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EXPLORANDO AS COMPLEXIDADES DO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA

EM ESCOLAS PÚBLICAS
ROCHA, Renata de Souza Oliveira da1
KOEHLER, Jaqueline 2

Resumo
Este artigo aborda os desafios enfrentados no ensino de inglês nas escolas públicas
do ensino fundamental e médio no Brasil. Os principais obstáculos incluem a falta de
formação adequada para professores, recursos limitados, barreiras socioeconômicas,
desvalorização da língua inglesa dentro do contexto brasileiro e a falta de
padronização no currículo que leva a dificuldades na execução dos planejamentos.
Para superar esses desafios, é necessário um esforço conjunto de educadores,
instituições de ensino e políticas públicas. O objetivo é garantir que os alunos
adquiram as habilidades necessárias para competir em um mundo globalizado.
Palavras-chave: Ensino de Inglês. Escolas Públicas Brasileiras. Formação de
Professores. Recursos Educacionais.

1.INTRODUÇÃO

O interesse pelo tema que nos propomos a explorar nesta pesquisa


surge da constatação de que o ensino de língua inglesa em escolas públicas
do Brasil enfrenta desafios significativos que merecem uma análise
aprofundada. O domínio do inglês tornou-se essencial em um mundo
globalizado, e a qualidade do ensino dessa língua desempenha um papel
crucial na preparação dos estudantes para o cenário internacional.
A importância de discutir essa temática na atualidade não pode ser
subestimada. No contexto brasileiro, as complexidades do ensino de língua
inglesa nas escolas públicas do ensino fundamental e médio são amplas e
variadas. As dificuldades encontradas por professores e alunos ao longo dos

1
Aluna de Licenciatura em Letras Português/Inglês no Centro Universitário Educacional da
Lapa - UNIFAEL. E-mail: renataoliveirabio@gmail.com
2
Prof.(a). Dr(a). Jaqueline Koehler é docente no Centro Universitário Educacional da Lapa -
UNIFAEL. Possui ampla experiência acadêmica em cursos de graduação e pós-graduação,
atuou como coordenadora de cursos de graduação e é autora de materiais didáticos.
anos merecem uma análise atualizada para orientar práticas pedagógicas mais
eficazes e inclusivas.
Para investigar essa questão, recorremos a uma metodologia de
pesquisa bibliográfica que se concentra em autores nacionais e estrangeiros
com foco nas publicações dos últimos 10 anos. Nossa escolha por fontes
atualizadas é motivada pela necessidade de compreender as mudanças e
avanços recentes nas abordagens de ensino e nas soluções propostas para o
ensino de língua inglesa nas escolas públicas brasileiras, porém não
desconsideramos autores clássicos.
O objetivo geral deste projeto é analisar as principais dificuldades
enfrentadas por professores e alunos no ensino de língua inglesa em escolas
públicas do ensino fundamental e médio no Brasil. Os objetivos específicos
visam contribuir para a reflexão sobre práticas pedagógicas mais eficazes,
adaptadas à realidade específica do sistema de ensino público brasileiro e
apresentar dados relevantes por meio de gráficos que comprovem os dados
levantados.
Este artigo está organizado da seguinte maneira, na primeira seção,
discutiremos os desafios no ensino de língua inglesa: 1) recursos didáticos e
infraestrutura; 2) barreiras socioeconômicas e desvalorização da língua; 3)
dificuldades no planejamento e na formação docente. Na segunda seção,
exploraremos as dificuldades que afetam os alunos, onde analisaremos as
dificuldades exclusivas enfrentadas pelos estudantes do ensino fundamental e
médio das escolas públicas do Brasil, em relação à apreensão da língua
inglesa. Por fim, na última seção, apresentaremos nossas conclusões com
base nas descobertas da pesquisa.
Por meio dessa estrutura, almejamos proporcionar uma visão
abrangente das complexidades envolvidas no ensino de língua inglesa nas
escolas públicas do ensino fundamental e médio no Brasil. Para tal,
conduzimos uma revisão bibliográfica concisa, focalizando em referências tanto
tradicionais quanto contemporâneas. Essas referências não apenas
fundamentaram nosso entendimento das teorias educacionais, mas também
delinearam as nuances e desafios específicos que permeiam o contexto
educacional brasileiro no que diz respeito ao ensino da língua inglesa.
2.DESAFIOS NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA

