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Língua Portuguesa:

Estudos Gramaticais
Material Teórico
Língua Portuguesa: Estudos Gramaticais

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Carlos Augusto Andrade

Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
Língua Portuguesa:
Estudos Gramaticais

• O que é Gramática
• Variações Linguísticas
• Gramática Normativa
• Classes de Palavras

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Nesta Unidade, iniciaremos o estudo observando algumas questões
relativas ao conceito de Gramática e de Variação Linguística,
detendo-nos mais sobre um dos aspectos da morfologia da Língua –
as classes de palavras/vocábulos, inclusive, refletindo sobre as suas
classificações e flexões.
· Estudaremos duas classes de palavras: substantivo e artigo.

ORIENTAÇÕES
Normalmente com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos
para o último momento o acesso ao estudo, o que implicará o não apro-
fundamento no material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o
lançamento das atividades solicitadas.

Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por
exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado
horário todos ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”.

No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como


sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados


em fóruns de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu
do conteúdo, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que
se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Língua Portuguesa: Estudos Gramaticais

Contextualização
Há muitas dúvidas por parte de professores e de estudantes dos motivos para o
estudo de Gramática na prática escolar. Elas surgem devido ao próprio desconheci-
mento do “que” é Gramática e de “como” ela deva ser abordada na escola.

Durante o curso de Letras, observaremos uma variedade de relações entre as


diversas disciplinas e os estudos de Gramática da Língua Portuguesa. Para tanto,
nesta disciplina, faremos uma breve passagem por alguns princípios da Gramática
Normativa, deixando claro que não estudaremos todas as questões referentes à ela.
O que pretendemos é refletir sobre alguns dos aspectos relacionados à morfologia
da Língua, ligados às classes de palavras a alguns aspectos da sintaxe. Optamos
por uma abordagem que possibilite ao futuro professor conhecimento teórico que
possa dar suporte às suas futuras atividades profissionais em relação a questões
gramáticas, lembrando de que em outras disciplinas os conteúdos aqui desenvolvi-
dos serão utilizados para atividades mais práticas.

Nesta Unidade, além de revermos o que é Gramática e Variação Linguística,


estudaremos sobre um dos conteúdos da Morfologia, mais especificadamente, as
classes de palavras/vocábulos que compõem uma parte da estrutura da Língua.

Para trabalharmos com mais eficácia e eficiência, dividimos o estudo das classes
em três grupos: 1. Substantivos e Artigos, 2. Adjetivos, Numerais e Pronomes; 3.
Verbos, Advérbios, Preposições, Conjunções e Interjeições. O objeto de estudo
desta Unidade serão as do primeiro grupo.

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O que é Gramática
É muito bom saber que passaremos alguns momentos juntos estudando questões
relativas a alguns estudos gramaticais.

Começaremos pensando no próprio termo “Gramática”. Ele é de origem


grega (γραµµατική, grammatiké) e, posteriormente, adquire sua forma latina
(grammatica), como pode ser observado nos dicionários de Língua Portuguesa. Na
forma grega, origina-se do termo “grámma”, que quer dizer “letra”. É importante
entendermos o sentido estrito da palavra “Gramática” como o sistema de regras
de uma Língua em funcionamento. Esse sentido foi se ampliando com o tempo.

Hoje, falamos de alguns tipos de Gramática:

Descritiva – Preocupa-se com o funcionamento da Língua em determinado


contexto específico. Ou seja, ao estudar uma expressão do tipo “nós fumo
hoje na praia”, a preocupação da Gramática Descritiva é com a descrição das
questões que permitiram a elaboração desse enunciado no contexto em que
ele foi produzido;

Gramática Normativa – Preocupa-se com a prescrição de regras, baseadas


na construção de dialetos de prestígio de uma determinada Língua. Ou seja, na
maioria das Línguas, buscam-se em seus escritores de prestígio as estruturas
linguísticas que foram utilizadas por seus falantes para exemplificar qual seria
a forma “correta” para se dizer ou escrever. Como ela apresenta o dialeto de
prestígio da sociedade, ela é a que se ensina na Escola, com a finalidade de
proporcionar aos alunos a possibilidade de conhecimento de uma norma que
evite a discriminação pelo uso de outras em contextos diversificados;

Gramática Histórica – O objetivo de estudo dessa Gramática é estudar as


origens e a evolução de determinadas Línguas.

