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UNIDADE I

Língua e Cultura Latinas

Profa. Márcia Selivon


Qual é a origem do latim?

 Latim: falado na região do Lácio (onde se localizava Roma) – séc. VIII a. C.


 Latim vulgar: variedade do latim (falado pelo povo).
 Cada região do Império começou a falar o latim a sua maneira.
 As diversas línguas “bárbaras” influenciaram na variedade popular do latim.
O léxico latino

 O léxico da língua latina, no início, não apresentava grande diversidade


de palavras.
 O vocabulário relacionava-se a fatos do cotidiano.
Exemplos:
 Parentesco (pater/pai; mater/mãe).
 Animais (equus/cavalo).
 Palavras importadas: palavras célticas, germânicas e gregas (Enriquecimento
do léxico latino).
Latim vulgar e latim clássico

 A diferença entre as duas variedades não é cronológica, mas sim social.


 O latim clássico era utilizado pela aristocracia conservadora.
 O latim vulgar era falado pela plebe, aberto a várias influências linguísticas.
 O latim vulgar ficou conhecido a partir de várias inscrições antigas, principalmente
os graffiti de Pompeia.
As línguas neolatinas

 Após a queda do Império Romano, em cada região do Império formou-se


uma nova língua.
 Essas línguas são chamadas de “línguas neolatinas”.
Exemplos:
 Português.
 Francês.
 Italiano.
 Espanhol.
 Romeno.
As diversas fases do latim

 Época pré-literária: inscrições.


 Época arcaica: textos legais e alguns literários.
(Exemplos: Plauto e Terêncio)
 Época clássica: “época de ouro” da língua latina.
(Exemplos: Catulo, Virgílio, Horácio, Cícero).
 Época pós-clássica: Sêneca e Quintiliano.
 Época cristã: (Santo Agostinho e São Jerônimo).
Características da língua latina

 O alfabeto.
 a b c d e f g h i k l m no p q r s t v x
 Não havia os sons v e j.
 A letra V, maiúscula, encontrada em várias inscrições, tem o som de u.
 Y e Z foram introduzidos após o século I a.C. para transcrever palavras gregas.
A pronúncia da Igreja Católica

Nos séculos V e VI d.C. a Igreja Católica pronunciava o latim com algumas


influências do italiano:
 c e g antes de e ou i = ch ou tch ou dj
 Ex.: caelum = /tchêlum
 gn = nh
 Ex.: regnare
Pronúncia reconstituída

 Essa pronúncia é fruto de pesquisa a partir dos estudos linguísticos (séc. XIX).
 Há vogais longas (e=ê/ o=ô) e vogais breves (e=é/o=ó).
 C = k.
 G: sempre como em guerra.
 S: sempre como em sim.
 X = /ks/, como em táxi.
 Y: som do u francês.
 Z = dz.
A ordem das palavras em latim

 Em latim a função da palavra não depende da posição que ela ocupa na frase.
 Marcellus Fortunatam amat.
 Marcellus amat Fortunatam.
 Fortunatam Marcellus amat.
 Amat Marcellus Fortunatam.
 Amat Fortunatam Marcellus.
As frases acima têm o mesmo significado:
 Marcelo ama Fortunata.
A função sintática em latim

 Em latim, a função sintática é indicada pela terminação das palavras.


 Fortunata e Fortunatam são formas (casos) diferentes da mesma palavra.
 A forma Fortunata é utilizada quando é sujeito da frase.
 A forma Fortunatam é utilizada para indicar o objeto direto da frase.
Os seis casos em latim

 Nominativo: sujeito/predicativo do sujeito.


 Acusativo: objeto direto.
 Genitivo: adjunto adnominal.
 Dativo: objeto indireto.
 Ablativo: adjunto adverbial.
 Vocativo: chamamento.
Interatividade

Quanto à formação da língua portuguesa, é correto afirmar que:


a) As palavras são originárias apenas do grego.
b) Houve grande influência do latim vulgar.
c) Houve pouca influência do latim falado pelo povo romano.
d) Na sua estrutura, houve influência, principalmente, das línguas dos
povos bárbaros.
e) A língua portuguesa não pertence ao grupo das línguas neolatinas.
Resposta

Quanto à formação da língua portuguesa, é correto afirmar que:


a) As palavras são originárias apenas do grego.
b) Houve grande influência do latim vulgar.
c) Houve pouca influência do latim falado pelo povo romano.
d) Na sua estrutura, houve influência, principalmente, das línguas dos
povos bárbaros.
e) A língua portuguesa não pertence ao grupo das línguas neolatinas
As declinações em latim e a importância do caso genitivo

 O conjunto de casos em latim chama-se “declinação”.


