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Liberato Póvoa
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PREFÁCIO DA 1ª EDIÇÃO
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Mas a regra se esbarra em alguns cuja pronúncia ao contrário: prapitinga, por pirapi-
tinga; pracanjuba, por piracanjuba etc. Presente, ainda, na boca do povo, alguns termos
da linguagem quinhentista, como pincenês (óculos).
O grande, o completo dicionário da Língua Portuguesa somente poderá acontecer
com o somatório dos dicionários regionais, como estes do Centro-Oeste, e dos demais
Estados. Assim também, como disse Mário Palmério, a Grande História do Brasil será
realizada com as crônicas dos escritores regionalistas.
Bariani Ortencio
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NOTA À 2ª EDIÇÃO
Estando quase esgotada a primeira edição desta despretensiosa obra, amigos e leito-
res passaram a cobrar-me nova edição, face à aceitação pelo público e pela crítica, menos
pelo real valor deste Dicionário, mas por ser o único no Estado.
Aproveitando-me da cobrança, e levando-se em conta que um dicionário é sempre
uma obra inacabada, aproveitei para inserir novos termos e expressões, bem como acep-
ções diversas de verbetes já existentes, valendo-me (com a devida permissão), da colabo-
ração de grandes escritores, como MOURA LIMA, JUAREZ MOREIRA FILHO,
NEY ALVES DE OLIVEIRA, BARIANI ORTENCIO, ANA BRAGA, MÁRIO
RIBEIRO MARTINS, ANTÔNIO JOSÉ DE MOURA e outros, que, sem outra
preocupação senão a de colaborar, listaram novos verbetes e fizeram – na melhor das
intenções – correções a algumas acepções, pelo que humildemente agradeço.
Tenho a ressaltar a grande colaboração emprestada pelo amigo MURILO
BRANDÃO VILELA, de Tocantinópolis, grande contista e estudioso de nossos falares,
que, apesar de nordestino de nascimento, conhece como poucos os regionalismos
tocantinenses, e, confiado na nossa amizade, fez vários reparos à primeira edição,
apresentando acepções a diversos termos, enriquecendo sobremaneira esta obra.
Mais de mil novos verbetes foram introduzidos nesta nova edição.
Assim, não podendo deixar de registrar a colaboração do Governo do Estado do
Tocantins na publicação da primeira edição, alavancando outras que virão, aceito com a
mesma humildade de sempre as sugestões dos amigos e leitores, pois, se Deus não man-
dar o contrário, este Dicionário não ficará só nesta edição.
O Autor
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À GUISA DE INTRODUÇÃO
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Lambdacismo: galça (garça); galçom (garçom); galfo (garfo); malmita (marmita);
Hiatização: sancristão (sacristão);
No campo da Semântica, o manancial é particularmente rico, onde se ouvem pala-
vras cuja acepção foge completamente ao significado normal, como acesso, açoitar, adá-
gio, afogado, alegar, animal, alicate, anjo, apertar, apurado, arrastar, artista, ataque,
atentado, bambolê, banana, bando, bandoleiro, barrado, barro, bastidor, batida, bati-
zar, berro, boneca, borracha, bruto, caixa, calor, canja, carrinho, casal, centenário,
charlatão, chocolate, churrasco, cifra, compadre, comunismo, consolo, curado, cura-
dor, custear, decretado, dedo, delatar, demência, demente, desapertar, descansar, des-
mentir, desocupar, devoluto, dianteiro, dilatar, direito, divulgar, empanar, encanar,
entupido, errada, esbarrar, escorrido, escoteiro, escrito, esperto, espião, espoleta, es-
pora, esquecido, estandarte, excelência, exemplar, faltar, fato, feito, ferramenta, fino,
função, fuzil, gala, garra, gás, gastar, inteiro, invernar, isca, jeito, justo, lâmpada, lapa,
libra, livro, lombo, madre, maduro, malhada, maloca, maneira, marca, marmitex, me-
lado, movido, mula, nascida, navegar, norma, nunca, ofendido, oleado, olho, palanque,
pano, parido, peçonha, penso, perereca, plataforma, poesia, positivo, prato, precisão,
preguiçosa, preguiçoso, provocar, prosódico, puxado, quadra, quarto, queijinho,
queijo, quilo, recordar, revelia, riscado, rodo, romper, salvar, sambar, seco, seguro,
selado, sentinela, sistema, solteiro, sotaque, sucesso, taco, talha, talo, tara, tarefa, ti-
rada, toque, torneira, torno, torto, traçar, transar, travar, tubo, urubu, usina, vadiar,
vaqueta, variado, variar, vazio, veneno, vivo, volta, dentre muitíssimos outros.
Há que se anotar que a linguagem figurada tocantinense é particularmente rica,
onde a estilística metafórica está presente em quadros ricos em jogos de palavras, dando-
lhe um colorido especial, como também a força da onomatopéia, traduzida por verbos
(retinir, estalar, chiar, zinir), substantivos (grogoló das enxurradas, xixixi da chuva, ti-
nido dos ferros, retintim da foice na saroba).
Também a adjetivação é substancialmente rica (açulerado, arranchado, braboso,
desrecursado, destrangolado, esfiapado, inzoneiro, molengo, troncho, vasqueiro), assim
como as expressões (vira-e-mexe, comer léguas, de cabeça acima, de cabeça abaixo, a
modo de, amiudar o passo, caçar prumo, no quebrar da barra).
O Tocantins é particularmente rico, e encontramos profusamente os termos regio-
nais na sua literatura escrita, nas obras de autores, que enriqueceram e enriquecem so-
bremaneira a literatura regionalista, como JUAREZ MOREIRA FILHO (1), MOURA
LIMA (2), FRANCISCO DE BRITTO (3), ELI BRASILIENSE (4), NEY ALVES DE
OLIVEIRA (5), não podendo olvidar os grandes escritores goianos, que assentaram seus
enredos ou coletaram sua inspiração em terras tocantinenses, divulgando-lhes os costu-
(1)
Oco do Mundo, Infância e Travessuras de um Sertanejo, Rancho
Alegre, Mangaratiba e Tipos de Rua.
(2)
Sargentão do Beco e Serra dos Pilões
(3)
Terras Bárbaras, Massapê e Memórias de Outro Tempo
(4)
Uma Sombra no Fundo do Rio, Pium e Rio Turuna
(5)
Navegando pelo Tocantins
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mes e colocando na boca do povo um vocabulário gostoso, como CARMO BERNAR-
DES (6) e BARIANI ORTENCIO (7).
No trabalho desses cultores dos costumes e amantes do regionalismo está a respon-
sabilidade pela perpetuação deste quase dialeto, que, se não for eternizado nas páginas
dos livros, estará fadado a desaparecer.
Por esta razão é que, seguindo uma sugestão - bendita sugestão! - da Profª NELLY
ALVES DE ALMEIDA, propus-me a editar este pequeno DICIONÁRIO TOCANTI-
NENSE DE TERMOS E EXPRESSÕES AFINS, que não tem a veleidade de se tornar
uma obra definitiva, pois a cada dia surgem mais expressões e termos em nossa região.
Por outro lado, verifica-se que a literatura neste particular é por demais escassa,
pois a importância do regionalismo reclama maiores preocupações dos filólogos, sob
pena de vermos morrer um imenso manancial de legítima linguagem, que sempre é muito
bem recebida pelo público, haja vista a vasta obra de LEONARDO MOTA, onde ponti-
ficam Cantadores, Violeiros do Norte, Sertão Alegre e No Tempo de Lampião, além do
preciosíssimo Adagiário Brasileiro, obra esta de profundo valor filológico, com incur-
sões nas diversas origens dos ditados e seus correspondentes nos idiomas alienígenas,
enriquecendo o nosso já riquíssimo folclore, onde pontificou LUÍS DA CÂMARA CAS-
CUDO.
Há que se mencionar, neste particular, o Dicionário de Expressões Populares Bra-
sileiras, de CID FRANCO, esmiúça, em três alentados volumes, termos e expressões de
todo o Brasil, embora não esgote o assunto, posto que o dinamismo da língua e a introdu-
ção de novos costumes leva à necessidade de constantes alterações.
Como que para demonstrar as constantes modificações semânticas que vêm ocor-
rendo em nossa língua, foi editado o Dicionário Brasileiro-Português, de JERO
OLIVA, em cuja apresentação, ele justifica:
(6)
Vida Mundo, Rememórias I e II, Jurubatuba, Perpetinha, Nunila,
Reçaga, Areia Branca, Idas e Vindas, Força da Nova, Quadra da
Cheia, Memórias do Vento
(7)
Dicionário do Brasil Central, O que foi pelo sertão, Sertão - O Rio e
a Terra, Sertão sem fim, Cozinha Goiana, Medicina Popular do Cen-
tro Oeste
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Entretanto, no que pertine à pureza da língua, não creio que o regionalismo se insira
no pensamento daquele dicionarista, pois se trata de peculiaridades. Prefiro admitir que o
linguajar tocantinense seja uma variação de outras Regiões, pois, como disse, muito se
assemelha ao do Centro Oeste (Região-mãe), ao do Nordeste (pela proximidade), tanto
quanto à do Norte, à qual pertence hoje nosso Estado.
Não chega a ser um dialeto, que, na definição de J. MATOSO CÂMARA JR.,
Não chega a tanto, pois as causas da dialetação de uma língua eram as fronteiras
naturais (oceanos, rios ou montanhas intransponíveis) e até divisões políticas, o que, por
si só, não são o suficiente, pois se assim fosse, os Andes determinariam uma separação
dialetal entre o Chile e a Argentina, entre o Chile e o Peru ou entre este e a Bolívia.
Em termos de língua portuguesa, só se pode admitir como dialeto a língua falada no
Brasil, que, a meu ver, é o maior dialeto da língua portuguesa. Justifica-se o fato, pois a
língua aportuguesa que entrou no Brasil na época da colonização (Século XVI), fase do
português arcaico, mesclou-se necessariamente com o indigenismo - substrato próprio do
nosso meio - o qual, depois de feita a separação da nossa comunidade pela independên-
cia política, pôde desenvolver-se livremente, causando grandes diferenças fonéticas e
semânticas no português do Brasil em face do de Portugal e suas colônias. Assim, no en-
tendimento de DOLORES GARCIA CARVALHO e MANOEL NASCIMENTO,
Não estaria completa esta obra se não a integrassem os termos referentes à medi-
cina popular.
O sertanejo, de qualquer parte do Brasil, quer pelo seu gênio curioso, quer pela au-
sência de médicos, sempre se valeu da flora, da fauna, das rezas e das simpatias para cu-
rar seus males.
Assim é que em qualquer parte do sertão sempre existe um rezador, um curandeiro,
um raizeiro, um entendido, a quem recorrem os necessitados, quando a doença lhes bate
à porta.
Embora o povo considere sinônimos os termos curandeiro, rezador e raizeiro, exis-
tem diferenças entre estes três tipos muito comuns no sertão, que EDUARDO CAMPOS
(8)
define com muita propriedade:
(8)
Medicina Popular do Nordeste - 3ª ed. - Edições O CRUZEIRO - 1967
10
“O curandeiro, de um modo em geral, destaca-
se pelo tratamento que ministra aos doentes, empre-
gando, de preferência, garrafadas preparadas de
acordo com receitas especiais que variam de um
para outro. Quase sempre, o veículo nelas encon-
trado é o próprio álcool, por si bastante forte para
dar alento enganatório ao enfermo, no momento de
sua ingestão. Esse tipo de garrafada muitas vezes
lança o doente numa prostração muito séria. Receita
também meizinhas compostas de raízes, ervas outras
medicinais, empregadas em muito casos com êxito.
Destacam-se esses tipos pela maneira importante
com que ministram sua medicina, pelas palavras di-
fíceis com as quais costumam explicar a origem e a
natureza das doenças numa falsa sabedoria. Geral-
mente afirmam ter o corpo fechado, desde pequeno,
ou simplesmente se anunciam curados de cobra, sa-
bendo receitas e orações que favorecem a terceiros
idênticas imunidades.
O rezador é outro tipo. Destaca-se do curan-
deiro pelo poder de suas orações. É servido por uma
força de sugestão, favorecida pela situação de de-
pauperamento do paciente e pelo respeito que lhe
sabe infundir. Torna-se famoso pelas orações e má-
gicas com que trata as enfermidades que acometem
os animais, sendo capaz de curar pelo rastro uma
rês que tenha desaparecido do curral, perdida pelo
mato. O sertanejo, crédulo, conta como os bichos
largam a bicheira dos animais, caindo mortos ao
chão, dias após a reza, e às vezes até na hora.
Raizeiro - apesar de estar mais próximo do cu-
randeiro, difere deste. É bastante curioso dos assun-
tos da nossa farmacopéia, considerando os remédios
chamados do mato melhores do que os receitados pe-
los médicos, por serem naturais e empregados com
toda a força e sustança da Natureza. No interior, o
raizeiro confunde-se com o curandeiro, e vice-versa.
Na cidade, porém, possui identidade caracterizadora.
Sentado por trás do seu balcão de ervas e essências,
vive atendendo às consultas de seus clientes, que se
contam, às vezes, por dezenas.”
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Não se pode negar a enorme influência das superstições na vida do homem rústico
do sertão. Não só as doenças justificam os costumes de apego às crendices: para qualquer
circunstância existe uma superstição - se o tempo está chuvoso, existe o olho-de-boi feito
com o dedão do pé (“hálux”), girando em torno do calcanhar, à maneira de compasso; se
o sol ameaça a colheita, molha-se a cruz-das-almas ou rouba-se uma imagem de santo de
uma igreja; se alguém põe mau-olhado, reza-se contra o quebranto.
A par das superstições e rezas, existe a invocação aos santos tidos como padroeiros
de determinados doentes e funcionam como protetores nas horas de aflição: Santa Luzia
(dos olhos), Santa Apolônia (dos doentes), São Valentim (epilepsia), Santa Margarida
(parto), São Lázaro (lepra), São Brás (engasgo), São Bento (veneno de cobra), e assim
por diante.
O mau-olhado, que bota o quebranto e periga as doenças, existe; a mão ruim, que
seca a planta cujo fruto colheu e que encrespa o cabelo que cortou, também existe. Tudo
isto é um mistério para a ciência, que, na era dos órgãos artificiais e dos transplantes roti-
neiros, sente-se incapaz de curar do quebranto, que o preto velho analfabeto cura com um
galho de pimenteira ou um raminho de arruda, como num passe de mágica.
Milhares e milhares de casos ocorrem diariamente e são curados com o poder da
reza. Os males do gado, que tantas reses arrasta para a morte, é contido, em grande parte,
pelas benzeduras. A manqueira, a caruara, o mal-de-pontas e outras doenças não gras-
sam livremente nos rebanhos sertanejos, que a imaginação e o misticismo do homem rús-
tico lhes aplica o remédio adequado.
A par das benzeções e simpatias, e quase tão importante quanto a flora, o elemento
animal vem influenciar no tratamento das doenças, conquanto em escala mais acanhada.
Ora, é a moela de ema para os males do estômago; ora, o sebo de carneiro castrado e a
banha de sucuri (ou sucuriú) para o reumatismo e o entrevamento; ora, outros elementos
extravagantes, como o excremento de coelho para curar dor d’olhos, o fígado de urubu
para curar a embriaguês, o pó do chocalho da cascavel para dar termo à asma.
Mas despontando com importância bem maior que a fauna e o misticismo, estão a
raiz, a casca, a folha, a flor e os frutos, dos quais a própria Medicina se vale para produzir
seus medicamentos.
Não se pode dimensionar a valia de uma garrafada; nem é possível negar o valor
das plantas para curar doenças, inexistindo na Medicina substitutivos eficientes para, por
exemplo: catarro na cabeça (sementes de cabaça ou imburana torradas com rapé), doen-
ças renais (chá de quebra-pedras), impotência sexual (catuaba) etc.
Descendo sertão do Tocantins abaixo, são lendários os curandeiros, os rezadores e
os raizeiros; são comuns os remédios caseiros para quaisquer macacoas, parece que existe
um consenso no respeitante à medicina popular, pois ao longo do território tocantinense,
raros são os municípios em que determinada prescrição seja desconhecida, se é a aplicada
em outro. Não raro, cada região tem seu rezador para quebranto e conhece-se alguém que
possui mau-olhado.
Como se observará da relação de doenças mais comuns apresentadas nos verbetes
desta obra, a utilização dos três agentes (vegetal, animal e místico) obedece à escala de-
crescente vegetal/místico/animal, embora o agente mineral apareça com raridade, repre-
sentado pela água, pelo barro e outros que entram apenas no preparo do primeiros.
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Por ter sido a flora o elemento que primeiro teve contato com homem, acredita-se
que os agentes vegetais tenham sido os primeiros utilizados, desde épocas imemoriais,
para reter males, o que, aliás, é sustentado por CASTIGLIONI (9). Dentro de um natural
maniqueísmo, o homem deve ter dividido as árvores em boas e más, atribuindo a elas
propriedades curativas e mortíferas, respectivamente.
Embora menos freqüente, a utilização de agentes animais está, de certa forma, li-
gada ao conceito do animal sagrado. Há teorias diversas: umas acreditam que os produtos
animais teriam a propriedade de absorver os males, livrando, por conseguinte, o paciente
da doença; outros, que tudo era fundado no encantamento místico do feiticeiro; outros,
ainda, afirmam que a repugnância de certas substâncias animais espantava os demônios
causadores das doenças.
O agente místico, por seu turno, é o que se constitui na terapêutica de concepção
primária, predominando o caráter subjetivo e abstrato, não necessitando de qualquer ou-
tro agente medicinal para atingir seu objetivo. Pode-se verificar em toda a zona rural to-
cantinense, como, de resto, nos arrabaldes das cidades, o emprego dos agentes místicos
na cura das muitas doenças que soem aparecer. É de se frisar que os efeitos dos agentes
místicos são tidos como infalíveis, e quando uma benzeção fracassa, atribui-se o fato à
falta de fé, à má administração pelo oficiante ou mesmo a uma possível prova divina,
uma vez que Deus nem sempre reconhece no paciente méritos para se ver curado.
A medicina popular no Tocantins apresenta espantosa semelhança com a da Região
Nordeste, como se pode verificar nas muitas obras escritas sobre o folclore nordestino,
em que são relacionados inúmeros remédios caseiros, meizinhas, crendices e supersti-
ções, que têm uso corrente no Tocantins, variando apenas na terminologia. EDUARDO
CAMPOS (op. cit.) e o Prof. JÓSA MAGALHÃES (10) , da Faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Ceará relacionam, em seus grandes e preciosos trabalhos, cen-
tenas de remédios cuja semelhança com as meizinhas do Tocantins é muito grande, vari-
ando apenas no tangente a certos termos peculiares ao Nordeste, como carrapateira
(mamona no Tocantins) jucá (pau-ferro, no Tocantins), goma (tapioca ou polvilho, no
Tocantins), lambedor (xarope, no Tocantins), entre outros.
Partindo de Esperantina, passando pelo município de São Sebastião do Tocantins,
no extremo Norte, e circulando o Estado por Goiatins e Babaçulândia, no Nordeste; por
Lizarda, no Leste; Aurora do Tocantins e Taguatinga, Dianópolis e Natividade, no Su-
deste; Arraias, Paranã, Palmeirópolis e Araguaçu, no Sul; rodeando por Cristalândia,
Dueré e Formoso do Araguaia, no Sudoeste; por Pium e Caseara, no Oeste; e comple-
tando o círculo por Arapoema, no Noroeste, cortando pelo centro pelos municípios de
Guaraí, Miracema, Tocantínia, Palmas e Porto Nacional, todo tocantinense, à falta do
remédio de loja (e às vezes até com ele à mão) vale-se da medicina popular para substi-
tuir o médico, bebendo as meizinhas e aplicando as benzeções e pensos, buscando as
simpatias e patuás, exercendo-a em larga escala, pois naqueles lugares onde o socorro
médico é vasqueiro, e a Medicina ainda não chegou para conquistar o campo, a farmaco-
péia popular é que prevalece, e a superstição que domina.
Após anos de pesquisa, compulsando livros, escutando o povo, recolhendo retalhos
do ouvir dizer e anotando sem a pretensão de um dia tornar-se obra, mas apenas para su-
prir o fraquejamento da memória, conseguimos relacionar alguma coisa que vem mostrar
(9)
História da Medicina
(10)
Medicina Folclórica, Ed. Impresa Universitária do Ceará, 1966
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o que o homem do mato vem legando aos seus descendentes desde o tempos imemoriais:
uma cultura onde mesclam a sabedoria e a ignorância, o lógico e o ilógico, o compreensí-
vel e o incompreensível, mas tudo caminhando para o objetivo comum de preservar a
vida.
Sem outra intenção a não ser a de acrescentar algo ao regionalismo brasileiro e
particularmente não deixar morrer o linguajar tocantinense, é que me propus a catalogar
os termos e expressões tocantinenses neste despretensioso DICIONÁRIO TOCANTI-
NENSE DE TERMOS E EXPRESSÕES AFINS.
Destaco, por oportuno, a colaboração do eminente tocantinense e ilustrado magis-
trado, Desembargador PEDRO SOARES CORREIA, no trabalho de revisão do texto, o
que, sem dúvida, valoriza em muito este modesto trabalho, como intelectual e profundo
conhecedor que é do nosso linguajar.
O Autor.
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PARECER SOBRE A OBRA, EMITIDO PELA
COMISSÃO ESPECIAL DESIGNADA DA
ACADEMIA TOCANTINENSE DE LETRAS
15
Também o famoso escritor, e agora estreante na literatura dicionarística, menciona
em seu preâmbulo as freqüentes transformações gerais sofridas pelas palavras, no curso
do processo histórico de formação da língua portuguesa, sobretudo as transformações
ocorridas através do fenômeno metaplásmico.
Não só pela sua magnitude física, mas sobretudo pela sua notória excelência e ine-
gável utilidade, o DICIONÁRIO TOCANTINENSE DE TERMOS E EXPRESSÕES
AFINS, que virá a lume sob o patrocínio oficial do Governo do Estado do Tocantins, se
constituirá, por certo, numa dessas obras que não deverá faltar na biblioteca de todo leitor
- estudante ou estudioso da realidade do nosso Estado.
Por outro lado, como se não bastassem a utilidade e o mérito geral da publicação
em apreço, há, ainda, por uma questão de justiça, que se ressaltar a extraordinária impor-
tância do Autor, decorrente não só de sua condição de magistrado culto e íntegro, mas
também do fato de seu invejável dinamismo, de sua notória polivalência e espantosa fe-
cundidade intelectual, virtudes, atributos e talentos esses que fazem do insigne escritor e
dicionarista Liberato Póvoa, no momento, o maior e mais festejado escritor tocanti-
nense, mesmo a despeito da existência de escritores da mais alta expressão, no ainda
modesto contexto da nossa emergente literatura regional.
O Autor, em razão das inúmeras obras que já publicou, pertencentes aos mais dife-
rentes gêneros literários, muitas das quais com larga aceitação em todo o país, vem se im-
pondo pelo seu reconhecido talento, como uma das mais expressivas figuras, dentre todas
as que, na atualidade, integram a nova geração de escritores brasileiros.
Este DICIONÁRIO TOCANTINENSE DE TERMOS E EXPRESSÕES
AFINS é, sem dúvida, a obra mais importante das muitas produzidas pelas inteligências
deste Estado e, seguramente, haverá de projetar a cultura tocantinense - tão bela, tão
eclética - além-fronteiras.
Por estas ponderáveis razões, esta Comissão da Academia Tocantinense de Le-
tras orgulha-se em poder indicar o DICIONÁRIO TOCANTINENSE DE TERMOS E
EXPRESSÕES AFINS à solícita e sábia apreciação dos leitores tocantinenses e brasilei-
ros.
Palmas-TO, junho de 1996
A COMISSÃO:
Acadêmico JOSÉ CARDEAL DOS SANTOS - advogado, escritor e orador.
Acadêmico JUAREZ MOREIRA FILHO - advogado, cronista, contista, me-
morialista e romancista.
Acadêmico NEY ALVES DE OLIVEIRA - escritor, folclorista e filólogo.
Acadêmica NÍCIA VIEIRA ARAÚJO - advogada, professora, cronista e con-
tista.
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ABREVIATURAS UTILIZADAS:
adj. - adjetivo
adv. - advérbio
cf. - confira
contr. - contração
conj. - conjunção
dit. - ditado
exp. - expressão
int. - interjeição.
num. - numeral
part. espl. - partícula espletiva
prep. - preposição
pron.. - pronome
s. - substantivo
V. - veja
v. - verbo
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-A-
ABACATADA (s.) - creme de abacate;
abacate maduro amassado e misturado ABANAR (v.) - sacudir as mãos; avivar
com rapadura, ou açúcar, e leite. o fogo com o abanador (De vez em
quando, era preciso abanar o fogo, pois
ABAFADO (adj.) - ocupadíssimo (Não sambaíba nunca foi madeira boa de
posso ir ajudá-lo amanhã, porque estou queimar).
muito abafado com uma encomenda).
ABANCAR (v.) - sentar-se (Bom dia,
ABAFAR (v.) - cobrir frutas para que amigo, vamos abancar!).
amadureçam depressa (Havia no sítio
um quartinho especial revestido de ma- ABARCAR (v.) - conseguir abraçar
deira para abafar bananas). algo; envolver com os braços (O jatoba-
zeiro era tão grosso, que ninguém con-
ABAIXAR COM CINCO, LEVAN- seguia abarcar).
TAR COM DEZ (exp.) - aforismo que
sempre é dito com um gesto expressivo: ABARCAR O MUNDO COM AS
coloca-se a ponta do polegar na palma PERNAS (EXP.) - querer muitas coisas
da mão e gira os dedos espalmados sobre ou fazer muitos negócios sem possibili-
a palma, indicando que está fazendo uma dade de sucesso (Com os poucos recur-
limpeza em regra. O gesto indica furtar, sos que você tem, não pode querer
rapinar. abarcar o mundo com as pernas).
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abeirando os candidatos para pedir coi- ABIÚDO (adj.) - abelhudo; intrometido
sas). (Você é muito do abiúdo, pois quer dar
copa de tudo o que não é de sua conta).
ABELHA (s.) - são inúmeras as espé-
cies de abelhas, cada uma com sua ca- ABOBALHADO (adj.) - V. abesta-
racterística: umas, mansas; outras, bra- lhado.
vas; mas com mel de sabor específico,
geralmente medicinal (mas há determi- ABOBOZADO (adj.) - V. abestalhado.
nados méis que produzem vômito, de-
vido às toxinas que entram em sua com- À BOCA PEQUENA (exp.) - em voz
posição. Dentre as abelhas existentes no baixa; em segredo (Andam comentando,
Tocantins, são mais conhecidas: abreu, à boca pequena, que o chefe está namo-
arapuá, borá, europa, inxu, jataí, man- rando a secretária).
daguari, mumbuca, tataíra, tiquira,
uruçu e xupé. ABOCAR (v.) - V. bocar.
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ABRAÇAR O MUNDO COM AS mundo com as pernas comprando esse
PERNAS (exp.) - açambarcar o que não tanto de gado, rapaz!).
pode; realizar feitos acima de suas pos-
sibilidades (Não vá querer abraçar o
mesmo porque quase ninguém come sua
carne. o tamanduá-bandeira tem este
ABRAÇO-DE-TAMANDUÁ (s.) -
nome devido a sua cauda ser muito
abraço de pessoa fingida e hipócrita; ou
grande e peluda, lembrando uma ban-
desleal (Não se fie nele, pois pode lhe
deira. sua arma é o abraço, pois ao abra-
dar um abraço-de-tamanduá). O ta-
çar a vítima não há quem consiga des-
manduá é um animal de cerrado, de
cravar as unhas das costas. o tamanduá
grande porte e índole inofensiva, que se
dorme de barriga para cima, com os bra-
alimenta exclusivamente de formigas,
ços abertos, e até mesmo a onça, que é
que são arrancadas dos cupins e formi-
um predador implacável, evita atacá-lo
gueiros com o poder de suas fortes
nesta posição. o abraço do tamanduá
unhas. há três espécies conhecidas: o ta-
passou a significar o abraço de pessoa
manduá-bandeira, o meleta e o taman-
fingida e hipócrita ou desleal.
duá-mirim, que estão em processo de
extinção e cuja caça está proibida,
ABRIR NO PÉ (exp.) - fugir; escafe-
ABRIDEIRA (s.) - primeira dose de der; cair na maravalha (Quando viu a
pinga de uma série (Disse que era só coisa feia, ele tratou abrir no pé).
uma abrideira, mas acabou bebendo
garrafa e meia de restilo). ABRIR O BICO (exp.) - 1. confessar;
revelar um segredo (Na frente do pau-
ABRIR A BOCA (exp.) - chorar; esbra- de-arara qualquer preso abre o bico). 2.
vejar. cansar-se (Mal correu duzentos metros,
ele já abriu o bico).
ABRIR A BOCA NO MUNDO (exp.) -
gritar; pedir socorro; denunciar pela im- ABRIR O BUÉ (exp.) - chorar (Esse
prensa. menino demente abre o bué por qual-
quer nadinha).
ABRIR A PALA (exp.) - fugir depressa
(Quando a polícia chegou, ele tratou de ABRIR O JOGO (exp.) - dizer a ver-
abrir a pala). dade.
ABRIR AS PERNAS (exp.) - ceder me- ABRIR OS OLHOS (exp.) - prevenir-
diante coação (Nem precisou apertar o se (Antes de conversar com aquele ca-
ladrão, que ele abriu as pernas só de marada, é bom abrir os olhos).
ver o truculento meganha).
ABRIR OS PEITOS (exp.) - revelar os
ABRIR MÃO (exp.) - desistir em favor sentimentos mais sinceros (Eu abri os
de outra pessoa (Resolvi abrir mão do peitos quando eu disse que a amava).
cargo, pois o Totonho está precisado).
ABRIR-SE (v.) - declarar-se; confessar
(É melhor você se abrir para ela do que
ficar remoendo essa paixão).
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ABUSAR (v.) - 1. enjoar; sentir náuseas
ABUSADO (adj.) - enjoado; enfadonho; (No tempo de pequi a gente chega a
desagradável (Estou por ver sujeitinho abusar dessa fruta). 2. atentar contra o
mais abusado do que esse Miguilico). pudor de alguém (Ficou comprovado
que ele abusou da menina),
ABUSÃO (s.) - superstição; lenda; tabu; ACA (s.) - mau cheiro; bodum; morri-
busão (Essa conversa de lobisomem é nha; inhaca (Vá tomar um banho,
abusão do povo). Afonso, que você está numa aca que
Deus me livre!).
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cavaleiro, pois advoguei muito esses ber; dar cachaça com alcanfor para chei-
casos). rar.
A CAVALO (exp.) - montado (Uns fo- ACHA (s.) - lasca de madeira; lacha
ram de a pé; outros, a cavalo). (Por causa da chuva, e para prevenir
desabamento, escorou a parede com
ACEIRO (s.) - roçagem que se faz junto uma acha de aroeira).
às cercas para evitar que o fogo as
queime (Se não fizer aceiro, fogo come ACHADO (s.) - 1. boa oportunidade
os postes e destempera o arame). (Sua carona foi um achado, pois eu já
havia perdido o ônibus). 2. descoberta
ACERTAR A MÃO (exp.) - conseguir; ou invenção feliz (A esferográfica foi
dar certo; encaminhar (Desta vez, com o um grande achado, pois o tinteiro e a
negócio do gado, Filomeno acertou a pena eram de uso incômodo).
mão).
ACHAQUE (s.) - doença de pessoa
ACERTAR AS CABECEIRAS (exp.) idosa (Depois dos sessenta anos, geral-
- acertar as contas; ajustar (No dia apra- mente vêm os achaques: fígado, cora-
zado, o Simão apareceu para acertar as ção, passarinha).
cabeceiras com o sócio).
ACHAR O NINHO DA ÉGUA (exp.) -
ACERTAR O PASSO (exp.) - castigar; demonstrar uma alegria muito grande e
infligir castigo; a expressão origina-se aparentemente injustificável (O Justino,
do jargão da caserna, quando o recruta com o casamento da filha, parece que
era forçado a acompanhar a marcha or- achou o ninho da égua)
dinária, muitas vezes mediante castigo .
para acostumá-lo ao ritmo (Deixe o Ale- ACHAVASCAMENTO (s.) - estupi-
xandre vir com a folga dele, que vou dez; rudeza (Com aquele achavasca-
acertar seu passo!). mento do coronel, ninguém era bobo de
enfrentá-lo).
ACESO (adj.) - vivo; inteligente; assa-
nhado (Nunca vi menino tão aceso; ape- ACHEGO (s.) - consideração; amizade
sar de seus três anos, sabia falar de (Esse menino não tem muito achego
tudo). com a madrinha).
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tada, o rapaz acoroçoou em casar com
ACOLCHOADO (s.) - edredon. a moça). 2. entusiasmar; animar; incutir.
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Adeus, meu compadre! - disse Tiago ao ADRIANINO (s.) - espécie de fogo de
rever Rafael). artifício constituído de um tubo de pape-
lão, que funciona como o cano de uma
ADEUS, VIOLA! (exp.) - expressão arma; dotado de pavio e punho, vem
que dá a idéia de que está tudo acabado com uma pequena quantidade de pólvora
ou que não tem mais jeito (Se você tra- em contato com o estopim, o suficiente
tar mal seu padrinho, que lhe prometeu para lançar uma ou mais bombas, que
aquele presente, adeus, viola!) explodem no ar (Depois que inventaram
o adrianino, foguete de carregação,
ADIENTE (adv.) - adiante. Chico Fogueteiro quase morreu de
fome na fazeção de foguetes-de-rabo).
ADISPOIS (adv.) - depois..
ADVERSO (adj.) - diverso; diferente
ADIVERTIR-SE (v.) - divertir-se (A (Naquele dia ele apareceu com um ca-
jagunçama se advertia com a sanfona saco adverso).
oito-baixos).
A DURAS PENAS (exp.) - de forma
ADIVINHÃO (s.) - adivinho; bidu. difícil ou penosa (A duras penas é que
consegui comprar esse cavalo).
ADJITÓRIO (s.) - V. adjutório.
ADVOGADO DE PORTA DE CA-
ADJUTORAR (v.) - colaborar; ajudar DEIA (s.) - título pejorativo que se dá ao
(Forte e saudável, o moleque não tinha advogado que se especializa em habeas
a iniciativa de adjutorar o pai na roça). corpus ou o advogado em começo de
carreira, que ainda não tem clientela
ADJUTÓRIO (s.) - ajuda; auxílio; cola- formada.
boração; adjitório (A igreja sobrevivia
do pequeno adjutório dos fiéis). AFAMILIADO (adj.) - casado; que tem
família ou encargos de sustentar família
ADMISSÃO (s.) - exame de “admissão (Se eu não fosse afamiliado, iria em-
ao Ginásio” em que eram submetidos os bora desta terra).
estudantes que cursavam a 4ª série para
serem matriculados no antigo Curso Gi- AFERAR (v.) - prevenir; ter preferên-
nasial. cia; conseguir antes (É melhor você afe-
rar o cavalo com Dirico, senão ele
ADOBE (s.) - espécie de tijolo grande vende a outro).
de barro cru; adobo (De ordinário, as
casas era de adobes e cobertas de pa- AFILHADO DE FOGUEIRA (s.) - V.
lhas de buriti ou pindoba). saltar fogueira .
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corajudo, mas afinou as canelas nesta comprinha vai acabar afogando
quando viu o vulto). com pouca água).
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sim: enquanto ele se distrai, a gente sai
pela porta dos fundos). ÁGUA (s.) - bebedeira (O compadre
Nego hoje está na água!).ÁGUA
AGNUS-DEI (s.) - escapulário; relíquia CHOCA (s.) - café fraco; chafé (Não
sagrada que se conduz ao pescoço ou em consegui tomar a água choca que me
um broche, envolta em um saquinho de deram com beiju).
pano; bentinho; breve; patuá.
ÁGUA-CHOCA (s.) - V. água-de-ba-
AGONIADO (adj.) - inquieto; preocu- tata.
pado; desinquieto (A notícia do acidente
com o filho deixou o pai agoniado). ÁGUA-COM-AÇÚCAR (s.) - romance,
conto, novela ou filme de amor (As mu-
AGORICA (adv.) - V. agorinha; ago- lheres gostam muito de histórias água-
riquinha. com-açúcar).
AGORINHA (adv.) - neste exato mo- AGUADA - 1. (s.) - nascente; fonte; lu-
mento; agorica; agoriquinha (Acabei de gar onde os animais bebem (São nas
chegar agorinha mesmo). aguadas que mais se esperam certas
caças). 2. (adj.) - V. frouxa.
AGORIQUINHA (adv.) - V. agorinha.
ÁGUA-DE-BATATA (s.) - V. chafé;
AGOURO (s.) - presságio; augúrio. lavagem-de-espingarda; água-choca;
água-de-espingarda..
AGRADECER (v.) - recusar (Se você
quer me oferecer só um dos peões, eu ÁGUA-DE-CHEIRO (s.) - perfume (O
agradeço). namorado trouxe para Maricotinha um
frasco de água-de-cheiro).
AGRADO (s.) - presente; mimo; dádiva;
lembrança (Tia Vitalina gostava de fa- ÁGUA-DE-ESPINGARDA (s.) - V.
zer agrado pra gente: um doce, uma ba- água-de-batata.
nana, um copo de refresco).
ÁGUA-DE-REGRA (s.) - rego que se
AGRAVAR (v.) - melindrar (Nunca faz para, percorrendo determinada plan-
pensei que aquele meu gesto fosse agra- tação, irrigá-la; água-de-rega (Ele pro-
var seu pai). duzia verduras o ano inteiro, porque
tinha água-de-regra no sítio).
AGREGADO (s.) - pessoa pobre que,
com autorização do dono, sem ser em- AGUADO (adj.) - insípido; de consis-
pregado, se estabelece em terras alheias, tência rala (Esse caldo aguado não tem
sem pagar arrendamento, mas com de- sustança pra matar a fome).
terminadas obrigações, como ajudar o
vaqueiro e zelar pela conservação de ÁGUA-DO-CÃO (s.) - cachaça (Do
cercas e outras tarefas, com direito a jeito que vai, bebendo essa água-do-
cultivar e criar animais; posseiro (Vivia cão, acabará com uma cirrose).
o Elpídio de agregado na Fazenda Bo-
nina).
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ÁGUA MORNA (s.) - pessoa apática; (Pode viajar tranqüilo, que eu agüento
pessoa indecisa; sem opinião. o tranco).
AGÜENTAR A MÃO (exp.) - enfrentar AI, AI, AI! (int.) - expressão que dá a
uma situação difícil e adversa; esperar idéia de ameaça, de pito (Se o pai dela
com paciência; suportar (Agüenta a pegá-la com o namorado, ai, ai, ai! ).
mão, rapaz, que a dureza passa).
ÃIMBO (s.) - miolo; cerne; âmago.
AGÜENTAR AS PONTAS (exp.) - se-
gurar uma situação (Na hora difícil ele AJANTARADO (s.) - refeição substan-
soube agüentar as pontas). ciosa que se serve no meio da tarde com
o objetivo de servir de almoço e jantar
AGÜENTAR O BATIDO (exp.) - (Nos domingos, a velha Salomé servia
agüentar a trabalhar; agüentar o rojão; um ajantarado lá pelas três da tarde).
segurar uma situação agüentar o tranco
(Apesar de velho, aquele vaqueiro AJEITADEIRA (s.) - conserto de uma
ainda agüentava o batido). situação, geralmente de forma não muito
lícita (Foi preciso fazerem uma ajeita-
AGÜENTAR O ROJÃO (exp.) - V. deira para ele continuar no cargo).
agüentar o batido.
AJEITADO (adj.) - pessoa séria; de-
AGÜENTAR O TRANCO (exp.) - se- cente (Camarada ajeitado, esse Doca:
gurar uma situação; agüentar o batido está sempre do lado da gente).
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ALAS (adv.) - aliás (Para fazer a casa,
AJOUJO (s.) - embarcação, espécie de tive de comprar mil adobes; alas, mil e
balsa, feita com duas canoas paralelas ou quinhentos).
duas filas de tambores, fortemente amar-
rada e unidas por um tablado, que serve ALAZÃO (s.) - animal cavalar casta-
para transportar cargas ou pequenos veí- nho, que se caracteriza por ser castanho
culos; ajojo. claro e Ter a crina e a cauda douradas.
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ALÉM DE QUEDA, COICE (exp.) - tanto de bola, que todo domingo ia ser
dois castigos ao mesmo tempo; ocorre- alicate, só pra poder entrar no campo
rem duas situações desagradáveis si- sem pagar).
multaneamente. Origina-se da situação
em que o cavaleiro, além de ser derru- ALJOFRAR (v.) - espirrar qualquer lí-
bado da montaria ainda recebe desta um quido; sair o líquido em borbotões; sopi-
coice (Minha filha não passou de ano e tar (O sangue aljofrou da facada, que
ainda deixou uma conta enorme no não houve remédio para estancá-lo).
internato para eu pagar: além de
queda, coice). ALMA (s.) - defunto; visagem; espírito;
livuzia.
ALERTAR AS IDÉIAS (exp.) - ingerir
bebida alcoólica; molhar a goela (Logo ALMA-DE-GATO (s.) - espécie de ave
de manhã, tomei dois dedos de pinga avermelhada de cauda longa que habita
pra alertar as idéias). as capoeiras e se alimenta de insetos;
chincoã.
ALFAVACA (s.) - espécie de árvore
cujas folhas são analgésicas, servindo ALMA-DE-TAPUIO (s.) - ave magra e
também para bronquite, cálculos renais, elegante, de cabeça grande e bem pente-
doenças de mulher, fígado, gripe, flatu- ada, cor azul marinho fosco, com uma
lência, resfriado e tosse. mancha vermelha no peito e outra
branca, na base do rabo.
ALFERES (s.) - encarregado de con-
duzir a bandeira nas folias. ALMANJARRA (s.) - V. manjarra.
ALFINETE (s.) - nome como é conhe- ALMA PENADA (s.) - espírito sofre-
cida a costela mindinha (V.). dor que, segundo a crença, fica vagando
no mundo (Dizem que a Tapera da Ora-
ALFORJE (s.) - espécie de bornal du- ção é cheia de alma penada pra assom-
plo fechado nas extremidades e aberto brar os cavaleiros).
no meio, que se leva lado a lado na sela.
VEJA TAMBÉM:
ALGIBEIRA (s.) – bolso pequeno, dis- Na bacia das almas.
cretamente embutido na frente da calça
ou da batina do padre, na linha inferior ALMISCO (s.) - 1. cheiro de cadáver
do cós, com duas destinações específi- quando passa da hora de ser sepultado.
cas: guardar moedas ou relógio de bolso; 2. gosto, geralmente desagradável, que
nas calças jeans fica aposto na entrada permanece na boca; almíscar (Esta
do bolso principal; por extensão, passou carne está meio passada, pois está dei-
a designar qualquer bolso; gibeira. xando um almisco na boca).
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desenhado, que ressalta em portas, jane- a semeadura de 15 alqueires e mais 3
las e peças arquitetônicas. litros de semente .
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ema e outras coisinhas do mato pra
ALVISTA (s.) - alvíssaras (As alvista cê vender). 2. casado. 3. (adj.) - sem inici-
me paga? - Sapinha na língua). ativa; indeciso; enrolado (Não gosto de
tratar de negócio com Bispo, porque ele
-AMA (suf.) - sufixo que dá a idéia de é muito amarrado).
quantidade (gadama, caroçama; jagun-
çama etc.). AMARRAR A CARA (exp.) - fechar o
cenho; zangar-se (Quando o vaqueiro
AMAÇAROCAR (v.) - transformar em falou que a vaca tinha morrido atolada,
maçaroca. o velho amarrou a cara).
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posto (Ele chegou em casa amarrotado tuma amoitar o bezerro nos primeiros
depois de passar a noite na pinga). dias).
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A MUQUE (exp.) - à força (Ela acom- tapioca, e tomarem-se três colheres de
panhou o marido a muque, pois não sopa ao dia.
queria sair da barra da saia da mãe).
ANDANÇA (s.) - viagem; peregrinação;
AMUNTADO (adj.) - montado. passeio (Nas minhas andanças, conse-
gui pesquisar muitos costumes e lendas
ANÁGUA (s.) - espécie de saia que a do Tocantins).
mulher veste sob o vestido para ficar
mais rodado. ANDAR CERCANDO FRANGOS
(exp.) - estar embriagado, a ponto de
ANCA (s.) - o quarto traseiro do animal cair; denunciar a própria embriaguês
quadrúpede; traseira; escadeira. com cambaleios (Durante as férias,
quando se despreocupava dos estudos,
VEJA TAMBÉM: Diógenes andava cercando frangos na
Chã d’anca. rua).
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(Esse povo andejo não é de confiança, sado, o de 1995 é o atrasado, e o de
pois furta no vento). 1995 é o retrasado).
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ventivo melhor é amarrar-lhe em sabugo APAIDEGUADO (adj.) - de dimensões
de milho ao pescoço. avantajadas.
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vender uns bezerros). 2. ato de separar APENASMENTE (adv.) - apenas; so-
definitivamente a cria de uma vaca, o mente.
que ocorre geralmente com um ano de
idade; nessa ocasião, o vaqueiro recebe a APERRAR (s.) - armar o cão da arma
sorte, e o gado miúdo vai para um cer- de fogo; engatilhar.
cado, longe da mãe, que, deixando de
amamentar, em pouco tempo entra no APERREADO (adj.) - aborrecido; pre-
cio e apanha nova barriga. 3. separação ocupado (Fique aperreado, não, me-
(Depois da apartação, ela definhou nino, que as coisas se acertam).
muito).
APERREIO (s.) - preocupação; abor-
APARTAR (v.) - 1. fazer apartação. 2. recimento (O velho cearense foi categó-
separar duas pessoas que se acham bri- rico: nada sem aperreio a gente dá va-
gando (Ele só estava apartando a briga, lor).
mas foi o único que foi preso).
APERTADO (adj.) - com dor de bar-
APATACADO (s.) - rico. riga; com necessidade urgente de satis-
fazer a uma necessidade fisiológica.
APATROCHADO (adj.) - preparado;
vestido; diz-se do vaqueiro que está en- APERTA-PÉ (s.) - ameaça; expulsão;
courado com perneira, gibão e peitoral; perseguição (Deram um aperta-pé no
apetrechado (Na hora combinada, o Josino, e ele nunca mais apareceu).
velho Sérgio Canela chegou apatro-
chado e montado no alazão de confi- APERTAR (v.) 1. ter sabor adstringente
ança). como o da banana verde; cica (Não comi
daquelas bananas, porque estavam
A PÉ (exp.) - 1. sem dispor de meio de apertando). 2. (v.) - colocar o arroz, fei-
transporte (Como não achou o cavalo, jão ou carne na gordura quente com tem-
ele foi a pé à cidade). 2. desprevenido de pero para iniciar o cozimento; afogar
alguma coisa (Em se falando de profes- (Vá apertando o arroz aí, enquanto eu
sores, o Estado está a pé). lavo os trens). 3. embaraçar-se; cons-
tranger (Não quero apertá-lo, mas estou
APELAR (v.) - V. perder a esportiva. precisando daquele dinheiro que lhe
emprestei).
APELAR PARA A IGNORÂNCIA
(exp.) - partir para a violência verbal ou APERTAR O PASSO (exp.) - apres-
física. sar-se (Vamos apertar o passo, pois es-
tamos atrasados).
APELAR PARA A JUSTIÇA DI-
VINA (exp.) - expressão da última espe- APERTAR OS OSSOS (exp.) - cum-
rança e ver uma injustiça reparada primentar com um forte aperto de mãos
(Quando viu que a justiça tinha absol- (Depois de longo tempo sem se verem,
vido o matador de seu filho, só restou à João e Pedro apertaram os ossos com
pobre Rosa apelar para a justiça di- vontade) .
vina).
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APERTAR SEM ABRAÇAR (exp.) - A PRAZO (exp.) - com tempo dispo-
deixar o interlocutor sem resposta a uma nível; sem preocupação com o tempo
pergunta (Você me apertou sem abra- (Tirei férias e vou para o interior; desta
çar, pois não sei lhe dizer se o gado já vez vou a prazo para conversar com
foi vendido). todo mundo).
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2. refinar (Passou quase uma hora apu- onde se coloca como isca um animal
rando a manteiga no tacho). pequeno em um compartimento sepa-
rado, para atrair o animal a ser captu-
AQUELE (adj.) 1. favorável; de acordo rado, o qual, ao entrar no cercado, fica
(Honorão não era muito aquele com preso pelo desarme de dispositivo pró-
gente mentirosa). 2. satisfeito (Parece prio.
que ele não ficou muito aquele com o
negócio do carro). ARATICUM (s.) - V. bruto.
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AREAR (v.) - 1. lavar utensílios de co- sobre a pálpebra e movimenta-se para
zinha (o termo deve-se ao fato de que, cima e para baixo, abrindo e fechando o
antes dos atuais abrasivos e outros pro- olho num movimento ritmado, enquanto
dutos, as panelas eram lavadas com a se pronuncia uma reza dedicada à prote-
utilização de areia fina junto com sabão tora dos olhos, Santa Luzia:
e bagaço). 2. limpar (em qualquer sen-
tido) alguém ou alguma coisa (Aquele “Corre, corre, cavaleiro,
capadócio acabou por arear o incauto Vai na porta de São Pedro
Marcolino ou Após o almoço, você deve Dizer a Santa Luzia
arear os dentes). Que me tire este argueiro
Com a ponta de seu lenço”.
AREAR CAÇAMBA (exp.) - bajular,
adular poderosos. A expressão origina-se Ou então:
do fato de antigamente as arreatas das
montarias dos graúdos eram guardadas “Santa Luzia passou por aqui
com cabedais de grande valia; as argolas Com seu cavalinho comendo capim
dos peitorais, os passadores e bombas Que faça sair este cisco daqui”.
das cabeçadas e dos buçais eram traba-
lhadas num metal branco chamado cris- Usa-se, além dessas rezas, pingar leite-
tofe. Também as caçambas, espécies de de-peito (isto é, leite de mulher) para
estribos em forma de canoa, eram desse expelir o cisco.
metal e às vezes de prata, principalmente
as caçambinhas dos selins dos arreios ARGUMENTO (s.) - espécie de sa-
das mulheres. batina a que eram submetidos os alunos
semanalmente nos testes de matemática:
AREJAR (v.) - ventilar. o professor enfileirava os alunos e fazia
uma pergunta ao primeiro, dando-lhe
ARENGAR (v.) – 1. Discutir; xingar; pouquíssimo tempo para responder, e em
brigar de boca. 2. queixar-se; reclamar seguida passava ao segundo, e assim
(Só porque me arranjou aquele di- sucessivamente, até que um deles res-
nheiro emprestado, ele fica arengando, pondia corretamente; este, então, pas-
para que eu lhe dê um emprego). sava a aplicar bolos de palmatória nos
que haviam errado; se o professor
ARENGUEIRO (adj.) - 1. pessoa que achava que o bolo era mal aplicado, pe-
vive reclamando. 2. fofoqueiro; mexeri- gava a palmatória e aplicava ao aluno
queiro. acertador, “para que ele aprendesse” a
corrigir os colegas.
ARESTA (s.) - grampo ou prego para
cerca de arame farpado, em forma de ARIBÊ (s.) - grande quantidade;
“U”. alarme.
.
A RETALHO (exp.) - a varejo (Ele ARICUBACA (s.) - V. urucubaca.
comprava pinga em garrafões, mas só
revendia a retalho). ARIGÓ (adj.) - caipira; bocoió; coió.
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qüentes. Quem não conhece, nem de
ARISCO (adj.) - esquivo; velhaco. longe pode avaliar a gravidade de uma
ferroada de arraia. Pode, inclusive, ser
ARMADA (s.) - treita; maquinação; um acidente fatal, se a vítima sofre de
manobra (De vez em quando, Simplício complicações cardíacas ou de algum
vem com suas armadas pra enganar os mal que afete as vias respiratórias. A
outros). lesão é sempre muito profunda, cos-
tuma o ferrão atravessar o pé ou a
ARMAR REDE (exp.) - atar a rede; es- perna, se não esbarra no obstáculo de
tender a rede nos armadores (Os foliões um osso, e a dor produzida é convulsiva
se espalharam no ponto de pouso, e tetânica. O corpo é imediatamente
acendendo fogueira e armando as redes tomado por fortíssimas contraturas
pra passarem a noite). musculares e retesamento dos tendões,
chegando ao trismo, com o risco de
ARNICA (s.) - planta medicinal. quebra dos ápices dos dentes, cumu-
lando com uma crise terrível de tremo-
AROEIRA (s.) - árvore frondosa, ma- res com o relaxamento dos esfíncteres.
deira de lei de cor vermelha semelhante A fase mais dolorosa dura cerca de
ao pau-brasil, excelente para palanques duas horas de sofrimentos acerbos, com
de cerca e mancos para curral. as pessoas presentes em desespero, ge-
ralmente por desconhecimento de causa
ARRAIA (s.) - 1. espécie de papagaio e falta de recursos, pois nada podem
de papel, com uma longa cauda. 2. espé- fazer. Após esse longo tempo de contra-
cie de peixe fluvial de formato redondo e ções e suores, o sistema nervoso amor-
chato, comumente de trinta centímetros a tece e sobrevém uma dormência geral,
um metro de diâmetro, dotado de um ter- com forte sensação de peso no membro
rível esporão serrilhado e venenoso na lesado. Inicia-se uma Segunda fase de
cauda, o qual só sai arrancando pedaços sofrimentos, com o bloqueio dos vasos
da vítima. CARMO BERNARDES, linfáticos da região atingida, quando se
profundo conhecedor da flora e da fauna avoluma uma inchação de tal forma tão
tocantinense, dá o seguinte depoimento grande, que não raro chega a rachar o
sobre a arraia: “A sorte é que a arraia é pé. É inevitável o desenvolvimento de
um bicho arisco; com qualquer movi- necrose, com purulência abundante.
mento feito na água ela espanta e foge. Não são raros os casos em que ao ci-
Fosse um bicho mais lerdo e agressivo, rurgião tem que intervir para remover
os acidentes com ferroada de arraia, no tecidos devastados e às vezes terá que
Araguaia, seriam alarmantes, por oca- fazer enxertos, tão grandes se tornam
sião das férias de julho, vez que, ulti- os estragos da purulência. Pode-se as-
mamente, todo o trecho do rio até certas segurar que a ferroada da arraia é o
alturas, acima da cidade de Aruanã, acidente mais sério e temido que pode
virou balneário. São muitos mil ba- ocorrer com as pessoas que vão passar
nhistas que passam ali todo o mês de férias nos rios da bacia amazônica. E é
julho, fazendo regatas e brincando nas águas menores que a presença des-
n’água, a maioria crianças, natural- ses seláquios é maior. Lamentável e
mente desprevenidas Felizmente, os desanimador é o fato de que a ciência
acidentes por arraia não são muito fre- quase nada sabe sobre arraia. Até hoje,
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pesquisadores, biólogos e naturalistas mir na cauda, extremamente protátil,
ainda não se dispuseram a estudar essa movimentos valentes e universais, para
espécie venenosa, que tanto castiga as cravar seu dardo pontiagudo em qual-
populações ribeirinhas dos rios do quer altura, posição e ângulo, quando
Norte. A única referência que, por sua pisada no fundo da água. O punhal
autoria e divulgação, poderia merecer terrível, indumentada com uma camada
fé e consideração científica, é de Rus- densa de limo venenoso, penetra
sel, feita em 1959, que é divulgada pelo abrindo músculos no sentido favorável
Instituto Pinheiros, nos seus boletins de dos dentes serrilhados, e volta lace-
soroterapia. O registro desse ilustre rando e expondo pontas de tecidos ar-
naturalista é despiciendo e incorreto, rebentados, largando nas paredes do
demonstrando, pelo descuido das suas traumatismo brutal a peçonha do muco
observações, que ele pouco se interes- tetânico. Ficaria falho este registro, se
sou pela matéria. Passou de raspão, não fosse lembrado que é muito comum
pegou-a pela rama, parece que regis- encontrar-se arraia com dois ferrões de
trando, segundo informações de tercei- igual forma e tamanho, um sobreposto
ros, sob o título de ‘Informação sobre ao outro. Abrem-se em leque quando
arraia’, diz lá ‘Há numerosas espécies, enfincados, produzindo ferimento du-
tanto de água doce como marinha. São plo. Parece que a sensação dolorosa,
providas de um ferrão ou dardo serri- nas proporções que é, seja oriunda de
lhado, localizado na face dorsal da base uma reação produzida pela exposição
da cauda. Quando o ferrão perfura a da ferida ao ambiente arejado. A expe-
pele, o inducto viscoso que o recobre riência tem mostrado que antes da reti-
fica parcialmente na ferida; a lesão é rada do ferimento submerso, a dor é
extremamente dolorosa e temida por apenas traumática. Os caboclos costu-
isto. Demora a cicatrizar. O veneno mam defumar um buraco no chão com
existente nessa mucosa tem ação cardi- fumaça de folhas verdes de certa espé-
ovascular, produzindo queda de pressão cie de coqueiro, e colocam o pé machu-
arterial, além de outras ações’. Ora, cado lá dentro, e cobrem com terra,
isto é muito pouco. É muito sumária a demorando até que passe o auge da
referência para a imensa gravidade do crise, quando, segundo Russel, cai a
fenômeno. E há a clamorosa incorre- pressão arterial e sobrevém a dormên-
ção de que o dardo da arraia seja loca- cia geral do corpo. A indústria farma-
lizado na parte da cauda, quando é pa- cêutica, que, invariavelmente, financia
ralelo à extremidade desta. O ferimento a pesquisa científica ligada à medicina,
produzido é de grande gravidade, e não se interessa pelos acidentes produ-
Russel se refere a ferimento de pele. A zidos pela arraia. A terapêutica indi-
arraia é um seláquio; quer dizer: é uma cada em tais acidentes não requer a
espécie como os esqualos, de estrutura aplicação de um volume de medica-
cartilaginosa, que lhe empresta o as- mentos tal que venha a dar lucro às
pecto asqueroso de molusco. Tem a farmácias. Por isto, a forma de trata-
forma mais ou menos discóide, de pele mento da ferroada de arraia não é di-
áspera, e seu ferrão tem a forma de um vulgada e nem ensinada nas escolas de
punhal agudíssimo, nunca menos de medicina”. Como esclareceu CARMO
dez centímetros de comprimento, com BERNARDES, sua ferroada produz tal-
os dois gumes serrilhados. Pode impri- vez a dor mais intensa que se conhece,
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doendo por cerca de 24 horas ininter- festa, aconteceu um arranca-rabo, e
ruptamente, pois deixa na ferida uma falou-se até em faca e tiro).
substância viscosa e pode ser aliviada se
se injetar 20cc de amoníaco, anestesia ARRANCAR (v.) - sair abruptamente;
odontológica ou permanganato de potás- sair de supetão (Quando o vaqueiro deu
sio no local da ferroada. Também é re- o tiro pra cima, a boiada arrancou, ini-
comendável o pó do tronco da samba- ciando o estouro).
íba, bem como lavar o local com infusão
de cipó-arraia e tucum. O modo prático ARRANCAR O COURO (exp.) - ex-
para se andar em local onde haja arraia, plorar; vender a preço exorbitante; tirar
que geralmente fica coberta na areia das o couro (Silvestre, na sua vendinha,
águas rasas e paradas, é arrastando os costuma arrancar o couro).
pés, pois ao ser tocada a arraia foge; se
for pisada, a ferroada é certa. A mais ARRANCAR OS CABELOS (exp.) -
temida é a arraia-de-fogo, de cor ver- demonstrar grande desespero ou aflição
melha. A ferida demora muito a fechar. (Com a perda da lavoura e a dívida do
No campo do misticismo, recomenda-se banco, ele ficou arrancando os cabe-
passar o local ferroado na vagina de uma los).
mulher ou cortar o esporão e fincar no
corpo da própria arraia. Embora não ARRANCHAR (v.) - hospedar-se (Os
sirva para alimentação, sua carne é pres- Barbosa costumam arranchar com os
crita contra asma e bronquite. Também é compadres).
um excelente remédio para doenças res-
piratórias o óleo de seu fígado, que é ARRANHAR (v.) - tocar mal um instru-
extraído com a exposição ao sol dentro mento de corda Clarineta até que toco
de uma vasilha; no primeiro dia, toma-se bem, mas violão eu só arranho).
uma gota na água ou chá; no segundo,
duas; no terceiro, três, até o limite de 20 ARRANJAR (v.) - conseguir; empres-
gotas. tar; obter; arrumar (Só preciso de quem
me arranje uns trocados para a feira).
VEJA TAMBÉM:
Rabo-de-arraia. ARRANJO (s.) - serviço malfeito; que-
bra-galho.
ARRANCA (s.) - a colheita da mandi-
oca e do feijão (a do arroz é apanha, e a ARRANZEL (s.) - V. aranzel.
do milho é quebra). V. apanha.
ARRASTA-PÉ (s.) - baile.
ARRANCADA (s.) - saída violenta;
primeiro ímpeto; movimento inesperado ARRASTAR (v.) - movimentar-se a
(Na hora em que a anta ouviu os passos criança pelo chão sem ajuda, antes de
do caçador, deu uma arrancada e saiu começar a andar sozinha; engatinhar
quebrando vaqueta). (Ele sempre foi muito ativo: com sete
meses já ele arrastava e caminhou com
ARRANCA-RABO (s.) - confusão; menos de um ano).
briga generalizada (No finalzinho da
ARRASTAR A ASA (exp.) - cortejar;
ter inclinação amorosa por alguém (Não
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sei como um homem casado não se en- ARREADOR (s.) - corda ou relho que
vergonha de ficar arrastando a asa pras serve para amarrar o bezerro ou pear a
moças). vaca no momento da ordenha.
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ARRELIENTO (adj.) - implicante; ARROMBA-PEITO (s.) - cigarro de
provocante. fumo forte; racha-peito.
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cheio de algodão (V. isca), que se
ARROZ LIMPO (s.) - arroz descas- acende por meio da fagulha de uma pe-
cado. dra que é acionada por um pedaço de
ferro (V. fuzil).
ARROZ PILADO (s.) – V. pilado.
ARTIMIGEM (s.) - V. artemísia.
VEJA TAMBÉM:
Não dizer nem arroz. ARTIMIJA (s.) - V. artemísia.
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ASSANHADO (adj.) - 1. despenteado
(No fim da briga, eles saíram assanha- ASSOVIAR (v.) - assobiar.
dos e com a roupa rasgada). 2. namo-
rador; saliente (Esse filho de Tionílio é ASSUCEDER (v.) - ocorrer; acontecer;
muito assanhado). 3. V. selebesqüete. suceder.
ASSA-PEIXE (s.) - planta arbustiva me- ASSUNTAR (v.) - prestar atenção; pen-
dicinal de folhas amplas e oblongas, de sar; matutar olhar; vigiar; observar; pre-
flores violeta-claro, que forma moitas senciar (Quando eu vi aquele alvoroço
nos campos e chapadas, cujos brotos, em na rua, eu fiquei de cá só assuntando).
infusão, curam a bronquite.
ASSUNTO (s.) - trato; educação
ASSENTADA (s.) - tempo gasto para se (Nunca vi gente tão sem assunto como
fazer uma coisa; pequeno espaço de aquele camarada).
tempo (Ele chupou uma melancia de
uma assentada). ASTREVER (v.) - atrever; ousar (Não
me astrevi a viajar à noite sozinho e de
ASSENTAR A POEIRA (exp.) - deixar a pé).
as coisas se acalmarem.
ASTUCIAR (v.) - inventar; engendrar;
ASSINALAR (v.) - fazer o sinal na istuciar; fazer istúcia (Ele, que não
orelha de animais, principalmente de trabalha, passa o tempo astuciando).
porcos e caprinos, de forma a permitir
identificar seu proprietário (V. sinal). ATACADO (adj.) - mal-humorado; de
calundu (O velho Elias levantou ata-
ASSINAR EM CRUZ (exp.) - impres- cado aquele dia, pois nem salvou os
são digital de analfabetos em qualquer hóspedes).
documento.
ATALHAR (v.) - 1. impedir; obstruir
ASSISTIR (v.) - cortejar, o touro, à vaca (Café moído é o melhor remédio para
(O marruá passou o dia assitindo a no- atalhar hemorragia). 2. cercar (Se o boi
vilha). correr, você vai por aquele caminho
para atalhar).
ASSOAR (v.) - limpar o nariz, soprando
no lenço pelas narinas. A TALHO DE FOICE (exp.) - a propó-
sito; convenientemente; oportunamente;
ASSOBERBAR (v.) - provocar; tratar na hora certa (Aquele dinheirinho da
com soberba (Ele tem de parar de asso- indenização veio a talho de foice).
berbar os outros, senão vai acabar se
dando mal). A TAMPA E O BALAIO (exp.) - duas
pessoas que dão muito certo, que se
ASSOBIAR E CHUPAR CANA (exp.) completam (Dante e Napu são a tampa
- fazer duas coisas impossíveis ao e o balaio).
mesmo tempo (Não posso ficar to-
mando conta do curral e campear o ATANAZAR (v.) - perturbar; aborrecer;
gado: é assobiar e chupar cana). torturar; atazanar (O meganha passou a
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tarde atanazando-me para confessar o ATIÇAR (v.) - 1. jogar; atirar (Vi
que não fiz). quando ele atiçou a pedra no ca-
chorro). 2. provocar; açular; estimular
ATAQUE (s.) - desmaio; colapso cardí- (Esses malandros só prestam para ati-
aco (Quase todos os de sua família mor- çar os outros pra briga). 3. revirar os
rem de ataque); tontorona; acesso; vago tições; avivar; abanar o fogo (Vá, me-
(Nos casos de ataque, deve-se dar meio nino, e atice o fogo da panela!).
copo d’água pro desmaiado).
ATIÇAR FOGO (exp.) - fomentar a
ATARRACADO (adj.) - baixo e discórdia (Aldo Borges chegou ao Duro
grosso; troncudo (O Bussunga é aquele e, de tanto atiçar fogo, armou uma
atarracado que está na segunda fila). briga de família que degenerou em
mortes).
ATAZANAR (v.) - V. atanazar.
ATILHO - 1. (s.) amarrado de quatro
ATÉ CAIR DE COSTAS (exp.) - até espigas de milho. 2. liga com que anti-
fartar-se (Este prato é leve, que você gamente se prendiam as meias de mulher
pode comer até cair de costas). à calcinha.
ATÉ DEBAIXO D’ÁGUA (exp.) - em ATINAR (v.) - achar pelo tino; desco-
qualquer situação; em qualquer circuns- brir por conjectura ou indício.
tância (Saiba que sou homem até de-
baixo d’água!). ATIPAR-SE (v.) - desconfiar; colocar-
se em seu lugar (É melhor você se ati-
ATENTADO (adj.) - traquinas; levado par, rapaz!).
(Menino atentado como este eu nunca
vi). À TOA (adv.) - a esmo; ao acaso (De
tardezinha fiquei caminhando à toa
ATENTAR (v.) - causar raiva; provo- pela pracinha).
car; incomodar; atucanar (Essa mole-
cada tira o dia para ficar atentando a À-TOA (adj.) - 1. sem valor; sem im-
gente). portância (Com o acidente ele só teve
um ferimentozinho à-toa). 2. V. des-
ATENTO (s.) - preocupação; balbúrdia; mazelado (Estou por ver menino mais
incômodo; ação de quem é atentado à-toa do que o Julinho: seus brinque-
(Quando esse menino vem aqui pra dos já se perderam porque ele não tem
casa é um atento). o cuidado de guardar nenhum).
ATÉ O CU FAZER BICO (exp.) - can- ATOARDA (s.) - boato; notícia vaga (A
sar-se de fazer algo (Ele vai esperar aí história da ajuda do governo foi apenas
até o cu fazer bico, pois Agenor não uma atoarda).
virá cumprir o trato).
ATOCHAR (v.) - V. ensuquir.
A TIÇÃO (exp.) - V. tijolo a tição.
À TODA (adv.) - com muita pressa; na
velocidade máxima (Ele saiu à toda
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quando ouviu falar que a polícia estava ceiro, num gesto de irracionalidade e
vindo). para demonstrar intrepidez e total ausên-
cia de medo, costumavam atar as fraldas
ATOÍCE (s.) - V. atoísmo. da camisa para brigar munidos de faca
nua, para que nenhum abandonasse a
ATOISMO (s.) - falta de cuidado com luta.
as coisas; desmazelo; atoíce (O atoismo
desse menino é que me irrita: onde tira ATRIBUSANA (s.) - V. tribusaina.
a roupa, deixa; onde come, deixa o
prato). A TROCO DE (exp.) - em troca de (O
pistoleiro matou o chegante a troco de
ATOLEIMADO (adj.) - V. timote. quase nada).
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AVELINISTA (adj.) - partidário do AZEITEIRO (s.) - parte do carro-de-
avelinismo. bois (V.).
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-B-
sorte que não entendi qual era o ba-
BABA - 1. (s.) saliva espessa e abun- bado).
dante que escorre da boca. 2. (s.) partida
de futebol improvisada; pelada; racha BABA-OVO (adj.) - bajulador; adula-
(1). dor.
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BABUJA (s.) - variação de babugem. BADOQUE (s.) - V. bodoque.
BACURAU (s.) - 1. ave noctívaga, es- BAFUME (s.) - falta de ar; dispnéia;
pécie de curiango, que se alimenta de aperto no peito (Antes de morrer, ele se
insetos. 2. pessoa que só anda à noite. queixava de um bafume, mas ninguém
acreditava que fosse coisa séria).
BACURI (s.) - 1. espécie de palmeira
que produz frutos ovais comestíveis de BAGA (s.) - toco de cigarro; bagana; bi-
mais de 5 centímetros; suas fibras ser- tuca; segunda; quimba; guimba; vinte.
vem para a calafetação de barcos; a ma-
deira é excelente para construções rústi- BAGANA (s.) - ponta de cigarro; baga;
cas, e as folhas são ótimas para a cober- guimba; quimba; vinte.
tura de ranchos e habitações. 2. menino
recém-nascido; criança pequena. BAGEM (s.) - vagem (Na seca, o vento
fazia as bagens de fedegoso castanhola-
BADALO (s.) - coração. Conhecem-se rem no pátio da fazenda).
remédios apenas para combater a arrit-
mia, a batedeira e outras manifestações BAGO (s.) - testículo.
cardíacas. Os calmantes mais usados são
ingerir suco de maracujá, comer bastante BAGO-MOLE (adj.) - frouxo; lerdo;
alface e, no caso de pressão baixa, uma sem coragem; mofino.
xícara de chá de erva-cidreira com três
folhas de maracujá.
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BAGULHO (s.) - 1. coisa indefinida ou BAIXEIRO (s.) - peça de tecido grosso
inexpressiva. 2. mulher feia ou desarru- ou de estopa que se coloca entre a sela e
mada. 3. produto de furto ou roubo. o dorso do animal para proteger o espi-
nhaço; enxerga.
BAIÃO-DE-DOIS (s.) - V. rubacão.
BALADEIRA (s.) - arma de caçar pas-
BAILADO (s.) - qualquer espetáculo de sarinhos feita de duas tiras de borracha
dança. elástica atadas em uma forquilha e uni-
das com uma tira de couro, onde se co-
BAIO (adj.) - nos cavalos, é a cor casta- loca a pedra para ser impulsionada; ati-
nho-amarelada; no gado bovino, é a rês radeira; estilingue.
totalmente branca.
BALAIO (s.) - espécie de cesto feito de
BAITA (adj.) - enorme; bitelo; baitelo vime ou de casca de buritizeiro; jacá.
(Ele pegou um baita jaú na pescaria).
BALAIO-DE-GATOS (exp.) - confu-
BAITELA (adj.) - enorme; baita. são.
VEJA TAMBÉM:
BAITOLA (s.) - homem efeminado; A tampa e o balaio
fresco; veado; vinte-e-quatro; zé-mu- Cachorro-de-balaio
lher. Carregar água no balaio.
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com água quente para dar a tempera- BAMBURRO (s.) – 1. Achado de
tura recomendada). grande valor em qualquer garimpo, seja
em pedras preciosas ou metais nobres. 2.
BALDRAME (s.) - peça reforçada de o fato de encontrar uma pedra valiosa no
madeira, posta sobre os alicerces de uma garimpo ou de ser premiado na loteria;
construção, na qual descansam os bar- bambúrrio.
rotes do soalho.
BANANA (s.) - 1. palerma. 2. órgão se-
BALEADO (adj.) - 1. ferido com arma xual masculino. 3. cabano; boi banana.
de fogo 2. embriagado; bêbado.
BANANEIRA QUE JÁ DEU CACHO
BALEAR (v.) - ferir com arma de fogo. (exp.) - pessoa que perdeu a importância
ou a posição de destaque antes ocupada.
BALSEIRO (s.) - 1. canoeiro que mora É como antigamente as moças denomi-
na margem do rio onde existe porto e navam os homens casados.
que ganha a vida atravessando em balsa
as pessoas nos rios; passador (1). 2. por- BANCA (s.) - 1. ares de importância (A
ção de folhas e troncos levados pela en- banca dele é irritante, pois nem bom dia
chente; monturo; sujeira grossa (Depois dá mais para os conhecidos). 2. escritó-
da cheia, ficou aquele balseiro na mar- rio de advocacia (Depois que se formou
gem do córrego). em direito e montou sua banca, come-
çou a progredir).
BALZACA (s.) - V. balzaqueana.
VEJA TAMBÉM:
BALZAQUEANA (s.) - balzaca; soltei- Botar banca
rona; mulher de 30 anos ou mais. Quebrar a banca.
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zer a comida dos eleitores). 3. região;
lugar; paragem (O camarada que come- BANGUELA (s.) - desdentado.
çou a briga não é destas bandas).
BANHA (s.) - 1. gordura de porco. 2.
BANDEIRA (s.) - V. tamanduá-ban- pomada.
deira.
BANHA-DE-SOLDADO (s.) - água.
BANDEIRA DA MISERICÓRDIA
(s.) - bandeira do Divino Espírito Santo, BANHAR (v.) - tomar banho.
que é conduzida pelo alferes durante o
giro. BANHO (s.) - lavação.
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movimento das águas provocado pelo BARBELA (s.) - 1. tira de couro que,
vento ou pela passagem de uma embar- passando pelo pescoço, serve para segu-
cação a motor na superfície do rio, cri- rar o chapéu; barbicacho; jugular. 2.
ando ondas fortes que perturbam a nave- parte do carro-de-bois (V.). 3. parte do
gação de embarcações mais leves. 2. (s.) anzol que impede a isca de se soltar, e o
fenômeno físico, em que as águas frias peixe de escapar; fisga.
do rio, por serem mais leves, pressionam
as águas quentes acima e causam uma BARBICACHO (s.) - 1. barbela. 2. se-
revolução na superfície, que, embora gundo laço feito com a ponta do ca-
sem vento que justifique, leva perigo às bresto, com que se reforça o freio do ani-
pequenas embarcações. mal de montaria, para melhor manobrá-
lo.
BANZO (adj.) - nostálgico; melancó-
lico; triste; jururu; macambúzio; ban- VEJA TAMBÉM:
zeiro (1). Segurar pelo barbicacho.
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chá de ponta do chifre de vaca, após tor-
BARRÃO (s.) - porco não castrado; re- rado e moído, também em jejum.
produtor; cachaço.
BARRIGA DE SORO AZEDO (adj.) -
BARRAR (v.) - aguardar; esperar barrigudo.
(Barra aí, que quero te dizer uma
coisa). VEJA TAMBÉM:
Apanhar barriga
BARREAR (v.) - rebocar as paredes Pegar barriga
com barro (A precisão fez Zeferino ven- Ter o olho maior do que a barriga
der sua casinha já levantada, no ponto Ter o rei na barriga
de barrear). Tirar a barriga da miséria.
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ando na grota, descobriram que era a BASILICÃO (s.) - ungüento muito uti-
onça). lizado para provocar a saída do carne-
gão das nascidas e furúnculos.
BARRO-DE-LOIÇA (s.) - V. barro-de-
louça. BASSOURA (s.) - vassoura.
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bate-pança (Todo fim de semana ele o sertanejo legítimo, para aprender coi-
ficava procurando bate-chinelo nas sas boas).
pontas de rua).
BATE-PAU (s.) - 1. pau mandado;
BATE-COXA (s.) - V. bate-chinelo. adulador; puxa-saco (Não converse coi-
sas demais com Raimundinho, que ele é
BATE-ENXUGA (s.) - única roupa que bate-pau do patrão). 2. pessoa que
alguém possui; bate-e-torce (O pobre do presta serviços policiais sem pertencer à
Afonso só tinha uma bate-e-torce, que polícia (Pensei que o Ceará fosse poli-
tirava apenas para lavar e tornar a ves- cial, mas descobri que é apenas um
tir) bate-pau).
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jirau construído em uma espécie de qua- tas andam agora batendo bruaca sem
drilátero com paredes de palha, chamado ter o que vender).
chocha ou choça; os grãos caem sob o
jirau, de onde são recolhidos. No caso do BATER CAIXA (exp.) - contar vanta-
feijão, os pés, arrancados com a raiz, são gem (Ele é só de bater caixa, pois, se
colocados sobre um couro de boi ou uma for observar bem, não é de coisíssima
esteira, onde são submetidos a uma série nenhuma).
de pancadas, para separação dos grãos
(V. choça). BATER CARROCERIA (exp.) - andar
com o caminhão vazio.
BATER ASAS (exp.) - escapulir; fugir
(Esqueceram o cadeado aberto, e o BATER CARTEIRA (exp.) - furtar a
preso bateu asas). carteira de alguém (Na cidade grande
não se distraia, pois ao menor descuido
BATER AS BOTAS (exp.) - morrer; podem bater-lhe a carteira sem você
bater o pacau (No dia em que o velho notar).
bateu as botas, os herdeiros trataram de
dividir seus quase-nada). BATER COM A CARA NA PORTA
(exp.) - decepcionar-se (No caso do em-
BATER AS CAMBOTAS (exp.) - prego que você me prometeu, bati com
morrer. a cara na porta).
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BATER NA CANGALHA PRO
BURRO ENTENDER (exp.) - insinuar; BATIDA (s.) - 1. pegada; rastro; para-
jogar indireta. deiro (A polícia passou aqui na batida
dos assaltantes). 2. bebida feita com
BATER O PACAU (exp.) - V. bater as cachaça e suco de alguma fruta (Não
botas. gosto muito de batida de limão, que me
dá dor de cabeça). 3. pesca que consiste
BATER O PÉ (exp.) - teimar; insistir; em bater a vara de pescar na superfície
resistir. da água para, com o barulho, atrair os
peixes.
BATER OS PAUS DA PORTEIRA
(exp.) - perder todo o gado da fazenda BATIDO (s.) - 1. espécie de doce feito
(A terrível aftosa, que dizimou até os de rapadura com gengibre; baba-de-
veados e todo bicho de casco, fez meu moça (Na moagem de Honorão era
padrinho bater os paus da porteira). feito um batido pra ninguém botar de-
feito). 2. trabalho duro (Nesse batido
BATER PAPO (exp.) - conversar ami- você vai acabar se esgotando). 3. espé-
gavelmente; prosear. cie de prato feito de carne picada à
moda de carne moída, por ser batida com
BATER PASTO (exp.) - roçar (Todas uma faca numa tábua de bater carne
as férias, ele ganhava uns trocados ba- (Naquela noite comemos um batido da
tendo pasto para o dono da fazenda). carne do catingueiro, que estava uma
delícia).
BATER PERNAS (exp.) - vagabun-
dear; andar à toa (Ele nunca foi de tra- VEJA TAMBÉM:
balhar; só vive batendo pernas) Agüentar o batido.
BATICUM (s.) - 1. batida (de tambor); BATUTA (adj.) - certo; que satisfaz
2 plenamente (Minha empregada é ba-
batuque (De longe o baticum da caixa
denunciava a aproximação da folia do tuta: lava, passa e ainda cuida da casa).
Divino). 2. taquicardia; palpitação no
coração; batedeira (Amanheci com um BEABÁ (s.) - começo; início de qual-
baticum, que precisei tomar uma gotas quer coisa; rudimentos (Em se falando
de água-de-colônia). de criação de gado, não sei nem o be-
abá)
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BEBÉ (s.) - boneca; bebéu (Para Mar- Légua de beiço
celo ele trouxe bola-de-soprar e para Passar mel nos beiços.
Maricotinha, um bebé)
BEIJAMENTO (s.) - devoção que con-
BEBEMORAR (v.) - comemorar com siste em ajoelhar-se diante da bandeira
bebidas. da folia para beijá-la (Depois do beija-
mento, o alferes levou a bandeira por
BEBER (v.) - tomar bebida alcoólica. todos os cômodos da casa).
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que se deitam ou se levantam (- A BENZEDOR (s.) - pessoa que benze al-
bença, meu tio!). guém visando à cura de doenças; V. re-
zador.
BENÇÃO (s.) - bênção (a palavra é
usada como oxítona). Para responder ao BENZEDURA (S.) - V. benzeção.
pedido de benção, há várias formas:
Deus te abençoe! Deus te ajude! Deus BENZER (v.) - rezar para curar ou afu-
que te faça feliz! Deus que te crie pro gentar qualquer mal físico
bem! e outras mais.
BENZER PADRE (exp.) - ir com jeito
BENÇÃO DE CRISTO! (exp.) - ex- (Para conversar com aquele homem
pressão de desconsolo, que exprime de- importante, o negócio é benzer padre).
sengano (O dinheiro que emprestei pro
Agenor? Benção de Cristo! Nunca mais BERÉM (s.) - espécie bolo de milho
o vi). ralado, semelhante à pamonha, que é
cozido enrolado em palha de bananeira;
BENDITO (s.) - reza cantada nas come- aberém
morações das datas de santos, que se ini-
cia com “Bendito, louvado seja...”. BERDUÉGUA (s.) - V. beldroega.
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BERRANTE (s.) - 1. instrumento musi- BESTAGEM (s.) - bobagem; disparate;
cal de sopro constituído de um grande besteiraiada; bobajada (Você pára de
chifre com o qual o vaqueiro imita o falar bestagem, que um dia você en-
berro dos bois também denominado bu- crava).
zina (De longe, o berrante avisava que
entrava pelo vaquejador a boiada do BESTAJADA (s.) - porção de besta-
coronel). 2. revólver; pau-de-fogo; gens; bobajada; besteiraiada (Lá vem
berro (Nesta terra, a gente tem que an- ele com suas bobajadas).
dar com um bom berrante, por conta
dos assaltos nas estradas ermas). 3. diz- BESTAR (v.) - 1. não ter o que fazer;
se da cor vermelha muito forte (Vestiu andar a esmo; eguar (Em vez de ir tra-
uma camisa vermelho berrante e foi balhar, você fica bestando na rua). 2.
encontrar-se com a namorada). ser tolo (Deixe de bestar e confie no seu
amigo). 3. não ter iniciativa (Ele ficou
VEJA TAMBÉM: bestando e acabou perdendo o negócio).
Cor berrante.
BESTEIRA (s.) - V. bestagem.
BERREIRO (s.) - choro em altos bra-
dos; bué (O menino, quando viu os ca- BESTEIRAIADA (s.) - V. bobajada.
retas, aprontou um berreiro dos dia-
bos). BESTUNTA (s.) - cabeça.
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ou o peixe em folhas verdes, enterrando BIBICO (s.) - boné; gorro; casquete;
em uma cova feita no chão e acendendo quepe (Ele não se separava daquele
sobre o local uma fogueira. bibico para disfarçar a calvície).
BIBIANO (s.) - lamparina rústica; can- BIBIU (s.) - órgão sexual masculino de
dieiro; candeia; fifó (No canto do salão criança; pinto (O bibiu dele inchou de-
um bibiano espalhava sua luzinha tre- vido a um carrapato que mordeu).
mulante no ambiente).
BÍBLIA (s.) – V. crente (1).
BIBOCA (s.) - grota; buraco; furna; BICHA LOUCA (s.) - efeminado que
lugar inacessível (A gente via propa- não faz questão de expor-se ao ridículo,
ganda das “Casas Pernambucanas” em com gestos, palavras e vestuário.
tudo quanto era biboca).
BICHADO (pron..) - palavra utilizada
BICA (s.) - corrente de água que, num quando se esquece o nome de alguém;
nível superior, descendo por um cano ou negócio; bichado (2) (Preciso falar ur-
por um tronco de macaíba serrado ao gentemente com Bichado, aquele da
meio longitudinalmente, serve para se loja).
tomar banho ou encher vasilhas (O ba-
nho de bica é mais que refrescante, pois BICHANA (s.) - onça; pichana (À bo-
nos transmite uma grande paz pelo quinha da noite ouvia-se o esturro da
contato com a natureza). bichana no socavão d serra).
BICADA (s.) - gole pequeno de cachaça BICHANO (s.) - gato doméstico; pi-
em copo alheio (Cheguei, dei uma bi- chano (Lá em casa não há ratos, por-
cada no copo de Ricardo, e ficou só que meu bichano é uma fera).
nisso, porque não sou de farra e bebe-
deira). BICHEIRA (s.) - ferida de animal con-
taminada de bichos postos pela varejeira;
BICAME (s.) - conjunto canos ou de pisadura que sangra. Para curar bichei-
troncos de macaúba, serrados longitudi- ras, deve-se lavá-las com infusão de cas-
nalmente, que formam bicas (Ficou fa- cas de angico. Há também benzeções:
moso o bicame que o coronel Wolney pega-se um molho de três capins verdes
fez no Duro para trazer água da serra). e dá-se três nós, enquanto reza por três
vezes:
BICANCA (adj.) - zangado (O patrão
ficou bicanca com o atraso do empre- “O serviço que eu fiz
gado). No dia de domingo,
Que pequei,
BICÃO (adj.) - V. entrão. Que não fique nesta bicheira
Nenhum bicho”.
BICHA (s.) - V. veado.
Quando o animal é bravo, benze-se pelo
rastro, jogando-se um ramo verde no ras-
tro da rês, dizendo:
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“De um a cinco, De sete a cinco,
De cinco a sete, De cinco a um,
De sete a nove, Não fica nenhum!”
De nove a sete,
trair-se um bicho-de-pé, a cavidade que
BICHINHO (s.) - 1. tratamento especi- resultou da extração deve ser enchida
almente carinhoso, dado normalmente a com rapé, sarro de cachimbo, cinza de
crianças ou a animais de estimação (Fi- cigarro ou cera de ouvido.
quei morrendo de pena do bichinho,
que parecia não poder respirar). 2. BICHO-DE-PORCO (s.) - V. bicho-de-
(pron.. ind.) - V. bichado. pé.
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3. biscate (1); emprego temporário BICO-DE-PENA (s.) - desenho a nan-
(Para ele o emprego da Prefeitura é quim (O bico-de-pena naquele livro
apenas bico, pois ganha muito mais ficou perfeito).
com gambiras).
VEJA TAMBÉM:
BICO CALADO (adj.) - mudo. Abrir o bico
Bater bico
BICO-DE-PAPAGAIO (s.) - doença da Fazer bico
coluna. Meter o bico.
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BIRRA (s.) - teimosia; cabeça dura; ma-
nia; idéia fixa (O caso da vaca malhada BOA CARNADURA (exp.) - qualidade
era birra do patrão). de pessoa ou animal que engorda facil-
mente ou que se restabelece com rapidez
BIRRAR (v.) - teimar; embirrar. de ferimentos recebidos (Se eu não ti-
vesse boa carnadura, minha recupera-
BIRRENTO (adj.) - teimoso; pirrônico ção demoraria mais). V. má carnadura.
(Ele era birrento; forante isto, era gente
boa). BOA HORA (s.) - parto.
BISCOITINHOS (s.) - fezes de capri- BOBÓ (adj.) - bobo; tolo; mouco; to-
nos e roedores. V. bosta. leba (Quando eles se mudaram levaram
até aquele bobó que criavam para ser-
BISONHO (adj.) - triste; sorumbático; viços domésticos).
macambúzio; jururu.
BOCA (s.) - 1. oportunidade (Estou
BISPAR (v.) - desconfiar. esperando uma boca para comprar o
violão). 2. emprego ou meio de vida
BITELO (adj.) - grande; baita; butelo. rendoso (Com essa boca ue ele arran-
jou, sua vida melhorou, pois ganha
BITUCA (s.) - ponta de cigarro que se relativamente bem).
atira fora após fumar-se; baga; guimba;
quimba; vinte. VEJA TAMBÉM:
Bate-boca
BISCOITO-DE-GALHO (s.) - espécie Bater boca
de biscoito feito com polvilho escaldado Com a boca na botija
e ovos; peta (Na festa do padroeiro cor- Como boca de bode
ria café com bolo-de-roda e biscoito-de- Da boca pra fora
galho). Dar água na boca
De boca
BLÁ-BLÁ-BLÁ (s.) - conversa fiada..
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De boca cheia dômen e que fica logo abaixo do osso
Encher a boca d’água esterno (Ninguém resiste a uma pan-
Fazer boca de pito cada na boca-do-estômago).
Fazer cruz na boca
Ficar com água na boca BOCAINA (s.) - depressão de serra,
Na boca de espera quando a escarpa parece abrir-se, for-
Passar bem de boca mando uma espécie de entrada que faci-
Pôr a boca no trombone lita a subida ao plano superior; boquei-
Viver da mão pra boca. rão (À noite ouvia-se o esturro da pin-
tada na bocaina da serra).
BOCADA (s.) - quantidade de alimento
que cabe na boca; mordida (Larga de ser BOCA-LIVRE (s.) - comer sem ser
guloso e me dá uma bocada desse bolo, convidado; bê-ele.
rapaz!).
BOCAPIU (s.) - espécie de sacola de
BOCA-DA-NOITE (s.) - o anoitecer palha de buriti, com duas alças na parte
(As esperas na faveleira costumam ser superior.
boas à boca-da-noite).
BOCA-PORCA (s.) - V. boca-suja.
BOCA DE CHUPAR OVO (s.) - boca
pequena. BOCAR (v.) - aparar com a boca; abo-
canhar; abocar (O cachorro era tão
BOCA-DE-FUMO (s.) - lugar onde se grande, que bocou um coração de boi
vende maconha (Ninguém dizia que inteirinho).
naquele botequim funcionaa uma boca-
de-fumo). BOCA-RICA (s.) - 1. boca cheia de
dentes de ouro. 2. emprego bom; boca
BOCA-DE-PITO (s.) - cafezinho, em (2).
quantidade diminuta, que o fumante
toma para dar o gosto ao cigarro (Ponha BOCA-SUJA (s.) - pessoa que vive fa-
só uma boca-de-pito no fundo do copo). lando pornografias ou xingamentos
(Esse menino de Abel é um boca-suja).
BOCA-DE-SIRI (s.) - segredo; discri-
ção (Vou lhe contar um segredo, mas BOCÓ (s.) - bobo; tolo; passado no
faça boca-de-siri). brejo; arigó; bocoió; bobó.
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BODE EXPIATÓRIO (s.) - que sofre
injustamente em lugar dos verdadeiros BOFES (s.) - quando usado no plural,
culpados para que seja dada uma satisfa- tem o significado de fussura.
ção às pessoas; cristo; boi-de-piranha.
