesmo
tempo. É inclassificável em qualquer categoria dos fatos humanos, pois não se sabe como
inferir sua unidade. A língua, ao contrário, pode ser considerada em si mesma e tomada
como princípio de classificação.
A esse princípio de classificação, poderia objetar-se que o exercício da linguagem é natural,
enquanto a língua é convenção. Mas não está provado que nosso aparelho vocal tenha sido
feito para falar, assim como as pernas para andar.
A língua, considerada como uma instituição social, é uma convenção, e a natureza do signo
convencional é indiferente. Por esse aspecto, a questão do aparelho vocal é secundária no
problema da linguagem.
A definição do conceito de linguagem articulada poderia confirmar essa ideia. A articulação
pode designar não só a divisão da cadeia falada em sílabas, mas a subdivisão da cadeia de
significações em unidades significativas. Assim, pode-se dizer que não é a linguagem que é
natural ao homem, mas a faculdade de constituir uma língua: um sistema de signos distintos,
correspondente a ideias distintas.
Para atribuir à língua o primeiro lugar nos fatos da linguagem pode se argumentar que a
faculdade – natural ou não – de articular palavras não se exerce senão com ajuda do
instrumento criado pela coletividade. A língua, então, é o que faz a unidade da linguagem.
2 – Lugar da Língua nos fatos da linguagem
Para encontrar o lugar da língua nos fatos da linguagem, é preciso reconstruir o circuito da
fala.
O circuito pressupõe dois indivíduos, no mínimo. O primeiro forma uma imagem mental, ou
conceito, associado à representação dos signos linguísticos ou imagens acústicas a ele
associados. Esse fenômeno é inteiramente. Esse fenômeno é inteiramente psíquico.
O cérebro transmite aos órgãos da fonação um impulso correlativo da imagem, através de
um fenômeno fisiológico. A propagação sonora da boca de um indivíduo ao ouvido de outro
é um fenômeno físico. Em seguida o circuito se prolonga de modo inverso.
O processo de linguagem é então físico, fisiológico e psíquico.
Tal circuito possui uma parte exterior, puramente física, uma parte psíquica, que exclui as
não psíquicas, e uma parte ativa e outra passiva, em que ativo é tudo que vai do centro de
associação de um indivíduo ao ouvido de outro.
Na parte psíquica, podemos chamar de executivo tudo que é ativo (conceito – imagem), e
receptivo tudo que é passivo (imagem – conceito).
Existe ainda uma faculdade de associação e coordenação que se manifesta desde que já
não se trate de signos isolados. Ela desempenha o principal papel na organização da língua
enquanto sistema.
Entre todos os indivíduos unidos assim pela linguagem se estabelecerá uma espécie de meio
termo, todos reproduzirão, aproximadamente, os mesmos signos unidos aos mesmos
conceitos.
Pelo funcionamento das faculdades receptiva e coordenativa, nos indivíduos falantes, é que
se formam as marcas sensíveis a todos, e são elas que estão na origem da cristalização
social da linguagem.
Ao separar a língua da fala, separa-se ao mesmo tempo: 1) o que é social do que é individual;
2) o que é essencial do que é acessório, ou incidental.
A língua não constitui uma função do falante. Ela é o produto que o falante registra
passivamente.
A fala, ao contrário, é um ato individual de vontade e inteligência, no qual convém distinguir:
1) as combinações pelas quais o falante realiza o código da língua para exprimir seu
pensamento pessoal; 2) o mecanismo psicofísico que lhe permite exteriorizar essas
combinações.
