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Amazonês

Termos e expressões usadas no Amazonas

O AUTOR

Sérgio Augusto Freire de Souza é amazonense de Manaus, professor da


Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Mestre em Letras pela própria UFAM e
Doutor em Lingüística pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Publicou dois livros. O primeiro, em co-autoria, foi a série Citizen 2000, pela
Editora Novo Tempo. A série didática foi utilizada por anos pelos alunos do ensino médio
da rede pública do Amazonas, tendo sido reformulada em 2004 e rebatizada de New
Citizen. O segundo livro, Conhecendo Análise de Discurso: linguagem, sociedade e
ideologia, apresenta uma introdução à área de Análise de Discurso e foi publicado pela
Editora Valer.

O autor tem publicado artigos em vários periódicos impressos e on-line e


apresentado trabalho em encontros e congressos, além de proferir palestras em várias
instituições. Suas áreas de interesse na lingüística são a Análise de Discurso, Produção de
Material Didático, Aquisição de Linguagem e Informática e Ensino de Línguas. Mais
recentemente ampliou seu interesse por Gestão da Educação Pública.

É casado com Fabiana Eid e pai de Ana Clara e de Marina. Em seu site pessoal
(www.elton.com.br) podem ser encontradas mais informações e outros textos do autor,
como suas crônicas, muitas publicadas em jornais locais.
Umas palavras iniciais...

Este livro é fruto de paixões misturadas: a paixão pela ciência, a paixão pela
linguagem e a paixão pelo Amazonas.

A paixão pela ciência se manifesta porque é por meio dos trabalhos científicos que
descrevemos e explicamos (e, portanto, compreendemos melhor) o mundo em que vivemos.
No entanto, fazer ciência em um país como o Brasil não fácil. O fomento é limitado e as
dificuldades tremendas. A despeito dos empecilhos, fazer ciência é uma forma de se
eternizar no mundo, de deixar um olhar muito particular sobre determinado objeto. Quando
os obstáculos para se concretizar uma pesquisa são superados, há ainda o desafio de torná-
la pública, pois todo texto surge do social e a ele deve voltar. Nesse particular, alegra-me
sobremaneira a acolhida ao trabalho feita pela Editora Valer, grande agente de resgate e
perpetuação da memória cultural de Manaus, por meio de suas inúmeras publicações, nas
mais variadas área do conhecimento.

A paixão pela ciência se manifesta por meio da paixão pela linguagem. Pela
linguagem somos. Pela linguagem damos sentido ao mundo. Na linguagem podemos nos
ver da forma mais verdadeira: nossas crenças, nossos valores, nosso lugar no mundo,
enfim. Somos o que aprendemos a ser durante nossa vida e aprendemos a ser via
linguagem, no nosso caso a língua portuguesa. É doce ilusão, no entanto, acreditar que a
língua portuguesa é única e inteligível por todos os seus falantes. Um breve deslocamento
basta para ouvir outras línguas portuguesas, com outras palavras, outros cantos, outras
identidades. Há o português mineiro, um trem danado de bão; o português gaúcho, tri-
diferente e cuiúdo; há o português caipira e seu falar forgado; há o português carioca, do
povo do ridijanero, sem falar do português falado pelo maranhense, que ao perguntar qual
sua pontuação quer saber o número que você calça. Há vários “portugueses” espalhados no
Brasil, todos bem diferentes do Português que aqui chegou, supostamente nas naus de
Cabral. Depois que aqui aportou, seria impossível que o português de Portugal não sofresse
influência das mais de trezentas línguas indígenas então existentes, bem como das línguas
africanas e européias que para cá também vieram, como registram a nossa história e os
nossos estudos lingüísticos. A língua portuguesa brasileira possui outra história e outra
historicidade, diferentes das que embarcaram nas caravelas no séc. XVI. Por tantas
diferenças, alguns lingüistas já ousam chamá-la de língua brasileira. São línguas com
materialidades tão distintas que ao instalar um programa no computador, por exemplo, há a
opção para ambos os idiomas como se fossem dois, porque de fato o são.

Se cada variante do português espalhada por esse país imenso tem sua nuance é
porque também tem sua história particular. E a variante falada no Amazonas tem a sua. Os
termos indígenas na linguagem da região são bem marcantes, como igarapé, igapó e
bubuia. A linguagem dos soldados da borracha, nordestinos que para cá migraram no fim
do século XIX, deixou sua marca, como catinga, abestado e de lascar. O chiado do
português de Portugal se manteve no s final da pronúncia dos amazonenses.

Por tudo isso, é bobagem disputar a naturalidade dos termos. O que podemos
afirmar é que todos são termos do português brasileiro que, pelo capricho dos movimentos
da história, resolveram aparecer e se fixar aqui ou ali. Assim, o dicionário de Amazonês vai
certamente trazer marcas, por exemplo, de um cearês por conta do encontro lingüístico dos
tempos da borracha. Essas fronteiras lingüísticas são muito tênues e móveis. Estar neste
pequeno dicionário não batiza a palavra como amazonense, mas a naturaliza como cidadã
do maior estado do país porque ela faz sentido na linguagem dessa região.

Essa região é a terceira paixão que confluiu para o aparecimento do livro: a paixão
pelo Amazonas. Terra abençoada com uma cultura tão rica quanto qualquer cultura e tão
peculiar como peculiar é também toda cultura. Como o peixe é o último a perceber a água,
é preciso se distanciar para chegar mais perto. O texto acadêmico embrião deste livro
surgiu na agradável cidade de Campinas, SP, durante o doutorado na Unicamp. O artigo,
requisito para a qualificação de área em Sociolingüística, é apresentado na primeira parte
do livro. No texto há algumas reflexões sobre linguagem e discurso que introduzem e
ajudam a compreender a segunda e maior parte do livro, o dicionário em si.

Por fim, o livro traz ainda uma entrevista sobre o Amazonês feita por Moisés
Arruda para seu blog. Peixe fora d’água, Moisés é um amazonense exilado em São Paulo
que viu na linguagem da sua terra uma forma de diminuir a saudade. A entrevista é
excelente e sintetiza as várias entrevista dadas à imprensa sobre o assunto durante os cinco
anos necessários para que o material tomasse a forma final e chegasse às suas mãos. A
entrevista feita por Moisés responde as dúvidas mais comuns dos leitores leigos. Pelo
distanciamento da linguagem, aqui vista não como parte naturalizada da vida, mas como
objeto teórico, não há como não se espantar com o que nos rodeia o tempo todo: a língua
que falamos. Ou melhor: a língua que nos fala. Boa leitura.

Sérgio Augusto Freire de Souza


Verão sem chuva de 2007
PECULIARIDADES DO FALAR AMAZONENSE:

UM DICIONÁRIO E ALGUMAS REFLEXÕES PEDAGÓGICAS


Sérgio Augusto Freire de Souza

Doutor em Lingüística – UNICAMP

Introdução

Um dos índices de identidade mais forte que conhecemos é a língua. É como diz
Labov (1972), “a questão sociolinguística fundamental vem da necessidade de se
compreender por que alguém diz algo”. Dizer algo passa por usar a língua. No entanto, a
denominação “língua” apaga que dentro de uma língua há várias línguas e variações que
por vezes tornam difusas as bordas e fronteiras. “Qualquer língua, falada por qualquer
comunidade, exibe sempre variações” (ALKIMIM 2001: 33).

É nesse pressuposto sociolinguístico que esse trabalho se constrói. O texto que aqui
apresentamos é resultado de mais de cinco anos de análise de situações de linguagem oral
em Manaus, no Amazonas. Em nossa coleta de registros, tentamos o máximo fugir do
“Paradoxo do Observador” (LABOV, op.cit.: 181), criando situações que desviavam o foco
da fala, permitindo com isso que o falante se expressasse sem saber que era ela, a fala, que
estava no centro do estudo.

Como produto da análise, buscamos reunir em um dicionário signos do falar que


identifica o manauara e que, por outro lado, o desidentifica em relação ao português falado
em outras regiões do país. Na costura do trabalho, como dito, enfatizamos o discurso da
oralidade (GALLO 1995) por ser esse discurso menos sujeito às normatividades da língua
padrão[1]. Buscamos ainda considerar alguns aspectos na feitura do texto, e deixamos de
fora, por uma questão de recorte, o aspecto fonético e sintático, que merecem um estudo à
parte, ainda que o reconheçamos necessários dentro da inter-relação constitutiva das partes
da linguagem.
O trabalho constou das seguintes fases: definição do escopo do trabalho, definição
do corpus, análise das enunciações, classificação e elaboração do dicionário.

1 O escopo do trabalho, a definição do corpus e as resultantes

Como em toda pesquisa, é necessário recortar o objeto para melhor trabalhá-lo


teoricamente. Nosso recorte teve uma dupla característica: foi um recorte discursivo e um
recorte linguístico ao mesmo tempo. No aspecto discursivo, privilegiaram-se a oralidade,
tomada do ponto de vista da análise de discurso (GALLO op.cit.), e registros dessa
oralidade em situações concretas de enunciação, a fim de evitar procedimentos que
envolvam dados “inventados”, como os que normalmente vemos em algumas teorias,
notadamente aquelas fundamentadas nos trabalhos da Gramática Gerativa.

Esse duplo recorte nos possibilitou coletar dados nas seis zonas geográficas de
Manaus[2], assim determinadas conforme Decreto n.º 2.924 de 07 de agosto de 1996. É
interessante notar, e desenvolveremos essa consideração mais à frente nas conclusões, a
predominância dos traços que identificam a linguagem utilizada como “amazonense” nas
áreas de menor poder aquisitivo e de menor acesso aos bens sociais. Essa forte correlação
tem, a nosso ver, uma importância fundamental na compreensão do próprio processo
identitário do manauara e de sua relação com a língua trabalhada na escolarização.

O tratamento analítico do corpus apresentou duas resultantes: uma referencial e uma


pedagógica. A resultante referencial é a compilação de um dicionário básico de
regionalismos amazonenses falados na cidade de Manaus. A resultante pedagógica é uma
reflexão das implicações desse falar para o ensino de língua portuguesa nas escolas da rede
pública da cidade.

2 O tratamento do corpus

A língua é uma entidade caleidoscópica que simula para o falante uma falaciosa
homogeneidade. Nessa simulação, entram dois níveis: o nível linguístico e o nível
discursivo.
No nível linguístico, o falante vê-se iludido na imagem circulante de que a língua
que fala é igual para todos os outros falantes. Nessa visão, basta que o processo de
comunicação como proposto por JAKOBSON (1988: 123) se efetive para que haja
comunicação: um emissor emite uma mensagem num código inteligível pelo receptor
através de um canal limpo. Se o caminho estiver perfeito a compreensão acontece. O
esquema proposto por Jakobson, no entanto, desconsidera um aspecto fundamental da
linguagem, que é o discurso[3].

No nível discursivo, cada dizer não é dito sem motivação ideológica, revelando
processos que localizam o sujeito enunciador em um lugar sócio-histórico que dará sentido
ao seu dizer. A teoria do discurso, no entanto, afirma que o sujeito “esquece” essa filiação
histórico-ideológica, sendo esse esquecimento constitutivo da natureza da linguagem
(PÊCHEUX e FUCHS 1975; SOUZA 2006). Esse apagamento de filiação discursiva leva o
sujeito à ideia de que a língua é transparente, ou seja, de que à coisa dita corresponde
sempre o significado pretendido.

Nossa análise passa, assim, pelo exame dessa dupla perspectiva: a da roupagem
linguística e a do caráter discursivo da linguagem.

2.1 A roupagem linguística

O discurso não está em correlação direta com a roupagem linguística. Por roupagem
linguística referimo-nos ao registro linguístico utilizado pelo falante. Assim, o discurso x,
entendido como uma prática social, se manifesta tanto no registro padrão da língua quanto
em um não-padrão.

No entanto, tendo em vista que uma comunidade de fala se define por ser uma
entidade sociolinguística e uma unidade fundamental de análise (GUMPERZ 1968),
normalmente um falar é associado a um comportamento social, numa homogeneização que
leva aos estereótipos sociais no imaginário de uma coletividade. Uma comunidade de fala é
extremamente complexa e heterogênea e é extremamente arriscado definir correlações
biunívocas entre fala e comportamento social sem uma análise mais profunda dessa
complexidade. Como critica Romaine (1982): “É preciso reconhecer. Às vezes nós
[linguistas] mal sabemos quão heterogêneas algumas comunidades de fala são” (p. 15).

Por outro lado, não há como negar que existem correlações entre as variações
linguísticas e um amplo leque de características sociológicas dos falantes, como tem sido
documentado pelos inúmeros trabalhos sob a influência laboviana.

O que estamos querendo dizer é que mesmo reconhecendo as correlações sociais


entre a variante utilizada e grupo social que a utiliza, essas correlações se dão de forma
heterogênea e não são garantias de homogeneidade discursiva. Mais do que identidade
discursiva, o que há é certa garantia de identidade linguística. Resumindo: a identidade
linguística não garante a identidade discursiva.

Por que levantamos essa questão? Porque em nosso trabalho percebemos identidade
linguística onde não havia identidade discursiva e vice-versa. Assim, queremos de antemão
evidenciar que o estudo linguístico aqui descrito não se inscreve na pressuposição da
relação um-para-um língua-grupo social.

2.2 O caráter discursivo da linguagem

Todo grupo social que utiliza a linguagem se organiza. Em sua organização,


relações de poder (FOUCAULT 1979) se estabelecem juntamente com o estabelecimento
de formações imaginárias em relação aos demais grupos que se inter-relacionam. Na
composição dessas relações imaginárias sociais entram como elementos fundamentais a
movimentação e a composição do tecido social através das organizações sócio-geopolíticas,
ou seja, entram nessa equação as relações de classe, as relações de organização no espaço
da cidade e as relações políticas no sentido grego da polis, da relação de cidadania.

No aspecto discursivo, podemos afirmar que existem duas principais atitudes em


relação ao falar amazonense: uma atitude de identificação positiva e uma de identificação
negativa. É interessante notar que a identificação positiva aparece muito mais nos falantes
localizados em uma faixa econômica mais privilegiada economicamente e que menos está
sujeita a marcações da linguagem regionalizada em sua fala. A identificação com “o que é
nosso”, no caso a linguagem, funciona como uma espécie de marcação de posição quanto
ao que não é: a linguagem padrão produto de investimento dos meios de comunicação de
massa e da mídia em geral. Por outro lado, a identificação negativa se mostrou muito mais
comum nos falantes das zonas mais pobres da cidade, notadamente Norte e Leste. Apesar
de fazer uso da linguagem local com mais frequência, ser identificado como “caboco”[4]
traz imediatamente uma sensação de negação identitária, como se essa identidade “ruim”
devesse ser apagada ou dissociada de si. O recado, na linguagem padrão, é: “não é bom
falar como eu falo porque isso lembra que eu sou o que eu sou, morador da periferia sem
acesso aos aparelhos sociais”.

Retomaremos a questão discursiva em nossas conclusões. Por agora,


apresentaremos alguns excertos de nossa pesquisa com respectivos comentários.

2.3 O falar caboco: a roupagem

O que caracteriza o falar caboco? Qual a margem que o localiza como pertencente a
um sujeito diferente? Definir essas margens é um dos grandes desafios dos linguistas. Até
que ponto isso é um termo do falar amazonense e não mais uma herança do falar nordestino
incorporada ao patrimônio linguístico local pela diacronia linguística, que apagou o traço
da história?

Na análise de nosso corpus, são duas as grandes influências que compõe o falar
amazonense: a influência nordestina e a influência indígena. É preciso um breve histórico
dessa influência.

Segundo Freire (2004), o Português é língua hegemônica na Amazônia há apenas


150 anos. Até então a presença linguística da Língua Geral (Nheengatu) era preponderante,
bem como as demais línguas das nações indígenas existentes.

Com o início do Ciclo da Borracha (1879-1912), a presença de migrantes


nordestinos foi acentuada e seu falar passou a compor o cenário linguístico da região. Os
migrantes, principalmente cearenses, fugiam da seca e da miséria que avassalava sua região
então.
Sob a base do português geral, essas duas variáveis passaram a desenhar os traços
do linguajar amazônico. Quando falamos da dificuldade de definir bordas é exatamente a
esses limites opacos que nos referimos. Nordestinos reconhecem em termos cabocos sua
filiação nordestina. Indígenas vêem a presença de seus termos de forma forte no português
amazônico. Termos e expressões como arrudear, bucho, caga-raiva e desconforme trazem
uma cor nordestina, da mesma forma que carapanã, mangarataia, empachado, jururu, pitiú
apontam para uma indigeniedade marcante.

Se o reconhecimento é um critério de identificação, o desconhecimento também o é.


Uma vez feito o levantamento do vocabulário, passamos a “testar” suas bordas com pessoas
não pertencentes ao universo discursivo amazonense. Expusemos os vocábulos a paulistas,
mineiros, gaúchos, baianos, cearenses, fluminenses e catarinenses. Alguns termos foram
reconhecidos na acepção utilizada pelo amazonense, mas a maioria dos termos era
desconhecida. Sabendo da impossibilidade de um recorte preciso, porque a língua é volátil,
tentamos ajustar o máximo possível as fronteiras que definiam o que ficava dentro e fora do
dicionário.

Assim, antes que alguém reclame que determinada palavra não é exclusividade do
falar amazonense, explicamos que a dinâmica da língua nunca garantirá tal propriedade
exclusiva.

2.4 O falar caboco: o discurso

Afinal, é bom ou ruim ser caboco? Como nos diz Derrida (1997), todos os signos
são pharmakon. Podem ser bons ou ruins, dependendo da dosagem e do paciente. Não seria
diferente com a imagem de ser caboco. Encontramos índices de identificação e de contra-
identificação (PÊCHEUX 1988) nas falas analisadas.

Algumas falas de identificação: “... é muito bom falar de coisas nossas,


amazonenses. A nossa linguagem é única e fantástica”, “...ouvir essas palavras de novo me
faz voltar o que de mais feliz eu tive: a minha infância”, “... é (sic) muito chibata essas
expressões”, “gente, como é bom falar e ser entendida. Odeio quando falo as coisas aqui no
Rio e ninguém me entende”.
Algumas falas de contra-identificação: “... é muita caboquice falar assim, coisa de
gente pobre, do bodozal’, “... triste esse jeito de falar. Só cabocão fala assim...”, “... é uma
pena que muita gente fala esse português errado...”.

Aqui voltamos à tese de que não há coincidência entre identidade linguística e


identidade discursiva. Por um lado, muitas frases de identificação vêm de falantes que não
utilizam os termos cabocos com frequência. Algumas frases traduzem o preconceito
linguístico (BAGNO 1999) da associação biunívoca entre norma padrão e língua
portuguesa, sendo todos os outros registros considerados como sendo português errado ou
de pior qualidade. Por outro lado, essa mesma associação habita o imaginário das classes
mais pobres que possuem acesso restrito à língua padrão, quando associam o registro que
usam a uma língua inferior. Mesmo utilizando o registro, não o aceitam como de valor na
economia das trocas simbólicas (BOURDIEU 1999), mimetizando em sua própria auto-
imagem da identidade social esse não-valor.

Ainda como exemplo de que a transversalidade valorativa perpassa as várias classes


sociais, citamos dois exemplos recentes. A rede de drogarias Pague Menos chegou a
Manaus oferecendo descontos de 60% nos medicamentos por ela vendidos. Os dois grupos
que dominam o mercado farmacêutico em Manaus começaram uma propaganda maciça
fazendo um chamamento à amazonidade, utilizando o slogan “Amazonense como você”,
utilizando frases como “quem não lhe conhece não pode inspirar confiança” e coisas do
gênero. O Banco HSBC decidiu fazer propagandas regionalizadas e utilizou várias
expressões, como “Cortar a curica”, por exemplo. A repercussão foi extremamente positiva
na cidade e o comercial bastante comentado. Vale ressaltar que a atitude positiva veio de
um público que é cliente de banco e que tem acesso aos meios de comunicação.

3 As implicações pedagógicas à guisa de conclusão

Em todo processo de coleta de registros, análise e compilação do dicionário, um


objetivo corolário nos acompanhou. O que pode esse percurso levantar de questões para o
ensino de língua portuguesa na escola? Que reflexões podem ser levantadas para o
tratamento sistemático da linguagem em ambiente escolar?
Partimos da premissa de que ao aluno deve ser proporcionado o acesso à língua
padrão e cabe à escola essa experiência. É pela língua padrão que ele acessa bens culturais
que ampliam seu espaço de cidadania. A escola não deve se furtar a tal tarefa sob pena de
ser uma escola excludente.

Com essa premissa definida, cremos que a abordagem à língua padrão pode ser feita
de forma mais proveitosa através da exploração de processos de identificação linguísticos.
Assim, o professor deve levar em conta toda a bagagem linguística trazida pelo aluno,
incluindo a oralidade, e fazer a ponte dessa bagagem com a língua padrão. A transposição
da oralidade não-padrão para a escrita padrão, como procedimento metodológico, já
encontra bastante suporte na literatura linguística (cf. MARCUSCHI 2001a, 2001b).

Para isso, é necessário que o professor de língua portuguesa transite por conceitos
sociolinguísticos que lhe permitam um deslocamento do lugar de sujeito normativista. É
preciso que não caia em nenhuma das falácias abordadas por Soares (1997), como a teoria
do déficit cognitivo, cultural ou linguístico, já desconstruídas há algum tempo no campo da
linguística.

