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METODOLOGIA E PRÁTICA
DE ENSINO DE INGLÊS:
ENSINO FUNDAMENTAL
UNIDADE 1 – ENSINO DE LÍNGUA
INGLESA COMO L2 –
CONCEPÇÕES
Autor: Michel Marcelo de França
Revisor: Leandro Albano Bernardo
INICIAR
Introdução
Caro(a) aluno(a),
Nesta unidade, trataremos do ensino de língua inglesa como segunda língua (L2 ou LF) na
contemporaneidade, a partir da proposta para o ensino de línguas estrangeiras contida na nova Base
Nacional Comum Curricular (BNCC). Além disso, conheceremos os perfis dos professores e alunos da
disciplina de inglês quanto à sua formação e expectativas. Discorreremos o papel da língua inglesa no
mundo globalizado e apresentaremos a distinção entre a concepção de inglês como língua estrangeira e
como língua franca e seus respectivos aspectos em relação ao World Englishes. Identificaremos as
concepções de língua, aprendizagem e ensino, bem como as principais perspectivas teóricas
relacionadas à aquisição de língua inglesa como L2. Por fim, conheceremos as características e
implicações do bilinguismo e multilinguismo.
Vamos lá!
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Os desafios da contemporaneidade elevam cada vez mais as exigências sobre a formação intelectual e
profissional das pessoas no século XXI. Aprender inglês não é mais um diferencial, mas é essencial e
ultrapassa a noção de recurso instrumental à comunicação. O uso proficiente da língua inglesa permite
novos modos de engajamento e participação em um mundo de economias e práticas culturais
globalizadas cada vez mais difusas e concorrentes entre si.
Por isso, segundo a Base Nacional Comum Curricular – BNCC (2017), o ensino de inglês, em
cumprimento à sua finalidade, deve considerar três pressupostos fundamentais. O primeiro diz respeito
ao caráter formativo, que implica uma revisão das relações entre língua, território e cultura. Atualmente, o
inglês é falado em todas as partes do mundo, não apenas entre as nações onde é o idioma oficial. Esse
fato suscita algumas questões como: que inglês é ensinado nas escolas? Cuja resposta não pode ser
formulada à base de conceitos que não comportam mais os aspectos de uma língua que se disseminou e
se miscigenou a tantas outras, sob o status de língua estrangeira ( English as a Foreign Language –
EFL).
Nesse sentido, entre as diversas terminologias destinadas ao assunto, priorizando a função social e
política da língua inglesa, a BNCC (2017) passa a tratá-la como língua franca. Conceito esse que não é
novo e tem sido estudado e ressignificado pelos teóricos da área ao analisarem o seu papel no mundo
contemporâneo. Nessa concepção, os diferentes repertórios linguísticos e culturais dos falantes de
diversas partes do mundo são incorporados e legitimados, para além dos usos dos estrangeiros
hegemônicos estadunidenses ou britânicos, colocando em xeque a fórmula do inglês correto.
A terceira proposição se refere à abordagem de ensino. Ao situar o inglês como língua franca, implicações
como, qual o melhor inglês a ser ensinado e como aferir o nível de proficiência dos aprendizes, são
questões a serem relativizadas. O que pressupõe um deslocamento em relação ao modelo ideal de
falante, para a importância da cultura no ensino-aprendizagem da língua. Nesse cenário, cabe ao
professor o desprendimento para relativizar aspectos sobre a importância da correção, da precisão e da
proficiência linguística (BNCC, 2017).
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Na área de linguagem, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em vigor desde 2017, oferece
diretrizes para o desenvolvimento de competências específicas no uso da língua inglesa, para os
anos finais do Ensino Fundamental. É importante que todo profissional da Educação esteja
atualizado em relação a essas diretrizes que norteiam a prática de ensino.
Disponível em: <
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf >.
O ensino de língua inglesa como L2, na contemporaneidade, implica a aceitação de que essa é uma
língua franca, sujeita às particularidades de seu uso em cada território, e à generalidade de sua essência
política e cultural. Pressupõe uma visão formativa multifacetada por meio de letramentos múltiplos, que
fomenta o protagonismo e a aceitação ao multiculturalismo. Convoca o professor de língua inglesa a
valorizar a competência comunicativa em detrimento da competência linguística, integrando teoria, prática
e Tecnologias de Comunicação e Informação (TIC) para a aprendizagem colaborativa, autônoma,
experimental e empreendedora, inerentes aos modelos heutagógicos de ensino inovador.