BOGA (s.) - 1. fêmea do bogue; jega (O
BODEGA (s.) - pequena venda onde se coice da boga quase arrebentou minha
comercializam pinga e secos e molhados perna). 2. ânus.
(Na bodega de Cearense vendia-se de
um tudo). BOGUE (s.) - jumento; jegue (Seus te-
res cabiam numa carga de bogue).
BODEJAR (v.) - insultar (Com essa
mania de andar bodejando os outros, BOGUEIRO (s.) - aquele que se satis-
ele vai encravar um dia). faz sexualmente com uma jumenta.
BODE PRETO (exp.) - o Capeta. BOI (s.) - menstruação; paquete; chico;
esgotamento do mês (Quando ela está
VEJA TAMBÉM:
de boi fica irritada, por conta das cóli-
Barba-de-bode
cas).
Cabeça-de-bode
Certo que só boca de bode
BÓIA (s.) - 1. refeição; comida; rango;
Como boca de bode
xepa (Na hora da bóia, o alarido dos
Dar milho a bode
meninos parecia priquito na manga). 2.
Engana-bode
espécie ferro de marcar bovinos, para
Olho de bode afogado
indicar que o animal pertence a determi-
O bode preto
nada fazenda, não se confundindo com a
Pé-de-bode.
marca do dono, pois é aposta no animal
antes da ferra.
BODOQUE (s.) - arma rústica de caçar
passarinhos, geralmente feita de pereiro
BOIÃO (s.) - 1. vasilha zincada com
ou outra madeira flexível, consistente de
tampa, que serve para transportar leite;
um arco e dois barbantes de algodão
camburão (O leite dessa vaca dá quase
paralelos unindo suas extremidades e
um boião de vinte litros). 2. bóia (1).
tendo ao meio um pedaço de tecido para
agasalhar a pedra para o arremesso; ba-
BOIAR (v.) - cansar-se (Nem bem ter-
doque.
minara o primeiro tempo, o time
boiou).
BODOSO (adj.) - fedorento; que tem o
cheiro semelhante ao de bode.
BOI BANANA (s.) - com os chifres caí-
dos; banana (3); cabano (Vendi duas
BODUM (s.) - mau cheiro; cheiro de
vacas de leite e aquele boi banana).
bode; inhaca; fedor (Cazuza, por conta
de não tomar banho, tinha um bodum
BOI BUFA (s.) - búfalo (Ele agora in-
terrível).
ventou de criar boi bufa, devido ao
leite, que é mais gordo).
BOFE (s.) - 1. pulmão (Quem nunca
comeu um bofe seco e assado não sabe
o que está perdendo). 2. mulher feia.
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BOI CARREIRO (s.) - 1. boi-de-carro. BOIÚNA (s.) - ser mitológico, temido
2. pessoa trabalhadora incansável. por sua maldade, representado por uma
enorme cobra, que, segundo os índios,
BOI-CORNETA (s.) - boi que tem um costuma tomar a forma de cobra para
só chifre, por ter quebrado o outro ou afundar as embarcações; mãe-do-rio;
por ser aleijado de um deles. cobra-grande. Dizem os supersticiosos
que a boiúna é uma transformação da
BOI-DE-CAMBÃO (s.) - marido ma- jibóia ou da sucuri.
nobrado pela mulher.
BOLA (s.) - 1. pedaço de carne envene-
BOI-DE-COICE (s.) - boi que puxa nada para matar animais (Como a Pre-
junto ao cabeçalho, na junta-do-coice. feitura não tinha canil, o pessoal usava
bola para acabar com os cachorros va-
BOI-DE-FOGO (s.) - V. artifício; cor- dios das ruas). 2. propina (Esses fun-
nimboque; papa-fogo. cionários corruptos só movimentam os
processos a poder de bola). 3. tatu-bola.
BOI-DE-PIRANHA (s.) - boi que, nos
rios infestados de piranhas, é sacrificado BOLACHA (s.) - biscoito industriali-
para que a boiada possa passar, enquanto zado, de forma redonda ou quadrada.
ele é devorado pelas piranhas; bode ex-
piatório; cristo. BOLA-DE-ARAME (s.) - rolo de
arame farpado (Para cercar a fazenda
BOI DO CU BRANCO (s.) - pessoa toda, é preciso muita bola-de-arame).
incapaz, mole ou sem ação; pessoa in-
dolente. BOLA-DE-GUDE (s.) - V. biloca.
BOI-DO-DIVINO (s.) - rês que é ofer- BOLA DE PNEU (s.) - bola de futebol
tada para leilão nas festas do Divino, o feita de couro; as bolas normalmente
qual, se furtado, acarreta muito azar e utilizadas eram de borracha ou de man-
castigo divino. gaba (Antes de conhecermos bola de
pneu, a gente jogava era com bola de
VEJA TAMBÉM: mangaba).
Bosta-de-boi
Comer o boi-do-Divino BOLA-DE-SOPRAR (s.) - balão de
Conversa pra boi dormir borracha; papo-de-anjo (No aniversário
Cu-de-boi eles encheram o salão de bola-de-so-
Dar nome aos bois prar).
História pra boi dormir
Olho-de-boi BOLA DO TUCUM (s.) - bola-de-gude
Pé-de-boi com que o jogador acerta as demais no
Pegar o boi. jogo, sendo normalmente a maior e mais
desgastada; tuca.
BOIECO (s.) - V. pacheco.
BOLA-MURCHA (s.) - pessoa sem
BOIOLA (adj.) - impotente sexual- serventia; pessoa covarde (Quá! Não
mente; que não dá no couro; broxa.
70
vou esperar muita coisa daquele bola- BOLO (s.) - 1. espécie de torta caseira.
murcha). 2. confusão (Isto ainda vai dar bolo). 3.
pancada de palmatória na palma da mão
VEJA TAMBÉM: (O professor costumava dar mia dúzia
Comer bola de bolos quando a gente errava a conta
Encher a bola de tabuada).
Estar com a bola cheia
Não dar bola BOLO-DE-RODA (s.) – 1. Mangulão;
Levar bola tradicional bolo salgado feito com pol-
Pisar na bola vilho, ovos, gordura e temperado com
Sofrer da bola. erva-doce. 2. qualquer bolo que é assado
ao forno, em contraposição a biscoito,
BOLANDEIRA - 1. (s.) espécie de en- pois bolo é o gênero, de que o biscoito e
genho rústico que consiste de uma roda, o bolo-de-roda são espécie (Nas festas
geralmente de madeira, girada manual- de Nossa Senhora do Rosário havia
mente por uma manivela para girar o muito biscoito e bolo-de-roda).
bolinete. 2. parte da roca (V. roda).
VEJA TAMBÉM:
BOLDO (s.) - planta medicinal, conhe- Dar o bolo
cida por sete-dores, de folhas grossas e Fura-bolo.
aveludadas com penugem, cujo chá é
muito utilizado para doenças do estô- BOLODÓRIO (s.) - conversa fiada;
mago e intestinos, mas sua serventia se leréia; léria; lero-lero.
estende-se à cura de outros males, como
os do baço, do fígado, inflamações inter- BOLOLÔ (s.) - confusão; mandu (A
nas, do esôfago, irritação dos olhos, fe- chegada do marido naquela hora deu
bres e úlceras. um bololô medonho).
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tada (Nunca me apertei com um hós- BORBOLETA DO OUVIDO (s.) -
pede igual ao Getúlio, pois ele sempre tímpano.
foi bom de boca).
BORBOLHA (s.) - bolha produzida por
BONDADE (s.) - orgulho; frescura alguma queimadura. A saliva tem impor-
(Gosto do Miguilim porque é um ho- tante desempenho nas queimaduras e fe-
mem sem bondade). rimentos, pois ao se queimar ou ferir um
dedo, é instintivo a pessoa levá-lo à
BONECA (s.) - espiga de milho em boca. A urina, que evita a formação de
formação, ainda desprovida de grãos (O bolhas, facilita a cura das queimaduras.
milharal ostentava suas bonecas, pre- É comum também passar-se na parte
nunciando boa colheita). queimada um pouco de azeite, gordura
ou manteiga derretida.
BONÉU (s.) - boné.
BORDAR O CASO (exp.) - detalhar,
BONITEZA (s.) - beleza; elegância (O enriquecer, enfeitar a conversa (Como
sapo não pula por boniteza, mas por queria valorizar sua ação, ele bordou o
precisão). caso para impressionar o patrão).
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BORRA-BOTAS (adj.) - medroso; mo- BOSTA - 1. (adj.) - pessoa inútil (Não
fino; descorajoso (Esse borra-botas não confie naquele camarada, porque ele é
tem coragem para nada). um bosta). 2. (s.) - excremento; fezes;
esterco; obra. Conforme a classificação
BORRACHA (s.) - 1. cassetete usado do povo, as fezes de cada animal têm um
pela polícia (Quando o meganha pegou nome específico: as de qualquer ave cha-
o ladrão, desceu-lhe a borracha). 2. mam-se titica; as de criança, cocô; as de
espécie de odre de couro para se carregar gente, fezes; as de gado e de bicho,
água (Ele levava uma rapadura, um bosta; de cavalo, burro ou jumento, es-
litro de farinha e a borracha d’agua e trume; de bode, cabrito e de roedores,
passava o dia melando). biscoitinhos. O estrume de vaca é exce-
lente para se passar em feridas pene-
BORRACHUDO (s.) - 1. espécie de trantes, principalmente cortes no pé. A
mosquito pequeno de picada dolorosa; respeito do valor terapêutico dos excre-
maruim; muruim (Na beira do Game- mentos, MÁRIO DE ANDRADE es-
leira os borrachudos acabam com a creveu o livro “Namoro com a Medi-
gente). 2. cheque sem fundo (Como não cina”, sobre a medicina dos excremen-
podia perder o negócio, dei um borra- tos, riquíssimo em seu manancial de in-
chudo para garanti-lo). formações, publicado sob o patrocínio
do Ministério da Educação, onde, apesar
BORRADOR (s.) - espécie de caderno da grande quantidade de informações,
onde os comerciantes anotam as com- falta ensinar, por exemplo, que, para
pras a crédito durante o dia para depois fazer brotar o sarampo, o chá do capim
transcreverem no livro conta-corrente meloso ou do sabugueiro com bosta seca
(Ele olhou desanimado para as prate- de cachorro é um santo remédio; que a
leiras: o estoque estava no fim, e o bor- parte branca da titica de galinha, seme-
rador, repleno de fiado). lhante a polvilho, cura belida no olho;
que o estrume de capivara, ainda verde,
BORRAINA (s.) – espada ou carabina não dá frieira no pé, como ocorre com o
presa, rente à almofada da sela. de vaca (pelo contrário, até cura tumores
de mau caráter), dentre outras coisas.
BORRALHO (s.) - cinzas e sobras de
tição apagadas (Deixei a chocolateira BOSTA-DE-BAIANO (s.) - carrapicho
no borralho para o café não esfriar). rasteiro, que prega na roupa (Sua calça
ficou cheia de bosta-de-baiano, quando
BORRAR-SE (v.) - ficar com medo; ele chegou da roça ).
apavorar-se (astou que a onça estur-
rasse lá na serra, para que ele se bor- BOSTA-DE-BOI (s.) - chapéu velho de
rasse todo ). couro (Com o bosta-de-boi ele deu uma
lapada no cachorro, que saiu ganindo).
BORZEGUIM (s.) - sapato de criança;
bruzegue (Veja se não se esquece de BOSTA-DE-COBRA (adj.) - zangado;
comprar um consolo e um borzeguim iracundo (Quando ele viu que o gado
pro meu menino na rua). arribara, ficou bosta-de-cobra).
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BOSTA N’ÁGUA (adj.) - pessoa im- BOTAR A BOCA NO TROMBONE
prestável; bosnágua (Quá! Esse Camilo (exp.) - contar tudo o que sabe sobre um
é um bosta n’água e não vai dar conta assunto (Quando ele viu que tinham
de fazer aquele serviço). feito maracutaia, botou a boca no
trombone).
BOSTEIRO (s.) 1. grande quantidade
de bosta. 2. uma das espécies do urubu.. BOTAR A CARGA NO CHÃO (exp.)
- ir direto ao assunto, sem circunlóquios
BOTA (s.) - calçado de cano longo. (Bote a carga no chão e conte o caso
direito, rapaz!).
BOTA-COMANDO (s.) - bota de cano
curto. BOTAR A MÃO NO FOGO (exp.) -
responsabilizar-se por alguém; ter segu-
BOTA-FORA (s.) - despedida em que a rança pelos atos de alguém (Pode con-
visita ou hóspede é acompanhado até à fiar em Ditinho; por ele eu boto a mão
saída ou à metade do caminho (No ser- no fogo).
tão, é de bom preceito fazer o bota-fora
das visitas). BOTAR A PERDER (exp.) - estragar;
fazer fracassar um plano ou projeto
VEJA TAMBÉM: (Com essa sua atitude, você vai acabar
Bater as botas botando o casamento a perder ).
Borra-botas
Lambe-bota BOTAR AS UNHAS DE FORA (exp.)
Lamber as botas - mostrar o que realmente é, surpreen-
Onde o judas perdeu as botas. dendo; é uma alusão ao gato, que, não
obstante possuir as patas macias e plu-
BOTÃO (s.) - ânus (Depois do peido mosas, escondem as unhas que arra-
escapulido, não adianta apertar o bo- nham; pôr as unhas de fora. (Só foi ela
tão). se casar com ele, começou a botar as
unhas de fora)
BOTÃO RÁPIDO (s.) - pequena peça
redonda de metal que serve para prender BOTAR BANCA (exp.) - assumir ares
peças de roupa ou calçados entre si, me- de importância (Ele chegou botando
diante pressão, substituindo o botão. banca, só porque passou no concurso).
BOTAR (v.) - 1. pôr ovos (aves). 2. pro- BOTAR AS TRIPAS PRA FORA
duzir flores; enflorescer (Não faz dois (exp.) - 1. chegar exausto depois de uma
anos que plantei esses coqueiros, mas caminhada (Com a carreira que a polí-
eles já estão botando). cia lhe deu, chegou botando as tripas
pra fora). 2. vomitar em demasia (Bebeu
BOTAR A ALMA PELA BOCA tanto, que quase botou as tripas pra
(exp.) - cansar-se muito, até à exaustão fora).
(Ele correu tanto da polícia, que che-
gou aqui botando a alma pela boca). BOTAR CANGA (exp.) - mandar em
alguém; submeter (Do jeito que o Tiago
era arbitrário, ninguém iria imaginar
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que aquela mulherzinha franzina fosse ído (Traga para mim uma carteira de
botar canga nele). cigarros e um bote de fósforos). 2. em-
barcação fluvial que transortava cargas e
BOTAR CHIFRE (exp.) - cometer passageiros entre o Alto Tocantins e
adultério ou trair o(a) namorado(a). A Belém-PA. 3. salto dado pela cobra, pela
expressão decorre do costume na época onça ou qualquer outro animal bravio
em que as adúlteras eram condenadas ao (Quando ele menos esperou, a jararaca
apedrejamento em praça pública, e o ma- deu o bote).
rido, se fosse conivente, era chicoteado e
recebia uma espécie de capacete dotado BOTECO (s.) - botequim; venda; boli-
de dois chifres, com o qual desfilava, a cho.
título de castigo (No Nordeste, botar
chifre cheira a chumbo). BOTIJA (s.) - V. moringa; quartinha.
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que é pronunciada quando se quer atra-
vessar um local onde existe brabeza: BRANQUELO (s.) - pessoa de cor
muito branca; albino; fogoió; sarará.
“Valei-me São Silvestre,
Pelas sete camisas que vos vestem, BRANQUINHA (s.) - cachaça.
Livrai-me da rês
Que em mim investe!”. BRASEIRO MANSO (s.) - V. que-
branto.
(Repetir 3 vezes estas palavras, colo-
cando uma pedrinha em cima da cabeça BREADO (adj.) - untado; emporca-
e atravessar no meio do gado bravo; de- lhado; sujo, coberto de lama, óleo, me-
pois, tirar a pedra e oferecer para São lado ou qualquer outra substância ade-
Silvestre). rente (O moleque chegou todo breado
depois que passou a tarde na oficina do
BRABO (adj.) - bravo. pai).
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BRIBA (s.) - pequena lagartixa domés-
tica branca, quase transparente, que vive BROCOTÓ (s.) - terreno irregular,
nas paredes caçando insetos; variação de cheio de grotas; grotas (O vaqueiro an-
víbora. dou o dia inteiro pelos brocotós, mas
não achou a novilha).
BRIDA (s.) – peça de metal que compõe
a cabeçada (1.) e que fica na boca da BROGÚNCIOS (s.) – miudezas; caca-
montaria; rédea; freio. recos; bigigangas.
BRINCAR COM FOGO (exp.) - me- BROMAR (v.) - degenerar (Do jeito
ter-se em uma empreitada perigosa; ar- que esse menino gosta de estudar, e se
riscar-se (Se você quer um conselho, eu não bromar, vai ser gente estudada).
lhe dou: não peite o coronel, pois você
está brincando com fogo). BRONCA (s.) - 1. confusão; envolvi-
mento policial. 2. V. pito.
BRINCO (s.) - par de apêndices gor-
durosos que aparecem em certos porcos, BRONHA (s.) - V. punheta.
de cada lado da queixada.
BRONQUEAR (v.) - dar bronca.
BRIQUITAR (v.) - periclitar; penar;
sofrer (Briquitei muito tempo neste em- BROXA (adj.) - impotente sexual-
preguinho, mas consegui uma promo- mente; boiola (Cf. brocha).
ção).
BROXAR (v.) - ficar broxa.
BRIVANA (s.) - égua.
BROXURA (s.) - impotência sexual.
BROCA (s.) - 1. ato ou efeito de brocar Para revigorar o homem já impotente por
(Depois que ele fez a broca da roça, qualquer motivo, recomenda-se o chá ou
nunca mais voltou lá). 2. (adj.) difícil a infusão da raiz de “ficus” benjamim.
(Pra se arrancar um peba do buraco é Mas, comprovadamente, o sertanejo re-
broca). ceita os seguintes remédios, pelos quais
põe a mão no fogo: catuaba, tanto o chá
BROCÃO (s.) - V. mal-de-pontas. como a infusão; comer amendoim, cru
ou torrado; tomar chá de caroço de aba-
BROCAR (v.) - roçar o mato com foice, cate; comer abacate com rapadura. O
antes de derrubá-lo para preparar a roça. ovo de codorna, tão propalado como
afrodisíaco, é desconhecido na região,
BROCHA 1. (s.) - parte do carro-de- uma vez que aquelas aves não são cria-
bois (V.). 2. espécie de pincel, geral- das domesticamente no Tocantins.
mente ferito de canela-d’ema, para caia-
ção de casas (Cf. broxa). BRUACA (s.) - 1. espécie de mala de
formato quadrado e feita de couro cru
BROCO (adj.) - ensandecido; sem viva- que serve para transportar carga, sendo
cidade ou reflexo (Quando a idade carregadas duas a duas presas à canga-
chega, a gente vai ficando broco). lha. 2. mulher feia .
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BRUGUELO (s.) - menino novo; pis- BUCHADA (s.) - iguaria feita com bu-
qüilo. cho e tripas, diferindo da buchada nor-
destina; dobradinha.
BRUTA (adj.) - 1. grande; enorme
(Hoje estou com uma bruta dor de ca- BUCHINHA (s.) - pequena bucha sil-
beça). 2. estupidez, em se tratando de vestre, de propriedades terapêuticas; sua
jogador de futebol que compensa a falta inalação tem, além da propriedade de
de técnica pela força (Esse timeco da aliviar e curar a sinusite, a de evitar a
rua de baixo só joga na bruta). gravidez.
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VEJA TAMBÉM:
BUNDA CANASTRA (s.) - brincadeira Seda de buriti.
infantil, em que a criança apóia a cabeça
no chão e vira o corpo. BURITIRANA (s.) - palmeira pequena,
de hastes tortas, cheias de espinhos e
VEJA TAMBÉM: brota em touceiras; seus frutos asseme-
Virar bunda canastra. lham-se ao buriti por terem ambos a
forma ovalada e a casca ladrilhada como
BUNDA-MOLE (adj.) - medroso; escamas; o buriti tem o tamanho de um
frouxo (1); mofino (O bunda-mole do ovo de galinha e é marrom e enverni-
Nico não agüenta o tranco). zado, enquanto a buritirana é do tama-
nho de um ovo de codorna, de cor ama-
BUNDA-SUJA (adj.) - pessoa desqua- rela opaca e seu leite é esverdeado.
lificada (Não dê confiança para esse
bunda-suja). BURITIZEIRO (s.) - V. buriti.
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pessoas (Eu sou o burro-de-carga, en-
quanto esses malandros se divertem às BUSCAR MALQUERÊNCIA (exp.) -
minhas custas). V. cavar malquerência
-C-
CABAÇA (s.) - fruto da cabaceira, que, partido ao meio, faz duas cuias, de amplo uso
doméstico.
80
CABAÇO (s.) - 1. virgindade; hímen (Hoje em dia não se vê mais mulher casar-se com
o cabaço). 2. mulher virgem (Aquela menina ainda é cabaço).
VEJA TAMBÉM:
Perder o cabaço
Tirar o cabaço.
CABANO (adj.) - diz-se do animal cujos chifres são caídos (Aquele bode cabano é o
melhor reprodutor do chiqueiro).
CABEÇA - 1. (s.) - crânio. 2. (s.) - inteligente. 3. parte do canzil que fica acima da
canga. 4. parte da roca (V. roda). 5. unidade, quando se trata de animais (Comprei ca-
valos, burros, bois e galinhas: ao todo, mais de cem cabeças).
CABEÇADA (s.) - 1. parte da rédea que, cingindo a cabeça do animal e passando-lhe por
trás das orelhas, envolve- a, servindo para segurar-lhe o freio na boca, compreendendo o
freio e a brida; cabeção. 2. burrada (A compra daquele carro foi a maior cabeçada que
dei).
VEJA TAMBÉM:
Dar cabeçada.
CABEÇA-DE-BOI (s.) - caveira de boi que é colocada espetada em uma estaca nas en-
tradas das fazendas para evitar entrar azar ou sair a sorte.
CABEÇA-DE-ESCAPOLE (s.) - pessoa que corta o cabelo rente ao crânio; cabeça pe-
lada.
CABEÇA-DE-NEGRO 1. (s.) - arbusto de flores amarelas e cujas sementes têm propriedades an-
tidiarréicas, servindo também para diarréia e sangue novo. 2. espécie de bombinha de festa junina.
CABEÇA INCHADA (s.) - ressenti-
CABEÇA DE GADO (s.) - rês. mento; paixão; dor-de-cotovelo (O
amigo ficou com a cabeça inchada,
CABEÇA DURA (s.) - teimoso (Não porque não foi convidado para a festa).
adianta insistir com o Jair, pois ele é
cabeça dura). VEJA TAMBÉM:
Da cabeça aos pés
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De cabeça amarrado de cabelos louros; há uma
De cabeça abaixo simpatia, segundo a qual a pessoa pode
De cabeça acima alisar os cabelos comendo um pedaço
Dor de cabeça dele atrás da porta, enquanto bate a ca-
Esquentar a cabeça beça nesta; o mesmo que cabilouro.
Levar na cabeça
Meter na cabeça CABILOURO (s.) - V. cabelouro.
Perder a cabeça
Procurar chifre na cabeça de cavalo CABO (s.) - parte da ferramenta ou da
Sem-pé-nem-cabeça. panela por onde se segura.
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xado pelo cabresto (Você não vai ter ropeu, perecido com o nosso catin-
dificuldade em levar o cavalo, pois ele é gueiro; esse tipo de caçada é o que se
cabresteiro). faz aos veados de hábitos diurnos, prin-
cipalmente na chapada, depois de uma
VEJA TAMBÉM: chuva, quando os rastros ficam mais
Viver no cabresto. visíveis; o caçador, geralmente descalço
e vestido apenas com um calção escuro,
CABRIOLA (s.) - pirueta dado pelo posiciona-se sempre contra o vento;
cabrito; salto que os bezerros e os ca- anda um pouco
britos dão quando estão alegres (Nos
dias de sol os bezerros ficavam dando CACAIO (s.) – saco de viagem.
cabriolas no pátio da fazenda).
CAÇAMBA (s.) - estribo de arreio, em
CABRITAGEM (s.) - malandragem; que o cavaleiro firma os pés.
cabrito.
VEJA TAMBÉM:
CABRITO (s.) - V. cabritagem. Arear caçamba.
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CACEIA (s.) – pesca embarcada que cachaça com escorpião - friccionar
consiste em deixar a canoa descer de nas picadas de escorpião e lacraia;
bubuia na superfície da água, e o anzol, cachaça com favas de sucupira -
iscado e com chumbada pesada, vai des- reumatismo, garganta e cólicas uterinas;
lizando no leito do rio, à procura dos cachaça com gengibre - gripe;
grandes peixes; também chamada de cachaça com guiné - reumatismo;
pesca de rodada.. cachaça com imburana - palpitações
e cólicas;
CACETE (s.) - 1. pedaço de madeira; cachaça com jurubeba - fígado;
sarrafo; porrete. 2. órgão sexual mascu- cachaça com laranja-da-terra -
lino. 3. (adj.) - enfadonho; chato; ma- gripe;
çante; enfarento (Camaradinha cacete cachaça com losna - males do estô-
esse Josiel!). mago;
cachaça com manacá - reumatismo;
CACHAÇA (s.) - V. a-que-matou-o- cachaça com milhomem - males do
guarda; birita; branquinha; jeribita; estômago e cólicas hepáticas;
pinga; canjebrina; água-que-passari- cachaça com moela de ema torrada
nho-não-bebe. A cachaça entra na com- e pulverizada - para o estômago;
posição de praticamente todas as receitas cachaça com osso da canela de ca-
caseiras, devido ao seu poder conser- pivara - reumatismo;
vante. A par disso, associada com outras cachaça com raspa de casco de tatu
substâncias, tem diversas serventias - reumatismo e sífilis;
terapêuticas, dentre as quais se desta- cachaça com sassafrás - depurativo;
cam: cachaça com sementes de mamão -
cachaça com alcanfor - desmaios, vermes;
dor de cabeça, fricção em picadas de cachaça com sumo de assa-peixe -
insetos e torções; pneumonia.
cachaça com alho e guiné - previne
mau-olhado; VEJA TAMBÉM:
cachaça com arnica - torções, pica- Ser uma cachaça.
das de insetos, cicatrizações e torcedu-
ras; CACHAÇADA (s.) - bebedeira; umas e
cachaça com breu - gonorréia; outras.
cachaça com café quente - gripe;
cachaça com carobinha do campo - CACHACEIRADA (s.) - turma de ca-
é depurativo do sangue e cura gonorréia; chaceiros (Quando é tempo de férias, a
cachaça com casca de angico - ex- cachaceirada chega para se divertir).
pectorante;
cachaça com casca de caiçara - fe- CACHACEIRO (s.) - V. pinguço.
bre palustre;
cachaça com casca de quina - ma- CACHAÇO (s.) - porco inteiro; repro-
leita e febres em geral; dutor; barrão.
cachaça com catuaba - afina o san-
gue e cura a impotência sexual; CACHAMORRA (s.) – árvore do cer-
cachaça com cipó imbé - reuma- rado, abundante no Tocantins, da família
tismo; das combretáceas, muito usada para
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poste de cerca de arame; tem também o CACO (s.) - resto; pedaço; coisa velha .
nome de pau-ferreiro.
VEJA TAMBÉM:
CACHAPEMBA RAJADA (s.) - in- Mijar fora do caco
ferno; lugar muito longe; inferno da pe- Ver a viola em cacos.
dra; cafundó do judas.
CAÇOÁ (s.) - V. caçuá.
CACHO-D’ANTA (s.) - V. casco-
d’anta. CAÇOADA (s.) - gozação; mangação
(O Chico Almeida gosta muito de fazer
CACHOPA (s.) - casa de marimbondo. caçoada da gente).
CACHORRA (s.) - 1. espécie de peixe CAÇOAR (v.) - fazer gozação; mangar
de água doce. 2. V. mucuta; carniça (3).
CAÇOLETA (s.) - V. bater a caçoleta.
CACHORRO - 1. (adj.) - pessoa ordi-
nária e velhaca. 2. (s.) - peça da espora CAÇOTE (s.) - sapo grande; cururu;
onde gira a roseta dentada. morché; macô (em algumas regiões, ca-
çote é o sapinho pequeno).
CACHORRO-DE-BALAIO (s.) - ca-
chorrinho de companhia; peludo e de cor CAÇUÁ (s.) - cesto de talas de bambu
geralmente branca. que, preso à cangalha, um de cada lado,
funciona como bruaca (1), para trans-
CACHORRO-DE-PREÁ (s.) - pessoa porte de mercadorias e gêneros; caçoá.
imprestável; bosta (1); bostoró.
CACULADO (adj.) - demasiadamente
CACHORRO-DO-GOVERNO (s.) - cheio; diz-se da medida, geralmente de
soldado; funcionário público. grãos ou farinha, cujo conteúdo ultra-
passa a borda; acaculado (Gosto de
VEJA TAMBÉM: comprar arroz na venda de Silivestre
Amarrar cachorro com lingüiça porque ele mede o litro bem caculado).
Cagar no cachorro das esporas
Entre lobo e cachorro CACUNDA 1. (s.) - costas; dorso; mu-
Estar no mato sem cachorro cumbu (Ele jogava uma quarto de boi
Marmelada-de-cachorro na cacunda e carregava sem esforço).
Mata-cachorro 2. (s.) - corcunda.
Pedir a bênção pros cachorros
Pra cachorro CACUNDEIRO (s.) – capanga; jagunço
Soltar os cachorros que se contrata como guarda-costas.
Tomar a bênção pros cachorros
Vamos-trocar-os-cachorros CADÊ 1. (pron..) - forma popular de
Viver como gato e cachorro. “que é de”, “quede”; “onde está”. 2.
(int.) - interjeição quer designa descon-
CACIMBA (s.) - fonte cavada nos luga- solo, desânimo (Quando o medo chegou
res úmidos, geralmente em lugares de e ele quis correr, cadê?).
brejo.
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CADEIA (s.) - parte do carro-de-bois
(V.). CAFETÃO (s.) - homem que se encar-
rega de arranjar homens para mulher que
CADEIRAS (s.) - V. escadeiras. o sustenta; cáften; rufião.
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CAGÃO (adj.) - 1. medroso. 2. sortudo.
CAGADA (s.) - 1. mancada (Aquele ne-
gócio mal feito foi a maior cagada que VEJA TAMBÉM:
ele fez). 2. golpe de pura sorte (Ele fez Bruto cagão.
aquele gol na maior cagada).
CAGAR (v.) - 1. defecar. 2. fazer um
CAGADO DE ARARA (exp.) - aza- serviço mal-feito (Mandei fazer a pin-
rado; caipora; cagado de urubu. tura na casa, mas o safado do pintor
cagou nas paredes).
CAGADO DE URUBU (exp.) - V. ca-
gado de arara. CAGAR NA RETRANCA (exp.) - aco-
vardar-se; peidar na retranca.
CAGADO E CUSPIDO (exp.) - V.
cuspido e escarrado. CAGAR NO CACHORRO DAS ES-
PORAS (exp.) - fracassar em um em-
CAGADOR (s.) - local no mato onde as preendimento; malograr um plano (Ele
pessoas usualmente defecam (O cagador pensou que a loja ia dar certo, mas ca-
ficava lá no fundo do goiabal). gou no cachorro das esporas).
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CAIR DE QUATRO (exp.) - ser surpe-
CAIEIRA (s.) - 1. caleira; local onde se endido (Caí de quatro com aquela notí-
queima a pedra calcária para fabricar a cia doacidente).
cal. 2. forno de olaria para queimar tijo-
los e telhas. CAIR DO CAVALO (exp.) - enganar-
se; ter uma grande e desagradável sur-
CÃIMBRA (s.) - cãibra. Quem sofre de presa; cair na esparrela (Se ele pensa
cãibra em qualquer parte do corpo al- que vai ganhar essa concorrência, vai
cança a cura usando uma cortiça amar- cair do cavalo).
rada ao pescoço ou solta no bolso.
CAIR DO CÉU (exp.) - chegar em boa
CÃIMBRA-DE-SANGUE (s.) - diar- hora (Aquele empreguinho caiu do céu,
réia sangüínea. pois ele já estava quase passando
fome).
CAINANA (s.) - V. caninana.
CAIR EM CIMA (exp.) - 1. não dar
CAIPIRINHA (s.) - bebida feita de ca- sossego; explorar (Só foi descobrir que
chaça com rodelas de limão socadas com o Ciano ganhou na loteria, a família
açúcar. caiu em cima dele); 2. criticar (Depois
que o deputado apresentou o projeto
CAIR COM OS COBRES (exp.) - pa- para aumentar seus próprios subsídios,
gar a despesa (Na hora da conta, eu é a imprensa caiu em cima dele).
que tive que cair com os cobres).
CAIR EM PÉ (exp.) - conservar a di-
CAIR DAS CARNES (exp.) - decepci- gnidade, apesar de derrotado (Perco o
onar-se; render-se (Ao saber que a filha emprego, mas caio em pé).
de seus dengos estava grávida, o velho
caiu das carnes). CAIR FORA (exp.) - ir-se embora; fu-
gir de uma situação (Quando viu a coisa
CAIR DAS NUVENS (exp.) - ser sur- preta, o moleque caiu fora).
preendido negativamente (O empregado
caiu das nuvens quando foi preterido CAIR NA BESTEIRA (exp.) - cometer
na promoção). tolice (Caí na besteira de confiar em
você e acabei me dando mal).
CAIR DE COSTAS (exp.) - ficar ex-
tremamente surpreendido com alguma CAIR NA BOCA DO MUNDO (exp.)
notícia ou algum fato (Quase caí de cos- - ser objeto de maledicências, de co-
tas quando soube o preço daquele re- mentários ou fuxicos; cair na boca do
médio). povo (Com aquele namoro com homem
casado, Mariinha caiu na boca do
CAIR DE CU TRANCADO (exp.) -
mundo)
cair desmaiado; cair desfalecido, sem
forças (O boi maludo deu-lhe um coice
CAIR NA BOCA DO POVO (exp.) -
no peito, que ele caiu de cu trancado).
V. cair na boca do mundo.
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CAIR NA CAPOEIRA (exp.) - fugir;
escafeder-se; cair na maravalha; cair CAITETU (s.) - V. caititu.
fora (Na hora em que a polícia chegou,
os malandros caíram na capoeira). CAITITU (s.) – 1. espécie de porco-do-
mato acinzentado que destrói plantações,
CAIR NA ESPARRELA (exp.) - V. principalmente de mandioca, batata e ou-
cair do cavalo. tros tubérculos; caitetu; cateto; porco-
do-mato. 2. Peça principal do aparelho
CAIR NA FOLHA (exp.) - V. cair na de ralar mandioca, consistente de um
maravalha; cair no mato. cilindro de madeira, ao longo do qual se
adaptam serrilhas metálicas longitudi-
CAIR NA GANDAIA (exp.) - entrar na nais, chamadas taricas, com uma das
farra; entrar na folia pra valer (Essa ra- extremidades conformada em roldana de
paziada de hoje só pensa em cair na gorne, para a passagem da correia de
gandaia). couro, geralmente de mambira, de maior
resistência, que imprime a rotação.
CAIR NA MARAVALHA (exp.) - V.
cair na capoeira; cair no mato. CAIXA (s.) - espécie de tambor rústico
utilizado nas folias (De longe se escu-
CAIR NAS GRAÇAS (exp.) - ser sim- tava o batuque da caixa, denunciando a
pático a alguém (O jogador, que há me- aproximação da folia).
ses estava na reserva, de repente caiu
nas graças do técnico e foi escalado). CAIXA ALTA (adj.) - rico; com boa
situação financeira (O Pedro pode com-
CAIR NAS UNHAS (exp.) - ser impie- prar a casa, pois ele é caixa alta).
dosamente explorado (Com os constan-
tes atrasos de salário, a gente acaba é CAIXA-DE-MARIMBONDOS (s.) -
caindo nas unhas de agiotas). situação em que não se deve mexer, sob
pena de causar complicações (Se você
CAIR NA VIDA (exp.) - prostituir-se; tocar nesse assunto com sua mulher,
perder-se (Por incompreensão dos pais, vai mexer com caixa de marimbondos).
que não aceitaram aquela gravidez, a
pobre da menina caiu na vida para so- CAIXA-DOS-PEITOS (s.) - tórax;
breviver). parte o tronco que compreende as coste-
las (A caixa-dos-peitos de Antonhão era
CAIR NO GOTO (exp.) - engasgar ver um pinhém, de tantoa beber ca-
com alimento que cai na laringe chaça).
(Quando o gole de cerveja caiu no goto,
quase morri sufocado). CAIXÃO-DE-DEFUNTO (s.) - ataúde;
esquife; urna funerária (Todo mundo
CAIR NO MATO (exp.) - V. cair na geralmente tem medo de caixão-de-de-
maravalha. funto).
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chapadas, de tamanho pequeno, nas co-
CAIXA-PREGO (adv.) - V. cafundó- res vermelha e amarela, muito ácido,
do-judas; inferno da pedra. especial para doces e compotas.
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De calças na mão.
CALIBRADO (adj.) - bêbado; chilado.
CALÇAR A CARA (exp.) - perder a
vergonha para falar com alguém (Apesar CALOMBO (s.) - bidongo; hematoma;
da desfeita que ele cometeu, calçou a galo que se forma após uma pancada (A
cara e foi conversar com a namorada). pancada no moirão levantou um ca-
lombo na testa dele).
CALCAR O FERRO (exp.) - V. che-
gar o ferro CALOMELANO (s.) - espécie de pur-
. gante, à base de cloreto de mercúrio, de
CALCINAR (v.) - espremer limão na largo uso no interior, onde inexiste as-
garapa, a fim de quebrar o sabor extre- sistência médica regular, muito utilizado
mamente doce. na medicina caseira para picadas de co-
bra, epilepsia e estupor; caramelano.
CALCO (s.) - cálculo (Com aquele
prejuízo, ele ficou sem calco na vida). CALOR (s.) - cio; apetite sexual.
CALCULAR (v.) - imaginar; supor CALUMBÁ (S.) - tacho para ferver ga-
(Ninguém pode calcular como é bom rapa.
viajar de avião).
CALUNDU (s.) - 1. choro; lamentação;
CALDO (s.) - qualquer comida essenci- lamúria (O menino, por não ter ido com
almente líquida. o pai, apron.tou um calundu dos dia-
bos). 2. mau humor (Não brinque com
CALDO DE CANA (s.) - V. garapa. seu tio hoje, porque ele amanheceu de
calundu).
CALDO-DE-FEIJÃO (s.) - espécie de
rolinha que anda em bandos, de colora-
CALUNDUZEIRO (adj.) - V. de-
ção marrom, do mesmo tamanho da
mente.
fogo-apagou; pruvu; rolinha.
CALUNGA (s.) - 1. boneca de pano
VEJA TAMBÉM: feita em casa. 2. planta amarga que
Engrossar o caldo cresce no campo e que serve para diver-
Entornar o caldo. sas doenças, como anemias, inapetência,
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dor de cabeça, males do estômago e do lataria depois que andou naquela es-
fígado, impaludismo e varizes. 3. negro trada cheia de camaleão).
que vive em aldeamentos exclusivos de
sua raça, com costumes e dialetos pró- CAMARADA - 1. (s.) indivíduo; sujeito
prios. (O camarada foi chegando e atirando a
esmo). 2. (adj.) amigo (No caso da de-
CAMA (s.) - 1. V. espojador. 2. loca legacia, aquele agente foi muito cama-
onde os peixes se escondem, e os coe- rada em não fazer a ocorrência). 3. (s.)
lhos, preás e outros animais dormem; empregado de fazenda (Vieram o rapaz
loca.(O melhor lugar para se caçar co- e um camarada do coronel Teófilo).
elho é na cama)
CAMARADAGEM (s.) - favoreci-
CAMA-DE-GATO (s.) - ato de uma mento, companheirismo (Ele só permi-
pessoa agachar-se atrás de outra, que cai tiu que o aluno fizesse a prova por pura
de costas ao ser empurrada (Por causa camaradagem).
daquela cama-de-gato, o jogador foi
expulso). CAMBADA (s.) - turma; corja (Não
estou aqui pra dar de comer essa cam-
CAMA-DE-VARAS (s.) - espécie de bada de vagabundos).
jirau provido de quatro forquilhas unidas
por quatro sarrafos sobre os quais se es- CAMBAIO (s.) - V. cambota (2).
tendem varas paralelas para se dormir;
catre; zidora. CAMBÃO (s.) - 1. espécie de castigo
que se põe em animal roceiro, constante
CAMA FAIXA AZUL (s.) - V. cama de um pedaço de madeira roliça depen-
patente. durado ao pescoço, para impedi-lo de
saltar cercas; castigo (O cambão da-
CAMA PATENTE (s.) - espécie de quele boi é porque ele é muito roceiro).
cama de madeira roliça e estrado de 2. grupo de pessoas que acompanham
arame trançado; cama faixa azul. alguém (Esse povinho do mato só sabe
vir pra rua com um cambão atrás:
VEJA TAMBÉM: mulher, menino e até papagaio). 3.
Cerca-de-cama. parte do carro-de-bois (V.).
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servem para movimentar as linhas com CAMBURÃO (s.) - recipiente, de zinco
que as rendeiras fabricam rendas e bi- ou alumínio, para conduzir leite; boião
cos. 3. libélula; lava-bunda. 4. perna (1).
fina.
CAMINHADEIRA (s.) - V. caganeira.
CAMBITOS (s.) - pernas finas.
CAMINHADO (s.) - jeito de andar (Vi-
CAMBONO (s.) - ajudante de pai ou nham duas pessoas lá longe, e pelo ca-
mãe-de-santo. minhado vi logo que eram Julinho e
Nenéu).
CAMBOTA (s.) - 1. parte do carro-de-
bois (V.). 2. diz-se da pessoa de pernas CAMINHÃOZEIRO (s.) - condutor de
tortas, arqueadas; cambaio (De tanto caminhão; caminhoneiro.
andar a cavalo desde pequeno, ele ficou
cambota). CAMINHO (s.) - destino (Não é esse o
caminho que escolhi pra você).
CAMBOTAS (s.) - brinquedo infantil;
pernas-de-pau; andas. CAMINHO DA ROÇA (exp.) - lugar
por onde se passa sempre (A casa do
VEJA TAMBÉM: compadre era caminho da roça pra ele).
Bater as cambotas.
Virar cambota. CAMINHO-DE-RATO (s.) - corte mal
feito e irregular dos cabelos, com visí-
CAMBOTEIRO (s.) - crisálida do mos- veis altos e baixos, deixando, em alguns
quito ou do pernilongo, com o formato pontos, ver o couro cabeludo quase ras-
de uma tacha de ferrar sapatos; seu nome pado (Pensei que ele fosse um bom bar-
deriva do fato de, vivendo na água, vir à beiro, mas deixou minha cabeça cheia
tona em busca de ar e, ao respirar, dá de caminho-de-rato).
uma cambalhota e retorna.
VEJA TAMBÉM:
CAMBRAIA (s.) - espécie de beiju fino Arrepiar caminho
de tapioca bem torrado. Cortar caminho.
CAMBUÍ (s.) - pescaria que consiste em CAMISA (s.) - roupa feminina, espécie
lançar na água um pequeno anzol preso de camisola, que se vestia sob o vestido,
numa bóia. hoje em desuso; combinação.
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se meteu em uma camisa de onze va- do braço). 4. cana-de-açúcar. 5. cadeia
ras). (gíria de malandro).
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godão embebido em óleo ou querosene;
bibiano; fifó; candeia. CANGAL (s.) - lugar onde existe muita
quantidade aglomerada de pedra-canga.
CANDIRU (s.) - pequeno peixe, de que
há duas espécies, sendo a mais comum a CANGALHA (s.) - peça triangular, es-
de cor branco-azulada e corpo gosmento pécie de sela de madeira, no formato
e pegajoso, que se alimenta geralmente triangular, em cujos vértices se alceiam
de restos de iscas que encontra nos an- as bruacas.
zóis; segundo consta, o candiru, atraído
pelo calor do corpo, e sendo um peixe VEJA TAMBÉM:
muito pequeno, penetra nas vias uriná- Bater na cangalha pro burro entender.
rias e anais das pessoas que tomam ba-
nho nos lugares onde é abundante, po- CANGALHAS (s.) - óculos de grau,
dendo causar até a morte. pois os de sol são chamados de loneta
(Herculaninho ajeitou as cangalhas no
CANECO (s.) - copo; por extensão, cocuruto do nariz e leu a receita).
significa também taça disputada no es-
porte; taça. CANGANCHA (s.) - V. rapariga.
CANELA (s.) - tíbia; osso da perna. CANGAPÉ (s.) - o mesmo que canga-
pé.
CANELA-D’EMA (s.) - planta dos cer-
rados, principalmente no Centro-Oeste, CANGA-PÉ (s.) - V. calço (2).
de flor roxa, cujo caule é seco e formado
de camadas finas semelhantes a escamas CANGEBRINA (s.) - cachaça.
e altamente inflamáveis, sendo por isto
usado para acender fogo e fazer tochas; CANGORÇA (s.) – mulher muito feia.
também serve para fazer brocha para
caiação. CANGOTE (s.) - nuca; deturpação de
cogote.
CANELA-ROXA (s.) – outro nome do
veado catingueiro. VEJA TAMBÉM:
De cangote baixo.
VEJA TAMBÉM:
Afinar as canelas CANGUÇU (s.) - onça pintada, a maior
Ensebar as canelas das onças brasileiras; gata; pintada.
Espichar as canelas
Puxar pelas canelas. CANGUINHAGEM (s.) - pão-durismo;
ridicagem.
CANELINHA (s.) - parte do tear (V.).
CANGUINHO (s.) - avarento; pão-
CANGA (s.) - parte do carro-de-bois duro; ridico (Geralmente, toda pessoa
(V.). 2. V. pedra-canga (2). má é canguinha).
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CANICHO (s.) - corredor que conduz sou a povoar o Araguaia depois da for-
as reses, nos matadouros, do curral ao mação do lago do Tucuruí; peixe de ca-
lugar onde são abatidas (Dava pena ver choeira, onívoro, arredondado, e é uma
aquele boi-de-carro no canicho da das 34 espécies de pacus existentes em
charqueada). nossas águas.
CAPEMBA (s.) – capa resistente que CARTAZ (s.) – prestígio (Ele é o se-
cobre o cacho de quase todas as palmei- cretário que tem mais cartaz com o go-
ras; a única exceção talvez seja o buriti- vernador).
zeiro..
CASQUINHA (s.) o mesmo que morri-
CAPURREIRO (s.) caipira; caipau; nha (1).
matuto; sertanejo.
CASQUINHAGEM (s.) - mesquinhez.
CARA (s.) – aparência (Desisti de co-
mer, quando vi a cara da comida da CASTIÇAL (s.) – suporte de bocal
pensão – A fazenda, apesar de mal cui- único ou múltiplo, onde se acendem ve-
dada, estava com uma cara muito boa). las, facilitando seu transporte e o apoio
em mesas ou outros móveis. Quando
CARANHA (s.) – peixe típico do To- altos e múltiplos, recebem o nome de
cantins e seus afluentes; tem a cor preta candelabros.
ou marrom escura, com reflexos azula-
dos; é encontrado também, em menor CATRUMANO (s.) – tropeiro, mascate,
proporção, em alguns afluentes do Ama- caipira, tapiocano.
zonas, com o nome de pirapitinga; pas-
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CAXERENGUE (s.) – faca velha pe- CENTENÁRIO (s.) - moeda; níquel;
quena e gasta. nica.
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que, por serem caros, ficam muito
CERTIDÃO (s.) - vestígio; marca; sinal tempo infusados na prateleira).
(A montanha de galhos retorcidos era a
certidão do vendaval). Quando se refere CHACOALHAR (v.) - 1. sacudir; agi-
à certidão de registro, o sertanejo usa o tar (Ele pegou o cofrinho e chacoalhou
masculino (Tive que levar meu certidão para ver se ainda havia moedas). 2.
para tirar a identidade). importunar; esculhambar (Veja de ar-
ruma um serviço e pare de ficar chaco-
CERTO QUE SÓ BOCA DE BODE alhando).
(exp.) - exato (O negócio ficou certo
como boca de bode). CHÁ-DA-MEIA-NOITE (s.) - veneno.
CERVEJA DE ELEITOR (s.) - cerveja CHÃ D’ANCA (s.) - carne da parte inte-
despejada do alto para, fazendo bastante rior da coxa do boi; chã-de-dentro.
espuma, render mais.
CHÁ-DE-BERÇO (s.) - reunião festiva
CÉU (s.) - na brincadeira de pula-ma- que se promove para arrecadar produtos
caco (amarelinha), é o semicírculo que para recém-nascido.
fica na extremidade das casas onde a
criança pula com um pé só. CHÁ-DE-CADEIRA (s.) - espera de-
morada para ser recebido por alguma
CÉU-DA-BOCA (s.) - a abóbada pala- autoridade (Foi muita descortesia ele
tina. me dar um chá-de-cadeira daqueles).
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CHAMEGÃO (s.) - assinatura; firma;
CHAGAS (s.) - doença de Chagas jamegão.
(Quando ele descobriu que estava com
chagas, quase morreu). CHAMPRÃO (s.) - pranchão; prancha
grande de madeira.
CHAGÁSICO (s.) - pessoa que sofre da
doença de Chagas. CHANHA (s.) - afeição; início de pre-
tensão a um namoro.
CHALEIRADOR (adj.) - puxa-saco;
adulador. CHAPA (s.) - 1. radiografia do pulmão.
2. dentadura (prótese). 3. placa de ferro
CHALEIRAR (v.) - adular. provida de aberturas oculares para se as-
sentar as panelas no fogão caipira. 4.
CHAMA (s.) – 1. qualquer artifício que (adj.) - amigo (Pode procurar o Diniz,
se usa para chamar a atenção de animais que ele é muito chapa).
silvestres, aves ou peixes, com a finali-
dade de capturá-los, caçá-los ou fazer CHAPADA (s.) - superfície plana com
documentação fotográfica (o macaco ou vegetação de campo e cerrado.
guandu sapecados são excelente chama
para onças e gatos do mato); 2. quirera, CHAPÉU (s.) - preocupação (Além da
jogada no pesqueiro, que atrai grande dívida, você ainda me vem com esse
quantidade de peixes; 3. ave que se co- chapéu).
loca em um compartimento do alçapão
como chamariz para se capturar outra (o CHAPÉU-ATOLADO (s.) - caipira;
curió, em gaiola com alçapão, atrai outro matuto; tabaréu.
curió ou bicudo; marrecos, domesticados
ou de plástico, colocados numa lagoa, CHAPÉU-DE-ATALHAR-ÉGUA (s.)
chama a atenção dos marrecos silves- - chapéu de abas muito largas.
tres).
CHAPÉU-DE-COBRA (s.) - espécie de
CHAMADA (s.) - V. talagada. cogumelo parasita, com formato de ore-
lha, que cresce em troncos podres.
CHAMAR NOS PEITOS (exp.) - de-
florar. CHAPÉU-DE-MANGUEIRA (s.) -
chapéu de feltro de aba larga.
CHAMBARI (s.) - osso da perna do
boi, com o qual se prepara uma comida CHAPÉU DE MASSA (s.) - chapéu de
com o mesmo nome; chambaril. feltro.
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CHAPOLETADA (s.) - V. catiripapo. CHATO DE GALOCHA (s.) - pessoa
inconveniente em demasia (Veja se dá
CHAPULETADA (s.) - V. chapole- um jeito de livrar-se desse sujeito, pois é
tada. um chato de galocha).
100
vou mais aceitar comida, pois já estou De cheirar e guardar
cheio). Não cheirar nem feder.
101
CHICÃO (s.) - macaco manual utilizado CHINCOÃ (s.) - V. alma-de-gato.
para levantar caminhões.
CHINFRIM (adj.) - sem importância;
CHICO (s.) - 1. vagina. 2. menstruação. insignificante; sem valor (Ele achou a
notícia tão chinfrim que nem teve o
CHICOLATEIRA (s.) - chocolateira. adágio de lê-la).
CHIFRE - 1. (s.) - corno de animal. 2. CHIOLA (s.) - 1. surra (Se você fizer
traição de namorados ou de pessoas ca- isto de novo, vai entrar na chiola). 2.
sadas. chicote; chiquinho-do-torno; pinhola.
102
(O dinheiro só deu para dois metros de depois de aberto, se deixar muito tempo,
chita). fica choco).
103
CHOTÃO - 1. (s.) espécie de escaldado
feito com água bem temperada, com CHULÉ (s.) - mau cheiro dos pés.
cheiro verde e, ao abrir fervura, é en-
grossado com caroços de farinha de CHULEADEIRA (s.) - tachinha de sa-
mandioca para escaldar, após o que é pateiro.
coado para que seja ingerido o caldo; é
muito utilizado para convalescentes. 2. CHULEAR (v.) - 1. aplicar o sapateiro
(adj.) animal que chota, que trota; a chuleadeira. 2. costurar provisoria-
choutão. mente à mão, antes de passar a costura à
máquina. 3. costurar a barra da roupa
CHOTAR (v.) - V. trotar. para não deixar desfiar o tecido.
104
CHUPAR O DEDO (exp.) - ser ludi- CHUVA DE MANGA (s.) - chuva li-
briado (O amigo fugiu com a mulher, e geira; manga de chuva.
ele ficou chupando o dedo).
CHUVINHA (s.) - espécie de fogo de
CHUPÉ (s.) - V. xupé. artifício, constante de um pequeno tubo
de papelão pouco mais grosso que um
CHUPITAR (v.) - dar tragadas no ci- lápis, que, aceso o estopim da extremi-
garro de palha. dade oposta à que é segura, provoca uma
chuva de faíscas multicoloridas.
CHURANHA (s.) - V. xuranha.
CIDADE DOS PÉS JUNTOS (s.) -
CHURÉ (s.) - uma das espécies de paca. cemitério..
CHURRASCO (s.) - carne frita mis- CIDRA (s.) - espécie de laranja gigante,
turada com farinha; espécie de farofa com peso superior a um quilo, de cujas
com bastante carne (difere do churrasco cascas se faz excelente doce de casca.
tradicional, que é a carne assada na brasa
ou na grelha); frito de carne (Ele comeu CIFRA (num.) - zero (Os números in-
mais de dois pratos de churrasco com teiros são dez: um, dois, três, quatro,
café, tanta era a fome). cinco, seis, sete, oito, nove e cifra).
CHUSMA (s.) - corja; bando de malan- CIGANAGEM (s.) - trapaça; negócio
dros; súcia. de cigano (Esses meninos de Nabor são
muito chegados a ciganagem; por isso,
CHUTAR (v.) - 1. mandar embora; des- muito cuidado com negócios deles).
fazer-se (Depois que ela comprou todo o
enxoval, o senvergonha chutou-a sem a CIGARRO BRABO (s.) - cigarro de
menor consideração). 2. arriscar um fumo-de-corda; pau-ronca; palheiro;.
palpite (No vestibular ela chutou as
respostas e quase passou). CIGARRO LAVADO (s.) - cigarro
industrializado, que é vendido em maços
CHUVA DE CAJU (s.) - chuva que cai cigarro manso (Cigarro lavado é gos-
nos meses de setembro e outubro, que toso, mas tem muito ingrediente peri-
amadurece o caju. goso).
CHUVA CRIADEIRA (s.) - chuva CIGARRO MANSO (s.) - V. cigarro
mansa e contínua (Felizmente, a lavoura lavado.
foi muito beneficiada por aquela chuva
criadeira que caiu durante todas as CILHA (s.) - tira de couro ou tecido
águas). forte com que se aperta a sela ou a can-
galha, passando pela barriga do animal.
CHUVA DE AFOGAR SAPO (S.) -
chuva muito forte. CINCO-CONTRA-UM (s.) - masturba-
ção; punheta.
CHUVA DE PEDRA (s.) - chuva de
granizo.
105
CINCO-POR-UM (s.) - espécie de par-
ceria que é feita para remunerar o va- CISCO NO OLHO (s.) - V. argueiro.
queiro, onde se sorteia um bezerro em
cada grupo de cinco paridos. V. sorte. VEJA TAMBÉM:
Onde o vento encosta o cisco.
CINCO SALOMÃO (s.) - signo de
Salomão; estrela de Davi; estrela de seis CISMA (s.) - desconfiança (Depois que
pontas que representa Israel e que é utili- vi o gato enjeitar carne de onça, fiquei
zada em fórmulas mágicas. com cisma dela).
106
COBRA-DE-ASA (s.) - inseto seme- Tu és mesmo um rola-bosta,
lhante a uma borboleta, com asas acin- Besouro besta daqui”.
zentadas, com aspecto de uma cigarra,
muito temido pelo povo como venenosa, COBRA-GRANDE (s.) - V. boiúna.
embora seja inofensiva. Na tradição po-
pular, é a lendária jitiranabóia ou tira- COBRES (s.) - dinheiro.
nabóia, sobre a qual existe a quadrinha:
VEJA TAMBÉM:
“Eu sou a tiranabóia Cair com os cobres
Besouro do Piauí, Passar os cobres
Quando bato o meu ferrão, Passar nos cobres
Vejo a matéria cair. Torrar nos cobres.
Que nada, compadre!
Tu és a tiranabóia, COBREIRO (s.) - V. cobrelo.
Besouro do Piauí,
quanto é literatura médica, revi o livrão
COBRELO (s.) - herpes-zoster, der- Chernoviz que herdei do meu avô, con-
matose que tem esse nome por acreditar feri sintomas e chequei tratamentos,
o povo que é proveniente do contato da conversei com médicos de três gerações,
roupa sobre a qual passasse uma cobra; fiquei em condições de dar lição de
erupção que se alastra pela pele e que é mestre a ignorantes como eu, sobre
atribuída ao fato de ter passado pelo essa enfermidade que sempre ataca a
corpo ou por sobre a roupa, quando es- gente na quadra das invernias. Tenho
tendida no quarador ou em outro lugar, ainda minhas dúvidas – não encontrei
uma cobra ou qualquer animal peço- literatura nem especialista que me es-
nhento; irritação cutânea atribuída à pas- clarecesse – se essa peste maldita é ou
sagem de aranha, lagarta ou qualquer não contagiosa. Se o desgraçado do
animal urente ou peçonhento sobre a vírus é primo-irmão da varicela, que é
pele. Segundo a crendice popular, se o transmissível até à Quarta geração,
cobrelo se fechar, isto é, se uma ponta da assim como quase tudo que é virose
erupção atingir a outra, a pessoa morre; (haja vista a gripe), então não é bom
para evitar que tal fato ocorra, aconse- facilitar: herpes zoster pode ser conta-
lha-se que se escreva, com um palito giosa. Se o cobreiro brabo não é um
molhado em tinta, a Ave-Maria às aves- mal que pega, de onde é que ele sai,
sas ao redor da erupção. CARMO como aquela vez que deu no povo, virou
BERNARDES, como profundo conhe- epidemia em Goiânia? Fiquei sabendo
cedor da medicina popular descreve-o que mais de cinco companheiros – deles
como “uma dor cocenta lastrada no fio há uns que são médicos – que padece-
do lombo, vindo até às alturas da boca ram com esse mal, deram corcoveios.
do estômago, nas confrontâncias do Retorceram e ganiram quando, d es-
umbigo, seguindo o último fio da cos- paço a espaço, a ferruma enfiava no pé
tela mindinha”, causando uma sensação do lombo deles e nas ilhargas. Em al-
de queimor o tempo todo, com verruma- guns arrebentou em feridas. É como eu
das que quase fazem o doente pular, com digo: tenho minhas dúvidas. A Natu-
os músculos repuxando, prosseguindo: reza tem uns mistérios que ninguém
“Estudei essa moléstia infeliz em tudo pode entender. A Medicina deu esse
107
nome de herpes zoster a essa moléstia vidade: se a faixa encontrar, circulando
infernal, porque é assim o negócio: o corpo, mata. O caboclo pode mandar
“herpes” significa “estragos na epi- encomendar a alma, que não tem
derme”, “podridão”, “desgraceira”; apelo: a sola dos pés branqueiam
mais “zoster”, que quer dizer “cinta”, mesmo. Não vê o tronco da árvore, que
“faixa no sentido de listra”. Indica que se descascar em roda ele morre?
o mal só produz avaria dentro de uma Mesma coisa é com a gente: se lepreira
faixa e não extravasa dela. É o mistério do cobreiro nos roletar a cintura, é
que eu digo. Se o cobreiro brabo é uma óbito com certeza. Esse mal tinha cura,
virose, então era para que vedagem ou melhor, era atenuado, com os com-
nenhuma, cerca nenhuma fosse capaz pressos à base de arsênico (...) Vieram
de confiná-lo dentro dos limites estrei- as multinacionais dos produtos farma-
tos – como é o caso – da faixa do seg- cêuticos, alienaram as escolas de medi-
mento nervoso ao longo do último fio cina de seus interesses, com sua ciência
da costela mindinha. Que claustrofilia e suas pesquisas, e descobriram que os
é essa? Que disciplina é essa? Se esses compostos arseniosos encerravam peri-
gnomos encapetados são da mesma gos medonhos, assim como vêm conde-
linha de parentesco dos da gripe, da nando, nos nossos laboratórios, todos
varicela, então é insólita demais essa os medicamentos que curam (...) A res-
característica sua de não nos atacar o peito dos compostos contendo arsênico,
corpo todo, como esses outros males de os pesquisadores dos trustes chegaram
sua mesma linhagem. Cobreiro brabo, à conclusão de que esse alcalóide esti-
segundo a prática dos matutos, é cha- mula a multiplicação das células. De
mado de “brabo”, porque a dor cami- forma que não há depurativos que
nha no músculo, fazendo cócegas, prestem nas farmácias, porque depurar
como sendo a peçonha dos ofídios, o o sangue significa multiplicar as célu-
que faz também com que se creia ser las, dar vida ao organismo, e orga-
uma infecção de baba de cobra. Curi- nismo forte e vigoroso é menos sujeito a
oso é que o padecente [pode acalcar a pegar doenças”. Assim, a
região afetada, fazer massagens, con- sua cura é atribuída a agentes místicos,
tanto que a erupção não tenha ainda dentre os quais: pega-se uma faca nova
produzido erosões mais profundas na de boa qualidade e de cabo preto, vai-se
pele. Mas apalpar sobreleve não pode. passando em cruz sobre a parte afetada,
Mesmo o roçar suave da camisa desen- enquanto se pronuncia o seguinte:
cadeia choques crudelíssimos, leva o
caboclo à compulsão de berros e con- “Eu te corto,
torções burlescas, como se estivesse Coxo, coxão,
sendo calcado a ferrão de agulhada. Sapo, sapão,
Medicamentos a fazer as multinacio- Cobra, cobrão,
nais têm a danar; agora, o remédio que Lagarto, lagartão,
cura é nenhum. O herposo tem que E todo bicho de sua nação,
berrar, contorcer-se nas ferroadas do- Pra que não cresças
lorosas, corcovear e ringir os dentes; E nem apareças
só sara quando vencerem todos os ci- Nem dobre o rabo
clos da evolução da moléstia, da mesma Com a cabeça.
forma que é a da gripe. Tem uma gra- Santa Iria
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três filhas tinha, COCA (s.) - 1. cócoras (Ficavam de
Uma se assava, coca à beira do fogo contando causos).
Outra se cozia 2. o refrigerante coca-cola (Bebi uma
E outra pela água ia. coca e saí logo).
Perguntou a Nossa Senhora
Que lhe fazia: VEJA TAMBÉM:
Que lhe cuspisse e assoprasse De coca..
Que sararia”.
COCÁ (s.) - V. galinha-d’angola; ca-
(Cospe-se assopra-se sobre o cobreiro). pote.
Outra simpatia, que, aliás, é a mais co- COÇA (s.) - surra; tunda; pisa.
nhecida, consiste no seguinte diálogo:
COCÃO (s.) - parte do carro-de-bois
“BENZEDOR - Pedro, que te tendes? (V.).
ENFERMO - Senhor, cobreiro.
BENZEDOR - Pedro, curai-o! COÇAR O SACO (exp.) - ficar sem
ENFERMO - Senhor, com quê? fazer nada.
BENZEDOR - Água das fontes,
Ervas dos montes”. COCEIRA (s.) - comichão; cafubira.
Existe, ainda, uma terceira reza, que é COCHO (s.) - manjedoura; tronco ca-
feita sobre a parte afetada pelo mal: vado onde se serve comida aos porcos
ou ração ou sal ao gado.
“Estava Santa Sofia
Detrás de uma pedra fria, COCHONILHO (s.) - V. coxonilho.
Chegou Santa Pelonha (Apolônia)
E perguntou: - Sofia, COCO XODÓ (s.) - V. macaúba; xodó
Com que se cura impigem, (2).
Cobreiro brabo, ardor, fogo selvagem,
Queimadura, sarna, comichão e quei- COCÓ (s.) - penteado em que o cabelo
mor? fica enrodilhado no topo da cabeça ou à
Com água da fonte altura da nuca; coque (2).
E ramo do monte,
E assim curou a Sagrada COCÔ (s.) - fezes de crianças; bosta.
Virgem Maria. Amém”.
COCRE (s.) - pancada que se dá na ca-
(Após a reza, dizer um padre-nosso e beça de alguém com o nó dos dedos;
uma ave-maria, oferecidos a Santa Sofia, coque (1).
ao mesmo tempo em que se fazem três
cruzes sobre a parte atingida, utilizando COCURUTO (s.) - saliência; proemi-
uma ramo embebido de água). nência; montículo; murundu.
COBRIR (v.) - cruzar; enxertar (refere- CODÓ (s.) - vagabundo; pessoa que não
se ao ato do touro com a vaca no sentido trabalha (abreviação de come-e-dorme);
de emprenhá-la). come-e-dorme; vagal..
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CODORO (s.) - leite recém-ordenhado arrumar, antes que os hóspedes che-
e tomado cru no curral. gassem).
COFO (s.) - espécie de sacola rústica COISO (s.) - coisa ou pessoa indefiní-
arredondada feita de palha de buriti, uti- vel; comequechama (Esse coiso só me
lizada para transportar ovos e frutas; xi- dá trabalho).
conã.
COITÉ (s.) - 1. vasilha rústica que con-
COICE (s.) - 1. parte da boiada que vai siste na metade do coco-da-bahia ou de
na retaguarda, em oposição a cabeceira.; uma cabaça pequena (pois a metade da
culatra (2). 2. lugar junto ao cabeçalho cabaça grande denomina-se cuia); cuité.
do carro-de-bois, onde fica a junta-do- 2. fruto do coitezeiro ou cuieira; árvore
coice. 3. patada de animal. que dá uma cabaça redonda de paredes
finas e resistentes; o coité, se cortado ao
COICEIRO (adj.) - animal que tem a meio, passa a ser cuia, mas continua a se
mania de dar coice (1). chamar coité; se tirarmos um tampo no
pólo superior (de onde sai o talo), passa
COIÓ (adj.) - bobo; tolo; arigó. a ser uma cumbuca, mas não perde o
nome de coité; a cabaça de rama, seja
VEJA TAMBÉM: globosa ou de pescoço, se cortada ao
Espanta-coió. meio no sentido longitudinal, trans-
forma-se em cuia, e se cortada na base
COISADO (adj.) - feito. do gogó será cumbuca; o coco-da-bahia,
descascado, se cortado ao meio e for
COISA-DO-OUTRO-MUNDO (s.) - retirada a polpa, recebe o nome de
assombroso; nunca visto; extraordinário quenga.
(Quando a televisão chegou no sertão,
o povo achava que era coisa-do-outro- COITEZEIRO (s.) - árvore que produz
mundo). o coité; cuitezeiro.
COISAR (V. e V.) - verbo inventado COIVARAR (v.) - fazer coivara; en-
que substitui qualquer que não ocorra a coivarar.
quem fala; comequechamar; negoçar
(Depois que ele coisou a arma, tratou COLARINHO (s.) - a espuma do copo
de ir para a espera). da cerveja ou chope.
110
faz logo uma cancela, pois colchete é COM A CORDA NO PESCOÇO
atraso). 2. pecinha de metal ou de plás- (exp.) - endividado (Vendi a casa ao
tico própria para unir peças de roupa, primeiro que apareceu, porque estou
substituindo o botão; há duas espécies de com a corda no pescoço).
colchete, o de gancho e o de pressão.
COMADRE (s.) - 1. espécie de urinol
COLHER-DE-CHÁ (s.) - oportuni- de forma achatada, usado em hospitais
dade; ajuda (Você errou a pergunta, por doentes que não podem levantar-se.
mas vou dar-lhe uma colher-de-chá). 2. mulher mexeriqueira (Quando soube-
ram do caso com a filha de Genebaldo,
COLDADE (s.) - qualidade; raça. as comadres trataram de espalhar pelas
ruas).
COLHEREIRO (s.) - garça cor-de-rosa
do Araguaia. COMBINAÇÃO (s.) - roupa feminina
que era vestida sob o vestido; camisa.
COLHUDO (s.) - que tem os culhões
grandes; cuiúdo (Vendi aquele pacheco COMBINEMO (s.) - acordo; ajuste;
colhudo, pois estava degenerando a contrato (Ontem mesmo o vaqueiro fez
raça). combinemo com o patrão a respeito da
sorte).
COLMATAGEM (s.) - aumento da
fertilização da terra pelo fato de as águas COMBUCO (s.) - diz-se do chifre cujas
ricas em detritos minerais e orgânicos se aspas se convergem, formando um cír-
dirigirem para as terras baixas, aumen- culo (quando os chifres são muito aber-
tando-lhe a fertilidade. tos, diz-se que é espaço).
COLUMIM (s.) - dente de cavalo que COM MEDO DE PEIDO (exp.) - diz-
nasce após o animal adulto. se da camisa muito curta, cuja fralda fica
pouco abaixo dos quadris (O pobrezinho
COM A BOCA NA BOTIJA (exp.) - só tinha um toucão e uma camisa com
em flagrante. medo de peido).
111
COMÉRCIO (s.) - a cidade, em con-
COMERCIAL (s.) - 1. propaganda em traposição ao campo.
rádio e TV. 2. refeição comum, com
arroz, feijão, carne, macarrão e verduras. COMER DA BANDA PODRE (exp.) -
levar a pior em um negócio ou uma em-
COMEQUECHAMA (s.) V. coiso. preitada (Eu sabia que no final eu ia
comer da banda podre, pois meu sócio é
COMEQUECHAMAR (v.) - V. coisar; vivaldino).
negoçar.
COMER DO BOM E DO MELHOR
COMER (v.) - 1. alimentar-se. 2. ter (exp.) - viver à tripa fora; passar bem de
relação sexual (Dizem que ele anda co- boca.
mendo a pobre da empregada).
COMER FOGO (exp.) - passar dificul-
COMER CALADO (exp.) - sofrer ca- dades; sofrer (Os funcionários agora
lado uma injustiça, sem articular queixa estão comendo fogo com o novo chefe,
ou protesto (Ele só comeu calado aquele pois até relógio de ponto ele instalou).
caso porque em política só quem tem
razão é quem está por cima). COMER GATO POR LEBRE (exp.) -
ser enganado; receber uma coisa por ou-
COMER A CARNE E ROER OS OS- tra.
SOS (exp.) - suportar também o que de
pior vem após desfrutar o melhor (Agora COMER LÉGUAS (exp.) - andar
que estou velha, você quer me largar? muito; viajar muito.
Quem comeu a carne tem que roer os
ossos). COMER MOSCA (exp.) - deixar-se
enganar (Não é que, apesar de esperto,
COMER A MERENDA ANTES DO comi mosca naquele negócio?).
RECREIO (exp.) - engravidar-se antes
do casamento (Fizeram o casamento às COMER NA TÁBUA (exp.) - subme-
pressas porque o rapaz comeu a me- ter-se (Deixe estar, que no dia em que
renda antes do recreio). eu for diretor eles vão comer na tábua).
COMER CAPIM PELA RAIZ (exp.) - COMEROLA (s.) - ato de comer toda
morrer (A estas horas, o bandido já está hora e gulosamente; comezaina (Não
comendo capim pela raiz). agüento mais essa comerola dos meni-
nos, que parece que nem podem esperar
a janta).
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COMO DE FATO (exp.) - realmente;
COMER O PÃO QUE O DIABO efetivamente (Ele prometeu vir pagar a
AMASSOU (exp.) - passar pelo que de conta, como de fato fez).
pior pode acontecer (Naquela tempo-
rada que passei desempregado comi o COMO LÁ DIZ (exp.) - como dizem;
pão que o diabo amassou). como lá diz o outro (É como lá diz: fi-
lho criado, trabalho dobrado).
COMER PELAS PERNAS (exp.) - ex-
plorar; dar prejuízo a alguém (Só ele não COMO LÁ DIZ O OUTRO (exp.) - V.
enxerga que seu capataz, nessas vendas como lá diz.
de gado, está comendo-o pelas pernas).
COM O CAPETA NO COURO (exp.)
COMER POEIRA (exp.) - ser ultra- - endiabrado.
passado por outro carro em estrada de
terra. CÔMODO (s.) - compartimento de uma
casa (Com uma casa de cinco cômodos
COMER SOLTO (exp.) - a torto e a é possível morar com família).
direito (Apesar das recomendações do
festeiro, era só ele virar as costas e a COMO PEDRA DE FUNDA (exp.) -
distribuição de pinga comia solta na sem destino certo (a pedra atirada pela
festa). funda não tem precisão nenhuma, po-
dendo tomar qualquer direção); à bes-
COMETA (s.) - caixeiro-viajante que, tunta (Hoje estou como pedra de funda:
na condição de representante de casas posso voltar pra casa ou continuar ca-
atacadistas, viajava com uma tropa ven- çando emprego).
dendo mercadorias pelo sertão.
COM O PÉ NA COVA (exp.) - à
COMEZAINA (s.) - V. comerola. morte; prestes a morrer.
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COMPETENTE (adj.) - adequado;
próprio (Para trazer o leite do curral, a COMUNISMO (s.) - algazarra; des-
vasilha competente é a cabaça). mando; dismo (Esses estudantes da ci-
dade grande chegam aqui no maior co-
COM POUCO (exp.) - expressão que munismo do mundo).
equivale a 1. de repente (Estávamos fa-
lando de Paulo e com pouco ele che- CONCHO (adj.) - cheio de si; confi-
gou); 2. é possível (O vaqueiro está de- ante; compenetrado; cônscio; ancho.
morando; com pouco, ele nem saiu de
lá da fazenda). CONDAFÉ (exp.) - expressão que
pode significar 1. “é possível” (Condafé
COMPRAR BARULHO (exp.) - pro- ele vem hoje). 2. “quando menos se es-
curar intrigas; comprar briga; buscar perava” (Estávamos todos preocupados
malquerência. com o João; condafé, ele chegou).
114
com o ovo no fiofó da galinha. Antiga- CONSINAR (v.) - marcar; assinalar;
mente, o defunto ia bem trajado, não fal- consignar.
tando nem mesmo sapatos novos, que
acontecia de não servirem e eram atira- CONSOANTE (adv.) - harmoniosa(o);
dos por ali, com o que algum “descui- que está de acordo (A sanfoninha gemia
dista” os pegava para usar, mesmo por- consoante, com a turma dançando a
que todo mundo tinha escrúpulos de noite toda).
calçá-los.
CONSOLO (s.) - 1. chupeta; bico de
CONFORMES (s.) - V. nos conformes. acalentar criança. 2. pênis artificial, ge-
ralmente de borracha.
CONFRONTE (prep.) - em frente (O
veado, após o tiro, correu e caiu con- CONSOLO-DE-CORNO (s.) - rádio a
fronte o pé de cagaita). pilha.
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estava contando nos dedos os dias que
faltavam para o casório). CONTRAVAPOR (s.) - tapa; catiri-
papo.
CONTAR O MILAGRE E NÃO DI-
ZER O SANTO (exp.) - usa-se para se CONVERSA (s.) - mentira (Não vou
referir a determinado episódio omitindo nunca na conversa desse malandro).
o nome da pessoa implicada; maneira de
acusar uma pessoa de forma indireta. CONVERSA ATRAVESSADA (exp.)
- assunto fora de jeito (No meio do as-
CONTAR OS TIROS (exp.) - ter pon- sunto, ele veio com uma conversa atra-
taria infalível, que conta o número de vessada sobre uma dívida minha).
acertos pelo número de tiros disparados.
CONVERSADEIRA (adj.) - loquaz;
CONTAR PAPO (exp.) - V. contar mexeriqueira (Não conte esta história
vantagem; contar prosa; roncar papo. para a velha Felismina, que ela é muito
convrsadeira). 2. (s.) cadeira com dois
CONTAR PROSA (exp.) - V. bater assentos opostos, própria para duas pes-
caixa. soas baterem papo; namoradeira.
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um óleo medicinal; óleo; pau-d’óleo; CORNETAR (v.) - intrometer com pal-
podói. pites.
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nunca gozou saúde, parecendo até que correição era uma praga na roça). Para
tem o corpo aberto). que a correição se desvie, o sertanejo
costuma fazer um traço de carvão cor-
CORPO FECHADO (s.) - imune a tando transversalmente a fileira de for-
qualquer mal, físico ou espiritual (Bala migas.
não pegava no velho Zeca, pois tinha o
corpo fechado). CORREIO DA MALA SECA (adj.) -
fofoqueiro.
VEJA TAMBÉM:
Botar corpo CORRER (v.) - morder (o peixe) a isca
Fazer corpo mole e puxar a linha.
Fechar o corpo
Negar o corpo CORRER ARREADO (exp.) - passar
Tirar o corpo fora. aperto (Ele correu arreado quando foi
chamado para provar na Justiça o que
CORRE-CORRE (s.) - correria; mo- dissera).
vimento de pessoas de um lado para ou-
tro. CORRER AS VISTAS (exp.) - olhar de
relance (Correu as vistas na sala e não
CORRE-COXIA (s.) - apuro; embru- viu a namorada).
lhada (No momento em que o dono da
casa chegou e descobriu a trama, Felis- CORRER COM A SELA (exp.) -
berto ficou num corre-coxia medonho). abandonar o jogo quando está ganhando
(Não gosto de jogar com o Nivaldo por-
CORREDOR (s.) - 1. estrada estreita que ele, no melhor do jogo, costuma
ladeada por cercas de arame paralelas correr com a sela).
que serve para conduzir o gado. 2. parte
das casas antigas que faz a ligação da CORRER COXIA (exp.) - andar à toa;
porta de entrada com a sala ou desta com vagabundear; eguar. A expressão vem
os quartos. 3. osso bovino muito usado da época das navegações e descobri-
para caldos e ensopados. mentos: a ponte de desembarque das
caravelas tinha o nome de coxia, e os
CORREGER (v.) - revistar; vistoriar; embarcadiços que não tinham o que fa-
percorrer à procura (É bom você corre- zer passavam o tempo passeando na co-
ger a capoeira para ver se acha o je- xia.
gue).
CORRER MUNDO (exp.) - viajar
CORREIA (s.) - 1. V. correião. 2. V. muito.
pingola.
CORRER O RISCO (exp.) - arriscar-
CORREIÃO (s.) - cinturão para ho- se.
mem; cinto; currião; correão; corrião.
CORRER OS BANHOS (exp.) - correr
CORREIÇÃO (s.) - espécie de formiga o prazo dos proclamas para o casamento
doméstica que destrói plantações e ali- religioso.
mentos nas despensas (Forante a seca, a
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CORRER OS CRISTOS (exp.) - pedir CORTADEIRA (s.) - espécie de for-
a bênção (No interior é de muito bom miga, semelhante à saúva, que corta os
preceito a gente correr os cristos nos brotos e folhas das árvores.
mais velhos diariamente, pois demons-
tra respeito). CORTADO (s.) - qualquer comida de
caldo feita com pedaços de legumes
CORRETIVO (s.) - castigo; repri- (cortado de mandioca, de abóbora, de
menda. inhame etc.); iguaria de caldo feita com
legume picadinho acompanhado de
CORRIDO (adj.) - fugido (Um homem carne também picada; quibebe; picado.
bem apessoado, culto e que vive isolado
no mato só pode ser corrido da justiça). CORTADO DE ARROZ (s.) - V. ciri-
gado; maria isabel.
CORRIMBOQUE (s.) - isqueiro rús-
tico; V. artifício; cornimboque. CORTADO E PREGADO (adj.) - V.
cuspido e escarrado.
CORRIMENTO (s.) - leucorréia; do-
ença de mulher que consiste em uma CORTAR ÁGUA (exp.) - deixar a água
secreção branca que é expelida pela va- de escorrer em um curso, devido à seca
gina; escorrimento; flores brancas. Para (O Itaboca, que nas águas é caudaloso,
seu tratamento, deve-se tomar chá de costuma cortar no mês de agosto).
raiz de algodão e tomar cinco xícaras por
dia, completando com banhos locais da CORTAR CAMINHO (exp.) - pegar
infusão das folhas do algodoeiro um atalho, encurtando o caminho.
119
COSTELADO (s.) - conjunto das cos-
CORUJAR (v.) - paparicar o filho ou o telas (Comprei logo um costelado in-
neto. teiro para a janta do mutirão).
COSER (v.) - rezar, o curandeiro ou o COURO CRU (s.) - couro não curtido.
rezador, usando palavras próprias, en-
quanto vai costurando um pedaço de COURO-GROSSO (s.) - pessoa resis-
pano ou folha de mamona com linha e tente (Ele não se importa mais com crí-
agulha, sobre a parte doente do paciente. tica, pois é couro-grosso).
COSTAS QUENTES (s.) - quem tem COVA (s.) - 1. sepultura. 2. buraco que
quem garanta seus atos; costas largas se abre no chão para plantar a semente.
(Esse moleque faz essas presepadas
porque pensa que tem costas quentes). VEJA TAMBÉM:
Com o pé na cova.
COSTELA (s.) - parceiro(a) de cama.
COVANCA (s.) - terreno muito aciden-
COSTELA MINDINHA (s.) - a menor tado (Ele viajou quase meio dia pelas
costela da rês; alfinete. covancas do sertão em busca da vaca
fujona).
120
CRESCER COMO RABO DE CA-
COXÉ (s.) - claudicante; coxo; caxingó. VALO (exp.) - decair; diminuir; regre-
dir.
COXEAR (v.) - V. caxingar.
CRESCER NAS VISTAS (exp.) - des-
COXINILHO (s.) - V. coxonilho. pertar cobiça (Quando o juiz o nomeou
tutor os bens do menor cresceram-lhe
COXONILHO (s.) - espécie de manta nas vistas).
macia de algodão para se forrar os ar-
reios; coxinilho. CRESCER NOS CASCOS (exp.) - irri-
tar-se; exasperar (Ao ouvir o desaforo,
COZINHAR O GALO (exp.) - 1. fin- Tertuliano cresceu nos cascos e avan-
gir que trabalha; enrolar; fazer cera. 2. çou no homem).
protelar.
CRESCER PRA CIMA (exp.) - inves-
CRANEAR (s.) - conceber; articular; tir (Ele só não cresce pra cima é de
arquitetar (Ele craneou aquele plano polícia).
tão bem, que deu tudo certo).
CRIA (s.) - filhote de animal que ainda
CRAU! (int.) - interjeição que dá a idéia é amamentado.
de “tomar conta” (Quando viu que os
outros herdeiros eram bestas, o esperti- CRIA DE CASA (s.) - pessoa criada
nho, crau! na herança todinha); de pela família.
posse abrupta (Nenhuma inocente moci-
nha pode ir sozinha para a rua, que os VEJA TAMBÉM:
malandros, crau!). Não ser cria das minhas éguas.
121
CRISIPA (s.) - confusão; dificuldade; ções (Deixaram o pobrezinho o dia inti-
impedimento proposital (Eu logo vi que rinzim sentado naquele banco cro-
a chegada do amante na casa dela ia quento, chega ficou com a bunda dor-
dar crisipa). mente).
122
CUIA (s.) - 1. vasilha feita de metade de
CUBAR (v.) - medir, principalmente uma cabaça cortada longitudinalmente.2.
madeira; calcular uma área. medida sertaneja de capacidade.
123
CULUMIM (s.) - inflamação no lado CURADO (adj.) - 1. De corpo fechado;
superior do pescoço. imunizado contra qualquer mal (A con-
versa que há é que o velho Severiano
CUMA - 1. (pron.. int.) - como (Cuma era curado de cobra). 2. curtido; diz-se
é o nome dele?). 2. (conj.) - como (Ele do queijo que é endurecido para permitir
fez cuma quem não quer nada). seja ralado.
CUPIM (s.) - 1. inseto que corrói a ma- CURAR (v.) - curtir; deixar endurecer
deira, o que também dá o nome à sua naturalmente o queijo, lavando-o e li-
casa, que é feita de barro, em forma de xando-o diariamente, para permitir ser
um montículo. 2. protuberância carnosa ralado (Ela, após enformar gostosos
e gordurosa que fica na junção da apá do queijos, fazia questão de curá-los para
bovino de raça. serem ralados).
124
CURIANGO (s.) - ave noturna de as- CURRAL ELEITORAL (s.) - 1. lo-
pecto delicado, plumosa, leve, cauda calidade em que predominam eleitores
longa (única ou bifurcada), bico minús- de determinado candidato. 2. barracão
culo e boca imensa, que o ajuda na cap- cercado onde o candidato confina seus
tura de insetos; seu canto tem uma curio- eleitores para votarem no dia da eleição.
sidade: além de ser a onomatopéia de
seu nome, muda de acordo com a esta- CURRIÃO (s.) - correia; cinto; cintu-
ção do ano; vive praticamente no chão, rão.
onde faz seu ninho, em lugar de muita
folhagem, que o ajuda a escutar a apro- CURRIOLA (s.) - 1. bando; turma;
ximação dos predadores; também é grupo de pessoas ligadas geralmente por
chamado amanhã-eu-vou, bacurau, uma intenção ilícita; corriola; igrejinha
carimbamba, joão-corta-pau e priangu. (Todo ministro, quando toma posse,
Segundo a superstição, quem o mata é trata de agasalhar sua curriola). 2. pe-
acometido de azar. quena e deliciosa fruta silvestre.
CURICA (s.) - 1. ararinha. 2. suor; sua- CURUBA (s.) - pequena ferida externa
deira (Depois do jogo-de-bola, ele ficou na pele, proveniente de picada de inseto
na maior curica). ou qualquer outra origem; pereba. Para
esta dermatose, bem como para calor-
CURICACA (s.) - ave semelhante ao de-fígado e coceiras, há os seguintes
quero-quero, mas de tamanho maior, remédios: suco das folhas de melão-de-
que fica em bandos nas imediações das são-caetano; suco (leite) de mamoeiro-
fazendas, onde, com seu canto estri- bravo; pega-se um litro de cascas de
dente, denuncia a chegada de pessoas. pau-d’arco (ipê) machucadas, deixa-se
de molho em quatro litros de água, jun-
CURIMATÁ (s.) - V. crumatá. tando-se depois duas colheres de enxo-
fre, e com esse preparado lavam-se as
CURIMBA (s.) - cantiga de umbanda; dermatoses curubas, perebas ou qualquer
ponto de macumba. outra manifestação similar. O calor-de-
fígado, que se manifesta através de um
CURRALAMA (s.) - conjunto de cur- prurido nas palmas das mãos, é curado
rais de uma fazenda. quando se introduzem as mãos no “fato”
(intestinos) de boi ou vaca, logo depois
CURRALEIRO (s.) - animal sem raça; de mortos. As curubas na cabeças são
pé-duro. curadas quando se lavam com salmoura
de carne fresca. Afirma-se que o cuspo
CURRAL-DAS-ÉGUAS (s.) - V. pu- de uma pessoa em jejum cura impigens,
teiro. coceiras, crostas, pústulas, perebas, úlce-
ras etc.
125
dido o negócio, o velho ficou cuspindo
CURUIZ! (int.) - cruz! cruz credo! fogo).
CURUPIRA (s.) - ser fantástico que tem CUSPIR NO PRATO EM QUE CO-
os pés virados para trás; mãe-do-mato; MEU (exp.) - mostrar-se ingrato; ser
pai-do-mato. mal-agradecido; desprezar com desdém
aquilo de que se beneficiou (O Rodoval,
CURURU (s.) - sapo grande; caçote; que eu empreguei, agora vive dizendo
macô; morché. que o emprego não presta; é o tipo que
cospe no prato em que comeu ).
CURVEJÃO (s.) - a parte da perna do
boi que fica atrás da articulação do joe- CUSTEAR (v.) - amansar animal de
lho; jarrete. montaria (Zuca Aguiar veio decretado
para custear o gado da Bonina, que es-
CUSCUZ (s.) - espécie de bolo de milho tava muito brabo).
ou de arroz feito a vapor no cuscuzeiro.
CUSTEIO (s.) - traquejo ou amansa de
CUSCUZEIRO (s.) - espécie de panela animal (Tenho na fazenda dois burros
de alumínio ou de folha-de-flandres de carga, três de custeio e o cavalo-de-
dividida em duas partes por uma espécie sela).
de ralo, em que na parte inferior é colo-
cada água a ferver, e na de cima, massa CUSTOSO (adj.) - difícil; traquinas
de milho umedecida, a qual, com a fer- (Este menino sempre foi muito cus-
vura, cozinha com o vapor. toso).
126
-D-
DÁ-CÁ-MINHA-CUIA (exp.) - V. dá-
DA, DO (contr.) - contrações de natu- cá-meu-saco.
reza espletiva, muito comuns para dar
mais força a um substantivo (Quando a DADEIRA (s.) - causadora (Esta me-
pobre da Raimunda chegou, estava nina é muito dadeira de dor de cabeça).
digna de dó). ou a um adjetivo que se-
gue o advérbio de intensidade “muito”
(Você é muito do atrevido, e seu irmão, DADO (adj.) - 1. grátis; de graça (Uma
muito do safado, não fica atrás). vez por semana, o ingresso do circo era
dado). 2. popular; prestativo; extrover-
DA BOCA PRA FORA (exp.) - sem tido (Camerino sempre ganhou eleição,
maldade ou malícia (Não leve a mal as porque ele é muito dado).
ameaças de Valtinho, pois ele só falou
da boca pra fora). DADOR (s.) - feminino de dadeira.
127
DAR BANDEIRA (exp.) - deixar trans-
DANISCO (adj.) - V. danado. parecer algo que deveria ficar em se-
gredo.
DANURA (s.) - idéia fixa; teima; ga-
nância (Você precisa de parar com essa DAR BODE (exp.) - não dar certo; cau-
danura de trabalhar de sol-a-sol). sar transtornos; dar galho (Aquele che-
que que você passou para a loja deu
DA PÁ VIRADA (exp.) - insubordi- bode).
nado; impetuoso; travesso.
DAR BORÓ (exp.) - V. dar bode; dar
DAR (v.) - ceder, a mulher, ao assédio galho.
sexual e ir para a cama com o parceiro
(Sendo mulher séria, não fica bem você DAR CABEÇADA (exp.) - cometer as-
me dizer que ela anda dando pra todo neira; fracassar.
mundo).
DAR COMBATE (exp.) - intrometer-se
DAR ÁGUA NA BOCA (exp.) - causar (Este menino é intrometido, pois fica
desejo em excesso (Os doces de Donana dando combate em tudo o que vê).
davam água na boca).