A língua inglesa é uma disciplina essencial no currículo educacional


atual. No entanto, o ensino e a aprendizagem do inglês nas instituições de
ensino público de nível fundamental e médio frequentemente enfrentam
desafios significativos. Este artigo tem como objetivo realizar uma revisão
bibliográfica das maiores dificuldades enfrentadas por professores e alunos
nesse contexto, com um enfoque nas instituições de ensino público brasileiras.
O termo "língua estrangeira" é comumente empregado no âmbito
educacional para se referir ao ensino de idiomas que não são nativos ou
predominantes em uma região ou país específico. A utilização intercambiável
de "inglês" e "língua estrangeira" no texto reflete a amplitude do inglês como
uma língua internacional.
Leffa (2011) identifica diversos fatores que prejudicam o ensino de
língua estrangeira nas escolas públicas. Ele destaca o governo, em suas
instâncias municipal, estadual e federal, como o principal responsável pelo
fracasso do ensino nessa área linguística. O paradoxo na educação pública
brasileira, segundo Leffa, reside no fato de que os professores ensinam algo
que muitas vezes não dominam, resultando em alunos desinteressados e
incapazes de encontrar prazer no aprendizado. Outro autor também endossa
essa perspectiva:

Mas muitas dessas questões estão fora de nossa competência estrita


enquanto professores em sala de aula. Muitas delas têm a ver com
anos a fio de descaso com a educação. As autoridades que fingem
que investem nos lugares certos, os professores fingem que estão
ensinando, os alunos fingem que estão aprendendo. Parece que, no
lugar de ensino, o que temos é encenação. Uma espécie de faz de
conta, elaborada e praticada em escala gigantesca. (RAJAGOPALAN,
2011, p. 58).

A presente conjuntura destaca a imperatividade de investimentos


direcionados à melhoria das condições de ensino, visando estabelecer um
ambiente propício ao desenvolvimento das habilidades linguísticas dos alunos.
À medida que direcionamos para os subcapítulos subsequentes,
embarcaremos em uma exploração aprofundada das barreiras que impactam o
ensino de língua estrangeira no Brasil, buscando desvelar as nuances desse
desafio educacional.
2.1 RECURSOS DIDÁTICOS E INFRAESTRUTURA

O ensino de língua inglesa em escolas públicas brasileiras enfrenta uma


série de adversidades, abrangendo desde questões estruturais até desafios
mais amplos relacionados à formação de professores e à falta de políticas
abrangentes, que serão discutidas pontualmente mais à frente.
A análise aprofundada desses obstáculos é essencial para compreender
seu impacto direto no processo de aprendizagem da língua inglesa nas
instituições educacionais do país. As condições precárias das instalações
físicas desafiam a qualidade da experiência educacional, enquanto a escassez
de tecnologia educacional, conforme destacado por Moran (2007), representa
um obstáculo significativo. O acesso limitado a recursos digitais e plataformas
interativas compromete as oportunidades de melhoria da prática de ensino e do
envolvimento dos alunos.
As escolas públicas brasileiras enfrentam uma série de desafios no que
diz respeito ao ensino de inglês, como apontam os Princípios Curriculares
Nacionais (PCN):
(...) o fato de que as condições na sala de aula da maioria das
escolas brasileiras (carga horária reduzida, classes superlotadas,
pouco domínio das habilidades orais por parte da maioria dos
professores, material didático reduzido ao giz e livro didático etc.)
podem inviabilizar o ensino das quatro habilidades comunicativas.
(PCN, 1998, p. 21).

A pesquisa intitulada “O Ensino de Inglês na Educação Pública


Brasileira”, elaborado em parceria pelo Plano CDE 3 para o British Council4, teve
como objetivo entender as principais características do ensino da língua inglesa
na Educação Básica da rede pública brasileira. A pesquisa procurou
compreender o contexto do ensino de inglês no Brasil, abordando desde
políticas públicas até as práticas cotidianas, coletando informações dos
diversos atores envolvidos.
Segundo o Gráfico 1, os principais desafios enfrentados pelos
professores de inglês na Educação Pública Brasileira são: recursos didáticos
inadequados e falta de acesso a capacitações. Muitos professores acabam

3
O "Instituto de Pesquisas Plano CDE" é uma organização que realizou a pesquisa para o guia
sobre o Ensino de Inglês na Educação Pública Brasileira.
4
O "British Council" é uma organização internacional britânica que atua na área de educação e
relações culturais. Foi a organização responsável pela elaboração do guia sobre o Ensino de
Inglês na Educação Pública Brasileira.
investindo recursos próprios para a aquisição de materiais didáticos, como
jogos, atividades, cartolinas, papéis, fotocópias, entre outros. A falta de
materiais didáticos na rede pública também leva muitos professores a levarem
seus próprios computadores para a sala de aula.