Como modo de conhecer melhor o perfil dos professores de inglês que atuam no sistema educacional
básico brasileiro, a British Council realizou uma pesquisa, publicada em 2015, apresentando as principais
características dos professores de inglês da rede, a partir dos dados do censo da Educação Básica, de
2013.
Os dados ainda indicam que apenas 39% dos professores de inglês possuem formação específica em
língua inglesa, visto que a maior parte dos docentes dessa área são formados em Letras – língua
portuguesa ou licenciados em Pedagogia. Constatou-se, também, que um em cada cinco professores de
inglês possui formação superior em outras áreas fora dos estudos linguísticos, como pode se ver no
Infográfico 1.
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Esse cenário ajuda a compreender mais que o perfil do professor de inglês que atua na Educação Básica
brasileira; revela, também, que um pequeno percentual de alunos, no Brasil, está tendo a oportunidade de
ser ensinados por profissionais realmente preparados, com formação e conhecimentos sólidos para o
ensino de inglês. Talvez isso explique o porquê do ensino e aprendizado de língua inglesa na Educação
Básica apresentarem níveis tão insatisfatórios quanto ao grau de proficiência, que se alcança após quase
uma década (do quinto ano do Ensino Fundamental ao terceiro ano do Ensino Médio) de estudo da
língua.
Ainda de acordo British Council (2015), outros fatores contribuem para esse cenário desfavorável ao
ensino de inglês, no que se refere ao perfil dos profissionais que atuam nessa área. Cerca de 58%
desses professores concluíram seus estudos em instituições privadas, ou seja, tiveram que custear seus
estudos.
Para British Council (2015), o fato de que a maioria dos profissionais precisa trabalhar para custear sua
formação, os afasta de outras atividades indispensáveis ao seu desenvolvimento enquanto professor e
usuário da língua inglesa, como se pode ver no Infográfico 3.
2. Não vivenciam situações em que pratiquem a fala, leitura ou escrita da língua inglesa.
3. Possuem dificuldades com a língua falada.
4. Possuem dificuldades com a leitura.
5. Possuem dificuldades com a escrita.
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A maior parte do conhecimento do mundo contemporâneo está registrado em língua inglesa. Com o
advento dos computadores e da internet, o inglês passou a ser empregado como uma língua franca, ou
seja, um recurso à disposição de todos os seres humanos ao redor do mundo. Portanto, dominar de
modo proficiente essa língua significa ampliar horizontes culturais e profissionais, sendo, por exemplo, um
diferencial para a conquista de bolsa de estudos em cursos no exterior, ou programas de intercâmbio
oferecidos por algumas instituições de ensino estrangeiras.
O inglês não só encurta as distâncias entre países e pessoas, como também amplia as oportunidades de
construção de uma carreira profissional no exterior.É a chave para que as portas do mercado de trabalho
se abram, além de contribuir na ampliação de seu networking e egresso em empresas multinacionais.
Não restam dúvidas que em um mundo de economia e práticas sociais globalizadas, é essencial que se
domine uma língua estrangeira de presença global e, nesse caso, essa língua é o inglês. Independente
da motivação para se aprender inglês, deve-se ter em mente que essa escolha permite um melhor
desempenho profissional e uma melhor relação com as pessoas de diferentes partes do mundo.
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Segundo Duboc (2019), os estudos sobre ELF – English as a Lingua Franca (ILF – inglês como língua
franca) se iniciaram, na década de 1980, a partir de trabalhos que questionaram a real utilidade do
modelo do falante nativo em face à ruptura com a norma nos usos do inglês em contextos multilíngues.
Surgiu, assim, a preocupação entre a língua de contato e de escolha entre falantes de diferentes
bagagens linguístico-culturais, visando documentar os usos internacionais do inglês por meio da
identificação de características essenciais do inglês tipicamente usado em seu status de língua franca.
Nesse sentido, esse inglês, denominado como língua franca (ELF), passou a ser concebido como um
sistema adquirido adicionalmente com vistas à comunicação entre falantes de primeiras línguas distintas.
Como citado por Duboc (2019), Seidlhofer (2001) e seu grupo de pesquisas investiram na constituição de
um corpus , denominado Vienna-Oxford International Corpus of English (VOICE) , para promover uma
descrição empírica dos usos do inglês em contextos de comunicação internacional, inicialmente,
atendendo à necessidade de uma reflexão e tomada de consciência a fim de melhorar a negociação
mútua decorrente dessas situações comunicativas.