DAR COM OS BURROS N’ÁGUA
DAR ÁGUA PELAS BARBAS (exp.) - (exp.) - fracassar em um empreendi-
fracassar (Parece que o negócio da fa- mento; malograr; cometer uma asneira
zenda deu água pelas barbas). (Fazendo compromissos a torto e a di-
reito, ele acabará dando com os burros
DAR A MÃO (exp.) - ajudar; colaborar. n’água).
DAR ASA (exp.) - dar liberdade (Não DAR CONTA DO RECADO (exp.) -
se pode dar asa pra qualquer um, senão desincumbir-se bem de uma missão (Pa-
quando quiser cortar será tarde). rabéns! Eu sempre acreditei que você ia
dar conta do recado).
DAR AS CARAS (exp.) - aparecer.
DAR COPA (exp.) - dar notícia (Essa
DAR AS CARTAS (exp.) - estar por fofoqueira dá copa de tudo).
cima; mandar estar em situação privile-
giada; ter prestígio (No lugarejo quem DAR CORDA (exp.) - facilitar; não re-
dava as cartas era o delegado). primir; puxar conversa para induzir o
interlocutor a ir contando o que sabe.
128
DAR CRIA (v.) - parir.
DAR FIM (exp.) - matar; fazer desapa-
DARDADA (s.) - cacetada; pancada; recer.
soco violento.
DAR FOGO (exp.) - explodir; atirar.
DAR DE BANDEJA (exp.) - propiciar
facilidade a alguém; dar de graça (Ele DAR GALHO (exp.) - V. dar bode.
recebeu aquele emprego de bandeja).
DAR LIGANÇA (exp.) - dar importân-
DAR DE BUNDA (exp.) - virar-se o cia; preocupar-se (Nunca vi gente para
animal para não ser laçado; levantar as não dar ligança pra filho).
patas traseiras quando é esporeado.
DAR LINHA (exp.) - 1. afrouxar a li-
DAR DE CARA (exp.) - encontrar nha para o peixe correr até cansar-se. 2.
frente a frente, inesperadamente fingir que está concordando para verifi-
(Quando o menino desceu escondido da car até aonde chega o comentário de
goiabeira do vizinho, deu de cara com uma pessoa (Ele foi dando linha ao
ele). compadre na sua conversa para pescar
o que ele pensava).
DAR DÓI, CHORAR FAZ PENA
(exp.) - expressão usual para se justificar DAR MAÇADA (exp.) - fazer alguém
a recusa a um pedido; o mesmo que dar esperar (Vou esperar você às oito horas,
dói, pedir incói (encolhe). mas não vá me dar maçada).
129
rama após o roubo do banco deu muito DAR O AR DA GRAÇA (exp.) - apare-
na cara). cer; comparecer.
DAR NA MESMA (exp.) - ser a mesma DAR O BEIÇO (exp.) - ficar devendo;
coisa; acontecer de forma idêntica. calotear; ludibriar.
DAR NAS PERNAS (exp.) - fugir; cor- DAR O BOLO (exp.) - faltar a um en-
rer (Quando ele viu a polícia, tratou de contro ou a um compromisso (Vou es-
dar nas pernas). perá-lo no local combinado, mas não dê
o bolo!).
DAR NAS TAMANCAS (exp.) - fugir;
correr; cair fora; cair na capoeira; cair DAR O BRAÇO A TORCER (exp.) -
na maravalha. V. dar a mão à palmatória.
DAR NO PÉ (exp.) - V. dar nas per- DAR O PIRA (exp.) - dar o fora; ir-se
nas. embora; fugir; escafeder (Quando ele
viu movimento de polícia, tratou de dar
DAR NOME AOS BOIS (exp.) - reve- o pira, que ele não era nem besta).
lar a verdade dos fatos.
DAR O PREGO (exp.) - dar defeito;
DAR NOS CASCOS (exp.) - V. dar encrencar carro ou máquina (O jipe deu
nas tamancas. o prego no meio da estrada).
130
DAR O RABO (exp.) - oferecer-se se- DAR UMA DE (exp.) - fazer as vezes
xualmente a alguém, consumando o ato. de (Só porque morou na capital, fica
dando uma de grã-fino).
DAR OUSADIA (exp.) - dar liberdades;
dar entrada (Não dê ousadia pra esse DAR UMA DE JOÃOZINHO-SEM-
moleque, senão ele aproveita). BRAÇO (exp.) - fingir-se de desenten-
dido ou de ingênuo para conseguir algo
DAR PARTE (exp.) - fazer queixa à (Com esta história de que vai chegar
polícia ou à Justiça (Se você insistir em um dinheiro para ele está querendo dar
ameaçar, vou dar parte). uma de joãozinho-sem-braço).
DAR PÉ (exp.) - 1. ser viável (Acho DAR UMA EMENDA (exp.) - dar uma
que esse negócio vai dar pé, pois está ajuda (Preciso de você pra dar uma
tudo combinado). 2. poder atravessar o emenda no serviço da roça, pois estou
vau de um rio sem precisar nadar (No só com dois peões).
mês de agosto, qualquer grande rio do
Tocantins costuma dar pé). DAR UMA MÃO (exp.) - colaborar;
dar uma ajuda.
DAR PELA COISA (exp.) - perceber
(Quando dei pela coisa, já era tarde). DAR UM BASTA (exp.) - mandar pa-
rar; estancar (Era necessário dar um
DAR PRA TRÁS (exp.) - 1. regredir; basta naqueles desmandos).
malograr; falhar (Depois que ele se se-
parou, os negócios deram pra trás). 2. DAR UM BRANCO (exp.) - ter um
piorar (Depois que ele saiu do hospital, súbito e momentâneo esquecimento (Na
sua saúde deu pra trás). hora do exame, deu um branco nele,
que, apesar de saber a matéria, foi re-
DAR RASTEIRA EM COBRA (exp.) provado).
- V. escovar urubu; encangar grilo.
DAR UM CHEGO (exp.) - V. dar um
DAR RATA (exp.) - V. dar mancada. pulo.
DAR SOPA (exp.) - dar confiança; fa- DAR UM DURO (exp.) - trabalhar in-
cilitar (Deram sopa, e a carteira sumiu cansavelmente.
de cima da mesa).
DAR UM FORA (exp.) - dar uma man-
DAR TRELA (exp.) - dar atenção; dei- cada.
xar alguém falar para captar algo que se
quer ouvir (O delegado deu trela ao DAR UM PULO (exp.) - ir a um lugar,
acusado até descobrir o mandante do para não se demorar (Qualquer hora
crime). destas eu dou um pulo em sua casa).
DAR UMA (exp.) - ter relação sexual DAR UM TEMPO (exp.) - dar um
(Essa meninada vai aos bordéis e se prazo; esperar (Dê um tempo, rapaz,
satisfaz em dar uma e ir embora). pois as coisas estão ruins).
131
DAR UM TOQUE (exp.) - avisar; insi- DE BOCA (exp.) - oralmente, sem qual-
nuar (Sua nomeação deve sair logo, quer documento escrito (Eu não aceito
pois já dei um toque no governador). contrato de boca, pois não pode ser exe-
cutado).
DAR UMA COLHER DE CHÁ (exp.)
- dar uma oportunidade (Você errou, DE BOCA CHEIA (exp.) - com orgu-
mas vou dar-lhe uma colher de chá). lho (Ele falava de boca cheia na for-
matura de seu filho).
DAR VOLTA (exp.) - resolver; curar
(Só foi a velha benzedeira rezar, deu DE BORCO (exp.) - de bruços; embor-
volta no mal). cado (Ele tropicou na raiz e caiu de
borco na beira da grota).
DAR ZEBRA (exp.) - dar azar; não dar
certo (Não lhe paguei no dia porque DEBRUM (s.) - tira de pano que se
meu negócio deu zebra). costura dobrada sobre a orla de um te-
cido para fortalecer a costura.
VEJA TAMBÉM:
A dar com pau DEBUXO (s.) - desenho; riscos para a
Não dar água a pinto. bordadeira seguir no seu trabalho (apor-
tuguesamento do espanhol dibujo).
DATA (s.) - lote (No inventário ela fi-
cou com duas casas e uma data no DE CABEÇA (exp.) - de memória (Sei
centro da cidade). de cabeça as datas das festas religiosas
do Tocantins).
DE (prep.) - é empregada esta partícula
para significar “filho(a) de” (Fomos to- DE CABEÇA ABAIXO (exp.) - em
dos para a festa: Chico de Letícia, Inês direção a um nível inferior (Vi quando o
de Vico, Marquinho de Feliciano e eu). ladrão saiu correndo de cabeça abaixo).
132
feita, que é fabricada em série (Começou
seu comerciozinho com roupas de car- DE DÉU EM DÉU (exp.) - qualquer
regação, e hoje é forte negociante). jeito; de um lado para outro; na casa de
um e de outro (Só foi morrer a mãe e o
DE CHEIRAR E GUARDAR (exp.) - pai casar de novo, as crianças passa-
coisa de muita estima (Aquela sua arma ram a viver de déu em déu).
importada era de cheirar e guardar).
VEJA TAMBÉM:
DECOADA (s.) - líquido das cinzas de Viver de déu em déu.
certas madeiras, que, colocadas com
água na destiladeira, fica pingando du- DEDO (s.) - 1. medida popular corres-
rante muito tempo e por suas proprieda- pondente a dois centímetros, usada em
des substitui a soda cáustica na confec- bebidas (Ele tomou três dedos de ver-
ção de sabão. A decoada, por suas pro- mute) ou para calcular a gordura de um
priedades cáusticas, é excelente para porco (O capado que engordei deu
frieiras. quase quatro dedos de toucinho). 2.
pequeno espaço de tempo (Decidi ficar
DE COCA (exp.) - de cócoras. ali e dar dois dedos de prosa com o
compadre).
DE COMER (s.) - refeição; comida.
DEDO-DURO (s.) - delator; cagüeta;
DE COM FORÇA (adv.) - com força cagüete.
(O pai deu um tapa de com força no
moleque). VEJA TAMBÉM:
Cheio-de-dedos
DECOREBA (s.) - pessoa que decora a Chupar o dedo
lição sem aprender. Contar nos dedos
Escolher a dedo
DE COR E SALTEADO (exp.) - pro- Ficar chupando o dedo.
fundamente; por dentro e por fora (Sei
que ele conhece o assunto de cor e sal- DEDURAR (v.) - delatar; ser dedo-
teado). duro; alcagüetar; acusar; dedar.
133
de fasto, pois se virar as costas ela livre da carga, a primeira coisa que ele
ataca). faz é deitar e rolar na terra; se ele, ao
rolar, vira de um lado para o outro, é
DEFERENÇAR (v.) - diferenciar; dis- sinal de que no dia seguinte haverá
tinguir; ficar ou ser diferente (Depois chuva.
que ela se casou deferençou muito: está
uma tapera descanchelada). DEITAR O CABELO (exp.) - fugir.
134
forte como dizem: de mamando a cadu-
cando, tenho menos de 200 cabeças). DENGO (s.) - manha (de criança); me-
lindre; demência.
DEMÃO (s.) - 1. ajuda; auxílio; adjutó-
rio (Viemos aqui dar uma demão na VEJA TAMBÉM:
roça dele). 2. segunda mão na pintura Ser os dengos.
(Se der uma demão na parede, o serviço
ficará muito bom). DENGOSO (adj.) - V. demente.
135
DE PRIMEIRA ÁGUA (exp.) - de para a fazenda derreia para a es-
ótima qualidade (Apesar de seguro, o querda).
coronel só comprava coisas de primeira
água). DERRENGAR (v.) - 1. desmanchar;
derreter; amolecer (Quando o velho es-
DE PRIMEIRO (exp.) - antigamente tava perto da mocinha, derrengava-se
(De primeiro, os filhos respeitavam os todo). 2. aguar (Por força de zói ruim, o
pais). doce derrengou).
136
DESASNAR (v.) - V. desarnar.
DESACORÇOADO (s.) - V. desaco-
roçoado. DESBOCADO (adj.) - que fala pala-
vrões; boquirroto.
DESADORAR (v.) - detestar.
DESBOCAMENTO (s.) - incontinência
DESALOTAR (v.) - ir-se embora (Es- verbal.
tou só esperando a visita desalotar para
poder voltar pro serviço). DESBULHAR (v.) - debulhar.
137
DESCONVERSAR (v.) - mudar de
DESCANSO (s.) - pedaço de madeira assunto; dissimular (Na hora em que lhe
roliça que se coloca de pé na ponta do falei no emprego prometido, ele des-
cabeçalho para aliviar a carga enquanto conversou e disse que a crise estava
o carro-de-bois está parado; espeque; es- braba).
pera (2).
DESCONTAR (v.) - desforrar; vingar-
DESCARNADO (adj.) - magro; sem se (Ele descontou no menino o desaforo
carnes (Não convém matar aquele boi- que o pai lhe passou).
eco, pois está muito descarnado).
DESCORAGEM (s.) - falta de coragem
DESCAROÇADOR (s.) - pequeno en- (Depois dos sessenta anos, começou
genho manual de madeira, movido a aquela moleza e aquela descoragem,
manivela, para retirar o caroço dos capu- que só pedia descanso e cama).
chos de algodão; descoroçador (V.
tear). DESCOROÇADOR (s.) - V. desca-
roçador.
DESCER (v.) - incorporar um espírito
(Quando o espírito desceu, todos senti- DESCRENÇADO (adj.) – desiludido
ram um arrepio). (Ele já andava descrençado da vida,
com tantos reveses).
DESCER A MALA (exp.) - falar logo;
desembuchar (Tonico, desça a mala no DESCRENÇAR (v.) – desiludir; perder
chão e conte o caso direito). a crença; perder a esperança (Com a
atitude dos políticos de hoje, a gente
DESCER A RIPA (exp.) - V. meter o acaba é descrençando das coisas).
pau.
DE SECA E VERDE (exp.) - todo
DESCER O BRAÇO (exp.) - bater; tempo; em todas as épocas (Como
surrar com as mãos (Quando o homem Quinca Valente tem roça de pasto na
pegou o ladrão, desceu-lhe o braço). rua, pode fornecer leite de seca e
verde).
DESCOLOTAR (v.) - V. desmentir.
DESEJO (s.) - V. antojo.
DESCOMBINAR (v.) - desentender-se
ou desacertar-se com alguém. DESEMBESTAR (v.) - sair às carrei-
ras e sem rumo certo; disparar (o ani-
DESCOMEDIDO (adj.) - grande; exa- mal).
gerado.
DESEMPENADEIRA (s.) - 1. máquina
DESCONJUNTAR (v.) - deslocar os utilizada pelo carpinteiro para aplainar a
ossos de uma articulação; desmentir; face das tábuas. 2. instrumento de pe-
descolotar. dreiro, constituído de uma tabuleta com
uma alça de metal na parte superior, que
DESCONJURAR (v.) - esconjurar. serve para espalhar e alisar o reboco;
desempoladeira.
138
DESEMPENAR (v.) - desentortar. DESGUIAR (v.) - esgueirar; tomar ou-
tro rumo; esguiar (No momento em que
DESEMPOLADEIRA (s.) - V. desem- o boi ia entrar no canicho, ele desguiou
penadeira (2). para outro canto e pulou a cerca).
139
Há uma oração que é precedida de três
Ave Marias e uma Salve Rainha: DE SOCO (exp.) - V. de supetão.
140
DESPOIS (adv.) - depois. DESTIORAR (v.) - malograr; falhar;
deteriorar (Aquele acontecimento aca-
DESPOTISMO (s.) - grande quanti- bou por destiorar os planos).
dade; despropósito (Comprou um des-
potismo de gado com o dinheiro da he- DESTOCA (s.) - fase posterior à derru-
rança). bada, que consiste em extrair os tocos da
futura roça.
DESPREVENIDA (adj.) - diz-se da
mulher sem calcinha. DESTORCER (v.) - desviar o assunto
(Quando falei no dinheiro, ele destor-
DESPROPÓSITO (s.) - V. despotismo. ceu e começou a chorar misérias).
DESTABOCADO (adj.) - que não con- DESTRAMBELO (s.) - coisa mal ar-
trola a língua; que diz o que vem à boca; rumada; coisa destrangolada; destram-
pessoa faladeira; despachado. pelo.
141
dificílima (Depois que ele perdeu a fa- (Ele foi correndo comprar o remédio,
zenda para o banco, ficou de tanga e que chegou de venta aberta).
chapéu de gazeta).
DE VENTO EM POPA (exp.) - a todo
DETEFON (s.) - inseticida que é apli- vapor (Meus negócios estão indo de
cada com bomba manual; V. flit. vento em popa).
142
junta formiga no local, prestar atenção se DIACHO - 1. (int.) - expressão equiva-
cortes e arranhões demoram a cicatrizar- lente a Ora! (Diacho! não consigo acer-
se. Para o tratamento (embora sem ne- tar a pergunta!). 2. (part. espl.) - coisa
nhuma comprovação científica), usa-se a indefinível (Não consigo encontrar o
fava de jucá, a raiz do capa-bode, a folha diacho do jumento). 3. Termo eufemís-
de mão-de-vaca, a raiz do buritizeiro, o tico, usado para evitar a palavra “diabo”,
fel da paca e outros, sem se desprezar o que, segundo os supersticiosos, aparece
pó da casca da laranja, na comida ou sob quando seu nome é invocado.
a forma de um chá e a infusão de entre-
casca de cajueiro, feita em panela de DIAMANTE (s.) - pequena ferramenta,
barro nova. feita de uma haste com um minúsculo
diamante na ponta, utilizada em vidraça-
DIA DE ANO (s.) - o dia 1º de janeiro ria para cortar vidros.
(Ele esteve aqui no dia de ano e nunca
mais apareceu). DIAMBA (s.) - maconha.
DIA DE SÃO NUNCA (s.) - um dia que DIANTEIRO 1. (adj.) - diz-se do veí-
nunca chegará (Ele vai aparecer aqui só culo cuja carga está mais na frente, de
no dia de São Nunca). forma a influenciar no seu equilíbrio
(Ele colocou os sacos de arroz na
DIA DOS ANOS (exp.) - aniversário frente, e o caminhão ficou muito dian-
natalício (No dia dos anos, vou fazer teiro). 2. quarto dianteiro da rês (O di-
uma festança). anteiro tem menos carne que o tra-
seiro).
DIÁRIA (adv.) - continuadamente; fre-
qüentemente (Ele vive mentindo diária e DIÃO (s.) - dia claro (Já era dião
fazendo treita). quando a tropa deixou o pouso).
143
cela. Para se fazer vomitar a comida DIREITO (adv.) - 1. V. escritinho; di-
ofensiva, o remédio é a semente de ca- reitinho; é ver (Ele agia direito um cri-
baça com folhas de erva-cidreira: tritu- minoso). 2. correto (O pai do rapaz vai
ram-se sete sementes de cabaça com pagar o prejuízo, pois sempre foi um
folhas de erva-cidreira e faz-se o chá homem muito direito).
sem doce para o paciente beber. Sendo
indigestão dolorosa, dá-se ao paciente DIRETO QUE SÓ CANTIGA DE
chá de hortelã com dois dentes de alho GRILO (exp.) - de forma contínua, sem
roxo. Com o suco de babosa fazem-se interrupção (Nos fins-de-semana eles
pílulas amargas que são excelente remé- bebem direto que só cantiga de grilo).
dio para indisposições estomacais. Se a
indigestão é provocada por ovos, DISCO VOADOR (s.) - 1. pequena
queima-se um ovo até ficar preto, pulve- fritura de carne de forma circular que é
riza-se e faz-se chá com o pó, o que vem vendida em bares. 2. prato feito; pê-efe.
sarar o paciente.
DISGRAMA (s.) - V. disgrena.
DIINHAS (NESSES) (exp.) - recente-
mente; há pouco tempo (Nesses diinhas DISGRAMADO (adj.) - esperto; pilan-
falamos sobre aquele assunto). tra; safado (O disgramado do menino
comeu as goiabas todinhas).
DILATAR (v.) - prolongar; demorar;
delatar. DISGRENA (s.) - V. diacho (2).
144
DIZ-QUE (exp.) - dizem (Diz-que lá na DOENÇA-DE-CHAGAS (s.) - doença
pracinha estão distribuindo carne à po- do coração; mal-de-chagas.
breza).
DOENÇA DE MULHER (s.) - Há uma
DIZ-QUE-DIZ (exp.) - mexerico; leva- série de doenças englobadas sob esse
e-traz; fuxico (Com o casamento des- título, inclusive parto difícil. Para preve-
feito, ficou aquele diz-que-diz cons- nir infecção durante o resguardo, re-
trangedor). corre-se ao chá de casca de aroeira.
Quando a mulher padece as dores de
DOBRADEIRA (s.) - V. meadeira. parto difícil, um gole de vinho quente
facilita a expulsão do feto. Um artifício
DOBRAR A LÍNGUA (exp.) - pensar muito utilizado é fazer com que a partu-
antes de falar (Dobre a língua, seu mo- riente sopre uma garrafa vazia até não
leque, pois não sou de sua laia). poder mais, repetindo-se a operação
quantas vezes for preciso. No terreno do
DOCA DO ZOIÃO (s.) - 1. ser imagi- misticismo, há várias simpatias: coloca-
nário que causa medo (Se você não co- se uma chave na mesma cama da partu-
mer, eu chamo o Doca do Zoião). 2. riente, para evitar mau-olhado, e para a
confusão (Se você não cumprir o trato, mulher “se abrir” facilitando o parto; o
vai ter doca do zoião). marido põe seu chapéu na cabeça da
mulher e dá três voltas ao redor da cama;
DOCE DE CASCA (s.) - doce de la- colocar no pescoço da paciente a cabe-
ranja ou de limão, que é feito de sua çada de um cabresto bem molhada de
casca. suor, e a criança não tardará a nascer
(mas é necessário que o animal e o ca-
DOCE DE CORTE (s.) - doce sólido bresto sejam do marido); dar a parturi-
que se come em pedaços, cortados a ente para engolir três grãos de feijão
faca. ferventados e vesti-la com a camisa do
marido pelo avesso. Como preventivo,
DOCUMENTOS (s.) - órgão sexual para se ter a certeza de um parto rápido e
masculino; guardados. desembaraçado, a gestante deve, todos
os meses, e uma vez por mês, andar de
DODÓI (s.) - 1. forma como as crianças quatro pés dentro do quarto em que de-
tratam o estado de doença ou qualquer verá dar à luz. Se esquecer um só mês,
ferimento. 2. dengos (Esta menina é o de nada adiantará. O que se prescreve
dodói do padrinho). para retenção de placenta é de cunho
místico: dedicam-se alguns versinhos a
DOEDOR (s.) - que causa dor (Esse Santa Margarida, protetora das parturi-
meu reumatismo é muito doedor). entes, fazendo a paciente recitar:
145
DOENÇA-DE-RUA (s.) - doença vené- coronha. O óleo de pequi e o azeite doce
rea. mornos são ótimos para as dores de ou-
vido. Esses remédios são mais preciosos
DOENÇA-DE-SÃO-LÁZARO (s.) - se for acrescentado sumo de manjericão.
lepra; gafeira. Sendo doença rara no Havendo surdez, aconselha-se vinho
sertão, só se conhecem três remédios, morno, pingado no ouvido. As dores de
todos extravagantes: tomar um fígado de ouvido são minoradas com fezes de pa-
urubu, torrá-lo, reduzi-lo a pó e tomá-lo pagaio diluídas em água, que depois é
com cachaça pela manhã, à razão de uma coada, embebida num algodão e pingada
colherinha por gole; comer carne de cas- no ouvido doente. Assegura-se que se
cavel cozida sem sal; comer fígado de colocar no ouvido a ponta do rabo de um
raposa, também cozido sem sal. tatu duas ou vezes ao dia diminui as do-
res. No caso de entrar água no ouvido
DOENÇA-DO-AR (s.) - paralisia; der- após um banho de mergulho, põe-se-lhe
rame cerebral; estupor. Para se curar a urina virando-o imediatamente para
paralisia, aplicam-se os mesmos remé- baixo. Após algumas pancadas dadas
dios para curar o entrevamento e a para- com mão à altura do outro ouvido, a
lisia nas pernas, dentre eles: lavar as água sai toda. As supurações de ouvido
pernas com espuma do caldo de carne são tratadas com leite-de-peito.
fresca sem sal; friccionar sebo de car-
neiro castrado. DOENÇAS DOS OLHOS (s.) - Há
remédios curiosíssimos na oftalmologia
DOENÇA-DO-MÊS (s.) - menstruação. sertaneja para a cura das doenças dos
olhos, dentre as quais as mais comuns
DOENÇA-DO-MONTURO (s.) - gra- são dor d’olhos, catarata, tracoma, sapi-
videz fora do casamento. ranga e vista fraca. Há remédios inteira-
mente sem sentido, como os há lógicos.
DOENÇA-DO-PEITO (s.) - V. mal- Afirma-se que o lodo que se forma do
dos-peitos. lado de fora das paredes é meizinha in-
falível para a cura da sapiranga e da tra-
DOENÇA-DO-SANGUE (s.) - lepra. coma. O sumo da arruda, pingado nos
olhos, fortifica as vistas e é de grande
DOENÇA-RUIM (s.) - câncer; lepra; conceito na cura da catarata e da belida
morféia; tuberculose. Para atenuar o (velide), como o sertanejo chama), que é
câncer ou um tumor maligno, assegura- uma pequena mancha branca na menina-
se que o remédio por excelência para dos-olhos. O colírio natural é o leite de
esta terrível doença é o chá ou infusão de coco catolé, o sumo de manjericão e de
casca de ipê roxo (pau d’arco). Além do malva. Comer maxixe cru ou cozido
ipê roxo, recomenda-se, com igual ga- serve para fraqueza das vistas. Para a
rantia, o chá da semente de mata-pasto. catarata, aconselha-se lavar os olhos
todos os dias com água e sal, assim
DOENÇAS DO OUVIDO (s.) - Abran- como com infusão de cravo-de-defunto.
gem todas as doenças, da otite à surdez. Para a tracoma, aconselha-se cortar os
Se alguém sente dores no ouvido, acon- ossos de camaleão, moê-los reduzindo a
selha-se a arrolhá-lo com dente de alho, pó e misturar com água serenada para
com folhas de arruda ou com flores de pingar nos olhos durante um mês. O ex-
146
cremento de coelho, que se assemelha a DOIS SENTIDOS NÃO ASSAM MI-
uma pílula, é excelente preventivo para LHO (exp.) - expressão que significa
dor d’olhos e outras moléstias. Asse- que não se deve preocupar com duas
gura-se que cada “pílula” tomada cor- coisas ao mesmo tempo (deturpação de
responde a um ano de imunização. O dois sentidos não assimilam)
leite-de-peito, aconselhado para extrair-
se cisco dos olhos (V. argueiro), é ex- DOLOROSA (s.) - conta de boteco.
celente remédio para dor d’olhos.
DOR (s.) - dores do parto (Quando ela
VEJA TAMBÉM: ficou com dor, o marido foi atrás da
Pegar doença. parteira).
“Deus é o sol,
147
Deus é a luz, (A superstição é de que a diminuição da
Deus é toda a claridade! oração resulte a mesma coisa com a dor
Sai-te daqui, sol de cabelo e sereno, de dentes).
E vai-te pras ondas do mar sagrado!
Com poderes de Deus-Padre, Há uma outra oração, que deve ser ofe-
Com os poderes de Deus-Filho recida para Nossa Senhora e Santa
E o Espírito Santo. Amém”. Apolônia (Santa Pelônia):
“São Nicodemus, sarai este dente! DORMIDA (s.) - pernoite; pouso no fim
Sarai este dente! de uma etapa da jornada (Naquele dia o
Sarai este dente! compadre veio de dormida).
Este dente!
Dente!” DORMIR COM AS GALINHAS
(exp.) - dormir muito cedo.
148
DORMIR DE BOTINA (exp.) - V.
dormir de touca. DRAMA (s.) - sessão de teatro em es-
colas (Hoje vai haver drama no colégio,
DORMIR DE TOUCA (exp.) - deixar- e eu vou fazer o papel de mordomo).
se enganar; iludir-se; ser apanhado de
surpresa em situação previsível; dormir DRUMIR (v.) - dormir.
no ponto.
DUNGA (s.) - valentão (Ele quer ser o
DORMIR NA PONTARIA (exp.) - dunga da rua).
mirar demoradamente a arma.
DURADOR (s.) - tição grosso que se
DORMIR NO PONTO (exp.) - deixar coloca no fogão a lenha para fazer o
de tomar uma providência na ocasião fogo durar por muito tempo (De noite, o
certa por mero descuido; dormir de tropeiro botou um durador na fogueira,
touca. pois de noite não precisava levantar-se
a toda hora pra atiçar o fogo).
DOR NOS VÃOS (s.) - dor ou mal-estar
provocado gases intestinais. DUREZA (s.) - quebradeira; falta de
dinheiro (Nesta época de crise, nós vi-
VEJA TAMBÉM: vemos numa dureza terrível).
Conversa pra boi dormir
História pra boi dormir. DURO (adj.) - sem dinheiro.
149
-E-
É DEUS QUE... (adv.) - felizmente (É Mané-minha-égua
Deus que você chegou, pois eu já estava Não ser cria das minhas éguas
assustada sem conhecer ninguém). Pai d’égua.
ECO! (int.) - interjeição que exprime EGUAR (v.) - vadiar; perambular à toa;
nojo (Não engulo este remédio amar- bestar (1).
goso nem amarrado - eco!).
EITO (s.) - 1. parte já limpa da roça
ÉGUA - 1. (s.) - bobo (Eu fui muito do (Com dois peões bons de enxada, num
égua em aceitar sua proposta). 2. (adv.) instante deixaram um enorme eito
- grande (Ele comprou um égua de limpo). 2. grande espaço de tempo (Fi-
apartamento). caram os dois eito de tempo proseando).
150
(Na venda da fazenda e a compra do EMBENGAR (v.) - V. embondar.
caminhão saiu elas por elas).
EMBEZERRADO (adj.) - circuns-
ELEMENTO (s.) - pilha de lanterna pecto; zangado; de mau humor; amuado.
(Eu gosto mesmo é dessas lanternas de
três elementos, pois têm a luz mais EMBIGO (s.) - umbigo.
forte).
EMBIRA (s.) - fibra com que se fabri-
EMBANANAR (v.) - complicar. cam cordas, redes etc.
151
EMBORCAR (v.) - virar com as bordas
para baixo (Depois que ele serviu a EM CIMA DA BUCHA (exp.) - na
água, emborcou a cuia). mesma hora; em cima do rastro
(Quando ele atirou na onça, ela caiu
EMBORNAL (s.) - bornal; saco de em cima da bucha).
pano ou de couro com tiracolo; capanga.
EM CIMA DO RASTRO (exp.) - V.
EMBROMAR (v.) - enganar; tapear. em cima da bucha.
152
pela capoeira empaçocada de garran-
chos). EM PÊLO (exp.) - sem arreios (O ne-
grinho foi campear em pêlo, pois não
EMPACOTAR (v.) - 1. matar (O pis- lhe deram sela pra botar no burro).
toleiro foi pago para empacotar o sem-
terra). 2. morrer (Com a disenteria ele EMPENAR (v.) - 1. entortar, a madeira,
empacotou). em virtude do calor (Fizeram a cama
com madeira verde, e o resultado foi
EMPACOTADO (adj.) - estar vestido queela empenhou toda). 2. emplumar
de terno e gravata; excessivamente aga- (Quando peguei este papagaio no ni-
salhado (No dia da posse, ele chegou nho, ele não estava nem empenado di-
todo empacotado). reito).
153
EMPRENHAR O OUVIDO (exp.) - V. o médico encalcou sua barriga, ele
emprenhar pelos ouvidos. gritou de dor).
154
ENCHER AS MEDIDAS (exp.) - apor-
ENCAPETADO (adj.) - endiabrado. rinhar; incomodar; encher o saco.
155
neira, peitoral e gibão (Dá gosto ver a piras costumam enfarar de tanta co-
vaqueirama encourada nos dias de va- mida).
quejada).
ENFARENTO (adj.) - enjoado; intole-
ENCRAVAR (v.) - dar-se mal; ser sur- rável; ranzinza (Além de pobre, o Ra-
preendido (Um dia o Belino encrava nulfo ainda é enfarento).
com essa mania de bradar com os ou-
tros). ENFARRUSCAR (v.) - V. embarrus-
car.
ENCRENQUEIRO (adj.) - criador de
casos. ENFASTIADO (adj.) 1. sem fome. 2.
entediado; desanimado.
ENCRESPAR (v.) - zangar-se; discor-
dar. ENFATIOTADO (adj.) - enfeitado;
bem vestido; pelintra; lorde.
ENCROADA (adj.) - V. encruada.
ENFESTADO (adj.) - tecido com duas
ENCROAR (v.) - V. encruar. larguras; pano largo que vem dobrado ao
meio na respectiva peça.
ENCRUADO (adj.) - diz-se da abóbora,
mandioca ou qualquer legume que não ENFEZAR (v.) - amuar; zangar-se; irar-
cozinha direito, permanecendo crespo ou se; enraivecer-se.
cru.
ENFIAR A FACA (exp.) - explorar;
ENCRUAR (v.) - cozinhar e permane- cobrar muito caro (Sendo o dono da
cer duro um legume; é o oposto de en- única venda da vila, ele enfiava a faca
xugar (O almoço não está lá estas coi- ).
sas, porque a abóbora encruou, apesar
de ficar no fogo um tempão). ENFIAR ATRÁS (exp.) - seguir; enra-
bar (2).
ENCRUZAS (s.) - encruzilhada, na lin-
guagem da umbanda (Ele tinha que ENFIAR PEIDO EM CORDÃO (exp.)
cumprir uma obrigação nas encruzas). - V. engrolar baboseiras.
156
ENFRONHADO (adj.) - por dentro do ENGASGO (s.) - V. mal-de-engasgo.
assunto; compenetrado (Com poucos
dias, ele já estava inteiramente enfro- ENGASTALHAR (v.) - V. enganchar.
nhado no cargo).
ENGASTALHO (s.) - empecilho; algo
ENFRONHAR-SE (v.) - ficar por den- que atrapalha ou impede.
tro; inteirar-se (Antes de tomar qualquer
iniciativa, é preciso você se enfronhar ENGAZOPAR (v.) - enganar (Ele era
do assunto). esperto o bastante para não se deixar
engazopar pelo esperto vindião).
ENGAERAR (v.) - ficar nervoso; ficar
com calundu (Você agora não vá en- ENGENHOCA - 1. (s.) - pequeno en-
gaerar porque perdeu o jogo). genho manual para se moer cana. 2.
qualquer máquina estranha ou desco-
ENGAMBELAR (v.) - enganar; tapear; nhecida; trapizonga.
empurrar com a barriga.
ENGINHAR (v.) - enrugar, como o
ENGANA-BODE (s.) - passagem es- plástico ao se aproximar do fogo; engor-
treita que se abre em uma cerca, consis- gitar (Ele esqueceu o prato de plástico
tente de postes fincados dispostos em no terreiro, que enginhou no sol).
forma de “S”, que permite a passagem
apenas de pessoas; passador (2). ENGODO (s.) - 1. ato de jogar pedaços
de carne ou qualquer outro alimento nos
ENGANAR (v.) - praticar adultério. pesqueiros para atrair os peixes antes de
lançar o anzol ou a rede ou tarrafa. 2.
ENGANAR O ESTÔMAGO (exp.) - tapeação.
comer algo para esperar uma refeição;
lanchar. ENGOLIR (v.) - ficar calado, diante de
algo que não pode dar resposta.
ENGANCHAR (v.) - impedir que ande;
entupir; obstruir. ENGOLIR EM SECO (exp.) - passar
raiva calado, sem poder responder.
ENGANGENTO (adj.) - enjoado; cria-
dor de caso; carne-de-pescoço. ENGOLIR FRANGO (exp.) - deixar
passar frango (diz-se do goleiro, no fu-
ENGARGÜELAR (v.) - enforcar; segu- tebol).
rar pela gola.
ENGOLIR O CAROÇO (exp.) - situa-
ENGARUPADO (adj.) - 1. que viaja na ção em que o caminhão, geralmente car-
garupa. 2. V. embondado; encamboado regado, não consegue chegar ao alto de
(O malandro do Guido, que nunca uma ladeira, perdendo a força e parando,
gostou de trabalhar, vive agora enga- não se conseguindo passar outra marcha
rupado no tio). mais forte (Quando o fordinho carre-
gado de algodão chegou no tope da la-
ENGASGA-GATO (s.) - comida ordi- deira, engoliu o caroço).
nária.
157
estar o filho doente que a mãe vai en-
ENGOLIR SAPO (exp.) - suportar jeitá-lo).
aborrecimentos e agressões por necessi-
dade de sobrevivência ou de manter uma ENJIRIZAR (v.) - implicar com; ter
situação. ojeriza; ojerizar.
158
ENROLAR O RABO E SENTAR ENTALAR (v.) - ficar preso o alimento
EM CIMA (exp.) - apontar nos outros entre a garganta e o estômago (Farinha
os mesmos defeitos que tem. seca é danada pra entalar a gente).
159
não lhe diz respeito, intrometendo-se em
ENTOJADO (adj.) - antipático; enjo- conversas onde não lhe cabe; meter a
ado. colher de pau o meio; meter a colher
enferrujada no meio.
ENTOJO (s.) - V. antojo.
ENTRAR NO COURO (exp.) - levar
ENTOJADO (adj.) - V. enfarento. uma surra.
160
ENTREVADO (s.) - paraplégico; para- ENTROU PELO BICO DO PINTO,
lítico; pessoa acometida de reumatismo SAIU PELO BICO DO PATO (exp.) -
crônico. 1. fórmula que encerra as histórias,
quando o contador, após terminar uma
ENTREVAMENTO (s.) - reumatismo; história, diz: “Entrou pelo bico do
artrite. As folhas de melão-de-são-cae- pinto, saiu pelo bico do pato; o rei
tano socadas e misturadas com azeite mandou dizer que contasse mais qua-
doce são ótimos remédios para se colo- tro”. 2. expressão que dá a idéia de que
car sobre a parte atacada. Também goza algo deu em nada (Abriram o inquérito,
de grande aceitação o chá da casca de mas quando descobriram que o culpado
joão-mole. A infusão da casca de bureré era o filho do prefeito, entrou pelo bico
e do ipê-roxo são excelentes depurativos, do pinto e saiu pelo bico do pato).
sendo seu uso diário recomendado para o
reumatismo. Como remédio seguro ENTRUDO (s.) - brincadeira, hoje em
aponta-se a infusão de sassafraz no ál- desuso, que se pratica durante os três
cool. Também a infusão das raízes de dias de carnaval, constante de se molhar
manacá é remédio eficiente para o reu- com água pessoas do sexo oposto.
matismo crônico e agudo, como também
o é a flor de boa-noite branca misturada ENTUPIDO (adj.) - que não consegue
com cachaça. Outro remédio que afian- defecar; que está com os intestinos pre-
çam infalível é este: enche-se a mão com sos; empachado.
raspa de juazeiro, coloca-se em um litro
e meio d’água, misturar bem, bater a ENVEREDAR (v.) - tomar um rumo;
mistura até ficar reduzida a menos de um tomar determinada direção.
copo e beber. Após isto, deve-se tomar
um banho frio. O uso continuado dá ENXADETA (s.) - ferramenta seme-
volta em qualquer reumatismo. A banha lhante a uma enxada, de tamanho maior
de cascavel, de sucuriú, de cágado, de e menos larga; enxadão.
ema, de raposa, de capivara, de teiú, de
onça e de pato, e o sebo de carneiro cas- ENXABIDO (adj.) - sem sabor; in-
trado são excelentes para se ungir o lo- sosso.
cal, sendo este último o mais recomen-
dado, inclusive para os casos de entre- ENXERGA (s.) - espécie de acolchoado
vamento. As banhas mencionadas po- sobre o qual se coloca o arreio no ani-
dem também ser tomadas (uma colher de mal; baixeiro.
chá ao dia). ENXERGAR (v.) - saber ler (Na casa
de Catarino só Domingos era quem
ENTREZILHADO (s.) - enfraquecido enxergava, e por isso sabia de tudo,
(Ele se masturbou tanto, que ficou en- pois as cartas quem lia era ele).
trezilhado).
ENXERIDO (adj.) - intrometido; sali-
ENTRINCHETAR (v.) - enrolar; con- ente; metido; entrão.
sumir o tempo enrolando e atrapalhando
os outros. ENXERTAR (v.) - fecundar a fêmea;
engravidar.
161
ENXERTO-DE-PASSARINHO (s.) -
parasita que cresce geralmente no tronco ERA (s.) - ano (Não sei quantos anos
de árvores, que produzem pequenos tenho - disse o velho -, mas acho que
frutos apreciados pelos passarinhos, que sou da era de novecentos e quatro).
contribuem para sua disseminação; tam-
bém denominado erva-de-passarinho. É ERADO (s.) - idoso; diz-se do boi
utilizado para as doenças mais diversas, adulto e com mais de quatro anos.
como bronquite crônica, fígado, gar-
ganta, hemorróidas, intestinos, doenças ERRADA (s.) - caminho que confunde
da pele, dos pulmões, dos rins, além de o viajante (Indo pela barra do córrego,
ser calmante. não tem errada).
ENXÓ (s.) - ferramenta de carpinteiro ERVA (s.) - planta venenosa que mata o
que serve para aplainar manualmente a gado, sendo duas as principais espécies:
madeira. a erva-café (mais violenta e geralmente
mortal) e erva-de-rato, igualmente vene-
ENXODOZAR (v.) - cair de amores por nosa, mas não tão forte. Embora o gado
alguém. morra envenenado, é possível aprovei-
tar-se-lhe a carne, desde que seja san-
ENXUGAR (v.) - cozinhar (abóbora, grado ainda quente, para sair o sangue.
mandioca, inhame ou qualquer tubér-
culo), de forma que não fique aguado ou VEJA TAMBÉM:
duro, mas macio; é o oposto de encruar Montado na erva.
(Gosto de mandioca cacau porque ela
enxuga bem). ERVA-CAFÉ (s.) - V. erva.
162
mente de crianças), diarréia, dor de ca-
beça, males do estômago, febre, indi- ESCADEIRAR (v.) - ficar, o animal,
gestão, prisão de ventre e resguardo impossibilitado de mover-se com facili-
quebrado, dentre outros males. dade devido ao atrofiamento das patas
traseiras ou a pancada recebida na anca.
ERVA MALDITA (s.) - maconha; di-
amba. ESCADEIRAS (s.) - ancas; quadris;
região lombar; bacia óssea; cadeiras.
ESBAGAÇAR (v.) - triturar; transfor-
mar em bagaço; moer. ESCAFEDER (v.) - fugir às pressas.
163
lência do tiro de Nezinho Capim
Grosso). ESCONDER O LEITE (exp.) - ocultar
alguma coisa não fazer ou não dizer tudo
ESCANCHELAR (v.) - bagunçar; dani- o que sabe; origina-se do fato de algu-
ficar; desmontar. mas vacas, para que o leite sobre para
sua cria, usarem do artifício de retê-lo
ESCANGOTADO (adj.) - de pescoço durante a ordenha (Com aquela con-
mole, que não consegue suster a cabeça; versa cheia de reticências, acho que o
com a cabeça caída para trás; descan- Manduca está escondendo o leite).
gotado.
ESCONDIDO (s.) - 1. qualquer escon-
ESCANDESCÊNCIA (s.) - V. encan- derijo. 2. tesouro enterrado; enterro.
descência.
ESCONJURAR (v.) - jurar; amaldiçoar;
ESCAPADA (s.) - escapulida (de ma- rogar praga.
rido para uma aventura ou de empregado
para fugir do serviço). ESCONTA (s.) - conta de colar, de ro-
sário etc.
ESCAPO (adj.) - livre; salvo (Nin-
guém, hoje em dia, está escapo de levar ESCORNADO (adj.) - parado; imóvel;
um tombo). entregue; desmaiado; deitado em razão
de bebida.
ESCÁPULA (s.) – gancho de atar a
rede; armador de rede. ESCORRER O CANO (exp.) - urinar;
tirar a água do joelho.
ESCARAFUNCHAR (v.) - remexer;
esgaravatar; esmiuçar; investigar. ESCORRIDO (adj.) - diz-se do cabelo
liso (Ele encontrou a indiazinha no
ESCARCÉU (s.) - escândalo; confusão. mato: era bonitinha, cabelos escorridos
e tez morena de acroá).
ESCARRAPACHAR-SE (v.) - sentar-
se desajeitadamente. ESCORVAR (v.) - colocar a espoleta e
armar a espingarda.
ESCOGITAR (v.) - procurar; vasculhar
(O vendilhão foi até lá dentro escogitar ESCOTEIRO (adj.) - 1. desacompa-
no conta-corrente se o freguês havia nhado; só (O velho era tão sovina, que
pago a conta). só servia café escoteiro, pois não tinha
o adágio de colocar nem mesmo uma
ESCOLA (s.) - aula (Como não tive tigela de farinha pra se comer). 2. diz-
escola hoje, resolvi dar um passeio). se do animal que é levado de reserva
para transportar alguém (Para trazer o
ESCOLHA (s.) - grão que não se des- rezador eles levaram um cavalo esco-
cascou no meio do arroz limpo; mari- teiro). 3. aquele que viaja sem bagagem.
nheiro; capitão (2).
ESCOVADO (adj.) - experiente; vi-
ESCOLHER A DEDO (exp.) - escolher vido; macaco velho.
minuciosamente; selecionar.
164
ESCURIDÉU (s.) - escuridão; trevas;
ESCOVAR URUBU (exp.) - andar a V. breu (1).
esmo, sem ocupação definida; não fazer
nada; encangar grilo; dar rasteira em ESCUTADOR-DE-BOLERO (s.) -
cobra (Ele passava o dia escovando ouvido.
urubu pelas ruas).
ESCUTAR O CHOCALHO SER
ESCRETE (s.) - seleção de jogadores; VER A ÉGUA (exp.) - espalhar uma
time de futebol (aportuguesamento do notícia sem fundamento; divulgar um
inglês scratch). boato sem origem (Ora, rapaz, você,
com essa notícia, está como quem es-
ESCREVER DE CARREIRINHA cutou o chocalho sem ver a égua).
(exp.) - escrever sem titubear; escrever
cursivamente. ESFIAPAR (v.) - desfazer-se em fiapos;
desfiar-se (O menino puxou a ponta da
ESCRITINHO (conj.) - como; igual; tal peça de tricô e esfiapou-a todinha).
e qual; escrito; direito; direitinho; é ver
(As aguilhoadas no couro duro do ESFRIAR (v.) - perder o interesse (No
touro eram escritinho tiros de vinte-e- início, Juca estava muito animado com
dois). o negócio, mas depois ele esfriou).
165
ESGUIAR (v.) - tomar outro rumo; es- ESPALHAR (v.) - bronquear; dar o
gueirar; desguiar. contra (Quando ele chegou e viu a festa
cheia de intrusos, espalhou com todo
ESGULEPADO (adj.) - mal-vestido; mundo).
desalinhado.
ESPALHO (s.) - bronca; reprimenda;
ESMAGRECER (v.) - emagrecer. carão; pito.
ESMERIL-DA-FRANÇA (s.) - pessoa ESPANAR (v.) - perder os frisos do
muito gulosa, de apetite insaciável (Es- parafuso, da rosca ou da porca; afolozar
ses meninos de Dante parecem esmeril- (A prateleira não segurava mais, por-
da-França, pois não há comida que que a rosca espanou, e o parafuso ficou
chegue). frouxo).
ESMERILHAR (v.) - usar imoderada- ESPANTA-COIÓ (s.) - espécie de
mente e sem cuidado um objeto, veículo bombinha de São João.
ou máquina (O pai viajou, e o rapazola
ficou esmerilhando o carro). ESPAROLADO (adj.) - amalucado;
aluado.
ESMILINGÜIR (v.) - V. desmilingüir.
ESPATIFAR (v.) - quebrar-se algo em
ESMIRRADO (adj.) - desnutrido; pe- pedacinhos (Quando o copo de vidro
queno; miúdo; raquítico. caiu espatifou).
ESMOLAMBADO (adj.) - roto; ves- ESPARRAMAR (v.) - dispersar; espa-
tido em molambo; em andrajos (Quando lhar desordenadamente (Os foliões, de-
encontraram o doido, que estava su- pois da catira, esparramarram pelo ter-
mido, estava todo esmolambado). reiro).
ESMOLER (s.) - pedinte; mendigo; que ESPARRELA (s.) - modalidade de ar-
vive da caridade pública (ao contrário do madilha de apanhar pássaros pequenos.
sentido geral, que é exatamente quem dá
esmolas); esmoléu. ESPECAR (v.) - parar de repente; esco-
rar; estacar; servir de espeque (Quando
ESMOLÉU (s.) - V. esmoler. viu a onça no pé-de-pau, o cavalo espe-
cou).
ESPAÇO (adj.) - diz-se do boi ou vaca
cujos chifres são muito abertos (quando ESPECULA (s.) - pessoa que pergunta
são fechados, diz-se que é combuco). muito.
ESPADA-DE-SÃO-JORGE (s.) - V. ESPECULAR (v.) - perguntar demais,
língua-de-sogra. geralmente o que não é do interesse;
indagar (Deixe de especular e faça o
ESPADUADO (adj.) - diz-se do animal que eu mando!).
que capenga em razão de luxação na
espádua. ESPELUNCA (s.) - qualquer estabeleci-
mento comercial vagabundo (Não tenho
166
coragem de ir comer naquela espe-
lunca). ESPICHADO (s.) 1. deitado, em
decúbito dorsal (Encontraram o pobre
ESPENDURAR (v.) - dependurar. do Guducha espichado na estrada); 2.
couro de boi ainda sem curtir.
ESPEQUE (s.) - V. descanso.
ESPICHA-ENCOLHE (s.) - indecisão;
ESPERA (s.) - 1. tocaia que se monta conversa que não ata nem desata (En-
nos locais onde a caça costuma se ali- quanto ele estiver naquele espicha-en-
mentar ou beber, com o fim de matá-la. colhe, nada se resolve).
2. V. descanso.
ESPICHAR (v.) - V. esticar.
VEJA TAMBÉM:
Na boca de espera. ESPICHAR AS CANELAS (exp.) -
morrer.
ESPERANÇA (s.) - espécie de inseto
semelhante a um gafanhoto, de cor ESPICHAR FUMAÇA (exp.) – dispa-
verde, que significa bons prenúncios; rar arma de fogo.
louva-a-deus.
ESPICHO (s.) - pequena haste, geral-
ESPERAR (v.) - ficar de emboscada no mente de taboca, taquara ou bambu, com
ponto de alimento ou de bebida da caça que se espicha a carne para secar-se ao
para surpreendê-la. sol.
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ESPINGARDA-QUEIXO-DE- A minha caridade é vossa.
BARRO (s.) - V. espingarda chum- Aqui estão as três pessoas da SS. Trin-
beira. dade.
O que vós dizeis não volta atrás,
ESPINHA (s.) - dermatose dolorosa ca- Nas três pessoas da SS. Trindade
racterizada por um pequeno olho que Aqui está a caridadea e a virtude,
ocorre na face. Quando ocorre no olho Este filho da Virgem Maria,
denomina-se bonitinha e terçol (V.). Os Fulano há de ir melhorando,
remédios mais usados são (todos para De hora em hora,
uso local): cera de ouvido (quando in- De minuto em minuto,
feccionado); esfregar uma aliança de De dia em dia”.
ouro num pano até aquecer e em seguida
pôr sobre a espinha; excremento de gali- A dieta é imprescindível para se alcançar
nha, quando mole, aquecido; folhas de a cura., pois sem a sua observância não
pimenteira aquecidas em banha de gali- surtirá efeito a benzeção. Durante oito
nha aplicadas sobre a espinha. dias o paciente não pode comer qualquer
comida com gordura, frutas ácidas, coi-
ESPINHAÇO (s.) - coluna vertebral. sas cruas, carne mal assada ou qualquer
coisa de difícil digestão.
ESPINHEL (s.) - armadilha de pesca
consistente de uma extensa linha com ESPÍQUER (s.) - locutor de rádio, apor-
vários anzóis presos, espaço a espaço, tuguesamento do inglês speaker (O me-
colocada à noite para ser colhido o resul- lhor espíquer que apareceu foi o Valdir
tado no dia seguinte. Amaral).
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ESPOLETA (adj.) - traquinas; peralta; ESQUENTADO (s.) - nervoso; zan-
espora. gado; neurastênico.
ESPURUCAR (v.) - beliscar; tirar pe- ESTACA (s.) - pedaço de pau, fincado
dacinhos (Quando chegou a hora da no chão, para demarcação ou qualquer
festa do aniversário, os meninos já ha- outra utilidade.
viam espurucado o bolo, que ficou
quase sem a cobertura). ESTADO INTERESSANTE (exp.) -
gravidez.
ESQUECIDO (adj.) - que perdeu a sen-
sibilidade ou que ficou paralítico (De- ESTAFETA (s.) - pessoa encarregada
pois do derrame, ele ficou com um lado de levar correspondências a cavalo nos
esquecido). locais onde inexistia o correio; carteiro.
169
sido desprezado pela pessoa amada
ESTALAR (v.) - estrelar (ovos). (Você está com dor de cotovelo, não sei
se é porque perdeu o emprego ou a na-
ESTALEIRO (s.) - varal constituído de morada).
paus suspensos em forquilhas altas, onde
se dependuram as mantas de carne para ESTAR COM O BURRO NA SOM-
se secarem ao sol. BRA E O RABO N’ÁGUA (exp.) -
levar vida tranqüila (Não fique se la-
ESTAMBO (s.) - estômago. mentando, pois você está com o burro
na sombra e o rabo n’água).
ESTAMPA (s.) - 1. aparência; aspecto;
presença (O cavalo tinha estampa, e só ESTAR COM O DIABO NO CORPO
foi vendido por isto, pois não valia nada (exp.) - estar furioso, insuportável (Na-
pra sela). 2. figura de santo ou de pessoa quele dia, o patrão parecia que estava
para se levar no bolso; santinho. com o diabo no corpo).
ESTAPEAR (v.) - bater; dar tapas (Eu ESTAR COM OS DIAS CONTADOS
quero lá conversa com essa anta? Qual- (exp.) - estar para morrer; estar para
quer coisa, já estapeia a gente). acontecer algo (Com a chegada do pa-
trão, a folga daquele moleque está com
ESTAR CARECA DE (exp.) - estar os dias contados).
cansado de (Todo mundo está careca de
saber que rico não vai para a cadeia). ESTAR COM TUDO E NÃO ESTAR
PROSA (exp.) - V. estar com a bola
ESTAR COM A BOLA CHEIA (exp.) cheia.
- estar em posição de destaque (Com
essa nomeação ele está com a bola ESTAR DE BEM (exp.) - manter boas
cheia). relações com alguém (Apesar das bri-
gas, eles estão de bem).
ESTAR COM A CACHORRA (exp.) -
estar furioso, mal-humorado (Não mexa ESTAR DE MAL (exp.) - estar de rela-
com o Tibúrcio, porque hoje ele está ções cortadas com alguém (Eles estão de
com a cachorra). mal desde que desfizeram o negócio).
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ESTAR DERRUBADO (exp.) - estar ESTAR NO CAMBÃO (exp.) - estar
doente ou muito cansado. subjugado; viver submetido (Depois do
casamento, Rodoval está no cambão).
ESTAR DURO (exp.) - estar sem di-
nheiro. ESTAR NO MATO SEM CA-
CHORRO (exp.) - encontrar-se em si-
ESTAR EM TODAS (exp.) - não faltar tuação embaraçosa (Agora eu estou no
a nenhum evento (Esse Humberto está mato sem cachorro, pois o dinheiro em
em todas: nunca vi festa em que ele não que eu confiava não saiu).
comparecesse).
ESTAR NO MUNDO DA LUA (exp.)
ESTAR ESPERANDO (exp.) - estar - estar muito distraído, sem prestar aten-
grávida (Ainda não tenho filhos, mas ção a nada (Josué parece estar no
minha esposa está esperando). mundo da lua, pois não se lembra de
nada que tem a fazer).
ESTAR MORDIDO (exp.) - estar
muito aborrecido (Não sei por que você ESTAR NO PAPO (exp.) - estar ganho
está mordido comigo). (Com 3 x 0 e faltando um minuto para
terminar a partida, o técnico sentiu que
ESTAR NA ÁGUA (exp.) - estar be- o campeonato estava no papo).
bendo sem parar (Não adianta contar
com Chichico quando ele está na ESTAR NO PAU DE BAIXO (exp.) -
água). estar em desvantagem (Vigilato, com a
mudança da chefia, está agora no pau
ESTAR NA CARA (s.) - ser evidente de baixo).
(Estatava na cara que ele não iria pa-
gar a dívida). ESTAR NOS TRINQUES (exp.) - es-
tar elegante; estar vem vestido.
ESTAR NA ONDA (exp.) - estar na
moda. ESTAR NUMA BOA (exp.) - estar
tranqüilo, satisfeito e sem problemas
ESTAR NA SUA (exp.) - estar despreo- (Com o salário bom e em dia, ele estava
cupado (Ele está na sua: a política que numa boa).
se dane).
ESTAR PITIMBADO (exp.) - estar em
ESTAR NA FOSSA (exp.) - estar situação difícil na vida; estar na pinda-
muito deprimido (Não aborreça a me- íba.
nina, pois ela está na fossa).
ESTAR POR DENTRO (exp.) - estar
ESTAR NA ONDA (exp.) - estar na atualizado com algum assunto (A única
moda. coisa que ele está por dentro é de fute-
bol).
ESTAR NA PINDAÍBA (exp.) - estar
em difícil situação financeira. ESTAR POR FORA (exp.) - estar de-
satualizado com um assunto (Estou por
171
fora das emendas que estão propondo ESTICAR (v.) - alongar; espichar.
no Congresso).
ESTICAR AS CANELAS (exp.) -V.
ESTAR POR VER (exp.) - ainda não espichar as canelas.
ter visto (Estou por ver pessoa mais
decente do que ele). ESTICAR O PASSO (exp.) - andar
mais depressa; apertar o passo; apres-
ESTAR POUCO SOMANDO (exp.) - sar-se.
mostrar-se indiferente (Estou pouco
somando que ela passe fome ou não). ESTILINGUE (s.) - V. baladeira.
172
ESTORVAR (v.) - atrapalhar; criar ESTRANJA (s.) - exterior; estrangeiro.
obstáculo (Muito ajuda quem não es-
torva). ESTREBUCHAR (v.) - sofrer a agonia
da morte.
ESTOU ACORDADO (exp.) - expres-
são dita em tom de precaução, mos- ESTRELA (adj.) - animal (bovino ou
trando que a pessoa está de olho vivo em eqüino) que tem uma mancha branca na
determinada situação (Estou acordado testa; estrelo (Você me pegue aquele boi
para essas conversas de vendedor). estrela e traga para o curral amanhã).
173
precise curvar-se para roçar; 2. coisa ESTUPOR (s.) - congestão; paralisia
estranha; buzuleta; trapizonga. repentina, quando o paciente não reage
aos estímulos externos, embora não te-
ESTROVO (s.) - parte do cabresto que nha perdido a consciência. O remédio
fica sob o queixo do animal, onde co- mais recomendado é o chá de calome-
meça o látego. lano.
ESTUDAR (v.) - dormir, o animal (bo- ESVÃO (s.) - espaço entre o telhado e o
vino, eqüino ou muar) de pé (O jegue forro ou entre o chão e o soalho.
velho estava ali na remanga estu-
dando). EU ACHO É POUCO! (exp.) - expres-
são para dizer que a alguém achou bom
ESTUFAR (v.) - crescer; inchar; tomar ocorrer um fato previsível, depois de
a forma abaulala (É um perigo você co- anteriormente ser a pessoa avisada de
mer essas coisas enlatadas que vêm que não ia dar certo (Eu bem disse que
com as latas estufadas). você iria tomar prejuizo naquele nego-
cio. Eu acho é pouco!).
ESTUMAR (v.) - açular cachorro para
avançar sobre alguém ou alguma coisa; EULÂMPIO (s.) - correia larga da cilha
iscar (Ele estumou os cachorros no boi que passa por baixo da barriga da monta-
acuado, mas de nada adiantou). ria para firmar a sela ou a cangalha;
chincha; lampo.
174
EXCOGITAR (v.) - imaginar; cogitar.
EUROPEU (s.) - espécie de capim na-
tivo, semelhante à grama; agreste; provi- EXCOMUNGADO (adj.) - V. danado.
sório.
EXEMPLAR (v.) - castigar severa-
É VER, ERA VER (exp.) - V. direito; mente para servir de exemplo.
direitinho; escrito; escritinho (O pipoco
dos foguetes é ver tiro de carabina). EXPROMENTAR (v.) - experimentar.
175
-F-
Abaixar o facho.
FACA (s.) - qualquer arma branca em
geral. FAGUEIRO (adj.) - tranqüilo; folgado;
alegre; despachado; lampeiro.
VEJA TAMBÉM:
Costurar na faca FAÍSCA (s.) - 1. raio; relâmpago. 2.
Dar murro em ponta de faca pessoa esperta e diligente.
Enfiar a faca.
FAISCADOR (s.) - garimpeiro que lava
FACADA (s.) - pedido de dinheiro em- o cascalho.
prestado.
FAISCAR (v.) - lavar o cascalho no
FACÃO (s.) - cada uma das saliências garimpo para encontrar o ouro ou a pe-
que atravessam a estrada de terra e fa- dra preciosa..
zem trepidar o veículo; camaleão (2).
FAIXA (s.) - amigo; colega; compa-
FACÃO RABO-DE-GALO (s.) - espé- nheiro.
cie de facão cujo cabo tem a forma
curva, imitando o rabo do galo. FAJUTO (adj.) - falsificado; de má
qualidade ou procedência.
VEJA TAMBÉM:
Amarrar o facão. FALADO (adj.) - de má fama (Essa
menina, depois que desmanchou o noi-
FACEIRO (adj.) - pelintra; satisfeito. vado ficou muito falada).
FACHADA (s.) - aparência; rosto. FALAR (v.) - pedir (Ele sempre vem
aqui falar dinheiro emprestado).
VEJA TAMBÉM:
De fachada. FALAR ARRASTADO (exp.) - falar
com dificuldade (No leito de morte, o
FACHO (s.) - 1. amarrado de capim Zezuíno falava muito arrastado).
seco para servir de tocha; archote. 2.
maneira de pescar, também denominada FALAR DIFÍCIL (exp.) - falar corre-
de promombó, que consiste em levar na tamente empregando termos não muito
canoa uma luz bem forte; os peixes, as- usuais (Depois dos estudos na capital,
sanhados, pulam dentro da canoa. Zequinha chegou falando difícil).
VEJA TAMBÉM:
176
FALAR POR TRÁS (exp.) - fazer co- FANISCO (s.) - 1. pequena quantidade
mentários maldosos sobre uma pessoa (Ele não tinha um fanisco de medo de
ausente. visagem). 2. pessoa magricela e de
baixa estatura (Um fanisco de gente
FALAR SOZINHO (exp.) - ser aban- igual ao Fonso não agüentava o rival).
donado (Depois que tomaram tudo do
pobre do Chico, os irmãos deixaram-no FARDA (s.) - uniforme escolar.
falando sozinho).
FAREJADOR (adj.) - cachorro que
FALATÓRIO (s.) - diz-que-diz-que. fareja.
177
parte dos que chegam para jogar é de FAVAS CONTADAS (s.) - aconteci-
faroleiro). mento ou fato tido como certo e induvi-
dável (O lucro no negócio são favas
FARRANCHO (s.) - V. cambão (2). contadas).
FARRA (s.) - divertimento com bebe- FAZEÇÃO (s.) - fabricação (Na faze-
deiras, geralmente com licenciosidades. ção de farinha é que o pessoal mais
engorda).
FARREAR (v.) - divertir-se em bebe-
deiras; fazer farra. FAZENDA (s.) - tecido.
FARRISTA (s.) - pessoa que gosta de FAZER (v.) - preparar, tirando a casca
farra. (Tive que ir à roça fazer duas quartas
de arroz para entregar).
FARROMA (s.) - prosa; falsa valentia;
farolagem.. FAZER A CAVEIRA (exp.) - difamar;
falar mal de alguém.
FARTA-FAMÍLIA (s.) - espécie de
banana grande; banana marmelo; três- FAZER ÁGUA (exp.) - fracassar; ma-
quinas. lograr (Esse plano econômico parece
que começou a fazer água).
FARTO (adj.) - V. enfarento.
FAZER A MALA (exp.) - aproveitar-se
FATO (s.) - vísceras; intestinos. para bamburrar; locupletar-se.
178
FAZER CRUZ NA BOCA (exp.) -
FAZER CARETA PRA CEGO (exp.) passar fome (Vocês comem tudo de uma
- desperdiçar tempo; dar milho a bode. vez e depois ficam fazendo cruz na
boca).
FAZER CARIDADE (exp.) - o fato de
a mulher ceder sexualmente. FAZER CU DOCE (exp.) - desdenhar;
fazer bico doce (Só porque achou negó-
FAZER CERA (exp.) - V. cozinhar o cio na sua casa ele fica fazendo cu
galo. doce, querendo preço maior).
FAZER CHACRINHA (exp.) - con- FAZER DAS SUAS (exp.) - ser acos-
versar com turma de amigos (À noite a tumado a fazer coisas erradas ou peralti-
gente ficava fazendo chacrinha até na ces (No fim da semana lá vêm os meus
hora de dormir). cunhados aqui pra casa pra fazer das
suas).
FAZER CINEMA (exp.) - fingir; fazer
fita (Quá! Ele não vai comprar fazenda FAZER DAS TRIPAS CORAÇÃO
coisa nenhuma! Está só fazendo ci- (exp.) - fazer o impossível; envidar to-
nema). dos os esforços para realizar algo.
FAZER E ACONTECER (exp.) - fazer nito com o que não é seu; fazer vênia
o que quer sem ser incomodado (Por ser com chapéu alheio.
filho do delegado, ele fazia e acontecia).
FAZER FIGA (exp.) - provocar inveja
FAZER FAROL (exp.) - ostentar; (Depois que ele comprou o carro novo,
mostrar; contar vantagem (Pediu em- fica fazendo figa).
prestado o carro do amigo só pra fazer
farol diante das garotas). FAZER FITA (exp.) - V. fazer cinema.
FAZER FESTA (OU FEIRA) COM FAZER FOGO (exp.) - atirar com arma
CHAPÉU ALHEIO (exp.) - fazer bo- de fogo.
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FAZER FORMA (exp.) - fingir que faz partida, os evitará. Dentre tais crenças,
algo; ostentar; dar a entender (A gente existem as seguintes:
pensa que ele trabalha, mas ele fica só
fazendo forma). “Não se deve entrar em cemitério com
ferida, senão ela nunca se sarará”;
FAZER FUNÇÃO (exp.) - aprazer-se;
divertir-se com (A roceirada, nos dias “Cair açúcar na toalha é sinal de
de mutirão, fazia função com o serviço morte”;
de foice e enxada).
“Faz mal comer ovo e tomar leite”;
FAZER GATO E SAPATO (exp.) -
fazer o que bem entender dos outros (A “Deve-se usar um galho de pinhão roxo
mulher de Pedrito fazia dele gato e sa- dentro de casa para evitar quebranto e
pato). mau-olhado”;
FAZER HORA (exp.) - 1. zombar de “Não se deve lavar prato à noite, senão
alguém (Esse camarada anda fazendo a pessoa morre pobre que nem Jó”;
hora com minha cara, mas isto não vai
prestar). 2. deixar passar o tempo (Vou “Só se deve vender sal nas bodegas du-
ficar fazendo hora até a sessão come- rante o dia, pois vender sal à noite
çar). atrasa a vida”;
FAZER MÁ AUSÊNCIA (exp.) - falar “Dormir com os pés virados para o lado
mal de alguém pelas costas (Esse sujei- da porta não presta, pois a pessoa pode
tinho é danado pra fazer má ausência amanhecer morta”;
dos outros).
“Passar por baixo de escada dá azar”;
FAZER MAL (exp.) 1. desonrar; des-
virginar (Quando o pai descobriu que “Queimar casca de ovo dá dor no ová-
ele fizera mal a sua filha, foi direto ao rio da galinha”;
delegado). 2. em se tratando de alimen-
tos, há uma série de combinações de “Espingarda que matou gente, se dei-
alimentos que o sertanejo reputa indi- xar de boca virada pra baixo pinga
gesto, como “leite com manga”, “ovo sangue ou uma água vermelha que é a
com manga” etc. Isto decorre da época mesma coisa que sangue”.
dos escravos, quando os senhores, para
evitar que os escravos consumissem o FAZER MÉDIA (exp.) - agradar com
leite, alardeavam que sua mistura com a o objetivo de auferir vantagem (Só foi o
manga, que era abundante e muito con- novo chefe chegar, ele passou a fazer
sumida pelos cativos, causava doenças, e média com ele).
assim por diante. Também está dentro do
conceito de fazer mal certas crenças, FAZER MEDO (exp.) - ser arriscado;
cuja inoservância, segundo o sertanejo, poder acontecer (Você pode pedir di-
acarretará prejuízos, males, doenças e nheiro emprestado a Joaquim; faz
perigos, e cuja observância, em contra- medo é ele não estar em casa ou,
180
mesmo estando, não estar prevenido (Fiz uma fezinha no bicho e ganhei o
com o numerário). dinheiro da feira).
FAZER MOA (exp.) - fazer grupinho FAZER UM BICO (exp.) - ter um tra-
para comentar fatos (No tempo da Re- balho adicional para complementar a
volução, ninguém se aventurava a fazer renda; fazer um biscate.
moa, pois era riscoso ser preso).
FAZER VENENO (exp.) - fazer intriga
FAZER NENÉM (exp.) - praticar o ato (Quem faz veneno geralmente paga
sexual. com a própria língua).
181
FEBRE QUARTÃ (s.) - febre intermi- junto com os grãos de café, não só para
tente que se repete a cada quatro dias. inteirar, mas por ser excelente para os
males do fígado; mata-pasto. Torrado
FEBRE QUINTÃ (s.) - febre intermi- juntamente com o café, tem ampla utili-
tente que se repete a cada cinco dias. zação na medicina caseira, especial-
mente para anemias, erisipela, dor de
FEBRE SETENA (s.) - febre que se barriga, males do estômago e do fígado,
manifesta a cada sete dias. barriga-d’água, hemorragia, indigestão,
maleita, prisão de ventre, reumatismo e
FEBRE TERÇÃ (s.) - terçã; febre que tosse com expectoração.
se manifesta de três em três dias.
FEDER A CUEIRO (exp.) - ser inex-
FECHAR A CARA (exp.) - mostrar-se periente; feder a mijo (Não é você, que
insatisfeito (Quando o moleque xingou ainda está fedendo a cueiro, que vai
o coronel, ele fechou a cara). querer me dar lições!).
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FEITIÇO (s.) - macumba; coisa feita; FERIDA (s.) - qualquer ferimento in-
urucubaca; curu. O homem do interior feccionado. As feridas externas, notada-
crê piamente no sobrenatural e no mís- mente as crônicas, são curadas colo-
tico, creditando a pessoas dotadas de cando-se-lhe em cima um emplastro
faculdades especiais fatos como a situa- feito de mandioca ralada, misturada com
ção difícil em que certas pessoas inex- manipueira (o caldo resultante da man-
plicavelmente entram, seja no aspecto dioca espremida). Outros remédios
psíquico, seja quanto à saúde. Assim, muito usados: emplastro de folhas de
elegeu uma série de preventivos contra o mastruz com óleo de coco; lavar a ferida
mau-olhado e os feitiços em geral: para com a infusão de raiz de fedegoso; pas-
reabilitar pessoas doentes em decorrên- sar o lodo esverdeado que se forma nas
cia de feitiço, receita folhas e resina de águas paradas; passar leite de pinhão,
alecrim queimadas como defumador famoso cicatrizante de feridas renitentes.
para afugentá-lo; a raiz da guiné colhida Quando a ferida é proveniente de arma
na madrugada da Sexta-feira da Paixão e branca ou de fogo, costuma-se dar ao
bebida em jejum, em infusão, na água ou paciente uma xícara de manteiga ou de
na pinga afugenta feitiços; também a raiz toucinho derretido e sem sal. Os raizei-
da guiné colocada atrás da porta previne ros prescrevem a raiz de favela para
o dono da casa contra eventuais males facadas, tiro, estrepada ou queda. Para
que uma visita duvidosa poderá trazer- tanto, lava-se a casca, esfregando-se
lhe. bem; em seguida, bebe-se um bocado da
água da lavagem e com o resto lava-se a
FEITIO (s.) - maneira; forma; jeito; ferida. A casca da favela, em infusão,
aparência (Era um bicho assim no feitio serve também para cicatrizar ferimentos.
de uma raposa). Ao se receber um corte, costuma-se pôr
sobre ele uma pitada de pó de café ou
FEITO (conj.) - como (Ele ficou lá excremento de vaca, que são tidos, em
feito bobo esperando a gratificação). todo o sertão, como excelentes anti-he-
morrágico e cicatrizantes. As meizinhas
FEITO A MACHADO (exp.) - feito de prescritas para feridas penetrantes ser-
qualquer jeito, grosseiramente; feito nas vem para quaisquer traumatismos, desde
coxas; chambuqueiro. que tenham provocado sangue.
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FERRADO (adj.) - 1. marcado com Linha-de-ferro
ferro quente. 2. em situação difícil (Você Malhar em ferro frio
agora está é ferrado, companheiro!). Pé-de-ferro
Testa-de-ferro
FERRAMENTA (s.) - 1. talher (Na Trem-de-ferro.
hora do almoço, ali estavam os pratos
de esmalte e as ferramentas para os FERROADA (S.) - 1. chuçada com o
foliões). 2. arma branca; ferro (2). . ferrão (1). 2. pontada de dor.
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2. (v.) vender fiado (Se você continuar FICAR BOTINA (exp.) - zangar-se;
fiando, acabará se quebrando). 3. te- ficar muito zangado; ficar buzina; ficar
cer. tiririca.
FICAR DE QUEIXO NA MÃO (exp.) - ficar admirado; ficar decepcionado com uma
situação inusitada (Com o ato do menino, o pai ficou de queixo na mão).
FICAR EM PÉ NAS COXAS (exp.) - perder tudo o que possuía ou ser logrado num in-
tento, quando contava que tudo ia dar certinho.
FICAR NO BARRICÃO (exp.) - ficar solteirona; ficar para titia; ficar no caritó; enca-
lhar (1).
FICAR NO MATO SEM CACHORRO (exp.) - ficar sem ajuda; ficar em situação
difícil (Agora, que o pagamento atrasou, fiquei no mato sem cachorro).
FICAR O DITO PELO NÃO DITO (exp.) - considerar sem efeito o que se havia
combinado.
185
FICAR POLÍTICO (exp.) - indispor-se (Com o fim do casamento dos filhos, os dois
coronéis ficaram políticos um com o outro).
FICAR POR CONTA (exp.) - 1. ficar às expensas de alguém (Quando fomos visitar
Aracaju, ficamos no hotel por conta de amigos). 2. irritar-se (Ao receber a notificação
do cartório, o velho ficou por conta).
FICAR UMA ONÇA (exp.) - zangar-se; virar uma onça; ficar tiririca.
FICHE (adj.) - firme; fixo; consistente (A cerca de aroeira é muito mais fiche do que a
de vinhático).
FIGA (s.) - espécie de amuleto no formato de um braço com a mão fechada, que se ata
no punho da criança para afastar mau-olhado e trazer sorte.
VEJA TAMBÉM:
Fazer figa.
FIGURAR (v.) - convidar uma moça para dançar (Quando ele figurou Maria, ela disse
que não sabia dançar).
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FIGURINHA DIFÍCIL (s.) - 1. pessoa difícil de ser localizada (Por onde você andou,
figurinha difícil?). 2. pessoa exótica (Aquela figurinha difícil nem parecia ser um juiz:
franzino, risonho, óculos fundo-de-garrafa e contador de piadas).
FILAR (v.) - aproveitar-se de outra pessoa para conseguir comer, beber ou fumar de
graça; goderar; serrar.
FILHOTE (s.) - é o maior peixe de couro que existe, muito encontradiço nos rios
tocantinenses, que costuma atingir 5 palmos (a partir desse tamanho até 12 palmos, é
chamado de piratinga e de 12 palmos em diante, piraíba); V. fiote.
FIM DA PICADA (exp.) - 1. coisa desagradável (O aparecimento deste mal foi para
mim o fim da picada). 2. pessoa inconveniente; sem educação (O mal-educado do
Teonílio como chefe da disciplina é o fim da picada).
VEJA TAMBÉM:
Dar fim
O fim da picada.
FINCA (s.) - brincadeira infantil utilizada normalmente nos períodos chuvosos, em que o
solo é mais mole, e consiste em uma vareta de ferro com ponta, que é jogada para fincar
no chão, de modo a que cada parceiro busca cercar o outro.
FINCAR O PÉ NO MUNDO (exp.) - ir-se embora; fugir (Logo que ele recebeu sua in-
denização, ele fincou o pé no mundo).
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FINO (adj.) cheio de suscetibilidade; melindroso (Não é aconselhável brincar com o
doutor Mundico, que ele é muito fino e se zanga).
VEJA TAMBÉM:
Tirar um fino.
FINÓRIO (s.) - malandro; velhaco; vigarista (Naquele lugar ninguém duvidava de que
o rapaz era muito finório, e o golpe que deu no banco não surpreendeu ninguém).
FINURA (s.) - melindre; suscetibilidade (Não tolero essa gente cheia de finura, que se
abespinha por qualquer coisinha).
FIO DA MEADA (s.) - início (Com aquela confusão, ficava difícil achar o fio da me-
ada).
FIO DENTAL (s.) - espécie de maiô ou biquíni cuja parte traseira entra na regada.
FIOFÓ (s.) - ânus (Não se deve contar com o ovo no fiofó da galinha).
FITA (s.) - 1. filme de cinema. 2. fingimento (Acho que ele está é com fita).
VEJA TAMBÉM
Fazer fita.
FLOR (s.) - superfície (Tanto se achava peixe quase à flor d’água, como ouro na flor
da terra).
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FLOREAR (v.) - enfeitar.
VEJA TAMBÉM:
Não ser flor que se cheire.
VEJA TAMBÉM:
Chofer-de-fogão
Do fogão encerado.
FOGARÉU (s.) - 1. fogo intenso; incêndio incontrolável (Na época da seca, quando me-
nos se espera, o fogaréu toma conta do capinzal, que é escrito pólvora pra pegar fogo).
2. procissão noturna que se realiza em determinados locais na época da Semana Santa,
iluminada por fachos de fogo, simbolizando a captura de Jesus no Jardim das Oliveiras.
FOGO (s.) - 1. apetite sexual (Essas mocinhas de hoje vivem num fogo medonho). 2.
(adj.) difícil; custoso (Hoje, viver de salário é fogo!). 3. bebedeira; embriaguês (Eles só
vivem de fogo).
FOGO-APAGOU (s.) - espécie de rolinha de cor cinza chuviscada, cujo canto lhe em-
presta o nome; fogo-pagou; rolinha.
FOGOIÓ (adj.) - pessoa, geralmente sardenta, de cabelos muito ruivos; sarará; laranjo.
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FOGO-MORTO (s.) - lambugem (Comprei o gado de Mané Chico, mas só paguei o
gado grande, pois os bezerros entraram como fogo-morto).
VEJA TAMBÉM:
Atiçar fogo
Brincar com fogo
Comer fogo
Cuspir fogo
Dar fogo
Fazer fogo
Mentir fogo
Não pagar nem fogo na roupa
Negar fogo
Pau-de-fogo
Pôr a mão no fogo
Puxar fogo
Ser fogo
Ser fogo na roupa.
FOGOSO (adj.) - 1. sexualmente ativo acima da média. 2. diz-se do animal que dispensa
chibata ou esporas para andar rápido.
FOGUEIRA (s.) - 1. coivara; fogo que se ateia na madeira. 2. espécie de brincadeira ju-
nina, que consiste em cortar uma árvore fina e alta e fincá-la na porta de casa, com os ga-
lhos carregados de prendas amarradas (guloseimas, biscoitos, brinquedos etc.), em redor
da qual se acende uma fogueira, que vai consumindo o tronco paulatinamente, até que ela
caia, e as crianças avançam em cima para pegar as prendas. Após isto, as pessoas ficam
até muito tarde comendo batata-doce assada no borralho da própria fogueira, cujos tições
servem para saltar fogueira (V.).
VEJA TAMBÉM:
Rabo-de-foguete.
190
FOJO (s.) - espécie de armadilha que consiste de um buraco fundo, mas estreito, geral-
mente na trilha por onde o animal passa; o buraco é coberto de ramos, sobre os quais se
coloca uma isca; quando o animal pisa, a folhagem cede, e o animal cai, ficando preso ao
cair, impossibilitado de sair. É empregado principalmente para caças de tamanho maior
(antas, veados, capivaras, onças etc.).
FOLHA (s.) - lâmina (Ele levou uma tunda com a banda da folha do facão).
VEJA TAMBÉM:
Cair na folha
Novo em folha
Vira-folha.
FOLIA (s.) 1. tradicional festa religiosa que consiste em reunirem-se muitos foliões, os
quais, sob a chefia de um alferes, percorrem as localidades a cavalo, durante o giro de
quarenta dias, coletando esmolas para custeio da festa do santo. 2. farra com dança e
bebedeira (No Carnaval todo mundo cai na folia).
FOME (s.) - ganância; avidez (Ele tem fome de estudar, mas não pode pagar a escola).
VEJA TAMBÉM:
Morto de fome
Unha-de-fome
Varado de fome.
FONTE (s.) - nascente, córrego ou rio onde se lavam roupa e utensílios de cozinha e se
apanha água.
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FOQUITO (s.) - pequena lâmpada que é acionada pela pilha da lanterna; vela (2).
FORA (exp.) - lugar diferente daquele da pessoa que fala (No bar estavam o dono e dois
homens de fora).
VEJA TAMBÉM:
Cair fora
Dar um fora
De-fora-a-fora
Ir lá fora
Pular fora.
FORMIGÃO (s.) - espécie de formiga gigante, de que há uma espécie preta e outra aver-
melhada, ambas de picada extremamente dolorosa, cuja dor, no homem, permanece por
horas, trazendo muitas vezes febre e íngua, causando a morte de pequenos animais. Para
atenuá-la, o remédio é a aplicação local de amoníaco ou éter.
FORNIDO (adj.) - forte; consistente; com boa estrutura (Desta vez comprei uma ferra-
menta fornida, que agüenta o cega-machado).
FORNO (s.) - 1. construção pópria para assar pães e bolos feita de tijolo ou adobe,
dentro do qual se acende o fogo durante o tempo suficiente para adquirir a temperatura
ideal; quando está quente, retiram-se os tições, varrem-se as cinzas e colocam-se os
tabuleiros com o que deverá ser assado. 2. tacho raso de fazer farinha, podendo ser de laje
ou de ferro, como espécie de mesa, sob o qual se acende o fogo, que permanece aceso
enquanto é feita a torra.
FORQUILHA (s.) - gancho natural de madeira, em forma de “V”, que tem inúmeras ser-
ventias, como para a feitura de jiraus, camas-de-varas, estilingues etc.
FORRAR O ESTÔMAGO (exp.) - comer alguma coisa antes de ingerir bebida alcoó-
lica; quebrar o jejum.
FORRÓ (s.) - baile em que se toca todo tipo de música animada; a origem do nome
deve-se, segundo consta, dos bailes que se realizavam nas zonas portuárias, onde se toca-
192
vam determinados ritmos para os marinheiros (tango, para os argentinos; samba, para os
brasileiros; rumba e mambo, para os caribenhos, e assim por diante); quando não havia
discriminação de ritmos, mandavam tocar um ritmo para todos (ou seja, for all, em in-
glês). Como o ritmo que todos sabiam dançar era o animado, passou a pronúncia (for all,
que se pronuncia for ol) a significar o nosso forró; arrasta-pé; rala-bucho; forrobodó;
bate-chinelo.
FOSQUELETE (s.) - fósforo que produz chamas coloridas usado no São João;
corruptela de fósforo elétrico.
FRACO - 1. (adj.) pobre (Como sou fraco e não pude comprar um carro, tenho de
viajar de ônibus). 2. (s.) pendor; inclinação (Esse menino sempre teve um fraco por
sorvete).
FRANGIR (v.) - franzir; enrugar (Ao ouvir aquilo, o pai da moça frangiu a testa).
VEJA TAMBÉM:
Andar cercando frangos
Engolir frango.
FREGUÊS (s.) - qualquer pessoa não individualizada (Se o freguês chegasse na hora do
almoço não ficava com fome, que o velho Antônio era muito amigueiro).
FREIO (s.) - parte da rédea que fica no interior da boca da montaria, para obrigá-lo a
parar, constituída de uma peça de metal que passa pela boca do animal, dotada de uma
reentrância que o castiga quando é puxada e que serve também para guiá-lo.
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FREIO-DE-MÃO (s.) - mulher que fiscaliza os passos do companheiro.
VEJA TAMBÉM:
Tomar o freio.
FRESCA (s.) - vento leve e agradável (Esta tarde, apesar do calor, correu uma fresca
até agradável).
FRESCAL (adj.) - diz-se da carne retalhada e salgada e submetida a pouco tempo de sol,
de forma que ainda não se acha seca e também designa o queijo fresco.
FRIA (s.) - 1. situação difícil (Meu amigo, você precisa saber que ficar na prisão é
fria). 2. sem interesse sexual (Essas mulheres branquelas costumam ser muito frias). 3.
falsa (É preciso acabar com essa mania de gente do governo andar com carro de chapa
fria). 4. cerveja gelada; gelada (Traga uma fria e dois copos).
FRIEIRA (s.) - afecção que ocorre entre os dedos dos pés em razão da umidade. Os
remédios mais usados são os talos de mamona (carrapateira) bem quentes esfregadas
entre os dedos que estão com frieira. Também se usa colocar-se entre os dedos folhas
aquecidas de cabaceira ou sumo de folhas de cajueiro.
FRIGIDEIRA (s.) - 1. fritura; omelete (No dia daquele almoço não faltou nada: do
frango assado à frigideira, as iguarias eram muitas). 2. V. rabeira; rabinha.
FRIGORÍFICO (s.) - cavalo ou burro muito velho; o nome deve-se ao fato de que os
animais de montaria velhos e inservíveis eram comprados para, após engorda, serem
abatidos nos frigoríficos de Uberaba (De animais, a fazenda ficou com duas mulas, um
jumento e meia dúzia de frigoríficos imprestáveis).
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FROSTEIRO (adj.) - estranho; forasteiro (Naqueles dias, chegou um boi frosteiro, que
danou a botar a maloca a perder com a mania de invadir as roças).
FROUXA (adj.) 1. diz-se da mulher que tem a vagina muito larga; aguada. 2. medrosa.
3. cansada.
FROUXO (adj.) - 1. covarde; medroso (Deixe de ser frouxo, rapaz, e enfrente o ho-
mem!). 2. cansado (Trabalhei o dia inteiro no pesado, que estou frouxo).
FRUTEIRA (s.) - recipiente sem tampa para se guardar frutas. 2. árvores frutíferas
domésticas (Na fazenda dele o quintal era cheio de fruteiras).
FUÁ (s.) - corre-corre; confusão; festa; grande atividade (No fuá da festa, ela perdeu o
menino no meio de tanta gente).
FUBENTO (adj.) - desbotado e gasto pelo uso (Ele andava vestido numa calça velha
fubenta, mas sempre limpinha).
FUÇAR (v.) - revirar com o focinho; remexer (Ele ficou fuçando os arquivos antigos,
até que encontrou uma certidão que lhe assegurou a herança).
FUÇAÇÃO (s.) - ato de fuçar (Era preciso pôr termo à fuçação de porco na roça, caso
contrário não sobraria uma raiz de mandioca).
195
FULEIRO (adj.) - pessoa ou coisa imprestável (Quem diz que é importante não anda
com umas roupas fuleiras igual às dele).
FUMO-DE-CORDA (s.) - fumo que é vendido aos metros e que vem enrolado em
bobinas rústicas.
VEJA TAMBÉM:
Levar fumo.
VEJA TAMBÉM:
Fazer função.
FUNDA (s.) - 1. espécie de arma rústica, semelhante a uma estilingue sem o gancho,
constituída de dois barbantes; cujas pontas são unidas por um pedaço de couro, onde se
coloca uma pedra; após continuados giros pelas outras pontas, uma delas é solta, e a
pedra é açoitada. 2. V. culhoneira; saqueira; sunga.
FUNDURA (s.) - profundidade (Em certas partes, o rio Tocantins é de uma fundura
medonha).
FUNGAR (v.) - respirar, expirando e inspirando com barulho (Ele fungava muito
quando ficava nervoso).
FURÃO (adj.) - 1. intrometido; entrão. 2. Virador; pessoa que faz de tudo para ganhar
dinheiro.
196
FURUNDUM (s.) - doce de mamão com rapadura.
FUSSURA (s.) - fressura; a língua, a traquéia e o bofe do boi, extraídos juntos; bofes (Da
fussura de porco faz-se um excelente sarapatel).
FUTRICA (s.) - disse-me-disse; fofoca (Em cidade pequena existe muita futrica).
FUZIL (s.) - peça do artifício que consiste em um pedaço de ferro (geralmente feito do
resto de um facão), com o qual se produz a faísca na pedra-de-fogo para incendiar a isca.
197
-G-
GABINA (s.) - cabine; lugar, no cami- de garra, que antigamente designava a
nhão, onde viaja o motorista; boléia (Na lepra).
gabina ele só carregava mulher; ho-
mem, se quisesse, que fosse na carroce- GAFEIRENTO (adj.) - V. gafento.
ria)
. GAFENTO (s.) - pessoa que tem ga-
GABIROBA (s.) - frutinha rasteira de feira; leproso; gafeirento; lázaro.
sabor azedo, semelhante ao araçá, típica
do campo; guabiroba. GAGÁ (adj.) - decrépito; senil (Quando
viram que o pai estava gagá, trataram
GABOLA (s.) - fanfarrão; contador de de interditá-lo, senão ele iria dilapidar
vantagem; garganta. o patrimônio da família).
GABOLICE (s.) - ato de contar vanta- GAIOLA (s.) - caminhão dotado de car-
gem; fanfarronice. roceria própria para transportar gado.
198
grandes chifres em forma de galho, que GALOADO (s.) - V. feijão galoado.
habita os gerais e exala forte cheiro. 2.
mau cheiro exalado pelas axilas. 3. no GALO-CEGO (s.) - diz-se do animal ou
Sudeste, é o partidário do partido polí- da pessoa caolha ou que só enxerga com
tico oposto ao PMDB. um dos olhos (Depois que fechei o ne-
gócio é que vi que o cavalo era galo-
GALHO (s.) - complicação; problema cego).
(Eu bem que disse que aquele assunto
ia dar galho). GALO-DE-JANEIRO (s.) - pessoa
valente, que se irrita facilmente (Deus
GALHO DE PAU (s.) - galho de ár- me livre de ir no tampo daquele galo-
vore. de-janeiro!).
199
para dar lavagem aos porcos ou para se
labutar na cozinha. GARGALHEIRA (s.) – coleira de ferro
com que se prendiam os escravos.