Como nosso objetivo é refletir sobre a Gramática Normativa, é fundamental


que a compreendamos em seu status de norma culta, padrão e exemplar, pois ela
trabalha com as estruturas linguísticas que socialmente são consideradas exemplares
e prestigiadas, garantido, como dizem os gramáticos, a existência de um padrão
linguístico de certa forma uniforme, no qual se registre a produção cultural de uma
sociedade. Portanto, conhecer essa norma seria uma maneira de ter acesso a esse
nível de produção, evitando, assim, discriminações linguísticas.

Para aprofundarmos um pouco sobre esse conhecimento da norma, é impor-


tante entendê-lo no âmbito de suas relações com as variações linguísticas. É o que
veremos a seguir.

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Variações Linguísticas
Antes de falarmos sobre variação linguística, é fundamental entendermos o que
seria norma, variação e registro. Há uma tendência escolar em observar apenas o que
se tem chamado de tradição normativo-prescritiva da Língua. Recorremos a Coseriu
(1978), que define sistema como um conjunto de possibilidades de uma Língua, ou
seja, toda forma de expressão que pode ser utilizada por um falante ou uma determina-
da comunidade. Para ele, o sistema é o mais alto nível de abstração da Língua. O autor,
quando trata da Língua, define-a por um conjunto infinito de possíveis realizações lin-
guísticas, desenvolvidas pelas diferentes possibilidades de relações, por meio das unida-
des constantes do sistema, sendo ela a realização individual e concreta de cada falante.
Já observando o conceito de norma, Coseriu diz que ela seria algo mais arbitrá-
rio, que estaria entre o abstrato do sistema e a concretude da fala, sendo apenas
uma das possibilidades oferecidas pelo sistema e que implicaria a repetição de cer-
tos modelos anteriormente apresentados.
É importante explicitarmos que norma para esse autor não seria a prescritiva das
gramáticas, mas sim, o que é normal e regular nos usos. Aquilo que é utilizado com
regularidade pelos falantes, ou seja, a norma se impõe ao falante (no uso) e limita a
liberdade de expressão desse falante. Para Coseriu (1978), o falante, em sua ativi-
dade linguística, poderia conhecer ou não a norma. Ao não conhecê-la, guiar-se-ia
pelo sistema, podendo estar ou não de acordo com a norma, para aquele contexto.
A Gramática Normativa, chamada de normativo-prescritiva, está vinculada ao
“certo” e ao “errado”, pois tudo o que se distancia do modelo proposto pela norma
de prestígio seria qualificado como “erro”.
No entanto, é bom salientarmos que existem outras variantes que são instrumen-
tos de comunicação e não devem ser consideradas menores ou maiores. São formas
de comunicação de menor prestígio social, mas, são utilizadas em diversos contextos
e podem ser descritas assim, como a chamada variante padrão, portanto, caberá ao
futuro professor respeitar as variações que seus alunos apresentam em sala de aula,
buscando mostrar que existe uma variante que é prestigiada e que, conforme bem
aponta Bechara (2006), todos devem tornar-se “poliglotas em sua própria língua”,
sabendo articular as variedades em seus diversos contextos de produção e utilizar a
norma padrão, para não serem desprestigiados e discriminados nos convívios sociais
que a exijam; função primeira do ensino de Língua Portuguesa.
Agora, vamos refletir um pouco sobre as variações linguísticas.

Alguns Tipos de Variações Linguísticas


Há vários estudos que apresentam algumas classificações das variações linguís-
ticas, no entanto, para esse momento, gostaríamos de apresentar os realizados
por Travaglia (1997), que nos apresenta a seguinte configuração:

Dialetos: variações que ocorrem em função das pessoas que utilizam a


Língua. Ela pode ocorrer em seis dimensões: territorial, social, de idade, de
sexo, de geração e de função profissional;