O professor que souber aproveitar a capacidade do aluno de ser poliglota em sua


própria língua atingirá dois objetivos desejáveis para a escola de hoje: respeitará a
diversidade constitutiva do social, ampliando no aluno a consciência de sua identidade
linguística e, portanto, de ser sujeito no mundo e proporcionará momentos de acesso real do
aluno à chamada norma padrão, a norma de investimento nacional, possibilitando
igualmente a inserção desse aluno num universo social cuja barreira, além de econômica, se
faz muito forte e marcadamente pela linguagem.

É, sem dúvida, necessária a ampliação de visão metodológica para o trabalho com a


linguagem. Essa ampliação passa pelo trabalho com os diversos gêneros orais e escritos (cf.
BENTES & FERNANDES 2005), de vários registros, para que se evidencie ao aluno o
caráter complexo da linguagem, produto e prática social.

Esse deslocamento nas posturas teóricas e metodológicas é hoje o maior desafio de


todos nós que trabalhamos na formação de professores. Conseguir deslocar imaginário faz
parte do compromisso político do pesquisador que se diz educador. É na conjunção da
teoria e da prática que a mudança política se possibilita.

Terminamos onde começamos, com Labov (1972): “a questão sociolinguística


fundamental vem da necessidade de se compreender por que alguém diz algo”. Conhecer a
historicidade desse dizer nos ajuda a compreender nossa própria identidade e nosso papel
na teia social, pois sociedade e linguagem se constituem mutuamente.

Esse dicionário é uma pequena contribuição para o fascinante mundo da linguagem.


Para contribuir com futuras edições mande um e-mail para sergio_freire@uol.com.br ou
participe na comunidade dedicada ao Amazonês no site de relacionamento Orkut.

Referências Bibliográficas

ALKIMIM, T. “Sociolinguística”. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C (orgs) .


Introdução à linguística: domínios e fronteiras. Vol 1. São Paulo: Cortez, 2001.

BAGNO, M. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.

BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1999.

BENTES, A. C.; FERNANDES, F. A. “A poesia oral nas periferias do mundo: hip-hop e


rap”. In: FERNANDES, F. A. (org). Oralidade e literatura. V. 2. Londrina, 2005.

DERRIDA, J. A farmácia de Platão. São Paulo: Editora Iluminuras, 1997.

FOUCAULT, M. Microfísica do poder. 15 ed. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

FREIRE, J. R. B. Rio Babel: a história das línguas na Amazônia. Rio de Janeiro: Atlântica,
2004.

GALLO, S. L. Discurso da escrita e ensino. 2 ed. Campinas: Editora da Unicamp, 1995.

GUMPERZ, J. “The speech community”. In: International encyclopedia of social


sciences. New York: McMillan, 1968.

JAKOBSON, R. Linguística e comunicação. 13 ed. São Paulo: Cultrix, 1988.

LABOV, W. “The study of language in its social context”. In: PRIDE, J. & HOLMES, J.
Sociolinguistics. New York: Penguin, 1972.
MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo:
Cortez, 2001a.

_________ “Oralidade e ensino de língua: uma questão pouco falada”. In: O livro didático
de português: múltiplos olhares. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001.

PÊCHEUX, M. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Campinas:


Editora da Unicamp, 1988.

PECHEUX, M.; FUCHS, C. "Mises au point et perspectives à propos de l’analyse


automatique du discours". In: Langages, n. 37, 1975. Artigo traduzido e publicado: “A
propósito da análise do discurso: atualização e perspectivas”. In: GADET, F.; HAK, T.
(Org.). Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel
Pêcheux. Campinas: Editora Unicamp, 1990.

ROMAINE, S. “What is a speech community”. In: ROMAINE, S. (ed.). Sociolinguistics


variations in speech communities. London: Edward Arnold, 1982.

S OARES, M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo: Ática, 1997.

SOUZA, S. A. F. Conhecendo análise de discurso: linguagem, sociedade, ideologia.


Manaus: Valer, 2006.

Notas

[1] Em seu trabalho, Solange Gallo afirma que o Discurso da Oralidade pode ser tanto
falado quanto escrito, não sendo, portanto, o meio de produção um determinante na
caracterização do discurso, mas a relação do enunciador com a institucionalização de seu
dizer.

[2] São elas: Norte, Sul, Leste, Oeste, Centro-Oeste, Centro-Sul.

[3] O termo discurso é um termo portmanteau que agrega vários entendimentos


conceituais. Neste trabalho nos referimos a discurso sempre dentro do campo teórico da
Análise de Discurso oriunda dos trabalhos de Michel Pêcheux, que entende discurso como
seu objeto teórico (objeto histórico-ideológico), que se produz socialmente através de sua
materialidade específica (a língua), uma prática social cuja regularidade só pode ser
apreendida a partir da análise dos processos de sua produção, não dos seus produtos.

[4] Utilizamos o termo “caboco” e não “caboclo” para diferenciar a identidade do falante
urbano manauara da identidade do amazônida, que faz da subsistência seu meio de vida no
interior do Estado.
A
A COMO? LOC. ADV. – Quanto custa? “A como tá o tucunaré?” “R$ 10 a enfiada”.
A LA VONTÉ EXP. ID. – Como queira. “Se quiser ir embora, a la vonté! E já vai
tarde!”
A PERIGO LOC. ADV. – 1 Sem dinheiro. “Paga o lanche pra mim, cara, que eu tô a
perigo”. 2 Muito tempo sem manter relações sexuais. "O Amaro está a perigo.
Está pegando até velha desdentada".
A PRÓPRIA LOC. ADJ. – A tal, a boa, a melhor. “A Ana Paula comprou um perfume
francês e chegou aqui se sentindo a própria”.
A PULSO LOC. ADV. – Forçado, obrigado, na marra. “Comendo sem gosto... Parece
até que está comendo a pulso”.
A RETALHO LOC. ADV. – No varejo. “Compra um real de cigarro na venda do Zé.
Ele vende a retalho, o que é bom para fumante liso como eu”.
ABACABA S. F. – 1 Palmeira que dá frutos oleosos e comestíveis para vinho ou
mingau. 2 Mentira. “O Paulinho tava lá contando a maior abacaba. Ele disse que
pescou na linha cento e vinte jaraqui numa manhã”.
ABACABEIRO S. M. – Mentiroso. “O Dudu é um tremendo abacabeiro! Disse que o
pai dele é dono da Microsoft”.
ABACATADA S. F. – Vitamina de abacate. “Estou morrendo de fome. Pega o leite e o
abacate que eu vou fazer uma abacatada para mim”.
ABAFAR V. – Apropriar-se de bens alheios, afanar. “O advogado pilantra abafou a
herança do cliente”.
ABANCAR-SE V. – Sentar. “Espere um pouco que ela já vem. Abanque-se aí no sofá,
homem!”
ABARROTADO ADJ. – Cheio demais. “Tem que trocar o saco de lixo que esse aqui já
tá abarrotado”.
ABESTADO ADJ. – Apalermado, imbecil, idiota, estúpido, pessoa que não entende de
nada. “Não gosto dele, não. Ele é muito abestado pro meu gosto”.
ABESTALHADO ADJ. – Ver Abestado.
ABIO/ABIU S. M. Fruto arredondado de casca amarela, polpa gelatinosa, translúcida
ou ligeiramente brancacenta, com sabor adocicado e de grande delicadeza.
Encontrado em grande número em estado silvestre na Amazônia. Após comê-lo,
os lábios ficam grudentos. Ver Comer abiu.
ABIROBADO ADJ. – Abestalhado. “Não confio no Guilherme pra levar os pratos lá,
não. Ele é muito abirobado. Vai fazer besteira”.
ABISCOITAR V. – Ver Abafar.
ABOBRINHA S. F. – Besteira, coisa sem importância. “Pára de falar abobrinha,
menina. Vê se te informas antes de dizer as coisas”.
ABRICÓ S. M. – Fruta de origem oriental do tamanho de uma manga grande, redondo,
sabor ácido-adocicado, lembra mesmo os abricós do Oriente, de onde veio no
século XVIII.
ABUSO S. M. – Nojo. “Peguei um abuso da Creuza. Só de olhar pra ela fico irritado”.
AÇAÍ S. M. – Palmeira altamente ornamental, de múltiplos troncos de até 25 m de
altura, levemente curva e apresentando raízes visíveis na base, caule liso. Seus
frutos nascem em cachos em número de três a oito por planta. Sua freqüência no
Baixo Amazonas chega a tal ordem que produz populações homogêneas. Sua
regeneração é extraordinariamente grande mesmo sendo abatida vorazmente pela
indústria de palmito. Floresce quase o ano inteiro, porém predominando de
setembro a janeiro. A maturação de seus frutos verifica-se durante a maior parte
do ano, com maior intensidade nos meses de julho-dezembro. Altamente
energético.
ACESUME S. M. – Enxerimento, atiramento. “Quando chega homem aqui, essas
meninas ficam num acesume só”.
ACHAR GRAÇA LOC. V. – Rir, sorrir. "Ele contou a piada e todo mundo achou
graça".
ACHO É BOM! EXP. ID. – Expressão manifestando a opinião de que a pessoa
mereceu o que teve. “O namorado da Alice botou chifre nela. Acho é bom! Ela
também traiu o ex-marido!”
AÇO S. M. – Bebida alcoólica. “Ele só chega cheio do aço toda noite”.
ACOCHAR V. – 1 Agarrar alguém com intenções sexuais. “O Dangliney está
acochando a mulher do Walter”. 2 Cobrar. “Cadê o trabalho? Não dá mais para
enrolar, não. O chefe está me acochando!”
ACOITAR V. – Encobrir namoro de um casal.
ACONTECIDO S. M. – Fato. “Sei não, doutor delegado. Na hora do acontecido eu
tava dormindo”.
ACREANA S. F. – Mulher fogosa.
-AÇU EL. COMP. – Sufixo de composição significando Grande. “No lago do
Janauacá tem muito jacaré-açu”.
ACUAR V. – Recolher-se sem chance de defesa. “Quando chegaram todos para tirar
a coisa a limpo, ele ficou acuado na sala”.
ACUNHAR V. – Envolver-se amorosamente.
ADUBAR V. – Bajular com alguma intenção. “Eu não desisto da Rosinha. Continuo
adubando. Um dia eu me dou bem”.
AFOBADO ADJ. – Apressado, impaciente. “O afobado come cru”.
AFOLOSADO ADJ. – Frouxo, largo. “O parafuso não segura porque ele está cuspido
e a porca está afolosada”.
AFRONTADO ADJ. – Satisfeito, cheio, empanzinado, empanturrado. “Comi tanta
macaxeira que fiquei afrontada”.
AGÁ S. M. – Arranque, falso propósito. “O Sandro só tem agá, rapaz! Diz que faz e
nada!”
AGARRO S. M – Ato de namorar despudoradamente com carícias corporais. “Quando
passei estavam os dois no maior agarro no muro da igreja”.
AGONIADO ADJ. – Nervoso, inquieto. “O Júlio está agoniado com tanta dívida”.
AGORINHA ADV. – Diferentemente do uso no Sudeste, Agorinha quer dizer há
pouquíssimo tempo atrás, referindo-se ao passado e não ao futuro. “Ela estava
aqui agorinha, mas sumiu”.
AGUAPÉ S. M. – Vinho ralo, com adição de água.
AJUNTAR V. – Apanhar o que está no chão. “Ajunta teus brinquedos e bora embora,
menino”.
AJUNTAR-SE V. – Amasiar-se, viver junto. “A ex-mulher do Mário se ajuntou com o
Walter Papagaio. Estão morando juntos”.
ALCOVITAR V. – Encobrir namoro de um casal.
ALEGAR V. – Dar algo a alguém e depois ficar passando na cara. “Se é pra alegar, é
melhor pegar de volta o dinheiro que tu me emprestaste!”
ALGUIDAR S. M. – Vaso de barro ou de metal, baixo, em forma de tronco de cone
invertido, e com diversos usos domésticos, inclusive armazenagem e na fabricação
do tucupi.
ALMENO LOC. ADV. – Pelo menos. “Tu tens cinco goiabas aí. Me dá almeno uma”.
ALOCÉ ADJ. – Referente a quem anda ou está nas nuvens, avoado. “Presta atenção,
Rita! Tá toda alocé hoje”.
ALOPRADO ADJ. – Exagerado. “O Lanche Filho da Fruta vende sanduíche pequeno,
médio, grande e aloprado”.
ALPERCATA S. M. – Sandália. “Me empresta tua alpercata pra eu ir lá fora, Raoni”.
ALTEAR V. – Aumentar. “Altea aí a TV que não está dando pra ouvir nada”.
ALUÁ S. M. – Bebida fermentada, feita a partir do arroz, do milho ou do abacaxi.
ALUADO ADJ. – Chateado, emburrado. “Esse menino está aluado hoje. Não falou
com ninguém, não quis comer...”
ALUMIAR V. – Iluminar. “Te juro pela luz que me alumia que não sei de nada”.
AMANCEBADO S. M. – Pessoa solteira que vive maritalmente com outra. "Ela não
casou, não. Só está amancebada".
AMARELO EMPOMBADO LOC. ADJ. – Indivíduo fraco, de aparência frágil.
AMIGAR V. – O mesmo que se amancebar. “Eles não casaram. Não. Só se
amigaram”.
AMO-DO-BOI S. M. – Cantador de toada no Boi-Bumbá.
AMUADO ADJ. – Emburrado, mal-humorado. “Desde que a namorada deixou ele, ele
só anda amuado”.
ANDAR NA PINDAÍBA LOC. V. – Andar liso, duro, sem dinheiro. “Pedir dinheiro
emprestado do Jaime? Coitado... aquele liso é pior do que eu. Só anda na
pindaíba”.
ANDIROBA S. F. - Árvore cuja madeira é resistente e da qual se extrai o óleo (cruz-de-
andiroba, carma pesado).
ANEL DE COURO S. M. – O ânus.
ANGU S. M. – Confusão. “Eu saí de lá porque tá o maior angu: todo mundo querendo
brigar”.
ANHANGÁ S. M. – Diabo, espírito do mal.
APARAR V. – 1 Cortar. “Vou aparar meu cabelo hoje”. 2 Coletar o papagaio no ar,
após cortar. “Ele soltou papagaio ontem. Cortou e aparou mais de dez”.
APERREADO ADJ. – Apressado, muito nervoso, sem saber o que fazer diante de uma
situação difícil. "Rapaz, tô aperreado com aquele negócio da dívida".
APERREAR V. – Ver Aporrinhar.
APLUMAR V. – Arrumar. “Apluma a cama que eu vou o bebê pra dormir”.
APODERAR-SE V. – Apossar-se de algo sem permissão. “O pior é que se apoderou
da minha camisa e diz que não devolve mais!”
APOFIAR V. – Apostar. “Vamos apofiar uma corrida até a igreja?”
APORRINHAR V. – Encher o saco. "Pára de me aporrinhar e vai dormir!"
APRESENTADO ADJ. – Enxerido, metido a besta. “Deixa de ser apresentado. Quem
te deu o direito de me abraçar?”
APROCHEGAR V. – Aproximar-se.
ARAÇÁ-BOI S. M. – O cheiro adocicado característico do araçá-boi agrada logo de
primeira. Com sua polpa amarelada é possível preparar sucos e doces deliciosos.
O araçá-boi é da mesma família da goiaba e frutifica precocemente, já aos dois
anos. As sementes apresentam dormência natural, demorando várias semanas para
germinar.
ARAPUCA S. F. – Armadilha para caçar feita de madeira, em forma de pirâmide.
ARDOROSO ADJ. – Ardido. “A pimenta murupi é a mais ardorosa de todas”.
ARENGAR V. – Implicar, brigar. “Acho o Manoel um camarada muito enjoado. Fica
arengando por qualquer coisinha”.
ARIAR V. – Lavar a louça com palha-de-aço. Quando não há, usa-se areia, daí o
verbo.
ARIGÓ S. M. – Cearense.
ARISCO ADJ. – Pessoal difícil de envolver nos planos. “Eu tô muito afim da Luciana.
Já faz um tempo que eu tento, mas ela é muito arisca”.
ARMADOR S. M. – Gancho para pendurar a rede de dormir. “Não vou nem levar a
rede. Lá não tem armador. Nem adianta”.
ARMAR V. – Paquerar. “Hoje eu tô a fim de armar... vou pras barcas!”
ARRAIAL S. M. – Comércio de comidas típicas e atividades sócio-culturais para
promover um evento ou uma causa. “Hoje tem o arraia de São Judas Tadeu”.
ARRANCA-TOCO ADJ. – Valentão. “Cuidado que o Salgadinho se acha o maior
arranca-toco da paróquia”.
ARRANQUE S. M. – Gogó, blefe. “O Zé só tem arranque. Disse que ia me ajudar e
na hora vazou da área”.
ARRASTAR ASA LOC. V. – Paquerar, dar em cima de. “Eu acho que essa menina
arrasta uma asa pra ti, gostosão”.
ARREDAR V. – Deslocar-se, mover-se para o lado para abrir espaço. "Arreda pra lá,
maninha! Esse estofado não é só teu!"
ARREGAÇAR V. – Detonar, destruir. “Pegaram o ladrão lá e o povo arregaçou o
infeliz”.
ARREMEDAR V. – Imitar jocosamente.
ARRENTE PRON. – Pronúncia herdada dos nordestinos de A gente, nós. “Arrente vai
lá com ela”.
ARRIAR V. – Descansar uma carga pesada sobre o solo. “Arria as caixas aí mesmo”.
ARROMBADO ADJ. – Muito bom. “Esse som do teu carro é arrombado! Foi caro?”
ARRUDEAR V. – Dar a volta. “Ninguém entra pela sala. Quem quiser entrar em casa
vai ter que arrudear”. ; “D. Zefa, posso entrar pela frente?” “Não, arrudia”.
ARRUMAÇÃO S. F. – Invenção desnecessária. “Deixa como tá, Bia. Não vem com
arrumação que tu vais acabar estragando tudo”.
ARUÁ ADJ. – Ingênuo. “Só mesmo uma aruá como a Zefa para emprestar dinheiro
para o Zé Calote”.
ASA DURA S. F. – Avião. Usada na região de Parintins. “Não perco o festival por
nada. Vou até de asa dura se precisar, apesar de morrer de medo”.
ASSANHAR V. – 1 Bagunçar, despentear o cabelo. "Pára de assanhar mais meu
cabelo. Ele já tá todo assanhado!" 2 Mexer com o que está quieto. “Não assanha
o menino senão ele vai querer brincar contigo a tarde toda”.
ASSEAR V. – Limpar, tomar banho. “Vou me assear pra dormir”.
ASSUNTAR v. – Ficar atento à conversa alheia.
ATAR V. – Pendurar a rede de dormir no armador. “Estou com sono que só. Vou atar a
minha rede e tirar um ronco”.
ATARRANCADO ADJ. – Sujeito baixo, forte e maceta.
ATÉ O TUCUPI EXP. ID. – Até o máximo possível. “Rapá, tô até o toco de
trabalho”. Variações: Até o talo, Até o toco, Até o tchoco.
ATÉ PARECE... EXP. ID. – Indica dúvida, incredulidade. “A Priscila vem dormir
aqui?! Até parece... Ela nunca dorme fora de casa.”
ATENTADO ADJ. – Muito danado, inquieto, levado. “Esse menino é atentado!”
ATENTAR V. – Perturbar, aperrear. “Ei, menino! Pára de atentar o cachorro!”
ATOCHAR V. – Fazer entrar à força, encher demais. “O barco tinha que virar:
atocharam mais gente do que cabia”.
ATOLADO ADJ. – Metido num atoleiro, em dificuldades. “Estou atolado de trabalho
pra fazer”.
ATRÁS DE LOC. PREP. – Em busca de, à procura de. “Vamos atrás de cerveja que a
nossa acabou”.
ATULEIMADO ADJ. – Abestado. “Se mimar muito o curumim, ele vai acabar
ficando atuleimado”.
AVALI(E) V. – Quanto mais. “Se o Getúlio namora até mulher feia, avali(e) menina
bonita”.
AVIAR V. – Apressar. “Avia! Senão tu vais te atrasar!”
AVOADO ADJ. – Disperso, desconcentrado. “Esse menino anda tão avoado. Acho que
tá apaixonado”.
AZARAR V. – Ficar, namorar, paquerar. “Passei a noite toda azarando a Nelma. Mas
não rolou, não. Ela é muito arisca”.
AZUNHAR v. – Arranhar com as unhas. “Ele tentou dar banho no gato, se abestalhou
e o gato fez foi é azunhar ele todo”.

