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FILIPPE FRANC O DE SÁ '__7/,

ALINGUA PORTUGUEZA
(DIFJGULDADES E DUVIDAS)

l 'O R

M ,\R A NH Ã

IMP. OFFI CIA L


1915

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franco de Sá

)'luita gente do Brasil deve têr conhecido o antigo se-


nador e ministro do temp o <lo imp ério Filipe Franco de
S:í, falecido há poucos anos.
Mas o que muita gente de certo ignora é que o velho
estadista e parlamentar era um doutissimo linguista, que,
sendo do ,\,Jaranhão, tem direito a que o agrupemos na
brilhante plêiade daqueles maranhenses que se chama-
vam Gonçalves Dias, Sotero dos Reis, João Lisbôa, Odo-
rico .\-tend es . . .
E vou explicar o meu asse rto.
Depois de retirado da vida pública, Franco de S:í vol-
tou-se para os seus dilect0s es~udos da líng ua portug uesa,
e formou o plano de uma grande obra, em serviço dos
estudiosos da língua espe cialmente, co mo êle diz,- «da
maior parte dos nossos esc ritores, em tJUe não tem' au-
mentado o zelo da vernaculidade e correcçào da lingua ,
embora a sc iencia g lotol ógica se tenha vulgarizado, de
anos a esta parte, introduzindo-se até com demasia nos
compendios esco lares . .. »
.\ doença poré m não lh e permitiu completar essa
obra; e Eranco de S,í resolveu publicar, ao menos, a pri-
meira parte, relativa á ortofonia ou recta pronüncia.
_\[as essa resolução fi cou, por então, ~e m efeito, por-
que a morte surprendeu Filipe Fraáco de Sá .
O governo do Maranhão, cônscio do valor <laqueie
trabalho linsui:;tico, e com aprovação do congresso esta-

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dual, encarregou pessôa competente de copiar e rever o
manuscrito, dirigindo a publicação.
Essa incumbencia coube a um publicista , já apreciado
em Portugal e no Brasil, muito dedicado aos interess es da
língua portuguesa,-Fran Paxeco.
Sei que êle tem lutad o com dificuldades na interpre-
tação e cópia do manuscrito, inçado de entrelinhas e acres-
centamentos; mas o seu esforço e a sua ilustração j,í boje
nos permitem noticiar o adiantamento da publicação, que
abrange, a esta hora, perto de 200 páginas. .
Tenho presentes as páginas impressas, cuja <l0utrina
se imp õe á minha consideração, e da qual, com verdadei-
ro prazer, darei conta aos meus habituais leitores, a quem
não seni indiferente o conhecer um novo e respeita vel
aráuto da pureza e correcção da linguage m.

A. publicação póstuma dos trabalhos Linguísticos do


ilm,tre e finado maranhense Franco de Sá tem por título
A 'úingua Portugztesa, (di ficuldades e díividas), e trata especiaÍ-
rncnte de ortofonia, que é o mesmo que ortoépia ou pro-
, ' . .
nuncta rigorosa.
Divide-se a obra em títulos e subdivide-se em capítulos.
O primeiro título inscreve-se Dos sons e clitongf)s, e a-
brange seis capítulos, o primeiro dos quais é consagrado
ao discutido tema-quais sejú,m os ditongos portugueses, e re -
velador da grande erudição e sisudo critério do autor.
O assunto tem-se prestado aos mais variados concei-·
tos, desde João de Barros, que só admitia sete ditongos,
att: o dicionarista Constfmcio, (iue enumera trinta e cinco.
Eu próprio,-se de mim posso falar ,-c inclinei-me em
tempo para a opinião de Julio Ribeiro, que admitia deza-

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no ve ditongos puros. (Veja -se o meu Fali;r,r e Escrever, vol.
m, pág. 1 50 ).
.\'[as depois, estudando mais detidamente o assunto,
pareceu-me que devemos aceitar mais de oito ditongos
puros. (Vejam-se os meus Problemas da Linguagem, vol. JIT, e
O que se nüo deve clizer, v o1. II).
Entretanto, o erudito mestre e meu respeitável amigo
Gonçalves. Viana é de parece r que os ditong,1s puros são
dóze. -
A d ifcrença está apenas em que o grande foncticista
vê ditongos distintos em ái e ái, éi e êi, ói e ôi, én e êu.
Como os ditongos nada têm com a fórma e têm tudo
com o so m, não me repugna aceitar o aditamento do mes-
tre, que, na essê ncia da questão, está mai s próx imo de
mim do que de João de Barros, Soares Barbc sa, Constfin-
cio, Ribeir0 de Vasconcelos, Adolfo Coelho, Epif:1nic 1
Júlio Ribeiro, etc.,--, o que muito me envaidaria, se eu
fósse susceptivel de vaidades.
Franco de Sá faz lucidamente a histó ria e a crítica dos
ditcngos, e conclue por aceitar, como ditongos orais, todos
os que eu aceitei, menos um, que é ou.
Entende êle qm: ou, pronunciando-se corno a simples
.sílaba ô, deixou de sêr ditongo.
Creio, porém, que, em muitas palavras, na linguagem
de muita gente, ainda sôam as duas letras: em louvar, pc r
exemplo.
Sendo ass im, lijeiríssimas modifica ções haveria a fa.
zer, no computo ditongal do ilustrado maranh ense.

. .

E' incontestável a erudição e, geralmente, o critério


do linguista maranhense ; mas pede a justiça que se pon··

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dere sêr, css:1 erudição, superior, :ilgunrns vezes, á cbreza
do que êle expõe.
Assim, não parecem suficientemente claros êstes pe-
ríodos:
- 7Só formam tritongos na n()ssa língua os ditongos
precedidos dei medi:11, como ca-iaes, .vi-iais, ou da Yoga !
n, articulada com uma consoante gutural e pronunciada
juntamente com o ditongo, como na _antiga .i nterjei ção
//Uai! e em Urnguai, Paraguai, ag11oi, r.ule(Jl/ai.~, ileli11qniu . . .
A's vezes, porém, o u, precedido da g utural, sõa separa-
damente do ditongo seguinte, e então não _h:í tritango: por
exem pio, em ai·guais, recuais . .. >,
Em primeiro lugar, não se explicam bem aquelas duas
fórmas divergentes, ca-frws e s11, ia.i~. Ou deveríamos têr ,xi-
iais, como saiais, ou sa iae.~, como ca iaes.
E depois que palavras são estas? São tempos dos
verbos cair e scúr? Em tal caso, os subjuntivos caiais e
saiais nunca encerram, nem podem encerrar trilon gos, por-
• que o i medial faz parte da primeira sílaba ( cai, sai ) , sem
nenhuma liga çã o fonéti ca com o ditongo ais.
Demais, tanta razão há para se não vêr ditongo tm
recuais e argunis, como em Paraguai, Uruguai, etc.; e o su-
posto trítongo de adequai, adequais briga um pouco com
a teoria, que o autor expõe na página 22, sôbre _a conju-
gação dos verbos terminados em quar e guar .
~ão são porém de estranhar estas hesita ções do au-
tor, num assunto sobre que talvez não haja três g ramáti-
cos acordes ..\lém de que, a fonética portugueza assenta
em factos, que não são os mesmos em toda parte e em to-
do tempo, e a apreciação dos próprios facto s incontesta-
dos diversifica, de gramático para gra mático, de linguista
parahnguista. Bastará a:ivertir-se que Jerónimo Soares
Barbosa, com outros gramáticos notáveis, nem sequer
admitia a existência Je tritongos na Jingua portuguesa, ao
contrário exactamente do que afirmou o velho Duarte
)fones de Leão e o g r,tnd e glotó log-o Diel.

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Em todo caso, o livrE9 de Franco de Sá suscita inte-
ressantes problemas, relacionados com ditongos e triton-
gos, e nele podem os estudiosos colher, pelo menos, va-
liosos elementos para a definitiva resolu ção <le tai s pro-
hlem:1s.

O autor, depois de se ocupar de ditongos e triton~·os,


ocupa-se do que C:le chama 1litongo móvel . .
Ditongo móvel chamam os it11lianos ao que <lesaparece
quando a sílaba · deixa de sêr acentuada, co mo e m pnégo
e pregríi-e, ciéllJ e céleste, etc.
P:-ira o linguísta rnaranhense, em português só há um
ditongo que se pó<le dizer móvel: é o que se fó rma pela in-
serção de um i e ufóni co o nde se <lá o encontro de e co m
o o u a.
Esclarecendo: nós tínhamos as fórmas clássicasp-ló'~éo
recêo, fêo, cêa, cadêa, etc.
Por eufonía, pospós-se um i ao e, ·e todos hoje dize-
mos e escrevemos passeio, receio, feio, ceia, cadeia, etc.
. Nos derivados destas palavras, desde que se desloca a
acentuação tónica, desaparece oi, e diz-se e escreve-se pas-
sear, i·ece1u·, fealdade, cear, cadeado, etc.
Estes são os factos, e deles s& deduz que erram de-
ploravelmente tantis~imos plumitiYos, que a toda a hora
nos enjoam com fórmas dêste farelo: passeiar, receim·, feial-
1lade, ceiar, enc.:tdeiai·, etc. Tais vocábulos não· podem têr i,
que só se justificava, por eufonía, no~ vocábulos primiti-
vos passeio, ceia, receio . ..
A êste respeito, com razão estnmha Franco de Sá que
o Filinto, no último verso, do lino VII dos Mártires, per-
lHtra3;e a fócm I pa-sseial'tdo; e, pro;;uranJ) :1tenu1r o dispa.
rate, faL e;tas p.'.>nJera çõ;": $:
-«Parece q"ue o autor usou do ditongo, recea ndo que,
na líng ua , se fize sse sinérese das duas vogai<;, ficando o
verso errado, com falta de uma sílaba; mas, para o. evitar,
bastava pór o acento circunflexo no e,-passêando,-o que
sería mais fluente ... >
Creio que não tem razão o nosso linguísta.
Passeando foram sempre quatro sílabas m étricas e gra-
maticais; e só per necessidade do metro se lhe toleraría
que representasse três sílabas.
Não .era preciso, nem conviría, o acento circunflexo.
Por duas razões:
t."-Porque o acento circunflexo , como o acento agu-
do, só é permitido em sílabas tó nicas: espectác11lo, rótulo, lê-
vedo, tépido, avô, câmara, corôa , labarêda, etc.
2.•- Porque nunca em Portugal se pronun ci ou pâs-sé-
au -do1 mas sitn pâs-si-an-do.
Não sei se no ,\laranhão a pronúncia é outra. Em Por-
tugal, o e átono, antes de a, o ou u, pronuncía-se sempre
como i: idear (idiar), passear (passiiir), cear (ciar), L eote (liote),
peúga (piuga ), reunião (riitnião ), etc.
O que não significa que eu condene a pron{mcia ma-
ranhense, se é outra. Significa apenas que a escrita normal,
e1h caso nenhum, necessita do i em passear, cear, etc.
Não há atenuantes para aquele êrro de Filinto.
Par:.i aquele e para outros.

O ca pítulo V da primeira parte ou título da obra de


Fr:mco de Sá é preenchid o por uma curiosa questão fon é-
tica e morfológica: o ditongo 011 por oi e vice-versa.
Como se sabe, no Doiro e no Minho, e ainda no Bra-
sil, prevalece ou e não oi: tesouro, mouro, cousa, agouro, outo,
coitrt,,· etc. ; ao p2sso que nas outras províncias portugu~-

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sas, e nté em Lisbôa, pre valece oi: coisa, tesoiro, mo1'!·0 , oíri ,
toiro, oito, agoiro, coiro .•.
Na colisão das duas pronúncias, e inclinando-se ao pa-
rece r do velho g ratmítico Borges Carneiro, o linguí,ta ma-
ranhense propõe solução, que se póde justifi car, mas que
me p:irece in exeq uível.
Entende ele que se deYe manter ou, quando corres-
ponda a au, nó étimo latino: ouro , touro, mouro, etc., (latim
aurwn, taurimt, maurmn, etc. ): e que se deve manler oi nas
palavras do étimo diferente: oito, noite, biscoito, coiro, Doiro,
cenoira, tesoira .. · i pois que, neste caso, o i corresponde ao
e do grupo latino e t, (octo, noctem, coctum , etc.), ou é deter-
minado por simples metátese ou deslocação do i da fonte
latina (Durium, tonsoria, coriuni, etc .).
Não há duvida de que estamos em frente de dois di-
fe rente s fundamentos etimológicos, que podem justificar
dois diferente s processos de pronúncia e de escrita .
.\las o facto é qu e quem diz e escreve vuro , toiwo , te-
suui·o, etc ., també m escreve e diz Douro, couro, l6Soura, nou-
te, biscouto, e até auto: ao p:isso que quem diz e escreve oi-
to, noite, tesoira, etc., tambem escreve e diz oiro, moiro, tesoiro,
etc.; e grande dificuldade e,taria em levar um público a
dizer e escrever ao mesmo tempo touro e coiro, com o fun-
damento em que o grupo ou corresponde ao ait do latim
taitrwn, e o i de coiro é o mesmo i do latim corimn. Desde
que a diferença do pr.Jcesso depende da diferenç:1 etimo-
lógica, serÍl necessal"to que, ao lado de cada cidadão, es-
tivesse sempre um fil ó logo, para lhe corrigir coisa por
cvitsa, e couro por coiro, afora dezenas de hipotes es análo-
gas; e, ainda assim, creio escassamente na eficácia de -tal
correcção. Desde que uma pronúncia se tornou normal,
não há sábio que a substitua por outra; e, ao invés do que
opinava o Borges Carneiro, não é a pronúncia normal que
se há Je subordinará escrita de um erudíto; antes a escri-
ta é que se há de subordinar a essa pronúncia.
Sojam quais forem ,4:; pre<lilecções e os hábitos, o fa .

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do é que temos ria linguà portuguesa as fórn1as di ver'geh ·
tes onro e oirn, conro e coiro, cenonra e cenoira, cousa e coisa.
Preferi se mpre a segunda fó rma , porque aprendi a
falar com ela e porque é a mais vulgarizada na ling uage m
d·a minha terra e na escrita dos meus mestres; mas nin-
g ué m dirá que a primeira é errónea; e a divergê ncia auto-
rizasa de uma fórma vocab ular , lo nge de sêr nociv a, pó -
<le até sêr -.bonação da riqc:eza de um idioma . (1 )

Li sboa, 15-VI11-9q.

Canáiáo de .7'igueiroáo,

(1) So licit,i lll os a Candi do de Fig ucin:do o o hzéqui o de con sen t ir


que rep roduzí sse mos, co mo proé ,nio des ta ohra , cuj as fô lh a s lh e re metê-
ram os, á medida que se iam imprimindo , os co me nt:i ri os qu e publi d ra
no ,cJ orna l do Com ércio* , do Ri o . P edim os-lh e tanihc m a s ua aba li za
dí ss ima o piniã o . O em inente fi lól ogc , co m urn a j c nti léza devorai. penh o-
rante , mandou-n os aq ue les ; úhios trech os . ucopi ados e revi stos ... po r t erem
saido, seg und o as s uas p róp ri as p alavras , " co m Y:Í ri os d<:!s lizcs . e c m orto-
g rafia qu e não é a minha .. , Cumpre- nos ag radece r . aqui , ao in can save l
res ta u rador dos estudos , e do verda de iro e ns in o da csco rrc ila l ingua j e m
l uzó nia , o St! U a lto prei to ú me mó ria e ao li n o de Fr anco de S.í . -F F.

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PREFACIO

Dcsclc a nossa mociclade, scgui.ndo o exemplo de homeH,;


illu strcs da terra cm que vi\·iarno:,;: a então chamada Athenas
l1rasileira, patria do Odorico :lleudos. João Lisbôa, Sotéro dos
Reis e GoHçalves Dias, nos applicamos acnrada111011te ao estudo
ua liugua portugueza. E 11 ão sómrnLc por influencia da tracli-
\:âo local, porque sempre enteudcmos que t0do o homem culto.
flobretudo o que se de,::tilla a folar ao publico: pela imprei1sa
ou na tribuna, t.cm obrip;a<·ão ele i>fl lJOr snffici. eml:'mcnte a SUi!,
li11gua.
Intcira1u eme retirad o ela \'ida publica, reJ.uzitlo, JJelas cil'-
t·11111staneias, a ocio forçado, e não pod 'ndo. pela idade e pouca,
sande, ernprebeudc-r trabalho do maior mouta. pareceu-nos que
seria bom sen·iço flOS csr.u diosos da Ji111!ua 1rncional aprovcit,ar
a 11uellcs estudos e cornplcta l-os. tla11do-os a lum e <'111 um livro
de utilidade pratica. De aunos a esta par te, a scieucia glotto-·
logica tem-se vulgarisado entre uós, introduziudo-se até com
demasia nos compendios escolares; mas não tem augmentado,
na mór parl~ rl os nos:-:o,s e-cript,)l·e:-3. o 7.f'l o da ,crnaruli dorle 11
correcção da ling nagem, do que ainda r ecenh.i rn ente houve
claro testemunho na reclacção do projecto do nosso Codigo
Civil e na discussão que occasionou. Foi, pois, nosso intuito,
coiuo o noss;o titulo indica, não escrever um tratado scientiúco,
mas tão sóme nte estudar as partos em que pudesse encontrar
i ncertezas quem quizrssr apr e11cler , com.o dizião os.velhos g ram-
maticos, a falal' e escrevel' co l'l'el'tcuuente. Só r ecorremos 11
philosop hi a grnmmatica l o ú ph.ilolog ia hisrorica e cornparativfl ,
para elucidação elas duvida s ou difficulr1ados quo os factos Ja
lillgua offerocem, para justiEicar o 10111 nso ou conigir o máu.
E sperayamos poder publicar, dentro cm pouco tempo, o
110,;so trabalho completo; mas Ullla g rave 011 fermiclad o obrigou-
nos a iu terrompol-o, e resolvemo,; fazer imprimir esta primeira
parte, qno já estaya acabada, r elativa :'.t recta prounncia; se fôr
b em acolhida, o se Dous ainda 110s conceder vida e sufücieute
forças, publicaremos clPpois a segnncla parte, a Ol'lhologia (lin-
guagern c-orrecta).
Da Odltographia uão fize mos ca rgo; é n1atc ri.a tratada por
11111itos e bons autorl's, dcsdu os primeiros tempos da li11g ua, e
eujas solnções não podem ser gcralmonte á<·ceitas, se não fôn'111
dadas por dPcisão tle autorisacla corpor ação literaria. ]Tôra co11-
vc ni e11te que a nossa e a Academia portngncza se entendesse m
a t•sto r espeito, decretando, co11jn11 l·ameut<•, a clesojada r eforma;
os::;u accord'o, p orém, é Jiffi cil, p ela diver sidad e dapr onuncia, 11un1
e .n outro paiz.
Aos que mcnosprézão taes estutlos opporcmos as soguiu-
tes pollclcraçõcs elo grande mestre antigo ela arte do bem falar,
o qual, dPpois de mostrar os vario::; conhecim entos que exige a
ll isciplina g rammatical, que então comprohendia e deve com-
]_)rrhoJJClP1' o csrntlo dos classicos, assim co ncluo: (1)-«Não tê m,
pois, razão os que dosdenhão osta arte, eo mo arida e rn esquiuha:
so a não tiver por alicerce o orador futuro, tudo o que se lhe
construir, desabarà: uocessaria aos moços, grata aos velhos, doce

l, Ouíntiliano. LiY, r1. caps , n·e \'lI.

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V

companh eira no retiro, e d<' todos os esrmlos o qn<' t<'m mais tra-
balho do que ostentação.
Qurm a pe11etra no íntimo, descobre muitas delicadezas,
que não sómente pódcm aguçar os engenhos pueri s, mas ainda
exorcitar a mais alta erndição o sciencia .. . Xão são 11imiamcmto
pequenas estas cousas, 11 <'11L irnp<'di nwnto :'Is grandes, co mo jnl -
gão alguns . Decerto não se deve descPr a nm mrticnloso e~tremo
l' inrptas cavillações, que for igão e aharo111 o r,-;pirito. )[as, na
grammatica, só ó nociyo o que e vão on sup rrflno (s11pervrwm11n).
Deixou :'.\Iarco Tnllio de ser grando orador, porrp10 foi
amantissimo desta arte, e, pam com sru filho, como sr n) das
suas cartas, ri goroso censo r da Iin g nag ' m? Os livros De anri-
logia, que publico11 Jnlio Cc,-;ar, onfraquecerão-lh o o gnnio po-
deroso :1 Foi )Icssalla menos hrilhanre escriptor. porqnn e,;cre-
vcn trata<los, 115.o só :tcerra dos yocalrnlos, mas an·· da s letras?
Não frrn clan1110 esta di sciplina ao,; qnc por d ia p:11,;são, 11,us sú-
11tont0 aos qne 11ít0 passam drHa,).
Demais, se ndo a lín gua o 111ais fort0 YÍllcnlo da nniiío na-
cional, trabalhar a bem da pureza , boa consen ·açfio elo idioma ,
que, dos nossos antepassados, tão fo r111 oso e nobre recebemos, P
ainda nma acção politica, servi ço não somenos, quando tantos
C>lementos pertnrbado1·cs e di ssolvPntrs amcação a homogenei-
<lade e integricl ade el a nossa prttria.
Possão l'Stas poncas palavras conciliar-n os a iudulgencia
dos ce11son•,-; r a s_vrnpathia dos nossos rompatl'iotas.

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ORTHOPHONIA (11

TlTl LO I
.Dos :sons ..- diton~·os ,: ::, )

C/\ PJ'IT I. O l

Qu aes sej ão os ditongos portuguezes

A m oderna sc ie nc ia ling uistic a e nqin:1 qu e 11 :io h:ivi:i


ditongos, na prim itiva li ng ua aryana: os so n~ e rií o todos
simpl es, mo dificado s só m ente po r arti c ula çõ es ou co nso-
antes, e rara m ente se dava al g um enco ntro J e vogaes, fo r-
m a nd o h iato. Só havia tre,; \ ogae -.: . p o r iss o c ham:iclas
f ir11tlr1111mt<1r>s : ,,, i. n. ( 3 )· A é o som p rim ari o . o ::-_ais claro .
q ue se fórm a ma is fa cilmente , com a bo ca b e m :1be rta ,
p ela simples im pu lsã o do ar qu e sae da gargan ta, se m 111 0 -
difi ca çã o pro \·e n iente J c µos i<;ão to m:ida pelas pa rte~
moveis d :1 boc:1- :1 l ingua, <.' Vt:ll p:ilatin n e os la hi os . E.
por isso o qu e a c ria nça p rim e iro o u mais frc:q n en te mente
p rofe re. 1 já n ão é simpl es so m g-uttnra l; é p al atal, for-
mado pela eleva c; ão do J o rso da li11g ua ·mltra o \ 1: u do
pa lada r, s:1ind o com ma is es forco p o r um c anal m ,1is es-
t re ito, e por isso é m:1 is delgado e ag ud o qu e o rr. D é l1,1, -
b·ial. fó rma-se approx im ando e a rredon ,1and o os lahi o ~, e
assim estreitan do e :1longand o o cana l por ond e passa n
sopro vo cal : é po r isso o som mais snrdo e g ra...-e . 1-: e o
2 A LINGUA PORTUGUEZA

são modificaç ões do so m primario a, combinado com ns


secundarios - i e 11 : e=ai, o=an. Não sendo sons simp les
e primitivos, mas complexos, re sultantes dessas combina-
ções, têm essas duas vogaes prolação mais aberta ou mais
fechada, conforme mais se approx im am de um ou de outro
dos elem entos de que se compõem: assim é e í, estão
proximos de ci, é mai s proximo de 'Í , ô mais vis inh o deu. E
em algumas líng uas ha outros sons complexos, e m que se
dá a rni<;tura dos dois elementos interrnedios e e o e dos
extremos?° e u, como no francez eu e <.rn (neuf', ceul); no
allemão oe ou o (konig), e nas mesmas línguas o som de
u e ii, no grego e no latim o deu ou?/· '. 4).
Partindl1 do primeiro som fundamental, ha, pois, duas
esca las, uma ascendente e outra desce ndente; naqu ella o
S0111 Ya e-se afinando, nesta vae engrossando .
O ditongo é tamb em um som complexo, mas nellc os
dois elementos ficam distincto s, ainda que proferidos con-
juntam ente, com um só esforço, uma só emissão do sopro
voca l.
Ao primeiro elemento charnão os grarnmaticos vogal
prepositiva , ao segundo pospositiva ou sulijnntii·a .
Nas lii,guas antigas da familia aryana, os ditongos erão
sempre comhinações da vogal primaria a, ou de uma das
suas representantes e e o, com uma das Yogaes de 2 " e 3"
classe,; ou u; ou, raramente, destas duas. Em todos os d i-
to ngos, portanto, a p Jspositiva era i ou u. O latim, na ida-
. de classica, tinha os ditongos ac e oe, mas e provinha de 'i
(ai, 0i), e tinha proYaYelmente pronunci,1 identica ou muito
semelhante, (Cresar. como o allemão JCaiser), pois, ao me-
nos na linguagem popular, essas duas ,·ogaes muitas vezes
soaYão do mesmo modo. (5 1.
Os ditongos gregos erão a.i, ei, oi, cm, en, 011, e mais ra-
raramente ui (e os dois, que tiI1hão como pospositiva i e
como prepositiva eta e omega, isto é, e e o longos).
A lingua latina era avêssa aos ditongos , tão freq uentes
no grego; preferia os sons pqros e firmes, não temendo o

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A LINGUA PORTUGUEZA 3

hiato ou encontro de duas Yógaes, formando syllabas dis-


tinctas. (6). Foi progress1\'i1mente supprimindo alguns de .
que outrora usava (ai, ei, oi) (7) e, na época dos autores
classico!!, só tinha estes: ae, oe, provenientes de ai e oi,
como j:i dissemos, au, o mais frequente, eu. em muito me-
nor nu mero de palavras, q uasi todas de origem grega. (Eurus,
Europct, neuter, neutirzun.m, neu, seu, hen ou cheu) (8 ), ui em mui
poucas (hui, lwic, cui), ei só na interjeição ltei (ou ltoi). (9).
Os dois primeiros, naquella época e ainda muito tempo
depois, ao menos no uso da gente culta, e!>creviã0-se e pro-
ferião-se com as duas vogaes; ( !O) mas, afinal, unirão-se as
letras, e pronunciarão-se como hoje se pronuncião, com o
som unico de e. Em manuscriptos e inscripçé'íes da baixa
latini,lade, e até em antigos livros impressos, encontra-se
um e, em lagar desses ditongos: hore, Jluse, Rome: pena, f°t'-
Jas, cl.'lu:n. Nas palavras gregas, ae não era ditongo: a<'r,
Pliaeton. (II).
Os grupos ia, ie, io, ea, eo eram dissyllabos, e só por
synerese formavão ditongos, por liberdade poetica: e o ·i
considerava -se então consoante, tomando um som que não
era nem o j g uttural dos cspanhoes, nem o chiante do nos-
so, mas o que tem essa letra no portuguez, quando está
entre duas vogaes, como em meio e maio, isto é, um som
palatal e equivalente a um i duplo. (12 ).
Erão tambem dissylabos os grupos que começa vão por
u: ua, ue, u'i, excepto nas poucas palavras em que era diton-
go, 110, nu; algumas vezes, mas raramente, os poetas união
as duas letras em uma só syllaba, fazendo o ii consoante:
usando, por exemplo, de genua, tennis, como dissyllabos, e
fazendo ditongo em fut,faisss, fuus, suus. Eu, por via de re-
gra, não era ditongo; assim, D eus, e 'llle l(S, erão dissyllabos,
e sü por synerese os poetas ás vezes os fazião monosylla-
bicos. «Ao passo que a ling ua latina tanta repugnancia tinha
aos ditong0s, diz o sabia Frederico Diez, e os eliminavll
pela contracção ou pela resolução em vogaes distinctas,
as suas filhas, cada uma a seu modo, desenvolvêrão-nos

Biblioteca Pública Benedito Leite


4 .\ LIXG l '. \ l'tll(Tl'Cl'J·:ZA

cn j)iosa mc nte». ( 1.,). De ,·ogacs simpl es fizeriio ditongo,: e


converteu-se e m ie no italiano, no espan hol e n o fr :rn ccz :
(lt. rZieci, piei/. tienr. 1·ie11P; esp. l1ie11. diez. pií-. fiel.ire.fiero. viene.
tiene : fr. l1fr11. fier. firvrc. pie1l~ fie11I. rient): e o em 110 no ita-
liano , ue 110 espanhol. r11 no francez lt. b11ono, l,uoi, fiwco-
mneve, n11oi:o: esp . b11e110. b,tCf/, fi1eyo. in1t1'1'e, 11 twl'rJ_: fr. brnf, fim.
1ie1(t; meu/). E formáriío muitos ditongo s: pe la queda de
consoantes 1_1wio. mio. pa,,. dae . cwrnr', moveis, de meclium, ra -
clium, patrem. ilatc. 11mate, mol'1•li.s;, pela inserção de uma vc-
gal, em compensa ção da queda de urna consoante (crnto.
r eino, lri!P. fi,ilo. JJPilo. s1(jeifo. r 4) oito, noite, de actum . re-
!Jnm11, fattem . /ar.tum, }Jl'ct11.~ . s11bjel'fu111. octo. noctem). e pela
attraçã o de um,1 vo~al não accenwada (1•, i, u , por o utra
accentuada ((rim, mim . de f i> rifl. mhiP111 ).
Neste particular. como a outros respei tos, a língua
portugueza é. das filhas da latina, a que menos se apa r t:i da
índole materna. Xun ca faz a ditongação de e, em ·ie, nem
de o em 110 ou "e. Sómente, por euph onia , quando, na ter-
minaçã o , uma ,·oga l, de ordinario o e, fi ca junta de o utra,
:is mais das Yezes por sy ncope de co nsoan te, em pal:.vra
de origem latina. interpõe o ,;, palatal, co mo em cheio, feio,
/i·do (de plm11111. f i.P1lw11. fi ·p,111w1\. á imita ção das ter minações
latinas, em Pm11pPius, Ccâus, eia, Pfo.ç, cuius. (ou Pompejus,
,jns, C•(jus, etc.'-; e esse i provém muitas vezes da palavra la-
tina de ciue a nossa deri,·a, como cm mr,fo, 1·aio, 111ai0, 1noio,
jo1·0.
<Alé m d os Yerdacl e iros ditongos, adverte o citado sa-
bio allemão, ha o utros, formado~ por synerese, cuja exis-
tencia é sempre mal segura, porque são sujeitos, conforme
os differentes estylos , a determinações variaYeis: ass im o
estylo poetico frequente m en te os separa, ao passo que a
linguagem familiar acha mais commodo reunir as duas
vogaes. São exemplos , no italiano - s11btaneo, Italia, ardui;
no francez-dfocre, essentiel, nnion. Era faci 1 de se dar essa
reunião de duas ,·ogaes,separadas syll:ibicane nte, sob ret u-
do quando a primeira é um i ou um u: assim os poetas la·
.\ l .J '.'\C I'. \ J'1 ) JZ.'IT<;1 · r, i'. .\ 5

tin l s, mormcntc os co mi cos, que de ho m grado se se rvem


da li11guagc: m familiar, aprcse ntã o ntun ~rosos exe mplos:
r,11,, eo, 1'11, ic,, in. it<' nelles facilm ente se so lvem numa scí
s:dlaha: p o r exe mpl o, em i>Po~rs, r/Nwsnm. dP1tR. ria. quiehr.~,
pri1Jr,. din, ))lll'llan., r ; ) .
Cada líng ua. di z João Fran co Barreto. tem os se us di-
tongos, e os fó rma de differentes maneirns, e por div e rso
:1juntamento de vogaes.
(j'.O francezes tC::m oit0: rú 'l os italianos. uns lhes d[to
sete, outros oito , alguns doze, muitos dezeseis . .\fanzoni
affirma que a sua língua italian:t nenhum ditongo te m pro-
prio, mas os dois estrange iros, tirad os dn. lingua latina , qne
j:i o uso, diz, tem recebido na escritura, ( l 7; . Em castelhano
há doze (18). Entre os nossos ortografos. ha muita varieda-
de, porc1ue uns querem que sejií o r ;, ou tros 16, outros '.l4».
E<;sa rnriedade co ntinu o u até hoje . sendo os extremos
- João de Barros. qu e diz serem 7. e Constancio, qu e en11-
nwra 1:;. ( I<) ) .
Scgundo João de Barros, 0 primeiro qu e escre \·e u uma
grammati ca regular da nossa líng ua , os ditongos po rtugue-
zes são exactamente as sete combinaçôes que os gregos
co nsid era\'ão ditongos: a-i, rm. ei. nn. oi. 11i. Segundo :V[o-
ra es, sf10 esses e mais um, in .
. \ s outras co mbinações, como o hse n ·a o m es mo autor,
o u são alguns desses m esmos ditongos . co m uma das vo-
g-aes na sa lisada , alguns, antigamente, co m vogal dohr:ida-
qu e hoj e não usamos. ou siio sómente ditongos na pronun-
cia vulgar ou no verso, por necessidade ou conveniencia
da metrifi cação .
A nosso ver, essa doutrin;t de dois mestres da lingua
G a ve rdad eira . ~ umpre só mente accrescentar que, actual-
m ente, o ditongo ou tem o som de uma vcgal simples í),
excepto em algumas provincias de Portugal: e alguns dos
hiatos latinos, qu e te m i ou n por prepositiva, sóam, em
ce rtos casos , na pronuncia ge ral , quer no \·erso , quer na
pro.;;a, co mo nma só syl!aha, pelo que os podemos consi-
6 _\ LI:--rGlTA PORTUGUEZA

derar ditongos, ainda que os denominemos improprios, para


os di stinguir dos ditongos propriamente ditos, isto é , re-
cebidos da lin 6 ua mãe ou formados de conformidade com
as primitirns leis phoneticas àJs líng uas aryanas.
No portuguez, o ditongo ai escreve-se tamb e m com e,
ar, e o ditongo cm e eu com o. ao, eo, mas sómente em syl-
bba final, p :Jrq ue então e sôa co mo i , e o como 1t (20); e,
po r isso . como ainda não está, a es-;e e a outros respe itos,
fixada a noss:i o rth ograph ia, e_.;creve-se : vai, rnãi, amai, sai,
uai,: JJall . m1 11. ::;rirau: ,n•>t. teu, ,'.yceu, e1trope11, Deus, P,nupen; e
paP, mãe,pao, mao, meo, Deos, etc. O que faz o ditongo são
os sow;, e não as let ra s com que se escrevem; du as le-
tras diffe rente;; podem, como neste caso, dar um so m ig ual,
e duas vogaes di,·ersas e junt:1s ;:,odem dar um som sim-
ples, como em s011, estou.
A lingua portugueza, já o dissemos, é das filhas da la-
tina a menos propensa aos ditongos( n h a q ue mai s se con-
fo rma, em ge ral, co m a prosodia da lingua materna. E',
pois, rasoavel considerar como se us ditongos propria-
mente ditos os que ella recebeu do latim ou formou á
semelhança dos que tem ou t e ve a li:::gua latina ,assimcomo
a grega, que da mesma origem procede.
Al é m disso, o estud o physiologico d os sons mostra
que, para serem duas Yogaes proferidas com um só im-
pulso, é preciso que a segunda não exija maior abertura
da boca (é o que significa hiato) do que a que foi necessaria
para a p::-olação da primeira: ou, o que é o mesmo, que a
pospositiva seja mai s surda que a prepositiva. E' o que se
dá, quando o r rim eiro elemen to é a o u uma das suas re-
presentantes e e o, e o seg undo i ou 11: é só nesse caso, p.J r-
tanto , que propriamênte ha d itongo . No caso inve rso, ha
hiato, mais ou menos sensível, conforme a natureza das
duas vogaes e a maior ou menor firme za da pronun-
cia 122 ) .
Dois sons ig uaes não constitue m ditongo; es te é se m-
pre mixto ou composto de doi s sons differentes, que se

Biblioteca Pública Benedito Leite


.\ LINt.1'.\ l'ORT.LTGlJEZA 7

fundem, porque ~ão emitlidos conjuntamente, por um só


impulso do sopro, mas com mudança .rapida, na posiçf,o
das partes moveis da boca, de modo que o canal phonetico,
no principio mais aberto, se estreit:i, ao proferir o ultimo
elemento do ditongo. No hi:;to, essa mudança el e posição
da líng ua ou dos labios faz-se com m ais esfo rço . e a lar-
gu1:1 do tubo yocal é maior n:.t segunda parte, ou quasi
ig ual ::í d:t primeira , do que result:'10 dois sons separados
ou duas syllabas. Na prolaçã o de dois son, igu aes, a posi-
ção do apparelho vocal é sempre :i mesma , não h:1 pro--
priamente dois sons, mas sómente prolongação do mesmo
som; e essa prolongação póc.le sustentar-se indefinidamente,
o que é impossível no ditongo . Se as duas vogaes identi-
cas são proferidas separadamente, ha hiato ; se o são con-
juntamente, ha simples alongamento do mesmo som, Io di-
tongo, ha sempre incremento de um som. por adjuncção de
outro. ·
Do que temos exposto, poc.lemos deduzir estes corol-
larios:
1. 0 -Nã o erão ditongos as vogaes <lobradas, de que
usavão os antigos escriptor.cs portuguezes, wr. f'c . oo. e a
que chama vão yrwules: aa, maa, paa, paarlnr. fee, see, pee, bar-
?"iis, seitiis, moo. noo, soo, 1JOo . (23 ). Tambem não são diton-
gos, mas hiatos , as vogaes duplas, em nomes ou verbos,
como-alcool, zoologia, voo, enjuo, moo, roo, etc., e no princi-
pio de palavras compost;is: . ret'rlificar, 1·eelege1·, preeminente,
preexistfr,coopercw, coorrle1iar, etc. (24 ).
2. -São dissyllabicas as com binações da Yogal prima-
0

ria a com u1u"a das suas representantes e e o, quand0 têm.


mais ou menos sensh·el, o som que lhes é proprio- é, ê, b,
ô. ou desta s uma com outra : aé, aê, aÍJ, aô: ea, oa: eo, oé, oê.
Exemplos: Afreo, baêta, L~rael: aoda, aoristo, Aonio, PliamÍJ:
frléa, arêu,, thecdro, bec:to, icleal, areal, empóa, empoada, cunr, voa,
boa; eolico; poeta, oboé, cacoete, joelho, coelho.
Ac, oe, ao são ditongos nas terminações em que apre-
positiva é accentuada, e a posposith·a tem o som surdo de
8 .\ Ul\'CL\ J'OR.Tl"(;l]1-:z.~

i e 1t ,ítonos . São, porém, dissyllabos, quanJo ambas as Yo-


g-aes são átonas . por estar o ;.iccento na syllaba antecede nte ,
corno em 1íloe ou úloes. e em alguns norn-es ;regos pronun -
ciados com accento latino: Dâ11ac, Passipltae, Arsi11or, Cal-
lírr/io('. LeucMhoe (2:, ). Dánrws. E 111 cluíos, rto não é ditongo, e
o n nií o soa bem como u:os µoetas,µorém;ús vezes o raze tn
ditongo, no meio do \·erso o u rimand o com ma0s,. naus, e tc.
0
3. -São tambe'11 dissyllabas as combinaçôes que tc::111
por prepositiva i ou n, e por posposi ti \·a a. e ou o, quer uma
d ellas seja accentua<la, quer ambas ::ítonas: (26) ia. ic. io: ua.
11e,. uo. Exemplos: Dia, ria. sería. fi,ría. Arcádia, glorin, sfria.
fé:ria: aprecíe, acaricíl': espccie. serie. r'/1/igie; i·io, dcsvai·ío, tio.
doentio, mTeilio, aprl'c)o; úene/icio; lir-io. impe1·io, ocio. vicio, úenc ·
fic io: ·1·11ct, lua, iustituri. destri1a . argü1i_: !'.,tatua. ayna. frrt,q11a .
/P,rJlta, li11g11a; úzstitne. conti11(!r. altenfrP, s111:to, ma11s11êto: lmt1tl'.
e.Tangue: \ 2 7) co1,ti:wío. i11.,lnío: ninlínuo. úmúcuo.
Todavia . as ,·ogaes i e 11, qu:rndo :ítunas, km so 111 t:w
s urd o, uma por muito tenuc, outra por muito grave, quL'
essa pouca sonoridade lhes dá grande fluidet e facilmente
se Ro h ·em numa só syllaba com a voga l seguinte, mais so-
nora , sohretudo quando é accentuada ou nasJl. Por isso os
poetas, para ficar o vers:, nuis cheio e harmonioso, fazem
monosyllabicas essas combinações, assim como as que
têm por prepositiva e ou II com som quasi identicu ao dei
e 1t (rtrea, ethn·ea. crri1lPo. hPrciileo. ,wdoa. P,iscoa ). O mesmo,
corno _já ,·imos. raziào os poetas lati1~os, sobrctudQ os co-
m1 cos.
l~ssb ditongos, que s(j o s~10 por s1Jilt·1·,,se. quc se ror-
rnã o por negligenci:1 da pr.,nunciaçãQ n1lgal ou por liber-
dade poetica, podem ser denominados i11r:ertos ou rll"bili-a-
rios. (2<'l).
Em alguns casos, porem, os grupos que têm i ou 11,
como prepositiva, soã:> sempre conjuntame n te, fazendo
uma syllaba unica, tanto no verso, como n::i prosa; e, mui-
tas vezes, a vogal i consonantisa-se em .i. e o som do u de-
~;,ip parece de todo. Tsto acontece, qu:tn du oi: es tá en tr e
.\ 1..1:\"t;t·.\ l'OR'LT ( ;L' l·:Z.\ !)

duas \·ogacs, a segunda das q uaes J accentuada. como em


raiM, ai-raial, _prtiol (29). e. qu :rndo é inicial, precedido mui-
tas \·ezes d e um h etymo logico, re presentante da aspira-
ção que a palavra tinha na líng ua latina ou na greg-a, e que
11 a nossa se perdeu. com o c m .fogo. iota . ·ionio. hyncintho.
l,ir-ral'chia . lúel'O!Jl11phicu, Iliel'llsalPm, Hierusaly111n (30 J; e
quando o 1t (ou o=n) é precedido de consoante guttura l e,
,, ou y: cor1lhal', cua..cal', cuctli, /"11étas, qual, q111tlidaill', rzurulru,
111wdril, eitnesl!'e. erzuol'eo: igllal. r111.anla, gllela, anti.uaa{lta. etc.

O som de 11, perdeu-se totalmente em muitas palavras,


como: quadenw (1:arll'nw ), IJ.ll!tlo n :e, que, qul'da. 1)_II.er el', q11ilha,
1]_1wla (c u co ta), q U(1tidia110 (31 ): r111erm,, gnia, e tc. Os antig,1s
diziam calidade, cwnan!tu. (11wwt. J1Wf/nlt111'. co ntia, etc . (32 1.
A estes ditongos chamam0s imµroprius. \ o contrario
<los ditong os propriamente <litos, nos quaes o primeiro
e lemento 6 sempre pre pond e rante. nos iinproprios predo-
mina o seg undo. ~\ ssim, quando o II precedido· de guttura l
e seg uid o de outra vogal é acccntuado, ha dissy lla bo, não
ditongo , co mo em-·rec1íu. l'enía, ai·rpío, averigúct, etc.: ou se
ambas as \·ogaes siio surdas e brev íssimas, por estar o ac-
ccnLo na syllaba anteri or, Lambem não ha ditongo ou só o
ha por S!J1te,·esc. como em ri'!cu·i. níwo. iiú,11111, :wiúc1w, ,11,ígJ/11.
/i ·,íg1w, ,·(,yua. CXÍ!JIICI. ('~CWlf/1/ I' . CLC.
-t- º- Da co mbina ção dos d ois sons primitivos secun -
darios ·i e 11 se formar:io os ditongos: 'I IÍ. que, co rno ficou
dito, era tamb e m ditongo no grego e cm algumas pa lavras
latinas: e iu, que 6 ditongo peculiar de, portuguez, e do
gallego, idioma de que proveiu a língua portugueza . (3.3 ).
Este ditongo occorre sómente na .3' pessoa do singular do
perfeito do modo indi catiYo, na 3· conjugação, vrsti//,
1tln-iu.fPriu. etc., e na inte rjeiç:10 sú, ou z,Ú11. l3 4J·
Os ditongos podem ser formados de YOZ<::s puras ou
qu e so:io scímentc no ca n:d Ja boca i_ (Jre) ou ter um dos
~cus <::lcmcn tos nasalidad e . rcsoand o nas foss:is nasaes . pelo
abaixa::1cnlo d o v<.iu palati 11 0, (35,'. Por isso os grammati·

Biblioteca PübHca Benedito Leite


10 A LI NCi U.\ PORTUGUEZA

cos os di videm em oines e nasaes. Nos d ito ngos propl'ios o


~om nasal é sempre o primeiro , nos imp ro prios o segundo .
O som do e ~ do o póde se r aberto o u fechado , n os
ditong·os <' Í , eu o u eo , <1i o u oe . Isto, poré m , não faz qu e
sejão distinctos esses d itongos , co mp os tos do s m esm os
sons, ain da q ue proferidos com timbre di ffere nte, de que
depois tratarem os. (36).
Os ditongos portuguezes sã o, p ortanto , os qu e vão
mencionad os e exemplifi cados na tabo a seg_uinte : se te pro-
prüimenfe dito,,, dos quaes pode m se r na saes quat ro ; e o ito
improprios, do5 q uaes se is pode m se r na sacs .

Ditongos IH'OJlrimnentc ditos

O H.. .\ ES

ai, ne Dai, mais. p:1e, anima es


rm, ao Paulo, cau sa, pao, ma o
abe rto Réis, fi éis, pap 0is
ei
{ fechado
surdo
Rei, lei . ha ve is
.\Ioveis, amáveis, fureis
aberto Cé o , c ba péo, t ro ph éo
t lt, eo ~
'
fechad o .\l t u, morre u, c urnpe u
1/t Yes tiu . siu , ps iu
aberto Co mbóio, jó ia , hc rüe , dtit:, scíc
oi, ue
i fec had o Boi. fo i, so is, moio . j óio
ui Fui, for tüit,>, g ratuito, drui da

X.\SAES

âe .\Iãe , o u mãi, pães, irm ãs


ão .\Ião, pão, irm ãos
õc Põe, se rm ôcs
iti .\luito
.\ u ;,a;L'.\ l'OK'fl'(il'l·.Z.\ 11

Ditongos improprios
i ou lâ, ini - la go, hiate, ou y:1cht; yauigan,· A ia ce
c ial ou me- (38 ), raiar
dial, segu i - hi e rarcbia, hierogl)·phico, Yeso
d o de o utra Iota, i onio, York, m:.1i o r, pa-iol
,·oga l Yuca, Yu catan, yurará !jurará)
u precedid o Quadro, r1ua l , sequaz: igual, gu arid ;1,
de 1·. r1 o u g, g uarda
eseguid ode Sequela . equestre. guela
outra Yoga ) .\ c uidad e, eq uida de, equin0: sag 111 ,
srng uineo, sa11g ui11 ar io 1.iy )
.\qu oso. eqnóreo
S .\S.\ ES

1( /J/ lam bo, ra-iand o, yang. ,·;111kce


'/('/( Are-iento, Cayena
/1/JI Bayonna, baY o nn e t:1
1/(lJI Q uand o. quanto , g uante , g uand0, agua ncl 0
1/(' ft Eloquente . co nsequente. d e linqu ente, agu-
enta r
l(t/1 Quinquages i1110, quindennio, quindec e m-
viro s. ~-10).
As comb ina çôes que fazem ditongo deixiío de fazei -o
lllu itas ,·ezes, pronun c i~ndo-s e cada uma das v0g aes sepa-
radam en te. o que sempre aco •1 tece, quando é accentuad r,
a segunda , nas que rorm i"to os ditongos proprios, e estas,
quando s~10 a mb as surdas, nas terminaçü es átonas, co m o
já disse mos, só formão <lit,rngo por synerese . Pod e m. tu-
davia, se r pronunciadas sep:1radamente, ainda que a se
g unda seja a predominante, as duas ,·ogacs que. dep (.. is
de gut tura cs, ordi nari;1mcnte fo rm ão dito ngo improprio,
como em 111'/Jiieute, arg iii.
Assim, não süo ditongos: ai em pGtiz , 11uúz, cni1·, caí ou
l'((/1i (4 l ) , Cfl/ 'itÍ/Jn.
au tm 1ilwíde, alatidc, satícle, graticlo, _pwíl, apa(rlurlo.

Blblloteca Pública Benedito Leite


12 A Ll)JGl J.\ PORTUGUEZA

ei em deifico . cleípara, deis1110, deísta, atheista.


l'lt em tr•1ído. 11u111fr1írlo . Nmleüdo.
i11 cm ini1í 1fo, ci1í1,ic. !li11r1111, r/i11lur110.
oi cm heroí11a. hnoisino. rloíclo, n1ído.
ni em je,;uíta. pel1ríla. 1•sfalui ,·, i11slituir, i11~lit11ição, cu11,t i-
tui~·ão. !lcsfrnição. (42 ).
wi em 1iry1í ,1, nr1•riy1ía. vríl'lla. e:'f'Í/Jlta, co11lí!J11a.
11e em arq1íc, ai-1,ri[Jtíe. 11.1·yiie11te, f.1'r l11!Jii1' .
11i em ((l'!Jiiir. ar!Jiie. r1r!Jiii11do, ar!Jiii11te
Se a segu nda vo.:r1 l de um <liton_;·0 p rnp r·o se to rna
nasal. J es faz- se o dito ngo . se parando-se as duas sy llabas.
Em cal' , s11P. dÍie. l'Í1e . .~ÍJe. prj,,, ha ditr•ngo; nus são Jissvll:i-
bos: cú1,111,, s·ie111. 1/Í)ein. 1·ÍJe111, sÍic:111, paem. (43)

~0'.fAS DO CAP. 1

(l J-Os g;n•g-os cha11 1asão a L·sta p ar1c dn granunatira 01-


tlwípl'ia (épos. pala\Ta). Orth ophonia parcce-uos terrn opreferi-
vrl , p ara ;;ignil'icar pronuncia col'l'ccra. «Se esramos atrazados
nas questões orthograpbic1s, disse J osó 'E'eliciano do Casti lho,
muiro 111 ais nas 01thoépicas; aq nell as ree m ai11 da chamado a
atte nção d nmiros eo111pete11tes, não estas, como se o bem /'alar
0

tivesse 1n P1 1or nilia do 11uo o bem es,:rever ! Ora, sendo certo


que, 11a p1·01111neia. grassa a11arch ia 111 a ior do que 11a,escripta, é
para d ,; ·.iar quP os a mantes desta formosa lingua c,;tudem tão
gra\·1• ponro ... Ha . por.-a11to, nn1 est ud o 110,·o, para rCJ1tar, em
lín gua ponngm•za. L"lwio d e <:spi II hos . mas ta111 ben 1 <l c delica-
d ezas - o (la Orrho opia ,. (Orthoy,yi,pl, ia Porlll!Jaeza, qua1ta par-
te, nora ao a n. XII).
Ha ho,i1· 11111a ,lfr11wrin, ou peqne11 0 tratado, d o d outo phi-
lologo po:-rugttt'z A. R. Uonça lves Viana, com o titulo E ~,:posi-
r;ão dn Jll'r, 11111, ·;ia n_or111rrl pot'l11g11ez1, 11arn 1180 rle 1101:ionaes e es-
fl'llll!Jr,irus. E' o lira nrniro Yaliosa, para o co11heci11 w nto <la actual
pronu ncia. em Lisboa, Coimbra o suas circumvi sinhauças; mas,
uscriprn para,,, ·r ap]'(;,;entada a u 1u co ug rcsso in1ernaeional ele
.\. LINGL'A l'ORTGGüEZA 13

sabias, uão é adequada ao ~ommum dos loitol'es, por sor a fóruia


para oll es demasiado erndíta .
(:2)-Uomo a orthograp bia nsual não \Í rigorosau1011tc í'ty·
mologica, preferimos a g:,mphia ditongo, já usada por algu ns au-
tores, t' que, sobre ser 11i a is si 111plcs, não i11dnz em erro do pro-
11nncia, sem obscurecer a ot_v111 olog ia. Ha quem diga difZon[Jo,
como Borges Carnoi ro, (Urthog.). Os espan hoos dizom o escre-
vem diptougo, os italian o:; ditto11yo.
. (3 1-Schloichorc, Compendi11111 der reryleicltenclen Gramnwfik
(Compendio do grarnm atica comparativa, ~~ 1, 2 o 3 _1 .
(4) 811lla ou S111/n opt-iinus. max-imus. autigamouto optmnus.
11ta:l-w1111s. ,ll edias e1;t f)_aiilam u et i Wtere so1ws, non eniin sic OJ)-
timus dicimus, nt opimu111 ... Uptimus. 11w:rim111; ut mediam i litte-
mm, IJIIIP 1,·oleril,11s u f11era t. accipere11 I, Ca11pri1num Cwsaris, in.~-
criptione tra1h:tur fcu:twn. Qui11t , L. I, caps. IV o VII.
\5)-Here, nunc e litte}'(t termi11am11s: at veterttm coinicorum
a dltuc libris ini:enio, H eri ad 111e rwit: quod idem in ein'stolis
August1:, quas sua mcmuscri.ps-it, aut ementlcu·it, despreltendi/111'...
Sibe et IJ.!lase. scl'iptum ú1 multor11m libris est: T. Liviwn itn. !tis
11 .~111n, ox. Pediano r·om11en:. 1111 i et i11se e1111t seque/Jatur: ltO?c 110s i
littera Jininws. (1nint., L. I, eap. YII. U m cou111 1011tador do tm1
gra111111atico latino do :2· seenlo (,-lp11c11di:r wl Prolmm) advel'tl'
\!UC se dovo dizer Cavea, non cacia: úrattea, 11 0n bratti.a; coddea,
n_on codtlia. lanceei, no11 lancia: solea, non 1Solia: balteirs, 11 011 bal-
llus: e csso autor, accroscouta Dioz (Gram .. pags. 167, da tra-
dncção frau ceza), podia dizer ao do nma earta do anuo 7:2G;
nntea. 11011 autia: /m/Jeal, 11 011 haúiat,: caleat. 11 011 valictt, moi·eant,
11011 mo1·icmt: tleúeant, 11011 debianl.
. rG)-Todavia, clirni11 avão, por co11traci;ão, alguns hia tos:
-~1111, -~is, .<;il, por siiin. ct.c., amanmt por cww11erunt, <'tc. «Isocrn-
tcs do tal maneira Jugia ao co ncurso das vogaes que den, co m
1'.lllita razão, a Plutareu, lugar do o escarn ecer: quaudo, 110
l1no onde propôe se os Athcnie nst•s riuhão adquirido maior
gloria c·o111 as urinas ou 00 111 as letras, cliscorre11do pela vida do
l socrat os, e, mostrnudo co1110 ollc fôra se mpre pouco sufficio11u,
parn as consns da gncrra. diz:-· 011u1 so//i·erúr o som das anuas,
e 11 ,·01111Jin11mfo dos es111adrões. 1111n11 lauto o r·oncurso das rn_qaes
l~·mia, e 11a1·orosa111eute, fi1y ia a que 11111, 111emb1"0 de clw11;11la não
fosse 111enor do que 011li'o 11e111 1ww S!Jllaba ?». (J o[w Franco Bar-
rPto, Ortltograpltia, rap . .X...,'\:.II). ·
Outros grandes oscripton•s g regos, corno 'l'lrncvdides e
'Pl~tão, nfio cnraYâ.o dos hiato.·, ao passo que D omosthe nes os
t·v1tava co 111 cnid:1.d o, co11fo1 n1 e adv1'rtl' Cicero; o. te considera-
os \"i ciosos t· co 11rrnrios ao uso da li11 g ua lati11a, su11do sómcut\•
14 .\ Ll:\"GU .\ l'OlVlT<;l ' EZ.\

cleseulpav<·is algumas Yoze,; no n •rsO\ pol' n ocPss idad~ do ni etro.


\ Orator. X.LIY e XL \' 1. :'.\ la s o h iato, on co 11 cun,o de vog::tL"s, a
<1nc Sl' rderc n, Plnta rC' o ,. Cicc·ro, é o que se d á entrn o final di,
nn, a pala\'l'a !' o princ:ipio de ourr a, o <tlH' a arr" cio esc-riJito 1· 011
do orado r pó<lP evitar. nã o (los sons t'lt•111cman·s dos voealrn-
los, o que d Ppon<le elo orga11is1110 da lin gua, e do uso u11iyersal
do ))O\' O qw• a fala. E' para snpprimir essP hiato lJll!' os antigos
diziam, 1• ainda cli7. o Ylll !,Ç0.-//111 hora., o 11m· se dove di:wr, eli-
dind o na p1·onu11 cia aprinu•int voga l, ai nd a qnando oscripta, on
profcrinclo-,L 11mi ,-mrtla111e nto. souretndo 110 n•r,;o: miul1'a/11111.
des(1t1"/r. ,,s(o//tro. c.~.~·r)l(fro. m111e!{outro, c:01110 ,;() diz -rleslfJ, da -
rp,elle, rlefft,. ddla. ri' Erorn .
Alguns mockrnos poeta,; ponug11ezc·s nã.o fazc•1 11 L"ssa eli-
são, cliz(•ndo cm s:vllal>as separadas: mi,tlui alm((. 11, nrlc, 11,
11[/IIÍI!: lll f\S é fúra dr Ull\'tda cptc esse COIICIL!'SO elo d ois SOIIS
ignac,; P fo rres é desngrada\'el. ainda aos om·idn,; n,aü.; rnsri ,·os .
Por isso, 11 a p rommc·ia pnpnlar <k a lg n111as JH-o\·i nc:i.u; eh- P or-
tugal. inrorp<ic-sc-lhl' o i e11phonico da. língua gallega-niay11a,
aial111a.
17 )- - Os amigos eserip rores lat in os O<;nnio, Lucí li o, Lncre-
cio , crC'.) usavão <lo ,â u o genitivo o da.ti.vo do s iu g nlar: 11 0 plu-
ral. alg uns pnnhão ae. 1t11imai. Europai. hi GaliJrie. 8!!/lac: el e ci
por i o e lo11g;os: p11erei, 11111·ú. au1ú-eis, s1ieis, om11eis, Ireis, tilH'Í,
siiJ<>i. <'t('., <h· oi por 11 on ni. luidns (lllrb1s . 1111oi Icui). Yirgilio,
qiw (-luintili ano di7. í l'I' sirlo a,nri nti ss ,1110 !la li1 1gnag;c•111 a11ti-
g a» . ai11da n son algnnrns n·zes do dit·o11!2;0 ai-JIÍl'lni. 1·1·slis.
ll.lJIIIIÍ: J u!a.i Ili lllediu lil!lluan/. jl OCIIÜt IJl/1'1:IÚ. ,_\i,1 1., L. r.,
<lu int., L. L cap. YIJ .
(8)- Xeu ler. 11e11/i11w1.:u. 11e11 por nere. seu p or sire (st'Vl' sfw
pala\Tas.iustapostas: 1U'//ler-11e11-ter. 11e11tiuna11t=ne-11tirpuwi. (tan 1-
hcm 1wli111w111 . como n11ll11s=ne-ull11s), 11eu= 11 e-cc ou·-· i-el, seu=
si-ce (SC\'l' .
(\l)·-U itão-sc ran1be1n, como oxo n1plos do dito ngo ei, algu ns
versos dn Yirµ;ili o:-Caucasi1rnq11c r efert volu1;res /i1-rtuJ11r111c Pro-
meth ei. (E<:l oga YI. v. 4.2 l . f'ni,1s olJ 110:rmn et f11rias Aiacts Oi'lú.
(Aru., L. I., Y. 41 . )las 11csses casos, assim co mo 0111 Orphei,
,foltillei. f'l11s-~<>i. etc., oceorre r. ·so dito11go r m 11on1es gregos. Elll
rei, 8J1ei. Jídci. t·rc .. não lia ditoJJ go ; a:; duas v ogaes fom1fw duas
sy ll abas.
'10 ) -Aú uo '3. " e +.° scculo, segu11do Diez 1Grmn., L . I.,
sPcção I. JJiloll(Jos lnthws). O nom e a llorn ão krúi;er mostra 11uu
as duas vogaL"s soadío e 111 Cw·sar. E111 d ois qiigrn rnn1 :;is de ~Iar-
<·ial, vê-,-,· q 1w ~Ycu•rin se L·scrnvia co111 sPis ler ra. · r prner/i11111
com tau tas como 111 wuliwn (~l art., L. I, ep. LXXII, cul 1;011111u111,

Biblioteca Pública Benedito Leite


A LrNGl'.\ PORTl'GlTEZ .\

L. XI, r p. X\TIII, m Lupmn ). E lrn, tPstr n11111h os positiyos ele


antigos grarnm aticos lati11 os, como, po1· ,•xp1 11plo, o dr Dio111t•-
<l Ps: (cletmctio /it) W tem e, 11t si detl'w:ta ri lilfel'a vrefor dirnmos.
uf L11c,H118 .. . mm debea f ae J11'0111rn1·ial'i. pmefor .
( l t 1- Qnintilian o \ L. l e. \'.) cita, corn o ,•xcmplo el o s_v11P-
1·1:B<', rsto Y1·rso do \'arrão: C11111 te /fn.!Jrallfi 1l<,j fff111n ji,!111111<'
l'!tal'fo11.
( l~ )- F r rnão do Oli,·oira , (li-11111 . cnp. 2:t -- «Dnas syllnl,as
<lP vogac. · pnra s, ,:;cm 111istnra on ame posi~·ãn r!P eo nsoant" , lw111
se pod0111 cominnar: como /i1 :ú11, i11, 1·0111111. A ind a q11 0 pdla 11,n.yor
parte lh o rn et.- 111os 11 0 n. oio hnm ,r 1·011 sor111 /e. 1·omo .lfa11n, se!JO,
oyo ». Qnin t ili :rno (L . 1., cap. l\' J di z q1w Ci cr ro cs r revin i du-
plo C'lll .liio. JirU:ia. <' qn P rssc i era to n:-;oamo: Sr·iol Pfimn.
Cfrero11i, 11lru·r1i.~se. A iio . .llniiam f/llC ye1niw1ta i scril,er e: q11otl si
<'.~!. l'fir1111 j11nyef111· est 1·011so11 rt11 .% . Di, ·z chn 111 r~ palatal a cRso i, e
diz rpw t1·m 11 111 so m <'ntn · i r j. O pro,·e ,u:al <' o anti go frnnc <' r.
1·.. pn•:-;P11rnvão- no por;;, o frn11c pz 111 odPr11 0 l' o ,,:-;panh ol por !/·
( 13) (.:min . drr s l i 11q1111s r o111m1 i m s. L . I , ps. lHL
114-) -0,-, a ntigos pod as clizi fw - aspeifo, ol!i<'ilo . t,•i/o (tl' Pto ' ,
cito qn <• hoje SL' não usa, m'm ainda po r ll f.'C'cRsid ade cl1' ri111n .
( U"> - F . .Di (•z Cmm .. log. cit., ps. !Hí.
(16_) - Dnclos (lle 11rtrr/lll' , wr lrt Ur,111 111wir 1• Oh 1hol!·. ,1 ·
Pod R oyal) lll <' ll ciona li,, G iranlr Dn\·i,·il' I'. U J'l111t1n r1i1·,· tll' ; f/ 1WII ·
111wires, ~G.
17)-« 'N°fw é fac il. ad vl' rto Di <'z. l'lll i tali ano. <")111 ) 11 ·1s 011-
tras ling-uas r o111 a ni cas, detP rn1i11ar í'laranH' 11t 1• os cliru11g•H 1·11 -
1,,,. ns co111hi11 açôl'S rle yog;aPs; <'· o <1n<' <'X l'l ic-a qn<' n;v) hn.ia a!'-
1·11nlo sohrP o n11111 <' ro dPll e:-i. GiarnlJ11ll nri, por <' X<' lllpl o. admirto
són1 1 ·11 tl· ,.. in co ditongos, L. DolcP sC'tc, e Sa h ·iar i não 111 r 11 os do
•1n,11·,· 11ta e nov<'. H a nl i~ u11:-; g rammati cos que não rPco11li ccom
l'otn o 1liro11 g;os as co nil,i m1~·cks qnl' t<' lll i ou 11 ini cial, porqno
<·sta:-i ]pfras. n f:<'n ver , síw C0!1sm111 t<'fl C' 11fío vogaes :1Jm1H·11 ó=
lúrw ,·o. y111crr/ 1= y1·anl 1. Ont ro~ g ra11,111 :1t i,-.os não r<'<·o11hl'OO lll
1

tanilH' m cli ro nµ;o P111 lei, oei su· l, JIOÍ . 1·•1i. /,, i. <[H P pro,·i•111 clP di-
touµ; os on do vogat's s i111p! Ps la1i11 a:-;, p orrpw, no fi111 <l o \'Prs o, 08
Jl_? Nas os <'lllJJJ'<',\l.":10 r·o 111 0 dissylla bos. ::\Initas eo mbi11 aç1i,•s 11ft0
sao <·n11 ;.;icl0rad as 111 011osv ll a bi c-as s,•n ií.o p or svnPn'sl' : ai om
mi, 1111111i, 1•11 <' Ili 1Jc11l0. , i ;.11, 1/irr•i. tnrrl11 r r· i: Po ,;m ir/011eo, ia em
1·~u1miri. ,·ris/ ia uo. yluri,1. ie e111 11mzi1·. io <' 111 1·ioln.. p trnsi // 11<'. 11a -

z11111,,. ylori1Jso, 11rt'111io. 110 <' 111 rirt,,m;o, t o11 fi1111 0. Convé111 nr-tar,
pani<·nl am1 e11 l1'. 11m· não li a rl i1ong-os P111 sor11·p e m111w1 Plo: nos
JH><' t:i;.;, o pri111 Piro t,l'lll ,;p:11pre tn·s, o s pg ,rnd o qnarro s_d labas,,.
Ei11 :-;ng nida trn11 scT,·VI' a ra lioa d o Bno111mnt-t0i, qtH' cont,;111 1!)
ditongos. Dioz, Ur111w11olirn, p . 1315 o sogs. Ditongos italianos).

Biblioteca PUbllea Benedflo Leite


1G .\ Ll"<Gl' .'\ PORTFGUEZA

(18) -Di cz e numera 22, segundo a Academia espanholrt, na


sua Ortourafia. Na Orrn11mnf.irn , a Aca<l c11 1ia m onrion a 14 di-
tongos o 4 tritango,-. ·
, tfJ )-Fern ão de OliYeira, 15: Duarte Nun es do L eão, 16;
Robor edo, 17: ,João F ra nco B a rrem, l!J : Fr. Luiz <lo .:\fome Car-
mello, 10; Soar es B a rbo. ·a, líi, conform o Nun es cl l' L l'ão, D if'z e
Ju lio Ribeiro, ,t!).
(20)-'I'arnlw rn, 11 a pronu 11 cia lati 11 a, o muitas vozes se cm1-
fnnclia co m 11 : f' os cscriptorcs a nti gos fr,,que ntr 111 e11tf' as troca-
vão, (:0111 0 arte'Sta (~nintili a no (L. I , cap. n -i :- ·<<}11ic/ O rtlrz11 e l i
v ernwtaf,P i11ril'P111 :" 11/ He{'()/m ,,1 110/ri:r . C11/chi,/es ef. P11lix·r1111.
snil1er en/11I': (ti'. 1w. iu u,.wcis irl /a11hw1 110/l'f11r. rfodemnt. IH;
1wobr11,erou/,,. O nH·. mo <liz F es ta: sru·Prd11s por srU'erdo.~. e11isí11 fr,
por epistola, etc.
(~1 1- Segundo Di cz (I, p.·. 3D7 ), 1<<l f' todas as li 11 g nas ro-
rn anicas é a fra nccza a mais p obn, 011 1 d itongos• . A ss im é,
quanto aos diro 11 gos propri a nw nre di ros: pois q11as i todos se
torná rão, nesse icliolll a. sPgnntlo a p ro 11u11 cia act nrrl , so ns sim-
p les, ainda q ue r cprPS('tHados por Jnas 1·ogaos, a q11 0 os gram-
maticos fra 11 cf'zes cha.,n ão rngr, es compostas 011 cli g rnmrnas: ai=
é ou i-. au=o. ei =i-: 1'11 =ii all c111 ão, 011 = 1t latin o. Exccptuam -se
ai e m rú. ai"e e hcúe (c m rú ,,uf. púe11 . o i p ortc uco á segunda sy! -
laba: na tP rrninação oi/. /vii/. frm·ail. 1,atrú/16. nu s roco 11beccm
r sso cli ro ngo. onrro não. c-o ns idora11 clo o i. 00111 0 sim ples sig11al
d e l m o11illé1. }Ias. qua11 ro aos rli ro11 gos im1n·o1n·ios, fo rm ados
por syn e rC'sc ou por di ro 11 gação d r- vogaes s i111 plc'S latinas, o
fra11 cf'z tern gra nde 1rn1n 1' ro e c m g ra.ndc• num ero elo palavras :
e, por isso, par Pcc-n os in co11te;;.taYe l ([IH' é urn a língua ,nni s cl i-
ton garla, que a p orrn g unza.
(:22) - K esta mi>s ma dontrina que cxpC'nctC' Saco ArcP,
uo seguinte rrccho da s ua Grcunmatim a alle_qo:- «A s vogaes,
quanto mais p er to ela garga 11ta se l'ón 11 a o sorn. ex ige m maio r
abertura el a boca, o qm' d á or igem á class i[i ca.ção el as 111.es n, as
c m abertas e fechadas. ~ào ab ortas o. e. o: tecli acl as i. u. Com-
b i11 a nd o um a y ogal aberra co m rn11 a fpcl;acla, r es llltão os dito n-
gos, so ns dllpl os. formados co m um só a le nto. O g allcgo tom os
segui11tC's, q ue, excepro o ulrimo (i11), são os rn os mos d a ling na
grega, á qu al o un e m outras affi11icladf's :
ai ex . mazaira nu mau
ei p er eira en rnorreu
oi loilrt 01( maton
ui muiiíeira Í)( f i·ilíu
A lém destes ditongos verdadeiramente taes, ha, como no

Blbtloteca Pública Benedito Leite


A LINGrA PORTTTGrEzA 17

castelhano, combin ações de duas vogaes n,hcrtas, ou de fechada


t- aberta, qnc, com 111 r 11 0;.; propriccl adr, rêm o 11 0111r de d ito ngos,
porquanto nelles 11ão se 1)(' recbc tão cla ra 111 eiÚc•. c-i mo nos ant0-
1·iores1 a in clisp l' II Savc• l nnidad s,vllabica. 'fac,; são: ea. co1110 l'll l
dH7e[t, oa,. (rrí_qw,s ). ia (r/11íria1, io I rim/Jio ), U(I, l rí- ,·ua).
(23)-0s lati11 os at(: cên :a da idade classiea. escrPvião as
vogaés longas com letras dobrad as: r ~rz11e ad . Lrri111n ef. 11ltrrr,
porrer,fas .~!Jllal1·1s qe111i11i.~ r or~l il//l.~ sr-ripseru11f. (,luint., L. T,
c. VII.
(24)--:<Dnas vogars selllrlhan rcs, eo1110 c• 111 r eemente. nnnca
~az0m nm verdadeiro diro11go ». DiPz , Urrnu.. ps. ,3Ui 1\·ogaPs
italianas ). «Dn::is vogaes de híta lll l'S111a 11a rL11'('Za 11:'i/) se· nj1111tão
;, híi.a sylln,ba: e as qn e l'aze clirongo scrã') sP111prc din•r,;a;; ».
F,•rnão d'Olivcira. Grwnnin'ica ria l i 11y11rt_(J(' Jll 11m·/J1g11na. e. XXII.
(2rJ ·- 1 :an1õ ~s usou d1'sto nome, eolll o aecP11to 11a 1w 11nlti-
ma svll abn,:
Nunca por Daph11 P, Cli cie on Lr ucoth,'i r . 'l'e ncgnr· o a 111 or
d evido, com'.l s 1>o. [, ,,~ .. e. ILI, (•,-t . I.
(2 (i)-Constancio é co 11 tradirtorio. C'.rnsidrra11clo dito11gos
rssas terminnçiics , qu~ndo si"\') úron::is, t' tl iz1•11do "'rrm predo111i-
11antr a rm fepw11!timo s_vl! a.ha, con 1'.> 1·p:i ln1 •1 1tc tom, ª" palavras
assim termin adas : vário. rríri 1I. aI111I1Iu•I0 . .~ifin. 111 ,Í.7oa . 1·011fi 11 110,
confímm. alÍl'io . Co11sta.11 r io, C:mm. pol'f.. 1,,, parr" (dito11 .:.ros1 t·
4. 11 p a.rt1, r,·og'l,Cs prr. cl 0111im111 tt•,n . J1t!i o R.ib cin , f!ll ' ta?11 '>P 111
a,;; dá co111u tl'rminada,.; <'I ll diro11go, é c-0!1C r,'11t , cli:1.e?1clo·n s
J)a1·í,_7·11tonrrn, ou accP1 1tnruhs na 11en11lli11v1: rn ·v, "'m r azã ), 1rn lo
qne acima fica t>x posto , e p.•lo nc;o dos p') ·t'.l'>, <til " s ~:11,J rP as
empr2ga111 co 111 ') propirÍ>.n/011·1v rn accennrncl a<; 11 -i n.n'eJ1rm11llinu1,
110 fin al d0s ,·cr,.; is rh r:'!J'iN,.~ 011 .1N,fnír11lo~. e s-'>111ent r. por sy11c-
rese con tão t•~,.;'.\s tenni n::tçôP~ CO!llO lllll'.l. só svll aba, 11 0 meio do
Vf>l'so. Antonio F"•.li eiano de Casti lho. 11 0 seu ºTmlwlo rle Jfe1rffi·
r.a,rii.o, conta em {Jlorirt rrrs syllahas. ps. 7, <' cl't entre os cxf' m-
plos de palavras Psrlr1í:r:•das: rlelil'ir,~. l'l'l'lífrr,. 1u111·r11,Íll'ÍO, ji111éreo.
1Iadur,, ira advf'rtc l_[n <' . J 11 ! 011io t<'lll 1111'.ltro s_vllabas, e (Jll,' mui-
~as vci ps as tonninnçôl's eo, ü, não ,-fw di1011~os, ,·01110 f'e.rnr eo,
1/.lll eo, aI1reo. arz11 eo. !Prreo . nere1J, ,,/,11r11 ,,?. rc,.7I11. e:v egi·1, et<·. 1Or-
flwr1., 3.11 parte, 11.0 - li,. 1ií ·.
(27 )- A tPrmin ação d,• 1•.r-1111!111 µ é d is~_dlabica; os poetas,
porém, fazem-a mniias v p;,:1•s 111 0110.~!flla/Jim. ri 11w 1,cl0 ro111 san-
gue.
(28)-Joronymo Som'PS Barbosa. <'harna- lhcs fnrfirfos. Tam-
b~m se lhes podo chama r rl11bios , f r1wftri f iros. 11rcúle nfaes, esp1t-
1·ios ou bastardos, cm coutrnposição aos uerrlarleiro.s, necessnrios,
natiiraes,legitimos. Bergmann, philologo francez,-110 S1t1· laqua11-

Biblioteca PUbllea Benedflo Leite


18 .\ LINGC'A PORTUGUF.ZA

tité pi-0s01lirzue, denomina concrPtivas essas reuniões de vogacs


(iií . iir, uâ, uij e distingue-as dos v<'rdadeiros ditongos (úi, iín
p, sens derivados). 'l'ambC'm os ditongos propriamente ditos são
chamados-decrescentes. cm iutensida.de. e os outros crescente.~.
(2\l)-Se a primeira vogal é a accentuacla, é com <'lia qn<' oi
sf' liga e faz clitongo, como em rai-o. mai-o.mei-o.iwi-o,joi-a, moi-1,,
erc. Como já vimos, o i <'ntrc vogaPs sôa e vale como dois ,;;,
11m dos qua<'s se une;\, primeira e o outro it segunda vogal: nrns
a força <la accentua<la faz qnc mais S<' ouça o i qno C'om Pila se
1111 0. Como não escrevemos dobrado esse i, dc,·emos consido-
ral-o pertencemo á syllaba predominante; se esta é a da l.11,
vogal, ha um ditongo propriamente dito; se, é a da 1." vo-
gal, ha um ditongo improprio. Os latinos, qno, cm tal caso, es-
crevêrão o i como consoante. e antigamente o escrevião dobra-
do, somprl' o ligavão COlll a sogunrla vogal, e, quanrlo dobrado
- peiius. eiius. 111aii11s. dizia Prisciano ftlW um pertencia á pri-
llll'ira, outro á sPgumla s_vllaha, como Sl' separão outras r·on-
soantes dnpliccs,-nwn 111tr11110i"s sif con.w,wrns, in erulen s1;ll1tlm
yem111nfn j11nr1i 11nn posse/: err10 nrm a/iler (Jlutin «l ell11s, 1w1mw.~,,
7woferri 1!Pb11it. (Prisc., Oram., I, 18). ~[as a lingnistica mo<lC'rna
prova que oi consoante dos latino,;, quer inicial, quer medial,
provém de um i yogal , ciuc passou a ii on ~j, e dC'pois a.i on i,
eonsoantc palatal. (8chlcicher, Co111p .• ~§ 3, 4, liH ). Será, por-
tanto, mais C'xacto dizer que o i i11icial, r1ne nfw sôa dolJra<lo, {>
consoante. o o moclial, de 11atnroza mista, semiroynl e semfron-
soanle. O i ta111bcm tem esse som duplo tHts terminações tlissyl-
labi cas- io e in de alguns substantivos e ad,jcctivos-rio, tio.
des ullrio, doentio. rrrn,rfio. fxtltia. aúbrulia, vadia, srulia. rtc., e de
algumas llexfü,s ,·crbacs- rio, fio, des1·io: 1·i1t, ferip,, /<tzin, f'arirt.
assim con10 <1uando . .'.i l."' pessôa do pror. perf. do in<l., 11a 2."' e
na 13.ª conj., SP SPgue o pronome o. a.: l'i-11. ri-rr, (l(ll'el'fi-o. 1111-
71[1111,/i-a.
(30) Vêm-st• as h•tras 11as flôro,; H_yac·inthin:u;. 1J,11s .. t\
!I.", C'st. (i:! 1.
,la tinha vindo Henrique da conqui sta
Da ci<laclc Hic•rosolrn1a sagrada.
Li,s., e. III, cst. 27.
A c•idadc Hicrosolvma tcnNm·c.
· e. VII, ost. li.
No latim, oi aspirado não era eonsoa11te P não fazia ,;yllaba
com a vogal scgnintt', porque, diz Prisciano, nenhuma eon-
soantc admirte antes do si a aspiração: N11nrz11mn nnlem 710/l!st
mlfe ea111, loco J!Osilmn 1·011sonm1tis asJrirrtfio i1H'c'11iri, mule -,_1ti11I-

~
BIPBJL
Bibllotac.a PUbtiça Benedito Leite
.\ LIN G UA PORT UGU EZ.'\. 19

ru.~, ti-i.~Sflllab1rm es f, nulln enim ronso11m1s n11 te se nspirationem


rn6pif. (Pri sc ., I , 18).
No portugncr,, porém, te ndo <·ssc i perdido a aspiração,
un e-se, num a só syll aba, com a Yogal seguimo o podo-se os-
<T1• v11r po r hi ou j: J o11io, J acintlw . .Jenrsalem . .Jero·uymo, j em r-
chia, j eroulypltiro, etc. •r oda via. não faz di to ngo em alg umas pa-
lavras, 0 111 qu<' não se podo mudar o hi cm j. Taes são os se-
g uintes vocab nlos onomatopicos: hiato. hinn te, hiuleo. 'J'ambem
fórm a syllaba separada cm hyoirle. onde o o faz diton go com o
S<it,'lrndo .,;; e cm hyena, onde o e provrm do ditongo 110 latim o
no g rego (L at. /zy(fma, gr. hyaina).
(31 J-Alg m1 s classico;; escr<' vi ão 1·otidicmo:-«No mesmo
cotidi ano mo 111 011 to, que vivemos, sem cPs. ar passamos da
\·ida,>. (Frei Hcctor Pin to. fma_ge111 rla i-irln dmstã, Dialogo 1.0 ,
r·ap. 2. 0 ) . ~<Üs .i<•juns prolongados, os Yig ias cotidianoR>>. (Frei
Lni z de Sonsa. Yirla do An·ebispo, L . 1.º. c. :2.''). No tempo de
Qnintiliano, escrevia-se cotiilie, sobem f[U<' alg un s dizião que so
d1, via Pscrnvor quof irlia '<UI sit q11ot diabus,). ( fost., II, 7).
i32)-0 u, como oi, .-omp ro qu e faz ia syll aba com a vogal
seguinte, <'ra tido co mo consoant(• polos latinos, os quacs cscro-
Yião essas letras do meslllo modo, quer fosse m vogacs, quer
consoant<'Ri só 111 oclernamonto forão a<loptados, para esto ultimo
caso, o j o o v. (-Ju o gu, sogu iu clo-so outra vogal= IJO. go. (Sch-
l<'iclwr, Comp .. §§ 151-154).
Os gram maricos portuguozos chamão liquido a esse u; o
g ra nun atir.o moderno Ep iphanio Di as d iz qne ello se pode r e-
presentar polo w o.o<; in glczcs, os quaC's co nsidorão eRsa letra
consoa11 lii se111 fro gal.
(33)-(<As lin gons elo Galliza e Port ugal, as quaes ambas
orão a ntiga n ente qnasi hu a mes ma, n as palayras e nos cliphton-
gos, e pronu11 ciaçiio. q ne as ontra:- partes da Espanha Hão têm.
Da qual lingoa Gall oga a Por tug upza se aYa nta.jou ta nto, quanto
11 a copia o na elogancia doUa vemos. O que se causou por cm
P ortugal haver R eis, e Côrtc, que lw a officina oude os voca-
unl os so forjão e pnlom. e dond e ma não para o,; outros homes, o
'}uo 1m11qua hotwe cm Gal liza ·· (Duar te Nunes de L eão, Ori-
gem ela Linyoa l'ort11y11ez1t, rap. YI).
«A líng ua vulgar Po rtuguoza S<' prin cipiou a di sti11 guir d a
Galega neste poriodo (do co nde D. H enrique a D. Affo11so 3.0 ) :
1:º por ser ostrangPiro o conde D. H ollr ique, e ter trazido con-
8 1~0 alg n11 s seus natnraes. 2. 0 pelas colouias de muitos estran-
go1ros, que viorão ostabclocor-so no nosso tcneno, Francozes,
ln g lozos, Fl amengos. 3. 0 pelas R ainhas do diversas Nações,
"ºm '}nem casar ão os nossos primeiros R eis. 4.0 pcloR biapoiac
20 A LINGUA PORTUGUEZ A

cstrangr iros qn r l10nvr n as n ossas séR, por r sres t empos, o or-


cl e 11 s r r li giosas , inrrodn zi fl as por in<liYidnos tambom d r ou tras
Xaç·i,r s. P assand o por rodos t•stes 111 ot ivos a altcra r -s P. l' disti11 -
g uir-se a 11 ossa Li11gna da (+a ll cp;a, qn o p r rm a 11 cco11 , sem alte -
r ai;ft.o. 1H·111 111e l11 ora mrmo. c1H·a11 to 11 acl a P lll hu11 1 Pa iz sc11 1Côr tc
t' SP ll l D ni,·cr s i<l arl r·. N't>ste 2 . 0 perí odo !el o D . D i11iz até ao fi111
d o r t>inndo dP n. A ffo11so n .º) se faz vi siv Pl a gradual pol idez
qn o fo i ro 111 and o a lin g na ,·ulgar. a que d eo occasião a r osid oa -
cia, qn o rinha ft• iro t'lll F rança, o sP nhor D . Affo nRo 3.º: os mes -
tres, q tw busC'o11 a s eu filh o: as rra du r·ç-ôPs qtH' Sl' fiz orão, qual
a d as J.,,,i8 dlls Pr1rtid((s. r a d a O.'ll'a do .l!o111·0 Rnsis. por (+il
Pires. amlrns por 111am1ado do senhor D . Di 11 iz: a i11 stit 11 ição d o
hnrn a F niYPr,, irlad" nu r r in ad o <l o sP nhor D. Diniz: os mu itos
Porru!!u,·z1·,; qu P hi ão Pstnd a r f<'>ra d o r eino: a i nt,crm issão das
clcirút·s can oni t·as. p assa nd o a pro,·o rc rn-se na curia mu itos
est ra1q ,•iros Plll bispados, p n' l>Pwl as e mais b e neficios des te
r e in o: " · 111'.li.· q llt' tnrlo. o n so qn t' th mes rn a língua s e prin ci-
p ion a fr,,qn"ntar nos don111 1Pntus pnbli cos. d esterrado o bar-
bar o L ati 111. r1nP at t'· ahi \'ogarn . (,João P edro R ibeiro. Di~sertn-
ções d l/'0110 /o!fi'"IS e f ',·i fims. to mo J .0 • D issor t,. ü.0 , Sobre o l rlioma,
o FJ.,li{I) e Ur /l/(/!f/'/l/i11 dos 1111.~S /Js D1Jr·111ne11tos e Jfo11111ne11tos).
'<0 d omíni o ela líng ua co 111p rc h ndia a (+a ll iza, cuj o d ia-
lncto o[frr cc·i'.l t'nrão p ou cas p a r ticular id ad es qu e o 1tfasta>1sem
d a lin g n'.l,g(•rn d!· P ormga l. P a inda ho je rlivc rge 11 111i to pon co
<h porr.u g ncz,, . , F . .\<l olp ho Coelho. A 1ing11a z1ortuy11ezn , s ecção
4.", ~ l.J-~ .
(;HJ - P nra disti11 cçã0 . co11v \ in n fl'.t r d a g raphia 1·11 para o
diton~o, €' io, para o d i-;,;_vll abo : rio, tio, fi ·io, doentio, sadio, etc .
(Ah'xa 11 d r P Passos . 7Jitl'. Umn1., v. Ditongo.~ e Ju) rlá tambe m,
colll o exc lllpl o tk sre clito11 p;o. o nom e proprio Diu ou Dio: mas
estr 11 01110 é s mpre usad o p oloR p oeta!'! como d iss.dlabo, e r i-
111 a 11d o corn p :1\n.\'ras t·lll io di s'< v lla lii co-seu/111rio, ye11/io ( l,11.~••
e·. x , nn

Yereis a i11e.r111ry1111bil Dio forte.