 Sabemos a que declinação uma palavra pertence verificando a terminação do
caso genitivo.
1ª declinação: genitivo singular – ae.
2ª declinação: genitivo singular – i.
3ª declinação: genitivo singular – is.
4ª declinação: genitivo singular – s.
5ª declinação: genitivo singular – ei.
A consulta ao dicionário

 O dicionário irá apresentar a palavra no nominativo singular seguido da


terminação do genitivo singular.

 Assim, saberemos a que declinação a palavra pertence.


 Ex.: rosa, - ae (1ª declinação).
 Ex.: puer, - i (2ª declinação).
A declinação da palavra rosa, -ae

 Declinar uma palavra em latim é apresentá-la nos seis casos (singular e plural).
 Ex.: Declinação da palavra rosa, - ae.
 Nominativo: rosa, rosae.
 Genitivo: rosae, rosarum.
 Acusativo: rosam, rosas.
 Dativo: rosae, rosis.
 Ablativo: rosa, rosis.
 Vocativo: rosa, rosae.
O verbo sum/esse
(ser, estar e haver)

 Como em português, a terminação do verbo indica a pessoa em que o verbo está.


O verbo sum/esse é irregular.
sum eu sou/estou
es tu és/estás
est ele é/está
sumus nós somos/estamos
estis vós sois/estais
sunt eles são/estão
O verbo sum/esse como “haver”

 Na 3ª pessoa do singular e na 3ª pessoa do plural, o verbo sum/esse pode ser


traduzido por haver.
 O contexto indicará a melhor tradução.
 Dea est (ela é uma deusa ou há uma deusa).
 Deae sunt (elas são deusas ou há deusas).
O verbo haver

Importante!
Em português o verbo haver é impessoal e singular. Ex.:
 Há um aluno na classe
Há muitos alunos na classe
 Em latim o verbo haver é pessoal e concorda com o sujeito. Ex.:
 Puella est (há uma menina).
 Puellae sunt (há meninas).
Os gêneros e as declinações

Na 1ª declinação, predomina o gênero feminino, mas algumas profissões são


masculinas:
 agricola (agricultor);
 nauta (marinheiro);
 poeta (poeta).
 Na 2ª declinação, predomina o gênero masculino. Ex.: pinus (pinheiro)
Caso nominativo

As palavras sublinhadas estão no caso nominativo:


 Marcellus Fortunatam amat.
 (Marcelo ama Fortunata)
 Discipulae sunt sedulae.
 (As alunas são atentas)
 Puella est pigra.
 (A menina é preguiçosa)
Terminações do caso nominativo

Primeira declinação:
 a (singular): Puella cantat.
 ae (plural): Puellae cantant.

Segunda declinação:
 us (singular): Servus laborat
 i (plural): Servi laborant.
Funções sintáticas no caso nominativo

O caso nominativo, portanto, cumpre as funções de:


 Sujeito: termo da oração sobre o qual se faz uma declaração ou aquele que
realiza a ação expressa em um verbo.
 Ex.: A menina chegou.
 Predicativo do sujeito: quando há o verbo de ligação e um qualificativo.
 Ex.: A menina é bonita.
Ausência de artigos em latim

 Importante: em latim não há artigo.


 Assim, a frase a seguir pode ser traduzida de diversas maneiras, de acordo com o
contexto.
 Magistrae educant.
Traduções possíveis:
 Professoras ensinam.
 Umas professoras ensinam.
 As professoras ensinam.
Frases no caso nominativo

 Livia magistra est et Silvia discipula est.


(Lívia é professora e Silvia é aluna).

 Magistra educat e puellae cantant.


(A professora educa e as meninas cantam).

 Discipulae semper sunt sedulae.


(As alunas sempre são aplicadas).
Declinar e conjugar

Atenção!
Em latim declinam-se:
 Substantivos.
 Adjetivos.
 Pronomes.
Em latim conjugam-se:
 Verbos.
Palavras invariáveis em latim

Não se declinam em latim:

 Advérbios. Ex.: Supra (acima); saepe (frequentemente)

 Preposições. Ex.: Intra (dentro de); sine (sem)

 Conjunções. Ex.: Nec (nem); sed (mas)


Interatividade

A afirmação “a língua latina é uma língua declinável” quer dizer que:

a) A língua latina apresenta dois casos na 1ª declinação.


b) Na língua latina a ordem das palavras é fundamental para as funções sintáticas.
c) A língua latina apresenta casos que designam as funções sintáticas.
d) As funções sintáticas na língua latina encontram-se no início das palavras.
e) Não há declinações na língua latina.
Resposta

A afirmação “a língua latina é uma língua declinável” quer dizer que:

a) A língua latina apresenta dois casos na 1ª declinação.


b) Na língua latina a ordem das palavras é fundamental para as funções sintáticas.
c) A língua latina apresenta casos que designam as funções sintáticas.
d) As funções sintáticas na língua latina encontram-se no início das palavras.
e) Não há declinações na língua latina.
Função sintática no caso acusativo

A função do caso acusativo é a de objeto direto de um verbo. Ex.:

 A menina comprou uma boneca.

