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Estudos Gramaticais
Material Teórico
Língua Portuguesa: Estudos Gramaticais
Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
Língua Portuguesa:
Estudos Gramaticais
• O que é Gramática
• Variações Linguísticas
• Gramática Normativa
• Classes de Palavras
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Nesta Unidade, iniciaremos o estudo observando algumas questões
relativas ao conceito de Gramática e de Variação Linguística,
detendo-nos mais sobre um dos aspectos da morfologia da Língua –
as classes de palavras/vocábulos, inclusive, refletindo sobre as suas
classificações e flexões.
· Estudaremos duas classes de palavras: substantivo e artigo.
ORIENTAÇÕES
Normalmente com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos
para o último momento o acesso ao estudo, o que implicará o não apro-
fundamento no material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o
lançamento das atividades solicitadas.
Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por
exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado
horário todos ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”.
Contextualização
Há muitas dúvidas por parte de professores e de estudantes dos motivos para o
estudo de Gramática na prática escolar. Elas surgem devido ao próprio desconheci-
mento do “que” é Gramática e de “como” ela deva ser abordada na escola.
Para trabalharmos com mais eficácia e eficiência, dividimos o estudo das classes
em três grupos: 1. Substantivos e Artigos, 2. Adjetivos, Numerais e Pronomes; 3.
Verbos, Advérbios, Preposições, Conjunções e Interjeições. O objeto de estudo
desta Unidade serão as do primeiro grupo.
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O que é Gramática
É muito bom saber que passaremos alguns momentos juntos estudando questões
relativas a alguns estudos gramaticais.
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UNIDADE Língua Portuguesa: Estudos Gramaticais
Variações Linguísticas
Antes de falarmos sobre variação linguística, é fundamental entendermos o que
seria norma, variação e registro. Há uma tendência escolar em observar apenas o que
se tem chamado de tradição normativo-prescritiva da Língua. Recorremos a Coseriu
(1978), que define sistema como um conjunto de possibilidades de uma Língua, ou
seja, toda forma de expressão que pode ser utilizada por um falante ou uma determina-
da comunidade. Para ele, o sistema é o mais alto nível de abstração da Língua. O autor,
quando trata da Língua, define-a por um conjunto infinito de possíveis realizações lin-
guísticas, desenvolvidas pelas diferentes possibilidades de relações, por meio das unida-
des constantes do sistema, sendo ela a realização individual e concreta de cada falante.
Já observando o conceito de norma, Coseriu diz que ela seria algo mais arbitrá-
rio, que estaria entre o abstrato do sistema e a concretude da fala, sendo apenas
uma das possibilidades oferecidas pelo sistema e que implicaria a repetição de cer-
tos modelos anteriormente apresentados.
É importante explicitarmos que norma para esse autor não seria a prescritiva das
gramáticas, mas sim, o que é normal e regular nos usos. Aquilo que é utilizado com
regularidade pelos falantes, ou seja, a norma se impõe ao falante (no uso) e limita a
liberdade de expressão desse falante. Para Coseriu (1978), o falante, em sua ativi-
dade linguística, poderia conhecer ou não a norma. Ao não conhecê-la, guiar-se-ia
pelo sistema, podendo estar ou não de acordo com a norma, para aquele contexto.
A Gramática Normativa, chamada de normativo-prescritiva, está vinculada ao
“certo” e ao “errado”, pois tudo o que se distancia do modelo proposto pela norma
de prestígio seria qualificado como “erro”.
No entanto, é bom salientarmos que existem outras variantes que são instrumen-
tos de comunicação e não devem ser consideradas menores ou maiores. São formas
de comunicação de menor prestígio social, mas, são utilizadas em diversos contextos
e podem ser descritas assim, como a chamada variante padrão, portanto, caberá ao
futuro professor respeitar as variações que seus alunos apresentam em sala de aula,
buscando mostrar que existe uma variante que é prestigiada e que, conforme bem
aponta Bechara (2006), todos devem tornar-se “poliglotas em sua própria língua”,
sabendo articular as variedades em seus diversos contextos de produção e utilizar a
norma padrão, para não serem desprestigiados e discriminados nos convívios sociais
que a exijam; função primeira do ensino de Língua Portuguesa.
Agora, vamos refletir um pouco sobre as variações linguísticas.