L11s .. e. II, ilO.
D io, q11e o feito e b,,lffru c.1·1,rr·if'ÍIJ
De .111/r,11io d,, Sifreiro /,em s11st,, 11 /(1.
l .11s._. <·. X , fül.
O s1u·r·e.%0 riu fl ,'11 r[ll'ISÍ J!f'llfle,
(}11 e pois rt Di•r m i eur:rn11in/ir11lo.
D (l lj_llella f i1rle 1Ji11 tâo prom'rlri
De nobre gente e grossa ai·tilharia.
Sobre Diu colhesse a incluula vela.
A LT NGUA PORTUGD E ZA 21

(Francisco do A ndrade, () 1.o r·m·o rle D iu, e. f. II o ziasçún).


(35 ) · --:\Jax '.\Jiil lo!·, 8r·iew·1• of' {m1q11aue. trarl. fr., 1867, tomo
l.°, ps. li'>-1,: - «S , Olll ,·f'z d e emittir livr omonto, atravéz da
~iora, o so 11 1 yoga l. d r ixa1110s a baixar-se o ,·éu do pa ladar e assim
fori,.a lll cs o a r a vibrar atravéz tb.· cavidades que u nem o nariz
ao p hnr_v ngr,, onvim os as ,·o_ga<'s 11asacs. Não é preciso qne o
ar passP, r ea lme nte, p elo rn1ri z; ao contrario. podemos fech ar o
nariz, o não faz elll os senfw torn ar o so m nasal mais promrn ciado.
A nn ira co1H1ição IH'crssaria é a deslocação do Yén, qne li as
~'ogaos ordin ari ns cobre, ma is on 11 1e11 os, o orifi cio posterior das
tossas nasaes,,. 1,; ac(' resr,e nta. r ,11 11 ota : - " Os diff Prontes graos
<lc•ssa occ]rn;ão fo rão dett>r ,nin ados p Pla Pxpor ioncia, feita p olo
1,n-ol't'ssor Gor1nak , por meio de 11111 l'Spelb o metalli co, applfoado
as nari nas. emqnanto er ão pr onnn<' ia1las snces. iva111 r ntc as v o-
gacs pnras e as n asaPs ,,.
(3H )-0s pootas fazprn-os r imar, com o sons ignaes on con-
soa ntc•s. ap Pzar de ·:;a prola('fio clifl'Pn' ntc :
Ava nrP passa, e !{1 no sl'xto céo.
Para ond p esta ,·a o Padre. se 111oveo.
/,,,.~., e·. II. osr. 33.
Não 111cnos é trab a lho illtil"ti·r o dnro.
(-lnanto fo i ro n1m cttr r i11 i'l'J no e céo ,
Qnc ontr<' lll co111n1\'tta a fn r ia de Ncroo .
l,us., e. IJ. esr. 112.
Aos in fi éis. Sl' nhor , aos infi(; is.
1,; vão a mim. qn('. creio o qu<' p orl ois.
L 11s., <·. Ill. ost. 4:J.
(37 \-Algum; pronnncião Prracl an1011 tc, c-om acce nto 110 i:
!Jmf.u íto. fol'l1tílo, ilrnírla: omros. pelo contrario, dizem pi t1íita,
l' lll vez de petiiíla I h.t. JWINifrr ,.
(:IR) -Dão oR prr·mi.o,; d1· Aiaro merecidos.
A lin gua vii rlr Uh-sscs rrn11cln lcnt::l.
· l ,1rs.. e· . X, ost. 2-1.
(3!l i- SoarP.· Barbosa. diz, L. 2.0 , r ap. 3.0 , que se ouve o
som do u em G1tilhern ie: ,nas, ao menos uo Brazil, g;oralm onte se
pro~nuwia a prim eira s_vll aba dPs,;e nom e sem soar ou, como 0 111
<fo1rlo, lí11 imar(íe.~.
(40 )- Ruim, qnc· Soares B arbosa, Co11 s tancio e outros dão
como exemplo deste ditongo nasal, é dissyllabo ; sempre assim
0 ~mprogão os poetas, que tambom não fazem àito ngo em rztina,
n 111ui do, mT11iwrr. salvo algumas vezes, por syner oso. Os an tigos
tamhorn escrovião J'{)i lll. No u01-te do Portugal, g eralmente, fa-
zem ditongo n essa palavra, na ·alisando a prepositiva r'i1,i; e o
22 A LT)l'GUA PORTUGUEZA

povo tambcm dir. 1·õi. GonçalvN< Yiana, Pi-onmwir1 11ornwl 11nr-


'tuy11 eza, § 50; Barbosa Leão, R sl//llos a / in:m- da re/rm11r1 1ln o,·-
l ogm(ifJ, pag. 82 e norn a pags. 11 .
(41 )-0 h. 11ão er_rn1ologico, só tcrn por fim, crn tacs casos,
separar as vogaes, para l[UC não fo.c:ão ditongo; quando o cle,·P m
faz er. o nso dC'lle é sem razão o podC' indnzii- Pni PITO, l":1r.1•11clo
·í'l"fff 11nc ha dnas syll ahas oncle ha s<',111(•111c nrn a, c-O111O 110 S< ' -
gnintP -verso:
.Joa1 ;m1 fortP f-ahe da fn•sca .-\.!irantes
T,11., .. e. 1Y, Pst.. :211 .
Oh s,, rem cabimento qna!l(lo o poera dividi' o ,li1011go pol'
di érese, como fez ( 'ainiil's, mt est. 50 elo canto 8.º :
Porque, quando o sol . ahe, facilrn1'ntr
Se póclc nell e pf,r a ag111la ,·ista.
(42)-Francisco "E'rpirt> do Can·alh o, na snn P1lic:fto 1lo,- /,11-
si,ulns, diz qnl' a pHla,-ra r1,,~lr11,1,·rio w111 s_vllalias. p 111· d it'·n·st',
11Os seguintes 1·í'rsos:
Desh7J.i('iíJJ de f/f'llle e rle mlio.
D !'slr11i,:iio ,!11 ye11 fr> 111·1'fp11 rfirio.
J,11s.. ('. \' I Il, <-'sts. ,I(; <' :,:2.
Ah i, pori'•111, 11ão ha diért-se, por11ne tal t'.· o mtnH·ro clt• syl-
labas dessa palavra, tanto no v t" rso co111O na prosa.
(4-3)-Xào te111. vois, razão o padre _-1..11to11 io ela ('osta lln-
arte. no SPU Co111pe11dio rle r1rrw1111r1fi('(( philnwp!ri1"1 r1,, li11!J11n
J!Ol'l11g11ez,1. <Jltando <lir.. nota 1, p. l~>: -,,Ncnhn11m rliffl'n'11(·a
perceuc1uos no som cln 11õe, qnamlo é ,-;_n pt>ss·1a do si11,9;n lar do
verbo pôr e qnanclo é 3." do plnrnl. Para se far.er esi.;a clifl'or0n(·a
é necessaria nnrn prnmrnc:ia l'orÇ'alla e afrocrarla. Porta1110, 11 fw
admitti111os p,;,;0 ditongo dnplir,Hlo. <pw não existo, pois ú s,'>-
1J1ente nn1 ditongo nasal o 11 aila 111 ais. Até 1108 pan'<: C'Sc·11 ,;flclo
escrev<'r 11ô1'!11. para na Pscripttu·a o clisti11g-nir11tos do si ng11-
lar, porqne o sentido do discnrso o rlar~t a con heeor, assi1n <'01110
o dá, qnanclo algnem o fa la ». AllndC', som clnvid,,, o autor :,
Uonstancio, qne diz han'r C'lll 71üe111 n11 1 <litongo nasal duplic-atlo.
Ahi nào ha llito11go 1lnplicado, ll L'nl ditongo algn111 : ha <luas sy l-
Jabas nasat-. .
Nos Yerl,os e111 q1wi · e· r1111u·. c:O111O r111p1 ·opi11q1, ,n-. ol1liq1rrrl',
a{Jltar, de~'t(llr1u·. t!IIXa11w1i·. lta dnvid a se· o II fún11a on nfio ditongo
com a Yoga! f!egninte, do IJlU' dqw11cl c a (·0 11,ingflÇ'iio d,•s1H's Vl' r-
bos. Dovc-sú di,;cr : n11prOJJÍ1U[ll1J. 07,pro11ín111w, o/Jlíq110, oblíq1rrr, on
appropinqíco, appro1,inqúa1 obliq1ío, oblir}.lía; rí,l}Uo, 1íy1ws, ríg11a, ríu r1e,
.\. LINGU.\ PORTUGl'EL\ 23

(/i>.wí!J110. d11.wíy1w. e,1.rríyno, en.nÍf/ll 'ts. en:nÍ!Jlle. ou ctf/lÍO, aq1ías. a111í11 .


di·.w1yf111, e,a,111110. e11:rnyf1n, ou ainda, segundo a graphia antiga,
ªflºª: ou llfJI'.º · 11yf'1ris .. rtfJÍ!rt, des 11!Jriri. ell .l'llf/Ô!l ~ ( \ ' id. ~:~gonio d.-
Castilho, JJ/l·c. tle nnws. ProlPgo111l'110:;. o tpial prnlcrn a se-
gunda man oira' .
A prinH·ira fún11 a é IJUP é CL'l'lll . O accc11to ro11i('o p úP-se
na ponnltini a syllaba, que é a a nterior ao 'l o.u !/, porqne ou fór-
n_m s,vllnlm com a vogal seguin te. No latim, o 11. d epois do q, fa-
zia parte desta consoante; rz era sempre ig ual a IJ e n: os anti-
~os, por isso, escrovião qi, IJº· cr111s, 1·uqer1', etc. Assi m 11, dt·pois
<lP q. nni a-sP nun1 a s_vllal.Ja só co m a vogal seg11inre, o muita s
V<.:zes 11 ão so pronunciava . Di:.1 o grammatico htino Y olin,i Lon-
gns: -«.:\folti ilia m (IZ)excl11scrnn t, <1uonian1 nihil alincl sit quo111
r d 11 • • • No 11uulli quis ot lj/t1l' 0 1· 1111i11 p er 1/ et i c•t s sc1·ipse-
r11111 l'I pt•t· f/11' l't p er qÍ((, qnoniam s c·ili cd in 11 Ps:;\'t 1· t't 11 ...
1Ur1111wu1/iri re/1,n·s. p:;. ::l:HH e ::l2 L!l, etl. Pnrsch: Charles Joret.,
!~ 11 1·. 1ht11s /e.~ lrwy11 e~ 1·omrt11e~, Int., D is !J1tff., 1mles l~fiu e.~, Q 1.
Ca!nhe 111 110 portugu oz, n do]JOJS de 1/ on Je !/, provemonto do IJ
latu10, faz syllaba com a vogal s eguinte, formanclo ditongo,
1
1uando não e mudo: diton go improprio, quando a vogal segu in -
te é acccntuada, e, tanto o.~sa vogal como o 11, são útouas, di-
tougo por synórcse.
D eve mos, pois, <lizor apprOJ(ÍIIIJIIO. apprnpí11q1111s, appropín,.
1/1111, r111111·01ú1,q11wn, co mo d isso, por exemplo, Odorico )Iondos
lia E,wida, LXI v. f>77 :
--.lfo.~jrí T@1·rn.~ e Rlr 11s1·11.~ s1· 11p111·1111i11q11w11.
i\o Vt·r:,o lat in o c·on,·s po11de1111•- . l/ 111111111s i11il'l'Nl 11111ris
'l'r 1u'111111 11r11111111{111tf. t,:;ta ult inm palavra tc 111 t n •s s_ylhtbas .
. Ass im tu11tlm11t se co11j11ga 0Uiq1wr: ou oúlÍl[IIII, oblíijttllS,
1
:lil'.q1ut, o/Jlí111ie, etc., o deliquar. (Vid. Di ce. d o )loracs e o do
lrl,t D o1 11ingos Vieira ). Antiquar e adequar são d efectivos, não
toe1_1t as tres p ossoas <lo s ingul ar o a 3.ª do plura.l, no prese nto
'.1° _mdicatiYo, 110 do s ubjuntivo e 110 imperarivo: não sondo para
llnltar algum oxrmplo em co ntra rio, como o seguinte, de Anto nio
l<'ra11eisco B arata, gra mmatico aliús cstimavel (Estudos da, lin-
!~Ua portuyueza, Lisboa, 1872, p. G9) :-«A' moda tem sujeição a
ling1~age111: uma esquece o se anti11111ín, para se dar vida a ou tra,
11uo JÚ foi usada>,. Como se vc\ para dividir a syllaua interpoz-

se 11111 n outro qn o a. Cron1os que não ha outros veruos dessa


t er,1 nina,ão. Os terminados e m y11rl1', c m que o !J prov1>m de q
latmo, <'.oujuga111-so d o 111 csmo 111 odo: rt[J1tar, desay11ar. e11xagua1·
(de 1111 1111 \, E// áy111J, t11 .iíy11r1~ o 1'i11lw, isto mo fÍ/Jlla o 1waz1,r . Diz-
se, g e ralme11t0, desiÍ!JIIII, !IN;1íu11ru11, falando dos rios; e tambo m
sempt·e temos ou\'ido: ewníy1w, e11xáyua, e11xág11e a roupa, a tau-

Biblioteca Pública Benedito leite


24 .\ Ll~GU .\ l'ORTCGlJEZA

ça. E é assim que os classico,; e bo11 s autores n1 ocleruos couj u-


gão esses v erbos. Jorge Fe rre ira, rtyssippo. aero 3.º, sc.U.":-8//u
mui adorado de sec11ra. e a ar1or1 e11:1w1111u11nc o ,,sfrrnutyo. Vieira,
S ennões, t.13, (Palacra rio 111·érr1rlo1'). p. :2L:2: - Alise rl esr11111ao
Tejo. Costa e Silva, Os ..lrfJ()JW11ia8. L. n ·. p. l!JG: .B uo Crmmso
mar juntos clesar11111m. X o llH:s1110 li\To, lê-sP dl'pois, p. 201. por
duas vezes. desayôu. mas o [l utor ('Scn·v('ll d!'srí1111n. como a11tc-
riorm eute, p ois só a,:,;i111 fica c·c• rra a 111 ed i<l:1 <l os Yl'rsos: (Jue se
desagua, uum pnifiu11lo r10Ui1- lJo ./011 io 111nr. 'l"" r!Jllle de.wtf/lla o
L~tro. Lin1a LPitào, l'"mis() /', rd üfo. e. II , p. ü~,: - Yo 111ar de
f'ogo l11y11bre:; desay11,w1 - e c. X.II. p . ..J.Ji! J : - [ ,1í dl'sllff''ª ld1 11111r 111,r
bocas sele. Blutean. )loraPs, Do111i11gos , Tie ira, A . UoPlho: desa-
fJUa. ]'rei Luiz do Jlome Carmelo, ( 1()/II JJe11dio tle Urth o11., 17(i7,
p. 530:-Jyuar ou 1111oar. E11 rí11110. t,1 <Ífllll'S. on t·u úgoo, /111í11oa.~,
etc., e p. 30l:l: -E11.ru1111111·. ,,11 1•11:1·1í11111, . l11 e11,nÍ/flllts, e/te c,i:rií111111.
D o mesmo modo se co 11jnga 111i11y11ar. se be111 qnc o// nftc,
prové m do la tim (d e 111i111111,·c ·HL' forn 1ou, 110 esp:1111 ,ol, 111i111111111·,
guturalisando-se o clirollgo uu l' III yua, como e m Jllllllf/'llll, de
manualis. (Diez, Dice .. II, me,wr·m ·: e Grarn ., I , !erras allomãs, " ' 1.
Nas trovas dos cancion eiro,, muitas v<>zl's 111ÍJ1 f/O lt.111í 11r1011111. 111ín-
//Oe11t(Jnli0Coruu,11.º 312. 11 ota 11. (~il Yice ntt•, . 111/.0 da J,',•1'i-<1. se· .
l..,:-.l[i11y11n-l!te.s as snuliilades. e 1-rcsce-lh es tJ J11 ·oreilo. Sii de Jli-
rauda, Elegia I, v. 122: O crt111iulro 111ío 111i11!fufl, rudes ?ll(fis creste.
Antonio F erreira, v. 2.º, C11d11s, L. II, carta X: IJ1•11-1ws o d:o spr i-
tos, não 1ws 111i,1y1111 . .lfoi.s IJ" e 11w~lr" I' 11so: ~'l' rrnra, u11 Flon•ui,·a,
quam rica fere em se11 ,·umt'("'I a li11!furi :' Di ogo Bl'r na rd ·s, l?-i-
1IUls Varias, Flon.~ 1fo J,inw. so nC't o J..J.3: (.;us/f/s mi11!f11a111 em
11tú1t, tristezas f/'e.~cem. Ua111ôP:-;, soneto 1;1; : Logo o Pnge 11ho mo
falta, o csprito 111ingoa. Elegia XI, v. li: J,,\11' 1·11r.~o ,lo sol l río IJl' m
medido, Que hi1 p o11to s11 mio 111i11.t11111 111•111 se ru111111 e11l11. J. }'ranco
Barreto, R11eid11. Liv. l2, ,·. 1!li>: 1;111"/'/(/, ri111 amlo co m ffl'lt1 1t
mi11y11a e li11.t11w. Uas tillio . .lleh 11w,p/, ose.~. p. 7!) : .lli,1111111 u 11110-.
_jaz arêa o 11ne era oeca no: e p. I:>í: l,yliis. 111·11rle ,ís 1111ios. as
mâos lh e ndn gnão. Filimo Ely:-;io. ro11 10 ::!.". p. 1 l\l: .l[Mm o 111al.
e o r eprmso em 11111bos 111i111111a: t' as::;i111 a -ps. t,,..; , lt i2. 2 1!l. Pr<·. Ko
tomo 3. 0, ps. :Jí, (' Sl tL 11ti1111i1(1n. 111n s n n1 <'didn el o \" crso J1t•1] , ,
111ínyuâ11. Odori co ;\l t> 11d es, Xu tido. Liv. lX., --v."' (jllO t· seg-,;.: Pi-
camos iwssos bois: 1wn tor11e as fi1rçr1s. A rellric-e uos 11ti11u11a e o
l'Í.<JOI' <l'alma.
D epois d r e, o II não fú r111:1 c'lirongo co m ft v oga l sci:;ui11t0, no
latim, como l'm rnc11ar e lm< 11w·e. r. To lati111 cní,·1111. ff1Ín111s.
ei·âc11at, p or ser hr0,·p o 11: 11 0 portng n<'i\ crn1·1ío. 1•m1·1í11s. e1·1u·íta,
porc1ue o 11 11ão foi\ dito ugo c:0111 a Yog:.i.l scg11i uti- J. . \s;;i111, ra111-
bcrn, 1ia ten11iu a~·àu y11ar, q11a11clo o !/ pro ,·1•111 lll' l'-1u ·11 i!Juar,

~
JB3JFJB3IL
Biblioteca Pública Benedito Leite
_\ LlKGlJ .\ l.'ORTIJGUEZA 25

rtJ111ziuuar, a11ruÚf/llítr, snutiu11or I d.e 1·erificw·1·, 11a1·,:tir-al'I'. p1111i/i-


care. sancli/irnrc: mudado o / ,·,11 I'. 1·rririw1r. <l°l'po is 1'1'1'i!f/'/II',
iil'PJ'Ífll'III', 111·,,1·iu1wr. l' assi 111 os !llltl'OS. (Y. Di t•z. !Jil'I· .. \'. sr111 /i-
f//f(/)' ), 'L'odus esses Yl'ruos ,w <·011juµ/w c-orn o ucc·e1110 110 11. por
11ão fazcn •111 ditongo ossas duas \·og-a,·s: - .1 n ri11i111 . 111'/'l'Í!Jlllls,
(//'('l'Í!JÍIII, /ll'l•ri!J lfl': // JlllZÍfll/11 , /IJ)l(ÚI/ÍlllS. 1/J J/l;i,!f!Íf(', l'tt'. l~JJ('f>lll rà o-
Sü uxo111vlos e1u contrario. As~i111. 1·111 Jlo11 si1il10 d,· <i11,·lwdo,
. llfr)//S/J Afi·icn1111. ('. L~. (50: - l•)stiio ilv JHll "il' /IS /(/'/1/' (S o//i·11si1 ·11s'
<t11e a úm,:os .~e 111·erÍf/lll/ est,1 rn11 l1·11•II/: e1 11 ~'i I i lllO EI _ , sio. ro1 110
2.", ps. ~2 e 1 U7, a11a zÍf/ll(( , 1/J)((,·1 1111ú": - Da ii-ff1J ,t,u1,· 11s ,.,11111s .,e
ªJJ//Ziy uáo. J_,Jw /r,I'(( 11 seio t' r,s s, ,,!111., 1/11' u1111 :i111 , . • ·a ,-,li,:f1.u do
P_aris, 18 17, li'·-sc C1JHl:i:'Íyiu i11, rtJHIÚ!Ji111 : 11 rns. c·i,1110 s1· Y<\ a 11 H·-
d1da dos v <: r,:;os pt>dc o a c,<.;t·1110 11 0 i: ,'111 JLrn ,, ·1 B,·r11anh,,
l ,112· e calor, 11. ;Jr;;,: / itl'ilinenfr 111 ,· 11111úr1110: ('111 _\ ,1c11lor .\.1'1',lis,
Dialogo l. 1' . cap. 1:): /((ri/e sc ill'IÍ!/11 1 e /((rrl, · s1· 11111.:iy/((1 . /\o , -s-
panhol se diz , 1wor/íy,111. 11111 Íf/1/11. 111·,,1·íy1111 . .v/J/I ::111r1 , le:;li!J1111.
i(+otHri ed Bai,:;r, J>/,il1JlofJÍr'. } l i ,• .,11111tisr-l11· s1111(('/11'. na l·olit-C't;i"t0
do G1 ii/n:f'-r-:rn11r/ll'Íf/ dei' n,111 111,is,·/,,·11 . '.\la ~oar, d,· 111 1c11/i11·,,. eu 11-
.l nga-sc, COIIIO se m pn· S I' ('l)l l,i li !.(Oll. I•:u 1(/11!/'111, J/111//IJIIS. 11111//0// ,
11111yu<i1J, pelo <pie se den· cn1i-;1·n ·:u· a grnpliin. 1111íy,,a, 11111!/"11.
( '.tt11 1úes, <:. -~.O, !l,l: ---- <J,11·. JJ11slo tffl t' i· ti,· ,1111111· 11s11111_·11 IHm, 11 11111·111
-~/! (/j JI( /'/(/ /)/( fiel( , 11wis 1/UI.Jll'I.' (' ('. :>.", 1:lt): .lfnf'irlri tias Jl((/(11'/'/lS
ljl((' U l//llfl//l/11/ , , ,
'l\u 111Je111 l"az di ro 11 go co 111 a \·ogal ,:;1•:2;ui111t· o 11, dl'poi,; de
1/ , 11 0s ve rbos cc nr1iu ados 0111 q11ir: rlvli1u///Ír. 1•.J'/0;'1111ir. J'l'l01·1111 ir,
(l~cli1111uel'e, e:r/ori,ucre, 1'el1J1 ·1u11•1·1·1, os t1nal's sn.u ddPctiYo:;, po is
nao têm as tonnina çües út o1ms Plll o 0 o \ L. 11 l' L' S . do pn•s. d o
snbj. ). Não so diz 1lctin1pw, r/.-liiu[1W 1011 . <.;01 11 0 se diz Jlll C'Spt,-
nhol, delinco, delinm , G-r:1111. da AcadC'rnia . pane L'', e. YI , 1H·111
e:rtrir1_J110 , v·lorg1ui, /'e/01·,,110 , 1·don1ua : diz-se, porén1, deli,11JUC.~,
cleli111111c, e.rlol'IJfll's, e.rlon1111·. /'1,; ,1·q111•s. n ·l11rq11e, so~ndo o 11 1
C0!llo disso, por e:,;:0mplo, Li,11 1 LL,it.\o, P,1/'((iso f>.'rrliilu. e. Y,
V. l~H3:- J,J 1·11,n desprezo 1wtl11z l'l'io1·1111e i11s11/l11s, 1· O<lurico ~Ien-
d_es, J')u eiila, IV, v. 1 Ll: - ll eln ,·,p1e 11.~si111: (Ju 1,111 h,1 11:;e a ln/ .,e
/111'/a ~ ·
Qua11Llo o!/ pro\·é m d o r1 ln1 i11 0. o 11 faz s~·llnlm n 11n a vo-
gal st·gninr e, nos YC'rl w,-, ,•111 fl:lir : cumo v111 ~< g-1 1ir <· suus 1·0111-
P?slo,; 11li.i sr'l/11111' .-- /~11 .~i!Jl/11 . \ linj <· si,;o, C'"'"º n 111 igo d t· a 111 iquo 1,
-~1:u 11,·s. s(·11u e: tl·11do, p oré111, do,.;a pparncido o d iw11gu 11n prn111111-
c1t~, por se ter lonrndo mudo o 11. ::,o o!/ pro1·é111 uo !J l:ui11 0, 11
11 laz Qll não faz syllaba com a \·oga l seguinte, como 110 lar i111.
l<'_nz syllalia ('lll 1/i., ti11y11Ír e c:tli11u1 1 ir. Disliug uu, h oje di s tingo,
d11;ri11 gues, cli:;ti 11g ne, erc., co m n gcralme11tp 11nH10, ma s que> a l-
gu11,:; pro11u11ciâo. L 1rnyuir, Yurbo u,:;,t11u p or a lg ,un; poeta:;, cuu10
26 .\ LINGL'. \ l'ORTCGC'J-:Z,\

Filinto Elysio, .A.lfono Cynthio, Blpiuo Durimisc, (vid. oi.J1·11;; de


F ilin to, tomo 3.0 , ps. 470 o 63U, o citação no Dice. do :Thforaos ),
faz lanr;ue, Zanguem, oolll u sonoro . (R' defectivo; não tem termi-
nações àtouas em o o cq. Em nrg11ir e redw-ç1ufr, o 11 não faz d i-
ton go, como uo latilll. Odorico :'.\1ondcs. IE1mrln, L. XI, v. l!iü:
1·Qssa al/im_1ça e hospicio 1'1/ uão rwr11'10 . No v(•ri;o latin o co1Tospo11 -
cl()11t o orgá: rim tom 4 ;;yll ahas, 111"/Jltd t-olll 8, 11 0 n ' rso 3 do\);j
· mesmo li vrn, e, 110 verso (i8tl, retla 1·u11 e rei tom ;:->.
A LINGUA PORTUGUEZA 27

CAPITULO IJ

Se ha tritangos na llngua portugueza

Quintifüno não admittia que pudesse haver syllaba


composta de tres vogaes, sem que uma dellas fizesse offi-
cio de consoante. ( 1 ) . Esta ,1pinião foi seguida por Jero-
nymo Soares Barbosa, que diz ser «absurdo admittir, nas
linguas verdadeiras, tritongos, isto é, tres vogaes unidas
em um só som, o que é contra todo o mecanismo da lin·
guagem». ( 2 ). São de parecer contrario g raves autorida-
des, como Duarte Nunt:s de Leão e Frederico Diez. Mas o
primeiro, dizendo que «algumas línguas têm tritangos,
que quer dizer ajun:amento de tres vogaes em uma só
syllaba.&, e dando como exemplos as palavras francezas
vean e lieau, nas. qu:ies, segundo hoje se pronuncião, não
ha tritongo, nem Jitóngo, mas un1 digramma, com o som
simples ô, e esta!> .::astelhanas-úueis. lmeitre, vaiais-de;xa
entender que nãu h:1 tritango na nossa língua .. (3). Diez,
porém, affirma que ha, n.1 lingua portugueza, alguns verda-
deiros tritongus, como wie, uei: i_quaes, averiguais, averi
yueis. (4). Reinhardstoettner (5) accres'centa: meia , eia, vi-
víeis. M_as nestas palavras, assim como em averiguais, averi-
gueis, não ha tritongos; ha duas syllabas distinctas, uma
das qÚnes é ditongo (meia, ei-a, vivi-eis, avei·igu-ais, averi- ·
gu-eis). O mesmo diremos do~ exemplos que adduz Cons-
tanciu, como de verdadeiros tritongos--veia, areia, ideia,
leia, leião ou lêão, lião, premeiem, etc. Até em dêem esse autor
achava um tritango por considerar ê=ee, e dêem = de'ee.
Só for"!não tritangos, na noss1 lingua, os ditongos prece-
dido!! _d e i medial, como ca-iaes, sa-iai.s, ou da vogal u, arti-
culada com uma consoante guttural, e pronunciada junta-
mente .com o ditongo ,. e.o rno na antiga ir.terjeição guai ! ·e
em Urnguay, Para.guay, agttai, enxaguei, adequai, adequais, ade-

Biblioteca Pública Benedito leite


!8 .\. LDIGU1\ PORT C GUEZ.\.

ql,/,eis, delinguiu. A 's vezes, porém, o u precedido da guttu-


ral sôa separada m en te do ditongo segu inte, e então não
ha tritango: por exemplo, em argiiaes, rnciia1', rr·ciiais, reriieis .
Não temos quadrito11yos. (6).
No verso podem-se reunir em uma só syl!aba metrica,
entre duas palanas. qu:1tro e até cinco vogaes, ainda que
os poetas raramente usão desta li cença, que torna o verso
pouco harmonioso. (7). Nos seguintes exemp los ha absor-
pç:fo de quatro Yogaes. aggr,l\·ada por 0utras durezas :
Que lagrimas são a ag11a 1· o nome amore!I
Lus., c. Ili, est. 135.
Será ali arrebatad(! e 1w ct:o subid o
C. X, est. 70.

NOTAS DO CAP. II

(l J -1!t, qum ut ·1·1Jcalesjt111.!l1111tui·, nut 1111.am /()1t/jWII- /'aciiwt,


ut vetere.~ scripsere, 111ti geminatio11e earum vclnt apicc utcbantur.
aut duas: nisi quis JJ1t tat ef.iant w· trilms vocalibus syllabam fieri:
,zuod 11eq11it, si non cúi quo, o/licio cousoncint·iwn jii11ga11lui·. Qui11t.,
L. I, c. IV.
12)-Gra111. Phil., L. I, c. III.
(3)-D. Nunes de Leão, Ortlwy., Dos ditongos da lin,q. port.
(4)-F. Diez, Gmm ., I, p. 354.
( õ \- Grammatik der vortugies-isclten sprnche, p. 101.
(6 1 -Alguns entendem que os ha 110 italiano. Corticelli, Re-
go/e de/Ta h'ngua toscawi, L. I, c. II: -«E' controverso so a nossa
liugua tem quadl'itongos, isto é, quatro vogaes muua só syl-
laba. Salviati, Jib. 3, partic. 7, diz que sim, e dá estes exemplos:
lacciuoi o figb'noi. Bnommattoi, Trat. 3, cap. 5, considera-os só-
mente rriton,gos, porque o primeiro i, 110 primeiro exemplo, ser-
ve uuicameute como signal de que o e se ha de pronuuci.11" claro;
e, no soguudo exemplo, serve para mostrar que o gl se dew
proferir schiaccinto, com o 110m do uosso lh.. P arece-me que diz
qcm •.

Blbtloteca Pública Benedito Leite


.\ LING UA PORTUGGEZA 2!)

(7) - «Não só duas vogaes coucorrcntcs se elidem, no caso


<la primeira não ser lo11ga, mas poderão didi1:-sc mai s, se ma,is
• r l 3 4 .5 h 7
ah1concort'crcm com o mesmo requisito: em piedade e amor
nãosóabsorvemos aprimcira ua segm1da, mas tambem a q_u arta e
• 1 2 ;, 1
qmnt,a na sexta, pronuuciando deste modo pie-da-doa - mor.
r iJ 'lS 6 7
A ª?sorpção de quatro vogaes numa só syllaba seria ainda,
posswcl, rigorosame11te fala11do, mas de,·e sempre eyitar-sc.
. 1 33 4 5 h l .! .l
Po~· exemplo: quem fizesse de r,lo1·itJ, P. rwwr-9/oramor, cornmd_-
t~r1a_ um barbarislllo, ainda que 11ft0 Ulll on o,,. Castilho, Metri-
/ú:açao, p. 7. Salvá, Gram., p. 47, eira este Yet·so, em qnc um
poeta, que ell e diz ser dos melhores da sua lingua, Jauregui,
reuniu numa syllaua cinco vogaos:
líuerta la lcnguCt ri .E11ridice re,.;pira.

Blblloteca Pública Benedito Leite


A LINGUA PORTVGU~ZA 31

CAPITULO III

Synerese e dierese

A' reunião de duas ou mais vogaes, entre duas pala-


vras, chamão os grammaticos synalepha, e á que se faz den-
tro duma só palavra-sipzerese.
Por esta liberdade, ou figura, fazem os poetas os di-
tongos que denominámos incertos ou arbitrados; e, pelo
contrario, por outra figura, a que chamão dierese, desfazem
os verdadc.iros ditongos em duas syllabas.
Para achar innumeraveis exemplos de synerese, basta
abrir ao acaso qualquer livro de versos; os de dierese são
pouco frequentes, sobretudo nos poetas modernos, pois
hoje de bôa mente se não relevão taes licenças, as quaes,
como bem diz Castilho, são muitas vezes «aleijões, enfei-
tados com o titulo de figuras».
As duas syllabas finaes das palavras,que têm o acceuto
na antepenultima, são sempre havidas por uma só syllaba,
no meio do verso; no fim, não formão ditongo, fazem o
Verso esdnixulo, como chamão os italianos ao que tem duas
syllabas depois do ultimo accento. Não ha, pois, razão para
dizer, como Moraes (Gram., lntrod., n.º 17), que ha syne-
rese na ultima palavra destes versos de Cam ões:
Tambem movem da terra as negras furias
A terra de (l,ui1niscua e das Asturias.
Em igual equivoco incorreu João Fr.mco Barreto,
quando, mencionando ia como ditongo, escreveu:-,,Os la-
tinos nunca destas duas vogaes fazem ditongo, mas se mpre
d~llas fazem syllabas separadas; e nós ordinariamente as
ditongamos, como Camões, nos seguintes versos:
Se eu nunca vi tua essencia
Senão na reminicencia.
Que .cantasse em Babilonia, etc.
32 A LINGUA PORTUGUEZA

Quando os g rupos de ,·ogaes, que têm i ou u por pre-


positiva, prece dem a syllaba accentuada, ou têm o accento
em uma das duas ,·ogaes, os nossos ·poetas ordinariamente
os considerão di ssyllabicos, conforme a prosodia latina,
como nas palavr:1s: diante, mdia11te, confiança, .fiel, pietlade, pi-
edoi;f/1 oriente, pClciente, sciencia, sapiencia, obcdiencia, experie11cia,
yforioso, âcio.~o, fw·ioso, reh:gioso, rc.1iáo, triwnplw, trümipl,rinte,
Jjenmade, possiie, <"l'llel, s1101·, inipetHoso, smnptnoso, etc.
Alg umas Yezes, porém, ditongão-nos. Assim, na es-
táncia 124, do canto 3. 0 dos Lusüula.~, piedade tem quatro
syllabas no segundo ,·erso, como no 3.0 da est . 129. Ante o
rei, já mouido lÍ piedade-e no 5. 0 pieclosas é trissyllab'l--Ell,
com tristes e pieclosas ro.ies. Nas duas est:111:;i.1s seguintes, es~e
mésmo adjectivo tem quatro syllabas: Com lagt"ima.~ os ollio.~
piedosos-Terem tão piedoso sentimento.
No canto 9. 0 , est. 139. tri111nplta. nó canto 10.º, e,t. ;;,
()s t-i-i11111phos, a fronte coroada -Da cnbiça trinmphct e inr.onti-
nencia; mas no canto 4 °, est. 43, triurnphar tem duas ·syl-
lahas: De ver outrem tri111nphar de .~eu desejo.
Por synerese: violento é trissyllabo, na estan.;ia 70 do
canto 10: Onde o violento fogo com rnido; tua, monosyllabo na
est:mcia 42 do canto 9. Que contm tua potencia se rcbella; sua,
0
:

tambem monosyllabo, na estanci1102 do canto .2. Oom 0


gente de sna l~i tivesse guerm; na estancia ro4 do canto 3. 0


:-

Poi· defender SIU-t te1·m mnerlrontarla; n~ estancia 6. ª do canto.


4.º:-Dize11do ser i;1ta fülut lterdeira della. (Dissyllabo na est.
7. 11 do canto 7. 0 .-Snas forças ajunta para a g1te1·nt, e em ou-
tros lugares, c. 1 1, est•. 123 e 144 ). H!tã tem igualmente só
uma syllaba, na est. 14 do canto 3. Despo'is que huã moça
0

na À-Jntlia viste; na est. 20 do canto 5. .-Em cima della h1ti.


0

nuvem se espessava;na est. 44 do canto 7. 0 : -E num portatil leito


huã rica cama; e na est. 87, c. 9. 0 .-No qnal huã rica fabrica se
erglt'ia.
O poeta faz tambem synerese em grupos de vogaes
que não têm í ou 1, por prepositiva, e que são dissyllabi-
cos, segundo a pronuncia geral e o uso dó' mesmo poeta.
A LINGUA PORTUGUEZ. 33

~os seguintes, por exemplo: ee, em pree111ine11cia, p1·ee111i-


71ente (e. 7 .º ests. 40 e ;8, e. 9, est. 89, e . 1c, ests. 84 e I'i 11,
ºª empo1Joador, e. 6, est. 81:-Povoailor de alagador rnsto
mundo (cp. no e. ir, est. 97 .-P01:oaçõe.ç que a pnrf,e A(rica
te-m ); a'o em ma'ornetcmo, por tnahometano, Y:tri:is vezcs,c. 8.~,
ests. 8 1, 84, ~8.
Ha synere;;e em desleal, n11 est. 49 J,.:, canto 4.º:-Da.
.Juliana, má e desleal manhn (cp. ltal, leal.dnde, e. 6. 0 • 9r. e.
8.º, 13, e. 10. 0 , 140): em leonezes, na est. 9. 11 do e. 8. 0 : Gal/e-
gos e leoneze.ç cavallefro.~ :cp. Leão, L eonezc.ç, L eonor, L eo,tar<lo
-e. 3.º, 18, 70; e. 6 º, ;6: e. 4 °, 8; e. 3, 0 , 139: e 6. 0 , 40; e.
o . .
9· , 75); em Pltaeton n;1 est. 49 dor. 1 •0 : Os de Phaeton queuna-
do.~ nada engeitáo ,_cp. e. 1. 0 , 46) e em Georgicmos, n:1 est. 13
do cap. 7. 0 : Gregos, tltrnces, arme,âos, georgianos; em Bendála,
e. 10. 0 , ests. 65 e 66: Em si verá Beadálll o marrio jo.110 (cp.
e. 4.0, est. 7: Beatriz, em n filha q11ecasad,,, e..:. 6. 0 , est. bu,:
Já num sublime e publico tlieatro ).
Usa de suave, sempre como trissy llaho ( 1).
Que tudo em fim, tu puro amor. Jesprez:is
Quando um ge~to suave te sujeita
e . .,.•, est. 1:i:i .
.\lma su:n·e e angelic.l excellenci:1
e. 3 º, 143.
O Tejo em torno me suave e ledo
e. 4.º, 10 .
Cheiro su:n-e, ardente e,;peciari:;
e. 7. 0 , 31.
Suave a letra, angelica a soada
e. 9. 0 , 30.
Tão suave, domestica e benina
e. 9. 0 , 66.
Que affagos tão suaves! que ira honesta!
c.9º,83. •
S<mdade, sa1,doso encontrão-se, ás vezes, como trissylla
bos, mas quasi sempre em Camões, e em todos os poetas
do seu tempo, tem quatro syllabas:
94 A LINGUA PORTUGUEZA

Os altos promontorios o chorárão


E dos rios as aguas saudosas
c. 3.º, 84.
Nos saudosos.campos do Mondego
c. 3. 0 , 120.
Ella com tristes e piedosas vozes
Sahidas só da magua e saudade
Do seu principe e filhos, que deixava
c. 3. 0 , 124
Os poetas modernos usão de saudade, sa1tdoso como
tris,yllahos, e esta é hoje a pronuncia geral.
Não roce os labios meus nem mais um riso,
.Meu triste coração rolai, s,iudade.
Bocage, Saudade materna.
Saudade, gosto amargo de infelizes,
Del:cioso pungir de acerbo espinho ...
Garrett, poema Camões, cant. r .º.
Oh! Cintra, oh ! saudossimo retiro !
lbid., c. i;. 0 •
De Bernan.hm saudoso e namorado.
lb., c. 9. 0 •
Todavia, algumas vezes fazem dierese:
Tudo, tudo acabou, menos a magoa,
~Ienos a saudade que o consume.
Garrett, ib ., c, 10.º.
De Fez a escreve. Saudoso e triste
Ibid
De dierese ha nos Lusiadas varios exemplos. Taes são:
Heln·eo e neineo, como trissyllabos (er.1 algumas edições
-ltebreio nemeio), c IV, 12, e c. V, 2:
Joanne a quem do peito o esforço crece
Como o Samsão hebreo da guedelha
Entrava neste tempo o e1.erno lume
No animal Nemeo truculento.
, Vaidade, c. IV, 99:
Já que ne!>ta gostosa vaidade
A LINGUA PORTUGUEZA 85

Tanto enlevas a leve phantasia.


Trnfções, e. VIII, 52 (cp. traidores, e. \ 1III, 98):
Astutas traições, enganos varic.s ( 2 ).
Thre'icio, e. VIII, 97:
A Polydoro mata o rei Threicio
Calie, e. IX, 47 (3).
Cahe qualquer sem ver o vulto que ama.
Prime-ira, e. IX, :? 1 :
Que múitas (ilhas) tem no reino que confina
Da primeira ço' o terreno seio (4).

NOTAS DO CAP. III

(1)-J. Franco Barret,o, Vrtlt., p. 107: -Suave pode ser do


dnas syllabas e podo ser do tres, porque as duas vogaos 1111, nns
as contraem, como Virgilio, 4.ª Georg. e Ecloga 2.•t.
Verum ipsr,e e foliis natos e suavifms herbis.
Sic positre quaniam suaves miscetis odores
Outros as separão, corno Camões:
O gosto de hü suave pensamento.
(2) -Quo eu fui aquelle trai:dor ingrato.
O Affonso Africano, canto 12.
. Citando este verso de l\fousinho de Quebedo, diz José Ma-
Írª da 11Costa e Silva (Ensaio BiograpMcoeCritico, L. XIX, cap.
l.:- 0 vocabulo traidor, dissyllabo, usado como trissyllabo,
trhiâo1·, tem alguns exemplos nos escriptores antigos, mas te-
°
n para mim que este uso não deve ser adoptado por aquelle,s
que ~spirão á gloria de escrever a lingua correctamonte. O mos-
rno digo do ti-aü;ão por traição, de que tambem se encontrão al-
guns exemplos».
{3)-V. a nota 1.ª do c. I.
. (4)-E' duvidos:i. a lição doste verso. Nas duas primeiras
od_içõos, impressas no anno de 1572, saiu o verso como está es-
:tpto. Na primeira versão, que do poema foi feita, ainda em vida
0 poota, na lingua espanhola, polo portugucz Bento Caldeira,

~
,J831PÍB3L
Biblloteea Pública Benedito Leite
~6. A LINGUA PORTUGUEZA

publicada em 1580, apparcccu assim traduzido:-Delci pri111em


madre co11 cl seno; e, na ediçii.o do ori~irml portugucz, impressa
por P,Jdro Urat>sbeck, cm 160H, foi e111e ndado, pela primeira
vez, segundo Innocencio da Silva, Dice. Biblig., torn. 5, p. 268,
dês to modo: - D t mãe prüneirn co' o terreno seio. Esta lição foi ado-
ptada por outros editores, entre os quacs Barreto F eio, ed. de
Hamburgo, 1834, que diz se deve eruender por mãe primeim
a Asia. Mas, cm nota da sua edição dos Lusíadas, de 1613, o li-
cenceado Manoc·l Corrêa, que diz ter s ido amigo de Camões o
11ue foi o sen primeiro cornmentador, declara que pcrgnntára
como se haYi a d0 ler esse , erso, pois lhe parecia ürrado, e qu n
Camões lho r espondera que assim .mesmo co mo fôra impresso,
11ela fig ura di cresc. )foi tos cdit.ores e alguns de esclarecida cri-
t,ica, como Frarr cisco Freire de Carvalho (nota õ. do canto 9 .0 ) ,
o viscoudo de Jurornenha e R einhardstoettner (Introd., p.
XXXVI) não onsárão emendar a lição das primeiras edições,
ainda que nontros pontos in correctas, á vista desse testemu-
nho de um comrneutador coevo e amigo de Camões, apezar de
lhos parecer plausivel a interpretação de Barreto F eio.
João Fran cu Bar1·eto, na edição de 1631, por ellc dirig ida
(Innocencio ela Silva, Dice., p. 255), emendou este verso dest'-
outro modo: 00111 ti primeira dn terreno se'io. E, na sua obra Odho-
graphia da li nrJ. p orl.1 assim explica essa emcnda:- ·,Conside-
rando eu que ainda que assi fosse, como cliz Manoel Corrêa,
para o numero el e syllabas, não corria comt.nclo o sentido, emen-
dei. O que o poeta quiz dizer é que V cnu s tinha rnnitas ilhas cm
o mar Oceano, que confina com a prim eira do mar ]lfediterra-
neo (que e ntende por terreno seio), a qual é a ilha de Cadix,
que assi lhe chamavão, e aos que do Oceano navc~avão para
o Mediterraneo, não ha c1uvida qne clla é a primeira. qnc se of-
ferece».
A LINGUA l'ORTUGUEZA

CAPITULO IV

Ditongo movei.

Chamão os italianos cWongo mo11el ao que desappare-


ce, desde que a syllaba deixa de ser accentuada, como em
Priégo e pregáre, pregárn., cielo e celesf,e, piede e pedata, pedone,
Bitono, souava, sonó, tuono e tonava, tonerá, nmoro, muoio e mo-
1·irá, buollo e boníssimo, nuovo e -nmissinw; o que acontece,
como se vê, nas variações dos verbos e nos derivados dos
nomes. No espanhol dá-se a mesma cousa: acierfo, aciertas,
acertamos, ace,·taremos, acertar, qniero, quieres, quiera, queremos,
'J1te1·er; dnermo, iluenna, dunnió, dormirá, dormi,·; muem, muerto,
1
111wib, 11w1·ir; cielo, crdeste, pié , pedestal, puerta, portero, /i1ertt',
/'crrü1leza.
Em portuguez só ha um ditongo que se póde dizer
nwvel: é o que se fó rma pela inserção de um i euphonico,
nas terminações em que se dá o encontro de e com o ou a,
como em passeio, receio, leio, creio, /'cio, meio, cadeia, etc.
Esse ,;, supprime-se, tiesde que se desloca o accento, nos de-
rivados e nas variações verbaes. Assim: pas.seala, passeava,
Passeando, receoso, receamo.Y, recearam, lêamos, lêais, crêamos,
crêais, JêaldaA.!e, meada, meão, meaçâo, meei1·0, cadeado, encadea-
mento, etc.
Esta regra nã • é por tod .s observada, mas deve-o ser.
O i, nesse caso, perde a sua razão de ser e torna-se-lhe
contrario: a euphonin, que o exigira, tambem exige que
então se omitta, pois o ditongo, precedendo a syllaba ac-
centuada, faz a pronuncia mais difficil e pesada.
Neste verso de Filinto Elizio- - (0s Martyres, livro 7. 0 ,
verso ultimo:
Passeiando nas margens Tiberiades
parece que o autor usou do ditongo, receando que, na
lingua, se fizesse synerese das duas vogaes, ficando o verso

Biblioteca PúblJca Benedito Le ite


38 A LINGUA PORTUGUEZA

errado, com falta de uma syllaba; mas, para o evitar, bas-


tava pôr o acento circumflexo no e-pnssêanrlo, o que sería
mais fluente.
Tal receio não teve Camões, quando escreveu, nos
Lusíadas, c. 9. est. 67=
0
,

Outros nas sombras, que das a!tas sestas


Defendem a verdura, passeavão
Ao longo da agua, que suave e queda
Por alvas pedras corre á praia leda.

Bem se sente quanto o verso ficaria menos harmoni-


~so, se o poeta tivesse escripto-passeiavam.
A LINGUA PORTUGUEZA 39

CAPITULO V

Ditongo oi por º"• e vice-versa

Já dissemos q't!e ou não se pronuncía como ditongo:


tem o som de uma vogal simples-ó. (1 ). Vem, as mais d:1s
vezes, do ditongo latino au, que soava como o, na pronuncia
dos rusticos, e ás vezes até na linguagem dos homens dou-
tos: (2) orurn, oricula, coda, colis, clodere, Clodius, clostra, por
anruni,auricula, cauda, r,emlis,claudere, Claudius, claustra, e, pelo
contrario, ausculmn, ausculari, austiuni, austrum, p0r osculmn,
osculari, ostíum, ostrum. Algumas vezes é simples alonga-
mento de um o latino: Sou, estou, dou. (So, (3). som, de sum;
sto, do). Vou de vado, vao=vau, amavit, como amau, amou.
Em Portugal, ou converte-se em oi, principalmente na
Beira, onde tambem se costu,na juntar um i ás outras vo-
gaes: ai agua, ltai alama; éi justo, éi certo; frnito, fruita (4).
No latim antigo, da.va-se phenomeno igual: palavras, que
no lJtim classico têm u longo, tinhão pri-nitivamente ou,
que muitos mudavão em oi: commounis, courare, plourumus,
JJloirumus, oiti, oitilis. (communis, curai·e, plurimus, uti, utilis J.
Mer:1 coincidenciJ, que se nà-o deve suppór effeito natur;1l
da juncção das duas vogaes o e u, em virtude de causa
Physiologica: no latim primitivo, explica-se o facto, por
ter naquella epoca a vogal u um som media, entre u e i,
como o u francez, e algumas vezes o allemão e o inglez
(5); na pronuncia dos beirões, por aquelle vicio de accres•
centar um ia todas as vogaes. Na província da Extrcma-
dura, onde está situada Lisboa, ha a mesma pronuncia!
mas, com menos coherencia, fazem essa mudança numas
Palavras, e noutras não a fazem (6 1. · ·
• Foi. por muito tempo um uso local , que uns reprova-
~ªº e· outros julga vão preferivel, por· mais suave ou por
ser O da capital, mas que não alterava a orthographi-a. Des•
40 -~ LINGUA PORTUGUEZS

de a 2.• metade do seculo 18, porém, começárão a escre-


ver 01: nas palanas em que os lisbonenses assim promin-
cião. o que hoje f.1zem muitos em Portugal, e alguns no
Brazil.
Jeronymo Contador de Argote diz, na sua gramma-
tica, publicada em 172;:-«0 dialecto da Beyra differe do
da Extremadura, porque ao ditongo o-ft sempre pronun-
cião oy, dizem oyvir, coyve.~. Esta pronunci_a reteve-se no
dialecto da Extremadura em muitas palavras, porque di-
zemos coyro, moyro, toyro, etc. ».
Luiz Antonio Verney, numa das suas celebres car-
tas sobre a reforma do ensino em Portugal, escreveu, em
1746, (7): -«~ierecem rizo alguns, que, nr,s suas orthogra-
fias impressas, ensinam que na ling-ua Portugueza se de-
vem pronunciar algumas letras, ainda que nãc estejam es-
critas: e que umas letras de,·em pronunciar-se por outras:
v. g., achando-se outo, iloutõ, etc., se deve pronunciar o 11,
como i. DeYeriam, pelo contrario, dizer que, pronu:!ci:m·
do-se oi em cea, se deva escrever tambem comi, para se
conformar com a pronuncia. Da mesma sorte, achando-se
escrito outo .:om n, devei-iam ensinar aos rapazes a confor-
mar-se com a escritura, se intendem que é arrezoada: se,
porém, intendem, como na verdade é, que parece aspera
e dura, de,·iam dizer que se escrevesse com i. E, na ver-
daJe, nam posso intender por que razam, pronunciando os
omens doutos dois, oifo, oitenta, tuiros, coizas; se de,·a na es-
critura mudar o i em 1t1>. Diz na mesma carta:-« Em mate-
ria de pronuncia sempre se devem preferir os que sam
mais cultos e falam bem, na Extremadura, a todos os das
outras Provincias juntas,,. (8).
Frei Luiz do Monte Carmelo, no seu Compendio de or-
tltografia, impresso em 1767, ensina que ou umas vezes sôa
quasi como õ, outras tem o som de oi, e dá regras para um
e outro caso. «Quem profere igualmente ambas as letras
do dithongo 01t, diz elle, faz hum som, que parece a voz,
que fa~ ladrando um cam de gado. Para evitar tam nspera

Biblloteea Pública Benedito Leite


A LINGUA L'ORTUG!JEZ ..\ 41

voz, usam ·os bons Orthologo<;, e Cortezãos, das regras que


agora direi1>. «Regra 1. ª-Qu:mdo este dithongo he o caso
ou termo da dicçam, se prcnuncía a letra o com accento
circumflexo, e só levissimamente se toca na 1~tra u, de
sorte que estas dicções, v. g., excitou, ma11don, parece m te r
este som excitô, manrlô. -«Reg ra 2.".-Quando este dithon-
go antecede as le tras b, c, co111 som aspero, f/, p, q, tr, v, se
pronuncia pelo referido mod o, tocand o le \·issim:imente a
letra u, como em rou/Jn, coube. do Yerbo crrb,w, toum, rouco,
loiw-,1ra, açougue, azouguc, ron1n, rnuqnice, outm, coucc. r,m:e ,
ouvinte, ouvida, etc.-«Regra 3.". -Qu::11d o o mesmo di-
thongo antecede a le~ra e, com so m brando. co mo, v. g.,
lo11ça, toucinho, oui;o, e a to d.1s as mais letra~, que 11am de
durei na Reg ra antecedente, ~e pronuncia como oi,se assim
escrevem já bons Orthólogos, aos q ua es segui neste Com·
pendia. Dizem, e escre,·em, v. g., ru;oite, a/'oi:to, agoiro,
ujoija.1·, biscoito, caçoila, cenoint, clwirii;o, choi:to, coice, Coi11n
(villa), •:oiro, coimça, coirella, coisrt, coitada . coileii·o, rfoidicc,
doido, Dofro, dois, c.~toirar, r'sluiro, foice, juntoira, lavoim, loirn,
loii-Pi,.o , loisa, moÜ'amct, 111oi1'0, .lfoita, (\·illa), noite, (este nome
se111pre se escreveu assim ), oiça, oiças. oiçam, oiço, oiretlo,
Oirem, oiriço, oiro, oiteiro. oitrmo, peloirinho, peloiro, poi.w,r,
poi.,o, rc,loir-a. rol'(t ·l1:ro. i·,Jixi,tol. scitmoi-ra, ~orvedoiro. Soire
(villa), Soi:n, soito, suadoiro, tii;oira. toici11lw, fo iro, toitiço,
troixa, vassoira, vfoiclo'ir'o, etc. -(<Des ta Re6·ra excetuam-se
!louto e seus derivados , co mo Doutrina, os quaes pronun-
ciam os Erudito s e Cortezãos como disse 11:1 Regra 2 ....
«Ainda que estas. e semelhantes dicções se escrf:nm
com ou, sempre se devem pronunciar com oi, porque os
dithongos , e todas as letras s:11n arbitrari o-, no s•> m, e te-
nores, ou dependentes do I i n e uso dos Pri nc1 pes, Cu riaes.
e Orthàlogos eruditos,). · E accrescenta, segundo parec e,
para responder ao reparo de Verney (9): -<(Aos qu e escre-
verem on, e pronundarem oi, se póde objectar o ridículo
argume!'!to de nam escrever como pronunciam: porquanto
aquellas letras ou, antes das consorntes nesta Regra· refe-
42 A LINGUA PORTUGUEZA

ridas, significam a voz oi, e nam a voz ou, porque assim


querem os Orthólogos. Sería muito ignorante quem ar-
guisse, v. g., os francezes, porque escrevem, v. g., mai-
son, eau, e pronunciam méson, ó. E a razam he a .mí·sma,
isto he, porque aquellas letras sam signaes das vozes, que
elles querem. Finalmente, os riscos, ou figuras impressas
no papel, podem significar as vozes, que ·livremente qui-
zer cada hua das Naçõe-».
Em Portugal, vae prevalecendo o uso de escrever oi,
quando assim se pronun~ia na capital. Consultado a este
respeito, respondeu o sr. Candido de Figueiredo, membro
da Academia Real das Sciencias, e autor de interessantes
artigos, ·que colleccionou, em tres volumes, com o titulo
de Lú;ões praticas da lingna portugneza ( 1o): - « Eu prefiro
dizer oiro, coisa, tesoiro, coii'o, porque, além de autorisada
( 11 ), acho esta pronuncia mais natural, mais popular, e ...
diga-se tudo, mais democratica. Couto e coito repre'lentam
ideias distintas, e será de razão conservar a diferença na
escrita. Dizer oivir e oitro, a ism não me atrevo. Nas alu-
didas hipóteses, como em muitas outras, os nossos escrito-
res mantêm uma anarquia extraordinar:a. Basta dizer que
os mestres, em geral, escrevem oito e outubro, quando é
certo que a raiz dêstes vocabulos é a mesma. A rigorosa
escrita seria oito e oitnbro; mas é tal a força da opinião que
se publíca, como .diz um espirituoso jornalista, que até eu
escrevo outttbl"o. Dizia bem San-Vicente de Lellis:-«quod
semper, qnod ubique, quod ab amniúus1>.
No seu Diccionario de rimas, o sr. Eugenia de Castilho
escreveu, nos prolegomenos. (r2):-«No que nada cede-
mos ás ambições do Norte de Portugal, foi no modo de
pronunciar coisa, Soisa, rasoira, Loires. Lá diz-se e escreve-se
couza, Souza, razoura, Loures; cá em Lisbôa quasi toda a gente
escreve assim, mas lê coisa, Soisa, 1·asoira, Loires. Nós não
só dizemos como se diz na capital, mas escrevemos oi, onde
o Porto põe ou. Não é mai.;; logico ler o que se escreve e
escrever como se pronuncia em Lisboa?,,.

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A LlNGU .\ PORTUGUEZA 43

Em todo o Brazil, pronunciamos como no norte de


Portugal; e, para justificar esse uso, ha mui.to boas razões,
que do modo seguinte forão expendidas pelo douto por-
tuguez e lisbonense .\lanoel Borges Carneiro, na sua Ortlw-
gi-apltict, publicàda em 1ibo: -«Ou e oi são difthongos diver-
sos, e não devem confundir-se as palanas em que ha on,
como grou, our.o, ousatlo, couve, azo1tf/W', outro, 011 1conj unçi"lo ),
com aquellas que têm oi, como oito, coitado. coima, coifa.
Pelo que não merece appro\·ação o havermos os lisbo-
nenses introduzido o uso de escrever oi cm algumas pala-
vras, que já d'ante-; assim se pronunciavão, mas se escre-
v1ãc-, por 011, como cois(I,, '<ti;oitar. coito. coii·o, coice, etc .: pois,
alem de não dever a escritur;.J seguir a pronuncia, porém
esta conform;1r-se ,í escritura, nem nisto guardamos ocos-
tume antigo e o d;.JS outras províncias do reino, onde se
pronuncia e escreve por 011: nem nos conformamos com a
regra da derivação; pois do difthongo latino a11, como em
aut, tturu111, audio, lrw-rns, .ta11rits, 11uwr11:s, audeo. a11tm11, 1111s,
-etc., mais espoutaneamente se fórma, como sempre se fez,
011, ouro. ouço, ouvir, louro, touro. mouro. 011.so. outono do que
0 iru, o-iço, toiro. 111oir et·: . (e assim mesmo em ymu. cn11ro,
rlo1111, etc., de yru.~, N>ri11m, duo, etc., em que mio ha i ); nem,
finalmente, somos nisto coherentes a nós mesmos: puis
não ousamos pronunciar e escrever as~im muitas das ditas
Palavras, como oitro. a.zuiyue, coice, groi, nem, o que ainda i::
ll1ais incoherente, nomes deri\·ados de uma mesma raiz, e
diversos tempos de um mesmo \'erbo: porquanto escreve-
lllOii oito e ni"lo q·ueremo,; escre\·er oit11bro: dizemos oiço. oi-
ra.~; mas não ousamos dizer oivia, oivido, eh:.,>.
Assim é que, em favor deste modo de pronunciar e
escrever, ha todas estas ponderosas rnzôes: a etymologia:
a coherencia ou :inalogia de outras pal:inas da mesma de-
rivação , que todos, excepto os beirões. pronuncião com
ou; o uso antigo da lingua, e o da grande maioria dos que
falam o idioma portuguez. Pode-se ainda allegar a analo-
gia das linguas similares: no gallegd, ao ditongo latino au,

Biblioteca PúblJca Benedito Le ite


A LINGUA 1:'0RTUGUEZA

corresponde tambem on: ouro, 11t0nro, tczouru; e, no itali:1no


e no espanhol, o som simples de o: tesoro, mol'@, 01·(). ( 13 )
Não se de,·e, pon:m, escrever, !1em pronunciar ou, em
algumas palavras em que a etymologia exige um 1:, ou
porque já o tinha a palavra originaria, como coito (de co1-
tus), ou p0rque na formação da língua resultou de com
pensação da queda de um e, no grupo ct: noit,., \noctem), oita
(octo ), son~ derivados oitante, oitava, etc., biscoito 1b·iscocfwm,
ant. pão ,·oito) . A compensação fez-se com u em outubro e
em douto e nos seus derivados-lloutor, doutrina, etc. (14)
Em agouro, cenoul"a, coum, Dourn, salmoui·a, tesoura, é
mais conforme á etymologia d ;zer e escrever agoiro, cenoi-
ra, coiro, Doiro, (1;) salmofra, tesoira (16). pois que provém
da attracção ou transposição do i de Mtguriuni, zanahoriu ou
cenoria (esp., de origem arabe) , cormm, Durius, muria, touso-
ria; mas a primeira forma é a mais usada. O me!>mo se dá
com a terminação ouro, do suffixo latino orius: bebedouro, la-
vadoiro, logradouro, segadonro, sorvedouro, varadouro, duradou-
ro, vit;ido11r11, vindouro, casruloura, etc . ( 17)
Jl[Q111"0 , 111oura, fórmas aP.tigas do verbo ntfil't"fl" ( de mu-

rior, moriar., sempre assim as escre,·ião os quinhentistas. Nas


trovas dos cancioneiros, e em documentos mais antigos.
encontra-se moiro, moira ( r 8).

NOTAS DO CAP. V

( 11- D~sJc o 18. 0 seculo já assil,1 se pronuuciava e111 Lis-


bôa. Vid. )ío11w Carmelo, p. 141. Jeronyrno Soares Barbosa,
Grammatictt pltilosophica, liv. 1.0 , eap. a. 0 : -"Rcparão alguns
Cl,II. não rnr na taboa dos uossus diphwngos orae.<i o chamado
diphtoogo ou. Porém, o som destas duas vogaes é simples, o
não é composto das duas vozes qne se offerace11) aos qlhos para
se dever pôr no u .1muro dos diphtongos. O soni dello nónhuma
A LlNGV.A l'ORTUG[.;EZA 4ó

differença tem do nosso ô grande, fechado, como se i,óde vel',


escutando, sem prevenção, as primeiras syllaba-. do nome ô:;so,
8 • do verbo ouço . O padre Antouio da Costa Duarte ( G1w11ma-
tica philosophica, cap : 1. 0 , 2."' nota ) diz, pelo contrnrio:-«E'
º:1"º confundir a voz ô com o ditongo ou, porque a pronuncia-
çao é muito · differe11te, como se vê cm ôsso, de a11imal, e oitço,
do verbo ouvir>,. E. Cunha Portugal, que declara ser a sua
Orthographia 4'eusinada pelo systema Madureira r ectificado
pe~os princípios da Gra1mnatica de J. Soares Barbosa», da.
opinião deste diverge neste ponto, achando-a «mai'3 rrnbtil que
verdadeira». D emasiada subtileza nos parece haver nos qnc
percebem ou querem fazer essa diffel'ença, que na pronuncia
geral hoj e não ha, e podemos suppôr mmca houvesse, a julgar
pela mudança do ditongo latino rn, em som sin1ples de o, quer
no latim, quer lias li11gnas romauicas, o até em algumas pala-
v_ras portuguezas: orelha. goso, (az, pobr·e, (auricula, gaudimu.
/rtu:x:, pauper). Só uo norte de Portugal se faz sentir, o n cm 011.
;2)-Diez, tomo 1.0 , 1. I (Dítougos latinos) Seelmanu, Dic
A11ssp1·uclie des L attin, Yocab"sutus. Torus, por taurus, em Varrão,
Pl?dere, porplaudere, em Cicero. Varios grammaticos antigos-
D1ome des, Probo, Prisciano, ]'este, attest.ão essa troca de a11
P0 ~ o, e vice-versa. Frequentissime lwc faciebattt antiqll'i, diz
Pnsci11no. Suetouio, na Vida de Vespa~iano (VIII, 22 ), r efere
esta anedota: 1llesti1111t Florum co111.mla,re111, admo,df-us ab eo
J1la1_1stra potius quam plostra, rliceudrt. die posfero Fln11r111n salu-
tavit.
\3J-8eelmauJJ cita uma ·i11sc rip\:ão, e111 que se lê <luas ve-
zes: So por sum. (Die Ausspraclw des Lateilt, Vocalismus, 11).
(4)-Soares Barbosa, Gra111., liv. 1. 0 , cap. 8. 0 • Vide o nosso
capitulo sobre os dialoetos portugUt:,zes.
(5)-Seelma11n , Aussprat:lte des Latân (Voc:alis111ns;.
(6)-Soaros Barbosa (log . eit. e l. 1.0 , cap. 3.0) uão reco-
llhece esse vicio como ta mbem da Extromadura, pois só o dit
Eorno doir beirões, e diz: - «Cousa, que assilll se pronnu cia na
: x~remadura, na B eira promrncia-se coisa • . )fa s, J esdo o prin-
Lp~o do seculo passado, ha os tcstt•n rnnhos que citamos. Frei
UJz do Monte Carmelo attesta qtw tambe111 nes,·a província di-
: e~1: pé-i, séi, séite, etc., por pe, sé, sete; e .fofoiuo, Theotoiiw, ora-
0!r0, purgatoiro, etc. Ja ouvi, diz elle, a um sacerdote, dizer ua
missa: Per omnia secula seculoinmt. Comp. de ortlw_q., ~ LI.
. (7) -Publieadas, sem uom e do autqr, com o titulo-Verda-
deiro Methodo de E~tiuliir, <lerão Jogar a viva polemica. A l.B
1arta tem por objecto o ensino da grammatica. Frei Fortunato
f e S. Boaventura disse que Y erney foi ~por vt•ntnra o maior !'a-
46 .\. LINGU.\. PORTUGUEZ.\

bio portuguez do soculo 18. 0 ».(.l[emorirt sobrn a lilemtura hebrai-


ca, no t.omo 19 das ~lemorias da Academia Real da Sciencias).
(8)- Verdadeiro .lfetlwdo de Estudai·, carta 1."', ps. 3·J e 43.
Co11se1Tamos a onhographia de todos os autores que citamos.
A. de V emey. como se ,·ê, era muito especial.
(9 :- --De cuja orthographia diz elle, 110 prologo do Co111pe11-
1lio:-«Po1wos homens doutos abraçaram a orthographia que
inventon o sapientíssimo auctor do Verda,,foiro Jfetltodo de E.~-
l11dar11.
(10 1-Ohm citada, u. XXV. Publicou ra111be111 um novo
Diccionario da lingua portugucza, o uma collecção de artigos,
IH) Jornal do Commen:io, do Rio do Janeiro, iatitulados:-0 que

se aão dete dizer.


(11)-Cita uma phrnse de Latino Uoolho, em rpte se lê:-·
«o livro do oiro dos jnizt•s comomporancos,>.
(12 1-3." edição, 18!).J..
(13 ~ Mas algumas ter111i11açô1•s vcrhties, que têm 011 110
vortuguez o 110 gallego, no ospauhol têm O!J: Soi , estuy, doy, ·t·oy.
(14 1-Diz-se geralmente moita, e é o que pede a etymolo-
gia, se vem do gorhico maitau, como suppôz Dicz (Di,cc. etJJllt.,
II, 6.0 , ,·. 0 mata). Varias palavras, cm que oi é etymologico,
11i11guen1 deixa de as pronunciar o escrever com oi: co(fa (do
lat. cofe1, esp. co.fia, it. cuJfi'a), coima (do arabe qu:ima, 1\foraes e
frei João do Souza í, coitarlo (coitar, coita,, do cor:fare, frcqucntn-
tivo do 1·01J11ere, sig11ificando np1•1·tnr, opprimfr, (Dicz, Dice., I,
,,. 0 coitnr). yoim 1g11/1ia, palavra iberica, DiPz, I, yoivo (do gre-

go lr11koim1, segundo D. Nu11es do Leão. Oriy. tla liug. pol'f.


'L'a111be111 co11111rn111011te so pro11n11cia oi 0111 oitâo, moirâ1J.
111,1ifii11, cuja origc111 é dPsconhecida, e nas seguimos, em ,prn a
oty111ologia t·equct· 011: cofre, foice (de calx, (ai~: al dá au, em
francez, /iw:r, ou, em portnguez, poupou, de palpare, outeiro, de
altariitm. a11term111, otonmi); acoite (do arabe assaut), afoito (do
lat. fotu.~ .
(li">) - Em documentos amigos, Durio, Dorio, Doiro. Vid.
João Pcclro Ribeiro, Dissert. chron., append., does. 19, 29, 30, 3:-i.
1 rn,-~ão assim tliesouro, de thesaurus.
(li -/~anmm não é vocabnlo formado com esse snffixo;
Yern do /ttlJ111·. Kão ha razão para se dizer laooi1·rt.
(18_) --)). Diuiz, C1t11cio11eiro, ps. 13t.i-138.
Ay ! rnadre, moyro d'amor.
De que morredrs, filha, a do corpo velido?
)ladre moyre d'amores que mo deu meu amigo.
l'elidl>, do espanhol antigo belido, signifi~a lindo, gracioso.
Diez, Uber die er.,fe port11giesisrlte kunst und hoppoesie, Glossar.
A LINGUA PORTUGUEZA 47

CAPITULO \'l

Ditongos nasaes

São peculiares da lingua portugueza os ditongos na-


saes: ão, ãe, õe, iii. Nos idiomas congeneres, ha muitos tons
nasaes; mas som nasal, junto com uma vogal pura, for-
mando ditongo, é facto que só se verifica na nossa língua.
Excepto üi, o qual só se encontra em ·11111i, m111!0, que
todos assim pronunciào, ainda que ger:ilmente se escre,-a
sem til, e àe, ou iH, n:i p:ilana mài ( 1 ). todos provêm de
uma consoante nasal, que foi supprimida, ficando nasali-
!'ada a vogal antecedente, o que se indica por meio do til
( 2 ) . Deu lagar á formação de-ses ditongos a queda de um
·" medial, em terminaçoes de palavras latin:is. subsistindo,
porém, a reson;mci:i nasal (3), comü em ro111iio. ·4l. são, ir-
mão, pães, cães, sennõr.~, tu pões, elle põe, de m1111t nJ/llll, .~n-
(n)um, germa (n ios, µa n)es, cl'!(n)eR, .~crm ;n)1~~, po n)i~. 71,1(n)d :; 1.
Nas outras linguas romankas não se dá esse phenome-
no :_ o n medial mantém-se sempre, como tal ou como letra
final, conforme persiste ou não a vogal com que form:n·a
syllaba. Assim: no francez, romah1, saiu, gennai11, pain, chien,
senuon; no italiano, 1·omu,110, sano, gennano, pane, r,a,11e, sermone,
P0 nipone; no espanhol, 1·01w1,110, srwo, henuano. pan, cem. panes,
sen»on, sermonrs, pones, po·ne.
No g:illego, ou cae a ,·ogal ultima, permanecendo o n,
e. portant1, ha sómente um som n:isal, sem ditongo, ·ou,
Pelo c:ontrario, forma se o ditong o pela queda do ·11 medial,
mas sem pronuncia nasal: Xoan (Jo:io) A.dn'ao, 11wn ou mcttt
(lllào ), bmn ou brau (verão ) (6).
. No portuguez antigo, essas terminações erão 1nais va-
riadas e mais conformes :i etymologia. Termina,·ào em om.
os substantivos derivados de nomes latinos em o, 011is, onem:
i·azom, sennom, dfm:~om, etc. (rationem, sennonnn, divisionem,
48 A I.INGUA PORTUGUEZA

etc. ); e em am os r.ascidos de nomes em anis, anem: pam,


cmn (de panem, ca11eml. Só os substantivos e adjectivoc;; pro
vindos de latinos, em m111s, 011em, tinhão a terminação em ao
ou aom, pois nesse tempo ainda não era usado o til: mao ou
maon, irmão ou irmaon, 1•nom, saom, etc. (manam,, germanum,
vannm,sanum, etc. ). Os pluraes correspondião aos latinos em
one,s, anes. ano.s, e anus (manu,,ç), como ainda hoje correspon-
dem, e escrevião-se, a principio, razoes, sermoes, divisoes, e
depois razoeu.ç, 11ermoe11s, ifiri,çoens; paens, caens: maos, -irmaos,
etc., depois maon~, irinnons, vann.s, saons, etc. Nos verbos
correspondia a111 a cwf-, e wn, depois 0111, a unt, nas 3. • pes-
s ~as do plural: som, prom, ouverom, (l,Jllam, a,mavam, amárom,
digam, diziam, di:rerom. fa r;am, fa ziam, fnerom, riam, deram. ven-
rlami, venderm11 ( 7).
No verbo harnr a 3.ª pessoa do plural do presente do
indicativo habent, converteu-se em ham, como no proven-
çal e no espanhol (an, /lan), sem duvida proveniente de .
haem; e, como do presente e do imperfeito co indicativo
desse verbo se formarão as terminações do futuro e do
condicional das linguas romani.:as, esses tempos tambem
termina vão em rnn: SPním, terám, a,mavám, serfom, tPriam, ama-
1-ium, etc.
Mudança analoga á de habmtem haem fez que tomassem
a terminação em om nomes latinos, em tudo, tud-inis, tudimm,
como fortúlão, :-;oidão ou solidão (f'ortitudinem , solitudinPm,
etc ). Nos documentos n."' 62 e 63. publicados por João
Pedro Ribeiro, no appendice do tomo 1. das suas Disser-
0

façõe,s chronologicas (cartas de venda do reinado de D. Affon .


so 3. uma da era 1293, anno 1255; outra da era 1298, anuo
0
:

1260), lê-se firmidoem, como tradução de firmit11dinem, pala -


vras de qut se usava nas cartas escriptas em latim, como,
por exemplo, nas que se achão no mesmo appendke,
sob os n.º' 45 e 52 t8). De finnitu,d,inent nascerão firmituem, fii·-
miduem, firmidoem, e, finalmente, firmidom, firmidão. Do
mesmo modo se formarão fortidoem, jortidom, fortidão, soli-
doem, soidoem, soidom, solidão; _depois , por analogia dessas
A LINGU A PORTUGUEZA 49

formações populares, muitas palavras de orig~ seme-


lhante, amplidão, certi:díio, !Jratidão, multidão, rectü1ão, seroidão
e outras de nova formaçã o, nã') derivadas do latim, a1110-
rellidão, esmrridão, frou xidão: e tc. .\I ui tos outros nomes se
forma vão com terminaçfo na s ,!. propriamrnte portugue ·
zes, como bordão, carão, ganharão, gibão, quinhão, rnupão, virn -
ção; alguns, que nos vierào do arabe, como açafrão, algodão,
almeirão, muitos que nos são commun~ com outras lin;;-uas
romanicas, ou dellas tomados, como a11nilliifo, bakão, barão,
botã,o, calção, raldefrão, fustiío, grtlartliín, J)(11Jill/{io, e os num e-
rosissimos aug mentativos. Tod os esses tinhfo a ter mina-
ção om, depois nm.
Para indicar o som nasal, antes de adoptad o o til, usa-
va-se, nessas terminações, como fica dito, de m, como no s
pluraes dos nomes, deixando d-, ser final, se mudarn e m
n: -maom, maons, vonm, voans, sennom, sen11oe11s, com, pam, roens,
paens. Nisto seguiu o portugrrez o uso d o latim. que tam
bem, para o mesmo effeito, usava do 111, no fim c!a palana,
e de n, quando se lh e se,.,.uia outra consoante, exceptri :is
bilabiaes b, m, p, (9): amab~m, mnohant, amans. etc ., ja·u, nam,
clam, quam, tam, e clanrlestin11s, q11a1,tus, tant11s: idem, id'mfi·lem,
eorum, varum, eoru11d<'m, earzmdem, etc. ( 1o).
Pouco a pouco se foriio confundindo essas termina-
ções, tanto no• nomes, como nos verbos, g eneralisando-se
ª desinen cia am, até na partícula n egativa, que de nom pas-
sou a 11mn.
Admittido o til, para supprir a consoante nasal, es-
creveu-se: razõ ou rnzã, sei-mõ 011 sermã, cá, pá, mão, innão,
chão, grão, são, vão, chrisfão pagão, razões, sermões, ciies, pães,
mãos, sãos, etc. Nas termin:ições ditongaJas, punhào o til na
uit!ma vogal , represe ntando o m, que na orthog raphia an-
te~ior a nasalisavJ; algun'i, po ré m, o collocavão sobre a
Primeira, por saberem que o n medial orig,inario nasalisava
a precedente, não a vog 11 seguinte.
Quando Fernão de Olh·eira public0uo primeiro ensaio
de grammatica portugueza (1536), ainda o uso do til não
. 50 A LINGUA POR TUGUEZA

era geral; e elle recommendava-o com in.sistencia (1 :).


