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RESENHA1

Joseleide Fonseca Moura;


Maria Emanuela Santos da Silva;
Ruth Gabrielly Leão dos Santos;
Vinícius Alexandre da Costa Medeiros2

CARVALHO, C. de. Para compreender Saussure: fundamentos e visão crítica.


20a. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2013.

"Para Compreender Saussure" é uma obra de Castellar de Carvalho que já


está em sua 20ª edição. Carvalho é professor universitário de língua portuguesa com
doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), membro da
Academia Brasileira de Filologia e autor de diversos artigos e ensaios. Além de
"Para compreender Saussure", o referido autor escreveu outros títulos, dentre os
quais se destacam "Ensaios gracilianos" e "Noel Rosa, língua e estilo" (este em
coautoria com Antônio Martins de Araújo). Nesse presente livro, ele busca
esclarecer as doutrinas de Saussure de uma maneira mais didática, visto que a obra
"Curso de Linguística Geral", possui uma linguagem científica o que torna uma
leitura de difícil entendimento.
Essa obra é composta por: a lingüística pré-saussuriana; a lingüística
saussuriana (signo, langue/parole, sincronia/diacronia, relações sintagmáticas e
paradigmáticas, valor); repercussões das idéias de Saussure; glossemática. Contém
ainda quadros resumitivos e exercícios com gabarito após cada seção.
O primeiro capítulo dessa obra é dedicado a falar sobre a Linguística pré
saussuriana. Antes de Saussure o estudo da linguagem era feito de modo
assistemático e irregular. A linguística só foi ter status de ciências a partir do século
XIX, onde passou por três fases sucessivas para poder chegar nesse marco.
A primeira fase foi a filosófica, onde tinha os gregos como os percussores e
tiveram seus estudos calcados na filosofia, abrangendo também para a semântica,
morfologia, fonética e a sintaxe. Tinha uma gramática voltada para o uso. A segunda
fase foi denominada como filológica, onde os alexandrinos foram os precursores e
ajudaram a definir historicamente como o estudo da elucidação de textos. Eles se
dedicavam aos estudos da morfologia, sintaxe e a fonética. A terceira e última fase
foi a histórico-comparatista, onde começou com a descoberta do sânscrito entre
1786 e 1816. Essa fase foi marcada pela preocupação diacrônica de saber como as
línguas evoluem, e não como funcionam.
Assim, no decorrer desses estudos, a tendência era que a linguística desse
século tivesse um foco naturalista, ou seja, tentavam identificar ela com as Ciências
da Natureza. Mas o pensamento culturalista definiu que as línguas não existem por
si mesmas, mas são instrumentos culturais condicionados por fatores sociais,
históricos, geográficos, psicológicos e, por isso mesmo têm previsibilidade relativa e
comportamento inconstante. Justamente o oposto de que acontece com as ciências
naturais.