Nos anos 2000, os estudos sobre ELF se afastaram das pesquisas sobre World Englishes, dando maior
ênfase à fluidez e variabilidade do inglês empregado entre as diferentes comunidades linguísticas, a fim
de desvincular o ILF de uma concepção reducionista que o atribui um status de mera variação.
O termo World Englishes se refere às diferenças no idioma inglês decorrentes do seu usado em
diferentes contextos ao redor do mundo. Os estudiosos desse fenômeno linguístico vêm identificando
variedades de inglês em uso em diferentes contextos sociolinguísticos, com foco na historicidade, nas
experiências, função e influência desses usos. Segundo a Purdue University (2020), “o termo World
Englishes tem sua base teórica no trabalho do linguista Braj Kachru (1932-2016), após a publicação de
seu primeiro artigo intitulado The Indianness in Indian English."
Em 1984, Kachru apresentou o termo World Englishes em uma conferência de professores de inglês para
falantes de outras línguas. Somado ao perfil global da língua inglesa, propõe o modelo dos três círculos
concêntricos, como apresentados no Diagrama 1.
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Portanto, é importante considerar cada variedade de inglês em seus próprios contextos históricos,
políticos e sociolinguísticos, pois esse modelo de círculo concêntrico não apenas mostra a ampla difusão
do inglês pelo mundo, como também enfatiza o conceito de pluralismo, heterogeneidade linguística,
diversidade cultural e diversos arcabouços teóricos e metodológicos para o ensino de inglês.
Muitos estudos nesse campo são dignos de atenção especial, por oferecerem um olhar crítico e
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transdisciplinar para o ELF. À guisa de exemplo, a proposta de Mignolo (2017) fundamentada na tríade
colonialismo, imperialismo e capitalismo, propõe uma discussão acerca de cosmopolitismo subalterno e
letramentos transnacionais. Destacam-se, também, as pesquisas Jordão e Marques (2018) sobre
letramento crítico, pós-estruturalismo e pós-humanismo, que discutem ELF a partir da valorização do
contexto, da contingência e dos usos locais da linguagem, defendendo um exercício de descolonização
no ensino de inglês e na formação docente.
A questão não se encerra em si. No Brasil, ainda é preciso muito debate sobre o aspecto de neutralidade
com que se trata o conceito de ELF no ensino de inglês, onde sempre imperou o conceito de inglês como
língua estrangeira (LE). Não se pode negligenciar o caráter político-ideológico de uma língua, quando
essa ocupa o espaço de outra sobre o pretexto de nativização globalizada em nome de processos mais
comunicacionais, mais fluidos e integrados.
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A habilidade para comunicação oral não era um dos objetivos desse método, pois seu foco estava no
desenvolvimento das habilidades de leitura e produção textual. O professor desenvolvia um papel de
mero transmissor, pois ele é quem detinha o conhecimento, ao passo que o aluno assumia uma postura
passiva de receptor.
O método direto ( Direct Method ), ao contrário do método da gramática, reduziu o valor do uso da língua
materna em detrimento do uso da língua-alvo durante a aula. A regra é “pensar em língua estrangeira”
para que a comunicação siga o mesmo preceito. Apesar da leitura ainda ser mais privilegiada, a fala e
aquisição de vocabulário por meio de textos e situações propostas passa a ter igual relevância à
aprendizagem.
Quanto às estruturas gramaticais, passam a ser trabalhadas de modo indutivo. O professor deve envolver
o aluno em um processo de indução para a descoberta das regras gramaticais, a partir de generalizações
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feitas pelo aprendiz durante e após a prática. Assim, ao professor, caberia optar por uma aprendizagem
prévia das regras, ou então, engajar os alunos em alguma atividade para a conscientização indireta sobre
o sistema. Nesse método, embora o professor direcione as atividades, o aluno passa a ter um papel ativo
sobre a própria aprendizagem, se comparado ao método tradicional. Isso significa que professores e
alunos são parceiros na interação, sendo que os professores devem auxiliar os aprendizes a se
autocorrigir. Via de regra, repetindo a opção errada do aluno e a apresentando a correta na forma de
pergunta (JALIL; PROCAILO, 2009).