João de Barros, na sua grammatica, impressa quatro :m-
nos depois, dá como geralmente usado o ditongo nasal,
escripto com til, nos que se escrevião com a terminação
am, e reprova esse uso, preferindo esta ultim~ desinencia,
que elle considera como mais conforme á boa pronuncia.
Eis como fundamenta a sua opin;ão:- «Os mais dos no-
e,
mes que se haYiam acabar am, se escrevem a este modo
-razão, razões. E, se•) uso não fosse e contrario, que tã grã
força acerca das cousas, não me pareceria mal desterrar-·
mos de nós esta prolaçam e orthografia galega. Porque, a
meu ver, quando quiserem guardar a verdadeira ortho-
grafia destas diçõe;;, se deve dizer raznm, e no plurar
mzões. Ca este m final nos'io tem aly o oficio do mem cer-
rado dos hebreus, que é hi'ia das letras que elles chamam
dos beiços: a qual lhos faz fechar quando acabã nella, de
maneira que se "ªY fazendo :iquella variação ocando-se a
voz. E este é hü modo de apautar como se pautam os ins-
trumentos de musica. E entã os que pouco sentem que-
rem remediar o seu desfalecimento. cscre,·edo agalegada-
mt:nte: poendo sempre o final e todas as dições que acabam
i5 am. E. se a regra delles fosse verdadeir:i, em todolos
verbos que na terceira pessoa do numero plurar acabã
nesta syllaba am o deviam usar: e :.ssi em outras muitas
dições, como pam, cam Isto nã guardam elles, pois ve-
mos que na formaçam do plurar ditem cães, pães: porque
aqui vem elles muito ao olho seu erro: que nã pode dizer
pões, cões•. E conclúe, repetindo 'iue a verdadeir,t forma-
ção do plural dos nomes terminados em ani é «conver-
tendo o am final em õ, escrito a este modo, e acrecen-
tando-lhe es».
Censurando como erroneo e incongruente o uso vul-
g:ir, tambem não foi coherente e exacto o illustre gram-
matico e historiador. Não advertiu que, para se guardar a
verdadeira orthographia, ao plural em õe.~, devia cc.rres-
ponder Oln no singular, COffiO antériormente: e que esse
A LINGUA PORTUGUEZA 51

plural não convinha a todos os nomes acabados por am ou


ão, pois nunca ninguem di sse ne m cõe.~, põe.~. nem mõe-S, fr-
tnõP.~, chl'i8tlies, etc. 1~ não tinha razão em attribuir o abuso
da maneira em ão á influencia ou imitação do gallego, o
qual. como já dissemos. não tem ditongos nasaes, e só nos
nomes a que damos o plural em ãos usão do ditomrn aii, e
a esses mesmos tarnbem dão a terminação em simple!> vo-
gal nasalisada: mau ou man, grâu ou gm11, etc.
Das palavras de Blrros vê-se que, no seu temp,), ain-
da não se usava do ditongo ão, nos no mes que têm o plural
em ,ies, nem nas flexões verbaes; mas, a despeito de tãc,
autorisada opinião em contrario, pre,·aleceu essa desinen-
cia em todos os nomes, nos verbos e nos ad,·erbios não,
quão, tão, então. Como uns acaba,·ão em ão, outros em am
ou ã, a estes accrescentou-se, por amor da uniformidade,
aquelle o final, pe rdida como se achava, pela geral igno-
rancia , a consciencia das di~ersidades etymologicas. No
plu· ai, manteve-se a discriminação, porque era mais clara
a differença entre os sons ãos, ões e ães, que entre õ, ã e ão;
mas, ainda nas terminaçõesdoplural, houve e até hoje ha,
em alguns nomes, confusão ou incerteza, e prevalecerão
algumas contrarias ao que pedia a etymologia (12).
A essas incertezas e variações. na orthographia, corres-
pondi ão iguaes da pronuncia, como causa ou effeito. Vi-
mos que João de Barros diz que a Yerdadeira pronuncia
das terminações e m am, que ge~almente já escrevião com
e ditongo ão, 1,os mais dos 110mes, era um som terminado
Por consoante labial mui surda, que elle compara ao mem
ceiTado elos hebreus, e melhor diria igual ao m final dos lati-
nos, o qual tinha um som tão obscuro, que sempre, no
Verso, a vog~l precedente se embebia na palavra seguinte,
0
que os g rammaticos denominavão écthlípse (13 ).
. Sá de Miranda, contemporaneo de João de Barros,
ntnou 1,amse e da111Re :,·fo-se. dão-se) com descanse (14).
No mesmo seculo, menos de quarenta annos depois,
escreveu Duarte Nunes de Leão, n::i sua Ortlwgraplda (1576):
A LINGUA PORTUGUEZA

-c:O diphthongo ão he o mais frequentado na nossa 1:ngua.


e so'.Jre que ha mais opiniões, e duvida, em que lugares
se ha de usar. Porque huns indistinctamen·e o usão, e o
confundem com esta terminaç:in mn, não fazendo de hum
a outro differença algü1. O que he erro manifesto. Por-
que. no fim das palavras, que acabamos com esta pronun-
ciação, ach:tmo, hum sabor de o, que não achamos no fim
da primeira syllaba desta pal:ivra crimpo. E he manifesto,
como diz Pri.-;ciano, referind.:>-se a Plínio, que o m, no
principio da diç:io, dá hum som claro, e no meo medíocre,
e no fim mui obscuro, e apagado. De maneira que se no•-
sas dicçõ~s acabassemo, em a,n soariào mui mais apaga-
darr:ente Jo que soa a primeira syllaba de cam-po. E nós,
pelo contrario, nas di:tas <lições, sentimos hum som mui-
to descuberto, e mui desviado de m, que não podemos ex-
p1imir, e representar senão com o nosso diphthongo ão.
De maneira que co.n este diphthongo hemos de escrever
necessariamente as terceiras pessoas do plural do indica-
tivo modo da primeira conjug-açào dos Portuguezes, como
mnão, accusão. Item as terceiras pe~soas <lo plural de todos
os verbos, de qualquer conjugação: do preterito imper-
fecto, como wwwão, tinhão, onvirfo. Item as terceiras pessoas
do pl.ural do prcterito perfecto, de todos os verbos indis-
tinctamente, como amárão, lérão, ouvirão. Item todas as
terceiras pessoas do futuro de todas as conjugações, como
amarão, scrererá.o, ouvirão. com o accento na ultima. Item
todas as terceiras pessoas do imperativo modo do plural,
dos verbos da segunda, e terceira conjugação dos Portu-
guezes, como leão, ouçõo. Item as terceiras pessoas do fu-
turo do optativo modo da segunda, e terceira conjugação,
como ox:tlâ, leão, 011çiío. Item as mesmas pessoa· do pre-
sente do conjunctivo, como leão , oução. Finalmente, com
o dicto diphthongo se hão de screver,n:1 final terminação,
todos os nomes que vulgarmente se ~~:·evem por am, di-
zendo capitão, alemão, galeei.o, tabellião, se queremos screver
como pronunciamos. De maneira que nenhum nome,
A Ll:S-G U A PORTC'GLTEZA 53

nome, nem verbo se scre,·a no fim por mn, que he pronun-


ciação alhea da que nós damrs aos dictod vocabulos. E
quem quizer veer :1 pronunci:ição propria de am, e quam
differente he da que damos aos dictos vocabulos assi aca-
bados, coteje a primeira syllaba desta palavra cam-po com
a final desta palavra {ateam. A q!ial pronun ciação de ne-
nhuã outra maneira podemos representar se não assi - falcâo.
Polo que per am me não atre rnria screver outras palavras,
senão aquellas tain, e qurim, que dos Latinos nos ficarão
inteiras, e aquellas syncopadas, gra.m, por granrle, qur.ndo
se segue consoante, e sam. por sa.ncto: por as quaes alguns
scre,·em, qmnd, e sanct1;.
Todavia, muitos homens doutus não se conformarão
com esta opinião, e continuárão a usar da desinencia, em
a1n. Varios orthógraphos a preferem. Assim , o padre Bento
Pereira, nas su~s .Regra.9 de ortogmfin (r666), e na sua Ars
Grammatica (1672 ), sem condemn ·1r o uso de ão, julga me-
lhor o de a,n, p orque «nos a,;semelharemos aos Latinos, os
qu1es, assim nos nomes como nos verbos, põem am, musam,
logebam, etc,, e porque «os que escrevem com ão estam ex-
postos a grande confusam; ou seja, v. g., entrárani, do pre-
terito, ou entm.rrím, do futuro, tudo escrevem com iio 1
mas os que usam de 121n, no preterito, põem accento na
penultima entrrímm, e no futuro põem o accento na ultima,
entmi·rí·m» ( 1 ; ) •
\ierney, no V1wdadeii·o m.etlwdo de estudar (1746), (16)
tambem dá preferencia :í terminação am, que diz ser syn-
cope de aom, e o til «um vigoroso m final>. ((Falaom., pro-
nunciando se depressa, faz falão. D:.qui naceo aquella
Particular terminação em ão dos Portuguezes, porque, com
a pressa de pronunciarem, tocam tam de passagem o o, que
n~m se ouve mais que o m: o qual, em vez de o pronun-
ciarem com os beiços fechados, que é a sua propria pro-
nuncia, pronundamos com um sdido fanhoso do nariz:
que é o estylo presente de pronunciar todo o 111, final, em
Portugaln. Affirma, porém, que adiler que a terminação

Biblioteca PúblJca Benedito Le ite


A LI:-.rGUA PORT(TGUEZ,\

rnn é differente na pronuncia, de ,í.o, é engano, pois em


qualquer <lição Portugueza, que se ache a terminação am,
tudos a pronunciam como ão: e Portuguezes mui dcf utos
sen·em-se indiferentemente de ambJs».
Frei Luiz de .\[onte Carmelo (1767) dá como geral :1
orthographia com o ditongo ão. mas della não usa (17 ).
«Eu nam usei desta orthografia, diz elle, porque já pronun-
damos muito expeditamente o ão. sem tocar, nem leve-
mente, na letra o. Alem disto, a orthografia, de que usam
muitos homens eruditíssimos, que eu sigo, he mais genui-
na e facil para escre,·er os accentos necessario-.:. Por isto
escrevo, Y. g., frma.m. irmãos, pmn. pães, serma,m, sr.rmões. ag-
yrrí,·am, aggmním111, ag_qrararíim . .\las nesta materia proble
matica póde cada hum escre,·er como qnizer,,.
Amaro de Roboredo (1619) escrevia mn no preterito
perfeitc , am no mais que perfeito, e ií.n no futuro e em
todos os outros tempos dessa terminação: amrírom. amríram.
a11wnio, ameio, ,rnwvão, mnarião (18 ' .
Joáo Franco Barreto \Ortlwg, 16;1 ) só usava de diton-
go ,io no futuro , para o distinguir do preterit0: amariio, mmi-
mm .\'l::idureira (17.34), pelo contrario, propoz que só o fu-
turo se e;a:crevesse com mn, accentuado, 7mrfirrí111, para o
differençar do preterito,partfrúo (19).
A divergenc ia, n modo de distinguir o preterito e o
futuro do indicativo, perdura até hoje. Alguns accentuão
no futuro o a do ditongo, pondo o til sobre o o; isto, po-
rém, faz parecer nasal a segunda vogal, devendo ser a pri-
meira. A graphia mais geral é o ditongo rio sómente nessa
tlexão verbal. e na do presente, quando monosyllabica, lliio,
dão , 1•ã.l); e am em tddas as pes3oas que têm o accento na
penultima syllaba: a111m11, n11w1:am, nmarmn, Ct'/lla1·fo11i, ll1tiam,
tli[l'lllt, fru.;aui, etc Alguns tamhem estendem essa regra aos
nomes, escrevendo: úeuçam. orfa,m, orgmn, etc. Todavia, es-
crevão essas terminações por a,n ou ão, t0dos fazem sentir,
ap menos no Br:izil, o som de um o final, ainda que. surdo.
Parece-nos, pois, mais logica e mais conveniente a ortho-
A UNGL:.\ l'OR.Tl' lil' EZ A

graphia dos que, pondo d e a.:cordo a esc ripta com a pro-·


nuncia, usão sempre de ão, disting uindo o preterito e o fu-
turo, por m e io do acce nto na penultima syllaba da ·:; uc l!C',
assim como se di sting ue o futuro amareis e o prete rit o
mais que perfeito a11uíi-eis, o pre , ent e a11w,1nos e o pre te ri to
anu,í,mos; e nos no mes indicand o do mesmo mod o a accc 11 -
tuação da penultima: l!ênçâo. ór/ao, óryâo. e tc.
Osgrammaticos do prin cipi o d es te seculo-S )ares l:l .1r-
bosa, Bo rges Carn eiro ( 20 ), .\Ioraes. Const:mci o ,-fize rà o
prevalecer essa, rthographia: mas, poste riormente. ge ne-
ralisou-se o uso de ct'III, nas termina ções ,·erba es áton :1s,
~~rovave lm ente porque o adoptúào alg uns dos mais auto -
n saJos escripto res , -como Alexandre Herculano e G a rre tt
(22 ) , ou_os se us editores (22 J.
O s dito ngos nasaes e a continuada sibila ção d os plu -
raes sãoº" maiores defeitos, contrario3 á harmonia e sua-
\' idac!e da pronuncia , que tê m sido exprobrados á ling ua
P 0 rtug ueza , Mas a sibilação do plural vt.!m-nos da ling ua
mãe e é-nos co mmum. com alg uns dos mais cultos idi o -
n1as , com o o esp:mhvl e o in_~lez. As te rminaçõe~ nas:1es
ditongadas, por só as ha\•e r n.; noss.1 ling ua. são , para os
estranh o s, diffice is de pronun c iar e desag rada\·eis; mó r
lll c nte u dito ngo ti, . 1uc é o 111 :•i s du ro e muito frctp1 e11 k,
corres pondend o a \·arias termina ções nas o utras ling ua-;.
Luiz Antonio Verney , que passo u L[ll:lsi toda a sua
longa vida fora da patria, ac os tumado á do ç ura das desi-
nencias italianas, diz serem essas nossas «na verd:id e feias
e asperas terrivelm ente» e que umuito importava á líng ua
P0 rtugueza que se deitasse fora o til e a te rmina ção ir o»
(: ,1). Já houve quem tal emprez I tentasse , «c om e ruJi çiin ,
:~inda que grand e , pouc o feliz» , co mo disse o do uto l<a -
lael Bluteau (241. Jo sé de .~Lt ce do , co m o pse uJ o nym o d e
Anto nio d e ~Iell o da Fonseca, publicou , e m 171 0, um li-
vro, intitulad o .-1,tlídoto da lingua porlugue.rn. oc ujo esco po .
co mo o auto r declara no prolog o, e ra o e xte rminio do di-
tong,> ã.o, e de outros, d e qu e usam os freq uente m·e nt e, e
A LlNGl'A PORTUGUEZA

que, na opinião de muitos, fazem a nossa língua mui tosca


e grosseira, e. segundo aflirmào temerariamente, muito
peor que a castelhana~. Propunha qu~, eq1 vez de ão, se
adopt,issem as termina ções ou, one, ono, ano, ana, an, atle'
ude, dizendo-se: corazon, ·non, sewm, serinone, pct3sione, perdono,
irmano, mano (mão), irmana, 1nanhaw1., lctna, can, pan, capitan,
yratit1de, ·11utltitwle, es~ravitude, aptittd,e, solitude, exactitude,
'l'asti.tude, frouxidade, e.scurida ,le, et::., e ptttredine (podridão),
crtligine, {cerração), pnwílú ou prurigine (com ich :io ), :siccidade
('-equidão), preco11io (pregão ), glebn (torrão ), etc.
Mudava tambem as tlexões d ,)s verbos, substituindo
ão por o, no preterito perfeito e por ano, com ou se::: ac·
cento, nos o utro , tempos. -amaro, timano, a111ávano, wnárauo,
mnartino, wn-trirwo. T;Jv:ino, .sano, vauo, d'tn:J, /nt,;iino, rligano, té.
nlu:mo, /izero , rlisseru, foro , tivera, etc . (2; ). E entendia que
essas e outras reformas, que aYenhrn, se puderião levar a
effeito facilmente, por um decreto regio. O autor, como
muitos outros, ignorava, diz com razão o sr. Adolphu
Coelho , que as linguas são phenomenos collectivos. so bre
os quaes a influen cia individual isolada é insignifica::te.
(26). Convem accrescentar: -Esquecia que Claudio Cesar,
apezar da sua competencia de philologo e de todo o seu
poder de imperador, não conseg uiu qu.! fossem aug menta -
Jos, no alphabeto romano, tres letras, que os eruditos
_julgávào necessarias, e que só forào usadas durante o seu
rnrto reinado (27 ).
Outros autores portuguezes contentão se, mais sensa-
tamente, com responder aos e,;trangeiros que todas as
linguas têm os seus senões; nenhuma é perfeita: e que em
outras ha maiores asperezas ou repetições monotonas.
«Esta pronunciação, diz Duarte Nunes de Leão, de ne-
nhüa maneira é aspera nem confragosa, como as que
<lixemos dos hebreus ou syros (28), mas mui suave, pois
de hüa letra tam branda como a de m, que todas as linguas
tem: cuja pronunciação pqr assi ser pautada de alhea de
outras n:1çôes. ~las em o 111:ii~ 11 :10 ha porque se neg ue a

Biblioteca PUbllca Benedito Leite


A LI~<;U .·\ PüRTUGUEZ.\ 5.7

facilidade e suavidade da ling-ua Portugueza, que para tudo


tem graça e energia e é cap:iz de nella se escreverem to ·
dalas materias dignissimamente, as,;i em prosa como em
verso». ( 29 _, .
«A' ordinaria objecçam. cs;reveu Bento Pereira, que
oppõem os castelhanos ;Í no~sa lingua, tachando-a l!e
grosseyra. dando-110,; em rosto cada dia com os nossos tio,
rio, que ellcs adelg:içam, pond, n, em lugar de 111, para aca-
b:trem assim rn :1ys suave, e agudamente em an: respon-
demos que nisS1 n,~s ficamc,; parecendo mays aos latino,
~o que elles se parecem . .. Já an•igamente ouve esta ob-
Jecç:1111 que punham os gregos aos latinos, tachando-os
de grosseyros, por na forma sobredita acabarem seus vo-
c1bulos (.ilfu.~am, fu1w1,m, amabam, legobam, coram, nam etc. ).
~~os qu:iys respondeo acertada, e elegantemente Quinti·
ltano, lib . r 2, cap. 11. Yon possnmos diz elle, esse tam graciles:
simu.~ /'ortinres: subtilitate 'l'incim1tr: l'aleamus pondere. Isto
mesmo podemos responder a n ,ssosemulos. Confessamos
ljlle os c:1stelh:inos nesta p.1rt] s:1111 mays delgados e sutiys
no seu falar; mas nús assim no obrar. como no falar somos
111 ays fortes, e graves do que clles». (30)
C".>111 menus philaucia, mas não sem azedume, es;rc-
ve o padre Rafael !;: .1te Ili, na sua Prosu r,1wnmato11omiw : -
«Que diremos nós do nosso ão, dos estr.,nhos tão estra-
nhado:' A cada pas~o, com grandes. hiatos o arremedào,
e, para o fazerem ainda mais medonho e i:10nstruoso, ma-
lign:imente o desmembrão, e em du:is partes o dividem,
~izendo: 1'rcdiça-on, mnrm•n-ar;a-on, etc. Estes e outros
ndiculos escarnecedores de linguas, rião-se embo :·a e cor_
trafaçào o falar alhevo: das; suas zombarias rim-;e os sa-
b_ios: pro\'a authenttca de se náo saber h11m:1 ling-ua, he
rtr-se deltas; e, o que ainda hc m:iis p:ira e,tranlnr, e co11-
de1nn:1r he que, do idiom ., de que zombào, só sabem ai-
guinas exp(essões que não têm a fortuna de ser do se u
agrado; de todas as riq uez:is, elegancias, propriedades do
llll!s1110 idioma nao têm not11.:ia JJgun.a. Deixem0s a estes

Biblloteea Pública Benedito Leite


uB .\ LI~GU.\ PORTUGUEZA

necios nas trevas de sua ig nora nc ia ,>. E 11:1 Prosa ctpologetica:


c:Contra estes libellos diffanutorios o utros aco de m ao pl) -
bre cio , e di ze m q ue, se da nos~:1 ling ua se tirar o cio , rn rá
necess:i rio q ue e m prim ei ro lugar -e tire o ao, porq ue es te
diphto ngo co nsta d:1s d uas vogaes g ue pede m mayo r hi at ,,
e ab ertura da boc J , e, na p ro nun cia do nr)sso áo, não ha
g rossaria , nem as pe reza , se 11ão a qu e pr0ce de da s du :1s di-
tas vogaes a e o. :~o ão o til , s upprind o a le tra n , não ca usa
dureza, m as antes sua viza o diphto ngo ao . Logo , se do idi -
oma Portug uez ti ra rm os todo o lio , po r esta m es ma ra zão
se rá prec:so tirar d o fi m de muitas pala vras tono o au; e
nã o se rá esta re fo rma tão fa cil , nem sahi ,·á tão airosa, co m o
se pers uade m .. . Isto. q ue na arti c ul.1 çJ idas pa l.t vras de
alg umas ling uage ns muitos ch:i m ão rud eL as o u durezas,
chega tal vez a ajudar a co n,;onancia . To das as ling ua s tê m
sua harlll o nia ; e ass in"!. co m o n:1 mu~ic_1 lu bino!, e se u co n-
trari o bquad1'0; ass im co m o ha max imas, ininimas, e semini-
mas; longas, breves, e semibreves; e finalm ente tons aprasivei:;,
e tons asperos; tons pacifico.ç, e tons alli·1:0s; ass im e m todas as
ling uas soão as letra s co m hann o nica di ffe rença , humas
com suavidade , o utra s co m aspe reza , e desta multi fo rme
soci edade resulta hum so m , se aos estranh os aspe ro s. a os
'nacio na es não estranh o . Não ha no 1:l'l a d o ling uagem tà•1
pe rfe ita, e m q ue, o u co m razão, o u se m razão, os <l e o utra
na ção nã o possã o descob rir alg ttm 3 as pera. ou insipiJa
toada. Att:: nas pala vra s mai s bran<lam ente pronunci ada s
púde ha ve r se msabo ria: qu e. assim com o a aspe reza da
locução escan<l ali za o se nti do audito rio, ass im a nimia
sLiaYidad e lh e pode des:ig ra<lar , qu e tamb ~m o muit0 d oce
enfastia . Na ling uage m franceza , qu e se m co ntradi cção he
huma das mai s c ultas da Europa, tê m os estranho s e m qu e
reparar. Se elles muito estranh ão os nossos üos, nào nos
matamos muito pelos se us ils, ne m pelos se us eu:r; e muito
m enos pe los se us yeux , vieu.x, pieux, lieu:c, áeux, dienx ,,.
Assim qu e, este nosso ditongo, po r muitos vitupe rado
e esc arn ecid o , t:: po r g ra ves auto res de fenJi do. co m cal o r
A LINGUA PORTUGUEZA õ9

nasal• (31) e o douto viajante allemão Linck, falando das


doces e queixosas cantigas doscamponios portuguezes, diz
0 seguinte:--«A syllaba final ão, pronunciada com um tom

n1asculo, recebe, sobretudo na palavra coração, um accento


agrada\'el e terno>). (32).
Uma virtude não se lhe póde negar:-a de bem expri-
mir a idéa de grandeza, força, estrondo, como acontece nos
augmentativos, em algumas palavras, como bztlcão, fitracão,
trovão, tlt{ão, vulcão, e em phrases em que o ditongo se re-
pete para produzir esse effeito. Esta qualidade lhe reco-
nhece o seu maior inimigo-José A. de Macedo. «Não sou
tão inimigo do ão, diz elle, como da grande frequencia
c:om que o usamos; em alguma s occasiões faz tão boa con-
sonancia como fazem na musica algumas vozes natural-
mente pouco agradaveis, quando as ouvimos em seu pro-
prio lugar». E cita este trecho do padre Antonio Vieira:-
«Abaiar-se-hão os montes, retumbarão os valles, afundar-
se-hão até aos abismos os maros, descobnr-se-ha o centro
da terra, e apparecerão revoltos os fundamentos do mun-
do>>. Depois de transcrever alguns versos de Camões, ac-
crescenta:-iH e certo que nenhum estrangeiro póde dizer,
Com tão altíloqua valentia e tão pomposa majestade, estas
: 0 nsas na sua 1in0 t11; e não he pequena a parte que tem o
ao na sonora elegancia destes exemplos».

NOTAS DO CAP. VI

f 1.-Em mãi, quo goralmonte assim se escrevia, o ~m m,ii


e~-se a nasalisação do i final, com em ml, si, assi (do szc). car-
iui, etc. Depois, o som 11asal transferiu-se para a prepositiva,
e~i~o alguns, entre ellos Soares Barbosa, dizom o oserovem
riii, OU! voz do rttiin, cootrahiudo om ditougo a::; duas syllabas
60 Aº LINGUA PORTUGlTEZA

désta. palavra e pássando a nasalisação para a prepositiva·. Gil


Vicente rimou mãe com sãc (saem). ( Auto pastoril portugitcz, se.
3.ª). E111 mãe, a nasalisação . poderia tambom explicar-se pelo
hypocoristico mamma, ma111an (os brasileiros dizom-mamãc 1.
Não provém de ma (tr j em, porque primeiro se formou madre.
S,i de ~liranda ainda usou do nu.te, som nasalisar o ditongo, ri-
mando ,com sae o cae. (E clog:1, do Encantamento, OBRAs, 1."' ed.,
p. 132). .
,11fw:to, primitivamente, e por muito tempo, não teve som
nasal. Caruõos rimou-o com fruito e en.xuito, na estancia 120 do
canto 3.º dos Lusíadas, e assim o rimárão os out.r s poetas qui-
nhoutist.as . .\'las, ainda sem a apocope, comprehende-se que nosta
,palavra se 11asalisasso o i, como em pintura, pintor, de pictura,
pictor. ou ou, como numco, de nmcus, mungir de mulgerc. Já no
latim se davão factos iguaes, como reliquus, reliqua e reliquere,
jugwn e jim_qere, 'Ínucus, 111ungcrc. Alguns poetas escrevêrão
1i111nto (vid. Moraes, Diccion.). Francisco Dias Gomes assim o
1oz, r_imaaqo com clcfitnto, ai;sumpto, t-r:ansmnpto . ( Oqras poeticas,
_Elegs. VIII e X ).
· ·o distincto glottologo portuguez Leite de Vasconcellos at-
tribuo a nasalisação em mãe, m11ito á influencia do m inicial
(Glottolo_qie portugaise, 11. 40 a\; mas, como se acaba de vêr, a
nasalisação dá se, no portuguez e no latim, precedendo outràs
c:rnsoantes; o rn ou n só nasalísão a vogal precedente; com as
que se lho seguem, nn eiu-se como _simples articulações, e então,
não te11do som nasal, não o pódom dar ás vogacs seguintes. Em
outros termos, o som nasal não Á uma articulação,pertence á. vo-
gal, e indica-se com a posposição de m ou n, e tambem, 110
portuguez, com o til; m ou n, antepostos ás vugaes, são articu-
lações; não indícão som nasal.
Entre duas vogaes, pódem essas consoantes ter as duas
funcções; e tambcm 110 fim de palavra (em portuguez só o 11),
como se ho.nvosse nm e final surdo. .
2.- 'l'il, no espanhol lililc, vem de titnlos. Os francezes ,
quando traduzem o nome desse signal, dizem titre. Vid. Beau-
zée, Gram. génüale, Hv. I, cap. 3.·, in fine.
Os italianos tambem lhe chamão titolo: «La Thoscana f'a-
vella fugge i titoli, ed i punti, chc le voei f'u.nbre vi;). Rinaldo Corso,
Gram. ·
Era a priucípio urna linha corno a de que se usa para in-
dicar a quantidade da vogal longa, no latim. Fernão de Oliveira
, diz: «O til é h,ra linha direita, lançada sobre as outras letras;). A
fórma actual é a do accento circumfloxo grego. Não fui iuventado
COillO sigual de sow nasal, mas como indicação de letra on letras
A LL'GUA . POR TUGUEZA Gl

supprimidas; empregava-se 0111 todas as abreviaturas: Í/, Glf,


-Fel'f , _Mrz, aplõ, s,iça, etc . (i]ue, Gonçalves, Perna'fdes, "Aiarlins,
appellaçcio, sentença ).
«Til uão é letra, diz Duarte Nunes do Leão, mas huã linh'a
qi~e se põe sobro as dicções, co n1 que supprim os mnitas letras .
D oude veo chamar-se til, que qtrnr dizPr ti tulo; comv se vê nes-
t.a palavra misericonlia, que, abreviando-a co111 o til, escusamos
todas estas letras, isericorcl,escrevendo mia e assi111 outras muitas
le~ras em outras palavras, 00 111 0 : Bispo, Apo,tolo, tempo, Blj,
Apto, tµo. Mas o mais frequente uso, d,-sta abreviatura, he
se~vir de m, n. A qual, sendo a todas as nações qll(.J della
usao voluntaria, a nós he miccssaria, qnaudo com oll a snppri-
lllos o m com qu~ forma111os alguns diphtho11gos. E a causa
~esta necessidade he que a razão da orthographi a, em todas as
hnguas, requere , quando 011 tre duas yogaes vem huã con-
soante, que sempre essa consoante v(t com a vogal ~egnintc,
co~no; amo, Roma. ;\las acerca de nós ha hnã peculiar e pro-
p~1a pronunciação, e estranha das outras uações, em a]lfnàs
dições , onde o m ve111 entre duas yogacs, promrncia111olo do
ma_neira, que fica com a vogal precedente, e não co m a se·
gn1nte».
O s espanhoes empregão-o, tamben 1 originariamonto, co 1110
abreviatura, sobre o n, co m a proiiuncia do uosso nh. e111 pala -
vr:s yue antigam ente so escreviiio com nn 011 111;n: 11.'spniin,
~~no,._ 1iú1a etc., por Espamia ou Esp,m11r,,, SP/111/)l' on sen,,or,
mnna ou nini;a. (Vid. Bea•1zée, log cit., e Fred. Dil'z, Gmm. , t.
l 0 , L etras ·espanholas) .
Alguns modernos philologos alh~mães adoptáriio ,,ste signal
~ara figura.r a uasalidade da vogal. Schleicher, Grom. ~ 4. 0 ;
Schuchardt, Vocalismus des vulgiir latein, I , l 10. 112; Seelm am
Aussprache eles ltotàn, p X V. conson1111tism11s, IV, 4).
3. - Pode-fio dizer que, em realidade, persiste o n, .roprr-
sentado pelo til; não se escrevendo, para qne se não articnlo
com a vogal seguinte, como se fos-so cscripto deste modo
i·oman-o, sano, irmano, etc.
. 4. - O., antigos e ainda os prim eiros quinhentistas (Sá de
Nlir~nda. F erreira, etc.) dizião povo romão, o.ç romãos, segundo
0
prm cipio organico e a fornrnçiio popular da li11 g1ia; mas os
do~tos forão adoptando, em muitas palanas a fórma latin·,, e
as~im: romano, em vez de romão, insano, a par do ,ção, germano
e 11'1não etc
~ '
o.-Antigamente, cscrevião algnnio, como · Heil-or Pinto,
dt accordo com a etyrpologia, no sin g ular põi o no plural põe 011
JJoem, ·

~
,J831PÍB3L
Biblloteea Pública Benedito Leite
A LI~GUA PORTUGL'EZAi

6. - Foi por mora inadvortoncia que Duarto Nunes de


Leão d issfl, na Origem clct língua portngiieza, cap . XXII[, que os
ditongos nasaes nos são commnus com os gallegos. Estes for-
mão as terminações correspondentes a esses 11ossos ditongos,
om cm ou an, e on: Grau 1grãn), hirmau , chau (chão), van (mio) ,
razon, m·acion, rorozon, !!ennon, larlron, pa.n, can, etc. No plnrnl,
Graus, hinnrms, chau8, maus ou ma.ii!!, braus ou br(l,iis, razons, ora,
cions,pans, cans, etc.; o tambem niões (mãos), razõs, r.01·azós, larlrós,
vcí.s, câs, supprimindo o n, e accentuando a vogal, com acce nto
agudo ou circumflexo . Nos veruos: Soa, estân, foron, mnrm,
amaban, amárnn, amanín, bátrm , batian, batéron, baterún, pidia11,
pirlíron, piili1'Cín. A nf>gativa e non; mr,Uo e inoito; mríi (mãe),
não tem som nasal. Vide Saco Arce, Graminatfra gallega; <' o
que diz o mesmo Nunes de Leão, na sua Orthographia, quando
trata dos ditongos:-«Sempre ondo a língua castelhana diz rzn ou
on, que hc a sua particular terminação , respondo a port.ngueza
com aquolla pronuncia de ão, que succodo cm lugar da antiga
terminação dos portugnezes de o•,,;, que punhão em lu gar do
rtn ou on dos castelhanos. A qual ainda agora guardão algnn s
liom ons d'ontre Douro e Minho, e os gallegos, qno dizem fize -
ro111, amaram, capitom, r.icl{((/rnn, tabelliom., appell(l(·imn» .
7. -Vide, por oxomplo, os documentos pnhli cados por ,To:io
Pedro Ribeiro, no appcndico do tomo I das JJi.~8rrlr1r1i, ·.~ n1iro-
11ologicas e critíras, do n. GO cm diante. O do n. r,D é :ipo<>r,r -
pho, como declara o mesmo João Peclro Ribeiro ( DissPrfação
5.ª ), e os anteriores são cm lat11n barbaro . Os ns. GU o 61 são
Ofl documentos authonticos mais antigos da língua portngueza;
nuicos, dos qn o so têm descoberto e publicado, anteriores ao
reinado de D.. \ffonso 3. 0 • Um não tem data. Mas, por ontros
docnmentos do mosmo cartorio (do mosteiro de Vairão), se vê
ser do reinado do D. Sancho 1. 0 ; o ontro, encontrado 110 mesmo
cartorio, tmnbcm d') mesmo reinado, tem a data de março do
1230 da Era Hispanica on do Augnsto l esar, que corresl)onclo
no anno cl" 11U2 do nascimento do Christo. O citado a1Úor con-
sidera t:unbom apocryphos os docnmontos particulares,em vnlgar
pnhlicados, como antiquissimos, por antores pouco fided ignos
'ü1cs são: uns versos sobro a perda da Espanha (on poema da
CaYa), as trovas dos Fignoirodos (ou canção do Figueiral), duas
<>art~s a uma dama, do Egas 1\Ioniz Coelho, primo do aio de
D. Affonso Henri,J110s, os versos de Gonçalo Hermigucz a Ou -
roana. ,Não duvidando, diz elle, do uso do hunia lingna na
Espanha naquollos tempos, e em tudo diversa da latina, não
posso reconhecer a genuidade destes documentos:--1. 0 • P or falta
de provas da sua antiguidade, sondo huns produzidos p or L ei-

~
í§jpmL
~ lblloteca Pública Benedito Lelt~
A LINGUA 'PORTUGU'EZA G3

tão (do Andradn, Misrellnnen). no moio do Jrnma novolla, 0m flUP


a~é põe 11a boca das suas fabulozas personagens ·h um soneto do
Camões: outros são referidos por Brito, cuja fé he nonhnma
(Frei Bernardo de Brito, na ,)IJonarcltict Lusitana. e na Chronir:a
rle Cistér). 2. 0 Porque as palavras, que nelles se einpregão, todas
do diversas idades da nossa lín gua, formando huru todo affecta-
do, parece ser mais obra de hum artificio estudado. 3 °. As
cartas do Egas 1'loniz Coelho, e a de Gonçalo Ermiguez, tão
visinhas em tempo a outros docum entos vulgares, verdadeiros,
comtndo se distinguem tanto em barbaridades que até nisso
rnostrão a sua affectação» . ·
O sr. Theop hilo Braga acredita na authenticidade desses
docum entos, mas confirma que a esto respeito Bernardo de Brito
" Leitão referem ~circumstancias romanescas, fictícias:&, qual a
de ser autor das duas ca rtas ou canções Egas Moniz Coelho,
'}no não consta ter sido trovador, e ad mite que nellas pódo lrn-
ver «anachronismo na ling-uagonu>, por terom andado essas -tro-
vas orn versões oraes, oscript.a s cm époe.as rnnit0 posteriores ao
tornpo om que forão e mposta.s. Pcíd~·rn, pois, ter valor, ·001110
rl ocnmentos para a historia !iteraria, mas não o têm como docn-
lll onto,: ling-11isticos on reliqnias da lin guagem portngneim, nos
tempos primitivos (Vid. Theophilo Braga, Epopéas i/11 rnr:ri
mo.~11mbl', cap. 4. 0 , in fin e. Trornrlorr.~ r1alrl'io-porh1r,11ezes, <'nps.
2. 0 o 7.°, o Kotas do Cm1rio11Pi1·0 Povutar; J ose Maria <lo An-
<lrad r Ferreira, G11rso d,: litemt11ra porlur,ueza, cap. 5.º).
. 8.-Doc. D. 4,,: « ... qui lrnn c cartam donationis, ot fir-
mit111!i1âs irrumpero tcmptaverit s it maledictus, et confnsns».
. Doe. n. 52 : q: • •• facio cartarn donationis, et perpetuo fir-
n11.f11dinis . .. ,1.
Does. ns. <l2 o G3 : «Aquesta est carta de ven1liciom, ot,
dn perduravil finnitloem,,.
. 8.-Alguns, como \1 arius Victorinus, exceptuávão tarnbem
1 e 11 consoante (v), portam bom sere m labiaos, e escrevião: ro111-
f1·1 ·t, <'Olnfimrlit, imf"ert, ú11ficit, etc. A mudança de 111 ern n fazia-
se principalmente antes de d, t. e e rz. Prisciauo, I, B8.
10.-0s espanhoos usão sompra do n, ainda quando corrf1l'l·
Pondo a um m lati110, con, qufrn, c,wn, ttJn, wm, quem, tam, qu a111 1
0
nos nomes bíblicos Aclan, Abrnhn11, Belen, J erusnlen. ,, Tam ca-
roaveis são os castelh anos do sou n, diz Duarte Nunes de Leão,
q'.ie as dições latin as que se acabão em m pronuncião com 11, e
dizem m1~san, femplun, dominun,, l Ori_q ela lúi_q. port.. cap. 22).
11.-No cap . 14: -«Eu digo que é necessario (o ti l) todas
as vezos qne, despois de vogal em huã mesma syllaba, escrevo-
lllos m ou n, o mnito mais sobre os ditõgos». No cap. 19: ,,Qne-

' " - - - - - - - - - - - - - - : : : - - - - - J·' - - - - - - - - - - 1


~
1R1PIB3L
Biblioteca PúblJca Benedito Le ite
A · LINGU-k PO&'fUGUEZA,

i,emos, -aqui repetir qnãto ho necessaria esta letra on sinal t.il


para os ditõgos, porque se em cidadão e escrivão e outros desta .
voz e outras escreve mos m ou n no meyo dirá vilamo ou vilaoo:
e se no cabo fica sobre a letra o somête, que é a derradeira: e
so fossem morderia a voz e apertala.ía ant.r'os beyços, e o n não
é nosso, porque a nossa lingua é muito chea, o ll corta muito:
somos contrarios a esta letra n, como diz Quintiliauo dos la-
tinos: e é propria aos castelhanos, como elle diz dos gregos».
E usa do til, não só na syllaba final, mas em qualquer syllaba
nasal. « Vemos e sentimos cõ as orelhas ij_ soa ali hú til sobre
ambas as letras vogacs do ditongo: o qual cõ a boca o boyços
mui soltos tãbê soa na mesma forma om todas as syllabas em
cuios cabos nós escrAvomos m ou n enviando cõ o costume:
porq as letras mudas do cujo num ero são m e n ãtre uós nií ca
dão fim a <lição alg1ia nê syllaba: o isto a esporiencia e proprie
dade das nossas vogaes no-lo ,· sinão: e por tãto não escrevemos
ensinar cõ n na primeira syllabauem embargar cõ m a imitação
dos latinos, poys nos taes lugares -ãtre nós não sentimos essas
letras: mas nessas e outras muitas partes escrevamos til» .
Este modo de escrever as syllabas JJasaes, no principio e no
meio das palavras, foi por muito tempo usado, ainda quf' irrf' -
gnlarmente, escrevendo-se. ora com til , ora com m on n.
1"2.-0uarto Nnnes Je Leão, Orfng., cap. dos Ditongos:
« ... alguns, qne se não prcz:wão do maos portngnezes, vi er-
rar, e embaraçar-se no form ar dos plnraos <lestos 11 omes, cujos
s_ingul(l.res se acahão cm río, o h,;s dizmn villões, o ontros villãos,
ridadõ1's, allemõe.~, etc.».
13.-Prisciano, I, 38: m obscmwm hi e:rlremitale rliclionum
.~onat, ul femplum: rrpertwn in 1wincipio, ut t1111,g11us: mcrliocre 'in
mediis, ut mulmt,>.
Quintiliano, IX, 4 39: Eadem üla Htera (m), quotfoi.rnlfima
est et vocµ lem 1:erbi sequenlis itos contingit, ut in eam fmn.~fre, po.~-
sit etiamsi seri/Jitur, tamen pannn exprirnitur, ut multum ille;, et
«quantum ernl aileo ut prenP cujusilam novx literre sonum rerlclat».
Pode-se dizer que o nosso til faz o officjo dessa nova letra,
que Quin tiliano entrevia no som do m, posto no meio do duas
vogaes, nasalisando a precedente, sem ferir a seguinte, e assim
i:i:ermittindo a juncção das duas em uma só syllaba.
14.-Ecloga do Encaidamento, Obrns, J ." ed, p. 135.
15.-0rtog., 3." parte, regra 10, Grain., n. 171 :- •Nl:'m
pareça a algnns singular ebta minha opiniam, pois he do pa-
dre Antonio Veloz, no seu Commento \ da Arte, do padre ~Ia,
noel Alvares ). o se guarda nas impressões da Arte mays cor-
r ctal'!: ·o var,it>S pnitissirnos 111\ lingna m,at,e rna, assistindo a,

Biblioteca PUbllca Benedito Leite


A LINGUA PORrUGUEZA 65

suas iinpressões, a praticáram, quays sam os padres J oaiu de


~ucena, Balthazar Telles e Manool Montoyro, o ·ambom de va-
rias outros insign es nas letras humanas que consultei».
lG.-Carta 1."', ps. 2,j e seguinte. Nesta, o nas mais cita-
ç?es que fiz emos de Verney, prescindimos do que ha de mais
s111gular e desusado Ha sua orthographia.
17.-Compendio ele orthograpkifl, § XXXIV.
. 18.-llfetliodo Grarmnati:cnl, prologo: -dsto os gregos e os
latrnos o fiz erom a quem, se nesta traça imitarmos, uão nos
admiraremos tanto de suas copiosas linguas . quanto louvaremos
~eus artificiosos ingenhos; assina invenção do palavras para a
unmensidade de causas, como no de&vio da confusão de muitas;
0 qual tambem c,rdenei, uestas vozes portuguezas, amarão,
amárom, amaram: porque responrler a tres tempos tam disti11-
ctos cõ amarão he tam notavel confusão como· a dos -c11sos se-
rem todos semelhantes em cada numero, a que não sinto Loru
rern edio:,;.
HJ. - Ortlwgraphia, ns. 15U, 1G2 o 240.
20. -Borges Carneiro preferia está orthographia -e dolla
usava; mas tolerava a outra. • Escre vem alguns, diz clle; por am
n?s _tempos dos verbos em que é breve, como em amam, anuíram;
drstmg uindo-a assim de todos os mais casos, nos quaos é longa.
Portanto, e por ser isso coufonu e á anLiguidadt•, parece não <l e-
v_or-se reprovar esta escritura ,,. Orthog., § 17. .
21. -Vê-se, ora um a, ora outra, dessas duas graphia s, nas
obras de Antonio F eliciano de Castilho, q11e, como é sabido, não
OS_?revia por sua mão, pois foi cego desde a -puerícia. O sou ir-
iuao José Feliciano era propugnador do am. ( Ortltog. port ., 4 ....
P~rte, art. XI, ~ 8. º). 1\' justa observação de Constancio, que se
uao devem figurar por vogal e consoante dois sons vogaes, res-
ponde que «o chamado diphthongo ão muito se approxima do
som an, que, embora, pela pobreza dos sons elementares, ·se es-
creva com duns letras, representa um soar tão unico que é
possivel prolongar a voz, ouvindo-se distin cta111e11te os chama-
dos dois elementos de que se compõe• . A n ou ã é o primeiro
e!einento de ão, vogal simples, que se pronun cía co111 resouau-
c1a nas fossas nasaes, pelo abaixamento do véo palatiuo; não tem
dois elementos, o -m ou. til i,;ó indica essa modificação rrú sorn uuico
da vogal; por isso, póde este sou1 ser prolongado. O de ão não o
Póde ser, porque nenhum ditougo se póde proferir prolongacla-
monte, «ouvindo-se os dois elemonto~ do que se compÕP• . Pare-
ceria, polo trecho t,ranscripto, qnc o antor dá a tars tormina-
çõos o som simples do ã: ,nas , logo depois, rospondondo á oujec-
çã.o de que essa g raphia «uão doixará. meio de dis~iug uir as

~
i
ffiPIBOC, 1
Blblioteca Pübllca Benedito Leite
66 A LINGUA PORTUGUEZA

desinencias-que soarem ão daquellas que soarem ain,,, diz que,


«na,:orthographia rigorosamente otymologica, uma só palavra
não existo, em lingua portuguoza, que soo a111, e deva <1scrovor-so
00111 am (escreve-as com an); o, cousogui11tc111cnte, 11ft0 ha pos-
sibilidade dessa co nfusão, pois 011do so achar o íiual am fica sa-
bido ser ão breve:&.
Reprova a accentuação na desinenoia do futuro, p orquo
•se daria a mostruosidado de collooar sobro a mesma letra
dois signaes, til e acoento~. Se não fôra supor11uidado tal acco11-
tuação, podia-se, nessa desinencia, cortar o til corn um acconto
agudo, sem que houvesse nisso monstrnosidade. No grego, põem-
so dois siguaos sobre a mesma vogal, o do acconto touito e 0
da aspiração; e a que leva o accento circumflexo, igual ao nosso
til, e o da aspiração, que é uma pequena virgula, fica mais so-
brecarregada do que ficaria o a com o t.il e um traço que o cor-
tasse. E, nesse caso, ao menos nos typos no imprornsa, podia o
til tomar a sua fórma primitiva, uma linha direita, sobre a qual
poria o accento.
22.- «A doficiencia dos antigos caracteres, diz i\foraos, foi
tambem causa da errada desinoncia am, porquanto, sendo os-
traugeiros os primeiros typographos que trabalhárão 0111 Por-
tugal e igualrnoJJte ostraugeiros os typos do impressão de <1ue
se sorvião, e uão havendo nestes o a com til, foi preciso conver-
ter o diphthougo ão m anrn.
«Forão os editores, assim do escriptos antigos como do
contemporaueos. qno assoalhárão esse mau vezo ; forão, sin1,
clles que publicarão, 11 estes nltimos te1upos. os escriptos dos me-
lhores rnodêlos do puríssimo portuguez, a.g1,itados á sua gra-
phia ... Os assoalhadores doam têm por si as folhas diarias,
que todas proscrevêrão completamente o diphthongo ão com
valor grave. No córo da imprensa, assim brasileira, como por-
., . a unica voz dissonante é a do velho Jornal do Cummer -
tu()'ueza.
cio. Todas as mais se afinárão pelo diapasão moderno ..• A
iuexoravel orthographüt da casa metto em uma só forma todos
os escriptos, venhão de onde vierem. Tud0 é orthographado
do mesmo modo nas folhas diarias, o esse 1110do é o dos reviso-
res, não o dos r<idactores•. (Questiuncnla1, ila língua portugucza,
polo dr. Augusto de Castro, 188U).
Diz o dr. Antonio Joaquim de Macedo Soares, 110 seu Di-
cionario braz1,leiro ,l,, lingua purtugueza: -,O autor deste diccio-
11ario, engodado pelo gc11io de Garrett, que não escrevia de
outra maneira, j~i usou desta esturdice; 111as confessa qne errou,
pois o am não repru::;enta o sow elo ão, nem está de acõrdo com
11, utymol~gia.,.

~
BJMBOC.
Biblioteca Pública Benedito Lelt~
.A tíNGUA POR.'ttrGtJEZA

23.-Verdade'iro methodo de estudar, pags. 25 e 27.


24.-Vocabulario de nomes proprios, p. W.
25.-Antídoto, caps. XIII e XI V, concluiu o prologo colll
as seguintes palavras motejadoras, cm que accumulou vocabu-
los om ão:-«Julgando tu, leitor amigo, que o ão é joia digna
de grande estimação e do perpetua conservação, ganharei eu
be!n grande satisfação, em que o logres, perpetua e mui tran -
qmllamente, não :,;ó com grande, mas com universal approvação
ó deleitação».
26.-A linguct vortugueza, 11. 164.
27.-Suetonio, CJaud., XLI, Quint., 1, 7. Essas novas le-
t:as representavão a vogal y ou o som mixto de i e u e as ar-
t1culacões v e ps.
28.-Tinha escripto pouco antes: «Do bemaventurado Sam
Jeronymo lemos que, ardendo em desejos de saber as lingnas
liebrea e Syra, tantas dificuldades achava na pronunciação de
alguãs vozes e letras dellas, como natural de Dalmacia, que
era, que, com dese&peração de as tomar, determinou tornar-se
do caminho, e deixar o que começava, e lhe conveo cerrar os
doutos para pronunciar alguãs letras,,.
2'!J.-Origem da ling. port., cap. XXfII. ·
30.-Ortog., 3.ª parte, regra 1.0.", Gram., 11. 171.
31.-Ortographiaport., 4." parte, art. XI,§ 1. 0 •
32.-Viagem em Portugal, t. 2, 46.

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1 ÍB31PBL,
Blblioleca Pübllca Benedito Leite
TITULO II
INTRODUCÇ ÃO

Dos accentos
Accento, de can,Yre , rzuasi adcantus, trnd ucção latina d o
termo greg o prosõdía (1),cons oante a sig ni fi caçii o qu e lh e d :1-
vão osgrammaticos antigos, no sentido m:ii s lato, compre-
hende todas as modalidades da voz na pronuncia d.is
palavras. de que resultão a clareza e a harmonia d o di~-
curso. Essas modalidades s;io: a 1meryui e.rpiratoria , a d11-
1'1u:rio, a i1ite11sidadr. e a quriliclade do som; em outros te r-
m os, o espirita ou aspiração, a quantidade, o tom e o timbre
(2).
O m esmo nome se d:i ás notar;ões prosodfrris ou 1:;?°gnn,,.~
0 rthogmplifros
que ind icã o esses vari as m o dos da pro la-
ção do som (3),

Notas á introclucção do titulo II

1.-Como este livro não foi eseripto para os doutos , as


Palavras gregas vão impressa8 com letras latinas, e e o lon•
gos_ (éta o omega), com typo mais grosso, indicada a aspi-
raçao com h, como se faz .no latim .
2.-Falar com accento significava, como 1hoje se diz, fa·
lar correctamente! Um gramniatico (Sorg io) dava esta defini-

~
1 ÍB31PBL,
Blblioleca Pübllca Benedito Leite
A LINGUA PORTUGUEZA

ção:-Accentus proprie IJ.llalitas syllaliaruin est, hoe est inr1frimn


temporis syllabarmn, naturam vosüioneml)_ue s(qnificans. Outro
(Cassiodoro) a seguinte : Accentus est vitio careni; ai·t:ificios(I,
pronuntiatio. Assim, :falavão de accentus acutus, _qravis, cir-
cuinff,exus (tom, accento tonico ), de accentus productus, cor-
reptus, ou longus, brevis (qnant.idade), do accentus lenis e as-
11iratus (espirito). Vide Seelm ann, Aussprache: Accent., II, l.º.
3.-No latim, uão usavão os antigos de accentos ortho-
graphicos, a não ser talvez em algumas edições de lnxo,
das quaes nenhum exemplar existe: o acceuto grave o o cir-
cumflexo, usados modernamente, só têm por fim distinguir
palavras ou casos, como ophmi!, adverbio, o optúne, vocativo
de optimus, terra o terrâ (ablativo, cm que é longo o a). No
grego, desde a antiguidade, notão-se com s ignaes o aeccn-
to tonico e a aspiração, indi cada a quantidade nas vogaes e
o o, cm que mais varia, por lct,ra9 dif-forentcs.
11.Tr, '- nova s lín guas, de origem latina, esses aceentos sPr-
vem para notar a iuteusidade e a qualidade do som, o ar-
eento tonico e o timbre das vogaes; mas não são nsados cm
todas do mesmo modo. O francez indica o som fechado com
o accento agudo, e o som aberto com o accoJ1to gravo o o
circurnflexo; assim tambe m o italiano, excepto no e final, om
que o aceento grave tem o valor do agudo; o espanhol só
emprega o accento agudo, sempre indicando o som fechado.
No portuguez, houve in certezas; prcsoptcmentc, usa-se do
agudo para o som aborto e do circnmfloxo para o fechado.
Caiu cm desuso o gravo, não obstante prcJ'eril-o Moracs
para o som fechado, reprovando o circmntloxo. por 11ão ha-
ver no portnguez o acccnto prosodico assim chamado, po.
<lendo esse nome o signal fazer suppôr que o ternos, equi-
voco este cm que offcctivameute incorrêrão alguus gramma-
ticos uossos, como veremos. O grammatico brasileiro José
Alexandre Passos (Dice. gram.) propôz o emprego do acconto
grave para o som nasal, que no Brasil sempre se pronuncia
fechado '. fàmulo, ephemero, autómato); varies autores portn-
guozes o emprogão para indicar o accento prosodico s0ctm-
dario e as vogaes átonas . sonoras, que om Portugal se pro-
nuncião com som aberto .(república, veclor, (reguezia, cúrado,
etc.).
Para a acceutuação graphica, assim como em geral
para a orthographia, não ha no portuguez um systoma as-
sentado e seguido por todos : o mais commum é sómente
pôr accento em vogal tonica final; em tonica penultima das
terminações ea, eo, oa, oo, oe (boléa, bolêa, lebréo, l1ebr~o,

Biblioteca Pública Benedito Leite


A LINGUA PORTUGUEZ A 71
leôa, eiij õo, lteróe), para disting nir palavras homonymaR (séde,
sêde, bésta, bêsfa, césto, pócle, pócle: soe, sôe), na !syllaba to-
ni~a Recnndaria do algumas palavras compostas (mórrlomo,
117:ormente, sómente, etc.) e, ás vezes, para evitar erro ou du-
vida sobre a posição do accento tooico, especialmente em
P~lavras de origem grega, não vulgarisadas. Tem-se enten -
dido que não convem multiplicar os accentos, como disse
Duarte Nunes de L eão , «-por não trazermos á nossa lin-
gu~ o trabalho da lín gua grnga» e «porque não ser virão de
111 a1s qno de causar con fusão á gente vulgar, o fazer cair
0 111 erro OR '}ue os quizerem imitar, não o sabendo per art,e;).
\ Orto,q., letrn o, e Dos accentos). Actualmente, em Portugal,
procura-Re ampliar o uso dos accentos, a bem da pronuncia;
e o douto philologo Aniceto Gonçalves Viana publicou, em
1894, uma Proposta para a fixação ela acentuação ,qrr\fica
JJM·lugueza, q,10 es tá s,.mdo acccita . Mas, quanto á qualidadA
do som, a pronun cia , em Portugal, é differentP da 11 oilsa,
corno adiante diremos. Compete á Academia Brasileira de L e-
u:ns, qnando se jnlgar para isso co m autoridade bastante, dcci-
fl rr Ro co11vom acceitar a accontuação graphica dos portugue-
zcs, procnrando a gente culta co nform ar com ell a a pronuncia ;
º11 • co11ti11uarmos a não pór acceuto senão nos casos 0 111 que
ho.1e commu monto se põe; on, finalmente, adopt.arm os differeute
acco11tuaçiio, co nfo rm e :í nossa pronuncia. O n, elhor fôra, a
Snt· pass ivei, qno a 11ORsa Ac:vlemia chegasse a um acco rdo
con1 a diJ Lisuoa sob ro a orthographia, para ']H O so não os-
crov:i a lín gua dive rsamente, na Europa e 11a Am arica.

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.IB3JPÍB3JL
~lblloteca PUbllca Benedito Lei:.
A LI~GUA POR'fUGUEZA 73

CAPITULO I

Aspiração e quantidade

Na pronuncia portug ueza, não ha espirito ou aspira-


ção, a não ser em ::ilg umas interjeições, méros g ritos de
~1ffecto vivo ou subita impressão, que, em todas as 1in-
g uas, naturalmente se emittem com mais ou menos ener-
gia expiratoria.
A quantidade foi completa mente supplantada pelo tom
ou accento , em sentido restricto, o icto, que os grammati-
cos modernos denominão ge ralmente, com propriedade,
accento tonico·.
O que escreverão em contrario Jerony mo Soares
Barbosa e outros procede d_a confusão de quantidade, isto é,
valor ou duração das vogaes, pronunciadas em um ou
dois tempos (mora tempus):-1. 0 com o ac,;ento tonico ou a
intensidade do som; 2.º com o timbre ou a qualidade do som
aberto, fecliado, surdo, nasal; 3. com a extensão da syllaba
0

por articulações, sem effeito sobre a vogal, ou por juncção


de duas vogaes na mesma syllaba, formando ditong o.
Temos syllabas, umas mais extensas ou longas do q uc
outras, mas não vogaes breves e longas . E era á dura ção
breve ou longa da vogal que os antigos chamavão quanti-
dade. Duas ou mais articulações, antes da vogal, não fa.
zião longa a syllaba (imprübus, strepitus), e a reg ra da vo-
gal breve, considerada longa pela posição, isto é, por es-
Jar antes de duas consoantes, era um artificio ou con-
venção dos poetas, por conveniencia da metrific:-i çã o (1) .
. A quantidade das vogaes, no g rego e no fatim, não
sómente regulava a me trificação , mas ainda era muito
importante para a rec ta pronuncia, quer na declamação
oratoria, que r no falar commum: e bastava a errada

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i
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Blblioteca Pübllca Benedito Leite
A tiNGÚA PORTUGUEZÁ

quantidade de uma vogal para denunciar o estrangeiro.


Assim, os afri canos pronunciávão R oma, orãtor , em vez
de R oma, õrator; e era igual barbarismo pronunciar, por
exemplo, rõsa, em ve:t de ,·/Jsci, E mais offendia os ou-
vidos o erro de quantidade, porque á duração da vogal
andava ligada a qualidade do som: a breve tinha som
aberto; a longa, fechado (2). Pronunciava-se, pois, rósa e
ôoráttor, Rôoma.
Na nossa ling ua, as vogaes são pronunciadas sem-
pre do mesmo modo, em um só tempo. Salvo o caso
accidental de emphase ou alongamento artificial, (a que
tambem chamão accento emphatico ou orator-io), só têm a
differença da accentua_ção e do timbre. Este não é effeito
da quantidade, nem corresponde; sempre ao das palaYras
latinas. Dizemos, por exemplo, povo, globo, fogo, jogo,
novo, Deus, meu, medo, preço, Pedro, de püpulos, globus, Jo·
cus, jogus, nõvus, Deus mifus, metus, pretiuni, Petrns, que ti-
nhão breves o o e o e, com som aberto,
A extensão da syllaba, por articulações ou por di-
tongo, não tem, no portuguez, importancia alg uma, pois
não altera o valor dos sons na pronuncia, nem inflúe na
medida, dos versos, que se rege m .sómente peló nu-
mero, pela accentuação das syllabas e por determinadas
cesuras ou cadencias: tanto vale, na versifi cação, uma
syllaba de uma só vogal, como a de um ditongo, e a
articulada com uma, duas ou tres consoant~s.
As vozes contractas tam bem não ~e pronunci ão cm
dois tempos; a contracção é indicada simplesmente pelo
accento. Os antigos as escrevião com vogal dobrada , e
é possível que as pronunciasse m longas, com duplo so m;
mas, antes do meado do seculo XVI, quando se escre-
veu a primeira tentativa de grammatica portugueza, já
duas vogaes represe ntavão uma só voz. Assim o attesta
o autor dessa grammatica :-«Muitos, em lugar destas
vogae~ grande s, escrevem duas, conto quer que a voz não
~eqa mais iue /lüa,; (3), ;

Biblioteca Pública Benedito Leite


A l.lNí.UA !'OH.T I í.UEZA 75

Ha, todaYia, urna vogal que, em certos casos, é pro-


nunciada em portuguez com som dupl o, e então pó de
ser considerada longa: é o i, entre vo~aes óu nas ter-
minações nominaes e verbaes em io, ia, accentuadas.

NOTAS DO CAP. I

1- St:elmann, A11.'iSp1·achr des lntef11, Yocfllqurintifiit, in fi11e


. 2.-S_eelmann, Vocalquant1tiit, n. 4.
3.-Fernão de Oliveira, cap. VITI.
A LINGUA PORTUGUEZA rn


CAl'ITlJ LO I l

Accento tonico

Nas palavras de duas, ou mais syllabas, ha sempre


uma que predomina, que attrae e liga as outras, dando
unidade e harmonia ao vocabulo. Esta syllaba pronuncia-
se com mais força e clareza; e esse tom mais intenso e
claro é que se denomina accento touico ( toiny, tenor). Um
grammatico chamou-lhe centro rll' gravidade ( 1 ) , e outro-
alma da palavra -· anima voeis ( 2 ) •
No grego, o accento ( tónos ou prosõdta ) punha-se na
ultima, na penultima ou na antepenultima syilaba. No la-
tim, punha-se na penultima ou na antepenultima.
Na língua portugueza , e em outras tamheh1 filhas da la-
tina, o accento tem ;is tres posiç ões do g rego. Isto explica-
se facilmente. Na transformação das palavras latinas, a
syllaba accentuada foi a que sempre resistiu, por ser mais
firme e forte , e a que se lhe se.,;- ui .1, por ser fraca e surda ,
em muitos vocabulos, caíu , fi ca ndo como final e accentua-
da: amor, i:aloi-, etc., de a1110,·em, ('(l{orem, etc.: animal, lrilm-
nal, de cmimalem, trilmnalem: amar, mocer, t·estir. de amart!,
1iwverc, vestire. r\. semP-lhan ça desses, foràu outros forma-
dos ou recebidos de outras ling u:1s.
Os grammaticos g regr·~ deno min.ív ão o.cutouos (o.--r.·ft.~. a-
g udo ) ns vocabulos que tinh ão o a.:ce\Jto agudo na ultima
syllaba, paro:rytonos os que o tinl1 iio na penu!tima , e JJ!'OJia·
rox ytonos os cpte o tinh ão na antepenultima. Ch:un:n- ão-se
l1a1·!/tono~ tod os os que n:10 tinli ão accento na ultim a syll a-
ba, nos tiuaes , po r is.;0 .•1 ts:rminação fi ca va gm ve -bargs (3).
O:c: nossos moderno s g rammati cos te:!111 adoptad o estag
denominações. Os antigos usa vão dos termos latinos- pa-
lavra-; agudas, graves e dactylicas; e a ~stas chamavão tam-

Biblioteca Públlca Benedito Leite


A LINGU.A 1:'0RTUGUEZA

bem esdruxulas, do italiano sdríwcioto, escorregadio, verso


que termina por pala " ra accentuada, na antepenultima
syllaba.
Todas as palavras portug·uezas terminào por vogal olt
por uma destas consoantes-m, n, v, s, e x , z, com valor de
s, excepto em algumas palavras, que conservào a prouuh-
. eia latina, como úorax, tlwrax, silex. As que acabão noutras
consoantes são vocabulos estranhos, adoptado:. moderada -
mentt: -almano.ch,- club, talud, azimntlt, zenitlt, etc .
A grande maioria dellas tem o accento na pe11ultir\.1a
syllaba. Muitas, porém, acabada!S em vogal forte, de som
aberto ou fechado \ú, é, ê, ó, ô, . ou, i, !J, u), em som n:lsal,
em ditongo ou em consoante, tên'I o accento na ultima
syllaba; e não poucas o têm na amepenultin1a, com as
duas ultimas ·syllabas tão obscuras que, no verso, equiva-
lem á syllaba surda, em que terminão as palavras graves;
obscuridade que sobretudo se produz na im media ta ao ac-
cento, pelo que na pronuncia popular muitas vezes desap-
parece, ou se supprime, no meio db verso (4).
A reg ra geral é, pois, o accento na penultih1a syl-
laba, como no latim; mas ha numeros:ls excepções
A pronunda dos oxytonos terminados em o, a, e
nunca é duvidosa, porque são sempre notados 11a ul-
tima syllaba com signal orthographico. Os terminados
por i ou tt · nem sempre o são, por snppàr-se entendido
que esgas terminações são naturalmente accentuadàs. Ha,
porém, excepções. ·
Dos nomes acabados por i , têm o accento na pe-
nultima os que se usão com terminação latina ou ib-
liana-lj_uasi, espennareti, gemüii, lal·rimachri:sti, palmrtchrist'i,
máp]J'i-mwuli, lap,:Slazuli; os ciceroni, dilettànti:, lazzrironi, vir-
tuosi; os gregos em pâli -metropoli, ,h:cli·inopol'i, que ta'in-
bem se ter'minão por 11; alg uns :'lsiatkos ou afri'canos -
m,ihamidi, álcali, lts-~11 m r -candi, Ciídi, képi, Ji1atítâ, nadacànni,
nasánrni, rabloni, spúhi, ou sipúhi, e os iuglezes em 11-Jw·y
penny, po1111, tilbur-y.

~
J83JPJ83JL
Biblioteca PUbllca Benedito Leite
A LINGUA l'ORTUGUEZA 7fJ

Dos acabado,; em u, somente se exceµtúa tribit l6).


Dos tertninados em ã ou ctn, or/"ci. E1i1 ímcm, a ter-
mina ção não é de ii nasa l: soa o n ; e al g uns, como .\la-
dureira . e Fran :isco José l"reire, dizem imiin (7 ). Em
doluum, veste militar, o n tambe m soa.
Em-os provenientes de nomes latinos da 3." d e-
cl111açào: áclem (8;, homem, ordem, utu:eni, oirge,n e os que
tê m a desi11e11ci I l!!Jcm, -iyem, uyem - i11tagr111, / itlige11t, /err//,·
yem, te. (d e t.i11 ,t "" , lwmine1n, onlinellt, n11bcin, vir:1i1M11t, imagi..
nem, fi.tligin em, /árnuimen. etc. ;; algu us de orige m :.irabica
-Adem, Cár:e11t, ,·ilia d e Purtug-al, girúl11cudte11t, o prono -
me outrem Lele alien1mj, o ad vel"bio, lumtem, de antedium,
Diez, Dic. ); e Jitl"te11,, ou Jitrtc, lat. f:1 rl1tm, de /arcirc ( rn ).
En -joven, q ui.: assim se escreve gera lm ente , mas dt! -
vê ra esc réver-se jovem, como pedem a pronuncia, na qual
uão soa o n ( jove ) e a etymologia, dejuv ( en ) em ( u ).
,\ de,inencia de abrló11ten, al1imen, certâmen, ,,erítnien, rU-
cti'tmen, yériwm, glul,:n, líchen, ient:ímeu, velamen, dólmen, póllen,
regímen não é eqtlivalente a simples e nasal, poi s o ll se
prununcía com o som que lh e é proprio. Os antigos diziào
certame, 1lfrta 111 e, yen1w, i·egime ( 12 ), etc., e ainda hoje assim
se pó de escrever, sob retudo no ,·uso; mas a lgui1s ddles,
<.:L,mo aúclómen, alúmeu, yluten, frdteu, pól/en, devem ter o n,
por serem ter:nos scientificos, tomados ao latim, sem al .
tc raçà o da fó rm a. Dolmen hão é latino: tem origem celtica.
Escorwe11s , vocabu lo marítim o. ( de origem de sconhecida:
esp. escoúén, fr. écubier; analog" ao termo ing lez scupper, que
te m significação approxunada), é pronunciad,) po r uns·
com a ultima sylLba átona {ou ei;couves ), por outros co mo
oxytono (escouvé11s\.
No no me hcbdlco Eclen, jardim. soa o II final, e pro-
nuncia-se com o :1ccento ]:Hino , na pri 'm eira sy llaba ( , :;).
Amen, tam be m paljvra hebrai ca, por alg1i'i1s é pró üuuL i:td :1
com acct!ntua .,:à0 latina, soa ndo o n, 1i1mm; 111as g t::ralnH.: ute:
amém \ e·i ), iiirtên~ .

~
L
JB3JM83JL
Bfblloteca Pública Benedito Leite
80 A LINGUA- 1-'0 RTUG.UEZA

Ão-tem o accento na penultima: cóvão, de pescar


fi'tngão. lótlão, órfão, órgão, orégão, médão, râmío, (latinos, c•-
pkinus, fiinguin, loton, orpltanwn, organwn, origanwn, metamor-tt
pltonwn), a,ecorilão, do verbo accordar, golfão, do grego /,:ol-
pos, acc. kolpon, sarampão, (esp. sarampion, do hebr. saraph,
fogo ardente,segundo Bluteau), sótão, esp. sola.no, do arabe
sotalto, segundo frei João de Souza, zângão (esp. zángcmo-
ital. zúngano, do arabc za;igui, fr. J0ão de Souza, verbo 1:J't ga,
no ), Clwistovão, Estêvão, Pedr ogão, Sátão villas Je Portugal.
Tambem frángão, do arabe f'avruje, conforme João de Souza,
e moníngão, lat. ·moi·ttm, sem que se explique a desinen.
cia (14 ). B enção, antigamente, tinha o accento na ultima syl·
taba, de conformidade com a et)'.mologia - benedictionem, e
ainda querem alguns que assim se pronuncíe; mas a pro-
nuncia geral, acceita por quasi todos os grammaticos ele-
xicógraphos, accentúa a primeira syllaba. Ha quem opine
que, falando de benção da ig reja, se deve dizer, com ac-
cento na ultima syllaba -lm tçcio, benções. Não vemos razão
para isso; e fôra difficil. senã0 impossível, fazer que a
mesma palavra, com a mesm:.i significação, seja pror,unci-
ada de modo differente , num caso especial ( ,, ).
0n--nenhum; em rrí1wn, 1·úlo11, l'rú/011, etc., soa o n, assim
co mo nos nomes sa xonico s - . Ldilisou, /Jfilton, Newton. etc.
\ 16 ). Ulh ôn ou Olhão, <le Otho, Ot!t611em, não O'tlton . .
Um-nomes latinos - Al/Jwn, ,/esiilcrritum, ulti111alum.
Os que terminão p o r consoante, precedida d e qualquer
das vog:ies, siio oxytonos, excepto os acabad os c m s 011 :1:,
com valor d e .~, que si'10 to dos baryton ob; e os seg uintes,
Je origem latina, que de proparoxytonos passárão para o
portuguez, po r queJa de syllaha da t rminação, como pa-
roxytonos, ou que iorào tomad o s do nominativo, com a
mesma fórma e accentua çà o; e alg uns rece bidos do arabe
ou das modernas línguas sax onias.
Dos tcrminad c,s e m 11l, alguns nomes propri o s: Setühal,
Tenltígal, villa de Portuga l. Anníbal, ( 17 ), An71'Ílbal, Aclhér-
bal, Hiém,psal, Jlana stábal, T iiba l ( 18 ).
A · LINGUA PORTUG-UEZA 81

El- arrátel, IJétPl, ( 19 ), (r:rísel, cal.re, (mai -; u-:'.ldo, C/lll(/eB-


ilÍvel, móvP;l, S1h•el, Cn.~frrl, (nome de duas aldeia·s de Portugal);
os adje ctivos acahados em vel (á vel, hei, -ível, óvel, úvel ), a-
rnavel, úulelevel, sensível, í mniovel, solnvel, etc., excepto novél
( 20 ) e revél. Nível, hoje, pronuncia-se g eralmente com
accento na primeira syllaha, provavelm ente por influenci:1
dos adjectivos dessa termin:1ção; ma s a ,·erd:1deira pro.
nuncia, indi cada por :\'Jadureir:1, .\foraes e outros, é n-i11él,
como lfoél, olfoél, do lat. libella, fr. 11fre,an, it. li·vello, esp. ni-
·1>el (21 ). Hàlél, não hótel, comodizem alguns, é vocabul.o
fran ce z, e até os ing lezes, tão propensos a recuar o accen -
tn , pronuncião lwtél.
Nikel, p:1lavra de origem suéca, e Utnel, ingleza, são
usadas com esta accentuação. No fôro, prevalece u a pro-
11uncia erronea-ó1:el, er.1 vez de ,·fríl.
Jl-muitos adjectivos: ágil. hábil. aquátil, r·oitlrrírtil, por-
Mtil , viúrrilil, (ál'il, r/f bi:t, /IM1il, 1lff/iril. r/oâl, fossil, iiwhil, dú,:til,
incrmsirlil. nítúil. e tc. São uxytonos os que tê 111 ?° longo no
latim: neutíl, hostil, suhtíl, sexül . .\'Iuitos dizem : P;rectíl, fle..r:í1 •1'l,
pnyíl, pensíl, ·/(t{:ül, textil; mas deve·mos 'dizer, conform e a
prosodia latina: erétil, fléxil, p1ígil, pénsil, táctil, téxtil; e,' pelo
contrario-imbeál, (lat. 'im/,ecillis ou imbecillus), não imuéeil,
como dizem até lexicographos, talvez porque assim pro-
nuncião os espanhóes (ital. imbecílle). Esquecidos do g1·ac'ili,
morlulatus ave,ia, muitos dos novos escriptores dizem lfrrl·
r·íl, por imitação do francez, onde esse :idjectivo, cm vez
ele grêle, é tambem novíssimo; devemo s dizer yrrí.cil ( :1nt.
esp., grácil, ital., grácile) .
· R ej1tíl, de · repftlis, pronuncia-se com accento ria u J.
tima syllaba, ou por o termos recebido elo fran céz , o ú
por se usar substantivado e seguir a analogia dos sitb,;tan-
tivc,s dessa terminação, que todos são oxytonos: No esp. ·'
reptíl, ital. réttile, (22). E assim tambem prujecftl, palavra
nova-no esp. proyet-il. Ji'eininil, mulheril, senhorü, varonil,
tambem de nova formação, seguirão a analogia de viril;
e infa11til, (lnt. ú1fcmtiliB), a de )!1teril, :;k1:e11il 1 ~ st11il, Mercan
A Ll~ GUA l,U K.TUGUEZ A,

hl, como fn,liril, lat. fnl,r,ti.~ . pastoril, cnmo s1'11h,ni:t, ou


,çervil, d e servilis .
Ol e ul - cílcoot e cúnsul. E xul deve ter o accento na pri-
meira syllaba, como em latim; não na ultima, como te-
mos visto em alguns dc,s nossos poetas contemporaneos,
rimando c,>m azul.
Ar-latinos: -foipai·, nectar, Cesar, Ham ílcar; arabicos:-
ah-âçnr, a~jofar, ou aljofre, almíscai·, almo<'ávai·, cemiterio
dos mouros, ,ilmoronvar, pastor ( 23), fimhar, assiícar, 11rírar:
inglezes:-rlõllar, liígai·, de lugger; neníiphar, ou nenúfar, do
persico nonfar, linoftfer, Littré, Dic. ( 24 :,; Gibraltár, comú
pronuncião os espanhoe'>. ( Gibráltar, como Jit.em alguns, e
accentuação ingleza ( 25 ). Tambem Trafalgríi·, mas San Lii-
1:ar, e alguns nomes geographicos espanh oes: -Almoilín;ar,
Almwlébar, Béjar, H fjar, Menjíbar, Monóvar, e apellidos de fa-
milia, como Bulivar. Dize m alg uns E 'd_qar, O'srar; mas é ·
mais usada a pronuncia Eãegái ·, Osr.ár, como nos outros no-
mes desta te rrnina çãc -Boltltazár; Gaspái·, et_c .
E·r - latino: - radárer, canícfrr, rathéte:·. rlura.-1111.itei·, pia.
mólPr, éthe1·, vrorer, i·ânr,1:(ei·, .~í[ei·. s1ihí11cte1·, dr,npi·, 111:1s hnllér
urethé;·_. haltéres, 11rethére.~, co mo cly~lér, do g rego, por intPr-
medio do francez; l 1ípite,·, M?ilâber, ou JJfuldbei·, Demídei·,
, :ân.ccr, Vésper, Aidípnter, Nige,·, etc. Alguns nomes saxo-
nios:- ô1ter, 1·,•111Jrter, ,·evolver, '.rp1akeri stathonder, tênder. fat e
ultimo-carro de carvão, e mmastrado de ferro-jü se pro-
nuncía em Portugal como oxytono -teu 1ér, pois assim o d:í
um diccionari •, recentemente impresso e m Lisboa. Alcâ -
cm·, Tânger, ou Alracere, Ta119ere, Férrer ( S. Vicente \: mas
r:-naltéi-, ou Gualterio, .4.ltér, Saltér, Sa?ltandér, Cislét, ( 29 )·
Tambem Rel?!erlér, do italiano B elvedêre, i, 27 ). Os nom es
proprios e geographicos das nações do norte -Sclúllm·,
1Viígner, Ché.~fer, Lan,·ríste1·, Hanóver ( 28 ). ·
Ir, or e ur - martyr, cremo1·, j1í11ior, .çê11io1·, só1·or, fêmur,
sulfor. Victór temos ouvido pronunciar ge ralmente Yitor,
como tambem pronuncião os espanhóes ( 29 ), e o nosso
autorisado g-rammatic;o João Ribeiro maneia nccentuar as•

Biblioteca PUbtiea Benedito Leite


A LINGUA PORTUGUEZA 83

'
sim. Outros, porém. como Madureira e frei Luiz do Mon-
te Carmello, q u~rem que se diga Victor; e é certo que os
nomes latinos em or, õrio, quer communs, quer proprios,
têm no portuguez o acc.:ento na ultima syllaba, e até os no-
mes gregos que tinhão no latim o incremento breve;como
castôr, H eitôr, Nestô1·, etc. ( Castôr, caston, Hector, H ect/Jrio
N'estor, Nest/Jris, etc. (30 ).
« Victór, com accento agudo no o, diz Madureira, é
termo de que se usa nas acclamações de algum bom suc-
cesso, ou vencimtnto. Victü>, carregando no o, com ac-
cento circumflexo, é nome proprio de homem, e de S.
Victôr, que alguns erradamente prouuncião, e escrevem S.
Víctor, com o accento agudo no i, e grave no o>.
Os vocabulos terminados em vogal surda são accentua-
dos na penultima ou na antepenultima syllaba. Se houvesse,
no portuguez, c.:omo ha no espanh'ol, o uso de sempre notar
com signal orthographic.o o~ que têm accento na antepe-
nultima, evitar-se-ião erros ou incertesa, em c1ue muitos
incorrem. A gente elo povc,, vbedecendo á tendencia da
língua, supp.ri1!1e ou accentúa a penultima syllaba desses
vocabulos, dizendo: córgo, cosca , (cocega ), aspro, esprüo, gra-
t1úto, ricíllo, UJ-r-ió{a, etc. São os de dasse menos incultr., e
até ás veze,; pessx1s ali ,í; doutas, os que errão pelo con-
trario, accentúando na antepenultima syllaba algumas pala-
vras, que deve~ ter o :1-:cento na penultima. Assim, pro-
nuncião:-ánlito e úrdülo, em vez de ardítu e ardído ( prov.
arrlit, de arrlir, it. ardito, esp. al'llido, fr. hardi).
A' cito por 111·íto ( av,tus, d crivado de ctvtts,
l, pi. nc, ), q uc vem de avó ou
dos avós.
Ccíclimo « l'adímo ( Arabe, mdi111, velho).
Câlabre « calúúre, cabrc ou cabo, corda gro s-
sa. Cálabre é ralaúrio, natural da
Calabria ( 31).
Oônclave « w11clâi·e ( coitcltiuis, esp. e it. con-
clávc (32 ).

Biblioteca Pública Benedito Leite


A · LINGUA- PORTtJ.GtiEZA.

Cyclone por C!jdône, palavra moderna, toma,


da do fn\ncez.
Décano « decâno ( deciinus, no espanhol e
no italiano, decâno),
Ef;cápulct « escapúla ( 33) de escapar, evasão
escapatoria ( escápula ou escá,
pola ( qlle Maclureira prefere)
é prego com cabeça recurvada
( de scápula, dorso).
Homízio « hoini$ío, de homici ( di) um, estado
do que se esconde, por ter com-
mettido homiçidio ou outro cri-
me grave ~ 34 ).
1' bero e celtíbero « ibéro, celtibéfo, tber, eris, ou iberw;;
celt'tber, eris, ou celtiberus; )beri, cel,
tiberi. ( 3;).
l'ucucle « incúde, incas, üclis ( 36 ).
Jfi·erníada ( 3 7). « Jeremíáda, Jeri vação semelh:1nte
a risada, rapasiada, espanholada.
etc. •
Lúmbago ( 38 ). « únmbágo L. lumbago, inis.
Opopó'naco « opoponáco (oponax , ill·is, sueco da
planta pa1iax, líeis).
Ópimo « optmo (oplmus, op,rna spolia, despo-
jos opímos.
Pégadd « pégàda, (39) . Dolatius hypothetico
pedicata, segundo Adolpho Co-
elho, ou méra derivação p9r.tu-
gueza, como pégão, peúga, peúgaila,
narigada, espernegar, em que g é
simples letra de li gação.
Pr"éscito « prescito (prcecitus), que se pronun-
cÍ:l précíto.
Púdico, impúdico « pudtco, impudíco, (pudico,) (40)
Ritúriw _< rubiva lat. ruhr-loa, titulo ou as-
signatura com tinta rubra (41 ).

Biblioteca Pública Benedito Leite


A LINGUA l:'ORTUGUEZA ,5

Os espanhoes dizem rúbrira, e


talvez d'ahi hos veio essa pro-
nuncia. Os italianos, rubrica; mas,
sem duvida para differen;,;ar, cha-
mâo 1'1ibrica a um certó barro ver-
melho.
Sótea ou ffçóteaJ -por gotéa (palavra espanhola, do arabe
assoteihã).
Venera « 1·enéra, insignia de condecorado;
do latim veneria, certa concha,
porque os romeiros de Santiago
us,ívão de uma concha como in-
sígnia, dcmde se derivou tambem
Vieira (Vêera ).
Pronuncia-se, geralmente, pântano; mas, no espanhol e
nc italiano, pantâno, accentuação que se conservou em
pantâna. A homens rusticos temos ouvido pantíinfJ (42).
Pelo contrario, pronunciamos tutâno, (de origem desconhe ·
cida) e os espanhoes dizem tuétanb. Commuinente se diz
savâna; mas Roqttette accentúa sávana, e esta accenh1açào
é confdrfne a etymologiâ b. lat. sabiína, lat. ant. sabr'fnmn,
gr. ~1íbdno11., toalha lénçol. Neste sentido, os espanhoes
Jizem sríbana, ia sríbana santa, mas no sentido translato, de
planície ir.wlta, dizem támbein ,çabâna, .
Dizemos, conforme a etymologia, pelicâno, tavão (JJelici"i-
nus, tabiitius, itaL pellicáno; tafáno; os eslJilnhoes transpõem
o accento, pelicano, tábano. Ha quem diga erúdito, périto, qué-
sito, si1núlacro, carácteres, (4., ), etc.; na 1.ª pessoa do plurnl
do presente do subjuntivo-sêjamos, llájamos, tênlw:nws, dí-
gamos, fáçamos, pónliamos, etc., em vez de sejli:mos, Mjíimos,
tenliâmos, etc., e áfto, em vez de a fio. Mas são somente os
mâis indoi.Jtos que assim errão.
Em sentido contrario tambem niuitós deslucãô o ac-
cehto, dizendó por exemplo:
Amido por á1nido (amylum,~ital. ámido.) Tam•

~
,méml
1 1
Biblioteca Pública Benedi to Leite
8G A LINGUA PORTUGUF.ZA

hem :imi<liío, <lo fr:incez omitlnn.


esp. almidún, g rego ámylon. '
Ariéte por aríete, aries, ii!tis. (44 ).
A.sphotlélo e A.<.phódelo, (l. Asphórlelus, g. ri.~phn-
delos).
Bati:ga « Mtega, (do ar:ihe).
Bigümo « bígamo, (lii{Ji'ímus).
Canlu1-mo (4 5) « c1rnhamo, (rrinnltln's) .
Ohicoréa, 01·rhi1lfo (46) « diicnrca ou chicoria, chico1·iinn,
g. kirlt"iii"ion, 01'1'hídea ou orchidúrea.
Comítre • cfmn'lre, do baix,1 l:itim com,tu.~,
d e comes, ,tis, es p. Cn) romitre, i tn 1.
comi to.
Comp1ílo « r·Omputo. 1. cmnpi'/t11s .
Druída '< Dníida 1 dr1'í.ítla.
Estarlío « estádio, starl,'ím.
Impríres (48) (( ímpan~, impifi ·e.~.
Im1wól10 « ·ímprobo, imprlílnis.
lnr/Í{JO « índ(qo, do lnti m inrlrcus, esp. i111lign,
:int. énrlfro, itnl. éndaco.
L evêrlo « lêvedo, do la t im levrtus por levr; tus,
ital. liêrilo.
Lülímo << lídimo, de legitimus.
Pristtno, cmslíno « pdstino, rrrístino (pristrnus, cras-
tYnus ).
RPl'l'i'UÍ:10 « revérbero, reverbero, ou rel'erbéro,
m :is o substnntivo <l eriv:i <l o desse
vabo deve conservar o acccnto
latino, (como n u italiano rii-él'-
btro ), mas n 'l espa nhol rerel'IJero,
(49 ).
Ripío ( 7o) « 1·ípio. como no e~pa nhol.
Sesíimo « sésumo, \,; 1) sesiímmn.
Sibilo « ;;íbilo, siú,hnn, ital. síWo, (52). ,
S11milrío (( Sy11[J1io ç,,u Sp1{d1?°111, gr. SlJ?lé·
(lrion.
A LINGUA PORTUGUEZA 87

T11lí71r,, tí,lipo, do fJ ersi co r/111/wnd, turlm:n-


por
te, Diez. Dice., I, 0~1 do turco toli-
pend, Bluteau e Adolpho Coelho.
Vcgélo « 1·égeto, vegetus, (;3).
Geralmente se escreve e pronuncía .~ansci·ito ou .~rtn.~kri-
to (Adolphc Coelho, Dice. ); mas o douto glottologo por-
tuguez Gonçalves Vianna escreve e accentúa sánscrito, (54 ).
Antigamente, dizia-se erysípéla ou erysípula (55), e os do
povo ainda dizem erzípla (e•·ysipi!las, cUis ); prevaleceu de-
pois o accento dos casos obliquos, erysipéla, de erysipéli'f,-
tem, como acontece geralmente, na formação das palavras
portuguezas oriundas do latim, (56).
Francisco José Freire quer que se pronuncia rríúal(I,:
(do hebraico caúbalah, ital. rábala, _esp. rablíla ); hoje todos
dizem cábala. O mesmo autor, que cegamente se submette
á autoridade de alguns classicos, opína que se deve pro-
nunciar epifhéto, porque Jacintho Freire assim accentuou
em uma das suas poesias. Não advertiu que era liberdade
poetica, da qual já déra exemplo Camões, canto 10.°, est.
1:q:
«Aurea 11or epilhéto lh f ajuntrínío>.
(ií Uherson éso ), (;7).
Os poetas, em outras palavras, quando o exige a rima
ou a medida do verso, usào dessa liberdade, a qual não
deve ser licita senão nos casos que já estão autorisado's
pelos mais competentes. Assim dizem --impío, mun11Jlrio,
1m1rmÍlro, (;8 ), i·óciu, (;9 ) etc. Camões disse: Irlalíos monte.~,
por Iiltílios (60) c. 4. 0, est. 2;; Quíloa, por Qnilôa, se não é
que no seu tempo assim se pronunciava, pois sempre ac-
centuou desse mod0, por quatro vezes: c. 1.0 , tst.' 54, 99;
5. 0 , 45: 10. 26 (61). Semfrâinis,(c. 3 º, 100) e Antiôcho, (naco-
0

media El-Rci Seleuco), não obstante ser o accento na ante-


penultima syllnba, tanto na pronuncia portugueza, como
na l2tina e na grega. Gil Vicente:-.Priâmo, Lucifér, Jupüér,
spirito, retrogrír101 àominÍQ, 4ll~luía 6~), DiPiQ J3erm1rdes;~

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88 A LINGUA PORTUGUEZÁ

·calliópe·, Ai·á/Jes (63). Côrt~ Re~l:-Ápostiíta , VistMa, Rhodâno:


· Secâna, Encebádo, etc. (64).
E' no verso que melhor se conhece à accentuaçáo das
pálavras; rn,às essá liberdade p')etiéá póde induzir etn· errb,
do que é. Iiota.vel exemplo aquellá ihadvertehciá do :tutor
das R efie$ões som'e a linguà portugueza.
Como a mór partê das palavras da nossa lingu~ pro-
vêm do látim, regularmehte a nóssa pronuncia sê confor-
ma com a pr;. sodia latina, á qual devemos recorrer nós
casos duvidosos. Ha, comtudo, palavras de origem !atiná,
em que prevaleceu accetiturição diffêrehte dá que tinhão
no latim (6 ;).
A reg,ra ge ral da pronunciação latina era o accento na
penultima ~yllaba, se esta era longa; e, se era breve, na
ahtepemíltitna. A ultima era sempre átona; só no tempo
do imperió, depois que se vulgariscu o conhecimento da
lihgun grega, se admittiu etn algí.ms casos o accento mi
syllàba final, em palavras gregas e etn alg uns vocabulos ho-
monymos, para differença da sigfiiflcação: novidade que
os mais severos reprovavão, como contraria á indole dá
lingua (66). ·
Erão. pois, p1'0pdro:rytonos em latim, e, ,pela persisten-
cia. do acc!ltlto, tatnbetn o são no, portuguez, quando para
.elle ella passá vão, ifitEliros, os vcicabulos que tinhão a pe-
nuitima sylÍaba breve. Ora, vogàl ahtes de vogal era sem-
pre breve; e antes de duas consoahte's sempre lbhgâ, ~tce~
pto quando uma consoante era muda e a outra li quid~ (l
ou r ), caso em que a vogal era breve na prosa, e commum
no verso. Sãb, portanto, accentuadas na antepenultitna syl-
laba as palavras la.tinas, e as portuguezas dellas provindas:
0
1. -que têm a vogal penull:iiná seguida de outta vo-
_gal, taés ,como as terminadas em ea, ia, ies, itl; 11s, úts, 1:úm,
-µus, excepto em alguns pouéos ças0s e em palavras gregas,
em que as duas voga ec, fazem ditongo.
2. --que têtn a vogal penultima seguida dé muda e li-
0

qúüla, co mo cérebr um, plílprbm, vértt!Yra., Ü11'ól11m·um, (h ), à..