GAMELEIRA (s.) - árvore frondosa de
grande porte, também chamada de fi- GARGANTA (s.) - contador de vanta-
gueira de duas raízes. Seu nome deve-se gens; gabola.
ao fato de ser própria para se fazer ga-
mela. GARGULEJAR (v.) - gargarejar.
GARAPADA (s.) - suco adoçado com GARROTE (s.) - 1. boi novo e não cas-
água (A melhor coisa que existe para trado; marruco; marruaz; marruá. 2.
matar a sede é a garapada de limão). torniquete.
200
pessoa ou as coisas que ali são carrega- GATIMÔNIA (s.) - careta; gesto ridí-
das. culo; presepada.
201
GAZO (adj.) - albino; pessoa que pos- VEJA TAMBÉM:
sui olhos e cabelos muito claros; sarará; Duro de gente
fogoió. Entender por gente
Graveto de gente
GELADA (s.) - V. fria (4). Pingo de gente
Tiquinho-de-gente
GELADEIRA (s.) - mulher sexual- Trisco-de-gente.
mente fria (Só muito tarde é que fui
descobrir que ela era uma geladeira: GENTINHA (s.) - ralé; plebe.
depois de casado).
GERAIS (s.) - vegetação rasteira em
GEMEBUNDO (adj.) - que está ge- relevo plano, que durante a seca perma-
mendo (Depois do entrevero, só se viam nece com o capim verde e para onde o
cangaceiros gemebundos pelos cantos). gado das fazendas é levado no período
de estio, até que as chuvas voltem; refri-
GENGIBIRRA (s.) - refrigerante ca- gério.
seiro gasoso à base de gengibre; gingi-
birra; jingibirra. GERALISTA (s.) - habitante dos gerais,
que vive quase que exclusivamente da
GENGIVAS (s.) - vãos entre os dentes caça e do extrativismo.
das moendas de madeira do engenho de
cana. GERENDÊNCIA (s.) - descendência
(Conheci o velho Vito, mas não sei qual
GENTADA (s.) - V. gentama. é sua gerendência).
202
GINETE (s.) - espécie de biscoito de uma pena besuntada em banha de gali-
polvilho, de sabor doce e quebradiço, nha, de teiú ou óleo de mocotó.
também conhecido por amor-perfeito.
VEJA TAMBÉM:
GIRA (adj.) - amalucado; aloucado. Molhar a goela.
GIRADOR (s.) - peça situada na ponta GOGO (s.) - doença que ataca a língua
do caniço de pesca para impedir que a das galinhas, também conhecida por
linha se enrosque. gosma.
203
pécie de cola líquida, que serve para GORDURA (s.) - banha; óleo.
engomar roupas, principalmente de li-
nho. GORGOMIO (s.) - V. gorgomilho;
goto.
GOMAR (v.) - passar roupa; engomar
(A empregada fazia de um tudo: cozi- GORGOMILHO (s.) - glote; parte da
nhava, limpava a casa, mas detestava garganta onde a entrada de qualquer
gomar). substância causa engasgo; goto; gorgo-
mio; gurgumio.
GOMITAR (v.) - vomitar; gumitar.
GORGULHO (s.) - cascalho.
GOMITO (s.) - vômito; gumito. Para
estancar o vômito, recomenda-se colo- GORJA (s.) - gorjeta.
car-se sobre o estômago um emplastro
de gema de ovo batida com farinha bem GORO (adj. pronuncia-se gôro) - podre
fina. Já os rezadores recomendam torcer (ovo); choco (2).
um pouco de algodão e fazer um cordão,
que, amarrado aos pulsos ou em volta do GOROROBA (s.) - refeição; comida;
pescoço, estanca o vômito. bóia; grude; boião (2); grumexa.
204
GRAVETO (s.) - 1. pedaço de ramo
GRAÇA (s.) - 1. elegância; vivacidade. seco. 2. biscoito seco de polvilho; peta.
2. nome (Quando quis saber sua graça,
ela estranhou). GRAVETO DE GENTE (exp.) - pes-
soa magra e pequena.
VEJA TAMBÉM:
Cair nas graças VEJA TAMBÉM:
Dar o ar da graça Mudar de pau pra graveto
De graça Graveto de gente.
Não ser graça
Qual é sua graça? GRAXEIRA (s.) - V. rapariga.
Trocar as graças.
GRELAR (v.) - olhar fixamente; arre-
GRAMAR (v.) - penar; labutar (Para galar os olhos.
conseguir comprar esse carrinho, ele
gramou muitos anos de serviço). GRELO (s.) - clitóris.
205
GRINGO (s.) - 1. denominação dada ao GRUPO (s.) - grupo escolar; escola
estrangeiro em geral. 2. pessoa loura. primária.
206
retoque em veículo para apresentar-se GUIA 1. (s.) colar que é usado pelos
melhor à venda. umbandistas. 2. (s.) menino que vai na
frente dos bois-de-carro; candeeiro. 3.
GUARIROBA (s.) - palmito amargo, espírito iluminado que sempre se incor-
também chamado de gariroba ou gue- pora no cavalo. 4. a junta de bois que
roba. segue à frente dos demais no carro-de-
bois; junta-de-guia.
GUATAMBU (s.) - árvore de pequeno
porte, cuja madeira é branca e cujos ra- GUIGÓ (s.) - V. gogó.
mos são retilíneos, sendo por esta razão,
empregados para se fazer cabo de ferra- GUIMBA (s.) - V. bituca; baga; vinte;
mentas, necessitando apenas de ser des- quimba.
cascado. É mais conhecido como pereiro
(V.). GUINÉ (s.) - planta caseira, também co-
nhecida como tipi, de propriedades mís-
GUAXINIM (s.) - pequeno animal ma- ticas (V. feitiço), além de servir de re-
mífero carnívoro, também conhecido por médio para arroto choco, artritismo,
mão pelada. afecções da cabeça, coluna, dores no
corpo, empanturramento, gripe, labirin-
GUAXO (s.) - joão-congo (pássaro tite, falta de memória, queimação nas
preto de asas com a ponta amarela que pernas, reumatismo, sífilis, torcicolo,
ataca os pomares, furando as laranjas, tosses e varizes, servindo também para
limas e cachos de banana); tem a especi- espantar cobras.
alidade de imitar o canto de quase todos
os pássaros; quando tomam amizade GUIZO (s.) - 1. pequeno chocalho metá-
com as pessoas, constroem seu ninho lico e geralmente redondo que se coloca
junto às casas habitadas; geralmente no pescoço de pequenos animais. 2. cho-
perto das caixas de marimbondos para calho que fica na ponta da cauda da cas-
proteção e alimentação dos filhotes; cavel.
quando constroem seus ninhos perto de
rios e riachos, calculando exatamente o GUMITAR (v.) - vomitar; lançar; go-
local onde as águas poderão atingir nas mitar.
enchentes, que, ao chegar, os filhotes já
estarão emplumados e aptos a se salva- GUMITO (s.) - V. gomito.
rem. Pelos ninhos de guaxo à beira
d’água, o sertanejo calcula até aonde GUNGUNAR (v.) - murmurar; resmun-
irão as águas. gar; conversar de forma ininteligível
(Depois que ele levou a rebordosa, fi-
GUÊ (s.) - a letra G. cou gungunando pelos cantos).
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208
-H-
HARMÔNICA (s.) - sanfona; acordeon; HISTÓRIA PARA BOI DORMIR
pé-de-bode; concertina. (exp.) - conversa sem fundamento, ge-
ralmente apenas para enganar; conversa
HAVERA (exp.) - forma usada em lu- pra boi dormir.
gar de “haveria” (Quem havera de duvi-
dar de sua palavra, homem de Deus?). HOJE EM DIA (exp.) - atualmente
(Hoje em dia não se fala mais em tele-
HEMORRAGIA (s.) - sangria; sangue visão preto-e-branco).
que mareja em excesso, requerendo cui-
dados, sob pena de esgotar o paciente. V. HOMAIADA (s.) - turma de homens.
desmasia (2). Para estancar a hemorra-
gia, a benzeção mais utilizada é a se- HOMEM-DA-COBRA (s.) - camelô,
guinte, que é administrada fazendo-se geralmente muito tagarela, que, para
cruzes sobre o local atingido: atrair fregueses, costuma carregar uma
cobra mansa em uma caixa ou mala.
“Sangue, tenha-se em si,
Como Jesus Cristo esteve em si. HOMÊNCIA (s.) - masculinidade
Sangue, tenha-se na veia, (Você deve mostrar sua homência é nos
Como Jesus esteve na ceia. atos, e não nas palavras).
Sangue, tenha-se vivo e forte,
Assim como Jesus esteve na morte”. HORA (s.) - momento.
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210
-I-
IAIÁ (s.) - forma familiar de vovó; femi-
nino de ioiô (Dia sim, dia não, nós ía- IMBURANA (s.) - árvore aromática,
mos a casa de iaiá Vitalina). cujas cascas são usadas na cachaça para
conferir-lhe um gosto melhor. Além
IBEJADA (s.) - na umbanda, legião dos dessa serventia, é usada como remédio
espíritos de crianças. para bexiga, bronquite, mordidas de co-
bra, dor de cabeça, males do estômago,
IBEJI (s.) - espírito de criança que se do fígado e cólicas do intestino, maleita,
incorpora no cavalo (V.). palpitações, rins, sinusite, tosse e doen-
ças respiratórias.
IDEAR (v.) - maquinar; conceber (Ele
não quer trabalhar e fica só ideando IMISCUIR-SE (v.) - misturar-se
coisa ruim). (Quando o boieco se imiscuiu no meio
da maloca, ficou difícil divulgá-lo, pois
IDÉIA DE JERICO (exp.) - idéia sem era muito parecido com os outros).
fundamento; plano inexeqüível.
IMITANTE (s.) - parecido; que se pa-
IEIÚ (s.) - V. iuiú. rece; semelhante.
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INCOMODADA (adj.) - grávida já
IMPOR (v.) - levar uma pessoa no com as dores do parto.
bota-fora, acompanhando-a até certa
distância (No dia em que o compadre INCÔMODO (s.) - menstruação.
foi embora, fiz questão de ir impor até o
fim do vaquejador). INCUTIDO (adj.) - V. entrão.
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INFUCA (s.) - mentira; coisas da ima- E morra ela!”
ginação (Só mesmo menino para acre-
ditar nessa infuca de Papai Noel). Para íngua nas virilhas, o doente coloca
o pé no lado da íngua no borralho do
INFUSÃO (s.) - maceração de ervas fogão, sobre a cinza. Uma pessoa pega
cozidas em água para ser tomada como uma faca e passa em redor do pé, que,
medicamento caseiro. em seguida, é retirado; no sinal deixado
na cinza, o oficiante diz:
INFUSAR (v.) - encalhar; não vender
(Bem que eu disse que aquela roupa “O que é que a estrela diz?
fora de moda iria infusar). Viva eu morra a íngua!”
INGÁ (s.) - fruto do ingazeiro, seme- (E repete três vezes, passando um risco
lhante a um cordão cheio de nós (Na fo- vertical cada vez. E sem nada dizer passa
gueira de São João, eles usavam as ba- também três riscos horizontais).
gens do ingá como volta pra enfeitar o
pescoço). Outra simpatia muito usada é colocar-se
o paciente deitado de bruços e repetir
I NGRISIA (s.) - V. engrisia. três vezes:
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mama-de-cadela ou mama-cadela. Sua INTEIRO 1. (adj.) animal não castrado
aplicação na medicina caseira é de (No magote comprado ainda havia três
grande valia para amarelão, gonorréia, bois inteiros). 2. complemento (Passou
pano branco, doenças da pele em geral e pela feira e comprou umas verduras
sífilis. Segundo estudiosos, inharé não para fazer um inteiro para o jantar).
se confunde com mama-cadela, pois
esta é, na verdade, a tarumã. INTERESSANTE (adj.) - diz-se do
estado de gravidez.
INHÁ SIM! (exp.) - Sim, senhora!
INTESTINO PRESO (s.) - resseca-
mento que leva a pessoa a não defecar;
INHETA (adj.) - ansioso; curioso
prisão-de-ventre. O que mais se receita
(Quando falaram em televisão, ele ficou
entre os sertanejos é o chá de cabelo de
todo inheta).
milho; tomar, ainda em jejum, garapa de
rapadura também é muito aconselhada.
INHOR SIM! (exp.) - Sim, senhor!
As lavagens (clister) de sabugueiro ou
folhas de laranjeira são tidas como ex-
INHOR NÃO! (exp.) - Não, senhor!
celentes. Por via oral, costuma-se curar a
prisão de ventre chupando laranjas e
INSÔNIA (s.) - falta de sono. Os remé-
dios mais indicados para o caso são os engolindo o bagaço.
calmantes, todos originários da flora: chá
das cascas de mulungu; alface às refei- INTIMIDADES (s.) - órgãos genitais.
ções; suco natural de maracujá ou
mesmo comer o maracujá engolindo as INTIRINZIM (adj.) - inteirinho (Pas-
sementes. Tirante a flora, é de efeito sou o dia intirinzim bebendo cachaça).
seguro um copo de leite morno.
INVÉM (verbo) - variação de vem, do
INSTILADEIRA (s.) - 1. Coriza. 2. verbo vir (Quando menos se espera, ele
destiladeira. invém com a famiagem toda aboletar
aqui).
INSTRUÇÃO (s.) - 1. maleita. 2. se-
qüela de uma doença. INVENTIVA (s.) - invencionice; mole-
cagem (Compadre Culeu está cheio de
INSUADA (adj.) - V. ensoada. inventiva hoje).
214
IPUEIRA (s.) – charco formado pelo
INVISÍVEL (adj.) - misterioso; inex- transbordamento de rios em lugares bai-
plicável (Quando viu o rádio falando xos.
sozinho, o sertanejo disse que aquilo
era uma coisa invisível). IR À FORRA (exp.) - vingar-se; des-
contar (Na segunda partida de sinuca,
INVOCADO (adj.) - 1. cismado; ca- Gonçalvinho foi à forra).
breiro (Fiquei muito invocado com
aquela conversa). 2. zangado (Ele che- IR AO MATO (exp.) - fazer necessi-
gou invocado e brigava por qualquer dade fisiológica; ir lá fora.
és-não-és).
IR ÀS FAVAS (exp.) - V. ir plantar
INXU (s.) - espécie de abelha silvestre batatas.
que produz excelente mel, de difícil co-
lheita devido à valentia da abelha, que só IR A VACA PRO BREJO (exp.) -
teme o fogo; ela faz sua colméia nos te- frustrar-se (Confiou no negócio, mas a
lhados das casas ou em troncos caídos. vaca foi pro brejo).
INZONA (s.) - demora; lerdeza (Nessa IRERÊ (s.) - espécie de marreco, menor
sua inzona, não vai acabar nunca com que o pato, de carne preta, dura e de
o serviço). cheiro característico, não sendo muito
apreciada, mas seus ovos, semelhantes
INZONAR (v.) - lerdear; ficar à-toa aos de galinha são muito apreciados.
(Enquanto a hora do almoço não che- Como suas penas são muito agarradas à
gava, ele ficou ali inzonando no bo- pele, no preparo do marreco-irerê não se
teco). procede como com as demais aves (mer-
gulhando-as na água fervente para se
INZONEIRO (adj.) - 1. lerdo; sonso; soltarem as penas): é necessário tirar as
manhoso. 2. mexeriqueiro. penas com pele e tudo, pois elas não se
soltam facilmente.
IOIÔ (s.) - 1. vovô, feminino de iaiá
(Ioiô Bené era cheio de veneta e não IRIMÃ(O) (s.) - irmã(o).
permitia gente de chapéu na cabeça
dentro de casa). 2. brinquedo infantil, IR LÁ FORA (exp.) - ir fazer uma ne-
que consiste em duas rodelas presas lado cessidade fisiológica.
a lado por um eixo e com um barbante,
que o impulsiona a subir e descer. IR LEVANDO (exp.) - ir vivendo de
qualquer jeito; tentear (Como está, Ene-
IPÊ (s.) - V. pau d’arco. dino? - Vou levando...).
215
IR PLANTAR BATATAS (exp.) - V. ISPRITO (s.) - 1. variação de espírito.
ir às favas (Quando ele pediu aumento, 2. alegria; coragem (Quando ele bebe
o patrão o mandou plantar batatas). uma talagada de pinga, logo cria is-
prito).
IR PRAS CUCUIAS (exp.) - V. ir pro
beleléu; ir pro inferno da pedra. ISTO SÃO OUTROS QUINHENTOS
(exp.) - isto é outra história. A expres-
IR PRO BELELÉU (exp.) - 1. ir para são, segundo se sabe, originou-se da
lugar incerto ou distante (Se você não seguinte história: “Um político caloteiro
maneirar nestas descidas, o carro devia quinhentos contos de réis a uma
tomba e todos vamos pro beleléu). 2. pessoa, que já estava cansada de cobrar-
fracassar (Todos os seus planos foram lhe inutilmente; um dia, indo à cidade o
pro beleléu). governador, o credor decidiu cobrar a
dívida publicamente, para tentar desmo-
IR PRO INFERNO DA PEDRA (exp.) ralizá-lo; no momento em que estavam
- V. ir pras cucuias; ir pro beleléu. reunidos para um almoço, chegou o cre-
dor e gritou: ‘Vim cobrar meus qui-
IR TER (exp.) – 1. encontrar-se com; nhentos contos, seu vigarista!’. O secre-
juntar-se a (Depois do ano letivo, ele foi tário do prefeito, para aliviar a tensão
ter com os pais na fazenda). 2. chegar que se formou, aparteou: ‘Você deve
(Depois de muito andar pelo mundo, ele estar maluco, Fulano, pois quem lhe
foi ter em São Paulo à cata de emprego). deve quinhentos contos sou eu, rapaz!’,
ao que o homem replicou: ‘Estes são
ISBILITADO (adj.) - fraco; debilitado. outros quinhentos!’”
216
IXE! (int.) - interjeição equivalente a IZIPA (s.) - erisipela; mal-do-monte;
“Virgem!”; Vixe! (Ixe! Ele não tem izipelão.
vergonha na cara, não!).
IZIPELÃO (s.) - erisipela.
217
-J-
JABÁ (s.) - carne de charque prensada. (adj.) bobo; imbecil; idiota (Não vai ser
aquele jacu que vai dar conta de fazer o
JABIRACA (s.) - mulher feia (A jabi- serviço).
raca da minha sogra até que me trata
bem). JACUBA (s.) - rapadura raspada, mistu-
rada com farinha de mandioca e água.
JABORANDI (s.) - V. pimenta-de-ma-
caco. JACUMÃ (s.) - parte extrema da canoa
oposta à proa; leme comprido do barco.
JABOTA (s.) - fêmea do jabuti.
JACU-PEMBA (s.) - espécie de jacu de
JABURU (s.) - grande pássaro pernalta tamanho pequeno; o mesmo que pemba.
de cor branca e preta que vive nas mar-
gens do Araguaia, alimentando-se de JACURUTU (s.) - nome de duas espé-
peixes; vive em casais e permanecem cies de coruja de máscara preta e olhos
horas e horas imóveis apoiados em uma semelhantes a dois topázios, sendo um
só perna. grande e outro pequeno, que costuma
habitar nos brejos e que a partir da meia-
JACÁ (s.) – comumente, designa pe- noite lança seu canto que lhe imita o
queno cesto de palha ou de vime, mas nome.
designa o maior cesto entre os utilitários
sertanejos; corresponde ao caçuá, mas JACU-VERDADEIRO (s.) - jacu de
tem a forma retangular; tem alças, que tamanho mais avantajado.
servem para pendurá-lo no cabeçote da
cangalha e é feito, geralmente, com ripas JAGUANÉ (s.) - gado de lombo e bar-
de taboca trançada, que o torna muito riga de cor branca e costelas de cor.
resistente e capaz de suportar as pesadas
tarefas a que se destina.. JAGUARETÊ (s.) – onça.
218
JALECO (s.) - pequeno animal do cer-
rado, semelhante a um pequeno taman- JARRINHA (s.) - planta medicinal de
duá; tamanduá-mirim. chapada, de flores amarelo-sujo-esverd-
eado de sabor extremamente amargo;
JAMEGÃO (s.) - assinatura; firma; milhomem.
chamegão.
JATAÍ (s.) - abelha silvestre de mel
JANTA (s.) - jantar (Na janta, comeram muito alvo e de sabor um pouco azedo,
um cirigado com pequi). que se destaca pelo aroma, muito utili-
zado para composição de meizinhas.
VEJA TAMBÉM:
Pé-de-janta. JATOBÁ (s.) - fruto do jatobazeiro,
composto de uma casca muito dura e mi-
JANTE (s.) - aro da roda de carro (gíria olo amarelado seco, envolvendo as se-
de borracheiro). mentes de cor amarronzada. Nome pelo
qual também é conhecido o jatobazeiro.
JAÓ (s.) - espécie de ave, semelhante a Há duas espécies: o da casca grossa e o
uma nambu e do tamanho de uma gali- da casca fina.
nha, de carne muito saborosa; em algu-
mas regiões é tamb;em chamada zabelê, JATOBAZEIRO (s.) - árvore gigante
embora haja diferença entre elas. de matas e cerrados, cuja madeira é utili-
zada em construção e fabricação de mó-
JAPECANGA (s.) - cipó medicinal, veis e carros-de-bois; jatobá.
característico de capoeiras, cheio de es-
pinhos aduncos de picada dolorida. JAÚ (s.) - peixe de couro muito abun-
dante em nossos rios, caracterizado por
JARACATIÁ (s.) - árvore que produz o uma grande cabeça, que lhe toma um
mamoí. terço do corpo.
JARDINEIRA (s.) - ônibus antigo; ma- JEITO (s.) 1. mau jeito; torcicolo (Hoje
rinete (Naquela época, nem jardineira amanheci com um jeito no pescoço de-
havia para transportar o povo, que só vido ao travesseiro alto). 2. Indicação de
há bem pouco veio conhecer ônibus). lugar (Ele mora no jeito de quem vai
pra Sucupira).
JARERÊ (s.) – doença da pele, que a
deixa encaroçada e vermelha. VEJA TAMBÉM:
219
De jeito maneira! JINGIBIRRA (s.) - V. gengibirra.
Levar jeito.
JIRAU (s.) - espécie de estrado de varas
JEQUI (s.) - espécie de cesto afunilado sobre forquilhas, para se guardar utensí-
para apanhar peixes; as talas são longas lios de cozinha.
e nas extremidades da abertura são re-
curvadas para dentro, de forma que o JIRIZA (s.) - ojeriza; asco; repulsa.
peixe se emaranha e não pode retornar.
JITIRANA (s.) - fuligem derivada da
JERAQUI (s.) - V. jaraqui. fumaça, que fica pregada no teto das
cozinhas de telha, em cima do fogão
JERIBITA (s.) - 1. brincadeira infantil caipira.
que consiste em atirar para o alto cinco
pedras, alternadamente, aparando-as no JITIRANABÓIA (s.) – V. cobra-de-
ar, ao tempo em que remove do chão as asa.
que ali pemanecem. 2. cachaça.
JOANA (s.) - a fêmea do joão-de-barro.
JERICO (s.) - jegue; jumento; bogue. Quando o macho desconfia que a joana o
está traindo, prende-a na casa e tapa a
JERIMUM (s.) - espécie de abóbora entrada com barro, deixando-a morrer de
com a massa de cor amarela; moranga. fome e sede, não sendo muito raro en-
contrar-se esqueleto da fêmea em casas
JERIVÁ (s.) - espécie de palmeira, cu- do joão-de-barro.
jas folhas servem para remédio de ani-
mais. JOÃO-BORANDI (s.) - V. jaborandi;
pimenta-de-macaco.
JERVÃO (s.) - espécie de planta medi-
cinal caseira boa para as doenças do fí- JOÃO-CONGO (s.) - V. guaxo.
gado e do estômago, reumatismo, indi-
gestão, artrite, leucemia, febre e vermi- JOÃO CORTA-PAU (s.) - V. curi-
nose; gervão. ango.
220
JOGAR VERDE PRA COLHER
JOGAR ADIVINHAÇÃO (exp.) - pro- MADURO (exp.) - V. jogar verde.
por adivinhas (Nós ficávamos até altas
horas cantando e jogando adivinha- JOGO DE EMPURRA (s.) - indecisão;
ção). falta de definição ou de empenho (Já fui
ao gabinete do deputado umas dez vezes
JOGAR A PEDRA E ESCONDER A atrás da nomeação prometida, mas ele
MÃO (exp.) - fazer as coisas às escon- fica naquele jogo de empurra ).
didas ou dissimuladamente. Aplica-se às
pessoas que não têm coragem ou digni- JUDAS (s.) - 1. boneco de pano, do ta-
dade de assumir seus próprios atos manho de um homem e geralmente re-
(Aquele deputado sempre joga a pedra e cheado de fogos de artifício, que é feito
esconde a mão). no Sábado de Aleluia, quando a crian-
çada, após malhá-lo, ateia-lhe fogo, em
JOGAR O BARRO (exp.) - V. jogar desagravo a Jesus Cristo, devido à trai-
verde pra colher maduro. ção de Judas. 2. traidor.
221
JUNTA-DO-COICE (s.) - junta de bois JURITI (s.) - pomba de porte médio e
que é atrelada ao cabeçalho. cor marrom que vive nas capoeiras e que
tem o canto triste.
JUNTA-DE-GUIA (s.) - parelha dos
bois-de-carro que segue à frente das de- JURUBEBA (s.) - planta de quintal que
mais. produz frutinhas verdes, redondas e
amargas, em cachos servindo como con-
JUNTAR A FOME COM A VON- dimento e para conserva .É indicada para
TADE DE COMER (exp.) - unir dois alcoolismo, anemia, diabetes, doenças
desejos (Quando o velho ofereceu a do baço, do fígado, dos rins e dos intes-
filha em casamento ao moço, juntou-se tinos, além de curar a maleita, a gripe e a
a fome com a vontade de comer). icterícia.
222
-L-
LABANCA (s.) - alavanca; lebanca; le- colocar-se sobre a parte afetada uma pele
vanca. de fumo umedecida em saliva. Para pre-
venir as conseqüências do veneno, apli-
LABIGÓ (s.) - lagartixa; batché. cam-se os remédios indicados para mor-
dida de ofídios. V. mordida de cobra.
LABUTANÇA (s.) - lida; labuta (Na
moagem, a labutança começava bem de LACRAU (s.) - forma popular de la-
madrugadão, fazendo rapadura, açú- craia. Veja os remédios para sua picada
car-da-terra e pinga). no verbete mordida de cobra.
223
LAIA (s.) - espécie; natureza; classe; gostoso tomar uma cervejinha, en-
qualidade; raça (Não sou gente de sua quanto se lambisca uma lingüicinha
laia, que não tem princípios). frita).
LAMBE-BOTA (adj.) - adulador; ba- LAMBU (s.) - pequena ave não trepa-
julador; puxa-saco; lambe-cu. deira, anura, semelhante a uma zabelê,
mas do tamanho de uma rolinha, que
LAMBE-CU (adj.) - V. lambe-bota. vive nas capoeiras; nambu; inhambu.
224
e as landra dopescoço ficava tudo in-
LAMPARINA (s.) - 1. V. candeia; can- chada).
deeiro; bibiano; fifó. 2. mulher que fica
na festa até à última hora (segundo se LANHAR (v.) - retalhar.
argumenta, por ironia, para apagar a
lamparina quando a festa acabar). LAPA (adj.) - de tamanho avantajado;
baita; solapa; urco (O cangaceiro pu-
LAMPEIRO (adj.) - V. fagueiro. xou uma lapa de faca, que assustou o
povo da festa).
LAMPO (s.) - V. eulâmpio.
LAPADA (s.) - 1. grande gole; golada
LANÇADEIRA - 1. (s.) - peça de má- (Bebeu uma lapada de pinga e saiu
quina de costura e do tear (v.), que mo- cambaleando). 2. V. lamborada.
vimenta, em vaivém, a linha sob a agu-
lha. 2. (adj.) - pessoa que não pára em LAPEAR (v.) - bater; lapiar; dar lapa-
casa, vivendo sempre andando na rua, de das (2).
casa em casa.
LAPIANA (s.) – faca grande e bem
LANÇANTE (s.) - trecho de estrada ou afiada, feita geralmente de aço.
de terreno em declive (Quando atingiu o
lançante perto da grota, a bicicleta de LAPIAR (v.) - V. lapear.
Geraldinho, que não tinha freios, dis-
parou). LAPINGUAXADA (s.) – o mesmo que
lapada.
LANÇAR (v.) - vomitar.
LAPINHA (s.) - presépio.
LANDA (s.) - V. landra.
LAPREGO (s.) - V. ensergamento.
LANDI (s.) - árvore de grande porte que
cresce às margens do Araguaia, cuja LAQÜERA (s.) - conversa fiada; le-
madeira é especial para a fabricação de réia; leqüéssia; lero; lero-lero.
barcos. Sua casca, se tirada com cui-
dado, transforma-se em uma canoa, LARANJA-DA-TERRA (s.) - espécie
bastando que se fechem as extremidades, de laranja muito amarga, imprópria para
e sua resina possui propriedades tera- consumo in natura, cuja serventia é
pêuticas. apenas para se fabricar maduro (de seu
suco), e doce (de sua casca); laranja
LANDRA (s.) - `corruptela de glândula, pofó.
que não corresponderia ao verdadeiro
sentido da linguagem sertaneja, que de- LARANJA POFÓ (s.) - V. laranja-da-
signa toda e qualquer espécie de glân- terra.
dula, inclusive a que se forma nas ín-
guas. Na Medicina, landra é o gânglio LARANJO (adj.) - albino; sarará; fo-
linfático infartado, lipoma, cisto sebáceo goió; gazo.
ou seroso (Porvinha, quando era me-
nino, aqui e acolá adoecia da garganta LARGA (s.) - V. invernada.
225
(A parreira estava tão carregada que a
LARGADO (adj.) - 1. desmazelado; latada caiu).
desarrumado; à-toa. 2. separado; des-
quitado; divorciado. LÁTEGO (s.) - parte do cabresto que se
constitui de uma correia comprida, presa
LARGAR (v.) - separar-se; desquitar- ao estrovo.
se; desfazer um casamento ou amance-
bia. LATOMIA (s.) - V. latumia.
226
LEITE-DE-NOSSA-SENHORA (s.) -
LAVAR AS MÃOS (exp.) - descarregar arbusto que produz contas próprias para
a consciência com a desistência de algo se fazer rosário; capiá.
(No caso desse menino, achei melhor
dar-lhe os estudos e depois lavar as LEITE-DE-ONÇA (s.) - bebida prepa-
mãos). rada com cachaça e leite condensado.
LAZEIRA (s.) - calamidade; adversi- LEITE RUIM (s.) - leite que a mãe pro-
dade; qualquer mal (Aquele atoleiro era duz após estar grávida.
uma lazeira: todo carro pregava ali).
VEJA TAMBÉM:
LAZO-BRANCO (s.) - V. pano A leite-de-pato
branco. Esconder o leite.
227
lerdiça com a prima, deu-lhe uma cio (É melhor procurar um serviço, pois
coça). ninguém pode levar a vida na flauta).
228
lá em casa, que quero levar um lero mata e saiu no limpo, ficou fácil de to-
com você). car pro curral).
229
LINHEIRO (adj.) - reto; sem curvas (O fruta madura é empregada no preparo de
eucalipto, normalmente, tem o tronco doces e geléias, embora não tenha um
muito linheiro). uso muito acentuado; sua madeira é em-
pregada para a transformação em carvão
LISO (adj.) - 1. sem dinheiro; limpo; industrial, fato que vem contribuindo
liso, leso e louco 2. esperto; escorrega- para sua dizimação. O consumo da refe-
dio (O delegado não vai conseguir fazer rida fruta pelo lobo-guará tem uma ra-
o Egídio entrar em contradição, pois ele zão, pois a lobeira não é seu único ali-
é um sujeito muito liso). mento (aquele animal também costuma
atacar galinheiros, carnívoro que é): o
LISO, LESO E LOUCO (adj.) - V. liso lobo-guará possui um tipo de verminose
(Não me fale em dinheiro, porque estou que lhe acomete os rins, e aquela fruta
liso, leso e louco, comprando fiado e possui uma espécie de substância que
ainda querendo troco). mata o nematóide, livrando o animal da
morte.
LISSIOS (s.) - parte do tear (V.).
LOBINHO (s.) - tumor benigno e dimi-
LIVRAR A CARA DE (exp.) - defen- nuto constituído de um cisto sebáceo.
der; tirar alguém de uma situação difícil
(Agora ele não se lembra de que fui eu LOBISOMEM (s.) - entidade fantástica,
quem livrou a cara dele na delegacia). que, segundo a crença, nas noites de lua
LIVRO (s.) - bucho dos ruminantes, cheia nas sextas-feiras é transformada
composto de membranas que se asseme- em metade homem, metade cachorro,
lham a folhas de um livro. para atacar as pessoas; lubisome.
230
os metazoários (pluricelulares), dife-
rente, portanto, da ameba, que é unice- LORDEZA (s.) - elegância (Você hoje
lular. Há diversos remédios que acabam está numa lordeza de fazer inveja).
com a lombriga. Os mais conceituados
são: mastigar bem sementes de jerimum LORO (s.) - tira dupla de couro que fica
ou abóbora pela manhã, em jejum, jogar nas laterais da sela, em cujas extremida-
fora o bagaço e engolir o cuspe; torram- des ficam os estribos ou as caçambas.
se sementes de jerimum ou abóbora, faz-
se pó para comer uma colher de chá de LOROÇA (s.) - algazarra; anarquia;
cada refeição; o azeite de mamona com leréia. (Quem confia em loroça de im-
gergelim são muito cotados; comer ma- prensa está lascado).
mão com a semente; tomar chá de casca
de romã; comer coco da Bahia madura, LOROTA (s.) - mentira; conversa fiada
em jejum, até repugnar, expulsa qual- (Essas conversas do Ascendino não
quer lombriga, inclusive a solitária; tam- passam de lorota pura).
bém o sumo de mastruz é remédio corri-
queiro. Para acabar com a ameba, a sa- LOSNA (s.) - nome popular do absinto,
bedoria popular garante que o remédio que é indicado para anemia, convales-
mais eficaz é o seguinte: à tarde, fazer cenças, diarréias, indigestão, dor de ca-
um corte profundo no tronco de um ma- beça e do estômago, cólicas dos intesti-
moeiro e introduzir um chumaço de al- nos e como tônico.
godão. Na manhã seguinte, retirar o al-
godão embebido de leite e dele fazer um LOTE (s.) - 1. parcela de terreno urbano
chá, que, tomado durante o período de para construção; data. 2. grupo de ani-
10 dias, acaba por completo com a mais (Com o dinheiro da venda do ter-
ameba. Bem entendido: repetir a opera- reno ele comprou um lote de bezerros).
ção tantas vezes quantas forem necessá-
rias, pois só se aproveita o algodão uma LOURO (s.) - forma familiar de se tratar
vez. o papagaio domesticado; cravo; rosa.
LORDE (adj.) - bem vestido; elegante; LUA (s.) - V. veneta; veia (Se você pe-
pelintra (Jeremias veio todo lorde para gar o patrão em lua boa, consegue o
a festa). que quer).
231
comum, pois a de luto é para sair. Não se
LUBISOME (s.) - lobisomem. costuma guardar luto pela morte de cri-
anças. Quando a morte é de irmão, e
LUFA-LUFA (s.) - movimento de muita sendo ele maior de 18 anos, o luto é
gente em uma casa; azáfama; fuá. guardado por seis meses; quando é de
pai ou mãe, de um ano, e quando é de
LUÍS-CACHEIRO (s.) - ouriço-cai- marido ou mulher, costuma ser de até
xeiro; porco-espinho; guandu. mais de um ano, havendo casos em que
viúvas passam a vestir de preto até o fim
LUITA (s.) - luta. da vida, principalmente quando se trata
da anciãs.
LUMIAR (v.) - V. alumiar.
LUTRIDO (adj.) - saliente; pessoa que
LUMIENTO (adj.) - brilhante (Esse gosta de lutrimento ou vive dizendo
papel lumiento que envolve os cigarros expressões imorais ou inconvenientes de
na carteira não pega fogo porque é de duplo sentido (Esse sujeitinho é muito
alumínio). lutrido e não escolhe lugar para falar
as coisas).
LUSCO-FUSCO (s.) - semi-escuridão,
característico do clarear do dia e do en- LUTRIMENTO (s.) - V. lerdiça.
trar da noite; entre lobo e cachorro.
LUXAR (v.) - vestir-se e ornar-se com
LUTO (s.) - sentimento de pesar pela luxo (1).
morte de alguém, quando se coloca uma
tarja preta no braço, quase à altura do LUXENTO (adj.) - enjoado; que quer e
ombro (luto aliviado) ou se veste de não quer.
preto (luto fechado). Guarda-se luto de
parente e de amigo. No sétimo dia da LUXO (s.) - 1. riqueza; ostentação. 2.
morte, quando ocorre a visita-de-cova, frescura; dengo (Esses filhos de Dora
as pessoas mais pobres tingem as roupas são cheios de luxo).
de preto. Dentro de casa, usa-se a roupa
232
-M–
MABAÇO (s.) - gêmeo; mambaço será às oito horas, mas não quero
(Joaquim é mabaço com João). maçada!).
233
MACEGA (s.) - capim alto e emara- MACIO (adj.) - sem iniciativa;
nhado, de difícil trânsito. lerdo; acomodado; a-prazo (Se
aquele peão não fosse tão macio, o
MACELA (s.) - nome vulgar da ca- serviço estaria pron.to desde o meio-
momila, planta medicinal, cujo chá, dia).
tanto quanto o de sete-dores, é de
larga utilização para as doenças dos MACÔ (s.) - sapo grande; caçote;
intestinos e do estômago, servindo cururu; morché.
também para encher travesseiros para
prevenir insônia e enxaqueca e cuja MACOTEIRO (s.) – maioral; o tal;
infusão é excelente para desarranjos manda-chuva; chefe político.
gástricos (sua eficácia é maior se for
colhida na Sexta-Feira da Paixão, MÁ-CRIAÇÃO (s.) - grosseria; falta
antes do nascer do sol). de respeito.
234
MAGINAR (v.) - imaginar.
MADRINHA DE CARREGAÇÃO
(s.) - pessoa que conduz a criança nos MAGNETISMO (s.) - poder inex-
braços para ser batizada na igreja. plicável de alguém; magia (Pedro
Dinheiro era cheio de magnetismo:
MADURO - 1. (s.) - refrigerante pegava um pedaço de jornal e trans-
caseiro preparado com laranja-da- formava em notas de mil).
terra. 2. (adj.) - de meia-idade;
adulto. MAGOTE (s.) - grupo de animais;
manada; maloca.
MÃE-D’ÁGUA (s.) - iara; ser pro-
tetor dos rios e lagos (Dizem que na MAGRA (s.) - a morte (Esbilitado
piracema a mãe-d’água não deixa como estava, Gulhermino aguar-
anzol com isca). dava apenas a visita da Magra).
235
Ficar de mal
Que mal pergunte. MALCRIAÇÃO (s.) - desacato; ato
de responder mal aos mais velhos
MALA (adj.) - vigarista; espertinho; (Largue de malcriação, pois ela é
corruptela de “malandro”, a exemplo sua madrinha e merece respeito!).
de foto (fotografia) e cine (cinema);
mala-sem-alça, para indicar pessoa MAL-DA-PRAIA (s.) - erisipela.
difícil de ser conduzida ou conven-
cida; (Cuidado, menino, porque esse MALDAR (v.) - fazer mau juízo;
Benício é mala). insinuar com maldade (Será que ele
ficou maldando do coitado?).
VEJA TAMBÉM:
Arrastar a mala MAL-DE-ENGASGO (s.) - en-
Correio da mala seca gasgo. Os únicos remédios conheci-
De mala e cuia dos, além de tradicional tapa nas
Descer a mala costas e da farinha seca quando o
Fazer a mala. engasgo é com espinha de peixe, são
de cunho místicos, constituídos de
MALACACHETA (s.) - mineral orações a São Brás, padroeiro dos
isolante encontrado em placas, espe- engasgados. Quando alguém se en-
cialmente utilizado para resistências gasga, deve-se fazer o seguinte pe-
de ferro elétrico; mica. dido, enquanto se lhe bate nas costas:
236
dos remédios é trocar o nome do cidos; mal-de-umbigo. Para evitar-se
epiléptico, dando-lhe outro qualquer, qualquer infecção no umbigo, inclu-
porque - acredita o sertanejo - isto sive o mal-de-sete-dias, salpica-se
ilude o demônio, que sai à procura da leite de pinhão, azeite e mamona
pessoa cujo nome dado foi ao epilép- morno ou emplastro de folhas de ar-
tico. Os agentes místico são os únicos ruda bem trituradas e com o suco, do
que podem dar volta no mal. No que são excelentes cicatrizantes.
momento do ataque, recomenda-se Também deve ser usado óleo de oliva
tirar a camisa do paciente, virá-la morno, misturado com pó de casca de
pelo avesso e enterrá-la num local romã. A superstição recomenda que
que a vítima jamais venha a saber. não se tire do quarto o recém-nascido
no sétimo dia de nascimento, sob
MAL-DE-PONTAS (s.) - doença pena de vir a morrer do mal.
que acomete os chifres do gado, ata-
cando-lhe o miolo e provocando a MAL-DE-UMBIGO (s.) - V. mal-
morte; brocão. Para curar esse mal, de-sete-dias.
costuma-se furar o chifre do animal
com um ferro quente e injeta-se cre- MALDITA (s.) - erisipela.
olina, para matar o agente provoca-
dor da doença. MAL-DO-AR (s.) - V. doença-do-
ar.
MAL-DE-PARTO (s.) - qualquer
doença que cause a morte da parturi- MAL-DO-MONTE (s.) - erisipela;
ente; eclâmpsia. Para prevenir-se isipa; izipelão. A folha de pimenteira,
contra essas doenças, reza-se a se- embebida em azeite doce aquecido é
guinte oração sobre a parturiente: bom remédio para aplicação. Entre-
tanto, os agentes místicos são mais
“De madrugada, numerosos na cura da erisipela. Den-
Quando o galo cantou, tre eles, tomar-se uma faca e cortar-
São Berto Lomeu se levantou; se o ar em forma de cruz em cima do
Seu chinelo direito doente, enquanto se reza por três ve-
No pé ele calçou, zes:
Na estrada encontrou
Nosso Senhor “Erisipela, erisipela,
E ele perguntou: sai daqui sem mais aquela!”
- Onde vai, São Berto Lomeu?
- Vou atrás de Vosso Senhor! Outras rezas são pronunciadas para
Ele respondeu: cura, como esta:
- Volta pra trás, São Berto Lomeu,
Que mulher de parto não morrerá “Isipa, isipela, isipelão,
Nem criança pagã, Do tutano vá pro osso,
Nem homem de ocasião. Do osso vai pra carne,
Assim diz Nosso Senhor.” Da carne pra pele,
Da pele pras ondas do mar sa-
MAL-DE-SETE-DIAS (s.) - tétano grado”.
umbilical que acomete os recém-nas-
237
E esta, em forma de diálogo: melão-de-são-caetano é grande re-
médio. Mais eficiente é o sumo do
“- Onde está, Dona Fremosa? melão-são-caetano (raiz, folhas, fru-
- Eu não sou Fremosa, não, tos, talos, tudo junto, triturado), to-
Sou isipa, mal-do-monte, mado às colheradas. A infusão de
Que traz o vermelhidão casca de quina é muito utilizada. Diz
E saio roendo osso... o sertanejo que não há sezão que re-
Antes que o mal vá adiante, sista a um copo de leite cru misturado
Eu - zás! - te corto o pescoço!” com urina da própria vaca que deu o
leite, tomado em jejum.
Todas as benzeções para erisipela
devem ser feitas segurando-se um MALEMAL (adv.) - parcamente;
ramo de manjericão, pimenta mala- malmente; mal e mal (O que ele ga-
gueta ou arruda. nha dava malemal para comer).
238
\ garrote maludo, que ele já furou
MALINEZA (s.) - travessura; ato dois vaqueiros).
censurável; malinagem (Essa meni-
nada de hoje é cheia de malineza, e MALUNDO (s.) - irmão de criação.
os pais têm dificuldade em reprimi-
la). MALVA (s.) - arbusto rasteiro e me-
dicinal, de galho resistente, que ge-
MALINO (adj.) - inquieto; que ralmente prolifera nas praças, no
mexe em tudo o que vê (Todo me- meio da grama e que só é extirpado
nino inteligente tende a ser muito se arrancado pela raiz.
malino).
MALVADESCA (s.) - malvadeza.;
MALMENTE (adv.) - mal; tão logo; maueza
assim que (Malmente o velho fechou
os olhos, os filhos começaram a di- MAMA-CADELA (s.) - V. inharé.
vidir os trens).
MAMA-DE-PORCA (s.) - varie-
MALOCA (s.) - magote de gado dade de paineira em cujo tronco cres-
que costuma reunir-se sempre no cem espinhos no formato de mamas
mesmo lugar da fazenda. de porca.
239
nome do fruto, que é uma espécie de pois você sabe que ele é mandado).
cápsula de forma oval, achatada, de 2. feitiço encomendado (Aquele mal
superfície brilhante e acinzentada ou de Mariquinha era mandado e só
rajada, de tamanho variável e amên- reza é que curou).
doa oleosa, com que se fabrica o óleo
de rícino (comumente chamado de MANDAGUARI (s.) - espécie de
azeite); mamoneira; carrapateira. abelha silvestre de mel delicioso e
medicinal.
MAMPAR (v.) - 1. comer; bocar
(Deixaram a porta da despensa MANDÃO (s.) - 1. pessoa que gosta
aberta, e os cachorros mamparam a de mandar. 2. manda-chuva.
carne toda); 2. aproveitar (Os her-
deiros facilitaram, e quando deram MANDAR ATRÁS (exp.) - buscar;
em si, o espertinho, culiado com o providenciar (Como o tempo mingu-
advogado, mampou a herança quase ava, o jeito foi mandar atrás de
toda). gente para um mutirão).
240
MANDU (s.) - confusão; V. boró; tirar a camisa do paciente, virá-la
bololô (Essa mania dele de andar pelo avesso e enterrá-la num local
tomando boca com os mais velhos que a vítima jamais venha a saber.
ainda vai dar mandu).
MANEIRO (adj.) - leve; de pouco
MANDUBIM (s.) - amendoim; peso.
mondubim; mudubim. A origem da
palavra é o tupi-guarani mandubi, MANEIROSO (adj.) - cortês; deli-
que passou a ser pronunciada man- cado.
duim, e depois amendoim, por in-
fluência de amêndoa. São-lhe atri- MANÉ-LUÍS (s.) - V. o mesmo
buídas propriedades afrodisíacas. mané-luís.
241
MANGANGÁ (s.) - marimbondo MANIENTO (adj.) - cheio de ma-
grande, que vive no chão; também nias (Nunca vi burro mais maniento
chamado de marimbondo-caçador. do que este: coiceiro, pulador e de
queixo duro).
MANGAR (v.) - caçoar (É costume
dele ficar mangando dos outros). MANINA (s.) - V. maninha.
242
menino tinha a mão tão certa, que
MANSO (adj.) - tranqüilo (Às onze não errava uma pedrada) ou que
horas, vinha aquele almoço manso). tempera bem uma comida (A comida
de Dinha Maria era famosa, pela
MANTA (s.) - 1. cobertor de lã. 2. mão certa dela).
pedaço de carne retalhada para se
transformar ou transformada em MÃO-DE-FARIZ (s.) - almofariz;
carne-de-sol. gral.
243
Acertar a mão
Agüentar a mão MARAFO (s.) - cachaça (linguagem
Carregar a mão de umbanda).
Como a palma da mão
Com uma mão na frente e outra MARAVALHA (s.) - mato; cerrado;
atrás saroba; vaqueta.
Dar uma mão
De calças na mão VEJA TAMBÉM:
Freio-de-mão Cair na maravalha.
Güentar a mão
Jogar a pedra e esconder a mão MARAFUNDA (s.) - V. barafunda.
Largar de mão
Lavar as mãos MARCA (s.) - 1. espécie de botão de
Peia pé-e-mão osso próprio para a braguilha. 2. V.
Plantar a mão ferro (1).
Ter mão.
MARCAR PASSO (exp.) - não pro-
MAPA D’ÁGUA (s.) - alagadiço; gredir; não passar de ano; não ser
grande extensão de água mais ou promovido; ficarno que está.
menos parada (Quando a chuva pa-
rou, ficou aquele mapa-d’água onde MARCHA (s.) - 1. uma das espécies
era apenas um corguinho). da andadura do animal, de caracte-
rística macia, mais veloz que o trote e
MAPIRONGA (s.) - furúnculo; nas- menos que o galope. 2. distância per-
cida. corrida pela boiada durante um dia,
de 3 a 6 léguas, conforme as condi-
MARACAJÁ (s.) - gato-do-mato, ções da boiada e da estrada percor-
hoje em extinção, cuja pele é valio- rida.
síssima; maracalhau.
MARCHADOR (adj.) - diz-se do
MARACALHAU (s.) - V. mara- animal que, em vez de trote, anda no
cajá. ritmo da marcha.
244
MARIANA (s.) - mancha amarelada, nos troncos das árvores (o que lhe
semelhante à ferrugem, que adere emprestou o nome).
uma roupa de cor clara.
MARINHEIRO (s.) - 1. espécie de
MARIAR (v.) – criar mariana (Ela árvore da mata de madeira nãomuito
deixou a camisa no guarda-roupa apreciada. 2. V. escolha.
mofado, e ela mariou).
MARIQUINHA (s.) - tripé de ma-
MARIA-VAI-COM-AS-OUTRAS deira onde, no pouso, os tropeiros
(s.) - sem personalidade; pessoa que penduram os caldeirões para cozinhar
concorda com tudo. a comida.
245
MARMOTA (adj.) - sem iniciativa; MARRUEIRO (s.) - o boi mais forte
moleirão. da boiada, independentemente de ser
castrado ou inteiro; marroeiro.
MAROMBA (s.) - malandragem;
esperteza. MARRUÁ (s.) - touro; reprodutor;
marruaz.
MAROMBAR (v.) - vadiar; vaga-
bundear. MARRUAZ (s.) - V. marruá.
246
MASSA BRUTA (adj.) - atarra- MATAMATÁ (s.) - espécie de tarta-
cado; forte; musculoso (Quando ele ruga fluvial, mais rara e pouco apre-
viu o massa bruta entrar no bar, ciada, que tem o casco coberto por
tratou de esconder-se no banheiro). pontas córneas.
247
MATA-RATO (s.) - cigarro ordiná- Gente do mato
rio; racha-peito. Ir ao mato
Mãe-do-mato
MATAR AULA (exp.) - falta à aula; Pai-do-mato
cabular (De tanto matar aula, aca- Ser mato.
bou perdendo o ano por falta).
MATOLOTAGEM (s.) - V. mata-
MATAR CACHORRO A GRITO lotagem.
(exp.) - estar em difícil situação fi-
nanceira (Depois de tanto negócio MATRACA (s.) - 1. espécie de ins-
besta, ele ficou quebrado, e agora trumento que consiste de uma tábua
está matando cachorro a grito e ja- com duas peças de ferro móveis, a
caré a beliscão). qual, sacudida, faz um barulho seco,
servindo para substituir o sino e a
MATAR O BICHO (exp.) - beber campainha durante a Semana Santa,
cachaça (numa alusão a matar o quando, em sinal de respeito e de
verme, a lombriga). luto, aqueles instrumentos sonoros
não podem ser tocados (Nas madru-
MATAR QUEM ESTÁ MA- gadas da quaresma, a meninada
TANDO (exp.) - comer (ou seja, ficava assombrada com o barulho
matar a fome). da matraca). 2. pessoa que conversa
sem parar. 3. plantadeira de arroz
MATAR TICO-TICO COM manual.
BALA (exp.) - mobilizar forças
muito superiores às necessárias para MATREIRO (adj.) - velhaco; es-
determinado empreendimento. perto (Muito matreiro, o velho fez de
conta que acreditou no que o rapaz
MATEIRO (s.) - espécie de veado disse).
que vive nas matas, maior que o ca-
tingueiro e menor que o galheiro. MATRICÁRIA (s.) - espécie de
planta e de preparado medicinal que
MATÉRIA PLÁSTICA (s.) - nome se administra às crianças na época de
como era conhecido o plástico, logo pré-dentição.
que surgiu no comércio.
MATRINCHÃ (s.) - saboroso peixe
MATO (s.) - roça, em contraposição de água doce; piabanha.
a cidade.
MATRIZ (exp.) - vaca ou porca
MATO SUJO (s.) - mato não ro- parideira.
çado.
MATULA (s.) - V. matalotagem;
VEJA TAMBÉM: matolotagem; matutage.
Bicho-do-mato
Botar o caso no mato MATUNGO (s.) - cavalo de monta-
Corte-de-mato ria.
Estar no mato sem cachorro
248
MATUSQUELA (adj.) - ruim da MEÃO (s.) - meião; parte do carro-
cabeça (O filho mais velho do coro- de-bois (V.).
nel é mai matusquela).
MEARIM (s.) - milho de pipoca.
MATUTAGE (s.) - V. matula.
MÉDIA (s.) - café com leite em
MATUTAR (v.) - pensar; imaginar quantidade de uma xícara de chá ou
(Com o dinheiro ganho, Filemon de um copo americano; geralmente
ficou matutando sobre em que apli- vem acompanhada de um pão com
car). manteiga; pingado.
MATUTO (s.) - caipira; que mora no MEDIR (v.) - calcular (Do jeito que
mato; capiau. ele vinha correndo da vaca parida
de novo, mediu a altura de uma ga-
MAUEZA (s.) - maldade; malva- lha de pau e, de um salto, livrou-se
deza; malvadesca. da besta-fera).
249
MEIA-PAREDE (s.) - parede que diu a Deus: de dia, caçava e pes-
divide dois cômodos, mas que não cava, e de noite aproveitava para
sobe até o teto, ficando um espaço melar). 2. derreter-se a rapadura
comum entre ambos. quando exposta à umidade. 3. ama-
relar as folhas e definhar as vagens
MEIA-PRAÇA (s.) - garimpeiro que do feijão com a abundância de chuva.
trabalha para o dono do garimpo, em
troca do sustento e de uma percenta- MELAR NA CABAÇA FURADA
gem sobre o que é encontrado. (exp.) - fracassar; ir fazer uma coisa
que não deu certo. O fundamento é
MEIA-TIGELA (adj.) - V. de meia- que o melador, ao tirar o mel, ob-
tijela. serva que a cabaça está furada, im-
possibilitando-o de trazer o produto.
MEIA-TORRA (s.) - diz-se do café
parcialmente torrado. MELECA (s.) - secreção nasal que
se solidifica nas narinas.
MEIA-VIDA (s.) - pneu gasto que
ainda serve para uso em caso de MELENCIA (s.) - melancia.
emergência.
MELENCÓ (adj.) - triste; melancó-
MEIO LÁ MEIO CÁ (adv.) - mais lico; jururu.
ou menos (Levava sua vidinha meio
lá meio cá). MELEQUÊ (s.) - sujeira preguenta;
godó; ceró.
MEIZINHA (s.) - remédio caseiro;
mezinha. MELETA (s.) - tamanduá-mirim,
também conhecido como merola,
MEL (s.) - 1. melado; mel de enge- mixila ou mixirra, que se alimenta de
nho. 2. sangue (Quando ele levou o formigas; sua pele é tida como das
soco no nariz, o mel desceu). mais resistentes, e sua carne serve de
remédio; não é nocivo ao homem,
MELADO (adj.) - 1. diz-se do ani- tendo índole pacífica, mas quando
mal cor de mel; sabaruno. 2. lambu- atacado por algum cachorro, suas
zado. enormes e afiadíssimas unhas trans-
formam-se em armas mortais.
MEL-DE-DEDO (s.) - mel de enge-
nho de contextura grossa, que per- MELHORAR A DOR (exp.) - mi-
mite se comer com o dedo. norar a dor.
250
gases, inflamações e diminuído a
MENAS VERDADE (exp.) - men- febre.
tira (Se você diz que me viu na briga,
é menas verdade sua). MEQUETREFE (adj.) - variação de
mequerefe; homem ordinário, sem
MENÇÃO (s.) - gesto; aparência valor, fraco; joão-ninguém.
(Quando o homem fez menção de
dar o tapa, Gileno saltou de banda). MERDA (s.) - 1. fezes. 2. miséria
(Com o fracasso no comércio, o
MENDINGO (s.) - pedinte; men- Duda ficou na merda).
digo.
MERENDA (s.) - 1. o café da ma-
MENINA-DOS-OLHOS (s.) - 1. a nhã. 2. lanche.
íris ocular. 2. pessoa ou coisa que se
quer muito bem ou de que se tem VEJA TAMBÉM:
ciúmes (A menina-dos-olhos de Fe- Comer a merenda antes do recreio.
lismino não era a filha, mas a fa-
zendona). MERGULHÃO (s.) - 1. ave preta de
corpo alongado; pesa aproximada-
MENINA-MULHER (s.) - expres- mente um quilo e meio; possui a
são pleonástica para indicar criança parte superior do grande bico muito
do sexo feminino, como menino- afiada; seu olho é azul com a pupila
homem designa a do sexo masculino negra; sua voz imita a de uma porca
(Minha mulher descansou ontem: é brava parida de novo; seus pés são
uma bela menininha-mulher). munidos de membranas interdigitais,
como os palmípedes, o que lhe per-
MENINO-HOMEM (s.) - V. me- mite nadar com desenvoltura e rapi-
nina-mulher. dez; suas penas são luzidias e im-
permeáveis; pode voar diretamente
MENTIRAIADA (s.) - porção de da superfície da água ou vir boiando
mentiras (Lá vem o Abelardo de e levantar vôo. Quando cobre gran-
novo com sua mentiraiada, pen- des distâncias, costuma voar de bico
sando que a gente ainda acredita aberto. Come peixes pequenos e mé-
nele). dios. Passa a maior parte do dia ca-
çando peixes, e mes mo já saciado
MENTIR FOGO (exp.) - negar fogo costuma matá-los, deixando-os à
(a arma); lencar (Na hora em que o mercê de outros predadores. Des-
veado entrou na espera, a carabina cansa sobre a água ou em árvores
mentiu fogo). ribeirinhas, preferentemente secas ou
de folhagem rarefeita. Forma bandos
MENTRASTO (s.) - planta rasteira enormes, de mais de cem indivíduos,
e doméstica de efeitos terapêuticos; cujo bater de asas assemelha-se ao
erva-de-são-joão. É utilizado como ruído de um vendaval. É um dos
analgésico, antiespasmódico, alivi- poucos animais que copulam na
ando as cólicas uterinas, dores por água. Seu ninho, em forma de panela,
é feito de gravetos trazidos do fundo
251
do rio. Põe, no máximo, três ovos, de
cor branca e do tamanho dos de uma MES’QUE (loc. adV.) - mesmo que
marreca, sendo a época própria para a (Mes’que o pagamento não saia,
postura os meses de maio e junho. O faça uma força de comprar o carro
período de incubação varia de 28 a com cheque pré-datado).
32 dias, e os filhores costumam alçar
vôo com pouco mais de um mês e MÊS RETRASADO (S.) - V. mês
meio de vida. Enquanto pequenos e atrasado.
até começarem a voar, são alimenta-
dos por ambos os pais pelo sistema MÊS TRASADO (s.) - V. mês atra-
de regurgitação, mas logo que ficam sado.
grandinhos, os pais abrem o bico e os
próprios filhotes retiram o alimento MESTRE-ESCOLA (s.) - professor;
de sua goela. 2. ebulidor elétrico para professor que ministra aulas, por
ferver água; rabo-quente. temporada, nas fazendas, a pedido
dos fazendeiros, para atendimento
MERMA (s. - pronuncia-se mérma) dos filhos deste, dos empregados e
- 1. doença. 2. feitiço. dos agregados.
252
uns mantimentos e o safado meteu o tratar de negócio perto do Juca,
troco no bolso). 2. dominar comple- porque ele é muito metido).
tamente (Mané Garrincha metia no
bolso qualquer marcador). METIDO A BESTA (exp.) - per-
nóstico; pessoa que quer ser o que
METER O BEDELHO (exp.) - V. não é.
meter o bico.
METIDO A RABEQUISTA (exp.)
METER O BICO (exp.) - introme- - rabequista é aquele que toca a ra-
ter-se na conversa sem ser chamado beca; expressão designa aquele que,
(Quando gente grande estiver con- sem pleno conhecimento, mete-se a
versando, menino não deve meter o fazer algo que ignora.
bico).
MEXER (v.) - 1. desencaminhar
METER O NARIZ (exp.) - V. me- donzela (Mexeram com a filha do
ter o bico. coronel, mas ele não pode dar um
jeito porque a mocinha não diz
METER O PAU (exp.) - criticar; quem foi). 2. ter como meio de vida
falar mal de alguém; atacar com pa- (Eu agora estou mexendo é com
lavras; descer a ripa. venda de gado).
253
MIJACÃO (s.) - tumor que dá na MIJO (s.) - urina.
sola ou nos dedos dos pés, proveni-
ente do contato com a urina de ani- MILES (num.) - milhares; grande
mais. quantidade (Miles de romeiros che-
garam ao Bonfim para a missa do
MIJADOR (s.) - recipiente feito de padroeiro).
chifre de boi que o caçador conduz
para urinar na espera, uma vez que o MILHO (s.) - dinheiro (É melhor
faro da caça, por ser muito aguçado, você debulhar o milho e pagar logo
pressente a presença do homem se a conta).
ele urina nas imediações, não se
aproximando; é uma espécie de vaso MILHO DE PIPOCA (s.) - V. mea-
sanitário portátil improvisado, usado rim.
no norte do Estado.
VEJA TAMBÉM:
MIJÃO (s.) - 1. aquele que mija na Catar milho
cama. 2. espécie de pijama inteiriço, Dar milho a bode
em geral de malha, semelhante a um Quebrar milho.
macacão.
MILHOMEM (s.) - arbusto ramoso
MIJAR (v.) - urinar; fazer xixi. cuja batata é terapêutica e tem o sa-
bor muito amargo, também conhe-
MIJAR FORA DO CACO (exp.) - cido por jarrinha; milome. Segundo
falhar; desistir; mijar na escorva; se afirma, seu nome deve-se ao fato
mijar fora do penico. de haver curado mil homens na
Guerra do Paraguai, acometidos de
MIJAR FORA DO PENICO (exp.) cólera; outros dizem que é devido a
- V. mijar fora do caco; mijar na um curandeiro gaúcho, que afirmou
escorva. haver curado mil homens de picada
de cobra com a batata dessa planta. É
MIJAR NA ESCORVA (exp.) - V. utilizado para curar azia, caxumba
mijar fora do caco; mijar na espo- descida, picadas de cobra, cólicas,
leta. disenteria, dor de cabeça, males do
estômago, do fígado e dos intestinos,
MIJAR NA ESPOLETA (exp.) - V. além de ser eficiente cicatrizante e
mijar fora do caco. antiinflamatório.
254
MINDINHO (s.) - dedo mínimo. geralmente compridos, fortes e flexí-
veis, são usados para se fazer cestos,
MINDUBIM (s.) - amendoim; mon- destiladeiras e como chicote; unha-
dubim; mendubim; mudubim. de-vaca.
255
MIUDINHO (adv.) - a pequenos moda de se intrometer nas coisas
espaços de tempo miúdo; miuchinho dos outros). 2. canção caipira que é
(Eles passaram a encontrar-se miu- acompanhada pela viola; moda de
dinho, e acabou dando em casa- viola.
mento).
MODA DE VIOLA (s.) - música,
MIÚDO 1. (s.) - dinheiro trocado; acompanhada de viola, que retrata
troco. 2. (adv.) miudinho. fatos épicos ou humorísticos aconte-
cidos na região; moda (2).
MIÚDOS (s.) - vísceras de animais
cuja carne é comestível (fígado, co- MODE (prep.) - 1. para; a fim de
ração rins etc.). (Eu compro carne é mode comer, e
não mode dar a gato). 2. pelo (Eu vi
MIXILA (s.) - V. meleta. que ele não era traquejado em pega-
ção de gado, mode o jeito de arrear
MIXILANGA (s.) - V. beberagem; a tropa).
meizinha.
MODEBA (s.) - forma popular pejo-
MIXURUCA (adj.) - coisa sem va- rativa com que se designam os parti-
lor. dários do antigo Movimento Demo-
crático Brasileiro (MDB), hoje
MOCA - 1. (s.) - esconderijo na PMDB; modebra; gambino; marmi-
brincadeira de bacondê. 2. (s.) - café tão; marmitex; pemba.
(Depois do almoço, beberam o moca
e saíram para a roça). MODEBRA (s.) - V. modeba.
MOÇA (s.) - virgem (Aquela me- MODE COISA QUE (exp.) - parece
nina, para mim, não é mais moça). que (Você mode coisa que chorou,
minha filha!).
MOCHÉ (s.) - V. morché.
MODINHA (s.) - canção, geral-
MOCHO – 1. (adj.) - gado despro- mente antiga; cantiga.
vido de chifres. 2. (s.) - banco rústico
sem encosto, de assento quadrado ou MODOSO (adj.) - bem compor-
redondo. tado; que tem bons modos (Foi boa a
indicação do Guilherme para o em-
MOCÓ (s.) - espécie de roedor prego de mordomo, pois ele é muito
anuro, semelhante a um rato grande, modoso).
de cor acinzentada, que vive em locas
nas serras e caleiras. MOENDA (s.) - cilindros colocados
lado a lado, verticalmente, no enge-
MOCORONGO (s.) - pessoa desa- nho para moer a cana.
jeitada; bobo.
MOER VIDRO COM A BUNDA
MODA (s.) - 1. mania (Foi bom (exp.) - V. arrastar o rabo na areia.
acontecer isto, para ele largar da
256
MOFINO (adj.) - covarde; medroso MOLHAR A GOELA (exp.) - be-
(O Zeferino não vai viajar de noite, ber um pequeno gole; molhar a pa-
porque ele é muito mofino). lavra.
257
MONTADO NA EMA (exp.) - bê- tou no candeeiro e moqueou o ca-
bado (Naquela hora, chegou Elpídio belo todo).
montado na ema).
MOQUÉM (s.) - grelha indígena
MONTADO NA ERVA (exp.) - feita de varas para se assar peixe;
cheio de dinheiro (Com o negócio da assado nas cinzas, à maneira indí-
fazenda, Mário está montado na gena.
erva).
MORANGA (s.) - variedade de abó-
MONTADO EM PÊLO (exp.) - bora de polpa amarela e enxuta e
montado sem arreios; V. em pêlo. sabor mais agradável que a abóbora
comum; jerimum.
MONTAR (v.) - cavalgar; escan-
char. MORCEGAR (v.) - sugar; explorar;
tirar vantagem.
MONTAR CASA (exp.) - mobiliar.
MORCHÉ (s.) - sapo grande; macô;
MONTAR EM PÊLO (exp.) - caçote; cururu.
montar sem qualquer arreio ou prote-
ção. MORDE-E-SOPRA (s.) - diz-se
daquele que faz o mal e depois vem
MONTARIA (s.) - 1. espécie de tentar agradar, botando panos quentes
canoa grande, menor que o batelão, (Nunca confiei nessas pessoas
para transporte em geral. 2. qualquer morde-e-sopra).
animal de montaria.
MORDIDA DE COBRA (s.) - diz-
MONTAR NA EMA (exp.) - embri- se que a pessoa foi ofendida. Ao ser
agar-se. picado por um ofídio, o sertanejo
toma leite de pinhão bravo. Pode-se,
MONTAR NA NOTA (exp.) - rece- para maior eficácia deste remédio,
ber uma grande importância em di- acrescentar um pouco de raspa da
nheiro (Quando ele vendeu o magote entrecasca de pereiro e outro tanto de
de gado, montou na nota). cachaça. Outras meizinhas muito
usadas são o chá de caroço de aba-
MONTOEIRA (s.) - grande quanti- cate e o xarope da casca queimada da
dade; montão (Veio uma montoeira castanha de caju. Existem, ainda,
de gente à festa do batizado). outros tidos como eficacíssimos: chá
de vagem de coronheira ou de ce-
MONTURO (s.) - lixo que fica no bola; água da folha de bananeira;
fundo do quintal; balseiro. engolir caroços (sementes) de ata
(pinha); café amargo com cachaça ou
VEJA TAMBÉM: cravo-do-reino; tomar garapa de ra-
Fogo-de-monturo. padura até repugnar; chupar melancia
até arrotar ou comer cebola até não
MOQUEAR (v.) - 1. assar o peixe agüentar mais; comer alho com ca-
no moquém. 2. sapecar (Ele encos- chaça; beber leite até repugnar três
258
vezes. Diz-se que o álcool, quando O veneno que lhe dou, Fulano,
ingerido, pode ser antídoto ou pre- Leite de Nossa Senhora,
ventivo, uma vez que, estando embri- Mãe de Jesus.
agada, uma pessoa dificilmente sofre São Bento ajuda-me!”.
os efeitos do veneno de cobra ou bi-
cho brabo (escorpião, lacraia, etc.). MORDOMO (s.) - pessoa encarre-
No terreno do misticismo, há simpa- gada de ajudar nos preparativos das
tias, como amarrar o membro ofen- folias (são escolhidos, por sorteio, no
dido com uma correia de couro de dia da última festa, juntamente com o
guaxinim. E a superstição assegura, imperador, o mastreiro, o capitão-do-
na impossibilidade de o benzedor se mastro e o alferes).
deslocar para ir rezar sobre o en-
fermo, o benzedor manda um objeto MORINGA (s.) - botija de barro ou
pessoal seu, o qual, posto sobre o alumínio para esfriar água; quarti-
ofendido, faz aliviar as dores. Outras nha.
vezes, basta que o benzedor reze na
direção da casa do enfermo. Em se MOROTÓ (s.) - bicho de pau ou
tratando de animais, é suficiente que bicho-de-coco; espécie de verme ou
se reze sobre o seu rastro. Existe uma larva de cor branca que se forma em
rezaa, dedicada a São Bento, tida madeira podre ou dentro de cocos. O
como muito eficiente, que deve ser sertanejo aprecia comê-lo assado.
pronunciada três vezes sobre o ofen-
dido de: MORREDEIRA (s.) - desmaio;
acesso; tontorona; vago.
“São Bento,
Com tua sabedoria MORRER - 1. (v.) pagar dívida ou
Vieste ao mundo despesa inesperada (No fim da farra,
Para curar todos os venenos ele teve que morrer na conta). 2. (v.)
De serpente; deixar o motor de carro ou de outra
Que com tuas palavras máquina apagar (Na subida o carro
Conseguiete derrubar morreu e precisei passar uma se-
As presas da serpente; gunda).
Aqui estou
Com as palavras mais sábias MORRER DE REPENTE (exp.) -
Querendo interromper morrer de mal súbito.
Dos canais de via
De que este veneno subtraiu. MORRINHA - 1. (adj.) - mesqui-
Peço tua ajuda nho; criador de caso; casquinha
Para ajudar neste momento Fulano, (Sujeitinho morrinha como aquele
Que está porventura estou por ver). 2. (s.) - mau cheiro;
Sofrendo grande tortura. inhaca; aca; almisco (A carne de
Sobre este veneno peço ajuda, galheiro, se não se souber cozinhar,
Que em todas as veias deste corpo dá uma morrinha terrível).
Será passado o sangue
De Nosso Senhor Jesus Cristo, MORTE DA BEZERRA (exp.) -
E para cortar de vez grande ajuntamento de gente (Isto
259
aqui está parecendo até a morte da ras de folhas amarelas e mangas
bezerra, pois nunca vi tanto curioso movidas).
querendo saber da vida alheia).
MUAFO (s.) - 1. trapos; roupa velha
MORTO DE FOME (exp.) - com (Ele trouxe uma sacola cheia de
muita fome; varado de fome. muafo). 2. exagero (Cremilda che-
gou com um muafo de coisas, que
MORTO DE PREGUIÇA (exp.) - parecia até mudança).
indolente; excessivamente pregui-
çoso. MUCAMA (s.) - antiga escrava do-
méstica; negrinha que serve à patroa.
MOSCA (s.) - pequeno tufo de ca-
belos que é deixado, logo abaixo do MUÇUÃ (s.) - espécie de quelônio,
septo nasal, como bigode, à moda semelhante à tartaruga, de carne
Chaplin. muito apreciada.
260
MUCURA (s.) - roedor semelhante várias vezes; dar-lhe de beber um
ao rato, de hábitos noturnos, que é prato raso, ainda virgem; lavar os bil-
predador de galinheiros, com a ca- ros de uma almofada de fazer rendas
racterística de comer apenas a cabeça e dar a água para a criança beber.
de suas vítimas; gambá.
MUDUBIM (s.) - amendoim.
MUÇURACA (s.) - V. mucuta.
MUITAS VEZES (adv.) - é possí-
MUCUTA (s.) - trouxa em que se vel; talvez (Muitas vezes eu posso
carregam os apetrechos de pitador: chegar lá amanhã).
fumo, cachimbo, palha de milho e
papa-fogo; farnel; muçuraca; ca- MULA (s.) - espécie de doença ve-
chorra (2). nérea semelhante ao cancro.
261
MULHER PÚBLICA (s.) - V. rapa- Cu do mundo
riga. Estar no mundo da lua
Ganhar o mundo.
MUMBUCA (s.) - espécie de abelha
silvestre, considerada extinta, de mel MUNDRUNGUEIRO (s.) - feiti-
muito ácido e de propriedade apenas ceiro; mandraqueiro.
purgativa, que faz sua colméia exclu-
sivamente na mata virgem; mom- MUNGUBA (s.) - fruto da mungu-
buca. beira, com o qual se fabrica sabão.
262
MURIÇOCA (s.) - pernilongo; ca- menta-do-reino do tamanho de uma
rapanã. bola-de-gude, que serve para fazer
refresco e é apreciado alimento das
MURINHANHA (s.) - espécie de caças mais diversas (cutia, paca, ve-
mosca sugadeira, de ferrão violento e ado, caititu etc.). Suas cascas, colo-
picada dolorida, que inferniza o cadas em decantação na água fria,
gado; mosca-do-chifre; mutuca. desprendem uma gosma, que é boa
para alisar os cabelos, para curar dor
MURRÃO (s.) - fuligem que se de barriga, feridas, gangrena, hemor-
forma no pavio de candeia a quero- róidas, doenças dos intestinos, incha-
sene (Antes de inventarem as anili- ções e para lavagem uterina.
nas, os velhos usavam murrão de
candeia para tingir os cabelos, su- MUTIRÃO (s.) - agrupamento de
jando a gola da camisa, denunci- trabalhadores que se reúnem para
ando a vaidade). determinado serviço (roçagem, broca,
limpa, derrubada etc.) para colaborar
MURREMA (s.) - inflamação (On- com um amigo que necessita de mão-
tem ela amanheceu com uma mur- de-obra, em troca de, no fim do dia,
rema na barriga). promover um baile, com bebida e
comida; muxirão.
MURRO (s.) - serviço; batente
(Todo dia ele dá o murro na roça MUTRETA (s.) - velhacaria; vival-
pra poder criar os meninos). dinice; treita.
263
MUXIBAGEM (s.) - economia fora MUXIBENTO (adj.) - 1. que tem
das medidas (Deixe de muxibagem, muxibas. 2. muxiba (3).
rapaz, e dê a esmola pro cego!).
MUXIRÃO (s.) - V. mutirão.
-N-
NA BACIA DAS ALMAS (exp.) - ad- NADAR DE BRAÇADA (exp.) - ficar
quirido a preço vil, abaixo da metade (O à vontade (Os netos nadam de braçada
safado do turco ficava espiando quem quando chegam a casa da avó).
estava apertado e só comprava as coisas
na bacia das almas). NA DEPENDURA (exp.) - em dificul-
dade financeira (Aquele pobre comerci-
NA BOCA DE ESPERA (exp.) - no ante, com essa política econômina, fi-
aguardo da vez (Enquanto o menino foi cou na dependura).
ver se conseguia pegar a cesta básica,
eu fiquei na boca de espera). NADICA DE NADA (exp.) - V. nadi-
nha.
NA BUCHA (exp.) - na mesma hora; de
imediato (Ele era muito estudioso: nas NADINHA (adv.) - absolutamente
provas orais, ele respondia na bucha a nada; nadica de nada.
todas as perguntas ).
NÁFEGO (s.) - animal que tem um dos
NABUCO (s.) - anuro; sem rabo; cotó; quartos seco.
pitoco; rabicó; sura; suruca.
NAGREJAR (v.) - existir em abundân-
NADA (adv.) - usado, em certas cons- cia; coalhar-se de gente ou animais (No
truções, geralmente no fim de frases, dia da Festa do Divino, a praça nagre-
com a acepção de “não” (Ele não é bobo java de romeiros).
nada! - Pinga com amargo? Bebo
nada!). NA MARRA (exp.) - à força; com vio-
lência; no peito e na raça (Ele vai ter
NADA DE NADA (exp.) - absoluta- que se casar com ela, nem que seja na
mente nada; nadica de nada. marra).
264
NAMBI (adj.) - V. troncho.
NÃO CAGAR NEM DESOCUPAR A
NAMBU (s.) - V. inhambu. MOITA (exp.) - ficar indeciso.
NÃO BATER PREGO SEM ESTOPA NÃO DAR OUTRA (exp.) - ocorrer o
(exp.) - ser extremamente vivo, de forma que se previa.
a não fazer algo sem pensar em proveito
futuro (a expressão origina-se do cos- NÃO DAR PELOTAS (exp.) - não dar
tume que os barqueiros tocantinenses confiança; não dar importância.
têm de calafetar os buracos dos barcos e
canoas com pregos envolvidos em es- NÃO DAR UMA SEDE DE ÁGUA A
topa embebida de breu para evitar vaza- NINGUÉM (exp.) - V. não dar água a
mentos). pinto.
265
NÃO ESQUENTAR A CABEÇA NÃO SER FLOR QUE SE CHEIRE
(exp.) - não se preocupar. (exp.) - pessoa que tem mau caráter.
NÃO ESTAR NO GIBI (exp.) - ser NÃO SER GRAÇA (exp.) - não ser
incomum; fora de série. brinquedo.
NÃO LEVANTAR UMA PALHA NÃO SER MOLE (exp.) - não ser fácil.
(exp.) - V. não arribar uma palha.
NÃO TER CARA (exp.) - ter vergonha
NÃO PAGAR NEM FOGO NA (Depois daquele papelão, ele não tinha
ROUPA (exp.) - ser péssimo pagador. cara de voltar ali).
NÃO PODER COM A GATA PELO NÃO TER COM QUÊ (exp.) - ser po-
RABO (exp.) - ser fraco; embora queira bre e sem recursos; não ter uma banda
aparentar valentia. de couro pra cair em cima (O pobre
Salu ficou apertado com a idéia de ofe-
NA ORELHA (exp.) - troca de coisa recer um almoço para o patrão, mas era
com coisa, sem outra compensação ou uma pessoa que não tinha com quê).
volta; pau a pau; oreado (Depois de
muito negociarem, resolveram trocar os NÃO TER GRILO (exp.) - não ter pro-
animais na orelha). blema.
266
NÃO VALER UM COMPRIMIDO nas folhas de babosa, de mamona, ca-
DE CIBAZOL (exp.) - V. não valer um baça, pimenteira, aroeira e outras, sob
derréis de mel mal coado. forma de banhos. Para amolecer os tu-
mores e facilitar-lhes a cura, empregam-
NÃO VALER UM DERRÉIS DE se como emolientes a polpa de juá, a
MEL MAL COADO (exp.) - V. não casca do coco catolé, a folha de babosa,
valer o feijão que come; não valer o a pele que reveste o interior da cabaça e
feijão que come; não valer uma cagaita; a cera de abelhas. Normalmente, os re-
não valer um cibazol; não valer um médios para tumores externos servem à
comprimido de cibazol; não valer uma cura dos furúnculos e abscessos.
pitomba.
NAS COXAS (exp.) - que é feito às
NÃO VALER UMA CAGAITA (exp.) pressas, com imperfeição.
- V. não valer o feijão que come; não
valer uma pitomba. NAS TOEIRAS (exp.) – em apuros.
267
muito tempo decorrido (Né d’hoje que de um ser misterioso; também chamado
eu paguei a conta, e agora vem esse de caboclo d’água.
vigarista me cobrar de novo!).
NEM AMARRADO (exp.) - de modo
NEGAR ESTRIBO (exp.) - 1. recusar algum; em nenhuma circunstância; nem
(Na hora em que ele quis beijá-la, ela a pau (Não me caso com ela nem amar-
negou estribo). 2. voltar atrás (Depois rado).
do negócio apalavrado, o safado do Jiló
negou estribo). NEM A PAU NEM (s.) - V. nem amar-
rado.
NEGAR FOGO (exp.) - 1. falhar (a
arma); lencar; mentir fogo; palpar NEM OSGA (exp.) - nada; coisa ne-
(Quando ele apertou o pinguelo, o agaó nhuma (Ele chegou da viagem e não
negou fogo). 2. malograr (Quando mais disse nem osga sobre sua missão).
precisava do amigo, ele negou fogo).
NEM PRO FIO DO RÊ (exp.) - ex-
NEGAR O CORPO (exp.) - esquivar- pressão que significa “nem pro filho do
se; refugar; abrir fora (O soco parecia rei”, ou seja, “pra ninguém”, “de forma
certeiro, mas Caiadinho negou o corpo, alguma”; absolutamente (Não empresto
e não foi atingido). minha bicicleta nem pro fio do rê).
NEGOÇAR (v.) - V. coisar; comeque- NEM TICO NEM TACO (exp.) - nem
chamar. uma coisa nem outra; nem tique nem
taque (Sua ganância em querer ficar
NEGÓCIO (s.) - 1. estabelecimento com tudo acabou deixando-o sem nada:
comercial. 2. meio de vida. 3. bichado. nem tico nem taco).
NEGRA (s.) - última e decisiva partida, NEM TIQUE NEM TAQUE (exp.) -
quando, nas disputas semifinais, ocorre V. nem tique nem taque.
um empate por pontos, necessitando uma
outra partida, que define tudo. NEM UMA FAÚLA (exp.) - nem uma
fagulha; nem um pouco; nem um trisco.
NEGRADA (s.) - turma; macacada.
NERES DE PITIBIRIBA (exp.) - ab-
NEGRO DA BISSINA (s.) - pessoa solutamente nada.
extremamente negra; negro da Abissínia
(antigo nome da Etiópia); cafuçu; escri- NERVOSIA (s.) - 1. impaciência. 2.
vão do inferno. assombração; livuzia. 3. nervosismo.
Qualquer excitação nervosa pode ser
NEGRO D’ÁGUA (s.) - entidade fan- curada com o chá das raízes ou das cas-
tástica representada, segundo uns, por cas de mulungu. Também são muito re-
um homem preto, baixinho, de cabelos ceitadas o alho e a cebola, tanto para se
lisos, luzidios e compridos, que mora cheirar como para o chá. O chá da erva-
dentro d’água; não se sabe o que faz, cidreira sem açúcar tem lugar de desta-
causando temor exatamente por se tratar que na aplacação dos nervos. Receita-se
também a infusão de casca de pereiro,
268
misturada com manacá, a de melão-de- NO FRIGIR DOS OVOS (exp.) - na
são-caetano, das cascas de pereiro com hora H; na hora decisiva; no concluir do
quina, bem como os remédios prescritos negócio (Compuseram-se no negócio, e
para o caso de desmaio. no frigir dos ovos o patrão saiu per-
dendo).
NESGA (s.) - V. garra.
NO GRITO (adv.) - por meios violen-
NESSAS ALTURAS (exp.) - a esta tos ou à força (Ele conseguiu reaver
altura; àquela altura (Nessas alturas, o suas coisas no grito).
ladrão já deve estar longe).
NOITÃO (s.) - tarde da noite (Já era de
NESSES DIINHAS (exp.) - V. diinhas. noitão quando ele chegou).
269
NOS CONFORMES (exp.) - inteira-
mente de acordo com as previsões; rigo- NÓS-PELAS-COSTAS (exp.) - fres-
rosamente de acordo. cura; exigências (Nunca vi gente com
tantos nós-pelas-costas como o Jesu-
NOS TRINQUES (exp.) - V. estar nos íno).
trinques.
NO TAMPO DA FIVELA (exp.) -
NOTA BRANCA (s.) - nota sem valor imediatamente; na mesma hora; em cima
fiscal, que os comerciantes emitem para da bucha (Com Joaquim a resposta
sonegar o fisco. vem no tampo da fivela).
NO VENTO (exp.) - facilmente (Bexiga NUNCA (adv.) - ainda não (O leite não
era uma doença que contagiava no chegou porque o menino que traz da
vento). fazenda nunca chegou hoje).
270
-O-
OA! (int.) - interjeição, que é pronunci- verde, correram e chamaram Lídio, o
ada de forma prolongada e sonora para benzedor de quebranto). 2. fazer; execu-
acalmar o gado ou fazer os bois-de-carro tar; proceder (Você obrou muito mal em
pararem (Quando o gado pispiou a ficar namorar aquela garota).
inquieto, os vaqueiros gritaram: Oa!
Oa!). OCADO (adj.) - oco; com a sensação de
vazio (Àquela hora do dia, os trabalha-
O BODE PRETO (exp.) - o Capeta. dores estavam todos ocados de fome).
271
Ó, DE CASA! (exp.) - saudação que a OITO-BAIXOS (s.) - sanfona de oito
pessoa utiliza ao chegar à porta de uma baixos; pé-de-bode (Quando Adontino
uma casa para chamar a atenção do mo- pegava sua oito-baixos, ninguém ficava
rador que se acha lá dentro. sem dançar)
272
calcanhar e usando a ponta do dedão ONÇA (s.) - o maior felino do Brasil;
como haste de compasso (segundo a gata; canguçu.
superstição, serve para chamar o sol, em
época de muita chuva); olho-de-sol. 2. ONÇA-D’ÁGUA (s.) - V. ariranha.
espécie de fruto silvestre semelhante ao
bacupari. ONÇA PINTADA (s.) - V. canguçu.
273
a fazer seu mel no mato; apesar de sil-
OPAR (v.) - inchar; descorar; amarelar vestre, que pode ser criada domestica-
em decorrência de anemia. mente.
OROBÓ (s.) - barriga; pança; bucho; OUTRO(S) (pron..) - a(s) outra(s) pes-
bandulho; pandu (Depois que encheu o soa(s); o semelhante (Deixe de atentar
orobó é que foi dizer que a comida era os outros, menino, pois uma hora você
ruim). encrava).
274
mos ganhar o campeonato; ou vai ou OVO-DE-ARUÁ (s.) - pessoa cheia de
racha!). dengos, que se abespinha por qualquer
coisa; criança dengosa; ovo-de-indez
OUVIDO (s.) - 1. parte da arma onde se (Esse ovo-de-aruá é intolerável).
coloca a espoleta para ser detonada pelo
cão (2). 2. órgão da audição. Sobre as OVO-DE-INDEZ (s.) - V. ovo-de-aruá.
doenças do ouvido, veja o verbete doen-
ças do ouvido. OVOS ESTALADOS (s.) - ovos estre-
lados.
OVEIRO (s.) - ovário das aves (Se você
atirar no oveiro da ema, ela cai na OXENTE (int.) - interjeição de surpresa
hora). (Oxente, eu nem cuidava que você esti-
vesse aqui, João!).
275
-P-
PÁ (s.) - osso posterior do ombro; omo-
plata; apá. PACU (s.) - peixe de escamas de água
doce de forma arredondada, que vive em
PÁ, BUFE! (int.) - expressão que indica cardumes e não atinge mais que dois
pancada e conseqüente queda (Na briga quilos.
do boteco, Miligido atacou o outro com
uma cadeirada: foi pá, bufe!). PACUERA (s.) - fígado. O mais famoso
remédio para o fígado é a jurubeba, para
PABULAGEM (s.) - gabolice; impos- qualquer que seja a doença, tanto a infu-
tura (Não ligue para a pabulagem dele, são da raiz com a ingestão dos frutos co-
que é só conversa fiada). zidos com a comida, trazem o mesmo
efeito. O chá da folha de alfavaca é tido
PABULAR (v.) - conversar fiado. como ótimo remédio e tem a propriedade
de dissolver as pedras da vesícula. Tam-
PACA (s.) - grande roedor, maior que a bém o chá de alecrim, junto com as fo-
cutia e menor que a capivara, de carne lhas de abacateiro amarelas, serve para
muito apreciada, embora tida como rei- resolver complicações hepáticas. O ipê
mosa. roxo (pau d’arco), em infusão, e os chás
de folhas secas de cajueiro, de quebra-
PACAS (adv.) - advérbio de intensidade faca e raízes de canapu são também ex-
que dá a idéia de volume, quantidade; é celentes para quaisquer doenças hepáti-
o oposto de picas (Com a fome que eu cas.
estava, comi pacas).
VEJA TAMBÉM:
PACHECO (s.) - boizinho sem raça, ge- Bater a pacuera.
ralmente reprodutor; pactuário; patu-
eiro. PADAGI (s.) - planta aromática que se
coloca na cachaça.
PAÇOCA (s.) - carne de sol temperada,
assada ou frita, pilada com farinha de PADARIA (s.) - nádegas avantajadas.
mandioca; também pode ser feita com
amendoim ou gergelim torrado e pilado PADIM (s.) - padrinho; padrim.
com rapadura e farinha.
PADRIM (s.) - padrinho.
PACOVA (s.) - banana (por influência
indígena, já que é assim denominada PAGAR O PATO (exp.) - sofrer as
esta fruta no seu meio). conseqüências de algo para o qual não
276
contribuiu (Ele fez o que fez, e eu é que
acabei pagando o pato). PALETA (s.) - 1. omoplata do animal;
carne que é retirada daquela parte da rês.
PAGAR O VÉIO (exp.) - defecar (Es- 2. placa, geralmente de plástico, que se
pere um pouco, pois vou pagar o véio e usa para tocar instrumento de corda.
volto já).
PALHA BENTA (s.) - ramo bento que,
PAGODE (s.) - baile; festa dançante; no Domingo de Ramos, é carregado na
rala-bucho. procissão e que, segundo a crença, serve
para aplacar a fúria das tempestades,
PAI-DA-CRIANÇA (exp.) - o respon- quando queimado e atiradas suas cinzas
sável por algum ato (Quem deve buscar na chuva.
os recursos para o projeto é você, pois
eu não sou o pai da criança). PALHADA (s.) - lugar onde se colheu a
roça de mantimentos, que serve para
PAI-DAS-QUEIXAS (s.) - delegado de alimentar o gado na falta de capim.
polícia.
PALHEIRO (s.) - cigarro de palha feito
PAI-D’ÉGUA (s.) - grande; enorme de fumo-de-rolo; pau ronca; racha
(Esta é que é uma sorte pai-d’égua!). peito.