B
BABÃO S. M. – Puxa-saco. "Esse Mota é o maior babão que eu conheço!"
BABA-OVO S. M. – Ver Babão.
BABAU S. M. – 1 Punição que um grupo confere a alguém por um malfeito. Todos
batem com as mãos, ao mesmo tempo, na cabeça do indivíduo. “Fez besteira. Vai
levar um babau por isso!” Ver Sabacu 2 Prejuízo total, perda irrecuperável de
alguma coisa. "Pagou serviço adiantado prum marceneiro? Tu é leso, é? Aí é
babau, mano. É dinheiro perdido!"
BABITA S. F. – Dinheiro, grana. "E aí? Pegou a babita lá?"
BABUGEM S. M. – Resto de comida. “Cheguei tarde. Acabou a comida. Só tem
babugem na panela”.
BACABA S. F. – Ver Abacaba.
BACABEIRO S. M. – Ver Abacabeiro.
BACIO S. M. – Urinol.
BACULEJO S. M. – Batida policial com revista geral. “A PM adora dá um baculejo
na galera da Zona Leste”.
BACURAU S. M. – Pássaro noturno.
BACURI S. M. – 1 Fruta de polpa branco-amarelada e perfumada que oferece um dos
sabores mais sutis e originais da Amazônia. Dificilmente encontrável in natura
fora da região, mas encontrável em polpa em conserva para sucos e doçaria. 2
Porquinho pequeno 3 Menino.
BAFAFÁ S. M. – Confusão, rolo, baderna. “A Wanderléa pegou o marido dela com
outra no maior agarro e foi o maior bafafá na rua”.
BAGACEIRA S. F. – Noitada. “Ontem eu fui pra bagaceira e cheguei de
madrugada”.
BAIACU ADJ. – Pessoa gorda. “Pára de comer. Daqui a pouco está igual a um
baiacu”.
BAIÃO-DE-DOIS S. M. – Comida feita de arroz e feijão-de-praia que complementa o
peixe frito.
BAITOLA ADJ. – Homossexual.
BAIXA-DA-ÉGUA S. F. – 1 Lugar para onde se mandam pessoas que estão nos
chateando. "Deixe de me encher o saco, mano. Vá pra baixa da égua!" 2 Lugar
distante. “Ela mora lá na baixa-da-égua. Três horas de ônibus e mais uma de
pernada”.
BAIXAR O SARRAFO LOC. V. – Açoitar violentamente, surrar. "Mexeram com a
irmã dele, ele foi lá e baixou o sarrafo em deus e o mundo".
BAJARA S. F. – Canoa. “Numa bajara dessa cabe até cinco pessoas”.
BALA (DA VIDA) ADJ. – Fulo, muito chateado. “Sumiu dinheiro da bolsa da mamãe
e ela tá bala da vida”.
BALA S. F. – Bombom. Guloseima de confeitaria, em geral de chocolate, contendo, às
vezes, recheio de cupuaçu ou castanha. “Quando eu viajo para Minas, eu levo
bala de cupuaçu pra Zuleica”.
BALADEIRA S. F. – 1 Estilingue feito com forquilhas de goiabeira e tiras de borracha
de câmara de ar. “Quando eu era pequeno, matei muito passarinho com
baladeira”. 2 Rede de dormir.
BALDEAR V. – 1 Lavar algo usando um balde para transportar a água. "Hélio, vai
baldear o pátio antes que teu pai chegue e te dê uma pisa" 2 Vomitar. “Corre,
doutor, que o rapaz tá baldeando toda a recepção”.
BALSA S. F. – Embarcação de aço que serve para fazer a travessia de um lado a outro
do rio. “Já vou que ainda tenho que pegar a balsa das sete”.
BANDAR V. – Dividir ao meio. “Ele tava com tanta raiva que ele bandou o cd que ela
tinha dado pra ele”.
BANHO S. M. – Balneário. “Domingo nós vamos pro banho do Raimundão na rodovia
Manaus-Itacoatiara”.
BANHO TECHO S. M. – Banho rápido, em que só se lava as partes íntimas.
BANHO-DE-CUIA S. M. – 1 Gíria futebolística: lençol, situação em que o jogador,
com um leve toque, passa a bola sobre o corpo do adversário e pega do outro lado.
2 Banho com o auxílio de uma cuia feita de cabaça-do-mato (árvore que produz
cabaças).
BANZEIRO S. M. – Pequena onda que se forma nos rios amazônicos por causa do
movimento dos barcos semelhante à onda do mar. “Tive muito medo na travessia
para Benjamin Constant; o banzeiro quase virou a voadeira”.
BAQUE S. M. – Jeito. “O Sandro pode até nem ser, mas que ele tem o baque, ah,
tem!”
BAQUEADO ADJ. – Doente, fora do normal. “Hoje não fui trabalhar porque estou
meio baqueado”.
BAR DO BOI S. M. – Festa organizada pelos bumbas em Manaus para arrecadar
dinheiro para o Festival de Parintins.
BARCA S. F. – O povo, todo mundo. “Vai a barca pro show do Reginaldo Rossi
hoje”.
BARGUILHA S. F. – Variação de Braguilha, zíper.
BARRA-BANDEIRA S. F. – Brincadeira infantil em que dois grupos disputam uma
bandeira ou outro objeto.
BATE-BOCA S. F. – Discussão acalorada. “Tava a Maria e Marta no maior bate-boca
em frente à casa do seu Gumercindo”.
BATE-FOFO S. M. – Furão, que falta com o compromisso assumido.
BATELÃO S. M. – Barco de madeira para transporte de passageiros e cargas.
BATENDO BIELA LOC. ADJ. – Exaurido. “Esse ventilador já deu o que tinha que
dar. Já tá é batendo biela”.
BATER À MÁQUINA LOC. V. – Datilografar. “Demorou porque eu não tenho
computador e tive que bater à máquina”.
BATER CAIXINHA LOC. V. – Ajudar alguém a conquistar uma pessoa. “Será que tu
podes bater uma caixinha pra tua irmã? Estou afinzão dela”.
BATER FOFO LOC. V. – Faltar a um encontro, descumprir algum acordo. "Marquei
um encontro com a menina e ela bateu fofo. Esperei, esperei, esperei e nada".
BATER PERNA LOC. V. – Andar muito. “Minha sogra adora bater perna no
centro”.
BATORÉ ADJ. – Baixinho. “Procura por ele lá. O Mauro é um batoré moreno de
perna curta”.
BEIJU S. M. – Biscoito chato, leve e fino feito com a massa da mandioca.
BEIRADEIRO S. M. – Habitante das margens do rio.
BEM-FEITA LOC. ADJ. – Diz-se da pessoa com um corpo bonito. “A Dira é uma
caboca bem-feitinha a danada, não é?”
BEM-MANDADO ADJ. – Obediente, submisso, disciplinado. “O Zeca é bem-
mandado pela mulher dele”.
BENÇA S. F. – Benção. “Já pediu a bença da tua vó Helena hoje, menino?”
BENZEDURA S. F. – Modo de curar “quebranto” ou “mau-olhados” através de
orações. “Se não passar a febre desse curumim, eu vou levar na dona Cora pra
uma benzedura”.
BERADEIRO S. M. – Beiradão, gente do interior.
BERIMBELO S. M. – Objeto que não tem nome e que balança. “Tira aquele
berimbelo dali que dá”.
BIBOCA S. F. – Lugar esquisito, de difícil acesso. “Eu voltei do meio do caminho.
Fiquei com medo de entrar lá naquela biboca”.
BICÃO S. M. – Penetra. “Na festa de casamento do Amarildo no Cassam eu entrei de
bicão”.
BICHEIRA S. F. – Ferida causada pelo parasitismo de insetos. “Vai no Hospital
Tropical, Gilson, vê essa tua bicheira que não sara”.
BICHEIRENTO ADJ. – Sujeito a bicheiras. “O Júlio, filho do Basílio, é um
camarada muito bicheirento. Nunca vi igual...”.
BICHO S. M. – 1 Animal em geral. “A onça é um bicho traiçoeiro”. 2 ADJ. Muito
bom. “Essa música é o bicho!”
BICO S. M. – Serviço temporário informal.
BICUDO ADJ. – Amuado, zangado. “Não vai sair e não adianta ficar bicuda aí. Eu
sou tua mãe e já decidi que vai ser assim”.
BILHA S. F. – Objeto de barro feito para guardar água.
BILORA S. F. – Desmaio, mal-estar. “Ai, tá dando uma bilora em mim...”
BILOTO S. M. – 1 Botão. 2 Saliência carnosa, verruga. “O André tem um biloto na
orelha. Parece o Conde Drácula”.
BIQUEIRA S. F. - Próximo, perto de. "De tanta besteira que fez, ela tá na biqueira de
ser demitida".
BIRIBUTES S. M. – Coisas penduradas. “Se tirar os biributes dali, dá para atar a
rede”.
BIRRENTO ADJ. – Implicante gratuito. “Ô menino birrento esse Douglas! Não faz as
coisas só para implicar”.
BOBÓ S. M. – Carne do pulmão de boi. “A dona Maria faz um bobó delicioso”.
BOCÓ S. M. – Bobo, abestado. “Deixa de ser bocó e presta mais atenção no que tu tá
fazendo!”
BODADO S. M. – 1 Com muito sono, cansado. “Cara, vou dormir. Tô bodado!” 2
Bêbado. “Leva ele pra casa que ele bebeu todas e tá muito bodado”. 3 Chateado.
“Nem vai falar com ele porque ele tá bodado desde ontem”.
BODÓ S. M. – Peixe cascudo, bom para caldeirada.
BODOZAL S. M. – Bairro pobre, periferia. “Lá no bodozal onde ela mora não tem
nem água e nem esgoto”.
BOI S. M. – Festa realizada em Parintins em que se enfrentam dois bois, o Garantido
(Vermelho) e o Caprichoso (Azul). Em Manaus, nos meses que antecedem o
Festival, que acontece no fim de junho, há os ensaios conhecidos como currais do
boi.
BOIOLA S. M. – Homossexual masculino.
BOITATÁ S. M. – Mito amazônico cujo nome significa "coisa de fogo", em tupi. O
Boitatá é um gênio protetor dos campos: mata quem os destrói, pelo fogo ou pelo
medo. Aparece sob a forma de enorme serpente de fogo, na realidade o fogo-fátuo,
ou santelmo, do qual emana fosfato de hidrogênio pela decomposição de
substâncias animais.
BOIÚNA S. F. – Mito amazônico da Cobra Grande. Entidade escura, em forma de uma
sucuri, que faz virar as embarcações e engole pessoas.
BOLA S. F. – Rotatória. “Vai direto e, depois da bola, pega a rua do posto”.
BOLADA S. F. – Usado para referir-se ao fato de um papagaio (pipa) enroscar-se em
outro.
BOLE-BOLE S. M. – Brinquedo com uma pedra amarrada na extremidade de uma
linha, com o qual se disputa com o adversário para ver quem consegue romper a
linha do outro.
BOLO PODRE S. M. – Bolo feito de mandioca ralada.
BOMBOM S. M. – Pequena guloseima de consistência firme, feita com calda de açúcar
aromatizada e acrescida de corantes, ou de ingredientes com sabores diversos.
“Aceita o troco de bombom, moço?”
BONITO PRA TUA CARA! EXP. ID. - Usado no sentido de "Tu não tens vergonha
do que tu fizeste, não?” “Não mexe aí! Quebrou! Bonito pra tua cara!”
BORA EXP. ID – Vamos. “Bora dar uma volta?”
BORA VER... LOC. V. – Seja o que Deus quiser. “Rapaz, a gente fez o possível. Bora
ver...”
BORBOLETA S. F. – Catraca de ônibus, de cinema etc.. “Ele é pequeno. Dá para
passar por baixo da borboleta do ônibus”.
BORDUNA S. M. – Cassetete.
BORIMBORA INTERJ. – Vamos embora. “A gente não tem mais nada a fazer aqui.
Borimbora!”
BOTAR BANCA EXP. ID. – Se fazer de importante. “Não tem um centavo no bolso e
não quer ajuda... vai botar banca assim lá na baixa-da-égua!”
BOTIJA S. F. – Botijão de gás. “Pega a outra botija pra mim que essa aqui acabou”.
BOTO S. M. - Cetáceo dos rios amazônicos. Conhecido por lendas que dizem ser o
“boto” o responsável pela gravidez das garotas ribeirinhas. Expressão usada
quando não se conhece o sujeito de uma ação: “Foi o boto...”.
BRABO ADJ. – Valente, muito forte. “Cuidado que a correnteza aqui é braba”.
BREAR V. – Colar. “Quebrou o vaso... agora tem que brear antes da mamãe chegar”.
BRECHA S. F. – Chance. "Será que tem brecha de eu entrar na festa?"
BRECHAR V. – Olhar pela brecha, espionar. “Quando eu era pequeno, eu costumava
brechar as empregadas lá de casa tomando banho”.
BRECHEIRO S. M. – Quem gosta de brechar. Voyeur.
BREGUEÇO S. M. – Objeto imprestável ou de uso duvidoso. “E tu ainda guardas
esse bregueço?! Joga fora isso, menino!”
BRIBA S. F. – Pequena lagartixa caseira. Provável corruptela de víbora.
BRINCANTE S. M. – Folião do Boi-bumbá.
BROCA S. F. – Fome. “Vamos almoçar que a broca está comendo o próprio
estômago”.
BROCADO ADJ. – Pessoa com fome. “Mano, tô brocado! Vamos comer um x-
caboquinho?”
BRONHA S. M. – Masturbação masculina. "Esse moleque só vive trancado no
banheiro batendo bronha".
BUBUIA S. M. – Ver Ficar de bubuia.
BUCHO S. M. – 1 Víscera de peixe, mamíferos e répteis. “Tem de tirar o bucho pra
comer o peixe” 2 Mulher feia. “Cara, como é que pode?! Tu ficaste com aquele
bucho, mano?”
BUCHUDA ADJ. – Grávida. “A Fabi está buchuda de novo. É o sexto...”
BUFA S. F. – Pum sem ruído. “Alguém soltou uma bufa! Tá podre aqui!”
BUFUNFA S. F. – Dinheiro, grana. "Aqui está a farinha. Cadê a bufunfa?"
BULIADO ADJ. – Arredondado. “É melhor pegar aquela mesa buliada, Marta. A
quadrada é perigosa pros meninos”.
BULUFAS S. M. – Coisa nenhuma. “A professora explicou pra caramba, mas confesso
que não entendi bulufas”.
BURITI S. M. – O buritizeiro é uma das mais vistosas e bonitas palmeiras da flora
amazônica. Uma planta adulta chega a produzir mais de 600 frutos em cada cacho.
Os frutos são colocados de molho por 24 hors pra soltarem a película cor-de-vinho
que os envolve e então a polpa, de coloração amarela, pode ser utilizada para a
confecção do "vinho de buriti", bebida altamente energética. Com a polpa prepara-
se também sorvetes e doces.

C
CABA S. F. – Espécie de vespa cuja ferroada produz dor e febre. “Não joga bola aí
porque tem uma casa de caba bem nessa árvore”.
CABAÇA S. F. – Recipiente usado para armazenar ou transportar água.
CABAÇO S. M. – O hímen. "Essa aí tem cara de que já perdeu o cabaço".
CABAÇUDA ADJ. – Virgem.
CABEÇA-DURA ADJ. – Teimoso, que ninguém consegue fazer mudar de opinião.
CABIDELA S. F. – Cozido de galinha feito com o sangue da ave, dissolvido em
vinagre.
CABIMENTO S. M. – Sentido. “Essa história de viajar sozinha com o namorado não
tem cabimento”.
CABOCA S. F. – Mulher. “Aí nós fomos pra festa ver se a gente arrumava umas
cabocas pra passar a noite”.
CABOCÃO S. M. – Alguém que não se comporta direito. “Pára de falar alto, Liniker!
Todo cabocão o cara, meu!”
CABOCO S. M. – Pessoa, cara, sujeito. “Aí o caboco chegou lá e falou um monte de
coisa”.
CABREIRO ADJ. – Desconfiado. “É melhor a gente parar porque teu marido já está
cabreiro”.
CABROCHA S. F. – Mulher de raça cruzada e cabelos lisos. “Estou de olho naquela
cabrocha ali”.
CACARECO S. M. – Troço velho. “Vai limpar a dispensa, Toni. Tira aqueles
cacarecos e joga fora”.
CACETE (ê) ADJ. – Maçante, importuno. “Que aluno mais cacete esse, hein!”
CACHINGAR V. – Puxar de uma perna.
CACHOLA S. M. – Cabeça. “Brincando com álcool e fogo de novo, menino! O que
que tu tens dentro dessa tua cachola, hein!”
CACHULETA S. F. – Peteleco dado com o dedo na orelha de alguém. “Vai lá,
aproveita que ele está distraído e dá uma cachuleta nele!” Ver Plets.
CACIMBA S. F. – Poço de pouca profundidade, em que a água mina de uma fonte
próxima.
CACOETE S. M. – Mania. “Cacoete feio esse de falar piscando os dois olhos,
Tadeu!”
CACURI S. F. – Armadilha de pesca.
CADÊ ADV. – “Onde está?” Existe a variação Quede?
CADILHO S. M. – Tigela que recebe a seiva da seringueira.
CADUCAR V. – Acariciar criança nova com carinho. “Cadê o pai dela? Tá bem lá
caducando com a menina, né?”
CAGADO ADJ. – Sortudo. “O cara é cagado! Ganhou duas vezes na loteria!”
CAGAR O PAU EXP. ID. – Fazer algo mal feito, estragar tudo, colocar alguma coisa a
perder, dar mancada. "Tava tudo dando certo. Aí o Junior gritou e cagou o pau!"
CAGA-RAIVA ADJ. – Neurastênico, estourado. “O pai da menina é o maior caga-
raiva da paróquia”.
CAIR NA BURAQUEIRA EXP. ID. – Cair na gandaia, ir para a farra. “Babita no
bolso, carro novo... eita que eu vou é cair na buraqueira!”
CAIR PRA TRÁS EXP. ID. – Ficar perplexo e surpreso. “Vou te contar uma que tu
vais cair pra trás: o Zecão é baitola”.
CAITITU S. M. – 1 Pequeno porco-do-mato. 2 Peça principal do aparelho de ralar
mandioca: um cilindro de madeira ao longo do qual se adaptam serrilhas
metálicas, com uma das extremidades conformada em roldana de gorne para a
passagem da correia ou corda que imprime a rotação; rodete.
CAIXA-PREGO S. F. – Lugar distante. “Para chegar lá temos que pegar três ônibus.
Ela mora lá na caixa-prego”.
CAJÁ S. M. – Fruta tropical, aromática, muito suculenta, de sabor acido-adocicado
pronunciado, própria para refrescos, caipirinhas, confeitaria. Ver Taberebá.
CALAFATE S. M. – Profissional que veda ou fabrica embarcações de madeira.
CALAFETAR V. – Vedar com estopa alcatroada (as junturas, buracos ou fendas de
uma embarcação).
CALDEIRADA S. F. – Prato regional feito com peixe, ervas, legumes, temperos e
condimentos.
CALDO DE CARIDADE S. M. – Caldo feito com farinha branca, ovos, pimenta-do-
reino e sal para dar sustança ou tirar ressaca. “Será que ela não melhora se der um
caldo de caridade?”
CALIBRADO ADJ. – Embriagado, turbinado.
CALOMBO S. M. – Galo, protuberância inflamada, hematoma.
CALUNDU S. M. – Mau-humor, zanga. “Hoje a Alice está de calundu”.
CAMARADA S. M. – Pessoa, cara. “Aí o camarada disse que não sabia de nada”.
CAMBADA S. F. – Bando. “Não quero mais te ver andando com essa cambada de
vagabundo que não quer estudar, meu filho!”
CAMBOTA ADJ. – Pessoa que tem os pés para dentro ou as pernas arqueadas.
CAMIRANGA S. M. – Urubu.
CAMISA DE MEIA S. F. – Camisa de malha.
CAMU-CAMU S. M. – Arbusto de pequeno porte, podendo atingir até três m de altura,
caule com casca lisa. Folhas avermelhadas quando jovens e verdes posteriormente,
lisas e brilhantes. Flores brancas, aromáticas, aglomeradas em grupos de três a
quatro. O fruto é arredondado, de coloração avermelhada quando jovem e roxo-
escura quando maduro. Polpa aquosa envolvendo a semente de coloração
esverdeada. Frutifica de novembro a março. Aparece predominantemente ao longo
das margens de rios e lagos, com a parte inferior do caule freqüentemente
submersa.
CANARANA S. F. – Capim de beira de rio ou lago.
CANCELA S. M. – Portão simples, geralmente com um pedaço de madeira que sobe e
desce.
CANDIRU S. M. – Peixe intruso que se entranha nos orifícios humanos, erigindo as
espinhas nas suas guelras e de lá saindo só após muito esforço ou ação de bisturi.
CANGAPÉ S. M. – Brinquedo feito com um pedaço de cabo de vassoura e um prego
com a cabeça lixada no asfalto na ponta que se joga no barro como um dardo.
CANGOTE S. M. – Parte posterior do pescoço. “Me dá um cheiro no cangote?”
CANGULA ADJ. – 1 Desengonçado. “O irmão dele é uma alto, troncho, todo
cangulão”. 2 Papagaio penso.
CANHÃO S. M. – Mulher feia.
CANOA S. F. – Embarcação para transporte nos rios.
CANOEIRO S. M. – Quem faz ou quem comanda a canoa no rio.
CANTO S. M. – Esquina. “Eu moro na Av. João Queiroz canto com a Rua H”.
CAPACHO S. M. – Pessoal servil.
CAPAR O GATO LOC. V. – Ir embora, sair. "Essa festa não tá com nada. Acho que
vou capar o gato".
CAPAZ! INTERJ. – Até parece! “Ele disse que vai me levar com ele?! Capaz!”
CAPINA! LAVA! SACA! INTERJ. – Sai fora! “Quando eu olhei, tinha um monte de
moleque roubando goiaba. Cheguei lá e gritei: Capina! Lava! Lava daqui! Saca,
molecada!”
CAPITÃO S. M. – Bolinho de comida amassada comido com a mão.
CAPOTE S. M. – Vencer num jogo com grande margem. “Ganhamos de capote!
Querem de novo?”
CAPRICHOSO S. M. – Boi-bumbá de Parintins. O Azul.
CAQUEADO S. M. – Um jeito especial de fazer alguma coisa, know-how. "Pô! O cara
é cheio de caqueado para trocar o pneu".
CARA DE TACHO LOC. S. – Desapontado. “Chegou com o presente dela do dia do
namorado e ela tava beijando outro. O coitado ficou com cara de tacho”.
CARA-DURA ADV. – Na cara-de-pau. “Ele veio pedir meu carro emprestado na
maior cara-dura”.
CARAMBOLA S. F. – Fruta de sabor agridoce, cor variando do verde ao amarelo,
dependendo do grau de maturação, rica em sais minerais (cálcio, fósforo e ferro) e
contendo vitaminas A , C e do complexo B, a carambola é considerada uma fruta
febrífuga (que serve para combater a febre), antiescorbútica (que serve para curar
a doença escorbuto -carência de vitamina C, e que se caracteriza pela tendência a
hemorragias) e, devido à grande quantidade de ácido oxálico, estimulador do
apetite, sendo ainda usada pela medicina popular no tratamento de afecções renais.
Seu suco, além de possuir um delicioso sabor, é usado para tirar manchas de ferro,
de tintas e ainda limpar metais. Sua casca, por possuir alto teor de tanino, cujo
poder adstringente pode prender o intestino, é utilizada como antidesintérico.
CARAMINGUÁ S. M. – Dinheiro miúdo. “Tem uns caraminguás aí pra eu comprar o
jornal?”