A,- ' LINGUA PORTUGUEZA
~

lll,cris ( 68 ), célebris, funifbris, meclíi.ícris, liig,'í,bris, etc., excepto


q uarido a vogal era·longa1 por natureza, como em candelãbrum,
ambulãr,;mn, si1nulncr1un, volittnbrum, delübrurn, salübris.
3, 0 -Nos· casos obliquos, os nomes da 3-'' declinação
imparissvllabos, em que é breve a vogal ultima do nomi-
nativo singular; porque essa vç,gal, pelo incremento da
flexão, se torna penultirna:-arbi.ír, arbõris; artifex, -íeis, car-
cer, ifris; interprifs, interpriftis; liospes, hosp -ítis, marmor, oris, satel-
los, itis,. obex, íeis, passar, eris, etc., donde as palavras portu-
guezas: arvore, artífice, carr,ere, interprete, ltospede, marnior.:, sa-
tellite, abice, passara, etc.,, (69 ;. Opera, d~ opus, eris, pl. opera,
ou de opifm, x; 11ólvora, de pulvis, eris, pl. pulvera; tempera,
d_c temper-ies; têmporas, de tei'nptt,S, oris, pl. tempora; tubera, ou
tttbara, de tuber, ifri'..v, pi. tubera; ulcera, de ulcus , ifris, pl. ulce-
ra; vespera, de vesper, pi: vesj)era; v·iscera, de viscus, pl. visce-
r:a; opiparo, do lat. opipii,n /s ,· parece que vem de opos, um,
riqueza / e paro, pctratiis. · ·
· A 's vezes, por ser tomada do nominativo, a palavra
portugueza é paroxytona no singular, mas no pluralproparo-
xutona, como no latim: consttl, cowmles, martur, martyres, Ce.
sar, Césares, cadáver, cadáveres, prócer, próceres. Os outros VO•
cabulos portuguezes, terminados em consoante, com a;;- .
cento na penultima syllaba~ ~ão derivados dQ latim, tam-
bem no plural se torna proparoxgto11os, porque o incremen-
to do plural 'não desloca o accento: alcáçares, aljofar·es, etc ..
A unica palavra portugueza, em que, no plural, se transpõe
o accento, é carácter, caractéres; e a razão é que essa pala-
vra, provinda do nominativo latino, conserva no singular a
a-:centuação desse caso e no plural segue a do plural da
declinação latina, que era na pen ultima ( ch.aráctcr, cltaractc-
i-es ), por ser longo esse e, correspondente ao ei,a ou e longo
da palavra grega cltaraktcr. ·
4. 0 -0s adjectivos terminados em er, no nominativo
sing ular masculino, quando tomão o incremento de flexão:
aclúlter, úsper, míser, 1iró:;per, ·etc., adtíltcre1 atltiltiJrtwt, etc ..

~
1
1 JB3ÍPmL 1
Biblioteca Pllbllca Benedito Leite
t
90 A UNGUA POR TUGUEZA

5. -Os derivados, cujos sufixos têm a penultima bre-


0

ve (70). Taes são:


A.cu.s Substantivos: - ábaco, zodüico, am-
muniaco, mónaat, sandúnica.
Ad jecti vos:- cardiaco, elegiaco, egy-
' ' · pé.iaco, il'iaco, S!Jl"iaw, etc. Excepto
' opáco.
Icus Substant:vos:-fabrica, grammati-
ca, . medico, musica, portico, tuni-
ca, etc ..
Adjectivos:-aulico, bellico, cívico,
comico, ltel'Oico, modico, lubrico, pu-
blico, unico, etc .. Excepto rubrícc,
apríco, pudíco. '
Id1is A1-ido, avido, calido. esqualiclo, pal-
lido, rapido, valido, lepido, tepiclo,
trepido, frigido, limpido, nitido, rígi-
do, rispido, ( hisptdus ), timido, esto-
lido, próvido, toipído, torrido, cupi-
clo, estupülo, lminido, fitlgiclo, lucido,
lurido, turpido, tuinido, etc ..
Breve, em muitos supinos e no!>
seus deriv:.tdos.
Subst:rntivos:-ltabito, halito, (lui-
li'tus, por hal,1tus ), espirito ( spir,,'lus,
por spirr1tus ), c;·edito, redito, /i·e11ii.
to, mento, préstito, de praestarc, es-
tar adiante, ( 71 ), trw1sito, obito,
subdito, p1ílpiro, vom'ito, etc. Inqac-
rito, sequito são palavra s novas.
Adjectivos:-preterito, imperlerrito,
implícito, explicito, \iinplic):tus, e:x:pli-
catus, por implic,1tns, explicatus, li-
cito, .sollícitu, intlumito, (iudomt'lu.s,
por iddodus), recondito, (,ittonito, de
att<mcire), siibit'u1 etc, i!mbito1 ambi'·
A UNGUA PORtúGUEZA

tus) tem o accepto na :mtepe-


nultima sy llaba, apezar de pro-
v ir de um supino, que tem a
penultima longa: amb,twn. Ge-
m'ttus, em portuguez, é gemido,
por influencia do participio de
gemer. Divida, de debita, plural
Je debitmn; duvida de clubilare
(provençal duble, fr. doute, esp.
dada). Orbita do nome orbis.
llis Na linguagem antiga: estérifr,
/ertile, etc. B íttüo tem o mesm o
suffixo, com terminação diffe-
rente.
Imus, imo L egitimo, marítimo, animo, lagl'i-
ma, victima, etc; superlativos em
imo, is.~imo, errimo: inaximo, mi-
niino, ·ínfimo, optiino, proxiino, ·iu-
timo, ultimo, faálimo, humílimo,
altíssimo, santissimo, asperrimo,
pauperrimo; e os numeraes o rdi-
11c1es : -decimo, vigesimo ( de deci ·
mo, dhimo , dizima), etc. Excepto
•JJ)Ímo. (Baánw vem de 1·ace11rns,
vindima, de vindimia. Panto111ímo,
panlo11tí.111a são palavras gregas
compostas ).
Este suffixo é longo, nos deri-
vados de nomes de pes5oa o u
cousa, sobretudo de ani mae s,
significando pertencer ou pro
vir della5. Diàm1s, lil,ertú1us. 111-a-
rinus, equinus, feri nus, serpentinus,
m(ttntinus, da deus;i Matuta, ou
:\urbra , c:ollcitiua:;, alpina:;, pl,m-
tilm:;, JHJ1·u:;ii1u:;, uenusinu:;. No~

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A LINGUA l'OR.TUGUEZA

derivados de adverbios, é lon-


go em uns, como clandestitms (de
cla11i), intestftius ( de intus), pere·
gr11rns (de peregre), repent-ínus (de
repente); mas em outros breve:
dintrnu,ç, crastl:mts, pristfüus. E',
porem, breve, quando significa
a materia de que é feita alguma
cousa ( neste caso o suffixo é
11us=neus, precedido de i, vogal
de ligação, que é sempre bre-
ve): acanthl:nus, adamanti'nus, ú-
drt'nus,:crystaltnus, elephanttnus (de
marfim), etc .. Todos estes pas-
sárão para o portuguez com o
accento transposto para a pe-
nu l ti ma syllaba, por analogia
dos que a têm longa no latim, e
seguindo a regra geral da ac-
centuação da nossa lirtgua. So-
mente crástino e prístino são usa-
dos, pelos doutos, com o ac-
cento latino, como ficou dito.
De pát,;na se formou páU!na, de-
pois patbia. Machina e lamina
passárão para o portuguez sem
alteração de fórma (prov. e ital.
lama, fr. lame).
Olus Folíolo, gladíolo, vitríolo, gloi-íola,
vai-íola.
Ulus Capitulo, titulo, cumulo,famulo, ra-
bula, 1nodulo, pendulo, regulo, secu-
lo, tmnulo; cellula, cupula, fécula ,
fb-ula, /1,ammula, fistula , formula,
pilula, pustula, virgula, crédulo,
gárrulo, tremulo, etc.

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'
93
A LINGUA P ORTUGUEZA

B11lum Estabulo, palmlo, t.il'ilmlo, vocabulo.


Culus Animalculo, baculo, cenaculo, es-p e-
ctaculo, obstaculo, oraculo, taberna-
culo, folliculo, paniculo, vehiculo,
rediculo, musculo, oculo, carbuncu-
lo, ranunculo, canfrt1la, clavicula,
etc.
Os vocabulos compostos seguem, no latim, a regra
geral da accentuação, conforme a quantidade da per.ufti-
ma syllaba. (Com algumas, poucas, excepções, que não
têm effeito no portuguez ). Assim homicida (de homo e credo ),
porque é longo o ultimo i, e por ser breve a penultima
syllaba do elemento verbal, de que é formado, é accentu-
ado na antepenultima.
6. 0 -0s compostos, que tê m terminações:
Ambuhts (do verbo amlmlare) Ambulo, fu-
numbulo, (in fun o ambulo), pream-
bulo, somnambulo, (moderno).
Cola (de rolo) Agrícola, celicola, incola, selvicola,
(sil vicola ).
Cubus (de cubo ) I'ncubo, súccubo.
Dicus (dico) Dos derivados do verbo dico,
uns tinhão a desinencia longá,
como maledfc11s, outros breve,
como causíd'ícus. juríd'ícus, vei·í-
il rcus. No portuguez todus a têm
átona: mal,édico, causídico, verídico.
I-fer (fero ) L 1ícife1·, lucifero, fructífero, odorífe-
ro, palinífero, pestifero, aurífero,
estellíj'ero, etc. neve-se, pois,
dizer rângifer (.ou ra-ngífero, como
dizem os espanhoes ), não ran-
gífer, como dizem alguns.
I-ger (gero ) Allígero, armígero, bellígero, con ú-
gero, lanígero, etc ..
lg-us (ago) Em pródigo, do verbo pródi'go,

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A LINGU.·\ PORTUGUEZA

zmnliyi!re=111·oil., por 1wo, e ago ,


agtf1·e.
Ffrus (/rttio ) B enéfico, mol~/fro, lll((!7nífico .
F,.·ag us 1/1 ·1iuqo) Nâ1(/i·ago, ;;ax U1·ago, fedí,/h,.r10.
Pl(_q11.~, (11qa (111gio ) L11cí/i1yo,prófi1go, larUúga, trrínsfít-
ya; modernos: ce11trífi1go, febrí-
/it!JO, 11ermífugo.
Ambí_qew>, inrlí_qena, n.ubíyena, t.er-
i·ígena, ou terrige110, trojií!JP11a, ym-
j 1ígerU1.
Grad1is (gradior,
_qratb"), grado ~Rl'tróymdo.
L1'go (le{IO, 1Yre,
tomar, n11br1r) } Sacrílego.
'l'oq1111g (1erpwr 1 Grandíloquo, ventríloquo. ( Equí-
i·oco, uní,·ocosão compostos de
rrquus , unw;, e vox. (72 ).
Nnbus (1111/,0 ) Bénubo, Jlrón11bo.
me.~(o/,,,:r-o ) Jndole ( h1dr'iles, is de indu=·in e.
olesco, crescer, desenvolvimen-
to intimo).
Ovíparo, deípam, rivípara. Yihom,
<le vipe1·a= riripara.
Perrt \idem ) Pué1]Jera.
Pelo, :i (71eto ) Impeto, heredípefa; centrípeta, mod.
P/1',r oupl11s (plico) Multíplir:e, mftltiplo, <lúplir-e, trí7ili-
re, qwídnrJJulo, qnínt11:plo, Rêxtuplo,
sépf.ltplo, nct1171lo, nónuplo, ilécu7,lo,
céntuplo.
l'((gus (vagor) rngn Omníva.170, noctívago, 11ndívago.
l'olus (volo. rello ) B enévolo, malíivolo, omnívolo.
Volus (rolo, i/rl') Altívolo, velívolo. Frívolo é deri-
vado de frio (friare ), com o su-
ffixo olus, fi'in /Jlus, friavel, fragil.
Vomus- (vo1110) Ignívomo, flammívomo, omnívomo,
Yorus (voro) Carnívoro, herbívoro, omnívoro.
.A LlNGUA PORTUGUEZA 95

7. 0 -Todos os compo~tos, em que o seg undo elemen-


to é um nome substantivo ou arljectivo dis.;~·llaho, qu e
tem hreve :1 primeira syllaha, porque 11:1 p:ilavra :issim for-
mada cae o accento, pela quantidade da penultim:i, sobre
o final do primeiro element,>: triúmviro, deeímviro, bípede,
71 ilmíperle, quad,·úpede, qMdríjugo, centímano, quadriímano ou
qnarlrímlínn (não quarlrninâno, como dizem muitos; no latim
,,,,a,d1·ím :í11118. a mesma accentuação n0 espanhol e no italia-
no; mas qnadrirême, porque vem de renms, que tem o P lon-
go (73 '1 , alfüono, cônca1•0, 7iérfidn, (àe f,'des, mas in./ido. de ./l·
rlus), ímprnho , réproho , omnímodo, cômmndo, etc. ~1oderno: -
,·enlír,rario.
8.0 -Ha no latim, alem desses, outros proparoxytono!-,
principalmente derivados do grego . Alg uns tão antigos
que só mesmo nesta lingua se encontra a communidade
de origem, como nwn ''rus, que deriva, com o verbo grego
ném õ, dividir; da raiz nem (id éa de distribuição); outros
modernos, c1ue no latim classico não forão usados, como
época,, (l':!mpus), de epoch ê, parada, ponto ílxo, certo tempo
na histnria. De ordinario conservão as mesmas letras, mas
ás vezes ha mud.mça, como anclíra, de ankyra. Podem ter
a penultima breve em desinencias que nas palavras lati-
nas a têm longa, como ãri,s, sin11tlnris, popularis, etc., mas
hílrY,ris, do gre 6o hit,író,~; ilra, -pr elztra, 1tsiira, etc., ma<; pur-
71,'íra, do gre,.:o porphyra, que tinha a penultima breve,
ainda que! a::cerrtu.ida, poi.,; o prin.;ipio da accentu1çào
grega tra diffcrente da que regía a latina.
No grego a accentuação depende principalmente da
quantidade. Para q•1e o accento possa estar na antepenul-
tima é preciso que a ultima seja breve. A penultima pôde
ser longa ou hreve, seja cu não seja accentuada: e, por
via de regra, quando }onga, em vez de attrahir, afasta o
acr.ento. (7.1).
A regra geral. para as palavrac; derivadas e compostas,
e para as flexões é a seguinte:-O accento afasta-se.quanto
possivel da terminação, isto é, quanto o permittem a quan-

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96 A LINGUA PORTUGUEZA

tidade <la syllaba final e a etymologia. O accento do radi-


cal ou thema, chamado accento primaria, não é determi-
nado por principias ge raes; só a pratica ou o diccionario
o póde en~inar.
O latim, adaptando palavras gregas, sujeitava-as ao
systema da prosodia latina. Só depois que o estudo do
grego se generalisoú, entre os doutos, foi que alguns vo-
cabulos, sobretudo nomes proprios, farão usados com a
pronuncia grega, e neste caso devião ter tambem a declina-
ção da lingua originaria.
No portuguez as palavras gregas, ou formadas com
elementos gregos, são geralmente e pronunciadas de con-
formidade com o systema da lingua latina, por intermed:o
da qual a mór parte dellas nos viérão. Ha, todavia, algu-
mas em que, não obstante nos virem do latim, prevaleceu
o accento grego. Como adverte Frederico Diez, deve-s~
attribuir esse desvio á influencia do grego da idade media,
pois é demasiado o numero de exemplos, para serem con-
siderados aberrações fortuitas. Eis aqui algumas:
GREGO L ATIM
Ar,ôniton akóniton acon'itu1n
Anáthema (7, ) anáthema anathcma
Antíphona antíplionos antiphõna
Elogío (76) eulogía elógium
Esclzám (77 ) escluíra eschi'tra
lcléa idéa idita
!'dolo eírlolon illõlum
Myope myõps, myopog myops, myõpis
Polypo (78) polípons polypus
Tisâna ptisáne ptis?5na ..,.
Bolícleou bolíclo (79) bolís, íclos bolis, -'ídis
Prudencio, poeta do 4.ºseculo (80), já accentuava blas -
phemus (gr. blásphemos, lat. blasphemus); e ha quem assim ac-
centúe em portuguez: deve-se, porem, dizer, e geralmente
se diz, blasphêqio. Tambem pronuncião deste modo os
espanhoes e os italianos.
A LINGUA PORTUGUEZA 97

Foi, sobretudo, nos nomes gregos _terminados em -ia


da 1." declinação, na idade media, e na formação das lín-
guas nascidas do latim, que o accento grego muitas vezes
supplantou o latino, como adiante veremos. Em alguns no-
mes proprios, igual facto se deu: Amazôna, Amazônas, (gr.
Amaz6n, ónos, pl. Amazó11es, lat. Amázon, onis, pl. Amazones); Ba-
sílio (gr. Basíleios, lat. Basilus); Isidro=Isídoro (gr. Isfrlõros,
lat. Isidõrus ); Jácomo, Jaime, Sant'Iago, Tiago, ( gr. Iákóbus,
lat. Jacõln1s ); IJorotltéa (gr. Dõrotltéa, lat. Dorótltifa); Eu/rosína,
(gr. E1tphrosyne, lat. Euphrós,ijna); Helêna, (gr. Heléne, lat.
Helena); Polyxêna (81) (gr. Polyxéne, lat. Polyxena).
Outros nomes proprios, de origem grega, são pronun-
ciados com accentuação diflerente da latina, ou por influ-
encia da grega, ou por analogia de dcsinencias latinas .
Assim: Andrônico, tgr. Andrónikos, lat. Andronlcus); Heráclito,
(gr. Herakleitos, lat. Heraclitits); Thrasíbulo, Aristólulo, Cleóbu-
lo, Theódulo, (gr. Thrasíboulos, Aristóboulos, Kleóboulos, Tlteà-
doulos; lat. Thrasibüliis, Aristobnlus, Cleobulus, TheodiJ-l1tS (82 ).
Nos poetas encontrão-se os nomes gregos quasi se m-
pre com accentuação latina, ma s algumas vezes com a
grega, e outros com accento que nem é g rego, nem lati-
no (83). Assim Camões disse, conforme o accento g rego ,
mas talvez sem o proposito de o preferir, seguindo somen-
te a ordinaria accentuação portugueza: Taprobâna ( 1. 0 , 1 ;,
Cinyra, (9. 0 , 60; 10. 0 , 135 ), Demodóco (10.º 8), Ephyre (84) (9.º,
76), Candáce (10. 0 1 52), Glapliyra (5.º, 95), Seméle (7. •p), 0

(85) 1 e com accento differente do latim e do grego, um e


outro na antepenultima: Cappadóces ( 3. 0 72 ), Eólo ( 86 ), Zo-
pyro (3. 0 , 41), Heliogabâlo (3. 0 92), H eliogá.b:'í,lus ou Elagábitlus,
gr. Elaiagábalos, para rimar com Sarrlanapálo, g r. Sardanapál -
los, lat. Sardanapc1litS. Disse com o accento grego, conforme o
uso commum, Darío, no canto 3.0 , est. 4 r, (87), mas no canto
10.º , est. 21, Dário (88). Já vimos que Ca:7. ões disse, por li-
berdade poetica, cpithéto (o r pennl ti mo é breve, porque no
grego é um epsilou, e não éta). Disse tambem Arcltetypo (c 10 . 0
79), talve z por assim accentu~rem ~s espanhoes. Alguns di-
A UNGUA l'üRTUGUEZA

zcm prutotypo, e geralmente se pronuncia clagueneulypo, 13.~ fe-


reotypu. O principio latino e o grego exigem, em todos esses
vocabulos compostos, por se r breve no grego a ultima e
o latim na penultima, o accent.) 11a antepenultima syllaba
( archétypuni, archétypon ).
Prevale·: eu :iccento dilfe ente do latino e do g rego,
em oceâno (lat. océcínus, gr. õkeanós (89) e em orgía ( plural
neutro no latim e no grego, órgia, õi-itni; órgia, õn ). No
plural, com a significação primitiva, de festas de Baccho ,
mantém-se o accento latino, sobretudo no verso, órgias (90 ).
Nas palavras compostas, o grego, ás vezes, apartam-
se do principio prosodico, por motivo 1declog ico, para a
clareza do discurso. A ,·ocabu)0s formados do mesmo suf-
fixo, com a mesma desinencia, dava accentuaçã o differen-
te, para lhes discriminar a natureza (substantivo ou adjecti-
vo),...ou a significação ( activa ou passiva, pessoa ou cousa ).
Assim: aristotókos, que engendra filhos bravos ou heróes,
aristótol,,ios, bem nascido ou o melhor filho, ueotókos, mulher
puérpera, neótokos, criança recem-nascida; paidoktónus, in-
fanticida ou que mata os proprios filhos, paidóktonos, morlo
pelos filhos; litltobólos, o qu e at ira pedras, lithoúolos, a pe-
drejado; telebólos . que atira de longe , telébolos, a1irado de
longe-, projec il ; geogníphos, ltistoriográplto.~, kiilliyníplto:s, poly-
yrúplws, lachyyrapho ·, o que escre,·e depressa, se cretario es-
crivão, etc., e u11lógra1ihoi;, e,cr ip:o pelo autor, olúgraplws ,
escripto por extenso ou tod0 esc ripto pelo autor; a~lrofof)os,
pltilológos, e diríloaos, 11pífoyos, pró/rJgos, eL. E·n tod os os cum.
postos, cuja segunda parte é um elen,cnto ,·<!rbal , quand o
significão o ag ente da acção expre,;s:1 pelo verbo, o accen-
to t\ po to nesse elemento, ainda 4u e, pe la regra prosodi-
ca, devêsse recuar: astrológos, aslronómos, antropopltâaos, e tc.
No latim a posição do accento reg-ula,·a-se unicamente
pelo principio prosodico , e as palavras recebidas do g re-
go erào s ujt!itas :í mesma !ei. ac:ce ntuadas co nforme a
quantidaJe da penultima sy llabd .\ ssi111 , por lere m a pe-
11ulti ma ureve 1 são proparoxytonos no latim, e como tae:,
A LINGUA PORTUGUEZA 99

passamo, para o portug uez, os vocabulos grego!>, deriva-


dos ou compostos, que têm as seguintes terminações, não
obstante muitos delles não o serem no grego :

AAa ou ade ( suffixo no- Década, lat. dec~, r'1dis, g r. de,.


miqal, as, údos) câs, údos. Dezena, g rupo de dez.
Décadas, de Tito Livio e de João
d e Barros, historia dividida e m
parte!> de dez livros ca da uma.
Décadas dos mezes greg0s e do
calendario da 1." republi ca fran-
ceza, espaço de dez dias.
Dr(;adas, lat. ilryas, liclis, g r. dryás,
âdos, de drys, a rvore, nymphas
dos bosques. Hamadr(Jadas, adv.
luíma, ao mesmo te mpo: nym-
phas que nasc i ão e morri ão co m
as arvores en1 que habitavão.
Naiculas (90.A), lat. nai"as, hdis, ou
nn,'s, rdis, gr. 11aiús, ádos, da raiz
111,, que exprime a id éa de Iiq ui-
do, dc nde ua:ús, 1ui:útés, lat. navis,
,uiuta: ny mphas das aguas, de
rios e fontes.
Oréarla,S, de oro.~, montanha: lat.
oreuiles, gr. ureiádes.
lliada. lat. Ilias, 1úlis, gr. lliás,
rídos, adj. de llion. subente11Jic.lo
o substantivo ãd,;, poema l9 1) .
Lr111111acln, la t. lmnpas, l!dis, gr.
l1111121as, âdos, da rai z i,tm11, id éa
de luz, donde tambem Olympo,
límpid o, e relampado, p o rtu-
guel antigo, hoje reJ:u,·,p,,õo.
J.[êuades, g-r. 111ai11áile1;, bacchan-
tcs, de -mainomai, dcdirar.
100 A L!NGl: A I'ORT UGGEZ A

Mó,tadas, de monâs, ádos, unida-


de, termo philosophico.
Jllyriwle, lat. m:i;rios, adis, g r. my-
rúís, á,loli. dez mil. grande nu-
mero.
Nómade:;, lat. nomiulei;, g-r. no111ús,
ádos, pl. ·númádes, de uomeâo, apas-
centar.
Olyn,i,iada, lat. olympias,adis, gr.
olympiâs, âdos: periodo de qua-
tro annos, intervallo <los jogo-,
olympico-; ou da cidade de
Olympia.
Pleíaclcs, Ily(l.cles, constellações.
Cydades; Spóradcs, Stróphades, Or-
cacles, ilhas, etc. Gr. Pleüídei;,
llyácles, ICylclâcles, e te.
Alo ( .:ilos ) Anomalo, an priv., e omalós, de,
omós, igual, semelhante.
Astrâgalo, da raiz straggJ torcer,
apertar.
Crótalo, lat. c,·otàlwn, gr. kro-
talon.
CfÍ111úalo , lat, 0y,núalwu, gr. k!Jm-
balón, de kymúe, cousa oca.
E scawlatu,scanrlalon, tropeço, ar-
madilh:i, de scttzõ , tropeçar.
Pétala, ou pétala, da raiz pet, idéa
de cair; com a terminação deste,
formou-se, modernamente, o
tenuo :;ep ala ou seµalo, do latilll
Sl:!JJ"'" , ríris, sepa1ado.
Ha palavras desta terminação,
que são compo~tas, não simples
derivações , corno chrysócalo, d_o
chrvsós, e !.alós, bello; polygala,
A LINGTTA PORT UGGEZ A 101

poly, muito, e gala, le ite, e os


co mp ostos: de ,:cphalr', cabeça; .
aceplwlo, ( a pri v . ) encepha,lo, (e }( ,
pre p. em ), 1ua,croréplial.o_. mici-n- .
r;éphalo, ( makrf,s , g rand e, mil,:rí>s,
pe quen o ). B 11c,:phalo ;l1of'1s, boi ),
e d e rnnphal,ís, umb igo, aerôm-
phalo, enterúmphafo, e.Tôm71lwlo, he-
paf(nnphalo, sarcômphalo.
Amo ( amos '.· Cálmno . da raiz 1ml. id t a àe C!l·
ni ço.
Thnlamo, r. fhc, coll oca r .
Jfippopófamo, l!ippos , ca ,·a ll o , e
pútamos , ri o . d e potó.,, po tav el.
Myo71ófamo. m11s, gen. 'lil?JÓS, rato :
m o d. , roe dor da Am e ri ca dn
su l.
Bnlsaino, lat blílsalll wn, g r. l"íl-
samon, é co mp osto h ehr::iico, d e
baal, prín cip e, e schaman, o leo.
Ario (ai1.os) Blílano, bála11os, g land e, da rniz
ba l, lanç::i r .
Plrítano, plátanos, de plat1ís, largo.
Tétano,. tétrmos, de tetanós , di sten-
di·d o.
T répano , instruni e nto cirurg ico ,
tr1í panon,. de trypa,, furo, frypríõ,
furar.
Ty mpono, l111,1.pnnon, d e typ fü . b r,-
te r.
ú)bano, líbanos.
A,·o_. ara ou em. ~uffix os Cântaro, /;rinttlwros, da rai z ca1111,
ar e os o u ,t idéa d e alv ura o u brilho donde
cãs (a dj. lat. canus, a, um, bran co,.
candido, incande scente ).
Gamara, kamára. da ra iz kam ,
1.(2 A LTNGUA PORTUGUEZA

id éa de abobada; lat. camrwa ou·


tmiu:ra .
Cl1oléra e cólera, gr. r:holém '. de
dti>los ou dwU, fel, bílis ).
Cithara, gr. kitl11íra, da raiz ki,
idéa de mo ver, com moYer, don-
de citrir, e:rr,ítar, etc. Lat. cWúíra.
Búrbarn e üíi•toro são redupli-
cações das raízes bar, idéa de
balbuciar, e tar, de terror.
Aso (rrfo.-;, a, letra de liga- Pégaso. de p?gé, fonte.
ção ,e o s uffixo sos,com- Pélaso, cbapéo alado de Mer-
po sto ela co nsoante J e c urio, da raiz 11ct, que dâ vôo.
Jigação g e do su lfrrn !Crírliaso,gr. krírpasos. da raiz kr1.r7i,
os) . idéa de frncto, utilidade.
E çe ou P8is, e, letra de lig a · Gênese, ,hérese, .~ynérese, eh:.
ção ou final do radi cal , ( Quando a vogal penultim:1,
e sis, su[[ixo que indica no grego, é epsilón, ou e bre-
açã ,) . ve, a palavra é prop:1roxy-
toria1.
Catechése, catachi ·ése,diaphorése, e te.
(Quando, no grego , a voga l pe-
nultima é éta ou e longo , o ac-
cento é paroxytono ).
Icle, eiclts Suffixo composto do substanti-
vo eírlo.ç, forma. a~pecto, e elo
suffixo cs. Os vocabulos forma-
d os com este suffixo erão oxv- , '
to nos no p;rego, p:iroxytonos no
latim, por ser longo o t, como
proveniente · do ditongo grego
ei. No portuguez, tornárão-se
proparoxytonos, accentuados
na ultima vogal do radical, sem
duvida por analogia dos for•na-
dos com o suffixo que em se-

Biblioteca Pública Benedito Leite


A LtNGU A PORT C:GUET. A lOS

g uida mencion:1mos:-Gr..r hm11-


l1oü:17,:s, splmiroei1Us, irltfliyoPidi',ç,
etc.: lat. rlt0111bo1des, splwToides ,
etc.: port. d tomboüle, splteroide,
idtlh!Jóide, etc. E, como estes, os
modernos: - alcaloide. a,çtero idf'8 ,
uu, falloide, etc.
Ide e yile ( i.~, Mo.ç. e 1ís; A'búde ou ,ípside (9 2), áspide, rhr.11·
!Ídos, '-lllTix o de nome-;. sallide ou cltrysallida, éyide, Jl!J·
femininos). rnmide, epltemérides, eumênirles, he-
róides, tlwbâide, cltláinyde. G r. A -
psís, ídos;asptS, ídos: chrysallis, 1,/0,ç;
ni11i.~, 1do.~: 11ymmi'.s, idos . pl. PJ!·
ram icles, (de pym mis, bolo coni-
co , qu e se offe recia aos morw s:
~eg undo outros, de pyra. foguei-
ra , qne te m a mes ma forma );
e}lhemerís, idos, ephh nel'Os, de um
dia ou de cada dia );emnenfa ,ídos,
í,N.~, (ewneniJs, benevola); hcroís,
írlos , ides.: tltebaís, ídoB,· cltlatn1ís,
1í1los. Lat. Ab.~is, ,dis; aspi.~, t'dis;
dtrysallis, l:dis:· a'gis, Ydis; pyriímis,
)'di,ç, pi . files.: e111n /!1ús, írlis, t'des:
herõis, ídis, ( lterõi'des, heroína s,
mulheres ou amantes de: heróes,
titulo de Epistolas de Ü\'i· •
dio): rltlamys, 'ídis, ve ste g rega.
lrll:' e iflilP ( idí's e iád;;s, su f- ~ o latim, pronunciavão-se es-
fix os de nomes patro- tes nomes com o accento grego,
nym icos, masculinos, da nii o obstante se r bre ve a vo,;al
1.ª ou 3.ª declinação). penuhima ,eaindaos \atinos,for-
mados por anal ogia , como Sci-
piádes, Memmiádes. segundo Pris-
ciano, e outros g rammaticos :m-
tigos: mas tambe m era licito

BlbUoteca Pllbllca Benedito Leite


194 A LINGUA PORT UG UE 7.A

pronun ciu -los ,i latina,co m o ac-


cento na antep enultima, e foi
esta pronun cia que passou para
o portup;uez:---Arsácide, Dardn-
nirle, E áâde. Pr ifim i rle, Asclepính,
.Pelfo de, J\femmín.ifr, 8d 7iíarle, etc .
Alguns tinhào o i longo no la-
tim.e portant o acce ntnado, pro,
veniente de 1'i grego :-Alc,des,
Atr,ile8·, H era,:li:11rr, t'elu1e.~, Tyn.I-
rles (gr . A/1.('. í, des. :llrPírlr.s, etc).
Estes, no portug uez, siio tarn-
he m ass im pronun ciados:-Al-
,-ír/eou AlcíclPs, A tríi/.r,, J-forarl í drt8,
I'l'lÍ(l(]e, 1ydíadNi.
Os patrony rn icos femíni nos formão-se com os suffi xos
rís, áilos, pl. rídes, ou fa , irlos, pi. ide,:, e no latim são accen-
tuados na antep enultim a syllaba, com o os o utro s de riva-
dos femininos,formad os com os mesmos suffi xos:--G r. NiJ-
rP-í,ç, írlos, Nereíclrn , filha s de Nerêo, nymph as do mar Medi-
terràneo; õk eanídes, ou T)kenJJ-iárles . filha s do ocean o ; L elõís,
ídoii, ou L etõiús, údos. filha de Leto ou Lwtona; lat. Nereis,
Ydú:, Nere rdPR; Oceap,'/;iles ou OcennitYcles: Latni.ç, i'1l-i8 (Diann);
port., Ncrêidrs, Oceânides, L ntóirle.
Tambem com os mes mos suffixos se form ão nom es
derivados do logar do nascim ento ou habitação: nirron'írle8 ,
. natural da ,l[,.onia, Homero : Mwon'írlrs, Jl{1tsrc, ( H or.), Mu-
sas Meo!lias, 1n €1ial(r1es, do mcmte Mênal o, Pan; Sicel'íiles ·
.71:füsm ( Virg . ), Musas da Sicilia. Camões fo rmou Tr'ígirles,
nyh1phas do· Tejo.
Allage (allássõ ou rtllrítõ, mudar, trocar, de allos, ou~ro,
differente, e g~·=l.i, suffixo de nom es femininos ): -Enal-
lage, hypallage, fig uras de g ramm atica. Gr. , rmalfag f;, hypallagfi;
lat. , enallii,ge, h ypalliige.
Bato, bata, ( bn.féos, de haí no, andar ):- Hwu;·liafrJ ( h1117e1·,

..
.\ LI. 'GPA l'Ok'fl 1Gt~EZ. t&
sobre, l,y1Jerúaínõ, passar sobre, ltyperbató11, Jerribado, inver•
tido). Gr., liypérbriton,invorsào, fig. de gram.
Acróbfita, gr. acrôbatos (de acron, a extremidade, que an-
da na punta dos pés). Muitos dizem acrobáta, por intluen•
cia do francez; assim como 11epheliúáta, palavm moderrut-
mente formada em França. de nephéte, nuvem, para sigui-
ficar o que usa de esty!o nebuloso, obscuro, e que deve-
mos pronunciar nep~elíbata. Assim havia no latim: nereubit-
ta (gr. neurobátes, de neurónJ corda ), que dansa em corda; an-
dabáta (gr. anabátes, cavalleiro, aná, sobre, a,iabaínõ, subir,
montar), athleta que combatia a cavallo; epibatCE ( epi, aci-
ma), soldados de marinha, que subião nos mastros ou uas
abordagens; 11teriobcíta e stylobc'íta, termos de architectura,
bases de columnata.
Bolo, bola, bole (raiz bal, verbo bâtlõ; lançar, atirar, bolJ,
acção de atirar, bolos, cousa que se atira:-(discóbolo, athle-
ta que atirava o disco; óbolo (ó pref. e bolos); ~mlJolo (e11, prep.
em); symbolo (syri, com, ajuntamento de uma consa com
outrn, approximação, comparação, imagem que a represen-
ta): parâbolci (lmrâ, de, junto de, comparação, allegoria); ky-
pérbofo ( hypí:r, acima, por cima, exageração ); metábole ( melá
indica mudança ), figura de rhetorica, repetição de uma
idéa por palavras differentes. Gr. ,liskobólos, obólos, énwolos,
ou émbolon, S!Ímúolün, par-abole, hyperbol,', metabolt . Lat. diii.~-
úõbts, obulus, sym.b,ílmn, pambi1la, hyperú<ile, inetabole.
Cero11 (kera11, atos, chifre):-Monócero, y_ue tem um só
chifre, dicero, de dois chifres, rltii,oc'Cl'os, dlinocerote e rllit10-
cei-01,te, riii ou 1·is, itios, nariz, que tem (,;hifre no 11:lriz. Gr.
rltirtókerõs, gen. rldnakérõtos. Lat. rkinóceros, gen. rlifoocerõtis.
Modernos: leióeeros ou lióceros (le'i<,s, liso), sti-epsíceros {strepsis,
• acção de ton:er, streptós, tórci<lo, de strepltõ), ramir,eros, hyb.
<lo latim ramus, melhor mmicornes, termos de zoologia.
Cras11{kriísis, temperamento). -Epícrase, t. dethedicina.
Crnta (!mitos, força, poàer ). Os espanhoes dizem flU·
t6craw, ,o-istócrata, demúcmta, tlieócrata, e assim devi:unos
dizer, porque, na prosodia latina, a penultima vogal seria

Biblioteca Pública Benedito Leite


106 A LlNGUA l'ORTUGUEZA

breve; mas, como no lat11n não houve&s·e taes palavras,


prevaleceu a accentuação do trancez., do qual nos vitirão.
Todavia, muitos pronuncião autócrata. Gr. autocrntt.~. al"ii;-
tokratikós, democrafikós.
Olito (klínõ, inclinar;: - Hdcróclito (ltéterus, outro, d:ffe•
be~te), irregular.
Ool!Jlo:-111.clyto, hybridismo,lat. in, e gr. kl!JlÓS, famoso.
Col!flo:-Acól!flo, lat. cicol!ítltw; ou acollítlms. gr akólou-
thos, a prefixo, que signific:1 união.
Crise (kri.sis ):-Epic,·ise, t. de med.
C1·ita:-Hypócrita, gr: hypokritfJs, comediante, de Jiypo·
krínomai, ltypo em baixo, e kríno julgar, adj. vt:rbal kríttJos:
re&ponder ou replicar, representar personagem theatral.
Cryplto (krfÍphos, segredo, occultação:-Apocrypho, clan-
destino, duvidoso (apõ, em composição, indica ponto de
que se parte oú meio de que se usa).
Chrono (chronos, tempo):-Isochrono (ísos, igual), que du-
ra o mesmo tempo. Movimentos isõchronos, como são os do
pendulo. Pelo contrario, i.~ocõlon, po~ ser longo o o penul-
timo, não isõcolon, como se lê em alguns dicciona?:ios. Gr.
isókõlon, !at. isocõlon, periodo de membros iguaes; Súnchro-
no, que se faz ou occorre no m esmo tempo. contempora.
neo.
Doto dotl1s, dad0 J: - A11folofo antt, contra, antidolus, su-
bentendido posi.~. bebida, ou a111ldoto11, subst. n.; lat. cmtidü-
tus, fem. ou " '11fi1/til11m, n ).
Dm.inu (drómos, carreira, corro): - Hipptidromo, gr. ltip1J,-,-
dromos ou hippodróminu /ltippórl1·011ws é quem corre :1 cavai-
lo ), lat. hippodnímu.~. Recentemente. fonrnírão o \'Ocabu lo
hybrido 1:Plõdromo, do latim 1·elo.r e do grego ddmws, para
designar o Jogar onde correm velocipedes. Pródromos e S!j1,-
dromos, concurso de factos anteriores ou concomitantes.
El,yto:-Proselyto,prosa!Jtos,pru.~,de, signifi..,ando adjunc-
ção, e é'lytlwn, Je erklwm ri, vir, chegar: recenvinJo, con-
verso.
Emero (kcméra, dia):-E11lté111ero, epldmcros; epí, em; que
A LINGUA PORTCGU~ZA 107

dura um dia. Decrímeron, de1. dias, titulo dÓs con•os de


Boccacio. llexiimeron, 6 dias, de S. Basilio e de Santo Am-
brosio (93). Heptiimerou, 7 dias, novellas de Margarida. rai-
nha de ~avarra.
Gamo (g1ímo.~ ), casamento, verb. yaméii: -Bígamo, hy-
bridismo, lat. bis: a p:ilavra grega é dígamo: trigamo, monó-
gamo, pol1jga1110. Cryptógamo, phanerógamo (kryptós, o..:culto,
plianerós, visivel). termos de botanica .
Amálgama. segundo alguns, é composto de amá, junta-
mente, e gamé(}; mas. segundo Diez, é derivado de malágmlit,
amol.e cimento, que, por transposição das letras da segun-
da syll:iba, deu 1iuílga1na.
Geuo (genés):-Electrógeuo, n'itróge110 e outros termos
scientificos modernos, em que, por erro, esse sufixo signi-
fica o que gera; gen"/Ís pelo contrario, significa gerado ( vid .
Littré, Dice). Deviamm, dizer hydrógeno, ox2geno, como dizem
os espanhoes e os italianos; mas prevaleceu-hydrogenio,
oxigenio, não hydrogenes, oxigenes, como escrevem outros.
Go110 ( 94 ), de gonos, raça, prole:-Epígonos, gr. epigo11oi,
lat. epigüni. º" descendentes dos 7 chefes que sitiárão The-
bas. Prógono, o mais antigo avó.
G1·aphe e graphõ (gríplw. escrever) :-Epigraphe, auto-
grapho, geograj1ho. pol!Jgrapho, etc.
(}yno: --Andrógino, que participa de dois sexos (anér,
genit. andrós, homem, e gynê, mulher, femea '· Octo,11ína, flor
que tem oito pistillos, orgàos femininos; mo11óglf11a, de um
só pistillo.
Laba, laúo (labJ, lambcí11(}, tcmar, apprehender) :-Súl-
laba, s1íllabo (syit, com, o que reúne, comprehende).
Lilho (lítlws, pedra ) :-r.lir11sólitho, cltr!Jsós, ouro, monu-
lithn, gr. chrysólitlws, mo11olitliós, lat. chr!Jsolt't/111s, mnnoli'flms.
Modernos: aerólitlw~ idtl!}ólitlto, zoólitl10.
Litro (gr. lítra, libra; e no latim da idade media litra,
medida dP. capacidade, dond.e o francez litron, m~dida an-
tiga):-Decúlitro, kilólitro, tlecílitro, centílitro. Esta é a pro-
nuncia conf?rme á regra da prosodia latina e da gr~ga. Essa
108 A LINGUA P OR1TG UEZ A

..-:omposição daria no grego tk:âlitro!!, kilólitros,etc.; 110 latim,


demlrtrus, ktlolrtrus, etc Mas o vulgo prefere dizer, confor-
me a accentuaçào france:,u. seguindo a tendenda gernl da
nossa lingua e a lei do menor esforço: decalitro, kilolíti-o, d e.
Grammaticos italianos mandão pronunciar, com o accentu
na antepenultima syllaba, esses compostos de litro: mfriú-
lilro, ndllílili'o, etc. [Guiseppe Maggioni, Grammatica, par-
te III, n. 18; ). A gram matica da Academia Espanhola diz ser
erro de pronun.:-.ia o accentual-os desse modo: decálifm , etc .
(üram. citada. parte IV, cap . IV, in fine\ . (9; ).
Lyse (l11sis, dilui ção, de lúõ, diluir, dissolver;:- .111âlysi:,
tliiílyse; mod. 1 electi·ólysc
L ogo (loflos, palavra, légü, falar ):-Apóloyo (a.pó, por meio
de), diálogo (diá, com ;, pltilólogo (phílos, nmigo), análogo (a11ú,
conform e), etc.
Macho ( nuíchii, luta, combate ):-Iconõmaclw (ei/.:ón, vnos,
imagem), l!Ol!j111.acho, py,·imaclw ou pyró111ac/1a, pedra.
JJfatlto (mâthos, 111atlwsis, mathcina, sciencia ):-Pol1ím1.1,to,
que sabe ou estuda muitas sciencias. _
JJfato (de mâomai, mover-se ):-Automato (autos, elle mes-
mo), estômato, t. de bot. , vem de stoma, stomatos, boca.
JJfeno (suffixo de participio passivo) :-Oatechúmcno 1._ ca·
têcltéõ. ensinar, de katâ, sobre, e r:cltéõ, falar alto). o 'l ue re- .
cebe o ensino do ca Lecismo. ene,·gít111e110, (energéü, trabalha~.
atormentar, de c1iérgeia, força , energia). possesso, atormen-
tado pelo de·monio. Gr. kateclwúmenos, e11ergoúmenos, lat. ec-
clesiastico caleclútme,m.~, e1iér!Jttme1ius. Plte,wmcno, de pliaínü,
apparecer, que apparece, g r. plt'Linúmenon, lat. plv.cnomé-
num; pam lipomenos, g r. paraleipomena (omissões, de paraleípõ,
omittir), livro da Biblia, additamento ao dos Reis; prole-
gómenos, g r. p1·olcgomew.1, (µ1·0, antes, legõ, dizer).
Mem (meros, parte') :-Trimero, tetrâmero, pe11támero, etc,
de tres, quatro, cinco partes; -isómero, de P,artes iguaes,
pol41111,r o, cpímero, etc .
•ll.etro (métro11, medida):-Hexumctro, pentâmetro,düimctro,

Blblloteca Pública Benedito Leite


A UNGUA PORTL'GUEZA 10!-l

perí,netro, etc ., grande numero de termos moderno; : /..:ilri-


mPfm, harnmr/.ro, thermomelro, chronometro.
Nomo (11omos, lei, regr:i ): -Agrrmomo. ri.~trommo, ya.~fr o110-
mo, autnn1nno, er.onomo (oí!.os. casa) , etc.
fÚo Jwdós, caminho): E.1·uilo, 111éfhorlo, perfodo, f-i1j11n1lo,
(e.r.., fóra; metâ, com, para com; p eri, em torno: •!Jll, com/
Eler.t.rodo, mod., t. d·e physica.
Ono (sufüxo no.~, o, letra de lig:ição):-Diaco110. (da
raiz, dik, lançar, enviar ); mensageiro, servo. •
011ymo (onymn -ónoma, nome: -Homm111mo (lt0111ó.~.
ig-ua l ), synonim·, (.çyn, conformidade). pseudonym11, (1N'1;i/1:s, ía l-
so ), etc.
Bigo:-A1·pópago, tribunal de ,\thcn ·t<, la~ . •freopriqns.
gr. A1·Po11agos, ou Arâos pn{los, collin:1 de ,t ,·f:'.~ ou .\l :1rte.
({'ltim:1mcnte, vulgarisou-se entre nós, por motivo de um :1
operação notavel, o termo de t"'ratologia .úphópiyo,ç, ge-
meos unidos pelo x iphoirle, :ippendice cartilag inoso do osso
sterno, que se cham:i assim por terminar em pont:1, ,lc ;.cí-
phos, espada; pa_qo.~, depage.ís, part. passivo de p·g11y11i-i, unir,
jnnlar:-1111r1ópagos, unidos pelas n:1degas,de pygi:', naJcg:1.
Plmgo (11h ,gêm.comer): -Antrupopliago(âm:hrõpos,homeln \
frhihyophago, (frhtzíB, ptixe), zoopltay11 (ziion, untmal carnivoro',
esôpluigo (oisõ, do verbo desusado oíii, que serve de futurc) a
phérõ, levar) 1 can:11 que leva os alimento,; ao estomagu:
-~iircbp/1'1 1/o (sarks, gen. sa:rkós. carne:, tumulo. Gr. anfhropo-
jJhúg,~.~, oisophli,gos, sarcopluíg1J,S, lat. antropopltiir,us, a;sopht"ígns,
,<;m•r:r,ph,:íg11s. Oi Lülopltá,1Joi, lat. Lotoplthyê, os L,,tóphagos.
povo que comia o lót11, frucra deliciosa, que, 4,egundo Ho-
mero, na Orl1111~éa.. fazia esquecer a patria aos estrang-eiroi,
Phwf) (pltcr.11ó3, visivel. claro, phamõ, fazer ver, apparc-
ccr, brilhar ):-IJiáphano (dúí, ntravés), a.erópha110; ,liu11lm11,:,;,
aero11hrm,:s.
PhnsP. (phasis, affirmação, de ph í'11ú, dizer, affirlnar, ou
Jémonstração, de 11/v,1,inõ :)-Apopltase (a11ó. com significaçün
negativa, refutação), emphase (en, prep., e phasis, de phainõ,
apparecer, mostrar).

Biblioteca Pública Benedito Leite


110 A LINGUA PORTUGUEZA

Pltilo (philos, amigo ):-Biblióphilo ( biblíon, livro), hy-


dróphilo (lt!Ídõr, aguai , enóphilo (01:nos, vinho), Theóphilo (Theós,
Deus), etc.
Phobo (phóbos, temor, fugida ) : -Hydróphobo, enóphobo,
etc.; Xl'nóplwbos( xénos, estrangeiro ),nome que, ultimaniente,
i,e tem dado aos chinezes, chamados boxers pelos inglczes;
e ainda, com maior propriedade, se lhes poderia dar o de
xenóplwnos (xenophónoi, de phónos, m::irte, mortandade), que
má.tão estrangeiros ou hospedes. Dos compostos de J)hnnr,
\'OZ, falaremos depois.
Phora, phoro (phorós, de 11hfrõ, levar ou trazer): - A'm-
71lwra) amphí, dos dois lados, ámphõ, ambos), vaso de duas
asas, 6 r. ainphoreíts, lat. ctmphora; anáphora, epanáphora, metá-
phora ( ctna exprime repetição, epi, sobre, meta, mudança),
figs. de rhetorica, gr. anaphorá, metaphoi-â, etc.; phosplwro
(phõs, luz), gr. phõsphóros; zoóphoro (znon, animal), zoophóros,
o zodiaco, friso ornado de figuras de animaes; electróphoro,
mod ., termo de physica; semáphoi·o, mod. (s cma, atos, signal),
apparelho de communicação por signaes: Bosphoi-o, que se
devia escrever e pronunciar Bosporo, vem de bous, gen.
boós, boi, e póros, passagem. Dizia :i mythologia que o · es-
treito de Constantinopla tivera esse nome, por tel-o pas-
sado a nado a princeza lo, que Jupiter transformara em
vacca. Gr. Bósporos, lat. Bosporu.~ ou Bósph üi-11s.
Phrase (phrasis, de phrázõ, dizer, falar ): -Antiphra:;e, pe-
i-íphra.~e, pm-áphrase, (vará, junto de, ao lado ou ao longe de),
etc.
Phy.~e (physis, naturc,za, producção natural): -Apóphyse
· (ílpó=ex ), excrescencia: prósphyse (pros=ad ), adherencia;
..
symyltyse (syn=com), cohesão.
Ph!}to :-NPóphyto ( néos, novo, vhytos, de phytenõ, planta-
do), recêm-conY~rso; zoóphyto (.2õo11, animal, pltytón, planta)
animal que tem forma de planta, como o coral, a esponja,
etc.; epíphyto; pr-otóphyto, t. de botanica.
Pocfa ou pode (poíts, podós, pé): -Antípodas ou antípodes,
ápode, di:pode, tripode, etc. Antípous, gen. odos, pl. odes, apous,
A LINGUA PORTUGUEZA 111

otlos, clípous, odes ,lipódês, o u tripaus, orlos . Lat. antipode.~, bi-


pes , i'dis, trip11s, ?Hi.~. Muitos te rmos modernos, de zoolo-
gia: - Myrüípodes, cltilópolles, cfrrltópodes ceplwlópodes, pterópo-
rlr.,, gasteróz1odeii, decápode.~ , etc.
PolP ( polis, cidaàe; :-Acrópole (ríkros, ó mai s alt9), me-
trópoli, \mfiti'r, mãe). necrópole (n ekrós, morto ), Decápole, Pen-
t1ípole 1rleka, dez; vente, cinco), et c.
Pl)ro (p óros, p:issagem):-Micróporo, que tem poros pe-
quenos.
Pota: - Déspota, antigo dés pote (cle.ç, pref. augmentativo ,
e po.~is, por J)Otis, senhor ). Gr. ile.,pótes, vo cativo dé.~potn, b.
bt., t/cspri fPS ou ,lespútus, esp. déspota, ital. déspota e cléspoto.
Ptero (vterón, aza ): - A'vtero, cliptero. perí,pte1·0, ou pe-
ripterio, g r. perípferon, edifi cio que tem alas de columna:;
em to rno. Muito s te rmos de zoologia:-Coleópteros, orthà-
ptei·os, he11úple1·os, nevróptem.ç, hyinenópteros, lep idópteros, rhi-
pí7Jteros, chirópteros, phen'icópterns.
Pulo (p fÍte ep1ílos, porta):-Eolípylo (A'eolos, E'olo, vento
ce ~to instrumento de ph ysi ca; mycrópylo, te rmo de botani-
ca: Thm nop11las, desfilad eiro. e m que ha via ag uas therrr:iae s.
Sçeles [skélos, perna 1: -Isósceles, triang ulo, qu e tem doi s
!:idos igua es. Gr. {~oskelfis, bt. isoscel,~s.
Scopo l sropé7J , olhar, observar] : -Horóscopo, astrologo
qu e o bse rva os ast ros na hora do nascimento,astro que pre-
side á hora natal: supp osta influencia desse astro. G. horos-
kópos, lat. horosr:/Jpus.
Su11hos : sop!tós, sabio, sophia, sc iencia, sabedoria 1:-Phi-
. . ló.~o])ho, theosópho, sahío nas cousas divina s.
Sporo (Sporrí., se mente): -Zoósporo, micróspo1·0, termos
de botanica.
Stase (stásis, rep o uso, esta.clo ):-Apóstase (ap0, id óa de
saída ou apartam e oto), termo de med., formação de um
abces~o; extase (ek indica afastamento), d1:ástase (cliá indi ca
seplraç;10), m~tást"se (111 ?trí indica mudanç:i ), perístase, cír-
cumstancía, conjunctura, assumpto ou conjuncto d~ um

Biblioteca Pública Benedito Leite


.112 A. Lf)l"GGA PORTUGUEZA

disc ursu: hem6sl<i.~e (haima, sangue ), estagnação do sangu e


(96 ).
Stata, de hisfao ouhisf,,mi, pôr. le rnntar, médi o e pa ssi,·o,
hístnmai:-Apostata, gr. cipostáliis, voe. apoRtn.tn, como após-
t.i.se, apostasi't (aplústcmi, separar, de apó e hísliimi), próstaui
(wostútrs. protector) te rmo de a:1atomia, nom e de uma
gündula ..Vlodern'l: --Aeróstato, o balão ou apparelho que
se levanta no ar. Tambem applicão o vocabnlo ao homem
que dirig~ esse app.1relho ou aeronanta, e então dizem ac-
i-ostata. E ger.1lmente acc':!ntúào à franceza aerostáto, aiwostrí -
fo. Esp. neróstata, ital . ,1eróslato.
8ticho (stíchos. linha . verso ):-Aerostii·ho (ríkros, que es t:í
n:t extre midade ), co mposi ção em que cada letra de um
nome est'.Í no começo de um verso. Disticho lrlis, dois).
Stolo, stolt.i, stole (de stéltü, enviar). -Apostolo :apó, lon-
ge ], epistola (epi, a', tlia~tole, systole (diá . entre. syn, con1: clias-
téllõ, abrir, syste/t,i_. co ntrahir j, dilatação e contração do cora·
ção e das arterias.
Stonici \stom ,., boca ):---Entlóstonui, e:r:ostóma, termos d e
botanica; perí8to11ta , t. de b ot. e de zoologia.
Stl'Oplte (stroph J, reviramento, inversão do côro tragi co,
-:A.n.fístrophr,. inversão, o que c:intava o côro depois da es-
tr6phe, anJ.,nJo em direcção in\'ersa, apóstrophe, apóstro-
phe (cipó indi ca afastamento, acção de virar-se para falar
a alguem).fl!,i.·. de rhetorica; apóstropho,signal qúe indi ca af:l',·
tamento ou supressão de uma vogal; muístropho, inversão, t.
de grammatica; epístroplte, volta, repetição Je palavrn; t. de
rhetori.:.-a; m.t11strophe \l.:atií, contra).Limílrophe (l:1t. li111itriíph.1t.~ )
é composto hybrido. de limes, ais, e do grego t,rophós, aJ-
jectivo verbal, de tréphü, alimentar. T,imitrophi n_qri ou funrh,
terras das fronteira s, dadas aos soldados para a sua subsis-
tencia. Tornou-se depois synonymo de limitmieu.~.
Stylo (slfÍlos, columna )-: Di.ást!Jlo (rliá. separação) in-
tercolumnio, próstylo, que só tem column:is na frente, te-
trá.~tylo, octóstylo, g rupo de 4 ou de 8 columnas, etc. Geral-
mente accentuão, e tambe m no espanhol e no italiano, pc-
A LINGUA · PORTUGUEZA 113

ristúlo, mas sem razio, provavel~ente por intluenci:1 do


francez, pois o vocabulo gre.;o é peristyloii e o latino per1s-
l Jl1tm, ou per1stgliitm. E,•itaremls essa infunfada pronuncia,
dizendo pe,ist11nu.
Thero (tMroi;, e3ti l ): -l1jt/iiro, t. de meteorolcgi::i, crea-
do por Alexandre de Humb.)ldt, linha isóthera, a que pas-
sa por todos os plnto; d1 terra e tem a mesm1 tempera-
tura média no estio.
'I'liese Il/1é11ii 1 posição, de títh!Jnii, pór) : -.-fotítlt ese., oppo-
siçào; ephithese, (epi, no meio. e én-tlteió;, inserção], interca-
lação de letra ou syllaba; próthese (pró, arites no principio);
metáthesc (melá, ind. mudanç:.1, transposição J; düit/1e:;e (diá=
ao pref. lat. dis ]; disposiç:io, que pr.!dispõe para varias mo-
lestias da mesma natureza.
7'oino, tome (tomif, córte te»mõ, cort:1r):-A"to11w (átomo:;,
a priv., subentende-se merís, parte), molecula indivisível;
epüome (epttomé) , cerceamento ou resumo de uma historia
ou doutrina: dicliotómo (diclt!J,, ad., em duas partes), ramo
biforrado, lua em quarto; cystótomo ( k/;stis, bexiga \ litltú
tomo (lít/tQS pedra)i instrumentos de cirurgia.
Tono (tónos, tom): - A"tono, monótono.
Typo (t!Ípos, modelo): -Archétypo rarch,\ principio, ori-
gem ). Gr. archétypoii, lat. arcltetfjpum. P,·otót1JJJ1>, (prõtos, pri ·
meiro). Gr. protótypou, l:it. protol,1pnm. !tal. archétypo, pro-
totipo, mas no e~p. arquetipo, p1·ototípo. Homótgpo, termo de
anatomia.
Por terem a penultima longa, são, no latim, 11ai·oxyto-
nas, e o são t:unbem no portuguez, as palavras seguintes,
ainda que tenhào no grego accentuação di,·ersa:
1. 0 -As que têm a penultima vogal seguida de duas
consoante!I ou de consoante dupla (x ou z), por exemplo:
rtpopltl11ég111,a (gr. apóphthr.gnia). Alguns dizem apofl'êgoua; mais
gerntmente, porem, pronuncia-se -apotégma, e assim no es-
panhol e no italiano; epigràmma, monogrâmma, etc .• do g r.
epígramm.a, 11wHógrammos. etc. (97 ): aorísto (gr. aórislus), ,m-
thropomórph.o, p~ymó>-phu (gr. antl1rõpo111orpltos, pol!Ímorphoii) ;
í

114 A LINGtJA POR1'UGUEZA

microcÓSIIW (gr. micrócosmos); mouophúllo, Olimpo, tyrà,rno


( 98 ), orthodóxo l gr. orfhoilóxos , JJrirallú:ce ( gr. parúlfaxis J,
corúza, (gr. córiza ·, etc.
Quando as duas consoantes são mudei e l-iquidri (l ou r), a
regra, como já ficou dito, é ser a vogal precedente breve
na prosa e commum no verso, ri vontade do poeta, salvo
quando a vogal é longa por na tu reza, porque a posição
podia fazer longa uma vogal breve, mas não breve uma
longa. Na pronuncia latina, a accentuação de palavras gre-
gas obedece a essa regra de q11a·11tidrule, que era commum
ao latim e ao grego. Assim, barcíthrnin ( 99 ), phai-i!trwn, pha-
rclra (100), mas theatnmi, nrcthra (gr. bárathron, phéretro11,
pharetrci, théatron, unithra j. ~os termos de geometria, com-
postos de heelra (assento, base), prevaleceu no portuguez,
e tambem no espanhol e no ital:ano, a accentuaçào fran-
ceza: diéclro, decaédi-o, polyédi-o, etc. (gr. díedros, dekáedros, po-
lúedros), que deviarnos pronunciar com accento prop;iroxy-
tono, como pronunciamos cáthedra, composto do mesmo
elemento. Tambem por influencia do francez dizem: anh1í-
di-o, epicúdo, hemicyclo, períplo, etc. (Gr. ányilros, epík11klos, he-
tníkyklos ou hemikyklion; pcríplous, por ser a ultima longa.
Lat, anfírlrus, epicfíclus, ltemic}íclus ou hemic!fcliwn, per,"plus; só
no verso per,plus).
Prevaleceu o accento 11a penultima, em clepsúclra, tam-
bem no espanhol e no italiano. Gr. klep.sjclra, lat., na prosa,
,cleps!írlra.
Gera lmente dizem <tsséda; outros, como ,\loraes, ái;.~c-
cla.. No latim, assêcla ou ctSsecula, na prosa; só no verso,t:1m-
bem, assiJcla (ror).
Diz-se owígra, planta: onâgre, machin ·, e -:ommumente
01tágro . Assim tambem no espanhol e no i•aliano. Alguns,
porem, accentúão ónngro, conforme o latim onif.ger e onlÍ,-
grus, gri; gr. ó1tag1·0s (102) .
. Podâgm e chirágra, no portuguez, assim c0mo no ita-
liano e no espanhol, com a accentuação grega, que era a
que tinhão mais freguentemente no verso latino; e tambem
A ttNGUA POR.Tt1~UEZA llõ

pellá,gra, compo,;ição hybrida, do latim peUis e do grego


agra, acção de tomar, prender; outros termos medkus,
como vachiságra, e c., e liiságra, palavra espanhol:l, de ori-
gem incerta. ,Hariíbra (dansa) vem, segundo D:.1 ü.1nge, Je
clwrea• .llachab..eontm, nome de uma ceremonia ou pintura,
imagt ada, na id.1de média, para repres::ntar a igualdaJe na
mor,e.
Camões ac.:entuou, por varias vetes, itlololátm, idoltitra
por: liberdade poetica ( 103). (Gr. eidulntres ):
Em algun,; nomes pwprios, os nossos poetas u~ão des-
sa libe~ade, que tinhão os latinos. Camões acc~ntuou A.r-
t4bro, Cleopátra ( 104); Odorico Mendes, na tr:icucçào da
Ili.ida, accentua sempre Patróclo. ~a prosa, pon:111 1 como
dizemos Themístocles, Sóplwcles,Empédoclcs, devemos tam bem
dizer, conforme! regra latina, Cleópat,,a, Piítrodo, Péricles.
Dâmocle.Y, Agátocles, Etéocles, etc. (Gr. Kleopátra, por ser lon-
ga a ulti1Da vugal,Pat,oklcs e Páti-oklos, Periklds ou Periklr;s,
Damoklês, Agatoklês, Eteokl,;s e Eteoklos, Temistokl<:fl. Sopho-
klês, Empedokles).
'.l 0 -As que rum, na penultim:i -,yllaba, ditongo ou Yo-
gal proveniente de ditnngü greg,). Ex. Ce11lrí1,ro, Jliiwtâuro,
(10;), emp!tytõuse, Pentatêul'lw (>{r. néntauros, Minof1t1tros, em-
plifjteusis, Pentâteuclws). etc., clâméra, (gr · c/dm·,ira. lat dli-
m t:ra) ltetéra (gr. /1etaíra), :1m:1nte, cortetà ( 1 ,6 )./1ye11•i ihyui-
na, lat. hyu;11a), epicê1io (gr. ep1koinos. lat epicnw.~) eu,.êuu,
miot:41w. plio~no,-térreno -termos m0Jernus de:: gc::ol,,gia:
de ,e<1s, aurora, m~on, n;ienos. pleirm, mais. e kai11ós, recente):
ozbvi (gr. ózaina, lat. oz e1u1), s11n cléplr,, (gr. siwtlo1'.pli,;,lat. -~111111-
lceplta): crocodilo. Paraíso, sapltira (gr. krokódeilos, Panídúso1,,
sappheiros. lat. c,·oco,I lus, .P.,radixus, sapp!l •s11.ç. a1w,calitl/,1J ( gr.
anal.:6loutos), l1ypotenúsa (gr. ltvpótehlousa), etc. ;\ o portug-uez e
n'J italiano, pronuncia-si:!, conforme esta regra. almo.~pl,éra,
p:1lavr11 nova. formada deatmós. vapor, e sp/uiim lat xpli:o-a;
os espanhoes dizem atin6sphera, que seria a accentuaçâo ·
gre5a, atmósp/1aira, por ser breve a ultima vogal. Aétlo1 rc-
116 A LINGUA l'ORTUGUEZA

cebido por intermedio do francez, assim se deve pronun-


ciar, porque vem do grego aoidós, cantor, poeta.
3. 0 -As que, no grego, têm longa a penultima vogal.
Taes são :-E'ta ( 107) com é longo: -apostêma, diad~11u1,
edêma, emblêma, emphysema, epophonema, erythêma, estratagêma,
epicherêma, enth11mê111a, exauthema, poema, prnblêma, i;ystê11ia,
theorêma; antichrése, cathacrése,diap!torése, diurése, dfocése, (108),
e.cegése; Ohersonéso, epltébo, parallélo, etc. que são todos pru-
paroxytonos no grego (apóstcina, diádcma, etc; antichresis,
katécliesis, etc; dioíkesis, exégcsis, etc.; Chersóncsos, éphcbos,
parállclos, etc.) e muitos que são no grego oxytonos:--ana-
chorêta, asceta, athléta, exegeta, proxenéta, anthéra, austero, es-
calêno, etc ( ánochõi-ctJs, askctÍfs, athlcttis, exegclifs, proxenctls,
antherós, austerós, skalcnós). Mas, por ser breve o penultimo
e (epsilón), deve-se dizer, por exemplo:_:exéresc (gr. e:cai
resis), termo de cirurgia; hematemese, t. de med. ( de haima,
atos, sangue, e cm!!sis, vomito); apóthema ~gr. apothema], t. de
geometria e de chimica; apóeema, epithema (gr. apóz/fnia, epi-
thcma), ts. de pharmacia; e tambem se devia dizer éczema
(gr. ékziirna, de ek e z1;õ, ferver, efervescencia, erupção ), que
geralmente pronuncião eczêma. Em esqueleto, prevaleceu a
accentuação francez:i, differente da latina e da grega (gr.
skeletós, secco, lat. sceletus). (1091. Phylloxéra,palavra moder-
na, de vhyllon, folha, xcrón, secca, é pronunciada com o
accento francez, que seria tambem o do latim; Paracléto,do
lat. Parnclctn.ç, tr:mscripção do gr. Parákli!fos; Pa1·acl'ttus é da
•baixa latinidade.
Proferem, no geral Ettréka, mas devia-se dizer Eúreka
com o accento na prmeira syllaba, e o e com o som de ê.,
E' o perfeito do verbo eurískõ, achar: e11 achei.
Oméga (o grande ou longo) :-a1Jotlteóse, anadiplósc, cpa -
nathróse, liypotypóse, metamo;·phóse. metempsycl1óse; muitos
termos de medicina com esta terminação :-amaurôse, anas-
. tomósc, aponevróse, cyanóse. ecchymose, exostóse, ltematósc, nar-
cóse, necróse, nevrose, phloyóse, pyróse, scleróse, synartltróse,
d,iarthróse, sy,mevróse, symptóse, etc.; arôma, axiôma, idiôma,

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A LINGV-A PORTUGUEZA 117

wymptuma, glaucôma, sarcúma, zygônia; amorno, ,innamômo; mo•


nocliromo, isoclwomo, polycltromo; ozone; asymptóta; l1yssópe,
etc., todos proparoxytonos no grego (apotliénsis, 111etámó1·-
pkõsis, melempsychõsis, arõma, 1díõm~, etc. ) e outros, que são
o.rytonos: -apódo, epódo, rapsóde; anagóge, epagóge, paragóge;
·'JJnagoga, demagogo, emmenagógo, pedagogo; epiglóttP.; myosótis;
pylôro pyrópo, etc. (apõdós, epndós, rapsõdós,anagõgt\pamgõgí'-,
demag11gós,paidag1gós, epiglõssí.ç, myosõfü,pylõrós, pyrõpós). En-
dosmósc e exosmóse, termos de physica,. têm essa terminação
e pronuncia, por analogia dos supra mencionados, compos-
tos de éndon, dentro, éxõ, fóra, e r,smós, impulso. São pala-
vrlls «formadas irregularmente, adverte Littré (Dice .), por-
que não ha no grego a palavra ósin7isis. Devião ser enilosmo,
e:x:osmo~. O mesmo autor nota como mal formado o termo
azófo, de a privativo, e zÔ'i, viver, «cíziitos significa, não sem
vida, mas sem cinto, e o t não se mostra nas derivações
de zóõ senão em zõt.ikós, vivificante:.. A palavra devia ser
portanto, azotico. Não se deve dizer com de,;inencia fr:m-
ceza, como dizem muitos, azote. Tambem dizem geralmen-
te holophóte, palavra formada ha pouco ( de hólos, todo,
e pM.ç, gen. phõtós, luz), que, na nossa lingua, se devia pro-
nunciar lwlophóto.
Antílope, apezar de o termos recebido do francez, é
pronunciado mais geralmente C'Jm accento na antepenul-
tima syllaba. De origem desconhecida, alguns o suppôem
corrupt~la de anthólops, olhos de flôr, de ântho.~ e i5ps, nome
dado pelo autor grego Eustathio a um animal de cornos
recortados.
lnterlópe, o que atravéssa ou faz contra~ando, veio do
inglez interlõpe, composto de inter e loopen, antigo allemão 1
lrmpen no moderno, correr.
Anecdóta, assim pronuncião todos em portuguez, com
a accentuaçào franceza, e já não é possivel dar-lhe outra.
Os espanhoes dizem anécdota, e os italianos anéddoto, con•
forme á accentuação da palavra grega e á da transcripção
A · LINGUA PORTUGCEZA.

atina (gr. r1,11ékdiítos, cousa não publicada, inédita. ]at. anec-


r1.r'ítmn, pi. aneclUita'i.
Anemona ou rinemone; alguns diccionarios portuguezes
accentuiio a :intepenultima sylhba: anémona, e assim pro-
nuncião os e-:panhoe,; e os italia11 ls; ma~ deve-se pronun-
ciar rwenuínr,, p r ser longo o o. n > gre 5 o e no latim (gr:
anemÔn ii , lat. anemrnm ).
Aulóthtlwnes, não rtntochthônes, como diL"l11 algun'> ( lat
a 1dochth iíncs, gr. autóchU1,m, gen a11tóchf."í11os, pi. autócltlhones,
de autós, o mesmo, e chthím, gen. chl6nós, tl:'rra). O nomina-
tivo singular tem na termi11açào o m,iga, mas o mü:róu ou
breYe, em todos os outros casos.
Cnt11laló11e, cotyledóne.~, rião cot11lédo11e~. como accentúão
alguns, até lexicóg-raphos: devemos pronu11ciar com o
accento latino dos casos obliquos, que neo;ta palavra coin-
cide com o grego (la t. cot.1Jlérlon, 1Jnis: gr. k·1t1Jl êddn, gen !.·o-
t1;li'rlí1Jws ), esp. cotyledón, cotylei/,óne,ç, ital. cotyledóne
I-IeróP, que. no portuguez e no itali:1110. tem a accen-
tuação latina, tem no esoanhol a grega -herne (gr. h/rns,
gen. hfrnos; la t. h.cro11, heróis).
Metém·o no espanhol, meféora no italiano, com accento
grego --111eténros; em portuguez, metefiro, com o accent • la i·
no; metéoro só por liberdade poetica (110).
Mis,1,nth1·ópo.pl1.ílrinthrópo, visto ser longo o o, no grego
e na tr:inscri pção la ti ,,a (gr. misánth1'"õpos, la t. misanthrõpus),
não obstante Si! pronunci irem estas palavra~ C')m o accen
to grego no espanhol e no it:iliano, meno~ fiéis que o
portuguez á pro-;odia latin:1, e quererem alguns lexicogrn-
pho, e grammaticos no-;sos que assim pronunciemos. Com
r,1zào accen úa :1 pe ultima o sr. Adolphc. Coelho (Dice.
elym. ) e cremos que é essa a pronunci:i mais geral, ao me-
nJs :10 Brazi l.
Slfr:Ómoro, as~im se pronuncía. e se deve pronunciar;
tambem no espanhol, mas no itali:rno accentu:ío s11comóro.
Vem de sjlcon, fi,5o, e núíron, amóra, não de m'jj,·ós, mõrón,
A LtNGUA POR'l'UGUEZA 119

como suppuzérão os que lhe cham:írão figueira dôuda. Gr.


sykóm,'íros. lat sycom01·1is.
Alguns vocabuJos, que têm u micron na penultima, são
errbll#ramente accentuados nesse o, que é breve; assim li-
tó~, melópe (lat. litt'ítes, mett'ípa).
Ar.roâma tlat. acroi/.mi, gr. ak~·óama), a longo. Poucos
nomes commnns: grabálo, lat. grabt7.tus, g, krâbatos; thetitro,
a • theiitrum, gr. llteatron; tiríra, lat. t1{7ra, gr. tilíra. Art7trum
arndo, é no grego árotron ..
Agápe, como diz~m alguns, homopltifa, progmítlio, etc.,
como geralmente pronuncíão, é accentuação franceza; a
1 tina quer accentuada a antepenultima syllaba. Assi"!l
tambein ágatka, não agátha, ou agâtlte, ferro agáthe, como di-
zem muitos. Pronuncião quasi todos 01ísi11. Os espanhoes
d:zem tambem oási.~, os italianos oá~i, mas no grego e no
Jatim é óru.is. Sátrapa é como geralmente se pronuncia e se
deve pronunciar, mas vemos o accento na penultima, s11-
trrípa, em mais de um dos nossos diccionarios ( gr. stilrápP1
lat. ,'falrlípa). Pélago, archípélago (da raiz plag, bater}.
Em allupátha, liomeopátlia, nei:ropátka, prevaleceu a pro-
auncia francez:i; a latina seria como é a espanhola, allópa-
tha, lu,méopatlia, 11evrópatlta. M~lhor fora dizer, substanti-
vando o adjectivo, aitopathico, lwmeopathico (medico) nevro-
patbico (doente), como os espanhoes dizem diplo111atico (mi-
nistro ou agente). Os franc~~es fiz~rào diplomata com o seu
Buffixo correspondente ao latino atus, o mesmo com que
formárào os nomes dos compostos chi micos carbouate, chlo-
rate, sitlpha_te, etc.; deviamos, pois, dizer diplomáto, como
carbonato, etc. A terminação em a parece que proveiu de
suppórem que era um derivado grego; oi,; italianos usão
da mesma desinencia franceza: un accortu diplomate.
Um dos nossos melhores diccionarios accentua ltydró-
lato, não obstante escrever alcoholátr,; em :imbos a termina-
ção fr:1ncez:1 at vem do mesmo suffixo latino at·us: o l, em
hy<lrolat, provém da analogia com alcoolat. e provavelmen-
te para evitar confusão com Aydrate.

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120 A ~I~GUA PORTUGUEZA

l longo: --hermaph1·odítn, parasíto ( 1 11 ), do gl. lier,na;phro-


dito,ç, parâsiios, lat. hei·maplwod,tus, pams,tus: cenobí.lfl, co.9mopo-
lífa, eremíta. metrovolíta, s11ba1·1ta,sorífc, ascíte, br,mclilfe, gasfrí-
te, hepatíte, etc., todos os compostos com os suffixos gregos
· íffs e ifis, no latim ila, ites, it,:~. Logogl'íplM, porque 6 longo
o ide griplms, enigma (gr. griplios).
Em diatríbe iJre,·aleceu o accento,. e t:11nbem a desi-
nencia do francez (gr. diatribd·, lat. diafrYba 1 esp. diatríba,
it:11. diátriba).
Ylongo:-asylo, prtp!Íro; mas ázimo, SlÍl.'JrO (1 I'l),zépliy1·0.
Diz-se geralmente hydmrgyro (tambem no esp. e no
ital.), mas no latim e no grego é h.11<lrárgyn1s, hydrch·gyro.~.
Hippogr!iplw,, porque o y é longo em gryp.ç, gen. gr1}pis
e yrípus ou gr,pl111s (gen. g1·1íps, gen. grypós). Tambem as!:im
no espanhol e no italiano ( 11.3).
Híerogl!ipho é palavra tomada de francez; os nossoi;
classicos sempre disserão hieroglypliico, do grego Merogly-
phikós:-hierogl§plios era o gravador de hieroglyphicos.
Muitos pronuncião com accentuação fr:mceza:-an0-
rl!ino, cond!ilo, epidiod!Ímo, parenchym,a, presb!Jta, bigl!Íplio,que
todos, segundo a prosodia latina, devem ter o accento na
antepenultima syllaba. Tamhem se devia dizer liem6pf.11se
(!{r. haim6pt11sis), mas geralmente se diz ltemopt!Íse (esp. lie-
moptísis, fr. hr1w•1>l!Jsie, ital. ltemoptisia). Troglo<l1íta é, no gre-
go, troglodfÍtes; nos diccionarios htinos, encontra-se troglo-
rlr.ta e troglodiila.
Como ~e vê. em muitos dos exemplos que temos ad-
duzido, ái; ve;.es. ha coincidencia do accento grego com o
latino, obdecendo cada um ao seu principio,-6 latino á
quantid:ide da penultima syllaba, o grego á da ultima. As-
sim, em ambas as linguas, são paroxytonos:-patrúírclta, p1·0-
phéta, bibliotliéca, hypoth.éca, comêfa, plrwêt,i, pltiloméla, diabétes,
plethóra, etc.
Vê-se tambem dos nossos exemplos que não poucas
vezes a influencia do francez, o qual não tem palavras pro-
paroxytonas, faz que vocabulos de origem grega, ou for•
A LINGUA PORTUGUEZA l~l

mados com elementos gregos 1 sejão pronunciados no por-


luguez com accento differente do que titihão ou deviào
ter no latim, e muitas vezes tambem no grego ( r q).
A naturJl propen,;ão da 110s:;a lingua pJra accentu.ir a
penultima syllaba, facilita es-;e desvio, que em muitos ca-
sos se torná irremediavel. Em outro:;, porem, póde ainda
corrigil-o o um dos doutos. Convem accentuar todas as
palavras de etymologia grega, que possão induzir em erro
ou duvida, seguindo sempre a regra da prosodia latina,
sal•;o naquellas em que, o uso universal e inveterado fez
prevalecer o accento grego ou o francez. Pouco importa
que nã,'l houvesse a palavra no latim antigo; facil 6 sup-
pór a transcripção latina e por ella determinar a accentua-
ção portugueza.
Quando, por ignorancia ou incuria, já se tiver gene-
ralisado a erronea, convém corrigil-a, sempr~ que fór pos-
sivel, conformando-a com a etymologia e com a indole da
lingua, sem alterar a accentuação que prevaleceu. Assim,
por exemplo, dizem geralmente cltrysantltéme: o nome des-
!la flór tinha, no grego, duas fórmas-cltry.5ánthif11101, e clt1 !J·
santMmion (no latim. cl1r11santh1'f11mm); já que seria difficil fa.
zer acceitar clirysântl,emo, digamos chrysantltêmio.
Dizem todos ou q uasi todos telephó11e, graplwphóne,
grammopltóne, etc E' forma puramente franceza Qual deve-
ria ser a portugueza? Tem-se proposto teléphono e telepho-·
nio. Parece que, no espanhol e no italiano, tem sido ado-
ptado télep}wno; já temos lido esse nome, com essa fórma e
accentuação. numa e noutra lingua. Seguírão, sem duvida,
a analogia dos adjectivos 1ífono, homófono, etc., que assim
pronuncião, com o accento grego. Qual seria, no grego
e no latim, a fórma dessa palavra ? O grego tinha osses ad-
jectivos, compostos de pltnn/i , voz, som: -ápltõnos, os, 011;
eítpltõnos, lwlópltonos, ltomóphõnos, monóplwuos, mikrõpltfmos,
etc. Com têle, longe, podia ter ·formado lêlépltõnos, som
que se ouve de longe ou cousa que soa ao longe, como
formou teléthroos, d~ tltroos voz, grito, de igual significação,

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A LINGUA PORTUGÚ ZÁ

que te,n voz ou smn que se ouve longe: e desse adjec~i vo podia
fazer um substantivo, como de eptáphonõs se fez Eptáphrrnon,
nome de um edificio que repetia a voz sete vezes ( 1 t ). A
transcripçào latina desses ocabulos teria longa a penul-
tima syllaba, correspondente ao o mega de phõné: aplw-
nits, homoplwnltS, telephõm,m, etc .. Em portuguez, portanto,
deve-se dizer aphóno, JwnwpMno, etc. (u6). Podia-se. por
conseguinte.adoptar telephóno; e essa fórma seria facilmente
acceita pelo maior numero, porque só mudaria :r desinencia
da palavra j:í corrente; outros, porem, suppondo pronun-
ciar melhor, dirião teléphono, como no espanhol e no ita-
liano, e em seu favor poderião allegar que se diz antiphona,
apezar de ser no latim antipliõna. Telephonio evitaria essa
• v:iriedade de pronuncia, e seria formação muito adequada,
Com o suffixo ion,formava o grego substantivos,que signifi-
cávão instrumento ou apparelho:--hõrológion, hydroskópion,
relogio d'agua, hõróskopion ou J,oroskopefon, quadrante astro-
logico, mete:õroskópüm, instrumento para tomar alturas (lal.
Jiorologium, etc.). Meteo,·oskópos, o que observa os meteóros,
lwroskópo,1, ó astrolog., que observava o astro que se sup ·
punha presidir á hora do nascimento, ou aquillo a que
chamamos horóskopo. isto é, a observação desse astro ou a
predicção da sua supposta influencia: no latim, a mesma
difft!rença-Jioroscopus e horoscopium. Por esse modo se for-
reárão os vocabulos modernos: -baro.çcopio,caleüloscopio, não
káleidoscopo, como querem alguno;, estereosr,opio, não stereós·
copo ou stereoscópo, 11,it:roscopio, tele.<M:opfo, hygros,:011.io. Tinh o
os gregos os adjectivos tcle.~kópos, ·o que v~ de longe, trles-
kopos, visto ou visivel de longe; a um instrument,l, para
ver ao longe, havião de chamar teleskJpion ou -teleskopeüm
Digamos. portanto, telephonio, raleidophonio, graplwplioiiio.
grammoplw1rio,,nicropho11io, (117), saxoplionio, instrumento in-
ventado por Sax.
Muitos iios nossos ~iteratos, seguindo a accen•uação
l'ranceza, dizem:-Chlóé, Pkrypié, oll Ph:rvnéa. P11ycM, etc,
Os nossos classicos, assim como tod~s _os bons.autores mo-

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A LINGUA PORYUGUEZA 123

dernos, sempre dissérão:-OAlóe, Pl1rú1ie,Psycl1e (r18), Oira ,


Dânae, Dá11lme, Diône, D'trce, Hébe, LálaQe, Níobe, Próg111·,
TMsbe, etc. (gr. Cklóe Phrúnê, Pavché ou PslÍcltff, Kirke, Da-
náe, Dáplme, Diô,w, D1rk1., Ebii, Laláge, Niobr, Próknc, Tltis-
be, etc.; lat. Chlüe, Phrúne, Psijclie, .Oirce, Danite, Dáp]inc, Diõ.
1ie, Dtrce, Hebe, Lalage, NiiJbe ou Niiiba, Prociie, Thi:sbe, etc.
Os nomes em oii (o breve ou longo) têm fórma e ac-
,.;entuação diffcrente,conforme a flexão dos casos obliquos,
no grego e no latim. ·
Os da 2.ª declinação, que tem o genitivo em ou, no
grego, em i no lati-m, acabão no portuguez em on ou o,
com o accento latino : asúndeton, 1,ypérbatoii ou · 1,ypérbatu,
cacópkaton, cólon, epíploon, íleon, ganglio ( melhor e mais usa-
do que gangl-ião; gr. gyglion, ou lat. gánglion ), diacliodio, en-
chirídion ou enchiridío ( u9), epicedio. etc.
Os da 3.ª declinação, com genitivo no grego em onos,
no latim em unis ( o breve), terminào no portuguez em on
átono-r.â1wn, cât1ones.
Os da 3.ª declib:ição, com genitivo no grego em õnos,
no latim em õnis (o longo), p:issárão para o portuguez com
a terminação em on accentuada, que se mudou em ão:-i;i-
.phlio, pavão (gr. tnim, 8110s). (r20).
Quanto aos nomes proprios, é qualli sempre a,.;,.;en•ua -
da a ultima syllaba: mas ha discr.epancias, inteiramente ar-
bitrari:is ( 12 1 ) .
Seguindo as 111.esmas regra<:, devcramos pronunciar (ge-
nitivo grego em o,i, latino em i): -P~lio1t ou l't:lio, Oiléó11
(1:12), Jo (gr. Odeion, lat. Odewn, de od?, canto, pequeno edi-
ficio para en,;aios ou concursos de m uska); Pt21&tlieou,(accento
do nõminativo na primeira syllaba em latim e no gr~go:
. de píin,e theÍJ.~,Pânthem1, templo oo:isagrado a todos os deuses;
mas tambem se ditia no latim --P.mt/,eum, c!a fórma grega
Pcmtkeio11 ( 123). Genitivo gr(?go e.m ontos, latino ontis: -A-
c1't~o1ite, A.nac1·eoiite, ,t1,tom~do11te, .Belleropl,,mte, ·Oreonte, Lao-
coonte, :r.aomedonte, 'Pl1aefo11te, Phiegetonte., Phleyonte, 'Phermo-
d-onte, Ucalegonte, Xenoplwnte, (1?4). ~o verso, pode-se usar
A LINGUA 1'0R1'UGUEZA

da fúrma do·clominativo e, nesse caso, devêr,1m.os seguir o


accento latino :-;-Pháeú>n, Pltlégon, Laócoon, Ucftlcgon, etc.
Genjtivo grego em onos, latiqo em õnis:-Actéon, Â.ga-
mêmwn, A~nph"ton, Aríon, Ai·islogíto1i, E'son, Gério,i, Remon,
H11pe1·éon, l xtan (12; ), .J âso12, Lycáém, Jii nnon, Oplií<Jn, (Mon;
etc.
Os que. acabá~ em ion po.deriào tamberi ter a ter~nina-
ção íone, derivada da flexão dos C:l!iOS obliquos: .- Amphione,
Âríone, Geryone (os Ger!iones), Hyperíone, 1:rio11e, Ophíone, 0-
rlone (126) 1 etc.
Genitivo ~rego em _ünos, latino em õnis :--.A.m111ô11, C/t.i-
lôn, Chirôn, Biôn, Cimôn, Plt0ci01i, Pole1,iun, Sinôn (127), So-
lôn (r2.8), Timôn, Zenôn. Geographicos:-C1tl1éi-0n, Colophôn,
Hélicôn, ·(1~9), Jlarathôn, Súlôn, etc. Muitos são usados com
a terminação portugueza· ão :-Amphitriiio, Deucalüio ·Endy-
mião, Platão, Pl~tfão, Pliorm·ião, St1;abão, Tritão. Alguns
que, no nominativo latino, terminão ou vociem terminar
em o, tambem podem ter es1>a desinencia no portuguez,so-
br~tudo em verso :-A'gatlw, Lyco;Strato,Strabo (130) 1 Zeno.
O accento l~tino pede que se diga llfúrmidon ou J,lyr-
mi<Jones. O<;lor.ico Men~es accentua MynH-itlôn, ;.lfyr,nidiif!s,
mas Fr~nco Barr,etó e Cqsta e Silva dizem Myrmidone,s (131 ).
E assim Lestrígones ou L estrigõe:,; o mesmo e;m outros no-
mes dessa te.rm~nação, que tê m a pe~ultima breve, em
latim.
_Os no,mes termina.d.os em eus, no gtl',ego e no l~tim,
p,r9ounoião-se no portug,~ez co,m a ,tern:iin:Jç;ào 9iti;mg_a.ga
em éo, hoje ma-is gera'l-m~n-te gra,phada eu:.-.-Â.tr_êo, C~pMo,
J(.orp/if-o, . Ne1'-êo, ()_rplWJ, Pelêo, Pen·éo, ProW,n,·7'erêo, Tlle..~~o;
mas os poeta_s muit:_is ,'.ezes faz~m átona a termjnação em
a\guns desses nomes (132) :-:-0111/wo, Pér,çeo, Próteo, J/úrplwo
( 1 33), .
Os it..aJianos Jizç.m s~.mpre .Néi-eo, P1:Qulite_o, e n9 v.e rso
tamJ;>em Persto, _Próteo, .'.I'f~ o. E cp.1;11 .razão ptQ.1:w1,1çjão <Í.Jer>,
que se pronul;lcía atê-O JlO portu,guez e no e_sp?,n h9l, p.or
analogia erronea ou por influend\~~-tancez,.p.ois 110 gre-
, .. . , _.