277
PAMONHA - 1. (s.) iguaria de milho serve de medida de capacidade para
verde, doce ou salgada, cozida na pró- grãos, que equivale a 40 litros.
pria palha do milho. 2. (adj.) - V. mo-
lóide. PANELA (s.) - 1. cárie grande (Como
as panelas eram enormes, o dentista
PAMPA (adj.) - cavalo malhado de preferiu extrair os dentes). 2. buraco de
branco e marrom (quando se trata de estrada (É preciso recapear a estrada,
gado bovino, diz-se que é mouro). pois as panelas acabaram com os car-
ros). 3. grupo restrito de pessoas, geral-
PAMPEIRO (s.) - confusão com baru- mente pessoas que se protegem mutua-
lho (Quando menos se esperou, ouviu- mente nas oportunidades de emprego
se o pampeiro do touro brabo arreme- etc.; curriola; igrejinha; panelinha
tendo contra a cerca do curral). (Todo ministro, quando toma posse,
trata de agasalhar aqueles de sua pa-
PANACA (s.) - pessoa tola ou simpló- nela). 4. V. pirarucu.
ria.
PANELADA (s.) - espécie de piqueni-
PANADA (s.) - V. lapada (O soldado, que promovido pelas crianças no Sábado
quando sojigou o preso, ainda lhe deu de Aleluia (v.), quando, logo ao ama-
umas panadas de sabre). nhecer, promovem uma arrecadação de
gêneros, aos grupos, de porta em porta,
PANARÍCIO (s.) - inflamação dolorida cantando:
e geralmente purulenta em redor das
unhas das mãos; panariz; unheiro. “Aleluia, aleluia!
Carne no prato,
PANARIZ (s.) - panarício. Farinha na cuia,
Fogo no Judas!”.
PANCA (s.) - 1. elegância (O Nico hoje
está numa panca que só se vendo). 2. V. PANELINHA (s.) - V. panela (3).
bimbarra.
PANGARÉ (s.) - cavalo velho ou ma-
PANÇA (s.) - barriga. gro.
PANCOSO (adj.) - elegante (Nunca vi PANO (s.) - 1. medida usada pelas cos-
sujeito para andar mais pancoso do que tureiras, sem dimensão definida (Esta
o Arneziro). saia será de dois panos, para sair mais
rodada). 2. manta de toucinho (Todo
PANÇUDO (s.) - barrigudo; barriga de mês, o coronel matava um gordo ca-
soro azedo. pado, fritava a carne e salgava vários
panos de toucinho).
PANDU (s.) - barriga; bandulho; orobó.
PANO BRANCO (s.) - manchas bran-
PANEIRO (s.) - cesto ou balaio feito de cas na pele; vitiligo; lazo-branco. Para
talos de palmeira e embira para trans- eliminar-se o pano branco, afirma-se que
portar frutas, cocos e raízes etc. e que o remédio é passar no local sangue de
278
galinha preta. Para pano preto, sangue de recomendada é medir-se o papo com um
galinha branca. cipó e colocar o cipó dependurado num
galho de gameleira. Com o tempo, o
VEJA TAMBÉM: papo acaba.
Pé-de-pano.
PAPO-AMARELO (s.) 1. espécie de
PANTAME (s.) - pântano. rifle de repetição que possui uma placa
de latão em redor do gatilho. 2. jarara-
PAPA (s.) - mingau. cuçu.
PAPAGAIO (s.) - 1. letra; nota promis- PAPO-D’ÁGUA (s.) - planta que cresce
sória (Tive de fazer um papagaio no sobre; aguapé.
banco para pagar aquele aval). 2. parte
da espora onde é presa a roseta. PAPO-DE-ANJO (s.) - balão de borra-
cha utilizado em festas de aniversário;
PAPA-HÓSTIA (adj.) - V. carola. bola-de-soprar.
PAPIATA (s.) - conversa; papo (1). PAPUÃ (s.) - espécie de capim que vi-
ceja dentro do mato.
PAPILOTE (s.) - V. piparote.
PAPUDO (adj.) - 1. contador de vanta-
PAPO (s.) - 1. conversa (Este camarada gem (Você é muito papudo, e não voi
só tem é papo; na verdade, ele não é de acreditar em nfluência sua). 2. que tem
nada). 2. bócio; aumento da glândula papo (2).
tireóide por ausência de iodo. Dos remé-
dios caseiros, os mais usados são o chá PAPULAGEM (s.) - conversa fiada em
dos talos da jerimum e das folhas da car- que se atribui vantagens ou aventuras;
queja, tomando-se duas xícaras após o pabulagem.
almoço e o jantar, durante meses. No ter-
reno místico, diz-se que a simpatia mais
279
PAQUEIRO (s.) - cachorro caçador de
pacas. PARELHA (s.) - junta de bois.
280
a vida atravessando o pessoal no porto
ali não morava mais ninguém). 2. V. PASSAR NA CARA (exp.) - seduzir
engana-bode. 3. alças da calça por onde sexualmente alguém; passar nos peitos.
passa o cinto; arreata (1). 4. argola de
metal ou peça trançada em forma de anel PASSAR NA NOTA (exp.) - vender;
que serve para juntar partes dos arreios. passar nos cobres.
281
PASTINHA (s.) - cabelo cortado reto na hoje, são de plástico ou metal). 3. órgão
altura da testa. sexual masculino.
PATACA (s.) - moeda antiga que equi- PAU-A-PIQUE (s.) - cerca formada de
valia a 320 réis. lascas de aroeira fincadas verticalmente;
paliçada.
VEJA TAMBÉM:
De meia-pataca. PAU-D’ÁGUA (s.) - cachaceiro; bê-
PATACÃO (s.) - antiga moeda de prata, bado.
de formato grande, no valor de 40 réis.
PAU-D’ARCO (s.) - madeira de lei,
PATACÃO NOVECENTOS E SES- também chamado ipê (branco, amarelo e
SENTA (s.) - patacão que tinha o valor roxo), cuja floração é das mais belas; sua
de 960 réis. madeira é excelente para a fabricação de
móveis e para qualquer outra finalidade
PATACOADA (s.) - V. presepada. que requeira madeira durável; possui
uma resina que pega fogo facilmente,
PATI (s.) - grande árvore do vale do chiando e soltando labaredas verdes,
Araguaia, que produz madeira dura de como se fosse álcool; daí, passou a cha-
cor negra, semelhante ao ébano. mar-se pau-d’álcool, de que pau-d’arco
é corruptela. A entrecasca do ipê roxo
PATRIMÔNIO (s.) - lugarejo; povoa- tem ampla utilização, sob a forma de
ção; corrutela. infusão ou chá, como adstringente para
estancar hemorragias e cicatrizante, além
PATROA (s.) - esposa ou companheira de ser aplicado nas curas de artrite, cân-
(O problema de compras e administra- cer, feridas, males do fígado e do estô-
ção da casa eu deixo é com a patroa). mago, flores brancas, anemia, próstata,
inflamações externas e internas, reuma-
PATUÁ (s.) - amuleto; talismã; saqui- tismo e dermatoses em geral.
nho com rezas ou objetos de feitiçaria;
figa; bentinho. PAU-DE-ARARA (s.) - 1. caminhão
cheio de gente, geralmente romeiros ou
PACTUÁRIO (s.) - V. pacheco. bóias-frias (Nos dias da festa do padro-
eiro chegam centenas de paus-de-
PATUEIRO (s.) - V. pacheco. arara). 2. instrumento policial de tortura,
de raízes medievais, que consiste em
PAU (s.) - 1. árvore (Na porta da fa- dois cavaletes, sobre os quais é esten-
zenda eles amarravam os animais de- dido um varal que passa entre os pés e
baixo de um pau frondoso que dava mãos amarrados do preso, que fica sus-
uma bela sombra). 2. madeira (Antiga- penso e sem possibilidades de movi-
mente, os cabides era todos de pau; mentos, enquanto é torturado com pan-
cadas, afogamentos e choques, com o
282
objetivo de fazer uma confissão. No fi- Orelha-de-pau
nal da sessão de tortura, o preso geral- Pé-de-pau
mente fica entrevado, pela falta de cir- Perna-de-pau
culação do sangue. 3. nordestino. Pinica-pau
Quebra-pau
PAU-DE-FOGO (s.) - arma de fogo; re- Quebrar o pau
vólver. Quebrar pau no ouvido
Rir pros paus
PAU-DE-FUMO (s.) - designação de- Santo de pau oco.
preciativa do negro; cascabulho de loi-
ceira; fubá; negro da bissina. PAULA SOUSA (s.) - espécie de
chumbo grande para munição.
PAU-D’ÓLEO (s.) - V. copaíba.
PAU MELADO (s.) - espécie de brin-
PAU-FERRO (s.) - árvore da mata, da cadeira, em que dois meninos simulam
família das leguminosas, de madeira uma briga, um deles portando um pe-
extremamente dura, utilizada principal- daço de pau, previamente besuntado com
mente para a fabricação de móveis tor- fezes, graxa ou qualquer outra substância
neados. que cause sujeira. Os dois aproximam-se
de um casal de namorados e iniciam uma
PAU-MANDADO (s.) - adulador; cha- discussão, quando um deles alega que o
leirador; bate-pau; puxa-saco; man- outro só está bravatando porque está
dado. com um cacete na mão; este, depois de a
discussão chamar a atenção do namo-
PAU PRA TODA OBRA (exp.) - pes- rado, pede a este que segure o pedaço de
soa que realiza qualquer serviço e de- pau enquanto ele briga com o outro me-
sempenha bem qualquer função. nino; quando o rapaz pega na extremi-
dade do pedaço de pau, o moleque puxa,
PAU-RONCA (s.) - cigarro de palha; deixando o namorado com a mão me-
palheiro; porronca; racha-peito. lada, saindo em desabalada carreira.
PAU VELHO (s.) - carro velho; chim- PAUTA (s.) - 1. cabeçalho para exerci-
bica; furreca. tar a caligrafia; norma.
283
o par (Mal coloquei o brinco de ouro na o que ele cede, sendo facilmente reti-
menina, ela já perdeu um pé: ficou só o rado.
da orelha esquerda).
PEBADO (adj.) - encrencado; em situa-
VEJA TAMBÉM: ção difícil.
Abrir no pé
Aperta-pé PECA (adj. pronuncia-se pêca) - mur-
Arrasta-pé cha; qualquer fruta caída antes da matu-
Bicho-de-pé ração; chocha, em se tratando de fruta
Cair em pé (Só vimos no pomar da chácara uma
Canga-pé frutas pecas e laranjas azedas).
Com os pés no chão
Dar pé PEÇONHA (s.) - o primeiro leite que a
Dar no pé vaca produz, logo após o parto, e que
De a pé vem com rajas de sangue; colostro.
De orelha em pé
De pé no chão PEDAÇO (s.) - Espaço de tempo (Dali
De pé no estribo a um pedaço, o homem sumiu misterio-
Estar com o pé no estribo samente).
Lava-pés
Pegar no pé PÉ-D’ÁGUA (s.) - aguaceiro; chuva
Peia-pé-e-mão forte; toró.
Pisar no pé
Segura o pé! PÉ-DE-BODE (s.) - sanfona de oito bai-
Sem-pé-nem-cabeça xos.
Tirar o pé da lama.
PÉ-DE-BOI (adj.) - disposto; trabalha-
PEAR EMA (exp.) – contar mentiras; dor (Severino velho sempre foi um pé-
mentir. de-boi no serviço, trabalhando de sol a
sol).
PEBA (s.) - espécie mais comum de
tatu, de porte médio, de casco peludo e PÉ-DE-BRIGA (s.) - confusão; briga.
que se alimenta de vermes e, segundo o
povo, também de carne humana, abrindo PÉ-DE-CANA (s.) - V. pinguço.
seus buracos nas proximidades dos ce-
mitérios. O peba fêmea, a exemplo de PÉ-DE-CHINELO (s.) - pessoa sem
outras espécies de tatu, dá à luz vários importância.
filhotes de cada vez, com a particulari-
dade de serem todos do mesmo sexo. PÉ-DE-FERRO (s.) - instrumento de
Outra particularidade do peba é a de que, ferro utilizado pelos sapateiros para
ao entrar no buraco e ser seguro pelo apoiar o sapato para colocar salto ou
rabo, crava suas unhas no chão da toca, meia-sola.
não havendo homem, por mais forte que
seja, que consiga arrancá-lo; a única PÉ-DE-GALINHA (s.) - ruga do rosto,
forma de fazê-lo é enfiar um pedaço de principalmente perto dos olhos.
pau ou o próprio dedo no seu ânus, com
284
PÉ DE GALINHA NÃO MATA
PINTO (dit.) - indica que eventuais PEDIR PENICO (exp.) - V. pedir ar-
castigos da mãe para corrigir os filhos rego.
não traz seqüelas.
PEDIR VÊNIA (exp.) - bajular (Ele é
PÉ-DE-JANTA (s.) - pessoa que possui muito de pedir vênia a todos aqueles
os pés grandes em demasia. que têm poder de mando).
PEDIROLA (s.) - hábito de viver pe- PÉ-DURO (s.) - diz-se do animal sem
dindo (Não agüento mais essa pedirola raça; curraleiro.
de Cursino todo santo dia).
285
PÊ-EFE (s.) - abreviatura de prato PEGAR DOENÇA (exp.) - contrair
feito; disco voador (2). doença venérea.
PEEIRO (s.) - local onde se peiam os PEGAR MAL (exp.) - não ser reco-
animais de montaria para pastarem. mendável.
PÉ-FRIO (s.) - azarento; sem sorte; cai- PEGAR NA CURVA (exp.) - surpreen-
pora. der (A qualquer momento eu vou pegar
esse malandro na curva).
PEGA (s.) - pergunta ou problema cap-
cioso, com o objetivo de deixar alguém PEGAR NO DURO (exp.) - pegar no
em dificuldade (Esse professor tem uma trabalho pesado.
provas cheias de pegas, só para compli-
car a gente). PEGAR NO ESTRIBO (exp.) - adular;
puxar o saco; chaleirar.
PEGA (s. - pronuncia-se pêga) - gralha;
ave de cor preta e branca de canto estri- PEGAR NO PÉ (exp.) - ser insistente,
dente, que vive em bandos. maçante, inoportuno (Só porque eu fui a
um baile de máscaras fantasiado de
PEGADO (s.) - V. pregado; rapa. mulher, a turma fica pegando no meu
pé).
PEGA-MARRECA (s.) - diz-se da
calça excessivamente curta. PEGAR O BOI (exp.) - obter grande
vantagem; bamburrar.
PEGA-PRA-CAPAR (exp.) - confusão;
corre-corre (Na hora do pega-pra-ca- PEGAR PARELHA (exp.) - apostar
par, saiu gente até pela janela). corrida (duas pessoas).
286
PEIADA (s.) - chicotada; lamborada. PEIXE (s.) - protegido; peixinho
(Quando a sindicância chegou nos pei-
PEIDA-CHEIROSO (s.) - o tal; o xes do diretor, eles trataram de arquivá-
manda-chuva; aquele cujos atos não são la).
contestados.
PEIXINHO (s.) - V. peixinho.
PEIDAR (v.) - dar peido; soltar gases.
PEIXEIRA (s.) - faca de cabo de ma-
PEIDO (s.) - flato; ventosidade emitida deira de tamanho maior que as comuns..
pelo ânus; pum; bufa; vento; traque.
PELADA (s.) - partida de futebol não
VEJA TAMBÉM: profissional que não envolve qualquer
Enfiar peido em cordão. time; racha (1).
287
PENDOAR (v.) - enflorescer; florar (o
PELINTRA (adj.) - bem vestido; ja- capim ou a cana-de-açúcar).
nota; pancoso; repimpado.
PENDURAR A CONTA (exp.) - ficar
PÊLO-DE-JEGUE (s.) - espécie de devendo.
cobertor vagabundo.
PENDURICALHO (s.) - pingente;
PÊLO-DE-RATO (s.) - animal que tem coisa que está dependurada, principal-
o pêlo eriçado de cor amarronzada. mente no pescoço; badulaque; penduru-
calho.
PELO SINAL (s.) - sinal-da-cruz; pedro
sinal (Antes do terço, todo mundo fez o PENDURUCALHO (s.) - V. penduri-
pelo sinal antes que o padre mandasse). calho; badulaque.
288
PEQUI (s.) - fruto do pequizeiro, de cor PERDER A CABEÇA (exp.) - desati-
verde e cujo caroço amarelo possui sabor nar.
acentuado, rico em proteínas e gorduras,
de ampla utilização na culinária para se PERDER A ESPORTIVA (exp.) - alte-
cozinhar junto com o arroz, servindo rar-se por qualquer motivo; perder as
também para se fazer um delicioso licor estribeiras; apelar (Nunca pensei que
e para a fabricação se sabão caseiro. O você fosse perder a esportiva por uma
pequi deteriora-se com facilidade no coisinha assim).
estado in natura, mas pode ser guardado
por meses a fio congelado; para tanto, ao PERDER AS ESTRIBEIRAS (exp.) -
abrir-se a casca para retirá-lo, não se V. perder a esportiva.
pode tocá-lo com a mão, espremendo a
casca, de forma que o caroço caia dire- PERDER O CABAÇO (exp.) - perder a
tamente no recipiente onde será guar- virgindade; deixar de ser virgem.
dado, sob pena de ficar rançoso em
pouco tempo. PERDER O NORTE (exp.) - ficar sem
saber onde está; desorientar-se.
PEQUIZEIRO (s.) - árvore de grande
porte, que produz o pequi e cuja madeira PERDER O PIQUE (exp.) - cansar-se;
é excelente para diversas utilidades e esgotar as forças.
cujas flores são o alimento preferido das
caças, sendo excelente ponto para se PERDER-SE (v.) - prostituir-se; cair na
esperar. vida.
289
bete curuba os remédios para a cura da
pereba). PERUAR (v.) - sondar; observar; sa-
pear.
PEREIRO (s.) - espécie de árvore cuja
madeira, flexível, é própria para fazer PESADO - 1. (adj.) - azarado; caipora
bodoques e cabos de ferramentas; gua- (Hoje amanheci pesado: de manhã re-
tambu. cebi uma cobrança e de tarde quebrei a
perna). 2. (s.) - trabalho diário; batente
PEREQUETÉ (adj.) - elegante; catita. (2).
Existe no Tocantins uma quadrinha que
é dita quando se quer fazer um chiste PESADONA (s.) - mulher nos últimos
com uma pessoa de nome José: dias de gravidez.
290
PETELECO (s.) - V. piparote. PICAR A MULA (exp.) - fugir; esca-
pulir; sair.
PETROMAX (s.) - lampião a querosene
ou a álcool, com manga (luva) incandes- PICARETA - 1. (s.) alvião. 2. (adj.)
cente. velhaco; vigarista; salafrário.
291
PICUMÃ (s.) - V. pucumã. PIMENTA-DE-MACACO (s.) - árvore
cujos frutos, finos e roliços, servem de
PIDÃO (adj.) - que vive pedindo as tempero para a carne; jaborandi.
coisas.
PIMENTA-DO-REINO (s.) - pimenta
VEJA TAMBÉM: preta.
Olhar pidão.
PINDA (s.) - maneira de pescar em que
PIEIRO (s.) -V. peeiro. se amarra a linha do anzol em um galho
flexível na margem do rio, de modo a
PIFAR (v.) - estragar; enguiçar (No cansar o peixe iscado.
meio do caminho, o carrinho achou de
pifar). 2. morrer (Com a operação, feita PINDAÍBA (s.) - 1. árvore que medra
sem testes preliminares, o coração de nas cabeceiras de nascentes e nos brejos.
Dudé parou e ele pifou). 2. pobreza; situação difícil; V. estar na
pindaíba; na pindaíba..
PIGOREIRO (s.) - V. pegureiro.
VEJA TAMBÉM:
PIJAMA-DE-MADEIRA (s.) - caixão- Na pindaíba.
de-defunto; ataúde; esquife.
PINDOBA (s.) - espécie de palmeira
PILA (s.) - por influência gaúcha, di- que produz coco comestível e palhas de
nheiro; unidade do padrão monetário em excelente qualidade para se cobrir casas.
vigor; mango; puto (Vendi a bicicleta
por duzentas pilas). PINGA (s.) - cachaça.
292
PINGA-PINGA (s.) - vôo que, no seu PINICAR (v.) - 1. beliscar. 2. sair rapi-
trajeto, faz muitas escalas; viagem de damente (Pegou a mulinha ruça e pini-
ônibus que pára em todo lugar; cata- cou na estrada).
corno.
PINICÃO (s.) - beliscão.
PINGO (s.) - quantidade diminuta (Com
aquela dinheirama só consegui com- PINICO (s.) - vaso em que se faz as ne-
prar um pingo de mercadorias). cessidades durante a noite; urinol; dou-
tor (2); penico.
PINGO DE GENTE (s.) - criança
muito miúda, mas viva e inteligente. PINIQUEIRA (s.) - V. rapariga.
PINGOLA (s.) - órgão sexual mascu- PINÓIA (s.) - coisa sem valia (Não sei
lino; lolota; pistola; rola; pomba. por que comprei essa pinóia, pois
quando precisei viajar urgente ele en-
PINGUÇO (s.) - cachaceiro; pé-de- crencou).
cana.
PINOTE (s.) - pulo; salto (Os bezerri-
PINGUELA (s.) - ponte improvisada nhos divertiam-se dando pinotes no
com um tronco de árvore, para permitir a pátio da fazenda).
passagem sobre um vale ou córrego.
PINTA (s.) - elegância; aparência. 2.
PINGUELO (s.) - 1. gatilho de arma. 2. sarda.
clitóris; grelo.
PINTA-BRABA (adj.) - inquieto; tra-
PINGUELO-DE-ARAPUCA (s.) - vesso; malino (Este menino é miudi-
pessoa pequena; baixinho; tamborete. nho, mas é pinta braba).
293
VEJA TAMBÉM:
PINTO (s.) - órgão sexual masculino. Dar o pira.
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ataca em geral animais feridos ou quase bula inferior até a parte final da barba-
imobilizados por acidente ou velhice. tana anal. Da linha lateral para cima, a
Contudo, no auge da fome, ataca audaci- cor das escamas varia muito, conforme a
osamente animais sadios e muito gran- idade, a estação do ano e a época do
des, não sendo raro verem-se vacas des- acasalamento, indo do cinza-claro ao
providas de mamas, devido ao ataque de prata embaçado. Na pele da piranha jo-
piranhas nas lagoas; durante o furor do vem existe, em quase toda a extensão do
ataque, costumam devorar suas próprias corpo (exceto na cabeça, barbatanas e
companheiras. Seja uma grande sucuri parte ântero-posterior do dorso), é toda
ou um jacaré, uma vez feridos, as pira- chuviscada com um grande número de
nhas não relutam em atacá-los em car- pontos azul-escuros. Os dentes, de
dume, com redobrado ímpeto. Sua vora- forma triangular, são possantes e afia-
cidade chega a tal magnitude, que já se dos, implantados em arcadas dentárias
encontrou piranha dentro de carcaça de semicirculares. Possui 14 dentes superio-
bois e outros animais, pois, no afã de res e igual número inferiores, sendo os
devorar, costuma ficar presa dentro do da arcada superior menores do que os da
animal em que entrou a poder de denta- inferior, que possuem o mesmo tama-
das. Seu olfato é aprimoradíssimo, sen- nho, estando os mais da frente em posi-
tindo o cheiro de sangue até mesmo na ção ereta, e os demais recurvos para trás;
correnteza. Tem a forma de um inofen- a arcada superior, a exemplo da inferior,
sivo pacu. Sua cabeça é constituída de tem os dentes da frente implantados a
ossos compactos, duríssimos, de onde pique, e os demais são recurvados para
sobressaem os olhos graúdos de um trás. Os dentes da piranha possuem a
vermelho-escarlate. As escamas da pira- curiosidade de terem um dente ainda
nha são miúdas e de difícil remoção. No menor entre cada dois dentes, e, ao con-
mês de dezembro elas estão muito gor- trário do que se supõe, os dentes superio-
das e ovadas, quando suas escamas per- res e os inferiores não se encaixam como
dem o colorido e ficam escuras. Nessa uma engrenagem, e no ato da mordida
fase, suas escamas perdem o colorido e apenas roçam, o que faz com que cortem
ficam escuras (à exceção da piranha não só a presa, dilacerando-a, mas tam-
branca), sendo que as da base do flanco bém anzóis e arames de seu encastôo. O
são as mais escuras. Procuram aninhar- rabo da piranha, além de ser o órgão
se à margem dos rios, igarapés e lagos e propulsor do corpo, tende e levar o que
preferem os locais emaranhados de raí- toca em direção à boca, à maneira do
zes, onde cavam com a boca pequenos jacaré; a flexibilidade da coluna verte-
buracos, onde depositam seus ovos. bral permite-lhe que apanhe, com um
Logo após, macho e fêmea revezam-se brusco movimento de encurvamento da
na guarda, espantando ou ameaçando parte anterior do corpo, tudo aquilo que
qualquer predador. Ao sentirem a pre- a cauda arremessa para a frente. É um
sença do homem, correm sujando a água peixe audacioso no grau mais elevado,
em torno do local onde estão depositados atacando até mesmo seus predadores
os ovos, a fim de ocultá-los do inimigo. naturais, como o jacaré e a lontra, ro-
A cor vermelha da piranha é mais forte a endo-lhes a cauda para desequilibrá-los,
partir da lateral para baixo, tornando-se a exemplo do que fazem com os demais
mais acentuada na base do corpo, numa peixes. A piranha costuma perseguir um
estreita faixa que vai da ponta da mandí- peixe já iscado no anzol, mordendo-lhe a
295
cauda com tamanha firmeza, que acaba claras, e as da cauda, a partir do tronco,
sendo trazido com ele no ato de ser reti- vão ficando cada vez mais vermelhas,
rado da água pelo pescador. Tracajás chegando cada escama a medir 9cm de
feridos são comidos de piranhas até a comprimento por 6cm de largura. Essas
última fibra muscular, deixando apenas o lâminas, embora pouco flexíveis, são
casco e os ossos. Cozida, assada, frita ou muito resistentes, a ponto de chegar a
em forma de caldo, tem sabor inigualá- impedir que o arpão as traspasse. Sua
vel, e pesquisas científicas atestam que cabeça é dura, e os olhos, graúdos e sali-
sua carne tem alto teor nutritivo e esti- entes. Tem o sentido da visão extraordi-
mulante afrodisíaco. nariamente aguçado à noite, o que faci-
lita surpreender suas presas. Na cabeça
PIRÃO (s.) - prato feito com um caldo existem 23 “bolsas mamárias” que se-
escaldado na farinha de mandioca para gregam um líquido leitoso, o qual, na
acompanhar outro, geralmente o peixe. opinião dos pescadores, serve de ali-
mento para os filhotes recém-nascidos.
PIRAPITINGA (s.) – V. caranha. Sua língua é tão áspera, que serve de
ralador para o caboclo ralar guaraná e
PIRAQUARA (s.) - morador da mar- outras sementes. Com a cabeça robusta,
gem dos rios; ribeirinho. chata e afunilada, rompe obstáculos,
graças aos vigorosos impulsos que lhe dá
PIRAR (v.) - 1. dar o fora. 2. ficar azu- a potente cauda. Tanto quanto a visão, o
retado; endoidar. sentido da audição permite que ele de-
tecte minúsculos ruídos a dezenas de
PIRARARA (s.) - grande peixe do rio metros de distância, como o chapinhar
Araguaia, de cabeça descomunal e corpo do remo na flor da água e os cochichos
amarelo, vermelho, preto e branco. da tripulação. É um peixe muito arredio,
preferindo passar o dia nas partes pro-
PIRARUCA (s.) - a fêmea do pirarucu. fundas, turvas e sossegadas dos rios e
lagos ou em abrigos seguros, como bar-
PIRARUCU (s.) - é o maior peixe de rancos inacessíveis. Possui um fôlego
escamas do Brasil, conhecido como “o muito longo, podendo passar cerca de
bacalhau amazônico”, em fase de extin- duas horas submerso. Mesmo sabendo
ção, face à caça indiscriminada, devido à que está sendo tocaiado pelo homem,
excelência de sua carne, principalmente costuma vir à tona uma média de três
em forma de mantas, que são salgadas e vezes num mesmo lugar, mas antes de
comercializadas. Tem seu habitat na boiar dá um sinal característico, o que
Bacia Amazônica, nos rios Araguaia, facilita sua caçada. Costuma avisar os
Tocantins, rios e lagos do Tocantins, companheiros de algum perigo, batendo
Mato Grosso, Pará, Amazonas e Amapá. com a cauda na água. Embora seja um
Atinge cerca de 2,80m de comprimento peixe, sente necessidade de aquecer-se, e
e 120kg de peso. O macho geralmente é nos dias ensolarados, nada havendo que
menor e mais colorido. Seu corpo e bem o incomode, vem à tona, permanecendo
robusto, coberto por escamas graúdas e muito tempo com o dorso de fora, man-
ovais, de coloração variada: as do dorso tendo, no entanto, a cabeça submersa.
e do flanco são escuras; as da base do Outras vezes, deixa-se deslizar meio
flanco são rubro-negras; as da barriga, boiado, com as escamas esturricadas e
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eriçadas, ocasião em que é fácil de ser PIROSCA (s.) - outro nome do pira-
arpoado. No período do acasalamento, rucu.
procura ficar nas confluências dos rios,
esperando que a água aumente, e ele PIRRAÇA (s.) - V. birra.
possa atingir os lagos. A época de maior
incidência do acasalamento é geralmente PIRUÁ (s.) - grão de mearim que, ao ser
na primeira semana de abril, indo até a feita a pipoca, permanece sem arreben-
última semana de maio. O lugar onde ele tar.
próprio limpa para pôr os ovos é cha-
mado de cama, e o buraco no seu centro, PIRUETA (s.) - acrobacia (Os bem-te-
que o pirarucu faz com a boca, deno- vis, nos dias de sol, davam piruetas no
mina-se panela. O formato da cama é ar, atucanando os gaviões ).
semelhante ao de um forno de torrar
farinha, e quando esta fica pron.ta a ova PISA (s.) - surra (Quando o ladrãozi-
é posta na panela; a partir daí, tanto o nho chegou na delegacia, levou uma
macho quanto a fêmea vigiam-na dia e pisa, que foi pra água de sal).
noite com muito desvelo, pois a ova é
presa de muitos peixes; o macho é mais PISADURA (s.) - ferida causada no
amoroso que a fêmea, que, de vez em lombo do animal pelos arreios.
quando, se distancia da cama em busca
de alimento, o que não faz o macho.Uma PISANTE (s.) - sapato.
ova de pirarucu médio pesa, em regra,
um quilo, mas a de um de tamanho PISA-PÉ (s.) - pedal do tear caseiro (V.
grande chega a mais de um quilo e meio. roda).
Acredita-se que um casal de pirarucus,
não sendo molestado, chega a criar 1000 PISAR (v.) - 1. pilar no pilão (Como
filhos. Como caçador, o pirarucu em a estou muito ocupado, trouxe esse café
mesma faculdade mimética do camaleão: torrado pra você pisar pra mim). 2. cau-
se a água for clara, suas escamas ficam sar pisadura (Aquele suadouro quase
esbranquiçadas; se for barrenta e escura, sem recheio pisou meu cavalo de sela).
a cabeça, as escamas e as barbatanas
passam a ter a cor da água. Sua pesca é PISAR MACIO (exp.) - ter cautela
feita de várias formas: de arpão, anzol, (Com o patrão que tem, ele deve
rede e tapagem. A de arpão pode ser mesmo é pisar macio).
feita diretamente da embarcação, de um
jirau (mutã) construído na beira da água PISAR NA BOLA (exp.) - cometer um
onde o peixe costuma ficar, ou da riban- equívoco; dar uma mancada; fracassar
ceira. (Ele, desta vez, pisou na bola e foi de-
mitido).
PIRATINGA (s.) - V. filhote.
PISAR NO PÉ (exp.) - provocar.
PIRIRI (s.) - V. caganeira.
PISEIRO (s.) - 1. muitas pegadas no
PIROCA (s.) - pênis; lolota. mesmo caminho (O piseiro indicava que
os queixadas que acabavam com a roça
de mandioca eram muitos). 2. rastros;
297
pistas; pegadas; piso (Pegaram o piseiro gar a saroba, o povinho mofino capou o
da onça e acabaram acuando a bicha gato).
numa furna da caleira).
VEJA TAMBÉM:
PISO (s.) - pegadas; pistas; piseiro (2). Não valer uma pitomba.
(A polícia pegou o piso dos ladrões,
mas não pôde alcançá-los). PIULA (s.) - pílula.
PITEIRA (s.) - planta que produz a PIXUÁ (s.) - fumo-de-rolo; fumo feito
pita. de folhas sobrepostas prensadas. A espé-
cie de mel que sai do fumo cola as as
PITO (s.) - 1. cigarro de palha; pa- folhas, formando um bloco semelhante a
lheiro; pau-ronca. 2. reprimenda; carão; um tijolo. Difere da pixuca (V.).
repelão; sabão.
PIXUCA (s.) - espécie de fumo-de-rolo,
PITOCO (s.) - V. cotó; nabuco; rabicó; que difere do pixuá, porque a pixuca é
sura; suruca. feita com o enchimento de um gomo de
taboca com folhas de fumo prensado e
PITOMBA (s.) - bala de arma de fogo bem socado e posteriormente vedade;
(Quando as pitombas começaram a ras- passados pouco mais de trinta dias, que-
bra-se a taboca, ficando um tolete de
298
fumo modelado, que é enrolado em pa- quinha trabalhar, ele só quer saber é de
lhas de milho. Sua qualidade é inferior ser poeta e chegar em casa de manhã).
ao pixuá.
POITA (s.) - peso amarrado na canoa
PIXURI (s.) - especiaria semelhante à para servir de âncora.
noz moscada, que tem aplicação tera-
pêutica na medicina caseira e é muito POITAR (v.) - ancorar (canoa).
utilizada para se adicionar ao simonte.
POJO (s.) - último leite da ordenha.
PLÁ (s.) - conversa; bate-papo.
POLDRO (s.) - potro; filhote de cavalo.
PLANTAR A MÃO (exp.) - bater; dar
um tapa no rosto (O safado do Diogui- POLEIRO (s.) - lugar onde as galinhas
nho plantou a mão no João Capanga dormem, podendo ser uma construção de
sem qualquer motivo). madeira ou mesmo uma árvore.
299
POMBA-SEM-FEL (s.) - pessoa ingê- PÔR A BOCA NO TROMBONE
nua, boa ou inocente, incapaz de qual- (exp.) - reclamar; denunciar.
quer malícia.
PÔR ÁGUA NA FERVURA (exp.) -
PONDORÔ (s.) - poderio; presunção; acabar uma discussão (A intervenção do
falsa importância (Jesuíno chegou da pai na discussão pôs água na fervura).
cidade grande num pondorô medonho).
PÔR A MÃO NO FOGO (exp.) - afi-
PONGA (s.) - carona (Furou o pneu de ançar o procedimento de alguém.
meu carro, mas peguei uma ponga com
Avim). PORAQUÊ (s.) - peixe-elétrico; treme.
300
POR DEUS DO CÉU! (exp.) - espécie difícil limpar). 2. expressão pejorativa
de juramento (Eu não sou culpado para classificar algo sem definição (Esse
disso, por Deus do Céu!). porqueira não é de trabalhar, pois não
arriba uma palha). 3. feitiço (Dizem
POR FADO (exp.) - por capricho; des- que o Cido ficou ruim de sorte por
necessariamente; de sobreposta (Este conta de porqueira que fizeram).
menino está pedindo comida só por
fado, pois acabou de almoçar). PORRA - 1. (s.) esperma. 2. (int.) ex-
pressão interjeitiva de desaprovação ou
PORFÍRIO (s.) - disenteria; caganeira; de raiva (Porra, João, você me saca-
profiro. neou!).
POR GAUCHADA (exp.) - por goza- PORRADA (s.) 1. pancada (No meio da
ção; para fazer bonito (Só por gauchada briga, ele levou uma porrada de cacete,
eu lhe disse que ele era o melhor). que desmaiou). 2. grande quantidade;
piqueiro; mundo véio (Quando Jua-
POR GOSTO (exp.) - de propósito; rindo veio da rua, trouxe uma porrada
voluntariamente (Desculpe-me, pois não de sal e remédio pro gado).
foi por gosto que pisei seu pé).
PORRE (s.) - bebedeira; inalação de
POR HONRA DA FIRMA (exp.) - a lança-perfume.
contragosto; por obrigação (Compareci
à reunião por honra da firma). PORRETE (s.) - sarrafo; cacete.
POR NOME (exp.) - chamado; que tem PORRINHA (s.) - jogo de palitinho, em
o nome de (Tratei do negócio com um que duas pessoas, cada uma com três
funcionário por nome Virgílio). palitos, tenta adivinhar quantos palitos
somam os que ambos têm na mão; ganha
PÔR NOME (exp.) - injuriar; descom- o jogo quem, acertando o palpite, e eli-
por (Após a discussão, a mulher saiu à minando em cada mão um palito, acaba
rua pondo nome na comadre). ficando sem nenhum.
301
peão estava nas últimas, mandaram um PRACOLÁ (adv.) - mais além (Ele
positivo buscar o médico). caiu deitado aqui, enquanto o chapéu
caiu pracolá).
POSSUÍDOS (s.) - 1. bens; haveres;
propriedades (Se a gente for apurar no PRA DIZER (exp.) - expressão muito
dinheiro os possuídos do coronel usada que significa “suponhamos” (Pra
Afonso, dá dinheiro que nem ladrão dá dizer que você tenha ganho na loteria,
conta). 2. órgão genital masculino (O o que faria com o dinheiro?).
coice do jegue foi bem nos possuídos do
vaqueiro). PRA ENCURTAR A HISTÓRIA
(exp.) - para ser breve; em resumo; en-
POSUDO (adj.) - V. pancoso. fim; pra encurtar a razão (Pra encurtar
a história, eu fiquei sem um centavo).
POTÓ (s.) - pequeno inseto que segrega
um líquido causador de queimaduras na PRA ENCURTAR A RAZÃO (exp.) -
pele. V. pra encurtar a história.
POTOCA (s.) - conversa fiada; mentira. PRA-NADA (adj.) - inútil (Em matéria
de trabalho, ele era mesmo um pra-
POTOSI (s.) - metal branco e resistente nada).
usado para fazer estribos de arreio; cris-
tofe; alpaca. PRANTAFORMA (s.) - V. plataforma.
302
PRECANCHO (s.) - prato constituído Caixa-prego
do focinho, dos pés e do rabo de porco Dar o prego
cozidos. Não bater prego sem estopa.
303
PROMESSA (s.) - apelo ao sobrenatural
PRIANGU (s.) - V. curiango. como meio e reforço para a realização de
um intento, decorrente da confiança em
PRIGISTIR (v.) - persistir; vingar determinados santos. Como contrapar-
(Plantei muitos abacateiros, mas só um tida à ajuda, a pessoa ofertam elementos
prigistiu). naturais (doar uma determinada coisa ou
mesmo dinheiro à igreja), espirituais
PRIMA (s.) - V. rapariga. (rezar um terço ou mandar dizer uma
missa) ou fazer determinado sacrifício
PRIMO-IRMÃO (s.) - primo-irmão; (ir a pé a determinada romaria). É muito
primo em primeiro grau (Bené e Dito comum encontrarem-se nas igrejas foto-
são primos-irmãos, pois o pai de ambos grafias, quadros ou esculturas que repre-
são filhos do mesmo pai). sentam partes do corpo humano, simbo-
lizando que a pessoa foi curada de um
PRIQUITA (s.) - V. priquito (2). mal naquela parte do corpo; são os cha-
mados ex votos. As promessas podem
PRIQUITO (s.) - 1. variação de “peri- ser feitas para casos de doenças ou
quito”. 2. órgão sexual feminino; va- quaisquer outras dificuldades, e podem
gina; priquita. ser cumpridas por quem prometeu ou
pelo beneficiário.
PRIQUITO NA MANGA (exp.) - ex-
pressão que serve para designar grande PROMOMBÓ (s.) - espécie de pesca
ajuntamento de gente, acompanhado de que consiste em levar na canoa uma luz
alarido; a expressão lembra o tempo de bem forte; os peixes, assanhados, pulam
mangas, quando os periquitos ficam aos dentro da canoa. V. facho (2)
bandos cantando ensurdecedoramente
nas mangueiras (Quando a mesa dos PROPAGANDA (s.) - V. poesia.
meninos foi servida, foi ver priquito na
manga). PROSA (s.) - 1. conversa (O compadre
Miligido tem uma prosa muito boa). 2.
PROANO (exp.) – para o ano. desaforo (Quando eu encontrar com
aquele moleque, vou enchê-lo de
PROCURAR CHIFRE NA CABEÇA prosa). 3. (adj) - fanfarrão; que conta
DE CAVALO (exp.) - buscar o impos- vantagens sobre o que faz ou o que diz
sível por mera implicância (Esta birra ter feito (Esse Benedito é muito prosa e
do patrão atrás de um malfeito do ca- vive apregoando que ele foi o responsá-
pataz, que é homem sério, é procurar vel pela verba que chegou).
chifre na cabeça de cavalo).
PROS COCOS (exp.) - de qualquer
PRODIJICAR (v.) - prejudicar. jeito (Ele disse que era bom profissio-
nal, mas fez um serviço pros cocos); que
PROFIRO (s.) - V. caganeira. não dá importância para nada; desmaze-
lado (Não ligue para o Eufrasino, pois
PROGUESSO (s.) - progresso. ele sempre foi um camarada assim pros
cocos).
304
PROSEAR (v.) - V. bater papo. (Sem qualquer espécie de consideração,
ele deixou o cobrador pubando na sala
PROSÓDICO (adj.) - conversador (Ele de espera).
chegou da cidade grande todo prosó-
dico). PUÇÁ (s.) - fruto do puçazeiro, de sa-
bor doce e adstringente, que cresce nas
PROVISÓRIO (s.) - capim nativo; chapadas.
agreste; jaraguá; europeu.
PUCUMÃ (s.) - fuligem escura que se
PROVOCAR (v.) - 1. instigar; causar. forma no teto da cozinha onde existe fo-
2. ensaiar vômito (Depois que encheu o gão caipira; picumã.
pandu, ele passou muito tempo provo-
cando, angustiado). PUIM (s.) - 1. poeira fina como fubá mi-
moso. 2. peido sonoro e agudo.
PRUVU (s.) - V. caldo-de-feijão.
PULA-MACACO (s.) - brinquedo in-
PUAIA (s.) - V. poaia. fantil, em que se riscam várias linhas no
chão, formando quadrados, para se pular
PUBA (s.) - 1. subproduto da mandioca, com um pé só, de acordo com regras es-
que resulta da permanência desse tubér- tabelecidas; também chamado amareli-
culo na água até desmanchar-se, ser- nha.
vindo para se fazer a chamada farinha de
puba. 2. espécie de bolo feito dessa PULAR A CERCA (exp.) - V. pular o
massa, assado ao forno; manuê. cambão.
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PUTA VELHA (s.) - V. macaco velho. Quando se esfriar, pingam-se 3 gotas de
iodo e dá-se à criança de 2 em 2 horas
PUTEIRO (s.) - prostíbulo; casa-das- uma dose (1 colher de sopa). Para aces-
primas; curral-das-éguas; randevu. sos de asma, dar ao paciente uma cebola
branca da miúda, dormida no sereno,
PUTO (s.) - 1. excessivamente zangado para comer. Dentro dos recursos da
(Hoje eu amanheci puto da vida, com fauna, existe o remédio tido como efi-
essa notícia ruim). 2. V. mango; pila caz: comer carne de gia, além de outros,
(Você me pegou hoje sem um puto no como chá do chocalho de cascavel, após
bolso). torrado e moído (que pode ser tomado
como rapé); uma colherinha de banha de
PUXA (s.) - doce liguento feito de rapa- cascavel adicionada ao café, ao chá ou
dura derretida. ao leite; comer carne de jacu, de raposa
(sem sal) ou tomar chá de casco de cá-
PUXAÇÃO (s.) - 1. V. puxado. 2. adu- gado. Dentro os agentes místicos, há
lação. superstições que - dizem - ajudam a cura
da asma, como: cuspir na boca de cá-
PUXADA (s.) - cômodo que se constrói gado 3 dias seguidos, uma vez por dia;
anexo à casa. cuspir na boca de peixe vivo e depois
soltá-lo n’água.
PUXADO (s.) - asma; dispnéia; chiado;
puxação; puxamento; puxeira - Há vá- PUXA-ENCOLHE (s.) - indecisão (Fi-
rios remédios, dentre eles: 1) Pega-se caram naquele puxa-encolhe, e acabou
uma cabaça madura (não seca), fura-se- não fazendo o negócio).
lhe um buraco, colocando-se por ali
meio quilo de açúcar-da-terra e após PUXAMENTO (s.) - V. puxado.
vedá-lo bem enterra-se a cabaça a pouca
profundidade; sobre o local acende-se PUXAR (v.) - 1. herdar traços caracte-
um fogo, de forma a aquecer a cabaça, rísticos de ascendente (Aquele moleque
deixando-o apagar-se por si; três dias saiu puxando o pai na esperteza). 2.
depois, desenterra-se a cabaça, dentro da sentir falta de ar (Quando ele chegou ao
qual ficará um mel amargo, que deverá hospital, já estava puxando muito). 3.
ser ingerido durante três dias consecuti- expulsar; escorraçar (Como o rapaz
vos, três xícaras por dia. Se o asmático nada queria com a vida, o sogro acabou
vomitar com o remédio, a cura é certa. 2) puxando-o de casa).
Aspirar o vapor da água em que esteja
sendo fervida uma cabaça madura. 3) PUXAR A REZA (exp.) - liderar uma
Tomar chá de semente de girassol várias reza; iniciar a cantoria ou a recitação de
vezes ao dia. Para asma de criança, orações.
deve-se dar chá de flor de mamoeiro-
macho preparado da seguinte da seguinte PUXAR DA PERNA (exp.) - capengar;
forma: toma-se um punhado de flores, caxingar (Com o acidente, ele ficou pu-
escalda-se, coloca-se num litro d’água e xando da perna esquerda).
ferve-se por 10 minutos. Depois, coa-se,
adoça-se com 250g de açúcar e leva-se PUXAR FOGO (exp.) - beber e embri-
ao fogo até se transformar num mel fino. agar-se (Em vez de puxar a enxada na
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roça, ele gosta mesmo é de puxar fogo e conseguiu lembrar o número da conta
nos botecos). no banco).
307
-Q-
QUADRA (s.) - época (Vicejavam na QUARADOR (s.) - coradouro; lugar
tapera o jasmim, o bogari e outras flo- onde se estendem as roupas para se alve-
res daquela quadra de ano). jarem.
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ele usava uma quartinha de barro para QUEBRANTO (s.) - doença infantil
esfriar a água). que, segundo a crendice popular, é cau-
sada pelo mau-olhado (zói ruim), fa-
QUARTO (s.) - medida de extensão que zendo parte da magia negativa, decor-
equivale a 1,5 km (um quarto da légua). rente do poder que certos indivíduos,
principalmente invejosos, têm de,
QUARTOS (s.) - anca; bacia pélvica olhando para uma pessoa, animal ou
(Com a queda, ficou com uma terrível planta, estes ficarem doentes, definhando
dor nos quartos). até morrer, se não for atalhado com reza
pelo benzedor. Diz-se que todas as pes-
QUATI-ANDA-SÓ (s.) - quati que, soas podem causar o quebranto, pois
tendo sido o chefe do bando, exercia a todas as pessoas possuem uma irrediação
tarefa de reprodutor e que, ao ficar idoso negativa, umas mais, outras menos. A
e perder a chefia, passa a andar sozinho; crença é velha, pois, na Idade Média, S.
em razão disso, e não tendo que dividir a Tomás de Aquino já dizia que “os porta-
alimentação com o bando, torna-se dores de mau-olhado viciavam o ar a
maior e mais gordo. certa distância”. O quebranto mais forte
e, por conseguinte, mais difícil de ser
QUATRO-POR-UM (s.) - espécie de curado, é aquele que provém de pessoa
parceria que é feita para remunerar o va- não invejosa, como a que se admira da
queiro, onde se sorteia para ele um be- beleza de uma criança. Em certos luga-
zerro em cada grupo de quatro. V. sorte. res faz-se a distinção entre quebranto e
mau-olhado: é quebranto quando se
QUEBRA (s.) - 1. falência. 2. colheita trata de pessoas (principalmente crian-
do milho (a do arroz é apanha; a do fei- ças), e mau-olhado, quando animais e
jão é arranca). 3. desconto (Na compra plantas. O sintoma de quem está de que-
da vaca, ele ainda me deu uma quebra branto é: olhos lacrimejantes, bocejos
de vinte por cento). contínuos, moleza no corpo, inapetência
e tristeza, seguindo-se uma febre alta,
QUEBRA-COSTELAS (s.) - abraço seguida de infecção intestinal, vômito e
muito apertado. rápido depauperamento. No mau-
olhado, o sintoma na planta é esta ficar
QUEBRADO 1. (adj.) - sem dinheiro rapidamente murcha, e nos animais, é
(Saí da porcaria daquele negócio com- uma grande tristeza, ficando visivel-
pletamente quebrado). 2. (s.) - quanti- mente triste e inapetente o animal, e en-
dade, geralmente de dinheiro, que ex- corujada a ave. A pessoa que tem mau-
cede às dezenas (Viajei com noventa olhado chega a desandar tachada de sa-
reais e uns quebrados). bão ou de doce, do açúcar que esteja
refinando e até a derrubar passarinho do
QUEBRA-GALHO (s.) - algo provisó- poleiro da gaiola. A cura do quebranto
rio, apenas para atender uma emergên- ou do mau-olhado não é alcançada pela
cia. medicina convencional, mas apenas por
fatores místicos e pela benzeção. Pre-
QUEBRA-JEJUM (s.) - café da manhã; vine-se o quebranto queimando-se a re-
merenda. sina e as folhas de alecrim, o alho e a
cachaça misturada com guiné como de-
309
fumador, além de manter no pulso da E o menino Fulano fica sarado.
criança uma figuinha (V. figa) atada em Se fô nos olhos do minino,
uma fita vermelha. Para expulsar o que- Santa Luzia é quem vai tirá;
branto, a reza mais comum é a seguinte, Se fô na cabeça do minino,
que é administrada benzendo-se a cri- É são Pedro quem vai tirá;
ança com um raminho de pimenteira: Se fô nos ouvido do minino,
É Santa Polônia quem vai tirá;
“Santa Catarina, Se fô no pescoço do minino,
Quando andava pelo mundo, É são Brás quem vai tirá;
De três coisas tirava, Se fô na cacunda do minino,
De mau-olhado e revirado. Nossa Sinhora do Rosário
Se for mau-olhado, sara; Quem vai tirá;
Se for revirado, Se fô no corpo do minino,
Vai pras ondas do mar. Nossa Sinhora do Perpétuo Socorro
Tire esse mau-olhado quem vai tirá;
Desta criança, Se fô na barriga do minino,
Pra nunca mais, É o Divino Esprito Santo quem vai tirá;
Pra sempre, amém! Se fô no braço ou na mão do minino,
É São Sebastião quem vai tirá;
Criança, eu te benzo, Se fô na bunda, na perna, no pé do mi-
Com o poder de Deus Pai, nino,
Com o poder de Deus Filho É São Pedro, São Paulo
E o Espírito Santo”. E os anjo do céu
E minha Nossa Senhora,
Há outra benzeção, com a seguinte fór- Mãe dos Home
mula, que é repetida três vezes, fazendo E os ares quentes,
a cruz sobre a criança afetada: Os ares frios,
Ares de vento,
“Quebranto e mau-olhado, Ares le arrenego,
Maldito e excomungado, Em nome do Padre,
Dois te bota, três te tira, Da Virge,
Que são as três pessoas D e todos os santos,
Da Santíssima Trindade: Que se quebre todos os quebranto,
Pai, Filho e o Espírito Santo”. Com três Padre-Nosso
E três Ave-Maria. Amém.”
Há, ainda, outra reza para curar o que-
branto, em que o benzedor, fazendo cruz Há uma outra oração, que é administrada
sobre a cabeça da criança acometida do com um ramo de pinhão roxo, fazendo
mal, diz: cruz sobre o paciente, enquanto se diz:
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E da Virgem Maria. quebrou a cara quando pensou que a
Amém, assim seja!”. menina aceitaria o noivado).
311
QUEBRAR PAU NO OUVIDO (exp.) bém é recomendado socar-se uma folha
- não dar atenção (Não adiantaram os de couve bem escura, misturá-la com um
conselhos: o rapaz quebrou pau no ou- copo de leite cozido e beber-se em je-
vido e foi farrear). jum. Talvez por ser o mais difícil para
conseguir hoje em dia, devido às leis de
QUEDE (pron..) - V. cadê. proteção à fauna, está caindo em desuso
o mais eficiente remédio: moela de ema,
QUEDES (s.) - tênis (calçado). que é preparado da seguinte forma: seca-
se ao sol, torra-se e faz-se pó, que é
QUEIJINHO (s.) - V. bambolê; queijo; posto à razão de uma colher de chá em
rótula (2). cada refeição.
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gente sai de casa e ganha o mundo, famílias, como outrora, quando eram até
passa muita quelemença). mesmo incluídos no dote.
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QUEM-QUEM (s.) - ave que vive em quentura do fogo contando causos). 2.
redor dos alagadiços e nos campos, cujo apetite sexual (Essa ameninada de hoje
nome é a onomatopéia de seu canto; te- vive numa quentura terrível).
téu; quero-quero.
QUEPE (s.) - boné; gorro; bibico; cas-
QUEM TEM OLHOS FUNDOS quete.
CHORA MAIS CEDO (dit.) - é empre-
gado quando uma pessoa chega bem QUERER (v.) - supor (Estou querendo
antes da hora combinada e cumpre o que que aquela buchada me fez mal).
é de sua obrigação.
QÜESTÃ (s.) - questão judicial; lide
QUE NEM (exp.) - como (Você está (Enquanto o juiz não resolver a qüestã,
que nem cigano: tudo o que vê quer eu fico esperando).
comprar).
QUETAR (v.) - aquietar-se; ficar qui-
QUENGA (s.) - V. rapariga. eto.
314
QUIMBA (s.) - toco de cigarro. QUIPA (s.) - arqueiro; goleiro; quíper;
forma aportuguesada de keeper.
QUINA (s.) - 1. esquina; aresta (Bateu
com a perna na quina da mesa, chega QUIQUIU (s.) - sovaco; axilas.
escalavrou). 2. planta medicinal muito
amarga que serve de remédio para sezão. QUIRERA (s.) - arroz quebrado; canji-
quinha; xerém.
QUINDIM (s.) - doce feito de gema de
ovo, leite e açúcar. QUITANDA (s.) - biscoito, bolo ou
salgadinho.
QUINTA (s.) - pequena propriedade
rural; chácara. QUITUTE (s.) - comida especial, fora
do trivial.
QUINTA-FEIRA GORDA (s.) -
Quinta-feira Santa. QUIZÍLIA (s.) - repugnância; asco
(Carne muito gorda chega a me dar
QUIOIÔ (s.) - arbusto medicinal, que quizília).
tem utilização na limpeza dos dentes.
QUIZUMBA (s.) - bagunça; confusão.
315
-R-
RABADA (s.) - 1. a carne e os ossos da RABICHO (s.) - 1. alça da sela que
cauda da rês. 2. o prato preparado com a serve tanto para firmá-la no lombo da
rabada (1). montaria, ao ser passada sob a cauda
desta, como para dependurá-la, após o
RABEAR (v.) - girar ou deslizar no uso. 2. namoro; xodó; grude (Efraim
caminho (refere-se a carro). sempre teve um rabicho com aquela
viúva).
RABECA (s.) - espécie de violino rús-
tico, que também é acionado por um VEJA TAMBÉM:
arco. Cheirar rabicho.
316
preá (Com o dinheiro que ganho, só dá muito pruriginosa que acomete muitos
pra comprar umas roupinhas rabo-de- animais, principalmente cachorro, bode,
cachorro, que fazem até vergonha de se raposa e quati e quando não tratada cos-
vestir). tuma destruir o pêlo dos animais.
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natureza. Se no interior ele se confunde constrói na época das eleições para abri-
com o curandeiro, e vice-versa, na ci- gar eleitores; curral eleitoral (2).
dade possui identidade caracterizadora:
sentado por detrás de seu balcão de ervas RANCHARIA (s.) - cômodo que é
e essências, atende às consultas de seus construído na cidade pelos comerciantes
clientes. para servir de rancho para tropeiros (Nos
fundos da loja, o comerciante fez uma
RAJA (s.) - listra; mancha de cor dife- ampla rancharia com fogão, armadores
rente da predominante (Ele escarrou e de rede e gancho para dependurar ar-
ficou apavorado com as rajas de sangue reios).
que viu).
RANCHO (s.) - 1. pequeno abasteci-
RAJADO (adj.) - diz-se do animal que mento de gêneros alimentícios (O peão
possui listras de outra cor. exigiu pouco: uma rede para dormir e
um pequeno rancho por semana). 2.
RALA (s.) - mingau de maizena, araruta choupana.
ou qualquer outro amido para se dar às
crianças na mamadeira. RANÇO (s.) - 1. gosto amargo e ardido
(Essa manteiga está com um ranço que
RALA-BUCHO (s.) - baile; bate-chi- não dá para se comer). 2. seqüela; con-
nelo; rela-bucho. seqüência (Essas atitudes de Joaquim
ainda são um ranço de sua gestão).
RALHAR (v.) - repreender; gritar com
o intuito de corrigir (O vaqueiro ralhou RANÇOSO (adj.) - que contém ranço.
com o menino, que estava fazendo zo-
ada e atrapalhando a conversa dos RANCOLHO (s.) - pessoa ou animal
grandes). que só tem um testículo; roncolho.
318
RAPADOR (s.) - pastagem que se aca-
bou devido ao consumo pelo gado. RASGAR O VERBO (exp.) - 1. falar o
que quer e na altura que quer, geral-
RAPA-DO-TACHO (s.) - último filho, mente em tom zangado. 2. discursar.
geralmente de pais idosos; ponta-de-
rama. RASOURA (s.) - a parte rasa de qual-
quer água (rio, córrego, riacho, lagoa
RAPADURA (s.) – doce em forma de etc.).
tijolo feito de melado de cana; difere do
tijolo porque a rapadura, porque esta é RASPADEIRA (s.) - pequeno instru-
feita exclusivamente do melado da cana, mento semelhante a uma escova de
enquanto o tijolo é a rapadura temperada ferro, com cabo de madeira, utilizado
(com cravo, canela, coco, gengibre, jaca, para raspar o pêlo dos animais de monta-
mamão etc.). ria, para tirar carrapichos e outras sujei-
ras.
VEJA TAMBÉM:
Carga de rapadura RASTEIRA (s.) -1. diz-se da erva que
Entregar a rapadura. cresce rente ao chão. 2. ato de colocar a
mão no chão como apoio e dar uma per-
RAPARIGA (s.) - prostituta; meretriz; nada com a perna esticada nas pernas de
mulher que mercadeja o corpo; bisca; alguém.
biscaia; biscate; bruaca; calanga; can-
gancha; dadeira; dama; decaída; gra- RASTRO-DE-ONÇA (s.) - dificuldade
xeira; mulher à-toa; mulher-dama; que se impõe a alguém para dificultar ou
mulher da rua; mulher da vida; mulher amedrontar (Ele fez um rastro-de-onça
da zona; mulher de ponta de rua; mu- tão grande, que quase não consegui
lher de vida fácil; mulher de vida livre; realizar o negócio).
mulher de má vida; mulher errada;
mulher perdida; mulher pública; mun- RATEAR (v.) - 1. dividir as despesas
dana; perdida; piniqueira; piranha; (Como éramos cinco, rateamos a conta
prima; puta; quenga; rameira. e deu pouco para cada um). 2. falhar o
motor de qualquer máquina por falta de
RAPARIGAGEM (s.) - 1. ambiente de combustão (Antes de chegar ao posto, o
raparigas. 2. envolvimento com rapariga. carro começou a ratear).
RAPÉ (s.) - V. pó; simonte; torrado. REBATER (v.) - tomar um gole de be-
bida depois de um período de bebedeira.
RASGA-MORTALHA (s.) - espécie de
coruja de canto agourento que imita o REBENQUE (s.) – chicote; taca; espé-
som de um pano sendo rasgado; suin- cie de tira de couro para açoitar animais,
dara.
319
com o cabo geralmente trabalhado em RECOMPADRE (s.) - compadre dupla-
prata; piraí; rabo-de-tatu. mente, ou seja uma pessoa que já é com-
padre e dá seu filho para a outra batizar.
REBITE (s.) - comprimido que os mo-
toristas tomam para afugentar o sono RECORDAR (v.) - reler; na escola pri-
durante suas viagens, a fim de cumpri- mária antiga, era tornar a estudar a car-
rem seus horários. tilha, refazendo todas as lições e leituras.
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REFRIGÉRIO (s.) - local situado nos Quando, após o parto, as regras passam a
gerais, onde na seca o pasto permanece vir anormais, o chá de sene é o mais
verde e aonde é levado o gado e ali per- indicado.
manece até que as chuvas voltem a cair
nas fazendas; gerais. VEJA TAMBÉM:
Água-de-regra.
REFUGAR (v.) - 1. cismar (Quando
passamos perto do cemitério, o cavalo REGUEIRA (s.) - V. regada.
refugou). 2. rejeitar (Na compra da-
quele magote de bezerros, ele só refu- REGULAR (v.) - aproximar mais ou
gou três). menos (Quando eles chagaram à fa-
zenda, eu regulava meus quatro anos
REFUGO (s.) - sobra; resto de um todo, de idade).
após seleção; restojo; restolho.
REIMA (s.) - V. reuma.
REGADA (s.) - parte das nádegas que
fica junção dos glúteos; o rego, a reen- REIMOSO (adj.) - que produz reima;
trância da bunda; regueira (Após meia que traz complicação para a saúde, prin-
hora de capina, o suor do roceiro descia cipalmente para o sangue e em especial
pelas costas nuas e entrava pela re- agrava e inflama os ferimentos; remoso;
gada). o sertanejo diz que as carnes mais rei-
mosas são a de porca e de paca, especi-
REGATEIRO (adj.) - animado; pelin- almente esta última (Já avisei que carne
tra; saliente (Ela chegou toda regateira de paca é um alimento muito reimoso
vestida em uma saia rodada). para talho e inflamação).
REGRAS (s.) - menstruação; boi; chico; REIZADO (s.) - festa popular do fol-
paquete. Quando as regras da mulher clore que antecede o dia 6 de janeiro
vêm atrasadas, pega-se um pouco de (Dia de Reis).
pucumã (fuligem que se forma nos tetos
das cozinhas pelo acúmulo de fumaça REJEITO (s.) - tendões dos músculos
preta), amarra-se num pano branco, ou cartilagem que são cozidos junto com
ferve-se em dois canecos d’água até que a carne.
o líquido se reduza a uma xícara, de-
vendo ser tomado em seguida. Quando REJUME (s.) - regime.
as regras vêm em demasia, o chá de en-
trecasca de aroeira é o melhor regulador. RELA (s.) - V. perereca (1).
321
REMETEDOR (adj.) - diz-se do ani-
RELA-BUCHO (s.) - V. rala-bucho. mal que remete (Tome cuidado com
esse boi, porque é muito remetedor).
RELAMBÓRIO (s.) - conversa sem
interesse; leguelhé. REMETER (v.) - arremeter; atacar;
investir, o boi ou qualquer animal que
RELAR (v.) - ralar. possui chifres, tentando chifrar (Tome
cuidado, que essa vaca pode remeter).
RELAXADO - 1. (adj.) - borracha ou
elástico que perdeu a elasticidade (O REMOALHO (s.) - bolo de alimento
calção dele caiu porque o elástico es- que os ruminantes fazem retornar à boca
tava relaxado). 2. (s.) - pessoa boquir- para nova mastigação.
rota, que só fala imoralidades.
REMOER (v.) - ruminar; mastigar o
RELAXO (s.) - imoralidade; ato libidi- alimento, depois retorná-lo à boca para
noso; gesto ou palavra imoral. nova mastigação.
REMENICAR (v.) - dar o troco; revi- REPARAR (v.) - censurar (Não repare
dar. eu não ter ido a sua casa, pois estive do-
ente).
322
separadas dos demais fregueses longe
REPASSAR (v.) - voltar a montar o dos olhares.
animal recém-domado.
RESGUARDO (s.) - período de qua-
REPASSE (s.) - 1. traquejo que se dá rentena de pós-parto ou de doença pro-
ao animal de montaria recém-castrado longada.
para amaciar as ancas; volta à monta do
animal recém-domado; custeio leve. 2. RESGUARDO QUEBRADO (s.) -
última colheita do algodão; última cata- ocorre quando a mulher não respeita o
ção. repouso. Há prescrições que são religio-
samente seguidas, sob pena de quebra do
REPELÃO (s.) - pito; descompostura. resguardo, dentre elas: nos cinco primei-
ros dias, só pode comer pirão de galinha;
REPENTE (s.) - impulso (Deu um re- a comida só pode ser feita com banha da
pente nele aquela hora, que nem sei a própria galinha; leite, só depois de dez
razão). dias; carne de vaca, só após o resguardo;
algodão nos ouvidos e banho geral, só
REPETIÇÃO (s.) - carabina automá- depois de quarenta dias; a roupa do re-
tica, ou semi-automática, que não pre- cém-nascido não pode ser estendida em
cisa ser recarregada a cada disparo. ramo verde e deve ser recolhida antes do
pôr-do-sol; a criança não deve receber
REPIMPADO (s.) - V. pelintra. visita no sétimo dia; o umbigo deve ser
enterrado em um lugar sagrado, como a
REPIMPAR (v.) - trajar bem; entonar. porteira do curral, para dar sorte, e assim
por dia diante. O descumprimento das
REPINICADO (s.) - espécie de toque prescrições importa na quebra do res-
de viola em que o violeiro aciona as cor- guardo. E para resguardo quebrado,
das com a unha. deve-se socar as raízes e folhas de salsa,
uma batata de contas-de-lágrimas, uma
REPRESENTAR (v.) - apresentar (Na colher de sopa de quina e canela e uma
hora da vistoria do banco, ele repre- colher de ruibarbo e erva doce; queimar
sentou a boiada que estava no penhor). tudo com cachaça e tomar uma colher às
refeições.
REPUNAR (v.) - enjoar; causar náu-
seas; repugnar (Aquela carniça de hor- RESPIRO (s.) - V. suspiro (2).
rível cheiro repunava qualquer cristão).
RESPONDÃO (adj.) - malcriado.
REPUXO (s.) - trabalho intenso; ba-
tente. RESPONDER (v.) - refletir (A pneu-
monia trazia-lhe uma dor no peito, que
REQUEBRADO (s.) - remelexo (2); respondia nas costas).
gingado.
RESPONSADOR (s.) - pessoa dotada
RESERVADO (s.) - compartimento dis- de poderes que, através de rezas especí-
creto de um bar, onde as pessoas ficam ficas, descobre objetos perdidos ou rou-
bados.
323
RETRATISTA (s.) - fotógrafo(a).
RESPONSAR (v.) - fazer preces especí-
ficas para um santo, geralmente São REUMA (s.) - complicação de um feri-
Longuinho ou Santo Antônio, para en- mento, quando este se inflama de uma
contrar um objeto sumido ou roubado. hora para outra; seqüela de qualquer do-
ença; reima; atribuição maléfica a certos
RESPOSTAR (v.) - responder, dar res- alimentos que podem causar danos à
posta por escrito; arrespostar. saúde, piorar os que já estão doentes, ou
“botar pra fora” certas mazelas incuba-
RESSABIADO (adj.) - desconfiado; das: a carne de paca é veneno para mu-
arisco; que foge em conseqüência de lher menstruada; peixe de couro provoca
haver sido maltratado anteriormente. inflamação; quem come carne de tatu
china ou zumbi arrisca-se a Ter de doen-
RESSACA (s.) - mal-estar decorrente de ças venéreas adquiridas na juventude.
bebedeira ou de noite mal dormida. Para se expulsar as reimas do corpo,
principalmente as dos intestinos, usam-
RESTELO (s.) - parte do tear (V.). se os purgantes (ou purgativos). Dentre
os mais recomendados estão: jalapa,
RESTILO (s.) - cachaça extremamente maná (para crianças), sene, azeite de
forte que é feita da cana-de-açúcar mamona (óleo de rícino ainda impuro) e
verde, duplamente destilada, cujo teor batata-de-purga. O leite de pinhão, por
alcoólico vai dos 21 aos 36 graus. ser muito forte, só pode ser tomado
como purgante no caso de picadas de
RESTOJO (s.) - V. restolho. cobra. O azeite de mamona, que é o óleo
de rícino em estado ainda bruto, é mais
RESTOLHO (s.) - sobra; refugo; res- recomendado que o purificado.
tojo.
REÚNA (s.) - botina ringideira; cara-
RETACO (adj.) - baixinho, musculoso de-vaca.
e forte; parrudo.
REVELIA (à) (exp.) - grande quanti-
RETADO (adj.) - arreitado; excitado dade; reviria; riviria (Ele tinha terras e
sexualmente; arreitado; arretado. gado à revelia).
324
místico-religioso das curas. Entretanto, RIBUTA (adj.) - mulher feia; sem
as rezas nem sempre são utilizadas ape- classe; brega.
nas para fins medicinais, para as curas
das mazelas do corpo e para as da alma, RIÇAR (v.) - esfregar; grosar (1).
havendo também aquelas que buscam a
felicidade, o amor e o dinheiro. Para o RIDICAGEM (s.) - sovinice.
caso de buscar dinheiro, a pessoa, no dia
de lua nova, no momento em que ela RIDICAR (v.) - ser ridico.
estiver se pondo, deve pegar ume moeda
e, apontando para a lua, dizer: RIDICO (adj.) - sovina; avarento; mu-
nheca (Coronel Zezuíno era dono de
“Deus te salve, lua nova, muito gado, mas extremamente ridico).
Tu que nasces no poente,
Quando fores que vieres, RIDIMUNHO (s.) - redemoinho.
Me trazeis desta semente”.
RIDIQUEZA (s.) - V. ridicagem.
Em seguida, faz o sinal da cruz três ve-
zes, com a mão que está com a moeda; RINGIDEIRA (adj.) - quer range; que
não demora, a pessoa enrica. produz rangidos; botina cara-de-vaca;
reúna.
REZADOR (s.) - o benzedor destaca-se
do curandeiro pelo poder de suas ora- RIPAR (v.) - bater; falar mal de alguém.
ções. É servido por uma força de suges-
tão, favorecida pelo respeito que sabe RIR PROS PAUS (exp.) - estar extre-
infundir. Torna-se famoso pelas orações, mamente alegre (Quando ele vendeu a
e às vezes pelas mágicas, com que trata fazenda, ficou rindo pros paus).
as enfermidades que acometem os ani-
mais, sendo capaz de curar pelo rastro RISADAGEM (s.) - barulho da risada
uma rês que tenha desaparecido do cur- de muitas pessoas, geralmente incomo-
ral, perdida pelo mato. O sertanejo, cré- dando ou ironizando um fato.
dulo, conta como os bichos largam a
bicheira dos animais, caindo mortos no RISCADO (s.) 1. tecido ralo de algodão
chão, dias após a reza, e às vezes até na apropriado para fazer colchões. 2. as-
hora. sunto (Falando-se de criação de gado,
todo mundo sabe que Toniquinho en-
REZAR PELA CARTILHA ALHEIA tende do riscado).
(exp.) - não ter idéias próprias, princi-
palmente em se tratando de políticos, VEJA TAMBÉM:
que seguem cegamente as orientações Entender do riscado.
dos chefes e caciques.
RISCAR (v.) - parar de vez (Só foi o
RIBA - 1. (adv.) - cima (Ele estava em vaqueiro chegar à porteira, que o touro
riba da galha de pau). 2. (s.) - riban- riscou em cima dele).
ceira.
RISCO (s.) - 1. traço. 2. desenho que a
bordadeira traça para orientar o bordado
325
(Minha mãe mandou pedir emprestado RODAR A BAIANA (exp.) - fazer es-
o risco daquele bordado do vestido azul cândalo; engrossar o caldo; empinar a
que a senhora fez). carroça; soltar os cachorros.
326
positivo, tratou logo de romper para
ROER A CORDA (exp.) - falhar num cumprir o mandado).
trato; desistir de um negócio; tirar o
corpo fora; mijar fora do caco. RONCAR PAPO (exp.) - gabar-se;
contar vantagem; bater caixa.
ROJÃO (s.) - 1. foguete grande, que
produz forte estampido. 2. ritmo; toada RONCEIRO (adj.) - lento; vagaroso.
(No rojão que ele vai, daqui a pouco
acaba de limpar a roça). RONCOLHO (s.) - pessoa ou animal
que tem apenas um testículo.
ROLA (s.) - V. rola-bosta.
ROR (adv.) - corruptela de “horror”,
ROLA-BOSTA (s.) - espécie de be- com o significado de grande quantidade
souro que se alimenta de estrume de (Comprei um ror de comida, mas ainda
gado e que, para facilitar o transporte, assim não deu).
produz pequenas bolas, que são roladas
para o buraco onde mora; rola. ROSA (s.) - V. cravo.
327
que tem propriedades purgativas e é de
RUA (s.) - cidade; povoação; comércio amplo uso na medicina caseira.
(em contraposição à roça).
RÚIM (adj.) - ruim (o povo não pro-
RUANA (adj.) - besta ou égua de crinas nuncia o hiato ru-im, mas como um di-
amarelas. tongo: rúim).
328
-S-
SÁBADO DA ALELUIA (s.) - era o dia
em que se comemorava a Ressurreição SABÃO-DO-REINO (s.) - sabão-de-
de Cristo. Na véspera, ou seja, na noite cheiro; sabonete.
de Sexta-feira da Paixão, era costume
(ainda existente em várias localidades VEJA TAMBÉM:
tocantinenses) os rapazes furtarem gali- Passar um sabão.
nhas para fazer farra, levando os donos
de galinhas a redobrar a vigilância nos SABARUNO (adj.) - animal da cor de
poleiros e galinheiros. No sábado, ma- mel; melado.
lhava-se o Judas, que era representado
por um boneco em tamanho natura, o SABEDORIA DOS ANIMAIS (s.) - os
qual era atado em um jumento, geral- animais, ao contrário do que se pensa, na
mente amarrado com a cara virada para a sua luta pela sobrevivência, tudo obser-
anca do jegue e era submetido a uma vam, prestando atenção a tudo que os
verdadeira surra de cacete, até desman- cerca, demonstrando que muitas vezes
char-se; outros preferiam encher o bo- superam o homem na esperteza.
neco de explosivos, para fazer uma ex- Às vezes, a sucuri pega um leitão pe-
plosão, para delírio da meninada. No queno, e o grito deste faz com que a mãe
Sábado da Aleluia era costume os pais venha socorrê-lo; então, larga o leitão e
juntarem os filhos para uma surra, uma agarra a porca, que é maior.
vez que durante a Quaresma não se po- A piranha, ao atacar um peixe,
dia castigar; mesmo que os filhos nada morde-o na parte de baixo e na barba-
merecessem, assim mesmo apanhavam, tana, para que, com o desequilíbrio, este
pois esse dia era destinado a purificar perca as forças e seja dominado.
pelo castigo. Também no Sábado da O cachorro, ao acuar uma onça no
Aleluia a meninada reunia-se em grupos chão, nunca se aproxima dela afoita-
e saía recolhendo víveres para fazer a mente, a não ser que seja novato e inex-
panelada; saíam de porta em porta, periente; por prudência, muda de posição
cantando: freqüentemente, sacudindo o rabo insis-
tentemente para os lados e para cima, a
“Aleluia, Aleluia, fim de detectar possíveis obstáculos (ci-
Carne no prato, pós, varas etc.) que estão na sua reta-
Farinha na cuia, guarda, pois, no caso de um súbito ata-
Fogo no Judas!”. que da onça, já sabe onde deve recuar e
por onde fugir com rapidez e segurança.
SABÃO (s.) - reprimenda; pito; repe- Se o porco for castrado e pegar bi-
lão; sarabanda. cheira, enterra-se na lama, ficando só
329
com a parte dianteira de fora; assim, as O pirarucu, muitas vezes, pratica a
larvas das moscas não podem respirar e letissimulação, ou seja, finge estar morto
morrem. no fundo do rio; nesse estado, o pescador
O bem-te-vi geralmente faz seu ninho toca-o com a ponta do arpão ou de uma
perto de uma colmeia, pois assim não vara pontuda, sem que ele se manifeste,
faltará comida para seus filhotes. fazendo o homem crer tratar-se de um
A sucuri, para não ser abocanhada grande tronco. O mesmo acontece com a
pelo jacaré, morde-o na tábua do pes- raposa e a onça, quando exaustas ou
coço e, em segundos, enrodilha-se em feridas, e logo que se recuperam, apro-
seu corpo, garroteando-o até à morte. veitam-se de momentânea distração de
Durante forte ventania, as aves só po- seus caçadores e empreendem fuga.
dem pousar contra o vento, pois do con- Para os animais são normais os ruídos
trário desequilibram-se e arriscam-se não naturais, como trovões, ventanias e tem-
alcançar o pouso seguro. pestades, mas qualquer outro ruído arti-
O camaleão, ao ser atacado por um ficial, como a voz do homem, um dis-
cachorro, costuma deixar-lhe na boca um paro de arma de fogo ou o funciona-
pedaço da cauda; assim, consegue fugir; mento de um motor causam-lhe espanto.
quanto à cauda, com pouco tempo se Todos os animais que costumam re-
regenera. fugiar-se em buracos, como a paca e a
A anta, ao ser agarrada pela onça, cutia, perfuram um outro buraco, espécie
adentra pelos lugares onde o mato é mais de respiradouro em outro lugar, por onde
fechado, por onde vai roçando-se e es- fogem, enquanto os cachorros cavam a
premendo-se, arrebentando cipós, que- boca da toca; o respiradouro é também
brando vaquetas e varas, a fim de ar- denominado de suspiro.
rancá-la das costas, o que quase sempre O pirarucu muda a cor das escamas
acontece. conforme a cor da água, seja para fugir
Os quenquéns (tetéus) cantam festi- do homem, seja para aproximar-se de
vamente nas noites de luar, mas man- suas presas.
têm-se silenciosos nas noites escuras, O bem-te-vi costuma fazer seu ninho
para não atraírem as corujas, jacurutus e na extremidade dos galhos finos e lon-
outros predadores que enxergam à noite. gos, para evitar que os gaviões lhe co-
O pica-pau e outras aves que costu- mam os ovos ou os filhotes, pois o peso
mam cavar seus ninhos em troncos de do gavião não lhe permite chegar até o
árvore na posição vertical, procuram ninho.
evitar a chuva e o frio; por isso, essa A fêmea do jabuti põe cada ovo em
entrada não fica nem na direção leste um lugar, evitando que os seus inimigos
nem nordeste, de onde geralmente vêm naturais comam toda a ninhada, e assim
as chuvas. pode perpetuar a espécie.
A cutia, quando perseguida por ca- As formigas cortadeiras não atacam
chorros, corre em sentido reto, em espi- plantas leitosas, como o pinhão e a man-
ral e em zigue-zague, e em dado mo- gabeira, pois o leite suja e gruda suas
mento roda várias vezes em uma pe- tenazes, deixando-as sem corte.
quena área e prossegue a corrida à pro- O tamanduá-bandeira dorme com o
cura de um buraco; seus movimentos peito para cima e de braços abertos; se
costumam confundir os perseguidores uma onça procurar atacá-lo, sofrerá ter-
novatos e inexperientes.
330
rível abraço, podendo ambos morrerem pescoço, mas nunca quando este está
abraçados. pousado, pois no ar a mobilidade do
Se um casal de camaleões está numa pequeno pássaro é maior.
árvore à beira d’água e vê o homem Bandos de marrecas fazem longas vi-
aproximar-se, o macho pula na água agens em noite escuras, mas não se cho-
antes da fêmea; depois de nadar uns 20 a cam com árvores ou montanhas.
25 metros, sobe em outra árvore e salta
na água novamente, chamando a atenção SABENÇA (s.) - sabedoria; conheci-
do homem, que, sem querer, deixa a mento (É de trivial sabença que o crime
fêmea em paz. nunca compensa).
O índio não se envenena com frutas
do mato, porque só come frutas que os SABER (v.) - ter o sabor de; dar a im-
animais comem. pressão; parecer (Aquele lacotixo do
Os macacos, quando atacam uma peão estava sabendo a uma traição).
roça, deixam um de vigia, para alertá-los
da presença do homem; se, por acaso, o SABER O CAMINHO DAS PEDRAS
bando é surpreendido, o que ficou de (exp.) - ser muito esperto; conhecer os
guarda é impiedosamente surrado pelos macetes; saber onde as cobras malham
companheiros. (Não se preocupe com o Juliano, pois
A guariba parida, quando se vê sur- ele sabe o caminho das pedras e não vai
preendida por um caçador, tira das cos- se complicar).
tas o filhote e o mostra, para avisar que
tem uma cria pequena; se o filhote não SABER ONDE AS COBRAS MA-
está perto, ela pega uma folha e espreme LHAM (exp.) - V. saber o caminho das
nela um pouco de leite, para demonstrar pedras; saber onde moram as corujas.
que está amamentando. Ainda assim, às
vezes o homem a elimina. SABER ONDE MORAM AS CORU-
O martim pescador, quando pesca um JAS (exp.) - V. saber onde as cobras
peixe, trata de levá-lo para um galho, e malham.
com o bico sacode o peixe, dando-lhe
repetidas pancadas até matá-lo, facili- SABIÚ (s.) - árvore de chapada, de fo-
tando sua ingestão. lhas semelhantes à sucupira, que produz
A onça e outros predadores nunca frutos redondos, não comestíveis, de talo
atacam sua presa a favor do vento, ou longo, semelhantes a boleadeiras.
seja, com o vento indo de sua direção
para a da presa, preferindo o sentido SABONETEIRA (s.) - 1. espécie de
oposto, para que seu cheiro não denuncie planta cujas sementes, semelhantes a
sua presença. bolinhas-de-gude pretas, espumam ao
As rolinhas, quando vêem o homem ser esfregados nas mãos com água. 2.
aproximar-se de seu ninho, saem ba- cavidades que ficam ao lado do pescoço
tendo as asas ruidosamente, afastando-se formadas pelas clavículas.
aos pouquinhos, como se quisessem
atrair a atenção; com isto, desviam a SABUCO (s.) - sabugo; cascabulho.
atenção de seus ovos e filhotes.
Os bem-te-vis atacam gaviões em SABUGO (s.) - corpo da espiga do mi-
pleno vôo, bicando-lhes a cabeça e o lho após debulhado; cascabulho.
331
SABUGUEIRO (s.) - planta medicinal SAETA (s.) - doce da polpa do buriti;
de cujas folhas e flores se faz um chá saieta.
para detectar e curar o sarampo.
SAFANAR (v.) - segurar com força e
SACANEAR (v.) - 1. perturbar; inco- sacudir.
modar; fazer sacanagem (1); 2. praticar
ato libidinoso; sarrear. SAFIRA (s.) - masturbação; punheta.
332
SAL AMARGO (s.) - sal de Glauber SALTAR FOGUEIRA (exp.) - cos-
(purgativo). tume do interior, em que, no dia de São
João, duas pessoas, diante de um tição
SALAMIM (s.) - V. celamim. aceso da fogueira, pronunciando fórmu-
las específicas, saltam o tição, compro-
SALÃOZINHO (s.) - bate-bola que é metendo-se, dali por diante, a serem
feito geralmente em frente a uma das compadres ou padrinho/madrinha e afi-
traves antes do início de um treino ou de lhado/afilhado, sendo comum encontra-
uma partida de futebol. rem-se “madrinha de fogueira”, “com-
padre de fogueira”. A fórmula mais
SALGA (s.) - 1. administração de sal utilizada é esta, que é pronunciada com
para os animais (Na sombra da mungu- as mãos direitas dadas e estendidas sobre
beira ficava o cocho de jatobá para a um tição da fogueira de São João, uma
salga do gado). 2. ato de salga a carne pessoa de cada lado:
para transformação em charque (A carne
de primera ele vendia, e a de segunda ia “Eu juro,
para a salga). (Por) São João Batista,
São Pedro,
SALGA-BUNDA (s.) - sandália-de- São Paulo,
dedo, feita geralmente de couro cru, se- Todos os santos
melhante à havaiana, que joga areia em Da cor(te) do céu,
direção às nádegas enquanto se anda. Que Fulano é meu (compadre, padri-
nho, afilhado)”.
SALGADO (adj.) - caro (Esse preço
está muito salgado). Em seguida, repete-se a fórmula, com as
pessoas trocando de lado.
SALGAR (v.) - 1. administrar sal para
o gado (Sexta-feira ele reunia o gado SALUÇO (s.) - soluço. Para se evitar
para no sábado salgá-lo). 2. preparar a que os soluços continuem, pega-se um
carne-de-sol. saco de couro, introduz-se nele a boca e
o nariz e respira até não agüentar mais,
SALIENTE (adj.) - intrometido; me- evitando-se que a respiração saia do saco
tido a importante; conversador; entrão. de couro. No terreno das simpatias, usa-
se pedir um copo d’água, tomar três go-
SALINEIRO (adj.) - diz-se do gado les e jogar, por cima do ombro, o resto
que é acostumado a lamber sal no cocho. para trás, sem olhar. Outras simpatias:
beber cinco goles d’água, enquanto se
SALOBRO (adj.) - sem sabor; insosso; pronuncia:
salvage.
“Bebo as cinco chagas
SALSEIRO (s.) - barulho; rebuliço; De Nosso Senhor Jesus Cristo!”
confusão; balbúrdia; barafunda.
Beber três goles d’água, enquanto se
SALTAR FOGO (exp.) V. saltar fo- pronuncia, a cada gole:
gueira.
“Água mata soluço,
333
soluço mata água”!. SAMBORÁ (s.) - cera do favo que se
forma na colméia (Quem lambeu o mel
Introduz-se uma faca de ponta num copo tem que comer o samborá).
d’água durante minutos e depois fazer o
paciente beber de olhos fechados. O so- SAMBURÁ (s.) - espécie de cesto usado
luço de crianças estanca ao colocar-se por pescadores para conduzir o produto
um fiapo molhado de baeta vermelha na da pesca.
testa.
SAMEAÇÃO (s.) - esfomeação; ganân-
SALVA DE TIROS (exp.) - rajada de cia (Com esta sameação do Júlio, não
tiros, geralmente para comemorar algo. vai sobrar comida pros outros).
334
SANGÜEIRA (s.) - grande quantidade imagens de santo, que eram ocas; daí
se sangue. veio o nome).
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E o sapinho - diz-se - passará para a ou-
tra pessoa. SARAPANTADO (adj.) - assustado;
atordoado; espantado (Os vaqueiros
SAPO (s.) - pessoa que fica de lado ob- trataram de cercar os bois sarapantados
servando os jogadores, sem jogar, e que queriam fugir do magote).
dando palpites; esfria-verruma.
SARAPATEL (s.) - iguaria feita de
SAPEAR (v.) - 1. vagabundar. 2. ficar miúdos de porco.
espiando e dando palpites.
SARARÁ (adj.) - V. fogoió; laranjo.
SAPIRANGA (s.) - doença externa dos
olhos. V. doença dos olhos. SARAU (s.) - confusão; calundu (Fa-
çam o favor de acabar com esse sarau,
SAPITUCA (s.) - 1. birra de criança; que estou com a cabeça doendo).
calundu. 2. V. tontorona.
SARIEMA (s.) - ave do cerrado maior
SAQUEIRA (s.) - V. culhoneira. que uma galinha e de pernas mais lon-
gas, cujo canto é característico; siriema.
SARABANDA (s.) - forte reprimenda;
pito; repelão. SARIL (s.) - V. sarilho.
336
SASTIFEITO (adj.) - satisfeito. SEDENHO (s.) - crina de animais com
que se fabricam cabrestos, cordas e ré-
SEBAÇA (s.) - assalto; rapina; série de deas; sedém.
roubos violentos, geralmente promovi-
dos por jagunços. SEGUNDA ÉPOCA (s.) - o antigo
exame de recuperação escolar, quando o
SEBEREBA (s.) - espécie de merenda aluno, reprovado em pelo menos duas
ou sobremesa feita de massa de buriti disciplinas, tinha uma segunda oportuni-
com água ou leite. dade de realizar os exames, geralmente
no mês de fevereiro.
SEBOSO (adj.) - sujo; nojento; breado.
SEGURA O PÉ! (exp.) - expressão que
SECO (adj.) - 1. vazio (Quando a fome serve para prevenir alguém (Segura o
chegou é ele se lembrou de que seu de- pé, molecada, que o homem não brinca
pósito estava seco). 2. ávido (Depois de com malandragem!).
passar um mês na roça, ele estava seco
por um cineminha). SEGURAR PELO BARBICACHO
(exp.) - V. sojigar.
VEJA TAMBÉM:
De seca e verde. SEGURO (adj.) - econômico; sovina
(Tio Dirico era tão seguro, que matava
SECUNDAR (v.) - 1. capinar a roça uma vaca, mas ficava apenas com as
pela segunda vez (Ele já ia até secundar pelancas, para vender o resto).
a roça, quando a praga de gafanhotos
chegou). 2. repetir; completar o que foi SELADA (s.) - virgem.
dito (O patrão está certo mesmo! - se-
cundou o peão). SELADO (adj.) - pessoa ou animal que
possui a coluna vertebral recurva, se-
SECURA (s.) - 1. desejo sexual. 2. melhante ao contorno de uma sela (Por
vontade insaciável; cegueira. conta de um problema na coluna, Joa-
quim Cursino era selado).
SEDA DE BURITI (s.) - fibra das pa-
lhas do olho do buritizeiro. SELAR (v.) - ficar selado (Ao receber a
lamborada do vaqueiro, o cavalo selou).
SEDE (s.) - muita vontade; avidez (De-
pois que ele levou um tapa na cara, SELEBESQÜETE (adj.) - pelintra;
comprou um pau-de-fogo e ficou com assanhado; exibido; sirigaita (Ele che-
sede de encontrar o desafeto). gou todo selebesqüete à festa entonado
num terno de mesclinha).
SEDE-DE-ÁGUA (exp.) - gole d’água
(Ele não dá uma sede de água a nin- SELIM (s.) – nome que se dá a uma
guém). espécie de pequena sela apropriada para
mulher montar de lado, e não escan-
SEDÉM (s.) - V. sedenho. chada. Difere do silhão (V.).
337
lhante à quaresmeira, também chamada
VEJA TAMBÉM: de primavera e bougainville.
Tirar o selo.
SEM QUE NEM PRA QUÊ (exp.) -
SEMANA ATRASADA (s.) - semana sem motivo; sem razão alguma (Ele ati-
anterior à passada; semana trasada (p. rou no rapaz sem que nem pra quê).
ex..: se estamos na última semana do
mês, a semana que passou, ou seja, a 3ª, SEM TERMO (exp.) - V. sem assunto.
é a semana passada, a anterior a ela, isto
é, a 2ª do mês, é a semana atrasada, e a SENE (s.) - pequenas folhas secas de
anterior à atrasada, a 1ª do mês, é a se- uma espécie de leguminosa que são uti-
mana retrasada). lizadas na medicina caseira geralmente
com propriedades purgativas.