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Registros: variedades que ocorrem em função do uso que se faz da Língua,
conforme a situação em que o usuário e o interlocutor estão envolvidos. As
variações de registro podem ocorrer em três dimensões: grau de formalidade
(formal/informal), modo (modalidade escrita ou falada) e sintonia (de acordo
com a tecnicidade, a cortesia).
Bem, pensando assim, podemos dizer que as pessoas interagem em seus
contextos e que, dependendo das necessidades comunicativas, procurarão tornar-
se inteligíveis, buscando a melhor forma de interagir.
Entre jovens, por exemplo, o verbo “ficar” não tem hoje o mesmo significado
que apresentava no meu tempo. Quando dizíamos “Ficarei com você hoje”, era
simplesmente uma forma de marcar nossa presença em algum lugar, sem nenhuma
conotação de manter algum tipo de relacionamento. Hoje, no entanto, ao dizer
“fiquei com determinada pessoa”, o jovem está afirmando que manteve com ela
um relacionamento amoroso ou até sexual.
É comum reconhecermos alguns dialetos regionais. Ao ouvirmos um carioca,
um mineiro ou um gaúcho, conseguimos perceber com clareza pelos falares a
origem linguística deles.
Dessa forma, começamos a entender que, mesmo estudando a variante de
prestígio, não podemos deixar de lado os estudos relacionados a outras variantes,
que serão, inclusive, objeto de estudo de outras disciplinas.
A partir dessa pequena introdução, vamos começar sistematicamente com
nossos estudos sobre a variante de prestígio, ressaltando que procuraremos, de
certa forma, mostrar a teoria alicerçada em exemplos práticos.
Gramática Normativa
Para compreendermos melhor em que lugar da Gramática estão relacionadas as
“classes de palavras”, observemos o esquema a seguir, que apresenta uma divisão
dos estudos da Gramática Normativa apontada pela maioria dos estudiosos.
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Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images Fonte: Quino/Clarin
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Semântica – É observada como o meio pelo qual se representam os
significados dos enunciados. A teoria semântica preocupa-se em explicar as
regras gerais que condicionam a interpretação.
Retomamos, mais uma vez, para que fique bem claro, que o estudo realizado
nesta Disciplina tem por base a Gramática Normativa da Língua Portuguesa,
buscando algumas reflexões em seus usos, mas não nos aprofundaremos em
estudos linguísticos. Tais reflexões serão apontadas, durante o curso de Letras, por
outras Disciplinas, criando, assim, um processo interdisciplinar de construção do
conhecimento na área.
Classes de Palavras
As palavras e os vocábulos da Língua estão divididos em classes, como já
dissemos, em dez. Trataremos aqui dos substantivos e dos artigos, apresentando
seus conceitos e flexões correspondentes.
Vamos a elas!
Os Substantivos
Todos os seres e as coisas, reais ou imaginários, são nominados. O substantivo
é a classe de palavra responsável por essa nominalização.
Tendo em vista a nominalização que fazemos das pessoas e das coisas que estão
no mundo, podemos classificar os chamados substantivos em alguns tipos que
veremos a seguir.
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Próprio ou Comum
Os substantivos próprios nomeiam um ser em particular; por essa razão serão
grafados com letra maiúscula. Vejamos os exemplos:
Ex.: Para atravessar o deserto, alugou uma cáfila (cáfila = agrupamento de camelos).
Passeando pela floresta, Mariolano foi atacado por uma alcateia (alcateia =
agrupamento de lobos).
Simples ou Compostos
Podemos observar, quanto à estrutura (formação), que os substantivos formados
por apenas uma palavra (um radical /um morfema lexical) serão classificados como
simples. Se houver mais de um, serão compostos.
Concreto ou Abstrato
Os substantivos concretos nomeiam seres reais ou imaginários que independem
de outro ser para existirem de forma contínua. São diferentes dos abstratos, que
sempre se tornarão observáveis devido à presença de um ser que os materializa.
Os abstratos estão ligados mais aos sentimentos, às qualidades, às ações derivadas
de verbos, aos estados e às sensações.
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Ex.: A fada Sininho encontrou Peter Pan. Escolher um personagem do imaginá-
rio foi proposital para que tenhamos a clareza de que, mesmo fazendo parte
da ficção, personagens presentes no imaginário coletivo passam a existir a
partir da obra criada pelo autor, portanto são substantivos concretos, como
casa, garfo, rua, Deus, ar etc.