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Registros: variedades que ocorrem em função do uso que se faz da Língua,
conforme a situação em que o usuário e o interlocutor estão envolvidos. As
variações de registro podem ocorrer em três dimensões: grau de formalidade
(formal/informal), modo (modalidade escrita ou falada) e sintonia (de acordo
com a tecnicidade, a cortesia).
Bem, pensando assim, podemos dizer que as pessoas interagem em seus
contextos e que, dependendo das necessidades comunicativas, procurarão tornar-
se inteligíveis, buscando a melhor forma de interagir.
Entre jovens, por exemplo, o verbo “ficar” não tem hoje o mesmo significado
que apresentava no meu tempo. Quando dizíamos “Ficarei com você hoje”, era
simplesmente uma forma de marcar nossa presença em algum lugar, sem nenhuma
conotação de manter algum tipo de relacionamento. Hoje, no entanto, ao dizer
“fiquei com determinada pessoa”, o jovem está afirmando que manteve com ela
um relacionamento amoroso ou até sexual.
É comum reconhecermos alguns dialetos regionais. Ao ouvirmos um carioca,
um mineiro ou um gaúcho, conseguimos perceber com clareza pelos falares a
origem linguística deles.
Dessa forma, começamos a entender que, mesmo estudando a variante de
prestígio, não podemos deixar de lado os estudos relacionados a outras variantes,
que serão, inclusive, objeto de estudo de outras disciplinas.
A partir dessa pequena introdução, vamos começar sistematicamente com
nossos estudos sobre a variante de prestígio, ressaltando que procuraremos, de
certa forma, mostrar a teoria alicerçada em exemplos práticos.

Gramática Normativa
Para compreendermos melhor em que lugar da Gramática estão relacionadas as
“classes de palavras”, observemos o esquema a seguir, que apresenta uma divisão
dos estudos da Gramática Normativa apontada pela maioria dos estudiosos.

Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

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Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images Fonte: Quino/Clarin

Quanto ao estudo da estrutura da Língua, a Gramática é composta por três


partes: Fonologia, Morfologia e Sintaxe. Os estudos de semântica realizados,
no entanto, não estão diretamente ligados à estrutura e sim, aos contextos de
comunicação, pois ela se preocupa com a significação.

A seguir, apresentamos os conceitos de cada uma delas, observando o que está


disposto no Dicionário de Linguística de Dubois e outros (2007).

Fonologia – Cabe a ela o estudo sonoro dos idiomas. Ao estudá-lo, ela


se preocupa em saber como os fones (sons) se organizam na Língua. As
menores unidades da Língua, chamadas de fonemas, são traços distintivos
que estão armazenados na memória e representam as unidades sonoras.
Estudos sobre os fonemas, os encontros consonantais e vocálicos, a sílaba,
a ortoépia (ocupa-se da correta produção da palavra) e a prosódia (ocupa-
se do estudo da correta posição da sílaba tônica) serão objeto de estudo de
disciplina própria durante o Curso;
Morfologia – De acordo com a tradição gramatical, é o estudo das formas,
flexões e derivações das palavras. Estuda, portanto, a estrutura e a formação
das palavras, as classes de palavras e as classificações, flexões e derivações.
Nesta disciplina, iremos nos ocupar em fazer uma revisão dos estudos das
classes de palavras, realizados em níveis de escolarização anteriores. Como
apontado em nosso objetivo, observaremos as classes em uso, mediante
os exemplos que serão apresentados. A intenção é, também, promover a
percepção dos sentidos que elas podem adquirir em contextos diferenciados
de produção frásica, oracional ou mesmo textual;
Sintaxe – É o estudo das funções que as palavras possuem nas frases e
orações, observando as relações sintagmáticas. Estuda a diferença entre
frases e orações, os termos constituintes das orações (essenciais, integrantes
e acessórios), as relações dos períodos compostos, a sintaxe de concordância,
de regência e de colocação. Serão objetos de estudo desta Disciplina as
sintaxes de concordância, regência e colocação pronominal;

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Semântica – É observada como o meio pelo qual se representam os
significados dos enunciados. A teoria semântica preocupa-se em explicar as
regras gerais que condicionam a interpretação.

Após essas breves considerações, reflitamos no estudo das classes de palavras.

A Gramática apresenta dez classes: substantivo, artigo, adjetivo, numeral,


pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição. Como dissemos,
nesta Unidade, iremos nos preocupar com algumas das classes variáveis, mais
precisamente, com o substantivo e o adjetivo.

Só como nota, gostaríamos de assinalar que alguns estudos apontam para


apenas duas classes fundamentais: a dos nomes e a dos verbos, opostas apenas
pelos paradigmas flexionais. Enquanto os primeiros estariam numa visão estática
da realidade, os segundos traduziriam representações mais dinâmicas (MONTEIRO,
1991, p. 212).