Gráfico 1 - Principais Dificuldades Vivenciadas

Fonte: Pesquisa “O Ensino de Inglês na Educação Pública Brasileira” British Council/Plano


CDE. Base: 1269 (ponderada)

Os educadores frequentemente destacam a escassez de recursos


valorizados, como materiais tecnológicos e complementares, incluindo
aparelhos de som, projetores, dicionários, jogos e livros paradidáticos. Os
professores também enfrentam problemas frequentes, como defeitos e falhas,
que prejudicam o andamento das aulas. Por exemplo, em uma escola
pesquisada, 18 computadores e 1 projetor aguardavam reparo. Essas
dificuldades na disponibilidade e manutenção de recursos têm um impacto
significativo no ensino de língua inglesa, conforme ressaltado pelo Instituto de
Pesquisas Plano CDE e pelo British Council (2015).
Outro desafio apontado pela pesquisa da British Council/Plano CDE
(2015) diz respeito à inadequação dos materiais disponíveis. Segundo 42% dos
professores entrevistados, os conteúdos presentes nos livros didáticos estão
em um nível mais avançado em relação ao conhecimento dos alunos no
idioma, tornando-os inutilizáveis como base para o ensino. Consequentemente,
há uma crescente demanda por materiais complementares e recursos
tecnológicos que possam envolver os alunos nas aulas. Os educadores
reconhecem a importância da tecnologia como uma ferramenta essencial no
processo pedagógico, uma vez que recursos tecnológicos e interativos
desempenham um papel fundamental em manter o interesse e a motivação dos
alunos. No entanto, uma grande parcela dos professores enfrenta desafios
relacionados ao acesso a esses recursos.
Esses desafios não são isolados, mas sim representativos de questões
mais amplas enfrentadas nas escolas brasileiras. A carência de materiais
didáticos apropriados se reflete na falta de recursos educacionais que
permitiriam aos professores enriquecerem suas aulas e aos alunos aprimorar
suas habilidades na língua inglesa. Isso, por sua vez, prejudica a qualidade do
processo de ensino e aprendizagem.
A infraestrutura inadequada nas escolas públicas, caracterizada por
salas de aula superlotadas e instalações precárias, dificulta a criação de um
ambiente propício para o ensino eficaz de inglês.
As turmas numerosas dificultam a atenção individualizada aos alunos,
prejudicando o processo de aprendizado. Autoridades educacionais,
pesquisadores e professores reconhecem a importância de turmas menores
para promover uma educação mais eficaz. Hattie (2023), um respeitado
pesquisador em educação, destaca a relação entre o tamanho da turma e o
sucesso do aluno. Em seu trabalho analisou centenas de estudos e concluiu
que turmas menores estão associadas a melhores resultados educacionais.
Em relação ao ensino de línguas, especificamente o ensino de inglês, turmas
superlotadas podem representar desafios adicionais. O apoio de políticas
educacionais que promovam turmas menores é fundamental.
O Instituto de Pesquisas Plano CDE British Council, 2015 também
menciona que os desafios para o ensino do inglês são muitos e têm diversas
origens, sejam institucionais, formativas, ligadas à infraestrutura das escolas ou
mesmo à vulnerabilidade social das famílias atendidas pelo sistema público.
2.2 BARREIRAS SOCIOECONÔMICAS E DESVALORIZAÇÃO DA LÍNGUA