CARÃO S. M. – Esporro, ralho. "Quebrei a lâmpada e meu pai me deu o maior carão".
CARAPANÃ S . M. – Pernilongo. “Aqui tá cheio de carapanã!”
CARITÓ S. M. – Lugar onde ficam as solteironas. “Tem 40 anos e não casou. Tá no
caritó”.
CARNE DE TETÉU – 1 Qualquer alimento não macio, que foi pouco cozido. "Essa
galinha tá mais dura do que carne de tetéu. Nem a besta-fera consegue comer
isso". 2 Pessoa difícil, travosa. "A diretora da escola onde eu estudo é a maior
carne de tetéu".
CARNE MAGOADA S. – Músculo dolorido. “Joguei futebol ontem e fiquei com a
carne magoada”.
CARNEGÃO S. M. – O olho do furúnculo. “Fui ao médico sarjar o carnegão ontem”.
CARREGAR V. – Roubar. “O ladrão entrou aqui e carregou tudo...”
CARTAR V. – Exibir-se, ostentando arrogância. “Nem vem cartar comigo, não, que
comigo tu danças”.
CARTAZ S. M. – Renome, fama, notoriedade. “Eu nem ligo pro que ela diz. Acha que
eu vou dar esse cartaz para ela?”
CARTEIRA S. F. – 1 Mesa escolar. “Aline, vai te sentar na tua carteira para gente
começar a prova”. 2 Maço de cigarros. “Vai lá e traz duas carteiras de Carlton
pra mim”.
CASA DO SEM JEITO LOC. ADV. – Caso perdido. “Teu caso, filho, tá na casa do
sem jeito”.
CASCALHO S. M. – Beiju. "Se o cascalheiro passar, chama que eu quero cascalho".
CASCAVIAR V. – Procurar a fundo. “Se tu cascaviar tu achas a prova de que ele está
te roubando”.
CASCUDO S. M. – Forte pancada na cabeça de alguém (quase sempre em crianças),
com o dedo médio dobrado.
CASQUETA S. F. – Pequeno papagaio (pipa).
CASQUINHA S. F. – Proveito, no sentido sexual. “Vou lá pra festa par ver se pelo
menos tiro uma casquinha de alguém”.
CATAR V. – 1 Tirar piolho. 2 Movimentar o papagaio para cima e para baixo até que
ele suba até a altura que se deseja.
CATARACA S. F. – Meleca. "Vai lavar essa cara imunda, seu nojento. Tua venta tá
cheia de cataraca".
CATINGA S. F. – Cheiro forte. “Daqui a gente sente a catinga do igarapé poluído”.
CATINGAR V. – Feder.
CATOMBO S. M. – Ver Calombo.
CATRAIA S. F. – Pequena embarcação usada para fazer travessia em riachos urbanos.
CAUXI S. M. – Planta esponjosa que causa coceira. “Vou nadar aqui não. Tá cheio de
cauxi nesse igarapé”.
CEMITÉRIO S. M. – Jogo de queimada. “Vamos jogar cemitério?”
CERCA-LOURENÇO S. M. – Conversa mole, sem ir direto ao assunto. “Deixa de
cerca-lourenço e diz logo o que tu queres comigo”.
CEROL S. M. – Vidro moído aplicado com cola nas linhas dos papagaios com o intuito
de cortar o papagaio adversário.
CEROTO S. M. – Acúmulo de sujeira na pele por falta de banho. “Vai tomar banho,
menino. Passou o dia jogando bola e tá com dois cordões de ceroto no pescoço.”
CHAGÃO S. M. – Drible rápido e desconcertante no futebol. Drible da vaca. “Viu o
chagão que ele levou?! Caiu sentado!”
CHAPADO ADJ. – 1 Com cecê. “Pô, Armstrong! Não passou desodorante hoje, não?
Tá chapado, meu!” 2 De porre, bêbado ou sob o efeito de narcóticos. “Chegou
quatro da manhã, chapadaço”.
CHECHO S. M. – Calote. “Não vou pagar aquela encomenda que ele me trouxe, não.
Vou ver se eu passo o checho nele”.
CHEGA EU... EXP. ID. – Que eu até. “Quando eu vi a freira estava beijando o padre.
Chega eu fiquei pasmo!”
CHEIO DE CAQUEADO EXP. ID. – Cheio de invenção, cheio de presepada
desnecessária. “O cara chegou aqui cheio de caqueado dizendo que fazia e
acontecia e não fez foi nada”.
CHEIRO-VERDE S. M. – Maço de coentro e cebolinha.
CHIBATA ADJ. – Coisa muito boa. “Rapá, o filme é chibata! Vou ver de novo!”
CHIBÉ S. M. – Mistura de farinha, água e açúcar. "Mãe, posso fazer chibé pra
merendar?"
CHILIQUE S. M. – 1 Desmaio. “Come direito... depois fica dando chilique aí”. 2
Showzinho ridículo em público. “Ela quis furar a fila. Como não deixaram, ela
deu um chilique dizendo que era juíza. Grandes coisa!”
CHINFRA S. M. – Sujeito afetado, metido a gostoso.
CHIRRADO ADJ. – Bêbado.
CHISPAR V. – Fugir, correr.
CHOVE-NÃO-MOLHA S. M. – Indecisão. “Vai ou não vai? Fica aí nesse chove-não-
molha que irrita!”
CIPOADA S. F. – Chibatada com cipó. “Ele fez besteira e a mãe largou a cipoada
nele”.
CISMADO ADJ. – Desconfiado. “É melhor a gente parar de se ver porque minha
mulher já tá cismada contigo”.
COBRINHA S. M. – Fila. "A tia Yá disse que a cobrinha lá no hospital tava dobrando
o quarteirão".
COÇA S. F. – Pisa, peia, cipoada. “Se fizer isso vai levar uma coça de mim”.
COCOROTE S. M. – Ver Cascudo.
COCORUTO S. F. – O alto da cabeça. “Meu filho levou uma pedrada no cocoruto que
levou dois pontos”.
COLHER (ô) V. – Recolher a linha quando se está empinando papagaio. "Colhe rápido
antes que a chuva chegue".
COLORAU S. M. – Pó vermelho feito de urucum para dor cor à comida.
COM BORRA (E TUDO) EXP. ID. – Com tudo. Expressão de exagero e alopro. “A
Luciana estava aprendendo a dirigir. Foi entrar na garagem e pisou no
acelerador ao invés de pisar no freio. Aí entrou com borra e tudo na garagem,
arrebentando o carro todo”.
COMBUSTOL S. M. – Óleo diesel.
COMER ABIO/ABIU LOC. V. – Ficar calado quando a situação é inconveniente ou
desagradável. “Eu falei o que tinha pra falar. Como ele sabia que tava errado,
comeu abiu e não disse nada”.
COMER COQUINHO LOC. V. – Ficar burro. “Tu é lesa, é? Parece que comeu
coquinho”.
COMO JÁ ENTÃO?! EXP. ID. – Expressão de espanto. “Pegou fogo na casa da
vizinha.”. “Como já então?! Assim de repente?!”
CONTRÁRIO S. M. – Denominação dada ao boi adversário e a seus torcedores no
festival de Parintins.
COPAÍBA S. F. – Árvore da qual se extrai um óleo com propriedades medicinais. A
copaíba fornece o bálsamo ou óleo de copaíba, um líquido transparente e
terapêutico, que é a seiva extraída mediante a aplicação de furos no tronco da
árvore até atingir o cerne. O óleo da copaíba é um líquido transparente, viscoso e
fluido, de sabor amargo com uma cor entre amarelo até marrom claro dourado. O
uso mais comum é o medicinal, sendo empregado como antiinflamatório natural.
Pelas propriedades químicas e medicinais, o óleo de copaíba é bastante procurado
nos mercados regional, nacional e internacional.
COQUE S. M. – Ver Cascudo.
COROCA S. F. – De avançada idade. “Eu moro com minha sogra, que já tá meio
coroca”. Do tupi curóca, caduco.
CORONEL-DE-BARRANCO S. M. – Homem que manda na região. “Pra resolver as
coisas mesmo tem de falar lá com o coronel-de-barranco da área”.
CORTAR A CURICA EXP. ID. – Matar a intenção no nascedouro. "Minha mulher
queria pular carnaval, mas eu, como um bom marido que sou, cortei e aparei a
curica dela".
CORTAR E APARAR exp. ID – Humilhar ou diminuir de certa forma. "Queria sair
hoje, mas meu pai cortou e aparou minha curica".
CORTAR V. – Falar mal de alguém. “Quando eu dou as costas, vocês ficam aí só me
cortando, né?”
CORTE S. F. – Pedaço de tecido para fazer roupa.
COSCA S. F. – Cócega. “Pára que eu tenho cosca aqui no sovaco”.
COTÓ ADJ. – Faltando um pedaço. “O braço dele é cotó. Foi um acidente”.
COTÔCO – S. M. – Gesto de xingamento que envolve fechar a mão e esticar o dedo
médio.
COURO DE PICA EXP. ID. – Expressão que indica alguma coisa que não se resolve,
não ata nem desata. "O noivado desses dois é igual a couro de pica, acaba e volta,
volta e acaba".
COURO QUENTE LOC. ADV. – Surrado. “Se não sossegar, menino, tu vais dormir
de couro quente”.
CRENTE QUE TÁ ABAFANDO EXP. ID. – Expressão que indica que alguém acha
que está chamando a atenção e não está. “Ela entrou crente que tava abafando
com aquele vestido rosa. Ninguém deu a menor bola pra ela”.
CRICRI ADJ. – Pessoa muito chata. “Deixa de ser cricri. Já disse que depois eu te
conto o segredo”.
CRUVIANA S. F. – Ventinho forte na madrugada, mesmo em noites quentes.
CRUZETA S. F. – 1 Cabide. “Tô precisando de umas cruzetas pra guardar essas
blusas”. 2 Falcatrua. “A polícia descobriu uma cruzeta do governador com a
empreiteira”.
CU DOCE S. M. – Pessoa que se faz de muito difícil, gente besta, pedante. "Quer e diz
que não quer. É o maior cu doce que eu conheço".
CUIA S. F. – Fruta cuja casca dura, limpa da polpa, serve de recipiente para líquidos,
como, por exemplo, o Tacacá.
CUIDAR V. – Apressar-se. “Cuida, senão a gente vai chegar atrasado”.
CUIRÃO S. M. – Menino, curumim. “O cuirão passou aqui zimpado!”
CUNHÃ S. F. – Mulher.
CUNHANTÃ S. F. – Garota. “Quem essa é essa cunhantã já?”
CUNHÃ-PORANGA S. F. – Mulher bonita. Parte do imaginário do Boi-bumbá de
Parintins.
CUPUAÇU S. M. – As sementes de cupuaçu, por seu alto teor de gordura, prestam-se à
fabricação de chocolate e já foram utilizadas para esse fim, em lugar das sementes
de cacau. Por esse emprego, o cupuaçu recebeu no passado nomes como cacau-do-
peru e cacau-de-caracas. Pertencente à família das esterculiáceas e ao mesmo
gênero do cacau-verdadeiro, o cupuaçu é uma árvore de porte médio, nativa da
Amazônia, que passou a ser cultivada em quase todo o Brasil, exceto nos estados
do sul. Os galhos são longos e grossos, mas flexíveis. As folhas, muito grandes,
chegam às vezes a cinqüenta centímetros de comprimento. É comum encontrar o
suco e o creme de cupuaçu.
CURERA S. F. – A massa de mandioca mole que, ao sair do espremedor (tipiti), por
ser dura e embolada, não foi coada. É imprópria para a fabricação da farinha.
Alguns aproveitam para fazer mingau.
CURIAR V. – Bisbilhotar, xeretar. “O que tu tá curiando aí, mulher?”
CURIBOCA S. M. – Mestiço de branco com índio.
CURICA S. F. – Espécie de papagaio (pipa) pequeno e sem tala (palitos da armação).
“Levantei uma curica hoje só pra brincar”.
CURIMATÃ S. M. – Peixe que se nutre de vegetais e lodo, também conhecido como
papa-terra.
CURITE S. M. – Dim-dim. Usado na região do Alto Solimões.
CURRIOLA S. F. – Turma de amigos.
CURUBA S. F. – Ferida. “Rapá, tô com uma curuba coçando pra burro!”
CURUMIM S. M. – Garoto, menino. “Cheguei lá na festa e tava cheio de curumim...”
CURUPIRA S. M. – Ser fantástico que, segundo a crença popular, habita as florestas e
é o protetor das plantas e dos animais. Referido desde o séc. XVI, o Curupira é
descrito como tendo a estatura de um menino, pele escura e os pés às avessas, isto
é, com os calcanhares para frente; suas pegadas enganam os caçadores e
seringueiros, que se perdem nas florestas. O curupira também faz as pessoas se
perderam imitando gritos humanos. Para não serem incomodados, os seringueiros
e caçadores, adaptando um costume indígena, fazem oferendas de pinga e fumo.
CUSPIR V. – Espanar a rosca, o parafuso. "Não adianta que não vai. Essa porca tá
cuspida".
CUTUCAR V. – Bater, tocar com a ponta de qualquer objeto. “Pára de me cutucar!
Não adianta que a fila não anda!”
CUVÃO S. M. – Buraco feito no chão para que se possa pôr lixo e aterrar.
CUVITEIRO S. M. – Ver Alcoviteiro.

D
DADAU S. M. – Mingau de mamadeira.
DADO ADJ. – Alguém de fácil trato. “Eu gostei da tua mãe. Gosta de um papo, né?
Ela é muito dada”.
DANADO ADJ. – Endiabrado, malcomportado. "Esse menino não sossega. Égua do
menino danado!"
DANÇA DE RATO E SAPATEADO DE CATITA LOC. V. – Enrolar, postergar
algo. "Deixa de dança de rato e sapateado de catita e vai logo tomar banho que é
melhor".
DAR A CARA A BOFETE EXP. ID. – Apostar. “Dou minha cara a bofete se ele
trouxer o que ele prometeu”.
DAR AS CARAS EXP. ID. – Aparecer. “Fiquei esperando a noite toda e ela não deu
nem as caras”.
DAR BOLO EM CATITA EXP. ID. – Ser esperto. “Cuidado com o Jurimar. O cara
dá bolo em catita. Fica esperto!”
DAR CABO EXP. ID. – Dar sumiço. “O doido matou a mulher e depois deu cabo do
corpo”.
DAR CORDA EXP. ID. – Dar confiança. “Não dá corda porque depois tu vais te
arrepender”.
DAR DE... LOC. V. – Começar a... “Agora ele deu de sair tarde todo dia”.
DAR DE COM FORÇA loc. v. – Atacar. “Olha lá o Jaime! Tá dando de com força no
bolo!”
DAR DE MIL EXP. ID. – Ser muito superior. “O meu carro dá de mil no teu”.
DAR FÉ loc. v. – Dar-se conta. “Ficou de conversa e quando deu fé já era meia-
noite”.
DAR NO PIRA EXP. ID. – Ir embora, se mandar. “Quando eu olhei, ela já tinha dado
no pira”.
DAR O BALÃO EXP. ID. – Fazer o retorno com o automóvel. “O senhor dá o balão
depois pega a segunda à direita no sinal”.
DAR O BIZU EXP. ID. – Avisar. “Ele saiu antes dela chegar. Alguém deu o bizu pra
ele...”
DAR O GRAU EXP. ID. – Fazer bem feito, caprichar, arrumar, dar o toque final.
“Antes de vender meu carro, eu vou dar o grau nele”.
DAR O MAIOR VALOR EXP. ID. – Gostar muito. “Eu dou o maior valor pras
músicas da terra”.
DAR O PINO LOC. V. – Sair sem pagar a conta.
DAR PREGO LOC. V. – Quebrar, escangalhar, enguiçar. “O fusca dela deu prego de
novo”.
DAR SINAL LOC. V. – 1 Dar seta no carro, indicando que vai fazer a curva 2 Mandar
notícia. “Boa viagem. Dá sinal de vida, hein!”
DAR TRELA LOC. V. – Dar corda, dar atenção, dar confiança. “Se tu deres trela para
o Ariovaldo, tu vais te dar mal. Esse cara é pilantra”.
DAR UM CHAGÃO EXP. ID. – Esquivar-se. "Fui correr atrás do Rato, mas ele me
deu um chagão que eu caí de bunda no chão".
DAR UM PULO EXP. ID. – Ir rapidinho em um lugar. “Mãe, eu vou dar um pulo aqui
na taberna e volto já!”
DAR UMA CARREIRA EXP. ID. – Correr. “Eu dei uma carreira, mas consegui
pegar o último ônibus”.
DE BODE LOC. ADJ. – Menstruada. A associação vem do fato desse caprino, que não
gosta de banho, exalar um cheiro muito forte, semelhante ao cheiro do sangue de
origem uterina que ciclicamente a mulher expele. "Todo mês essa mulher diz que
está doente, mas está mesmo é de bode!"
DE COCA LOC. ADV. – De cócoras.
DE COM BORRA LOC. ADV. – Expressão que indica intensidade. “A chuva foi tão
forte que água veio de com borra pra cima das casas”.
DE COM FORÇA LOC. ADV. – Ver De com borra.
DE LASCAR LOC. ADV. – Indica algo ruim em intensidade. “O calor tá de lascar”.
“A prova foi de lascar.”
DE LAVADA LOC. ADV. – Com grande vantagem. “O São Raimundo ganhou de
lavada do Flamengo ontem: 5 x 0!”
DE MALA E CUIA LOC. ADV. – Transferir-se para outro lugar com todos os
pertences. “Ela foi de mala e cuia pra casa da mãe. Deixou o marido mesmo”.
DE MUTUCA LOC. ADV. – Ligado na conversa alheia, de ouvidos bem atentos. "É
bom ficar de mutuca na conversa dessa menina..."
DE PIRUADA LOC. ADV. – Distribuir alguma coisa jogando para o alto, estilo quem
pegar, pegou. "Ele jogou os bombons de piruada".
DE PRIMEIRO LOC. ADV. – Antigamente, antes. "De primeiro ela falava comigo.
Agora que ficou famoso nem olha".
DE REPENTE LOC. ADV. – Indica um curto espaço de tempo. “Vou aqui de repente
e volto já já”.
DE ROCHA LOC. ADV. – Com certeza. “Eu vou aparecer lá, de rocha, pode
acreditar”.
DE VEZ LOC. ADV. – 1 Fruta quase madura. 2 Pra sempre. “Ela foi embora de vez
pro Rio de Janeiro”.
DEBOCHAR V. – Escarnecer, zombar. “Essa aí adora debochar das desgraças dos
outros”.
DEDADA S. M. – Ato de cutucar o bumbum de alguém com o dedo. "Tava na fila, o
filha da mãe chegou e me deu uma dedada".
DENGO S. M. – Faceirice. “Não fala assim manso com ela que ela fica cheia de
dengo”.
DENTRO DA GARAGEM LOC. ADV. – No rego da bunda. “A saia dela tá toda
dentro da garagem”.
DERRADEIRO S. M. – O último. "Essa fila tá tão grande que não dá nem para saber
quem é o derradeiro".
DESBOCADA ADJ. – Que fala muito palavrão. “A Jaqueline é uma mulher muito
desbocada. Dá até vergonha!”
DESCABAÇAR V. – Desvirginar.
DESCAIR v. – Soltar a linha quando se está empinando papagaio. "Discai se não ele
vai ter cortar na mão. Esse teu cerol é do colhe ou do descai?"
DESCANSAR V. – Ter neném, parir. “A Rudervânia descansou ontem. É uma
menina”.
DESCAPELAR V. – Cair a pele. “Peguei muito sol, agora estou descapelando”.
DESCARADO ADJ. – Cara-de-pau, cínico.
DESCARGA S. F. – Escapamento. “Cuidado para não queimar a perna na descarga
da moto”.
DESCONFORME ADJ. – Grande, demais, em excesso. “A chuva de ontem à noite foi
desconforme”.
DESCULPA ESFARRAPADA LOC. S. – Desculpa mal fundamentada.
DESEMBESTADO ADJ. – Descontrolado. “Ele saiu daqui desembestado quando
soube que a casa dele tava pegando fogo”.
DESMENTIR V. – Deslocar, luxar, desconjuntar, destroncar. “Acho que desmenti meu
dedo jogando bola ontem. Preciso puxar o dedo”.
DESMILINGÜIDO ADJ. - Sem graça, desarrumado, desajeitado. "O Cara ficou todo
desmilingüido quando eu falei que sabia de tudo".
DESONERADO ADJ. – Com diarréia. “O Nirou não vai jogar bola hoje porque ele tá
desonerado. Comeu muito ontem”.
DESPLANAVIADO ADJ. – Desatento, desmotivado. “Eu não sei mais o que faço.
Todos os meus alunos andam tão desplanaviados”.
DESTROCAR V. – Trocar o dinheiro em notas menores. “Destroca essa nota de
cinqüenta pra mim?”
DIN-DIN S. M. – Suco congelado no saquinho. Possui variações dentro do Estado. É
conhecido como Flau (Parintins), Totó (Coari), Vip (Ipixuna), Miau (Itacoatiara)
DISQUE – Contração de diz-se que. Consta-se, ao que parece. “A tua irmã já fez a
comida? Disque já”.
DISTIORADO ADJ. – Deteriorado, acabado. “Tem uma casa lá na Cidade Nova, mas
tá toda distiorada...”
DJÚCU ADJ. – Caboco. "Os dois irmãos que chegaram são djúco, djúco".
DO MEU TOP LOC. ADV. – Do meu tamanho, da minha altura. “Ele é um cara
louro, do meu top”.
DO TEMPO DO RONCA LOC. ADV. – Muito velho. “Putz! ‘morcegar’ é uma
palavra do tempo do ronca”.
DO TRISCA LOC. ADV. – Sensível. “Nem fala com ela que hoje ela está do trisca”.
DOR DE VEADO LOC. SUB. – Dor desviada. Cólica no baço. “Vou para de jogar!
Estou com dor de veado”.
DOS BRINCA LOC. ADJ. – De brincadeira, apostar sem valer. “Sai daqui... se eu te
pegar eu te como de pancada. Não estou dos brinca, não, hein!”
DOS VERA LOC. ADJ. – De verdade. "Eu não estou brincando, não. É dos vera".
DRAGA S. F. – Comilão. “Meu cunhado come demais, rapaz. O homem é uma
draga...”