Retomamos, mais uma vez, para que fique bem claro, que o estudo realizado
nesta Disciplina tem por base a Gramática Normativa da Língua Portuguesa,
buscando algumas reflexões em seus usos, mas não nos aprofundaremos em
estudos linguísticos. Tais reflexões serão apontadas, durante o curso de Letras, por
outras Disciplinas, criando, assim, um processo interdisciplinar de construção do
conhecimento na área.

Classes de Palavras
As palavras e os vocábulos da Língua estão divididos em classes, como já
dissemos, em dez. Trataremos aqui dos substantivos e dos artigos, apresentando
seus conceitos e flexões correspondentes.

Vamos a elas!

Os Substantivos
Todos os seres e as coisas, reais ou imaginários, são nominados. O substantivo
é a classe de palavra responsável por essa nominalização.

Quando dizemos: “Carlos está na sala de jantar”, percebemos rapidamente que


há nesse enunciado duas palavras que apontam para algo que existe no mundo, uma
delas animada e a outra inanimada. Temos, então, Carlos e sala. Essas palavras
são chamadas de substantivos. A expressão “de jantar” relaciona-se à sala, e “está”
aponta para o lugar no qual Carlos se encontra.

Tendo em vista a nominalização que fazemos das pessoas e das coisas que estão
no mundo, podemos classificar os chamados substantivos em alguns tipos que
veremos a seguir.

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Classificação dos Substantivos


Os substantivos são classificados por meio de uma dicotomia. Observemos.

Próprio ou Comum
Os substantivos próprios nomeiam um ser em particular; por essa razão serão
grafados com letra maiúscula. Vejamos os exemplos:

Ex.: Madalena foi sempre fiel ao esposo.

São Paulo é um estado do Brasil.

Os comuns nomeiam seres de uma mesma espécie. Observemos os exemplos:

Ex.: O carro quebrou novamente.

Mário amava as andorinhas que pousavam na casa dele.

Entre os substantivos comuns, temos alguns que indicam um agrupamento desses


seres de mesma espécie. São chamados de coletivos. A seguir, alguns exemplos.

Ex.: Para atravessar o deserto, alugou uma cáfila (cáfila = agrupamento de camelos).

Passeando pela floresta, Mariolano foi atacado por uma alcateia (alcateia =
agrupamento de lobos).

Simples ou Compostos
Podemos observar, quanto à estrutura (formação), que os substantivos formados
por apenas uma palavra (um radical /um morfema lexical) serão classificados como
simples. Se houver mais de um, serão compostos.

Ex.: Felisberto comprou um livro (simples).

Coreolano foi à biblioteca e deixou seus materiais no guarda-livro



(composto).

Nota: radical ou morfema lexical é a parte da estrutura da palavra na qual está o


núcleo da significação. Todas as outras partes que a ele são anexadas chamamos de
morfemas gramaticas (desinências, vogais temáticas...), que modificam o sentido
da palavra primitiva, por meio de um processo derivacional. Essas questões serão
aprofundadas em Disciplina específica de morfologia da Língua. Exemplos: casa,
casinha, casebre, casarão.

Concreto ou Abstrato
Os substantivos concretos nomeiam seres reais ou imaginários que independem
de outro ser para existirem de forma contínua. São diferentes dos abstratos, que
sempre se tornarão observáveis devido à presença de um ser que os materializa.
Os abstratos estão ligados mais aos sentimentos, às qualidades, às ações derivadas
de verbos, aos estados e às sensações.

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Ex.: A fada Sininho encontrou Peter Pan. Escolher um personagem do imaginá-
rio foi proposital para que tenhamos a clareza de que, mesmo fazendo parte
da ficção, personagens presentes no imaginário coletivo passam a existir a
partir da obra criada pelo autor, portanto são substantivos concretos, como
casa, garfo, rua, Deus, ar etc.

Ex.: O trabalho é essencial para a vida (trabalho é substantivo derivado do verbo


trabalhar e, como dissemos, depende do ser para se tornar perceptível),
portanto, é abstrato.

Nota: importante esquecermos o conceito proliferado de que substantivo concreto


seria aquele que eu posso pegar, e abstrato não. Como faríamos com “Deus” ou
“ar” e tantos outros que eu não posso pegar e são classificados como concretos?

Primitivo ou Derivado
Chamamos de substantivos primitivos aqueles que não sofreram modificações
na estrutura, e de derivados aqueles que foram construídos a partir de uma inclusão
de morfema na sua formação primitiva. Vamos aos exemplos.