 Carlos leu as instruções.

 Para haver objeto direto, o verbo deve necessitar de um complemento!


O caso acusativo

 Sentenças com acusativo.


 Marcellus Fortunatam amat (Marcelo ama Fortunata).
 Magistra educat discipulas. (A professora ensina as alunas).
Importante!
 Algumas preposições em latim pedem o acusativo.
 Nauta ad Italiam navigat.
 In scholam intrat.
Terminações do caso acusativo

 Primeira declinação
 am (singular): Magistra educat puellam.
 as (plural): Magistra educat puellas.
 Segunda declinação
 um (singular): Iulia hortum visitat.
 os (plural) : Iulia hortos visitat.
Frases no caso acusativo

 Magistra fabulas narrat. (A professora conta fábulas).

 Fabulae discipulas delectant. (As fábulas deleitam as alunas).

 Amamus et magistram et scholam. (Estimamos tanto a professora


quanto a escola).
A função sintática no caso genitivo

 O caso genitivo expressa posse ou origem, apresentando a função de adjunto


adnominal.

Ex.:
 O anel de ouro foi perdido.
 Pedro é filho de Júlia.
O caso genitivo

 Sentenças com genitivo


 Magistra puellae severa est.
 (A professora da menina é brava).
 Magistra puellarum severa est.
 (A professora das meninas é brava)
Terminações do caso genitivo

Primeira declinação
 ae (singular): puellae (da menina)
 arum (plural): puellarum (das meninas)

Segunda declinação
 i (singular): horti (do jardim)
 orum (plural): hortorum (dos jardins)
Frases no caso genitivo

 Fabula poetae delectat discipulas.


(A fábula do poeta deleita as alunas).

 Discipulae magistrarum sedulae sunt.


(As alunas das professoras são atentas).

 Servae domini laborant.


(As escravas do senhor trabalham)
Nomes próprios e os casos

Importante!
 Os nomes próprios também devem ser declinados.

Ex.:
 Silvia amica Iuliae est. (Iuliae está no genitivo singular)
 Iulia Silviam amat. (Silviam está no acusativo singular)
Dicas de tradução

Para evitar confusões:


 Começar a tradução pelo verbo.
 Procurar em seguida o sujeito da frase.

Ex.:
 Schola magistrae clara est.
 Fabulae delectant discipulas.
A função sintática no caso dativo

 O caso dativo apresenta função sintática de objeto indireto.

Ex.:
 Ele narra a fábula para a menina.
 Carlos deu as flores à menina.
 Importante! O objeto indireto complementa um verbo por meio de uma preposição.
Caso dativo (primeira declinação)

 As palavras sublinhadas estão no caso dativo.

 Fabulam puellis narrat.


(Ele conta a fábula para as meninas).

 Magistra pupam dat Silvae.


(A professora dá a boneca à Silvia).
Caso dativo (segunda declinação)

As palavras sublinhadas estão no caso dativo:

 Magistra dictat fabulas domino.


(A professora dita as fábulas ao senhor)

 Magistra dictat fabulas dominis.


(A professora dita as fábulas aos senhores).
Terminações do caso dativo

1ª declinação:
 Ae (singular): puellae (à menina)
 Is (plural): puellis (às meninas)

2ª declinação:
 O (singular): domino (ao senhor)
 Is (plural): dominis (aos senhores)
Como distinguir casos na mesma terminação?

Atenção à frase a seguir:


 Magistra sententias poetae legit puellis.
 Em que caso está a palavra poetae?

Opções:
 genitivo singular
 dativo singular
 nominativo plural
Importante! A análise deve começar pelo verbo.
Análise para distinção de casos

 Magistra sententias poetae narrat puellis.

 Narrat está no singular e requer um sujeito singular (portanto poetae


não pode ser sujeito).

 Poetae não pode ser dativo porque já há a palavra puellis.

 Assim, poetae só pode estar no genitivo singular (do poeta).