As barreiras socioeconômicas e a desvalorização da língua inglesa no


contexto do ensino de línguas estrangeiras, considerando a perspectiva
expressa por Celani (2005, p. 14): "A aprendizagem de língua estrangeira é um
direito humano a ser assegurado a todos; o ensino-aprendizagem de língua
estrangeira faz parte da educação; é, portanto, função da escola." Esta citação
ressalta a importância do acesso universal à aprendizagem de línguas
estrangeiras como um direito fundamental, integrado ao âmbito educacional e,
por conseguinte, como uma responsabilidade primordial da instituição escolar.
Ao explorar as barreiras socioeconômicas e os desafios relacionados à
desvalorização do ensino da língua inglesa, busca-se compreender como
esses aspectos impactam o efetivo cumprimento desse direito e a eficácia do
ensino de línguas estrangeiras.
No contexto do ensino de língua inglesa nas escolas públicas brasileiras,
as barreiras socioeconômicas representam um desafio significativo. Alunos
matriculados nessas escolas frequentemente vêm de ambientes
desfavorecidos, caracterizados por condições econômicas precárias e limitado
acesso a recursos educacionais. Essas barreiras socioeconômicas podem
afetar a motivação dos alunos e dos professores, bem como suas
oportunidades de prática e aprendizado da língua inglesa.
A motivação dos alunos é essencial na aprendizagem de línguas, mas
aqueles que enfrentam dificuldades socioeconômicas podem ter desafios
adicionais. O baixo reconhecimento profissional e a remuneração insatisfatória
são as principais fontes de insatisfação para os educadores da rede pública,
tornando o ensino de inglês uma tarefa desafiadora em vez de uma experiência
gratificante. Dörnyei (2005) destaca a importância da motivação intrínseca, que
surge do interesse pessoal e satisfação no processo ensino-aprendizagem,
para o sucesso acadêmico. No entanto, a falta de acesso a recursos e
oportunidades podem minar a motivação de ambas as partes.
Em regiões urbanas mais desenvolvidas, a disponibilidade de recursos,
como acesso à tecnologia e materiais didáticos, tende a ser mais favorável,
enquanto áreas rurais ou economicamente desfavorecidas frequentemente
enfrentam escassez de recursos e têm acesso limitado ao treinamento de
professores. Esse cenário geográfico diversificado demanda abordagens
adaptadas às necessidades locais, em regiões socioeconomicamente
desfavorecidas, oferecer recursos adequados e proporcionar um ensino de
inglês de qualidade pode ser mais desafiador. (PINTO, AMARAL E CASTRO,
2011).
A desvalorização da língua inglesa muitas vezes está relacionada a
percepções negativas sobre sua utilidade prática no cotidiano. Alguns alunos
podem questionar a relevância do inglês, especialmente quando não
visualizam oportunidades imediatas de aplicação. Essa desvalorização pode
ser influenciada pela falta de exposição a ambientes nos quais o inglês é
essencial, criando desafios adicionais para os educadores ao tentar inspirar o
interesse e a valorização pelos estudos de língua inglesa.
Importa ressaltar que as dificuldades no ensino de língua inglesa nas
escolas públicas brasileiras não são uniformes, variando significativamente de
acordo com fatores como localização geográfica, contexto da escola e perfil
dos alunos.

2.3 DIFICULDADES NO PLANEJAMENTO E NA FORMAÇÃO DOCENTE

A análise da estrutura institucional revela que a obrigatoriedade do


ensino de inglês nas escolas públicas brasileiras é inexistente, uma vez que
cada Estado, município ou comunidade escolar decide quais idiomas serão
ensinados e cria seu próprio currículo. O ensino de língua inglesa não é
obrigatório em todas as séries do ensino fundamental no Brasil, de acordo com
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96. A
LDB estabelece que o ensino de língua estrangeira é obrigatório no ensino
médio, mas não especifica qual língua estrangeira deve ser ensinada, deixando
essa escolha a critério das escolas.
Apesar dos desafios enfrentados, muitas escolas incluem o ensino de
língua inglesa em séries iniciais para atender à crescente demanda e à
relevância global do idioma. Contudo, a ausência de uma base comum para o
ensino de inglês contribui para a variação na abordagem pedagógica. Destaca-
se que, segundo o Instituto de Pesquisas Plano CDE e o British Council (2015),
os professores de inglês desfrutam de autonomia na definição dos conteúdos e
na execução dos planejamentos das aulas, o que ressalta a importância da
formação docente específica nesse contexto. Essa autonomia, muitas vezes
não supervisionada, pode resultar em práticas pedagógicas não convencionais
e deficiências no ensino.
A falta de formação adequada dos professores emerge como uma das
principais barreiras para o ensino eficaz de língua inglesa nas escolas públicas
brasileiras. Educadores frequentemente ingressam no sistema educacional
com conhecimento limitado do idioma e, em muitos casos, com pouca ou
nenhuma experiência pedagógica específica para esse fim. A deficiência na
preparação impacta negativamente o processo de aprendizagem dos alunos,
gerando dificuldades significativas (IMBERNÓN, 2017).
Conforme evidenciado pelos dados do Censo Escolar 2013, uma parcela
significativa desses profissionais não possui formação de nível superior
relacionada à língua inglesa. Além disso, a pesquisa revelou que não há
requisitos de proficiência linguística para os professores. Segundo o Gráfico 5,
apenas 33% deles possuem certificados de proficiência no idioma. A falta de
demanda por tais certificações é frequentemente justificada pela inexistência
de obrigações nesse sentido.