Ex.: João de Oliveira trocou todos os vidros da casa dele. Foi à vidraçaria para
escolher os novos.

É possível classificar um determinado substantivo observando os pares


apresentados. Por exemplo:
• Marcos – substantivo próprio, simples, concreto e primitivo;
• loja – substantivo comum, simples, concreto, primitivo;
• lojista – substantivo comum, simples, concreto, derivado;
• amor – substantivo comum, simples, abstrato, derivado;
• lanche – substantivo comum, simples, concreto, derivado;
• guarda-chuva – substantivo comum, composto, concreto, primitivo.

Flexão dos Substantivos


Quanto à flexão, podemos dizer que os substantivos podem variar em gênero e
número. Até bem pouco tempo, as gramáticas apresentavam a variação de grau,
que hoje fica por conta do processo de formação de palavras por meio da derivação
sufixal. Estudaremos essa questão na Disciplina do Curso que tratará da Morfologia
da Língua, posteriormente.

A flexão de gênero, como aponta Azeredo (2008) é uma categoria gramatical


inerente ao substantivo e que serve para distribuí-lo em dois grupos: masculino e
feminino. Lembremos de que, geralmente, o gênero é uma característica marcada
pelo uso. Não devemos confundir gênero com “sexo”. O primeiro identifica a
categoria de qualquer substantivo animado ou inanimado, como, por exemplo,
“cadeira” é uma palavra feminina, pois dizemos “a” cadeira. O segundo é uma
marca biológica dos animais em geral (racionais ou irracionais).

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Quanto ao número, observemos que é uma categoria que marca uma oposição
entre quantidades. Para os substantivos há dois grupos: “singular”, que marca
apenas “um” ser, e “plural”, que marcaria “mais de um” ser.

Ex.: “Um homem recebe uma carta. O envelope tem o brasão do ministério”.
(BARUC, 2009).

Uns homens recebem umas cartas. Os envelopes têm os brasões dos


ministérios.

Observemos, a seguir, algumas considerações sobre essas categorias do substantivo.

Ex.: As meninas brincaram o dia inteiro.

É fácil identificar que há dois substantivos no enunciado “meninas” e “dia”.


Podemos variar a palavra “meninas”. Se quiséssemos uma variação de gênero
(masculino e feminino), poderíamos dizer “meninos”. Se a variação fosse de
número (singular e plural), teríamos “menina”.

No entanto, como estamos falando em um enunciado, a variação do subs-


tantivo modificaria as relações dele com os outros elementos da oração em que
está inserido. Assim:
1. Gênero – As meninas brincaram o dia inteiro (Os meninos brincaram o
dia inteiro);
2. Número – As meninas brincaram o dia inteiro (A menina brincou o
dia inteiro).

Cabe apontarmos desde agora que uma determinada classe de palavra se


constitui na relação que estabelece no contexto em que está sendo usada. Ela é
definida por um critério semântico. Observe:

Maria menina foi à feira com a avó. Cresceu, virou Maria mulher. Tanto a
palavra menina, quanto a palavra mulher, observadas isoladamente, nomeiam seres
que existem no mundo. No entanto, essas palavras, no contexto apresentado,
tornaram-se caracterizadoras das palavras que mantêm relação direta com elas, no
caso, Maria. Observadas neste contexto... deixam de ser substantivos e adquirem
valor de adjetivos.

Nota: é sempre no contexto de produção que as palavras devem ser observadas,


pois nele, elas podem adquirir sentidos que modificam a própria classificação. Esse
novo sentido, na perspectiva apontada, relaciona-se ao processo de derivação
imprópria que será estudado na Disciplina que trata de Morfologia da Língua.

Outro aspecto a ser considerado quando falamos em gênero do substantivo diz


respeito à mudança ou não da estrutura da palavra para representar o masculino e
o feminino. Dizemos que o substantivo é uniforme quando ele mantém a mesma
estrutura para o masculino e para o feminino e biforme quando há mudança.

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Ex.: Mefibosete apresentou aos amigos a mãe e o pai. Os substantivos destacados
são de gêneros diferentes, como são grafados de formas diferentes, são
chamados de biformes. Isso também acontece com pequenas variações,
como no caso de menino/menina; aluno/aluna.