SEMANA RETRASADA (s.) - V. se-
mana atrasada. SENTADA (s.) - vez; ocasião; oportuni-
dade (De uma sentada ele chupou duas
SEMANA TRASADA (s.) - V. semana melancias).
atrasada.
VEJA TAMBÉM:
SEM ASSUNTO (exp.) - sem educação; De uma sentada.
sem cuidado (Esses filhos de Lino Ca-
beça-Gorda são muito sem assunto). SENTAR PRAÇA (exp.) - servir na
polícia; quando se refere ao Exército, é
SE-ME-DÃO (s.) - filante de cigarro. “tirar o tempo” (Ele sentou praça com
dezoito anos e nunca mais largou a
SEM EIRA NEM BEIRA (exp.) - sem polícia).
nenhum préstimo; extremamente pobre
ou sem valor; que não possui coisa al- SENTIDO (s.) - 1. atenção (Ponha
guma; sem uma banda de couro pra bastante sentido no que vou lhe dizer).
morrer em cima (Em todo garimpo 2. (adj.) - contrariado; ressentido (Fi-
costuma chegar gente sem eira nem quei muito sentido com aquela pessoa).
beira querendo vencer).
SENTINA (s.) - V. privada; latrina;
SEM PAPAS NA LÍNGUA (exp.) - casinha.
que fala o que bem entende sem medir
as conseqüências (Tia Marieta em uma SENTINELA (s.) - velório.
mulher sem papas na língua, mas era
extremamente sincera). SER A DERRADEIRA GRAÇA
(exp.) - ser última vez (Vi o Joaquim no
SEM-PÉ-NEM-CABEÇA (exp.) - sem dia da festa do ano passado, e foi a der-
fundamento (Ele veio com uma con- radeira graça).
versa sem-pé-nem-cabeça que não con-
venceu ninguém). SER A PALMATÓRIA DO MUNDO
@@@ (exp.) - ser o bode expiatório.
SEMPRE-LUSTROSA (s.) - planta de
flores lilás, que orna as fazendas, seme-
338
SER AS CUECAS DE GETÚLIO SER FOGO NA ROUPA (exp.) - V.
(exp.) - procurar ser importante; fazer ser fogo.
bunda de crioulo (Depois que ele ga-
nhou na loteria, está querendo ser as SER LIGADO A (exp.) - ser afeito a.
cuecas de Getúlio).
SER MACACO VELHO (exp.) - ser
SER BATATA (exp.) - ser pontual; não muito experiente (Pode ficar sossegado
falhar. com a missão confiada ao Túlio, pois
ele é macaco velho).
SER CANJA (exp.) - ser fácil.
SER MAIOR E VACINADO (exp.) -
SER DE MAIOR (exp.) - ter maiori- ser independente (Meu tio precisa lar-
dade (V. de maior). gar de me controlar; afinal, sou maior e
vacinado).
SER DE MENOR (exp.) - ser menor de
idade (V. de menor). SER MATO (exp.) - existir alguma
coisa em grande quantidade; ser o pau
SER DE MORTE (exp.) - ser intolerá- que há (Em Goiânia carro importado é
vel. mato).
SER DO CONTRA (exp.) - ser contes- SER O FIM DA PICADA (exp.) - ser
tador por natureza; ter espírito de con- (uma coisa) difícil; desagradável (Esse
tradição. carro velho naquele asfalto cheio de
panelas foi o fim da picada); ou (uma
SER DURO (exp.) - ser rígido, irredutí- pessoa) inconveniente; sem educação
vel. (Esse filho de Otacilinho, quando bebe,
é o fim da picada).
SER DURO NA QUEDA (exp.) - V.
ser duro nos arreios. SERÓ (s.) - V. ceró.
339
nheiro no dia do vencimento do título,
eu fui salvo pelo gongo). SESTROSO (adj.) - que tem sestro.
SER UMA CACHAÇA (exp.) - ter SIAR (v.) - fechar as asas, o pássaro,
inclinação impulsiva por algo ou alguém mergulhando para descer (Quando viu a
(Colecionar caixinhas de fósforos era galinha com os pintinhos no terreiro, o
uma cachaça para Juvenal). gavião siou e quase pegou um deles).
SER UMA MOÇA (exp.) - ser extre- SIBIRINA (s.) - calcinha feminina; cal-
mamente educado (Jurandir é incapaz çola.
de uma grosseria dessas, pois ele é uma
moça). SILHÃO (s.) – sela grande com arco
dianteiro para apoio de uma perna, com
SERRA-PAU (s.) - espécie de besouro apenas um estribo; a mulher não caval-
grande e comprido que se alimenta da gava escanchada, mas sentada de lado,
polpa de certas madeiras. pois em épocas passadas era considerado
SERRILHA (s.) - parte de superfície impróprio mulher andar escanchada.
provida de dentes semelhantes aos de
uma serra ou serrote. SIMONTE (s.) - rapé; pó de fumo para
se cheirar; torrado.
SER TIRO E QUEDA (exp.) - não ter
erro; ser eficaz (Para diarréia o chá de SIMPATIA (s.) - ritual ou objeto su-
crista-de-galo é tiro e queda). persticiosamente usado para curar uma
enfermidade, mal-estar ou para se atingir
SESSAR (v.) - peneirar (Antes de torrar um objetivo (Para curar soluços de cri-
a massa de mandioca é preciso sessar, anças a simpatia infalível é um pedaci-
senão a farinha fica caroçuda). nho de baeta molhado e pregado na
testa do bebê). Há uma diferença entre
SESTRO (s.) - tique nervoso; mania; simpatia e benzedura, embora ambas
gesto incontrolável (Você precisa corri- sejam do ritual protetivo, ou seja, um
gir esse sestro de chupar os dentes, que conjunto de gestos, rezas ou palavras
uma hora irá passar vergonha no meio com as quais se procura obter a cura,
de gente). proteção da saúde ou prevenção de ma-
340
les: a simpatia pode ser realizada por sua carreira como vereador no municí-
qualquer pessoa, enquanto que a benze- pio de Colinas de Goiás (hoje, Colinas
dura é executada por pessoas especiali- do Tocantins); lutou denodadamente por
zadas, como o benzedor, o rezador e o mais de duas décadas pela divisão do
curador. Em resumo: toda reza que não Estado de Goiás para a criação do Es-
é especialmente administrada por benze- tado do Tocantins, tendo sido, várias
dor, curador ou rezador é simpatia. vezes e sucessivamente, eleito deputado
federal pelo Estado de Goiás com vota-
SINAL (s.) - cortes determinados que se ção expressiva no território posterior-
fazem nas orelhas de animais, como por- mente desmembrado, sempre tendo
cos e caprinos, que permitem a identifi- como meta de seus mandatos a criação
cação de seu dono. do Estado, submetendo-se até mesmo a
uma greve de fome, após um veto do
SINALAR (v.) - V. assinalar. então Presidente da República José Sar-
ney à criação do Estado, o que obrigou o
SINAPISMO (s.) - cataplasmo de mos- governo federal a assumir o compro-
tarda, alho ou qualquer substância pi- misso de constituir uma comissão para
cante que se coloca sobre a parte afetada redividir o país. Pelo artigo 13 do Ato
do corpo; também se designa o pedaci- das Disposições Constitucionais Transi-
nho de alho amassado que se amarra tórias da Constituição Federal de 1988,
com um trapo na ponta do dedo mínimo foi criado o Estado do Tocantins, termi-
para se curar a dor de dente: como o alho nando uma luta que vinha desde o século
faz latejar, supõe-se que as pulsações do passado, com as primeiras manifestações
dente dolorido passam para o dedo. libertárias do Desembargador Joaquim
Teotônio Segurado, encampada por Si-
SINOEIRO (s.) - V. sinueiro. queira Campos. Foi eleito seu primeiro
Governador, instalando o Estado em pri-
SINUCA-DE-BICO (s.) - situação difí- meiro de janeiro de 1989, na cidade de
cil; impasse (Agora fiquei numa sinuca- Miracema do Tocantins, capital provisó-
de-bico, pois mandei fazer r o remédio, ria; posteriormente, sua liderança levou-
e o boi doente). o a ocupar novamente a chefia do Exe-
cutivo tocantinense, tendo sido reeleito
SINUEIRO (s.) - boi manso, geral- para ocupar a Chefia do Executivo no
mente encorpado, que é atrelado junto período 1999/2002, pela terceira vez..
com um bravo para ser conduzido com
mais facilidade; sinoeiro; sinuelo. SIQUEIRISTA (adj.) - partidário do
siqueirismo.
SINUELO (s.m) - V. sinueiro.
SIRIBOLO (s.) - confusão (Na hora em
SIQUEIRISMO (s.) - corrente política que deram o tiro no meio da festa, ar-
tocantinense que segue as orientações de mou-se um siribolo medonho).
José Wilson Siqueira Campos, criador,
implantador e primeiro governador do SIRIEIRO (adj.) - desconfiado; inibido;
Estado do Tocantins. Siqueira Campos, cabreiro.
líder político de origem cearense e radi-
cado no então Estado de Goiás, iniciou
341
SIRIGAITA (s.) - mocinha que con- (De madrugada, bebi uma soca de café
versa demais ou que tem resposta para de ontem e panhei a estrada).
tudo.
SOCADO (adj.) - 1. pilado no pilão (A
SIRIRICA (s.) - masturbação feminina. boa paçoca de gergelim deve ser socada
junto com farinha e rapadura). 2. es-
SISTEMA (s.) - mania (O coronel condido; distanciado (Vivia socado na-
Afonso era um homem cheio de sis- quele sertãozão, que nem notícia tinha
tema: só bebia água de pote feito de de gente).
barro-de-loiça branco).
SOCAR (v.) - pilar (café, paçoca etc.);
SÍTIO (s.) - pequena propriedade rural; descascar arroz; pisar (1).
chácara.
SOCÓ (s.) - ave pernalta, menor que o
SOBEJO (s.) - resto que fica no copo ou jaburu e com ele parecido, que vive nos
no prato. brejos e pântanos.
SOCA (s.) - 1. o que sobra na roça de SOLAMA (s.) - sol forte; solzão.
arroz após a colheita (Lídio ficou com
pena de Eli e deu-lhe a soca da roça SOLAPA (s.) – 1. loca cavada pela água
pra ele aproveitar). 2. resto de café frio na base dos barrancos dos rios. 2. Pe-
342
quena cratera horizontal nas encostas das
serras. 3. coisa grande; lapa. SOLZÃO (s.) - solama; sol muito
quente (Não vou sair com ese solzão do
SOLAR (v.) - 1. colocar sola no calçado meio-dia; vou esperar a tarde esfriar).
(Com pouco tempo de aprendizado na
sapataria, ele já solava muito bem SOMAR (v.) - importar-se; ligar (Estou
qualquer calçao). 2. no futebol, é colo- pouco somando que você se zangue).
car a sola do pé em posição de alavanca,
para que o chute do adversário não atinja SOMBRA E ÁGUA FRESCA (exp.) -
a bola, mas lhe provoque a queda. situação cômoda (Essa mocidade de
hoje só quer sombra e água fresca).
SOL NA CABEÇA (s.) - insolação. O
remédio prescrito para a insolação é de SONHIM (s.) - pequeno mico de cor
fundo místico: pega-se uma toalha e do- acinzentada; soim.
bra-se em 9 dobras; enche-se uma gar-
rafa d’água; coloca-se a toalha dobrada SOPA NO MEL (s.) - grande oportuni-
na cabeça do paciente e a garrafa des- dade (A carona justamente no dia da
tampada e com a boca para baixo sobre festa foi a sopa no mel).
a toalha; enquanto o paciente fica sen-
tado, reza-se o credo em cruz; depois SOPAPEAR (v.) - V. sojigar.
retira-se a garrafa e despeja-se a água em
círculo em redor do paciente, repetindo a SOPEIRA (s.) - tigela.
reza três vezes.
SOPITAR (v.) - espirrar, tratando-se de
SOLTAR A LÍNGUA (exp.) - revelar doce ou sabão durante a fervura; aljofrar
um segredo ou algo que possa compro- (Ele queimou a mão porque não pen-
meter alguém (Não conte nada pro sou que o sabão fosse sopitar no tacho).
Mundico, pois, conversador como nin-
guém, ele é bem capaz de soltar a lín- SOQUEIRA (s.) - soco-inglês; peça de
gua). ferro com que se protege a mão para dar
soco sem se ferir e para causar trauma-
SOLTAR O BARRO (exp.) - defecar; tismo no contendor.
cagar.
SORTE (s.) - forma parceria pecuária
SOLTAR OS CACHORROS (exp.) - para remunerar o vaqueiro, que consiste
agredir com palavras; ficar agressivo, em separar grupos de quatro (ou cinco)
hostil; revoltar-se; rodar a baiana bezerros, para que o vaqueiro ganhe um
(Quando descobriu que o marido tinha sorteado entre os de cada grupo, na
amante, ela soltou os cachorros). época da ferra.
343
gava duas mudas de roupas subselen-
SOTAQUE (s.) - gozação; chiste (De- tes).
pois que a noiva desmanchou o casa-
mento, o Berinha passou a ouvir sota- SUÇA (s.) - dança movimentadíssima
que de todo mundo). tradicional em certas regiões, em que as
pessoas dançam soltas acompanhadas
VEJA TAMBÉM: pelo tambor; sussa.
Jogar sotaque.
SUCESSO (s.) - acidente; desastre (De-
SOVACO (s.) - axilas; quiquiu; su- pois daquele sucesso com o caminhão,
baco; suvaco. o pobre ficou paralítico).
344
ximar-se dele, quando, em distância se- SUÇUAPARA (s.) - espécie de veado
gura, arma o bote, à feição de uma po- muito grande, atualmente em extinção,
tente mola, enrosca-se nele, constri- que vive nos brejos.
tando-o até matá-lo, para depois engoli-
lo. Nunca ataca longe da água, pois, em SUÇUARANA (s.) - onça vermelha, de
regra, prende sua cauda numa raiz e en- porte médio, que só ataca bodes, porcos,
rola-se na presa, trazendo-a até à mar- bezerros e animais menores; onça ver-
gem, depois afrouxa o laço, dando-lhe a melha.
sensação de liberdade, e puxa-a nova-
mente até ela se cansar, após o que a SUCURI (s.) - V. sucruiú.
engole inteira, o que faz com animais de
grande porte, que necessitam cansar-se SUCURIÚ (s.) - V. sucruiú.
antes. Esta cobra - acredita o sertanejo -
é muito traiçoeira, pois nunca ataca de SUINDARA (s.) - coruja branca, de
frente; sempre é pelas costas e sem se porte médio, conhecida nacionalmente
esperar. Costuma esperar suas presas como rasga-mortalha (V.).
pacientemente em locais estratégicos,
como aguadas, passagens de cursos SUJAR (v.) - defecar (tratando-se de
d’água, árvores caídas que servem de crianças).
ponte, ali permanecendo horas e até dias
seguidos. Tem facilidade em subir em SUJO (s.) - o Diabo.
árvores verticalmente, faculdade que não
possui para descer, deixando-se cair des- SUMANA (s.) - semana.
graciosamente, quase sempre embolada,
e, apesar de muitas vezes precipitar-se SUMIDOR (s.) - V. sumidouro.
de grandes alturas, não sofre qualquer
dano devido à elasticidade de seu corpo. SUMIDOURO (s.) - lugar onde um
Quando come um animal grande, passa curso d’água desaparece no chão; sumi-
muito tempo imóvel até que faça a di- dor.
gestão completa. Diz o sertanejo que,
neste caso, quando a cobra fica imóvel SUMIR DO MAPA (exp.) - desapare-
em um brejo, até capim nasce em suas cer; exalar.
costas. É um animal ovovivíparo, que
choca seus ovos no próprio ventre, e os SUMITÉRIO (s.) - cemitério.
filhotes, uma vez nascidos, dispensam
cuidados dos pais, cuidando cada um de SUNGA (s.) - suspensório escrotal; cu-
si. É um animal muito resistente a lhoneira; funda.
chumbo e bala, não morrendo de qual-
quer tiro; para que o disparo seja mortal, SUNGAR (v.) - levantar; erguer (Foi só
é preciso que atinja nas proximidades do ele sungar o menino, o moleque abriu o
ouvido; noutras posições, a bala costuma bué).
resvalar no seu couro, que é muito re-
sistente e elástico. Quando assustada ou SUPETÃO (adv.) - V. de supetão.
enraivecida, expele um odor muito desa-
gradável, que serve de advertência. SUPIMPA (adj.) - excelente; muito
bom.
345
SURA (s.) - ave sem as penas do rabo; SUSPENSOL (s.) - suspensório.
nabuco; pitoco; rabicó; suru; suruca.
SUSPIRO (s.) - 1. bolinho de cor branca
SURIAR (v.) - assorear; encher de areia. feito de clara de ovo batida e açúcar. 2.
buraco que, sem ser a entrada, tem co-
SURRÃO (s.) - 1. saco de couro para municação com a toca e por onde escapa
transportar água; borracha (2). 2. bar- a caça; respiro.
riga (Depois de encher o surrão ele foi
tirar uma palha na rede). SUSSA (s.) - V. suça.
346
-T-
TABA (s.) - tábua. tia, quando viu o cachorro, fugiu para
o tabuleiro). 2. espécie de bandeja de
TABACO (s.) - 1. fumo; rapé. 2. va- alumínio ou folha-de-flandres com bor-
gina. das para se assar bolo ou biscoito; assa-
deira.
TABARÉU (s.) - V. matuto; brejeiro;
caipira; chapéu-atolado. TACA (s.) - 1. chicote de couro (Traga
uma taca aqui para eu espantar as ga-
TABATINGA (s.) - terra argilosa de cor linhas). 2. surra (Ele levou uma taca da
branca, imprópria para a cultura e que polícia, que mijou nas pernas).
substitui a cal na caiação.
TACAR (v.) - 1. bater (Quando o su-
TABEFE (s.) - tapa dado com a mão jeito tacou a mão na cara dele, o negó-
aberta; tapa (1). cio ficou feio). 2. enfiar (Não fique ta-
cando a mão no prato de comida, me-
TABOCA (s.) - bambu da mesma famí- nino!).
lia da taquara, de gomos mais curtos e
grossos, muito utilizada no ripamento de TACHA (s.) - V. rabeira (2).
telhados e de paredes-de-enchimento.
TACHADA (s.) - o conteúdo de um
VEJA TAMBÉM: tacho (1) na moagem.
Passar taboca.
TACHO (s.) - 1. espécie de vasilha
TÁBUA DO PESCOÇO (s.) - parte aberta, geralmente feita de cobre, com
lateral do pescoço do animal. duas alças laterais utilizadas na moagem
para ferver a garapa e transformá-la em
TÁBUA DA VENTA (s.) - parte lateral melado e rapadura. 2. relógio de pulso
do nariz, logo abaixo do olho (Taquei- de tamanho grande e marca ordinária.
lhe a mão na tábua da venta, que o mel
desceu). TACO (s.) - pedaço arrancado de uma
parte maior; naco (Ele só conseguiu um
TABULEIRO (s.) - 1. espécie de vege- taco de carne pra comer, um taquinho
tação rasteira de terreno arenoso (A cu- de nada).
347
TAÇUÍRA (s.) – espécie de formiga TALHADA (s.) - fatia, de fruta ou de
pequena. bolo.
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TAMBORIL (s.) - árvore frondosa e de
grande porte cuja madeira é muito leve, TAPERA (s.) 1. casa abandonada na
especial para a fabricação de embarca- zona rural. 2. mulher acabada pelos
ções. maus tratos.
349
TARIMBA (s.) - experiência; prática. zenda e às vezes para atender a enco-
mendas (hoje, com a evolução da indús-
TAROQUE (s.) - bandulho; pança; tria têxtil, com o conseqüente baratea-
pandu. mento, os teares tornaram-se peças ob-
soletas). O tear possuía os seguintes
TARUMÃ (s.) - árvore da mata que pro- componentes:
duz frutos do mesmo nome e que são canelinha - é o complemento da lan-
muito apreciados pelas caças. çadeira;
casal - caixa dividida em escaninhos
TATAÍRA (s.) - 1. abelha silvestre de para se colocar os novelos a serem teci-
picada dolorosa, também chamada caga- dos;
fogo. 2. pancada que é dada com a pedra foicinha - peça feita de um pedaço de
na mão da pessoa que maneja mal o bo- bambu para enfiar o fio no pente;
doque. lançadeira - peça que conduz a ca-
nelinha;
TATEAR (v.) - procurar algo no escuro, lissios - peça que leva os fios do ur-
utilizando-se do sentido do tato. dume;
pente - peça que leva os fios do ta-
TATU (s.) - mamífero ungulado, de que pume;
há várias espécies e que tem a peculi- restelo - uma das peças de urdir o
aridade de ter as crias de um só sexo em pano;
cada barrigada (1). tempereiro - é a peça que serve para
esticar o pano no sentido da largura;
TATU-BOLA (s.) - espécie de tatu que, urdideira - peça que urde o pano.
para se proteger, envolve-se no seu pró- Para o preparo da linha destinada a se
prio casco, tornando-se uma bola; bola. transformar em tecido pelo tear, eram
utilizados os seguintes equipamentos:
TATU-CANASTRA (s.) - o maior dos arco - de formato de um bodoque,
tatus, estando em extinção; vive nos ge- servia para bater o algodão, substituindo
rais e tem o tamanho aproximado de um as cardas nas linhas grossas;
porco de porte médio; canastra. cardas - espécie de pente, para pen-
tear e desembaraçar as linhas destinadas
TATU-PEBA (s.) - V. peba. à tecelagem;
descaroçador - pequeno engenho de
TATURANA (s.) - V. lagarta-de-fogo. madeira com dois cilindros paralelos
horizontais, para retirar os caroços (se-
TATU-VERDADEIRO (s.) - variedade mentes) do algodão;
de tatu de tamanho maior que o peba. meadeira ou dobradeira - peça desti-
nada a dobrar as meadas.
TAUÁ (s.) - espécie de barro averme-
lhado; toá. TECO (s.m) - V. teco-teco.
350
TENESMO (s.) - disenteria, andadeira;
TEIÚ (s.) - grande lagarto cinzento, caganeira; reira.
surdo, comedor de ovos, cuja carne é
muito apreciada e que se defende dando TENTEAR (v.) - ir levando a vida; pa-
chicotadas com a cauda; tejo; tiú. liar (Com o mísero salário que ganhava
ele ia tenteando).
TEMPERAR A GARGANTA (exp.) -
tossir para chamar a atenção de alguém; TER AREIA NO BUCHO (exp.) - ser
consertar a garganta. indiscreto; não saber guardar segredo;
conversar além do necesário (Eu queria
TEMPEREIRO (s.) - parte do tear (V.). fazer uma surpresa à Amália, mas Cé-
sar tem areia no bucho, e foi contar pra
TEMPESTADE EM COPO D’ÁGUA ela que iríamos dar-lhe uma festa).
(s.) - escândalo ou confusão armada sem
motivo. TER CABELO NAS VENTAS (exp.) -
ser corajoso; atrevido.
TEMPO ANTIGO (adv.) - outrora; há
muito tempo (No tempo antigo não ha- TERECÔ (s.) - sessão de macumba (A
via banco nem inflação; a gente enter- polícia está investigando o crime ocor-
rava o dinheiro para guardar). rido num terecô em Araguatins).
TEMPORÃO (adj.) - fruto que dá fora TER MÃO (exp.) - sustentar; segurar
do tempo próprio (Nesta época, não (Ninguém conseguia ter mão naquele
existe caju para vender na feira, a não malcriado).
ser algum temporão).
TER MENINO (exp.) - V. descansar.
TENDA (s.) - oficina, especialmente de
sapateiro. TER NENÉM (exp.) - dar à luz; des-
cansar.
VEJA TAMBÉM:
Dar na tenda. TER O FÍGADO BRANCO (exp.) -
diz-se da pessoa que fica viúva mais de
TENDEPÁ (s.) - confusão; estarda- uma vez.
lhaço; estandarte; furdunço; tenderepá.
TER O OLHO MAIOR DO QUE A
TENDEREPÁ (s.) - V. tendepá. BARRIGA (exp.) - ser guloso.
351
TER PARTE COM O CAPETA (exp.) TESÃO (s.) - 1. enrijamento dos órgãos
- pessoa misteriosa, que, segundo a su- sexuais devido à excitação. 2. pessoa
perstição, não passa privação de dinheiro cujo aspecto físico causa excitação se-
e pratica atos inexplicáveis. xual.
TERRINA (s.) – vasilha grande, geral- TICACA (s.) - coisa sem valor; coisa
mente de vidro, louça ou inox, que se sem importância..
usa para servir alimentos líquidos (fei-
jão, canja, sopa etc.).
352
TIÇÃO (s.) - 1. pedaço de madeira par- TINGUIJADO (adj.) - bêbado; embria-
cialmente aceso. 2. negro; cafuçu; cas- gado com tingui.
cabulho-de-loiceira.
TINTOL (s.) - anilina própria para se
VEJA TAMBÉM: tingir roupas.
A tição.
TIO - 1. (pron.) - tratamento que se dá
TIFUTE (s.) - preto; cafuçu. às pessoas mais velhas às quais se pede a
bênção. 2. (s.) maneira de se chamar um
TIGRE (s.) - vasilha sanitária, espécie cachorrinho cujo nome não se sabe.
de barril, onde se transportavam para
despejo matérias fecais. TIOREGA (s.) - rotina (É verdade que
ele deixou de beber uns tempos, mas
TIJOLO (s.) - rapadura feita de melado, quando bebeu uma vez voltou à tio-
com leite, coco, mandioca ralada ou ma- rega).
mão, canela e outros ingredientes; difere
da rapadura, porque esta é feita exclusi- TIPI (s.)- V. guiné.
vamente do melado da cana, enquanto o
tijolo é a rapadura temperada (com TIPÓIA (s.) - 1. sustentáculo de pano
cravo, canela, coco, gengibre, jaca, ma- que se amarra ao pescoço, formando
mão etc.). uma rede para agasalhar o braço ferido
ou quebrado. 2. Rede de dormir (por
TIJOLO A TIÇÃO (exp.) - diz-se da influência nordestina); fiango.
construção feita com tijolos ou adobes
atravessados, de forma a que as paredes TIQUE (s.) - sestro.
fiquem mais grossas; o oposto de tijolo
de espelho. TIQUIM (s.) - V. tiquinho.
353
TIRADO A (exp.) - metido a (Ele é um TIRAR DE EITO (exp.) - levar de ven-
camarada tirado a mecânico). cida (Trabalhador como era, aquele
pedacinho de roçado ele levou de eito,
TIRA-GOSTO (s.) - qualquer coisa que num abrir e fechar de olhos).
se come para acompanhar uma bebida.
TIRAR DE LETRA (exp.) - realizar
TIRANABÓIA (s.) – V. cobra-de-asa. algo sem dificuldade (Um servicinho
como aquele ele tirava de letra).
TIRANTE - 1. (adv.) exclusive; exceto;
forante (Tirante o dono da casa, todo TIRAR LEITE DE PEDRA (exp.) -
mundo ficou chilado). 2. correia que realizar o impossível (Tentar um des-
prende o arreio. conto com o turco das roupas é tirar
leite de pedra).
TIRA-PEIA (s.) - espécie de cobra pe-
quena, mas extremamente venenosa; seu TIRAR O CABAÇO (exp.) - desvirgi-
nome decorre da conseqüência de sua nar.
picada: segundo o sertanejo, quando ela
ofende qualquer animal, pode-se tirar TIRAR O CASQUEIRO (exp.) - dar
sua peia e soltá-lo, pois não escapa. início a (Vou tirar o casqueiro na roça,
começando a roçagem).
TIRAR (v.) - 1. retirar (Da pequena
economia ele tirou quase a metade para TIRAR O CAVALO DA CHUVA
comprar a casa). 2. seduzir mulher vir- (exp.) - desistir de um intento (Se quiser
gem (Foi aquele moleque que tirou a ganhar dinheiro fácil sem trabalhar,
filha do carpinteiro). pode tirar o cavalo da chuva).
354
financeiras (Com a indenização que sumo das folhas de picão, infusão das
recebeu, o Tiago tirou o pé da lama). folhas de jurubeba, dentre inúmeras ou-
tras prescrições.
TIRAR O SELO (exp.) - V. tirar o
cabaço. TIRIRICA (s.) – 1. pele, geralmente
dos pés, ressecada pela poeira, que
TIRAR O TEMPO (exp.) - servir ao forma escamas. Para se eliminar a tiri-
Exército (quando se refere à polícia, é rica, nada melhor do que o sumo das
“sentar praça”). folhas do mamoeiro. 2. V. tiquira.(1).
355
TOMAR CHÁ-DE-CADEIRA (exp.) -
TOCO DE AMARRAR ONÇA (s.) - ficar aguardando por muito tempo ser
baixote; pessoa baixinha e esperta. atendido.
356
TOQUE (s.) - 1. empanturramento no
bucho do gado, provocado pelos grãos TORRAR (v.) - vender por qualquer
de areia, que, com os respingos das pri- preço ou a preço muito baixo.
meiras chuvas, aderem ao capim que é
ingerido (Forante o atoleiro, o gado, TORRAR NOS COBRES (exp.) - ven-
com as primeiras chuvas, costuma mor- der por qualquer preço.
rer de toque nos gerais). 2. qualquer
execução musical; música executada TORREIS (s.) - torresmo.
(Depois que ouvi aquele sanfoneiro,
pedi que ele mostrasse outro toque). TORRESMO (s.) - toucinho frito.
TORTO (adj.) - 1. diz-se do animal de
TORA (s.) - pedaço (Foi até a venda e montaria que possui as patas dianteiras
trouxe uma tora de fumo, que dava pra tortas. 2. zarolho.
pitar mais de mês).
TOSSE (s.) - manifestação de irritação
TORAR (v.) - 1. cortar; decepar. 2. da garganta. Inúmeros são os remédios
rumar; tomar a direção (Ele passou por para tosse. São mais usados os seguintes:
aqui e torou pela chapada para ir a chá de enxerto de passarinho (parasita
casa do genro). vegetal); poaia (ipeca ou ipecacuanha),
quer sob forma de chá, que seja mistu-
TORAR NO MIRILIM (exp.) - dece- rada com mel de uruçu, preparada da
pionar-se; quebrar a cara. seguinte forma: cinco molhos de poaia
em três garrafas d’água, deixando ferver
TORCIDA (s.) - 1. grupo de aficionados até reduzir-se a uma garrafa; adiciona-se
de um time; 2. pavio da lamparina; ti- uma garrafa de mel de uruçu e ferve-se
rada (1). de novo até ficar reduzido a uma garrafa;
a mistura deve ser tomada em doses
TORNEIRA (s.) - cabide múltiplo, com equivalentes a uma colher de sopa, três
vários tornos, para dependurar chapéus; vezes ao dia. Também são receitados o
torno. chá de casca de imburana, de casca de
angico, de raízes de alfavaca e de raízes
TORNO (s.) - prego ou pedaço de ma- de coronha. Lavam-se raspas de juazeiro
deira que se fixa na parede para depen- em sete águas e bebe-se a derradeira.
durar chapéus e outros objetos; V. tor- Tira-se a película da folha da babosa,
neira. tritura-se, acrescenta-se-lhe açúcar e faz-
se um mel grosso para se tomar colher a
TORÓ (s.) - chuva forte; aguaceiro; pé- colher, em três doses diárias. Também
d’água. são receitados os chás da casca de jatobá
(do fruto), de arruda e de cravo-de-de-
TORRADO (s.) - rapé; simonte. funto.
357
TRAMPOLINAGEM (s.) - ação de
TOUCÃO (s.) - bermudas. quem é trampolino.
358
tecnologia de hoje; por isso, ele é tratado TRASLADO (s.) - cópia manuscrita do
com muito desvelo e adulado pelos do- que consta da norma.
nos de instrumentos, passando conveni-
entemente vários dias na casa do cliente, TRASTE (s.) - 1. roupa velha; bre-
bem alimentado, como pessoa de alta gueço; cacareco. 2. pessoa sem serven-
distinção. tia; inútil.
359
ângulo, sobre as quais de coloca a pa-
TRESANTONTE (adv.) - tresanteon- nela, com o fogo aceso entre elas.
tem; o dia anterior a anteontem.
TRENHAMA (s.) - tralha; conjunto de
TRETA (s.) - V. treita. utensílios de cozinha; trenheira (No car-
gueiro de mantimentos, ele carregava a
TRETEIRO (adj.) - V. treiteiro. trenhama de cozinha).
360
TRIPA-DE-MICO (s.) - válvula de TROLADO (adj.) - embriagado.
pneu de bicicleta, constituída de um tubo
de borracha extremamente fino, que re- TRONCHO (adj.) - diz-se do animal
presa a saída do ar. com uma das orelhas caída ou cortada;
camurcha; nambi.
TRISCAR (v.) - tocar levemente.
TRONCO (s.) - pequeno corredor no
TRISCO (s.) - 1. pequena quantidade curral por onde é encaminhado o gado
(Ela não lhe deu nem um trisco do para ser encarretado ou para ser imobili-
doce). 2. expressão que indica tamanho zado para ser vacinado.
diminuto (O senhor comendador não
passava de um trisco de gente). TRONCUDO (adj) - V. atarracado.
361
TRUCO (s.) - jogo de baralho, entre TUCUNARÉ (s.) - é o peixe-símbolo
dois ou quatro parceiros, cada um dos dos lagos do Araguaia, um dos mais
quais recebe três cartas. tradicionais do Estado, cuja carne é ex-
celente, mas facilmente deteriorável. É
TRUMBICAR (v.) - fracassar; sair-se um dos mais bonitos peixes da região,
mal. assemelhando-se ao dourado do Sul. Há
várias espécies: o tucunaré-açu (mais
TRUVISCAR (v.) - sair rapidamente; encontrável no rio Amazonas), o tucu-
pinicar (2). naré-pitanga, o tucunaretinga e o tucu-
naré-paca, que é mais característico do
TRUVO (adj.) - turvo. Araguaia, possuindo escamas salpicadas
de branco, lembrando a cor da paca.
TUBADA (s.) - carreira; corrida. Atinge até 10 quilos, havendo registros
de que no Amazonas e seus afluentes
TUBARANA (s.) - peixe fluvial que chega ao dobro desse peso. É um peixe
vive nas corredeiras. robusto, bonito, de muita força e veloci-
dade. Costuma ficar ferrado na primeira
TUBI - 1. (s.) espécie de abelha silves- fisgada, e como predador jamais erra a
tre. 2. (s.) vagina; tixé; tixim; toba; xibiu bocada: ao disparar no encalço de outro
(2). peixe, este às vezes salta para longe, mas
ele o acompanha por baixo e acaba abo-
TUBO (s.) - retrós (Vá na loja de To- canhando-o. A tucunaré-fêmea geral-
nhá e compre um carrinho de linha mente é mais magra que o macho, exa-
azul; se não tiver, traga um tubo tamente porque é mais amorosa e rara-
mesmo). mente sai de perto dos filhotes para bus-
car alimento. O tucunaré desova cerca de
TUCUDO (adj.) - diz-se do menino que três vezes ao ano.
vive batendo nos outros.
TUDINHO (adv.) - absolutamente tudo;
TUCA (s.) - V. bola do tucum. tudico de tudo (Você disse que ela es-
tava sem fome, mas comeu tudinho).
TUCUM (s.) - espécie de palmeira que
produz espinhos semelhantes a alfinetes, TUDICO DE TUDO (exp.) - V. tudi-
que os subsituem principalmente na al- nho.
mofada, para se fazerem bicos e rendas,
bem como resistentes fibras para o fa- TUFÉ (adv.) - igualzinho; idêntico.
brico de cordas (Corda boa para armar
rede tem que ser de tucum). TUPINA (adj.) – valente; decidido.
362
maloca). 2. contar vantagem (Ele che- TUSAR (v.) - penar; gramar; grosar (2)
gou naquele lugarejo turrando muito). (Com aquela dura condenação, ele tu-
sou cinco anos de cadeia).
TURUNA (adj.) - qualidade do boi que,
mesmo após castrado, conserva o garbo TUTANO (s.) - 1. medula óssea (A vaca
e o aspecto de touro. era tão gorda, que o próprio tutano dis-
pensava outra gordura para cozinhar).
TURVAR (v.) - escurecer. 2. força; resistência física (É preciso ter
tutano para agüentar aquele serviço).
TURVO (adj.) - escuro.
TUTANQUEBA (s.) – manda-chuva;
chefão.
363
UMA (s.) - dose de cachaça (Ele chegou UNHA-DE-FOME (s.) - pão-duro; ava-
ao boteco e logo pediu uma para fechar rento; canguinho; ridico.
o corpo).
UNHA-DE-GATO (s.) - arbusto cujos
UMA-COISA-QUE-SERVE (exp.) - espinhos se assemelham a unhas de gato.
expressão muito utilizada para designar
grandeza, excelência (Comprei um ca- UNHA E CARNE (s.) - denota compa-
valo uma-coisa-que-serve) ou intensi- nheirismo, união entre amigos (Juliano
dade (A raiva do velho foi uma-coisa- e Júnior sempre foram unha e carne).
que-serve).
UNHEIRO (s.) - panarício. Um dos
UMA NOTA (s.) - muito dinheiro (Com remédios mais comuns é abrir-se um ovo
a venda da fazenda, o Geraldo ganhou fresco por uma de suas pontas, introdu-
uma nota). zir-se-lhe o dedo molestado e depois
envolver-se com um pano e dedo, me-
UMAS E OUTRAS (s.) - bebedeira; tido no ovo, durante uma noite ou um
cachaça (Vou dar uma saída e tomar dia. A cura é certa, segundo o povo. As
umas e outras). fezes de galinha, lambuzadas no panarí-
cio, são tidas por excelente remédio.
UMAS POUCAS DE VEZES (exp.) - Também o emplastro de alho, fumo e
várias vezes (Já o procurei umas pou- farinha de mandioca colocado sobre o
cas de vezes, mas não o encontrei). panarício ou unheiro resultam na cura.
UMBU (s.) - fruto do umbuzeiro, de URCO (s.) - V. baita; bitelo (Pensei que
formato arredondado e cor amarelada, ele era fraquinho, mas me espantei
excelente para sucos e sorvetes; embu; quando chegou aquele urco de ho-
imbu. mem).
364
URUCUBACA (s.) - azar; falta de sorte;
aricubaca; curu; inhaca. URUVAIO (s.) - orvalho.
-V-
365
VACA (s.) - mulher feia e desarrumada. VALER OS TUBOS (exp.) - valer
muito (Uma terra desse tipo vale os tu-
VADEAR (v.) - 1. passar o rio pelo vau, bos).
sem necessidade de embarcação (Na
época da seca, não carece de canoa, VEJA TAMBÉM:
pois a gente pode vadear o Tocantins Não valer o feijão que come
naquele ponto). 2. contornar (Com as Não valer o que a gata enterra
cheias, para atravessar o Itaboca é ne- Não valer um derréis de mel mal
cessário vadear pelas cabeceiras). coado.
366
VARA-DE-TIRAR-MAMÃO (S.) - V. mato, toca essa rama, perde completa-
varapau. mente o rumo, mesmo que se encontre
no seu próprio quintal.
VARADO DE FOME (exp.) - extrema-
mente faminto; morto de fome (Chegou VASO RUIM (exp.) - pessoa ordinária
aqui varado de fome ainda esturdia, (O João? Eu lá quero negócio com
mas hoje está recuperado e até gordi- aquele vaso ruim!).
nho).
VASQUEIRO (adj.) - escasso; mon-
VARAPAU (s.) - pessoa crescida ou tado em cavalo gordo (Dinheiro é um
mais alta que o normal; cavalo-de-tróia; artigo que anda muito vasqueiro hoje
vara-de-tirar-mamão; galalau (Vara- em dia).
pau de carregar uma quarta de arroz
na cacunda, ele está é de molecagem VAU (s.) - lugar do rio ou córrego onde
alegando cansaço). se atravessa a pé.
367
VEADO (s.) - efeminado; homossexual; melhos de casca aveludada e de caule e
baitola; fresco; vinte-e-quatro; zé-mu- galhos espinhosos.
lher.
VENDA (s.) - V. bodega.
VEADO-DO-CAMPO (s.) - macho da
campeira; catingueiro; chibéu; fuboca. VENENO (s.) - o tope (3) em que, no
jogo de bola-de-gude, se inicia a mão, e
VÊ-DÁBLIU (s.) - a letra W. que, percorridos os três topes, o jogador
que o conseguir fica imune, até que seu
VEIA (s.) - temperamento; veneta parceiro consiga a mesma coisa.
(Aquele camarada já demonstrou que
tem a veia ruim). VENETA (s.) - capricho; vontade; veia.
368
quando se desloca no sentido nor-noro- a viola em cacos quando cancelaram
este. sua nomeação).
(Ao terminar, reza-se um Pai Nosso e VERGÃO (s.) - marca deixada na pele
uma Ave Maria). pela chicotada.
VER - 1. (v.) ouvir (É só você ver essa VERGA-TESA (s.) - cipó de proprie-
música vai se lembrar dela). 2. (prep.) - dades afrodisíacas.
como; igual (Eles fuçaram a casa toda,
ver um bando de bárbaros). 3. procurar; VERGONHAS (s.) - partes íntimas;
buscar; trazer (Veja aí uma cerveja bem órgãos sexuais.
gelada).
VERGONHOSA (s.) - V. treme-treme.
VER A AVÓ POR UMA GRETA
(exp.) - V. ver a porca mal capada. VERGÔNTEA (s.) - V. verga.
369
VERTER ÁGUA (exp.) - urinar; fazer minha capanga na torneira). 2. ficar à
xixi; mijar (Só se levantou uma vez, espreita na roça de arroz e milho para es-
para verter água, e dormiu a noite pantar passarinhos e macacos.
toda).
VIM (s.) - vinho.
VESGO (s.) - estrábico; caolho.
VINDIÃO (s.) - vendedor de balcão;
VESPRA (s.) - véspera. vendilhão; caixeiro.
VESPRAR (v.) - estar às vésperas (Ves- VINGAR (v.) - escapar; sobreviver (Dos
prando o Natal, começa-se a preocupar pés de coco que plantei vingaram ape-
com os presentes). nas três).
370
VIRAR A CASACA (exp.) - mudar de VIVENTE (s.) - pessoa;
partido; bandear; aderir. criatura.
VISITA-DE-COVA (s.) - sétimo dia da VOGA (s.) - uso atual (Hoje está muito
morte de alguém, quando os familiares em voga a música sertaneja).
visitam a sepultura, rezam e depositam
flores, além de mandarem celebrar VOGAR (v.) - ter valia; ter importância;
missa. adiantar; prevalecer (Comprar um prato
371
de arroz não voga para quem tem dez VOSSEMECÊ (pron..) - você; vossa
pessoas para dar de comer). mercê; vossemecê é o tratamento usado
de subalterno para superior (quando é de
VOLTA (s.) - 1. qualquer colar que se superior para inferior, é vancê).
põe ao pescoço. 2. troco (Dei-lhe uma
nota de cem e fiquei aguardando a VOTE! (int.) - interjeição de admiração,
volta). 3. caminho mais longo (Para equivalente a “puxa!”; seria una abrevi-
você ir à fazenda pela casa de Dunga é ação da expressão “Vou te contar!
volta). (Vote! Esse camarada é mesmo de
sorte.).
VOLTA E MEIA (adv.) - de vez em
quando (Volta e meia a vaca azulega VRIDO (s.) - vidro.
aparece no pátio da fazenda).
VULTO (s.) - assombração; espectro.
372
-X-
XAMEGO (s.) - namoro; xodó; grude. XIRCA (s.) - xícara.
373
-Z-
ZABELÊ (s.) – ave tinamídia, de porte ZÓI (s.) - olhos.
médio, semelhante à perdiz, de cor cin-
zenta e carne saborosa; habita nas matas; ZÓI LIMPO (s.) - esperto; vivo V. olho
há duas espécies: jaó cinzenta e jaó de limpo (Aquele menino de zói limpo de-
coco. monstra muita inteligência).
ZAMBETA (adj.) - que tem as pernas ZÓI RUIM (s.) - V. mau-olhado; que;
tortas. branto.
374
ZURRA (s.) - trabalho pesado; trabalho pra casamento porque sabia que ela
cotidiano (Tratei de zelar daquela moça iria agüentar a zurra).
ZUVIDO (s.) - ouvido.
375
BIBLIOGRAFIA
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Força da nova
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Memórias do vento
Nunila
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Quadra da cheia
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Brefaias e burundangas do folclore sergipano
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André louco
Caminhos e descaminhos
Ermos e gerais
O tronco
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FREYRE, Gilberto:
Casa grande & senzala
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Folclore brasileiro
Vila Boa - história e folclore
LARIÚ, NIVALDO:
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Viagem ao Araguaia
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Medicina folclórica
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Adagiário brasileiro
Cantadores
No tempo de Lampião
Sertão alegre
Violeiros do Norte
MOTA, Mauro:
Os bichos na fala da gente
NEVES, Libério:
Força da gravidade em terra de vegetação rasteira
OLIVA, Jero:
Dicionário brasileiro-português
PÓVOA, Liberato:
Causos que o tocantinense conta
De Zé Goela a Pé-de-Janta - Os causos que o Duro conta
Pássaro de asa quebrada
Rua do Grito, 162
379
Beste-fera (e outros contos)
SERRAINE, Florival:
Dicionário de termos populares
SILVEIRA, Valdomiro:
O mundo caboclo
380
-G-
GABINA (s.) - cabine; lugar, no cami- de garra, que antigamente designava a
nhão, onde viaja o motorista; boléia (Na lepra).
gabina ele só carregava mulher; ho-
mem, se quisesse, que fosse na carroce- GAFEIRENTO (adj.) - V. gafento.
ria)
. GAFENTO (s.) - pessoa que tem ga-
GABIROBA (s.) - frutinha rasteira de feira; leproso; gafeirento; lázaro.
sabor azedo, semelhante ao araçá, típica
do campo; guabiroba. GAGÁ (adj.) - decrépito; senil (Quando
viram que o pai estava gagá, trataram
GABOLA (s.) - fanfarrão; contador de de interditá-lo, senão ele iria dilapidar
vantagem; garganta. o patrimônio da família).
GABOLICE (s.) - ato de contar vanta- GAIOLA (s.) - caminhão dotado de car-
gem; fanfarronice. roceria própria para transportar gado.
381
grandes chifres em forma de galho, que GALOADO (s.) - V. feijão galoado.
habita os gerais e exala forte cheiro. 2.
mau cheiro exalado pelas axilas. 3. no GALO-CEGO (s.) - diz-se do animal ou
Sudeste, é o partidário do partido polí- da pessoa caolha ou que só enxerga com
tico oposto ao PMDB. um dos olhos (Depois que fechei o ne-
gócio é que vi que o cavalo era galo-
GALHO (s.) - complicação; problema cego).
(Eu bem que disse que aquele assunto
ia dar galho). GALO-DE-JANEIRO (s.) - pessoa
valente, que se irrita facilmente (Deus
GALHO DE PAU (s.) - galho de ár- me livre de ir no tampo daquele galo-
vore. de-janeiro!).
382
para dar lavagem aos porcos ou para se
labutar na cozinha. GARGALHEIRA (s.) – coleira de ferro
com que se prendiam os escravos.
GAMELEIRA (s.) - árvore frondosa de
grande porte, também chamada de fi- GARGANTA (s.) - contador de vanta-
gueira de duas raízes. Seu nome deve-se gens; gabola.
ao fato de ser própria para se fazer ga-
mela. GARGULEJAR (v.) - gargarejar.
GARAPADA (s.) - suco adoçado com GARROTE (s.) - 1. boi novo e não cas-
água (A melhor coisa que existe para trado; marruco; marruaz; marruá. 2.
matar a sede é a garapada de limão). torniquete.
383
pessoa ou as coisas que ali são carrega- GATIMÔNIA (s.) - careta; gesto ridí-
das. culo; presepada.
384
GAZO (adj.) - albino; pessoa que pos- VEJA TAMBÉM:
sui olhos e cabelos muito claros; sarará; Duro de gente
fogoió. Entender por gente
Graveto de gente
GELADA (s.) - V. fria (4). Pingo de gente
Tiquinho-de-gente
GELADEIRA (s.) - mulher sexual- Trisco-de-gente.
mente fria (Só muito tarde é que fui
descobrir que ela era uma geladeira: GENTINHA (s.) - ralé; plebe.
depois de casado).
GERAIS (s.) - vegetação rasteira em
GEMEBUNDO (adj.) - que está ge- relevo plano, que durante a seca perma-
mendo (Depois do entrevero, só se viam nece com o capim verde e para onde o
cangaceiros gemebundos pelos cantos). gado das fazendas é levado no período
de estio, até que as chuvas voltem; refri-
GENGIBIRRA (s.) - refrigerante ca- gério.
seiro gasoso à base de gengibre; gingi-
birra; jingibirra. GERALISTA (s.) - habitante dos gerais,
que vive quase que exclusivamente da
GENGIVAS (s.) - vãos entre os dentes caça e do extrativismo.
das moendas de madeira do engenho de
cana. GERENDÊNCIA (s.) - descendência
(Conheci o velho Vito, mas não sei qual
GENTADA (s.) - V. gentama. é sua gerendência).
385
GINETE (s.) - espécie de biscoito de uma pena besuntada em banha de gali-
polvilho, de sabor doce e quebradiço, nha, de teiú ou óleo de mocotó.
também conhecido por amor-perfeito.
VEJA TAMBÉM:
GIRA (adj.) - amalucado; aloucado. Molhar a goela.
GIRADOR (s.) - peça situada na ponta GOGO (s.) - doença que ataca a língua
do caniço de pesca para impedir que a das galinhas, também conhecida por
linha se enrosque. gosma.
386
pécie de cola líquida, que serve para GORDURA (s.) - banha; óleo.
engomar roupas, principalmente de li-
nho. GORGOMIO (s.) - V. gorgomilho;
goto.
GOMAR (v.) - passar roupa; engomar
(A empregada fazia de um tudo: cozi- GORGOMILHO (s.) - glote; parte da
nhava, limpava a casa, mas detestava garganta onde a entrada de qualquer
gomar). substância causa engasgo; goto; gorgo-
mio; gurgumio.
GOMITAR (v.) - vomitar; gumitar.
GORGULHO (s.) - cascalho.
GOMITO (s.) - vômito; gumito. Para
estancar o vômito, recomenda-se colo- GORJA (s.) - gorjeta.
car-se sobre o estômago um emplastro
de gema de ovo batida com farinha bem GORO (adj. pronuncia-se gôro) - podre
fina. Já os rezadores recomendam torcer (ovo); choco (2).
um pouco de algodão e fazer um cordão,
que, amarrado aos pulsos ou em volta do GOROROBA (s.) - refeição; comida;
pescoço, estanca o vômito. bóia; grude; boião (2); grumexa.
387
GRAVETO (s.) - 1. pedaço de ramo
GRAÇA (s.) - 1. elegância; vivacidade. seco. 2. biscoito seco de polvilho; peta.
2. nome (Quando quis saber sua graça,
ela estranhou). GRAVETO DE GENTE (exp.) - pes-
soa magra e pequena.
VEJA TAMBÉM:
Cair nas graças VEJA TAMBÉM:
Dar o ar da graça Mudar de pau pra graveto
De graça Graveto de gente.
Não ser graça
Qual é sua graça? GRAXEIRA (s.) - V. rapariga.
Trocar as graças.
GRELAR (v.) - olhar fixamente; arre-
GRAMAR (v.) - penar; labutar (Para galar os olhos.
conseguir comprar esse carrinho, ele
gramou muitos anos de serviço). GRELO (s.) - clitóris.
388
GRINGO (s.) - 1. denominação dada ao GRUPO (s.) - grupo escolar; escola
estrangeiro em geral. 2. pessoa loura. primária.
389
retoque em veículo para apresentar-se GUIA 1. (s.) colar que é usado pelos
melhor à venda. umbandistas. 2. (s.) menino que vai na
frente dos bois-de-carro; candeeiro. 3.
GUARIROBA (s.) - palmito amargo, espírito iluminado que sempre se incor-
também chamado de gariroba ou gue- pora no cavalo. 4. a junta de bois que
roba. segue à frente dos demais no carro-de-
bois; junta-de-guia.
GUATAMBU (s.) - árvore de pequeno
porte, cuja madeira é branca e cujos ra- GUIGÓ (s.) - V. gogó.
mos são retilíneos, sendo por esta razão,
empregados para se fazer cabo de ferra- GUIMBA (s.) - V. bituca; baga; vinte;
mentas, necessitando apenas de ser des- quimba.
cascado. É mais conhecido como pereiro
(V.). GUINÉ (s.) - planta caseira, também co-
nhecida como tipi, de propriedades mís-
GUAXINIM (s.) - pequeno animal ma- ticas (V. feitiço), além de servir de re-
mífero carnívoro, também conhecido por médio para arroto choco, artritismo,
mão pelada. afecções da cabeça, coluna, dores no
corpo, empanturramento, gripe, labirin-
GUAXO (s.) - joão-congo (pássaro tite, falta de memória, queimação nas
preto de asas com a ponta amarela que pernas, reumatismo, sífilis, torcicolo,
ataca os pomares, furando as laranjas, tosses e varizes, servindo também para
limas e cachos de banana); tem a especi- espantar cobras.
alidade de imitar o canto de quase todos
os pássaros; quando tomam amizade GUIZO (s.) - 1. pequeno chocalho metá-
com as pessoas, constroem seu ninho lico e geralmente redondo que se coloca
junto às casas habitadas; geralmente no pescoço de pequenos animais. 2. cho-
perto das caixas de marimbondos para calho que fica na ponta da cauda da cas-
proteção e alimentação dos filhotes; cavel.
quando constroem seus ninhos perto de
rios e riachos, calculando exatamente o GUMITAR (v.) - vomitar; lançar; go-
local onde as águas poderão atingir nas mitar.
enchentes, que, ao chegar, os filhotes já
estarão emplumados e aptos a se salva- GUMITO (s.) - V. gomito.
rem. Pelos ninhos de guaxo à beira
d’água, o sertanejo calcula até aonde GUNGUNAR (v.) - murmurar; resmun-
irão as águas. gar; conversar de forma ininteligível
(Depois que ele levou a rebordosa, fi-
GUÊ (s.) - a letra G. cou gungunando pelos cantos).
390
391
-H-
HARMÔNICA (s.) - sanfona; acordeon; HISTÓRIA PARA BOI DORMIR
pé-de-bode; concertina. (exp.) - conversa sem fundamento, ge-
ralmente apenas para enganar; conversa
HAVERA (exp.) - forma usada em lu- pra boi dormir.
gar de “haveria” (Quem havera de duvi-
dar de sua palavra, homem de Deus?). HOJE EM DIA (exp.) - atualmente
(Hoje em dia não se fala mais em tele-
HEMORRAGIA (s.) - sangria; sangue visão preto-e-branco).
que mareja em excesso, requerendo cui-
dados, sob pena de esgotar o paciente. V. HOMAIADA (s.) - turma de homens.
desmasia (2). Para estancar a hemorra-
gia, a benzeção mais utilizada é a se- HOMEM-DA-COBRA (s.) - camelô,
guinte, que é administrada fazendo-se geralmente muito tagarela, que, para
cruzes sobre o local atingido: atrair fregueses, costuma carregar uma
cobra mansa em uma caixa ou mala.
“Sangue, tenha-se em si,
Como Jesus Cristo esteve em si. HOMÊNCIA (s.) - masculinidade
Sangue, tenha-se na veia, (Você deve mostrar sua homência é nos
Como Jesus esteve na ceia. atos, e não nas palavras).
Sangue, tenha-se vivo e forte,
Assim como Jesus esteve na morte”. HORA (s.) - momento.
392
393
-I-
IAIÁ (s.) - forma familiar de vovó; femi-
nino de ioiô (Dia sim, dia não, nós ía- IMBURANA (s.) - árvore aromática,
mos a casa de iaiá Vitalina). cujas cascas são usadas na cachaça para
conferir-lhe um gosto melhor. Além
IBEJADA (s.) - na umbanda, legião dos dessa serventia, é usada como remédio
espíritos de crianças. para bexiga, bronquite, mordidas de co-
bra, dor de cabeça, males do estômago,
IBEJI (s.) - espírito de criança que se do fígado e cólicas do intestino, maleita,
incorpora no cavalo (V.). palpitações, rins, sinusite, tosse e doen-
ças respiratórias.
IDEAR (v.) - maquinar; conceber (Ele
não quer trabalhar e fica só ideando IMISCUIR-SE (v.) - misturar-se
coisa ruim). (Quando o boieco se imiscuiu no meio
da maloca, ficou difícil divulgá-lo, pois
IDÉIA DE JERICO (exp.) - idéia sem era muito parecido com os outros).
fundamento; plano inexeqüível.
IMITANTE (s.) - parecido; que se pa-
IEIÚ (s.) - V. iuiú. rece; semelhante.
394
INCOMODADA (adj.) - grávida já
IMPOR (v.) - levar uma pessoa no com as dores do parto.
bota-fora, acompanhando-a até certa
distância (No dia em que o compadre INCÔMODO (s.) - menstruação.
foi embora, fiz questão de ir impor até o
fim do vaquejador). INCUTIDO (adj.) - V. entrão.
395
INFUCA (s.) - mentira; coisas da ima- E morra ela!”
ginação (Só mesmo menino para acre-
ditar nessa infuca de Papai Noel). Para íngua nas virilhas, o doente coloca
o pé no lado da íngua no borralho do
INFUSÃO (s.) - maceração de ervas fogão, sobre a cinza. Uma pessoa pega
cozidas em água para ser tomada como uma faca e passa em redor do pé, que,
medicamento caseiro. em seguida, é retirado; no sinal deixado
na cinza, o oficiante diz:
INFUSAR (v.) - encalhar; não vender
(Bem que eu disse que aquela roupa “O que é que a estrela diz?
fora de moda iria infusar). Viva eu morra a íngua!”
INGÁ (s.) - fruto do ingazeiro, seme- (E repete três vezes, passando um risco
lhante a um cordão cheio de nós (Na fo- vertical cada vez. E sem nada dizer passa
gueira de São João, eles usavam as ba- também três riscos horizontais).
gens do ingá como volta pra enfeitar o
pescoço). Outra simpatia muito usada é colocar-se
o paciente deitado de bruços e repetir
I NGRISIA (s.) - V. engrisia. três vezes:
396
mama-de-cadela ou mama-cadela. Sua INTEIRO 1. (adj.) animal não castrado
aplicação na medicina caseira é de (No magote comprado ainda havia três
grande valia para amarelão, gonorréia, bois inteiros). 2. complemento (Passou
pano branco, doenças da pele em geral e pela feira e comprou umas verduras
sífilis. Segundo estudiosos, inharé não para fazer um inteiro para o jantar).
se confunde com mama-cadela, pois
esta é, na verdade, a tarumã. INTERESSANTE (adj.) - diz-se do
estado de gravidez.
INHÁ SIM! (exp.) - Sim, senhora!
INTESTINO PRESO (s.) - resseca-
mento que leva a pessoa a não defecar;
INHETA (adj.) - ansioso; curioso
prisão-de-ventre. O que mais se receita
(Quando falaram em televisão, ele ficou
entre os sertanejos é o chá de cabelo de
todo inheta).
milho; tomar, ainda em jejum, garapa de
rapadura também é muito aconselhada.
INHOR SIM! (exp.) - Sim, senhor!
As lavagens (clister) de sabugueiro ou
folhas de laranjeira são tidas como ex-
INHOR NÃO! (exp.) - Não, senhor!
celentes. Por via oral, costuma-se curar a
prisão de ventre chupando laranjas e
INSÔNIA (s.) - falta de sono. Os remé-
dios mais indicados para o caso são os engolindo o bagaço.
calmantes, todos originários da flora: chá
das cascas de mulungu; alface às refei- INTIMIDADES (s.) - órgãos genitais.
ções; suco natural de maracujá ou
mesmo comer o maracujá engolindo as INTIRINZIM (adj.) - inteirinho (Pas-
sementes. Tirante a flora, é de efeito sou o dia intirinzim bebendo cachaça).
seguro um copo de leite morno.
INVÉM (verbo) - variação de vem, do
INSTILADEIRA (s.) - 1. Coriza. 2. verbo vir (Quando menos se espera, ele
destiladeira. invém com a famiagem toda aboletar
aqui).
INSTRUÇÃO (s.) - 1. maleita. 2. se-
qüela de uma doença. INVENTIVA (s.) - invencionice; mole-
cagem (Compadre Culeu está cheio de
INSUADA (adj.) - V. ensoada. inventiva hoje).
397
IPUEIRA (s.) – charco formado pelo
INVISÍVEL (adj.) - misterioso; inex- transbordamento de rios em lugares bai-
plicável (Quando viu o rádio falando xos.
sozinho, o sertanejo disse que aquilo
era uma coisa invisível). IR À FORRA (exp.) - vingar-se; des-
contar (Na segunda partida de sinuca,
INVOCADO (adj.) - 1. cismado; ca- Gonçalvinho foi à forra).
breiro (Fiquei muito invocado com
aquela conversa). 2. zangado (Ele che- IR AO MATO (exp.) - fazer necessi-
gou invocado e brigava por qualquer dade fisiológica; ir lá fora.
és-não-és).
IR ÀS FAVAS (exp.) - V. ir plantar
INXU (s.) - espécie de abelha silvestre batatas.
que produz excelente mel, de difícil co-
lheita devido à valentia da abelha, que só IR A VACA PRO BREJO (exp.) -
teme o fogo; ela faz sua colméia nos te- frustrar-se (Confiou no negócio, mas a
lhados das casas ou em troncos caídos. vaca foi pro brejo).
INZONA (s.) - demora; lerdeza (Nessa IRERÊ (s.) - espécie de marreco, menor
sua inzona, não vai acabar nunca com que o pato, de carne preta, dura e de
o serviço). cheiro característico, não sendo muito
apreciada, mas seus ovos, semelhantes
INZONAR (v.) - lerdear; ficar à-toa aos de galinha são muito apreciados.
(Enquanto a hora do almoço não che- Como suas penas são muito agarradas à
gava, ele ficou ali inzonando no bo- pele, no preparo do marreco-irerê não se
teco). procede como com as demais aves (mer-
gulhando-as na água fervente para se
INZONEIRO (adj.) - 1. lerdo; sonso; soltarem as penas): é necessário tirar as
manhoso. 2. mexeriqueiro. penas com pele e tudo, pois elas não se
soltam facilmente.
IOIÔ (s.) - 1. vovô, feminino de iaiá
(Ioiô Bené era cheio de veneta e não IRIMÃ(O) (s.) - irmã(o).
permitia gente de chapéu na cabeça
dentro de casa). 2. brinquedo infantil, IR LÁ FORA (exp.) - ir fazer uma ne-
que consiste em duas rodelas presas lado cessidade fisiológica.
a lado por um eixo e com um barbante,
que o impulsiona a subir e descer. IR LEVANDO (exp.) - ir vivendo de
qualquer jeito; tentear (Como está, Ene-
IPÊ (s.) - V. pau d’arco. dino? - Vou levando...).
398
IR PLANTAR BATATAS (exp.) - V. ISPRITO (s.) - 1. variação de espírito.
ir às favas (Quando ele pediu aumento, 2. alegria; coragem (Quando ele bebe
o patrão o mandou plantar batatas). uma talagada de pinga, logo cria is-
prito).
IR PRAS CUCUIAS (exp.) - V. ir pro
beleléu; ir pro inferno da pedra. ISTO SÃO OUTROS QUINHENTOS
(exp.) - isto é outra história. A expres-
IR PRO BELELÉU (exp.) - 1. ir para são, segundo se sabe, originou-se da
lugar incerto ou distante (Se você não seguinte história: “Um político caloteiro
maneirar nestas descidas, o carro devia quinhentos contos de réis a uma
tomba e todos vamos pro beleléu). 2. pessoa, que já estava cansada de cobrar-
fracassar (Todos os seus planos foram lhe inutilmente; um dia, indo à cidade o
pro beleléu). governador, o credor decidiu cobrar a
dívida publicamente, para tentar desmo-
IR PRO INFERNO DA PEDRA (exp.) ralizá-lo; no momento em que estavam
- V. ir pras cucuias; ir pro beleléu. reunidos para um almoço, chegou o cre-
dor e gritou: ‘Vim cobrar meus qui-
IR TER (exp.) – 1. encontrar-se com; nhentos contos, seu vigarista!’. O secre-
juntar-se a (Depois do ano letivo, ele foi tário do prefeito, para aliviar a tensão
ter com os pais na fazenda). 2. chegar que se formou, aparteou: ‘Você deve
(Depois de muito andar pelo mundo, ele estar maluco, Fulano, pois quem lhe
foi ter em São Paulo à cata de emprego). deve quinhentos contos sou eu, rapaz!’,
ao que o homem replicou: ‘Estes são
ISBILITADO (adj.) - fraco; debilitado. outros quinhentos!’”
399
IXE! (int.) - interjeição equivalente a IZIPA (s.) - erisipela; mal-do-monte;
“Virgem!”; Vixe! (Ixe! Ele não tem izipelão.
vergonha na cara, não!).
IZIPELÃO (s.) - erisipela.
400
-J-
JABÁ (s.) - carne de charque prensada. (adj.) bobo; imbecil; idiota (Não vai ser
aquele jacu que vai dar conta de fazer o
JABIRACA (s.) - mulher feia (A jabi- serviço).
raca da minha sogra até que me trata
bem). JACUBA (s.) - rapadura raspada, mistu-
rada com farinha de mandioca e água.
JABORANDI (s.) - V. pimenta-de-ma-
caco. JACUMÃ (s.) - parte extrema da canoa
oposta à proa; leme comprido do barco.
JABOTA (s.) - fêmea do jabuti.
JACU-PEMBA (s.) - espécie de jacu de
JABURU (s.) - grande pássaro pernalta tamanho pequeno; o mesmo que pemba.
de cor branca e preta que vive nas mar-
gens do Araguaia, alimentando-se de JACURUTU (s.) - nome de duas espé-
peixes; vive em casais e permanecem cies de coruja de máscara preta e olhos
horas e horas imóveis apoiados em uma semelhantes a dois topázios, sendo um
só perna. grande e outro pequeno, que costuma
habitar nos brejos e que a partir da meia-
JACÁ (s.) – comumente, designa pe- noite lança seu canto que lhe imita o
queno cesto de palha ou de vime, mas nome.
designa o maior cesto entre os utilitários
sertanejos; corresponde ao caçuá, mas JACU-VERDADEIRO (s.) - jacu de
tem a forma retangular; tem alças, que tamanho mais avantajado.
servem para pendurá-lo no cabeçote da
cangalha e é feito, geralmente, com ripas JAGUANÉ (s.) - gado de lombo e bar-
de taboca trançada, que o torna muito riga de cor branca e costelas de cor.
resistente e capaz de suportar as pesadas
tarefas a que se destina.. JAGUARETÊ (s.) – onça.
401
JALECO (s.) - pequeno animal do cer-
rado, semelhante a um pequeno taman- JARRINHA (s.) - planta medicinal de
duá; tamanduá-mirim. chapada, de flores amarelo-sujo-
esverdeado de sabor extremamente
JAMEGÃO (s.) - assinatura; firma; amargo; milhomem.
chamegão.
JATAÍ (s.) - abelha silvestre de mel
JANTA (s.) - jantar (Na janta, comeram muito alvo e de sabor um pouco azedo,
um cirigado com pequi). que se destaca pelo aroma, muito utili-
zado para composição de meizinhas.
VEJA TAMBÉM:
Pé-de-janta. JATOBÁ (s.) - fruto do jatobazeiro,
composto de uma casca muito dura e mi-
JANTE (s.) - aro da roda de carro (gíria olo amarelado seco, envolvendo as se-
de borracheiro). mentes de cor amarronzada. Nome pelo
qual também é conhecido o jatobazeiro.
JAÓ (s.) - espécie de ave, semelhante a Há duas espécies: o da casca grossa e o
uma nambu e do tamanho de uma gali- da casca fina.
nha, de carne muito saborosa; em algu-
mas regiões é tamb;em chamada zabelê, JATOBAZEIRO (s.) - árvore gigante
embora haja diferença entre elas. de matas e cerrados, cuja madeira é utili-
zada em construção e fabricação de mó-
JAPECANGA (s.) - cipó medicinal, veis e carros-de-bois; jatobá.
característico de capoeiras, cheio de es-
pinhos aduncos de picada dolorida. JAÚ (s.) - peixe de couro muito abun-
dante em nossos rios, caracterizado por
JARACATIÁ (s.) - árvore que produz o uma grande cabeça, que lhe toma um
mamoí. terço do corpo.
JARDINEIRA (s.) - ônibus antigo; ma- JEITO (s.) 1. mau jeito; torcicolo (Hoje
rinete (Naquela época, nem jardineira amanheci com um jeito no pescoço de-
havia para transportar o povo, que só vido ao travesseiro alto). 2. Indicação de
há bem pouco veio conhecer ônibus). lugar (Ele mora no jeito de quem vai
pra Sucupira).
JARERÊ (s.) – doença da pele, que a
deixa encaroçada e vermelha. VEJA TAMBÉM:
402
De jeito maneira! JINGIBIRRA (s.) - V. gengibirra.
Levar jeito.
JIRAU (s.) - espécie de estrado de varas
JEQUI (s.) - espécie de cesto afunilado sobre forquilhas, para se guardar utensí-
para apanhar peixes; as talas são longas lios de cozinha.
e nas extremidades da abertura são re-
curvadas para dentro, de forma que o JIRIZA (s.) - ojeriza; asco; repulsa.
peixe se emaranha e não pode retornar.
JITIRANA (s.) - fuligem derivada da
JERAQUI (s.) - V. jaraqui. fumaça, que fica pregada no teto das
cozinhas de telha, em cima do fogão
JERIBITA (s.) - 1. brincadeira infantil caipira.
que consiste em atirar para o alto cinco
pedras, alternadamente, aparando-as no JITIRANABÓIA (s.) – V. cobra-de-
ar, ao tempo em que remove do chão as asa.
que ali pemanecem. 2. cachaça.
JOANA (s.) - a fêmea do joão-de-barro.
JERICO (s.) - jegue; jumento; bogue. Quando o macho desconfia que a joana o
está traindo, prende-a na casa e tapa a
JERIMUM (s.) - espécie de abóbora entrada com barro, deixando-a morrer de
com a massa de cor amarela; moranga. fome e sede, não sendo muito raro en-
contrar-se esqueleto da fêmea em casas
JERIVÁ (s.) - espécie de palmeira, cu- do joão-de-barro.
jas folhas servem para remédio de ani-
mais. JOÃO-BORANDI (s.) - V. jaborandi;
pimenta-de-macaco.
JERVÃO (s.) - espécie de planta medi-
cinal caseira boa para as doenças do fí- JOÃO-CONGO (s.) - V. guaxo.
gado e do estômago, reumatismo, indi-
gestão, artrite, leucemia, febre e vermi- JOÃO CORTA-PAU (s.) - V. curi-
nose; gervão. ango.
403
JOGAR VERDE PRA COLHER
JOGAR ADIVINHAÇÃO (exp.) - pro- MADURO (exp.) - V. jogar verde.
por adivinhas (Nós ficávamos até altas
horas cantando e jogando adivinha- JOGO DE EMPURRA (s.) - indecisão;
ção). falta de definição ou de empenho (Já fui
ao gabinete do deputado umas dez vezes
JOGAR A PEDRA E ESCONDER A atrás da nomeação prometida, mas ele
MÃO (exp.) - fazer as coisas às escon- fica naquele jogo de empurra ).
didas ou dissimuladamente. Aplica-se às
pessoas que não têm coragem ou digni- JUDAS (s.) - 1. boneco de pano, do ta-
dade de assumir seus próprios atos manho de um homem e geralmente re-
(Aquele deputado sempre joga a pedra e cheado de fogos de artifício, que é feito
esconde a mão). no Sábado de Aleluia, quando a crian-
çada, após malhá-lo, ateia-lhe fogo, em
JOGAR O BARRO (exp.) - V. jogar desagravo a Jesus Cristo, devido à trai-
verde pra colher maduro. ção de Judas. 2. traidor.
404
JUNTA-DO-COICE (s.) - junta de bois JURITI (s.) - pomba de porte médio e
que é atrelada ao cabeçalho. cor marrom que vive nas capoeiras e que
tem o canto triste.
JUNTA-DE-GUIA (s.) - parelha dos
bois-de-carro que segue à frente das de- JURUBEBA (s.) - planta de quintal que
mais. produz frutinhas verdes, redondas e
amargas, em cachos servindo como con-
JUNTAR A FOME COM A VON- dimento e para conserva .É indicada para
TADE DE COMER (exp.) - unir dois alcoolismo, anemia, diabetes, doenças
desejos (Quando o velho ofereceu a do baço, do fígado, dos rins e dos intes-
filha em casamento ao moço, juntou-se tinos, além de curar a maleita, a gripe e a
a fome com a vontade de comer). icterícia.
405
-L-
LABANCA (s.) - alavanca; lebanca; le- colocar-se sobre a parte afetada uma pele
vanca. de fumo umedecida em saliva. Para pre-
venir as conseqüências do veneno, apli-
LABIGÓ (s.) - lagartixa; batché. cam-se os remédios indicados para mor-
dida de ofídios. V. mordida de cobra.
LABUTANÇA (s.) - lida; labuta (Na
moagem, a labutança começava bem de LACRAU (s.) - forma popular de la-
madrugadão, fazendo rapadura, açú- craia. Veja os remédios para sua picada
car-da-terra e pinga). no verbete mordida de cobra.
406
LAIA (s.) - espécie; natureza; classe; gostoso tomar uma cervejinha, en-
qualidade; raça (Não sou gente de sua quanto se lambisca uma lingüicinha
laia, que não tem princípios). frita).
LAMBE-BOTA (adj.) - adulador; ba- LAMBU (s.) - pequena ave não trepa-
julador; puxa-saco; lambe-cu. deira, anura, semelhante a uma zabelê,
mas do tamanho de uma rolinha, que
LAMBE-CU (adj.) - V. lambe-bota. vive nas capoeiras; nambu; inhambu.
407
e as landra dopescoço ficava tudo in-
LAMPARINA (s.) - 1. V. candeia; can- chada).
deeiro; bibiano; fifó. 2. mulher que fica
na festa até à última hora (segundo se LANHAR (v.) - retalhar.
argumenta, por ironia, para apagar a
lamparina quando a festa acabar). LAPA (adj.) - de tamanho avantajado;
baita; solapa; urco (O cangaceiro pu-
LAMPEIRO (adj.) - V. fagueiro. xou uma lapa de faca, que assustou o
povo da festa).
LAMPO (s.) - V. eulâmpio.
LAPADA (s.) - 1. grande gole; golada
LANÇADEIRA - 1. (s.) - peça de má- (Bebeu uma lapada de pinga e saiu
quina de costura e do tear (v.), que mo- cambaleando). 2. V. lamborada.
vimenta, em vaivém, a linha sob a agu-
lha. 2. (adj.) - pessoa que não pára em LAPEAR (v.) - bater; lapiar; dar lapa-
casa, vivendo sempre andando na rua, de das (2).
casa em casa.
LAPIANA (s.) – faca grande e bem
LANÇANTE (s.) - trecho de estrada ou afiada, feita geralmente de aço.
de terreno em declive (Quando atingiu o
lançante perto da grota, a bicicleta de LAPIAR (v.) - V. lapear.
Geraldinho, que não tinha freios, dis-
parou). LAPINGUAXADA (s.) – o mesmo que
lapada.
LANÇAR (v.) - vomitar.
LAPINHA (s.) - presépio.
LANDA (s.) - V. landra.
LAPREGO (s.) - V. ensergamento.
LANDI (s.) - árvore de grande porte que
cresce às margens do Araguaia, cuja LAQÜERA (s.) - conversa fiada; le-
madeira é especial para a fabricação de réia; leqüéssia; lero; lero-lero.
barcos. Sua casca, se tirada com cui-
dado, transforma-se em uma canoa, LARANJA-DA-TERRA (s.) - espécie
bastando que se fechem as extremidades, de laranja muito amarga, imprópria para
e sua resina possui propriedades tera- consumo in natura, cuja serventia é
pêuticas. apenas para se fabricar maduro (de seu
suco), e doce (de sua casca); laranja
LANDRA (s.) - `corruptela de glândula, pofó.
que não corresponderia ao verdadeiro
sentido da linguagem sertaneja, que de- LARANJA POFÓ (s.) - V. laranja-da-
signa toda e qualquer espécie de glân- terra.
dula, inclusive a que se forma nas ín-
guas. Na Medicina, landra é o gânglio LARANJO (adj.) - albino; sarará; fo-
linfático infartado, lipoma, cisto sebáceo goió; gazo.
ou seroso (Porvinha, quando era me-
nino, aqui e acolá adoecia da garganta LARGA (s.) - V. invernada.
408
(A parreira estava tão carregada que a
LARGADO (adj.) - 1. desmazelado; latada caiu).
desarrumado; à-toa. 2. separado; des-
quitado; divorciado. LÁTEGO (s.) - parte do cabresto que se
constitui de uma correia comprida, presa
LARGAR (v.) - separar-se; desquitar- ao estrovo.
se; desfazer um casamento ou amance-
bia. LATOMIA (s.) - V. latumia.
409
LEITE-DE-NOSSA-SENHORA (s.) -
LAVAR AS MÃOS (exp.) - descarregar arbusto que produz contas próprias para
a consciência com a desistência de algo se fazer rosário; capiá.
(No caso desse menino, achei melhor
dar-lhe os estudos e depois lavar as LEITE-DE-ONÇA (s.) - bebida prepa-
mãos). rada com cachaça e leite condensado.
LAZEIRA (s.) - calamidade; adversi- LEITE RUIM (s.) - leite que a mãe pro-
dade; qualquer mal (Aquele atoleiro era duz após estar grávida.
uma lazeira: todo carro pregava ali).
VEJA TAMBÉM:
LAZO-BRANCO (s.) - V. pano A leite-de-pato
branco. Esconder o leite.
410
lerdiça com a prima, deu-lhe uma cio (É melhor procurar um serviço, pois
coça). ninguém pode levar a vida na flauta).
411
lá em casa, que quero levar um lero mata e saiu no limpo, ficou fácil de to-
com você). car pro curral).
412
LINHEIRO (adj.) - reto; sem curvas (O fruta madura é empregada no preparo de
eucalipto, normalmente, tem o tronco doces e geléias, embora não tenha um
muito linheiro). uso muito acentuado; sua madeira é em-
pregada para a transformação em carvão
LISO (adj.) - 1. sem dinheiro; limpo; industrial, fato que vem contribuindo
liso, leso e louco 2. esperto; escorrega- para sua dizimação. O consumo da refe-
dio (O delegado não vai conseguir fazer rida fruta pelo lobo-guará tem uma ra-
o Egídio entrar em contradição, pois ele zão, pois a lobeira não é seu único ali-
é um sujeito muito liso). mento (aquele animal também costuma
atacar galinheiros, carnívoro que é): o
LISO, LESO E LOUCO (adj.) - V. liso lobo-guará possui um tipo de verminose
(Não me fale em dinheiro, porque estou que lhe acomete os rins, e aquela fruta
liso, leso e louco, comprando fiado e possui uma espécie de substância que
ainda querendo troco). mata o nematóide, livrando o animal da
morte.
LISSIOS (s.) - parte do tear (V.).
LOBINHO (s.) - tumor benigno e dimi-
LIVRAR A CARA DE (exp.) - defen- nuto constituído de um cisto sebáceo.
der; tirar alguém de uma situação difícil
(Agora ele não se lembra de que fui eu LOBISOMEM (s.) - entidade fantástica,
quem livrou a cara dele na delegacia). que, segundo a crença, nas noites de lua
LIVRO (s.) - bucho dos ruminantes, cheia nas sextas-feiras é transformada
composto de membranas que se asseme- em metade homem, metade cachorro,
lham a folhas de um livro. para atacar as pessoas; lubisome.
413
os metazoários (pluricelulares), dife-
rente, portanto, da ameba, que é unice- LORDEZA (s.) - elegância (Você hoje
lular. Há diversos remédios que acabam está numa lordeza de fazer inveja).
com a lombriga. Os mais conceituados
são: mastigar bem sementes de jerimum LORO (s.) - tira dupla de couro que fica
ou abóbora pela manhã, em jejum, jogar nas laterais da sela, em cujas extremida-
fora o bagaço e engolir o cuspe; torram- des ficam os estribos ou as caçambas.
se sementes de jerimum ou abóbora, faz-
se pó para comer uma colher de chá de LOROÇA (s.) - algazarra; anarquia;
cada refeição; o azeite de mamona com leréia. (Quem confia em loroça de im-
gergelim são muito cotados; comer ma- prensa está lascado).
mão com a semente; tomar chá de casca
de romã; comer coco da Bahia madura, LOROTA (s.) - mentira; conversa fiada
em jejum, até repugnar, expulsa qual- (Essas conversas do Ascendino não
quer lombriga, inclusive a solitária; tam- passam de lorota pura).
bém o sumo de mastruz é remédio corri-
queiro. Para acabar com a ameba, a sa- LOSNA (s.) - nome popular do absinto,
bedoria popular garante que o remédio que é indicado para anemia, convales-
mais eficaz é o seguinte: à tarde, fazer cenças, diarréias, indigestão, dor de ca-
um corte profundo no tronco de um ma- beça e do estômago, cólicas dos intesti-
moeiro e introduzir um chumaço de al- nos e como tônico.
godão. Na manhã seguinte, retirar o al-
godão embebido de leite e dele fazer um LOTE (s.) - 1. parcela de terreno urbano
chá, que, tomado durante o período de para construção; data. 2. grupo de ani-
10 dias, acaba por completo com a mais (Com o dinheiro da venda do ter-
ameba. Bem entendido: repetir a opera- reno ele comprou um lote de bezerros).
ção tantas vezes quantas forem necessá-
rias, pois só se aproveita o algodão uma LOURO (s.) - forma familiar de se tratar
vez. o papagaio domesticado; cravo; rosa.
LORDE (adj.) - bem vestido; elegante; LUA (s.) - V. veneta; veia (Se você pe-
pelintra (Jeremias veio todo lorde para gar o patrão em lua boa, consegue o
a festa). que quer).
414
comum, pois a de luto é para sair. Não se
LUBISOME (s.) - lobisomem. costuma guardar luto pela morte de cri-
anças. Quando a morte é de irmão, e
LUFA-LUFA (s.) - movimento de muita sendo ele maior de 18 anos, o luto é
gente em uma casa; azáfama; fuá. guardado por seis meses; quando é de
pai ou mãe, de um ano, e quando é de
LUÍS-CACHEIRO (s.) - ouriço-cai- marido ou mulher, costuma ser de até
xeiro; porco-espinho; guandu. mais de um ano, havendo casos em que
viúvas passam a vestir de preto até o fim
LUITA (s.) - luta. da vida, principalmente quando se trata
da anciãs.
LUMIAR (v.) - V. alumiar.
LUTRIDO (adj.) - saliente; pessoa que
LUMIENTO (adj.) - brilhante (Esse gosta de lutrimento ou vive dizendo
papel lumiento que envolve os cigarros expressões imorais ou inconvenientes de
na carteira não pega fogo porque é de duplo sentido (Esse sujeitinho é muito
alumínio). lutrido e não escolhe lugar para falar
as coisas).
LUSCO-FUSCO (s.) - semi-escuridão,
característico do clarear do dia e do en- LUTRIMENTO (s.) - V. lerdiça.
trar da noite; entre lobo e cachorro.
LUXAR (v.) - vestir-se e ornar-se com
LUTO (s.) - sentimento de pesar pela luxo (1).
morte de alguém, quando se coloca uma
tarja preta no braço, quase à altura do LUXENTO (adj.) - enjoado; que quer e
ombro (luto aliviado) ou se veste de não quer.
preto (luto fechado). Guarda-se luto de
parente e de amigo. No sétimo dia da LUXO (s.) - 1. riqueza; ostentação. 2.
morte, quando ocorre a visita-de-cova, frescura; dengo (Esses filhos de Dora
as pessoas mais pobres tingem as roupas são cheios de luxo).
de preto. Dentro de casa, usa-se a roupa
415
-M–
MABAÇO (s.) - gêmeo; mambaço será às oito horas, mas não quero
(Joaquim é mabaço com João). maçada!).
416
MACEGA (s.) - capim alto e emara- MACIO (adj.) - sem iniciativa;
nhado, de difícil trânsito. lerdo; acomodado; a-prazo (Se
aquele peão não fosse tão macio, o
MACELA (s.) - nome vulgar da ca- serviço estaria pron.to desde o meio-
momila, planta medicinal, cujo chá, dia).
tanto quanto o de sete-dores, é de
larga utilização para as doenças dos MACÔ (s.) - sapo grande; caçote;
intestinos e do estômago, servindo cururu; morché.
também para encher travesseiros para
prevenir insônia e enxaqueca e cuja MACOTEIRO (s.) – maioral; o tal;
infusão é excelente para desarranjos manda-chuva; chefe político.
gástricos (sua eficácia é maior se for
colhida na Sexta-Feira da Paixão, MÁ-CRIAÇÃO (s.) - grosseria; falta
antes do nascer do sol). de respeito.
417
MAGINAR (v.) - imaginar.
MADRINHA DE CARREGAÇÃO
(s.) - pessoa que conduz a criança nos MAGNETISMO (s.) - poder inex-
braços para ser batizada na igreja. plicável de alguém; magia (Pedro
Dinheiro era cheio de magnetismo:
MADURO - 1. (s.) - refrigerante pegava um pedaço de jornal e trans-
caseiro preparado com laranja-da- formava em notas de mil).
terra. 2. (adj.) - de meia-idade;
adulto. MAGOTE (s.) - grupo de animais;
manada; maloca.
MÃE-D’ÁGUA (s.) - iara; ser pro-
tetor dos rios e lagos (Dizem que na MAGRA (s.) - a morte (Esbilitado
piracema a mãe-d’água não deixa como estava, Gulhermino aguar-
anzol com isca). dava apenas a visita da Magra).
418
Ficar de mal
Que mal pergunte. MALCRIAÇÃO (s.) - desacato; ato
de responder mal aos mais velhos
MALA (adj.) - vigarista; espertinho; (Largue de malcriação, pois ela é
corruptela de “malandro”, a exemplo sua madrinha e merece respeito!).
de foto (fotografia) e cine (cinema);
mala-sem-alça, para indicar pessoa MAL-DA-PRAIA (s.) - erisipela.
difícil de ser conduzida ou conven-
cida; (Cuidado, menino, porque esse MALDAR (v.) - fazer mau juízo;
Benício é mala). insinuar com maldade (Será que ele
ficou maldando do coitado?).
VEJA TAMBÉM:
Arrastar a mala MAL-DE-ENGASGO (s.) - en-
Correio da mala seca gasgo. Os únicos remédios conheci-
De mala e cuia dos, além de tradicional tapa nas
Descer a mala costas e da farinha seca quando o
Fazer a mala. engasgo é com espinha de peixe, são
de cunho místicos, constituídos de
MALACACHETA (s.) - mineral orações a São Brás, padroeiro dos
isolante encontrado em placas, espe- engasgados. Quando alguém se en-
cialmente utilizado para resistências gasga, deve-se fazer o seguinte pe-
de ferro elétrico; mica. dido, enquanto se lhe bate nas costas:
419
dos remédios é trocar o nome do cidos; mal-de-umbigo. Para evitar-se
epiléptico, dando-lhe outro qualquer, qualquer infecção no umbigo, inclu-
porque - acredita o sertanejo - isto sive o mal-de-sete-dias, salpica-se
ilude o demônio, que sai à procura da leite de pinhão, azeite e mamona
pessoa cujo nome dado foi ao epilép- morno ou emplastro de folhas de ar-
tico. Os agentes místico são os únicos ruda bem trituradas e com o suco, do
que podem dar volta no mal. No que são excelentes cicatrizantes.
momento do ataque, recomenda-se Também deve ser usado óleo de oliva
tirar a camisa do paciente, virá-la morno, misturado com pó de casca de
pelo avesso e enterrá-la num local romã. A superstição recomenda que
que a vítima jamais venha a saber. não se tire do quarto o recém-nascido
no sétimo dia de nascimento, sob
MAL-DE-PONTAS (s.) - doença pena de vir a morrer do mal.
que acomete os chifres do gado, ata-
cando-lhe o miolo e provocando a MAL-DE-UMBIGO (s.) - V. mal-
morte; brocão. Para curar esse mal, de-sete-dias.
costuma-se furar o chifre do animal
com um ferro quente e injeta-se cre- MALDITA (s.) - erisipela.
olina, para matar o agente provoca-
dor da doença. MAL-DO-AR (s.) - V. doença-do-
ar.
MAL-DE-PARTO (s.) - qualquer
doença que cause a morte da parturi- MAL-DO-MONTE (s.) - erisipela;
ente; eclâmpsia. Para prevenir-se isipa; izipelão. A folha de pimenteira,
contra essas doenças, reza-se a se- embebida em azeite doce aquecido é
guinte oração sobre a parturiente: bom remédio para aplicação. Entre-
tanto, os agentes místicos são mais
“De madrugada, numerosos na cura da erisipela. Den-
Quando o galo cantou, tre eles, tomar-se uma faca e cortar-
São Berto Lomeu se levantou; se o ar em forma de cruz em cima do
Seu chinelo direito doente, enquanto se reza por três ve-
No pé ele calçou, zes:
Na estrada encontrou
Nosso Senhor “Erisipela, erisipela,
E ele perguntou: sai daqui sem mais aquela!”
- Onde vai, São Berto Lomeu?
- Vou atrás de Vosso Senhor! Outras rezas são pronunciadas para
Ele respondeu: cura, como esta:
- Volta pra trás, São Berto Lomeu,
Que mulher de parto não morrerá “Isipa, isipela, isipelão,
Nem criança pagã, Do tutano vá pro osso,
Nem homem de ocasião. Do osso vai pra carne,
Assim diz Nosso Senhor.” Da carne pra pele,
Da pele pras ondas do mar sa-
MAL-DE-SETE-DIAS (s.) - tétano grado”.
umbilical que acomete os recém-nas-
420
E esta, em forma de diálogo: melão-de-são-caetano é grande re-
médio. Mais eficiente é o sumo do
“- Onde está, Dona Fremosa? melão-são-caetano (raiz, folhas, fru-
- Eu não sou Fremosa, não, tos, talos, tudo junto, triturado), to-
Sou isipa, mal-do-monte, mado às colheradas. A infusão de
Que traz o vermelhidão casca de quina é muito utilizada. Diz
E saio roendo osso... o sertanejo que não há sezão que re-
Antes que o mal vá adiante, sista a um copo de leite cru misturado
Eu - zás! - te corto o pescoço!” com urina da própria vaca que deu o
leite, tomado em jejum.
Todas as benzeções para erisipela
devem ser feitas segurando-se um MALEMAL (adv.) - parcamente;
ramo de manjericão, pimenta mala- malmente; mal e mal (O que ele ga-
gueta ou arruda. nha dava malemal para comer).
421
\ garrote maludo, que ele já furou
MALINEZA (s.) - travessura; ato dois vaqueiros).
censurável; malinagem (Essa meni-
nada de hoje é cheia de malineza, e MALUNDO (s.) - irmão de criação.
os pais têm dificuldade em reprimi-
la). MALVA (s.) - arbusto rasteiro e me-
dicinal, de galho resistente, que ge-
MALINO (adj.) - inquieto; que ralmente prolifera nas praças, no
mexe em tudo o que vê (Todo me- meio da grama e que só é extirpado
nino inteligente tende a ser muito se arrancado pela raiz.
malino).
