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Academia de Música de Santa Cecília

Caixas Brillo de Andy Warhol e a Pop Art

Trabalho realizado no âmbito do projeto Estética e Filosofia da Arte

Joana Moreira e Catarina Fernandes

Lisboa, 15 de maio 2023


A Escolha:
No dia 7 março, tivemos o prazer de ver a exposição: Coleção Berardo.
Foi nesta exposição que nos deparamos com diversas obras do artista Andy Warhol.
Escolhemos pensar sobre as Caixas Brillo pois percebemos que era uma obra diferente
do normal, não se tratava de um “simples” quadro exposto numa parede. Era mais do que
isso. E foi esse ponto que nos chamou mais à atenção. Estávamos perante uma obra de
um dos maiores artistas de Pop Art, uma obra a três dimensões, uma obra com um
considerável volume, que ocupava um lugar de destaque nesta exposição. Neste trabalho
procuramos estudar algo diferente, algo que não se resumisse ao antigo e clássico
conceito de arte. E foi isso que vimos nas obras do prestigiado Andy Warhol.

Biografia:

Andy Warhol foi um dos artistas mais ilustres do movimento Pop Art.

Este artista vivenciou uma infância bastante conturbada, foi diagnosticado com uma
doença que o impedia, muitas vezes, de frequentar a escola. Nessas situações, a mãe de
Warhol passava os dias a desenhar com ele e assim foi crescendo o “bichinho da arte”
que viria a ser um grande artista. Warhol foi, desde cedo, reconhecido pelos seus
desenhos com tinta borrada, utilizando um processo que desenvolveu na faculdade.Este
permite-lhe repetir uma imagem e criar diversas ilustrações usando o mesmo padrão
inicial, através dessa técnica de desenho,Warhol começou a ganhar interesse pela
produção em massa ficando reconhecida a sua prestigiosa frase: “Eu quero ser uma
máquina”. 

Em 1960, Andy Warhol voltou a sua atenção para o movimento Pop Art. Warhol iniciou as
suas primeiras pinturas neste estilo de arte em 1961, criando uma obra que viria, mais
tarde, a ser reconhecida como sendo uma das principais da sua carreira: a Coca-Cola.
Em 1962, voltou-se para o que foi considerado o seu estilo mais notável - a serigrafia
fotográfica. Entre as primeiras serigrafias de Warhol estão as suas pinturas de Marilyn
Monroe. Também neste ano, lançou um projeto bastante emblemático e reconhecido
mundialmente: a série de latas de sopa Campbell, exibindo-as no mesmo ano, na sua
primeira exposição individual de Pop Art na Ferus Gallery em Los Angeles. Em 1974,
Warhol iniciou a sua maior obra em série, as Time Capsules. Este encheu, selou e
despachou 569 caixas de cartão de tamanho padrão,dentro destas, Warhol colocava
objetos dos seu dia-a-dia. No final da sua carreira, Warhol voltou ao abstracionismo. 

Andy Warhol trabalhou em 3 temáticas: a fama e o sucesso (reis, criminosos, atores),


consumo de massas (coisas que toda a gente reconhece), morte e desastres.

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Este prestigiado artista focou todo o seu trabalho em apropriação de imagens já
existentes, na sua multiplicação  ( apesar de às vezes haver alterações da cor e dos
suportes) e na sua equivalência, uma vez que tratava tudo da mesma maneira:  sejam as
coisas mais banais do dia a dia sejam pessoas famosas. 

“Se quiseres saber tudo sobre Andy Warhol, basta olhar para a superfície das minhas
pinturas e filmes e para mim, e lá estou eu. Não há nada por trás disso”- Andy
Warhol,1966.

O que são as caixas Brillo

As caixas Brillo são uma representação similar de um produto vulgar encontrado em


supermercados, por exemplo. Esta obra é uma coleção de esculturas empilháveis, que
podem ser dispostas e organizadas de diversas maneiras no espaço. Por serem
esculturas idênticas, não há nenhuma caixa que seja considerada pelo artista melhor que
outra. Andy Warhol, ao reproduzir as caixas que estão presentes no supermercado, criou
uma ligação entre o que os espectadores classificam como arte e a vida real. A
representação destas caixas de supermercado remete-nos para os objetos de consumo e
para o próprio ambiente consumista que o artista quer refletir nas suas obras.