Nos casos dos substantivos uniformes (aqueles que possuem a mesma forma
para o masculino e o feminino), como no exemplo: A estudante chegou / O
estudante chegou, há uma classificação especial para eles:
a) Epicenos – São os substantivos que nomeiam animais de um só gênero e,
para tanto, usamos os termos “macho e fêmea” para indicar o gênero.

Ex.: cobra macho/cobra fêmea; jacaré macho/jacaré fêmea.


b) Comum de dois – substantivos usados para os demais seres que possuam
a mesma forma para o masculino e para o feminino, podendo-se observar a
diferença pela indicação do “artigo”.

Ex.: a estudante/o estudante.


c) Sobrecomum – Esses substantivos têm a mesma forma para os dois gêneros.
Não há como reconhecê-los mediante a colocação de artigo. O gênero só
poderá ser observado no contexto oracional.

Ex.: vítima/indivíduo. A vítima foi assaltada perto da Rua Cipriano Mendes. Ao


dar o depoimento, Aurora disse que não conseguiu ver o rosto do bandido.
Como podemos observar no exemplo, só sabemos que o substantivo vítima é do
gênero feminino, pela relação que estabelece com o substantivo Aurora.
Ao tratarmos de “número do substantivo”, já dissemos que ele varia em singular
e plural. A formação do plural dos compostos depende da classificação das palavras
que o formam e da relação que elas fazem entre si.
Se o substantivo composto for grafado sem hífen, seu plural será realizado como
se ele fosse um substantivo simples.

Ex.: aguardente – aguardentes.

Se forem separados por hífen, devemos obedecer algumas condições que serão
apresentadas no quadro a segui:

Flexionam-se os dois Flexionam-se apenas o primeiro Flexionam-se apenas o segundo


elementos quando formados elemento quando formados elemento quando formados
1. substantivo + substantivo 1. verbo + substantivo 1. adjetivo + adjetivo
Ex. couve-flor / couves-flores Ex. abre-lata / abre-latas Ex. doce-amargo / doce-amargos
2. substantivo + adjetivo 2. Nomes compostos por locução. 2. substantivo – adjetivo apocopado
Ex. amor-perfeito / amores-perfeitos Ex. água-de-cheiro / águas-de-cheiro Ex. Grã-cruz – Grã-cruzes

3. numeral + substantivo 3. substantivo + substantivo 3. Primeiro elemento é uma


(o segundo determina o primeiro) vocábulo invariável
Ex. segunda-feira / segundas-feiras Ex. caneta-tinteiro / canetas-tinteiro Ex. bem-amado / bem-amados
4. verbo + verbo 4. Compostos formados por
Ex. pisca-pisca / piscas-piscas onomatopéias
(alguns gramáticas apontam para a Ex. reco-reco – reco-recos
variação apenas do segundo elemento)

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Alguns substantivos compostos são invariáveis quando:


1. Formados de verbo + substantivo pluralizado:

Ex.: conta-gotas.
2. Os indicativos de cores:

Ex.: azul-marinho.

Observação: quando formado para exprimir duas cores diferentes, o segundo


elemento varia. Ex.: rubro-negro/rubro-negros
3. Formados por verbos antônimos:

Ex.: ganha-perde.
4. Locuções substantivas:

Ex.: Maria-vai-com-as-outras; Chove-não-molha.


5. Formado de dois advérbios e de verbo + advérbio:

Ex.: bota-fora.

Nota: apócope - é um dos metaplasmos por queda ou supressão de fonemas


a que as palavras podem estar sujeitas à medida que uma dada Língua se modifica
no tempo.

Podemos, ainda, dizer que o substantivo exerce papéis diferentes na oração.


Ele pode ser sujeito, objeto, complemento nominal, agente da passiva. Esses
conteúdos serão estudados na Disciplina Língua Portuguesa: Sintaxe. No entanto,
como exemplificação, vejamos:
1. O carro estava muito caro. O substantivo “carro”, nessa oração, exerce a
função de sujeito;
2. Ele vendeu o carro. Nesse exemplo, a mesma palavra “carro” exerce a
função de objeto direto;
3. O carro foi vendido por ele. Aqui carro é sujeito paciente, pois a oração está
na voz passiva.

Como podemos notar, o mesmo substantivo exerceu várias funções sintáticas


no enunciado. Sujeito no primeiro exemplo, objeto direto no segundo e agente da
passiva no terceiro. É possível, ainda, ver o mesmo substantivo empregado para
formar uma outra palavra, como no exemplo a seguir:

Ex.: O
 carro de boi passou pela Igreja há pouco. O substantivo “carro” uniu-se
à expressão “de boi”, tornando a expressão com um único valor semântico
indicativo de uma espécie de transporte específica.