Primitivo ou Derivado
Chamamos de substantivos primitivos aqueles que não sofreram modificações
na estrutura, e de derivados aqueles que foram construídos a partir de uma inclusão
de morfema na sua formação primitiva. Vamos aos exemplos.
Ex.: João de Oliveira trocou todos os vidros da casa dele. Foi à vidraçaria para
escolher os novos.
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Quanto ao número, observemos que é uma categoria que marca uma oposição
entre quantidades. Para os substantivos há dois grupos: “singular”, que marca
apenas “um” ser, e “plural”, que marcaria “mais de um” ser.
Ex.: “Um homem recebe uma carta. O envelope tem o brasão do ministério”.
(BARUC, 2009).
Maria menina foi à feira com a avó. Cresceu, virou Maria mulher. Tanto a
palavra menina, quanto a palavra mulher, observadas isoladamente, nomeiam seres
que existem no mundo. No entanto, essas palavras, no contexto apresentado,
tornaram-se caracterizadoras das palavras que mantêm relação direta com elas, no
caso, Maria. Observadas neste contexto... deixam de ser substantivos e adquirem
valor de adjetivos.
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Ex.: Mefibosete apresentou aos amigos a mãe e o pai. Os substantivos destacados
são de gêneros diferentes, como são grafados de formas diferentes, são
chamados de biformes. Isso também acontece com pequenas variações,
como no caso de menino/menina; aluno/aluna.
Nos casos dos substantivos uniformes (aqueles que possuem a mesma forma
para o masculino e o feminino), como no exemplo: A estudante chegou / O
estudante chegou, há uma classificação especial para eles:
a) Epicenos – São os substantivos que nomeiam animais de um só gênero e,
para tanto, usamos os termos “macho e fêmea” para indicar o gênero.
Se forem separados por hífen, devemos obedecer algumas condições que serão
apresentadas no quadro a segui:
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Ex.: conta-gotas.
2. Os indicativos de cores:
Ex.: azul-marinho.
Ex.: ganha-perde.
4. Locuções substantivas:
Ex.: bota-fora.
Ex.: O
carro de boi passou pela Igreja há pouco. O substantivo “carro” uniu-se
à expressão “de boi”, tornando a expressão com um único valor semântico
indicativo de uma espécie de transporte específica.
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Para finalizar, depois de tanta classificação e possíveis flexões, não se assustem,
mas se fôssemos classificar o substantivo, em todas elas, teríamos:
Os Artigos
Observemos o texto que segue:
Fúlvio é um homem calmo. Um homem tranquilo, preparado para dizer
oi, tchau, foi um prazer. As pessoas sempre gostam dele. Sempre
apreciam o bom corte de seu cabelo. Sempre elogiam a lavanda em
suas roupas. Sempre disfarçam quando se perdem olhando para seus
olhos incrivelmente castanhos (BRITES, p. 12).
Neste excerto do texto Território de Brites, ocorre, como podemos observar nas
partes assinaladas, substantivos precedidos de artigos. Esses vocábulos que sempre
acompanham o substantivo, chamados de artigos, servem para particularizar ou
generalizar o sentido desses substantivos.
Classificação
O quadro a seguir apresenta a classificação dos artigos:
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O artigo “o”, que precede o substantivo “médico”, faz com que o leitor do
enunciado subentenda que aquele médico explicitado é conhecido, por isso usamos
o artigo definido. No entanto, se tivéssemos:
Ex.: Conversarei com um médico sobre seu problema. Nesse caso, o médico
ainda não é conhecido, mas o sujeito da oração entrará em contato com
ele, possivelmente um especialista no caso, para tratar do assunto, por isso
usamos um artigo indefinido.
Masculino Feminino
o, os, um, uns a, as, uma, umas
Singular Plural
a, o, um, uma as, os, uns, umas
Assim, podemos afirmar que a relação do artigo com o substantivo está numa
relação de dependência, na qual o substantivo é o termo regente e o artigo é o
termo regido.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Nova Gramática do Português Contemporâneo
CUNHA, Celso e CINTRA, Lindley.
Caráter Pronominal do Artigo em Português
MONTEIRO, José Lemos.
Vídeos
#2 - O que é gramática
https://youtu.be/HtxEdwR8zUk
O Que é Gramática?
https://youtu.be/gefBet9jlW4
Leitura
A Variação Linguística e a Norma Culta
https://goo.gl/MNbp5b
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Referências
AZEREDO, J. C. de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo:
Publifolha, 2008.
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