Ready made é o nome que Duchamp utilizou para designar um tipo de objeto, por ele
inventado, que consiste em um ou mais artigos de uso cotidiano, produzidos em massa,
selecionados sem critérios estéticos e expostos como obras de arte em espaços
especializados. Andy Warhol recorreu ao ready-made quando levou as caixas de sabão
para a sua exposição.

POP ART:

A Pop Art é um movimento artístico que surgiu no Reino Unido e nos Estados Unidos em
meados do século XX. Este representou um desafio às artes apreciadas naquele tempo.
Este movimento artístico reunia e representava imagens da cultura popular, em que se
incluía a banda desenhada, a publicidade e outros aspetos como objetos mundanos.
Neste estilo de arte, o objeto em si já não era o mais valorizado, mas sim a sua imagem e
o que este representava e despertava naqueles que o apreciavam.

A Pop Art pode ser apreciada através de duas vertentes distintas:  vertente estética que
pretende privilegiar referentes concretos característicos de uma vida urbana cotidiana
marcada pelo consumo de massas, a publicidade, o império das imagens e o culto do
look, procurando valorizar processos de produção real ou aparentemente mecânicos; e a

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vertente cultural que se baseia na visão daquilo que se julga ter sido a grande explosão
artística e social, característica da ascensão de uma cultura juvenil. 

As caixas Brillo de Andy Warhol e, em geral, a Pop Art marcaram o fim do período
histórico da arte, tal como todos nós o conhecemos. Antigamente, as pessoas
deslocavam-se para um museu ver obras de arte, podiam gostar ou não das mesmas mas
nunca ninguém duvidava que se tratava de arte. Com as obras de Andy Warhol, este
fenómeno deixou de acontecer, o público deixou de assumir que as peças destes se
tratavam de arte, começando a interrogar-se: “Será que isto é arte?” .Com esta mudança
de mentalidade, terminou a época histórica da arte e iniciou-se um período pós-
histórico.Com as obras de Andy Warhol e principalmente com as Caixas Brillo, começou-
se a colocar a questão: “Uma coisa que é vista exatamente igual a uma coisa que não é
arte pode ser arte?" Pensava-se, como se pode distinguir o que é arte do que não o é,
quais são esses critérios? Colocada esta questão, começou-se a perceber que todos os
princípios que existiam, até essa altura, para distinguir a arte da “não arte” colapsaram,
uma vez que se começou a considerar como arte coisas que não o eram. A Pop art, onde
se inserem as peças de Warhol, são profundamente revolucionárias pois representaram
uma rutura no ponto de vista social e cultural até à altura instituído, ou seja,
representaram a queda das barreiras da arte entre a cultura dos mais privilegiados-
cultura de elite- e a de massas 

Porque é que as caixas brillo são consideradas arte?

As Caixas Brillo trouxeram, tal como tantos outras obras de Andy Warhol, para o mundo
artístico várias questões sobre os limites e as razões destes objetos serem, ou não,
considerados arte. Esta discussão pode ser perspectivada de diversas maneiras e de
acordo com múltiplas teorias. A teoria que melhor se adequa a este problema é a Teoria
Institucional da arte.

De acordo com a Teoria Institucional da arte, teoria não essencialista, as caixas Brillo são
consideradas arte uma vez que apresentam um tema, projetam uma atitude e ponto de
vista e apresentam um contexto histórico bem definido. Andy Warhol projetou na sua obra
um ato consciente, técnico e deliberado, o que apenas os grandes artistas conseguem
provocar.
Esta peça é considerada arte por ter sido aceite e
abraçada por aqueles que se encontram dentro deste mundo. Os artistas consideram que
a obra de Andy Warhol não é apenas uma caixa banal de supermercado. Estas
considerações não se baseiam apenas no seu processo de criação nem na sua diferença
estética, mas também no significado da obra e nos sentimentos que esta causa em quem
a observa. Apesar de transmitir a banalidade de caixas de detergente, teve um importante

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papel, uma vez que, desfigurou o antigo conceito de arte e impulsionou a pesquisa de
novos paradigmas para todos os que quisessem pensar a arte. Tanto as caixas Brillo
como outras obras do seu autor, como a própria Pop art, abriram portas a uma liberdade
de possibilidades de experiências o “comum” da vida. 