Interatividade

Assinale a alternativa correta quanto ao caso acusativo:


a)Magistra fabula narrat.
b)Magistra fabulae narrat.
c) Magistra fabularum narrat.
d)Magistra fabulam narrat.
e)Magistra fabulis narrat.
Resposta

Assinale a alternativa correta quanto ao caso acusativo:


a)Magistra fabula narrat.
b)Magistra fabulae narrat.
c) Magistra fabularum narrat.
d)Magistra fabulam narrat.
e)Magistra fabulis narrat.
A função sintática no caso ablativo

 O caso ablativo corresponde à função sintática de adjunto adverbial (de lugar, de


modo, de instrumento e outros).
 Ex.: A professora conta histórias sobre a cidade.
 O ator está no palco.
 A menina brinca com as amigas.
O caso ablativo

 As palavras sublinhadas estão no caso ablativo.


1ª declinação
 Puellae pila ludunt.
 Puella mensam rosis ornat.
2ª declinação
 Puellae ludunt amico.
 Puellae amicis ludunt.
Terminações do caso ablativo

1ª declinação:
 A (singular): pila (com a bola).
 IS (plural): rosis (com as rosas).

2ª declinação:
 O (singular): amico (com o amigo).
 IS (plural): amicis (com os amigos).
O caso ablativo e as preposições

Importante!
 Muitas vezes o ablativo é acompanhado de preposição.

Ex.:
 In schola (dentro da escola).
 De musica (a respeito da música).
 Cum filio (com o filho).
 Sub mensa (embaixo da mesa).
Recapitulação dos casos já estudados

 Nominativo: sujeito e predicativo do sujeito.


 Acusativo: objeto direto.
 Genitivo: adjunto adnominal.
 Dativo: objeto indireto.
 Ablativo: adjunto adverbial.
Função sintática no caso vocativo

 A função sintática no caso vocativo é a interpelação ou chamamento.

Ex.:
 Carlos, entregue o relatório.
 Meninas, venham aqui.
O caso vocativo

As palavras sublinhadas estão no caso vocativo:


1ª declinação
 Iulia, labora.
 Discipulae, scholam frequentate.
2ª declinação
 Serve, labora.
 Servi, labora.
Terminações no caso vocativo

Primeira declinação:
 A (singular): Iulia
 AE (plural): discipulae

Segunda declinação:
 E (singular): serve
 I (plural): servi
O gênero neutro

 Em latim, um substantivo pode ser masculino, feminino ou neutro.

Importante!
 A maioria das palavras da primeira declinação são do gênero feminino.
 A maioria das palavras da segunda declinação são do gênero masculino.
 Na segunda declinação também há substantivos neutros.
Formas do adjetivo em latim

 Em latim, os substantivos podem ser femininos, masculinos e neutros.

Portanto:
 Em latim, os adjetivos devem ter formas femininas, masculinas e neutras.
 Ex.: bonus, bona, bonum (bom, boa).
Concordância do adjetivo com o substantivo em latim

Importante!

Em latim, o adjetivo concorda com o substantivo em:


 Gênero (masculino ou feminino).
 Número (singular ou plural).
 Caso (nominativo, acusativo, genitivo, dativo, ablativo, vocativo).
Declinação dos adjetivos do primeiro tipo

 Os adjetivos do primeiro tipo seguem a primeira e a segunda declinação


dos substantivos.
Ex.:
 Bonus (bom) – é a forma masculina e segue a segunda declinação em todos
os casos.
 Bona (boa) – é a forma feminina e segue a primeira declinação em todos
os casos.
 Bonum (bom ou boa) – é a forma neutra e segue a 2ª declinação neutra.
Concordância do adjetivo e terminações das palavras

Importante!
Concordância não significa sempre terminação idêntica do substantivo e do adjetivo:
 Magistra bona (terminação idêntica)
 (A boa professora)
 Magistra: palavra feminina da 1ª declinação.
 Poeta bonus (terminação diferente)
 (O bom poeta)
 Poeta: palavra masculina da 1ª declinação.
Interatividade

Com relação à frase Bona magistra Iuliam amat, pode-se afirmar que:

a) O adjetivo bona concorda com magistra apenas em número e caso.


b) Iuliam é sujeito porque está no acusativo.
c) Magistra concorda com Iuliam em gênero e caso.
d) O adjetivo bona deveria estar no plural.
e) O adjetivo bona está no caso nominativo.
Resposta

Com relação à frase Bona magistra Iuliam amat, pode-se afirmar que:

a) O adjetivo bona concorda com magistra apenas em número e caso.


b) Iuliam é sujeito porque está no acusativo.
c) Magistra concorda com Iuliam em gênero e caso.
d) O adjetivo bona deveria estar no plural.
e) O adjetivo bona está no caso nominativo.
ATÉ A PRÓXIMA!

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