1 Texto produzido como terceira avaliação da disciplina Linguística I ministrada pela professora Emanuelle, no
curso de Letras da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, semestre letivo 2022.2.
2 Alunos/as matriculados na disciplina Linguística I, semestre 2022.2, no curso de Letras do turno
matutino/FALA/UERN.
Logo em seguida no capítulo 2, intitulado "linguística saussuriana", Castellar
de Carvalho fala sobre a formação e as obras de Ferdinand de Saussure. Saussure
recebeu influência dos estudos do comparativismo indo-europeu durante sua
graduação. E, anos depois, já atuando na área, ele inovou em sua 'mémorie' falando
sobre a reconstrução fonética indo-europeia de uma forma sistemática, e assim ele
conseguiu revolucionar tanto o pensamento linguístico ocidental como também os
estudos da linguística, pela sua metodologia, que ajudou a pôr ordem nesses
estudos e possibilitou criar e postular as teorias com perfeição científica.
Mais adiante vemos o tópico "a teoria do signo linguístico", que mostra que
Saussure escolheu o termo "signo" (uma palavra totalmente arbitrária) para poder
definir língua como um sistema de signos formados pela união do sentido e da
imagem acústica. Que seria, o significado como a imagem psíquica, ou seja a
imagem que criamos ao imaginar tal coisa, e o significante seria a imagem acústica,
ou seja a representação sonora.
Antes de finalizar esse tópico, nós aprendemos que o signo linguístico tem
dois princípios: o da arbitrariedade e da linearidade. O princípio da arbitrariedade
define que o signo linguístico não precisa, obrigatoriamente ter suas duas faces
(significado/significante) combinando, mas que também não precisa ser totalmente
distantes. Podemos citar como exemplo, as palavras "cadeira", onde não
encontramos nenhuma relação entre o significo e sua imagem acústica. E a palavra
"dezenove (19)" onde sabemos que dez e nove são arbitrários quando escritos, mas
o dezenove, como seria uma junção de "dez e nove" (10+9), tem um arbitrário
relativo. Já o princípio da linearidade do significante define, de forma resumida, que
todos os signos estão organizados de forma linear, e só assim podemos
compreender.
Na seção "língua/fala, norma", Castelar de Carvalho cita Saussure acerca de
suas dicotomias, ele começa pontuando sobre a oposição fundamental, que seria a
língua (langue) e a fala (parole). Segundo Saussure (p.16) “A linguagem tem um
lado individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o outro”. É
possível compreender a partir de sua concepção que existe particularidades entre
língua e fala, que consiste no fato da língua está pressuposta em um campo social
mais formal, atribuída aos signos e códigos. Já a fala, por se tratar de um contexto
mais individual ou particular, está atrelada a algo imprevisível e mutável imposto a
percepção de cada falante, sem estar preso a uma sistemática.
É importante ressaltar que no livro são citados três pontos chaves sobre a
língua, que são eles, o acervo linguístico, a língua instituição social e a realidade
sistemática funcional. O acervo linguístico seria a parte essencial, constituída pelos
signos onde possui presença da união entre sentido e imagem acústica, onde
ambas as partes são igualmente psíquicas. Já a língua como instituição social, não
está completa em nenhum individuo, está presente nas massas incorporada em
convenções que são necessárias para permitir uso destes conhecimentos em cada
indivíduo. E por último é mencionado o terceiro ponto, sobre a realidade sistemática
funcional, que para Saussure é o aspecto mais importante, pois ele exprime a sua
opinião sobre a língua que de acordo com ele “[...] é um sistema de signos que
exprimem ideias” (p.24), sendo assim, possui natureza homogênea. Já a fala, ao
contrário, seria algo multifacetado, individual e heterogêneo. Dessa forma, ele vem
priorizar a língua em detrimento da fala, por ela ter esse caráter social e homogêneo.
Com isso, é perceptível que Saussure possui uma opinião que tende a defender a
língua como um estado natural absoluto da comunicação, tendo em vista que está
presente em uma convenção social, formada por regras, definições, signos e
códigos, o que se distancia da ideia da fala, já que essa última é a língua em ação e
um ato individual de vontade e inteligência, se diferenciando sobre cada pessoa, o
consiste em algo muito mais abrangente se comparado a algo tão palpável como a
língua.
Na seção “ Sincronia/Diacronia” Castelar de Carvalho inicia citando
Saussure: “Assim, a Linguística se acha aqui ante sua segunda bifurcação Foi
necessório, primeiro, escolher entre a langue e a parole; agora,. estamos na
encruzilhada dos caminhos que conduzem, um à diacronia, outro à sincronia.” (CLG,
114). Sendo a segunda dicotomia Saussuriana, a sincronia e a diacronia são
métodos de se estudar a língua. A Diacronia seria a sucessão de eventos que
ocorrem ao longo do tempo. Já a Sincronia se dá através da observação de
fenômenos em um momento específico de sua evolução. Dessa forma, sincronia
seria designado como um estado da língua, e diacronia, uma fase de evolução.
Antes de Saussure, os linguístas costumavam estudar a língua apenas de um ponto
de vista histórico, sem ter a presença do estudo de um aspecto sincrônico da língua.
Saussure vem rompendo com essa idéia, dando preferência a sincronia. Para ele
um linguista só pode fazer a abordagem sobre o assunto, estudando relações
internas a língua ( Sintagmáticas e Paradigmáticas), sua estrutura, sincronicamente,
porque segundo ele “a lingua constitui um sistema de valores puros que nada
determina fora do estado momentâneo de seus termos" (CLG, 95). Sendo assim,
Saussure ele vem priorizar a pesquisa descritiva (sincrônica), pois concebe a língua
como um sistema, que o falante só tem consciência do estado sincrônico da língua,
afinal é o que se apresenta de forma imediata, além da questão também da
arbitrariedade do signo linguístico.
No quarto tópico que compõe o capítulo II, Carvalho esclarece as ideias de
Saussure acerca das relações sintagmáticas e paradigmáticas. Segundo ele,
Saussure entende que a língua, dentro da sincronia, possui dois eixos de
organização o sintagmático e o paradigmatico. O sintagma está associado a
sucessão linear de elementos na cadeia da fala, dessa forma, um termo adquire
valor por meio do contraste que estabelece com outro precedente e/ou subsequente
a ele. Já o paradigma diz respeito a relação associativa com termos alternativos
situados na memória do falante, ou seja, o conjunto de possibilidades distintas
ausentes no contexto. Essas relações podem ser esquematizadas figurativamente,
sendo o eixo horizontal referente as relações sintagmáticas (in prœsentia) que é o
da realização concreta e o eixo vertical o das relações paradigmáticas (in adsentia),
que se encontra disponível na memória
A quinta e última seção que compõe esse capítulo é centrada na noção de
valor. Com base no CLG, o autor vai dizer que a língua é um sistema de valores
puros, associado a dois elementos: as ideias e os sons. O primeiro correspondendo
a substância psíquica e o segundo a substância fônica que associados se articulam
e formam o signo e que essa articulação entre pensamento/ideia (1ª articulação) e
som (2ª articulação) é o que constitui uma forma e não uma substância. Ainda nesse
sentido, o autor enfatiza que o valor é resultado de oposições
funcionais(paradigmáticas) e combinações no discurso (sintagmáticas) e que ele
existe tanto no plano do significante quanto no do significado.
No último capítulo que compõe essa obra, o autor fala a respeito das
repercussões das ideias de Saussure. Castellar de Carvalho começa pontuando que
o Filosofo Saussure jamais poderia prever que suas elacubações teria o alcançe e
fecundidade que tem até o princípio. O que faz total sentido, pois seus herdeiros não
teriam deixado suas obras se apagarem no tempo, e que estariam revalorizando-as
e sempre tentando expandi-las para o âmbito de outras ciências. Os estudos teriam
dado início com o Linguísta Luís hjelmslev, partindo da oposição fundamental
Sistema/não sistema, que a partir dos anos trinta teria começado a repercutir com o
nome de estruturialismo. É importante ressaltar que o proprio Saussure jamais
usaria esse termo e sim "sistema", uma vez que para ele "a lingua é um sistema de
relações, cujo os elementos devem ser estudados sincronicamente". A partir da
noção de Estrutura como uma rede de relações, o autor elucida quanto ao conceito
de Linguística Estrutural, sendo compreendida como um conjunto de pesquisas
embasadas na hipótese de que é de caráter científico ter a linguagem como uma
entidade autônoma de dependências internas ou estrutura.