Gráfico 5 - Certificação de Proficiência.

Fonte: Pesquisa “O Ensino de Inglês na Educação Pública Brasileira” British Council/Plano


CDE. Base: 1269 (ponderada).
A falta de oportunidades para prática e exposição reais à língua inglesa
desempenham um papel importante quando elencamos as dificuldades do
aprendizado da língua inglesa:
As línguas estrangeiras são estudadas no ensino fundamental e
médio (na maioria das vezes, é o inglês que é ensinado), com o foco
na gramática e, infelizmente, muitos professores não são fluentes na
língua-alvo. Além disso, no que diz respeito ao inglês, por exemplo,
não há oportunidade para os aprendizes praticarem a língua, exceto
quando frequentam cursos particulares, privilégio que não é estendido
a todos. (NICOLAIDES, 2005, p.159).

Cummins (2000) enfatiza a importância da interação social e da prática


real de línguas na aquisição e no desenvolvimento linguístico. Ele destaca
como a prática da língua em contextos autênticos, fora da sala de aula,
desempenha um papel vital no aprimoramento das habilidades linguísticas dos
alunos, oportunidade esta que poucos alunos da rede pública de ensino médio
e fundamental desfrutam devido a seus contextos sociais.
É imperativo proporcionar às camadas sociais menos privilegiadas as
condições essenciais para o acesso ao mercado de trabalho e à educação
superior, e isso só será efetivamente alcançado por meio do cumprimento
adequado do papel da escola pública. Os professores, por sua vez, têm a
responsabilidade crucial de dedicar atenção especial à sua formação, fluência
no idioma e conhecimentos didáticos.
Portanto, a formação docente adequada torna-se essencial para superar
os desafios mencionados. Conforme Imbernón (2009) destaca, o professor
deve desempenhar um papel proativo no planejamento e reestruturação de
estratégias e programas educacionais. A formação adequada dos professores
é crucial para prepará-los para enfrentar os desafios da vida cotidiana e auxiliar
os alunos a prosperarem em diversos aspectos de suas vidas. Sem uma
formação adequada, os docentes podem se ver limitados em sua capacidade
de atingir os objetivos desejados na formação dos estudantes. Portanto,
investir na qualificação e no desenvolvimento profissional dos professores de
língua inglesa no ensino fundamental e médio desempenha um papel
fundamental na superação das barreiras enfrentadas no processo de ensino e
aprendizagem deste idioma.
Além da formação inicial, a formação contínua é essencial para manter
os professores atualizados em relação às metodologias de ensino, abordagens
pedagógicas e recursos disponíveis. A falta de investimento em programas de
formação contínua agrava as deficiências no ensino de inglês nas escolas
públicas (IMBERNÓN,2009).
Basso (2001) em sua tese explicita claramente a necessidade de mudar
o panorama da formação de professores de língua inglesa. Além disso, ressalta
a importância de uma formação contínua e de programas de aperfeiçoamento
para professores, a fim de acompanhar as mudanças no campo do ensino de
inglês. Nesse contexto, o autor enfatiza a necessidade de reformular os
métodos de ensino e formação de professores de inglês, especialmente nas
escolas públicas, para atender às demandas da sociedade atual e ao crescente
valor do inglês no cenário global.
A importância de abandonar abordagens tradicionais desatualizadas,
substituindo-as por métodos pedagógicos inovadores e recursos educacionais,
incluindo tecnologia:
A competência para usar os equipamentos digitais com desenvoltura
permite ao aprendiz contemporâneo a possibilidade de reinventar seu
quotidiano, bem como estabelece novas formas de ação, que se
revelam em práticas sociais específicas e em modos diferentes de
utilização da linguagem verbal e não-verbal. (XAVIER, 2005, p. 135).

Isso visa promover a comunicação eficaz em inglês e capacitar os


professores a criarem ambientes de aprendizagem dinâmicos e interativos,
alinhados com as necessidades dos alunos e as exigências contemporâneas.
No âmbito da formação de professores de língua inglesa em escolas
públicas brasileiras, a falta de preparo adequado representa uma barreira
significativa para o ensino eficaz dessa língua. A ausência de proficiência em
inglês, unida à ausência de formação inicial, combinada com a falta de
recursos didáticos e tecnológicos, impacta negativamente o processo de
aprendizagem dos alunos.