MALVADESCA (s.) - malvadeza.;
MALMENTE (adv.) - mal; tão logo; maueza
assim que (Malmente o velho fechou
os olhos, os filhos começaram a di- MAMA-CADELA (s.) - V. inharé.
vidir os trens).
MAMA-DE-PORCA (s.) - varie-
MALOCA (s.) - magote de gado dade de paineira em cujo tronco cres-
que costuma reunir-se sempre no cem espinhos no formato de mamas
mesmo lugar da fazenda. de porca.
422
nome do fruto, que é uma espécie de pois você sabe que ele é mandado).
cápsula de forma oval, achatada, de 2. feitiço encomendado (Aquele mal
superfície brilhante e acinzentada ou de Mariquinha era mandado e só
rajada, de tamanho variável e amên- reza é que curou).
doa oleosa, com que se fabrica o óleo
de rícino (comumente chamado de MANDAGUARI (s.) - espécie de
azeite); mamoneira; carrapateira. abelha silvestre de mel delicioso e
medicinal.
MAMPAR (v.) - 1. comer; bocar
(Deixaram a porta da despensa MANDÃO (s.) - 1. pessoa que gosta
aberta, e os cachorros mamparam a de mandar. 2. manda-chuva.
carne toda); 2. aproveitar (Os her-
deiros facilitaram, e quando deram MANDAR ATRÁS (exp.) - buscar;
em si, o espertinho, culiado com o providenciar (Como o tempo mingu-
advogado, mampou a herança quase ava, o jeito foi mandar atrás de
toda). gente para um mutirão).
423
MANDU (s.) - confusão; V. boró; tirar a camisa do paciente, virá-la
bololô (Essa mania dele de andar pelo avesso e enterrá-la num local
tomando boca com os mais velhos que a vítima jamais venha a saber.
ainda vai dar mandu).
MANEIRO (adj.) - leve; de pouco
MANDUBIM (s.) - amendoim; peso.
mondubim; mudubim. A origem da
palavra é o tupi-guarani mandubi, MANEIROSO (adj.) - cortês; deli-
que passou a ser pronunciada man- cado.
duim, e depois amendoim, por in-
fluência de amêndoa. São-lhe atri- MANÉ-LUÍS (s.) - V. o mesmo
buídas propriedades afrodisíacas. mané-luís.
424
MANGANGÁ (s.) - marimbondo MANIENTO (adj.) - cheio de ma-
grande, que vive no chão; também nias (Nunca vi burro mais maniento
chamado de marimbondo-caçador. do que este: coiceiro, pulador e de
queixo duro).
MANGAR (v.) - caçoar (É costume
dele ficar mangando dos outros). MANINA (s.) - V. maninha.
425
menino tinha a mão tão certa, que
MANSO (adj.) - tranqüilo (Às onze não errava uma pedrada) ou que
horas, vinha aquele almoço manso). tempera bem uma comida (A comida
de Dinha Maria era famosa, pela
MANTA (s.) - 1. cobertor de lã. 2. mão certa dela).
pedaço de carne retalhada para se
transformar ou transformada em MÃO-DE-FARIZ (s.) - almofariz;
carne-de-sol. gral.
426
Acertar a mão
Agüentar a mão MARAFO (s.) - cachaça (linguagem
Carregar a mão de umbanda).
Como a palma da mão
Com uma mão na frente e outra MARAVALHA (s.) - mato; cerrado;
atrás saroba; vaqueta.
Dar uma mão
De calças na mão VEJA TAMBÉM:
Freio-de-mão Cair na maravalha.
Güentar a mão
Jogar a pedra e esconder a mão MARAFUNDA (s.) - V. barafunda.
Largar de mão
Lavar as mãos MARCA (s.) - 1. espécie de botão de
Peia pé-e-mão osso próprio para a braguilha. 2. V.
Plantar a mão ferro (1).
Ter mão.
MARCAR PASSO (exp.) - não pro-
MAPA D’ÁGUA (s.) - alagadiço; gredir; não passar de ano; não ser
grande extensão de água mais ou promovido; ficarno que está.
menos parada (Quando a chuva pa-
rou, ficou aquele mapa-d’água onde MARCHA (s.) - 1. uma das espécies
era apenas um corguinho). da andadura do animal, de caracte-
rística macia, mais veloz que o trote e
MAPIRONGA (s.) - furúnculo; nas- menos que o galope. 2. distância per-
cida. corrida pela boiada durante um dia,
de 3 a 6 léguas, conforme as condi-
MARACAJÁ (s.) - gato-do-mato, ções da boiada e da estrada percor-
hoje em extinção, cuja pele é valio- rida.
síssima; maracalhau.
MARCHADOR (adj.) - diz-se do
MARACALHAU (s.) - V. mara- animal que, em vez de trote, anda no
cajá. ritmo da marcha.
427
MARIANA (s.) - mancha amarelada, nos troncos das árvores (o que lhe
semelhante à ferrugem, que adere emprestou o nome).
uma roupa de cor clara.
MARINHEIRO (s.) - 1. espécie de
MARIAR (v.) – criar mariana (Ela árvore da mata de madeira nãomuito
deixou a camisa no guarda-roupa apreciada. 2. V. escolha.
mofado, e ela mariou).
MARIQUINHA (s.) - tripé de ma-
MARIA-VAI-COM-AS-OUTRAS deira onde, no pouso, os tropeiros
(s.) - sem personalidade; pessoa que penduram os caldeirões para cozinhar
concorda com tudo. a comida.
428
MARMOTA (adj.) - sem iniciativa; MARRUEIRO (s.) - o boi mais forte
moleirão. da boiada, independentemente de ser
castrado ou inteiro; marroeiro.
MAROMBA (s.) - malandragem;
esperteza. MARRUÁ (s.) - touro; reprodutor;
marruaz.
MAROMBAR (v.) - vadiar; vaga-
bundear. MARRUAZ (s.) - V. marruá.
429
MASSA BRUTA (adj.) - atarra- MATAMATÁ (s.) - espécie de tarta-
cado; forte; musculoso (Quando ele ruga fluvial, mais rara e pouco apre-
viu o massa bruta entrar no bar, ciada, que tem o casco coberto por
tratou de esconder-se no banheiro). pontas córneas.
430
MATA-RATO (s.) - cigarro ordiná- Gente do mato
rio; racha-peito. Ir ao mato
Mãe-do-mato
MATAR AULA (exp.) - falta à aula; Pai-do-mato
cabular (De tanto matar aula, aca- Ser mato.
bou perdendo o ano por falta).
MATOLOTAGEM (s.) - V. mata-
MATAR CACHORRO A GRITO lotagem.
(exp.) - estar em difícil situação fi-
nanceira (Depois de tanto negócio MATRACA (s.) - 1. espécie de ins-
besta, ele ficou quebrado, e agora trumento que consiste de uma tábua
está matando cachorro a grito e ja- com duas peças de ferro móveis, a
caré a beliscão). qual, sacudida, faz um barulho seco,
servindo para substituir o sino e a
MATAR O BICHO (exp.) - beber campainha durante a Semana Santa,
cachaça (numa alusão a matar o quando, em sinal de respeito e de
verme, a lombriga). luto, aqueles instrumentos sonoros
não podem ser tocados (Nas madru-
MATAR QUEM ESTÁ MA- gadas da quaresma, a meninada
TANDO (exp.) - comer (ou seja, ficava assombrada com o barulho
matar a fome). da matraca). 2. pessoa que conversa
sem parar. 3. plantadeira de arroz
MATAR TICO-TICO COM manual.
BALA (exp.) - mobilizar forças
muito superiores às necessárias para MATREIRO (adj.) - velhaco; es-
determinado empreendimento. perto (Muito matreiro, o velho fez de
conta que acreditou no que o rapaz
MATEIRO (s.) - espécie de veado disse).
que vive nas matas, maior que o ca-
tingueiro e menor que o galheiro. MATRICÁRIA (s.) - espécie de
planta e de preparado medicinal que
MATÉRIA PLÁSTICA (s.) - nome se administra às crianças na época de
como era conhecido o plástico, logo pré-dentição.
que surgiu no comércio.
MATRINCHÃ (s.) - saboroso peixe
MATO (s.) - roça, em contraposição de água doce; piabanha.
a cidade.
MATRIZ (exp.) - vaca ou porca
MATO SUJO (s.) - mato não ro- parideira.
çado.
MATULA (s.) - V. matalotagem;
VEJA TAMBÉM: matolotagem; matutage.
Bicho-do-mato
Botar o caso no mato MATUNGO (s.) - cavalo de monta-
Corte-de-mato ria.
Estar no mato sem cachorro
431
MATUSQUELA (adj.) - ruim da MEÃO (s.) - meião; parte do carro-
cabeça (O filho mais velho do coro- de-bois (V.).
nel é mai matusquela).
MEARIM (s.) - milho de pipoca.
MATUTAGE (s.) - V. matula.
MÉDIA (s.) - café com leite em
MATUTAR (v.) - pensar; imaginar quantidade de uma xícara de chá ou
(Com o dinheiro ganho, Filemon de um copo americano; geralmente
ficou matutando sobre em que apli- vem acompanhada de um pão com
car). manteiga; pingado.
MATUTO (s.) - caipira; que mora no MEDIR (v.) - calcular (Do jeito que
mato; capiau. ele vinha correndo da vaca parida
de novo, mediu a altura de uma ga-
MAUEZA (s.) - maldade; malva- lha de pau e, de um salto, livrou-se
deza; malvadesca. da besta-fera).
432
MEIA-PAREDE (s.) - parede que diu a Deus: de dia, caçava e pes-
divide dois cômodos, mas que não cava, e de noite aproveitava para
sobe até o teto, ficando um espaço melar). 2. derreter-se a rapadura
comum entre ambos. quando exposta à umidade. 3. ama-
relar as folhas e definhar as vagens
MEIA-PRAÇA (s.) - garimpeiro que do feijão com a abundância de chuva.
trabalha para o dono do garimpo, em
troca do sustento e de uma percenta- MELAR NA CABAÇA FURADA
gem sobre o que é encontrado. (exp.) - fracassar; ir fazer uma coisa
que não deu certo. O fundamento é
MEIA-TIGELA (adj.) - V. de meia- que o melador, ao tirar o mel, ob-
tijela. serva que a cabaça está furada, im-
possibilitando-o de trazer o produto.
MEIA-TORRA (s.) - diz-se do café
parcialmente torrado. MELECA (s.) - secreção nasal que
se solidifica nas narinas.
MEIA-VIDA (s.) - pneu gasto que
ainda serve para uso em caso de MELENCIA (s.) - melancia.
emergência.
MELENCÓ (adj.) - triste; melancó-
MEIO LÁ MEIO CÁ (adv.) - mais lico; jururu.
ou menos (Levava sua vidinha meio
lá meio cá). MELEQUÊ (s.) - sujeira preguenta;
godó; ceró.
MEIZINHA (s.) - remédio caseiro;
mezinha. MELETA (s.) - tamanduá-mirim,
também conhecido como merola,
MEL (s.) - 1. melado; mel de enge- mixila ou mixirra, que se alimenta de
nho. 2. sangue (Quando ele levou o formigas; sua pele é tida como das
soco no nariz, o mel desceu). mais resistentes, e sua carne serve de
remédio; não é nocivo ao homem,
MELADO (adj.) - 1. diz-se do ani- tendo índole pacífica, mas quando
mal cor de mel; sabaruno. 2. lambu- atacado por algum cachorro, suas
zado. enormes e afiadíssimas unhas trans-
formam-se em armas mortais.
MEL-DE-DEDO (s.) - mel de enge-
nho de contextura grossa, que per- MELHORAR A DOR (exp.) - mi-
mite se comer com o dedo. norar a dor.
433
gases, inflamações e diminuído a
MENAS VERDADE (exp.) - men- febre.
tira (Se você diz que me viu na briga,
é menas verdade sua). MEQUETREFE (adj.) - variação de
mequerefe; homem ordinário, sem
MENÇÃO (s.) - gesto; aparência valor, fraco; joão-ninguém.
(Quando o homem fez menção de
dar o tapa, Gileno saltou de banda). MERDA (s.) - 1. fezes. 2. miséria
(Com o fracasso no comércio, o
MENDINGO (s.) - pedinte; men- Duda ficou na merda).
digo.
MERENDA (s.) - 1. o café da ma-
MENINA-DOS-OLHOS (s.) - 1. a nhã. 2. lanche.
íris ocular. 2. pessoa ou coisa que se
quer muito bem ou de que se tem VEJA TAMBÉM:
ciúmes (A menina-dos-olhos de Fe- Comer a merenda antes do recreio.
lismino não era a filha, mas a fa-
zendona). MERGULHÃO (s.) - 1. ave preta de
corpo alongado; pesa aproximada-
MENINA-MULHER (s.) - expres- mente um quilo e meio; possui a
são pleonástica para indicar criança parte superior do grande bico muito
do sexo feminino, como menino- afiada; seu olho é azul com a pupila
homem designa a do sexo masculino negra; sua voz imita a de uma porca
(Minha mulher descansou ontem: é brava parida de novo; seus pés são
uma bela menininha-mulher). munidos de membranas interdigitais,
como os palmípedes, o que lhe per-
MENINO-HOMEM (s.) - V. me- mite nadar com desenvoltura e rapi-
nina-mulher. dez; suas penas são luzidias e im-
permeáveis; pode voar diretamente
MENTIRAIADA (s.) - porção de da superfície da água ou vir boiando
mentiras (Lá vem o Abelardo de e levantar vôo. Quando cobre gran-
novo com sua mentiraiada, pen- des distâncias, costuma voar de bico
sando que a gente ainda acredita aberto. Come peixes pequenos e mé-
nele). dios. Passa a maior parte do dia ca-
çando peixes, e mes mo já saciado
MENTIR FOGO (exp.) - negar fogo costuma matá-los, deixando-os à
(a arma); lencar (Na hora em que o mercê de outros predadores. Des-
veado entrou na espera, a carabina cansa sobre a água ou em árvores
mentiu fogo). ribeirinhas, preferentemente secas ou
de folhagem rarefeita. Forma bandos
MENTRASTO (s.) - planta rasteira enormes, de mais de cem indivíduos,
e doméstica de efeitos terapêuticos; cujo bater de asas assemelha-se ao
erva-de-são-joão. É utilizado como ruído de um vendaval. É um dos
analgésico, antiespasmódico, alivi- poucos animais que copulam na
ando as cólicas uterinas, dores por água. Seu ninho, em forma de panela,
é feito de gravetos trazidos do fundo
434
do rio. Põe, no máximo, três ovos, de
cor branca e do tamanho dos de uma MES’QUE (loc. adV.) - mesmo que
marreca, sendo a época própria para a (Mes’que o pagamento não saia,
postura os meses de maio e junho. O faça uma força de comprar o carro
período de incubação varia de 28 a com cheque pré-datado).
32 dias, e os filhores costumam alçar
vôo com pouco mais de um mês e MÊS RETRASADO (S.) - V. mês
meio de vida. Enquanto pequenos e atrasado.
até começarem a voar, são alimenta-
dos por ambos os pais pelo sistema MÊS TRASADO (s.) - V. mês atra-
de regurgitação, mas logo que ficam sado.
grandinhos, os pais abrem o bico e os
próprios filhotes retiram o alimento MESTRE-ESCOLA (s.) - professor;
de sua goela. 2. ebulidor elétrico para professor que ministra aulas, por
ferver água; rabo-quente. temporada, nas fazendas, a pedido
dos fazendeiros, para atendimento
MERMA (s. - pronuncia-se mérma) dos filhos deste, dos empregados e
- 1. doença. 2. feitiço. dos agregados.
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uns mantimentos e o safado meteu o tratar de negócio perto do Juca,
troco no bolso). 2. dominar comple- porque ele é muito metido).
tamente (Mané Garrincha metia no
bolso qualquer marcador). METIDO A BESTA (exp.) - per-
nóstico; pessoa que quer ser o que
METER O BEDELHO (exp.) - V. não é.
meter o bico.
METIDO A RABEQUISTA (exp.)
METER O BICO (exp.) - introme- - rabequista é aquele que toca a ra-
ter-se na conversa sem ser chamado beca; expressão designa aquele que,
(Quando gente grande estiver con- sem pleno conhecimento, mete-se a
versando, menino não deve meter o fazer algo que ignora.
bico).
MEXER (v.) - 1. desencaminhar
METER O NARIZ (exp.) - V. me- donzela (Mexeram com a filha do
ter o bico. coronel, mas ele não pode dar um
jeito porque a mocinha não diz
METER O PAU (exp.) - criticar; quem foi). 2. ter como meio de vida
falar mal de alguém; atacar com pa- (Eu agora estou mexendo é com
lavras; descer a ripa. venda de gado).
436
MIJACÃO (s.) - tumor que dá na MIJO (s.) - urina.
sola ou nos dedos dos pés, proveni-
ente do contato com a urina de ani- MILES (num.) - milhares; grande
mais. quantidade (Miles de romeiros che-
garam ao Bonfim para a missa do
MIJADOR (s.) - recipiente feito de padroeiro).
chifre de boi que o caçador conduz
para urinar na espera, uma vez que o MILHO (s.) - dinheiro (É melhor
faro da caça, por ser muito aguçado, você debulhar o milho e pagar logo
pressente a presença do homem se a conta).
ele urina nas imediações, não se
aproximando; é uma espécie de vaso MILHO DE PIPOCA (s.) - V. mea-
sanitário portátil improvisado, usado rim.
no norte do Estado.
VEJA TAMBÉM:
MIJÃO (s.) - 1. aquele que mija na Catar milho
cama. 2. espécie de pijama inteiriço, Dar milho a bode
em geral de malha, semelhante a um Quebrar milho.
macacão.
MILHOMEM (s.) - arbusto ramoso
MIJAR (v.) - urinar; fazer xixi. cuja batata é terapêutica e tem o sa-
bor muito amargo, também conhe-
MIJAR FORA DO CACO (exp.) - cido por jarrinha; milome. Segundo
falhar; desistir; mijar na escorva; se afirma, seu nome deve-se ao fato
mijar fora do penico. de haver curado mil homens na
Guerra do Paraguai, acometidos de
MIJAR FORA DO PENICO (exp.) cólera; outros dizem que é devido a
- V. mijar fora do caco; mijar na um curandeiro gaúcho, que afirmou
escorva. haver curado mil homens de picada
de cobra com a batata dessa planta. É
MIJAR NA ESCORVA (exp.) - V. utilizado para curar azia, caxumba
mijar fora do caco; mijar na espo- descida, picadas de cobra, cólicas,
leta. disenteria, dor de cabeça, males do
estômago, do fígado e dos intestinos,
MIJAR NA ESPOLETA (exp.) - V. além de ser eficiente cicatrizante e
mijar fora do caco. antiinflamatório.
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MINDINHO (s.) - dedo mínimo. geralmente compridos, fortes e flexí-
veis, são usados para se fazer cestos,
MINDUBIM (s.) - amendoim; mon- destiladeiras e como chicote; unha-
dubim; mendubim; mudubim. de-vaca.
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MIUDINHO (adv.) - a pequenos moda de se intrometer nas coisas
espaços de tempo miúdo; miuchinho dos outros). 2. canção caipira que é
(Eles passaram a encontrar-se miu- acompanhada pela viola; moda de
dinho, e acabou dando em casa- viola.
mento).
MODA DE VIOLA (s.) - música,
MIÚDO 1. (s.) - dinheiro trocado; acompanhada de viola, que retrata
troco. 2. (adv.) miudinho. fatos épicos ou humorísticos aconte-
cidos na região; moda (2).
MIÚDOS (s.) - vísceras de animais
cuja carne é comestível (fígado, co- MODE (prep.) - 1. para; a fim de
ração rins etc.). (Eu compro carne é mode comer, e
não mode dar a gato). 2. pelo (Eu vi
MIXILA (s.) - V. meleta. que ele não era traquejado em pega-
ção de gado, mode o jeito de arrear
MIXILANGA (s.) - V. beberagem; a tropa).
meizinha.
MODEBA (s.) - forma popular pejo-
MIXURUCA (adj.) - coisa sem va- rativa com que se designam os parti-
lor. dários do antigo Movimento Demo-
crático Brasileiro (MDB), hoje
MOCA - 1. (s.) - esconderijo na PMDB; modebra; gambino; marmi-
brincadeira de bacondê. 2. (s.) - café tão; marmitex; pemba.
(Depois do almoço, beberam o moca
e saíram para a roça). MODEBRA (s.) - V. modeba.
MOÇA (s.) - virgem (Aquela me- MODE COISA QUE (exp.) - parece
nina, para mim, não é mais moça). que (Você mode coisa que chorou,
minha filha!).
MOCHÉ (s.) - V. morché.
MODINHA (s.) - canção, geral-
MOCHO – 1. (adj.) - gado despro- mente antiga; cantiga.
vido de chifres. 2. (s.) - banco rústico
sem encosto, de assento quadrado ou MODOSO (adj.) - bem compor-
redondo. tado; que tem bons modos (Foi boa a
indicação do Guilherme para o em-
MOCÓ (s.) - espécie de roedor prego de mordomo, pois ele é muito
anuro, semelhante a um rato grande, modoso).
de cor acinzentada, que vive em locas
nas serras e caleiras. MOENDA (s.) - cilindros colocados
lado a lado, verticalmente, no enge-
MOCORONGO (s.) - pessoa desa- nho para moer a cana.
jeitada; bobo.
MOER VIDRO COM A BUNDA
MODA (s.) - 1. mania (Foi bom (exp.) - V. arrastar o rabo na areia.
acontecer isto, para ele largar da
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MOFINO (adj.) - covarde; medroso MOLHAR A GOELA (exp.) - be-
(O Zeferino não vai viajar de noite, ber um pequeno gole; molhar a pa-
porque ele é muito mofino). lavra.
440
MONTADO NA EMA (exp.) - bê- tou no candeeiro e moqueou o ca-
bado (Naquela hora, chegou Elpídio belo todo).
montado na ema).
MOQUÉM (s.) - grelha indígena
MONTADO NA ERVA (exp.) - feita de varas para se assar peixe;
cheio de dinheiro (Com o negócio da assado nas cinzas, à maneira indí-
fazenda, Mário está montado na gena.
erva).
MORANGA (s.) - variedade de abó-
MONTADO EM PÊLO (exp.) - bora de polpa amarela e enxuta e
montado sem arreios; V. em pêlo. sabor mais agradável que a abóbora
comum; jerimum.
MONTAR (v.) - cavalgar; escan-
char. MORCEGAR (v.) - sugar; explorar;
tirar vantagem.
MONTAR CASA (exp.) - mobiliar.
MORCHÉ (s.) - sapo grande; macô;
MONTAR EM PÊLO (exp.) - caçote; cururu.
montar sem qualquer arreio ou prote-
ção. MORDE-E-SOPRA (s.) - diz-se
daquele que faz o mal e depois vem
MONTARIA (s.) - 1. espécie de tentar agradar, botando panos quentes
canoa grande, menor que o batelão, (Nunca confiei nessas pessoas
para transporte em geral. 2. qualquer morde-e-sopra).
animal de montaria.
MORDIDA DE COBRA (s.) - diz-
MONTAR NA EMA (exp.) - embri- se que a pessoa foi ofendida. Ao ser
agar-se. picado por um ofídio, o sertanejo
toma leite de pinhão bravo. Pode-se,
MONTAR NA NOTA (exp.) - rece- para maior eficácia deste remédio,
ber uma grande importância em di- acrescentar um pouco de raspa da
nheiro (Quando ele vendeu o magote entrecasca de pereiro e outro tanto de
de gado, montou na nota). cachaça. Outras meizinhas muito
usadas são o chá de caroço de aba-
MONTOEIRA (s.) - grande quanti- cate e o xarope da casca queimada da
dade; montão (Veio uma montoeira castanha de caju. Existem, ainda,
de gente à festa do batizado). outros tidos como eficacíssimos: chá
de vagem de coronheira ou de ce-
MONTURO (s.) - lixo que fica no bola; água da folha de bananeira;
fundo do quintal; balseiro. engolir caroços (sementes) de ata
(pinha); café amargo com cachaça ou
VEJA TAMBÉM: cravo-do-reino; tomar garapa de ra-
Fogo-de-monturo. padura até repugnar; chupar melancia
até arrotar ou comer cebola até não
MOQUEAR (v.) - 1. assar o peixe agüentar mais; comer alho com ca-
no moquém. 2. sapecar (Ele encos- chaça; beber leite até repugnar três
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vezes. Diz-se que o álcool, quando O veneno que lhe dou, Fulano,
ingerido, pode ser antídoto ou pre- Leite de Nossa Senhora,
ventivo, uma vez que, estando embri- Mãe de Jesus.
agada, uma pessoa dificilmente sofre São Bento ajuda-me!”.
os efeitos do veneno de cobra ou bi-
cho brabo (escorpião, lacraia, etc.). MORDOMO (s.) - pessoa encarre-
No terreno do misticismo, há simpa- gada de ajudar nos preparativos das
tias, como amarrar o membro ofen- folias (são escolhidos, por sorteio, no
dido com uma correia de couro de dia da última festa, juntamente com o
guaxinim. E a superstição assegura, imperador, o mastreiro, o capitão-do-
na impossibilidade de o benzedor se mastro e o alferes).
deslocar para ir rezar sobre o en-
fermo, o benzedor manda um objeto MORINGA (s.) - botija de barro ou
pessoal seu, o qual, posto sobre o alumínio para esfriar água; quarti-
ofendido, faz aliviar as dores. Outras nha.
vezes, basta que o benzedor reze na
direção da casa do enfermo. Em se MOROTÓ (s.) - bicho de pau ou
tratando de animais, é suficiente que bicho-de-coco; espécie de verme ou
se reze sobre o seu rastro. Existe uma larva de cor branca que se forma em
rezaa, dedicada a São Bento, tida madeira podre ou dentro de cocos. O
como muito eficiente, que deve ser sertanejo aprecia comê-lo assado.
pronunciada três vezes sobre o ofen-
dido de: MORREDEIRA (s.) - desmaio;
acesso; tontorona; vago.
“São Bento,
Com tua sabedoria MORRER - 1. (v.) pagar dívida ou
Vieste ao mundo despesa inesperada (No fim da farra,
Para curar todos os venenos ele teve que morrer na conta). 2. (v.)
De serpente; deixar o motor de carro ou de outra
Que com tuas palavras máquina apagar (Na subida o carro
Conseguiete derrubar morreu e precisei passar uma se-
As presas da serpente; gunda).
Aqui estou
Com as palavras mais sábias MORRER DE REPENTE (exp.) -
Querendo interromper morrer de mal súbito.
Dos canais de via
De que este veneno subtraiu. MORRINHA - 1. (adj.) - mesqui-
Peço tua ajuda nho; criador de caso; casquinha
Para ajudar neste momento Fulano, (Sujeitinho morrinha como aquele
Que está porventura estou por ver). 2. (s.) - mau cheiro;
Sofrendo grande tortura. inhaca; aca; almisco (A carne de
Sobre este veneno peço ajuda, galheiro, se não se souber cozinhar,
Que em todas as veias deste corpo dá uma morrinha terrível).
Será passado o sangue
De Nosso Senhor Jesus Cristo, MORTE DA BEZERRA (exp.) -
E para cortar de vez grande ajuntamento de gente (Isto
442
aqui está parecendo até a morte da ras de folhas amarelas e mangas
bezerra, pois nunca vi tanto curioso movidas).
querendo saber da vida alheia).
MUAFO (s.) - 1. trapos; roupa velha
MORTO DE FOME (exp.) - com (Ele trouxe uma sacola cheia de
muita fome; varado de fome. muafo). 2. exagero (Cremilda che-
gou com um muafo de coisas, que
MORTO DE PREGUIÇA (exp.) - parecia até mudança).
indolente; excessivamente pregui-
çoso. MUCAMA (s.) - antiga escrava do-
méstica; negrinha que serve à patroa.
MOSCA (s.) - pequeno tufo de ca-
belos que é deixado, logo abaixo do MUÇUÃ (s.) - espécie de quelônio,
septo nasal, como bigode, à moda semelhante à tartaruga, de carne
Chaplin. muito apreciada.
443
MUCURA (s.) - roedor semelhante várias vezes; dar-lhe de beber um
ao rato, de hábitos noturnos, que é prato raso, ainda virgem; lavar os bil-
predador de galinheiros, com a ca- ros de uma almofada de fazer rendas
racterística de comer apenas a cabeça e dar a água para a criança beber.
de suas vítimas; gambá.
MUDUBIM (s.) - amendoim.
MUÇURACA (s.) - V. mucuta.
MUITAS VEZES (adv.) - é possí-
MUCUTA (s.) - trouxa em que se vel; talvez (Muitas vezes eu posso
carregam os apetrechos de pitador: chegar lá amanhã).
fumo, cachimbo, palha de milho e
papa-fogo; farnel; muçuraca; ca- MULA (s.) - espécie de doença ve-
chorra (2). nérea semelhante ao cancro.
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MULHER PÚBLICA (s.) - V. rapa- Cu do mundo
riga. Estar no mundo da lua
Ganhar o mundo.
MUMBUCA (s.) - espécie de abelha
silvestre, considerada extinta, de mel MUNDRUNGUEIRO (s.) - feiti-
muito ácido e de propriedade apenas ceiro; mandraqueiro.
purgativa, que faz sua colméia exclu-
sivamente na mata virgem; mom- MUNGUBA (s.) - fruto da mungu-
buca. beira, com o qual se fabrica sabão.
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MURIÇOCA (s.) - pernilongo; ca- menta-do-reino do tamanho de uma
rapanã. bola-de-gude, que serve para fazer
refresco e é apreciado alimento das
MURINHANHA (s.) - espécie de caças mais diversas (cutia, paca, ve-
mosca sugadeira, de ferrão violento e ado, caititu etc.). Suas cascas, colo-
picada dolorida, que inferniza o cadas em decantação na água fria,
gado; mosca-do-chifre; mutuca. desprendem uma gosma, que é boa
para alisar os cabelos, para curar dor
MURRÃO (s.) - fuligem que se de barriga, feridas, gangrena, hemor-
forma no pavio de candeia a quero- róidas, doenças dos intestinos, incha-
sene (Antes de inventarem as anili- ções e para lavagem uterina.
nas, os velhos usavam murrão de
candeia para tingir os cabelos, su- MUTIRÃO (s.) - agrupamento de
jando a gola da camisa, denunci- trabalhadores que se reúnem para
ando a vaidade). determinado serviço (roçagem, broca,
limpa, derrubada etc.) para colaborar
MURREMA (s.) - inflamação (On- com um amigo que necessita de mão-
tem ela amanheceu com uma mur- de-obra, em troca de, no fim do dia,
rema na barriga). promover um baile, com bebida e
comida; muxirão.
MURRO (s.) - serviço; batente
(Todo dia ele dá o murro na roça MUTRETA (s.) - velhacaria; vival-
pra poder criar os meninos). dinice; treita.
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MUXIBAGEM (s.) - economia fora MUXIBENTO (adj.) - 1. que tem
das medidas (Deixe de muxibagem, muxibas. 2. muxiba (3).
rapaz, e dê a esmola pro cego!).
MUXIRÃO (s.) - V. mutirão.
-N-
NA BACIA DAS ALMAS (exp.) - ad- NADAR DE BRAÇADA (exp.) - ficar
quirido a preço vil, abaixo da metade (O à vontade (Os netos nadam de braçada
safado do turco ficava espiando quem quando chegam a casa da avó).
estava apertado e só comprava as coisas
na bacia das almas). NA DEPENDURA (exp.) - em dificul-
dade financeira (Aquele pobre comerci-
NA BOCA DE ESPERA (exp.) - no ante, com essa política econômina, fi-
aguardo da vez (Enquanto o menino foi cou na dependura).
ver se conseguia pegar a cesta básica,
eu fiquei na boca de espera). NADICA DE NADA (exp.) - V. nadi-
nha.
NA BUCHA (exp.) - na mesma hora; de
imediato (Ele era muito estudioso: nas NADINHA (adv.) - absolutamente
provas orais, ele respondia na bucha a nada; nadica de nada.
todas as perguntas ).
NÁFEGO (s.) - animal que tem um dos
NABUCO (s.) - anuro; sem rabo; cotó; quartos seco.
pitoco; rabicó; sura; suruca.
NAGREJAR (v.) - existir em abundân-
NADA (adv.) - usado, em certas cons- cia; coalhar-se de gente ou animais (No
truções, geralmente no fim de frases, dia da Festa do Divino, a praça nagre-
com a acepção de “não” (Ele não é bobo java de romeiros).
nada! - Pinga com amargo? Bebo
nada!). NA MARRA (exp.) - à força; com vio-
lência; no peito e na raça (Ele vai ter
NADA DE NADA (exp.) - absoluta- que se casar com ela, nem que seja na
mente nada; nadica de nada. marra).
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NAMBI (adj.) - V. troncho.
NÃO CAGAR NEM DESOCUPAR A
NAMBU (s.) - V. inhambu. MOITA (exp.) - ficar indeciso.
NÃO BATER PREGO SEM ESTOPA NÃO DAR OUTRA (exp.) - ocorrer o
(exp.) - ser extremamente vivo, de forma que se previa.
a não fazer algo sem pensar em proveito
futuro (a expressão origina-se do cos- NÃO DAR PELOTAS (exp.) - não dar
tume que os barqueiros tocantinenses confiança; não dar importância.
têm de calafetar os buracos dos barcos e
canoas com pregos envolvidos em es- NÃO DAR UMA SEDE DE ÁGUA A
topa embebida de breu para evitar vaza- NINGUÉM (exp.) - V. não dar água a
mentos). pinto.
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NÃO ESQUENTAR A CABEÇA NÃO SER FLOR QUE SE CHEIRE
(exp.) - não se preocupar. (exp.) - pessoa que tem mau caráter.
NÃO ESTAR NO GIBI (exp.) - ser NÃO SER GRAÇA (exp.) - não ser
incomum; fora de série. brinquedo.
NÃO LEVANTAR UMA PALHA NÃO SER MOLE (exp.) - não ser fácil.
(exp.) - V. não arribar uma palha.
NÃO TER CARA (exp.) - ter vergonha
NÃO PAGAR NEM FOGO NA (Depois daquele papelão, ele não tinha
ROUPA (exp.) - ser péssimo pagador. cara de voltar ali).
NÃO PODER COM A GATA PELO NÃO TER COM QUÊ (exp.) - ser po-
RABO (exp.) - ser fraco; embora queira bre e sem recursos; não ter uma banda
aparentar valentia. de couro pra cair em cima (O pobre
Salu ficou apertado com a idéia de ofe-
NA ORELHA (exp.) - troca de coisa recer um almoço para o patrão, mas era
com coisa, sem outra compensação ou uma pessoa que não tinha com quê).
volta; pau a pau; oreado (Depois de
muito negociarem, resolveram trocar os NÃO TER GRILO (exp.) - não ter pro-
animais na orelha). blema.
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NÃO VALER UM COMPRIMIDO nas folhas de babosa, de mamona, ca-
DE CIBAZOL (exp.) - V. não valer um baça, pimenteira, aroeira e outras, sob
derréis de mel mal coado. forma de banhos. Para amolecer os tu-
mores e facilitar-lhes a cura, empregam-
NÃO VALER UM DERRÉIS DE se como emolientes a polpa de juá, a
MEL MAL COADO (exp.) - V. não casca do coco catolé, a folha de babosa,
valer o feijão que come; não valer o a pele que reveste o interior da cabaça e
feijão que come; não valer uma cagaita; a cera de abelhas. Normalmente, os re-
não valer um cibazol; não valer um médios para tumores externos servem à
comprimido de cibazol; não valer uma cura dos furúnculos e abscessos.
pitomba.
NAS COXAS (exp.) - que é feito às
NÃO VALER UMA CAGAITA (exp.) pressas, com imperfeição.
- V. não valer o feijão que come; não
valer uma pitomba. NAS TOEIRAS (exp.) – em apuros.
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muito tempo decorrido (Né d’hoje que de um ser misterioso; também chamado
eu paguei a conta, e agora vem esse de caboclo d’água.
vigarista me cobrar de novo!).
NEM AMARRADO (exp.) - de modo
NEGAR ESTRIBO (exp.) - 1. recusar algum; em nenhuma circunstância; nem
(Na hora em que ele quis beijá-la, ela a pau (Não me caso com ela nem amar-
negou estribo). 2. voltar atrás (Depois rado).
do negócio apalavrado, o safado do Jiló
negou estribo). NEM A PAU NEM (s.) - V. nem amar-
rado.
NEGAR FOGO (exp.) - 1. falhar (a
arma); lencar; mentir fogo; palpar NEM OSGA (exp.) - nada; coisa ne-
(Quando ele apertou o pinguelo, o agaó nhuma (Ele chegou da viagem e não
negou fogo). 2. malograr (Quando mais disse nem osga sobre sua missão).
precisava do amigo, ele negou fogo).
NEM PRO FIO DO RÊ (exp.) - ex-
NEGAR O CORPO (exp.) - esquivar- pressão que significa “nem pro filho do
se; refugar; abrir fora (O soco parecia rei”, ou seja, “pra ninguém”, “de forma
certeiro, mas Caiadinho negou o corpo, alguma”; absolutamente (Não empresto
e não foi atingido). minha bicicleta nem pro fio do rê).
NEGOÇAR (v.) - V. coisar; comeque- NEM TICO NEM TACO (exp.) - nem
chamar. uma coisa nem outra; nem tique nem
taque (Sua ganância em querer ficar
NEGÓCIO (s.) - 1. estabelecimento com tudo acabou deixando-o sem nada:
comercial. 2. meio de vida. 3. bichado. nem tico nem taco).
NEGRA (s.) - última e decisiva partida, NEM TIQUE NEM TAQUE (exp.) -
quando, nas disputas semifinais, ocorre V. nem tique nem taque.
um empate por pontos, necessitando uma
outra partida, que define tudo. NEM UMA FAÚLA (exp.) - nem uma
fagulha; nem um pouco; nem um trisco.
NEGRADA (s.) - turma; macacada.
NERES DE PITIBIRIBA (exp.) - ab-
NEGRO DA BISSINA (s.) - pessoa solutamente nada.
extremamente negra; negro da Abissínia
(antigo nome da Etiópia); cafuçu; escri- NERVOSIA (s.) - 1. impaciência. 2.
vão do inferno. assombração; livuzia. 3. nervosismo.
Qualquer excitação nervosa pode ser
NEGRO D’ÁGUA (s.) - entidade fan- curada com o chá das raízes ou das cas-
tástica representada, segundo uns, por cas de mulungu. Também são muito re-
um homem preto, baixinho, de cabelos ceitadas o alho e a cebola, tanto para se
lisos, luzidios e compridos, que mora cheirar como para o chá. O chá da erva-
dentro d’água; não se sabe o que faz, cidreira sem açúcar tem lugar de desta-
causando temor exatamente por se tratar que na aplacação dos nervos. Receita-se
também a infusão de casca de pereiro,
451
misturada com manacá, a de melão-de- NO FRIGIR DOS OVOS (exp.) - na
são-caetano, das cascas de pereiro com hora H; na hora decisiva; no concluir do
quina, bem como os remédios prescritos negócio (Compuseram-se no negócio, e
para o caso de desmaio. no frigir dos ovos o patrão saiu per-
dendo).
NESGA (s.) - V. garra.
NO GRITO (adv.) - por meios violen-
NESSAS ALTURAS (exp.) - a esta tos ou à força (Ele conseguiu reaver
altura; àquela altura (Nessas alturas, o suas coisas no grito).
ladrão já deve estar longe).
NOITÃO (s.) - tarde da noite (Já era de
NESSES DIINHAS (exp.) - V. diinhas. noitão quando ele chegou).
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NOS CONFORMES (exp.) - inteira-
mente de acordo com as previsões; rigo- NÓS-PELAS-COSTAS (exp.) - fres-
rosamente de acordo. cura; exigências (Nunca vi gente com
tantos nós-pelas-costas como o Jesu-
NOS TRINQUES (exp.) - V. estar nos íno).
trinques.
NO TAMPO DA FIVELA (exp.) -
NOTA BRANCA (s.) - nota sem valor imediatamente; na mesma hora; em cima
fiscal, que os comerciantes emitem para da bucha (Com Joaquim a resposta
sonegar o fisco. vem no tampo da fivela).
NO VENTO (exp.) - facilmente (Bexiga NUNCA (adv.) - ainda não (O leite não
era uma doença que contagiava no chegou porque o menino que traz da
vento). fazenda nunca chegou hoje).
453
-O-
OA! (int.) - interjeição, que é pronunci- verde, correram e chamaram Lídio, o
ada de forma prolongada e sonora para benzedor de quebranto). 2. fazer; execu-
acalmar o gado ou fazer os bois-de-carro tar; proceder (Você obrou muito mal em
pararem (Quando o gado pispiou a ficar namorar aquela garota).
inquieto, os vaqueiros gritaram: Oa!
Oa!). OCADO (adj.) - oco; com a sensação de
vazio (Àquela hora do dia, os trabalha-
O BODE PRETO (exp.) - o Capeta. dores estavam todos ocados de fome).
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Ó, DE CASA! (exp.) - saudação que a OITO-BAIXOS (s.) - sanfona de oito
pessoa utiliza ao chegar à porta de uma baixos; pé-de-bode (Quando Adontino
uma casa para chamar a atenção do mo- pegava sua oito-baixos, ninguém ficava
rador que se acha lá dentro. sem dançar)
455
calcanhar e usando a ponta do dedão ONÇA (s.) - o maior felino do Brasil;
como haste de compasso (segundo a gata; canguçu.
superstição, serve para chamar o sol, em
época de muita chuva); olho-de-sol. 2. ONÇA-D’ÁGUA (s.) - V. ariranha.
espécie de fruto silvestre semelhante ao
bacupari. ONÇA PINTADA (s.) - V. canguçu.
456
a fazer seu mel no mato; apesar de sil-
OPAR (v.) - inchar; descorar; amarelar vestre, que pode ser criada domestica-
em decorrência de anemia. mente.
OROBÓ (s.) - barriga; pança; bucho; OUTRO(S) (pron..) - a(s) outra(s) pes-
bandulho; pandu (Depois que encheu o soa(s); o semelhante (Deixe de atentar
orobó é que foi dizer que a comida era os outros, menino, pois uma hora você
ruim). encrava).
457
mos ganhar o campeonato; ou vai ou OVO-DE-ARUÁ (s.) - pessoa cheia de
racha!). dengos, que se abespinha por qualquer
coisa; criança dengosa; ovo-de-indez
OUVIDO (s.) - 1. parte da arma onde se (Esse ovo-de-aruá é intolerável).
coloca a espoleta para ser detonada pelo
cão (2). 2. órgão da audição. Sobre as OVO-DE-INDEZ (s.) - V. ovo-de-aruá.
doenças do ouvido, veja o verbete doen-
ças do ouvido. OVOS ESTALADOS (s.) - ovos estre-
lados.
OVEIRO (s.) - ovário das aves (Se você
atirar no oveiro da ema, ela cai na OXENTE (int.) - interjeição de surpresa
hora). (Oxente, eu nem cuidava que você esti-
vesse aqui, João!).
458
-P-
PÁ (s.) - osso posterior do ombro; omo-
plata; apá. PACU (s.) - peixe de escamas de água
doce de forma arredondada, que vive em
PÁ, BUFE! (int.) - expressão que indica cardumes e não atinge mais que dois
pancada e conseqüente queda (Na briga quilos.
do boteco, Miligido atacou o outro com
uma cadeirada: foi pá, bufe!). PACUERA (s.) - fígado. O mais famoso
remédio para o fígado é a jurubeba, para
PABULAGEM (s.) - gabolice; impos- qualquer que seja a doença, tanto a infu-
tura (Não ligue para a pabulagem dele, são da raiz com a ingestão dos frutos co-
que é só conversa fiada). zidos com a comida, trazem o mesmo
efeito. O chá da folha de alfavaca é tido
PABULAR (v.) - conversar fiado. como ótimo remédio e tem a propriedade
de dissolver as pedras da vesícula. Tam-
PACA (s.) - grande roedor, maior que a bém o chá de alecrim, junto com as fo-
cutia e menor que a capivara, de carne lhas de abacateiro amarelas, serve para
muito apreciada, embora tida como rei- resolver complicações hepáticas. O ipê
mosa. roxo (pau d’arco), em infusão, e os chás
de folhas secas de cajueiro, de quebra-
PACAS (adv.) - advérbio de intensidade faca e raízes de canapu são também ex-
que dá a idéia de volume, quantidade; é celentes para quaisquer doenças hepáti-
o oposto de picas (Com a fome que eu cas.
estava, comi pacas).
VEJA TAMBÉM:
PACHECO (s.) - boizinho sem raça, ge- Bater a pacuera.
ralmente reprodutor; pactuário; patu-
eiro. PADAGI (s.) - planta aromática que se
coloca na cachaça.
PAÇOCA (s.) - carne de sol temperada,
assada ou frita, pilada com farinha de PADARIA (s.) - nádegas avantajadas.
mandioca; também pode ser feita com
amendoim ou gergelim torrado e pilado PADIM (s.) - padrinho; padrim.
com rapadura e farinha.
PADRIM (s.) - padrinho.
PACOVA (s.) - banana (por influência
indígena, já que é assim denominada PAGAR O PATO (exp.) - sofrer as
esta fruta no seu meio). conseqüências de algo para o qual não
459
contribuiu (Ele fez o que fez, e eu é que
acabei pagando o pato). PALETA (s.) - 1. omoplata do animal;
carne que é retirada daquela parte da rês.
PAGAR O VÉIO (exp.) - defecar (Es- 2. placa, geralmente de plástico, que se
pere um pouco, pois vou pagar o véio e usa para tocar instrumento de corda.
volto já).
PALHA BENTA (s.) - ramo bento que,
PAGODE (s.) - baile; festa dançante; no Domingo de Ramos, é carregado na
rala-bucho. procissão e que, segundo a crença, serve
para aplacar a fúria das tempestades,
PAI-DA-CRIANÇA (exp.) - o respon- quando queimado e atiradas suas cinzas
sável por algum ato (Quem deve buscar na chuva.
os recursos para o projeto é você, pois
eu não sou o pai da criança). PALHADA (s.) - lugar onde se colheu a
roça de mantimentos, que serve para
PAI-DAS-QUEIXAS (s.) - delegado de alimentar o gado na falta de capim.
polícia.
PALHEIRO (s.) - cigarro de palha feito
PAI-D’ÉGUA (s.) - grande; enorme de fumo-de-rolo; pau ronca; racha
(Esta é que é uma sorte pai-d’égua!). peito.
460
PAMONHA - 1. (s.) iguaria de milho serve de medida de capacidade para
verde, doce ou salgada, cozida na pró- grãos, que equivale a 40 litros.
pria palha do milho. 2. (adj.) - V. mo-
lóide. PANELA (s.) - 1. cárie grande (Como
as panelas eram enormes, o dentista
PAMPA (adj.) - cavalo malhado de preferiu extrair os dentes). 2. buraco de
branco e marrom (quando se trata de estrada (É preciso recapear a estrada,
gado bovino, diz-se que é mouro). pois as panelas acabaram com os car-
ros). 3. grupo restrito de pessoas, geral-
PAMPEIRO (s.) - confusão com baru- mente pessoas que se protegem mutua-
lho (Quando menos se esperou, ouviu- mente nas oportunidades de emprego
se o pampeiro do touro brabo arreme- etc.; curriola; igrejinha; panelinha
tendo contra a cerca do curral). (Todo ministro, quando toma posse,
trata de agasalhar aqueles de sua pa-
PANACA (s.) - pessoa tola ou simpló- nela). 4. V. pirarucu.
ria.
PANELADA (s.) - espécie de piqueni-
PANADA (s.) - V. lapada (O soldado, que promovido pelas crianças no Sábado
quando sojigou o preso, ainda lhe deu de Aleluia (v.), quando, logo ao ama-
umas panadas de sabre). nhecer, promovem uma arrecadação de
gêneros, aos grupos, de porta em porta,
PANARÍCIO (s.) - inflamação dolorida cantando:
e geralmente purulenta em redor das
unhas das mãos; panariz; unheiro. “Aleluia, aleluia!
Carne no prato,
PANARIZ (s.) - panarício. Farinha na cuia,
Fogo no Judas!”.
PANCA (s.) - 1. elegância (O Nico hoje
está numa panca que só se vendo). 2. V. PANELINHA (s.) - V. panela (3).
bimbarra.
PANGARÉ (s.) - cavalo velho ou ma-
PANÇA (s.) - barriga. gro.
PANCOSO (adj.) - elegante (Nunca vi PANO (s.) - 1. medida usada pelas cos-
sujeito para andar mais pancoso do que tureiras, sem dimensão definida (Esta
o Arneziro). saia será de dois panos, para sair mais
rodada). 2. manta de toucinho (Todo
PANÇUDO (s.) - barrigudo; barriga de mês, o coronel matava um gordo ca-
soro azedo. pado, fritava a carne e salgava vários
panos de toucinho).
PANDU (s.) - barriga; bandulho; orobó.
PANO BRANCO (s.) - manchas bran-
PANEIRO (s.) - cesto ou balaio feito de cas na pele; vitiligo; lazo-branco. Para
talos de palmeira e embira para trans- eliminar-se o pano branco, afirma-se que
portar frutas, cocos e raízes etc. e que o remédio é passar no local sangue de
461
galinha preta. Para pano preto, sangue de recomendada é medir-se o papo com um
galinha branca. cipó e colocar o cipó dependurado num
galho de gameleira. Com o tempo, o
VEJA TAMBÉM: papo acaba.
Pé-de-pano.
PAPO-AMARELO (s.) 1. espécie de
PANTAME (s.) - pântano. rifle de repetição que possui uma placa
de latão em redor do gatilho. 2. jarara-
PAPA (s.) - mingau. cuçu.
PAPAGAIO (s.) - 1. letra; nota promis- PAPO-D’ÁGUA (s.) - planta que cresce
sória (Tive de fazer um papagaio no sobre; aguapé.
banco para pagar aquele aval). 2. parte
da espora onde é presa a roseta. PAPO-DE-ANJO (s.) - balão de borra-
cha utilizado em festas de aniversário;
PAPA-HÓSTIA (adj.) - V. carola. bola-de-soprar.
PAPIATA (s.) - conversa; papo (1). PAPUÃ (s.) - espécie de capim que vi-
ceja dentro do mato.
PAPILOTE (s.) - V. piparote.
PAPUDO (adj.) - 1. contador de vanta-
PAPO (s.) - 1. conversa (Este camarada gem (Você é muito papudo, e não voi
só tem é papo; na verdade, ele não é de acreditar em nfluência sua). 2. que tem
nada). 2. bócio; aumento da glândula papo (2).
tireóide por ausência de iodo. Dos remé-
dios caseiros, os mais usados são o chá PAPULAGEM (s.) - conversa fiada em
dos talos da jerimum e das folhas da car- que se atribui vantagens ou aventuras;
queja, tomando-se duas xícaras após o pabulagem.
almoço e o jantar, durante meses. No ter-
reno místico, diz-se que a simpatia mais
462
PAQUEIRO (s.) - cachorro caçador de
pacas. PARELHA (s.) - junta de bois.
463
a vida atravessando o pessoal no porto
ali não morava mais ninguém). 2. V. PASSAR NA CARA (exp.) - seduzir
engana-bode. 3. alças da calça por onde sexualmente alguém; passar nos peitos.
passa o cinto; arreata (1). 4. argola de
metal ou peça trançada em forma de anel PASSAR NA NOTA (exp.) - vender;
que serve para juntar partes dos arreios. passar nos cobres.
464
PASTINHA (s.) - cabelo cortado reto na hoje, são de plástico ou metal). 3. órgão
altura da testa. sexual masculino.
PATACA (s.) - moeda antiga que equi- PAU-A-PIQUE (s.) - cerca formada de
valia a 320 réis. lascas de aroeira fincadas verticalmente;
paliçada.
VEJA TAMBÉM:
De meia-pataca. PAU-D’ÁGUA (s.) - cachaceiro; bê-
PATACÃO (s.) - antiga moeda de prata, bado.
de formato grande, no valor de 40 réis.
PAU-D’ARCO (s.) - madeira de lei,
PATACÃO NOVECENTOS E SES- também chamado ipê (branco, amarelo e
SENTA (s.) - patacão que tinha o valor roxo), cuja floração é das mais belas; sua
de 960 réis. madeira é excelente para a fabricação de
móveis e para qualquer outra finalidade
PATACOADA (s.) - V. presepada. que requeira madeira durável; possui
uma resina que pega fogo facilmente,
PATI (s.) - grande árvore do vale do chiando e soltando labaredas verdes,
Araguaia, que produz madeira dura de como se fosse álcool; daí, passou a cha-
cor negra, semelhante ao ébano. mar-se pau-d’álcool, de que pau-d’arco
é corruptela. A entrecasca do ipê roxo
PATRIMÔNIO (s.) - lugarejo; povoa- tem ampla utilização, sob a forma de
ção; corrutela. infusão ou chá, como adstringente para
estancar hemorragias e cicatrizante, além
PATROA (s.) - esposa ou companheira de ser aplicado nas curas de artrite, cân-
(O problema de compras e administra- cer, feridas, males do fígado e do estô-
ção da casa eu deixo é com a patroa). mago, flores brancas, anemia, próstata,
inflamações externas e internas, reuma-
PATUÁ (s.) - amuleto; talismã; saqui- tismo e dermatoses em geral.
nho com rezas ou objetos de feitiçaria;
figa; bentinho. PAU-DE-ARARA (s.) - 1. caminhão
cheio de gente, geralmente romeiros ou
PACTUÁRIO (s.) - V. pacheco. bóias-frias (Nos dias da festa do padro-
eiro chegam centenas de paus-de-
PATUEIRO (s.) - V. pacheco. arara). 2. instrumento policial de tortura,
de raízes medievais, que consiste em
PAU (s.) - 1. árvore (Na porta da fa- dois cavaletes, sobre os quais é esten-
zenda eles amarravam os animais de- dido um varal que passa entre os pés e
baixo de um pau frondoso que dava mãos amarrados do preso, que fica sus-
uma bela sombra). 2. madeira (Antiga- penso e sem possibilidades de movi-
mente, os cabides era todos de pau; mentos, enquanto é torturado com pan-
cadas, afogamentos e choques, com o
465
objetivo de fazer uma confissão. No fi- Orelha-de-pau
nal da sessão de tortura, o preso geral- Pé-de-pau
mente fica entrevado, pela falta de cir- Perna-de-pau
culação do sangue. 3. nordestino. Pinica-pau
Quebra-pau
PAU-DE-FOGO (s.) - arma de fogo; re- Quebrar o pau
vólver. Quebrar pau no ouvido
Rir pros paus
PAU-DE-FUMO (s.) - designação de- Santo de pau oco.
preciativa do negro; cascabulho de loi-
ceira; fubá; negro da bissina. PAULA SOUSA (s.) - espécie de
chumbo grande para munição.
PAU-D’ÓLEO (s.) - V. copaíba.
PAU MELADO (s.) - espécie de brin-
PAU-FERRO (s.) - árvore da mata, da cadeira, em que dois meninos simulam
família das leguminosas, de madeira uma briga, um deles portando um pe-
extremamente dura, utilizada principal- daço de pau, previamente besuntado com
mente para a fabricação de móveis tor- fezes, graxa ou qualquer outra substância
neados. que cause sujeira. Os dois aproximam-se
de um casal de namorados e iniciam uma
PAU-MANDADO (s.) - adulador; cha- discussão, quando um deles alega que o
leirador; bate-pau; puxa-saco; man- outro só está bravatando porque está
dado. com um cacete na mão; este, depois de a
discussão chamar a atenção do namo-
PAU PRA TODA OBRA (exp.) - pes- rado, pede a este que segure o pedaço de
soa que realiza qualquer serviço e de- pau enquanto ele briga com o outro me-
sempenha bem qualquer função. nino; quando o rapaz pega na extremi-
dade do pedaço de pau, o moleque puxa,
PAU-RONCA (s.) - cigarro de palha; deixando o namorado com a mão me-
palheiro; porronca; racha-peito. lada, saindo em desabalada carreira.
PAU VELHO (s.) - carro velho; chim- PAUTA (s.) - 1. cabeçalho para exerci-
bica; furreca. tar a caligrafia; norma.
466
o par (Mal coloquei o brinco de ouro na o que ele cede, sendo facilmente reti-
menina, ela já perdeu um pé: ficou só o rado.
da orelha esquerda).
PEBADO (adj.) - encrencado; em situa-
VEJA TAMBÉM: ção difícil.
Abrir no pé
Aperta-pé PECA (adj. pronuncia-se pêca) - mur-
Arrasta-pé cha; qualquer fruta caída antes da matu-
Bicho-de-pé ração; chocha, em se tratando de fruta
Cair em pé (Só vimos no pomar da chácara uma
Canga-pé frutas pecas e laranjas azedas).
Com os pés no chão
Dar pé PEÇONHA (s.) - o primeiro leite que a
Dar no pé vaca produz, logo após o parto, e que
De a pé vem com rajas de sangue; colostro.
De orelha em pé
De pé no chão PEDAÇO (s.) - Espaço de tempo (Dali
De pé no estribo a um pedaço, o homem sumiu misterio-
Estar com o pé no estribo samente).
Lava-pés
Pegar no pé PÉ-D’ÁGUA (s.) - aguaceiro; chuva
Peia-pé-e-mão forte; toró.
Pisar no pé
Segura o pé! PÉ-DE-BODE (s.) - sanfona de oito bai-
Sem-pé-nem-cabeça xos.
Tirar o pé da lama.
PÉ-DE-BOI (adj.) - disposto; trabalha-
PEAR EMA (exp.) – contar mentiras; dor (Severino velho sempre foi um pé-
mentir. de-boi no serviço, trabalhando de sol a
sol).
PEBA (s.) - espécie mais comum de
tatu, de porte médio, de casco peludo e PÉ-DE-BRIGA (s.) - confusão; briga.
que se alimenta de vermes e, segundo o
povo, também de carne humana, abrindo PÉ-DE-CANA (s.) - V. pinguço.
seus buracos nas proximidades dos ce-
mitérios. O peba fêmea, a exemplo de PÉ-DE-CHINELO (s.) - pessoa sem
outras espécies de tatu, dá à luz vários importância.
filhotes de cada vez, com a particulari-
dade de serem todos do mesmo sexo. PÉ-DE-FERRO (s.) - instrumento de
Outra particularidade do peba é a de que, ferro utilizado pelos sapateiros para
ao entrar no buraco e ser seguro pelo apoiar o sapato para colocar salto ou
rabo, crava suas unhas no chão da toca, meia-sola.
não havendo homem, por mais forte que
seja, que consiga arrancá-lo; a única PÉ-DE-GALINHA (s.) - ruga do rosto,
forma de fazê-lo é enfiar um pedaço de principalmente perto dos olhos.
pau ou o próprio dedo no seu ânus, com
467
PÉ DE GALINHA NÃO MATA
PINTO (dit.) - indica que eventuais PEDIR PENICO (exp.) - V. pedir ar-
castigos da mãe para corrigir os filhos rego.
não traz seqüelas.
PEDIR VÊNIA (exp.) - bajular (Ele é
PÉ-DE-JANTA (s.) - pessoa que possui muito de pedir vênia a todos aqueles
os pés grandes em demasia. que têm poder de mando).
PEDIROLA (s.) - hábito de viver pe- PÉ-DURO (s.) - diz-se do animal sem
dindo (Não agüento mais essa pedirola raça; curraleiro.
de Cursino todo santo dia).
468
PÊ-EFE (s.) - abreviatura de prato PEGAR DOENÇA (exp.) - contrair
feito; disco voador (2). doença venérea.
PEEIRO (s.) - local onde se peiam os PEGAR MAL (exp.) - não ser reco-
animais de montaria para pastarem. mendável.
PÉ-FRIO (s.) - azarento; sem sorte; cai- PEGAR NA CURVA (exp.) - surpreen-
pora. der (A qualquer momento eu vou pegar
esse malandro na curva).
PEGA (s.) - pergunta ou problema cap-
cioso, com o objetivo de deixar alguém PEGAR NO DURO (exp.) - pegar no
em dificuldade (Esse professor tem uma trabalho pesado.
provas cheias de pegas, só para compli-
car a gente). PEGAR NO ESTRIBO (exp.) - adular;
puxar o saco; chaleirar.
PEGA (s. - pronuncia-se pêga) - gralha;
ave de cor preta e branca de canto estri- PEGAR NO PÉ (exp.) - ser insistente,
dente, que vive em bandos. maçante, inoportuno (Só porque eu fui a
um baile de máscaras fantasiado de
PEGADO (s.) - V. pregado; rapa. mulher, a turma fica pegando no meu
pé).
PEGA-MARRECA (s.) - diz-se da
calça excessivamente curta. PEGAR O BOI (exp.) - obter grande
vantagem; bamburrar.
PEGA-PRA-CAPAR (exp.) - confusão;
corre-corre (Na hora do pega-pra-ca- PEGAR PARELHA (exp.) - apostar
par, saiu gente até pela janela). corrida (duas pessoas).
469
PEIADA (s.) - chicotada; lamborada. PEIXE (s.) - protegido; peixinho
(Quando a sindicância chegou nos pei-
PEIDA-CHEIROSO (s.) - o tal; o xes do diretor, eles trataram de arquivá-
manda-chuva; aquele cujos atos não são la).
contestados.
PEIXINHO (s.) - V. peixinho.
PEIDAR (v.) - dar peido; soltar gases.
PEIXEIRA (s.) - faca de cabo de ma-
PEIDO (s.) - flato; ventosidade emitida deira de tamanho maior que as comuns..
pelo ânus; pum; bufa; vento; traque.
PELADA (s.) - partida de futebol não
VEJA TAMBÉM: profissional que não envolve qualquer
Enfiar peido em cordão. time; racha (1).
470
PENDOAR (v.) - enflorescer; florar (o
PELINTRA (adj.) - bem vestido; ja- capim ou a cana-de-açúcar).
nota; pancoso; repimpado.
PENDURAR A CONTA (exp.) - ficar
PÊLO-DE-JEGUE (s.) - espécie de devendo.
cobertor vagabundo.
PENDURICALHO (s.) - pingente;
PÊLO-DE-RATO (s.) - animal que tem coisa que está dependurada, principal-
o pêlo eriçado de cor amarronzada. mente no pescoço; badulaque; penduru-
calho.
PELO SINAL (s.) - sinal-da-cruz; pedro
sinal (Antes do terço, todo mundo fez o PENDURUCALHO (s.) - V. penduri-
pelo sinal antes que o padre mandasse). calho; badulaque.
471
PEQUI (s.) - fruto do pequizeiro, de cor PERDER A CABEÇA (exp.) - desati-
verde e cujo caroço amarelo possui sabor nar.
acentuado, rico em proteínas e gorduras,
de ampla utilização na culinária para se PERDER A ESPORTIVA (exp.) - alte-
cozinhar junto com o arroz, servindo rar-se por qualquer motivo; perder as
também para se fazer um delicioso licor estribeiras; apelar (Nunca pensei que
e para a fabricação se sabão caseiro. O você fosse perder a esportiva por uma
pequi deteriora-se com facilidade no coisinha assim).
estado in natura, mas pode ser guardado
por meses a fio congelado; para tanto, ao PERDER AS ESTRIBEIRAS (exp.) -
abrir-se a casca para retirá-lo, não se V. perder a esportiva.
pode tocá-lo com a mão, espremendo a
casca, de forma que o caroço caia dire- PERDER O CABAÇO (exp.) - perder a
tamente no recipiente onde será guar- virgindade; deixar de ser virgem.
dado, sob pena de ficar rançoso em
pouco tempo. PERDER O NORTE (exp.) - ficar sem
saber onde está; desorientar-se.
PEQUIZEIRO (s.) - árvore de grande
porte, que produz o pequi e cuja madeira PERDER O PIQUE (exp.) - cansar-se;
é excelente para diversas utilidades e esgotar as forças.
cujas flores são o alimento preferido das
caças, sendo excelente ponto para se PERDER-SE (v.) - prostituir-se; cair na
esperar. vida.
472
bete curuba os remédios para a cura da
pereba). PERUAR (v.) - sondar; observar; sa-
pear.
PEREIRO (s.) - espécie de árvore cuja
madeira, flexível, é própria para fazer PESADO - 1. (adj.) - azarado; caipora
bodoques e cabos de ferramentas; gua- (Hoje amanheci pesado: de manhã re-
tambu. cebi uma cobrança e de tarde quebrei a
perna). 2. (s.) - trabalho diário; batente
PEREQUETÉ (adj.) - elegante; catita. (2).
Existe no Tocantins uma quadrinha que
é dita quando se quer fazer um chiste PESADONA (s.) - mulher nos últimos
com uma pessoa de nome José: dias de gravidez.
473
PETELECO (s.) - V. piparote. PICAR A MULA (exp.) - fugir; esca-
pulir; sair.
PETROMAX (s.) - lampião a querosene
ou a álcool, com manga (luva) incandes- PICARETA - 1. (s.) alvião. 2. (adj.)
cente. velhaco; vigarista; salafrário.
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PICUMÃ (s.) - V. pucumã. PIMENTA-DE-MACACO (s.) - árvore
cujos frutos, finos e roliços, servem de
PIDÃO (adj.) - que vive pedindo as tempero para a carne; jaborandi.
coisas.
PIMENTA-DO-REINO (s.) - pimenta
VEJA TAMBÉM: preta.
Olhar pidão.
PINDA (s.) - maneira de pescar em que
PIEIRO (s.) -V. peeiro. se amarra a linha do anzol em um galho
flexível na margem do rio, de modo a
PIFAR (v.) - estragar; enguiçar (No cansar o peixe iscado.
meio do caminho, o carrinho achou de
pifar). 2. morrer (Com a operação, feita PINDAÍBA (s.) - 1. árvore que medra
sem testes preliminares, o coração de nas cabeceiras de nascentes e nos brejos.
Dudé parou e ele pifou). 2. pobreza; situação difícil; V. estar na
pindaíba; na pindaíba..
PIGOREIRO (s.) - V. pegureiro.
VEJA TAMBÉM:
PIJAMA-DE-MADEIRA (s.) - caixão- Na pindaíba.
de-defunto; ataúde; esquife.
PINDOBA (s.) - espécie de palmeira
PILA (s.) - por influência gaúcha, di- que produz coco comestível e palhas de
nheiro; unidade do padrão monetário em excelente qualidade para se cobrir casas.
vigor; mango; puto (Vendi a bicicleta
por duzentas pilas). PINGA (s.) - cachaça.
475
PINGA-PINGA (s.) - vôo que, no seu PINICAR (v.) - 1. beliscar. 2. sair rapi-
trajeto, faz muitas escalas; viagem de damente (Pegou a mulinha ruça e pini-
ônibus que pára em todo lugar; cata- cou na estrada).
corno.
PINICÃO (s.) - beliscão.
PINGO (s.) - quantidade diminuta (Com
aquela dinheirama só consegui com- PINICO (s.) - vaso em que se faz as ne-
prar um pingo de mercadorias). cessidades durante a noite; urinol; dou-
tor (2); penico.
PINGO DE GENTE (s.) - criança
muito miúda, mas viva e inteligente. PINIQUEIRA (s.) - V. rapariga.
PINGOLA (s.) - órgão sexual mascu- PINÓIA (s.) - coisa sem valia (Não sei
lino; lolota; pistola; rola; pomba. por que comprei essa pinóia, pois
quando precisei viajar urgente ele en-
PINGUÇO (s.) - cachaceiro; pé-de- crencou).
cana.
PINOTE (s.) - pulo; salto (Os bezerri-
PINGUELA (s.) - ponte improvisada nhos divertiam-se dando pinotes no
com um tronco de árvore, para permitir a pátio da fazenda).
passagem sobre um vale ou córrego.
PINTA (s.) - elegância; aparência. 2.
PINGUELO (s.) - 1. gatilho de arma. 2. sarda.
clitóris; grelo.
PINTA-BRABA (adj.) - inquieto; tra-
PINGUELO-DE-ARAPUCA (s.) - vesso; malino (Este menino é miudi-
pessoa pequena; baixinho; tamborete. nho, mas é pinta braba).
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VEJA TAMBÉM:
PINTO (s.) - órgão sexual masculino. Dar o pira.
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ataca em geral animais feridos ou quase bula inferior até a parte final da barba-
imobilizados por acidente ou velhice. tana anal. Da linha lateral para cima, a
Contudo, no auge da fome, ataca audaci- cor das escamas varia muito, conforme a
osamente animais sadios e muito gran- idade, a estação do ano e a época do
des, não sendo raro verem-se vacas des- acasalamento, indo do cinza-claro ao
providas de mamas, devido ao ataque de prata embaçado. Na pele da piranha jo-
piranhas nas lagoas; durante o furor do vem existe, em quase toda a extensão do
ataque, costumam devorar suas próprias corpo (exceto na cabeça, barbatanas e
companheiras. Seja uma grande sucuri parte ântero-posterior do dorso), é toda
ou um jacaré, uma vez feridos, as pira- chuviscada com um grande número de
nhas não relutam em atacá-los em car- pontos azul-escuros. Os dentes, de
dume, com redobrado ímpeto. Sua vora- forma triangular, são possantes e afia-
cidade chega a tal magnitude, que já se dos, implantados em arcadas dentárias
encontrou piranha dentro de carcaça de semicirculares. Possui 14 dentes superio-
bois e outros animais, pois, no afã de res e igual número inferiores, sendo os
devorar, costuma ficar presa dentro do da arcada superior menores do que os da
animal em que entrou a poder de denta- inferior, que possuem o mesmo tama-
das. Seu olfato é aprimoradíssimo, sen- nho, estando os mais da frente em posi-
tindo o cheiro de sangue até mesmo na ção ereta, e os demais recurvos para trás;
correnteza. Tem a forma de um inofen- a arcada superior, a exemplo da inferior,
sivo pacu. Sua cabeça é constituída de tem os dentes da frente implantados a
ossos compactos, duríssimos, de onde pique, e os demais são recurvados para
sobressaem os olhos graúdos de um trás. Os dentes da piranha possuem a
vermelho-escarlate. As escamas da pira- curiosidade de terem um dente ainda
nha são miúdas e de difícil remoção. No menor entre cada dois dentes, e, ao con-
mês de dezembro elas estão muito gor- trário do que se supõe, os dentes superio-
das e ovadas, quando suas escamas per- res e os inferiores não se encaixam como
dem o colorido e ficam escuras. Nessa uma engrenagem, e no ato da mordida
fase, suas escamas perdem o colorido e apenas roçam, o que faz com que cortem
ficam escuras (à exceção da piranha não só a presa, dilacerando-a, mas tam-
branca), sendo que as da base do flanco bém anzóis e arames de seu encastôo. O
são as mais escuras. Procuram aninhar- rabo da piranha, além de ser o órgão
se à margem dos rios, igarapés e lagos e propulsor do corpo, tende e levar o que
preferem os locais emaranhados de raí- toca em direção à boca, à maneira do
zes, onde cavam com a boca pequenos jacaré; a flexibilidade da coluna verte-
buracos, onde depositam seus ovos. bral permite-lhe que apanhe, com um
Logo após, macho e fêmea revezam-se brusco movimento de encurvamento da
na guarda, espantando ou ameaçando parte anterior do corpo, tudo aquilo que
qualquer predador. Ao sentirem a pre- a cauda arremessa para a frente. É um
sença do homem, correm sujando a água peixe audacioso no grau mais elevado,
em torno do local onde estão depositados atacando até mesmo seus predadores
os ovos, a fim de ocultá-los do inimigo. naturais, como o jacaré e a lontra, ro-
A cor vermelha da piranha é mais forte a endo-lhes a cauda para desequilibrá-los,
partir da lateral para baixo, tornando-se a exemplo do que fazem com os demais
mais acentuada na base do corpo, numa peixes. A piranha costuma perseguir um
estreita faixa que vai da ponta da mandí- peixe já iscado no anzol, mordendo-lhe a
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cauda com tamanha firmeza, que acaba claras, e as da cauda, a partir do tronco,
sendo trazido com ele no ato de ser reti- vão ficando cada vez mais vermelhas,
rado da água pelo pescador. Tracajás chegando cada escama a medir 9cm de
feridos são comidos de piranhas até a comprimento por 6cm de largura. Essas
última fibra muscular, deixando apenas o lâminas, embora pouco flexíveis, são
casco e os ossos. Cozida, assada, frita ou muito resistentes, a ponto de chegar a
em forma de caldo, tem sabor inigualá- impedir que o arpão as traspasse. Sua
vel, e pesquisas científicas atestam que cabeça é dura, e os olhos, graúdos e sali-
sua carne tem alto teor nutritivo e esti- entes. Tem o sentido da visão extraordi-
mulante afrodisíaco. nariamente aguçado à noite, o que faci-
lita surpreender suas presas. Na cabeça
PIRÃO (s.) - prato feito com um caldo existem 23 “bolsas mamárias” que se-
escaldado na farinha de mandioca para gregam um líquido leitoso, o qual, na
acompanhar outro, geralmente o peixe. opinião dos pescadores, serve de ali-
mento para os filhotes recém-nascidos.
PIRAPITINGA (s.) – V. caranha. Sua língua é tão áspera, que serve de
ralador para o caboclo ralar guaraná e
PIRAQUARA (s.) - morador da mar- outras sementes. Com a cabeça robusta,
gem dos rios; ribeirinho. chata e afunilada, rompe obstáculos,
graças aos vigorosos impulsos que lhe dá
PIRAR (v.) - 1. dar o fora. 2. ficar azu- a potente cauda. Tanto quanto a visão, o
retado; endoidar. sentido da audição permite que ele de-
tecte minúsculos ruídos a dezenas de
PIRARARA (s.) - grande peixe do rio metros de distância, como o chapinhar
Araguaia, de cabeça descomunal e corpo do remo na flor da água e os cochichos
amarelo, vermelho, preto e branco. da tripulação. É um peixe muito arredio,
preferindo passar o dia nas partes pro-
PIRARUCA (s.) - a fêmea do pirarucu. fundas, turvas e sossegadas dos rios e
lagos ou em abrigos seguros, como bar-
PIRARUCU (s.) - é o maior peixe de rancos inacessíveis. Possui um fôlego
escamas do Brasil, conhecido como “o muito longo, podendo passar cerca de
bacalhau amazônico”, em fase de extin- duas horas submerso. Mesmo sabendo
ção, face à caça indiscriminada, devido à que está sendo tocaiado pelo homem,
excelência de sua carne, principalmente costuma vir à tona uma média de três
em forma de mantas, que são salgadas e vezes num mesmo lugar, mas antes de
comercializadas. Tem seu habitat na boiar dá um sinal característico, o que
Bacia Amazônica, nos rios Araguaia, facilita sua caçada. Costuma avisar os
Tocantins, rios e lagos do Tocantins, companheiros de algum perigo, batendo
Mato Grosso, Pará, Amazonas e Amapá. com a cauda na água. Embora seja um
Atinge cerca de 2,80m de comprimento peixe, sente necessidade de aquecer-se, e
e 120kg de peso. O macho geralmente é nos dias ensolarados, nada havendo que
menor e mais colorido. Seu corpo e bem o incomode, vem à tona, permanecendo
robusto, coberto por escamas graúdas e muito tempo com o dorso de fora, man-
ovais, de coloração variada: as do dorso tendo, no entanto, a cabeça submersa.
e do flanco são escuras; as da base do Outras vezes, deixa-se deslizar meio
flanco são rubro-negras; as da barriga, boiado, com as escamas esturricadas e
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eriçadas, ocasião em que é fácil de ser PIROSCA (s.) - outro nome do pira-
arpoado. No período do acasalamento, rucu.
procura ficar nas confluências dos rios,
esperando que a água aumente, e ele PIRRAÇA (s.) - V. birra.
possa atingir os lagos. A época de maior
incidência do acasalamento é geralmente PIRUÁ (s.) - grão de mearim que, ao ser
na primeira semana de abril, indo até a feita a pipoca, permanece sem arreben-
última semana de maio. O lugar onde ele tar.
próprio limpa para pôr os ovos é cha-
mado de cama, e o buraco no seu centro, PIRUETA (s.) - acrobacia (Os bem-te-
que o pirarucu faz com a boca, deno- vis, nos dias de sol, davam piruetas no
mina-se panela. O formato da cama é ar, atucanando os gaviões ).
semelhante ao de um forno de torrar
farinha, e quando esta fica pron.ta a ova PISA (s.) - surra (Quando o ladrãozi-
é posta na panela; a partir daí, tanto o nho chegou na delegacia, levou uma
macho quanto a fêmea vigiam-na dia e pisa, que foi pra água de sal).
noite com muito desvelo, pois a ova é
presa de muitos peixes; o macho é mais PISADURA (s.) - ferida causada no
amoroso que a fêmea, que, de vez em lombo do animal pelos arreios.
quando, se distancia da cama em busca
de alimento, o que não faz o macho.Uma PISANTE (s.) - sapato.
ova de pirarucu médio pesa, em regra,
um quilo, mas a de um de tamanho PISA-PÉ (s.) - pedal do tear caseiro (V.
grande chega a mais de um quilo e meio. roda).
Acredita-se que um casal de pirarucus,
não sendo molestado, chega a criar 1000 PISAR (v.) - 1. pilar no pilão (Como
filhos. Como caçador, o pirarucu em a estou muito ocupado, trouxe esse café
mesma faculdade mimética do camaleão: torrado pra você pisar pra mim). 2. cau-
se a água for clara, suas escamas ficam sar pisadura (Aquele suadouro quase
esbranquiçadas; se for barrenta e escura, sem recheio pisou meu cavalo de sela).
a cabeça, as escamas e as barbatanas
passam a ter a cor da água. Sua pesca é PISAR MACIO (exp.) - ter cautela
feita de várias formas: de arpão, anzol, (Com o patrão que tem, ele deve
rede e tapagem. A de arpão pode ser mesmo é pisar macio).
feita diretamente da embarcação, de um
jirau (mutã) construído na beira da água PISAR NA BOLA (exp.) - cometer um
onde o peixe costuma ficar, ou da riban- equívoco; dar uma mancada; fracassar
ceira. (Ele, desta vez, pisou na bola e foi de-
mitido).
PIRATINGA (s.) - V. filhote.
PISAR NO PÉ (exp.) - provocar.
PIRIRI (s.) - V. caganeira.
PISEIRO (s.) - 1. muitas pegadas no
PIROCA (s.) - pênis; lolota. mesmo caminho (O piseiro indicava que
os queixadas que acabavam com a roça
de mandioca eram muitos). 2. rastros;
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pistas; pegadas; piso (Pegaram o piseiro gar a saroba, o povinho mofino capou o
da onça e acabaram acuando a bicha gato).
numa furna da caleira).
VEJA TAMBÉM:
PISO (s.) - pegadas; pistas; piseiro (2). Não valer uma pitomba.
(A polícia pegou o piso dos ladrões,
mas não pôde alcançá-los). PIULA (s.) - pílula.
PITEIRA (s.) - planta que produz a PIXUÁ (s.) - fumo-de-rolo; fumo feito
pita. de folhas sobrepostas prensadas. A espé-
cie de mel que sai do fumo cola as as
PITO (s.) - 1. cigarro de palha; pa- folhas, formando um bloco semelhante a
lheiro; pau-ronca. 2. reprimenda; carão; um tijolo. Difere da pixuca (V.).
repelão; sabão.
PIXUCA (s.) - espécie de fumo-de-rolo,
PITOCO (s.) - V. cotó; nabuco; rabicó; que difere do pixuá, porque a pixuca é
sura; suruca. feita com o enchimento de um gomo de
taboca com folhas de fumo prensado e
PITOMBA (s.) - bala de arma de fogo bem socado e posteriormente vedade;
(Quando as pitombas começaram a ras- passados pouco mais de trinta dias, que-
bra-se a taboca, ficando um tolete de
481
fumo modelado, que é enrolado em pa- quinha trabalhar, ele só quer saber é de
lhas de milho. Sua qualidade é inferior ser poeta e chegar em casa de manhã).
ao pixuá.
POITA (s.) - peso amarrado na canoa
PIXURI (s.) - especiaria semelhante à para servir de âncora.
noz moscada, que tem aplicação tera-
pêutica na medicina caseira e é muito POITAR (v.) - ancorar (canoa).
utilizada para se adicionar ao simonte.
POJO (s.) - último leite da ordenha.
PLÁ (s.) - conversa; bate-papo.
POLDRO (s.) - potro; filhote de cavalo.
PLANTAR A MÃO (exp.) - bater; dar
um tapa no rosto (O safado do Diogui- POLEIRO (s.) - lugar onde as galinhas
nho plantou a mão no João Capanga dormem, podendo ser uma construção de
sem qualquer motivo). madeira ou mesmo uma árvore.
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POMBA-SEM-FEL (s.) - pessoa ingê- PÔR A BOCA NO TROMBONE
nua, boa ou inocente, incapaz de qual- (exp.) - reclamar; denunciar.
quer malícia.
PÔR ÁGUA NA FERVURA (exp.) -
PONDORÔ (s.) - poderio; presunção; acabar uma discussão (A intervenção do
falsa importância (Jesuíno chegou da pai na discussão pôs água na fervura).
cidade grande num pondorô medonho).
PÔR A MÃO NO FOGO (exp.) - afi-
PONGA (s.) - carona (Furou o pneu de ançar o procedimento de alguém.
meu carro, mas peguei uma ponga com
Avim). PORAQUÊ (s.) - peixe-elétrico; treme.
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POR DEUS DO CÉU! (exp.) - espécie difícil limpar). 2. expressão pejorativa
de juramento (Eu não sou culpado para classificar algo sem definição (Esse
disso, por Deus do Céu!). porqueira não é de trabalhar, pois não
arriba uma palha). 3. feitiço (Dizem
POR FADO (exp.) - por capricho; des- que o Cido ficou ruim de sorte por
necessariamente; de sobreposta (Este conta de porqueira que fizeram).
menino está pedindo comida só por
fado, pois acabou de almoçar). PORRA - 1. (s.) esperma. 2. (int.) ex-
pressão interjeitiva de desaprovação ou
PORFÍRIO (s.) - disenteria; caganeira; de raiva (Porra, João, você me saca-
profiro. neou!).
POR GAUCHADA (exp.) - por goza- PORRADA (s.) 1. pancada (No meio da
ção; para fazer bonito (Só por gauchada briga, ele levou uma porrada de cacete,
eu lhe disse que ele era o melhor). que desmaiou). 2. grande quantidade;
piqueiro; mundo véio (Quando Jua-
POR GOSTO (exp.) - de propósito; rindo veio da rua, trouxe uma porrada
voluntariamente (Desculpe-me, pois não de sal e remédio pro gado).
foi por gosto que pisei seu pé).
PORRE (s.) - bebedeira; inalação de
POR HONRA DA FIRMA (exp.) - a lança-perfume.
contragosto; por obrigação (Compareci
à reunião por honra da firma). PORRETE (s.) - sarrafo; cacete.
POR NOME (exp.) - chamado; que tem PORRINHA (s.) - jogo de palitinho, em
o nome de (Tratei do negócio com um que duas pessoas, cada uma com três
funcionário por nome Virgílio). palitos, tenta adivinhar quantos palitos
somam os que ambos têm na mão; ganha
PÔR NOME (exp.) - injuriar; descom- o jogo quem, acertando o palpite, e eli-
por (Após a discussão, a mulher saiu à minando em cada mão um palito, acaba
rua pondo nome na comadre). ficando sem nenhum.
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peão estava nas últimas, mandaram um PRACOLÁ (adv.) - mais além (Ele
positivo buscar o médico). caiu deitado aqui, enquanto o chapéu
caiu pracolá).
POSSUÍDOS (s.) - 1. bens; haveres;
propriedades (Se a gente for apurar no PRA DIZER (exp.) - expressão muito
dinheiro os possuídos do coronel usada que significa “suponhamos” (Pra
Afonso, dá dinheiro que nem ladrão dá dizer que você tenha ganho na loteria,
conta). 2. órgão genital masculino (O o que faria com o dinheiro?).
coice do jegue foi bem nos possuídos do
vaqueiro). PRA ENCURTAR A HISTÓRIA
(exp.) - para ser breve; em resumo; en-
POSUDO (adj.) - V. pancoso. fim; pra encurtar a razão (Pra encurtar
a história, eu fiquei sem um centavo).
POTÓ (s.) - pequeno inseto que segrega
um líquido causador de queimaduras na PRA ENCURTAR A RAZÃO (exp.) -
pele. V. pra encurtar a história.
POTOCA (s.) - conversa fiada; mentira. PRA-NADA (adj.) - inútil (Em matéria
de trabalho, ele era mesmo um pra-
POTOSI (s.) - metal branco e resistente nada).
usado para fazer estribos de arreio; cris-
tofe; alpaca. PRANTAFORMA (s.) - V. plataforma.
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PRECANCHO (s.) - prato constituído Caixa-prego
do focinho, dos pés e do rabo de porco Dar o prego
cozidos. Não bater prego sem estopa.
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PROMESSA (s.) - apelo ao sobrenatural
PRIANGU (s.) - V. curiango. como meio e reforço para a realização de
um intento, decorrente da confiança em
PRIGISTIR (v.) - persistir; vingar determinados santos. Como contrapar-
(Plantei muitos abacateiros, mas só um tida à ajuda, a pessoa ofertam elementos
prigistiu). naturais (doar uma determinada coisa ou
mesmo dinheiro à igreja), espirituais
PRIMA (s.) - V. rapariga. (rezar um terço ou mandar dizer uma
missa) ou fazer determinado sacrifício
PRIMO-IRMÃO (s.) - primo-irmão; (ir a pé a determinada romaria). É muito
primo em primeiro grau (Bené e Dito comum encontrarem-se nas igrejas foto-
são primos-irmãos, pois o pai de ambos grafias, quadros ou esculturas que repre-
são filhos do mesmo pai). sentam partes do corpo humano, simbo-
lizando que a pessoa foi curada de um
PRIQUITA (s.) - V. priquito (2). mal naquela parte do corpo; são os cha-
mados ex votos. As promessas podem
PRIQUITO (s.) - 1. variação de “peri- ser feitas para casos de doenças ou
quito”. 2. órgão sexual feminino; va- quaisquer outras dificuldades, e podem
gina; priquita. ser cumpridas por quem prometeu ou
pelo beneficiário.
PRIQUITO NA MANGA (exp.) - ex-
pressão que serve para designar grande PROMOMBÓ (s.) - espécie de pesca
ajuntamento de gente, acompanhado de que consiste em levar na canoa uma luz
alarido; a expressão lembra o tempo de bem forte; os peixes, assanhados, pulam
mangas, quando os periquitos ficam aos dentro da canoa. V. facho (2)
bandos cantando ensurdecedoramente
nas mangueiras (Quando a mesa dos PROPAGANDA (s.) - V. poesia.
meninos foi servida, foi ver priquito na
manga). PROSA (s.) - 1. conversa (O compadre
Miligido tem uma prosa muito boa). 2.
PROANO (exp.) – para o ano. desaforo (Quando eu encontrar com
aquele moleque, vou enchê-lo de
PROCURAR CHIFRE NA CABEÇA prosa). 3. (adj) - fanfarrão; que conta
DE CAVALO (exp.) - buscar o impos- vantagens sobre o que faz ou o que diz
sível por mera implicância (Esta birra ter feito (Esse Benedito é muito prosa e
do patrão atrás de um malfeito do ca- vive apregoando que ele foi o responsá-
pataz, que é homem sério, é procurar vel pela verba que chegou).
chifre na cabeça de cavalo).
PROS COCOS (exp.) - de qualquer
PRODIJICAR (v.) - prejudicar. jeito (Ele disse que era bom profissio-
nal, mas fez um serviço pros cocos); que
PROFIRO (s.) - V. caganeira. não dá importância para nada; desmaze-
lado (Não ligue para o Eufrasino, pois
PROGUESSO (s.) - progresso. ele sempre foi um camarada assim pros
cocos).
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PROSEAR (v.) - V. bater papo. (Sem qualquer espécie de consideração,
ele deixou o cobrador pubando na sala
PROSÓDICO (adj.) - conversador (Ele de espera).
chegou da cidade grande todo prosó-
dico). PUÇÁ (s.) - fruto do puçazeiro, de sa-
bor doce e adstringente, que cresce nas
PROVISÓRIO (s.) - capim nativo; chapadas.
agreste; jaraguá; europeu.
PUCUMÃ (s.) - fuligem escura que se
PROVOCAR (v.) - 1. instigar; causar. forma no teto da cozinha onde existe fo-
2. ensaiar vômito (Depois que encheu o gão caipira; picumã.
pandu, ele passou muito tempo provo-
cando, angustiado). PUIM (s.) - 1. poeira fina como fubá mi-
moso. 2. peido sonoro e agudo.
PRUVU (s.) - V. caldo-de-feijão.
PULA-MACACO (s.) - brinquedo in-
PUAIA (s.) - V. poaia. fantil, em que se riscam várias linhas no
chão, formando quadrados, para se pular
PUBA (s.) - 1. subproduto da mandioca, com um pé só, de acordo com regras es-
que resulta da permanência desse tubér- tabelecidas; também chamado amareli-
culo na água até desmanchar-se, ser- nha.
vindo para se fazer a chamada farinha de
puba. 2. espécie de bolo feito dessa PULAR A CERCA (exp.) - V. pular o
massa, assado ao forno; manuê. cambão.
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PUTA VELHA (s.) - V. macaco velho. Quando se esfriar, pingam-se 3 gotas de
iodo e dá-se à criança de 2 em 2 horas
PUTEIRO (s.) - prostíbulo; casa-das- uma dose (1 colher de sopa). Para aces-
primas; curral-das-éguas; randevu. sos de asma, dar ao paciente uma cebola
branca da miúda, dormida no sereno,
PUTO (s.) - 1. excessivamente zangado para comer. Dentro dos recursos da
(Hoje eu amanheci puto da vida, com fauna, existe o remédio tido como efi-
essa notícia ruim). 2. V. mango; pila caz: comer carne de gia, além de outros,
(Você me pegou hoje sem um puto no como chá do chocalho de cascavel, após
bolso). torrado e moído (que pode ser tomado
como rapé); uma colherinha de banha de
PUXA (s.) - doce liguento feito de rapa- cascavel adicionada ao café, ao chá ou
dura derretida. ao leite; comer carne de jacu, de raposa
(sem sal) ou tomar chá de casco de cá-
PUXAÇÃO (s.) - 1. V. puxado. 2. adu- gado. Dentro os agentes místicos, há
lação. superstições que - dizem - ajudam a cura
da asma, como: cuspir na boca de cá-
PUXADA (s.) - cômodo que se constrói gado 3 dias seguidos, uma vez por dia;
anexo à casa. cuspir na boca de peixe vivo e depois
soltá-lo n’água.