Ainda nesse capítulo, é amplamente pontuado e explicado sobre as Escolas


Estruturialistas. Sendo elas: Escola de Genebra, A Escola Fonologia de Praga e A
Escola Funcionalista de Paris.Escola de Genebra: Charles Bally é um nome muito
importante por sua valiosa contribuição a Linguística Saussuriana, e também tem o
mérito da criação da Estilística Estrutural. Nesta escola eles tinham como objetivo
serem os primeiros no desenvolvimento do estruturialismo e da linguistica moderna.
Escola Fonologica de Praga: Tem como seus principais pontos a dicotomia
Saussuriana Langue/Parole e a distinção de significante/significado. Langue/parole é
uma dicotomia teórica da teoria linguística, distinguida por Saussure. E
significante/significado sendo o significado o valor, sentido ou conteúdo semântico
de um signo linguístico e significante a imagem acústica ou manifestação fônica do
signo. E por fim, a Escola Funcionalista de Paris que teve como teórico maior André
Martinet, línguista francês. Captulando os métodos da Escola de Praga teve sua
atenção maior voltada para os seguintes topicos: Fonologia Geral (ou descritiva),
Fonologia Diacrônica e linguista geral.

Para compreender Saussure é uma obra bem organizada e possui uma


ordem lógica, além de uma linguagem clara e objetiva, extraindo de forma eficaz os
conceitos fundamentais da teoria Saussuriana, presentes no livro Curso de
Linguística Geral. Soma-se a isso ainda, os quadros resumitivos e os exercícios
presentes no final de cada seção que ajudam a fixar o conteúdo e praticar a
compreensão dos assuntos abordados. Dessa forma é um livro excelente para
alunos de Letras e estudiosos em geral, que buscam uma linguagem mais acessível
para entender as ideias do fundador da Linguística científica.

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