Dessa forma, as possibilidades de criação e formação de palavras, objeto de


estudo da Morfologia, são imensas. Calma!!! Não entraremos nisso aqui. vocês
terão uma Disciplina só para tratar desses casos.

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Para finalizar, depois de tanta classificação e possíveis flexões, não se assustem,
mas se fôssemos classificar o substantivo, em todas elas, teríamos:

Alcateia – substantivo comum (coletivo), simples, concreto, primitivo, feminino, singular.

Devemos nos lembrar de que ler a bibliografia apontada é fundamental para o


aprofundamento dos estudos do substantivo.

Continuando, vamos estudar os artigos.

Os Artigos
Observemos o texto que segue:
Fúlvio é um homem calmo. Um homem tranquilo, preparado para dizer
oi, tchau, foi um prazer. As pessoas sempre gostam dele. Sempre
apreciam o bom corte de seu cabelo. Sempre elogiam a lavanda em
suas roupas. Sempre disfarçam quando se perdem olhando para seus
olhos incrivelmente castanhos (BRITES, p. 12).

Neste excerto do texto Território de Brites, ocorre, como podemos observar nas
partes assinaladas, substantivos precedidos de artigos. Esses vocábulos que sempre
acompanham o substantivo, chamados de artigos, servem para particularizar ou
generalizar o sentido desses substantivos.

Nesse jogo de particularização (artigos definidos) e de generalização (artigos


indefinidos), tais vocábulos concordam com os substantivos a que se referem em
gênero e número.

Ex.: Um homem tranquilo.

As pessoas sempre gostam dele.

Assim como os substantivos, os artigos também possuem uma classificação.


Vamos a ela.

Classificação
O quadro a seguir apresenta a classificação dos artigos:

Definidos Determinam os substantivos de forma particular. No contexto, indicam que o


a, o, as, os
substantivo a que se refere é conhecido.
Indefinidos Ao contrário dos definidos, não deixam claro o substantivo a que se referem. um, uma, uns, umas

Observemos, nos exemplos, essas considerações:

Ex.: Conversei com o médico sobre seu problema.

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O artigo “o”, que precede o substantivo “médico”, faz com que o leitor do
enunciado subentenda que aquele médico explicitado é conhecido, por isso usamos
o artigo definido. No entanto, se tivéssemos:

Ex.: Conversarei com um médico sobre seu problema. Nesse caso, o médico
ainda não é conhecido, mas o sujeito da oração entrará em contato com
ele, possivelmente um especialista no caso, para tratar do assunto, por isso
usamos um artigo indefinido.

No primeiro exemplo, temos artigo que define o substantivo, e no segundo um


que não o define.

Vamos agora à flexão dos artigos.

Flexão dos Artigos


Quanto à flexão, eles variam em gênero e número, em conformidade com o
substantivo a que se referem.

Masculino Feminino
o, os, um, uns a, as, uma, umas

Singular Plural
a, o, um, uma as, os, uns, umas

Assim, podemos afirmar que a relação do artigo com o substantivo está numa
relação de dependência, na qual o substantivo é o termo regente e o artigo é o
termo regido.

Bem, chegamos ao fim desta primeira Unidade. Esperamos que as questões


apontadas estejam claras. Qualquer dúvida, basta entrar em contato conosco.

Lembremos dos exercícios propostos. Eles fazem parte do processo avaliativo e


foram preparados para fortalecer nossa aprendizagem de forma bem prática.

Grande abraço e até a próxima Unidade.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Nova Gramática do Português Contemporâneo
CUNHA, Celso e CINTRA, Lindley.
Caráter Pronominal do Artigo em Português
MONTEIRO, José Lemos.

Vídeos
#2 - O que é gramática
https://youtu.be/HtxEdwR8zUk
O Que é Gramática?
https://youtu.be/gefBet9jlW4

Leitura
A Variação Linguística e a Norma Culta
https://goo.gl/MNbp5b

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UNIDADE Língua Portuguesa: Estudos Gramaticais

Referências
AZEREDO, J. C. de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo:
Publifolha, 2008.

BARUC, B. O xadrez das mariposas. In. CARIELLO, O. (org.). Alterego. São


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