Por isso o audiolingual priorizava o desenvolvimento das habilidades orais, com base na “ordem natural”
de aquisição da língua materna, ou seja, compreensão auditiva, produção oral, compreensão textual e,
por fim, a produção textual. Assim, as estruturas e os novos vocábulos são incorporados por meio de
diálogos artificiais, desenvolvidos com o propósito de oferecer ao aluno a experiência de uso das
estruturas aprendidas dentro de um contexto determinado, em que os diálogos são empregados em
atividades de imitação e repetição e os drills (exercícios de completar lacunas) ocupam o papel de
atividade central na prática de uso da língua (LARSEN-FREEMAN, 2000).
A abordagem comunicativa ( Communicative Approach ) surgiu por volta dos anos 1970 e 1980, a partir
da observação de professores e linguistas sobre a performance comunicativa dos alunos. Eles
constataram que, apesar dos aprendizes serem capazes de produzir sentenças gramaticalmente corretas,
pouco as empregavam em situações comunicativas reais para além da sala de aula. Esses fenômenos
evidenciaram, portanto, que a comunicação, enquanto habilidade plena, implicava mais que o simples
domínio das regras da língua, mas o desenvolvimento de competência comunicativa, que vai além do
conhecimento linguístico, incluindo, também, outras competências, como cultural, sociolinguística,
discursiva e estratégica.
O professor deixa de ser o transmissor e centralizador do conhecimento para dar lugar a um novo papel,
o de mediador do processo, ou seja, torna-se aquele que promove situações efetivas de uso da língua e
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atua como um mentor dos aprendizes, encorajando a cooperação e a comunicação entre os alunos por
meio de atividades, jogos e dramatizações, entre outros recursos e estratégia didáticas.
A fim de que os contextos social e cultural sejam privilegiados nos processos interativos entre aluno-
aluno, onde o erro, geralmente corrigido pelo professor imediatamente, passa a ser tratado de modo
construtivo, sendo retomado em um segundo momento de produção ou uso da língua.
Vale ainda considerar, a título de conhecimento, outras abordagem como: Silent Way, Nature Way,
Suggestopedia Method , entre outras propostas decorrentes da era pós-método.
A aquisição da linguagem se constitui como uma das questões fundamentais dentro dos estudos
linguísticos, sendo que sua relevância e complexidade se dão em razão do seu objetivo: explicar como o
indivíduo parte de um estado neutro quanto à sua capacidade de expressão verbal, e incorpora a língua
de sua comunidade, adquirindo um modo de expressão e de interação social dela dependente, sem
qualquer aprendizagem formal.
Preliminarmente, aceita-se a tese de que toda criança é capaz de adquirir a língua materna de sua
comunidade para si e, simultaneamente, mais de uma língua. O processo de aquisição de uma língua
requerer a identificação de seu sistema fonológico, sua morfologia, seu léxico, as particularidades de sua
sintaxe e o modo como as relações semânticas são estabelecidas (CORREA, 1999).
Ao longo de seu processo de amadurecimento, a criança passa a lidar com uma série de variáveis que
testaram sua capacidade de identificação da variabilidade das línguas. Por isso, o processo de aquisição
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da linguagem incorre entre um determinado padrão de desenvolvimento que, em tese, é comum aos
diferentes indivíduos nas diferentes línguas e que remete à linguagem, a espontaneidade.
Nesse sentido, uma teoria da aquisição da linguagem deve ser concebida com o objetivo de delinear um
modelo que descreva a dinâmica desse processo (CORREA, 1999).
A noção de gramática universal (GU) formulada na teoria linguística racionalista parte do pressuposto de
um estado inicial, amparado por um correlato linguístico inscrito na programação biológica, dado como
necessário para que as propriedades das línguas apresentem o que as definem, permitindo que sejam
adquiridas em um período relativamente curto. Considerando o contexto da criança em processo de
aquisição da linguagem, em uma concepção empírica sobre a aquisição do conhecimento, leva a supor a
existência de menos material linguístico e maior indeterminação no que se refere à forma das línguas,
quando em seu estado inicial.
A maior parte dos estudos sobre o processo de aquisição da linguagem são desenvolvidas de modo
independente à teoria linguística, mesmo que, posteriormente, a incorporação de uma teoria de língua em
uma teoria da aquisição da linguagem se mostre necessária. Enquanto isso, diante da ausência de
consenso sobre o modo como a língua é concebida na aquisição, e o ponto de partida desse processo,
segue-se a busca por um corpo teórico coerente, que permite convergências que corroboram com o
entendimento dessa questão.