PUXADO (s.) - asma; dispnéia; chiado;
puxação; puxamento; puxeira - Há vá- PUXA-ENCOLHE (s.) - indecisão (Fi-
rios remédios, dentre eles: 1) Pega-se caram naquele puxa-encolhe, e acabou
uma cabaça madura (não seca), fura-se- não fazendo o negócio).
lhe um buraco, colocando-se por ali
meio quilo de açúcar-da-terra e após PUXAMENTO (s.) - V. puxado.
vedá-lo bem enterra-se a cabaça a pouca
profundidade; sobre o local acende-se PUXAR (v.) - 1. herdar traços caracte-
um fogo, de forma a aquecer a cabaça, rísticos de ascendente (Aquele moleque
deixando-o apagar-se por si; três dias saiu puxando o pai na esperteza). 2.
depois, desenterra-se a cabaça, dentro da sentir falta de ar (Quando ele chegou ao
qual ficará um mel amargo, que deverá hospital, já estava puxando muito). 3.
ser ingerido durante três dias consecuti- expulsar; escorraçar (Como o rapaz
vos, três xícaras por dia. Se o asmático nada queria com a vida, o sogro acabou
vomitar com o remédio, a cura é certa. 2) puxando-o de casa).
Aspirar o vapor da água em que esteja
sendo fervida uma cabaça madura. 3) PUXAR A REZA (exp.) - liderar uma
Tomar chá de semente de girassol várias reza; iniciar a cantoria ou a recitação de
vezes ao dia. Para asma de criança, orações.
deve-se dar chá de flor de mamoeiro-
macho preparado da seguinte da seguinte PUXAR DA PERNA (exp.) - capengar;
forma: toma-se um punhado de flores, caxingar (Com o acidente, ele ficou pu-
escalda-se, coloca-se num litro d’água e xando da perna esquerda).
ferve-se por 10 minutos. Depois, coa-se,
adoça-se com 250g de açúcar e leva-se PUXAR FOGO (exp.) - beber e embri-
ao fogo até se transformar num mel fino. agar-se (Em vez de puxar a enxada na
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roça, ele gosta mesmo é de puxar fogo e conseguiu lembrar o número da conta
nos botecos). no banco).
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-Q-
QUADRA (s.) - época (Vicejavam na QUARADOR (s.) - coradouro; lugar
tapera o jasmim, o bogari e outras flo- onde se estendem as roupas para se alve-
res daquela quadra de ano). jarem.
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ele usava uma quartinha de barro para QUEBRANTO (s.) - doença infantil
esfriar a água). que, segundo a crendice popular, é cau-
sada pelo mau-olhado (zói ruim), fa-
QUARTO (s.) - medida de extensão que zendo parte da magia negativa, decor-
equivale a 1,5 km (um quarto da légua). rente do poder que certos indivíduos,
principalmente invejosos, têm de,
QUARTOS (s.) - anca; bacia pélvica olhando para uma pessoa, animal ou
(Com a queda, ficou com uma terrível planta, estes ficarem doentes, definhando
dor nos quartos). até morrer, se não for atalhado com reza
pelo benzedor. Diz-se que todas as pes-
QUATI-ANDA-SÓ (s.) - quati que, soas podem causar o quebranto, pois
tendo sido o chefe do bando, exercia a todas as pessoas possuem uma irrediação
tarefa de reprodutor e que, ao ficar idoso negativa, umas mais, outras menos. A
e perder a chefia, passa a andar sozinho; crença é velha, pois, na Idade Média, S.
em razão disso, e não tendo que dividir a Tomás de Aquino já dizia que “os porta-
alimentação com o bando, torna-se dores de mau-olhado viciavam o ar a
maior e mais gordo. certa distância”. O quebranto mais forte
e, por conseguinte, mais difícil de ser
QUATRO-POR-UM (s.) - espécie de curado, é aquele que provém de pessoa
parceria que é feita para remunerar o va- não invejosa, como a que se admira da
queiro, onde se sorteia para ele um be- beleza de uma criança. Em certos luga-
zerro em cada grupo de quatro. V. sorte. res faz-se a distinção entre quebranto e
mau-olhado: é quebranto quando se
QUEBRA (s.) - 1. falência. 2. colheita trata de pessoas (principalmente crian-
do milho (a do arroz é apanha; a do fei- ças), e mau-olhado, quando animais e
jão é arranca). 3. desconto (Na compra plantas. O sintoma de quem está de que-
da vaca, ele ainda me deu uma quebra branto é: olhos lacrimejantes, bocejos
de vinte por cento). contínuos, moleza no corpo, inapetência
e tristeza, seguindo-se uma febre alta,
QUEBRA-COSTELAS (s.) - abraço seguida de infecção intestinal, vômito e
muito apertado. rápido depauperamento. No mau-
olhado, o sintoma na planta é esta ficar
QUEBRADO 1. (adj.) - sem dinheiro rapidamente murcha, e nos animais, é
(Saí da porcaria daquele negócio com- uma grande tristeza, ficando visivel-
pletamente quebrado). 2. (s.) - quanti- mente triste e inapetente o animal, e en-
dade, geralmente de dinheiro, que ex- corujada a ave. A pessoa que tem mau-
cede às dezenas (Viajei com noventa olhado chega a desandar tachada de sa-
reais e uns quebrados). bão ou de doce, do açúcar que esteja
refinando e até a derrubar passarinho do
QUEBRA-GALHO (s.) - algo provisó- poleiro da gaiola. A cura do quebranto
rio, apenas para atender uma emergên- ou do mau-olhado não é alcançada pela
cia. medicina convencional, mas apenas por
fatores místicos e pela benzeção. Pre-
QUEBRA-JEJUM (s.) - café da manhã; vine-se o quebranto queimando-se a re-
merenda. sina e as folhas de alecrim, o alho e a
cachaça misturada com guiné como de-
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fumador, além de manter no pulso da E o menino Fulano fica sarado.
criança uma figuinha (V. figa) atada em Se fô nos olhos do minino,
uma fita vermelha. Para expulsar o que- Santa Luzia é quem vai tirá;
branto, a reza mais comum é a seguinte, Se fô na cabeça do minino,
que é administrada benzendo-se a cri- É são Pedro quem vai tirá;
ança com um raminho de pimenteira: Se fô nos ouvido do minino,
É Santa Polônia quem vai tirá;
“Santa Catarina, Se fô no pescoço do minino,
Quando andava pelo mundo, É são Brás quem vai tirá;
De três coisas tirava, Se fô na cacunda do minino,
De mau-olhado e revirado. Nossa Sinhora do Rosário
Se for mau-olhado, sara; Quem vai tirá;
Se for revirado, Se fô no corpo do minino,
Vai pras ondas do mar. Nossa Sinhora do Perpétuo Socorro
Tire esse mau-olhado quem vai tirá;
Desta criança, Se fô na barriga do minino,
Pra nunca mais, É o Divino Esprito Santo quem vai tirá;
Pra sempre, amém! Se fô no braço ou na mão do minino,
É São Sebastião quem vai tirá;
Criança, eu te benzo, Se fô na bunda, na perna, no pé do mi-
Com o poder de Deus Pai, nino,
Com o poder de Deus Filho É São Pedro, São Paulo
E o Espírito Santo”. E os anjo do céu
E minha Nossa Senhora,
Há outra benzeção, com a seguinte fór- Mãe dos Home
mula, que é repetida três vezes, fazendo E os ares quentes,
a cruz sobre a criança afetada: Os ares frios,
Ares de vento,
“Quebranto e mau-olhado, Ares le arrenego,
Maldito e excomungado, Em nome do Padre,
Dois te bota, três te tira, Da Virge,
Que são as três pessoas D e todos os santos,
Da Santíssima Trindade: Que se quebre todos os quebranto,
Pai, Filho e o Espírito Santo”. Com três Padre-Nosso
E três Ave-Maria. Amém.”
Há, ainda, outra reza para curar o que-
branto, em que o benzedor, fazendo cruz Há uma outra oração, que é administrada
sobre a cabeça da criança acometida do com um ramo de pinhão roxo, fazendo
mal, diz: cruz sobre o paciente, enquanto se diz:
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E da Virgem Maria. quebrou a cara quando pensou que a
Amém, assim seja!”. menina aceitaria o noivado).
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QUEBRAR PAU NO OUVIDO (exp.) bém é recomendado socar-se uma folha
- não dar atenção (Não adiantaram os de couve bem escura, misturá-la com um
conselhos: o rapaz quebrou pau no ou- copo de leite cozido e beber-se em je-
vido e foi farrear). jum. Talvez por ser o mais difícil para
conseguir hoje em dia, devido às leis de
QUEDE (pron..) - V. cadê. proteção à fauna, está caindo em desuso
o mais eficiente remédio: moela de ema,
QUEDES (s.) - tênis (calçado). que é preparado da seguinte forma: seca-
se ao sol, torra-se e faz-se pó, que é
QUEIJINHO (s.) - V. bambolê; queijo; posto à razão de uma colher de chá em
rótula (2). cada refeição.
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gente sai de casa e ganha o mundo, famílias, como outrora, quando eram até
passa muita quelemença). mesmo incluídos no dote.
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QUEM-QUEM (s.) - ave que vive em quentura do fogo contando causos). 2.
redor dos alagadiços e nos campos, cujo apetite sexual (Essa ameninada de hoje
nome é a onomatopéia de seu canto; te- vive numa quentura terrível).
téu; quero-quero.
QUEPE (s.) - boné; gorro; bibico; cas-
QUEM TEM OLHOS FUNDOS quete.
CHORA MAIS CEDO (dit.) - é empre-
gado quando uma pessoa chega bem QUERER (v.) - supor (Estou querendo
antes da hora combinada e cumpre o que que aquela buchada me fez mal).
é de sua obrigação.
QÜESTÃ (s.) - questão judicial; lide
QUE NEM (exp.) - como (Você está (Enquanto o juiz não resolver a qüestã,
que nem cigano: tudo o que vê quer eu fico esperando).
comprar).
QUETAR (v.) - aquietar-se; ficar qui-
QUENGA (s.) - V. rapariga. eto.
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QUIMBA (s.) - toco de cigarro. QUIPA (s.) - arqueiro; goleiro; quíper;
forma aportuguesada de keeper.
QUINA (s.) - 1. esquina; aresta (Bateu
com a perna na quina da mesa, chega QUIQUIU (s.) - sovaco; axilas.
escalavrou). 2. planta medicinal muito
amarga que serve de remédio para sezão. QUIRERA (s.) - arroz quebrado; canji-
quinha; xerém.
QUINDIM (s.) - doce feito de gema de
ovo, leite e açúcar. QUITANDA (s.) - biscoito, bolo ou
salgadinho.
QUINTA (s.) - pequena propriedade
rural; chácara. QUITUTE (s.) - comida especial, fora
do trivial.
QUINTA-FEIRA GORDA (s.) -
Quinta-feira Santa. QUIZÍLIA (s.) - repugnância; asco
(Carne muito gorda chega a me dar
QUIOIÔ (s.) - arbusto medicinal, que quizília).
tem utilização na limpeza dos dentes.
QUIZUMBA (s.) - bagunça; confusão.
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-R-
RABADA (s.) - 1. a carne e os ossos da RABICHO (s.) - 1. alça da sela que
cauda da rês. 2. o prato preparado com a serve tanto para firmá-la no lombo da
rabada (1). montaria, ao ser passada sob a cauda
desta, como para dependurá-la, após o
RABEAR (v.) - girar ou deslizar no uso. 2. namoro; xodó; grude (Efraim
caminho (refere-se a carro). sempre teve um rabicho com aquela
viúva).
RABECA (s.) - espécie de violino rús-
tico, que também é acionado por um VEJA TAMBÉM:
arco. Cheirar rabicho.
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preá (Com o dinheiro que ganho, só dá muito pruriginosa que acomete muitos
pra comprar umas roupinhas rabo-de- animais, principalmente cachorro, bode,
cachorro, que fazem até vergonha de se raposa e quati e quando não tratada cos-
vestir). tuma destruir o pêlo dos animais.
500
natureza. Se no interior ele se confunde constrói na época das eleições para abri-
com o curandeiro, e vice-versa, na ci- gar eleitores; curral eleitoral (2).
dade possui identidade caracterizadora:
sentado por detrás de seu balcão de ervas RANCHARIA (s.) - cômodo que é
e essências, atende às consultas de seus construído na cidade pelos comerciantes
clientes. para servir de rancho para tropeiros (Nos
fundos da loja, o comerciante fez uma
RAJA (s.) - listra; mancha de cor dife- ampla rancharia com fogão, armadores
rente da predominante (Ele escarrou e de rede e gancho para dependurar ar-
ficou apavorado com as rajas de sangue reios).
que viu).
RANCHO (s.) - 1. pequeno abasteci-
RAJADO (adj.) - diz-se do animal que mento de gêneros alimentícios (O peão
possui listras de outra cor. exigiu pouco: uma rede para dormir e
um pequeno rancho por semana). 2.
RALA (s.) - mingau de maizena, araruta choupana.
ou qualquer outro amido para se dar às
crianças na mamadeira. RANÇO (s.) - 1. gosto amargo e ardido
(Essa manteiga está com um ranço que
RALA-BUCHO (s.) - baile; bate-chi- não dá para se comer). 2. seqüela; con-
nelo; rela-bucho. seqüência (Essas atitudes de Joaquim
ainda são um ranço de sua gestão).
RALHAR (v.) - repreender; gritar com
o intuito de corrigir (O vaqueiro ralhou RANÇOSO (adj.) - que contém ranço.
com o menino, que estava fazendo zo-
ada e atrapalhando a conversa dos RANCOLHO (s.) - pessoa ou animal
grandes). que só tem um testículo; roncolho.
501
RAPADOR (s.) - pastagem que se aca-
bou devido ao consumo pelo gado. RASGAR O VERBO (exp.) - 1. falar o
que quer e na altura que quer, geral-
RAPA-DO-TACHO (s.) - último filho, mente em tom zangado. 2. discursar.
geralmente de pais idosos; ponta-de-
rama. RASOURA (s.) - a parte rasa de qual-
quer água (rio, córrego, riacho, lagoa
RAPADURA (s.) – doce em forma de etc.).
tijolo feito de melado de cana; difere do
tijolo porque a rapadura, porque esta é RASPADEIRA (s.) - pequeno instru-
feita exclusivamente do melado da cana, mento semelhante a uma escova de
enquanto o tijolo é a rapadura temperada ferro, com cabo de madeira, utilizado
(com cravo, canela, coco, gengibre, jaca, para raspar o pêlo dos animais de monta-
mamão etc.). ria, para tirar carrapichos e outras sujei-
ras.
VEJA TAMBÉM:
Carga de rapadura RASTEIRA (s.) -1. diz-se da erva que
Entregar a rapadura. cresce rente ao chão. 2. ato de colocar a
mão no chão como apoio e dar uma per-
RAPARIGA (s.) - prostituta; meretriz; nada com a perna esticada nas pernas de
mulher que mercadeja o corpo; bisca; alguém.
biscaia; biscate; bruaca; calanga; can-
gancha; dadeira; dama; decaída; gra- RASTRO-DE-ONÇA (s.) - dificuldade
xeira; mulher à-toa; mulher-dama; que se impõe a alguém para dificultar ou
mulher da rua; mulher da vida; mulher amedrontar (Ele fez um rastro-de-onça
da zona; mulher de ponta de rua; mu- tão grande, que quase não consegui
lher de vida fácil; mulher de vida livre; realizar o negócio).
mulher de má vida; mulher errada;
mulher perdida; mulher pública; mun- RATEAR (v.) - 1. dividir as despesas
dana; perdida; piniqueira; piranha; (Como éramos cinco, rateamos a conta
prima; puta; quenga; rameira. e deu pouco para cada um). 2. falhar o
motor de qualquer máquina por falta de
RAPARIGAGEM (s.) - 1. ambiente de combustão (Antes de chegar ao posto, o
raparigas. 2. envolvimento com rapariga. carro começou a ratear).
RAPÉ (s.) - V. pó; simonte; torrado. REBATER (v.) - tomar um gole de be-
bida depois de um período de bebedeira.
RASGA-MORTALHA (s.) - espécie de
coruja de canto agourento que imita o REBENQUE (s.) – chicote; taca; espé-
som de um pano sendo rasgado; suin- cie de tira de couro para açoitar animais,
dara.
502
com o cabo geralmente trabalhado em RECOMPADRE (s.) - compadre dupla-
prata; piraí; rabo-de-tatu. mente, ou seja uma pessoa que já é com-
padre e dá seu filho para a outra batizar.
REBITE (s.) - comprimido que os mo-
toristas tomam para afugentar o sono RECORDAR (v.) - reler; na escola pri-
durante suas viagens, a fim de cumpri- mária antiga, era tornar a estudar a car-
rem seus horários. tilha, refazendo todas as lições e leituras.
503
REFRIGÉRIO (s.) - local situado nos Quando, após o parto, as regras passam a
gerais, onde na seca o pasto permanece vir anormais, o chá de sene é o mais
verde e aonde é levado o gado e ali per- indicado.
manece até que as chuvas voltem a cair
nas fazendas; gerais. VEJA TAMBÉM:
Água-de-regra.
REFUGAR (v.) - 1. cismar (Quando
passamos perto do cemitério, o cavalo REGUEIRA (s.) - V. regada.
refugou). 2. rejeitar (Na compra da-
quele magote de bezerros, ele só refu- REGULAR (v.) - aproximar mais ou
gou três). menos (Quando eles chagaram à fa-
zenda, eu regulava meus quatro anos
REFUGO (s.) - sobra; resto de um todo, de idade).
após seleção; restojo; restolho.
REIMA (s.) - V. reuma.
REGADA (s.) - parte das nádegas que
fica junção dos glúteos; o rego, a reen- REIMOSO (adj.) - que produz reima;
trância da bunda; regueira (Após meia que traz complicação para a saúde, prin-
hora de capina, o suor do roceiro descia cipalmente para o sangue e em especial
pelas costas nuas e entrava pela re- agrava e inflama os ferimentos; remoso;
gada). o sertanejo diz que as carnes mais rei-
mosas são a de porca e de paca, especi-
REGATEIRO (adj.) - animado; pelin- almente esta última (Já avisei que carne
tra; saliente (Ela chegou toda regateira de paca é um alimento muito reimoso
vestida em uma saia rodada). para talho e inflamação).
REGRAS (s.) - menstruação; boi; chico; REIZADO (s.) - festa popular do fol-
paquete. Quando as regras da mulher clore que antecede o dia 6 de janeiro
vêm atrasadas, pega-se um pouco de (Dia de Reis).
pucumã (fuligem que se forma nos tetos
das cozinhas pelo acúmulo de fumaça REJEITO (s.) - tendões dos músculos
preta), amarra-se num pano branco, ou cartilagem que são cozidos junto com
ferve-se em dois canecos d’água até que a carne.
o líquido se reduza a uma xícara, de-
vendo ser tomado em seguida. Quando REJUME (s.) - regime.
as regras vêm em demasia, o chá de en-
trecasca de aroeira é o melhor regulador. RELA (s.) - V. perereca (1).
504
REMETEDOR (adj.) - diz-se do ani-
RELA-BUCHO (s.) - V. rala-bucho. mal que remete (Tome cuidado com
esse boi, porque é muito remetedor).
RELAMBÓRIO (s.) - conversa sem
interesse; leguelhé. REMETER (v.) - arremeter; atacar;
investir, o boi ou qualquer animal que
RELAR (v.) - ralar. possui chifres, tentando chifrar (Tome
cuidado, que essa vaca pode remeter).
RELAXADO - 1. (adj.) - borracha ou
elástico que perdeu a elasticidade (O REMOALHO (s.) - bolo de alimento
calção dele caiu porque o elástico es- que os ruminantes fazem retornar à boca
tava relaxado). 2. (s.) - pessoa boquir- para nova mastigação.
rota, que só fala imoralidades.
REMOER (v.) - ruminar; mastigar o
RELAXO (s.) - imoralidade; ato libidi- alimento, depois retorná-lo à boca para
noso; gesto ou palavra imoral. nova mastigação.
REMENICAR (v.) - dar o troco; revi- REPARAR (v.) - censurar (Não repare
dar. eu não ter ido a sua casa, pois estive do-
ente).
505
separadas dos demais fregueses longe
REPASSAR (v.) - voltar a montar o dos olhares.
animal recém-domado.
RESGUARDO (s.) - período de qua-
REPASSE (s.) - 1. traquejo que se dá rentena de pós-parto ou de doença pro-
ao animal de montaria recém-castrado longada.
para amaciar as ancas; volta à monta do
animal recém-domado; custeio leve. 2. RESGUARDO QUEBRADO (s.) -
última colheita do algodão; última cata- ocorre quando a mulher não respeita o
ção. repouso. Há prescrições que são religio-
samente seguidas, sob pena de quebra do
REPELÃO (s.) - pito; descompostura. resguardo, dentre elas: nos cinco primei-
ros dias, só pode comer pirão de galinha;
REPENTE (s.) - impulso (Deu um re- a comida só pode ser feita com banha da
pente nele aquela hora, que nem sei a própria galinha; leite, só depois de dez
razão). dias; carne de vaca, só após o resguardo;
algodão nos ouvidos e banho geral, só
REPETIÇÃO (s.) - carabina automá- depois de quarenta dias; a roupa do re-
tica, ou semi-automática, que não pre- cém-nascido não pode ser estendida em
cisa ser recarregada a cada disparo. ramo verde e deve ser recolhida antes do
pôr-do-sol; a criança não deve receber
REPIMPADO (s.) - V. pelintra. visita no sétimo dia; o umbigo deve ser
enterrado em um lugar sagrado, como a
REPIMPAR (v.) - trajar bem; entonar. porteira do curral, para dar sorte, e assim
por dia diante. O descumprimento das
REPINICADO (s.) - espécie de toque prescrições importa na quebra do res-
de viola em que o violeiro aciona as cor- guardo. E para resguardo quebrado,
das com a unha. deve-se socar as raízes e folhas de salsa,
uma batata de contas-de-lágrimas, uma
REPRESENTAR (v.) - apresentar (Na colher de sopa de quina e canela e uma
hora da vistoria do banco, ele repre- colher de ruibarbo e erva doce; queimar
sentou a boiada que estava no penhor). tudo com cachaça e tomar uma colher às
refeições.
REPUNAR (v.) - enjoar; causar náu-
seas; repugnar (Aquela carniça de hor- RESPIRO (s.) - V. suspiro (2).
rível cheiro repunava qualquer cristão).
RESPONDÃO (adj.) - malcriado.
REPUXO (s.) - trabalho intenso; ba-
tente. RESPONDER (v.) - refletir (A pneu-
monia trazia-lhe uma dor no peito, que
REQUEBRADO (s.) - remelexo (2); respondia nas costas).
gingado.
RESPONSADOR (s.) - pessoa dotada
RESERVADO (s.) - compartimento dis- de poderes que, através de rezas especí-
creto de um bar, onde as pessoas ficam ficas, descobre objetos perdidos ou rou-
bados.
506
RETRATISTA (s.) - fotógrafo(a).
RESPONSAR (v.) - fazer preces especí-
ficas para um santo, geralmente São REUMA (s.) - complicação de um feri-
Longuinho ou Santo Antônio, para en- mento, quando este se inflama de uma
contrar um objeto sumido ou roubado. hora para outra; seqüela de qualquer do-
ença; reima; atribuição maléfica a certos
RESPOSTAR (v.) - responder, dar res- alimentos que podem causar danos à
posta por escrito; arrespostar. saúde, piorar os que já estão doentes, ou
“botar pra fora” certas mazelas incuba-
RESSABIADO (adj.) - desconfiado; das: a carne de paca é veneno para mu-
arisco; que foge em conseqüência de lher menstruada; peixe de couro provoca
haver sido maltratado anteriormente. inflamação; quem come carne de tatu
china ou zumbi arrisca-se a Ter de doen-
RESSACA (s.) - mal-estar decorrente de ças venéreas adquiridas na juventude.
bebedeira ou de noite mal dormida. Para se expulsar as reimas do corpo,
principalmente as dos intestinos, usam-
RESTELO (s.) - parte do tear (V.). se os purgantes (ou purgativos). Dentre
os mais recomendados estão: jalapa,
RESTILO (s.) - cachaça extremamente maná (para crianças), sene, azeite de
forte que é feita da cana-de-açúcar mamona (óleo de rícino ainda impuro) e
verde, duplamente destilada, cujo teor batata-de-purga. O leite de pinhão, por
alcoólico vai dos 21 aos 36 graus. ser muito forte, só pode ser tomado
como purgante no caso de picadas de
RESTOJO (s.) - V. restolho. cobra. O azeite de mamona, que é o óleo
de rícino em estado ainda bruto, é mais
RESTOLHO (s.) - sobra; refugo; res- recomendado que o purificado.
tojo.
REÚNA (s.) - botina ringideira; cara-
RETACO (adj.) - baixinho, musculoso de-vaca.
e forte; parrudo.
REVELIA (à) (exp.) - grande quanti-
RETADO (adj.) - arreitado; excitado dade; reviria; riviria (Ele tinha terras e
sexualmente; arreitado; arretado. gado à revelia).
507
místico-religioso das curas. Entretanto, RIBUTA (adj.) - mulher feia; sem
as rezas nem sempre são utilizadas ape- classe; brega.
nas para fins medicinais, para as curas
das mazelas do corpo e para as da alma, RIÇAR (v.) - esfregar; grosar (1).
havendo também aquelas que buscam a
felicidade, o amor e o dinheiro. Para o RIDICAGEM (s.) - sovinice.
caso de buscar dinheiro, a pessoa, no dia
de lua nova, no momento em que ela RIDICAR (v.) - ser ridico.
estiver se pondo, deve pegar ume moeda
e, apontando para a lua, dizer: RIDICO (adj.) - sovina; avarento; mu-
nheca (Coronel Zezuíno era dono de
“Deus te salve, lua nova, muito gado, mas extremamente ridico).
Tu que nasces no poente,
Quando fores que vieres, RIDIMUNHO (s.) - redemoinho.
Me trazeis desta semente”.
RIDIQUEZA (s.) - V. ridicagem.
Em seguida, faz o sinal da cruz três ve-
zes, com a mão que está com a moeda; RINGIDEIRA (adj.) - quer range; que
não demora, a pessoa enrica. produz rangidos; botina cara-de-vaca;
reúna.
REZADOR (s.) - o benzedor destaca-se
do curandeiro pelo poder de suas ora- RIPAR (v.) - bater; falar mal de alguém.
ções. É servido por uma força de suges-
tão, favorecida pelo respeito que sabe RIR PROS PAUS (exp.) - estar extre-
infundir. Torna-se famoso pelas orações, mamente alegre (Quando ele vendeu a
e às vezes pelas mágicas, com que trata fazenda, ficou rindo pros paus).
as enfermidades que acometem os ani-
mais, sendo capaz de curar pelo rastro RISADAGEM (s.) - barulho da risada
uma rês que tenha desaparecido do cur- de muitas pessoas, geralmente incomo-
ral, perdida pelo mato. O sertanejo, cré- dando ou ironizando um fato.
dulo, conta como os bichos largam a
bicheira dos animais, caindo mortos no RISCADO (s.) 1. tecido ralo de algodão
chão, dias após a reza, e às vezes até na apropriado para fazer colchões. 2. as-
hora. sunto (Falando-se de criação de gado,
todo mundo sabe que Toniquinho en-
REZAR PELA CARTILHA ALHEIA tende do riscado).
(exp.) - não ter idéias próprias, princi-
palmente em se tratando de políticos, VEJA TAMBÉM:
que seguem cegamente as orientações Entender do riscado.
dos chefes e caciques.
RISCAR (v.) - parar de vez (Só foi o
RIBA - 1. (adv.) - cima (Ele estava em vaqueiro chegar à porteira, que o touro
riba da galha de pau). 2. (s.) - riban- riscou em cima dele).
ceira.
RISCO (s.) - 1. traço. 2. desenho que a
bordadeira traça para orientar o bordado
508
(Minha mãe mandou pedir emprestado RODAR A BAIANA (exp.) - fazer es-
o risco daquele bordado do vestido azul cândalo; engrossar o caldo; empinar a
que a senhora fez). carroça; soltar os cachorros.
509
positivo, tratou logo de romper para
ROER A CORDA (exp.) - falhar num cumprir o mandado).
trato; desistir de um negócio; tirar o
corpo fora; mijar fora do caco. RONCAR PAPO (exp.) - gabar-se;
contar vantagem; bater caixa.
ROJÃO (s.) - 1. foguete grande, que
produz forte estampido. 2. ritmo; toada RONCEIRO (adj.) - lento; vagaroso.
(No rojão que ele vai, daqui a pouco
acaba de limpar a roça). RONCOLHO (s.) - pessoa ou animal
que tem apenas um testículo.
ROLA (s.) - V. rola-bosta.
ROR (adv.) - corruptela de “horror”,
ROLA-BOSTA (s.) - espécie de be- com o significado de grande quantidade
souro que se alimenta de estrume de (Comprei um ror de comida, mas ainda
gado e que, para facilitar o transporte, assim não deu).
produz pequenas bolas, que são roladas
para o buraco onde mora; rola. ROSA (s.) - V. cravo.
510
que tem propriedades purgativas e é de
RUA (s.) - cidade; povoação; comércio amplo uso na medicina caseira.
(em contraposição à roça).
RÚIM (adj.) - ruim (o povo não pro-
RUANA (adj.) - besta ou égua de crinas nuncia o hiato ru-im, mas como um di-
amarelas. tongo: rúim).
511
-S-
SÁBADO DA ALELUIA (s.) - era o dia
em que se comemorava a Ressurreição SABÃO-DO-REINO (s.) - sabão-de-
de Cristo. Na véspera, ou seja, na noite cheiro; sabonete.
de Sexta-feira da Paixão, era costume
(ainda existente em várias localidades VEJA TAMBÉM:
tocantinenses) os rapazes furtarem gali- Passar um sabão.
nhas para fazer farra, levando os donos
de galinhas a redobrar a vigilância nos SABARUNO (adj.) - animal da cor de
poleiros e galinheiros. No sábado, ma- mel; melado.
lhava-se o Judas, que era representado
por um boneco em tamanho natura, o SABEDORIA DOS ANIMAIS (s.) - os
qual era atado em um jumento, geral- animais, ao contrário do que se pensa, na
mente amarrado com a cara virada para a sua luta pela sobrevivência, tudo obser-
anca do jegue e era submetido a uma vam, prestando atenção a tudo que os
verdadeira surra de cacete, até desman- cerca, demonstrando que muitas vezes
char-se; outros preferiam encher o bo- superam o homem na esperteza.
neco de explosivos, para fazer uma ex- Às vezes, a sucuri pega um leitão pe-
plosão, para delírio da meninada. No queno, e o grito deste faz com que a mãe
Sábado da Aleluia era costume os pais venha socorrê-lo; então, larga o leitão e
juntarem os filhos para uma surra, uma agarra a porca, que é maior.
vez que durante a Quaresma não se po- A piranha, ao atacar um peixe,
dia castigar; mesmo que os filhos nada morde-o na parte de baixo e na barba-
merecessem, assim mesmo apanhavam, tana, para que, com o desequilíbrio, este
pois esse dia era destinado a purificar perca as forças e seja dominado.
pelo castigo. Também no Sábado da O cachorro, ao acuar uma onça no
Aleluia a meninada reunia-se em grupos chão, nunca se aproxima dela afoita-
e saía recolhendo víveres para fazer a mente, a não ser que seja novato e inex-
panelada; saíam de porta em porta, periente; por prudência, muda de posição
cantando: freqüentemente, sacudindo o rabo insis-
tentemente para os lados e para cima, a
“Aleluia, Aleluia, fim de detectar possíveis obstáculos (ci-
Carne no prato, pós, varas etc.) que estão na sua reta-
Farinha na cuia, guarda, pois, no caso de um súbito ata-
Fogo no Judas!”. que da onça, já sabe onde deve recuar e
por onde fugir com rapidez e segurança.
SABÃO (s.) - reprimenda; pito; repe- Se o porco for castrado e pegar bi-
lão; sarabanda. cheira, enterra-se na lama, ficando só
512
com a parte dianteira de fora; assim, as O pirarucu, muitas vezes, pratica a
larvas das moscas não podem respirar e letissimulação, ou seja, finge estar morto
morrem. no fundo do rio; nesse estado, o pescador
O bem-te-vi geralmente faz seu ninho toca-o com a ponta do arpão ou de uma
perto de uma colmeia, pois assim não vara pontuda, sem que ele se manifeste,
faltará comida para seus filhotes. fazendo o homem crer tratar-se de um
A sucuri, para não ser abocanhada grande tronco. O mesmo acontece com a
pelo jacaré, morde-o na tábua do pes- raposa e a onça, quando exaustas ou
coço e, em segundos, enrodilha-se em feridas, e logo que se recuperam, apro-
seu corpo, garroteando-o até à morte. veitam-se de momentânea distração de
Durante forte ventania, as aves só po- seus caçadores e empreendem fuga.
dem pousar contra o vento, pois do con- Para os animais são normais os ruídos
trário desequilibram-se e arriscam-se não naturais, como trovões, ventanias e tem-
alcançar o pouso seguro. pestades, mas qualquer outro ruído arti-
O camaleão, ao ser atacado por um ficial, como a voz do homem, um dis-
cachorro, costuma deixar-lhe na boca um paro de arma de fogo ou o funciona-
pedaço da cauda; assim, consegue fugir; mento de um motor causam-lhe espanto.
quanto à cauda, com pouco tempo se Todos os animais que costumam re-
regenera. fugiar-se em buracos, como a paca e a
A anta, ao ser agarrada pela onça, cutia, perfuram um outro buraco, espécie
adentra pelos lugares onde o mato é mais de respiradouro em outro lugar, por onde
fechado, por onde vai roçando-se e es- fogem, enquanto os cachorros cavam a
premendo-se, arrebentando cipós, que- boca da toca; o respiradouro é também
brando vaquetas e varas, a fim de ar- denominado de suspiro.
rancá-la das costas, o que quase sempre O pirarucu muda a cor das escamas
acontece. conforme a cor da água, seja para fugir
Os quenquéns (tetéus) cantam festi- do homem, seja para aproximar-se de
vamente nas noites de luar, mas man- suas presas.
têm-se silenciosos nas noites escuras, O bem-te-vi costuma fazer seu ninho
para não atraírem as corujas, jacurutus e na extremidade dos galhos finos e lon-
outros predadores que enxergam à noite. gos, para evitar que os gaviões lhe co-
O pica-pau e outras aves que costu- mam os ovos ou os filhotes, pois o peso
mam cavar seus ninhos em troncos de do gavião não lhe permite chegar até o
árvore na posição vertical, procuram ninho.
evitar a chuva e o frio; por isso, essa A fêmea do jabuti põe cada ovo em
entrada não fica nem na direção leste um lugar, evitando que os seus inimigos
nem nordeste, de onde geralmente vêm naturais comam toda a ninhada, e assim
as chuvas. pode perpetuar a espécie.
A cutia, quando perseguida por ca- As formigas cortadeiras não atacam
chorros, corre em sentido reto, em espi- plantas leitosas, como o pinhão e a man-
ral e em zigue-zague, e em dado mo- gabeira, pois o leite suja e gruda suas
mento roda várias vezes em uma pe- tenazes, deixando-as sem corte.
quena área e prossegue a corrida à pro- O tamanduá-bandeira dorme com o
cura de um buraco; seus movimentos peito para cima e de braços abertos; se
costumam confundir os perseguidores uma onça procurar atacá-lo, sofrerá ter-
novatos e inexperientes.
513
rível abraço, podendo ambos morrerem pescoço, mas nunca quando este está
abraçados. pousado, pois no ar a mobilidade do
Se um casal de camaleões está numa pequeno pássaro é maior.
árvore à beira d’água e vê o homem Bandos de marrecas fazem longas vi-
aproximar-se, o macho pula na água agens em noite escuras, mas não se cho-
antes da fêmea; depois de nadar uns 20 a cam com árvores ou montanhas.
25 metros, sobe em outra árvore e salta
na água novamente, chamando a atenção SABENÇA (s.) - sabedoria; conheci-
do homem, que, sem querer, deixa a mento (É de trivial sabença que o crime
fêmea em paz. nunca compensa).
O índio não se envenena com frutas
do mato, porque só come frutas que os SABER (v.) - ter o sabor de; dar a im-
animais comem. pressão; parecer (Aquele lacotixo do
Os macacos, quando atacam uma peão estava sabendo a uma traição).
roça, deixam um de vigia, para alertá-los
da presença do homem; se, por acaso, o SABER O CAMINHO DAS PEDRAS
bando é surpreendido, o que ficou de (exp.) - ser muito esperto; conhecer os
guarda é impiedosamente surrado pelos macetes; saber onde as cobras malham
companheiros. (Não se preocupe com o Juliano, pois
A guariba parida, quando se vê sur- ele sabe o caminho das pedras e não vai
preendida por um caçador, tira das cos- se complicar).
tas o filhote e o mostra, para avisar que
tem uma cria pequena; se o filhote não SABER ONDE AS COBRAS MA-
está perto, ela pega uma folha e espreme LHAM (exp.) - V. saber o caminho das
nela um pouco de leite, para demonstrar pedras; saber onde moram as corujas.
que está amamentando. Ainda assim, às
vezes o homem a elimina. SABER ONDE MORAM AS CORU-
O martim pescador, quando pesca um JAS (exp.) - V. saber onde as cobras
peixe, trata de levá-lo para um galho, e malham.
com o bico sacode o peixe, dando-lhe
repetidas pancadas até matá-lo, facili- SABIÚ (s.) - árvore de chapada, de fo-
tando sua ingestão. lhas semelhantes à sucupira, que produz
A onça e outros predadores nunca frutos redondos, não comestíveis, de talo
atacam sua presa a favor do vento, ou longo, semelhantes a boleadeiras.
seja, com o vento indo de sua direção
para a da presa, preferindo o sentido SABONETEIRA (s.) - 1. espécie de
oposto, para que seu cheiro não denuncie planta cujas sementes, semelhantes a
sua presença. bolinhas-de-gude pretas, espumam ao
As rolinhas, quando vêem o homem ser esfregados nas mãos com água. 2.
aproximar-se de seu ninho, saem ba- cavidades que ficam ao lado do pescoço
tendo as asas ruidosamente, afastando-se formadas pelas clavículas.
aos pouquinhos, como se quisessem
atrair a atenção; com isto, desviam a SABUCO (s.) - sabugo; cascabulho.
atenção de seus ovos e filhotes.
Os bem-te-vis atacam gaviões em SABUGO (s.) - corpo da espiga do mi-
pleno vôo, bicando-lhes a cabeça e o lho após debulhado; cascabulho.
514
SABUGUEIRO (s.) - planta medicinal SAETA (s.) - doce da polpa do buriti;
de cujas folhas e flores se faz um chá saieta.
para detectar e curar o sarampo.
SAFANAR (v.) - segurar com força e
SACANEAR (v.) - 1. perturbar; inco- sacudir.
modar; fazer sacanagem (1); 2. praticar
ato libidinoso; sarrear. SAFIRA (s.) - masturbação; punheta.
515
SAL AMARGO (s.) - sal de Glauber SALTAR FOGUEIRA (exp.) - cos-
(purgativo). tume do interior, em que, no dia de São
João, duas pessoas, diante de um tição
SALAMIM (s.) - V. celamim. aceso da fogueira, pronunciando fórmu-
las específicas, saltam o tição, compro-
SALÃOZINHO (s.) - bate-bola que é metendo-se, dali por diante, a serem
feito geralmente em frente a uma das compadres ou padrinho/madrinha e afi-
traves antes do início de um treino ou de lhado/afilhado, sendo comum encontra-
uma partida de futebol. rem-se “madrinha de fogueira”, “com-
padre de fogueira”. A fórmula mais
SALGA (s.) - 1. administração de sal utilizada é esta, que é pronunciada com
para os animais (Na sombra da mungu- as mãos direitas dadas e estendidas sobre
beira ficava o cocho de jatobá para a um tição da fogueira de São João, uma
salga do gado). 2. ato de salga a carne pessoa de cada lado:
para transformação em charque (A carne
de primera ele vendia, e a de segunda ia “Eu juro,
para a salga). (Por) São João Batista,
São Pedro,
SALGA-BUNDA (s.) - sandália-de- São Paulo,
dedo, feita geralmente de couro cru, se- Todos os santos
melhante à havaiana, que joga areia em Da cor(te) do céu,
direção às nádegas enquanto se anda. Que Fulano é meu (compadre, padri-
nho, afilhado)”.
SALGADO (adj.) - caro (Esse preço
está muito salgado). Em seguida, repete-se a fórmula, com as
pessoas trocando de lado.
SALGAR (v.) - 1. administrar sal para
o gado (Sexta-feira ele reunia o gado SALUÇO (s.) - soluço. Para se evitar
para no sábado salgá-lo). 2. preparar a que os soluços continuem, pega-se um
carne-de-sol. saco de couro, introduz-se nele a boca e
o nariz e respira até não agüentar mais,
SALIENTE (adj.) - intrometido; me- evitando-se que a respiração saia do saco
tido a importante; conversador; entrão. de couro. No terreno das simpatias, usa-
se pedir um copo d’água, tomar três go-
SALINEIRO (adj.) - diz-se do gado les e jogar, por cima do ombro, o resto
que é acostumado a lamber sal no cocho. para trás, sem olhar. Outras simpatias:
beber cinco goles d’água, enquanto se
SALOBRO (adj.) - sem sabor; insosso; pronuncia:
salvage.
“Bebo as cinco chagas
SALSEIRO (s.) - barulho; rebuliço; De Nosso Senhor Jesus Cristo!”
confusão; balbúrdia; barafunda.
Beber três goles d’água, enquanto se
SALTAR FOGO (exp.) V. saltar fo- pronuncia, a cada gole:
gueira.
“Água mata soluço,
516
soluço mata água”!. SAMBORÁ (s.) - cera do favo que se
forma na colméia (Quem lambeu o mel
Introduz-se uma faca de ponta num copo tem que comer o samborá).
d’água durante minutos e depois fazer o
paciente beber de olhos fechados. O so- SAMBURÁ (s.) - espécie de cesto usado
luço de crianças estanca ao colocar-se por pescadores para conduzir o produto
um fiapo molhado de baeta vermelha na da pesca.
testa.
SAMEAÇÃO (s.) - esfomeação; ganân-
SALVA DE TIROS (exp.) - rajada de cia (Com esta sameação do Júlio, não
tiros, geralmente para comemorar algo. vai sobrar comida pros outros).
517
SANGÜEIRA (s.) - grande quantidade imagens de santo, que eram ocas; daí
se sangue. veio o nome).
518
E o sapinho - diz-se - passará para a ou-
tra pessoa. SARAPANTADO (adj.) - assustado;
atordoado; espantado (Os vaqueiros
SAPO (s.) - pessoa que fica de lado ob- trataram de cercar os bois sarapantados
servando os jogadores, sem jogar, e que queriam fugir do magote).
dando palpites; esfria-verruma.
SARAPATEL (s.) - iguaria feita de
SAPEAR (v.) - 1. vagabundar. 2. ficar miúdos de porco.
espiando e dando palpites.
SARARÁ (adj.) - V. fogoió; laranjo.
SAPIRANGA (s.) - doença externa dos
olhos. V. doença dos olhos. SARAU (s.) - confusão; calundu (Fa-
çam o favor de acabar com esse sarau,
SAPITUCA (s.) - 1. birra de criança; que estou com a cabeça doendo).
calundu. 2. V. tontorona.
SARIEMA (s.) - ave do cerrado maior
SAQUEIRA (s.) - V. culhoneira. que uma galinha e de pernas mais lon-
gas, cujo canto é característico; siriema.
SARABANDA (s.) - forte reprimenda;
pito; repelão. SARIL (s.) - V. sarilho.
519
SASTIFEITO (adj.) - satisfeito. SEDENHO (s.) - crina de animais com
que se fabricam cabrestos, cordas e ré-
SEBAÇA (s.) - assalto; rapina; série de deas; sedém.
roubos violentos, geralmente promovi-
dos por jagunços. SEGUNDA ÉPOCA (s.) - o antigo
exame de recuperação escolar, quando o
SEBEREBA (s.) - espécie de merenda aluno, reprovado em pelo menos duas
ou sobremesa feita de massa de buriti disciplinas, tinha uma segunda oportuni-
com água ou leite. dade de realizar os exames, geralmente
no mês de fevereiro.
SEBOSO (adj.) - sujo; nojento; breado.
SEGURA O PÉ! (exp.) - expressão que
SECO (adj.) - 1. vazio (Quando a fome serve para prevenir alguém (Segura o
chegou é ele se lembrou de que seu de- pé, molecada, que o homem não brinca
pósito estava seco). 2. ávido (Depois de com malandragem!).
passar um mês na roça, ele estava seco
por um cineminha). SEGURAR PELO BARBICACHO
(exp.) - V. sojigar.
VEJA TAMBÉM:
De seca e verde. SEGURO (adj.) - econômico; sovina
(Tio Dirico era tão seguro, que matava
SECUNDAR (v.) - 1. capinar a roça uma vaca, mas ficava apenas com as
pela segunda vez (Ele já ia até secundar pelancas, para vender o resto).
a roça, quando a praga de gafanhotos
chegou). 2. repetir; completar o que foi SELADA (s.) - virgem.
dito (O patrão está certo mesmo! - se-
cundou o peão). SELADO (adj.) - pessoa ou animal que
possui a coluna vertebral recurva, se-
SECURA (s.) - 1. desejo sexual. 2. melhante ao contorno de uma sela (Por
vontade insaciável; cegueira. conta de um problema na coluna, Joa-
quim Cursino era selado).
SEDA DE BURITI (s.) - fibra das pa-
lhas do olho do buritizeiro. SELAR (v.) - ficar selado (Ao receber a
lamborada do vaqueiro, o cavalo selou).
SEDE (s.) - muita vontade; avidez (De-
pois que ele levou um tapa na cara, SELEBESQÜETE (adj.) - pelintra;
comprou um pau-de-fogo e ficou com assanhado; exibido; sirigaita (Ele che-
sede de encontrar o desafeto). gou todo selebesqüete à festa entonado
num terno de mesclinha).
SEDE-DE-ÁGUA (exp.) - gole d’água
(Ele não dá uma sede de água a nin- SELIM (s.) – nome que se dá a uma
guém). espécie de pequena sela apropriada para
mulher montar de lado, e não escan-
SEDÉM (s.) - V. sedenho. chada. Difere do silhão (V.).
520
lhante à quaresmeira, também chamada
VEJA TAMBÉM: de primavera e bougainville.
Tirar o selo.
SEM QUE NEM PRA QUÊ (exp.) -
SEMANA ATRASADA (s.) - semana sem motivo; sem razão alguma (Ele ati-
anterior à passada; semana trasada (p. rou no rapaz sem que nem pra quê).
ex..: se estamos na última semana do
mês, a semana que passou, ou seja, a 3ª, SEM TERMO (exp.) - V. sem assunto.
é a semana passada, a anterior a ela, isto
é, a 2ª do mês, é a semana atrasada, e a SENE (s.) - pequenas folhas secas de
anterior à atrasada, a 1ª do mês, é a se- uma espécie de leguminosa que são uti-
mana retrasada). lizadas na medicina caseira geralmente
com propriedades purgativas.
SEMANA RETRASADA (s.) - V. se-
mana atrasada. SENTADA (s.) - vez; ocasião; oportuni-
dade (De uma sentada ele chupou duas
SEMANA TRASADA (s.) - V. semana melancias).
atrasada.
VEJA TAMBÉM:
SEM ASSUNTO (exp.) - sem educação; De uma sentada.
sem cuidado (Esses filhos de Lino Ca-
beça-Gorda são muito sem assunto). SENTAR PRAÇA (exp.) - servir na
polícia; quando se refere ao Exército, é
SE-ME-DÃO (s.) - filante de cigarro. “tirar o tempo” (Ele sentou praça com
dezoito anos e nunca mais largou a
SEM EIRA NEM BEIRA (exp.) - sem polícia).
nenhum préstimo; extremamente pobre
ou sem valor; que não possui coisa al- SENTIDO (s.) - 1. atenção (Ponha
guma; sem uma banda de couro pra bastante sentido no que vou lhe dizer).
morrer em cima (Em todo garimpo 2. (adj.) - contrariado; ressentido (Fi-
costuma chegar gente sem eira nem quei muito sentido com aquela pessoa).
beira querendo vencer).
SENTINA (s.) - V. privada; latrina;
SEM PAPAS NA LÍNGUA (exp.) - casinha.
que fala o que bem entende sem medir
as conseqüências (Tia Marieta em uma SENTINELA (s.) - velório.
mulher sem papas na língua, mas era
extremamente sincera). SER A DERRADEIRA GRAÇA
(exp.) - ser última vez (Vi o Joaquim no
SEM-PÉ-NEM-CABEÇA (exp.) - sem dia da festa do ano passado, e foi a der-
fundamento (Ele veio com uma con- radeira graça).
versa sem-pé-nem-cabeça que não con-
venceu ninguém). SER A PALMATÓRIA DO MUNDO
(exp.) - ser o bode expiatório.
SEMPRE-LUSTROSA (s.) - planta de
flores lilás, que orna as fazendas, seme-
521
SER AS CUECAS DE GETÚLIO SER FOGO NA ROUPA (exp.) - V.
(exp.) - procurar ser importante; fazer ser fogo.
bunda de crioulo (Depois que ele ga-
nhou na loteria, está querendo ser as SER LIGADO A (exp.) - ser afeito a.
cuecas de Getúlio).
SER MACACO VELHO (exp.) - ser
SER BATATA (exp.) - ser pontual; não muito experiente (Pode ficar sossegado
falhar. com a missão confiada ao Túlio, pois
ele é macaco velho).
SER CANJA (exp.) - ser fácil.
SER MAIOR E VACINADO (exp.) -
SER DE MAIOR (exp.) - ter maiori- ser independente (Meu tio precisa lar-
dade (V. de maior). gar de me controlar; afinal, sou maior e
vacinado).
SER DE MENOR (exp.) - ser menor de
idade (V. de menor). SER MATO (exp.) - existir alguma
coisa em grande quantidade; ser o pau
SER DE MORTE (exp.) - ser intolerá- que há (Em Goiânia carro importado é
vel. mato).
SER DO CONTRA (exp.) - ser contes- SER O FIM DA PICADA (exp.) - ser
tador por natureza; ter espírito de con- (uma coisa) difícil; desagradável (Esse
tradição. carro velho naquele asfalto cheio de
panelas foi o fim da picada); ou (uma
SER DURO (exp.) - ser rígido, irredutí- pessoa) inconveniente; sem educação
vel. (Esse filho de Otacilinho, quando bebe,
é o fim da picada).
SER DURO NA QUEDA (exp.) - V.
ser duro nos arreios. SERÓ (s.) - V. ceró.
522
nheiro no dia do vencimento do título,
eu fui salvo pelo gongo). SESTROSO (adj.) - que tem sestro.
SER UMA CACHAÇA (exp.) - ter SIAR (v.) - fechar as asas, o pássaro,
inclinação impulsiva por algo ou alguém mergulhando para descer (Quando viu a
(Colecionar caixinhas de fósforos era galinha com os pintinhos no terreiro, o
uma cachaça para Juvenal). gavião siou e quase pegou um deles).
SER UMA MOÇA (exp.) - ser extre- SIBIRINA (s.) - calcinha feminina; cal-
mamente educado (Jurandir é incapaz çola.
de uma grosseria dessas, pois ele é uma
moça). SILHÃO (s.) – sela grande com arco
dianteiro para apoio de uma perna, com
SERRA-PAU (s.) - espécie de besouro apenas um estribo; a mulher não caval-
grande e comprido que se alimenta da gava escanchada, mas sentada de lado,
polpa de certas madeiras. pois em épocas passadas era considerado
SERRILHA (s.) - parte de superfície impróprio mulher andar escanchada.
provida de dentes semelhantes aos de
uma serra ou serrote. SIMONTE (s.) - rapé; pó de fumo para
se cheirar; torrado.
SER TIRO E QUEDA (exp.) - não ter
erro; ser eficaz (Para diarréia o chá de SIMPATIA (s.) - ritual ou objeto su-
crista-de-galo é tiro e queda). persticiosamente usado para curar uma
enfermidade, mal-estar ou para se atingir
SESSAR (v.) - peneirar (Antes de torrar um objetivo (Para curar soluços de cri-
a massa de mandioca é preciso sessar, anças a simpatia infalível é um pedaci-
senão a farinha fica caroçuda). nho de baeta molhado e pregado na
testa do bebê). Há uma diferença entre
SESTRO (s.) - tique nervoso; mania; simpatia e benzedura, embora ambas
gesto incontrolável (Você precisa corri- sejam do ritual protetivo, ou seja, um
gir esse sestro de chupar os dentes, que conjunto de gestos, rezas ou palavras
uma hora irá passar vergonha no meio com as quais se procura obter a cura,
de gente). proteção da saúde ou prevenção de ma-
523
les: a simpatia pode ser realizada por sua carreira como vereador no municí-
qualquer pessoa, enquanto que a benze- pio de Colinas de Goiás (hoje, Colinas
dura é executada por pessoas especiali- do Tocantins); lutou denodadamente por
zadas, como o benzedor, o rezador e o mais de duas décadas pela divisão do
curador. Em resumo: toda reza que não Estado de Goiás para a criação do Es-
é especialmente administrada por benze- tado do Tocantins, tendo sido, várias
dor, curador ou rezador é simpatia. vezes e sucessivamente, eleito deputado
federal pelo Estado de Goiás com vota-
SINAL (s.) - cortes determinados que se ção expressiva no território posterior-
fazem nas orelhas de animais, como por- mente desmembrado, sempre tendo
cos e caprinos, que permitem a identifi- como meta de seus mandatos a criação
cação de seu dono. do Estado, submetendo-se até mesmo a
uma greve de fome, após um veto do
SINALAR (v.) - V. assinalar. então Presidente da República José Sar-
ney à criação do Estado, o que obrigou o
SINAPISMO (s.) - cataplasmo de mos- governo federal a assumir o compro-
tarda, alho ou qualquer substância pi- misso de constituir uma comissão para
cante que se coloca sobre a parte afetada redividir o país. Pelo artigo 13 do Ato
do corpo; também se designa o pedaci- das Disposições Constitucionais Transi-
nho de alho amassado que se amarra tórias da Constituição Federal de 1988,
com um trapo na ponta do dedo mínimo foi criado o Estado do Tocantins, termi-
para se curar a dor de dente: como o alho nando uma luta que vinha desde o século
faz latejar, supõe-se que as pulsações do passado, com as primeiras manifestações
dente dolorido passam para o dedo. libertárias do Desembargador Joaquim
Teotônio Segurado, encampada por Si-
SINOEIRO (s.) - V. sinueiro. queira Campos. Foi eleito seu primeiro
Governador, instalando o Estado em pri-
SINUCA-DE-BICO (s.) - situação difí- meiro de janeiro de 1989, na cidade de
cil; impasse (Agora fiquei numa sinuca- Miracema do Tocantins, capital provisó-
de-bico, pois mandei fazer r o remédio, ria; posteriormente, sua liderança levou-
e o boi doente). o a ocupar novamente a chefia do Exe-
cutivo tocantinense, tendo sido reeleito
SINUEIRO (s.) - boi manso, geral- para ocupar a Chefia do Executivo no
mente encorpado, que é atrelado junto período 1999/2002, pela terceira vez..
com um bravo para ser conduzido com
mais facilidade; sinoeiro; sinuelo. SIQUEIRISTA (adj.) - partidário do
siqueirismo.
SINUELO (s.m) - V. sinueiro.
SIRIBOLO (s.) - confusão (Na hora em
SIQUEIRISMO (s.) - corrente política que deram o tiro no meio da festa, ar-
tocantinense que segue as orientações de mou-se um siribolo medonho).
José Wilson Siqueira Campos, criador,
implantador e primeiro governador do SIRIEIRO (adj.) - desconfiado; inibido;
Estado do Tocantins. Siqueira Campos, cabreiro.
líder político de origem cearense e radi-
cado no então Estado de Goiás, iniciou
524
SIRIGAITA (s.) - mocinha que con- (De madrugada, bebi uma soca de café
versa demais ou que tem resposta para de ontem e panhei a estrada).
tudo.
SOCADO (adj.) - 1. pilado no pilão (A
SIRIRICA (s.) - masturbação feminina. boa paçoca de gergelim deve ser socada
junto com farinha e rapadura). 2. es-
SISTEMA (s.) - mania (O coronel condido; distanciado (Vivia socado na-
Afonso era um homem cheio de sis- quele sertãozão, que nem notícia tinha
tema: só bebia água de pote feito de de gente).
barro-de-loiça branco).
SOCAR (v.) - pilar (café, paçoca etc.);
SÍTIO (s.) - pequena propriedade rural; descascar arroz; pisar (1).
chácara.
SOCÓ (s.) - ave pernalta, menor que o
SOBEJO (s.) - resto que fica no copo ou jaburu e com ele parecido, que vive nos
no prato. brejos e pântanos.
SOCA (s.) - 1. o que sobra na roça de SOLAMA (s.) - sol forte; solzão.
arroz após a colheita (Lídio ficou com
pena de Eli e deu-lhe a soca da roça SOLAPA (s.) – 1. loca cavada pela água
pra ele aproveitar). 2. resto de café frio na base dos barrancos dos rios. 2. Pe-
525
quena cratera horizontal nas encostas das
serras. 3. coisa grande; lapa. SOLZÃO (s.) - solama; sol muito
quente (Não vou sair com ese solzão do
SOLAR (v.) - 1. colocar sola no calçado meio-dia; vou esperar a tarde esfriar).
(Com pouco tempo de aprendizado na
sapataria, ele já solava muito bem SOMAR (v.) - importar-se; ligar (Estou
qualquer calçao). 2. no futebol, é colo- pouco somando que você se zangue).
car a sola do pé em posição de alavanca,
para que o chute do adversário não atinja SOMBRA E ÁGUA FRESCA (exp.) -
a bola, mas lhe provoque a queda. situação cômoda (Essa mocidade de
hoje só quer sombra e água fresca).
SOL NA CABEÇA (s.) - insolação. O
remédio prescrito para a insolação é de SONHIM (s.) - pequeno mico de cor
fundo místico: pega-se uma toalha e do- acinzentada; soim.
bra-se em 9 dobras; enche-se uma gar-
rafa d’água; coloca-se a toalha dobrada SOPA NO MEL (s.) - grande oportuni-
na cabeça do paciente e a garrafa des- dade (A carona justamente no dia da
tampada e com a boca para baixo sobre festa foi a sopa no mel).
a toalha; enquanto o paciente fica sen-
tado, reza-se o credo em cruz; depois SOPAPEAR (v.) - V. sojigar.
retira-se a garrafa e despeja-se a água em
círculo em redor do paciente, repetindo a SOPEIRA (s.) - tigela.
reza três vezes.
SOPITAR (v.) - espirrar, tratando-se de
SOLTAR A LÍNGUA (exp.) - revelar doce ou sabão durante a fervura; aljofrar
um segredo ou algo que possa compro- (Ele queimou a mão porque não pen-
meter alguém (Não conte nada pro sou que o sabão fosse sopitar no tacho).
Mundico, pois, conversador como nin-
guém, ele é bem capaz de soltar a lín- SOQUEIRA (s.) - soco-inglês; peça de
gua). ferro com que se protege a mão para dar
soco sem se ferir e para causar trauma-
SOLTAR O BARRO (exp.) - defecar; tismo no contendor.
cagar.
SORTE (s.) - forma parceria pecuária
SOLTAR OS CACHORROS (exp.) - para remunerar o vaqueiro, que consiste
agredir com palavras; ficar agressivo, em separar grupos de quatro (ou cinco)
hostil; revoltar-se; rodar a baiana bezerros, para que o vaqueiro ganhe um
(Quando descobriu que o marido tinha sorteado entre os de cada grupo, na
amante, ela soltou os cachorros). época da ferra.
526
gava duas mudas de roupas subselen-
SOTAQUE (s.) - gozação; chiste (De- tes).
pois que a noiva desmanchou o casa-
mento, o Berinha passou a ouvir sota- SUÇA (s.) - dança movimentadíssima
que de todo mundo). tradicional em certas regiões, em que as
pessoas dançam soltas acompanhadas
VEJA TAMBÉM: pelo tambor; sussa.
Jogar sotaque.
SUCESSO (s.) - acidente; desastre (De-
SOVACO (s.) - axilas; quiquiu; su- pois daquele sucesso com o caminhão,
baco; suvaco. o pobre ficou paralítico).
527
ximar-se dele, quando, em distância se- SUÇUAPARA (s.) - espécie de veado
gura, arma o bote, à feição de uma po- muito grande, atualmente em extinção,
tente mola, enrosca-se nele, constri- que vive nos brejos.
tando-o até matá-lo, para depois engoli-
lo. Nunca ataca longe da água, pois, em SUÇUARANA (s.) - onça vermelha, de
regra, prende sua cauda numa raiz e en- porte médio, que só ataca bodes, porcos,
rola-se na presa, trazendo-a até à mar- bezerros e animais menores; onça ver-
gem, depois afrouxa o laço, dando-lhe a melha.
sensação de liberdade, e puxa-a nova-
mente até ela se cansar, após o que a SUCURI (s.) - V. sucruiú.
engole inteira, o que faz com animais de
grande porte, que necessitam cansar-se SUCURIÚ (s.) - V. sucruiú.
antes. Esta cobra - acredita o sertanejo -
é muito traiçoeira, pois nunca ataca de SUINDARA (s.) - coruja branca, de
frente; sempre é pelas costas e sem se porte médio, conhecida nacionalmente
esperar. Costuma esperar suas presas como rasga-mortalha (V.).
pacientemente em locais estratégicos,
como aguadas, passagens de cursos SUJAR (v.) - defecar (tratando-se de
d’água, árvores caídas que servem de crianças).
ponte, ali permanecendo horas e até dias
seguidos. Tem facilidade em subir em SUJO (s.) - o Diabo.
árvores verticalmente, faculdade que não
possui para descer, deixando-se cair des- SUMANA (s.) - semana.
graciosamente, quase sempre embolada,
e, apesar de muitas vezes precipitar-se SUMIDOR (s.) - V. sumidouro.
de grandes alturas, não sofre qualquer
dano devido à elasticidade de seu corpo. SUMIDOURO (s.) - lugar onde um
Quando come um animal grande, passa curso d’água desaparece no chão; sumi-
muito tempo imóvel até que faça a di- dor.
gestão completa. Diz o sertanejo que,
neste caso, quando a cobra fica imóvel SUMIR DO MAPA (exp.) - desapare-
em um brejo, até capim nasce em suas cer; exalar.
costas. É um animal ovovivíparo, que
choca seus ovos no próprio ventre, e os SUMITÉRIO (s.) - cemitério.
filhotes, uma vez nascidos, dispensam
cuidados dos pais, cuidando cada um de SUNGA (s.) - suspensório escrotal; cu-
si. É um animal muito resistente a lhoneira; funda.
chumbo e bala, não morrendo de qual-
quer tiro; para que o disparo seja mortal, SUNGAR (v.) - levantar; erguer (Foi só
é preciso que atinja nas proximidades do ele sungar o menino, o moleque abriu o
ouvido; noutras posições, a bala costuma bué).
resvalar no seu couro, que é muito re-
sistente e elástico. Quando assustada ou SUPETÃO (adv.) - V. de supetão.
enraivecida, expele um odor muito desa-
gradável, que serve de advertência. SUPIMPA (adj.) - excelente; muito
bom.
528
SURA (s.) - ave sem as penas do rabo; SUSPENSOL (s.) - suspensório.
nabuco; pitoco; rabicó; suru; suruca.
SUSPIRO (s.) - 1. bolinho de cor branca
SURIAR (v.) - assorear; encher de areia. feito de clara de ovo batida e açúcar. 2.
buraco que, sem ser a entrada, tem co-
SURRÃO (s.) - 1. saco de couro para municação com a toca e por onde escapa
transportar água; borracha (2). 2. bar- a caça; respiro.
riga (Depois de encher o surrão ele foi
tirar uma palha na rede). SUSSA (s.) - V. suça.
529
-T-
TABA (s.) - tábua. tia, quando viu o cachorro, fugiu para
o tabuleiro). 2. espécie de bandeja de
TABACO (s.) - 1. fumo; rapé. 2. va- alumínio ou folha-de-flandres com bor-
gina. das para se assar bolo ou biscoito; assa-
deira.
TABARÉU (s.) - V. matuto; brejeiro;
caipira; chapéu-atolado. TACA (s.) - 1. chicote de couro (Traga
uma taca aqui para eu espantar as ga-
TABATINGA (s.) - terra argilosa de cor linhas). 2. surra (Ele levou uma taca da
branca, imprópria para a cultura e que polícia, que mijou nas pernas).
substitui a cal na caiação.
TACAR (v.) - 1. bater (Quando o su-
TABEFE (s.) - tapa dado com a mão jeito tacou a mão na cara dele, o negó-
aberta; tapa (1). cio ficou feio). 2. enfiar (Não fique ta-
cando a mão no prato de comida, me-
TABOCA (s.) - bambu da mesma famí- nino!).
lia da taquara, de gomos mais curtos e
grossos, muito utilizada no ripamento de TACHA (s.) - V. rabeira (2).
telhados e de paredes-de-enchimento.
TACHADA (s.) - o conteúdo de um
VEJA TAMBÉM: tacho (1) na moagem.
Passar taboca.
TACHO (s.) - 1. espécie de vasilha
TÁBUA DO PESCOÇO (s.) - parte aberta, geralmente feita de cobre, com
lateral do pescoço do animal. duas alças laterais utilizadas na moagem
para ferver a garapa e transformá-la em
TÁBUA DA VENTA (s.) - parte lateral melado e rapadura. 2. relógio de pulso
do nariz, logo abaixo do olho (Taquei- de tamanho grande e marca ordinária.
lhe a mão na tábua da venta, que o mel
desceu). TACO (s.) - pedaço arrancado de uma
parte maior; naco (Ele só conseguiu um
TABULEIRO (s.) - 1. espécie de vege- taco de carne pra comer, um taquinho
tação rasteira de terreno arenoso (A cu- de nada).
530
TAÇUÍRA (s.) – espécie de formiga TALHADA (s.) - fatia, de fruta ou de
pequena. bolo.
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TAMBORIL (s.) - árvore frondosa e de
grande porte cuja madeira é muito leve, TAPERA (s.) 1. casa abandonada na
especial para a fabricação de embarca- zona rural. 2. mulher acabada pelos
ções. maus tratos.
532
TARIMBA (s.) - experiência; prática. zenda e às vezes para atender a enco-
mendas (hoje, com a evolução da indús-
TAROQUE (s.) - bandulho; pança; tria têxtil, com o conseqüente baratea-
pandu. mento, os teares tornaram-se peças ob-
soletas). O tear possuía os seguintes
TARUMÃ (s.) - árvore da mata que pro- componentes:
duz frutos do mesmo nome e que são canelinha - é o complemento da lan-
muito apreciados pelas caças. çadeira;
casal - caixa dividida em escaninhos
TATAÍRA (s.) - 1. abelha silvestre de para se colocar os novelos a serem teci-
picada dolorosa, também chamada caga- dos;
fogo. 2. pancada que é dada com a pedra foicinha - peça feita de um pedaço de
na mão da pessoa que maneja mal o bo- bambu para enfiar o fio no pente;
doque. lançadeira - peça que conduz a ca-
nelinha;
TATEAR (v.) - procurar algo no escuro, lissios - peça que leva os fios do ur-
utilizando-se do sentido do tato. dume;
pente - peça que leva os fios do ta-
TATU (s.) - mamífero ungulado, de que pume;
há várias espécies e que tem a peculi- restelo - uma das peças de urdir o
aridade de ter as crias de um só sexo em pano;
cada barrigada (1). tempereiro - é a peça que serve para
esticar o pano no sentido da largura;
TATU-BOLA (s.) - espécie de tatu que, urdideira - peça que urde o pano.
para se proteger, envolve-se no seu pró- Para o preparo da linha destinada a se
prio casco, tornando-se uma bola; bola. transformar em tecido pelo tear, eram
utilizados os seguintes equipamentos:
TATU-CANASTRA (s.) - o maior dos arco - de formato de um bodoque,
tatus, estando em extinção; vive nos ge- servia para bater o algodão, substituindo
rais e tem o tamanho aproximado de um as cardas nas linhas grossas;
porco de porte médio; canastra. cardas - espécie de pente, para pen-
tear e desembaraçar as linhas destinadas
TATU-PEBA (s.) - V. peba. à tecelagem;
descaroçador - pequeno engenho de
TATURANA (s.) - V. lagarta-de-fogo. madeira com dois cilindros paralelos
horizontais, para retirar os caroços (se-
TATU-VERDADEIRO (s.) - variedade mentes) do algodão;
de tatu de tamanho maior que o peba. meadeira ou dobradeira - peça desti-
nada a dobrar as meadas.
TAUÁ (s.) - espécie de barro averme-
lhado; toá. TECO (s.m) - V. teco-teco.
533
TENESMO (s.) - disenteria, andadeira;
TEIÚ (s.) - grande lagarto cinzento, caganeira; reira.
surdo, comedor de ovos, cuja carne é
muito apreciada e que se defende dando TENTEAR (v.) - ir levando a vida; pa-
chicotadas com a cauda; tejo; tiú. liar (Com o mísero salário que ganhava
ele ia tenteando).
TEMPERAR A GARGANTA (exp.) -
tossir para chamar a atenção de alguém; TER AREIA NO BUCHO (exp.) - ser
consertar a garganta. indiscreto; não saber guardar segredo;
conversar além do necesário (Eu queria
TEMPEREIRO (s.) - parte do tear (V.). fazer uma surpresa à Amália, mas Cé-
sar tem areia no bucho, e foi contar pra
TEMPESTADE EM COPO D’ÁGUA ela que iríamos dar-lhe uma festa).
(s.) - escândalo ou confusão armada sem
motivo. TER CABELO NAS VENTAS (exp.) -
ser corajoso; atrevido.
TEMPO ANTIGO (adv.) - outrora; há
muito tempo (No tempo antigo não ha- TERECÔ (s.) - sessão de macumba (A
via banco nem inflação; a gente enter- polícia está investigando o crime ocor-
rava o dinheiro para guardar). rido num terecô em Araguatins).
TEMPORÃO (adj.) - fruto que dá fora TER MÃO (exp.) - sustentar; segurar
do tempo próprio (Nesta época, não (Ninguém conseguia ter mão naquele
existe caju para vender na feira, a não malcriado).
ser algum temporão).
TER MENINO (exp.) - V. descansar.
TENDA (s.) - oficina, especialmente de
sapateiro. TER NENÉM (exp.) - dar à luz; des-
cansar.
VEJA TAMBÉM:
Dar na tenda. TER O FÍGADO BRANCO (exp.) -
diz-se da pessoa que fica viúva mais de
TENDEPÁ (s.) - confusão; estarda- uma vez.
lhaço; estandarte; furdunço; tenderepá.
TER O OLHO MAIOR DO QUE A
TENDEREPÁ (s.) - V. tendepá. BARRIGA (exp.) - ser guloso.
534
TER PARTE COM O CAPETA (exp.) TESÃO (s.) - 1. enrijamento dos órgãos
- pessoa misteriosa, que, segundo a su- sexuais devido à excitação. 2. pessoa
perstição, não passa privação de dinheiro cujo aspecto físico causa excitação se-
e pratica atos inexplicáveis. xual.
TERRINA (s.) – vasilha grande, geral- TICACA (s.) - coisa sem valor; coisa
mente de vidro, louça ou inox, que se sem importância..
usa para servir alimentos líquidos (fei-
jão, canja, sopa etc.).
535
TIÇÃO (s.) - 1. pedaço de madeira par- TINGUIJADO (adj.) - bêbado; embria-
cialmente aceso. 2. negro; cafuçu; cas- gado com tingui.
cabulho-de-loiceira.
TINTOL (s.) - anilina própria para se
VEJA TAMBÉM: tingir roupas.
A tição.
TIO - 1. (pron.) - tratamento que se dá
TIFUTE (s.) - preto; cafuçu. às pessoas mais velhas às quais se pede a
bênção. 2. (s.) maneira de se chamar um
TIGRE (s.) - vasilha sanitária, espécie cachorrinho cujo nome não se sabe.
de barril, onde se transportavam para
despejo matérias fecais. TIOREGA (s.) - rotina (É verdade que
ele deixou de beber uns tempos, mas
TIJOLO (s.) - rapadura feita de melado, quando bebeu uma vez voltou à tio-
com leite, coco, mandioca ralada ou ma- rega).
mão, canela e outros ingredientes; difere
da rapadura, porque esta é feita exclusi- TIPI (s.)- V. guiné.
vamente do melado da cana, enquanto o
tijolo é a rapadura temperada (com TIPÓIA (s.) - 1. sustentáculo de pano
cravo, canela, coco, gengibre, jaca, ma- que se amarra ao pescoço, formando
mão etc.). uma rede para agasalhar o braço ferido
ou quebrado. 2. Rede de dormir (por
TIJOLO A TIÇÃO (exp.) - diz-se da influência nordestina); fiango.
construção feita com tijolos ou adobes
atravessados, de forma a que as paredes TIQUE (s.) - sestro.
fiquem mais grossas; o oposto de tijolo
de espelho. TIQUIM (s.) - V. tiquinho.
536
TIRADO A (exp.) - metido a (Ele é um TIRAR DE EITO (exp.) - levar de ven-
camarada tirado a mecânico). cida (Trabalhador como era, aquele
pedacinho de roçado ele levou de eito,
TIRA-GOSTO (s.) - qualquer coisa que num abrir e fechar de olhos).
se come para acompanhar uma bebida.
TIRAR DE LETRA (exp.) - realizar
TIRANABÓIA (s.) – V. cobra-de-asa. algo sem dificuldade (Um servicinho
como aquele ele tirava de letra).
TIRANTE - 1. (adv.) exclusive; exceto;
forante (Tirante o dono da casa, todo TIRAR LEITE DE PEDRA (exp.) -
mundo ficou chilado). 2. correia que realizar o impossível (Tentar um des-
prende o arreio. conto com o turco das roupas é tirar
leite de pedra).
TIRA-PEIA (s.) - espécie de cobra pe-
quena, mas extremamente venenosa; seu TIRAR O CABAÇO (exp.) - desvirgi-
nome decorre da conseqüência de sua nar.
picada: segundo o sertanejo, quando ela
ofende qualquer animal, pode-se tirar TIRAR O CASQUEIRO (exp.) - dar
sua peia e soltá-lo, pois não escapa. início a (Vou tirar o casqueiro na roça,
começando a roçagem).
TIRAR (v.) - 1. retirar (Da pequena
economia ele tirou quase a metade para TIRAR O CAVALO DA CHUVA
comprar a casa). 2. seduzir mulher vir- (exp.) - desistir de um intento (Se quiser
gem (Foi aquele moleque que tirou a ganhar dinheiro fácil sem trabalhar,
filha do carpinteiro). pode tirar o cavalo da chuva).
537
financeiras (Com a indenização que sumo das folhas de picão, infusão das
recebeu, o Tiago tirou o pé da lama). folhas de jurubeba, dentre inúmeras ou-
tras prescrições.
TIRAR O SELO (exp.) - V. tirar o
cabaço. TIRIRICA (s.) – 1. pele, geralmente
dos pés, ressecada pela poeira, que
TIRAR O TEMPO (exp.) - servir ao forma escamas. Para se eliminar a tiri-
Exército (quando se refere à polícia, é rica, nada melhor do que o sumo das
“sentar praça”). folhas do mamoeiro. 2. V. tiquira.(1).
538
TOMAR CHÁ-DE-CADEIRA (exp.) -
TOCO DE AMARRAR ONÇA (s.) - ficar aguardando por muito tempo ser
baixote; pessoa baixinha e esperta. atendido.
539
TOQUE (s.) - 1. empanturramento no
bucho do gado, provocado pelos grãos TORRAR (v.) - vender por qualquer
de areia, que, com os respingos das pri- preço ou a preço muito baixo.
meiras chuvas, aderem ao capim que é
ingerido (Forante o atoleiro, o gado, TORRAR NOS COBRES (exp.) - ven-
com as primeiras chuvas, costuma mor- der por qualquer preço.
rer de toque nos gerais). 2. qualquer
execução musical; música executada TORREIS (s.) - torresmo.
(Depois que ouvi aquele sanfoneiro,
pedi que ele mostrasse outro toque). TORRESMO (s.) - toucinho frito.
TORTO (adj.) - 1. diz-se do animal de
TORA (s.) - pedaço (Foi até a venda e montaria que possui as patas dianteiras
trouxe uma tora de fumo, que dava pra tortas. 2. zarolho.
pitar mais de mês).
TOSSE (s.) - manifestação de irritação
TORAR (v.) - 1. cortar; decepar. 2. da garganta. Inúmeros são os remédios
rumar; tomar a direção (Ele passou por para tosse. São mais usados os seguintes:
aqui e torou pela chapada para ir a chá de enxerto de passarinho (parasita
casa do genro). vegetal); poaia (ipeca ou ipecacuanha),
quer sob forma de chá, que seja mistu-
TORAR NO MIRILIM (exp.) - dece- rada com mel de uruçu, preparada da
pionar-se; quebrar a cara. seguinte forma: cinco molhos de poaia
em três garrafas d’água, deixando ferver
TORCIDA (s.) - 1. grupo de aficionados até reduzir-se a uma garrafa; adiciona-se
de um time; 2. pavio da lamparina; ti- uma garrafa de mel de uruçu e ferve-se
rada (1). de novo até ficar reduzido a uma garrafa;
a mistura deve ser tomada em doses
TORNEIRA (s.) - cabide múltiplo, com equivalentes a uma colher de sopa, três
vários tornos, para dependurar chapéus; vezes ao dia. Também são receitados o
torno. chá de casca de imburana, de casca de
angico, de raízes de alfavaca e de raízes
TORNO (s.) - prego ou pedaço de ma- de coronha. Lavam-se raspas de juazeiro
deira que se fixa na parede para depen- em sete águas e bebe-se a derradeira.
durar chapéus e outros objetos; V. tor- Tira-se a película da folha da babosa,
neira. tritura-se, acrescenta-se-lhe açúcar e faz-
se um mel grosso para se tomar colher a
TORÓ (s.) - chuva forte; aguaceiro; pé- colher, em três doses diárias. Também
d’água. são receitados os chás da casca de jatobá
(do fruto), de arruda e de cravo-de-de-
TORRADO (s.) - rapé; simonte. funto.
540
TRAMPOLINAGEM (s.) - ação de
TOUCÃO (s.) - bermudas. quem é trampolino.
541
tecnologia de hoje; por isso, ele é tratado TRASLADO (s.) - cópia manuscrita do
com muito desvelo e adulado pelos do- que consta da norma.
nos de instrumentos, passando conveni-
entemente vários dias na casa do cliente, TRASTE (s.) - 1. roupa velha; bre-
bem alimentado, como pessoa de alta gueço; cacareco. 2. pessoa sem serven-
distinção. tia; inútil.
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ângulo, sobre as quais de coloca a pa-
TRESANTONTE (adv.) - tresanteon- nela, com o fogo aceso entre elas.
tem; o dia anterior a anteontem.
TRENHAMA (s.) - tralha; conjunto de
TRETA (s.) - V. treita. utensílios de cozinha; trenheira (No car-
gueiro de mantimentos, ele carregava a
TRETEIRO (adj.) - V. treiteiro. trenhama de cozinha).
543
TRIPA-DE-MICO (s.) - válvula de TROLADO (adj.) - embriagado.
pneu de bicicleta, constituída de um tubo
de borracha extremamente fino, que re- TRONCHO (adj.) - diz-se do animal
presa a saída do ar. com uma das orelhas caída ou cortada;
camurcha; nambi.
TRISCAR (v.) - tocar levemente.
TRONCO (s.) - pequeno corredor no
TRISCO (s.) - 1. pequena quantidade curral por onde é encaminhado o gado
(Ela não lhe deu nem um trisco do para ser encarretado ou para ser imobili-
doce). 2. expressão que indica tamanho zado para ser vacinado.
diminuto (O senhor comendador não
passava de um trisco de gente). TRONCUDO (adj) - V. atarracado.
544
TRUCO (s.) - jogo de baralho, entre TUCUNARÉ (s.) - é o peixe-símbolo
dois ou quatro parceiros, cada um dos dos lagos do Araguaia, um dos mais
quais recebe três cartas. tradicionais do Estado, cuja carne é ex-
celente, mas facilmente deteriorável. É
TRUMBICAR (v.) - fracassar; sair-se um dos mais bonitos peixes da região,
mal. assemelhando-se ao dourado do Sul. Há
várias espécies: o tucunaré-açu (mais
TRUVISCAR (v.) - sair rapidamente; encontrável no rio Amazonas), o tucu-
pinicar (2). naré-pitanga, o tucunaretinga e o tucu-
naré-paca, que é mais característico do
TRUVO (adj.) - turvo. Araguaia, possuindo escamas salpicadas
de branco, lembrando a cor da paca.
TUBADA (s.) - carreira; corrida. Atinge até 10 quilos, havendo registros
de que no Amazonas e seus afluentes
TUBARANA (s.) - peixe fluvial que chega ao dobro desse peso. É um peixe
vive nas corredeiras. robusto, bonito, de muita força e veloci-
dade. Costuma ficar ferrado na primeira
TUBI - 1. (s.) espécie de abelha silves- fisgada, e como predador jamais erra a
tre. 2. (s.) vagina; tixé; tixim; toba; xibiu bocada: ao disparar no encalço de outro
(2). peixe, este às vezes salta para longe, mas
ele o acompanha por baixo e acaba abo-
TUBO (s.) - retrós (Vá na loja de To- canhando-o. A tucunaré-fêmea geral-
nhá e compre um carrinho de linha mente é mais magra que o macho, exa-
azul; se não tiver, traga um tubo tamente porque é mais amorosa e rara-
mesmo). mente sai de perto dos filhotes para bus-
car alimento. O tucunaré desova cerca de
TUCUDO (adj.) - diz-se do menino que três vezes ao ano.
vive batendo nos outros.
TUDINHO (adv.) - absolutamente tudo;
TUCA (s.) - V. bola do tucum. tudico de tudo (Você disse que ela es-
tava sem fome, mas comeu tudinho).
TUCUM (s.) - espécie de palmeira que
produz espinhos semelhantes a alfinetes, TUDICO DE TUDO (exp.) - V. tudi-
que os subsituem principalmente na al- nho.
mofada, para se fazerem bicos e rendas,
bem como resistentes fibras para o fa- TUFÉ (adv.) - igualzinho; idêntico.
brico de cordas (Corda boa para armar
rede tem que ser de tucum). TUPINA (adj.) – valente; decidido.
545
maloca). 2. contar vantagem (Ele che- TUSAR (v.) - penar; gramar; grosar (2)
gou naquele lugarejo turrando muito). (Com aquela dura condenação, ele tu-
sou cinco anos de cadeia).
TURUNA (adj.) - qualidade do boi que,
mesmo após castrado, conserva o garbo TUTANO (s.) - 1. medula óssea (A vaca
e o aspecto de touro. era tão gorda, que o próprio tutano dis-
pensava outra gordura para cozinhar).
TURVAR (v.) - escurecer. 2. força; resistência física (É preciso ter
tutano para agüentar aquele serviço).
TURVO (adj.) - escuro.
TUTANQUEBA (s.) – manda-chuva;
chefão.
546
UMA (s.) - dose de cachaça (Ele chegou UNHA-DE-FOME (s.) - pão-duro; ava-
ao boteco e logo pediu uma para fechar rento; canguinho; ridico.
o corpo).
UNHA-DE-GATO (s.) - arbusto cujos
UMA-COISA-QUE-SERVE (exp.) - espinhos se assemelham a unhas de gato.
expressão muito utilizada para designar
grandeza, excelência (Comprei um ca- UNHA E CARNE (s.) - denota compa-
valo uma-coisa-que-serve) ou intensi- nheirismo, união entre amigos (Juliano
dade (A raiva do velho foi uma-coisa- e Júnior sempre foram unha e carne).
que-serve).
UNHEIRO (s.) - panarício. Um dos
UMA NOTA (s.) - muito dinheiro (Com remédios mais comuns é abrir-se um ovo
a venda da fazenda, o Geraldo ganhou fresco por uma de suas pontas, introdu-
uma nota). zir-se-lhe o dedo molestado e depois
envolver-se com um pano e dedo, me-
UMAS E OUTRAS (s.) - bebedeira; tido no ovo, durante uma noite ou um
cachaça (Vou dar uma saída e tomar dia. A cura é certa, segundo o povo. As
umas e outras). fezes de galinha, lambuzadas no panarí-
cio, são tidas por excelente remédio.
UMAS POUCAS DE VEZES (exp.) - Também o emplastro de alho, fumo e
várias vezes (Já o procurei umas pou- farinha de mandioca colocado sobre o
cas de vezes, mas não o encontrei). panarício ou unheiro resultam na cura.
UMBU (s.) - fruto do umbuzeiro, de URCO (s.) - V. baita; bitelo (Pensei que
formato arredondado e cor amarelada, ele era fraquinho, mas me espantei
excelente para sucos e sorvetes; embu; quando chegou aquele urco de ho-
imbu. mem).
547
URUCUBACA (s.) - azar; falta de sorte;
aricubaca; curu; inhaca. URUVAIO (s.) - orvalho.
-V-
548
VACA (s.) - mulher feia e desarrumada. VALER OS TUBOS (exp.) - valer
muito (Uma terra desse tipo vale os tu-
VADEAR (v.) - 1. passar o rio pelo vau, bos).
sem necessidade de embarcação (Na
época da seca, não carece de canoa, VEJA TAMBÉM:
pois a gente pode vadear o Tocantins Não valer o feijão que come
naquele ponto). 2. contornar (Com as Não valer o que a gata enterra
cheias, para atravessar o Itaboca é ne- Não valer um derréis de mel mal
cessário vadear pelas cabeceiras). coado.
549
VARA-DE-TIRAR-MAMÃO (S.) - V. mato, toca essa rama, perde completa-
varapau. mente o rumo, mesmo que se encontre
no seu próprio quintal.
VARADO DE FOME (exp.) - extrema-
mente faminto; morto de fome (Chegou VASO RUIM (exp.) - pessoa ordinária
aqui varado de fome ainda esturdia, (O João? Eu lá quero negócio com
mas hoje está recuperado e até gordi- aquele vaso ruim!).
nho).
VASQUEIRO (adj.) - escasso; mon-
VARAPAU (s.) - pessoa crescida ou tado em cavalo gordo (Dinheiro é um
mais alta que o normal; cavalo-de-tróia; artigo que anda muito vasqueiro hoje
vara-de-tirar-mamão; galalau (Vara- em dia).
pau de carregar uma quarta de arroz
na cacunda, ele está é de molecagem VAU (s.) - lugar do rio ou córrego onde
alegando cansaço). se atravessa a pé.
550
VEADO (s.) - efeminado; homossexual; melhos de casca aveludada e de caule e
baitola; fresco; vinte-e-quatro; zé-mu- galhos espinhosos.
lher.
VENDA (s.) - V. bodega.
VEADO-DO-CAMPO (s.) - macho da
campeira; catingueiro; chibéu; fuboca. VENENO (s.) - o tope (3) em que, no
jogo de bola-de-gude, se inicia a mão, e
VÊ-DÁBLIU (s.) - a letra W. que, percorridos os três topes, o jogador
que o conseguir fica imune, até que seu
VEIA (s.) - temperamento; veneta parceiro consiga a mesma coisa.
(Aquele camarada já demonstrou que
tem a veia ruim). VENETA (s.) - capricho; vontade; veia.
551
quando se desloca no sentido nor-noro- a viola em cacos quando cancelaram
este. sua nomeação).
(Ao terminar, reza-se um Pai Nosso e VERGÃO (s.) - marca deixada na pele
uma Ave Maria). pela chicotada.
VER - 1. (v.) ouvir (É só você ver essa VERGA-TESA (s.) - cipó de proprie-
música vai se lembrar dela). 2. (prep.) - dades afrodisíacas.
como; igual (Eles fuçaram a casa toda,
ver um bando de bárbaros). 3. procurar; VERGONHAS (s.) - partes íntimas;
buscar; trazer (Veja aí uma cerveja bem órgãos sexuais.
gelada).
VERGONHOSA (s.) - V. treme-treme.
VER A AVÓ POR UMA GRETA
(exp.) - V. ver a porca mal capada. VERGÔNTEA (s.) - V. verga.
552
VERTER ÁGUA (exp.) - urinar; fazer minha capanga na torneira). 2. ficar à
xixi; mijar (Só se levantou uma vez, espreita na roça de arroz e milho para es-
para verter água, e dormiu a noite pantar passarinhos e macacos.
toda).
VIM (s.) - vinho.
VESGO (s.) - estrábico; caolho.
VINDIÃO (s.) - vendedor de balcão;
VESPRA (s.) - véspera. vendilhão; caixeiro.
VESPRAR (v.) - estar às vésperas (Ves- VINGAR (v.) - escapar; sobreviver (Dos
prando o Natal, começa-se a preocupar pés de coco que plantei vingaram ape-
com os presentes). nas três).
553
VIRAR A CASACA (exp.) - mudar de VIVENTE (s.) - pessoa;
partido; bandear; aderir. criatura.
VISITA-DE-COVA (s.) - sétimo dia da VOGA (s.) - uso atual (Hoje está muito
morte de alguém, quando os familiares em voga a música sertaneja).
visitam a sepultura, rezam e depositam
flores, além de mandarem celebrar VOGAR (v.) - ter valia; ter importância;
missa. adiantar; prevalecer (Comprar um prato
554
de arroz não voga para quem tem dez VOSSEMECÊ (pron..) - você; vossa
pessoas para dar de comer). mercê; vossemecê é o tratamento usado
de subalterno para superior (quando é de
VOLTA (s.) - 1. qualquer colar que se superior para inferior, é vancê).
põe ao pescoço. 2. troco (Dei-lhe uma
nota de cem e fiquei aguardando a VOTE! (int.) - interjeição de admiração,
volta). 3. caminho mais longo (Para equivalente a “puxa!”; seria una abrevi-
você ir à fazenda pela casa de Dunga é ação da expressão “Vou te contar!
volta). (Vote! Esse camarada é mesmo de
sorte.).
VOLTA E MEIA (adv.) - de vez em
quando (Volta e meia a vaca azulega VRIDO (s.) - vidro.
aparece no pátio da fazenda).
VULTO (s.) - assombração; espectro.
555
-X-
XAMEGO (s.) - namoro; xodó; grude. XIRCA (s.) - xícara.
556
-Z-
ZABELÊ (s.) – ave tinamídia, de porte ZÓI (s.) - olhos.
médio, semelhante à perdiz, de cor cin-
zenta e carne saborosa; habita nas matas; ZÓI LIMPO (s.) - esperto; vivo V. olho
há duas espécies: jaó cinzenta e jaó de limpo (Aquele menino de zói limpo de-
coco. monstra muita inteligência).
ZAMBETA (adj.) - que tem as pernas ZÓI RUIM (s.) - V. mau-olhado; que;
tortas. branto.
557
ZURRA (s.) - trabalho pesado; trabalho pra casamento porque sabia que ela
cotidiano (Tratei de zelar daquela moça iria agüentar a zurra).
ZUVIDO (s.) - ouvido.
558
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Quadra da cheia
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De Zé Goela a Pé-de-Janta - Os causos que o Duro conta
Pássaro de asa quebrada
Rua do Grito, 162
Beste-fera (e outros contos)
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Dicionário de termos populares
SILVEIRA, Valdomiro:
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O mundo caboclo
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