E
...É APELIDO EXP. ID. – É pouco. “Tu viste a cabeça do Fábio? É grande, né?”
“Grande é apelido. Aquilo ali é uma cabeça gigante”.
...E MEIA! EXP. ID. – Mais do que... “Se ela é chata, tu és chata e meia”.
E EU LÁ SABIA... EXP. ID. – Expressão para eximir-se de culpa. “E eu lá sabia que
essa cerveja era da festa? Bebi sem saber...”
É FOGO! EXP. ID. – Muito bom ou muito ruim. “Cuidado com esse menino que ele é
fogo!”, “Prova essa pimenta. Ela é fogo. Melhor que qualquer uma”.
E OLHE OLHE! EXP. ID. – E olhe lá. “Ele só faz dois abdominais e olhe olhe”.
Ê, CAROÇO! EXP. ID. – Usada quando alguém se safa por pouco de uma situação
complicada. “Vai bater! Putz! Ê, caroço! Foi por pouco...”
ÉGUA! INTERJ. – Égua pode ser usado em várias situações. Tomou um susto: “égua!”
Alguém faz algo que você não entendeu: “égua...”. Uma situação estapafúrdia?
“Éééguaa, maninho...”. A entonação faz parte do sentido.
EITA PAU! INTERJ. – Ver Eita porra!
EITA PORRA! INTERJ. – Expressão de espanto, admiração. “Eita porra! Pra que
tanta farinha no prato?!”
EMBANANADO ADJ. – Atrapalhado. "Ajuda ele lá que ele tá todo embananado".
EMBIOCAR V. – 1 Descer. “Embioca aí senão ela vai te ver aqui”. 2 Cair o papagaio
em parafuso.
EMBORCAR V. – Virar de ponta a cabeça. “Aí o barco emborcou com o acidente”.
EMBRENHAR V. – Meter-se no meio de. “Quando ela viu o pai atrás dela, ela se
embrenhou no meio da mata e sumiu”.
EMBUÁ S. M. – Piolho-de-cobra.
EMPACHADO ADJ. – Cheio, estufado. "Fui comer muito agora estou empachado".
EMPAIAR V. – Atrasar. “Tu tá me empaindo toda. Cuida!”
EMPANZINADO ADJ. – Ver Empachado.
EMPATA-FODA S. M. – Pessoa que atrapalha os planos dos outros.
EMPERIQUITADO ADJ. – Enfeitado, arrumado. “Ela foi pra festa toda
emperiquitada”.
EMPINAR V. – Fazer subir. “Vamos ver se a gente consegue empinar o papagaio
hoje?”
EMPINGE S. F. – Micose. “Tenho que arrumar um remédio pra essa minha empinge.
Tá coçando demais!”
EMPOLADO ADJ. – Cheio de calombos, caroços, com a pele irritada.
EMPOMBADO ADJ. – Alguém cheio de orgulho.
ENCANGADO ADJ. – Pessoa que anda agarrada com outra o tempo todo. "A mulher
dele não deixa ele sair sozinho. Só vive encangada nele".
ENCASQUETADO ADJ. – Impressionado. “Ainda estou encasquetado como é que
ela saiu e eu não vi”.
ENCOSTO S. M. – Pessoa pegajosa.
ENCRUADO ADJ. – Travado, trancado, que não anda ou não cresce.
ENFEZADO ADJ. – Chateado. “Ele ficou enfezado porque não atenderam ele
direito”.
ENFIADA S. F. – Quantidade de peixe vendida junta num fio.
ENGANCHAR V. – Engatar. “Tava descendo do ônibus quando minha sandália
enganchou na escada”.
ENGILHADO ADJ. – Enrugado. “Quando a gente fica muito tempo na piscina, o
dedo fica todo engilhado”.
ENGÜIAR V. – Ter ânsia de vômito. "Quando eu vi o rato morto, eu engüei na hora".
ENJOADO ADJ. – Metido a besta. “O carinha enjoado pra fazer negócio...”
ENTÃO PRONTO! EXP. – Expressão que indica fim de argumentação. “Não acredita
em mim? Então pronto! Fazer o quê?...”
ENTOJO S. M. – Enjôo, nojo. “Não vou nem falar com ela que hoje ela está um entojo
só”.
ENXERIDO ADJ. – Metido onde não é chamado. "Eu te perguntei alguma coisa?
Então deixa de ser enxerida!"
ENXERIMENTO S. M. – Intromissão, atrevimento, gabolice.
ENXERIR V. – 1 Meter-se. “Não vem se enxerir nisso que não é da tua conta!” 2
Aparecer. “Ela comprou um carro novo só para se enxerir”.
ERAS... INTERJ. – Usado para momentos de perplexidade. “Eras... deixei meu carro
aqui...cadê ele?”
ÉRASTE, MANINHO! INTERJ.– Expressão de surpresa. “Votou nesse deputado aí?
Éraste, maninho...”
ERRADO ADJ. – Embaraçado, sem jeito. “Fiquei todo errado quando ela me pegou
com mão na massa”.
ESBANDALHAR V. – Quebrar. “Deixei minhas ferramentas com ele e ele
esbandalhou tudo!”
ESCABREADO ADJ. – Desconfiado. “O Chico está escabreado com a mulher dele.
Chega tarde toda noite”.
ESCALADO S. M. – Penetra. “Ele não foi convidado. Foi de escalado”.
ESCALDADO ADJ. – Esperto. “Ele não me engana, não. Sou escaldado”.
ESCAMBAU S. M. – 1 E o resto. “Ele trouxe pra festa a mulher, os filhos, o cachorro
e o escambau!” 2 Expressão de indignação. “Ele vai no meu lugar um
escambau!”
ESCANCARAR V. – Abrir às claras. “Quando foi demitida, a mulher escancarou as
falcatruas do chefe”.
ESCANGALHADO ADJ. – Quebrado, sem funcionamento. “Essa televisão está
escangalhada. Tem de mandar consertar”.
ESCROTO ADJ. – 1 Malvado, chato. “Aquela professora é muito escrota. Não dá
mole”. 2 Quando falada arrastada, a palavra tem sentido positivo, de elogio, de
algo ou alguém muito bom. “Doutora escrooooooota essa aí! Deu remédio certo e
curou o menino na hora.”
ESCULACHO S. M. – Esporro, esculhambação, ralho.
ESCULHAMBADO ADJ. – Ver Escangalhado.
ESGALAMIDO ADJ. – Guloso, comilão.
ESPAÇOSO ADJ. – Confiado, enxerido, atrevido, petulante, pessoa invasiva. “A
Ermelinda quer saber de tudo. Ela é muito espaçosa pro meu gosto”.
ESPAGUETE S. F. – Espacato. “Ela tem uma flexibilidade. Faz um espaguete que
ficar retinha no chão”.
ESPIA SÓ... INTERJ. – Interjeição que antecede algum comunicado. Usada para
chamar a atenção do interlocutor. “Espia só... eu vou precisar da tua ajuda”.
ESPIAR V. – Olhar. “Vou espiar a Mariazinha tomando banho”.
ESPOCAR DE RIR EXP. ID. – Rir até não agüentar, rir muito. “Contei aquela piada
e aí ela se espocou de rir”.
ESPOCAR V. – Estourar, arrebentar com ruído, estalar. “Pára de comer, Yara! Tu vais
espocar, mulher!”
ESPORA S. M. – Pessoa ruim, malvada ou insensível. “Poxa, maninha, deixa de ser
espora... me empresta tua caneta rapidinho”.
ESTAQUEADO ADJ. – Cabelo repicado. "O Xororó, pai da Sandy e do Junior, tem o
cabelo estaqueado".
ESTE UM EXP.– Modo de se referir a alguém cujo nome é desconhecido ou que se
quer denotar desprezo. “Olha já este um... Cheio de coisa.”
ESTICADO ADJ. – Ver Espaçoso.
ESTIRÃO S. M. – Caminho cumprido. “É melhor sair mais cedo porque daqui até lá é
um estirão danado”.
ESTOFADO S. M. – Sofá.
ESTREPAR V. – Ferir, se dar mal. “Ele foi pular o muro alto e se estrepou todo”.
ESTROMPADO ADJ. – Aloprado.
EXTRATO S. M. – Perfume. “Vou dar um extrato da Avon de presente pra ela”.

F
FACADA S. F. – Pedido de dinheiro. “O cara não trabalha e vive de dar facada nos
outros”.
FACHO S. M. – Animação. “Baixa o facho porque a gente não vai poder sair hoje,
não”.
FACULTÁRIO ADJ. – Quem faz faculdade. “Ele trabalha de dia e de noite ele é
facultário”.
FALAR DE BARRIGA CHEIA LOC. V. – Falar sem razão. “Tu falas de barriga
cheia! Pelo menos tu tens onde dormir e o coitado, que perdeu tudo com a
enchente”.
FALSIPAR S. F. – Malária muito violenta.
FANTA ADJ. – Sem graça, fraco. “Esse filme é muito fanta. Me arrependi de ter
vindo”.
FARDA S. F. – Uniforme escolar. "Não vai sujar tua farda, Gilvaney! Só tem essa!"
FARINHA S. F. – Raiz da mandioca triturada e secada até fazer grão ou farinha
grosseira. Se come com tudo.
FARINHA-D’ÁGUA – Tipo de farinha fina.
FAROFA S. F. – Farinha preparada com manteiga, gordura ou, às vezes, ovos.
FAROFA-DO-CASCO s. f. – Farinha-d’água assada no casco da tartaruga após a
retirada dos ovos, vísceras e carne.
FAROFEIRO s. m. – Contador de histórias.
FAZENDA S. F. – Ver Corte.
FAZER A CAVEIRA LOC. V. – Falar mal de alguém. “Ela não gosta de mim.
Sempre que puder ela vai fazer a minha caveira”.

FAZER HORA LOC. V. – Passar o tempo. “Vou à livraria fazer hora. Depois te
pego”.
FAZER INFERNO V. – Fofocar, fuxicar. “Ela não tinha nada que ir lá com o papai
fazer inferno. Por que que ela contou pra ele?”
FAZER MAL LOC. V. – Desvirginar uma moça. “Quem fez mal pra filha do seu
Alencar? Se ele pegar, ele mata!”
FAZER MEUÃ EXP. ID. – Fazer careta, cara feia, geralmente para intimidar. “E não
adianta fazer meuã pra mim que eu não tenho medo de cara feia”.
FAZER PEZINHO V. – Fazer embaixada com a bola. "Vamos ver quem faz mais
pezinho?"
FECHICLER S. M. – Zíper, fecho Éclair.
FEZ FOI É EXP. ID. – O que ele/ela fez foi. “Pensei que ela ia gostar das flores. Ela
fez foi é jogar no chão”.
FÊMEA S. F. – Designação genérica para as mulheres, especialmente as disponíveis
para o sexo. “O Gerfran se deu bem em todas as noites do festival; cada noite
pegou uma fêmea diferente”.
FERRADO ADJ. – Sujeito que se deu ou vai se dar mal de alguma forma. “Se o pai
dele descobrir que ele pegou a moto sem pedir, ele tá ferrado”.
FERRO DE ENGOMAR S. M. – Esquina com bifurcação triangular. “A loja fica lá
naquele ferro de engomar da rua Silva Ramos canto com Japurá”.
FICAR DE BUBUIA EXP. ID. – Ficar sem fazer nada, ficar flutuando na água. “E aí,
Zé, nadando um pouco?” “Não. Tô só aqui de bubuia um pouquinho”.
FICAR DE MAL LOC. V. – Ficar sem falar com alguém.
FICAR NA PORRONCA LOC. V. – Ficar sem fazer nada. “A melhor coisa do mundo
é entrar de férias e ficar na porronca...”
FICAR SENTIDO EXP. – Magoar-se. “Não precisava gritar com a menina, Gualter.
Ela ficou sentida...”
FILÉ ADJ. – Pessoa bonita, desejável. “Essa menina é muito filé!”
FILHO DE UMA ÉGUA EXP. – Xingamento dirigido a alguém que nos irritou.
FININHA S. F. – Diarréia.
FLECHAR V. – Ato de catar o papagaio em linha reta.
FOFOBIRA S. F. – Coceira na vagina. “Que diabo que ela não tira a mão dali! Tá
com uma fofobira federal!”
FOI MAL! EXP. ID. – Utilizada para pedir desculpa por algo não intencional. “Foi
mal, aí, Denildes. Não quis ofender, não!”
FOI? INTERJ. – Pergunta que pede confirmação por causa de certa incredulidade. “Aí
ele sentou a porrada nela”. “Foi?” “Foi. E ela gostou”.
FOLÓ ADJ. – Frouxo. “O parafuso não cabe nessa rosca. Ela é muito grande. Fica
foló”.
FOLOTE ADJ. – Variação de Foló.
FOMINHA ADJ. – Pessoa egoísta, que quer tudo para si. "Deixa de ser fominha, meu.
Divide essa coca-cola com a gente".
FONAS! INTERJ. – Utilizada no jogo de bolinha de gude. Quando o sujeito quer ser o
último a jogar, ele grita: “Fonas!”
FORA A PARTE LOC. ADV. – A mais, em separado. “Pode fechar a conta. Mas a
coca-cola aqui é fora a parte”.
FORMAR V. – Menstruar pela primeira vez. "Minha filha se formou ontem".
FORROBODÓ S. M. – Encontro para dançar. “Vai ter um forrobodó lá na academia
do Tom”.
FRESCAR V. – Encher a paciência, encher o saco. “Não fresque não que hoje eu não
tô pra brincadeira!”
FUÇA S. F. – Rosto, cara. “Levou uma bolada na fuça”.
FUÇAR V. – Mexer, tirar de ordem.
FULEIRAGEM S. F. – Porcaria, coisa ruim. “O filme é a maior fuleiragem”.
FULEIRO ADJ. – Ordinário, ruim. Mas pode ser também pessoa muito irreverente,
brincalhão, depende do contexto. "O cara é muito fuleiro, só falta matar a gente
de rir".
FURO S. M. – Comunicação natural entre dois rios ou um rio e um lago. Transitável
em época de cheia.
FURRECA ADJ. – Coisa sem valor. “Joga fora essa calça furreca e compra outra”.
FURUNFAR V. – Praticar o ato sexual.
FUTRICAR V. – Mexer, investigar, fazer confusão. "Essa mulher vive futricando a
minha vida".
FUXICAR V. – Fofocar.
FUXIQUEIRO ADJ. – Fofoqueiro.

G
GABOLA ADJ. – Esnobe.
GABOLICE S. M. – Orgulho besta. “Só porque ele passou no vestibular agora virou o
diabo das gabolices”.
GAGAU S. M. – Mingau de mamadeira.
GAITADA S. F. – Risada.
GALA S. M. – Esperma.
GALALAU S. M. – Menino ou rapaz muito alto. "O cara já é um galalau e quer jogar
com a gente".
GALERA S. M. – 1 Grupo de maus elementos que atacam em bando. 2 Torcida do
Boi-Bumbá de Parintins.
GALEROSO S. M. – Membro de galera.
GAMBÃO S. M. – Soldado, militar, meganha. “A briga acabou quando chegou um
bando de gambão botando moral”.
GAMBIARRA S. F. – Remendo, gatilho, serviço improvisado. “Como a corda
quebrou, ele fez lá uma gambiarra pra puxar o carro”.
GAMBITO S. M. – Perna fina. "Aquela mulher é muito feia. Olha os gambitinhos
dela".
GANCHO S. M. – Cabide.
GANHAR O MUNDO V. – Sair para passear.
GARANTIDO S. M. – Boi-bumbá de Parintins. O vermelho.
GARITÉ S. M. – Canoa.
GARRAFADA S. F. – Pajelança feita por curandeiros em que se mistura ervas e
essências medicinais com o objetivo de curar doenças e descarregar maus fluidos.
GASGUITA ADJ. – Esganiçado. “A voz da minha cunhada Andréa é muito gasguita.
Irrita qualquer um!”
GASTURA S. F. – Enjôo.
GATIADO ADJ. – Diz-se do olho puxado. “Ontem saí com uma morena dos olhos
gatiados”.
GATO S. M. – Ligação clandestina de energia elétrica ou outro serviço pago. “Nesse
bairro ninguém paga luz. Todo mundo puxou um gato”.
GAZETAR V. – Matar aula. “Vamos gazetar hoje pra ir pro cinema?”
GIGOLETE S. F. – Tiara.
GIRAU S. M. – Pia rústica e improvisada. A fonte de água, na maioria dos casos, é um
balde com água do igarapé. Serve para tratar o peixe, lavar mãos etc..
GITO ADJ. – Pequeno. Contrário de maceta. “É um professor assim gitinho, de
óculos”.
GORAR V. – Dar errado. “O passeio gorou. Tá caindo a maior chuva”.
GORGULHO S. M. – 1 Pedra pequena de leito de rio. 2 Caruncho de grãos de arroz,
feijão, etc..
GORÓ S. M. – Bebida alcoólica.
GOROROBA S. F. – Comida improvisada, misturada.
GRAFITE S. M. – Lapiseira. “Me empresta o teu grafite que meu lápis quebrou a
ponta”.
GRANDES COISA! EXP. ID. – Expressão de desdém. “Ele chegou e disse que eu
tinha que atendê-lo logo porque ele era advogado. Aí eu disse: ‘Grandes coisa ser
advogado. E eu sou garçonete e daí?”
GUAÍPECA ADJ. – Baixinho.
GUARAMIRANGA S. M. – Barco que nunca chegou. “Demorou muito! Veio no
Guaramiranga?”
GUARANÁ S. M. – O guaraná é um fruto utilizado como estimulante e
revigorante. Hoje em dia o uso da semente do Guaraná se alastrou como
fitoterápico rico em cafeína e estimulante do sistema nervoso central. Além da
cafeína, a semente do Guaraná contém amido, óleo fixo, ácidos cafeo-tânico e
matérias aromáticas, resinosas e pépticas. O Guaraná também é usado como tônico
geral e no combate ao estresse.
GUARIBA S. F. – Espécie de macaco.
GUARIBAR V. – Dar uma melhorada disfarçando os defeitos de alguma coisa. "Vou
dar uma guaribada no carro antes de vender".
GUEGUETE S. F. – Mulher, moça, garota. “Vou deixar aquela gueguete em casa
depois volto pro futebol, falou?”
GUENZO S. M. – Desajeitado. “Vai sair assim, guenzo desse jeito?!”
GUGUENTO ADJ. – Pessoa feridenta, nojenta, cheia de marcas na pele. “Eu nunca
namoraria com a Waldemarina. Ela é toda guguenta, cheia de espinha”.
GUISAR V. – destruir, destroçar (um papagaio). "Vou dá uma porrada no merda que
guisou o papagaio do meu irmão".
GURUPEMA S. F. – Peneira.

H
HAVERA v. – Haveria. “Ele veio aqui dizendo que tu que tinhas mandado... o que
que eu havera de dizer”.
HILÉIA S. F. – A floresta amazônica, segundo denominação de Alexander von
Humboldt (1769-1859), naturalista alemão, e Aimé Goujaud Bonpland (1773-
1858), naturalista francês.

I
IACÁ S. M. – Quelônio da família das tartarugas.
IGAPÓ S. M. – Floresta pantanosa, encharcada e sombreada pelo mato.
IGARA-AÇU S. F. – Canoa grande.
IGARA-MIRIM S. F. – Canoa pequena.
IGARAPÉ S. M. – Pequeno rio, riacho, arroio.
IGARITÉ S. M. – Canoa grande e forte.
IGUALZINHO ADJ. – Muito semelhante. "Ele é igualzinho ao pai dele".
ILHARGA S. F. – Ao lado. “Fica logo ali, na ilharga da igreja”.
IMPINGE S. F. – Pira, mancha no corpo. Ver Empinge.
IMPLICAR V. – Incitar discussão. “Deixa de ser implicante! Tu adoras implicar com
tua irmã, né?”
INCANDIADO ADJ. – Ofuscado pelo brilho. “Quando aquela menina bonita entrou,
eu fiquei incandiado”.
ÍNGUA S. F. – Caroço embaixo do braço que indica que o corpo está sofrendo uma
inflamação, gânglio.
INHACA S. F. – Cheiro forte e ruim.
INVOCADO ADJ. – Difícil de entender, de fazer, etc. “Esse brinquedo é invocado,
né?” “Égua! Ele saiu com uma e voltou com outra? Invocado...”
IPADU S. M. – Mingau feito com pouca água, consistente e grosso.
IR PRAS BARCAS – EXP. ID. – Sair para curtir. “Hoje é sexta. Dia de esquecer o
trabalho e ir pras barcas!”
ITAMARACÁ S. F. – A zona do baixo meretrício em Manaus.
IXE! INTERJ. – Expressão de estranhamento, tédio ou repugnância. “Eu adoro feijão
no pão”. “Ixe!”