Ao longo de décadas, pesquisadores têm tentado construir teorias que possam descrever o processo de
aquisição de língua materna (L1). É incontestável a importância dessas tentativas de teorização, uma vez
que a linguagem é ferramenta simbólica comum a todos os seres humanos nas diversas sociedades. Por
outro lado, tais modelos teóricos também têm sido tomados como ponto de partida para muitas pesquisas
na área de aquisição de segunda língua (L2), conforme destacamos a seguir.
» Psicolinguística vygotskyana
Enquanto sujeitos, todos estamos suscetíveis às intercorrências históricas e culturais, por isso, o
processo de aquisição da linguagem e seu uso autônomo, bem como a de uma língua estrangeira, são
resultado das experiências decorrente das práticas sociais e da aprendizagem. A relação entre o
interesse e a motivação está imbricada à produção de pensamento, que, por sua vez, organiza a
linguagem como modo de exteriorização das ideias, valores e comportamentos.
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É necessária uma motivação intrínseca para que os sujeitos despertem interesse e manifestem afinidade,
sentimento e afeto na aquisição de uma língua estrangeira. Esses aspectos emocionais podem ser
capturados e fomentados em contato com a realidade sócio-histórica na qual se está inserido, seja
naturalmente, no caso da língua materna, ou indutivamente, quando por imersão em situações simuladas
do uso da língua-alvo.
» Modelo do monitor
Conforme já citada na perspectiva vygotskyana, os sentimentos podem influenciar de modo direto no mau
ou bom desempenho dos alunos em determinadas atividades. O modelo do monitor é baseado nos
fatores emocionais como premissa ao bom desempenho no processo de aprendizagem de uma segunda
língua.
Proposto por Krashen (1987), no campo da aquisição de uma segunda língua e língua estrangeira, o
modelo considera o aluno, as suas respectivas individualidades e o papel de destaque e importância do
controle afetivo.
A relação entre aquisição e aprendizagem é definida pela teoria do mentor. A partir de esforços mentais
espontâneos, nossa capacidade de assimilar línguas é ativada e, somado à disciplina das regras
gramáticas e seus usos que nos servem como monitores, é possível alcançar diferentes características e
estados de personalidades, uns mais favoráveis à aprendizagem, outros menos.
Segundo seu proponente, Noam Chomsky, todos nós possuímos de modo inato traços comuns referentes
a todas as línguas, denominada como características universais da fala, uma espécie de gramática
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universal (GU). Baseado nesses pressupostos, os estudos sobre o processo de aquisição da linguagem
vinculados à teoria linguística, se desenvolveram a partir dos estudos sobre as hipóteses do modelo de
GU e na fixação e produção de parâmetros de desempenho linguístico espontâneo em crianças. Sendo
que, além da capacidade inata, é preciso que o sujeito esteja em contato com um determinado meio
sociocultural, para que o processo de aquisição seja desencadeado.
Dentro do espectro do ensino de língua estrangeira, a teoria dos universos linguísticos destaca como
fundamentais dois pontos: o primeiro diz respeito à importância da aprendizagem do conteúdo gramatical
de determinada língua e o segundo evidencia reconhecimento das estruturas presentes em todas as
línguas, denominadas como estruturas universais da língua.
Portanto, é importante que o estudo gramatical seja abordado de modo contundente, aumentando a
frequência de exposição do aprendiz à língua-alvo, a fim de que se possa estabelecer comparações e
conexões com a língua à luz da GU na busca de similitudes que permitam a internalização.
» Teoria do discurso
Fundamentada na teoria da enunciação (uso da língua por meio de interações sociais), de Benveniste
(2005), a teoria do discurso concebe o processo de aquisição da língua e baseia-se na concepção de que
a linguagem é a possibilidade da subjetividade, na qual o locutor é um sujeito de seu próprio discurso.
A categoria de pessoa é criada pela subjetividade na linguagem. Essa, por sua vez, é organizada para
que cada locutor se aproprie da língua, designando-se como expressão de seu eu, que se apropria do
aparelho formal da língua e expõe-se por meio de índices específicos e de procedimentos acessórios
dessa língua.
Nesse sentido, enquanto realização individual, a enunciação em relação à língua pode ser definida como
um processo de apropriação. Segundo Benveniste (2005), a língua se constitui como tal em razão de dois
aspectos: o sentido e a forma, sendo a primeira, sua face semiótica, e a segunda, sua natureza
semântica. O signo é uma unidade semiótica dotada de significação dentro de uma determinada
comunidade que faz uso de uma língua específica. O conjunto de signos compõe o inventário linguísticos
de uma língua. Por sua natureza, os signos estabelecem entre si inúmeras relações de oposição com
outros, definindo, assim, suas delimitações na estrutura da língua.