3. DIFICULDADES EXCLUSIVAS DOS ALUNOS

As dificuldades enfrentadas pelos alunos no contexto do ensino de


língua inglesa em escolas públicas brasileiras são multifacetadas. Além das
limitações estruturais, como salas superlotadas e carência de recursos
tecnológicos, os estudantes muitas vezes lidam com a falta de acesso a
materiais didáticos atualizados. A heterogeneidade socioeconômica das
regiões impacta diretamente a qualidade do ensino, com áreas urbanas mais
desenvolvidas possuindo vantagens em comparação com regiões rurais
economicamente desfavorecidas. A falta de oportunidades para a prática do
idioma, somada as dificuldades dos alunos em dedicar tempo suficiente ao
aprendizado do inglês são barreiras, que quando aliadas à transição para
estruturas gramaticais mais complexas, ressaltam os desafios enfrentados
pelos estudantes na busca pela proficiência em língua inglesa.
No ensino fundamental, muitos alunos enfrentam dificuldades
relacionadas à falta de acesso a recursos didáticos adequados. Escolas
públicas, em particular, muitas vezes sofrem com a escassez de materiais
didáticos atualizados e tecnologia educacional. Segundo Kenski (2007),
especialista em tecnologia educacional e materiais didáticos, o uso desses
materiais enriquece o processo de aprendizagem tornando-o mais atrativo.
As crianças no ensino fundamental estão em fases iniciais de
desenvolvimento cognitivo e emocional. Isso pode tornar o aprendizado de um
novo idioma, com suas complexidades gramaticais e fonéticas, um desafio
adicional (KRASHEN, 1981).
No ensino médio, os alunos são apresentados a estruturas gramaticais
mais complexas e a um vocabulário mais extenso em inglês. Para muitos, essa
transição pode ser esmagadora, e a complexidade gramatical e a riqueza do
vocabulário da língua inglesa podem ser desafiadoras (CRYSTAL, 2017).
Os estudantes do ensino médio frequentemente enfrentam uma carga
acadêmica intensa, Tjaden et al. (2023) examinam como esses alunos
frequentemente enfrentam agendas sobrecarregadas e podem ter dificuldade
em equilibrar várias disciplinas e atividades extracurriculares, o que pode
impactar sua capacidade de dedicar tempo suficiente ao aprendizado de
línguas estrangeiras, como o inglês.
O ensino de inglês no ensino fundamental e médio é um desafio que
está intrinsecamente ligado a barreiras socioeconômicas, afetando o acesso a
recursos educacionais para alunos e professores. Superar esses obstáculos
requer um esforço conjunto de professores, instituições de ensino e políticas
públicas, a fim de proporcionar uma educação de qualidade e garantir que os
estudantes adquiram as habilidades necessárias no mundo contemporâneo. É
fundamental que escolas, educadores e formuladores de políticas estejam
cientes dessas dificuldades e trabalhem em conjunto para fornecer uma
educação de qualidade em inglês, preparando os alunos para as demandas do
mundo atual.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em conclusão, o ensino de língua inglesa nas escolas públicas do


ensino fundamental e médio no Brasil apresenta desafios consideráveis que
impactam tanto alunos quanto professores. A falta de formação docente
adequada, recursos limitados, desinteresse pela língua inglesa e barreiras
socioeconômicas aliadas à falta de políticas públicas específicas representam
obstáculos significativos a serem superados. No entanto, é crucial ressaltar
que, com esforços coordenados e investimentos direcionados para a formação
de professores e a disponibilização de recursos apropriados, é possível
enfrentar e superar esses desafios.
Ao aprofundar nossa compreensão das barreiras específicas no ensino
de inglês, podemos tomar medidas proativas para aprimorar a qualidade do
ensino e da aprendizagem. Dessa forma, asseguraremos que os alunos
desenvolvam as habilidades necessárias para prosperar em um mundo cada
vez mais globalizado. Além disso, o acesso à educação de qualidade em inglês
não deve ser um privilégio de poucos, mas sim um direito de todos os
estudantes, independentemente de seu contexto socioeconômico.
Portanto, é fundamental que instituições de ensino, educadores e
formuladores de políticas continuem trabalhando juntos para oferecer
oportunidades equitativas e preparar as gerações futuras para os desafios e
oportunidades de um mundo cada vez mais conectado.
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