J
JABÁ S. M. – Charque.
JABURU S. M. – Pessoa feia. “Não me diz que tu tá saindo com aquele jaburu,
Jaime?”
JACINTA S. F. – Libélula. “Meu irmão gostava de pegar jacintas, amarrar uma linha
nelas e deixar voar de novo”.
JACUBA S. F. – Pirão feito com água, farinha e açúcar ou mel.
JACUMÃ S. M. – Direção da canoa com o remo de mão numa das extremidades. “Nós
vamos é no jacumã daqui até lá”.
JARAQUI S. M. – O peixe mais popular de Manaus.
JERIMUM S. F. – Abóbora.
JIQUITAIA S. F. – Pequena formiga de picada dolorosa.
JIRAU S. M. – Pia rústica e improvisada. A fonte de água, na maioria dos casos, é um
balde com água do igarapé. Serve para tratar o peixe, lavar mãos etc..
JIRIMUM S. F. – Abóbora.
JOGAR NO MATO LOC. V. – Jogar fora.
JUNTAR OS PANOS EXP. ID. – Ir morar juntos.
JUNTAR V. – Catar, pegar no chão. “Junta os brinquedos do chão”.
JURURU ADJ. – Cabisbaixo, tristonho, abatido. “Por que ela está jururu?” “Porque o
ex-namorado casou”.

K
KAMIRANGA S. M. – Urubu.
KETCHBACK S. M. – Um lance amoroso, rolo. “Tive uns ketchbacks com ela no
passado”.
KIKÃO S. M. – Cachorro-quente.

L
LÁ VAI! EXP. ID. – Expressão equivalente a “lá vem você falar nisso de novo”.
LÁBIA S. F. – Papo, conversa. "Ele levou a menina na lábia".
LAMBANÇA S. F. – 1 Gabolice, bazófia, fanfarrice. “Ele falou que era rico?! Haha...
pura lambança...” 2 Serviço mal realizado, sujeira. “Vou ter que pagar pra
consertar o carro de novo. O outro mecânico foi mexer sem saber e fez a maior
lambança”.
LAMBUJA S. F. – Extra, vantagem, bônus. “Vamos jogar? De dou dez pontos de
lambuja”.
LAMPARINA S. F. – Pequeno candeeiro feito de lata de cerveja ou leite em pó, com
um pavio de algodão embebido em querosene.
LAMPARINADA S. F. – Uma dose de cachaça. “E aí, caboco? Topas dar uma
lamparinada?”
LANCHE S. M. – Lanchonete. "Tô brocado. Vou ali ao lanche pegar um x-
caboquinho".
LANTERNAGEM S. F. – Funilaria de veículos.
LANTERNEIRO S. M. – Funileiro de veículos, que conserta lataria.
LAPA S. F. – Grande, imenso, desproporcional. “O Ângelo tem uma lapa de pé, meu
amigo! Calça 45!” “Sabe a orelha do Abraão? É uma lapa, meu!”
LAPISEIRA S. F. – Caneta esferográfica. “Preciso de uma lapiseira pra assinar um
cheque. Serve Bic”.
LATEJAR V. – Pulsar. “Prendi meu dedo na porta e ele tá latejando”.
LAVADA S. F. – Vantagem.
LAVAR A ÉGUA ou LAVAR A BURRINHA LOC. V. – Levar vantagem, gozar um
momento de felicidade, ganhar com sorte alguma coisa, algum prêmio. "Ele
ganhou na loteria e lavou a burrinha. Comprou tudo que tinha direito".
LAVAR DA ÁREA LOC. V. – Ir embora de onde se está rapidinho.
LAVAR URUBU EXP. ID. – Estar desempregado. “Pois é. Faz seis meses que ele tá
lavando urubu. Serviço que é bom: nada”.
LAVOURA S. F. – Ganhar tudo na bolinha de gude.
LAZARENTO S. M. – Infeliz.
LEGUELHÉ S. M. – João-ninguém. “Liga pra essa cara, não. É o maior leguelhé”.
LENGALENGA S. F. – Enrolação, indecisão. “Decide logo! Fica aí nessa
lengalenga...”
LEPROSO S. M. – Pessoa que de alguma forma desagrada. "O juiz não marcou esse
pênalti! Ah, leproso!"
LESO ADJ., LESEIRA S. F. – Leso é alguém que sofre de leseira. Leseira é um
abestalhamento momentâneo que acomete o leso. Se a leseira for uma
característica contínua, dizemos que o leso sofre de leseira baré. Dizem que a
leseira baré ocorre entre os amazonenses devido ao sol quente na cabeça, que
queima alguns neurônios. Temos ainda as expressões derivadas: “Deixa de ser
leso!” e “Pára de leseira!” Dizem que todos os amazonenses têm três minutos de
leseira por dia. Mas como tudo tem seus dois lados, dizem também que o sol
também causa nos amazonense o tesão de mormaço, um aumento na capacidade
sexual devido ao sol quente.
LEVANTADOR DE TOADA S. M. – Cantor de toada de boi.
LEVAR UMA QUEDA LOC. V. – Cair, levar um tombo. “A tia Teca escorregou e
levou uma queda! Se quebrou toda”.
LIBRINAR V. – Chuviscar. “Pede pros meninos entrarem, Dalva. Tá librinando”.
LIGA S. F. – Elástico de amarrar dinheiro. “Preciso de uma liga pra amarrar esse
maço de notas de dez”.
LISO ADJ. – 1 Sem dinheiro. "Eu não vou poder ir pro cinema porque hoje eu tô liso".
2 Escorregadio. Ver Arisco.
LOMBRA S. M. – 1 Sono de bêbado ou drogado. 2 Coisa indefinida. “Mas que lombra
é essa agora, meu irmão?”
LOMBRADO ADJ. – Bêbado, fora de si. “Esse cara só pode tá lombrado pra fazer
isso...”
LOROTA S. F. – Mentira.
M
MACACA S. F. – Amerelinha. “Vamos pular macaca?”
MAÇARANDUBA S. F. – Árvore da familia dos ébanos, que produz madeira de lei de
cores avermelhado até vermelho escuro.
MACAXEIRA S. F. – Mandioca comestível, aipim.
MACETA ADJ. – Grande, imenso, de proporções anormais. “Eu disse que ia lá brigar
com ele e quando eu olhei o cara era macetão. Saí fora...”
MÃE-DÁGUA S. F. – Entidade mítica que habita os rios.
MAIOR PALHA LOC. ADJ. – Muito ruim. “Esse cantor é a maior palha”.
MAIS CONJ. ADIT. – E. “Pode deixar que eu mais o Richardson vamos comprar o
gelo”.
MALEITA S. F. – Febre, malária.
MAL-ENCARADO ADJ. – Pessoa suspeita ou estranha.
MALINAR V. – Reinar, fazer malvadeza gratuita, como, por exemplo, beliscar um
bebê porque ele é muito fofo. “Ele é tão fofinho que dá vontade de malinar com
ele”.
MALOCA S. F. – Aldeamento de índios.
MALUVIDO S. M. – Mal comportado. “Que menino maluvido!”
MAMADA S. F. – Mamadeira de leite. "Eu tenho que preparar a mamada do
Clauzionor Junior".
MANCADA S. F. – Equívoco lamentável. “A gente ia conseguir enganar a Zilma, mas
o Zeca deu mancada e ela percebeu que era mentira”.
MANCHETE S. F. – Na vista. “Disfarça e não dá manchete que a gente tá aqui”.
MANDIOCA S. F. – A grossa raiz comestível da maniva. Macaxeira.
MANDUQUINHA S. F. – Camburão de polícia. “Maior porrada rolando, aí chegou a
manduqinha e levou um bocado”.
MANEIRO ADJ. – 1 Leve, fácil de manobrar. 2 Muito legal. “Esse barquinho aqui é
maneiro”.
MANGAR V. – Fazer pouco de alguém. "Eu bati nela porque eu caí e ela ficou
mangando de mim".
MANGARATAIA S. F. – Gengibre.
MANJA S. F. – Brincadeira de criança. Há a manja-esconde, manja-pega, manja-trepa,
entre outras.
MANO VOC. – Tratamento carinhoso entre conhecidos ou não. Muito usado para fazer
perguntas e pedidos. “Mana, faz um favor pra mim?” “E aí, tudo bem, mano?”
Variações no diminutivo: maninho, maninha.
MANTEIGA DE TARTARUGA S. F. – Feita com gordura extraída dos ovos da
tartaruga.
MANTEIGA-DERRETIDA S. F. – Pessoa chorona.
MÃOZADA S. F. – Tapa. “Vem de novo aqui que tu vais levar uma mãozada!”
MAPINGUARI S. M. – Entidade que habita a floresta com forma de um grande
macaco cabeludo com um olho só na testa. Segundo a lenda, é ele um terrível
inimigo do homem, a quem devora. Mas devora somente a cabeça.
MARMANJO S. M. – Pessoa crescida, adulto. “Meu filho já tá um marmanjo”.
MARMOTA S. F. – Invenção, arrumação, trapaça. “Deixa de marmota e te aquieta...”
MAROMBA S. F. – Jirau elevado, feito com troncos ou madeira, para deixar a salvo
animais domésticos, plantas e pertences dos ribeirinhos, durante as enchentes.
MÁRRAPÁ! EXP. ID. – O mesmo que “Olha já!” “Me empresta teu carro?”
“Márrapá! Claro que não!”
MARRETEIRO S. M. – Vendedor ambulante.
MAS QUANDO?! INTERJ. – Ver “Tem mil!”
MAS! INTERJ. – Pronuncia-se "Mách". Interjeição de ênfase. “Tem muita mulher
aqui?” "Mách! Só tem!"
MASSA FINA S. F. – Pão de leite. “Eu gosto de pão leve, de massa fina”.
MASSA GROSSA S. F. – Pão francês. “Compra dois pães de massa grossa”.

MASSETA ADJ. – Ver Maceta.


MATEIRO ADJ. – Habituado a meter-se no mato ou lá passar parte do dia.
MATUPÁ S. F. – Barranco dos rios com vegetação desenraizada que fica boiando
conforme o nível do rio.
MEGANHA S. M. – Forma depreciativa de se referir a um soldado de polícia. "Esse
cara não passa de um meganha!"
MEIGA ADJ. – Mulher fácil. “A Martinha é meiga. Meigalinha...”
MEMBECA S. F. – Espécie de grama que se desenvolve as margens dos igarapés,
lagos e rios.
MENINO BARRIGUDO EXP. ID. – Um leso, que só faz besteira. “Pára de meter o
dedo no bolo, Nelson! Tamanho paideguão e parece um menino barrigudo!”
MERENDA S. F. – Lanche. “Vou bem ali comprar uma merenda que estou brocado”.
MERENDAR V. – Lanchar.
MERMO ADJ. – Corruptela de "mesmo". Pode ser usado para exprimir dúvida ou
confirmação. “Ele vai sair hoje, vai?” “É o que vai mermo...” “Não, ele vai
mermo”.
MERRECA S. M. – Alguma coisa muito pouca, sobretudo dinheiro, mixaria. "O
salário mínimo desse governo é uma merreca!”
MERUÍM S. M. – Inseto de picada dolorosa. Transmite a filariose.
METER O PAU LOC. V. – Falar mal de alguém. "A vizinha meteu o pau na sogra”.
METIDO ADJ. – Boçal. “Não gosto dela não. É muito metidinha pro meu gosto”.
MEU GRANDE VOC. – Tratamento para desconhecidos. Pode ser utilizado
intercambiavelmente com “mano”. “E aí, meu grande. Tudo bom?” “Fica de olho
aí no meu carro, falou, meu grande?”
MEXER V. – 1 Chamar alguém que vai passando. “Olha a Maria do Céu ali! Vou
mexer com ela: Cééééééééééu!” 2 Manter relações sexuais. “O Félix mexeu com a
moça, agora vai ter de casar”.
MIJACÃO S. M. – Bolhas de água. “Eu estou com mijacão nos pés”.
MILHITO S. M. – Salgadinho de saquinho. Seu uso foi estendido a partir do
salgadinho da marca Milhitos Jack’s, de fabricação local.
MINGAU S. M. – Preparado rico em carboidratos a base de arroz, milho, banana ou
farinha de tapioca extraída da macaxeira.
MIOLO-DE-POTE S. F. – Conversa fiada.
MIRAÇÃO S. F. – Alucinação. “Fica aí tomando esses chás pra ver se tu não começa
a ter miração”.
MIRATINGA S. F. – Árvore cujo ramo tem forma de um pênis.
MOCORONGO ADJ. – 1 Desajeitado. 2 Natural de Santarém (PA).
MOFINEZA S. F. – Fraqueza, indisposição, mal-estar. “Acho que vou ficar. Tá dando
uma mofineza em mim...”.
MOFINO ADJ. – Fraco, indisposto, que não oferece resistência. “O que que esse gato
tem? Está tão mofino”.
MONDRONGO S. M. – 1 Inchação, tumor subcutâneo, calombo. 2 Alguma
protuberância grande e esquisita. "Que coisa é esta? Que mondrongo é esse na tua
cabeça?"
MONTE ADV. – Bastante. “Já tem um monte de gente lá na quadra”.
MOTOR S. M. – Barco movido a diesel com grande capacidade de carga. “Que horas
sai o motor pra Coari?” “Depende. O Capitão Sérgio Souza ou o Comandante
Mauro Drida?”
MUCUIM S. M. – 1 Parasita minúsculo que se alimenta de sangue e que vive no
capinzal. 2 Gente pequena.
MUCURA S. F. – Espécie de gambá que come frango.
MUNGUNZÁ S. M. – Mingau de milho.
MUQUE s. m. – Braço, força. “Ele carregou o bezerro no muque”.
MURA S. F. – Pessoa invocada, fechada. “Vê se conversa com as pessoas! Parece uma
mura!”
MURUPI S. F. – Pimenta amarela extremamente forte.
MUTUCA S. F. – Observação. “Tu pensas que não, mas ele fica ali só de mutuca pra
ver se te pega no flagra”.
N
NÃO BATER BEM EXP. ID. – Ser meio leso, abilolado. "Essa menina não bate bem.
Tomar café com feijão?!"
NÃO É PÃO! EXP. ID. – Claro que sim! "O barco já chegou?" "Massssh... não é
pão!"
NÃO FAZER NEM AMARRADO PELO CHINELO PRETO EXP. ID. – Não fazer
de jeito nenhum. Nem que a vaca tussa.
NÃO VEM QUE NÃO TEM! EXP. ID. – “Nem se empolgue que não tem a menor
chance”.
NÉ NÃO! EXP. ID. – Não é não. “É a Leila ali, é?” “Né não”.
NECA DE PITIBIRIBA EXP. ID. – Não mesmo. “Posso sair com o carro, pai?”
“Neca de pitibiriba!”
NEM COM NOJO! EXP. ID. – Expressão equivalente ao “Tem mil!” “Vai ali e pega
água pra mim”. “Nem com nojo!”
NEM COM O PITIU (DO BODÓ) exp. id. – Ver Nem com nojo!
NHACA PURA! EXP. ID. – Fedorento. “Rapá, a mulher chegou da rua e tava nhaca
pura. Não dava pra agüentar”.
NO BALDE, NO MUNDO LOC. ADV. – Ver Que só.
NO CABRESTO LOC. ADV. – Na linha dura, sem folga, preso. "O pai da minha
namorada é ciumento. A coitada só vive no cabresto."
NO OLHO LOC. ADV.– Expressão utilizada para indicar que alguém recebeu uma
resposta certeira. “Tu já chegaste, Manoel?” “Não, Creuza! Tô lá em casa”.
“Toma, Creuza! No olho! Vai fazer pergunta besta de novo, vai!”
NO TEMPO DO RONCA LOC. ADV. – Há muito tempo. “Essa música do Teixeira
de Manaus é do tempo do ronca”.
NÓ-CEGO S. M. – Uma pessoa que é esperta, finge que faz, mas não faz e sempre se
sai bem. “Não cai na do Jorge, não. Esse cara é um maior nó-cego”.
NOME FEIO S. M. – Palavrão. “Mãe! O Chico tá chamando nome feio!”

O
O BICHO S. M. – Algo muito bom, de boa qualidade. “O Luis nuca perdeu uma
queda-de-braço. O cara é o bicho!”
O QUE ERA MAIS? EXP. ID. – Expressão usada por vendedores no sentido de “Mais
alguma coisa?” “O que era mais, mano?”
OLHA JÁ (ENTÃO)! INTERJ.– Interjeição de indignação correspondente a “Mas que
abuso!” “E aí, gata, me dá um beijo?” “Mas, olha já então esse aí... Te manca!”
OLHOS DE PETECA LOC. S. – Olhos grandes e claros.
OSGA S. F. – Lagartixa branca com os olhos pretos, que anda pelas paredes da casa e
come insetos. Briba. “Quando olhei, tinha uma osga nojenta no teto”.
OVADA ADJ. – Grávida, prenhe. “A filha do Joca tá ovada. De gêmeos”.