O semiótico é intralinguístico e está associado à língua como recurso à ação. Portanto tudo o que é do
domínio do semiótico está identificado no interior e no uso da língua, entre significação e sentido. Desse
modo, a estrutura enunciativa permite observar:
O próprio ato;
Os instrumentos de realização.
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O ato constitui a figura do locutor como elemento necessário da enunciação. A situação estabelece a
relação entre a enunciação e o mundo que existe para o locutor. Os instrumentos da realização são
constituídos pelos elementos da enunciação, os índices de ostentação e as formas temporais que
determinam a relação com o centro da enunciação.
A partir dessa estrutura, a aquisição da linguagem se dá no presente formal inerente à enunciação, que
se renova a cada discurso produzido, delimitando por referência interna o que deve se tornar presente e o
que deve ser descartado e colocado fora de uso dentro do processo enunciativo.
» Teoria cognitiva
Desde a década de 1990, pesquisas e teorias da psicologia cognitiva têm se tornado uma opção cada vez
mais importantes para nossa compreensão do desenvolvimento de um segundo idioma. Algumas dessas
teorias usam o computador como uma metáfora para a mente, comparando a aquisição da linguagem
com as capacidades de armazenamento de computadores, integração e recuperação de informações.
De acordo com Lightbown e Spada (1993), na aquisição da primeira linguagem, psicólogos cognitivos e
de desenvolvimento argumentam que não há necessidade de levantar a hipótese de que os humanos têm
uma linguagem especial, módulo específico no cérebro ou que a aquisição e aprendizagem são diferentes
processos mentais. Por outro lado, as teorias gerais de aprendizagem podem explicar o desenvolvimento
gradual de uma sintaxe complexa e a incapacidade dos alunos para a produção espontaneamente em um
determinado momento, com tudo que sabem sobre o idioma.
Sobre isso, Lightbown e Spada (1993), assim como outros linguistas, concluíram que, embora a
perspectiva inatista forneça uma explicação plausível para a aquisição da primeira língua, algo mais é
necessário para a aquisição de um segundo idioma, uma vez esse processo muitas vezes fica aquém das
expectativas.
1.4. Aquisição de L2
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Pela própria definição do termo, todos alunos de uma segunda língua, independente da idade, já
dominam um primeiro idioma. Para Lightbown e Spada (1993), esse conhecimento prévio pode ser uma
vantagem, pois fornece uma ideia de como as línguas funcionam em relação aos seus aspectos
estruturantes e semânticos. Por outro lado, o conhecimento de outras línguas também pode prestar um
desserviço, levando os alunos a fazerem suposições incorretas sobre o funcionamento do segundo
idioma e, consequentemente, resultando em erros.
Nesse sentido, Lightbown e Spada (1993) afirmam que a interação conversacional é uma condição
essencial, senão suficiente, para a aquisição de uma segunda língua, visto que os falantes modificam
seus discurso e seus padrões de interação, a fim de ajudar os alunos a participarem em uma conversa ou
entender o significado em um novo idioma quando expostos a ele. Portanto a interação modificada é
necessária como mecanismo para tornar a linguagem compreensível. Ademais, os alunos precisam de
oportunidades para interagir com outros falantes, trabalhando juntos para alcançar compreensão mútua
por meio da negociação de significado. Por meio dessas interações, os interlocutores descobrem o que
precisam fazer para manter o conversa acontecendo e tornar compreensível e eficiente o processo
comunicativo.
Crianças que aprendem mais de uma língua desde a primeira infância são referidos como “bilíngues
simultâneos”, enquanto aqueles que aprendem outro idioma mais tarde são chamados de “bilíngues
sequenciais”.
Outros efeitos positivos do desenvolvimento bilíngue ou multilíngue vão além daqueles que são
perceptíveis às crianças e suas famílias. Conhecimento de mais de um idioma também pode aumentar as
oportunidades de comunicação intercultural e cooperação econômica entre as pessoas. O
desenvolvimento de uma segunda língua, ou mesmo de uma L3 ou L4, pode levar anos, contudo, os
muitos benefícios do bilinguismo/multilinguismo são recompensadores do ponto de vista cognitivo,
intelectual, sociocultural e profissional.
Síntese
Ao longo desta unidade, aprendemos sobre o ensino da língua inglesa como L2 na contemporaneidade, a
partir da proposta para o ensino de línguas estrangeiras contida na nova BNCC. Conhecemos o perfil dos
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