Entrevista a Miguel Carvalho

Entrevistador:  Bom dia, Hoje gostávamos de saber a tua perspetiva sobre as


Caixas Brillo.
Uma pequena contextualização: As caixas brillo são uma obra de arte que tivemos
o prazer de observar na Coleção Berardo. Estas são réplicas de caixas de sabão,
geralmente encontradas em supermercados. Para além disso, são empilháveis e
idênticas na sua composição e podem estar dispostas de diversas maneiras.
 Olhando para a peça que te apresentamos em fotografia, o que te suscita esta
obra?

Entrevistado:  Bom dia,


 Em primeiro lugar, considero que ver uma pessoa ao vivo e através de imagens é uma
experiência artística completamente distinta. Pessoalmente, nunca tive o prazer de ver a
obra em questão ao vivo.
Tirando isso, eu acho que há peças cujo valor não está na sua beleza e aparência. Na
minha opinião, tanto as caixas brillo como outras peças deste artista revelam o seu valor
através da sua simbologia. Estas são uma boa metáfora para aquilo que a Pop Art tem
em si.

Entrevistador:  Andy Warhol tenta trazer um objeto da vida quotidiana, o que causa
o choque nas pessoas. Na tua visão, o que pode diferenciar estas peças das caixas
que se encontram em pleno supermercado? Porque é que estas caixas podem ser
consideradas arte mas as do dia-a-dia não?

Entrevistado:
As caixas têm a componente da repetição por serem várias caixas produzidas em massa
de um objeto quotidiano. Por trazer esta vertente do dia comum, refletem também a sua
perceção do consumismo e da sociedade de massas. Considero que a força desta peça
vem deste mesmo carácter quotidiano, que faz os espectadores questionar as razões
para as razões daqueles objetos naquele contexto que não é o seu “normal”.
Andy Warhol, na minha perspetiva, veio revolucionar o conceito da arte. Chegou-se à
conclusão de que o artista em si tem a capacidade de transformar as coisas. Por
exemplo, tu podes pegar nesta borracha e se eu criar, ou conceber,  um conceito que

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torne esta borracha pertinente e a apresentar numa exposição, por esta estar exposta
num contexto artístico e por ter sido permitido ser exposto neste contexto pela instituição
artística, globalmente, esta borracha passou a ser considerada arte.

Entrevistador: Muito obrigada pelo tempo disponibilizado.

Referências Bibliográficas:

BROWN, Emily. Andy Warhol And His Artistic Influence. Culture trip, 2022. Disponível em:
https://theculturetrip.com/north-america/usa/new-york/new-york-city/articles/andy-warhol-
and-his-artistic-influence/  . Acesso em: 20 de abril de 2023.

Brillo Boxes. Philadelphia Museum of Art. Disponível em:


https://philamuseum.org/collection/object/89204 . Acesso em: 20 de abril de 2023.

Brillo Box. Myartbroker. Disponível em:


https://www.myartbroker.com/artist-andy-warhol/collection-brillo-box  . Acesso em: 22 de
abril de 2023.

MEDINA, Michele. Medium, 2020. Disponível em: https://michelemedina.medium.com/por-


que-as-caixas-brillo-de-warhol-s%C3%A3o-arte-enquanto-aquelas-dos-com-as-esponjas-
nos-supermercados-efc8074b1244  . Acesso em: 4 de abril de 2023.

Andy Warhol.  Warhol. Disponível em: https://www.warhol.org/andy-warhols-life/  . Acesso


em: 8 de abril de 2023.

Brillo: Is Art?. Warhol. Disponível em: https://www.warhol.org/lessons/brillo-is-it-art/  .


Acesso em: 8 de abril de 2023.

Brillo Boxes. Norton Simon Museum. Disponível em:


https://www.nortonsimon.org/art/detail/P.1969.144.001-100  . Acesso em: 1 de maio de
2023.

GAMEIRO, Cristina, FERREIRA, Emília (2014). Arte Moderna e contemporânea: Pop Art.
Lisboa: A Bela e o Monstro Edições.

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MUSEU COLEÇÃO BERARDO. As escolhas dos críticos: Andy Warhol por Alexandre
Melo, 6 de fevereiro de 2015. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?
v=ARaUFqKpI9g&t=302s  . Acesso em: 6 de maio de 2023.

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