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A uINGUA 'P8R.TUGUBZA 121>

go e~-º fati . l;révé o e e n1o faz ditfJ. . {állle.os, de 4 .


prlyailvo, é flte6s1 deus; liit. a.tll!oR w. al/&lus). Pe~ mesma
..razio, nil, porfoguez e no it:diáno, pronu ci:t-se Tl,..6tktt,
(gr. TiníóMeos, de timi, estima. respeito, e Íli.oos); in:is os es-
p:inkoes diiêrri Timotêo. .
Têtn igu:il terminação ditongada os adjectivos que,
n«> grego, terminado ein cios, no 1.:ttim eu,, derivados dé
nôffles prdprios de péS$óás:-Atistotelêo, Epicit;-êl), Euripe..-
1lês, Sópl!,clêo (t3-jJ,etc ; e og deriv:ido8 de nóines de Ioga- ·
re~. t~trnin:td_osno ~ego eltl eu8 OU aios, DO latim éffl lHS!
-Cleon6&, Oullenêo Ci1renêo, Europêo, Letl&êo, Nemêo (r 35 ),
et Hq,_ porem, derivadôs, em eo; de nomes. proprios gre-
gos. qne silo ~roparoxytonos, por ser de foriniJção latina,
oil imitada.do latiin:-A.mphiôileo, A11alll11e11, H11lcíónet1, Hé·
CÜNo, ~reo,. ou por não seta terminação ditong:tda nb
gregç, (668}:~Dedáleo; H!lpilrbóreo, etc. de Boréas, l:it. Bo-
ria,, vêh~ do norte (136). . .
A maior incerteza na pronunci:i de p:tlavràt gregas é
n:is femlhinas términidas etn ia: umas pronuncião-sé Cdtil
accentuação gtegit, outrás cotn a latina; e algumas são ae~
cen üád111 pdr uns é. maneira latina, por outros á gxeg:i.
No líftm, os nbmés em ui d:t 1.• declinação tinbão o
acc4ntC? na. ânteperliJttirna syltaba, pôr ser breve o i (~ogal
Ht~ êi:i vogal): -jlisÍltiu; conshínlir.i, pfudeiatilJ, Julm, Livla,
Licpliá; Jla_líá, _Gdllm, Elrurifil Oampa11ia, etc. Ó:; nóme;s gi'é-
.gos essa deeliiutção, assim terminàdbs, erão accentuadôs
na pbntililma, ,no noblliuitivo e no voc:Hlva db singui:tr,
pof-.-sir lf?hgo ô a finai:-êupAonin; kciJ<mon&i, ka>n~Éa, trage;
dia Mstotm, jltilrJadphía, A1tíii, A.tabia. ·A~ktiilía, Jlalredonm,
T ~ , ÃBpàslri, .E'ílgêníii, Eilj,krltsúi, Zenobíá, etc.
·.:~a Idade clnssica, todtis esses ndm.es g'regb•· se prb-
nuiicifrãb nd láthn com :tcc~niuação f:itin:t; e só er:t iiccen-
titit~ o í é üilimb, 1iláhdõ loàgo, por ·set prdv'ebíente
do dlttingo gregb ei, ainda q Ué o· accento · (Srigtnàtl6 tbsse
na -anaptnlJliima. · Assim ~...:~p1,mira, 11ariMtlra, totNldra,
tm!J(dr., Aíal6rrcí, ~oitlpltr«; · etc., · mas ~ f a , · aptitJmi,

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128 .l.. LINGUA PORTUGUEZA

antipath,a, sympathia, Epiphania, peripma, pnlitia, 11rophetui 1


pcripl1er1a; Alcxarulia, Antigonla, Antioch 1a1 EumenTa, Nir.ome-
dla, Samaria, . Seleucia, ZPlfa; lpltigenla, Thalia, Dcidamia,
Laodem,a, (gr. akaJimeüi, aptltl1eia, rmtipâtheia, sympálheia, E-
pitM.neia, periphé-reia, vel"i11ét.eia, politeía1 11rophêteía; ( t 37) Ale-
:candrcir,, Antiócheia, Nicomédeia, Samáreia; 1J1higé11eia, Thál~ia,
Dr!idámeia, Loodánieúi, etc. (138). Todavia, muitos pronun-
ciâvão alguns <les!>es nomes com accento latino-Alexan-
,lrrti, Antiocltt'a, etc., o que. ás ,·ezes, procedia de terem no ·
grego duas fórtnas, como-almdhn-eia e akademí11, J)Wm,Q.-
ke-)a e pliarniakía.
No latim da decadencia, prevaleceu o accento grego
em muitos desses notnes,e assim em palavras novas nínda,
não oriundas do grego, como abbatia, cancel/.aría, reitoria, vi-
ritría, etc. Os grammaticos da idade media vião-se em difi-
culdades, para lhes determinar a accentuação. Urn delles
inventava esta regra :-c:Os nomes gregos, que são fortes
ou principaes (não compóstos), têm a penultima breve,
como allegorra, ironra~ histori'a, e ainda os coinpostos, mas
que não vêm de nomes masculinos e que, alem disso, di-
videm uma syllnba em duas breves, como melodi:a, psalmo-
rlrn, prosadra: que evidentemente vêm de oda. Os nomes
que vêm de masculinos têm a penultima longa, como de
sophu,q, i, .,opltia, de pltilosoplius, philosophi, plliloso-phia, e as-
sim acyrologla, prissología1 tautologíq,, theologTa, analogTa, arti-
ympl11a, rn-tlwgrap1i1a, etc.>, ( l 39). E accréscentava que 11 pe ·
nultima é longá em Uraii1,a, porque vem de Urano, e breve
em Pol11mnia, porque não vetn de Polym,111J,1. ( 14:o ). Outros
mandá vão seguir o uso, quer o dos letrados, .quer o do vul-
go, e davão catalogns de111sas palavras, entre os quaes se
notào algumas divergencias na accentuação indicada ( 141).
CDm tal variedade, passárão essas palavras para as lín-
guas nascidas do llatim. Assim, autocr,1,cia, aristocracia, rlemo- .
cmcía, theocracía tçm o accento grego, no portuguez e no
italiano; o latinc{em espanhol,-autocrácia1 aristocr·ácia, de-
mncráeia, teocrácia. Politía conservou, no italiano e no espa-
A LINGUA PORTUGUEZA 127

nhol , o accento que tinha no grego e no latim,-polizía,


poliria; mas tem o a-.::cento transposto, no franccz e no por-
tuguez,-police, polici,, Enciclope,]Ííl,, farmicia. peripezía, str'a-
tPf/Ía, 11ecron11tn.?i11 , JHrodia, prosodía, no italiano: eiiciclo-perlfrr,
fm·nuicia, . peripécia, e9tratégia, 11ecromi11cia, parótlia, prosódia,
no espanhol e no portuguez. Academia, no espanhol e no
italiano; no portuguez, - ar2dPmÍli. Rpiléps.ia, 1lisentéria, epi-
démia, 11f.riféria, no espanhol; epilepsia. 1li.se11teáa, epidemia,
perifería,no portuguez e no italiano. Algum:1s,no ·portuguez;
tivérão an•igamente accen •o diverso e outras ainda têm ac-
cento incerto: -autopsia e autópt~ia, (gr. autopsía,lat. autópslit,
ital. autopsia, esp. autúp.9Ü& e atttopsia). ertchciristía e encharís-
tia (gr. eucltal'i.9tía, lat. eucl1arístra, ital. e esp. eucari.'ltía), li-
tul'gia e litllrgia (gr. leito1tr[!ía, lat. lit1írgt'a, · ital. liturfJÍa, esp.
l1tru:gia); neste caso de incerteza, preferimos o accento
grego, p,lr ser o que geralmente prevaleceu nas palavras
gregas desta terminação.
A estas incohcrencias. que de tão longe vem, só tal-
v~z pudéi1se pºôr ter no uma corporação !iteraria, cuja au-
ctoridaqe fosse de todos acceita, ·como é a da Academia
Franceza . Por ora, é forçoso obedecer ao soberano arbítrio
do .uso geral e antigo (142), A regra é o accento grego,
sempre seguido nas palavras novas, e que é o mais confor-
me á natural tendencia da nossa lingua, para accentuar a
penultima syllaba; as excepções são as f>alavras que do la-
tim recebem JS e em que persistiu o accento latino, d:mdo-
se,. portanto, neste caso, o inverso da regra geral da nossa
pronuncia das palavras de .origem grega, que é seguir de
preferencia a açcentuação latina. Por influenci:i da pronun-
cia J1.,s gregos de Con11tantinopla e dos que,depois da con-
quista dos turcos, imigrárão para a Italia e se e-;palbáriio
por toda a Europa, as palavras manifest:imente gregas
desta terminação, tomárão a accentuação grega; tanto mais
facilmente quanto a indole das novas línguas latinas era o
accento paroxytono; em quasi todas é patente a origem
pelas letras gregas ou suas representantes latinas -(11, .ela, ph
128 A LINGUA PORTtrGUEZA

th; ps;, x) e pelas termiilàções: ..:.archia algiia, ar#a erg,a, ur-


gfa, c'Tlicía, gôfifp, grimía, graphfa, gania, gorilt, latria, . logfa, ma- .
chía, máthía.. -meÍria, noiníii, pathía; pl~!JÍa, philía, pkobía, p/10-
·1iía, psía, sopltfti, tomía, trojJltía, ti,ropía. Consei:'várão ó àcéém-
tb latino algumàs ém que não era ainda e,;ideiite a drigem
gregii, êujàs terminações tinhão semelhança com as de pa-
l:lviás lâtinas, ou que erào de liso ,;uigai' e ffeqüent&,
como comédúi, trngÊdia; e por estas outras d:i mesma ierini~
naçãci:-=ácéflif,i, ou acidl?C; erir/1clopblia1 Cytbpjdià, pyinnópÍdia,
orlMpédia; M'dlácia; pharmácia; como as 1:itihàs falaciú, IXJJ'9
tn1w.icía, etc. ÂJ1tônóinásia, páránoniásia (tambem no esp: e
no ital.), por influencia das precedentes ou de algun§ nét-
mes proprios,.:.;.AMa, Atltiínasia, E1iphtàsia, etc;, e por ana:-
lbgia algtimris terminadas em esl:tí;-aclné.<iia, aiiestÍúRia, ge0-
désia. Peripécia, cómo fadcia, Lucrecia, Helvéclâ. Polícia, côm.o
-nudícia; hiillcia, perfciá: Rilinódia, páródia, ptosódia1 JJMl1tk'>dià1
rapsódia, cóino c11stódia, clódia. Histõiia, e$cM-ia, (gi:. sklJrlâ),
como gMria, memótia, mctõ1·ia, etc. Necrofiiância, ckímn1t1ncia,
etc., como àbundÂricia, ccmstíincia, N1i1'Íânda; etc: Atiúria, an-
gftria, dysúria, estránguria; hemátúria; t:imhem no itlll. e no
e:ip., como cenlllria, cúrüi, decúria, ·injftría, pei11lrla, Etrirla,
etc. Cotn o inês1110 accenfo, ba mais àlguns,vocábulos pro-
veilieiitcs do latim eclesia~ticb ou sciêntifico: ;,..;blnspM•;a,
par6chi4. ( 143 ), pliiláuda, àlopécia, entelécliia, ei,bôgür, ei,p,,i,rm,
euSéniiiJ; eutlu.&wísia, etM~là, euthMia, ei,thfmia. e1itóci.a, e#tta-
péliµ,_ccírdiá.~i·dia(&ojê dh:-se meÍbfü.;.;perícárdio,gi-.JX!ri-
kiràion), orlh1Jépia, hombnfjinia, synonúmiti, tiúmândnti, polyün-
at=ia, biândria, triâtidria, tet,~âudia; ilecândria, icosândria, ,ho)m,
d.SÍphüi, polyadélphm (144). Em alguns dos nossos dii::eioha-
ribs elicóntrão-se ainda, com accentu:1ção latln:í; outrac: pa-
lavi'a9 q.ue boje são pronunciadas com o accentb gregó::...
<ihé1nia; endémia, coino no espanhoi; hoje todt>s àiterh ane'
mia, ende)liíà, como epidenda, Antigainenie, tàfubetn alguns •
diziilo acadé1,al,a, e academias, êxercicios de pintura ou de- .
senbo,. copias de um modelo. Têm accentuação latina· os
ni>tttes!gregos terminados em .ia-, pror,rios de mu-l her ou

Blblloteca Pública Benedito Leite


A LIN<fUA . PORTUGUE..Z·A 129

geographicos:~~, Eultüia, E!1$ébia Ei!,d.óxia, Zenóbüi


~te:, ad ipsf;ar dos atinos-.- Cecilia, Corneli(i, Littia, L~da, Ju,
lia, · Octq,via, Ttµ/ia, Virgin~, etc., ~xcepto Sophía, Deidamíal
ÚJ(/damia, T/ialíq,, ~ µaría, 1'tl11µía, d~ orjg~m hebraica (J 4;).
4rcádia, ~t·ménip, Bithúnia Çannii.ni~, Cappad/,ei(J, M~cc-
donia, Thessália, Súria, Scrjtl,fa, Dácia, &Ym4,cia, e~c. COffiO
os lati~os~Italia, Gallia, Qra:c~ Calabria, etc., (146). Ex-
ceptuà.o·s~ os que tin_bãp no latiin o i long(?, pr~Yeµ.;el}te
dç dit~~gc;> grego:!!'"'Alexrmdría, Antiochía,no ital. Alessô,i4ri(!,
A.tf#óchia, Seleucí~, Sama:ría, de orig~m hebraica: gr. fia.má-
1-eia; lati &niaria e~p. e ital. Satnária, (147); mas Nicomédia,
sçm quvid~ -por infiu~ncia de Cot!ied·ia.
Dos novos nomes geograpbicos, o maicr nu~er.o tem
accc.,nto latino:-,4u.~t~, Bulgária, Moseó'IJia, Polqnia, Russi~,
~te.; mas ~lguns ttim o i accentuado:~Loni?iardía, Hungi·ía,
Nonurndia, Picardía, Turquía, Berbería, ~rm·ía, Andaluzíá,
~vasta, Pavía, Alcobía, Almeiria, Anadia, I:teiríp,, Tra/arí,i.
Alguqs que, .nas linguas irmãs, têm e!fte accep.to, têm o
l11tino no portuguez. Cândia, 7-lQmânia, ru:> espanhol Candi,,,
Rq,nqnia; ~nia, ,4.natólia, Cephalfmia, Valáchia, Tar,tária, n0
it4lh1~9 Al(iania, NatQlía, Cefalonít4, Vulacliia, Tat·t~ría. Préto-
rfei, qapital dp TrJnsval, do ~pie do presidente de Pret~rius,
não -Pret-Q!,"ía, como já ouvimos pronunçiar, sem d~vida
por c:µ.isa ,d;is nossas r~ceµtes pretorí[IS jupicia~ias. Zam!Jé·
zia, não ~mbez.ía, Oceânia, pão OcPJJ11íaJ c.omo di;re,m m.U:itQs
t iJ}tlu.ell,CÍ,a d.o fr3nc~Zj asshn Se prpn_upcíão todo~ OS n~-
~ ~r,apJJico~ ,desµ t~.r mi.nq.ção, _
antlgoa e iµpg~rn~s:
~A.9.Nit;apia, Be;l,a,iia, es,,.,.ptmi!l, .Car,,wpia, D~rffe.inia, Ger-
,.~an;r.i, ll'!fYcap.ia, Litlmq,nia, Lusita,iia, Araucania1 Pensylvq,nia,
Ta.,_ma,,ia, Ukr,ania_. ·
Mwt9s, -p~l.a .DleSJ.l14l infll.U;lrici~1, dizem i,esania, ~-rµ vez
~ t"RJ!JÍflÍ4, _p.~l3v_ ra latina, igu.a'I a ÍMaJ~, na .etynu,JQgia e
sigQitic:i.ç,io (t:e, üi, p_,~r,ticulas pri.yq.tiv~u,, e samts, .s ão); e 9e-
m.mií~s, em \·~z d~ f1e1!}ôuias, taµiQe.01 O,Q:11_1.~ l~µq, _1,1.à.o de-
ri vaoo do· grego (gamio, i re: Gt:}tJOIJif,B scah;, <htulUiJ, gemito.
i·ü). Pelo contrario, pronuncião mercância, em l:Oz de mer·

Biblioteca PUbllca Benedito Leite


180 A LINGUA PORTUGUEZA

C!iitcia, palavra de formação nova ou rom:mica, lat. -merca.


tura, esp. meilcwwia, ital. mercanzia e tambem mercadanzia ou
mercat,111zía. ( 148) Antigamente; dizia-se mnbrósia ( 149); hoje
diz-se amlwosía. Assim tambem se diz no espanhol, no ital.
liano ambrósia, Lámia e lamía, no espanhol e no italiano
(gr. lamía, lat. lami'a). Harpia nas tres lingu:1s (gr. ltárpgi,a
lat. liarpy'ia). Zizânia, no portuguez e no italiano; no espa~
nhol zizana (gr. z'izanion, lat. zizan(ct). Utopia, no portuguez
e no italiano, no espanhol ,ttópia. E' vocabulo moderno, for-
jado por Thomaz Morus, que assim intitulou um livro e o
paiz nelle descripto, onde imaginou um governo ideal (do
grego ou, não, e tópos, lugar: cousa que não P.xiste em parte
alguma). Caloria, termo moderno, de phisica.
Algália, sonda, instrumento cirurgico, deTia-se escrever
argalia e pronunciar argalía, pois vem do grego medieval
argaleion corrupção de ergale'io1i instrumento, utensilio; a
mudança do r em l provém de se confundir com algália,
animal e substancia delle extrahida do arabe al-galiya, no
latim barbaro a,·gali'a, alga~t'a, galra 1n1.-scala.
E11xárcia é tambem proveniente do grego, da idade
media, exartion, apparelhos de um navio, do verbo emrtizõ
a,i:>restar. A fórma feminina provém do plural neutro, as-
"im como sa11dulia do plural de .~11dalillm, do grego sa1ulâ-
lion.
As palavras ara bicas tem geralmente o i accentua<lo:-
alca11wnfa, alcanzía, aletria, alfor,·!ii, alr1amt·í,r., al,qemia, a{gere.
·o!a, al·ma,lía, almotolia, alquPrín, arnda, biznri:ía, b11{lía, cotonía,
m1xovíu, fasquia, /itfía, maljllÍ!1. nt(in: tait:ría. Exceptuão-sc-
. ru:é,ptia, e11.ranfria ( r; o ): ezíi'ia, m1ímia, e alguns nomes <le
plantas:-alr1írir1, l'/Jlotrízhi, r11r/íl'i<1. d1Prid11, etc. c\ntig:11nc-n•
te p~onuncia,·a-se nlrhímia, e assim pronuncião os espa-
nhoes e os itali:.nos; hoje diz-se gernlml'.'nte al,-/1í111iri
Ha mais alguns nomes cm ia, com accento na :inte•
penultim~ syllaba, n:io procedentes do l:ttim :-balbúrdia,
talvez do celtico balbord, tumulto, desordem; basofia, do
italiano, ca.chi1~nia, 1J1nbófta, empójia, ou empú/f,tr,1 asiatjco,
A LINGUA PORTUGUEZA 131

estúrdia, do ital. stordire, faii/iírria, gíria, lábfo, léria, mixórdia,


de mexei·, pilhéria, quizília, do afr icano, o u ()_llÍ.<Jila, fó rma
mais exacta, salabórdia, lmnquibérnia, tunrlia., mo eda asia-
tica;
Ha modernos co m forma l atina, como : -ai·ia ( ital.),
ganancia, traficancia; ou latinos, ligeiramen te alterados:-
água de aquia, enrd mdia (axungia, de axis, e ixo . e ungq, fre, un-
tar), denuncia, pi·onuncici, renuncia ( abre v. de clenunciação, etc. ),
alimária (animalia ), inércia, réstia, véstia ( de merx , eis; restis,
vestis). 11-fereucor'ia ou marencoria. de melancholia, palavra
muito usa da outrora, h oje obso le ta, pronunciava-se co m
o accen to lati no. ( r5 r).
Ou tros novos, rna s latin os, quanto á rai z e ao suffixo:
- im1iortancict, implicanci i, agencia, gerencia, pendencia, depen-
dencia, prcf'crencia, tentlencia, etc.; lanuíria, de lamentum, me-
lúri:a, párias, trihuto de par,pariare (152 ), súcia , de socius.
E1-rônias, subs. , não errnnzas, como já ouvi m os pronunciar;
tambem se escreve, co mo o adjc::c tivo, erronerrs, g raphia
que evita esse erro na pronuncia.
De outras terminaçi"ies, t e mo s ainda vocabul os pro-
paroxytonos.
Latinos alterados, por mudança , queda ou transposi·
çào de le tra s: - ál,rego, de cifricus ( 15 3), agua, egua ( aqua, equa) ,
álamo ( alnus ), amenrloa ( aniygrlala ), bêbedo o u bebaclo ( bibrtus ),
bitácula ( habitaculmn ), b1ífalo ( bubalus ), cabÍllola ( ccipitula ), crí -
nhaino ( cann!'íbis ), cartapácio ( chrffta pcicis ), cérfola ( schedula ),
cMcaro ( cicer ), r;ltola ( cithara ), ch·io ( cereus ), clérigo ( clerfrus ),
código (·coclex, ü:is ), cónego ( conicus ), cómora (cumul11s ), córrego
(corri7gus ), côuciclo (c-nbitns), cládivti (rlativci), dívida (debita,
pl. de rlebitwn ), escáclea ( de esca da, senla ), espacloa ( spathnla ).
estoinago ( sto machu s ), .fe nw.t ( f'e niina ), féiiera ( fi b rn l, .fi gado ( fi -
cãtuin ), gávect ( cuvea ), hástea (hasta), ínyua \ inguen ), ínsua ( in-
sula)11 lagrima ( lacrima ), láparo ( lepus, oris ), légua t leuca, de
origem gallica ), lendea ( Zeus, lendis ), lêvedo ou lêvado ( levUus,
por levatits), lôbrego, de lugubris ( 154), magoa, mélroa, névoa, no-
~oa, régoa, táboa ( macula, merulâ, ,nebula, notula, regula, tabula,
134 A LINGUA PORTUGUEZA

Alguns de peixes:-abucatiix ia, acânthuro , acá1·ia, cépola,


rêmoi'.a ( 169 ), etc.
De insectos:-ácaro, gúzaro, ou gusuno, manticora, nígoa,
líneá, etc,
São us:idas vari:is p:ibvras latinas, que têm o :iccento
na antepenultima syllaba :-ápage!, bvéuia ( -otia), rh\jicit,
õinnil.ms, etcétera .
Como complemento deste cap itulo, damos, no fim do
volume, catalogos de alguns nomes proprios, gregos e la-
tinos, pessoaes e geographicos, em c_u ja pronuncia póde
haver erro ou duvida.
Os nomes germanicos, lat:nisados, têm o i longo, na
term inação icus, que, nos nomes latinos, o têm breve. As-
sim: -Iuicus ( ou Enecus, InTgus ), LwlovTcus, e todos os aca-
bados em ricus (germ:inicos - rich ), Alarrcus, AlberTcus, Al-
ver7cus, Chilpericus, Errcus, Euncus, Gencerrcns, etc. Dizemos
tambem Theollorico; mas, sem duYida por ter Li'l11 grande
príncipe desse nome reinado na ltalia, por mais de trinta
annos, os antigos pronunciavão á latina-Th~ollorYcus. Amé-
rico tem o acceito latino em portuguez e no espanhol; mas
os italianos dizem Amerígo . Francisco José Freire quer que
se profíra (Jopemíco ( 170); mas, comumen te, pronuncía-
se Copérnico.
Em geral, esses nómes, no gennanico terminados
numa ou duas consoantes, têm, na r'ranscripção latina, o
a.:cento na penultima syllab:i. H :1, todavia, algur,-; propa-
roxytonos:-A'ttilci, Bártholo, Bértholo, G1ídulo, Tótila. S.:io,
porém, poucos.
Os nomes bíblicos têm, p.'.)r via de rego, o accento na
ultim::i syllaba: -Jll'lií, Josué, Noe, Leuí, Jericó, E~att, Jubâl,
Nabúl, Abél, Jezabél, Suhl, Cain, Agâr, B1ilthazâr, Eliazúr ( 17 e),
Rúben, Putiphâr, Esthér, Omár ( I 72 J, Tabàr, Nabuchodonosõr,
Assur, Annás, Caipllás, Joàs, Moisés, Ainós, Je::;üs, etc., Ex.;e-
ptuão-se os femininos em a:-Eua, Sai-a, Lia., Dina, e tc. os
masculinos em ias:-A..nanías, E tías, Esaí,is, Ezechías,. Josías,
01;1as,' Sedecías, etc., e alguns que pronunciamos com aécen-

Bibllot&ea Públiça Benedito Leite


A LINGUA PORTUGUEZA 135

tuaçà o latina:-Jónas ( 1 r 3 ), Jit<las, Lúcas, Céphas, Cléophas .


H a propa roxytono~:-Jônathas, Sísaret, Déboa, Séphora , Dá-
lila, não Dalíla, co mo dizem mu itos; e alguns no mes geo-
graphicos:-montes A'mana, Golgotha, Líbano; rios - A'bano,
Sílae ; cidades-Gábafa, Gábarn, Galgala, Mágdala, etc.

Notas do capitulo II

1.-F. Diez 1 Gramin. , I, 3. .


2 . :_ Diomédes, grammatico do 5.0 soculo, De accentibtts .
3.- -Ao accento . denom inado pelos grammaticos latinos
circun~/lexo, ch amavão e perispoménc prosodía, e aos vocabu-
los que o tinhão na ultima syllaba peri~pómenos, e p 1·operisJ1ó-
menos, aos que o tinhão na pPnulcima, da qual 11ão passava este
acceoto, ll O grego e no latim. Tinha esse nome, porque elevava
e depois abaixava a voz, perispàõ, puxar para diversos lados.
Era notarlo, não como no latim e nas linguas modernas, pelas
linhas do agudo e do grave, formando um a ngulo, uma linh a
quebrada, donde o nome ffexns, circu11~ffexus, mas por u ma cur-
va, que prin cipiava convexa e acabava concava, para in dicar
que a voz subia. e depois descia .
No port ug uez, não ha o acce11to prosodico perispómeno ou
0 -.'. v;.1){flle.1:o; o signal orthographico assim chamado só in-
dica o timbre da vogal, ou a contracção de duas vogaes. O
perispómeno ou circumflexo, 11 0 grego e no latim, só podia ferir
uma vogal de quantidade longa, pronunciada em dois tempos,
equivalente a duas vogaes, u ma. pronunciada com o acconto ag u-
do, outra com o grave, cousa que uão ha na nossa língua. E',
p ois, sem razão que alguns elos nossos grammaticos de nominão
penspómenos e propei·ispóinenos os vocaLu!os que tê m vogal to-
nica de som fechado, na ultima ou na penultima syllaba, como
avô, mercê, tlêclo, côco. O accento tonico, em portuguez, qualquer
que seja o timbre da vogal, é sempre o mesmo aguclo; as nossas
p alavras são sempre oxútona , parox(Jtonas ou p1·oparox(Jtonas.
Algumas têm accento or thographico circumflcxo ou som fecha-
do na antepen ultima to11ica, pêsseyo,/êvera, frêf'ero, côuatlo, fõ-
leyo , sôfrego, posição esta que não podia Ler, no grego e no la·
136 A LINGUA PORTUGUEZA

tim, o acconto perispómeno ou circwmjlexo, como acima disso-


mos. Se, em tal caso, o nosso accento tonico deixa de ser agu-
do, não são proparoxjtonas essas palavras, que nome lhes da-
rão esses grammaticos? ·
4.-Quando ao verbo se juutão pronomes enclíticos, pode
o accento ficar na syllaba preantepeniiltima. Ex. :- Dissémos-lhe
a verdade, o coração com:novêra-sc-lhe. ~o espanhol, pódq
assim haver até quatro syllabas, depois do acccnto. Ex: .-!Jiriá-
mastelo, trajésemotele. E, uo italiano, até cinco. Exs.:-Porfan-
clomivelo, mándarnivisene ( Diez) , via fár·cialev'isi un letto ( Boc-
caC'io, parte I, n. 0 43). No portuguez, pode-se tambcm fazer que
haja quatro syllabas, depois da accentuada:-Louvúino-vo-lo,
exemplo dado pelo distincto glottologo portuguez Gouçal vos
Viana, Pronuncia normal portugueza, § 59; mas tal combinação
não é usada, na linguagem falada ou escripta.
5.-J:ambom dizem e escrevem geralmente trolltJ, mas a
palavra ingleza é trolley. ·
G.-Algl.lus autores an11Ígos escrevião triúo.
7 .- Rejf.exiíes sobre a língua portugueza, parte 2.", rotlexão
12. Mas, cm nota, diz Cunha Rivara, o commentador dessa
obra: -«Os cultos hoje promrncião ilna11, accentuando a ultinrn
syllaba só quando dcsignão certos ministros do Alcorão».
8.-Aaile, no Elucülario, do Saurn Rosa de \ 'iterbo.
9.- Cidade e reino:
No reino da secca Adem, que confina
Com a serra d' Arzira. . .
Lu:;., c. 10, ost. Uil.
Do reino de Adem já seguindo a rota
-F. de Andrade, O 1. 0 cerco rle Dio, e. 12, cst . 13'>..
Mas tanto que se de Adem. ferra a praia
lcl., c. 13, ost. 32.
10.-Antigamcute se dizia pêntein (peu1 0) , de pecti11e11t.
Assim escrcv:ão Barros e Lamões, e. (j. º, 17 -Que 111uwa
brando pentom conhocêrão, e ainda Fr. Lniz de Sousa: ,,gart"os
e pentês de feJTo,>. Vida elo Arcebispo, livro '.2. 0 , e. 34- .
11.-l'or derivação igual á dos outro::; 1w11H'S da :3." de-
clinação supramencionados, nos tiuacs a dosiocncia cm iJ a do ·
accusativo latino, cm que o in era surdo e só nasalisava a vo·
gal, qomo no portugncz. Só se pode justificar a terminação en,
dizendo que essa palavra não nos ve in clirccramente do latim,
mas do espanhol on rlo prr,vL,nçal. li11g1úis 0111 que assim so
escreve; mas cotão deviawos couformar a pronuncia com a or-
thographia, fazendo sentir o n. O dr. José Barbosa Leão, nos
t;ious Estudos a favor ela reforma da orthogra11hia em sentido sonico 1
A LINGUA PORTUGUEZA 137

pgs. 38, cliz que omjouen, com0 r:n i1 ·•:irm, can.ou, ro n não é si-
,gnal do nasalidade, mas simples consoauto e soa 1te». Será al'!-
sim r.11 Portngal: 110 Brasil, prn:rnncía-so .ior5, com o som de à ,
como om úein, rem.
12.-Froi .Luiz do .\fonte Carmelo acha preferivol esta
graphia, '<por mais conforme á indolo da lingua o á pronuncia
lllais geral>>; dizrmos sem o 11, que tinhão no latim, crime, car-
ine. e;ra11w, 'l'e:x·11,ine, rime, nome, acume, legume, lnme, i·olmne.
Os ospanhoes dizem e ;escrevem régimen, com a accentuação o
a orthographia do nominat,ivo o do accusativo, pois é um subs-
tautiyo neutro. Em portuguoz, pronunciando-se com o acconto
ablatiYo (reg,mine), é melhor dizor ·o oscrovor, C(fno os antigos,
1·Pgú11e. Spécimen, modernamente introduzido ( espanhol espéci-
men J, é mais geralme nte usado com essa fórma e accontuação,
corno no latim: mas tambom alguns escrevom com fórma portu-
gneza-P.~pécime. Os que pronnncião com o accento na ponulti-
tirna syllaba devem escre,·or- specíme ou esperíme ( spedmine ).
13.- Do Omnipotonto
Thtono mana caudal um rio, o E' don
Celeste banha ...
Filinto I~lysio, Os inartyres, liv. 3. 0 •

Sempro assim acrcntúa Lima Loitão, na s ua traducção do


I'arniso Perdido, elo Ylilton, canto 4. 0 :
Satan prosegne
E do E"dcn chega ao proximo contorno
Donde avista já porto o Paraíso •

Era o jardim de Deus, o Paraisa


Qne cllc mesmo planton no oriente do E'dcn.

1"1.- Talvez a pri11cipio so pronuncias-e com o accento lla


ulrima ;;;yl laba, como- augrnentativo do mora ou amora.
Algun;;; (lPstcs nomes, promwcião so hoje sem ditongo:-
dwo, fi-aizr10, /íw.c;o, gnlf'o, níúano. morango, sarmn210. Em Por-
tugal tambcm se pronunciou zango , segundo Fr. Luiz do l\Ionte
Carmelo . .No Brasil, rnnitc. s pronuncião zringão, erroneamente,
com accento na ultima syllaba.
1.5. - .\ prillleira l'ónua .foi, sem cluviàa, benrliçrio, donde o
verbo abendiçoar, do qne Vieira Il'Sou, por vezes. (Vide tomo 2. 0 ,
p. 165 ). Tiuha dois accentos, por ser palavra composta; e, sen-
do muito fraca a syllaba intermedia, o accento anterior fc-la. ca-
hir, e, de secztndario ou subordinado, tornou-se principal ou pre-
dominante. E' o mesmo facto que so deu, e do modo mais nota-

Biblioteca PUbtlca Benedito Leite


138 A LINGUA PORTUGUEZA

vel, om bcnclilu tbenedictum), depois bênito, bêeito (Eluc. ), bento,


em que a força do accento da primeira syllaba eliminou a se-
gunda, apezar de estar nella o accento tonico ou principal.
Tambem gemlmento pronuncíão pégão, que deve ter o ac-
ceuto tonico na ultima syllaba, por ser 'derivado angmentativo
do pé, grande pé de vento 1 não derivado de pégo, corno alguns
!:lnppôem:
. . . vem do alto galopando
Veloz pégão ele vento . e de imvrovizo
Leva o mastro ao baixel, cordas, e cunhas,
Costa e Silva, Os m·yonautas, liv . 1. 0
Dá-se, neste caso, igual supplantação do acceuto · tonico
pelo secnndario. E' o mesmo erro que alguns comettom, dizen-
do pér,alla, em voz de pér,árla. . .
16.-Diz-so vulgarmente Nêuton; os inglezes pronuncíão
Nifdon .
17 .- Lat . A'nn'íbal, Anníbiílis; pronunci,imos com o accen-
to dos casos obliquos, e assim tambem Ardrúl1al, Manastábal
(lat. A'sdrt'íbal, Manástc'íbal ). Camões e outros poetasportugue-
zes dissérão Annibál. ús espan hoes assim dizem, mas tambem
Aníbal; os italianos Anníbale, no vorso tambem Amâbále.

De P hormião, philosopho elegante,


Vereis como Annibál escarnecia
Lus., 10.°, 153
Nem se sabe inda, não te afürmo e assélo,-
P ara estes Anuibáes nenhum :_\farcello.
lb, 7. 0 , 71
Destes mimos Indianos
Ey grã medo a Portugal
Que nos recreçam taes danos,
Como os do Capua a Hanibal.

Sa de ::\'liranda, Cm·ta a J .0 Rodrigues de Sa rle Menezes.


· Deixar não podes de te ver vencida ,
Africa, a tal esforço, a in sígn ia tal,
Inda que por Antêo e Annibal, ·
Fosses ( conio mãe sua ) defoJJdida.
'
Diogo Bernardes, Varias B-imas, soneto.
A LINGUA PORTUGUEZA 139

Que nunca Scipião, uunca Annibal .


Fizerão 110s imigos tal estrago.
111., elegia 2.'~
Senão, coi;sidcrni qmil foi 0 fruto
Que scguio A1mibál de tauta guerra .

Sá de .\Icnezc~, Mal. con(_J., liv. 11.°, lG.

18.--Algmis grammaticos mandão pronuneiar T1íbal, 111as


os espanbocs dizem T11bâl, e c&ta pronullcia é co11forn1c regrn
goral da accentuação dos uon ws bcbrai<.:os.
,i
rn.- Hoje pronuncião betN; lllas as fórn1as antigas béle, bó-
ie/e ou IJétere 111osrrào que o acceul·o deve estar lla primeira syl-
laba.

:LO.- Este Marte 11ovql, Jogo com JJrcssa


'.rraz bum dos outros 'l'urcos se arremessa

F. de Andrade, O 1. ° Cerco de, Diu, e. 17 .o, 6.

21.-Eu não som ca enviado


Por violloso ui vel,
~cnão so<.:corcr ao gado,
Que pereceo no montado
LJas ovelhas d' Israel.

Gil \ 'iceute, Auto_ da Camtuétt, :;e. li. 11 ( .\lti rirnaudo 1a111 -


bem com borel e infiel ).

Que n'outra gentil cerca se acabav;;i,


LJc rasos Luxos a 11ivel uaseidos

.\lous. de Quobcdo, .4./f: .J(ric., e. li.º, 20.


22.-· Ha qnom nse (1csta palavra romo ad,iectivo, acce11tu-
a11do a primeira syllaba: -imprensri 1·~1ilil, jornalistas réjilús,
.\lguus querem quo tarubo111 se diga 11rojhti:t, 111·0.iódeis, o assim
o tf:m bons cseriptores / Aloxancirn tforcula110, Castilho, Latino
Coelho); mas outros, tambem notavris ( C1nullo C::ti-kllo Bran-
co, Oliveira Martins o muitos ontros \, accPntnárão a nltima syl-
laba, e esta é a acce11tnação q1w to111 prl'va.lPC'ido na liugnagellt
vrofissiou:il e nos documentos officiaes, assi rn como 110 uso ge-
ral. Vid., conü-a, Candido de Figueiredo, Li~·õ,:1, 1n·aticas, 2 .ª

Biblioteca Públlca Benedito Leite


iló
ed., vols. 1.0 o 2. 0 , e O q11e se não aeve di'Zer; '-', a favor,'Heracli-
to Graça, Factos da linguagem.
23 .- Vide R. V1tcrbo, Elucidaria, e frei João de Sousa. Al-
,nogavár, guerrilheiro contra mouros, pi·unitivamentc almogávar,
como no espanhol, o que so vê da s fórmas almogávre, almogára.
ve, fllt11.o_qaure. ' ' ·
· 24'. -Gonçalves Dias accentuou nenuphúr, talvez por liber:
1

dade poetica .' No 'espanhol, nenüphnr. ·


' 25\'- ' Ergue Seyta a· cabeça triu.mpí:tante
' · ·- E assomo Gilbraltár defronte della.
Qucbcdo, Affo-nso' Africano, c: 2·.0 , cst:99.
,. .
Acompanha-la-ha esta gente
Assi cm cima á frol do mar,
.... ... .......... .......
Tornar-se-hão de Gibraltar.

Gil Vicente, Côrtes de Jup~ter, se. 6.8


;.! Jaz sepultada
No fuudo mar,
P er to do estreito
D e Gibraltar

Sousa Caldas, Obras poeticcis, tom. 2.º, p. 199.


Sobre a pronuncia de jfadagascar, escreveu o sr. Candido
de Figueiredo, nu m dos seus artigos, publicados no J ornal do
Commercio, com o titulo- O :;e não deve dizer:--« Gcralmcute so
pronuncia com o accnto 'fonico ºiia ultima sílaba: Jfculayascàr .
.f<j, contudo, Madagáscar, com o acento tonico na ,pcnultima
silaba, é que é pronuncia exata. Provão-no varias razücs, es0
pecialmentc os l 111sittdas, no canto~;: cst. 137, e o facto de que
o t<'.rmo pertence :t liugua malaia, em qno niio ba palavras oxí-
to11a8 ou ag udas,, . .\Ias pro11uncião todos ½a nr;uch.\r ou Ztd1zibar,
Malabár, JlllacasHú ,.. Os•it alianos dizem· Madagáscar, mas Zan-
guebár, etc.
26. - Cronica de Cistér, por frei Bernardo de Brito: O
monge de Cistér, do lexandrc H crcula110. Alguu s, no Brazil,
proauacião crrada1 ne11tc O monge de Qí:ster, co1110 algum as
vozes ternos ouvido.
27 ........Frei Luiz de Sonsa, Vida do Are., 1. 2 .0 , e. 22 e 26,
,A ··LIN~{JA , J;OR,T-UGUii;ZA

~o jardim,dos papas, que cham,avãq Belvedor,>, «as obras que


se fazião em B elvedér ». ·
28 .-Para a prommcia dos nom es estrangeiros, modernos,
uão ha regra possivel. Cada um os prómrncfa como póde, ou
como sabe, ou suppõe que promrncião nas lin guas a que pei;-
teuccm A's vezes, prevalece uma pronuncia que nem é portu-
gueza, nem da lingua respectiva. Assim Manchéstei~, Lencáste1·,
no i11 glez-Máncltester, Lánta$ter; Méyer, snblu·bio do Rio ~e
Janeiro, 110 allcmão-Múyer, porque nessa lin gua •i soa sem-
pre como ai. Nos tcriuinados. cm er, ás vezes, faz-se metathese
na tcmninação, como tambcm fazem. os fra11r.czes,- Hano1·re,
Lancastrc. Rothsrhilcl é conforme á prommcia allemã e à. Iran-
ccza; Rothscltailcl é pronuncill, in gleza. : ,
29.-Gramni atica da Academia Espanhola, catalogo, in
fine: Yítor, San Vítor. No italiano, Vittôre.
3ú.-Alguns dizem Cástor, falando do irmão d& Poll?t:r: o
:'.\íornlinho de Quebedo, por liberdade poctica, disse Néstor.
Accorreu Cástor,
. .
E o grão Talau Biantido, e ligeiros
Ligam-lhe os cestos, e a ser forte o exhortam.

Costa e Silva, Os argonautas, liv. 1. 0

As espadas os Soei.os deJnudando,


Se api·escntam, e é Castor o primeiro.

Ibidem .

Uma doce correuto, quando fala


Com 'l1ie de Néstor a oloquoncia iguala.
Affonso-Afr.icano, o. l .0 , •1 0.
81.-As amarras cortar ma-nda ao ,momento ..
E alargar os,calaboos sacudidos, .r .... ,, ._,.

J.~ ·Franc? Barreto, Eneida! liv. 3. 0 , 266. ·,


•• 1)
Faz a amarra colher, safar calabres 1
./. ..
... .,

'·· · Odorico-Mendes, Eneida, liv. 3. 0 1 v. 2G6.


142 A LINGU'A PORTUGUEZA

Tremem calabres, as 011xárcias tremem.


Açontadas com o vento.

·costa e Sih·a, Os M!fO//a1tlas, liv . 2. 0

32.-Devemos crer que foi liberdade pootica a acr.entna-


ção desta palavra, neste verso do canto 1.º do Hyss_ópe:
Um sussurro 110 concJaye se espalha.
Claudicou Francisco José Freire, quando disso ( Refiexõe.~,
parte 1.."', refl· 12 '. : - •Üonclare com a segunda longa, posto que
em latim seja brére,,. E' longa a pcnnlti111a cm latim, como bem
diz Madureira:-~<Nii.o sei com que fundamento introduúo o
abuso a pronuuciação closta palavra com a syllaba da brcvf',
dizendo erradamente r·íJwln,1·!'. Porque, se de sua natureza a
tem longa 110 lati.q1, porq11<' não ha dP srr tambcm longa 110
portugncz '!,,
33.- Barros, Derarla, l."', 75:-«Por,•111, como ollcs sempre
buscam escapulas a sons enganos, tomaram por desculpa que o
dia que comcttrra aqurlla jornada fora 0111 hora infelice, e não
clecta por parecer dclles». E desse substantivo so clerivon o
verbo escapulir, de qnc ta111bc111 usa Barros, 1.tt, 10, 3:-«os
qnc puderam escapulir sc ponham cm salvo».
34-.-Vidc Ehrritlario, de Yitcrbo, v.h" omizío, )forn.cs,
Dir·r·.
3G.-O.~ nws.~a!Jelcs 1·é, colcos e i/Jei·os.
;·ôrto Real, Naufi-rr(Jio de SepMve~la, e. 2. 0

Em Casrilho e Odorico :i\Iondes -1/Jéro, na traducção 9-esto


verso do liv. 3. 0 das Georqicas: Aut i111pamfos a terr10 horrr·lns
1"eros.
Ha, no Rio de Janeiro, um Banco, que tem o nomo dí\
l/,él'o-a111erirr1110, e geral meu te dizem: 1hero-americano .. Houve
rocentcrnont, ·, 11a Espanha, um cougrcs~o ibéro-mnencrmo. lbrrus,
nonw dr nm rio da Espanha, 6nha tambem a segunda syllaba
longa. Cami'irs disse, 11 0 13. 0 canto, 60:

Que o Ibéro o viu o o 'l'ejo amedrontados


D'aquellc grão Pastor, que e111 nossos dias
Dannbio enfrC:a, manda o claro Ibéro,
E cspauta o morador elo Euxino foro.
Ecloga I

Biblioteca PUblica Benedito Leite


,A. LINGUA PORTUGUEZA

E Gabriel Pereira de Castro:


Passava o grall(le lbéro, o o Gaditano
Estreito ..•
Ulysséa, c. 5. 0 , 45.
K certo qne esse rio se chama hoje Ebro, o que faz sup-
pôr a transposição do accento ( lbei·o, Ibro, Ebro), mas o adje-
ctivo ibero é pronunciado pelos espanhoes com a penultima ac-
co11tuada .
3G. - Costa e Silva, nos Argonautas, por duas vozes, usou
drsta palavra, com o accento na prim eira syllaba, sem <luvida
por liberdade poetica , nos livros 3. 0 e 4. 0 :

Qnal rebatido d'incudo o rnartello


Do Mulcíbero as incndes retumbam.

37. -Assim accentúa essa palavra o dr. Eugonio do Cas-


tilho, 110 sou Dicrio11ai·io de rimas.

38.-~Ioraos o Adolpho Coelho, Dicrs.


3!).- .••. em claro vaso

Vos dê Febo a beber licor sagrado


Nascido da pégada de PegitSo.
Diogo Beruardes , carta G,,,,
Do nm monte de Ceilão na excelsa alteza
Desde antignas idades venerada,
Onde um penedo na horrida aspereza
Conserva de urn varão santo a pégada.

Jfalaca conqnistada, liv. 4. 0 , ost. 39.


Sigo-do noite o rasto das pégadaR
Qno foi.to ha,ia, e tudo uoto, e ,ejo:
O gram sileucio, e as sombras enlutadas
Pnnhão terror nos animos sobejo. .

J. Franco Barreto, Eneida, liv. 2.•1 180.


Nem póde Turno dar huma passada
Onde Enéas não ponha jà a pégadn..

lb. 1 liv. 121 175.

Biblioteca PUbtlca Benedito Leite


144 A LINGU.A'.':PORTUGUE ZA

- Os olhos canso em ,bn sca -das pegadas,


' . . ' .
Odorico )fonclcs, Eneida, liv. 2.º, .v.º 77$

Castilho, Metamorphóses , liv. 4 .º, com as duas syll abas ae:-


conruadas :

.... E de féra no chão pégàdas nora .


40. - Preso da E gypcia linda e .11iío pndi c~.
L us.,. 2.0 , 53.
Com gesto léd o a Cypria e in1pudíco
Denrru no carro o filho seu recebo.
' IIJ. , n.0, 43.

Horacio, Sat., liv. II, 7.

Excepto ffi IJ.Uirl Jfa s,'iri rnbr,ra ·1·et,,.rit • .. .


1

P orsio,-Sat. 5. 11
. '
42.- Um lago da Apulia, <l o que fala P línio, rnajor, tiniu~
o nome do Pontanus.
43 .-Francisoo J o:;;é Freire, Rejle.rões, log. cit.:-«Caradé-
res, cúm a ponulti111a longa. E' froqnonrissimo o errar , faze ndo-
a breve».

44,- -J ulio de Cai.tilho, Dirf'. de rimag: o.riêie,


Não lho aproveita ja trabnco horn,ndo
1ina 1,oorot,1,1,, aríet forço1m.
. · J,u,ç., r.. 3,°, 79 .
F. qual de EAson o filho valoroso, .
,.. Qne fez do Phrigio·Ar/oto a conqnistn,
,Sá ·de Menezés, Mal. cong.1 5,11 -21,
E ás portas huns o ariete forçoso,
2\o muro· outrds es·cadas achegavão.
J. Franco Barreto, liv. 2.0 , 109.
A LINGUA' PORTUGUUA 145

45. - Jà ouvimos., ·por vezes, pronunciada; assim essa pala-


vra, até por um doutor, lente de uma faculdade.
46. -- L emos, no livro de um brazileiro, hom em formado e
dist.iucto, que o café que so bebe cm França é uma iufusão de
clt'ico-réa. Orch?'.déa temo-lo mnitas vezes ouvido.
47.-Bcnto P ereira e 1\Iadureira.
48.-F. J. Freire, R efle:1_·ão 8." «ímpares (uumeros) ou irn-
pares; porem do a lon go não·são muito classicos os exemplos» .

49.- .... o R ei do Avérno e a Esposa


Co' o rcvérbero estranho arnarellecem.
Castilho, ill{etamorphóses, liv. 2.0

Pen etrantes reverberas dardeja


José Agosbinho ele 1' [acedo, Merlitação, c. 2.º

Despedia r evérberos brilhante&.


Id. , l'iagem•e,xtatica , c.•1.º. Vide, no Dice. de frei Domin-
gos Vieira, outros exemplos do mesmo autor .
50.-Eugenio de Castilho, Dice. de rimas, e outros.
51. -«Abre-te , sésamo», formula de effoito magico, 11nm
conto das Mil e unia noites.
52.-Vid. Madureira . ,
53. - Df:) ,aun9s vegetp o valillo c~n:alho .

Odorico ::\Iendes, Eneida, liv, 4. 0 , v.º 462.

Eng. de c ·á stilho e Adolpbo Coelho: ~eyét.o.- ,· .


54. -Erposição da pronuncia normal portugueza, n.º 37.
55. - Frei. Lniz de Sousa, Vida rlo Ai·ceb., liv. 3. °, c. 27:-
<•Co111 0çarfto a scntirsc gcrnl111011tc cris ípnl as e carbunculos
com ÍC\brcs de mtt calidade». .. :
üG. A acct"ntuaç:ão - e a -dosi11011 cia mostrão claram ente
qne o orig'.l1n das fórinas 11 0111 iu acs'ro1na11icas foi, por via d0
regra, um dos casos obliquos do latim. Qual dellas? A seme-
lhança da tcrn, inação, sobretudo 11 0 italiano, iuduzin alguns a
sn ppór rine fosse ablafo·n; inas, 0111 favor do açcusati vo, ba
maior numero de auctoridaclcs · ral!.ões decisivas. No portu-
guez, é manifesta a dosinencia desse caso, uos nornes e ,prouo-

Biblloteca PUblica Benedito Lehe


146 A LINGUA PORTUGUEZA "
rn es terminados por em:--homem, nuvem, virgem, etc., quem, al-
guem, ninguein, (quem, aliquem nequem; oittrern, de alterttm, tomou
a ter111ü1ação eni por analogia, e a antigo rein, a/gorem ( re:s, rem;
francez, rien ). Mas, ordinariamcn te, desappareceu o m final do ac-
cusativo, que se mpre teve so111 111uito sul'do, coi110 ,itt dissemos,
·e desde o 4.º seculo foi co,nplctameHte elilllinado !la linguagem
popular, corno o pravão rntútas inscripções, o que ta111bem
ac~nftEiceu nos verbos: _!__aniabam, amava, amem, ame; e nos nu-
meraes:--sete, nove, dez, (septem, nuvem, rlecem ). Nom es uriuudos
de' neutros latinos, como lado, rorfJo, peito, tempo, .não podião
provir do outro caso obliquo senão o accusativo. Deste ca;;o,
forão tomados os uum cracs - doi.s, ambos, duzentos, trezeutos, -etc.
As nossas terminações do plural as, os, es são iguaes ás do ac-
çusativo plural do latim, dos nomes femininos e masculinos; os
ifaliallostêm tarnbem, e·11talgu11s .non10s, a terminação do plu-
ral neutro - a: lalwra, ossa, etc. Do ablatívo plural, cm is, iúas,
ebus, a/Jus, obus, 'ubus, não ha vcst-igio algum, em neJ1huma das
línguas .rornanicas.
. AlgulllaS palavras procedem do nomiuativo, sobretudo no-
mes proprios e vocabulo~, iutroduzidos pelos doutos:~Dcus,
catix, cal, avestrus, (avis i;truthio), ladro, lallra, i;augu1', serpe, câ-
non, consul, ,;aract&r, prefácio, sóror, ou sor, :silix·, onii, etc.
Cesar, Cicero, Enéas, Dirlo, Nero, Carlos, L11cns, Marcos, )fo.
tlteus, >folhias, .Moisés, Elíos, I sairts, .Jereinías , Pilatos, 'Judas,
Apollo, reres, Gupírlo, Hercules, Juno, Jupiler, Pnllas, Venus,
Minas, 111-iclas, .Apélles, Plúclias, 'l'hales, Socrates, Aristoleles, lJc-
mosllienes, Pfricles, Milhridátes, Carthayo, Napoles, Ch,iryúdis,
Euplwates, etc. Tambcm do nominativo vicrão os pronomes ett ,
tit, elle, este, esse, aquelle (ipse, er:cu'ille) .
Do ·ablari vo provêm somente os gerundios, alguu s adverbios
-agora, como, cedo, subitu, etc. 1ltac !tora, rzuomüâo, cito, suliito,
etc.) e os elementos de que forão composto;; o~ adverbio~ ro111a-
nicos em mente ( de mens, menti:s: jusllt mente, pura 'mente, etc).
A' consideração de que devia prevalecer o ablativo, por
se exprimir com elle a rnaior numero de relações, oppõe-se a
mais valiosa - que o 110111inati vo e o accusativo são os casos
mais importantes, porque exprimem o sujeito, o attributo e o
objecto da oração, sendo o accusativo mais froquentemeuto ex-
presso, porque o sujeito é muitas vezes subentendido, indi-
cado pela flexão de verbo ou· substituido por u111 pronome.
57.-Refiexões, log. cit.-«Epiteto, com e longo e não bre-
ve, posto que no latim o tenha. Assilll 1,,rouunciou Jaciutho
l!'reiro 1 na Faúula ele Polifemo, dizendo, na est. !.ª:-«Lascivo
'
A LINGUA PORTUGUEZA 141

este epitéto me paroce1>. A pronunciar com a peuqltima breve,


ficaria o verso errado.
Nas notas, Cunha Rivara nada diz acêrca de cábala; mas
sobre epitéto escreveu:- _,, A fraca auctoridado se eiicoston o A.,
não por ser Jaciutho Freire, mas porque a citação é de verso,
oude a weditla violentou talvez o poeta. Melhor fundamento te-
ria achado em João de ·Barros, que, na sua Gram1natica, fre-
quentemente diz epitéto; mas ainda assim ha do predominar o
uso eonstaute dos dontos, que, ao menos modernameute, dizem
a m11a voz eptlhelo». Quanto á pronuncia de João de Barros, ha
equivoco. Na Compilação 1.le varias obras ele ,íoão de Barros, en-
contra-se a palavra epitheto, com signal ortbographico na pe·
nultima syllaba, segundo os nossos apontamentos, não fi·equen-
temente, e, na Grammatica, uma só vez, nos Ditongos, p. 245;
mas esse signal, posto em baixo, uma cedilha, não indica o ac-
conto tonico; é figura do e grande, do som aberto, con10 o autor
Ih~ chama, na Orthograpkia, o qne se vê em muitas outras pala-
vras, e cm syllabas não prcdomiuantes, como esquecido, ·cehe-
mente, precedente, etc., ao passo que não o têm syllabas tonicas
das valavras cm que o e tcn 1 o som fechado, como adoeçci, come-
to, Olil'ete, etc
Só se póde, pois, iuferir que João de Barros quer que esse
e, ainda qne atono, seja pronunciado com o som mai,s claro que
o do e surdo portuguez. .
58 -Na prosa, dizemos ímpio, m1trm11rt0. Os italiauos
tambeiu assim accentúão; os espauhocs. pelo , coutrario, impío,
·11utnniírio; íntpio só no verso.

Donde se ou vem rugir .feras impías


E nos ares gritam torpes arpías.
0
Si de :i\lenezés, .1.lfaláca cowJ ., 2. , 2.
Ouvi agora as traições, e ouvi os modoS'
Que tem para enganar a gente impía.
João Fra11co Barreto, .E11eüla, liv. 2. 0 , 17 .

>Las já o alcauça, e como lauça impía
Sem dor o peito lhe atravessa, quando
Aos olhos patcrnacs se oll'erecia.
lll., est. 131.
Toma atraz as estrellas e sumette
A seu JUaudo os espíritos irupios .
lú., 4. 0 , 111.
A LINGUA PORTUGUEZA

P elos vastos salões , pelos dourados


T ectos se escuta alegre murmurío.

J . Agost . de :Macedo, O oriente, e. 9.0 , 42.


Com ligeiro murrnur ío as Feras
:Afeste jam tre mr ndo elll seu cami nho.
Costa e Silva, Os argonautas, liv. 3.0 •

Entrou a Deosa om gelida espessura


O nde ia com~fresqui simo murmúrio
Escorregando um rio pregni çoso.

Castilho, Metamorphoses, liv. 2. 0 •

·oa belleza do sit,io, e do sa udoso


.i\for,mírio captivado, aqui chegava
l ú., Jiv. 3.".
Brandas fi nezas em murmúri o·brando
Iú., liv. 4. 0 •
Foi correndo
No conselho um murmurio, ço;no ']Uau<lo
Rapido rio, por calhaos dl't ido
~o alveo ernpachado zoa .. .

Od . 1Icnd es, En eida, liv . 11, v. 0 ,287 .

Despenh a seus cristaes, qual hulll mar bravo


E com grand e mur mureo do al to rn oute.

J. Fran co Barreto, Rneida, li v. 1, 57.


E poi-tanto o caminho comec,:a do
Accclerão com prospero mnrnmro
l u. , l iv . 8 .0 , 21.
Bem como quando co' prim eiro vento; •
Quando no bosque umbri fe ro assovi a
H um murmuro se escuta cego ·e lento.
Ju;_. liv. 10, 2-.1:.
O triste som lhe fe re o at.tonto ouvido
E o murmuro do po vo lastim ado. .
Ju. 1 liv. 12, 144.
· A LINGUA PORTUGUE.ZA 149

Nas folhas respirando o fresco vont~


O lllurmúro das aguas ajnd ava .

Jl.fal. Conrz., c. 8. 0 , 11.

Odorico· Mendes _acccntnou, na Enei1la, 2.ª od ., múrmuro


como no lati:n-r,uínnur:

E ~s ouvidos attentos lá percebem


Múrmuro desaLgre o som confnzo.

Liv. 12, v. 0 eoo.


Esta é a accentuação do adj etivo do quo o mesmo autor
usou neste vt>no:

Entra a emb rnlhar-se o céu múrmuro e ronco


Eueirla, 4.°, v .0 173.
:J9.- Resôlta a fria neve, quando o róscio
Na grama he doce á grei.
Odorico >londos, Ecloga 8.ª.

Encontra- se, porem, mais vezes rocío :


Com gloria, IIIUÍ sem traual4o,
Fartas os mares e rios .
E as hen·as de rocios,
E os lirios de orvalho
Nos logares mais sombrios .
Gil Vicente, Auto da, Cananéa, se. G. 11 •
. • . . . . . . . . . . parecia
O celeste roscío derramadó.

Diogo Bernardes, Rimas Varfos, s0:10to 44.

E um celeste rocíu em si recolhe.


Côrte Ro11J, Nau(. ele Sapúlvecla, c. 1. 0
Qual sobro as rosas da manhã aos raios
So dissolve o rocío •••
Costa e Silva, O argonautas, liv. 3.0
150 A LINGUA PORTUGUEZA

'60.-Na écloga VII, Iclalio: .


Que o moço Idalio quiz nesta sciencia
Que se compadecessem dois contrarios.

Vereis o monte Idalio em sangue tinto.


61.-Gabricl Pereira de Castro:
A viçosa Quilóa com ~fombaça
Uly8séa, e. 7. 0 , est. 7fl.
Trazendo o griio tributo, qne a Lisboa
A el rey seu· senhor manda o·de E)uiloa.
lb., est. 84. .
Mas, ainda modernamente, Lima L eitão,· no Paraisa Per-
ào, e. 11, v. 0 4!)7: . · .
1'Iornbaça, Quíloa, as praias Melindanas'.
Diz o sr. Candido de Fio-noiredo, no · já ·cita.dQ artigo:-
<•Toda a gente prommcia Quilôa. E contudo não ha pro-
nuncia maiR errada. Correctamente, pronuncia-se Qutloa, com
o acento tonico na primeira sílaba. Em . primeiro lugar, assim
pronunciava Camões, o, portanto, os homens· do seu tempo.
Depois, os proprios mouros da costa oriental africana dizem
Quíloa, eomo atesta quem os tem ouvido; o a ortografia ingloza
J{ilzca confirma esse facto ».
62. -Cassandra d'el-rei Pri.'.uno.
. -Alo(inri Mendes, se. l.ª
Ero a dor dos spirítos, eternal spiríto

E ós elementos dao o spiríto.


Historia de Deus, se. l.L.ª
(Outras vezes diz espíritos).
Que não seja rotrográda.
Côrtfs de Ju.piler, se. G/
Porta•to o que pó'de vos dá dominío
(Rimando com poderí.o )
Auto da/ama, S<'. ultinrn,:
E quando me dão algum dia
Licença, como a bugia,
Qno possa estar á jànella
Ho jamais que a Madauella 1 •

Quando achou a alleluía.


Ig11ez ·Pe1•eirn., so. 1.•
-E onde havemos nós d'ir ter?
-Ao porto do Lucifér.
Auto da Barca do Inferno, se. G.ª

Biblioteca PUblica Benedito Leite


A LINGUA PORTUGUEZA 151

Oh caso para espantar !


Que é isto, J upiter ,? .
Cortes de JwpUer, se. 5. 6
63. -A lyra Calliope te encordôe.
O Lima, carta 7.•
Mouros, turcos, arábes, indios, persas,
Destes, e doutros muitos triumphante .
, Vai·ias Rimas, Elogia 2.•
64. - Aquolle emperador falso apostáta .
Nau(. de Sepulv . 1 c. 10. 0
Viu as Polonias ambas apartadas
Co a ligeira corrente do Vistúla.
lb., c. 2. 0
.• . .. . . .. .. . . . as quatro Gallias
Soberbas com razão -co a belicosa ,
Gente qne neda vive, ousada e forte
E fertiles co as aguas do Rodâno.
lb .
. . . . . . . • . . • . . . . . . . . . . do tardio
E siut10sa Garina, do Secaua.
Ib.
Onde a formosa Ceres foi roubada,
E se vê do Encelàdo a sepultura.
lb.
Em Camões, como orthographia e accentuação correcta:
Gallia ali se verá, que. nomeada ·
Co 'os cesareos triu rnphos foi uo mundo,
Quo do Séquana e Rhódano é regada,
E do Garumna frio o Rhono fundo.
e.
3. 0 , cst. 16 .
Fui dos filhos asperrimos da torra,
Qual Encelado, Egeo e o Centim ano.
e. 5. 0 , cst. 51.
)Ias, neste ultimo verso, o poeta, por cansa da rima, trans-
11oz o accento de Centímtínus. ·
6:-,.- Taes são:-abêto, ouabêtc, de fl.bii'ltein, alegre, de alao-
rem; alvedrio ou alvidrio, de aruitri111n (a.ntigament,e tambom
alvidrio, Côrte RPal. Nai(l ele Sepulv., cs. 14 e Iõ:-Rmn livre
alvidrio a todos nos he dado.-.Ao lfrre alrídrio nada llt'lte ún-
po.%ivel.- Ao alvídi·io e querer de 'l:ia incerlfl);. cadoirl]-, de catlu'f-
dra, castila, do castíla, casülo, de castila ou de COJJSlíla, mulhér,
do mulil!rem, parêdo, de parÍl~tem, penhora, do pigniJra, trêvo,
de trifoliit1n, variz, de várix, var,cern, e outras que .vão notadas,
em varios. logares:-Oceâno, limíte, patêna, cristallino, etc. Como
152 A LINGUA PORTUGUEZ A

se vê, o accQnto, de ordi.nario, desloca-se para o lado da termi-


nação; do contrario, ha raros exemplos, cqmo -dádiva, de clatr-
va, por dona.ti va. ; fígado , do jlcíítwn (jeem fieis pastwn, Horacio,
sat. II, 8, 88); córrego , de /:m-r;,gas, equívoco, de erzuivõ/:US.
Nos verbos . bou\'C tra ns posição do accento: no infinitivo
de mu itos verbos da 3.ª conjugação latiua, qne no .portnguoz
passarão para a 2, ª ou 3." (os da 4 ª latina):- /iu:er, dizer, ro1n r;
perder, tm zer, Pe111ler, etc,, d0 fac:!re, dir;/!re, cur/'/Yre, perdt'1re, tra-
hlfre, vend.'1re, etc., calti,·, cingil ·, construir, fu_qir, im.pellir, pcclfr,
trahir, tingir, otc., do c1ulfre , r·ing,tre, co nstru fre , /icg/'l ·e, impelli!-·
re, petfre, tracli!re, ting;:re, etc.; no prese nte rlo iu dicativo o no
subjuntivo, o 11 0 imperativo de muitos verbos , e n1 <]Ue a pc11 nl-
rima syll aha ora breve 110 latim, e no portuguez é accc utuada:
- rletenníno, úwiqíno, confíro, profiro, applí.r:o, com•nuníco, ina-
g11i(ica, div írle, impéra, impére, lliuírla , penéfra, cu11f'e r ímos, dis-
l'érníinos, et,e.; e m par tieipios proveni entes de s npino em i'tum,
rleuirlo, fugido, gemíilo, prohib ido, etc. Na l." o ua 2." pessoa do
plural do imperfeito do in d icativo, o portngnez transpoz o ac-
cento, afas tando-o o da tcrn iinação, co ntra a tendoncia g eral da
l ingua , o qnc é mais notavel, por se. ter, nisto, apartado, não só
do latim , nias ta mbem do gallego, elo 'lual a nossa língua uão é
mais d o que um apcrfeiçoa mouto . A causa parece tor sido a in-
fluencia do espanhol, em que ig ual facto se d eu; e o :nosmo
aco nteceu nessas J)I\Ssoas do mais qu o perfeito do i ndi cativo,· Qm
f]lle o gall ego tambern . accentúa a penulrima: - f'alaúámo.~, ba -
f?'rí111 os , jJecliâmos, falnuádes, batiádes, pediárles; /'rilarúmos, /'alai·á-
iles, baterámos, baterâdes, pir.lirá111os, piclii'árles O italiano tambom
couscrvon o accento latin o, no imperfeito do indicativo . No im -
pNfeito do subjuntivo (mais 'lUe perfeito latino), as quatro lin-
p;nas tran spuzci-ão o accento do latim; o o ga.llego desloca-o al-
l{Um as vez~· no presente d0. se modo (bútamo.~, bútwles, pídamos,
·/)I Í/Jetmos, vrí!Jwles, etc.) o no verso, tarnbo m 11 0 im perfeito do in -
rl icarivo (vid . Saco .\rce, Gmm., Poesias, no appondice\: -Cau-
tos os dois cleiní/mmo.~ o monte. - Y os íbcimos ô longo eastanhar,
J1H , 300) .
F.m mu itos casos, a transposição <lo acce uto veiu do latim
barbar o, no ~u,1,I ji, i.e dizi a· )uufiérem, pariétmn, i1dégr111n. prmó·
tro, ic,
Em algumas palavrãs, rn odernamento introduzidas, honve
clo~vío da Flccentnação latina, por ini'Juon cia da franceza , con)o,
por oxumplo. om precore (lat. p1·awo{Y' pm:cc'ícis). Deviarn ns <lizor
ou precoz. como os OS}Janhoes, dorívando (la. nominativo (ad ins-
ta,· de veloz,
lat. velo.-x õris) , ou pré-coce, c:0111 o accento -latino. O
mesmo se deu no italiano , quo tambem accentúa precóce.
A LINGUA PORTUGUEZA 153

66. -Quintil., livro I, e. 5.


67.-Nãó sabemos cm quo so fundfto os alitoros, muito com-
p ~te ates, do uma nossa granunatica (a do Pacheco da Sil va, .iu-
mor, e Lameira do 1\ndrado, parte 3.ª, e. 5.0 , Formas clirergen-
tes ); para aconse]har íJUe se diga involilcro; parece nos erro de
impren sa , na coll ocação do accento. ·
68.-Não se deve diz('r aláci·e, como hoje dizem alg uus.
. 6!.J.-Limite desviou-se da acccntuaçiio laiina (limes, lim ,:tes,
limtleni). No esp&nhol, manteve-se-limite. J<'rn11cisco de Sâ · do
.\Jenezos, íJUe escreveu o seu póorna quando Portugal ostavá
u11ido á Espa nha, noou, por rnais do urna Vl'z, desta palavra,
com o accento ospa11l.1ol:
Não fujas, disso, q· o fugir da morto
He vão, ::;o ao fatal limito cltl:gaste.
llfnlllCct conr1 , 9. 0 , ost. 111.
Ou como quando os l imites excedo
D o furos a fortuna
II,., L0.0 , ost .1.2.
Hão de passar os JimiLcs humanos
Jb., 1.0. 0 • osC 7J.
70.-0 poriuguoz, assim corno as outras línguas romanicas,
riua11do Iaz derivações 00 111 O!:iS C.:l sul'fixos latinos átonos , !orna-
·os ac,:<·nt nados; ·assim têm o accl' nto tonico, 11a primeira vogal
J o su frixo, os derivados ern en, ia, io, aco, ido, ilo, ino, ola: -
nssemblfo, boléa, alegria , barbarin, cortezia, etc., velhm:o, (do â-
lis, seguudo Dioz, ital. â .l)liacco), {;(tSaco, menino, de mwr'mu.~,
pequenino, diamantino, r;::11npezino, bonito, mosrptiló, pttlitu, boli-
nhólo, camisóla, casóln, /'arçólct, mpazóln, sar.ófo, etc .
Os de nova for111ação, qno têm o suHixo áto no, geral111 onte
são do origem douta; ba, todav ia, alguus de creação popu'l::tr.
71.--Empréslito on emprestülo. ant, de pnuslare, pôr ditwle,
dar, emprestar, hoje emprestiino . T omou esta term inação po r in-
flu encia do non re prestiino, 011 do preslt!mo, prestiinonió, que Y0111
do mesn10 verbo: dar um casal ou herdade em p1·cstemo . Vide
Etucidario o ~lorites.
72. - X o la ti111 .o::qniviir:us, anicvcus, por ser longo o 'jj de 1·ox,
i)çi.~. A nrnsina transposit,;ão do accpnto se dou no espanhol e no
italiano. ·
íU. -E marcomános, co rn o no verso do Camões, e. 3. 0 , 1:
..-. • . . . • • . .. e ua montanha
Hercvna os marconw.no::; são polonios .
.\larcornai~ui vcn r do allo111ão niarkmann, homem da froi1-
teira. T ambo m se dizia marr;omiínus, por analogia dos cowpos-
tos de mcinuQ. ·

...
154 A LlNGtJA PORTUGtJEZA
/

74.-Quando é acceutuada a antepenultirua do nomiuatívo,


e na declinação ultima s<:: torna longa ou accresco á palavra uma
syllaba, passa o accento para a syllada soguinto. Assim: - án-
thrõpos, homem, ónoma, nome; genitivo anthrôpon, cmómatos. O
mesmo acontoco quando é accentuatla a penultima e accresce
uma syllaba longa:-Hélten, helleno , snmd, corpo; gen. plur.
Hellen õrn, sómátõm. Como so vê nestes exemplos, a quantidade
dàs duas ultimas syllabas inflúe na natureza do accento . E'
agudo o accento da pcnultirua, se é breve a syllaba, ou se é louga
de natureza o tambont longa a ultima; circumfloxo, so a ponulti-
ma é longa e a ultimâ é brev::. Basta vêr, portauto, o agudo 11a
anteponultima, para se sabor que a ultima é breve; e, quando o
agudo está em pouultima naturalmente longa, já se sabe que o é
tambem.
75.-Havia, no grego. outra fúrma, menos asada, anátltema,
com e psilón, breve, da qual pro-YOiu a que prevaleceu no latim
occlesiastico-anatl1,';ma. No italiano, a mesma accentnação; no
espanhol, anatêma é mais comruum, mas tambem anátema.
76 ......:No espanhol e uo italiauo-elógio.
77.-Tambom uo ospauhol, provavelmente por influencia
do franccz, -escarrt:; mas, no italiano, escarra. P.ola mesma influ-
cia, opála ou upálo, lat. opdlus, g~·. opallios, osp. ópalo, ital. opále;
78.-Esp. e ital., pólipo. Adolpho Coelho, Dice., q1111r qúe
-tambem assim se pro11u11ci e 110 portuguez, declarando erronea a:
accontuação volfÍpo; e Castilho assim accontuou. neste verso do
liv. 4. 0 das 1lletamorphoses:
Ou tal no pégo um póly]Jo v.;rias.
·-76.-Este. provavelmente, por iniluencia do franc0z. Al-
guns dizem _bólule, e é a melhor esta pro1mncia.
80.-S. Prndencio, o pritneiro que escreveu hymuos, sobro
assumptos da religião cLristã, nsa de muitos barbarismas e iH-
fringo, frequentemonto, a prosodia classica.
81.-Camões, c. 3. 0 , 131. Vulga~·m011te, Polissêna ou Po-
l.ussê11a . .
82. - Não orrad, aiuda que possa causar estranheza, quem,
. 11osses nomes, seguir a acçontuação latina. O dr. Castro Lo-
p()s , como bom latin~sta, que era, dizia Heraclito; pelo menos,
assim accontuou, numa das- suas poecias-ReM1Teiçõcs.

Lamentando ambos o muudo,


Qual dos dois razão teria.
Heraclíto, qutl chorava,
Ou Demócrito, quo ria ?
A LINGUA PORTUGUEZA 155

83.-Francisco José Freú:r, nas Refl~fÕP,~ sobre a linr;.


11ort., .2.ª parto, Ref. 8.ª-<<Dosculpo a(J_uolles que, faltos de
bons princípios. ignornm quando hão de fazer breve ou lougi
a syllaba penultima de algumas pala,;ras o nomes proprios;
porque não ha _um unico lin·o em portuguez que os instrúa Não
são poucos os que tratam da orthographia, mas nenhum ha que
trate da pronunciação Jouga ou breve de muitas palavras . Por
isso, nesta parte, se on,em commumontc infinitos erros, comes-
pecialidruie naquollas pessoas qne ignoram a língua, latina.
Quem quizer observar erros, tomo o 1rab:tlho de ler a lnsulana,
de Manirnl .Thomaz, e .om1·os poetas da mesma clajse».
João Ribeiro, Gram. Port.., 4.:t ed., 1891:,«A prosodia dos
nomrs proprios 1 do origem grRga e hebraica, etc., nunca foi de-
finida. D'ahi a variedadR <lo accentnaçõeS)),
84.-Geralmente, é lido assim este nome, nesse verso de
Camões. Ej,hvre cabe, igualmonte 1 na J.1rndida; não no seguinte
da ecloga VIT:
Dinamonc o Ep4irr, a quem ~omp~ra ,,
~nas Pheho em nm rio.
85.-Cas~illio, 11 ú prolog0 das Metamorphóses, diz que, nes-
.sa ~radncçfio, chcg:·ra ó sou escrupulo «ao po1jto de, até ein no-
mes projJ1-ios de cães, se com1ervaí·o111' as quantidades syllabi-
cas dó origiual; salvo 110s rari ssirubs casos, em qne 'o uso geral,
e. constante elos amores, a;, havi a jh ádulterado na nossa lin gnb.
como Sémele 1 que uingnem cá reconhece, senão por Scmélc; ou
no!é' casos. muito mais ral'os ainda., em qne alguma attcndivel
razão do ~quívoco ou cacoplionía repre~ensivel. aconselhava o
desvio, p·or acautelar o ridiculo: assim, por exemplo, a9 manjar
dos Densos. vai o nom fl ' ile 'ambrosfa, em vez do nome de am-
brósia,».
er;. - Accentúa se mpro assim d,te nome; ·o esta é a pro-
unn cia geral. Noutros podas, porém, oncontl'a -se E 'olo ,lat .
.·1cu/irs, gr. Aíolos).
Ethíope. conforme o accento latino e o grego, no e. 5.º, 32
o 76; m:is et!U:ópes, por liber~ade_poer_ica, no mesm o canto, ost.
62. C!tr:lnpas, com o accento latrno, no e. :!. 0 1 90; 11outros poe-
tas, muitas vozes com o acccnto grego - C!JclopPs; como, por
exemplo, em Castilho:
A azáfama relcnihro os Cyclopos', lá quando
De candentes metaes o raio andão forjando.
Georgicas, liY. 4,•
156 A LINGUA PORTUGUEZA

Em menor fogo os Oyclopes temporão.

1lfetamorplióses, livro 3. 0
Mas outras vezes accentúa Cyclópes:

Depondo as armas, os Cyclópes forjão


.llfetam , li,. ]. º ·

87. - Do que ao grande Dário tanto pêza


88.-0 grão poder de Dario estrúe e rende.

No latim Dar'tus, porque o i provém do ditongo grego ·m


(Darefos); mas, no latim da: decadencia e da id_a de média,· tam-
bem Dar'l'us, conforme a regra latina (vogal ant_es de vogal). No
italiano, e no espauhol antigo, Dário. · _ ·
8!). - Francisco J. Freire, Ref.,-2.ª parte, R. 12."':-«0ceá-
no, com o a longo e uão brove, como affectadamente pronunci-
am alguns. Em poesia, poderá a µenultirua faze r-se breve». ·
. Os .espanhoes dizem Oteáno; os italianos 'tamb'cm, mas es-
tes, no verso, dizem de um o outro modo . · ·
Francisco de 8á de .\Ienezes, que oscrovou no tempo em
_qne Portugal estava unido á Espanha, conforme advertimos, e
que, como os espanhoes, disse limites, t,,111bem, mais do nma vez,
acccntuou océano: mais v zcs, porém oceâno.

fJu.-Entre o rito noctnrnô órg1as ebrifcstantes '

Castilho, Georgicas, ·liv. 4. 0

..... . ...... entro 11octur11as


Sacras órgias de Baccho . ..

Odorico Mcndei;, Georgicas, ib.

Sectario, e servidor das órgias !'estas.

Castilho, Met(tlnorphói;e.s, hv. 3. 0

;\las inda Alcíthoe, de Minêo progonie


Gom temerario entôno impugna as órgias '
A · LINGU~ ,POR TUGTJEZA

De evoê. qu3:l ao grito insana Thyas, ·.


Quando, os tbyrsos o vultos sacndiclos,
Trietericas orgias a estimulam.

Odorico ~Iendes, Eneicla, 4. 0 , v.º 316

J oão F ranco Barreto disso órgios:


•••• . ....•.. quando
Dos Trieteri cos 01:gios he incitada

E'lleirlà, liv. 4 .º 69.·


90 A.-Por liberdade pootica, accentnou Camões: -Nai.â-
des, na est. 56, c. 3. 0 dos .Lusiaclas, o Oreádas, na ecloga 1.ª
91.-A' semelhança deste, formou Virgílio o titulo do sen
poema' Aeneis, ülis, ou tdos, a Enéada, poema a respeito de E né-
as; o do Camões, Os T.A1siailt:is, é um substantivo patrononim ico ,
os descendentes do L_u so,.a que col'fcsponde a·neiídm, com pa-
nheiros ou descend entes do Enéas, de que tambem usou Vir-
gilio, no liv. 8 °, v .0 648- - CEnead,.e in f'enwn ])1'0 libert11te rne-
ba.nt. Poi: não Att!:)n tnrem nesta difforonça, não só estrangeiros,
1m1s literatos portugLiczos, e até editores do Carnões, d izem A
L,isiád,,.
92.-Ital.- IÍ,bsicle, mas esp. absida; no baixo lati m, tam-
bom .abs'ida. . · ··
93.- Heitor Pinto diz He.ramerão, n:t imagem da virla
cliristã, 2. ª parte, Dia!. 4.°, cs. 3. 0 e 7.0 •
94.-Os compostos d,, gõnía, angulo, tarn bem são proparo-
xytonos, t-eudo prwal.ccülo -uo portuguez, como no espanh ol, e
no italiano, a accentuação grega:-poljgono, pentágono. etc. Os
Jat_inos accentuávão a vogal pen ultima , por se r longa ( 0111eg11,,
no g rogo): - trigõnnm ( = triangulwn, pcntagõnum, polygõnmn,
ou pentagoniwn, polygoninm, etc . -Po{yg'ínu m é nome de uma
planta, composta do gonu, joel ho, allu,;io á haste nodosa dessa
planta.
95.-0 mesmo g ram matico italiano ensina que todos os
compostos do syste ma decimal sií.o accentuados na a ntepenulti-
ma, por se formarem do elementos gregos. Assim :- élt ,:i-o, eh ílií-
ro,. decásti!ro, cliil9sti!ro. Como ::;e vê, os italianos escreve m chilo,
nã9 kilo, conformando-se mais com a etymologia chilioi, mil.
Nós dizemos, com melhor fundamento : - a.re,. hectáre, centiáre,
do)atim area, ,ero .quo ora longa a prin:ie ira vogal; e:estéreo, de-
casJéreo, decistéreo, do g rego stereós, solido, - preforivel a stére,
decastére, etc., como dizem outros •.
158' A UNGUA. PORTUGUEZA'

06.-0 e prothesíco, usado no portnguez e nas outras lin-


gua-s romanicas, não altera a posição '. do accento. Assim, por
exemplo, em esláse, de slr'ísis o acceoto deve ficar no a, não
obstante ser breve cm latim, do mesmo modo que dizemos es-
tárlo, do strítus. E', pois,-sem razão que Adolpho Coelho, Dice.,
accentúa éstase. O mesmo se dit cm escóla, estóln, e8J1áda, estjlo,
(sehõla, stôla, spdlh'a, st/Ílits).
97.-No espanhol, como não se usa de consoantes àobra-
das, muitos pronuucião k,lõgramo, telegranio ( Gram. dtt Acade-
mia E sp., parte 4.a, cap. -!. 0 , in fine ); e rnmbem ep'tgrama, não
obstante se pronunciar unagrâma, díagrâina, progrâmct.
Os italianos dizem: - Lepanto, 0-tmnto, Tárnnto, O'fanto,
rio; nós o os espanboes acceutuamos a penultima syllaba-Le-
pânto, Otrânto, Tai·ânto ou Tarê,ito, Ofânto.
98.--No tempo de Quintiliano, pronuociávão, com o ac·
conto grego,-O'l'ympus. lúrannus. Qnint., I, 5.
Dl.J.-0 li, simples signal de aspiração, não inflúe na quap-
tidade.
100.-Os italianos dizem faréti-a, ou por ser termo poeti-
co, e no verso latino ter muitas vezes quantidade longa, oti. se-
guindo o accento grego, que é na pcnultima syllaba, por ser
longo o a final.