P
PACOVÃ S. F. – Banana comprida usada para fazer banana frita.
PACU S. M. – Peixe gordo.
PAGAR SAPO EXP. ID. – Humilhar. “O chefe entrou aqui e pagou o maior sapo no
Walter”.
PAGAR V. – Caber. “O tanque do meu carro pega 40 litros”.
PAGÉ S. M. – Curandeiro que cura tanto com os remédios da terra como com feitiços e
benzeduras.
PAGELA S. F. – Diário de classe. “Ainda não lancei as freqüências na pagela nova”.
PAID’ÉGUA ADJ. – Algo ou alguém muito bom, muito legal. “O filme é paid’égua”.
“O teu pai é um cara paid’égua!”
PAID’EGUÃO S. M. – Adulto, marmanjo. Pode ser usado de forma exclamativa
precedido de Tamanho. “Tamanho paid’eguão brincando no balanço das
crianças. Te manca!”
PAJELANÇA S. F. – Ação do curandeiro amazônico.
PALHA S. F. – 1 A palma das palmeiras. 2 Uma decepção. “O show foi a maior
palha”.
PALMINHA S. F. – Dois pedaços de madeira retangulares (itaúba ou sucupira) usados
para marcar o ritmo das toadas de Boi-Bumbá.
PAMONHA S. M. – Pessoa lesa que todo mundo faz de trouxa. "Aquele cara é um
pamonha".
PANAIR S. F. – Feira em Manaus.
PANELÃO S. M. – Dente que tem um buraco grande. “Amanhã minha dentista, Dra.
Eliana, vai tirar meu panelão”.
PANEMA ADJ. – Infeliz, leso, azarado. “Presta atenção, seu panema! É tua vez de
jogar!”
PANO DE BUNDA S. M. – Roupa íntima.
PANUVEIRO S. M. – Confusão. “Só porque eu cheguei tarde ontem, minha mãe fez
um panuveiro danado”.
PAPAGAIADO S. M. – Alguém ou alguma coisa extravagantemente colorido,
lembrando um papagaio. "Esta roupa está muito papagaiada!"
PAPAGAIO GUISADO EXP. – Papagaio amassado, imprestável normalmente
disputado pelas crianças após quedar.
PAPAGAIO S. M. – Pipa.
PAPEIRA S. F. – Caxumba.
PAPELIM ADJ. – Mulher que possui hímen, virgem. “Eu sou machão mesmo. Só caso
se for papelim”.
PAPOCO S. M. – Confusão, barulho. "Tava todo mundo em paz e de repente só se
ouviu o papoco vindo lá da cozinha".
PARA O MÊS (ANO, etc.) LOC. ADV. – Mês (ano) que vem. "Para o mês, vou ver se
compro uma geladeira nova".
PARADA S. F. – Ponto de ônibus. "Se eu não descer agora, só na próxima parada".
PARANÁ S. M. – Braço de rio que contorna uma ilha.
PARDIOSO ADJ. – Sujeito com características do caboclo do interior, desconfiado.
“Difícil vai ser convencer ele a mudar de idéia. Sabe como ele é pardioso...”
PARENTE VOC. – Forma de tratamento usado para se falar com alguém. Equivale a
Mano. “Parente, me dá uma ajudinha aqui?”
PARRUDO ADJ. - Forte, musculoso. "Acho bom você não desafiar esse cara porque
ele é muito parrudo!"
PARTINHA S. F. – Franja. "Tu tá igual ao Aritana com essa partinha".
PASSAMENTO S. M. – Desmaio, mal-estar. “Chama o médico que tua irmã está tendo
um passamento!”
PASSAR FERRO LOC. V. – Passar roupa. “Vou pra casa que tenho que passar
ferro”.
PASTA S. F. – Creme dental.
PASTORAR V. – Observar, ficar olhando. “Vou sair, mas vou deixar a Doralice
pastorando os meninos”.
PATUÁ S. F. – Palmeira que dá fruto semelhante ao açaí, rico em óleo vegetal.
PAU D’ÁGUA S. M. – Chuva forte.
PAVULAGEM, PAVOLAGEM, PAVOLICE ou PAVULICE S. F. – Empáfia,
abestalhamento, orgulho besta. “Ah, eu não pego em peixe, não”. “Caboco
pávulo! Deixa de pavulagem e ajuda logo, vai!”
PAXIÚBA S. F. – Espécie de palmeira, cujas folhas servem para cobertura.
PEBADO ADJ. – Lascado, ferrado. “O Jones sofreu um acidente e ficou todo pebado”.
PÉ-DE-MOLEQUE S. M. – Massa feita com farinha de mandioca, temperada e
assada, que se come como pão.
PEDI, PEDI, PEDI (repetição) – Repetição rápida do verbo para enfatizar, dar
intensidade. Qualquer verbo. “Mano, falei, falei, falei e não adiantou nada...”.
“Corri, corri, corri, mas o ônibus foi embora”.
PEDIR PENICO LOC. V. – Desistir de alguma coisa por falta de coragem ou força.
"O cara não agüenta mais. Já está pedindo penico..."
PEGA, MOLEQUE! INT. – Interjeição no sentido de “pega, otário!”
PEGA-MARRECA ADJ. – Calça curta demais. “Isso é uma calça ou é uma bermuda?
Se for bermuda tá muito longa e se for calça tá pega-marreca”.
PEGAR CORDA LOC. V. – Deixar-se influenciar, dar ouvido a. “O teu problema é
que tu pega corda, Alencar. Acredita em tudo que te dizem”.
PEGAR O BECO LOC. V. – Ir embora. “Tá na hora de eu pegar o beco. Tá tarde”.
PEIA S. F. – Sova, surra. "Quem não fizer o que eu mando entra na peia".
PELA MADRUGADA! INTERJ. – Expressão de espanto. Gíria leve, usada entre
pessoas mais comportadas. "Pela Madrugada! Você ainda não fez o que te pedi".
PELEJA S. F. – Luta, batalha.
PELEJAR V. – Batalhar, tentar muito. "Eu pelejei pra ver se ela voltava atrás e nada".
PENCA S. F. – Cacho, muitos. “A Preta tem uma penca de filhos”.
PENOSO ADJ. – Que tem pena do que tem. “Divide os bom-bons com a gente! Deixa
de ser penoso!”
PENSEIRA – Compensador para balancear um papagaio penso. "Põe uma penseira
nesse papagaio que ele sobe".
PENSO ADJ. – Torto, pendendo para o lado. "Esse papagaio não vai subir não. Tá
muito penso".
PER´AINDA LOC. V. – Forma sintetizada de "Espere ainda um pouco". Pode ser
acompanhado de ênfase lá então. “Per´ainda lá então! Não me apressa!”
PEREBA S. M. – Ferida. “Leva esse menino no médico, Berna! Tá cheio de pereba na
perna”.
PERNADA S. F. – Caminhada.
PERREXÉ S. – Ver Pardioso.
PÉSSIMO ADJ. – Pessoa pouco confiável. Mala-sem-alça, nó-cego. “Essa péssima da
Maria ainda não cumpriu minha ordem”. “É naquele bar que se reúnem os
péssimos do bairro”.
PETECA S. F. – Bola de gude. "Tá a fim de jogar peteca agora?"
PIAÇAVA S. F. – Fibra da palmeira utilizada em vassoura.
PICADINHO S. M. – Carne moída. "Hoje a gente vai comer picadinho com batata".
PICHÉ S. M. – Cheiro ruim. “Tu tá sentindo um piche de bicho morto?”
PICUINHA S. F. – Questiúncula irritante com que se azucrina os outros. “Isso é muito
pequeno, menina. Deixa de picuinha e vai fazer algo de útil”.
PIMBA S. F. – Pênis de criança.
PIMBADA S. F. – Ter relações sexuais, dar uma pimbada. "Faz tempo que eu não dou
uma pimbada".
PINCHA S. F. – Tampinha de refrigerante. Mas só as de metal, hoje raras. “Cadê a
pincha do guaraná? É que eu faço coleção”.
PINDAÍBA S. F. – Miséria, pobreza. "Sabe aquele ricão lá da rua? Hoje tá na maior
pindaíba".
PINGUELO S. M. – 1 Órgão sexual feminino. “Menino nasce por onde entra: pelo
pinguelo”. 2 Clitóris.
PINICAR V. – Beliscar, dar bicadas. “Essa roupa felpuda tá me pinicando”.
PINTA S. F. – Sinal. “Ele tem uma pinta no braço. É de família”.
PIPO S. M. – Chupeta de bebê. “Traz o pipo que ela tá chorando!”
PIRA S. F. – Ferida. “Ela tá com uma pira enorme no braço”.
PIRACEMA S. F. – Época de desova dos peixes que sobem o rio, procurando o local
ideal.
PIRACUÍ S. M. – Farinha de peixe.
PIRARUCU DE CASACA S. M. – Prato regional decorado a rigor, feito com farinha e
banana.
PIRARUCU S. M. – O bacalhau amazônico. Peixe grande, de escamas, cuja língua
serve de lixa.
PIRENTINHA S. F. – Menina com quem só se quer ter envolvimento sexual. “Rapaz,
casar que é bom nada... estou só nas pirentinhas”.
PIRIGUETE S. F. – Mulher fácil. Aglutinação de Piranha (ou Perigosa) com
Gueguete. “As piriguetes do trabalho do meu marido ficam dando em cima dele
direto”.
PIROCA S. F. – Pênis.
PIROCAR V. – Perder ou cortar o cabelo. “Rapaz, olha o cara aí... pirocou o cabelo
todinho”.
PIRUADA S. F. – Jogar para cima alguma coisa para ser pego pelos demais. “Minha
tia jogou os bom-bons de piruada na festa”
PISA S. F. – Peia, surra. "Menino, te aquieta! Se não sossegar, vou te dar uma pisa".
PISSICA S. F. – Opinião não solicitada, mau agouro. “Pára de dar pissica nas minhas
coisas”.
PITACO S. M. – Ver Pissica.
PITIÚ S. M. – Cheiro. Geralmente associado a peixe. “Tá sentindo um pitiú danando
aqui? Tomou banho, Creuza?”
PIUM S. M. – Mosquito pequeno, que se alimenta de sangue, característico do verão,
em local pouco habitado, com mato.
PIXAIM S. M. – Tipo de cabelo enrolado.
PIXÉ S. M. – O mesmo que Pitiú.
PLETS S. M. – Peteleco dado com o dedo na orelha de alguém. “Vai lá, aproveita que
o Onildo está distraído e dá uma cachuleta nele!”
PÕE-MESA S. F. – Louva-Deus.
POMBA S. F. – Pênis.
POMBA-LESA ADJ. – Lento, lerdo, mole. “Esse sujeito não dá conta de tanto
serviço: é um pomba-lesa”. “Sossega, menina! Toda pomba-lesa aí vai acabar
quebrando o vaso!”
PORAQUÊ S. M. – Peixe-elétrico.
PORONGA S. F. – Lanterna ou lamparina.
PORRETA ADJ. – Ver Chibata e Maceta.
PORRUDO ADJ. – Ver Maceta.
PRA PORRA LOC. ADV. – Muito. “Hoje tá quente pra porra!”
PREGUENTO ADJ. – Grudento. “Não agüento mais a Débora! Ela é muito
preguenta. Não larga da gente”.
PRENHA ADJ. – Grávida.
PRESENÇA ADJ. – Bonito, bem apessoado. “Olha que eu não acho homem bonito,
não, mas tenho que reconhecer que o Rodrigo Santoro é presença”.
PRESEPADA S. F. – Palhaçada, arrumação, confusão. "Deixa de presepada e sossega
aí".
PROCURAÇÃO S. F. – Ato de procurar. “Dile, cadê a tesoura?” “Não sei, mas vou
fazer uma procuração”.
PROVOCAR V. – Vomitar.
PROVOCO (ô) S. M. – Vômito.
PUPUNHA S. F. – Fruta regional da família do pinhão, comida cozida.
PURO A ADV. – Com cheiro de, cheirando a. “Vai lavar tua mão que tá puro a peixe"
PUTATEBA EXP. ID. – Expressão de insatisfação. “Putateba! Deixa eu ver TV em
paz!”
PUTATINGA EXP. ID. – Expressão de indignação. “Putatinga! Quem tomou meu
leite que tava aqui na geladeira, hein!”
PUTIREBA EX. ID. – Expressão de insatisfação. “Putireba! Acabou a água!”
PUTITANGA EXP. ID. – Expressão de insatisfação. “Putitanga! Esqueci minha
carteira em casa!”
PUXAR O DEDO EXP. ID – Puxa-se o dedo quando alguém destronca o próprio.
“Tem de ir ali na dona Cora puxar esse dedo, menino!”

Q
QUE DIGA EXP. ID. – Melhor dizendo. Usada para correção. “Ele casou duas vezes.
Três, que diga”.
QUE DIRÁ EXP. ID. – Imagine. “Ele chorou com o colírio, que dirá com a injeção”.
QUE NEM – Expressão de comparação. "Ela pensa que nem eu".
QUE SÓ! LOC. ADV. – Indica intensidade, similar a “Pra caramba”. “Hoje está
quente que só!” “Ela é lesa que só!” “A sala estava lotada que só!”
QUEBRA-MOLA S. M. – Lombada. “Vai devagar aí senão quebra o carro. Essa rua
é cheia de quebra-molas”.
QUEBRANTAR V. – Jogar mau-olhado. Por quebranto.
QUEBRANTO S. M. – Mau-olhado, de admiração ou inveja. “Acho que alguém pôs
quebranto no Rex. Ele tá tão mofino...”.
QUEBRA-QUEIXO S. M. – Guloseima dura – daí o nome – feita com amendoim,
vendida na porta das escolas. “Quanto tá o quebra-queixo, seu Durval?”
QUEDE...? ADV. – Cadê? Que é de? Onde está? “Quede a mamãe?”
QUEIDAR V. – Ato de derrubada do papagaio, por linha com cerol.
QUEIMAR V. – Bronzear-se. “Ela tá á na laje se queimando”.
QUEIMOSO ADJ. – Com muita pimenta. "Putateba, esse tacacá tá queimoso que só".
QUEIXAR V. – Ganhar no grito, ficar com algo de outra pessoa, ganhar na lábia. “Ela
me queixou a minha caneta, não foi?”
QUER NÃO, NÉ? – Usa-se para oferecer algo quando não se quer dar. Sempre na
negativa e com o né no final.
QUERIDA VOC. – Falso cognato. O uso da palavra “querida” no Amazonas denota
certo sarcasmo ou ironia. “Escuta aqui, minha querida. Eu sou a mulher dele,
entendeu?” “Você não está entendo, querido. (ou seja, você é um burro!)”.
Mulher amazonense odeia ser chamada de querida.
QUERO CESSO / NÃO DOU CESSO EXP. ID. – Expressões que garantem acesso à
comida que alguém está comendo. Se alguém chegar e disser “quero cesso”,
quem está comendo tem de dar. Mas se o comedor se antecipar e disser “Não dou
cesso”, aí morreu. Sem chances de beliscar.
QUERO NÃO. – Inversão sintática que deixa os interlocutores na dúvida. “Quer ir lá
com a gente na biblioteca?” “Quero não”.
QUIRIRI ADJ. – 1 Deserto, silencioso, calmo. “O lago hoje tava quiriri: nem peixe
nem pássaros”. 2 Tristeza.

R
RABETA S. F. – Motor de popa, de pouca potência e fácil manuseio utilizado pelos
ribeirinhos.
RABICHO S. M. – Extensão elétrica.
RABIOLA S. F. – Linha com tiras de papel, plástico ou pano que serve para dar
estabilidade no papagaio.
RABISSACA S. F. – Virada de cabeça brusca em desprezo a uma pessoa com quem se
cruza, manifestando clara antipatia. “Quando eu dei de cara com elam tu
acreditas que ela me deu uma rabissaca?”
RACHID S. M. – Rachado. “Vamos tomar cerveja. Mas Rachid, meio-a-meio na
conta...”
RÁDIO CIPÓ S. F. – A boca pequena, a fofoca. “Diz a Rádio Cipó que o Gláucio vai
ser demitido”.
RALA-RALA S. M. – Gelo ralado colocado num copo e acrescido de xarope de vários
sabores. “Quero um rala-rala de groselha”.
RALHAR V. – Esculhambar, brigar. “Fiz besteira aí minha mãe ralhou comigo”.
RALHO S. M. – Esculhambação, sermão ou briga de alguém que tem autoridade.
“Ontem cheguei tarde e levei o maior ralho da minha mãe”.
RANCHO S. M. – Cesta básica, compras do supermercado. “Tem que fazer o rancho
hoje”.
RAPAZ VOC. – Vocativo, usado para os dois gêneros: “Calma, Rapaz! Que mulher
afobada!”
RAPICHÉ S. F. – Rede de pesca.
RAPIDOLA ADJ. – Muito rápido. “Para levantar esse muro é rapidola”.
RASGA-MORTALHA S. F. – Ave de mau agouro. Diz a lenda que quando passa
perto de alguma casa produzindo seu ruído característico de alguma coisa
rasgando, alguém daquela casa morre.
RATADA S. F. – Mancada, pisada de bola. “Eu ia fazer uma festa surpresa, mas o
João acabou contando antes. Deu a maior ratada!”
REBARBA S. F. – Resto de qualquer coisa. “Quando tem churrasco aqui em casa, o
Rex é que pega a rebarba”.
REBOJO S. M. – Movimento das águas no rio, redemoinho.
REBOLAR NO MATO EXP. ID. – Jogar fora no lixo.
RECREIO S. M. – Barco de recreio. “Que horas sai o recreio para a Praia da Lua?”
REGATÃO S. M. – Mercador ambulante que em barco ou canoa percorre o interior
parando de lugar em lugar.
REIMOSO/REMOSO ADJ. – Comida que faz mal. “Mãe, já posso comer pirarucu?”
“Tá doido, menino. Tu acabaste de te operar e pirarucu é reimoso.”
REINAR V. – Fazer carinhos apertados, efusivos, em crianças.
RELAR V. – Tocar de leve em outra pessoa, na maioria das vezes com segundas e
sensuais intenções.
REMANSEAR V. – Enrolar, fazer corpo mole. “Pára de remansear e ajuda a gente a
carregar essas caixas lá pra baixo”.
REMANSO S. M. – Pedaço do rio em que a topografia provoca um refluxo fluvial,
diminuindo a correnteza.
REMELA S. F. – Secreção ocular, principalmente aquela presente quando acordamos.
REMENDAR V. Imitar jocosamente. “Pára de ficar me remendando! Parece meu
espelho”.
REMOSO ADJ. – Ver Reimoso.
RENDIDO ADJ. – 1 Impossibilitado de fazer algo por questões de indisposição de
saúde. “Não posso sair hoje que estou rendido com uma diarréia”. 2 Com hérnia
de escroto. “Meu filho levou uma bolada e fixou rendido, doutor”.
REPARAR V. – Tomar conta. “Não posso sair porque tenho que reparar o bebê”.
“Quer que eu repare o carro, tio?”
REPIQUETE S. M. – Um súbito aumento no nível das águas no período em que o rio
está baixando.
REQUENGUELO ADJ. Meio destruído, decadente, malvestido, sujo. “Ele tinha um
carrinho vermelho, todo requenguelo”. “Tu viste aquela mulher toda requenguela
passando pela praia?”
RESERVA S. M. – Pneu sobressalente, estepe.
RESPEITE! – Expressão de admiração por alguma coisa. "Respeite o carro novo que o
meu amigo aqui comprou!"
RETALHO S. M. – Varejo. “Ele vende cigarro a retalho?”
RÓDO S. M. – Porto. Aportuguesamento de roadway. “Meu irmão vai pegar o motor
lá no ródo”.
ROER UMA PUPUNHA EXP. ID. – Passar por dificuldades. “Depois que ele se
separou da mulher, ficou quebrado. Roeu uma pupunha o coitado”.
ROLOS S. M. – Muitos. “Ela saiu e trouxe rolos de mangas”.
RÓSEO ADJ. – Cor de rosa. "De quem é essa camisa rósea aqui?"
ROTA S. M. – Ônibus de transporte que faz a condução às empresas do distrito
industrial. "Ontem acordei tarde e perdi o rota".
RUEIRO ADJ. – Pessoa que não gosta de ficar em casa e arruma motivo para sair.
RUMA S. F. – Indica grande quantidade. "Não é hoje que eu ultrapasso! Essa ruma de
carros Não acaba mais de passar!"

S
SABACU S. M. – O mesmo que Babau. Punição que um grupo confere a alguém por
um malfeito. Todos batem com as mãos, ao mesmo tempo, na cabeça do coitado.
“Fez besteira! Vai levar sabacu por isso!”
SABIDO ADJ. – Esperto, inteligente. “O Roney é sabido, né? Tomou dez cervejas e
pagou quatro”.
SACOPEMBA ADJ. – Pessoa gorda. "Tu viste a mulher do Curica? Tá mesmo que
uma sacopemba".
SAFO ADJ. – Sujeito esperto, pessoa desembaraçada.
SALIENTE ADJ. – Pessoa enxerida, intrometida, metida a conquistadora. "Minha filha
não vai sair com esse rapaz porque ele é muito saliente!"
SAMBADO ADJ. – Objeto com muito uso.
SANDUBA S. M. – Sanduíche.
SAPECAR V. – Dar, bater. “Ela frescou aí eu sapequei a porrada nela!”
SARAMANDAIA S. M. – Antigo bordel de Manaus.
SARJAR V. – Tirar fora o tumor. “O médico sarjou meu tumor ontem”.
SARJETA S. F. – Meio-fio.
SARNAMBI S. M. – Originalmente pequena sobra de borracha que se forma durante o
processo de defumação do látex, usado para descrever um bife difícil de cortar.
"Esse bife tá mais duro que sarnambi, nem o cachorro quer".
SARRAFO S. M. – Pancada. “Se ela frescar, mete o sarrafo nela!”
SAÚVA S. F. – Formiga grande de ferrada dolorida.
SE ABRIR LOC. V. – Rir. “Quando eu contei o caso, ela se abriu da minha desgraça”.
SE AGARRAR LOC. V. – Namorar, ficar, principalmente quando há contato físico.
“Ela passou a noite toda se agarrando encostada no muro da igreja”.
SE ENXERIR LOC. V. – Se meter onde não é chamada. Querer aparecer. “Ela
comprou uma calça de marca só pra se enxerir”.
SE MANCAR LOC. V. – Se tocar. “Tu achas que eu vou querer namora contigo?! Se
manque!”
SE MENTIR LOC. V. – Ver Se enxerir.
SE VER DE DOR LOC. V. – Sentir muita dor. “Leva ele no pronto socorro que ele
está se vendo de dor”.
SECO ADJ. – Vazio. “Claudemir, vai jogar o saco de lixo fora”. “Não precisa, mô. O
saco está seco”.
SEGURAR VELA LOC. V. – Ser um terceiro sobrando, além do casal.
SERINGUEIRA S. F. – Árvore que fornece o látex do qual se fabrica a borracha.
SERRINHA DE UNHA S. F. – Lixa de unha.
SESTA S. F. – Repouso após refeição no calor amazônico.
SINAL S. M. – Semáforo.
SINCERA S. F. – Moça, garota. “Será que aquela sincera ali topa dançar?”
SÓ O CUÍ EXP. ID. – Magro de dar dó. “Ela fez um regime e agora tá só o cuí, pele e
osso”. Cuí é a farinha seca peneirada.
SOLDADO DA BORRACHA S. M. – Nordestino que durante a II Guerra foi atraído
pela propaganda oficial do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) de
Getúlio Vargas para colher látex na Amazônia.
SONGA-MONGA ADJ. – Disfarçado, jeito de besta.
SONSO ADJ. – Aquele que sabe o que faz e disfarça. "Foi tu que pegaste minha coca-
cola, não foi? Olha essa cara de sonso!"
SOSSEGAR O FACHO EXP. ID. – Baixar a bola, se aquietar. "Pode sossegar o facho
que não vai sair hoje não".
SUA ALMA SUA PALMA SEU CORAÇÃO SUA PINDOBA - Expressão que se
ouve quando alguém teima em fazer alguma coisa que o locutor reprova. "Então
meu filho, sua alma sua palma seu coração sua pindoba". Significa que o teimoso
está entregue à sua própria sorte.
SUCURI S. F. – Enorme cobra sem veneno, que mata apertando, sufocando e
quebrando os ossos do infeliz para depois engolir a vítima.
SUREMA ADJ. – Passado. “Esse peixe tá surema. Dá pra comer não”.
SUSTANÇA S. F. – Força, energia. “Tem que comer farinha desde cedo que é pra
pegar sustança”.