Esta obra começa fazendo um panorama evolutivo da linguística, que teve três fases antes
de encontrar o seu real objeto de estudo. Primeiro veio à gramática com a sua visão limitada
e normativa da língua, impondo regras do que certo e errado na língua. Depois, surgiu a
filologia que não tinha apenas a língua como objeto de estudo, mas também os textos
literários, comentando-os e interpretando-os. Por último, a história da linguística chega à
gramática comparada que, como o próprio nome já diz, faz uma comparação entre as
línguas. Nessa fase temos o nome de Franz Bopp que em 1816 lançou uma obra intitulada
de Sistema da Conjuração do Sânscrito, estudando as relações que uniam essa língua a
várias outras como o grego, germânico, latim e etc. Bopp não foi o primeiro a assinalar,
contudo, que essas novas línguas pertenciam a uma mesma família, mas foi ele que
compreendeu que as relações entre línguas afins podiam tornar-se matéria para uma
ciência autônoma. Ainda na parte introdutória do livro, merece menção a parte em que o
autor começa a fazer comentários sobre os erros cometidos pela gramática comparativa, que
não enquadrou à história nos seus estudos sobre a língua. Essa atitude exclusivamente
comparatista acarretou uma série de conceitos errôneos em torno da linguagem, dando
início ao surgimento dos neogramáticos, que por sua vez, analisavam a língua “não como
um organismo que se desenvolve por si, mas um produto do espírito coletivo dos grupos
linguísticos (p.12)”.
Na última parte desse capítulo surge o debate em torno do signo linguístico, denominado
como Semiologia. Essa parte da obra é crucial, pois, nos próximos capítulos, Saussure
começa a fazer as distinções sobre as suas famosas dicotomias. Por isso, o entendimento
do signo linguístico como uma entidade do conjunto que forma a linguagem é fundamental.
Ainda sobre a semiologia cabe ilustrar a diferença existente entre ela e a linguística.
Enquanto a linguística limita-se em estudar apenas a linguagem humana, a semiologia vai
além, estudando a dos animais e de toda e qualquer sistema de comunicação, seja natural
ou convencional.
Finalizando essa parte, no quarto capítulo, o autor começa a separar a língua da fala,
dividindo-as como duas partes particulares da linguística. Mesmo sabendo que ambas
são indissociáveis na formação da linguagem, percebemos a ênfase, na leitura desse
capítulo, em que Saussure, em várias situações, coloca a língua no patamar superior ao da
fala. Ele chega a afirmar categoricamente que a língua seria a parte essencial no estudo da
linguagem, e a fala, portanto, seria a parte secundária. Toda essa valorização da língua
como objeto de estudo perdura também nos próximos capítulos do texto, sobretudo na parte
seguinte em que começa a ser conceituada as famosas dicotomias de Saussure.
Ferdinand de Saussure ficou conhecido no mundo todo por elaborar teorias que propiciaram
o desenvolvimento da linguística enquanto ciência. A partir daí acabou desencadeando no
surgimento do Estruturalismo, corrente que veio de encontro com o gerativismo e o
pragmatismo. Na base dessa reestruturação linguística Saussure criou dicotomias que
explicassem, de forma clara, as suas ideias em torno da língua. Na obra em questão, ele
começa analisando a natureza do signo linguístico. Cada um deles é visto separadamente
por Saussure que sistematiza seus conceitos a fim de clarificar ainda mais o seu raciocínio.
Uma das primeiras dicotomias refere-se ao conceito de significante e significado. O primeiro
consiste em uma imagem acústica, enquanto o outro reside no plano do conteúdo. Depois
dessa sucinta definição o livro da continuidade aos exemplos que envolvem o signo
linguístico, no intuito de elucidar ainda mais os conceitos que envolvem essa dicotomia. A
segunda dicotomia diz respeito ao estudo da língua na história.
Durante muito tempo a linguística não analisava o seu objeto de estudo, a língua, numa
perspectiva histórica. Então surgi à segunda dicotomia conhecida como sincronia e
diacronia. A primeira estuda a língua num determinado ponto da história, enquanto a outra
estuda a língua no curso evolutivo da história. Nessa parte do livro é indispensável à leitura
do capitulo referente à imutabilidade e mutabilidade da língua, pois, os questionamentos
levantados são de extrema importância para o entendimento das dicotomias de Saussure.
Essa obra, portanto, é uma boa pedida para aqueles que querem se aprofundar na área da
linguística, como também para qualquer outro profissional de áreas diferentes que estejam
interessados em desmistificar o surgimento e a evolução da língua. Habilidosamente, a obra
clarifica os conceitos elaborados por Saussure que, sistematicamente mudaram a forma de
ver e estudar a linguística. Mesmo com a oposição de alguns linguistas contemporâneos, o
Curso de Linguistica Geral é uma excelente material para a compreensão da linguística
como ciência, sobretudo para aqueles que estão dando os primeiros passos nessa área.