101.- ........ Lembra; ó ~1nsa.


Qual o mais forte assecla dos Atridas.

Odorico Mendes, lliada, liv. 2. 0

102.-Madureira e )Ioraes.
103.- Lus., e. 2. 0 , 54; 7. 1·, 73; 8.°, 85 : 10. 0 , 147.
104.-Lus., e. 4.°, 28: o 3.", 141.. Os esr,anhoes .e os ita-
lianos, ainda na prosa, dizem sempre Cleoprítn1, como 'luasi sem-
pre accentuavão os poetas latin os.
105.-Seguudo Servio, Annlecta yrammalic,1, pronunciava-
se com accentuação grega Cé,1ln11n1s, e, pMtanto, tambem llfi-
nótaurus; mas podia-se pronunciar ú. latina, com o accento na
pcnultima syllaba.
106.-Deve-se dizer hetkra, não hetflíi-a, como "dizem mui-
tos; o ditongo ai tinha o som de é, ce no latim, a que correspon-
de e no portuguez. Lif.tré escreve hétcre, e diz que hétaire é má
orthographia. '
107 . -No grego·, ha, para as cinco vogaes, sete letras: -
e e' o são escriptos com caractéros diITereqtes, conforme são bre-
ves ou longo~, e psilón e éta1 o 1nicrón e.o rnéga, · ,

Blblloteca Públi ca Benedito Leite


4 'L1NGUA' PORTUGUEZA

Em omega, como uma só palayra, a accent.uação latina é


ómega, por ser breve o e, a gregi omé_qa, por ser longo o a; para.
evitar essa differonça, pr Jerimos dizer, em duas palavras, o 111é-
[Ja, o micrón, como usam alguns autorns.
A' vogal u do latim corresponde o ditongo ou -e o y, que ti-
nha o som do it fra ncez.
J0 -:3 . - Os espanhoes dizem diócesi ou diócesi'.s.
109.-Pronunciava-se s7.:ele'tus,porqne o e latin o, até ao 7 °
seculo, tevo sempre o so m de k . mrn ca o sibihn.o qne tom . ::iu-
tes de e e ·i, nas línguas modernas; assim: - skeua, skeh1s , kele-
ratus, Iúkero (scena, scelus. sceleratus, Ci1Jero). ·
110. -Como disse um nosso poeta:

O meteoro fatal ús regias frontes.


D. .\ b galh5cs, Waterloo.
111.-Esses dois 110mes deveUL ter o terminação masculi-
na, como no latim e no grego: - hermaphi·odita, parasita só q uan-
do se referem á. planta; neste caso, são adjoctivos, que coucor-
dão com esse nome subentendido.
112. Sátim , que se não deve escrever com y, 11ão é pala-
vra grega; vem do satlti·a, mistura, porque o po ma satírico era,
a principio, misturado de prosa e verso, e eomprehendia varios
assumptos .
113.-Filinto Elysio accontuou hypógrypho. -Tomo 2. 0 ,
Oberon, canto 1.0 •
114.-Palavras formadas, no francez, com elementos gre-
gõs, são rocebidas, ás vezes, com o accento franccz, como - eos-
inorâma, diagrâma, pa,11.orá1w1,. Tambem dizem rnrlomâno , rnetro-
mrí,YII>,· anglománo , etc. Devemos proferir - rn olomftnico, etc ., do
grego manikós, louco; ou melomónícico, do larim mallitú:us, do
1wmia. A terminação franceza 1wino, o a acconruação meloma-
no, não tem razãCJ etymologica, latina ou grega.
· llf:,. -Heitor Pinto, lma,qein rln i·ida ch1·ifií., Dial. 6.0 , cap.
6. 0 :-«Dizem que havia na Olympia, cidade da Grocia, hu' .a.l-
pend1-.) feyro por tal artificio que, se dizia dell o hua palavra alta,
soavão sete. 1Joutln vieram os gregos a chamar-lhe H eptcípho-
non, que quer dizer sete vozes, o os letrados Septivõca, que quer
dizer o mesmo».
J lti.- -1.IIuophónos, taurnphónos, ;X_·enophónos, etc., o que mata
ratos, touros, estrangeiros, compostos de phonos, ou matança, tem
o-o breve, na .penultima syllaba, o mikron, mas accentuado, por-
que. esses compostos-significão o que faz ,,ma. ac9ã.oi .a trnns•
~ L\lf~UA PO.RTVGUEZA
- - ..., -

cripçib ):),tina teria o accentq ua antepenultirna-niyophonus, ,


ta\irõplionus, xenóphonus. . . .
Filinto Elysio disse, t:omo 1. º, p. 183 :-love gigantópho-
no, e·c'm nota: - --Giga11tophono:s, (Jigantmn interfPctor., 11iiitad,or, d~
g-igan·tes. , . · . . .. . • · ,
Assim, tdépMn'l/1< não sig nifi.caria sóm ao lr>nge 01Í cousct
que soa longe1 mas o que matn de longe; o comp.osto d~ phõnt .h avia
de ser, no grego, telf'phrinos. telé11lir. no11;· no lat-irn, telephõnu's, te-
lephõnwn. · · ·· · _.
117 ...:...No fl'an<·e:1:, di1 Sf' 111icrnphon'e·on m1:cro7ihoniwn. Vide
Líttré, .Dfr!c: · · · . .
11~.-- O ca:ito dos a rn orj:s do 1:'syche, in serto na ecloga de
Sá de Mirand a, clía1m,da·i:Jo 'Ew:fl:11úü11ento. por cansa do bosque•
encantado em que se passão esse:; a mores, foi tr:;i,nscripto no tomo
B. 0 do Parnaso Lu1,ila1ío1 com o timlõ' l~syd1i,s. _'.E sta desinencia é
erron ea, proviwlo o equi,;-oco uu hayer nomes propcios femini-
nos que a têm;· no grego ·e no latirn -Chloris, Daris. Pltylis, etc.
119.- Heitor Pioro disse En,:/iii·irlião,, ~e Epictéto.
120 .-Em pulmão, 's egue o portuguez ,a fórma e a accen-
tu!!_ção do' latiln, pulmo, õnis, ·differo!itcs das que tem a palavra
g1:figa pl"Mrntãn, /Mos peneumõn, onos. Em alcyão, aparta-s0 da
accentnaçãó latiirn., alcyon, onis ( gr: alkíiin, qnos.) ; mas. falando
<la filha 'de :E'olo', transfor1ilada 'nêssa ave, e de nma das estrel-
las das Pleiadas, diz-se Alcjone ( gl'. Alkyónc,·tat.' Alkyune).
,. Cl'óton tem a !Iexâo1 longa ·nó 'latim crotõnis ( gr. krótõn,
õnos ): mas pronuncia-se com o accento do uominativo, que é o
do uome sci-:mtiüco-cróton tiglium.
Algumas vezes a terminayáo portuguoza póde provir da
francezá., com'l em1 dia,Pasão ~gr. diápasôn, lat . . diapü.son, inde-.
clinavel), e diachylão ( gr. diáchylon, on, · 1at . . duí.chilmn, i ).
Qnaudo o on grego ~e muda em um, no lMim, a terminação por -
tugueza é em o. · .. .
121 -O italiano termin a esi;;es nomes em one, com.' o ac-
cento na ºpénultim,a ;yn:~.ba.;' O espanhol em on, aQc~1.i tuanao
sempre a ultima syllaba, excepto os do _gemtivo latino em ontis,
que tomão, como no portugnez, essa fl,e xão, numa e noutrlj. lin-
gria ( Anacremíte, B elfP-ropho,tle, etc. ;: - Againenón, Gerión, .Jas-
són, J.ti,caón, Orión, H élfrón, etc.
· Os nossos poetas, por via de· regra, accentúão a .ultima syl-
laba; alguma3 vezes, porém, seguem a àccentuação latina. As-
sim, por exemplo: ·
Castilho, nas Metamorphoses:- plilégon, Céladon, Médon, Pa-
lémon, Polydémon, Scython, Citltéron, Hélicon, Pi:lion.
J. Fr_anco Ba.rre,to1 Eneida:- '-Mêmnon, ,liv. 1.0 ~ 114,. Orí~n,
.i\:1:INGUA POR!UGtiEZA
liv. i•l,.'116; oút~·!ts vezes· urióu, Hémon,/íarpj ê/,on, A.'d·m{, F.4~-
chon, Aya111ê1nnan, ij._v. 6. 0 , Hló. ..
Odorico Mendes:-Na Eneida: -Agamêmnon, Sarpédon,
Hélicon, Tárchon. Na llia!la:-Agamêmnon, Sarpédon, EgéQn,
Aspléclon, Dórion, Pélion, etc._
122 ..- O pádre B ento Poreira traduziu Odêo, e assim o dá.o
OS llOSSOS tlicciooarios, _CÓmo . llQITIO comm,U\lij ad 'fnS{ai·. de apo•
gêo, perigêo, gynecêo, Atlwnêo, .úycêo, Mu,.~êú, Prytanêo, etc. , que
todos, no latim, têm a terminação eum ou mmn, e hoje, no por-
tuguez, mais geralmente se escrev-em com o ditongq . eu. Os
termos de anatoniici - perinêo e peritonêo tinhã_q, no grego, duas
formas perina1.on e'perín,eon, peref.ónai,on e_peritónion; a segun-
da prevaleceu no grego, a _p1·imeira 119 ~~t~m:,- ~erinmum, perí-
tonwum. No francez, perinée p1·ovérn da primeira; peritoine, da
segunda. No portugt1ez, dizu'm ,~ui.to~ peritonio, por influencia
do fra1icez. Convem-nos fixar na tei:m_in~ção ditou.gada, como
so promincía . no ·espanlio1 e- 110 italiano .-:- periÍtêo, J?eritonêo; o,
escrevendo com· o ditougo eu ,-evitar-se-ha a duvida na pronun-
cia, por dos.cuido da acceutnaçàc, graphica. Por analogia:destes,
ou por causa d? · ácceuto franccz, tambern dizem pero nê o (fr.
peroué ), que outros promuwião perõneo; pola etymologia (gr.
perón e, que daria uo latim perõne ), dovin ,se dizer pé;-one ( esp.
perône, it. pei·onês). .. · \ , .
Deve-se escrever I o pronunciar perió,steo ( gr. periósteon,
lat. periosteuin), não períosto, como 110 tlSp., OU periostio no ital. 1
1
fr. periosle. ·
Em 1/Ut'USO]éo tl_ tropliéo ( g,. 1/Ut'/tSufoion, lt-úpaiou, lat,- mau-
solemlÍ, tro'pwimi ), a termii1ação e tarnbun~ dirougacla, m,ts ..<:?, ,é
pi·onupcía-se, geralinente, com o som aberto. . . .
123.-Víeira accei1tuoi.1 Panthéon, nos Sermões, vol. 13. 0 , p.
1!)2, e v.-11. 0 , p. 191, o Lncena- Pcintlteôn, na Vidd dé S. _Fran-
ci.sco Xacie1·, l. 2. 0 , c. 12. .. . . ·
124. -Pltaetãô, Heitor Pinto, Imagem, 2.•i parto, Dtal. l. 0 , 2,-
:> _-~a~nõe~, c. l.°, ~6 e 69: -Plweion: e!n algu(~ªs. ediçõ~s-
1 'haetao, e e. 5. 0 , 61.--_PhlPgon. . . .
Odorico Mon'des, tmducção <\a En •uiµ, l;1x. 2,- 0 -Lapcoon,
UCAÜegóu. · ~ . . . _ ,
Nã~ ~.s tando, 11~t~ulo coru sigmtl ord;og_L'! Ph~co1 é incerto o
accento, '_púdeudo. J?Cla medi.d~ do. ver::io, .. fr na ultrn)a. syllaba,
o mais proyavel, ou c'onfonnn o do uomiuativo lati~Q_.
, 125.-: -1:-cion, ºª. Ulyss.~a· ~º· -~ ~.}2;:-- _ ., ·

, .,. •
Do
. .•
abutre â fou'iei de lxiou
"' { '\ :· ,, '
o to1\ii~nto.
' \ ' r . . L· ~

Biblloteca PUblica Benedito Lehe


A LL~GUA PORTUGUEZA

126.-Vieira escreveu Oríon, accentuand.o o i, que é lon-


go no latim. Sermões , v. 6.º, p. 199.
Camões disse Orionte, por duas vezes:

De quem foge o ensifero Orionte,


O. G. 0 , 85.
E do Orionte o gesto vê tremendo
o. 1.º, 88.
::\<fousinho de Qncbedo ilis. r Orionte, Orion, eom acceoto
duvidoso, e Oría: tambem Ado, rm n'7. de Aríon:

Vee-se Orioure ao nan'gam0 ü1fest,o.


A/f. A.fric., e. 3. º, (-.;5.
·Tal quando contra a machina do mundo
Orion se conjma e àestrnilla
Intenta ...
e. s. uo.
0
,

O s sentidos Delphins antigamente


-Enlevados na musica de Arío,
Que aos nautas prognosticão a imin ente
Torm enta, que resolve o aquoso Orio.
o. 6. 0 , 8.
A forma Orionto é mn méro e·quivoco ou licença poetica
( f:!r . Oríõn, ()nos, lat. Orio11, iínis\. Algun s nomes tinham mais do
urna pexão, n o grego, on mudavão a flexão ou o accento, pas-
sando para o latim. Assim, em Oríõn, a fl exão tinha o lo11go no
12:rcgo e breve 110 latim. Ko grego, chamai:léõn, antas, cameleão,
cltamu:leon, 1mis on 011.tis. Chrírõ 11, ünos, no latim charo11, ontis ou
onis. ó'ai71écló,1, ónos. e Sa11Jédõn, anos, em H o111ero hrn1bem gon.
/:fai·veclonto11, lat . SarpPilon, 011is . Gr. Pygmaléõn, ontos, la t. Py-
ymal Yon, 6nis.
127.-Sínon, no Affvnso Africano, e. 4. 0 , 49:

"ão do outra sorte o levarão, que OR troianos


Ao falso Sínon, para ouvir enganos.

í 28.-Castilho. em nota ao Ji,.. 3. 0 das Jfetamorplwses e


Gonçalves Viana (Accent11ação grájlca, XI. 5. 11 regra) accentúão
Sólon, conforme o acc nto nominativo 110 latim o no grego (Só-
A LÍNGUA PORTUGUEZA

lón, õnis, g1·. Sólõn, õnos). ,\[as Heitor Pinto .até o tcrmi11a 0111
â,o:-Solão Salamillio (I11wr1-, dial. 3. 0 , e. G.º e 2:' parte. Diàl.
5. 0 , 2 e J.4) . · ·
129.-Camões, e. G.º, 87:- Colopltonia; e. 3.º, 97:=Helí-
cona, em algumas edições com accento na pe11ultima syllaba.
130.-Camões, e. 5.º, 00. O mesmo acontece com os no-
mes proprios latiuos, de genitivo em õnis, qne, como os com-
muns, ordinariamente, do portugnez, terminão em âo: -Aqnilo
(Camões, e. 6. º, 31, 7G), Cicero, Nero, Pollio, Varro, ou Pollião,
Varrcío, etc. Alguns autores antigos disscrão Cicerão como
Damião de Goes, na tmducção do tratado de Senectute; o Luiz
.\utonio VHrney entendü, que assim se devêra dizer, como uas
outras línguas latinas. -fr. Ciceron, esp. Cicerôn, ital. Cicerone.

131.-Lei. foi de Jovc, cm r.i..'{a ao discordarem


. e o .\I"vrmidon dü·ino
O de homens chefe

lliaila, liv. 1. o

Recolhe os teus, 110s ,\lyrmidões


Entre os ·sem; .\1Iyrn1idões na pntia o achara1tt.

lúi,rl,.
. . . . . . . • . . • . e somb ra escura
Os dolos dos Jíynuidoues cobrindo

J. F. Barreto, l,Jneida, lív. 2. 0 , 63.

Temoudo estão agora d'e proseuto


Das ar111as Phrygias, 00 111 razão ro111idas.
Os 'capitães .\ lyrmirloncs: tnas lidt•s
,~chille's Lári, ·eo temo, ,\lcitles.

· Iú., liv. n, Dí.

D'aqni veio (inda dura cm t~111po hodier110)


Que os filhos dos Myrmidones dcsputc,n
Lhoias nruas leva ndo sobre os bombros,
Da pedestre catreira a palma ~onrosa.

Costa e SiÍva, Os ar,qo11autas, liv. 4 °

i32.-Ha outros nomes, em êo ou en, que têm na termina-


ção grega a1 ott ei; na latiua, wu ·ou eu, co1110:-A.lcêrJ 1 A"J!lt~o,
ltit!
' .. A LÍNGUA PORTUGÜEZA

,41itêo, Dirceo,.Lyêo,. Ay1:tlieo, etc. Nesses uão. so, faz a, ,tf;lrrni-


riação dissyllabica ,e átona. Camões, todavia, accentnon Píreo: -::-. '

........'.. ....... • das náos q' uavegavão,


Quautas uo porto Píreo ancoravão.
' ')
Estancias prnneiras, XVII.
133.-Quint ili ano (1, õ) diz que, 110 seu tc1npo,, accentua-,
vão a terininaçã.:> desses nomes, reunindo as duas vog-acs e m
tlito11gQ, .C<J1110 uo grego; mas qu e ainda ua sua mocidade ouviu
homens dontissimos prommciarem à latina, com accento agudo
11a pri111eüa syllaba:-A'/r(<tus, Né.ri 1us, Fér/Jus . .
Camões:-Protêo, c. G. 0 • 20, 3G; 7. 0 , 85 (em algumas edi-
ções--Proteio); mas uo e. 1-º, rn - P,·úteo. No c.. 3.?, W7:-
'.f.'hesêo; mas 1~0 c 2. 0 , ] 12 -Tl1éseo. Nos outros nomes seme-
lhantes, sempre êo:-Atrêo, ·Mo rphêo,· Orphêo (no c. 3. 0 , 2, em
algumas ep.ições-Orpheio), Nerêo, Pelêo. Mas ua Edoga .<J.ª-
P elio:-
Onde Tethys por Pelio em .fogo arde9 .

Côrte Real, Ntt11/. de Sepulv.: - or~ Protôo, ora Próteo,


muitas vezes; tambe 111 Thé.,eo, c. 4. 0 : - L apithe.s, Peritltoo ·1.:em
com 'J.,heseo; c ~~éreo, <: . (i. 0 :--Estava o poderoso rey com Nero.
Quebedo, r1 f'. ,Af'ric.: -M órph eo, c. t. 0 , 7: - e ·varios sonhos
-;:lhes forrni1, .\Iorph co alegres, e medo nhos; e. 3. 0 , 74, Céplteo:
- Ação na Liúrn, Cepheo no carneirn.
G. Per eira de Uastro, [ lyssea:-Prothêo e Prótheo, cs. 2. 0
e 7.º; Pérseo, c. 4 ~, ;'d, e 5 °, 87 .
. 134. -Carnões:--Ciuyréa, ti º, 3-!; a seita Epicuréa, 7. 0 , 75,
Lagcia, 6. 0 , 2; a luz Phcbéa, 2. 0 , 72. ,
135 ---0 leão Cleo nêo 1 4.°, 8 1; o,Cyllo11êo, 2. 0 , 57 e 71; 1Uan-
tos Nabat]l.êos, 1. 0 , 84; o ani n1al Nemêo, 5. 0 , 2; euro1iéas terras,
G. 0 , 1;,LarísséÇl adultere~. 10. 0 , 1; a lei Lathéa, 8 .0 , 27. Heitor
Pinto: -Phcclereu, Dionisio lfolicarnasseu, etc.
- 13G.-Carnões :-Amphzoneas -Thebas ,. c. 9. 0 , 19 (em algu-
mas edições 4mphionéas, o adj . lat. é Amp1tioniits); Apollíneo rafo,
1. 0 , 84 e 10. · ,_2j; as. Halciôneas aves, 6. ·, 7 7: Dedálea faculdade,
7,.·, 51; os mon tes lfype1-bóreos, 3 .·, 8. Tégeo Pan, ecloga 7.ª.
Os fra11cezes dizom Cltmnps Elysées, e dão este non1e a um
passei~ d 1fl Pari~, e o d.e Elysée ( fai,ais rles Chanips E< lysées ) ao
palacio em que reside o presidente da R epublica; traduzem ge-
ralu'i e11te c_ss\3S nomes por Orimpos .El,1Jse,os e incoherenterlll~nto
o Elyseu Mas, co1uo adVtlrte Li ttré (Dice.), Elysée é uma forma-
A I;INGUA PORTUGUEZA 165

ção irregular, · como se fosso E fyseum o nome latino, qn e ora


Elysium \i;r. JÍJljsion), Elysii Campi. Devo-se d izer, portm1l,o,
Elysio, os Campos Elysios, como se diz Filinto El!!Sio.
137. - Os nomes da 1." declinação, terminados cm eia, de
mais duas syllabas, tiuhão brove o a fiual e o accent,o ua anto -
.ponultima; oxcepto, porém, os derivados do verbos em enõ, qne
tinhão o a longo e por isso o accc nto 11 0 d itongo ei. corno poti-
teía, de politeúõ, proph cteía , de proph ileüõ, pltanw1,keía , de phar -
111,akeúõ. Nos ditongos grogos , o acccuto põe se scrnprc na se-
gunda vogal. , ·
· 138 . -Os nomes gregos assim t,1rminados tambc m ti-
nhão, no latim, a termi nação i'a: - Amriltl,~a, C1;theri'a, Galatea,
r.oroni'a, Laorlicea, Mcwtin na, etc Tarnbom alg-nns dizião Ale-
:ra11rlrNt. Anti.cfoniia, A ntiochi'a, Seleuceci.
139. -Soclrn a1m, Die Anssp/'llche des latein, e. II, not, l n. 0
5 do~ V ( AbnJeichungen eles l'Olkslatein nncl des 1·,,1namsrhe11 ).
140 . .:..No latim class ico, ambos esse~ nom us tinhão a pe-
nnltim:i breve. No grngo Ouranía, de Ouránios, cclosto: Pnly-
ymnia, por co ntracção Pnl,1innía, de pol(;ymnn.~. ,]p 11olys, nrnifo,
o ymnos, c:.rnto, hy111110. Os italiauos dizem l'rrm)n.
141. -Lê se, num manuscripto anony111 0, do l4 ° socnl~ : -
ln istis dictionibus lelanie, ·11igromancia L ombcmlia, e~ U11r1ru·ia et
irnihbus· servanrla est consuetwlo vulqr,,rfom, que rzwi,i pr" r,,l'le
reputatur. Nam si penul&imam lwjas dictionis L om.liar./ú ,. l"t1111ié,
11ig,-omancia, brevi accentu pro/'e.n°es, reputareris /i1.t11 11,: ef similí-
ter si ve-imltimam l111ju.5 dictionis Unq,1riri htfemlilf'r lor111e11rlo pro-
duceres, etiamfatzms reputnreris. Respiâ endum e~t Í!Jilur wl co11 -
s11edinem vulgarem et etúmi littemlem.
Nesso mesmo ma nuscripto, nora-s e qn e, nGs palavras gro -
ga.'I dessa terminação, co mo comedia, tragerlüi, Jlinrin ( tan1 bom
nas terminadas em e11,, com o cllorea, plritea ) e nas lat,i nas 11110
imitavão as gregas ', latill't imifantia grecism1wi, ul r,•1·/oriri, rrrn-
cellaria, Lombardia) já o acconto ora iudcpcndP ntP 1la r111anli-
dade. pois adverrn o autor que, nessas p::tlavras, a ponultima e
ar.centnada. não obstanto sor brove; accrcsceuta ndo L[ll'', nas
gregas , podia ser bl'eve 011 longa.
Um• manuscripto ~o 12. 0 se 'lulo traz osto catalogo . com 1\
indicação do accflríto: -" 1'Jllonrtrdiía, tetrm·diítt, them·ía, theolo-
gía, allegoria, pltilos9p\lri, r1lnlologla phisiologí,1, astroloqía, a,q.
tronomía. geometria; 1:11rurg!a, c1p·ulogía, armonía, symplwnía, me-
lodia, ps(1lmodía, omelía, antilogía, zizrinía, 11ro11ía, gene,,,logín,
ap'osfo.~ía, usía, Rumaníi,, pm17hetía, decania, Alex á,1driil, Nicumé-
dia, Ph.iládélphi'a, comédia, tragédia, neoménia, scenopltégi,1, anga-
ria, gaslriniár'gia; plilla'rglria, cenorlóx ia, cinómia, letàrgía, ·wi·

Biblioteca PUbll ca Benedito Leite


166 A LINGUA PORTtJGUEZA

le.~ía, monopá9ia, rnánia, ccínlia, rlicírria, dissi11téria, strangiúria,


gera,~chía, tropología, yan·óchia, cathegoría, encharístia>,.
Em dois maunscriptos do mesmo século, ei1coutrão-se estns
d ivorgineias :- astrcmomía, cirürgía, tropológia, tra9edía, yastri-
margía, scenopegia; e já vimos, no manuscripto do .J.4. 0 seculo,
acim a citado, r·omedía, traged)a .
Not-ice.~ et tt'X:!raits de dfve,·s 11umusr·n'ts latins, j1011r ser1·ir à
l'li.isloire rles 1lol'lrines grmnmatfrales au ?nOiJen age, par :M. Cha1·-
les Thmot, tonw 2:J, 2.111 e partie. Les notices et extraits rles manus-
r:rits de la Bibliotheque Tmpériale et autre.~ l,iúlolheq11es, publiés par
l'lnstill1t Tmpérial de Fn111r·,,, Paris, 1868. Pags. 406 e 407. ·
142.-Um dos ,u nis aurorisados grammaticos portng uezes
- Francisco de Andrade -quiz reduzir a regras a pronuncia
dos nom es gregos terminados cm ia. Diz elle ( I'áncipios de
graminatica, Fuuchal, 1844, nota a pags 2-H ):- -({E' tal a anar-
chia 11 0 accentuar as palavras terminadas em ia, derivadas do
grego, quo me não soube dar a conselho, qnanclo co mecei do
indagar as l0is que lhes regulão o acf'o11to. Todas as mais pa-
lavras derivadas do grego segnem constau tcmente as leis do
accento latino; mas com estas não r.orTe o mesmo: muitas destas
pa1avras, qne os lati 110s acceDtuavão na, antepeuultima, como
JJhilQsophía, n.strononúa, philolog7a, etc., nós accentâmos na_pe-
1mHima: outros, qnc elles aceentuavão na penultinm, por se~
<liphton,!!'o no radical grego, como 11ecro11u111tía, eru·ydopril,n.. nos
accentn:1rnos na antepenultirna - 11eci-0111â11ci'a, encyr:lopédirr. Tarn-
bem não é o accento grego o que domina 11 estas pn.lavras-phi-
/autía, nkedía, malafja, pharmakeiu, S!J111plÍthda: s~o radicaes das
palavra s que pronnnci:i mos philúwin, ar:ídia, má.l1íáa. _11ltw·m/21:irt ,
sympathín . Se consultámos os i1ossos lex icographos, com n1 aio1· .
desordem clepar:imos: cada um accentúa a seu modo; taes ha
qne teom num le_x icographo accent.o peuultimo, 11 out1·0 accento
a ntepenultimo: até o mesmo lexicographo accentúa diversamen-
te palavras ql10 têom o mesmo s::iffixo. l\Ioraes diz miopía, am-
liliopía, diplopía. e 1111clolópia, se por ventura não é erro de ty-
pog1·aphia. Qual ha de ser, pois, o fio de Ariaclna qutl nos g ni o
neste in trincado labyrintho ? Se não é o aroitrio que me servin
de base. para o que ahi vae no texto, não sei que outro se possa
achar; porque com accento grego ou latino nã'l ha contar. O ar-
. bitrio é este. A nossa língua tem, co:n accento penultimo, um
gra11de num ero de palavras da mesma fabrica, terminadas em ia,
11as qnaes esta d~sine_ncia é o signal das idéas que ellas accres-
centão ás suas primitivas. A maior parte das palavras de ori-
gem grega significão idéas daquellac; mesmas especies, e toem
o mesmo accento que ellas. Intend i l)ois que esta analogia seria
A LINGUA PORTUGUEZA 167

mais c,egnra, com quanto tenha as suas oxcepçõrs, e não pouco


munerosas. As palavras que 11ão teun ainda sabido do ):'àut11·a -
rio da scioncia, focil é acco rno<la.1-as áqnolle acconto; qnnuto :'ts
que já se profani1rão, 11ão ha rt:lmedio senão seguir o uso:-rJ.liem

f penes arbitriwn est et j us et norma loquendi>).


São estas as reg ras: - «São accentLÍadas1 na penultima syl-
laba, as palavras de origem grega, que desig nare m:
. 1 . 0 -multidão de objoctos: - polymathia, chrestomalltia, je-
rarchia. · · ·
2. 0 - ost.ado moral ou phys ico do 11111 individ110·:-mà11i11,
hypo,·ondriri, sympathia., etc. '
. 3. º-acção, dito, offoir.o <l o nrn on ontro, ou rprnliâa<lo : - epi-
ph.ania, latnn, mcoplwnirt, euphonfrt, 1il'l'?J?Pria, 1Jh?f8Ümomia., etc.
4 ·0 -ar to, scíencia, o\'fic io, llli sror, e_rnpr;ogo , anioridade,
govorno:--inagi;a, poesia, 1(Wncti-chia_, a1·ístoqraciet, gco_qmplil'a.,
theologfrt, geometria, pltüosopltia; etc; · '· · ·
Exceptnão se do 11. 2. 0 111aláçia, philâucia e ou tras, quó o
uso mui vnlgarisado tenha autorisado com o acc-011l-o na anto -
pennlt.i111a, !\Ssi111 .co rno as pal!).vr as que, tomadas i11irnrd iatám'on-
to do latim, v . g .. ll·isúria, estranguria e as analúgas a estas -
hematiíria, isch1í1·ia.
Do n. 3. 0 - • blaspltemia, psa{mocliçi. . , ' ·
Dos nomes d o scienoia ou a;·tos : -eulmpélia, r.~tra.lér/ia, !Jeó-
·r1ésia, 7n·_osórlia, pha1·11?1~ria e todos os nomes co lll o snfi x'o anrirr.:
· yastromancia , gPom.aii,:irr, J1_1;romnnl'ia, õtc.
Si'10 acccntuadas na a 11 topo11ultilll.a as qno sig11 ifi c:1rc111
rprn.l()uer i11divid ~10 on objecto p hys ico 011 mornl:-CfÍnlhia, C1í -
7,ria, 0/talcedóni,t, colot í:.~ia, euphémia, enl<'7échia; on cl::tss~);; d e
inclividuos :-,mourínclrri, polyríndria, polyadélpltia; ou obra ,lii P--
raria: -enpydopédia. valúiódia, tragéllin: membro ou par ,e llo
corpo humano: --m -tli1·óclia ; ou ceremooia religiosas: -Eleuthé-
rias, órgi'.as, gymnopóclia; on logar oodo se exerce algum 111isre1·
ou profissão: clfrrrstériq, 71aróthia:
Dos nom es ele indivicluos exceptuão-se harpíri, lainía, am-
ln·o8ía ,, •
Como se vê, são tantati as significações r as excepçôes qnf'
. ossns r egras não r.C:111 ntiliclado prari ca. E, colllo thrbria, são ine-
xaeras. A causa dessa victoria do accen ,o grego 1,fo é idenlogi-
ca, -é prosodica e historica -o enfraqu ecim ento do 'iniperio 1 da
. quantidade, a que o accento, no. latim antigo; era sempre ' su-
jeito, e a iuflueucia·_ dos letra.dos gregos, na média, a judada pela
tendencia das. novas linguas , para acce'n tuar a· peni1i'tima 'syl-
laba. ·
,Para-a pro1u111cia das palavras "dossa.'·ct.esinencia·, no potbu·
168 A LINGUA PORTUGUEZA

.guez, a nnica regra possível é esta: - T êm o accento ·na antep,'"l·


nultima as latinas e algumas formadas por analogia dellas; e m \
penultima as de formação portugueza ou rornànica, e as de ori-
gem grega, excepto algumas em que se manteve a accentuação
do latim, por analogia de terminações la.tinas.
1.42. - No grego, paroikia, de pârolkns, visi11ho. A transcri-
pção latina exactâ é prrroe<:fa, par rc•'a, de que usou St.o. Agos- \
tinho, e da qual se formou o vocabulo francez paroisse: pai-o- •
diia, qu.e se encontra em S. Jero nymo e Isidoro, proveio de ou-
tra palavra g rega, por confusão de _pâ,1·oilws com pârochos, am-
pbitryão, ou fornecedor de víveres. A graphia pároco, paroquia
é. portanto, mais conforme á verdadeira etyrnologia grega. A
de J ulio Ribeiro -pm·ókirt -não é acceitavel, pois que, seguin-
do o uso latino, subst,itnirnos nas palavras gregas o k por e, e
este por qu, antes de e e i. Os espanhoes escrevonr prírroco,
parrór_J1âa . .\las parorho o vai-ocltir,, são couformes a graphia que
prevaleceu uo latim ecclesiastico, ainda que proveniente de nrn
erro.
144. -Adolpho Coelho, Diec., accenttia càrdía; e. com a
significação de estado de mulher cas1-tda com mais dum homem,
sempre ouvimos pronunciar pol!Ja•irlría, corno polygarnía. Al-
guns querem que SQ diga peripecí.a, enryclopedía, orthoepí.a, o
assim se devêra acccntuar, porque oi provém do ditongo grego
ei (peripéteia, egkyklnpaicleia, orlltoépeia); e assim tarnborn nos
compostos do manteía (prc<l icção, oracnloJ, necromanteía, chei-
romanteía, etc.
145. Julio Rib eiro (Grain .• o. 38) accentüa Iphigenía;
mas a pronuqcia geral é lphi,géni.a, como no espanhol; tambcrn
Nic,mwl'ifl, que geralmente se promrncin,Nicomédia, (e assim no
espanhol e no italiano. Não obstante ser oi longo. 110 latim an-
tigo, como correspondente ao ditongo grego ei, em ambos esses
nomes, conform e, acima fi,.:on di to.
lría é corrnptela de Irene, Luzír.l, de L1ícia, <pie os i.talianos
pPonuncíão lludn. 1.-:stes e os ospanhoes pronuncião Jfoq,ifín;
e Francisco José Frei1:e (R effeTüe.q, pal'te 2.", Rell 8.") di?.: -
-<Rosalia, com 1' longo, quel'em os cri ticos modernos quo se pro-
mrnoíe. o não com pennltima brove.). ~las, gnralmente. acoon-
túa-se Rosália, o a~sirn o fa.z Bluteau (tomo .X, vocabulario de
nomeo proprios) O mesmo autor accentúa Mecía, e diz ser o
mesmo nome que M811cia; mas a pronuncia geral é Mécia (Me•
eia, no Miaho). Dizemos Anastái.ia; mas observa Blutean -
e Querem hoje que se pronuncie Anastasía, longot. As~im ac•
cent.úão o:i·italianos.
146.-Carnões accentuou o i em Gedrosia, na rima:

Blblloteca Pública Benedito Leite


A 1JNGVA- POR.TltGUEZA 16_9

Virão gentes incognitas e estranhas


Da lndia, da Carmania e Gedrosia.

1.47. - Ca~ões , no e. 7. 0 , 39, accentuou Samária, rirnar!do


com 't:aria e contraria: ' .
Desta sorte o judarco povo antigo
Náo tocava na gente de Samária.

Ta111bon1 Cõrte Real:


Idun1 ea, Sa111aria e ·Con1agena ·
- Nauf. -de Sepul:v., e. 2. 0

148.-·-Tudo isso --tu veudias,


E tudo isso feirei
'l',mt6, que inda venderei,- -
E outras sujas mercancías ,
Que· por meu mal te comprei.-

Gil· Vicente, Aul<> da -Fei-ra; se. 5.ª


~ • . .J '.

Vendo depois o l\Iorno que a opulencia


Crescia ua cidade cada dia.
E o concurso daquelles, e frequoncia
Que ali tinhão seu trato e ruercancia

Andrade, O 1.º_cerco ele Dii,t, e. 5:0, 29.

' J áo caudaloso
E111 sangi.10 humild e, a quom a mercancia
Tiuha feito tão rico, e podt,roso,
,·Que já do quo autos fôra so osquocia

- Sá de_Menezes, Mal. co1u1-, 1. ·3. 0; ti2.

149. - Os vinhos odorifcros, qu·o "àoima '


F'.stão, não só do Italico Falerno,
Jias da Ambrosia, que-Jovo tanto estima:
Com todo o ajuntamento sempiterno.
· Cam&es, -10. 0 , 4.

J. Franco Barre,to, Costa_·c Silva, Odorico l\Ieude3 ta111bt:1u


accentua.v ão amúrói;ia.

Biblioteca PUbtlca Benedito Leite


170 A i.iNGUA PORTUGUEZA

E derramou de ambrósia a cabolleira


Ruma suavidade desusada.

Franco Barreto, Eueida, 1. 0 , G3.

Compondo huma infusão occulta a Doa


Da arubrosia e da cheirosa panacoa

lb., 12, 07.


• • . . . . . . . . . . . . _o o tenro corpo
Duran te o dia com ambrosia pura
Porque fosso immortal, ungia assidua

Costa e Silva, Os argonautas, liv. 4.0

Do ambrosia odor celeste a coma espira

O. }Iendes, Eneida, l. 1. ·, v. 424 .

• . • . . . . . . . . . . . . espargo-lhe os salubres
Suecos de ambrosia e odora panacca
f

Ib ., 12, V. 4.03 .

Já. vimos qtte Antonio F elicia110 do Castilho preferiu am-


urosía e por qne razão . '
150. -Mas, em Gil Yic e11!c, - ew,caravia, rirnaudo com per-
fia, 110 Auto pastoril porl11uw·1:, se. 3 ,,. E assim é acccntuaua
essa palavra. 110 Elllcidario, do-Sa11ta Rosa J e Viteruo.

151.-Poqucno seni o amor


Que morcncória desfaça .

Camões, Os amphitriõcs, acto 4. · , se. l. ª

.l!'ala cm tua rncrcncória


E não falos om passar,
E conta lá outra historia:
Porque em festa do tal gloria
Não has ninguem do levar.

G. Vicen te, Auto rla lmrca, se. 5.ª


152. - «Pario,- pona estipulada do parte a parte, multa
ouvoncional. Daqui se dissérão pá1·ias cettas contribuições,

Biblioteca PUbllea Benedito Leite


A UNG UA l'ORTUGlJEZA l 71

que, no ajuste de J_Jazes, Iicão JJagando os ve ncidos>. Eliu.;ida-


rio, de Sauta Rosa de Viterbo. Vide tambcm 'Diez, Dice ., v. 2. 0 ,
n b.
lõ3.-Vocabu.lal'io a11tigo, significando a parte uu o vento
do sul:
F ero Abrego mor guerra ao mar incita

Jllalúca couq ., liv. :l. 0 , 78.

154.-0ioz, D ice.; ou de lurnúer, luculmun, Ji'urcellmi , Glos-


sariitin, o J. Cornu, Die Pdrtugiesisdi Spmclte. ~ 27.
155.-Hnmedecidos párpados :E'ilinto Ely:io, t. 3.º. p . 67.

156.-0 fructo que da _patria Pcrsia veio


:'.\Ielhor torn eado no terreno alheio

Camries, e. H. 0 , 58.

157.-Viclo pjs. 24, uota 43.


168.-Nusárat, chástão, suj eito aos arabe:;, e meio ambe,
por lingua e costumes: elo nuce, meio.-Frei J oão de Sousa.
159. -Adolpho Coollw acceutúa - cubéúct, e assim se de-
verá prouunciar, pOI'']ll C no arabico é cuMba ([rP i João de Son-
sa) e 11 0 espanhol se diz cuúêba, no italiano cuúêlJe; laz1íli, lapis-
lazúli, que 1,011 1 a 111~s111 a otymologia que nzúl. )Ias, geralm ente,
pronuncía se dtbeúa e lapis-lázuli. Tambem assi m 11 > espanhol;
no italiano, lapis-lrízzol·i.
Pelo co ntrario, acce ntúa Héyirct, 111 ais co nforme á p alavra
arabe, se é Hltjrn, colllo a d.'.i fr. J oão d,· :-;ousa: mas outros dão
H ejíreth, o é a que dá o mesmo A<l. Coelho. A pronuncia geral
é H egíra (assiu1 tambo m uo espauhol e 11 0 italiano).
lGu.- Blutoan e Morae;;, acce utúão a f;eguuda syllaba sa -
fáro; mas a promrncia geral é srí/itro, o Arracs (2, 17) escreveu
«passão por barrancos e lll edoubas ç,t/i·1,s>>. 8ahai··a , dezorto,
que é !l> mes ma palavra, pronuncia-se, porém, geralm eute S1t ·
ltára; os italiauos dizelll Sâhara ou Zánra.
161.-Scltabat, doscanço, donde no grego sáhbato11 o no la-
tim sabbatum. Hobnim, gr . ébenos, lat. cú;t1111s o ebhium.
162.-Diez, Dice., v. 2.º, II, 6: composto d e andrea, mu-
lher, e mina, molcstia; es,·,íf.i111rt, ,·. o rn·es mo auror; ruolestia fin -
g ida, mauh,1, t' 11g-a11 (, .
163.--Xicalli, uo éspauhol xicaru ou jicam, iütl. cltfochera.
Ad. Coelho, Diuz, Dice.
164. - Pot11liyl'o é tomado do J'rnucez: no latim u no grego,

Biblioteca PUbtlca Benedito Leite


A LIN&UA- 1 l'UR,TUG-OEZA

por,11hyr,ites; como corresponde ao grego porphiJra, 110 latim pu-t-


pitm, devemos pronunciar pàrphyro. · . _
165.-Os zingaros ou cigânos, segw,do Littré, Dice., cha-
mavão•se a si mesmos tzengaris,e são origi.narios da India.

· 166.-Das -ostras, das ameijoas, tambem sei


Dellas comer cozidas, dellas cruas

Agost. da Cruz, Ecloga 10."'

Ameijoas, b.irbigões na branca areia

O ruesmo, Eleg. 7.8


167 .-Talvez do c::;panhol engreir; engrei111 ento: o c11gret·
menta da moutanha, o aspecto aTrogantc, empinado.
ltiS. -Aqui a:; capellas dá tecidos de ouro,
Do baccaro e do sempre verde louro .

Can1ões, 3. 0 , :.17.

169.-Latino, rle re, 1m.:L, e mura, eomo uu verbo re11ie


mor, nri.
170. - Reflexões sobrn a lingua portugttez-:i, parco '2.'t, reL 8.ª
171.- E' Eliezér e não Eliézer, como dizem muito:; .
17:l.-O s r. Gonçalves Viana accontüa O'mnr, mas à aua- ·
lugia pede Omár, e assim geralmente se 1~ronuncía.
173--.0s espanhóes dizem Jomís.
174.-As consoames finaes, não sendo das que são usa-
das nas termiuaçõcs ponnguezas, as mais das vezes 11ão se
pronuucião, eomo om:-.losep!t, Jacob, Job, Da'l'id, L oth, Nit·
both, Sabaoth, ~Ya zareth, Genezareth, Josflb,Jth, Belzebute, Ammt,
Josaphat, etc. C, k, d t pronuucião-se : Isaac, Abimeleclt, llfelchi-
sedeclt, He,wch, Jfoloch , Baruch, Raúakuk, etc. B e d, algunms
,ezes, prouuucião-se:-.lc/tab, Joab, Caleh, Harcl,, Senacltel'ib,
etc. Sôa o t em Setlt, J11dilh.
Os terminados om mn escrove111-se asRi111 ou por ão, e seu1 -
}H'ü se pronuncii'w com esta ultima tormina\·ão, accentuada: -
Adiío, Abrahão, Balahão , etc Excep10 Chai,i, e mais algu u1as
(1111 'lªº se pronuncia como â,. Tambe111 :;o escreve111 e promrn-
cião por ão, coru aeceuto ua ult,ium syllaba, o::; acal,aclo::; ew on,
-Aarão, Abrahão, Salo111iío, Sani;ão, ote.; outros, por em, vor ão
ou on, Siôn, ou Sião, Cedrôn, &1dô11, etc. O::; t,enuiuados cm cm
A UNGUA PORTUGUEZA 173

conser\'ÍÍ.O ussa ter1J1i11a.ção, quu se pronuncín. ã, como Canaân~


Kathó.11, Nisiin, Scitâ,i: mas em alguns muda-se an em áo;-Jor-
dáo, Lab1ío .
As terminações em iin, .in pronuucião-se como simples vo-
ga.os nasaes, ;;, ·,: -Jernsalem, Uethlem, Sichem, Cain. l!Jphraim,
ore. )fos em Belem, por já ser nome portugnez vulgar. sôa a
terminação como em além, com a pronuncia peculiar elo portn-
guez, de que adiante trataremos; os portuguezcs dão, geralmen-
te, este som a t-odos os qne têm · Pssa terminaçã.o.

...
r •

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A LI~GUA. PORTUGUEZA 175

CA PITCLO TII
Aeeento secundaria ou subtonieo

;-.;as palavras co mpostas, mantem-sc o accento tonicc


e.lo primeiro elemento da composição, ainda que subordi-
na do ao do segundo elemento, que no portuguez é sem-
pre o accento mais forte ( 1). A um e outro chamão alguns
grammaticos accentos dominantes; ao ultimo, preclominanle,
p1·imaJ'io, 1wincipal, ou simplesmente accento to11ico; ao do
primeiro elemento, accentos secundario, subordinado, fraco,
ou .~11/Jl.onito. Exemplos: --Clcframênte, certamênte, ráp1:da111ên te,
etc., todos os ad verhios desta terminação, compostos do
substanti,·o mente e de um adjectivo, que erão, no latim,
uma locução adverbial. com as duas palavras separadas, e
assim, não só os formados por simples justaposição de
duas palanas, que conservào a sua significação e relação
syntatica, como couve(f.()r, mr:idrepérol'l, 1J.1tartelinestre, lugai·-
tenente, vanglória, yentilhomem, pararaio, guarclaronpa, meiodfrt,
etc ., mas tambem os compostos propriamente ditos syn-
lheticos ou agr,lutinrn1os, em que se altér:, um dos elemento<;
e, collado ao outro, fórma uma só palavra, como repítbl?°ca,
bmnipotente, mórdomo. etc. Estes são quasi todos recebidos
do latim: alguns de outras línguas, como nónríifa, do espa-
nhol, e óxalâ, do arabe .
O futuro e o condicional, que são tempos compostos
do infinito do verbo conjugado e de uma voz do auxiliar
llfll'~r ( hei, hás, lta, etc., hia, hias, etc., por havia, havia.~), têm
dup!o accento, qu::indo as duas partes componentes se se-
p:irão pela interposiçJo ( teinése) dos pr,rnomes pessoaes-
me, te, si·, lh e,·110.~, ros, o, a:-Crmtai·-ine-hás, amar-te-hei, fár-se-
l1a, dir-lhe-liemo.~. tm·-rio.~-hiín, 7.ior vos-lui, díl-a-hão, amal-a-hão,
etc.
~os derivados augmentativos ou diminutivos, aconte-

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176 A IÍÍNGUA PORTUG'ÚÊZA

ce o mesmo. q uando o suffixo se -ju nta ao nome1Jrimitivo,


por mei o de um z:-hómenzarréw, cânzarrão, pázinha, mózi-
uhu., nrnll1 ér.zi11J,a, jiôrzinha, sózinha, cápazinlta, Ol]Jhií.ozinho, ·1Jé~
zinhn , nózín/11), 11osfôrú,1hQ, e tc . Não assim nos que se ; fór~
mão sem es e infi xo ou letra de Iig·aç:10; que. se pronuncifo
sem accento suhtó11ic c 1, 2 '. Jfo(hf'l'ô1111, rnpczgão, capinha, pe-
ffi! Pn i110. jJWfUPllÜO. p,1,,t111·i11l,o, etc .
.\í as' alftl111s destes con'-e rY iio o accen to dos primiti ,
\'OS, co m ó' rPihi1tlio,' l'é(J 11inll(), púlmiu/Jii : f<Í'tinltri, hérl'iulw, ré-l-
1· i11}1(t , -e, na pro1úmcin hr:1zi leir:l'. mui.tos o ut1 os; dizem os,
por e:-e m plo, rahNlút!i o. 1·h/J,1 rinha , e os portug uezes 1'(1/,'/i -
nho, 1·ali'â11 /,a.
Al g uns auto res, co mo frei Luiz do ~[ o nte Carm e ll n ,
co nsideriio palavra q de doi s acce ntos toda<- as qu e, antes
do accento t0ni co, tê m syllaba de vogal aberta, · como: -
!,&leão, srírlio, 1>állio , 'crf!dpr, niilor, cbmr, gémr, esquérei·, Ca.rnõP.~,
Q11e/11z, e tc .
~o c;1p itulo segnintf! , vere mos e m ciu e casos ba, nas
w ll;1ba<. átona'> , c<;~as vogaes sorn~ras.
A pronuncia d-as vogaeSc ,:.ubto nicas, e <la~ :ítonas so-
nnra~ ou surda~, ê··urn dos pontos e m que o falar hr aii lei.
ro se <lifferenç a do .portu_g u ez. O., hrazileiros; gera lm ente ,
fazem meno .. obscuras as átonas s urdas, e m e nos abertas
a, so nó ras. A nossa pron un cia, m sto , assemelha-se Jnais ú
espa nh o la do que á p , rtug ueza ac tual: •é·' pos·sivel', poré m.
que, neste i:úrticu lar, a antiga ling uagem ·portuguez·a fosse,
co mo a no -s:1, algum tanto seme lh an te á castelhana, pois,
co l11o reconhecem os phonol ogos po rtuguezes, a pronun-
cia é hoje e m Portugal diífe rente do que era na epoca d, s
class icos quinh e nti stas ( ., ). Todavia, já não data de pouco
tempo esta d ifferl!nça , entre a fala po rtug ueza e a brazi-
lt:ira; ha cêrca de seculo e meio, frei Luiz do Monte Car-
mello , dando um catalogo das palavras que têm dois ac-
ce:i.tos, escreve u <tas quaes devem notar os brasi li enses ,
po rq ue confu ndem os accentos da nossa ling ua ». iras ain-
da em Portuga l nem todos pronuncião do mesmo modo
1 -~

as palavras em que, segund o O LISO da ge r;te maÍ~ .cuJta, se


devem fazer ou deixar de f.1zer esses acce ntos sec und::i-
rios; o citado frei Luiz, -depo is da regra d os deriv::iJos a.t{-
gmentativos e diminutivos, co m ou se m interposição do z,
adverte:-«Nesta regra, de,·e have r se mpre c t•idado, por-
l')Ue muitos interamnenses, tr:1sm o11ta11os . e beirenses fa.
zem dois accen tos nos vocab ul os accrescent:1do · com
estas adjecções (que não levão o z )»; e no fim <lo c:italo-
go:-«Estes são os .vocabulos Gm que alguns,. como cert·1-
mente me constou-,. não fazem dois accentos dominantes ,
contra o ,uso uni ve rsal <los e ruditos,, .

..
Nota .. elo ca1iituio I L·C

1.-Xo italiano. no e~pa 11hol e no fran cez, cnt<•11dom alguns


gra111111 aticos qu e, 110,; adverbios c111 mente, o accc11 ro pri11ci 1,al
é o do primt1iro olernomo: -· i1,., cú 11d_úlmnc1tle, rsJ1., fiíc,Luwnte,
fr. admirâ/1/cmmt Diez, Oram .. torno I. liv. l , soe. o.", 2.
2 - Erei Luiz de ,\l 011 te Oarrnello, Oompe11dio de orto{Jm-
phia, ~ X.l; Go nçalves V'ia11a, Pi·onuncia nor11utl porhryw:za, ~
.õ:l, obs. 5. 8 ·, o;- e~ 62, rv.
3. -Vid Go uçal vcs Vian a. /:,'.tjµu.~. dn 111 ·mwnci 11 ttOl'ln-,il,
11. 6:l: - Con.~irlcra:•ões. :;uúre ,ii prl):i1o1tci t t/,v p1,rlllµi1é.s ti, 1;c11t,-11
do remo , no tempo de Oain,:e:;.

! ' • j

- 'l
A LÍNGtJA I'ORTUGUEiA

C.\Pl1 c·Lo lY
f.
f P Rl~lE!K .\ P.\IUI:

Timb1•e das vogaes

O timbre ou qualidade das vogaes. ;1 côr dos sons, ton·


Jitrúe ou klnng, como lhe chamão os allem~1es, é cou~a dif-
ferente da quanlidarle ou duração, e da inte111;idade ou accen-
to, com o j:í dissemos. Esse colorido vari:i , l}Uer nas syllab:is
i-.ccentu adas, quer nas âto1as; nestas ma is apagad o . so bre-
na tud o nas posteriores ao accento toni co, pódonicw;. e mai s
, iú1mcdiata , quando são dua s. ~as anteri o res, a prim e ira ou
inicial é de o rdinario a mais tenue.
Os gra rnaticos latinos só davão co m o rnri ,l\"el o so m
das vogaes e e o (1).No portuguez, tambcm o é o do a. Oi
e o 1t tê m som invariav·el, sem outra differen ça qu e a da
tnlensidade pelo a0cento, e da quantidade longa d o i tó ni-
co, nas terminações em io e ia (2).
Em Portugal, o i tem, :ís veze~, um som muito atte -
nuado, que se confunde c0m o qo e surdo.
O timbre do a, e e o póde ser aberto, fe chado o u 8Úrdu.
~o alph1h eto, essas tres vogaes pronunciiio-se co m ~0 111
aberto. (:;).
'r odas as vogaes tê :n o tim bre 111sal, quanJ o estão an-
tes de ,n ou n, :-ia me::,,ma syllab.1, expresso ou supprim 1do ,
e rep resentado pelo ti l. Quando tonicas , recebem rcso-
nanc in na~al do ,n ou 1, pertencente .i syllaba seg uinte, ex-
cep to o a, na 1 .ª pessoa do plural do pret. pe rfeito da 1.ª
conjugação -amámos, para diffcrenç:1r do prezente do in-
dica tivo - -amamos; nas átonas, ess:1 re sonancia é nu lia ou
quasi imperce ptiYel. Assim :- gâ-mu, e ya-mella, ga-mão; 'g1··
mo, e ge- nier, ge. múlo, etc. Todos pronunci fo gra-máticn, ain_
da l.1uc seralment<:.: se escreva com (:ois mm1 conforme a

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180 A LINGUA PORTUGUEZA

etymologia; e assim a nél, se bem que comrnumente se es·


.:reva annél (de armul lus). Em Portugal, ainda a vogal tonica
é pronunciada sem entoação nasal, quando na syllaba se-
guinte ha e, e em vocabulos esdruxulos: -lé-tne, {ó-me, ho-
mem, té-me, té-mes, té-mem, có-mc, cõ-mes, có-mem; có-mico, 'VÓ·
mito, canó-nico, có-nego, có-nico, só-ni co, tó-nico, A11tó-nio, etc.,
e ainda fóra desses dois casos, em algumas palavras, como
-gá-nho, tó ma, s6m-ma, dé-mo, ó-nus, Salé-ma, Magclaléna.
Nazaré-no, Nazat·é-ua, Bhé-no, Vé-nus (4).
O som nasal é fe chado; mas, nas provindas do norte
de Portugal, muitos dão-lhe som aberto, na syllaba tonica.
antes das terminações em ·que ha e, dizendo: hón-tem, so
lémne, vênço, vénces, vénce, véncem, vêndo, véndes , vénde, méntes,
ménte, méntem, escôndo, escóndes, escónde, 1·ômpo, rómpes, etc. (5).
Quando é fi nal o som do e nasal, em, tônico ou átono,
pronuncia-se, tanto em Portugc1l C'lmo no Brazil, com ad_
dição de um i como ei: - bem, tem, 1·onté11i, âmem, cantem, viá-
gem, virgem, etc., como biJi, tFi, contéi, amêi, cântéi, viaj éi, vil·-
j êi. etc. De L isboa a Coimbra , o e, nesse caso, e sempre no
ditongo ei, vale por a, e m=ãi, -bãi, tái, etc. (6).
~ 1 °.--1'imbre elas vogaC8 âto,uts
A vogal a tem so m muito surdo, nas sy llabas postó-
nicas:-câmara, i;áfara, etc., excepto na final termin ida por
l ou r, em que tem som aberto: -An,úbál, Setúbàl, assucàr,
âmbàr, etc., ou por nasal, em que o tem fechado:-íman,
dólman, etc. Tem o mesmo timbre surdo, nas partículas:- -
a, da, na, mas. E m P o rtugal, tambem no adjectivo cad1,i e na
preposição para, que se pronuncião como pala vras enclíti-
cas; no Brasil, só erilre os doutos alg un s a!isim as pron'un·
ciã o, e geralmente tambem não fa zem surdo o a de mas,
E' muito menos surda nas pretó:licas, excepto, sobretudo ·
na pronuncia dos portuguezes, em alg un s casos em que as
vogaes a, e e o têm so m aberto, como adiante diremos.
, Nas pos tôni cas, e e o têm som surd o, amb íguo, q uasi i
e· u, exce pto nas finaes, term ina-das por l ou 1·, em que o
,/
g LINGUA PORTUGUEZA 181

som é aberto:-arrátel, amável, r,adttêr, a 1côõl, sóror, júniõr ,


etc., ou por nasal, em que fechado: - alúmen, cMoon, etc.
E' no timbre de e e o átonos q ue mais diffé re a pro-
nuncia de portuguezes . e brazileiros, e dos brasile iros de
v:irias províncias (7).
Todos, em Portugal e no Brasil, pronuncião -:orno i a
conjuncção e (8). Os brasileiros, mais geralmente, pronun-
cião o e átono: -Nas partíc ulas enclíticas - de, que, me, te. se,
lhe, com timbre surdo, que não é, porem, o de i, ig ual ao
do e mudo francez, nas partí c ul as e nas te rminações. Ao
norte, pronuncião-no como -i, e e m S. Paul,), como o ê áto-
no, em c:istelh ano. O mesmo se dá na s syll ab:is fin aes d,)s
pol ysyllabos.
~as syllabas iniciaes, damos ao e o som ambíguo, o ra
mais proximo do i, ora mais semelhante ao ê átono espa·
nhol; e, nas media es, o primeiro antes de outra vo~al, o
ultimo depois das vogaes ce , o, ·n, quando não forma d i-
tongo, ou entre consoantes. O.,; do norte prop endem sem.-
pre para o som mais surdo; os do sul , para· o mai s sono-
ro, sobretudo os paulistas. Nas palavras derivad as, consei:-
vamos o ê ou é das primitivas, ou attenuamo s e m l o é.
Os portuguezes pronunci ão o e átono fin al e o medial,
entre consoantes, como o e mudo, medial, no. francez ou
como o sclievo hebraico, com o simpl es sopro, indispensavel
para fazer soar a consoante:-p 'ssoa, p 'zar, q'rer, tr'mer, prir'-
cer, abor'cer, favor'cer, c'ssar, proc'ssar, p'rs'v'ra,1·, conc'der, c'der,
tl' ver, r'c'ber, p'rc'ber, p r'scr'ver, p'rclão, 1i1·diz, -~·grêdo, etc.,
:.inda em d&rivados de ê, ou é, como de pêrdn, p'rde,·, de
cérto, c'rteza, c·1·tissimo, de bello, b'lleza, de cégo, c'gar, c'gueira,
de ·pêssego, p'ssegueiro, de férro, f'rrar, ( erreiro; de terra, t'r-
reno, t'rral, t'rraqneo, t'rreiro, etc. Tamb~m assim pronun-
cião o f átono, quando, em seguida, ha uma ou mais sylla-
bas com essa vogal. E' por isso que minino , assim escripto
pelos antigos, e que vem de minimus (I ), se escre ve me1iino,
que os :portuguezes pronuncião m'nino; Fi/.ippe, que, nú la-
tim e _no grego,· tem i na primeira syllab'a e mais geral •

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18~ A LINGVA PORTUGUEZA
"
ment'; e~,;~r~_Yem FeljP,pe e pronunciào. F'lippe. D:io se m-
pre o valor dei ao e inici:11, quer form:rnúo s,·llaba scí por
SÍ, qÚer seguido de S Oll 1· n:isal , IU mesma ~~,llaba, e ao
medial, seguido ou precedido _de vogal,, não fazc'ldO di-
0

tongo; ainda quan'd ~ seja deriva do de é ou t. _Assim pro-


nuncião, co mo ,s e o e inicial fosse um i, ~.que, pouco 111:iis
ou '1-úên o;, tambem nós fazemos: .- edi(i,r:io, , edijicar; elogio,
l'cÓnomifÍ, edur;açâo, ensina~, r,stnchl', esperar, e.~::re1•er, l'S(J.llCCt'I',
(Hc1ula, espculn, ~~1rir:o, _e;l:lllo,· e.slwlo, estcinte, esp into, estio, P.~li.
rar, esq11udo, e.squico, r>sr·unJ, R;,pan/111,, esp:whol, etc . .\las ta m -
bem ' diiem( l
com . i_. e · nó s •.,;om ê, na p rim !;!ira svllaba
.,
:-
elegante, elem ento, ele_pltaizle, elem1· , err1w•r, el'mido, errar, etc . ·
Dizem :-ajaizar, poimeto, du illista, e nü s-c(jaezar, poê111P/0 1
duélUsta. Pronunciã o como i o e medial .iíto n -) , quando est'Í
antes o~~ <lep Jis das palataes d,, .1; , lh, nlt, dizendo alguns:--
c.' iiflar, /idtai·, is71illiar, <l'zi11l1'1,r, qu e nó"> prof e ·imos: -chêg~r,
{êd1dr, e~p°êlh(l,r, clesê11har. Do mesmo modo o e medial, antes_
0

d e s, 'nâ me sma syllaba, a q ue dão o valor d:1 pala tal .1' ou


c.'1:-despir, 1·1wtir, l'esli1lo, ldis11ir, âstir, ristidl)),que pronunci:1-
1110s, mais ou menos, co m o mes mo som, . sem d:ir ao s o
valór p:1 la ta 1; ma~ d,ize mos: -ennê,çgar, rêstar, rê.~tante, 1·rêstnr,
pr&stcp·, emprêstar, pêscar, pêscador .festPjo, derivados d e (; o u
t:. Varjos delles dizem:-ennisgai-, ri.~tru·, ristar, ri,tanfr,, r-ri.,lar,
pristar, emp1\star, pisca,·, pi.~cado,·, fii;/ejo, e ·c. Tambem não
dizem_os:-; :pistana, pisC1Jfo,, q'1'stão, listar, üslamento, etc. ( r 1 ) •
. Em syll~ba ini ciaj, o e átono, antes de x, na pronunçia
hra~ifeira, tem o ~om _ambí_guo, seguindo-se consoa nte,
caso. e1~1 ,q ue. 9 x vale por _s:-;--espP,r_iencia, expO,·, e-rle11s0. etc.,
como em e.~pera11 ça, esposn, e~tenrler; e tambem quan do o .r
tem o v.alqr Je z por se seguir vogal, como em exame, e-
xemplo,,.exacto,. e:racerbar,
... ,, e.wg_erar, exigir, existi!-, exó1·clio, etc.
Teip o som de _é, quando o x é mudo., por se seguir ceou
ci:-e:pcellencia, excelle1~te, excitar, excepto, exr:epç_ão.
~; prq q.1;1ncia portµgueza, O e, em todos esses i;:lSOS,
commumente, vale por i:-isperiencia, izame, -ízemplo, izordio,
icellente, icitar, icepto, icepção. Outros, porem, o fazem diton- "

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A LINGUA P ORTUGUEZA 183

go , ei o u ~i:- eispericncia, tti2am'!', eizemplo, f.i.~1·e1ito, eiscBpção,


etc. o~ q ue mud ão 0 P em a, no ditongo ei, dizcm :-riiza111~,
riir1plo, air-011Ç(ÍO . ( 12).
Qu and o ~ medial o e, antes de x, "eguido de .consoan-
te, dizemos rs, como em textual, pretextar.- Do mesmo modo
pronunciamos a preposi-ção latina ex, em e.v-aJmipto, ex-p~o-
fes.~o, ex-cath erlra , ex -ministro, ex-presidente, ex-reitor, etc. Os
portuguezes ditongão o e e dào ao x o som palatal de eh
;:,ortuguez ou francez:-teix tual, preteixtar, eix -ininistrr>, eix-
reitor, ou taixtual, pr· taixtar, aix -ininistro, aix-mitor. ( r 3).
· · Dessa mudança de e em a, mai s de espa ço falaremos .,
tratándo do e tonico.
A vogal o tem o som ambíguo, ig ual o u qua si igual ao
deu, no '.lrtigo masctÍlino e nos vocabulos enclitic<?s;- o,
d.o, no, nos. vos , nol-o, vol-o , in'o, Co , lh'o, por. Só em S. Pau-
lo muitos lhe dão ainda, em taes casos, e até nas syllabas
linaes,o som de ô,como no espanhol, mais ou m_e nos sonó1'0.
Nas pretóni cas, tem tambem o som a mbíg uo, mas que
no Bra:;il, 'pe.lo menos muitas vêzes, mais se ap.proxirria do
ô espanhol ( q). Em ·Portugal, ·sempre se c·o nfunde com C:
de n; e quando, por excepçã o, a fazem sonóra, dão -lh e o
som ab e1:t0; o rechado só antes de l ou na sa l, na mesma
syllaba, como em vôltar, revôltar, re11ôltoso, 1nô/rlar, .~ôld{ltr1
sôlrlciclo, i·oinpet, sondlir, onzena. E pronuncião-o com o som
de n, qualquer que se'j a o do o to ni co que Ihe corresp<;n-
da. Assim:-/m·nwso, infurnuu·, de f'im11 a, e1if1mnar , de /!"11'-
ma, p1wlão, purünho, pnstar, pustal, cum1111ulidatle1 arc1i'nt1i'dar:
etc. Do mesmo modo, antes de vogal,-1·11 ir, V1tadol'; pnvum·,
7mniado, etc., soar, d·a r som, como 81tm·, transpirar. (15 ).
Assim, na prolação das vogaes pretonicas, sobre tudo·
do e e do o, os r o rtu 5 uezes preferem º"' dois extrerríos: o
muito surdo ou o aberto; os brasileiros, o, meio termo, o
som fechad o. A pro nuncia portugueza tem, sobre a nossa,
a vantagem- de ser mais uniforme e gerá! ; a nossa é mai s
incerta, mais varia vel, por uso local ou indiv idual, diffi'éil
ou impossível de se reduzir.a regras ( 16).
A 'LINGUA PORTUGUEZA

Em P<Jrtugal, as' vogaes a; e, o, em sylbbas pretônic'as,


têm o som aberto, · nos seguintes casos ( 17 )·:.:.:_
1,G,- Qu:mdo a vo~al é resultado de uma contracção,
como em 1',íl'eira (esp . calm;era, do lat. calvaria); pá_dar, de
11r,,fadar, pádaria, pádriro · ( de parla-pct11ada; e·sp. panadPria,
pmiaderô );· sâdio, de saítde, smídib, F. Diez: ou de sanati1·11R,
de Ovidio·;· várlio, do lat. hypothetico v'agaticus? ou só· po·r
influencia de ~io; séftada, sctleil'o, sétteira, assétear '( es-p. sae-
·ta, .~<Utero; saetera, ital. .~aetta; be,Steria, bésteil'o, ( bésta, de bà-
es fa, esp. ballesta: 111Ístna, amésfl'ar, méstrado, mésti-ança, ( ant ..
111Pests-ia, · me'e.~teiral, esp. mmish·e, ital'. /tiaestro); · crédur, '( ant.
cree1·, êreed01· ': rédor de 1;eado1·, sédiço, de seer; estar assen-
tado, agu<i .~édiça, est:1gn:da; em sentido tr:rns!ato, o ·que é
velho, estragád"b, cbrriqüe'iró; córai·~· coorar; lat. e esp. co-
lorai·e ( 18 );· àquéêer ( ant. aqueecer, riqueentar, e·sp. ·calentar, I:it.
calescere ); esqttécer, esq_Úécido, esqu.écimento, ( ant. escaecer, tam-
bem no esp'. antigo, lat. e:cCM.esccre, de · cadcre, cahir ( 19 );
métade, de mediefalem, ant. meyadade, meadade (,ó); mórgado
( inrijoratiis ); ,1iézúiha, mézi11h.:i1·, 11iézi1iheiro, ant. meezinha, de
medicina ( :2I ); gét-ar, géração, de generare, generationem, esp.
!/Pttn-aci.on ( ,2 ); trédor, de traidor·, traditorem ( 23 ).
2 °.-Nas prepósições compositivas ab, abo, ob, seguin-
do-se cónsoárite, cotn a qu:21 não se tenha assimilado o b,
como' ein occasião, occorrei·, occltlta1·, olferecer, etc., ou ligado
com liquida, como ablativo, ablução, obÍiterar, · em obrigar,
'obrigado, obrigação. E:.:q,: -ábdicar, ábjutar, {ibrogar, ábsolver,
ábiórver; áb.~te,·, áb.~h'.,liir, ábsolúto, ábsw·do, áb.~trusó~ óbcecm·,
f>bserva, óbte,·, ób.~ta1·, óbstiuar, óbt1trar, óbstridr, óbviar, óbjecto,
óbstacído, óbsequio, óbjnr!Jdçao, obsce~'o, obscuro, obsoleto, õbnoxio,
etc. Aindâ seguido de vogal ·ou formando sylfaba' coin l,
pronim'cia-se aberto o o de ob, em palavras que não.são do
uso vulgar, como em 'obrar, obeso, óbumbrar, óblação, óbláta,
óbliquo, .óblongo ( 2 4). .
. 3.0.-Antes dos segu.intes grupos de consoantes, qu·e r
a primeira se pronuncie, quer seja muda: .;,.cç' ( o'i:1 éce, cci ):
-ácção, ácceder, áccessão, áccessivel, áccesso, áccento, ácddente,
A ·LltiOJJA, .]?ORTUG.UEZ4 .

áGçiilentq~ ácci9.,far, .áccionista, attração., l'X_acçãf.!, e;ptracr;ãp, fa c-


ção, fracção, fmccionar-, fráccio11a,·io, ref'rácr;ão, trit.cção, .Ôbjàcção,
c~ll.écção, corrécção, dirécção, objécção, pr~técr;ão, sé;ção, cócçã~,
óccidente, .óccidental. · ,. ·
ct: - âctor, áclriz, activo, attráctivo. áctual. e r:áctidão, ,4-ctra-
ctar, e.i:lráctiv.o, fácl1t1 '.a, 1·etrácf;,-, ( differente d~ ret;·/aar), -~ffé-
cta!·á-01 a.D'éctado, aff.éctar, ,a.D_e~tivo, adjécti~o, obJéctivq, c,ol(e~to_r,
di1;éctor, dirécforia, . diréct9rio,. úisyé~lo~, réctifi.cçir, reff,é~tir,, rc-
Jf,éctivo, rcff,éctor, respé~!ivo, O'cta v{u, _O'favia_n_o, óc~qgei:iar ·o,
óctoge:,imo. , . . . , .. ,
gn:-estágnar, imprégna,·, cógl},!tto, ~qgno!ne, ,cógnoscivfl, . .
pc ( ou pei ):-accépç~p, con~épção~ exçéP,çáo, . ex_~épcio(\ª,,.l,
obr,épção, perr:épi;,áo, recépção, adópção, ópçij,o. .
ps:-an_e l~a, catali,psía, eJ?i~J?si.q,,' .dyspé_psid, a.14!ó;~;ir,.':,
pt:-aàáptar, càptar, ?'áptai·, ~áytism?, Bap(ista, báptiste1:i?,
e_xcé-jJtuar, espéclaculo, receptaculo, i~1áptidáv, pe:rceptivel, ,P,>Jç:e-
pto1·, susceptibilülade7 suS!Jep!ivP-l, óln·éptici~ 1. a~óp(ar1 g.clóp_tJ,vó,
óptai·, óptimi1Sta ..
4.1).-Antes de x , d~ o·rigé'm, l:itina ou gre_~~, eqµ!val~n-
tf. de cs, ainda qt~~ndo esse ".•dor etymologico se tenha
mudado no .de /iS. OU c/t: -anlU:f al', llllll f!, l'(l(íÍO, C011tpl~:J·ida~fo,
Jlextio, /fexibilidcule, perple:cida(le, 1Se.rnçil, _r ~/lff$1io, . rejf~3.-fru, re-
flexionar; láxar, là.x idão, relaxar, reláxaç<í.o, túx ar, láx ação, f,á,.
0

x~ti·po, ve.xdr, vp!áçií.o, '!1exat! vo, ~exam~, ói yda_~·, óxydaçi,o~ ·óxy-


gertio, o.xygenar, intoxicação, intoxicar. ..
A~
.... . .;.º.-a e · e, 'antes de 'z ·ines~~. sy,l}'\?,ª, 1seg~\1o ?e
consoante diflerente :-álfenim, álguf!»t, ~&leão, .l!áldllr, balsa-
mico, bálseiro, sálnião, báld~ação, málqade, p_álme'ira, acálmqr,
{,íltar, .'sáltar, sálvar, leálcl1a~e, fri,ilcla_~e, 1 bf~cla,de, , bé,lclr~ ga, _brl.
11111r, (eâfrf.acle, délfi·i11., délgarl.o, f'élp!tdo, réll'oso, rebeldia, sélmgem,
/Jtílse111ão, Bélqrado, Bélmonte, Béfrér, Béfrérlfr, mi/elJIÍú, B°éi-
11,ú·o, Jlélfrcio, Délmil:o, Dé<Íim, Dé/,fi11a;ln, j,fãÍgaço. ·
6. 0 1-0 a, nos ditongos au e ai: - úutor, tÍ\1foriclacle, âu'to-
rísar, ~11Alienqia, iíusfnci11, â1tg11_iento, ptlufada, :,áud,1de, bâ{lcií· , pái-
11el, P.á!'xão, váidad~.
186 A LINGÜA PORTUGUEiA

7.0 .-Para evitar a homophonia, em palavras de signi-


fic ac;ties diversas: -Doninha, diminutivo de Dona, e dóni-
nlta, animal; sabor e Sábôr, rio, affluente do Douro; cox im,
e Cócltim, cidade; az-inha, diminutivo de aza, e ásinha, adver-
bio :mt.; molhinho, de môlho, e mólhinho, de móllto; pégácla, e
pegáda, de pegar; pregar, metter prégo, e pri!Jgar, fazer pré-
dica; talvez pelo mesmo motivo, Dámão (da mão ), ácerut,
úquem (a cerca, ct 1_111em) e, por analogia, álém ( 25 ).
8.º.-Em alguns derivados, que conservão o timbre
das vogaes tônicas dos pri1r:itivos:- brádar, rlesríbar, desázar,
lárgura, hárpejo, dobádoura, pádejar, páte'iro, ( de pato ), pátéta,
e pátóla ( idem r, sáveiro ( 26 ), vigararia, adestrar,· ltérvar, her•
vanario, embréchar, empégar, empéstar, entrévar, entrévado, balés-
Wha, Jétal , /'éteira, J;-éc!taclo, /i·écltar, fi·écheiro, séjeiro, repléção,
lédice, velhice, uélharia, encélltecei·, encêlhccido, sólj'êjo, tlesúvar,
espójar.
9. .- Em palavras scientificas ou da linguagem dos
0

doutos :-óraculo, ór1Ulor, óração, r·ltétoriw , plethõra, 'Vehiculo 1


etc. ( 27 ).
10. 0 .-Sem razão especial, em alg umas palavras:-Taes
são as seguintes:-arrédio, w-rcf'écir, báltú ( 28 ;, bélhó, bréjeii-o
( 29 ), cájú, cámão, empécer, enfezar, enxóvia, fágueiro, freg11ez,
/i·i·g11ezia, gânltai·, ságíc, ságuão , ságui1n, sàrar, táfetà, tàlim, tiitü.
E vari os nomes prop rios:-A.'l.,reu, A'reiras, A' c,,iro, Cá-
mües , E::;p ózentle, J?óscõa , L ónlello, f--1,uclaz, Rcriz, Resentlo, Ré-
zende, Hólim, Róriz, 'l'foa1·es, Táveiro.

( SE<..i lJ ~D ... l'.\ RTE)

Timbl'e das vogaes tonieas

Na syllaba tonica, o timbre do a é sempre aberto, sal-


vo seguindo-se consoante nasal, caso em que as tres vo-
gacs variaveis têm o som fechado, como já dissemos; o de
<: e o ora é aberto, ora fe c hado.

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A 1.INGUA PORTUGUEZA 181

Neste partic ular, tem variado a pronu1;ci:i, e ainda h oje


ha in ce rteú , o u diversidade, quan to a alg umas palavras.
Nos cas os duvidosos, seg uiremos o uso mais ge ra l, men-
cionand o e m no ta as di vergencia s ( 30 ).

Vario timbre do E, em syllaba toniea

As mais das vezes tem som aberto o e toni co, ma s não·


pouca s o te m fechado . Quando é final, não ha hoje diffi-
culdade, porque, como já-fi co u dito, a, e e o, no_fim d e pa:
lavras oxytonas, são sempre no.tad Qs co m o signal ortho-
gã phi co , o qua l indi ca o acce nto tonico e o timbre . se ndQ
actualmente usad o por tod os o acce nto agudo, para o so m
aberto, e o circumflexo para o so m fechado ( 31 ). O mes-
m o se dá, quando a palana oxy tona acaba e m vogal se-
0

g uida de s: - gui-upés, convés, envés, grés, após, nós, i·ós . Exce-


pto tres, eles, propo_siçã~, qu~ muitos esc reve m .se m ac_c e n-
to, e te m so m fechad o. ·
O timbr e do e to nico é aberto:
Nos verbos: .
DJ 1. 11 co njugação, no prese nte do i11di ca tiv 9 , no im -
p ér.a tivo e no presente do subju ntiv o, ant es de co nsoa nte.,
( 32 ) qualqu e r que seja a voga l da ultima sy ll qba :- _coinéço,
coméças, coméça, coméção, comece, comeces, COlllétein, levo, léva,
lé~e, govérno, govórna, 1101·i rn e, et..:., exce pto antes das con-
soantes pa l:ltaes .i, eh, Ih , em que o som é f~chad o :-clesêjo,
<lesêja, desêie, 11elêfo, pelêja, pelêje, apetrêl'ho, apetrêchas, apetrê.
cl1e, bochêcho, bod,ôchas, ~ochôelrn, f echo, .fechas; fecha, rle.~(echo,
clesfechas, desfeche, (33), aconsêllw, ar:011séllw, aco nsélhe, ajoéllw,
a:joêlha, _ajoêlhe, se11~ê lho, semêllw, seniêll'.e , e tc. f, porém, aber-
to o so 111 em - iuvéjo, úwf,ja, iizv~je. e(nbróeho. emôrécl1a8, ,,,,,__
b,:éclte, esmédw, esmécha, ·esmeche eng~llto. engóll1a~, e11gélhe, gré-
lho , grélha, grél!te, fr écho, Jréchas, /recite. E" ta mb e m fec h:cid ~
em chegar e no s seus co mpostos : -Ghêgo, chêgas, chêga, chegue,
1M A LÍNGUA I'ÔRt UéÜJEZA

adiêgue, concltégue; e em pi·etêxto, pretextas, pretêxta, pretêxte;


pezar, causar magoa, faz pêze, pêza (pêza-me); e pesar, ter pê·
so, faz péso, pésas, pésa, pésa, pe.~e, péses (3 4).
Das outras conjugações, no presente do indi cativo e
no in:perfeito, quando ha e na ultima syllaba: -déves, deve,
dévem, céLles, cécle: cédeni, recébes, recebe, i-ecebem, paréce, páré-
cem, meréces, meréce, merécem, (3 5), feres, fére, J'érem, sérves,
sérve, sérvem, véstes, véste, véstem, etc. Excepto nos verbos ser,
crêr, t~r, vêr, e seus compostos: -sêde, crêdes, crêde, lêdes, lê-
de, vêrdes, vêrde, etc . Nos outros tempos, o e tonico t\ sem-
pre fechado, ainda que haja e na syllaba seguinte:-devêr,
de vêres, devêrmos, devêrdes, de vêrem, dêvo, dêva, devêra, devês-
se, recebêr, recebêres, recêbo , recêba, recebêsfo, recebêra, recebês-
se, etc. Mas, na pronuncia de Portugal, os verbos aquécer,
esquécer, arrefecer, empécer, faz em aquéço, aqnéças, aquéça, es-
fJ.Uéço, esquéças, esquéça, arreféço, arreféças, arreféi;a, empéço,
empéças, empéça.
3. 0 -No preterito perfeito do indicativo, e nos tem-
pos delle deri vados, nos seg uintes- verbos irregulares:-
estar, ter, haver, da,·, caber, dizer, fozer, pocler, pôr (antigo poer),
f}_uerer, saber, trazer, 'Vir e seus com postos: -estit:éste, estivés-
tes, estivérão, estivéra, estfré1·as , e.stivéra, estivéramos, estivérão ,
estivésse, estivésses, estivessemos, estivésseis, est-ivessem, estivér, es-
tivéres, estfoérmos, estivére111, etc. Excepto esteve, têve e fez. No
presente e no imperfeito do indicatiYo de ser:-és, iJ (an-
tigamente hes, lte, éra, éras, etc. Na 1. ª pessoa do prest:nte
do indicativo, e no presente do substantivo de perder, me-
dir, peclir, in~ped-ir, despedir :-pen-o ( :,6 ), pérco, pérca.~, etc .,
p éço, péça, péçns, impéço, únpéça, impéças, despéço, despéça , des-
péç<is, etc. Na 1. • e na 3." pe!'~soa do singular do presente
do indicativo de querer, e na 3.ª do singular do mesmo
tempo de requerer: - quéro, quér, requér, (nos classicos e ain-
da depois requei-e; primitivamente, tambem qiie1·e).
Em qua esquer outras palavras, nas seguintes termina-
ções:-Antes da vogal ea , quando não é equivalente de eia.
Ex.-substantivo:-alcatéa (3 7), altliéa, assembléa, boléa1 cho-
A LINGUA PORTUGUEZA 189

rea, epopéa, estréa (38), galéa, idéa (39 ' , melopéa, panacéa, patu-
léa, polyantliéa, sotéa. Adjcctivos femininos:-cananea. cano.
p éa, cytheréa, européa, iduméa, pelopéa, plebéa. Nomes de figu-
ras de rhetorica: - onumatopéa, prosopopéa, etc. , de enfer-
midades: -dyan·ltéa, dyspnéa, morphéa, etc.; proprios de
mulheres: -Amalthea , Asti·éa: Dorothéa, Dnlcinéa, Galatéa,
Medéa, Peutlieriléa, etc.; geographicos: - Eubéa , Chaldéa,
Erythréa, Galiléa, Judéa, Moréa , Criniéa, B asiléa, H eracléa,La-
odfréa, etc., e o~ nome;; terminados em éas: - Ginéas, .Enéas.
Eo:-nos substantivos: aléo, arganéo, bailéo, boléo, botaréo,
cacaréo, céo, chapéo, charéo, chicliisbé.o, chimbéo, coru-
1'11éo, escarabéo, escarcéo, f ogaréo, guinéo, harpéo, labéo,
lebréo, véo, rnantéo, mastaréo, mausoléo, p itéo, raléo,
réo, solidéo, tabaréo, troféo, céo. Nos ad j ecti vos, o
som é fechado :-athêo, cananêo, cyrenêo, ervthrêo,
espondêo, europêo: jubilêo, gigantêo, hebrêo, judêu, ma-
chabêo, pharisêo, philistêo, plebêo, sanrlêo, que t:lln -
bem se escrevem com o ditongo eu. Excepto in -
créo, ant. abrev. de incrédulo, (40), 1lhéo, que t:1111-
bem é substantivo .
Antes de consoante:
Ebe: - algibébe, plebe, sébe, H ébe, Pliébe, Tltébe.
Ebra: -genebra, québra, Genébra . Exc:-fêbra, zêbm: adj,
crêbra (41 ) . .
Ebre:-alquébre, fébrc, lébre, casébre ( 42 ). Exc. :-azêbre.
Ebro:-qitébro, i"eqnébro, Hébro. Exc.:-azêbro, adj. crê-
bro (43).
Eca;-divéca, alforréca, béca, bibliothéca, bonéca, bréca, cliar-
néca, cuécas, fanéca, hypotltéca, marréca, moquéca, ra-
béra, séca, caréc,i. su,éca, llfecri, Rebécca. Excepto: -
enxaqitêca, sêca, Fonseca.
Eça: - caleça, éça, meças, péça, tripéça, Baéça, cidade da
Espanha. Exc. : - cabêça, condêça.
Ece:-préce, refece.
Echa: -bréchu, ff,écha, frécha, mécha, pécha. Exc.; -~bochê-
cha, endêcha, vGntrechai

Biblioteca PUbtlca Benedito Leite


190 A LINGUA PORTUGUEZA

E che:-campérhe, escabéche, gur: che. Exc.: - azêche.