T
TÁ (DE) PORRE EXP. ID. – Estar bêbado. “Leva ele que ele tá (de) porre”.
TÁ BESTA! EXP. ID. – Deixa de inventar, deixa de leseira. “Ei, essa tapioca é minha.
Dá pra cá. Tá besta!”
TÁ PRA QUANTO? EXP. ID. – Maneira de perguntar o preço de alguma coisa. “Tá
pra quanto o quilo da goiaba, moço?”
TÁ PUTO COM EXP. ID. – Está com muita raiva de. “Não quero falar com ela. Tô
puto com ela”.
TÁ, CHEIROSO! EXP. ID. – Não, mesmo! “Vou pegar teu carro esse fim-de-semana,
tá bom?” “Tá, cheiroso! Esquece!”
TABATINGA S. M. – Barro usado para artesanato.
TABEFE S. M. – Tapa. "Vem que eu te dou uns tabefes que tu vais parar longe!"
TABEREBÁ S. M. – Ver Cajá.
TABERNA S. F. – Vendinha. "Menino, vai lá na taberna do seu Nóbrega e traz dois
pães".
TACACÁ S. M. – Mingau quase líquido de goma de tapioca temperado com tucupi,
jambu, camarão e pimenta. “Vou tomar um tacacá bem grande hoje”.
TACANHOBA S. F. – Tanguinha.
TACAR V. – Jogar, arremessar. “Vamos tacar uma pedra no cachorro dele?”
TACHO S. M. – Vaso de metal ou de barro, largo e de pouca fundura, em geral com
asas.
TAL DE – Expressão de desdém usada antes de nome próprio. “Foi embora com uma
tal de Marluce”.
TALA S. F. – Fina varinha da parte externa do tronco das palmeiras. Usada na
confecção de papagaios.
TAPADO ADJ. – Sujeito que não enxerga as coisas, abestalhado.
TAPIOCA S. F. – Iguaria que se faz de mandioca. Pode ser de manteiga ou de coco.
“Quero duas tapiocas de coco, parente”.
TAPIRI S. M. – Casebre coberto com palha.
TAPURU S. M. – Verme. “Essa carne está estragada. Olha só: tá cheia de tapuru”.
TAREFA S. F. – Exercício caseiro da escola. “Vou logo fazer a tarefa de matemática
pra poder ir jogar bola”.
TARRAFA S. F. – Pequena rede de pescaria.
TE MANCA! INTERJ. – Te toca, cai na real, vê como tu estás sendo abestalhado e
abusado. “Deixa eu dormir na tua casa hoje?” “Te manca, menino!”
TE MANDA! INTERJ. – O mesmo que Capina. “O que que tu ainda estás fazendo
aqui, moleque! Te manda! Cuida!”
TE METE! EXP. ID. – Humilhou! “Olha o anel de ouro com brilhante dela!” “Te
mete!”
TÊCA S. F. – Órgão sexual masculino. “Aí ele levou uma bolada de cheio na têca
dele”.
TEM MIL! INTERJ. – Expressão que significa indignação. “O chefe disse pra tu
fazeres o relatório sozinho”. “O quê? Sozinho? Tem mil pra eu fazer!” Há a
variante “tem cem!”, mais fraquinha.
TEM UM PORÉM EXP. ID. – Tem um detalhe. “Ele disse que faz o serviço. Mas tem
um porém: precisa de ajuda”.
TENHO PRA MIM EXP. ID. – Eu acho. “Eu tenho pra mim que esse cara é gay”.
TER UM PASSAMENTO LOC. V. – Desmaiar.
TER/DAR UMA BILORA LOC. V. – Desmaiar. "A Terezinha saiu de manhã cedo
sem tomar café e teve/deu uma bilora no colégio".
TERÇADO S. M. – Facão grande de cortar mato. "O galeroso matou o cara lá a
terçadada".
TESÃO DE MORMAÇO S. M. – Virilidade do amazonense causada ao calor.
“Amazonense é o bicho na cama. Só é botar em uso o tesão de mormaço”.
TETÉIA S. F. – Mulher bonita, engraçadinha.
TICAR V. – 1 Cortar o peixe para quebrar as espinhas. 2 Furar alguém com faca numa
briga.
TIGIBU S. F. – Mulher baixinha e gorda. “Olha que gata ali do lado daquela tigibu”.
TIPITI S. M. – Utensílio que consiste numa espécie de cesto cilíndrico extensível, feito
de palha, com uma abertura na parte superior e duas alças, usada entre os povos
indígenas brasileiros para extrair, por pressão, o ácido da mandioca brava.
TIQUIRA S. F. – Aguardente feita de mandioca.
TIRAR A HONRA LOC. V. – Deflorar, desvirginar.
TIRAR AS BRONCAS LOC. V. – Disfarçar, fingir que nada aconteceu. "Depois que
soltou um pum no elevador, o Wandemberg começou a assoviar pra tirar as
brocas".
TIRAR O COURO LOC. V. – Cobrar muito caro. “O melhor médico é o Dr.
Nakabuda. Mas o japa tira o couro na consulta: 500 paus!”
TIRAR V. – Comprar a prazo. “Ontem fui lá no centro e tirei uma geladeira nova”.
TOADA S. F. – Música de Boi-Bumbá.
TOBA S. M. – O ânus.
TODO ERRADO LOC. ADJ. – Situação em que a pessoa está muito envergonhada e
sem saber o que fazer. "Quando provaram que ele pegou o dinheiro, ele ficou todo
errado".
TODO MOCINHA! EXP. ID. – Usado pelos homens quando alguém não quer fazer o
que é esperado dele. “Atravessa aí pela lama, rapaz!” “Eu não”. “Ih, ó, todo
mocinha”.
TOLETE S. M. – Bolo de fezes.
TOLICE S. F. – Relativo a tolo. "O Felipe só faz tolice. Tamanho paid'eguão!"
TOLO ADJ. – Bobo, leso. "O Felipe já tem oito anos, mas é tolo, tolo, tolo".
TOMA! INT. – Aprende! “Toma! Vai se meter de novo com gente maior do que tu!”
TOMAR DE CONTA LOC. V. – Tomar conta. “Ele deixou o sítio dele pra eu tomar
de conta”.
TOMAR TENÊNCIA LOC. V. – Tomar jeito. “Tu já faltaste aula três vezes essa
semana! Vê se toma tenência”.
TOME TENTO! INTERJ. – Tenha juízo!
TONTON S. M. – Cangote. “Vem, filho. Sobe aqui no tonton do papai”.
TOPAR V. – Encontrar. “Quando menos esperava topei com ela na esquina”.
TORAR V. – 1 Cortar rente à base. “Esse cabelo tá muito grande. Acho que vou torar
ele”. 2 Transar com alguém. “Sabe quem eu torei ontem? A Sheila”.
TORÓ S. M. – Chuva forte com pingos grossos. “Bora embora que vai cair o maior
toró”.
TOTÓ S. M. – Dim-dim, flau. Usado na região de Coari.
TRANCA S. F. – Pedaço de madeira que serve para fechar portas.
TRATAR V. – Preparar o peixe para cozinhar. “Eu pesco, tá bom. Mas eu não sei
tratar peixe”.
TRAVESSA S. F. – Tiara de cabelo. “Ela é aquela ali de travessa azul”.
TRAVOSO ADJ. – 1 Que tem cica, igual caju verde. "Êta caju travoso do cacete". 2
Pessoa difícil. "Aquele professor é travoso que só".
TRELA S. F. – Conversa fiada. “Se der trela pra ela, ela fala a noite inteira”.
TRIBUFU S. M. – Ver Tigibu.
TRIPA S. M. – Homem que fica embaixo do boi na festa do Boi-Bumbá.
TRISCAR V. – O mesmo que relar, tocar.
TROCADOR S. M. – Cobrador de ônibus. “Não tinha dinheiro, dei um queixo no
cobrador e passei por baixo da catraca”.
TRONCHO ADJ. – Pessoa torta do juízo ou fisicamente, mutilado. "O cara anda todo
troncho depois da surra que levou!"
TU JURA? EXP. ID. – Verdade? “Ela vem pra festa hoje”. “Tu jura?”
TUCANDEIRA S. F. – Formiga gigante que produz ferroadas muito doloridas.
TUCUNARÉ S. M. – Peixe amazônico de águas escuras.
TUCUPI S. M. – Molho feito do líquido extraído da mandioca.
TURÍTI S. M. – Acertar duas bolinhas em uma só jogada no jogo de bolinha de gude.
TUXINA S. F. – Verme branco que aparece nas fezes e dá uma coceira danada;
oxiuríase.

U
UARINI S. F. – Farinha amarela de grãos grandes.
UMA PORRADA LOC. S. – Um monte de, bastante. “O cara coleciona coruja. Tem
uma porrada lá na casa dele”.
UMENO ADV. – Pelo menos. “Vai lá e pega umeno uma”.
URA S. F. – Berne.
URUBUSERVAR V. – Olhar atentamente. "Pára de ficar urubuservando o papo dos
outros!"
URUCUBACA S. F. – Mau olhado, azar, falta de sorte.
URUCUM S. F. – Pigmento natural utilizado de várias formas.

V
VAI TE LASCAR! INTERJ. – Expressão de raiva ou de decepção. “Vai casar de
novo? Ah, vai te lascar!”
VALÊNCIA S. F. – O que serve para livrar de uma situação adversa. “Ficou cara a
cara coma onça. A valência foi que o filho dele chegou e atirou na bicha”.
VARADO (DE FOME) ADJ. – Com muita fome. “O almoço não tá pronto e eu tô
varado de fome”.
VARIAR V. – Sair do juízo normal. “Tá com febre de 40 graus! E já tá variando: disse
que viu a vovó Julia, que morreu faz cinco anos”.
VASURA ADJ. – Criança graciosa. “Meu Deus! Que vasura esse curumim!”
VAZADO ADJ. – 1 Faminto. “Vamos comer alguma coisa? Tô vazado...” 2 ADV.
Rapidamente. “Tô super atrasado. Vou ter que sair vazado daqui!”
VENETA S. F. – Cabeça. “De repente, deu na veneta cozinhar e ele foi fazer peixe às
três da manhã”.
VERRUGA S. F. – Sinal que nasceu depois na pessoa.
VEXADO ADJ. – Apressado, envergonhado. "Fique vexado não. Venha cá conversar
comigo".
VIRADO ADJ. – Pessoa trabalhadora.
VISAGEM S. F. – Alma de outro mundo, assombração, fantasma. “Dizem que a avó
da Darle vê visagem”.
VITAMINADA S. F. – Vitamina, alimento preparado no liquidificador com leite,
açúcar e uma(s) fruta(s), normalmente banana. "De quem é essa vitaminada aqui
na geladeira? Se não tiver dono, vou tomar".
VIXE MARIA! INTERJ. – Expressão de espanto que se relaciona à Virgem Maria.
VOADEIRA S. F. – Lancha de alumínio com motor de popa. “Saindo de lá, levamos
uma hora e meia para chegar a Nhamundá de voadeira”.
VOU-TE! EXP. ID. – Expressão de indignação. “Ele ficou com todos os brindes. Êta
menininha egoísta! Vou-te!”

X
X-CABOQUINHO S. M. – Sanduíche de pão com queijo e tucumã, fruta regional de
carne alaranjada.
XIBIU S. F. – A vagina.
XODÓ S. M. – Favorito. “A Renata é o xodó do patrão. Tudo que ela pede ele faz”.
XUMBREGA ADJ. – Sem valor, comum.
Z
ZAGAIA S. F. – Tipo de arpão artesanal, lança.
ZAMBETA ADJ. – Tonto. “Ele rodou tanto que saiu de lá zambeta”.
ZERO-BALA ADJ. – Renovado, pronto pra outra. "Tava de porre ontem, mas agora
estou zero-bala”.
ZEZÃO ADJ. – Abobado, besta, leso.
ZIMPADO ADV. – Rapidamente. "Quando ele viu o pai da moça atrás dele, ele saiu
daqui zimpado".
ZOADA S. F. – Barulho. “O caminhão de som passou aqui fazendo a maior zoada”.
Amazonense até o tchoco!
Por Moisés Arruda

Moisés Arruda, 40 anos, casado, duas filhas, é um filho pródigo do Amazonas que vive
há quase 20 anos na cidade de São Paulo. Cursou Comunicação Social/Jornalismo na
Universidade do Amazonas e Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero (SP).

Quando descobri por acaso, na Internet, o "Dicionário de Amazonês", de Sérgio


Augusto Freire de Souza, doutor em Lingüística pela Unicamp e professor efetivo da
Universidade Federal do Amazonas, fiquei eufórico e orgulhoso. Afinal, alguém com
autoridade no assunto tinha coletado, estudado e organizado a língua da minha terra e
até o jeito (e trejeitos) do falar amazonense. Melhor ainda, tinha jogado tudo no
ciberespaço, onde o mundo poderia apreciar. Que orgulho! Não só meu, uma vez que o
trabalho do professor tem sido replicado "até o tchoco". Desde então, tenho divulgado o
Dicionário e, recentemente, fiz dele uma das minhas primeiras postagens, que, como
esperado, foi um grande sucesso. Sérgio Freire é subsecretário municipal de educação
de Manaus, autor de "Conhecendo Análise de Discurso: linguagem, sociedade e
ideologia" e co-autor de "New Citizen, inglês para o ensino médio", curiosa série
didática, adotada na rede estadual de ensino do Amazonas, que utiliza o imaginário da
cultura local. Passados dois anos e muitos downloads depois, tive a honra de um contato
direto com o professor Sérgio e não quis perder a chance de tirar dúvidas e conhecer
detalhes do seu magnífico trabalho. Acredito que a entrevista a seguir, concedida via e-
mail, seja a primeira do autor sobre o "Dicionário de Amazonês" na internet:

Moisés Arruda - O senhor tem conhecimento de trabalhos anteriores, no


Amazonas, semelhantes ao seu?

Sérgio Freire - A linguagem sempre foi objeto de curiosidade. A língua é um dos


índices mais fortes de identidade. Muito provavelmente outras pessoas devam ter
compilado termos utilizados aqui na região. Acredito que o diferencial do trabalho que
desenvolvo é que este dicionário, na sua forma final, terá um tratamento lingüístico,
científico, com classificações e terminologias da lexicografia.

MA - Os regionalismos podem ser chamados de dialeto ou subdialeto?

SF - O dialeto é qualquer variedade lingüística coexistente com outra e que não pode ser
considerada uma língua em si própria. Portanto, os regionalismos são dialetos, sim. São
dialetos geográficos. Há dialetos sociais também, como os dos “mano” em São Paulo ou
o dos “galerosos” em Manaus.
MA - Pode nos dar exemplos no Dicionário de neologismos e, contrariamente, de
termos em desuso?

SF - Como a língua é dinâmica, termos vêm e vão, ganhando e perdendo força por meio
do uso e desuso. Um termo relativamente novo é “piriguete”, uma aglutinação de
“piranha” com “gueguete”, usado para se referir a uma moça perigosa no que diz
respeito a atacar o marido ou namorado de outra. Já uma expressão em desuso é “cortar
a curica”, que significa “frustrar os planos de alguém”. Muitos jovens de hoje não
compreendem porque não soltam mais papagaio, área na qual surgiu a expressão. O
banco HSBC fez uma propaganda regionalizada e utilizou a expressão. Muita gente
nova não entendeu. Mas o público alvo do banco (as pessoas de trinta para cima)
entendeu. A língua acompanha os movimentos simbólicos e culturais e caminha no
tempo.

MA - Quanto à origem das palavras, poderia estimar, grosso modo, o percentual


de participação europeia, indígena e africana?

SF - É muito difícil quantificar a língua. Acho até que é inútil. O importante, acredito, é
identificar as influências e trocas linguísticas ocorridas. O Brasil herdou de Portugal a
língua, mas a história diferente do país fez daquela língua outra língua, com
materialidade toda própria. Apesar de carregar o mesmo nome, já no século XVII pode-
se dizer o brasileiro se fazia notar como uma língua diferente. Grande parte do
vocabulário é, claro, de origem do português europeu. Mas, por meio do tráfico de
escravos, as línguas africanas trouxeram palavras como “figa”, “orixá”, “dendê”,
“vatapá”, “minhoca” e outras hoje incorporadas na nossa língua como nossas. O contato
com as línguas indígenas, principalmente o Tupinambá, agregou um sem-número de
termos ao português. É muito comum ver termos indígenas apontados pela toponímia
(ciência que estuda a origem dos nomes de lugares): “Mogi-Mirim”, “Mogi-Guaçu”,
“Paraíba”, “Manaus”. Muitos nomes de plantas, frutas e animais brasileiros têm origem
no tupinambá, como “abacaxi”, “buriti”, ”curió” “piranha”, “sucuri” e “tatu”. A
influência indígena também acabou propiciando a criação de expressões como "andar na
pindaíba" e "estar de tocaia”. Mas quantificar é quase que impossível.

MA - Alguma palavra causou dificuldade na hora de se decidir qual a grafia mais


correta?
SF - Como alguns termos são originados de línguas ágrafas, sem escrita, e são
basicamente termos oralizados, a escrita acaba sendo arbitrária. Um desses termos é
“Masseta”, que significa algo grande, forte, com massa. Muita gente escreve “Maceta”,
que é uma variável aceitável também, ainda que eu prefira a primeira por questões de
etimologia. Esse é um exemplo.

MA - Pela similaridade de culturas, um possível dicionário paraense ou acreano,


por exemplo, não coincidiriam em grande parte com o Dicionário de Amazonês?
SF - Não há monopólio na linguagem. O contato cultural enriquece a utilização de
novas palavras. A língua funciona assim. Usamos “mouse”, “site” e “blog” porque a
língua portuguesa não nos deu palavras para nos referirmos a esses conceitos, que
vieram junto com a informática. A língua acompanha os movimentos econômicos
também. Um dicionário de “Amazonês” não tem a intenção de dizer “isso é nosso”, mas
de dizer “isso é significativo aqui”. E com a influência dos nordestinos na época da
Borracha, muito se ganhou de termos daquela região. Portanto, há de haver
sobreposições, sim. E isso não é problema porque as fronteiras das línguas e dos
dialetos são muito difusas e não muito claras. A língua é viva e não tem osso. Ela se
mexe mesmo.

MA - O senhor utiliza o amazonês no seu cotidiano ou ele é apenas seu objeto de


estudo?

SF - Má rapá... como um bom amazonense eu uso que só.

MA - O seu dicionário tem sido utilizado em larga escala na Internet sem os


devidos créditos. Vendo por um lado positivo, tem idéia do porquê do sucesso do
dicionário?

SF - Porque se tem uma coisa de que o ser humano gosta é de falar de si e de suas
coisas. Como um índice de identidade, a língua traz esse chamariz. Falar da minha
língua é falar de mim. Já dizia o poeta: “minha pátria é minha língua”. Estou com
Fernando Pessoa. Quanto ao uso sem créditos, isso é uma das questões mais atuais
sobre a utilização da internet como fonte: a autoria. Esse conceito tem mudado muito
em relação aos meios de circulação tradicionais. Uma enciclopédia como a Wikipédia,
por exemplo, é feita por quem? Na internet os textos tendem a deixar de ter autores e
passar a ter “organizadores” ou “disponibilizadores iniciais”. É uma questão que me
interessa bastante como estudioso de Análise de Discurso.

MA - Os escritores famosos do estado se utilizam do amazonês em suas obras?


SF - Depende do estilo e do escritor. Não acredito que seja uma regra geral, tipo “para
ser escritor amazonense tem de usar vocabulário local”. Nos escritores famosos, os
regionalismos aparecem como devem aparecer: naturalmente. Senão fica uma
linguagem forçada, sem verossimilhança, comprometendo a boa literatura. Mas gosto
muito da poesia de Aníbal Beça e de Luiz Bacellar. Seu "Rondel da mandioca" é muito
bom:

manimani

teu corpo branco

esfarelado

no caititu

chora espremido

no tipiti
lágrimas vivas

de tucupi

depois no tacho

dança lundus

cateretês

todo doirado

dança emboladas

de amido e luz

MA - Os paulistas, por exemplo, costumam confundir nossa fala com a dos


cariocas. Há grandes semelhanças?

SF - A grande semelhança é o “s” chiado. Mas a prosódia, que é o nome bonito que o
linguista dá para o estudo da entoação, é bem diferente. A frase do carioca é mais
cantada do que a nossa. Há também a coincidência do uso do “tu” como pronome de
tratamento. Isso ajuda a confundir os ouvidos menos apurados.

MA - É provável que, por dificuldades óbvias e devido à informalidade da


proposta, o interior do estado esteja pouco representado no dicionário?

SF - A internet criou um canal de troca muito interessante quanto a isso. Recebo e-mails
de várias pessoas do interior do Estado sugerindo expressões e palavras particulares à
determinada região. “Flau” é o “Din-din” em Parintins. “Nem com o pitiú do bodó!” é o
equivalente ao “nem que a vaca tussa” em Coari. E assim, vai. Espero ampliar essa
participação e conto com a internet para isso.

MA - O senhor vê o perigo dos meios de comunicação no Brasil, através das


novelas, por exemplo, promoverem a uniformização da língua, eliminando os
regionalismos?

SF - A língua sabe se defender. Ela permite entrar o que acha que deve. Qualquer
tentativa de regulamentar a língua por decreto é vã. Abrir mão do regionalismo é abrir
mão das especificidades identitárias. Nenhum grupo permite isso. Não vejo esse perigo,
não.
MA - Manaus tem recebido muitos imigrantes nos últimos anos. Eles mais
assimilam ou mais influenciam a fala local?

SF - As duas coisas. Mas a tendência maior quando se chega a outra comunidade de fala
é a assimilação do falar do local. Minha esposa é de Campinas e ela já aponta os
carapanãs massetas no quarto com a boca. Em Campinas ela utilizaria o dedo para
apontar um pernilongo grande.

MA - Há alguma palavra ou expressão regional do Amazonas que tenha se


difundido pelo país?

SF - Isso é muito sazonal. Na época em que o boi ganhou mídia nacional, a palavra
“toada” com a acepção utilizada pelos bois até que circulou. Mas a língua não existe por
si só. Quando ela vai, ela vai acompanhando a cultura ou o econômico. Quando essas
áreas se movimentam, ela se movimenta junto. Assim se dá o banzeiro lingüístico.

Publicado em http://www.amazonasinsampa.blogspot.com em 26 de novembro de 2006.

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