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Assim, para a AD, a linguagem deve ser estudada não só em relação ao seu
aspecto gramatical, exigindo de seus usuários um saber linguístico, mas também em
relação aos aspectos ideológicos, sociais que se manifesta através de um saber sócio-
ideológico. Para a AD, o estudo da língua está sempre aliado ao aspecto social e
histórico.
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TEORIAS DO DISCURSO E DA PRODUÇÃO DE SENTIDO NO CINEMA E NAS ARTES DO VÍDEO
A LÍNGUA / LINGUAGEM DA ANÁLISE DO DISCURSO
O estudo da linguagem comporta, portanto, duas partes: uma, essencial, tem por objeto
a língua, que é social em sua essência e independente do indivíduo; (...) outra,
secundária, tem por objeto a parte individual da linguagem, vale dizer, a fala (...).
Sem dúvida, esses dois objetos estão estreitamente ligados e se implicam mutuamente;
a língua é necessária para que a fala seja inteligível e produza todos os seus efeitos;
mas esta é necessária para que a língua se estabeleça; historicamente, o fato da fala
vem sempre antes. Como se imaginaria associar uma ideia a uma imagem verbal se
não se surpeendesse de início esta associação em um ato de fala? Por outro lado, é
ouvindo os outros que aprendemos a língua materna; ela se deposita em nosso cérebro
somente após inúmeras experiências. Enfim, é a fala que faz evoluir a língua: são as
impressões recebidas ao ouvir os outros que modificam nossos hábitos linguísticos.
Existe,pois, interdependência da língua e da fala; aquela é ao mesmo tempo o
instrumento e o produto desta. Tudo isto, porém, não impede que sejam duas coisas
absolutamente distintas.
A língua existe na coletividade sob a forma duma soma de sinais depositados em cada
cérebro, mais ou menos como um dicionário cujos exemplares, todos idênticos, fossem
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TEORIAS DO DISCURSO E DA PRODUÇÃO DE SENTIDO NO CINEMA E NAS ARTES DO VÍDEO
A LÍNGUA / LINGUAGEM DA ANÁLISE DO DISCURSO
repartidos entre os indivíduos. Trata-se, pois, de algo que está em cada um deles,
embora seja comum a todos e independa da vontade dos depositários. (...)
De que maneira a fala está presente nesta mesma coletividade? É a soma do que as
pessoas dizem, e compreende:
Por todas essas razões, seria ilusório reunir, sob o mesmo ponto de vista, a língua e a
fala. O conjunto global da linguagem é incognoscível, já que não é homogêneo, ao
passo que a diferenciação e subordinação propostas esclarecem tudo.
Pode-se, a rigor, conservar o nome de Linguística para cada uma dessas duas
disciplinas e falar de uma Linguística da fala. Será, porém, necessário não confundí-la
com a Linguística propriamente dita, aquela cujo único objeto é a língua.
Nossa definição da língua supõe que eliminemos dela tudo o que lhe seja estranho ao
organismo, ao seu sistema, numa palavra: tudo quanto se designa pelo termo
“Linguística externa”. Essa Linguística se ocupa, todavia, de coisas importantes, e é
sobretudo nelas que se pensa quando se aborda o estudo da linguagem.
Isto nos leva a um terceiro ponto: as relações da língua com instituições de toda espécie,
a Igreja, a escola, etc. Estas, por sua vez, estão intimamente ligadas ao
desenvolvimento literário de uma língua, fenômeno tanto mais geral auanto é
inseparável da história política. (...)
Enfim, tudo quanto se relaciona com a extensão geográfica das línguas e o fracionmento
dialetal releva da Linguística externa. Sem dúvida, é nesse ponto em que a distinção
ente ela e a Linguística interna parece mais paradoxal, de tal modo o fenômeno
geográfico está intimamente associado à existência de qualquer língua; entretanto, na
realidade, ele não afeta o organismo interno do sistema. (...)
A Linguística externa pode acumular pomenor sobre pormenor sem se sentir apertada
no torniquete dum sistema. (...)
No que concerne à Linguística interna, as coisas se passam de mdo diferente: ela não
admite uma disposição qualquer; a língua é um sistema que conhece somente sua
ordem própria. Uma comparação com o jogo de xadrez fará compreendê-lo melhor.
Nesse jogo, é relativamente fácil distinguir oexterno do interno; o fato de ele ter passado
da Pérsia para a Europa é de ordem externa; interno, ao contrário, é tudo quanto
concerne ao sistema e às regras. Se eu substituir as peças de madeira por peças de
marfim, a troca será indiferente para o sistema; mas se eu reduzir ou aumentar o número
de peças, essa mudança atingirá profundamente a “gramática” do jogo. Não é menos
verdade eu certa atenção se faz necessária para estabelecer distinções dessa espécie.
Assim, em cada caso, formular-se-á a questão da Natureza do fenômeno, e para
resolvê-la, obsevar-se-á esta regra: é interno tudo o que provoca mudança no sistema
em qualquer grau.”
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A LÍNGUA / LINGUAGEM DA ANÁLISE DO DISCURSO
A linguística, eu ouso dizer, é vasta. Particularmente, ela comporta duas partes: uma
que é mais próxima da língua, depósito passivo, outra que é mais próxima da fala, força
ativa e verdadeira origem dos fenômenos que se percebem em seguida, pouco a pouco,
na outra metade da linguagem (ELG, 2004, p. 273).
...mas o que separará o discurso da língua ou o que, num dado momento, permitirá
dizer que a língua entra em ação como discurso?” (Saussure, em Starobinski, 1974, p.
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Bibliografia
SAUSSURE, F. Curso de Lingüística Geral. 22 Ed. São Paulo, SP: Editora, Cultrix,
2000.