E cla:-assécla, (44). técla., H érla, Técla .
E co:-- baclarnéco, bonéw, ca néw , chavéco, eco, ou écho, ja-
léco, marréco, motréco, taréc1, adj.: - Tanéco, suéco.
l'.xc. : - bêco, rnibelei;o, enxêco ; ad js.: -péco, sêco, pe-
petisêco.
Eda: - almoécla, labarérla (45), méda, moécla, quéda: ad js:-
iécla, B éda, L écla, 1llécla (adj. fem. ), Férla es. Exc. :- -
alamêda, grêda, sécla, rerêrla ( 46 ); ad j~.: - azêda, qnê·
da, trêrla (4 7), c ~rrazêda, Treinêcla, Sarzêdn., Sarzêclas,
po voações de Po rtu gal, Sêcla, rio e vi lla, ibidem.
Edrn: - e::céclra, méclra, pé<lra; Phéclra, Pontevéclra, Saavé -
rlrn, Tm-res Yérlras.
Erlro: - cérlro, âecaéclro , e os outros compostos gregos
desta termin:i çfo; Phédro, Alhos Vérlros (48). Exc.: -
Pêdro.
Efa: - sarté('a,8JJnalêfa, taréf'a, J osef a. Exc.:-borrêfa, (49 );
· adj'.: - trêfa. ·
Efe:....: chefe; magai ·efe, meq11etréf'e , tabéfe.
Rr;a:- acléga ( 50 ), uelclroega, uocléga, uro éga, colléga, entrér;a,,
esfr éga, fanégx, mo éga , péga, préga, refego, refi·égrc,
réga, ségii , segm·éga, socéga; adj.: céga, E 'gas, Vié-
g11s, Enxobrégas, X abrégcis . Ex c. :- achêua, borrêgri,
grêga ( e; 1 ) , p êga; ad j s. :-yallêga, grêga, laurêga, ni-
nhêga .
Ege:- grége, herége, sége.
Egra: - -legra, 1·égm, Phléym. Exc .. - toutinêyra, ad j. :-nê·
gra.
Egre:-alégre, Montalégre, Portalégre; ségre, palavra ant.
(sécul o, secular ).
E gro: -allégro; adj .:- ér; 1 ·J . "Exc.:- nêgi·o .
Egue: - enl n!.g11c. p:i rtic.
Ela ou ella:-o pronome éllci, os adjs.:-aquélla, amarél-
la, bélla;, varalléla, singéla, taga1·éla, e muitos subs-
tantivos. E xc. :-camêla, estrêlla; os adjs . rnorzêla,
tctrêla, e p êla, contracção do art. a com a prep. per.
A LINGUA PORTUGUEZA 191

Ele ou elle:-pélle, filéle (52), adj :-irnbélle, réles , Apélles


Cibéle, matabéles , povo da Afric~ , T élles. Exc. :_:
êlle, aqnêlle.
Epa: - carépa, népa, ll!Iazéppa (5 3). Exc.:-- cêp a .
Epe: - crépe, estl'épe, ganzépe , j ulépe , stépp e, tépe ( 54).
Epo:-,julépo, salépo, talagrépo, adj : -menigrépo. Exc.:-
cêpo.
Epra: -lépra.
Eque:-bérpw, calhanibéque, r-J1 éque, espéque, léque, inoléque,
pechisbéque, aztéque, sub . e adj.
Er: --alquilér, aluguér. chancéller, estaléi-, colhé?', mistér,
mulhér , lalh ér, esmolér, i·o.s-iclér, qualquér, quemquéi·,
se,g_uér. Exce1-to os infinitos substantivados:-devê r,
havêr , p:.l?'ecêr, podêl', prazêr, sêr. ·
Er: -anthéra, atinosphéra, chiméra, é?'a, espérn, féra, ga-
lé1'11, héra, p rimavéra, venéra; ad js . : - austéra, férn,
mém , sevéra, síncérn, véra; Abdéra, Capréra, OtJthérn,
Glycéra, Megéra, Sevéra, Talavéra (;;); 1;éras, devé-
ra8. E xc .: - cêra, p êra, cabrêra, P êra .
E rba :- 1·é1 -ba; ad j.: - acérba. Exc.: -sobêrba .
Rrbe:-iinbórbe; Malhéi'be, Malesherbes.
Ei ·bo :- vér/Jo; adj. :- avérbo. Ex c.: - zéi'bo, adj .:-sohê,io.
Erca :-- alvéi'ca, lavérca,péiw , peixe. Exc.: - rêrca, pre p ..
cerca, ad v.,-acêrca .
Nrce:-alpérce, alicérce, mérre; adj .-cérce .
Nrclw:-pércha )56).
Erche:-- alpérche.
Ercla:- cérila, cérdas ( 57 ), ad j . ; lérda; LacérJci. Exc.:-
pêi·cla, esquêrda .
Erdo: -c~nlo, adj., - lérclo (18). Exc.:-esquêrdo.
Ere:-haltéi-e, stére, alferes; Céres, Péres.
Erge:-a.'l_péi'ges (capa de )
Ergue:-albérgue.
Erla:-pérla.
Nrrna:-bérma, clérma, hérma, thérma; adj.-palérmt& .
Exc.:-enf'êrrna, êrrna.

Biblioteca Pública Benedito Leite


1~2 A LlNGUA PORTUGUEZA
.,
Enne:-dérme, epülénne, génne,pachyderme, vérmc; adj.:-
inérme; Gu-ilhénne.
J,Jn,a: - ca11érna. cistérna, la11térna, fuzérna, pérna, tabénui;
adjs.:- aftérnn, rtél'na, esétri,a, intérna, ma.térnn, 111 0 -
rlérua, térna, e tc.; L érn.a . L11rérna.
Erne: - bérne, cérne, r·hérne_; Alt-érne, B érne, Holn7ihé1·nf'.~,
Pén1es.
E1·110: - arlénw, cr11lér,w. /aléruo, inferno, innh'no: adjs.-
r-térno. altêrno. e:ciérno, inlérno, mn,térno, modénw,
térno, APéniu. Exc.:- gotêr-110.
Em: - cléro, esiné1·0 (59 ', féros (60 ), galé;·o, géro, zéro;
adjs.: - austéi"o, féro, méro, sevéro,. sincéro, 1•éro,
Ahr,sréro, Assuéro, Anth.éro, Brothéro, .lféro, FTomé-
ro, Luthérn, S éro, Seréro. Exc.: - dP-.~espero, rlP-.~tnn-
vêro, pêro, tefüpêro, Pêro. (61).
Erpe: -séipe, hérpes, Eutérpe.
Erqi~c: -Albuquérque, Dunquérque.
Erra: -bérra, ferra, gnérra, sérra, térra. Inglatén·a, Sal-
vaterrx. Exc. -bezê1·ra, ad j. :-pêrm; Falpêrra, serra
de Portugal.
• Erre: - G11Uérns, Vérre.9.
Ersa:- coiwérsa; adjs.:-advérsa,, r,$pél'sa, m·ér.~o, sulm1ér-
so, térso, 1mi1:érso, 1:érso; adjs.: - abstéi-.qo, adrérso, as-
pérso, contr01•ér.qo, con11érso, dispérso, obvérso, pervér-
.~o, submérso, tér;;u (6 2), transverso.
Erta:·-abérta, cobérta, <le.~cobél"ta, offérta, refél'ta; adjs.-
abérta, cél'ta, cobêrta, descobért,,,, rlesérta, despérta,
encobérta, espérta, incérta, libérta; adv. e int.: -
alérta.
Erte:-inérte, solérte.
Erto:-as.~érto {63), dt.sérto, Albérto, Bobérto e todos os
nomes proprios desta terminação; adjs. :-abérto,
cérto, cobérto, desérto, espérto, e."cpérto, inexpérto, li-
berto; adv.:-pé,·to. Exc . :-acêrto, apêrto, concêrto,
desacêrto, enxêrto, ·
A ttf.iGtJA PORTUGUEZA 19$

Erva: - c~térva, S<c:n:.i, co11sàca, ltérv,1, i:e:sérva, sérva; adj.


- pi-otérva, Minérva , Nén-a.
E;To: - acérvo, cérvo; a lj .--protérno. fac.: - nêi"co.
Bse·--catecltése, diocése_. exegése, th ise.
Essa: - préssa, promés.~a, i·eméssa, revéssa, travéssa, ás véssas
ou ás avéssas; adjs.- egréssa, ésstt, exprés.~a, . imµr és-
sa, inconcés.sa, inde/'t:ssa, posséssct, pro/és.~a. Exc. : - ab-
badêssa, conclêssa, viscon,lêssa , travêssa.
Esse:-benésse, ( 64 ), messe, kennésse. Ex.;.: - i11ten~sse, clc-
sinterêsse (6; ;;ad j .-êsse.
Esso: - abcésso, acé.s~o, congrésso, e:x:césso, ingrésso, processo,
progr ésso, recésso, regrésso, ret,·océsso, sucésso: adjs.--
comprésso, confésso, deprésso, egrésso, e;i:présso. uu-
p1·ésso, inconcésso, indefesso, possésso, profésso. Exc.:
-ar;-emêsso, avêsso, ,;011/êsso (66), gêsso, sêsso; adj s.-
avêsso, espêsso (67;, revê.~so, trnvêsso: pronome an"t.,
êsso.
E\ta:-arésta, bésta. crésta, e1ifé.~ta, fé5ú:., .tfoi·é.~ta, /i·ést.,,
yiésta, sésta, té.~ta, Vésta; adj:c:.- congésta. ésta, /im és-
ta, honésta, i1tiliy-ista, in/'ést,i, /éstn, maui/'t.;sta, 111 ésta,
modésta, 1110/e::;ta, tála. Esc.: - besla , ri::slo.
Este:- al'l·ipréste, c11préste, é::;te 0 11 iéste, ué~te, péstc, prés-
te, i·ésté, véste: adj~. ayréstc, 1·eléste, cunté::;te, 1éste,
préstes; Alréste, T1iéslt;, Oréstes, 1'/tyéstes. Exc. :-adj.
- êste.
Esto:- alrnayésto, anapé:sto, apristo (68) , arésto, asbésto,
l'ésto, doésto (69), ésto, .l~sto, r,ésto, i11c~sto, manifé,,to,
palitnp.~ésto, prot~sto, réstn; ad j s.-ron_qé.çto, en{'ésto,
fésto, fimésto, lw·nésto, lésto, mf!:sto , té.sto; adY.:- p1·(,s-
to; Digé.sto, Fêsto. Exc.:-ccibn:sl.o, cê.~to, 1m/esto, {ê,-
to, labrêsto, têslo, rron o me ant.:- êsto.
Bstra: -tléstra, méstm, orché.~trn,, pnléslra; adi.· - 7t sfro;
Clytemnéstra, Hypennne::;tra.
Bsti·,,:-mé8tre. Sl'III :-stre, lri/11.é.~l.r,; :iJ js.-alµéstre, cam-
péstre, eqw!:stre, sifrést,·e, terrésti-e.
Estro: -estro, seq,uéstro, séstro; ad j ~.: -déstro, séstro.
191 A LÍNGUA PORÍUGUEZA

Etro. - rnélro, 1·étr0. Exc.: virêtro.


Eva:-céi·a (70), lé'lla, tréva, adjs.: - coéva, longéva , sé'Ua:
Eva, Néva. . Exc :-estêva, resttêva. grêvas.
Eve:-alrnocréve, bréve, gréve, néve; adjs.: -bréve, léve .
Exc.:-persêi:e, Estêves .
Evo: - é1;0; adjs.:-coéi·o, longévo, primét·o, sévo, suévo,
Exc .: - cêvo, enlevo, i·elêvo, trêi'o.
"E' tambem aberto o e tonico:
1. 0 Antes l, na m esma syllaba, quer final, quer segui-
do de consoante differente Assim :-- annél, batél, burél, ho-
tél, etc.; adjs.:- auél, novél, re'llél, etc.; Abél, Babél, Rachél,
etc.; adélfa, bélfas, bélfo, elfa, surrélfa. Délphos, Guelfos; célga,
félga, mélga, t·remélga, guélra, mélro, mélra: ::idjs.:-Belgas,
excélso; Célso, Paracélso, délta, adjs.:-célta, esbélto. esbélta;
gélva , rélva., selva, Elrns, pélvis. Exc.: - êlmo (71), chêlpa ( 72 ),
f'êlpa ( 73), fêltro.
2 . 0 - An tes de e, g ou p, seguido de co nsoante, g uer a
prim~ira se pronuncie, quer seja muda, e antes da conso -
ante dupla x, seguida de voga l, em palavras de origem la-
tina ou grega, ainda quando se muda o seu va lor primitivo
de cs, no de eh chiante:-alfécto, aspectoi insécto, obJ°ecto, pro
J°écto, prospécto, técto; adj,; ..-abJ°écto, corréeto, dilécto, rlfrecto,
infecto, provéto, selécto, etc ., e os respe ctivos femin iüos; col-
lecta ( 74), Eléctra, flégma, tégmen, intei'l'égno, adépto, réplo, tra-
sépto ; adjs.: excépto, inépto, v ercépto; any,pléx o, néxo, adjs.: -
annéxo, circuinjféxo, complé.,,:;o, ronnéxo, co1l'l'éxo, JJerplé.J)o, etc.,
e os femin in os .
3. 0 -Quando a <lesincnciJ é nasal (75 ): - g,:,nnen, médão,
orégão, pégão, excepto em Estêvão; o u term inada po r l ou r:
- bétel, detluel, indelével, Casé'llel alde ia de Portuga l, débil,
flébil; Césm·, éther, cathéter, Demé ter, Yésper, Ji'errer
4. 0 - Kos vocabu los esdruxul os (76 ). antes de vogal ou
de co nsoante :-aui·éola, honléolo, Oréarles. éb1'io, nécio , pré -
vio, célebre, cérebro, égoa , épico, mérlirn. e tc. Exce-pto-mnêjoa
( ou ameijoei), bêbera, êxito, extase, fêvera, u~spera, nêvecla, pês·
sego, pêzame; adjs. :-bêbedo ou U':bado, lêveclo, trêfego; Zêzere,
A :tiN'GUA PORTUGUEZA 195

rio de Portugal. Estél'il, fértil, débü, jfébil Conse rvam o tim-


bre que tinhào, quando esdruxulos, estéríle, fértile, etc.
E' fechado o timbre do e tonico:
1. 0 .- No ditongo ei:-lei, rei, amei, amal'ei, ameis, ama-
reis, eis, seis, veio, meio, meict, leio, passeirJ , etc., e - na~ ter-
minações eiça, eiço, eicla, eijii, eiga, eigo, eijo, eira, âro, eita,
eito, eiva, eivo, eive, eixa, eixe, eixo . Excepto réis, plural de
real, por .:;orruptélla de pronuncia, e o plural · dos nomes
em el:-anneis, batéis, fiéis, crttéis, etc.
· · 2. 0 ;-No ditongo eu, que lambem se escreve eo, êu,
mêu, têu, sêu, leu, movêu,· rece!1êu, athên, europ0u, .jurleu, jubileu,
Dêus, Zêus, etc.
E nas seguintes terminações: -
Ea:-equivalente de eia: -aldêa, amêa, arêa, balêa, ca-
clêa, candêa, r.êa, centopêa, colmêa, colchêa, corrêa, f er-
ropê a, garrotêa, (ant., ordem de Jarreteira), lamprêa,
morêa, obrêa, pavêrr,, serêa, tarêa, têa, vêa .
Eúa:-gêba, mancêba, sêba; adj~.-gêba, mancéb,i. Exc.:-
carapéba (77\, gentbéba (78), gléba, Tltébas.
Ebo:-sêbo; adjs.-gêbo, m1ncêbo. Exc.:-Phébo.
Echo: -apetrêcho, barbêclto, bochêcho, clesfê cko, entrêcho .
f êcho, peti-êclw.
Eço: -aderêÇ(i, aprêço, cabêço , coilêço, comêço, preço, tro
pêço; Garrêço, log. em Portugal. '
Ede:--parêde, rêde, sêde; adv.:-adrêde (79 ); Ancêde, An-
tuzêde, Arazêde, Cantalihê ~le, Limêde, Mürtêrle, T.1,va-
rêde, ]l,for cêdes, Bidde, lo~ares de Portugal. Exc.:
-sécle, Mafamêcle, Ma11dde, Archi,nédes, Diomédes,
Ganyinédes, Guédes, Nicomédes, Palamédes.
EJo: -arremê_do, arvorêdo, azerêdfJ, brêdo, dêdo, rlegrêdo,
enrJdo, enx JVêdo, figueirêrlo, folguedo, f'olhêdo, fra-
guêdo, lagêdo, mêdo, mosquêdo, olivêclo, passa,·édo, pe-
nêdo, rocltêdo, segrêâo, torpêclo (80 ) , vinhêdo'; ad j. : -
azêcl?, quêclo, trêdo (8r ); adv.: - cêclo, Alf,·êdo, Amoê-
clo, Azevêdo, Cabêclo, Canêdo, Carrazêdo, C,irrlêclo, Er-
,;edêdo, E'erniêdo, Pigtteirédo, Macêdo, Man/i·êdo, J{o-
196 A LlNGt1A · PORtUGtJEZA

lêdo, Mondonhêdo, Oviêdo, Quevêdo, Roborêdo, Semê•


do, Serzêdo, Tanc1·~do, Tolêdo, Yêddo ( 82 ). Exc. : -
créclo; adj.-lédo, médo, da Média.
Efo:.:...trêfo, adj.
Ego:-apêgo, borrêgo, carrêgo (83), conchêg,o, , desapêgo, de-
sassocêgo, emprêgq, lavêgo, morcêgo, offêgo, pêgo, J?es-
pêgo, rechego, refego, rêgo, relêgo, repolêgo, socêgo;
adjs. -gallêgo, grêgo, labrego, ninhêdo. Lamêgo,
Mondêgo, Pêgo, Rêgo. Exc.:-arrenégo (84),pégo ·(pé-
lago), prégo; adjs.-cégo, peticégo (85); Cethégo, Pré-
go, Arégos, lagar de Portugal.
Eja: -bandêja, brotoêja, canêja, carqueja, cerêja, cervêja,
collarêja, igrêja, narsêja, pelêja, tornêja; adjs,: -an-
dêja, bem/azêja, canêja, m;i,lfazêja, sertanêja, sobêja.
Estarrêja, villa de Portugal. Exc.:-invéja, Béja.
Ejo: -adêjo, almêjo, arêjo, arquêjo, azulêjo, barac~jo, bra-
cêjo, bocêjo, bosquêjo, caranguéjo, cortêjo, desêjo, desp~-
jo, ensê_jo, entêjo, festêjo, gargarêjo, gracêjo, lampêjo, lo-
garêjo, manêjo, pê_jo, persevêjo, poê_jo, realêjv, sobêjo,
solfêjo, varêjo, voêjo; Ítd js.: -anclêjo, bemfazêjo, etc.
Exc.: -bandêja (86 ), bréjo, Téjo, Alemtéjo, Ri:batéjo.
Ellia:-abêlha, azêlha, botêlha, _carauêlha, cêl/1a, cen têlha,
cernêlha, chavêlha, coêlha, diabêlha, gêlha, golêlli-a, gol-
pêlha, guedêlha, niolhêlha, nionêlha, o;;êlha, ovêlha,
pardêlha, parêllta, savêlha, segurêllvr, sêlha, .sobrancê-
lha, verdêlha; ad j s.: - annêlha, verdêlha, vennêllta.
Exc.:-grélha, rélha, quélha(8j); ad js.: -vélhn, revêll1a,
Marséll1a.
Ellio: -apparêllw, artêlho, bedêlho, bêllw, bolhêll1g, borrê-
lho, botélho, chavêlho, coêlho, concêlho, consêllw, esca.
ravêlho, espêlho, fedêl/10, folhêlho, frcincêlho, joêlho, rê-
lho, têlho, trabêlho, trebêlho, vencêlho; adjs.-verdêlho,
vermêlho. Exc.:-Euangéll;o, rélho (88); adjs.:-anéll1Ó
( 89), vélho, revélho, rélho (90),
Elo ou ello:- -appêllo, a,npêllv, atropelo, bacêllo (91), ca-
bêllo, cabedêllo, _cadéllo (peça •de moinho), camêlo,
A LINGUA PORTUGUEZA 197

cancêllo, canêllo, capêllo (92), cerebêllo (93), cobrêlo,


cogêlo, cornozêllo, cotouêllo , cubêllo, de.~mazêlo, gêlo,
grêlo, manêlo, modêlo ( 94 ), napêllo, novêllo, om·êlo,
p êlo, pesadelo, portêllo, (95), rabêlto, resfetêlo, reyêlo,
restêllo, rodêlo, rodopêlo, sarampêllo, sêllo, terciopêlo,
tornozêllo, zêlo, pron. ant. êllo, adj.-morzêlo, ( 96 );
A rcozêllo, tarêllo \97), pêlo, contracção do art . com
a prep. per; ampêllo, calvêllo, Esmêllo. Fontêllo, Lor-
dêllo, Mindêllo, Portozêllo, R astêllo, R ebêllG, Serde-
dêllo, Soutêllo, Serzedêllo, Sobradêllo, Souzêllo, Tor-
rezêllo. Exc.: - adélo, anltelo, (98), camartéllo, castéllo,
cervéllo, chichélo, chinélo, coguméllo, concéllos, cutéllo,
desvélo, duéllo, élo ( 99 ), escabéllo, e.~calpéllo, /'aréllo,
fiagéllo, j iezélo, labéllo, libéllo, vermélo, martéllo, po-
lichinéllo, prélo, ritoméllo, sacéllo, véllo, vitéllo, adjs.
-amaréllo, béllo, paralétlo, singélo; Mé llo, Metello,
Othéllo, Barcéllos, Carcavéllos, Concéllos, Délos, Ne·-
gréllos, Vasconcéllos.
Erco:-cêr1:o, estêrco.
Nrça: -t êrça, vêrça ou vêrsa ( 1 oo).
Erço: -bêrço, têrço.·
E rde:-vêrde, valvêrde; Castrovêrde, Montevêrde.
Erga:-enxêrga, vêrga, xêrga.
E rmo:-- êrmo, estafêrmo, têrmo; adjs. - enfêrmo, êrmo.
Exc.:-Palén1io .
E rra:-afêrro, atêrro, bezên·o, aêi·ro ( 101 ), destêrro, en-
cêrra, entêrro, êrro, pêrro (102 ), serro; adj .-perro,
Exc,:-bérro, j'érro,
Brve:-azerve.
E,a:- d41'eae1, despesa, cleve,a, empre,a, entrepre,a ou in•
terpresa, mesa, presa, represa, sobremesa, surpresa:
adjs,-accesa, defesa, indefesa, preso, salpresa, ,utpre•
sa, tesa. Etc.: adjs.-blésa ( 103), illésa, lésa, obésa.
Esca:-patesca, soldadesca; adjs.-fresca, e todos os adjs,
desta terminação, arabesca, b11,rbaresc.a, burlesca, car-
natialeséa, etc. Exc.: -pésca, Huésca .

Biblioteca Pública Benedito Leite


198 A LINGUA PORTUGt1EZA

Esco:-arabesco, fresco, parentesco, refresco, Tedesco; adjs.


fresco e todos os adj<;. da mesma terminação,
arabesco, barbaresco, burlesco, caniav11lesco, etc.
~srle: - desde.
Esga: -betesga, nesga, adjs.--ses!Ja, vesga.
Esgo; - sr:sgo, vesgo.
Efrw1.:-aventesma, les1na, resma, seresma, sésma, adj.-
mesma.
Esmo: - esmo, sesmo, tenesmo, torresmo: adjs: -mesmo .
JEso:~ contrapeso. peso, teso; adj~.-acceso, defeso, preso,
et-.: . Exc.: -blé.~o, léso, ob éso. Créso, Rhéso.
Espa: - vespa, ad j. crespa.
Espo: - crespo .
Efo: -alhêta, ampulhêta, an1chorêtçi, bxê(a, bêta .(104 ), bo
1:éta, bolêta,· bm·bolêla, calcêla, cacêta ( r 05 )_, carapêta,
r:ái·êta, comêta, wrvêta, espolêta,, ei;taf'êta, galhêta, g,i-
vêta, gazêta, gorgêta, grêta; J°aquêta, lunêfa, mulêla-
malaguêta, navêta, palhêta, l)êta, planêta, raquêtaj re.
colêta, rntrêta, roleta, sargeta, teta, ;treta, trombeta,
vaqneta 1 vedeta, veneta, _violeta, e todos os diminu-
tivos· desta desinenc!a, ;banqueta, barqueta, caderne-
ta, cançoneta, chaveta, cruzeta, faceta, folheta, histori
eta, li11gúeta , 1w1,çaneta, 01Jereta, taboleta, vareta, etc,
pd j .~nurneta, peta, preta. Exc. - ascéta, athléta, dié-
ta, méta, néta e os compostos bisnét,,, trinéta, t'ata-
ranéta ou tretanéta, poéta, p1·ophéta, seta e os nomes
de letras gregas- béta, étha, théta, zéta; adjs.- .411al•
phabéta, compléta, concréta, discréta, facéta ( 106)~ in•
qi_iiéta, 11iaho1riéta, obsoléta, patéta, qiiiéta, recoléta, re•
pléta,· secréta; Anacléta, ·Anicéta, Cráta,· Nlonéta, Ge·
_ . . t<;1s~Nicétas, Philétas, Massagétas: _- - ---
Ete:-a_legrete, alfinete, banquete, bilhete, braçalete, bufete,
caci;:te, cacoethe ( r 07 ), cale te, capacete, ca'Vallete, cade-
te, colchete, collete, cunhete, estenJ.erete, ferrete, fogue-
te, gabinete, galha,·dete, gasnete, ginete, jarreta, joane•
te, minarete1 molinete, mosq1,ete, pintal9greti:j pígu@te!
A LINGUA PORTUGUEZA 199

rabanete, ramalltetc, retrete, roquete, sabonete, s1: .


nete, son•ete, tamborete, tapete, tolete, traquete, triu-
cli:·te, verdete; todos os diminutivos subst. e adjs. -
l1arretete, cliabi··ete, escwlete, falconête, mantelete, pala-
cete, sabnonete, etc., alegrete, r.larete, ferrete ( azul ).
mollete, palheta.. velh{l,quete, violete. Alcochete, Catete.
Olivete (108), Roquete ( 109 ), Sal.~ete. Exc.: - nbéte
(109), boféte (bofetad;1), canivéte, diabéte ou d?°abétes,
espennacéte, /1·éte, guéte, gntmete, mag11éte, quiete, to-
pé f. e', valéte ( 1, 1 ) : adjs.- véte, dezesétr, Cuvétes, Lé-
,thcs, Philoctétes, Zétes.
Eto:-amulêto, bolêto, cavrêto, calafêto, carapêto, coréto,
cotêto, duêto, esbocêto, espêto, espiguêto, esquclêto, fo-
lhêto, gravêto, pdo, quarteto, quintêto, 8extêto, sonêto,
tcrcêto, versêto;· adjs.-pêto, _prêto;' Barrêto_, Gi~êtto,
L orêto, Rigolêto, Spolêto ou 'EspolêtÓ, Tiiitorêto. Exc.
- àbéto, alphabéto, .xitltél~, decréto, {élo (i 12 , néto,
sueto, véto; :d'js.-·ancilpluibéto, compléto, contrélo, dis-
Úéto, facéto, inquiéto, obsoléto, quiéto;recoléto, repléto,
secréto. Admétto, Aúacléto, Anicétó, Cymétlw , Epictéto,
Hymétto, ·Miléto, Polycléto, Sebétho. ·
Etra:-lêtra . .
};.'lJa:-:--fat~'::va:, 1ÍÍadê;fJa, oondêwa, que tambem se escr ,
vem com o dit,ongo ei.
,E11ta: -aqjs,,-pl'etê:vta , séxtã. : · · ,
Exto: -.r,ontêxto, pretêxto; -tê'::.C_to; :i dj s . ..:. bissêxto, sêxto.
Extra.:-dêxtra. . · .. _ :. . .
Extl'o;-àêxtro . ..
Ez:- todos os -m ui·tos· voe abulos desta terrn iunção, ex•
cepto: - déz, fé2, (f-ézes)d·ié; ~ CO?'!véz, envez, revéz,
réz, réz-véz, léz a léz, (113), que tambem se escre-
ve m com ·s; Féz ( 114), Mequinéz~ Suéz. ·
Eza;-todos os nun:erosos substanti vos desta termina•
ção, excepto ré.ia (115). ·
200 A LINGUA PORTUGUEZA

Eze:-trêze, e o plural dos substantivos e adjectiYo~


em êz - arnêzes, cortezes, etc. Exc.:~falézes, e o plu-
ral dos nomes em éz-fézes, revé'zes, etc.
Ezo: -desprezo, nienosprezo, v.ezo.

Il

Vario timbre do O, em syllaba tonlca

O o tonico, as mais das vezes, tem som aberto. E' em


geral fechado, na penultima syllaba, quãndo se lhe segue
immediatamente outra vogal, havendo consoante interpos-
ta; é fechad0, ~e a átona final e o, e aberto, se é outra a vo-
gal da desinencia. E' geralmente aberto na ultima syllaba,
excepto antes der, e na antepenultima.
Ha, porem, não poucas excepções.
E' aberto o som no~ verbos: -Da 1,0. conjugação, no
presente do indicativo, no imperativo e no presente do
subjunctivo, antes de consoante, qualquer que seja a vogal
da dP.sinencia:--próvo, próvas, próva, próvão, próve, pl'oves, pró-
vem: an•es de vogal, nos verbos em oar e oiar, o som é fe-
chado: -enlôo, entôas, entôa., entoão, entue, entôes, entôem, apóio,
apôias, apôia, apôião (1 16).
Da ,.o.
e 3 . 0. conjugações, no presente do indicativo
e no imperativo, quando ha e na desinencia:-móves, móve,
móve, 1'Ó6S, róe, sóe (117), oóbres, oóbre, oóbrem, tósses, tósse.
Quando a vogal ·da desinencia é o ou a, ô 'sqin é 'fe'cl:iado:
- môva, môvaa, môvão, mudando-se o o em·í, 1 3,1 éónjuga• na
9ãor -oobrir, oubro, cubra, tossir, tuaaao, ti,ssa, 'Exceptb no
verbo poder, que faz--p6sso, p6sscis, póasa, poss&o,
Bm quaesquer outras palavras, nas ·seguintes termlnt1•
9~HI
Antes de vogal, no ditongo oe:-1teról!, 1'róes1 Góes, plu•
rlll dos nomei; em ol:- pharóes, espanhóes, etc., e nas termi•
naçõe9 oia, oide:--bóia, jóia, pap6ia6, tram6ia, tipóia, &bóia,
Tróia, etc., <1lcalóide1 asteróide, ellipsóide1 espheróide, keróides,

Biblioteca PUblica Benedito Leite


A LJNGUA PORTUGUEZA 201

etc. Excep~o em salôia, ·mal6ia, pôia (, r8 ;, Azôia, nome de


mais de um:1 aldeia ~m Portugal.
Antes de consoante: -
Oble: -dóble, róble, sinóble.
Obra:-cóbra, dóbra, mm;óbra, óbra, sóbra. Exc. o adj.- sa-
lôbra.
Obre:-cóbre, dóbre, nóbre, póbre. Excepto:-aljõbre, salô-
bre, sôbre.
Oc ou eh: -Bellóc, Enóch, Molóch, etc.
Oca: - bichóca, bróc:i, llóca, maçaróca, mandióca, phóca, óca,
róca, tóca, tróca, etc .; adfs. :-chóc i, dorminhôca (Ú 9 ;,
Exc.: -bicltarôca, boca, marzôca (120) e os adjs.-
óca, xacôca ou enxacóca, Tinô ca.
Oça.: -bóça, bróça, ca;:róça, cltóça, cóça, croça, róça, troça.
Exc.: - moça, poça (12 r ), ,çamgóça, panno; Sarago ça,
cidade.
Ocha:-brócha, caróclia, cóclta, galócha, garrócha, rócha, tó-
. cita Exc.: - alfamoclta, cltóclui, mocha.
Oche: _:._aproche, broche, repróclte. Ex.;.:- coclte, a trôxemoclte.
Oda: -cõda, móda, pôda, róda, sóda . Exc.: - bôcla ou vocla .
escoda ( 1 22) ad j s. -t,ocla, goqa, ostrogôda, visigôcla.
Ode:--bigóde, bóde, ode, pagócle; Herodes, Rhódes.
óti: -bóie, estróp1té, regabófe.
Ofra: -alcachó/ra, 123).
Ofre :-c9fi·e, chófre , de chófre ). Exc. :- alJofre, enxofre.
Oga: - bóga, clróga, esnóga ou synagóga, ,gigajóga, piróga,
11fróga, s11bóga, sógci ( 1:i4 ), toga, vóga.
Oge: -doge, lóge, paragóge, Cambóge.
Ogra: -sógra.
Ogue: -dógue.
Qja:-lója,poja (125). Exc.:- coscôjas ( 12 6'.
Ola ou oita: -argóla, bóla, castanhóla, cóla, cólla, gólla,
· móla, sóla, etc.; adjs .-- espanhóla, manióla, p(l,tóla,
gabaróla, gabóla. Exc.: - empola, ou (l,}lt]Jà'lla, cebôla,
tola, pola, rola; ad j. -tôla.
Olca:-pólca,
A tiNGUA PCíRTÜGÚEZA

Olclw:-cólcho (127).
Olda:-i;onsólcla, sóldm ( 1 28 ), mas póldr·a.
Olclre;-códre (129).
Ole ou olte:- fólle, góle, mólc,prole, rodofólle; adj.-mólle.
Ol(a:-sólfa .
Olga: -folga, Olga, V ólga.
Olhe:-mólhe.
Ol?ne: - pólme.
0lpe:--gólpe.
Olta:-envólta ( 130) , esi;ólta, 1·evólta, sólta ( 131 )1 vólta, vi-
ravólta ou revimvolta. Ex::.: - os participios absólta,
desenvolta, envôlta, solta, volta.
Opa:-cachópa, cópa, garlópa, ópa, tópa , trópa; Európa.
Exc.: - estôpa, pôpci, sôva.
Opc:-galdrópe, galópe, hyssóJJe, tópe, x arópe.
Opla:-cópla, manópla, sinópla; Andrinópla ou Adrianó-
pla, Constantinópla.
Opo: -cópo, escópo, hyssópo, pyrópo, trópo. Exc.: -cacltô-
po, copo, da roca, estropo, tôpo ( 132 ) , trôpo ( 1 33), adjs.
- entrelôpo ( r 34 ), misanthropo, philcmthrôpo ( 13; ),
Canôpo, E sóJJO ( 136), Lôpo.
Oque:-albrü.1nóque, batóqzw ou botógue, bodóque, bosbóque,
brelóqzte, chóqzie, estoque. reuóq1ie, rc111óque, tóque, Róque.
Orba:-tiórba, ó1·ba.
Orbe:-órbe.
Orbo:-mórbo (I3j ); adj. - órba.
Orca: - alpórcn, órca, pórrn,, x óri;a ou axó rca e alxórca;
Jltlaiórca, Minorca. Exc :-fôrca.
Orcha:-córcha, lórcha ( r 38 ).
Orda: - bórrla, córrla, engórda, hófrla; Tabórcla. Exc.: -
açórdci, massamõrcla ( 139), tôrda ( 140); adjs.-balor-
da, gôrda.
Orde:-acórde, sub;;t. e adj.-órdem e os adjs.-conr:ór-
de, discórcle.
Orga:- estórga, outó,·ga, pandórga, tórga; Astórga.
Or9e:--ór9e (14r); Jórge, Bórges. Exc.:-al/orge ~ 142 ).

Blblloteca Pública Benedito Leite


A iíNGUA PORTUGUEZA 203

0ris:-Choris, Doris, Lycori/i .


01ja: - cor;"a, forja, gatja, Borja.
Orla: -borla, cnntorla ( 143). orla.
Orlo~- orlo, nome asiatico.
0rma: - forma, norma , plataforma, rf' fnrm (t, ]forma . Exc.: ·
- forma.
Urine: - 1lis/imnc, w,1fon1w, ad j s. ·-llerif'o rmc, irbvriforme;
bif'orJ//e, conf'onne, clesconf'orine, clisfurm e, enorme, -infor,
me, multifon ne, trif'onne, unif'onne.
Orna: -bigornct, cor na, cforna, sor11."', t1:borna, torna; ad j .-
mor11,i, Alorna. -
Orne: - bome, gorne, tricome, w1-icorne, adjs.--bicor11 e, uni-
torne.
Oro :-decoro, ( 144 ;, torn, meteoro, poro , thorv, adjs.-m-
-noro, inoduro, odoro, sonv·ro: e todos os nomes pro-
prios:-Appolodm·o, Arte1nidoro, Athenodoi·o, Cassiodo-
ro, etc. Exc.-chôro, córo, desaforo, fóro, gôrn, nmnà -
ro, pylôrn (145 ), soro, tôro (q6 1•
0rque: - rtlborque, alcorque ou alporque .
0rta: - aorta, bisto1'ta, comporta. esparta , horta, porta, re-
torta, torta . Exc.·--adjs.: - a/Jsórta.
'Orle: - co1tsorte, r;rmtraforte, corte ( r 47), ·importe, morte,
norte, passaporte, porte, supporte, sorte, tra11sporte,; ad j.
-forte; Afavorte, Monforte, Pe1tajo1·le. Exc. :-corte.
Urrn:-corva, escorva, < ',slvrai, rsto1-ras. Exc. :-al(órva-
;;orva_: adj. - tõi-va.
o.~a :- entrosa, glosa, r;rosa, prusa, ro&a, tosa, ventosa, a
fó rma feminina de todos os nurné:rosissimos adje-
ctivos em oso, e alguns nome s proprios:-Barbosa,
Oimarosa, Feitosa, Tolosa, Tortosa , e tc. Exc. :- espo-
sa, nt().ripósa, rnpôsa.
OsM :-arriosca, f'nsca, mas HW/ica, rosca, e os adj .-fos-
ca, to.~ca.
0se :-- -npothevs11, dermatose, dose, mela11wr11hose, metaptose,
niete·1npsychose.
Usga:-osgct, pitos&ª·
204 A LINGtJA PORTtJGtJEZA

Os!Jta: -gosma.
Osme:-Cosme.
Osmo :-macrocosnio, microcosmo.
Osna: -losna.
05pa:-encospas.
Osque:-bosque, kiosque.
Ossa·: -bossa, congossa, ( 148), cynaglossa, fossa , glossa, inos-
sa; adj. - grossa, molossa, nossa, vossa; Ossa. Exc.:-
ad j.- .ensôssa.
Osse:-posse, tosse.
Osta:-apposta, bosta, costa, encosta, imposta, monposta ou
mãoposta, posta, proposta, resposta, o participio pos-
ta e os seus compostos apposta, composta, etc. Exc.:
- congôsta ou pangôsta ( 149 ), crôsta , lagôsta.
Oste: --encostes, hoste, poste, preboste, prioste, toste , Pente·
costes.
Ostre:-postres.
Ota:-alcaiota, anecdota, agiota, ballota, bolota, bota, cam·
balhqta, cambotci, chacota, compota, cota , de1:ota, estar-
diota, gaivota, galiota, grota, nota, rota, etc.; adjs.-
ca11hota, devota, idiota, ignota, janota, patriota, poly.
glotta, remota, etc. Exc. :-escôta, gôta; ( r 50); adjs.-
bôtci, garôta, marôta, minhôta, rôta, Aljubarrôta. ·
Ote: -alcaiote, archote, barrote, bote, camarote, capote, chi-
cote, decote, dote, epiglotte, fagote, garrote, glotte, hot.
tentote, lote, mote, pacote, pote, sacerdote, trote, zote,
muitos outros, a mór parte diminutivos, amigote,
caixote, fidalgote, filhote, etc. 1scartotc, Lançarote, Qui-
xote , B oates .
Ova: --corcova, covct, nova, QV:t,, prova, sova, trova; adj.-
nova; Canova, Penacova; Exc. :-alcôva, enxôva, escô -
va, frôva; adj.-côva.
Ove:-dezenove, nove; J ove.
Oz :-albatrbz, alburnoz, algeroz, cadoz, foz, laroz, noz, pi-
oz, ret;-oz, tardoz, voz; adj s.-atroz, fero.z , lioz, veloz;
Â. LINGUA PORTUGUEZA 205

Badajoz, Booz, Munhoz, Palafoz, Purto de Moz, Quei-


roz. Exc. :-algôz, arrôz: Algôz, aldeia de Portugal.
E' tambem aberto o som do o tonico:-
1.0-Nas desinencias em ol: -anzol, lençol, farol, etc.
2. 0 -Antes de c, g ou p, seguido de consoante differen-
te:-cocto, dogma, mogno, Progne, copta, dioptra, dioptro; e an-
tes da consoante dupla x , com o valor de es, seguido de
vogal: -noxa, oxa, heterodoxo, hortodoxo, paradoxo.
3. º-Antes de desinencia nasal: - covão, lodão, urphão,
orgão, sotão, Cristovão, Pedrogão; dolman, dolinen, joven; ordem,
pollen, colon, croton, etc., excepto gôlfão; ou terminado por
l ou r: -movel, docil, fossil, mobil; dollar, procer, reporter, re-
volver, soror, excepto aljôfar, Almodôvar ( I 5 r ).
4. -Nos vocabulos esdruxulos :- abobada, abobora, apo-
logo, astrologo, copia, inoj,ict, oculo, rotulo, osculo, hc,spede, h<,S·
tia, oraturio, ocio, odio, relogio, nocloa, anthropophagd, sarco-
phago, incolume, modico, prodigo, provido. periodico, s0lido, se-
rotino, etc. Exc.: -côdea, côvado, esôphago, fôlego, lôbrego, sô·
(rego, trôpego, serôdio ( 152).
O timbre do o to nico é fechado:- -
1. :-No digrama ou, antigamente, e por alguns, ainda
hoje, considerado ditongo, mas que actualmente quasi
todo_s, excepto em pontos do norte de Portugal, pronun-
cíão ô -sou, dou, vou, amou; grou, couve, louco, mouco, pou-
co, etc.
2.·-No ditongo oi: -boi,puis, depois,_sois, e nas termi-
ções oiço, oiça, oiçe, oiço, o~la, oilo, oi1na, oino, oirn, oire, oiro,
oisa, oiso, oita, oito, oiva, oivo. Excep'.o nas terminações aia e
oide e em comboiou comboio, introito, Alc oy, Eloi, L oios (153);
segundo alguns, tambem em coito, para differença de côito,
ou cozido, e coito, ou coiito, coutada ou refugio. Algumas
pessoas dizem óito, dezóito; mas, geralmente, pronuncia-se
óito, llezôito (r 54). Em Lisboa, usão óito, dezóito ( 1 55). ·
E nas seguintes terminações:-
Oa: -boa, broa, canoa 1 c01-oa, lagoa, leoa, Zoa, noa, pessoa,
206 A LINGUA PORTUGUEZA

proa, toa, etc. Figueiroci , Gamboa , Goa, Lisboa, Qu.i-


loa, e tc.
Oo:- enjoo, voo, Acheloo, e tc. Exc.:-Eóo.
Oba: adoba, alfarroba, m-roba, loba, Exc . :-soba, n ome
africann, e alg un s nomes de plantas :-acaricoba,
andiroba, caroba, guabiroba, pinrlr,ba.
Obe:-ad,1be, arrobe (156 ).
Obo:- adouo, bobo, globo / 157), gobo, lobo, Farrobo. Exc.:
-lóbo, ·e adj. - p1·óbo .
Obro: - cobro, desdobro, dobro, rerlobro, sobro, sossouro, tres-
dobro: adj.- salobro. '
Oce:- rloce, ~ubs. e adj.; mas cróce e adj.-precó1;e.
(J1·ho:-rrn·ocho, mocho trncho; ad js. - chocho, mocho. ·
Or:o :- · barrnco, uicharoco, bichoco, choco, coco, rlesr,nr:o, enc
xacoco, fm·ricoco, ma coco, marzoco ( 185), soco, toco,
·troco, ad j . - rlonninhoco. Orenoco, Tino co. Exc.: -/Jló
co, cróco, fió co (r 59), fó co, fróco, sócco; Marrócos.
Oço: -alnu,r;o, alvo ror;o , caro ço, destroço, emboco, moço, pe/;-
cor;o, po~·o, rnço, tremoço, t-r 0ço.
Odu: -apodo ( 160 ), bodo ou voclo, denodo, engodo, epoclo
(r 6 1), iodo \ 162), lorlo . rodo ( a ródo ); ad js.--godo ,
ostrogoclo, visigodo, toclo . Exc .: - mórlo, nódo, óclo,
nome asiatico.
Odre : - od1·e, ad j. - podre; Algodres, a Ideia de Portuga l.
Ofa :-alcufa, estofa, fofa, i·ofa: ad j s. --balofa , fofa, jalof'a,
ro fa. Exc.: -.fai·ófii.
0/m·: -aljofnr.
Ofo ·- an·<!(o, cu(o, estofo, mofo, rifo; adjs. -balr,fo, fnfo ,
jalofo, rofo.
O!JO: - afogJ. IJotnfiJgv, 1l1sifogo, fogo, gogo, j ogo, rogo
( r63 ): B otafogo, Diogo. Exc.: - dogo , logo, ant. ( lo-
g 1r) e adv. lógo. Em Po rtugal , alg uns pronuncíã o
demagógo, mystagógo, p eclugógo; ad js . :- - emin~nagógo,
sialagógo. No Brazil, comm um e nte, deniagôgo, myslct-
tagôgo, ped1J.gôgo, emmenagógo, sialagôgo ( 194).
Ogro:-logro, mallog1·0, sogro .

Biblioteca Pública Benedito Leite


A LINGUA PORTUGUEZA 207

qje:-lto}e.
Qjo:-antojo, arrojo, bojo, despojo; enojo, estojo, fojo, uojo
rqjo, tojo _: adj.-annojo.
Olho:-bolho.
mcha: - colcha.
Oldo:-soldo (r65 ), tu/do; Bnrll/()ldo, Harolclo, J,eop.olrlo.
Olrlro: -ploclro.
Ol('o: - _qôl/o, regolfo; Arlôlfo. r:-onrlôl/o, Rorlôl/o.
muo: -fr,lgo.
Olha: - b() lha, encolha, escolha, /olha , olha, pollza, r11llw,
solhn, trolha; adis. - rnlha, zarnlho . Exc. -- rlPs(úl/111,
mólha.
O!lw: -núrolho ( 166 ), a,ntolho, escolho, /i'l"i'olho, folho, fmn-
golho, geolho, molho, f/lho, pimpolho, piloho, remolho,
repolho, restolho, solho, trainb,'J lho, adj.- rolho. Exc.
-mólho (feixe).
Olm.o:-Colino, olmo.
Olo ou ollo:-arrolo, bolo, carola, cebolo, consolo, dl'sco11-
solo, nuicololo, miolo, rebolo, rolo, tijolo; ad j. tolu.
Exc. :-bulinhólo, cochichólo, cóllo, rlólo, pólo, proto-
càllo, s0lo ( 167 ), subsólo, timcóllo; Apz1óllo, Elóo , Etú-
lo, (168), Mausólo (169), Partólo .
. mpa: .. polpa.
Olsa:--bolsn .
Olso: - bolso, deseinuolso, embolso,
Olto: -absolto, rle.wmoolto , cnl'olto, revolto. solto.
Olva: -volva.
Oli-o: -polvu, rnlvo.
Opro: ris.sopro, esr:opro, sopro.
Or:-a(ur, nr:tm·, amur, co1·, dm·, flor e muitos outros
nomes substantivos e adjectivos. Exc. -arredor ou
redor, cor, ( de cór), major, Sor \ I70), suor (q1):
adjs. - maiur e mor. melhur, menu1, peor. Tambem
no Brasil, geralmente, se diz belchiór ( adélo).
0ra:-Os femininos,lo~ nomes em or:--possuidura,pro-
fessurci, senlwra1 SUJJeriora1 etc_ Os. outros vocabu-
208 A LINGUA PORTUGUEZA

los masculinos e femininos desta terminação tê m


som aberto: albacora, amora, aurora, botafvra, cai-
pora, cantiplora, clemora, em~oea, escroa, esproci, fio-
ra, hvra, mel~wrri, mc.,ni, nura, penhoi·a, plethvra,
ad js. - · canr1ra, fructijlora, noti:fl,vra, sonora; ad v.
conj. e int.-agora , f ora, ora; Cora, Dinora, Isiclo-
ra, Pandora, Samora, Theodora.
Orça :-alcorça, comburça, Cvrça, {vrça. Exc. -nórça, órça.
Orco: - porco, de bvrco. Exc. - o·rco, Phvrco.
Orço: - comborço, corço, escvrço, es/ vrço, esturço, reforço.
Onlo:-abordo ( 173), acordo, bordo (arvore) desacorrlo, re-
brado, torclo; adjs.-balordo, gordo. Exc.- bórclo , de
n:i vio, bmnbórdo, estibói'do, resbórdo, heptacórdo, he-
xacórdo, tetracórdo.
Orgn:- sorgho.
Ormo:-mormo.
Orno:- aclorno, bochorno, codorna, contorno, corno, f orno,
JJiorno, retorno, suborno , turno, transtorno; ad j. -mor-
no.
Orpa:-lmpa.
Orpe: - torpe.
Orpo:-cn rpo.
Orra :-alforra, b,1rra, cachamorra, cachorra, gancliorra,
gorra, horra, masmorra, modorra, pachorra, pichor-
ra, pitorra ou piorra, saborrct, zorra; adjs.-beatorra,
chamorra, forra , modorra, maclturra, mazvrra, zor-
ra; Anclorra, Gomorrha . Exc.-desfórra, forra.
Orre:-torre.
Orro: -cachorro, chichbrro, chinchorro, corro, entreforro ,
· forrrJ, corro, jon•o, gol'ro, morro, soccorro adjs.- ch'a-
morro, ma1orro,
Orso: -aborso, corso, ilorso ( 174), morso ( 175 ), torso_; adjs.
-curso, da Córsega, torso. Exc.-rem6rso.
Orto:-aburto, conforto, llul'to, :orto (couve ), p4lrto, torto;
adjs.-absurto, morto, troto. Exc.-órto, nasci mento
de astro ,

Biblioteca Pública Benedito Leite


A LINGUA PORTUGUEZA 209

Orvo: -corvo, estorvo, so1'vo; adj.-torvo.


Orze: -quatorze.
Osco :-adj.-fosco, tosco; pron. e prep. comnosco, com-
vosco; Bosco, Moscho. ·
Oso:-esposo, raposo; grande, numero de adjectivos, ai-
roso, brioso, ditoso, formoso, etc. Barroso, Pedroso,
Trancoso, Yelloso.
Osso:-colosso (176), fosso, ~nolosso (177) , osso; ensosso,
grosso, molosso. Exc.-adjs.-nósso, vós!o .
Osto:-Agosto, costa, encosto, entrecosto, entreposto, imposto,
gosto, ·mosto, posto; partic. posto e seuc, com postos.
Ostra:-costra, ostra, sostra. ·
Ostro:- colostro, rostro ( 178) .
Oto:-arroto, bârboto, boto, ceroto, coto, gafanhoto, goto, loto
(179), . perdigoto, piloto; adjs.-boto, garoto, maroto,
minhoto, reboto, roto; Botto, Peixoto. Ex~.-nióto, ter-
remóto, vóto; adjs. -devóto, ignóto. immóto, nótho, nóto,
rein&to; Ctótho, Dóto, Nóto, Otho.
Otro:-potro.
Ovo:-corcovo, _covo, ovo, povo, renovo; adjs.-covo, novo.
Oxa (x portuguez; chiante): - coxa, pataro.xci; adjs. - coxa,
roxa.
Oxo (x port.~:-11·oxo,.p·intarroxo; adjs. -coxo, froxo,
roxo.
Oze:-doze.

Ti!RCE[RA PA RTE

1\-IetaphoI\ia de vogaes tonica1i

Metaphonia do E

,Vimos que, por influencia da vogal átona, final, ha


metaphonia ou mudança de som, no e tonico, precedente
das flexões verbaes da 2.ª conjuga ção : - Som fechado,
~10 A tINGÜA i'ORTUGUEZA

quando a vogal átona e u ou a; aberto, sendo e a vogal


átona:-ilêuo, dêvas, clêrn, déves, déve, décem.
Ha tambe m variação de tim bre, entre o e tonico da
1. " pessoa do presente do indicativ o, nos verb0s da r .'i
conjugação, e o dos substanti)l'OS bo mographos; tê m ;i
aberto com o verbos e fechado como nomes:-Acerlo, ade-
reço, a/ferro, apeyo, ap,wflo, iiperlo, apl'eçu, ar, emedo, nn·r,11ie:;so,
arrenego, a:;se.~to, atropelo 1 lml'l'llo. co.la/clo. ca ,icello, carreto, cer-
1;0, cerro, cevo, conieço, 1,oncerlo , confesso, degredo, desespero, cles-
prezo, desterro, embeleco, emprego , encerro, enlevo, e11redo, enter-
ro, enxerto, erro, esmo, espeto, esterco, gelo, governo, modelo (r 8o),
pelo, peso, 1·efre:;co, regelo, rego, relevo. segredo, selto, socego,
tempero, tras/"e!JO, tropeço, .::elo . .\las não se dá ~e mpre esta
metaphonia. Sã0 excepções:-1.· com e abe.rto, no verbo e
no nome: -anhelo, civl'esto l, 8 r ). asserto, berro, <leci·eto, deserto,
desvelo, cloesto ~182), elo (1 83 ), esniern ( 184 ), f'erl'o, flagello, in-
f enw , inverno, martello, preyo, processo, protesto, quebro, i-eque-
bro, regresso, re:;to, sequestro, cerso ; 2.· com e fechado, no no-
me:-cichego, concheyo, e antl'!S das co nsoantes palataes eh,
lh, j: - npetrecho, bocl'lecho, fecho, desf echo, appai-ellw, e.:pelho:'
1ul~jo, nrquejo , /)oce,jo, bosqu~jo, /m rcejo, col'teJo, cotejo, rlesejo, des-
1Jcjo, feste,jo, {JW'f/itre,jo , qracejo, hm]Jejo, lampejo, manejo, motejo,
pejo, varejo.
O pronom e elle e os adjec tiv'os este, es.-;e, aquelle, mudão
o som fechado para aberto, na fórn~a feminina:- élla , 61;ta,
aquélla. O mesmo aconteceu em :1lguns substanti vos: - ca-
<lêllo, cancêllo, canêllo, capêllo, ourêlo e cailélla, canc6 fla , ccrnélla,
capélla; ouréla.
Em todos esses casos, ha simples mudança de gra d:i-
ção, no som propri o do e; ma s, em di re rentes pontos de
Portugal , mod erna m ente, deu-se troca do e em a, co mo já
dissemos, no dito ngo ei ( 185; e antes da s co nsoa ntes pala-
taes), x. eh, lh , 1th, pronunci:1ndL1-se gl'ei, fr,i, rei, a,;iei, ameis,
beijo, reia, n·ia, 11assciu, cel'ej11 , sejn , pnitejo, rcju, 1111•xo, ji,dt, 1,
abelha. , telha, lenlta, tenha, venho, etc., c_o mo: -grâ i, lâi, rti:i,
~mai, ainâ.is, /Já0'o, sâici, i:â1:c1, pâssaio, cerüja, sôj a, protâjo, n"ijo,
A LINGUA PORTUGUEZA 211

mn.xo, fâcho, abâlha, tâlha, lô:nha, tânha, vânha, etc.


E' pwnunciada do mesmo modo a terminação em, na
qual o e tem o valor de ei-bem, sPm, quem, tem, i:em, como
bãim, sãim, kãini, tãim, vãún .
Essa pronuncia era vicio dos ru sli cos, do fa lar saloio.
Ainda em meadc,s do seculo passado (r845 ), dizia Roguête,
no seu Cocligo do bom tom, (r 8ó) , que era «defeito de pro-
nuncia ção da gente o(dina ri a de Lisboa».
Generalisou-se, poré m, ent re a gente cu lta; Castilho
admittiu-a, no seu Jllfethodo ele leiturn ( r87 ), como n ormal
( I 88).
No Brasil, poucos assim pronuncíam, e os nossos po-
etas não rimão , como diversos dos portuguezes, tenha com
montanha, e mãe co m bem.

II

Metaphonia do O p89 ;

No o, c0mo no e, alé m da metap honia nas flexões dos


dos verbos da 2.ª conjugaçã o, por influ encia da vogal áto-
na seguinte (coi ·ro, corra, córres), ha a que distingue a r.ª
pessoa do pres. ind ic ., nos verbos da r.a. conjugação, e os
substantivos homographos, delles derivados, ou de q ue
elles se derivão ( r90) . Têm o fec hado como nomes e aber-
to como · ve rbo :-aborto, acotdo, afogo, almoço, antojo , apodo,
arrocho, arrojo, arrnto, bordo, choro, cobro, conforto, r.onsolo, con-
torno, corcovo , rlesafogo, desaforo, desfolho, clespojo, destroçô, do -
bro, emboço, embolso, encosto, engoclo, enojo, esforço, esgoto, espo -
so, estofo, estonio, eçtorvo, ferrolho, fogo, folho, forro, gosto, gozo ,
jogo, jorro, logro, molho, namoro, olho, posto, reboco, i·ecobro, re-
corclo, recosto, redobro , refolho, reforço, renovo, restolho, retorno ,
1·ogo, rajo, rolo, soco, sopro, sossobro, suborno, toldo, torno, trans -
torno, troco. Como se vê, ao contrano do que se dá no e,
mantem-se a metaphonia, ainda quando se segue consoan-
te palatal, eh, lh, i :-arrôcho e eu c,rrócho, ôlho e ólho, despôjo
212 A LINGUA PORTUGUEZA

e despójo, etc. Só é ig ual o som do o no verb'o e no nome:


-fechado, em enjôo, vôo; aberto, em clecóro, tópo (choque) e
vóto 119 1).
Em muito5 nomes paroxy tonos, que têm o nas duas
ultimas syllabas, o o tonico é fechado no singular mascu-
lino, e aberto no feminino e no plural de ambos os gene-
ros. Ha um oxytono em que o o fechado do singular toma
o som aberto, no feminino e no plural:-avô, cwó, civós e os
seus compostos- bisavô, trisavô, tataravó. Este nome era,
antigamente, paroxytono:-ciuóo, avóa, avóas, <lepois avós,
avóas, depois avós (192 ).
Esta metaphonia, peculiar ao portuguez, é uma diffi-
cnldade da pronuncia da nossa líng ua par:.1 os estrangeiros,
e ás vezes ainda aos naturaes occasiona erro ou duvida;
acêrca de algumas palavras, ha divergencia entre os mes-
mos phonologos, por ter variado o uso, ou por ainda ser
vario ou in,:erto (193 ). ·
Nisto, como em tudo o mais das ling uas, o us0 é so-
berano; mas as observações, que abaixo apresentamos, po-
dem esclarece-lo e servir de norma para o regular, nos ca-
sos duvidosos (194):--
1 ." A metaphonia, na flexão feminina, precedeu a do
pura! e della foi causa. O o tonico, por via de regra, tem
som aberto na penultima syllaba, quando a vogal átona,
final, é a. O plural feminino fez dar o mesmo som ao mas-
culino.
Ainda no tempo de Duarte Nunes de Leão, muitos di-
zião :--novo, nóva, novos, nóvos; tôrto, tórtos, tórtas, etc, e os
polysy llabos geralmente só tinhão o som aberto na flexão
feminina. Quando o som é fechado, na fórma feminina,
tambem o é no plural; e os nomes que não têm essa for-
ma, por via de reg ra , têm, no plural, o mesmo som (195).
A algu 1s destes ultimos, veiu o uso a dar som aberto no
plural (196); mas, quando fór incerto o uso sobre o som do
plural de nomes que não tenhão forma feminina, devemos
dar-lhes o som fechado.
A L!NGtJA PORTUGUEZA 213

Como o o toni co, no plural , é sempre igual ao da fl e-


xão feminina, póde esta, quando a houver, se r vir de nor-
ma para o plural, pois nella r,ing uem e rra , a não ser algu m
estrangeire (197).
2.ª - O maior numero dos nome,, em qu e ha meta-
phônia do o, é de duas syllabas, e a ntigamen te so ella se
fazia em dissyllabos e se us co mpostos (198 ).
O u so estendeu-a, depo is, a alguns pollyssylabos.
Quando, poi s, o nome fór polyssyllabico, ;e fô r incerto o
uso, deve-se preferir o som fec hado .
3.ª-Üs no me s h o mograp hos de fórma verba l, da 1 .ª
conjugação , conse rvão, em geral, o so m fec ha do. Prevale-
ceu o aberto em alg uns :-despojos, clestróços, esforços, fólhos,
forros, y'ógos, ólhos, pórtos, refólhos, refórços, renóvos, rógos, tór-
nos, tr0cos. Sem pre, porem, que o uso não fôr commum,
deve-se dar prefe rencia ao som fechado, como abôrtos,
acôrrlos, aclôrnos, almôços, alvorô ços, alvorôtos, brôtos, chôros,
confôrtos, contôrnos, co1 ·côvJs, espôsos, estài-vos, gôzos, lôgros,
retornos, transtôrnos.-
Nos homograp hos de fórm:i ve rbal da 2.ª conj ug ação
man~em-se o som fechado, excep t o em soccórros. '
4.ª-Co mo se verá das li stas que damos em segu iJa ,
áparte os num erosissimos adj ec tiv os em oso, o numero dos
nomes e,m que, no plural, não muda o som do o t onico é
muito maior que o daquelles em que se faz a mudança.
A metaphonia não é, pois, a regra gera l dos nomes que
têm o nas duas ultim as syllabas, como dizem alguns a uto-
res (199) ; só mente o é nos formados com 0 s u ffixo oso, e
sem outra excepção que a do substan ti vo mposo (200). Nos
nomes das outras terminaç ões, a regra é a permanencia do
som; a metaphonia é a excepção.
Deve - se, portanto, estabelecer, como norma gera l:-
Sem pr.! que a metaph onia não fór de u so co mmum, 6
p referivel o so m f~chado _: em tal caso, o aberto causa es-
tranheza e desagrado, m ó rm en te nos nomes pouco usados
no plural.

Biblioteca PUbll ca Benedito Leite


214 A LINGUA PORTUGUEZA

Os vocabulos que têm o fechado, no singular masculi~


no, e aberto no feminino e no plural, são os seguintes:-
Adjectivos e participios:-todos os adjectivos forma-
dos com o suffixo oso, posto e os seus ·compostos -canhoto
( 201 ), choco, clonninhoco (202), go1'O (203) 1 grosso, morno, morto,
noi:o, tot·to. Substantivos:-abrolho (204) , antolho (205), apoclo
(206), bota(ogo, cachopo, caroço, co fo (207), corcovo (108), corno,
coro ( 209 ), corpo, corvo, covo (210), despojo, destroço (211 ), entre-
forro, epodo (212), escolho (213), esforço (214), fogo, folho (245 ),
forno, foro ( 216), forro, fosso, globo (217), horto (218) 1 jogo, mira.-
olho ( 219 ), miolo, molosso, olho, osso, ovo, pescoço ( 220 ), poço,
porco, porra ( 221 ), posto, povo, rebordo, reforço ( 222 ), i·enovo,
rO/jO, sobl·olho, soécorro ( 223 ), sogro ( 224 ), tijolo ( 225 ), tacho
(226 ), tojo, torno ( 227), toro t228), tremoço _( 229), troco (230) 1
troço ( 23 r ).
Nos seguintes, o o tonico, fechado, do singular mascu-
lino, não muda 1le som, no feminino e no plural
Adjectivcs e participios:-absolto, ausorto, annojo, ualofo,
balordo, bobo, boto, caboclo, caolho, chcrnvJrro, chocho, covo, co.x;o,
criolo, desenvolto, enssosso, esto fo, envolto, fofo, forro, fosco, (ro-
xo (232 ), godo, gordo, goso (cão ), jalofo, maroto, maz,Jrro, minho-
to, mocho, 1n(JÇO, oco, reboto, revolto (233),rofo, rolho, roto, roxo,
salobro, solto, todo, tolo, torvo (234 ), tosco, xacoco ou enxacoco ,
zarolho (235), zorro. Substantivos:-abordo ' (236), aborso,
aborto (237 ) 1 acordo (238), adobo, adomo (239), ci/ogo ('.140) 1 al-
moço ( 241 ), alvoroço, alvoroto, amr1jo ( 24 2 ), ,antojo ( 243 ), arro-
cho, arvofo, arrojo, arrobo ou arrolho, arroto, assopro, atocho,
barboto, bcii·roco, bichoco, bioco, bochorro, boclo, bojo, bolbo, bolo,
bolso ( 244 ), borclo, arvore, boto, peixe, broto ( 245 ), cachorro,
canhoto, ·pedaço de páu nodoso ou torto, carola, cavoco, ce-
bolo, cerefolhu, ceroto, chicharro, chinchorro, choco, peixe,
choro, pranto ( 246 ), charro, cocho, coco, codorna, colosso, col-
mo, comuorr;o, conforto ( H 7 ), consolo (248), cotorno (249 ), co1·-
ço, corro, corso, casso ( ant.), casto, costro, coto, denodo, desa-
cordo, desafogo, desaforo, clescoco, desconsolo, desembolso, do-
bro, dorso, emboço, embolso, emborco, encosto, e1idosso, engodo 1
A LINGUA PORTUGUEZA 215

enjoo, enojo ou anúJo (250), entrecosto, enti·Jlnpo (25r), esbo -


ço, escopro ( 252 ', escorço, esgoto, esposo ( 253 ), estofo, estojo
(254), estolho (255 ), estol'no, estorvo (2:,6), estrúpo, farricoco ,fer-
1·olho, fojo, folgo ( 2 57), ji·angolltu, fr oxo, gnfanhoto, gal'oto, geolho,
a'nt. (25 8) , gobu, gr1go, golfo, golo (pop.), gorro, gosto, goto. gozo
(25 9), _jorro (260 ), lobo, lodo, lrJg.-o (26r ), loto, inac;co; mallugro,
marzoco, mocho, mofo, molho, morino. morro, mosto, urtmuru, no-
j u, olmo 1 perdigoto \ 26 , \ pnfi,Zolo, pic,.,,rolo on z; riruln e JJicoto ,
piloto, vimpolhu, pfot,o·roxo, pi:olho piornu, poltlro, pollo. pofl'o ,
putro, 1;aposo, i·eboco, i-eboto, recorrlo, recosto, i·emolho ( 26 ,; ), re-
polho , restolho ( 26+ ), 1·elonw, roço , 1'01lu, i·oj'o, rajo, rolo , ru to,
sobro, a rv ore, sobrosso, coco, murro, solrlo ( 2_65 ), solha, sopro ,
soro ( 266 ), sorve, ~ 267 '. , sossobro, suborno, tuco ( 268 ), tacho,
toldo, tolho, torclo (~69), topo, extremidade, trambolho, trinco-
lhos, bl'inculhos, trocho, voclo, volvo, voo, xwToco ou enxarroto.
Demagogo, peclrigogo, eminenagogr, , myslagogo, sialagogo t 6 111
no Brasil o fechado, e em Portuga l o :aberto, e m ambo·s
os num eros. O mesmo se dá com o o tonico de mysanthropo
e 11hilanthropo.
Nos nom es proprios e appellidos de familia, não se faz
a mudança de som: -Acl6lphos, Roilôlphos, B erthôlclos , L eo-
pólclos, Diógos, Esôpos, Lópos, J;àrróbos. Gnleôt:>s , Pcixó tos,
Tinócos, 1llakulólús, etc., ainda q uando sejão nom es que,
como appellativos e adjectivos, tomão <> aberto no plural
( 270), os Bvta/ogos, Cónos, Pó,-tos (2 71 ), Vafpàrtos , Barrõsos,
Pedrósos, Trancó~os, Vellósus, e tc .

gai ,1,
;e J 1-io'
ro-
-Sl
216 A LINGUA PORTU~UEZA

No tas do capitulo I V
(1. ., PARTE}

1. 0 - A variação do timbro lilopendia da quantidade, ~orno


já dissorrios: - Marius Victorinus :-o, ut e gerninum voeis sonum
pro concl-icione temporis promit.
Servius, in Donat:- vocales sunt IJUÍnljtie, a, e 'i o u, ex his
dure , e et o aliter coireptu: . .. e quando producitur, vicinwn cst ad
sonitin i litera;, ut meta, q_uanclo autem con·eptuni, vicinwn ·est acl
sonum diphtongi ut /iquus ... o prnductum quando est, ure sublalu
vox sonat, ut Roma, quando ccnnptwn, ele labris 1:ox exprint'itur,
1d rosa. .
Sergius, in Donat: - wcales sunt quúzque ha; non omnes va-
rios habent sonos, secl tantum dum e et o, nain quando e correpturn
tst, sic sonat, quasi i, ut demens. . . o quitndo longa est, intra pa-
latu'ns sonat: R oma orator; fJ.Uanclo brevis est, pJ·imis labris· expri-
rnitur: opus, rosa.
2.0 -0 mesmo dizem outros grammaticos latinos, antigos .
- Vid. Seelmann, Die ausspraclte des latein, Vo calismus, e, o.
3. 0 - No sou opusculo sobre a reforma ortographica, em
sentido sonico, p . 3, 11otas, escreve o dr . José Barbosa Leão:-(,0
sr. dr. João de Deus quer que haja quarto so:n do e. Alem do
som de e surdo e de e fechado, diz que temos um e agudo, o
qual exemplifica por meio de pé o de fé, e um e aborto, o qual
exemplifica por meio de bello, aclega, panella, etc. Ora ainda não
achei uma pessoa que admittisse esta distincção. Para mim , o
para o geral das pessoas , o som do f3 não differo 110s dois casos:
em ambos, é simplesmente o que cham am as é aborto».
E que diria dos treze valores, que o sr. Go11çalves Viana
di~tingue nessa vogal, segundo a pronuncia de Lisbàa '?
4.0 -Monto Carm ello, § IX, 18; Gonçalves Viana, Pronun-
cia N1Jrm,il, 56, e Fran cisco de Andrade, junior, cap . I, art.
f.· , § 2 .· c: -E' grave o accento na syllaba antepenultima, qau-
tes de m, -n, nh, v . g. :- cômoro, estàinagv, errôneo_: não em todas
as palavras , porque ha dellas a q' o uso dá accento agudo, v. g.:
- acónito, Aónio, colónia , chrónica, 1Jl'ónubo, '1:ómito : so o uso,
uão regr! Lalguma, nos póde dar con,b.ecimcnto dellas» .
/ ' <.- 5.0 -rrdotaphonía, por influencia da vogal átona sobro a tà -
mca antr co 1lonte, sem olhante á quo se füt cm bêbo, bébes, dêvo,
déves, cfü ·v, córres, môvo, mó ves, etc., e á que tambem faz em nas
provmcit 1 em t'eino , t,emes, como,
• • ,CtJ do su, ' .
comes, e t c. P or es t a ana-
Jogia, e pJr achar mais bello o som aberto, o dr . Barbosa Leão
«;ltúzora fàsse preferida essa pronuncia; mas a commissão no-
A LINGUA PORTUGUEZA 217

njeada no Porto, para propôr a reforma da ortographia, adoptou


a do som fechado, por ser mais geral. Vide o citado opusculo,
pgs. 9, nota. A mesma commi ssrw adrnittiu o som fechado do
a nasal, que o dr. Leão, seguindo a pronuncia do Jvlinho, contes -
tou não reconhecendo nessa vogal senão dois sons, o surdo o o
aberto, op . cit .. pgs. 5, 81, nota, e 90. -
G. 0 - Antigame o te, escrevia- o bt;e, tr;e, v,;e, o que represen-
tava o som de duas vogaes que ficavão juntas, pela quéda tla
consoante medial, das palavras latinas -bene, tenet, venit: - d'ahi
es~a pronun cia di to ngada, que so estoi1cleu a todas as tor ruina-
ções semolhautos.
7.º-A pronuncia é difforeote cm Portugal, nas três gran-
des regiões -norte, ce ntro e sul . Vide o nosso capitulo: - Diale-
ctos de Portugal.
A do centro, que, por ser a de Lisboa e Coimbra, so consi-
dera com o direito de prevalecer no falar da gente mais culta, é
a que ensina o sr. A. R. Gonçalves Viana, na memoria apresen-
tada a um congresso internacional o publicada com o titulo E x -
posição da pronuncia normal portngueza. para uso de nacionaes e
estrangeiros. ( Lisboa, Imprensa Nacional, 1892). O autor é um
sabio philologo, ·a r esp eito do qu~l o sr. Candido de Figueiredo,
sou collega, escreveu, em um dos artigos saídos no Jornal do C()in-
mercio, do Rio, com o titulo -O que se não deve dizer (XX~V):
- « Eu não sei se no Brasil é conhecido o dóutissimo academi-
co Gonçalves Viana; o que posso assegurar é que, nos grandes
centros scientificos do toda a Europa, é considerado como o nosso
prim eiro foneticista, da mesma fórma que é o primeiro poliglo-
ta portuguez, e a .G.ossa primeira autoridade em questões de fi .
lologia rornanica ».
A pronui:icia do norte (En tre -Douro e .Minho) é aquo so
encontra num opusculo, publicado em 1878 (Lisboa, Imprensa
Nacional), pelo de. José Barbosa L eão, in titulado : - Coleção de
estudos e clocunientos a favm· rla ref'orn vi 1la ortogra,fir.i, em sentido
sonico.
A do st1 l (Al garve) é a do Diccionario Prúsodico, de J oão
de Deus, que a não dá como dialoctal, mas como a melhor pro-
nuncia.
Coo esta ultima é que tem mais semelhança a do Brasil, a
respeito da qual vide:-O ühoma do hodiernn Portugal, compa -
raclo com o do Brasil, pnr um brasileiro (José Jorge Paranhos
da Silva), Rio de Janeiro, 1879. o Silvio Romero-Estudos
sobre a poesia popular elo Brasil, Rio de J aneiro , 1888. Vide
tambom '. Adolpho Coelho, Diccionario Etymologi,0 1 p111itaf ã• .

Biblioteca Pública Benedito Leite


218 A LINGUA PORTUGUEZA

Quanto a clifforonças dialectaes, vide J. Leito de Vasconcellos ,


Esq_11isse 1lune clialectologie pvrtugaise, 1901.
8. -Ate no espanhol, que não tem e surdo, assim so 'pro-
nuncia esta conjuncção, o se escrevo 11; é só antes elo nom e
começado por i ou hi.-Pedro y .Juan, Maria y Marta, Peclro é
I~idr,i, Maria é Ines, J uan é 1-liginio.
9.-Tarnbem no Rio de J aneiro pronnnoião é ua preposi-
ção de: - dê lá, clé câ, dê lon_qe, dê perto, rlê noite, dê pressa/ clê
rngrtr, dê 1·e]ier1.te. Os que vem do norte estrao hão esta difforon-
ça de pronuncia.
A provinciA, em que a pronuncia mais se approxima da
portngu0.za é o 1\fnn1ohão; mas da por tng neza a nt iga, que ain-
da pel·dnra, sobretudo no exfremo sul de Portugal, não uo que
hoje se di como a melhor, pur ser a da capital.
10.- D uarte ~un es de Leão, Origem da lingua portuguesa,
cap . V 11: -« Os espanhoes antigos, principalmente os por-
tuguezes, chflmavão aos moços pequenos ou meninos, parvos,
segund o se voe das suas scripturas antigas, como tambem lhe
chamavão os latinos . . . o que se vee da palavra meninos,
suporiarivo de parvos, de que formavão duas palavras tliffor on-
tes na fo rma, . endo ambas de um mesmo significado. Porque
aos dedos mais pequenos chamamos meiininhu:s, e aos moços
mais pequenos menz'nos, havendo os dedos e os moços de cha-
1-oar-so por hum mesmo nome mínimos,>.
João Franco Barreto , Ort. da lúig. poi-t., pg. 257:- << Dire-
mos minioice, e não meninice, porque vem ele miniinus».
Aclolpho Coelho, D ice., acceita esta etymologia: F. Diez,
Dice ., tomo I , v º mina . julga mais provavel que a origem pri-
maria seja o celtico miil. E' inadmissível a etymologia núniiío,
e a derivação de niíío do grego inis, filho, criança; -no espanhol,
ha ramb om menino, do que niíw é abreviatura.
11.--Vid. Gonçalves Viana, Pronuncia normal, n. 56, letras
e o i. O i, nestes 0asos do consoante palatal. é o 1'. muito teuu e,
quasi nullo, como em 11i'?iistro. v'sita. O sr. Gonçalves Viana dá
o como equivalente do e attenuado ou levíssimo; mas algumas
yezes distingue esses dois sons reduzidos, que indica por meio
de s ignaes cliacriticos, que vào com o signal de vogal breve,
i1as segniutos transcripções do mesmo autor ( e, n. Ouvidos
brasileiros difficilmente poderão perceber essas gradações, tão
subtis, especialmente o so m , ciciaclo, profericlo em segredo», que
a liás diz o douto glottologo portuguoz ser peculiar do alguns
d1aloctos allomãos e do di11 amarqnez (n. 16 ).
O e surdo, e, <é o valor mais geral do todo o e atono, en -
tro duas consoantes, nenhuma das quaes seja palatal, quer no

Blblloteca Pública Benedito Leite


A ,..L!NGUA PORTt1Gt1EZA 219

interior da palavra, quer final. Ex.: -pelo, znla, pelos, pellis, ce-
der, deverá, de, que, se, me, te, lhe, apesar de palatal, por ser
final, etc.
Este e torna-se muitas vezes nullo, se fica entre duas con-
soantes. Se é final, precedido de consoante surda, que não seja
palatal, mormente explosiva, é nullo também. o esta cousoante
aspira-se . Ex. --desse, Fafe; tape, sele (-dls, fa(: tap,. sét). E'
tambem em geral nullo, entre f, v on consoante explosiva, e r,
cxcepto no futuro e condicional dos verbos; assim, verão, subs -
tantivo, pei·igo, feroz, (vrãn , prigo, fróz); mas v/Jrão do verbo vêr,
teria , do verbo têr, fitro cidacle, . Noutro logar ( 11. 68 ), diz que
t/Jrâs é differente de trás.
«E' frequentemc)1te uullo tambem, antes de r e da fricati-
va s. Ex.- querer, parecer, que usualm ente se pronunciam ki'-er,
parser. Em razão desta suppressão do IJ, em contacto co01 r, o
prefixo per confunde-se, na pronuncia, com o prefixo pre; assim
perdição e preclicçcio, pertinho o pretinho, na elocução usual, pro -
nunciam-se ambos valendo o r por vogal,prdição, comoprtinhnb.
. Tem valor de o, «antes ou depois de palatal, incluiudo s
(=a.x ou eh\ . Ex.--clesp'ir, estar, espelhar, desenhar, chegar1 sau-
dades, ennesga, (=cl'tspir, )'stctr, /sp'tlhar, cléz'tnhar, xYgar, sauda-
tlYs, l'fl1xgar). Se ambas as col'lsoantcs com as quaes está em
contacto, ou a uuica, sfw surdas, o ( é proferido em segrêdo, ci-
ciado. Ex.-pestcma ( -vrstána ). Se a e se segLrnm l, r, z s, com
valor de z ou se o precedem l, r, o e vale 1'f. Ex. - !Jelar, geral ,
J esus, legião , reger ( -ielar, y"1!rnl, J ésus , U1gião, r/Jjer).
O i tem o som r eduzido, <Cm coujuncção com consoante
palatal e sempre antes de s=x. Ex. -cl/sta1tcia, srsmcir, b'tsna-
ga, btlltar, L'tsboa, coztrqir. Se o i fie;;. assim entre duas conso-
antes surdas, é proferido cm scgrêdo, ciciado. Ex. -pistola ( co -
mo p /Jstanci). Em razão desta proouu cia, o prefixo d·is confunde-
se com eles, antes ele consoante. Ex. -dispôr, destoar, (=d'tspôr,
d'tstuar), clcscnpr;ãn e discrição pronuncifl.111-s0 ambos clYscrisão .
Numa serie de syllabas, couteudo todas i, não seguido de con-
soante palatal, incluiu do s (=.r) só o i da ultima, átono ou to-
nico, assim se profere; os das outras, que estão antes delJa, sóam
como e, pronuncia que as ortographias archaicas comprovam
ser antiquissima. Ex. -in);nistro, militar, d'tvYclii-, v'(sita, l'tmite,
lbnitar, 1/ttippe, ridiculo. Se, porém, qualquer i atono, nestas ci.r-
cmnsta11cias, provém ele i tonico do vot:abulo primitivo na lín-
gua, a tendencia é conservar-lhe o valor de i:-assim, clifj';,cili-
1nn, dividiria, fitinha, peritíssimo, risível, ele clifficil, cliviclir, fita,
p erito, riso • . E x posição ela pronuncia normal, 11. 5G, e átono, 8. 0 1
11.º> 12. 0 ; letra ·i átono, 1. 0 , e e cl, 3. 0 e 6. 0 •
220 A LINGUA PORTUGUEZA

12.-Esta é a pronuncia que o sr. Gollcalves Viana julga


melhor, como em beijar, deixar, feitor, etc., ( baijar, daixar, fai-
tor); mas peixinha, peixeiro, em Lisbôa são pronunciados p'ixi-
nho, pixeiro ou p'ixairo. O mesmo autor quer que se diga-
a1ná1:ais, verbo o adjectivo, e ãi na terminação em átona, nomi-
nal ou verbal:-- viagem, devem, viájãi, devãi. - Pronuncia nor-
mal, n. õ3, obs. 4. ª , e n. 56, letra e, 4.º e 5.º: e letra x.
O dr. José Barbosa Leão prefere o som de i, no ex inicial,
e em nota, a pags. 49 dos seus Estudos a favor da reforma or-
tographica, escreveu: -'!Depois de publicada a memoria, tive oc-
casião dti ver na grammatica conimbricense, do sr. Bento José
de Oliveira, emittida a opinião de que, no ex inicial, seguido de
vogal, a pronuncia. era i, e dados para exemplo exacerbar, exem -
plo, existir, exorclio. Ora a opinião do referido gramrnatico, de per
si, é já valiosa; mas o seu valor auginonta notavelmente, att,en-
den do-se a que é opinião recebida que elle professa as mesmas
ideias que o sr. Joaquim Alves de Douza, illustre professor em
Coimbra, philologo distincto, honrado ha pouco com a escolha
que delle se fez para mestre de s. s. a. a ., os filhos de el-rei.
E, em vista da opinião dos dois acreditados especialistas de Co-
imbra, conclue,se, a meu ver com toda a razão, que a maioria
dos homens de letras pronuucía segundo o uso geral, ficando ,
por conseguinte, a questão decidida a favor deste, visto não ser
duvi.doso que, em geral, no ex inicial, antes de consoante, o e
soei».
· Ao ex medial, o dr. Leão dá o valor de eis:=teistual, pre-
teistar.
i3.-Vide Gonçalves Viana, Pranuncia normal, letra x, ns .
5 e 6.
14.- -No Pará, o vulgo pronuncia-o sempni como u, até
quando tonico, donde o conhecido g racejo:-« Uma canúa cheia
de cucos de JJUpa à prua». Tambem nas ilhas dos Açôres dizem
jlur, amur, nos districtos de Lisboa e Leiria-nuine, por nome, o
geralmente: em Portugal, cum por com . Vide J . Leite de Vas-
concellos, Esquisse cl'tine dialectolugie portugaise, § § 45 1:1 88;
Barbosa Leão, R efurina da orth., pgs. lL nota, e 31.
15.-Gonçalves Viana, Pronuncia normal, n. 55, o átono,
3. 0 , 4. 0 , 5. 0 • Soares Barbosa, Gram., liv. 1.0 , cap. 1. 0 •
16. - José Alexandre Passos, um dos mais distinctos gram-
maticos brasileiros, escreveu, a este rospeito, no seu Dicciona-
rio g;·ammatical ( v. bis--Prosoclia e pronuncia ):-«Toda a pala-
vra, por mais extensa que soja, tem sómente uma syllaba pre-
domiuante; as outras são subordinadas .. . Só a predominante sôa
com toda a intensidade; as posteriores a olla são surdas ou bre·

~
J83JPJ83JL
Biblioteca PUbllca Benedito Leite
A LINGUA PORTUGUEZA 221

vissirnas, e as anteriores podem ser mais ou ~ enos breves, o até·


longas com meia intensidade, acêrca da rcctriz ou preclorninan-
te. Por exemplo, na palavras compostas do incremento na desi-
neucia, a syllaba que tinha o accento prosodico passa a ser su-
bordinada; e, para a intelligencia do vocabulo, convem que essa
syllaba não se desnature na pronuncia: -assim, a syllaba cór,
ptedominante na palavra misericordia, fica subordinada em mi-
sericorllióso, perdeDdo parte da sua iuteDs idade : e ô, predomi -
nante nesta ultima, passou a ser subordinada em misericordio -
síssimo, na qual deve a pronuncia fazer sentir as duas syllabas
longas, tornando se a predominante a mais longa e o apoio da
voz. Semel hantemente, sóam como longas e subordinadas, em
misericordiosissirnamente, as syllabas cor, o e si.
«Muitas alterações, porém, se fazem neste rigor da recta
pronuncia, desnaturando os vocabulos radicaes com a differen-
ça do som de algumas vozes, e contrariaDdo noutros a analogia
de som com os de que se derivam. Pranunciar, v. g., siucéi·idade,
composto do adjectivo sincéro e héróe, derivado de hí,ros, latino
e grego, é seguir o que dieta a boa razão. Mas este rigor ,;ó é
observado, sem divergencia alguma, acêrca dos adverbios fiados
em mente.
« . .. Só~ mudança do accento prosodico é que geralmente
constitua erro de pronun cia, considerando-se o mais como ma-
neira de falar, menos eupbonica para o ouvinte que não estiver
acostumado a ella. O uso de cada povo dos que falam a língua
portugueza constituo, acêrca das vogaes e, o, uma pronun cia
que lhe é propria, e em que acha, r elativamente, toda a eupho-
11ia. Por esta razão, passam despercebidas as infracções do ri-
gor prosodico, na pronunciação das syllabas subordinadas. Nis .
to, ha muita licença - de arvore, uns dizem árvurêdu, e ou -
t ros arvórêdo; de áncora, uDs dizem áncurár, e outros ancàrár;
de pórta, uns dizem pórtál, e outros pnrtál; de chOro, uns dizem
chôrar, e outros churár, etc.
«O que constituo, no Brasil, uma pronuncia differente da
nacional portugueza é a tendencia geral, mais saliente em umas
províncias do que em outras, para a prolação Oll som forte das
vogaes e, o, nas syllabas anteriores, predomin~nte da-i palavr~s,
e portanto sem offensa dos preceitos da prosodia. Esta pronun cia,
em parte, é fundada na boa razão de mostrar a palavra analo-
gia de som com outra de que se deriva; por exemplo, vóto, vo-
tár, vótação; rósa, rósado, roseira; vóz, vógal, vócabulo, invócar,
. convócar. Em outras palavras, é uma imitação da pronuncia.que
se costuma dar áquellas vogacs no latim, v. g. ltbérdade, vénla·
de1 .i1tóJécto, prq.(Jósta, prl.iotantát 1J.Uóoó1isut;
222 A LINGUA PORTUGUEZA

Em outras muitas, o som é modi[icado, soan<lo e como i;


r o como u. brevíssimo; v. g., meinó1'ia, menino, feliz, perigo ,
mnvirnento, comer, poder, poieroso, voar, coa.r, soan>.
Orem s que, no Brasil, estes dois ultimas verbos so no
norte são pronunciados cuar, suar; e só talvez em S. Paulo se
conserva, nos derivados1 o som aberto do o tonico dos primiti-
vos; geralmente, o som aberto, primitivo, do o e do e, pasaa a
fec hado, nos derivados. E assim o di'z o sr. Paranhos da Silva,
no citado opusculo O idiomn tlo hodierno P01-tugal, pgs. 28 e 32:
- «No Bras il, dá -se, quanto ao e mprego do e, justamente o in -
verso do que se dá cm Portugal. Li, o e fochado não se empre--
ga seaã0 ás vezes na syllab'I. sob re que reca,i o acceuto p r0so -
dico; no Brasil, acontece o mesmo com e aberto. Existe, por
exemplo, um e aberto em bélfo, em pérlra, em québra; se o accen-
to pr0sodico sai da. syllaba em que estava, e passa para outra,
num vocahulo deeivado, fechamos o e. dizendo úêlleza, pêdrefro,
quêbmd_o. Se o e já. se acha ;fechado, debaixo do accent0 prosodi-
co de um vocabulo, cous arva-s c ass i.111 masmo no derivado, sa-
indo o accento do logar em que estava; assim, de gêlo, forma -
mos gêlado; de p êso, pêsado . de zêlo, zêloso .. . Na fala elo Bra-
sil, o está para o do Portugal qt1asi como e está para o h omo -
monymo de lá. So os portugLrnzes excluem ô fec hado da sylla -
ba não prosodicamente accontuada, nós-outros excluímos della
o abert0, fechando o, se passa ele um vocabulo para um seu de -
rivado. Assim, de módo, clólo, inólle, passa-se para inôdal, clôlo -
loso, ntôlleirão . Se já é fechado no vocabulo, co11serva-se assim
mesmo no derivado, e não é trocado por n, como na fala de Por-
tugal; por exemplo:-de força, torpe, cor, formamos fõrçoso,
torpeza, corado e nunca desgradavel cói·ado.
17 . - Vide Pronuncia normal, n. 56, letras a, e, o; Monte
Carmello, Coinpe1tr.lio de Orth., §§XI, 5; Francisco de Andrade,
jnnior, Grum ., art. .t.·, § l.·, r egra 15.ª.
A cornmissão nomeada, no Porto, em 187 3, para represen -
tar á A cademia das Sciencias, sobre a ·r efornu da orthogra-
phia , propôz que as yogaes ci, e, o, de som aberto, quando não
são tonicas, fossem notadas com accento grave; essa graphia
foi adoptada polo sr. Gonçalves Viana e por outros autor es mo-
dernos, e tem a vantagem de evitar que em algumas palavras
supponhão que o acceuto é sigoa.l de syllaba predominante, por
exemplo, em pégada, que muitos no Brasil, por esse iquivoco,.
pronnncião 01T9nemente ·
18. - E, pronuncian do-se com o som surdo portuguez,
igual a u, conru11dir-se -iã0 com cw·ar, curaclo . No Brasil, geral-
mente, conserva-se o som do primitivo - córcir, côrado.
A LINGUA PORTUGUEZA 223

19 .-Vide Viterbo, E lucidario, o F. Dillz, Dice.


20·. -Elucidario, e .\loraes, Dice.
'J.1. -Elucidcirio, Y. mézinhalloiru.
22.- Ha a mesma razão para se pronunciar géral; &.ntiga-
mente, pronunciava -se e escrevia-se geral. J oão de Barros es -
crevia sempre essa palavra com e cedilhado, modo por que re-
presentava o e grande ou aberto, correspondente a ee; e João
Franco Barreto (Ort., c. X LV) diz que se deve usar de vogaes
com acconto, em voz das vogaes duplas dos antigos, «como gé-
ral, gérar, géração, em vez de qeel'al, geemr, geeração ». Moraes
ainda accentüa géral; mas Monto Oarmello, no seu Cataiogo , in-
clui1Ido gémr, geração, omittiu géml; e o sr. Gonçalves Viana
diz que se pronuncía c.om e s urdo geral.
:.t3. -Jpão de B arros escreve trédor , com e g rande ou
aberto.
2-!.-0 sr. Gonçalves Viana (n. 68) accentúa o o de obede-
cer (obedire, ele ob e auclire), neste verso do Camões: -
<<A quem Neptuno i Marte óbodecêrão» .
25.-i\Ionte Oarmello, Compendio,§ XI, n. 1:-«Tambem
ho necessario distinguir com algum accento. as dicções que se
podem equivocar e con fundir o sentido.
Por isto, escrevemos, v. g. - ácerca do negocio; âqueni do
Guadiana, álem do Tejo, etc., porque tambem dizemos-a cêr-
ca he grande; Deus a quem tudo he possivel; a escriptura en -
sina toda a perfeição, os bons theologos a lêin com humil-
dade•.
26.- Por sáveleiro , barco para a pesca do sável. Ad. Coe-
lho, Dice. et.11ni. Assim se pronuncia essa palavra em Portugal.
.\fon te Carmello i.nclüe-a no seu catalogo d.e vocabulos, onde tom
cl_ois accentos. E', pois, som raião que o sr. Carneiro Ribeiro, na
sua Grarmnaticet, menciona s11veiro, entre os·exemplos de pro-
mrncia viciosa do Brasil.
27.-QLrnnto ás palavras scientificas compostas, diz o.sr.
Caudido de J<'igueiredo, na Cunversação preliminnr do seu Novo
rliccionario ela língua portugueza: - « Primitivamente, a desi-
nencia do prim eiro elemento dessas palavras é aberta o átona :
-pathógenin, hyppódromia, geódynaniica, neó-celtico, photósphe-
ra, lithóspermo, lithóclase, hl:stóqenia, hypéráciclo, intérplaneta~o,
m)nócephilo, or,c. Oo:n o a ndar do tempo, o com a vulgarisa-
ção do termo sc ientifico, todas as vogaes secundarias 'se subor-
dinão á vogal to uica, e temos typographüi, inorplwlogia, p,:itho-
logia, histologia, photogl'etphi'l,, ge:Jgraphia, neologismo, intermit•
tente, hyperbolico, m?nograplúa, etc., qu•> ninguem pronuncia hy-
perbolico, intêrinittente, geógra,phia, neólogisnn, l.istt.il?gia, patliólo-

Biblioteca Pública Benedito Leite


224 A LINGUA _PORTUGUEZA

gia, typógraphia, mon0graphia. . . Onde acaba o caracter erudi-
to e primitivo da palavra, e onde começa a sua feição vulgar'?
Niuguem marcou ainda a liuha divisoria; e o que hoje é
erudito é amanhã popular».
28.-Em bah1í, o som aberto do a póde-se explicar deste
modo: -a fórma antiga baul, bahúl, esp. baút, faz crêr que a
origem seja bajiílus ( Diez, Dice., tomo I ), deslocando-se o ac-
ceuto da primeira para a seguada syllaba, como em casítla, de
ccis?í.la; mas o a, primi~ivamente accentuado, conservou o som
aberto.
29.- Não é derivado de b1·éjo; vem do espanhol brechero,
trapaceiro, gatuno.

2. ª PARTE

30. - O uso antigo conhece -se pela. graplúa de let.ra dobra-


da, para o som aberto do a, e e o.
E' para sentir que, na reimpressão da grammatica de Fer-
não de Oliveira, feita em 1871, 110 Porto, tivessem representa-
do por typo especial e e o grancles ou abertos, para os quaes o
autor adaptara caractéres novos.
Na Compilação de varfos obras de João de Barros, impressa
em Lisboa, 110 anuo de 1785, o e grande é notado com uma cedi-
lha; o peq11eno não tem signal algum; o o grande tem o accento
agudo, e o pequeno não é accentuado.
Algumas edições de autores moderno,; têm accentuada a
vogal tonica, com indicação do timbre. Taes são:-as obras de
Filinto Elysío, Paris, 1817; a traducção das Metamorphoses, do
Ovídio, por Castilho, a do Paraisa perdido, de Milton, por Li-
rr.a Leüão.
Autoridades principaes :-Padre Bento Pereira, Ars gram-
matica (Lião, 1672), :us. 124 e segts.; João de Moraes Madureira
Feijó, O,·thog , V - ed , 1767; Francisco de Andrade, junior,
Gram., 1." ed., Funchal, 1844; Julio Corou, Die portugiesische
sprache (A lingua portugueza), no 1. 0 vol. da obra Grundriss der
i·omanischen 1JhiltJlogie, publicada por Gushwo Grober, Estrasbur-
go, 1.888. •
A. R. Gonçalves Viana, Exposiçio da pronuncia normal por-
tuguêsa, 1892.
Diccionarios da ling. portug de Moraes, Adolpho Coelho,
A~\lete e João de Deus; dicciouario portuguez-francez de Ro-
g,uêto; cliociotlllorio d.e rin1aa, de Jihtganio do G11stilho 1 8," od,,
A LINGUA PORTUGUEZA 225

1894; Vocabulario sonír:o, por João Felix Pereira, Lisboa, 1888;


Dicci,rmario grammatical, de José Alexendre Passos, Rio. 1865;
Vocabula,rio, no compendio do or thog. de Antonio Alvares Pe-
r eira Coruja, Rio, 1848.

31 .-Os antigos escrcvião com vogal dobrada a syllaba fi.


mil accentuada: fee, pee, galee, maree, polee, ree, merece, dee, lee,
etc. Esta graphia _foi substituida pela dos acccntos: mas, antefl
que esta se generalisasse, ou por negligeucia, escrovião tambPm
com vogal singela e sem signal ortographico: - fe, pe, men:e. le,
de. etc. Este modo de escrever, não indicando o accento tonico,
nem o timbre é!a vogal, tinha ta111bem o inconvenie1Jto de alguma
vez poder tornar equivoco o sentido. Eis um exemplo curioso:
- na bella canção do cego ou fabula do Psyche, introduzida po1'
Sa do Miranda, na ecloga chamada do «Encantamento>>, e traus-
cripta uo termo 3.º do Parnasn Lusitano, ha estes versos, con-
forme o texto da 2."' edição das obras do poeta (l6L4)-·

O sol anda de pês


E juntamente prazeres desandão.

Que significa O sol anela de pês? E' inintclligivel e absu rdo.


Talvez o autor escrevesse- O sol anda de Pes, sem accento
algum, ou Pez, como no espanhol. Na lin gmigem de então, pês
ou pez significava, como ainda significa no espanhol, peixe (Vido
Eluc. e Di ce. de :Thforaes). O sol anrla de Pês quer dizer, pois, O
sol anda ou sae elo signÔ elos Peixes (Pisces), isto é, começa novo
anno solar, vae o sol c9meça11do nova carreira no zodiaco, nova
serie de estações, ou, em lin guagem vulgar, corre o tempo, e ccUJ
elle desandão os prazeres. .
32.-Antes de vogal, o e, nossas vozes dos verbos ela l. ª
conjugação, converto-se 110 ditongo ei, que tem som fechado,
como adiante se diz: -rodeio, rocleias, rhdeia, rodeie, seinefo, ·e-
meias, semeia, semeies, semeie; tambom se escreve rrJdíio, rodêas,
rodêe, semêo, semêa, semêe, etc. Vido Ti t. I, cap. IY, Do diton,qo
normal.
33.-Alguns dizem fecho, fecha, feche, desfécho, etc., e, em
varios logaros de Portugal, -fâcho, fârha,, Jâche, etc., e 1lesâjo,
pelâjo: etc., co mo adiante se verá.
34.-Monte Oarmello (§ IX, 11º5 , 26 e 32;) diz que enxergar
tem sempre e iechado:-enxêrgo, enxêrgas, enxêrga, enxêrgão,

Biblioteca PübUca Ben~ito Leite


226 A L1NtS-tJA POR.TUGUEZA

enxêrgue:,, enxergue, euxêrguem No Brasil, pronuncia-se de or-


dinario com e aberto, conform e a r egra geral,como albergar, pos-
tergar, vergar. ·
35.-Dizem alguns:-clêves, clêve, dêvem, merêces, merece,
merêcem, parêces, parêce, parecem, e assiru. outros verbos desta
termiuação. Esta pronuncia não é, como se poderia crêr, um
vulgar vício moderno.En con tramol-a em hom ens doutos, desde
a idade aurea da lingua. J oão de Barros escrevia com e pequeno
ou de som fechado (sem cedilha) eleve, eleve:, (Oompilar;ão Jc va-
rias obr,1,s, ps. 72, 293, 318, 321 ), e todos os verbos em ecer:-
11arece (passirn), offerece, padece, falece, elesfalecern, conhece, co-
nhecem, acontece, carece, ccirecern, entristece, favorece, favorecem,
aparece, emmiielece, merece , ao passo que escrevia com e
grande ou aberto (cedilhado) os outros verbos da 2.e. conjuga-
ção- recebe, rege, cornette, prucede, úebe, etc. Kas obras do Filinto
Elysio, edição de Paris, os verbos da 2.ª cou~ugação têm, nessas
vozes, accento agudo, Íllcluindo dever; mas os da terminação ecer
têm accento circumQexo: - parêce, carê ce , fallêce, etc. Diz irei
Luiz do Monte Carmello (§ IX, u. 30):-«As pessoas ou casos dos
verbos terminados em er;o, eças, eça, eçam, têm accento circumiloxo,
como, v. g. -conhêçu, conhêças, eonhêça, conhêçmn; têr;o, teças, têça,
têçarn ... Nas mais pessoas ou casos, podem ter acento agudo, e as-
sim se pronunciam quasi todos, como-amanhéce, apparécem, téce,
etc.; porém, os verbos conhecer, clesconhecer, reconhecer·, merecer,
clesmerecer,parlecer, compaelecer, parecer e perer:er sempre tem cir-
cumflexo, como, v. g. - conhêces, merêces, padêces, parêces, cunhêce,
merêce, padêcem, JJarêcem, etc.». Hoj e pronuncião-se , ordinaria-
mente, todos esses verbos, com e aberto, cônforme a regra geral,
nas vozes termin adas por e, tanto uo Brasil como em Portugal.
Assim, na sua E~posição ela pronuncict normal porf:ugueza, § 56,
ensina o sr. Gonç,alves Vian a, como regra sem oxcepção, que
é aborto o e, «no radical accentuado dos verbos em er e ir,
quando a terminação tem e; ex.-deue, elevem, feres, ferem • ; o
Francisco de_Andrade (Grnm., cap. 6. 0 , art. 1.·, § 2. 0 ):-«Nas
variações verbaes da 2.ª o 3.ª conjugação, o accento é agudo só
ua 2.ª pessoa singular e 3.ª de ambos os numeros do presente
absoluto (o do indicativo), e na 2." pessoa siugulár da variação
i..mpGrativa, v. g.- mei·éces, meréce, 1neréce1n, meréce tLu.
36.-Não, como dizem alg un s, pêrco, JJêrco, pêrca, percão.
37.-Temos sempre ouvido pronunciar assim; ma!i Ma-.
dure.ira, Moraes 1 Eug . de Castilho e 1\dolpho Coelho escrevem
alcatêa ou alcateia.
38.-Tambem sempre ouvimos pron"unciar estréa; mas :M:on- •
to Carmello, Moraes o Adolpho Coelho dão - estrêa ou estreia.
A LlNGUA PORTt1GUEZA 227

39.- Madureira manda prounncíar couJ accento agudo-


geléa, e no Brasil todos assim pronuncião; mas Eug. <le Casti-
_lho escreve geleia, e Adolpho Côelho, com o som fechado, gelêa.
40. - Não incrêu ou iuaeu, como quer Eug. de Uastilho .
41.- Filinto Elysio, t. 8, pgs . 291: -Num rôsto, onde i-esva-
ão crêbras lágrimas.
f2. - E' como se pronuncía no Brasil, o como accentúa
Adolpho Coelho; mas casêbre, em .\Ioute Carmello (§ VI, cli-
zendo ser palavra da giria;, :Moraes e Filinto Elysio.
43.- Moraes, Adolpho Coelho, Dicc.-lwc verúo.
44. -Outros proferem, corno nolatim, ássecl ,.
4f>.- Não labarêcla, como dizem alguns.
46 . - Eug. de Castilho o outros: - alaméda, verécla, pro-
nun óa que modernamente tem prevalecido em Portugal.
47.- Francisco de Andrade diz:-tr,édo, treda. Gram., cap.
6. ·, art. 1. ·. ~ 2. ·.
48. - Véclro significa velhu, Jo latim vetus, eril,, vetcrem.
49 .-P .0 Bento Pereira. Graui., J.2ü: avi:; implmnis.
50.- Monte Carmello : adéga.
51.- J oão de Barros escrevia sempre com e grande- grégo,
~réga, o que mostra que então so pronunciava com o som aber-
to , r.omo em gréco, gréca, grécn-romano.
52.- Eug. de Castilho; mas .\Ioraes: filêle.
. 53.- Assim aecentúa Eng. de Castilho, Dice.; mas tomos
sempre· ouvido pronunciar Mazêpp1i.
54. - Monte Carmello: - tê11e. Madureira:-«T~pe, com se-
mitom no te, torrão de prado».
55.- Eug. de CMtilho; mas é nome espanhol, e os espa. -
nh oes clizem Talavêra.
56.- Franciseo de Andrade, Gram: -pêrclta.
57. -Dice. do Moraes:· cêrdas.
58. - Eug. de Castilb o: - cêrdo. O mesmo e Adolpho Coc-
lho: -lêrdo, lê·rda.
5D.-Alguns preferem esmê,·o.
6C. - Roquête:-/êro:;.
61.-Exagêro, palavra ]]Ova, muito usada, já admittida em
ali;uns dicciouarios .
62.- -Não têrso, té1'sa, como clizem muitos, por influe11cia
de têrço, térça. ·
G3 . -Eug. de Cast.ilho:-assêrto: muitos assim promrncião;
mas ha couveniencia em disti11guir de acêrto, e varios autores
fazem essa clistincção - ,\faduroira, .\fonte Caraello, >1oraes,
Borges Carneiro, Adolpho Coelho.
64.-Francisco do AudraJe o A.dolpho Coelho: bcnêsse.
228 A LINGUA PORTUGUEZA

ü5.-Não ·interésse, desinterésse, como alguns dizem.

66.-Viúnho, onde é que vás ?


Vou-me a confêsso.

Filinto Elysio, t. l. ·, pgs. 154.

67. -:'lloraes, Adolpho Coelho. Eugenio de Castilho - es-


pésso, espéssa . No .Brasil, a maioria diz espêsso.
68.-Monte Carnu:illo: aprêsto.
69.-Roquete: cloêsto.
70.-Monte Carmello: cêva.
71.-Alguns dizem . élmo, o todos Santélmo, Télmo, Ansél-
mo.
72.-Pelo exemplo ·que dá Moraes, vê-se que tem o mosmo
som que/êlpa:-«Carapuças de felpa, que custào bem de chel-
pa• .
73. -Assim se pronuncia no Brasil, e ê como accentnão
Madureira, Monte Carmello, Moracs, Gonçalves Viana, etc.;
mas, em Portugal, alguns dizem félpa (Adolpho Coelho, Filiuto
Elysio).
74-.- Não Collêta, como já temos ouvido a algumas pes-
soas
75.-A ultima syllaba, quaDdo é nasal ou terminada por
consoante, é, por via de r egra, a predominante; para que ueixc
de o ser, e predomine a antecedente, é natural que o accento
possua toda a intensidade, isto é, o som claro ou aberto.
76.-Neste caso, o accento tem ordiDariamente toda a in-
tensidade em compensação das duas átonas seguintes.
77.-Moraes: carapêba.
78. - Sempre assilll ouvimos pronunciar, não gerwnbêba,
como dão o Dice. de J\Ioraes e Eug. de Castilho.
7!:J. - Não adréde, ·como proferem alguns (do provençal
adreü. F. Diez, Dice.).
80.-Antigamente, dizia-se a torpédo ( tremélga ); hoje diz-
se o turpêclo, applicando o nome a uma machina de guerra ma-
rítima. ·
81.- Outros dizem ti-éclo. J. Cornu, ns. 3 e 258. Vide trêda.
82. -Eug. de Castilho: -Yéddo.
83.-Em cárrego, cai·go , houvo transposição do accento, co-
mo em córrego (lat. corri/gus); mas, na linguagem popular, con-
servou-se o acceuto primitivo, como nos outros nomes do forma-
ção portugueza dessa terminação, no sentido de carga:
A LINGUA PORTUGUEZA 229

Não tomão sobre si os fracos ,·ime~


CarrGgos que os derreião.

Filinto Elysio, 1. ·, pgs. 240.

84. -Ad. Coelhq:-arrenêgo .

85. -Móvol tão apto a bicho peticégo (a toupeira)

Fil. Elis., 1. ·, pgs. 122 .

. 86. -Dice., de Moraes, e Eug. de Castilho-bad~jo.


87.-M"oraos e Adolpho Coelho: grêllia, rêlha, quêllia.
88.-Palavra antiga:-fecho ou fivélla dos cintos que usá-
vão as mulheres, assim chamados porque tinham fórma trian-
~ular, semelhan·1e á rélha do arado. ,Etuc.). Vir ou chegar ao ré-
lho a uma mulher, isto é, desfivelar o cinto, conseguir gosal a;
depois, por extensão, chegar a accordo, ao que se deseja. Pro-
nuncía se hoje, mais geralrnento, chegar ao rêlho, por se não sa-
ber a origem e suppôr-se que significa sujeitar-se ao castigo, sub-
metter-se; outros dizem chegar ao rego.
89.-Francisco de Andrade:-«anélho, com accento agndo,
só no masculino,> .
90.-Só usado na expressão-véllt0 e rélho; nesto caso, vé-
lho, idej)tico a rêlho, como crú, signifi ca cluro e aspe1·0, ri}o.ou
rigido; a mudança do timbre é para ficar consoante com velho .
91.-Não bacéllo, como, no .Brasil, dizem muitos .
92 .-A par dos femininos - crincélla, canélla, capélla.
Monte Carmello, Eug. de Castilho, Gonçalves Viana, etc.
93. - Assim se pronuncía no Brasil; parece que ern Portu-
gal dizem cerebéllo, como accentuão Moraes, Roquete, Adolpho
Coelho, Eug. de Castilho. Mas J . Corou,"· 6: ,·ei·ebêllo. .
94-.-Monte Ca:r.-m ello ensina essa pronuncia; mas advorto:
-«ordinariamente se diz modélo>> e dêsto modo accentúa :'lladn-
roira. No Brasil, pronun cía-se mudêlo.
95.-Femininos - novélla, ouréla, portélla.
96.-Bento P ereira, Moraes, Cornu, 5:-- murzélo.
97. -Tarêlo, tarêla, nas notas de Filinto Elysio, passim .
98.-Monte Carm ello:-anli.êlo. ·
99 . ...::.Moraes e Francisco de Andrade - êlo . .MadnreiTa:
-«Ello, da vide, pronnncía-se com e breve>. Monte Carmello:
-,êlo, com que as vides se pegam•.
100.-Roquete, J. de Deus:- vérça .
• 101.-Monte Carrnello: - ,,Cên·o he termo castelhano, de 0

Biblioteca Pública Benedito Leite


230 A LINGUA PORTUGUEZA

que, usam alguns _portuguezcs, pari. significar hum alto pequeno


em algna planicie, o qual nam tem eminencia, para que se
chamo mon te. P elo ·contrario, usam do sêrro, para significar o
cume, 1·ollina, ou maior altura do hua serra ou montanha».
102.-Madureira, Monto Carm ello:-pérro, pérra.
103. - J. de Barros-«lingua blés1.i ». Dialogas, n. 262.
104.-:i\ lonte Carm ello: - Bêta é fio de côr diversa de ou-
tros, qua tambem se chama mescla. Béta é vêa de metal nas mi-
-nasi. :l\foraes e Àdolpho Coelho dizem béta, em ambos os senti-
dos. E' uma só palavra, com duas applicaçõ s ele sentido analo-
go-,fi,ta, veia ou 1:eio; como vem do latim vitta, parece-nos pre-
-fet·ivel o som fechado, porque é o que de ordinario corresponde
ao i latino, an tes de consoante dobrada: -bacillum, bacêllo, ca-
pillus, cabêllo , cippus, cêpo, gibbus, gêbo, littera, lêtra, spissus,
espêssa, sú:cus, sêcco. Alem disso, Íicará differentr de béta, let.ra
grega.
105.-l!.,rancisco de Andrade e Adolpho Coelho - cacéta.
106. -Facêta é o diminutivo de face. Adolpho Coelho,
Eng. el e Castilho, Alexandre Passos :-/acêto, facêta; mar pare-
ce-nos preferivfll facéto, facélo, como accentuão Madureira,
t\lonte Carm ello e Moraes , conforme os outros adj ectivos dess11,
desinencia, tomados do latim: - compléto, concréto, discréto, q_uié-
to, repléto, secréto.
107 .-Assim accontúa Adolpho Coelho, e é como geral-
mente se pronuncia no Brasil; mas .Monte Carmello. Moraes e
outros dizem cacoéthe, e par ece que é geral eesa pronuncia, em
Portugal.
108. - João de Barros, Eng. de Castilho; roas Madureira,
M011te Carmello -Olivéte.
109.-Eng. de Castilho, Canclido elo Figneireclo:-Roq_uê-
te, conhecido gramm atico e lexicographico, não Roquéte, como
geralmente pronun cíão no Brasil, suppondo que é nome francoz,
1n·ovavelmente por cansa da grafia Roquette, com tt, como an-
tigam ente nsa.vão em todos os diminutivos desta terminação.
Diz João Franco Barreto, na sun. Ortografia, cap. X, lv. V, r epro-
duzindo o que já dissera Duarte )fones de Leão, que se deve do-
brar o t nos «d.irninutivos que, na linguagem nossa, acabam em
te, porqua, segundo a orelha nos pede, parece não _podemos
escrever bem de outro modo, como ·verdette, peq_uenette, bon1;tette,
azedette, tolette; ... tambem os italianos em os seus dobram o t,
porque, do Lanra, disseram Lauretta, ele picciolo, piccioletto,
tltC.>).
Ha, em Minas, uma familia deste appellido e ali o pronun-
cião .Roquête.
A LrNGUA l'ORTUGUEZ A 291 ,
!10. --Alguns dizem abêle (Filinto Elysio, 3. ·, pgs. 366).
111.-Eug. de Castilho pronuncia bicyclête, tricyclête, e
marionéte; temos ouvido pronunciar aquellos nomes, como este,
com e aberto, dando-se-lhes o genero feminino, como no francez.
112.- 0 sr. Candido de Figueiredo (Dice., Conversação pre-
liminar) diz que este nome, quando significa planta, se deve
pronunciar com e fechado, jêto, e quo assim pronuucião em to-
das as províncias de Portugal, menos em parte da Extremadu-
ra, talvez por influencia dos letra.dos da capital.
113.-Monte Carmello:-téz. Madureira:-«Téz, tézes, a
superfície quo cobre qualquer cousa, v-. g., téz da cebola, téz da
maçã, téz do rosto». Hoje diz-se geralmente têz: Moraos, Adol-
pho Coelho, Eugenio de Castilho, etc.
11-i. -.Yladureira -«Fez-, uomo de huma cidaàe em Afric11,
tambem se pronuncía com accento agudo,: . Mas Eng. de Casti-
tilho · Fêz.
115.-Este não é formado com o suffixo êza; é derivado
verbal, como régrt, séca, entréga, esfréga, etc.

fI

116.-Monte Carmello: -eu apóü,, tu apoias, etc. Cornp.


de Orth., § X, L. · catalogo.
117.-De soer, que, pelo accento, se differeuça de sôe, do
verbo soa1·.
118. -O sr. Candido de Figueiredo (Dice., Conversação
preliminar) diz que, em Trás-os-Montes, se pronunoia_1Jóia..
119.-João de Deus:-dormir.l1ôca.
120. - Bento Pereira.
121.-Gonçalves Viana:-J1óça. Vide Cornu, n. 27 .
122.-Ad. Coelho e João de Deus:-escóda.
123.-No Brasil, muitos dizem alcachôfra.
124.-Corda, pal. aut. «Senhor de soga e our.ello 1). Monte
Carmello - sôga.
125.-Moraes :-pôja.
126.-:Moraes, Adolpho Co•lho; mas Eng. de Castilho-
coscqjos.
127.-Habitante de Cólchis ou Cólohide (oh=k' .
12~. -Adolpho Coelho. ·
1,9.-Ad. Coelho: - côldre.
L3~•.-Deve-se dizer de envólta, niio de envôlta, como usam
muitos; nossa locução, envõlta é substantivo, significando com-
panhia, mistura.
131.-Sólta, a acção de soltar, ou lagar em que se solm o

Biblioteca PUbtlca Benedito Leite


232 A LINGUA PORTUGUEZA

gado, para se refazer e engordar: -fazer sólta, ter uma sólta .


.Mas soltas, peias que se põem aos cavallos, tem som fechado,
-sôltas (Moracs). Na locução ás sôlta.ç, como ás escondidas; rís
occ11ltas1 etc., sôltas é participio. Mas vólta é substantivo, em
ás vóltas.
132.-Tôpo, extrem idade; tópo, choque ( Moraes, FraQcis-
co de Andrade); neste ultimo sentido, diz-se mais tópe.
133.-Adverbio autigo, muito, do francez trop; hoje não ó
nsado
134. Ad. Coelho, Castro Lop'es; mas Moraes: entreló1io.
135. -Assim, geralmeute, se pronuncía no Brasil, e paro-
ce-nos melhor pronuncia que a de Portugal-misanthropo, phi-
l,mthrópo. No latim e no grego, o longo tinha o som fechado: e án- -
thrõpos tem o longo ou o m.éga. Trópo é qu~ se deve pronunci-
ar, porque, om tropus, tropos, o o é breve ou o micrón. E' certo
que muitas vezes o timbre da vogal, na nossa lingua, não _é
igual ao do latim ou do grego; mas, em caso de uso duvidoso,
é razoavel que sirva de norma o da liugua originaría.
136.-Eug. de Castilho: -CanÓJJO e Esôpo; J. de Barros-
Esópo. E' preferivel o som fechado, em ambos esses nomes,
pela razão dada supra (nota 135); ambas têm, no grego, o mé-
ga (Ai.sõpos, Kánõpos ou. Ií.ánõbos 1o.no latim o longo.
137. ·-Eng.de Castilho, Ad. Coolho: môrbo.
138.-Ad. Coelho: cô1·cha, lôrcha. ,
139.-Eng. de Castilho; mns 1\Ioraes, Adolpho Coelho -
massamórda.
140.-Moraes, Eng. de Castilho: Comu, n. 28; e assim
uos sôa ·melhor; mas Adolpho Coelho - tórda, femea de tôrdo,
e deve ou devia ser assim, se o plural é tórdos, corn'.J o dão Ma-
1lureira, Monte Carmello, Moraes, Corou, n. cit., e outros.
141.-Ant., Elucida1·io.
142.-l!,rancisco de Andrade: -alfó1'{Je. Em Portugal, al•
guns pronuncião desse modo: mas alfórge é mais geral ( Leite
de Vascoucellos, Esquisse d'une dialectologie poi·tugâise, n. 45, a).
No Brasil, talvez seja o contrario.
143.-Palavra da lndia portugueza.
144.-E' como accentuão todos os phonólogos; não decôro,
como muitas vezes temos ouvido.
145. -Moraes, Ad. Coelho; mas Monte Carmello:-pyló-
rn. Preferivel pylóro, do grego pylõrós.
146. -Luiz Caetano do Lima, João de Deus, Eug. dt' Cas-
tilho: toro.
147.-No sentido de curral ou cercado, corte .de gado ou
aves, alguns dizem côrte. J. Cornu, n. 251 nota.
A LINGUA PORTUGUEZA 233

l48. -Moraes: -- congõssa.


149. -Moraes e Eng . de Castilho: mas Ad. Coelho e J oão
de Deus ~-congósta. ·
. 150.-João de Deus - perdigôta.
151.-.Monte Carmello assim acceutúa este nome.
152.-.Madureira, Monte Carrnello, Moraes, Francisco de
Audrade, Eug. de Castilho; mas Ad. Coelho-seródia..
. 153 -Moute Cannollo:--.-Lóios, couegos seculares de S.
João Evangelii;ta, que têm ,este nome, porque lhes deram o
Hospital de Santo Elói de Lisboa .
' 154. -Assim accentuão Moraes, Adolpho Coelho.
155 -- E assim Monte Carmello, Eug. de Castilho, J. Cornu,
J. Felix Pereira. O sr. J. L eite de Vascoucellos, 1mID opusculo
intitulado As lições d6 linguagem elo Sl' . Canclül-i de F'lgueireclo,
(Anal11se critica), cousignou o seguinte: -«Lê-se no sr. Figuei-
redo:-" Diz-se g-eralmente desassois e desassete, e assim o es-
crevem muitos. Mas é pronuncia incorrecta e escrita erronea. E'
deseseis ou dozeseis, desesete- &u dezesete, e desenove ou de-
zenove». Ponho de parte um s ou dois ss, e o escrever-se des,
que é absurdo, em vez de dez, e vou só á questão de a por e...
ProvavelIDente, diz-me o sr. A. -17 é composto de dez e sete.
Jvias então digo eu:-corno,a coujuucção e so pronuncía i. o
não e, eu devo dizer desisete, e 11ão dezesete, como o sr. Figuei-
redo aconselha. Ora o que é certo é que não só a pronuncia
vulgar de todo o país é rom a, dezrinove, dezaseis ,_etc., mas que
já em A. A. antigos encontramos assim, o que poderia provar
com centenas de textos, se fosse necessario. Esse a expl'ca a
razão por que em Lisboa se diz ôito, com ô, e dezóito com ó:-
é que dezóito não se compõe de clez+ôito, mas sim de dez+a+
õito ( como dezanove=dez+a+nove, dczasete=dez+a+sete ), on-
de a+ô deu ó, como succedeu com o archaico maór, que de11
mór. A fórma rlezaoit(J, que eu tinha deduzido theoricam~ut(,,
na minha Revista Lusitana, achei-a depois em gallego, que,
como se sabe, é um co-<lialecto português, onde tambem existe
dezanove, dezaseis, dezasete, tudo com a e não e; nm amigo meu
indica-me tambem a exist.encia de dezaoilo o no s0C11lo XVIII,
num livro rus do Conselho Ultramarino,-hoje 11a Bibliotheca
Nacional de Lisboa, n. 437, 2.ª serie. Tambem nos dialoctos
do sul se diz vint' a um, vint' a dois, etc. , tal~oz pelo mesmo
motivo. Não obstante isto, na Orlhograpltia portuguesa, dos srs.
Santos Valente e Francisco de Alm eida, Lisboa, 188ü, dá-s1~,
menos avisadamonte, dezóito como êrro, e manda-se, sem moti-
vo, prouuucíar dezó-ito. Em deza..~eis, dezasete, dezet(Jito, oLc., este
-v não ro1)roseuta a coojuacçiio e, mas a proposição ii; é como

Biblioteca Pública Benedito Leite


A LINGtJA PO~TUGUEZA

e,
quem dissesse <<dez junto seis, lt sete, etc.>. (Conf. Epíphanio
Dias, Gram., § 48, nota). A respeito das palavras dezasete, e de-
zanove, dá-se até a coincidencia de ser em italiano tambem dicia-
sete e dicianove. Já Diez explicou estas fórmas italianas, como
as portuguesas, por meio da preposição a, do latim ad; tambem
na lingua valachia as unidades se unem ás . desenas, por uma
preposição, que corresponde ao uosso a (Diez, Gram,, II, 409).
156. - Bento Pereira, .Madureira, Moraes, Francisco de
Andrade, Eug. de Castilho, Cornu, n. 32 a; mas Ad. Coelho- -
arróbe.
iõ7 .-Todos hoje assim pronuncião; mas Bonto P ereira 1;J
Monte Carmello-glóbo.
158.- Bento Pereira, A.d. Coelho; mas .Moraes, Francisco
de Andrade e Ernesto Ribeiro-mazórco.
159.-Moraes: floco.
160. - :,\ladureira, J.lome Carmello, Eng. de Castilho, Cor-
11u; mas Moraes, Francisco de Andrade, Ad. Coelho, Julio Ri-
beiro, Castro Lopes, Ernesto Ribeiro:-apódo.
161.-Monte Carmelo, J. Cornu; mas Moraes, Ad. Coelho
-epóde. Prefiro epodo.
162.-Assim temos ouvido sempre; mas Moraes, Ad. Coe-
lho, Eng. de Castilho acccntuão:-iódo.
163.-.Moraes, Eug. de Castilho, Julio Ribeiro:-rógo; ge-
ralmente rogo: Madureira, Monte Carmello, Gonçalves Viana,
Paulino de Souza, Cornu, n. 36, etc.
164.-Julio Ribeiro, Gram.; Castro Lopes, no Jornal do
Comrnercio, de 27 de junho de 1893; Ad. Coelho accentúa pe-
dagogo, emmenagogo, mas demagór,o. O som fechado parece-nos
preferível, pela razão que já demos. e pela analogia com quasi
todos os outros nomes dessa terminação.
Os portuguezes fazem abertos o e, tonico doutras palavras,
em que os brazileiros o fazemos fechado; assim di:lem Nhónhó,
Ióió, Dódó, nomes hypocoristicos brasileiros, que elles assim
tornão irrisorios, e do mesmo 1:JOdo pronuncião nomes que, no
francez, têm o som de ô, não só os comrnuns, que já estão apor-
tuguezados, como 71aletó , manto, mas ainda nomes proprios (pro-
nuncia do vulgo, não decerto dos que·sabem o francez), como
Carnot, Jwwt, Bordeaux.
165.- Duarte Nunes de Leão (Orthog., vocabulos que, um·
dado o accento, significão de diversa maneira), e Moraes dizem
que se pronuncia sôlclo, estipendio, e sóldo, moeda; mas &empre
temos onvido soldo, em ambos os sentidos.
166.-Madureira, .Moraes, Francisco do Andrade, Eug. de
Castilho1 Julio Ribeiro, Castro Lopes e outros:-abrólho; mas
A UNGV'A PORTtJG1'.1EtA

Monte Carmelo, Adolpho Coelho, Gonçalves Viana, Epiphanio


Dias -abrolho. t<: deste modo se deve pronunciar, pois a oty-
mofogia é abre-ôlho, por causa dos espinhos da planta; 110 espa-
nhol. abrojo, de abre ojo. (F. Diez, Ad. -=:oelho).
167.-Madureira:-«Sólo, e sólos, na l\Iuzica, papel, que
canta hum só. Solo, na Jurisprudoncia, é o chão, do latim solum».
Adolpho Coelho faz tambom esta differença de acceutúação; mas
não a fazem Moraes, Eug. do Castilho e outros. No Brasil, pro-
nuncía-se com o aberto, num e uoutro sentido, e corno nome de
um jogo. ,
1G8.--Nome do filho de Endymião, de que se d11rivou o do
Etolia; os naturaes deste paiz devem chatnar-se etólos ou eto-
lios, não étolos, como querem Madureira e .Moraes .
169.-Não Máusolo, conforme dizem alguns .
.l 7ú.-Abreviações,de s1ror; de senhor:- 6ôr.
17.1. -Queria o dr. Castro Lopes, (art. no .Jornal <lo Coni-
mercio, de iO do abril de 1892), que se pronunciasse suor; mas
no seoulo 16.· já sé pronunciava suór. Gram . de Fernão de Oli-
veira, cap. X, lv. III, ps. 104, ed. de 1871. João de Ban-os es-
crevia com o aberto suór. Em Trás-os-Montes, pronuncia-se
suor, segundo o sr. Gonçalves Viana. J. í,ornu, n. 26, nota 4.
172.-No tratamento de cortezia, quasi todos dizem-Se-
nliora, minha senhora: tambem sempre se diz senltôra e possui-
do·ra; mas commumeute ouvimos senhóra, ao menos no Brasil:
-Nossa Senlióra.
173.-Adolpho Coelho, Cornu, n. 307. Abórdo: Moraes.
174.-João de Deus, Ernesto Ribeiro, Gram., Moraes:-
rlórso.
175.-Moraes:-mórso.
176.-Culósso:-l\fadureira, .Mont(I Carmelo.
177.-Madureira, Monto Carmelo, Eug. de Oastilho:-
molóssfJ (cão). ,
178.-João de Barros, Moraes, Ad. Co~lho; mas Madurei-
ra, l\Ionte Carmelo, Eug. de Castilho:- róstro.
179.-Moraes e Roquete:-lóto.

3. ª P r'\.RTE

I
180. -Alguns pronunoião:-um nwdélo.
181.-Monto Carmelo:-· anltêlo ou anêlo, aprêsto.
182.-Roquête:-doilsto. ·
183.- Alguns dizom: - êlo.
A 1.INGUA PORTUGUEZA

184.-Assevera Cornu: -- «Gonçalves Viana escreve-me


que elle pronuncía clesvêlo, esmêro,>.
185.-Excepto nas terminações em que esse ditongo é re-
sultado da suppressão do l originario, co:no em batéis, painéis;
em tal caso, o e tem som aberto. Gonçalves Viai;ia, Pronuncia
normal, ll, 56, letra e.
186.-Cap. X, Da conversação.
187. -Essa é a pronuncia da região central, entre Lisboa e
Coimbra; ao norte e ao sul, não se pronuncia assim. Dá-se, em
taes ca,;os, ao e o seu valor proprio, se bem que algumas vezes
ou em alguns Jogares com timbre mais aberto do que na pronun-
cia brasileira. E ha quem conteste que ainda em Lisboa o som
seja propriamente de â. O distincto grammatico José Barbosa
Leão, natural do Porto, escreveu o seguinte, no seu opusculo
sobre a reforma da ortographia em sentido sonico: -«O visconde
de Castilho, partindo da indicação que lhe fez um amigo, affir-
mou, na 2: edição do sen Methodo, que «o eJ antes de i, segun-
do a pronuncia da capital e de muitas outras partes do reino»,
sôa a, e portanto o ei sôa ai, apresentando para esse exemplo
lei e manteiga, que disse pronunciarem-se lâi e mantâiga; pelo
que deu, nessa edição, ao e mais o som de a, além dos quatros
sons que lhe havia dado na l.". Na 3.ª edição, depois de lhe
ter outro amigo notado o erro que havia commettido, num dos
sons que attribuira ao x, e por indicação dolle, estabeleceu que
o e, antes de x, sôa ai, dando para exemplo excepto; e asseve-
rando que «a maior-parte da gente culta» pronuncía âisperien,
eia, afritante, aizata, etc., e não eisperiencia, eicitante, eizato,
d'onde se segue que tambem pronunciará saisto, taisto, etc., e
não seisto, teisto. E por isso deu nesta edição um sexto som ao e:
-o som de ai.
«Mas um bocado de reflexão mostra que, num e noutro
caso, o illustre sabio se equivocou completamente, tendo,lhe
por isso os seus amigo& feito um pessimo serviço, com as suas
indicações. Com effeito, se naquelle som de ai, o a tem o seu
primeiro som, segue-se que teremos um perfeito ditongo de ái,
e que o som vogal de lei é igual ao do pai; o ultimo de falei, ao
de falai ou falais; e o primeiro de excepto e texto ao de aivéca
e taipa: e julgamos poder affirmar que ninguem pronuncía as-
sim, nem em Lisboa, nem em parte alguma do paiz. Se, porém,
o a tem o seu segundo som, então o ai soará como o ai de pai-
zagem, arraial, alfaiate, etc, isto é, será um som breve, e as
palavras lei, falei, texto e semelhantes ficarão de partículas, ao
nivE>l da preposição JJara, visto não terem som vogal longo, nem
syllaba predominai1te; o 9.ue seda 4n1a offe:usa gravíssima á
A .·LtNGU.A; PORTUGUEZA. 231

índole da nosssa lingua, e comprometteria a sua belleza e for-


ça». (Cit. op., ps. 25).
Lê-se, no mesmo opusculo, ps. 91, em representação diri-
gida á Academia de Lisboa, por uma commissão nomeada ne
Porto, para propôr a reforma ortographica:-«A este proposito,
deve notar que não desconhece cartas pronuncias, sobre as
quacs chama a attcnção, para que sejão emendadas, por viciosas
que são, segundo çrê. Por um lado, alguem sustenta que e pre-
dominante, antes de lh, tem som de a fechado, na pronuncia ge•
ral, e se diz, por exemplo, conçâlho, sâlha, abâlha, e não concê-
lho, sêllu1, abêlha, o que não considera acceitavel. Por outro lado,
ha quem troque o e fechado por ei, antes de j, lh, nh, dizendo,
por exemplo, igreija, teilha, leinha,em .vez de dizerigrêja, têlha,
lênlta». .
188.--Vido Gonçalves Viana, Exposição da pronuncia nor-
mal portugueza, § 66, letra e.-Adolpho Coelho, Dice., Prologo,
o Gntmmatica, § 73.

II
189. -Autores- que mais particularmente tratárão desto
assumpto:
Duarte Nunes de Leão, Ortlwg. da ling. port., 1576 (2. 11
ed., J.784, 3.ª, 1864). . ·
Luiz Caetano de Lima, Orth{)g., 1736.
João Pinheiro Freire da Cunha, Tratado ele Orthog., 1.ª
ed., 1788. .
Madureira Feijó, Monte Carmelo, Gonçalves Viana, Juli.o
. Cornu. ,
Grammaticas de Francisco de Andrade, junior. de Adol-
pho Coelho, Epiphanio Dias, Monteiro, Grammatica dos l.Áceus,
V orgueiro e Perten~e (Lisboa, 1861 ), Paulino de Soasa (Paris,
1870), Ernesto Carneiro Ribeiro (Bahia, 1881), Massa (Bahia,
1888), Maxunino Maciel (Rio, 1895), Estudos da língua 'l.'erna-
cula, pelo professor A . T. (Antonio Trajano;, Rio, l!,03.
Dr. Antonio de Ca!tro Lopes, artigos no Jornal do Coni-
mercio, de Rio de Janeiro , de 27 de junho a 5 de julho de 1893.
· Na ortographia usual, commumente, não é indicada a me-
taphonia; mas algumas edições indicão-na.
190. - Ha alguns substantivos, derivados de verbos da 2 a
conjugação, que têm fórma igual á da 1."' pessoa do pres. do
indicativo; mas o som do o é fechado, no nomo e no verbo:- es-
tôrço, côrro, soccôrro, sôrvo, vôlvo.
191.-A metaphonia, que produz, não somentemudança na
A LINGUA PORTUGUEZA

pronuncia, mas troca de vogal na escrita, como fregir, frijo, fré-


ges, frége, sentir, sinto, sentes, sente, acudir, acóâes, acóde, fugir,
fujo, foges, foge, etc., pertence á rnorphologia
192.=Ordenações Affonsinas, L. IV, T t. 69, § 15:-«Pa-
dre ou Madre, Avôo ou Avóab. (Vide Dice. port.r de frei Do-
mineos Vieira). . ·
' Sa de MÍranda, carta 1 ª a el-rei, v. 25 ( avoo), e elegia
3 .1\ á morte do príncipe D. João, versos 109 e 110 (avó, avôs).
Edição C. Michaelis de Vasconcellos, poesias ns. 104 e 148.
Duarte Nunes de Leão, Oi-thog., let. o: «dóna por avóa,i.
193.-Jeronymo Soares Barbosa, Grarn, lv. 1 °, cap. VIII:
-«Não são só os rnsticos que se enganam nisto. Muita gente ·
polida pronomcía, no plural, com o grande fechado, como no
singular, os nomes que têm oo na penultima e ultima.syllaba,
dizendo:-soccõrro, soccôrrns, e não soccórros, gostoso, gostosos, e
gostósos; ou, não fazendo excepção da regra, dizem, pelo contra-
rio esposo, espósos, gosto, góstos, lôgro, lógros, etc.».
O uso fixou-se em algumas palavras, em que d'antes era
vario . . 4'.Ha nomes, diz Duarte Nunes de Leão, que, tendo no
singular o accento circumflexo, teem no plural o accento indif-
ferente. J.>orque, de poço, dizem l)ôços e póços, de tôrto, tôrtos
e tórtris, d, novo, nôvos e nóvos, de ôsso, ossos e óssos, de p(!vo,
pôvos e povos.
Hoje todos pronuncião essas palavras com o aberto, no plu-
ral. Outras, pelo contrario, em que outr'ora o som do o tonico
não variava, têm hoje pronuncia varia, sobretudo em Portugal,
onde ha tendencia para ampliar o uso da metaphonia». «Mui-
tos dos substantivos, diz Cornu, que hoje são pronunciados no
plural com o aberto, não o erão até ao fim ·ao seculo 18, pois no
Cancioneiro Geral ( t516~, no qual o o aberto é representado
com oo. em .loão de Barros (1496 -157 ), que, na Terceira Déca-
da ela Asia (Lisboa. MDLXIII), escreve regularmente o o aber-
to -ó, em Duarte Nunes de Leão ( Ortographia), esses substan-
tivos serão no plural rogos, confortos, acôrdos, almoços, esforços,
choros, destr0ços, estõi·vos . João de Moraes Madureira Feijó
(1739), D Luiz Caetano de Lima (1736), fr. Luiz do Monte
Carmelo (1767) e João Pinhoiro Freire da Cunha (1792) não .
mencionão essas palavras nas listas dos substantivos que tem o
o no plural, ou dizem expressil.mente que o o se conserva fe.
chado no plural, e adduzem ainda outros exemplos, como con-
tornos, retôrnos, transtôrnus, alvorôtos, alvorôços, que hoje são .
pronunciados contórnos, etc. Jerouymo Soares Barbôsa (1822)
aiuda diz contôrnos». Corn.u, como já accentuámos, guiou-se
pela. informação do sr1 Gonçalvea Via.na, que dá com.o noi:-ma.1 a
A LINGUA 1.'0RTUGUEZA

pronuncia de Lisboa. l\Ias em Portugal, o ainda em Lisboa1


muitos não pronnncião assim todas essas palavras. No Brasil ·
pronunciam-se com o fechado no plural, excepto rógos, esfórço;
e destróços; alguns dizem tambem almóços, contórnns.
19-!. - O dr. Castro Lopes affirma que o som do plural
dos nomes que têm o nas duas ultimas syllabas obedece a leis,
que elle suppoz · ter descoberto. E expõe essas leis deste mo-
do: -Os nomes que têm o o penultimo aberto conscrvão o mes-
mo som no plural'. Nos que o têm fechado, em regra, esse o tom
o som aberto no plural; mas ha ,excepções. Não se muda o som
nos nomes que têm esse o antes das consoantes: - b, c, ç, d. gr,
.i, l, Ih, m, n, p, r, rd. rm. rr, rs, rt, st, t, x ou eh= x , e z. Por-
tanto, antes de quasi todas as consoantes, em 22 terminações. A
mudança do som faz-se, com algumas excepções, quando o o está
antes de g, s, ss, rc, (só em porco), rn, rp (só em corpo) e v; isto
é, em sete terminações, e em alguns poucos vocabulos, antes
das outras letras supramencionadas>.
So alguma lei se póde deduzir dessa exposição, é que, em
regra, ao contrario do que entende o autor. nos nomes que têm
o o nas duas ultimas syllabas, a vogal tonica, assim como nas
outras terminações, não muda de timbre, no plural; muda, po-
rem, por excepção, nos adjectivos acabados em oso, em corpo,
porco, em alguns nomes terminados em ogo, osso, orno, ovo e em
mais alguns, poucos, de outras terminações.
195. - Um nosso grammatico dá como regra que a mór
parte dos nombs quo não têm fórma feminina têm som aborto
no plural.
196.- -Alguns seguirão a analogia da terminação: -escó-
lhos, fólhos, como abrólhos, óllws (ainda hoje tambem escôlhos, fõ-
lhvs, estôllws e estôlhos ); outros eram, primitivamente, de som
aberto, no singular:-glóbo, que Bento Pereira o Monte Car-
melo assim accentúão, abróllw, a/'róllu, cõ1:o, rógv 1 tóro, como
ainda alguns pronuncião.
197. -Outr'ora, dizia-sa indiffercntemente pôçus ou póços,
conforme attesta Duarte Nunes do Leão; hoje, usa-se geralmen-
te pôça, apezar de t"r prevalecido póços: é mais coherento dizer
póça, como pronuncía o sr. Gonçalves Vi11,na. Escolha é palavra
differente de escol/to; follui ( do latim folia, .p lural neutro) não é.
flexoo feminina de /ólho, nem bóla (bulia) de bõlo, bôlos ( lat.
boliis, gr. bõlos). .
198;-Duarte Nunes .de Leão, Orthog., letra o:-«E o que
tenho ad ertido da nossa lingua he que as dições em quo ha
esta differeuça de oo são os nomes de duas syllabas, quo, na
prillleira o na segunda syllaba teem Oi Dos quaes muitos teem,
24.-0 A UNGUA PORTUGUtZA

no singular, accento agudo na mesma ... Mas alguns ha que não


mudão o accento no numero plural. .. Não somente ha esta dif-
ferença do singular ao plural, mas do genero masci.llino ao fe-
minino ... Os nomes de muitas syllabas, assi no singular como
no plural, teem accento circumflexo, como xarrôco, xarrôcos,
barrôco, barrocos; peixoto, canhoto, raposo, e todos os nomes aca-
bados em oso, como fer-moso, copioso, iroso . nfas teem esta diffe.
rença, que os femininos mudão o accento em agudo, como barrÓ•
ca, pe'b:óta, f ermósa, irósa:- tirando rapôsa, que vem de rabôso,
e rabósa». E' certo porem que nessa epoca (lb7!3) tambem já ~e
pronunciavão com o aberto .no plural os adjcctivos em oso, pois
sempre os escrevia João de Barros com o grande ló). Fernão de
Oliveira diz, no cap. VIII da sua Grammatica (1536): -- «Temos
O(J grande como jennosos e o p11que110 como ,fermoso».
199.- Por exmnplo, Julio Ribeiro e Castro Lopes.
200. - E' um adjectivo substantivado, quer venha de rabo-
so, como dizem Duarte Nunes de Leão e Covarruvias ( Diez,
Dice.), quer do lat. rapiJre, rapar, roubar, rapax, rapaz ou ra-
paco, mudada a desinencia, tanto no portuguez, corno no espa-
nhol, talvez para differençar do rnpaz, moço. No espanhol, ra-
piego e rapaces, aves de rapina.
Esposo, gozo ou goso, e o adj. goso (cão) não são formados
com esse suffixo. Derivão-se: esposo, de spousas; gozo, segundo
uns de gavrsus, segundo out.ros de gaudium ou de gustus; gos(l,
provavelmente de gothus, gôdo (cães trazidos pelos gôdos).
201.- Por analogia, do feminino canhota; mas Monte Car-
melo, Cqrnu, 307, Ernesto Ribeiro e Massa dizem canhôtos.
Lê-se, na grammatica de Paulino de Sousa, que a termina-
ção oto tem o o penultimo fechado, 110 masculino, singular e
plural, mas aberto no feminino, pois se pronuncia: -minhôto,
minhôta, minhôtos, ga1·ôto, garôta, gctrôtos, marôto, marôta, ma-
rôtt,s, perdigôto, perdigôta, pen1igôtos.
Os que dizeni rninhóta dizem tambem minhótos, como Luiz
Caetano de Lima. Antigamente, segundo Nunes de Leão, dizia-
se canhôto, canhóta, ca11hôtos, mas tambem Jermôso, fermôsos, e
assim no~ mais p0lyssillabos de o tonico fechado, n__o singular.
202.-João de Deus, Oornu:-dorminhôco, dorminhôcos.
203.-Tambem se diz, em Portugal, óvvs, gôlos, segundo
Gonçalves Viana, apud Corou, 11. 2 l, nota; Pereira Coruja, n.
125, nota: gôros.
204:. -Muitos dizem, no singular, abl·ólho.
205. - Moraes: -antôlhos. Ad. Coelho :-antólhos. Castro
Lopes: - -«As palavras sobr'ôlho e ant'ólhos são, evidentemente,
formadas com o vocabu!os ôlho; como os seus prefixos, sobre,
A LINGUA PORTUGU~ZA 241

ante, não soffrerão alteração profunda, o que succedeu com as


palavras caôlho, zarolho, devem ser pronunciadas com o aborto
sobr'ólltos, ant'ólhos, como se os dois termos fossem distincta-
mente proferidos».
20ô.-Muitos pronuncião, no siugular, apódo, poucos no
plural apôdos. Vide l :ornu, n. 57.
207.-Cêsto de palha, muito usado no Maranhão e nos Es-
tados visinhos. Ali se pronuncía côfo, cófus.: Castro Lopes
quer que se pronnncíe cofos, por analogia dos outros voca.bu-
los desta terminação: -- estôfos, mó/os, balofos, fôfos, róf'os.
208.-Gonçalves Viana, Pron. normal, n. 53, Cornu, n. 56.
E assim o pede a analogia do fem iuin o, córcóva, e a do plural
dos outros substantivos .n esta terminação.
• 2íi9.-Duarte Nunos do Leão: - córos ou choros. Ho.ie to-
dos dizem c:,ros, excopto o professor A. Trajauo, no seu Estudo
da língua vernacula.
210.-Madureira, Monte Carmelo, 1'loraos, no singular:-
cóvo.
211. -Madureira, Monto Carm olo:- clespôjos, ilestróços.
Hoje, tanto em Portugal como no Brasil, diz-se:-despójos, des-
tróços. Gonçalves Viana, Cornu, ns. 57 e 306, Epiphanio Dias,
Monteiro Leite, Ernesto Ribeiro, Castro . Lopes. Este ultimo,
quanto a clestróços; parece que pronunciava despojos, corno os
outros nomes desta terminação, antójos, arrôJos, dôjos, estojos,
etc., que adduz como exemplos, uão exceptuando aquelle, e até
incluiudo tojo, que todos os outros autores, modernos e antigos,
dão no plural tójos. .
212. --1-fonte Carmelo, Cornn, n. 306, P ereira Coruja, n.
25, nota:- epôdos. ·
213.-Gonçalves Viana, Cornu, n. 22, Epiphanio Dias,
Monteiro Leito,. Paulino de Sousa, Emesto Ribeiro, Massa (es-
te tambem, no si11gular, escólho). Escôlltos:--Luiz Caetano de
Lima, Madureira, J\'lonte Carmelo, Vergneiro e Pertence, Julio
Ribeiro.
214.--Gonçalves Viana, Cornu. n. 57, Epiphanio Dias ,
Monteiro Leite, Pereira Coruja . Antigamente:-e.sfôrços. Mon-
te Carmelo, Corou, n. 58.
215.-Adopho Coelho, Cornu, ns. ·22 e 306, Ernesto Ri-
boiro. Fôlhos:-Epiphanio Dias, Mon teiro L eite, Vorgueiro 0
Pertence, Castro Lopes ( Pereira Coruja, fólho, j'ólhos f Desfó-
lhos, Cornu, n. 57; mas o fe minino desfólhrt pede de.cifólhos. Re-
fôlhos , Madureira, Monte Carmelo, Castro Lopes.
216.-Segundo Paulino de Sousa, no sentido do juizo, tri-
bunal ou lugai ondf;l litiga ou administra justiça (barreau ), u~a-

Biblioteca Pública Benedito Leite


A LÍttGUA PÔR.TUGtlEZA

se no plural foros Assim, ha de se dizer:-• A qual dos fôros


pertence a causa, ao civil ou ao commercíal? Havia em Roma
varios fõros (fora). o romano ou antigo, o de J ulio Cezar, o de
Augusto, o de Nerva, o de Trajano:&. Não vimos esta excepção
em nenhum outro autor. Em latim, forum,Jora, tinha o o breve,
e portanto de som aberto. Garrett ( Disr,ursos) accenttia sempre,
no singular, Jóro.
217.-Bento Pereira, .Monte Carmelo, Adolpho Coelho,
Cornu, n. z-106, Francisco de Andrade, Ernesto Ribeiro, l\'Iaciol,
Antonio Trajano; mas globos em Madureira, Epiphanio Djas,
:Monteiro Leite, Vergueiro e Pertence, Castro Lopes.
218.-Madureira. n. 45, 1'Io11te Carmelo, Cornu, 11. 21,
Paulino do Sousa, Ernesto Ribeiro. Hõrtos;:-Duarte Nunes de
Leão, Castro Lopes. O feminip.o ltór_ta pede o plural ltórtos. •
219.-Cornu, n. 306, Eug. de Castilho . .Miraõllu,s:-Mon-
·te Carmelo.
· 220.-Maclure:ra, Monte Carmelo, Adolpho Coelho, Gon-
çalves Viana, Cornu, n. 306, Epiphanio Dias, Monteiro Leite,
Castro Lo_pes, Pereira Coruja. Temos: porem, veriijcado que a
muitas pessoas esta pronuncia causa estranheza ou desagrado;
e dois grammaticos brasileiros, ambos da Bahia, Ernesto Ri-
beiro e Massa, dão:....'....-pe.scóços.
221.-Moraes, Cornu, n. 21:- alhos pórros. Castro Lopes:
-alhos põrros.
222.- Ep. Dias, Monteiro Leite. Refôrço,q: -Monte Car-
melo. .
223.-Jeronymo Soares Barbosa, Gonçalves Viana, Pau-
lino de Sousa, ps. 288, Ep. Dias, Monteiro Leite, Castro Lopes,
Ernesto Ribeiro, Pereira Coruja.
224-.-Analogia de sogra. Francisco de Andrade, Ernesto
Ribeiro, Cornu, u. 21, mas tarobem sõgros, 11. 307. Sõgros: -
Castro Lopes.
225.-Monte Carmelo diz que alguns pronuncião tijolos;
Gonçalves Viana, Cornu, n. 28, Ep. Dias, Monteiro Leite,
Castro Lopes, Ernesto Ribeiro, Pereira Coruja. Tijôlos: --Ma•
.dureira.
226.-Por analogia de tócha.
227.-i\ladureira, Monte Carmelo, Gonçalves Viamí, Ep.
Dias, Monteiro Leite, Paulino de Sousa, Ernesto Ribeiro, Cas-
tro Lopes, :\'las1;:a, Pereira Coruja, Antonio Trajano. Tôrnos:-
Duarte Nunes de Leão. -
228.-Monto Carmelo, Cornu, n. 21, Pereira Coruja, Er-
nesto Ribeiro.
229.- Madureira, Monte Carmelo (<•alguns dizem lremô-
A LINGUA PORTUGUEZA 243

ços• ), l'lfor~es, Francisco de Andrade, Gonçalves Viana, Corun,


n.. 32 a, Ep. Dias, Monteiro Leico, Ern esto Ribeiro.
230. - J\Ionte Carmelo, .Frallcisco de Andrade Adolpho
Coelho, Gonçalves Viana, Comu, n. 306, Eug. de Castilho, Ep.
Dias, Monteiro Leite, Castro Lopes, Ernesto Ribeiro, Pereira
Coruja, Antonio Trajano. T1·ôcas:-Duarte )l°unes do Leão,
Madureira, n. 446 e vocabulario, («ai nda que muitos dizem trá-
cas» ), Paulino de Sousa.
231. -1\lonte Carn1olo, Francisco de Andrade, Gon;alves
Viana, Coruu, n. 28, Ep. Dias: 7'fonteiro Leito, Ernesto Ribeiro,
Castro Lopes, P ereira Coruja.
232.-.Melhor orth:::graphia qne f i·auxa, porque vem do
fiuxus (esp. fla xa ).
233.-Em Portugal, ha quem diga <lesenvàltos, envóltus.
Cornu, u. 21.
234. - Pereira Coruja , Castro Lopes. Castilho, por amor
da rima, accontuou torvas, na traducção das Georgicas, liv. 1._0 :--

om voz de gra:mos tórvos


erucitão de alvorôço OlH tom festivo os córvos 1

ifas a pronuncia co mmum é tônos, e assim se vê acron-


tuado esse p lural, por IDLÜtas vozes, nas obras de Filinto Elysio,
em versos deste e nos do Alfena Cynthia ( Domingos ~Iaxi.mia-
no Torres):-

Eis corcão-mo
·Espéctros, que cm mim cravão tôrvos olhos .
T. 2.0 , Oberon, p. 6D.
E para traz volvendo os tôrvos olhos. ·
T. 3.0 , p. 453, Alf. C.

Por elle rosvalaudo os tôrvos olhos.


lb., p. 4fi3, Id.

E cravados em mim os tórvos olhos .


Ib., p. 487, ld.

235.-Julio Rib eiro , Antouio Trajano.


236.-Coruu, n. 307.
237 .-Pereira Coruja, n· 125, n.ota, Ernesto Ribeiro, Cas-
tró Lopes. Abórsos, abórtqs:- >Ion to Carmelo, Cornn, u. 30G.
238.-Monte Carmelo . Acórdas:-Comu, n . 57 .

Biblioteca Pública Benedito Leite


244 A LINGUA PORTUGUEZA

230. - ~fonte Carmelo, Ep. Dias, Monteiro Leite: Adórno::;:


-Auolpho Coelho, Gonçalves Viana, apud Julio Cornu, n.
30G, Castro L opes.
240. -Cornu, u. 57 (o des'l foyas;, Castro Lopes.
2H.-Monte Carmelo, Castro Lopes, Ernesto Ribeiro ,
.\lassa, Antonio Trajano. Almóços: -Gon çalves Viana, Cornu,
11s . 21 o 57, Monteiro Leite.
242. -Cornu, n. 307.
243. -Mon te Carmelo, Coruu, u. 307, Castro Lopes, Mas -
sa. Antójos :-João de Deus.
::!44. - Num artigo, publicado no Jornal do Cummerâo, do
Rio, de 20 do agosto de 1903, affirma o s r. Candido do .Figuei-
redo -« em Portugal, pronunciamos bólsos ». No Bmsil, dizetu
bôlsos; o cremos que em Portugal essa é a pronu.ncia mais ge -
ral, pois assim mandáo pronunciar Monte ~a::m elo, Comµ. n .
28, i.:piphanio Di as, Monteiro L eite e nenhum autor, ainda dos
que mais amplião a metaphonia, menci.oua esse uom e na lista
dos que tem som aborto no plural. E o que deve ter fechado
infere-se do feminino bôlsa. Leite de Vascouoellos (Dialectvlogie
pvrtugai.~e, n. 45, a) , depois de frisar que, na fronteira do uorte
e do centro, ás vezes, ha co nfusão do ó e ô, sobretudo em Tras-
os-Mon tes, sendo o o t,onico pronunciado quasi sempre com
som aberto (ntórru,pórco, ósso, óbo -o), accrescenta: - ((Nas ou-
tras regiões do paiz, encontra-se confusão, mas em estado spo-
radioo: -alfórge, a par de al{ôrgc, bólsos, a par de bôlsoS>>.
245. - Não se encoutra este nome nos diccionarios, nem
nas listas dos autores quo consult.1mos; mas, uo Brasil, é muito
usado. Alguns dizem brôto, brótos.
246. - Duarte Nunes de Leão, Madureira, Monte Carme-
lo, Paulino de Sousa, Ernesto Ribeiro, Castro Lopes, Maciel.
Chóros: --Gonçalves Viana, Cornu, u. [,7, Ep. Dias, Monteiro
Leito. ·
247 ..c..:..Conf'órtos :- Cornu, n. 57.
248.--No sentido de bufete, movel de sala (do fraucez
console), éliz-se consólo, consólos.
24H. - Corou, u. 57, Castro Lopes, ,\lassa: - contói·nos.
250.-Alguns prouunciã.o enójos.
251. -Castro Lopes.
~52.-Castro Lopes diz tambem escôpo, escôpos; mas a pro-
sodia geral é escópo, escópos: - ,\fon te Carm elo, Moraes, Ad.
Coelho, otc. No grego e uo latim, esse o é breve, e portanto
aberto (g r. skopà'::i, lat. scopus). Em escôpro , o o=ott vom de
at, scalJJrwn.

Bibllotec• Pública Benedito Leite


A LINGUA PORTUGUEZA 245

2õ3.-Corno observa Corou, n. 24, assim se pronuncion


até ao 18. 0 seculo. E' ainda como se pronuncia no Brasil, e como
o pede a analogia do .feminino esposo. João de Deus , Paulino
de Sous~, Vergneiro e Pertence, Julio RibC\iro, Ernesto Ribeiro,
Antonio T rajano assim accentúão; mas parece que em Portn-
gal, modernamente, se tem genoralisado a 111etaphouia Heste, no-
me, pois Adolpho Coelho, Gouçalves Viana, Epipha11io Dias e
.Monteiro Leite dizem espósos.
254.-Paulino Sousa, Ep . Dias, :Monteiro Leite, P ereira.
Coruja, Castro Lopes . E~tQjus:-~Iadureir11, ,J. Corou, n. 306
(mas estôjos, no n. 27 ).
255. -Moraes , Roquete, Ad. Coelho. Estàlhos: -J oão de
Deus .
25G.--Monte Carmelo, Vergueiro e Pertence, Cast.ro Lo -
pes. Estórvus:- Gonçalves Viana, Cornu, o. 57, Ep. Dias, Mon-
teiro Leite.
257 .--Monte Carmelo. Fôlgos:-Gonçah·es Viana, Pro-
nuncia normal, n. 56 , let. o e apml Corou, n. 306 ( :,O gato tem
sete fó lgos_. ).
258 .- João de Barros escreve geólhos, com o pequeno 011
fech~do. Compil. de va1·ias obras, ps. 3!), 47, 49, 234.
2ú9.- Duarte Nunes d<:1 Leão, Madureira, l\Ionte Carmelo,
Ad. Coelho, Corou, n. õ7, Paulino de Sousa, Ernesto Ribeiro,
l\Iassa, Maciel, Antonio Trajano. Gózos: -Gonçalves Viana.
· apud Cornu, n. 306; Castro Lopes escreve goso, e o adj. gozo,
gozos .
260. -Monte Carmelo, Paulino de Sousa, Julio Ribeiro,
Ernesto Ribeiro. Jórros: - Corou, u. 406, mas j órros1 no n.
82 a.
_ 4i261.-Monte Carmelo, Cornu, ns. 27 e 57, Paulino de
Sousa, ps. 28 3, Vorgueiro e P ertence, Julio Ribeiro, Castro
Lopes . Em_Portugal, alguns preferem lógros. J. Soares Barbo-
sa, Comu a Palllino de Sousa.
· 262.-Comu, n . 307 , João de Deus, Vergueiro e P erten-
Cíl, Julio Ribeit•o. Perdigótos:-L1iiz Caetano do Lima, MontQ
CR,nuelo.
263.-Monte Carmelo.
264,-Moute Carmelo, Corou, n. 27.
286, -Antigamente, no sentido de estipeudio ou soldada,
dizia-sG aóldu, sôldos: no sentido de moeda, sóldo, sóldos. Duar·
te Nunes de Leão, Mora.as, Hoje, em ambos os sentidos, sôlclo,
1ôldos. Paulino de Sousa.
288.-A serotherapia fez q11e se use hoje, muito freq11en•
temente, do plural deste nome. T4'mos sempre ouvido iôros, "

Biblioteca PUbllca Benedito Leite


24fl A LINGUA PORTUGUEZA

assim mandão pronuuciar os autoros brasileiros Pereira Coru•


ja, Julio Ribeiro, Castro Lopes, Ernosto Ribeiro, Maciel. Mas
os portnguozcs dizem sóros:-.\ladureira, Monto Carmelo, Gon-
çalves Viana, Cornu, n. 21, Epiphanio Dias .
267. -J\Iaduroira, .\fonte Carmelo, Vergnei.ro e P ertence,
Julio Riboiro, Ernesto Ribeiro, Massa, Maciel.
268. - Cornn, 11. 307, Vergueiro e P ertence, Castro Lopes.
Tócos: -Francisco de Andrade, Eugenio do Castilho, Ernesto
Ribeiro, Pereira Coruja. E' palavra muito usada outro os lavra-
doi·es do Brasil. Commumente dizom tôco.s, mas tamben temos
ouvido tócos. ·
2G9:-Pareco-nos que assim se deve pronuncíar,por analo-
gia do fe miniJJ o tà}'(la, e pela etymologia (u latino em posição,
turdus, como do gurdus, gàrclo, gàrda, gôrdos); mas em Portu-
gal usam , geralmente, tórrlos: -1'fadurcira, Monte Carmelo,
:'.\Ioracs, Adolpho Coelho, Gonçalves Viana, Cornu, n. 28, Ep.
Dias, Monteiro Leite, Pereira Coruja, Ernesto Ribeiro. Tàrdos:
-Castro Lopes.
270.-Como tambem não so lhes da flexão feminina; só o
povo a faz algumas vezes :-as Frazàas, Ribeiras, Rebellas,
JJ,'lachadas, Furtadas, Pedrósas, Vellóaas, etc. •
271,-V crgueiro e Portence, J ulio Ribeiro.
Titulo m
Da euphonia
Para facilitar e suavisar a pronuncia, acc rescentão-se ,.
letras, ou supprimem-se, deixando-se de escrever ou pro-
ferir, e tem-se até mudado o valor primitivo de algumas
consoa::tes .


A LINGUA PORTUGUEZA 24.~

· CAPIHJ LO l

Letras aeereseentadas ou supprimidas

Ao pronome enclytico, o a, os, as, depois de termina-


ções verbaes em r, s, z, dos pronomes nas, vos, e do adver-
bio eis, accrescenta-se um l inicial, supprimindo-se aquel-
las consoantes finaes:-amú-lo, áma lo, amâma-lo, amemo lo.
0

a:mai-o ( 1 ), vê-lo, vêde-lo (2 ),, tem -lo (31, di lo, tra-lo, fa-lo s ( 4 ),
/'e-lo, fi·lo, po-lo, pu-lo, qui-lo, no-lo, vo-lo, ei-lo, em vez de
aniar-o, amas o, ama.mos -o, amemos-o, amais o, vês-o, vêdes-o, tens-
o, diz-o, trâz-o, fnz-o, fez-o, fiz-o, poz-o, Jntz-o, quiz-o, nos o, vus-
o, eis-<,, ou amar-lo, úmas-lo, etc., nos-lo, vos-lo, eis lo.
Os antigos esctevião com l dobrado, e sJm separação,
amállo, amamollo, etc. O; modernos, entendendo que havia
ahi simples mudança da consoa .. te final r, s, z, em l, ad o-
ptárão a g raphia de um só l, posto no logar dessa const: -
ante, ou Llllido ao pron')me, por faz er syllaba com ella.
Hoje, porem, as autoridades mais competentes explicão
de outro modo esse uso. Lo, ln, los; las é a fórma primi-
tiva de-?se pronome, assim como do nrtigc ( 5 ), e a coi:.iso -
ante final da palavra precede.ate ass imilou-se c0m a inici
al do pronome. Estd explicação justifica a graphia antiga,
e exige que, na moderna, se u:1a o l ao pr'onome.
(); antigos tambem ligavão este pronome a substanti-
vos e outras palavra!; terminadas em s: ·· Deullo E;abe, a De-
ullo rogo, poillo dizedes, poilla vi, o que é frequente nos can-
cioneiros, e ainda se encontra em alg uns escriptorei, de
epocas em que a língua já e ra culta.
A mesma ligação fazi ão com o artigo :·-loduU.1s dias,
l! ·dallas cóus!ls, ambollos braços, amballas pei"mis, Trallos Jfoiites.
Com a preposiçjoper, liga-se, ainda hoj ~,'tanto o pro-
nome como o artigo, sem traço de união :--pelo que, pel -
A LINGUA PORTUGUEZA

i;aminho, pela nuwhã. Antigamente, tambem com a prepo-


sição por, pollo que, pollo rei e polla grei, pollo amo1· de Deus,•
rr.odernamente substituida sempre, nessa contracção, pela
preposição per, por se ter obliterado a distincção que o
uso antigo fazia entre uma e outra (6).
Quando os pronomes o, a, os, as vêm depois da termi-
nação nasal dos verbos de que são complementos, põe-se-
lhes antes um n:-tem-no,põe-no, aniem -nci, dizem-no, virão-nos,
deixem-nos, etc. O mesmo se faz depois de não::- não-no que-
rem, não-no pôde, não-na estima ( 7 ), não-nos viu ( 8 ), não-nas
anião. Os antigos tambem ;aizião:-alguem-no fez, quem-no
viu?, quem-no afaga (9), bem-no creio, sem-nú querer, nem-no quiz
ver-( 10 ) . E' ainda· hoje muitos portuguezes assim falam.
Mas na linguagem escripta já se _não usa do n, em taes
casos. Tambem na prosa já poucos .o em pregão, depois de
não; no verso, porem, a harmonia exige-o muitas vezes.
Ainda depois das flexões nasaes de verbos, a que se acos-
tão os pronomes, como _complementos enclitkos. alguns
hoje o omittem, o que se não deve imitar. Se tal uso pre-·
valecesse, prejudicaria muito a doçhl.ra da lingua, mór-
mente na poesia.
Se o pronome não está logicamente ligado ao verbo
anterior, por ser complemento de um infinitivo seguinte,
não é necessaria a adjuncção do n, salvo se a euphonia
imperiosamente a exigir. Não a fez Camões, neste verso,
C, 9.o; 45• (II).

Vão-a buscar e mandão-na diante;

Mas é indispensavel neste de Sá de Miranda (Ecl. do


Encantamento, v. 426):-,-

Vem-na as irmãs a ver (u) .



O mesmo se dá com a ligação pelo l, quando termina
em s ou z o verbo precedente. Hoje, não se diz, como o
A LlNGUA PORTUGUEZA 251

fez Sá de Miranda (carta 1.r1 a el l'ei ):-Se q1terei los C(;iilwcer;


Diz-se-Se os querds conhecer.
Qua nd o, porem, o pronome é compleme ,ito do pri-
me iro verbo, e sujeito logico do infinitivo, deve-se l'aze r
a juncção, quer com o 1i, quer com o l Assim, diremos:-
}1ição-1,o triibalhur, deix:mi-no dizer, façamo-lo estudar, f'e-lo cor-
,·e1·, /i, la cantar.
Com os infinitivos Jos verbo~, na primeira hypothe-
se, pode-se fazer ou deixar de fazer a ligação: -para poder
o crinltecer, por querer a ver ou para pocle-lo conhecer, por quere-
la ver; na segunda hypothese, é necessaria a li,... ação -pai-a
faze-lo falar, JJara deixa-lo correr.
Esse n era cqnsiderado pelos gramma.ticos como sim-
ples accrescimo euph9nico, ou como restituição do n ·ety-
mologico Jessas termin.ações, conservaJo no espanhol, e
que o portuge2: mudou em in Segundo os modernos glot-
tologos, é o l de lo, :ta assimilado á nasal preced ente. Do
mesmo modo explicão alg un s a contr,1ção da preposição
em com o artigo, - no, na, por em-no, em-iui = emlo, emla; e,
por analogia, nelle, nesta, nesse, naquelle; nisto, nisso, 1uiq11illo,
num, noidro, nalgwn; outros, porem, como Diez e Cornu,
admittem. que nestes casos o ·11 provem da preposição la-
tina i?, ( 13).
O ,ç final da 1.ª pessoa plural Jos verbos supprime-se,
antes dos pronomes pessoaes, !Ítmio.s ou encliticos, n(ls, v o11:
-partimo nos, lowvumo -nos. Não se supprim e antes do prono-
·me lhe:-damos lhe, devcmus lhe. ( 14).
Primitivamente se dizia me lo, te fo, lh e ou llti lo, depois
ini o, t,; o, llti o; por fim, como hoje, m'o, (o, lh'o, por lhe o,
e tambem por lhes-o. (15 ).
No verso , o m da preposição com supprime-se :mtes
de um, mna: co'o: co·a, c'mn, c'mmt. p6).
No portuguez antigo, supprimia-s e o n de non, antes
de -m ou n, do qu e ficou vestígio na linguagem dos qui-
nhentistas, na locu ção no ·mais. (17).

Biblioteca PúblJca Benedito Le ite


252 A LINGUA PORTUGUEZA

A preposição de une-se aos artigos, aos demonstrati-


vos este, esse, aquelle, etc., aos pronomes pessoaes elle, ella,
e aos adverbios onde, aqiti, ahi, ali, com ou sem apostropho;
com outras palavras, usa-se do apostropho ou não se faz a
elisão, mais frequente em Portugal que no Brasil: - cl'um,
cl'algum, d'alguem, d'agora, d' A/rica, d'Asia, d'Albuquerque, d'Al-
meida, d'Oliveira, d'ouro, d'agua, etc.; ou de um, de algum, de al-
guein, de agora, ele Africa, de Asia, ele Albuquerque, de Almeida;
ele Oliveira, de ouro, de agua, de ai·, etc. Com alguns nomes
de logares, em Portugal, costumam fazer a elisão: -d'Alcoba-
ça, d'Almacla, d'Extremoz, cl'Obidns, d'Ourique, cl'Evora, etc. (18).
Supprime-se o e de que nestas interrogações:-Qu'é ilo
livro? Qu'é ela chave? Qn'é clelle? Qu'é della?
Os classicos fazião varias _contracções, que ainda hoje
se fazem, sobretudo em verso :-est'outro, ess'outro, aquell'
outro, est'outra, 'est'outros, etc., d'est'arte, atéqui, atéhi, atéli,
atégora, ou téqiti, téhi, téli, tégora, jágora, áquelle, álgitm, álguem,
e hum'hora, como out1·'ora. Contrahião ao, aos, em ó, ós, como
se contrae a a em á:-ir ó campo, contrario ós vicios (19).
Antigamente, união dois nomes proprios :-Portalegre,
Nunalvares, Pedralvares; o pr.onome ao nome em Sant'Amaro,
Sant'Antonio, Sant'Ambrosio, etc., e todos os fazemos em
Santanna, Santiago (:20). .
Muitos portuguezes dizem:-cá baixo, lá.baixo, lá cima.
A intercalação de i, como no gallego, ou u, para evi-
tar o biato, formando ditongo (ai agua, é i uni, ja u a vi),
usada pelo povo, em Portugal (21), nunca foi acceita na
linguagem !iteraria. Desfaz-se o hiato por elisão ou con-
tração na pronuncia, sem a indicar na escripta; mas, no
verso, muitas vezes convem usar do apostropho: -Est'ar-
ma, aquell'aguia, minh'alma, d'alma, n'alina, n'agua, n'arca, n'a-
rêa, etc. (22).

Biblioteca Pública Benedito Leite

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