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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO- CAMPUS TIMON

CURSO: LICENCIATURA EM LETRAS-PORTUGUÊS


DISCIPLINA: FUNDAMENTOS DA LINGUÍSTICA
PROFESSOR(A): ANTONIO ARTUR SILVA
ALUNO(A): FRANCISCA ELLEN DOS SANTOS FREITAS

RESUMO
O ESTRUTURALISMO LINGUÍSTICO: ALGUNS CAMINHOS
RODOLFO ILARI

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Em 1960, no Brasil, o estruturalismo teve um impacto enorme, típico de uma
escola dominante e se coincidiu com o reconhecimento da linguística como disciplina
autônoma, por isso, pesquisadores, professores foram atraídos pela nova orientação
e a utilizaram para sistematizar suas doutrinas, o caso disso é o do de Mattoso
Câmara.

Por volta de 1970, no Brasil, o estruturalismo era uma orientação mais


importante nos estudos da linguagem, e que tinha contribuído para criar um novo tipo
de estudioso, a do gramático (interessado na sistematização dos conhecimentos que
resultaram num uso “correto” da variante padrão) e a do filósofo (interesse no estudo
das fases antigas da língua, e na análise e textos representativos dessas fases). É
importante ressaltar que não existe uma orientação hegemônica, à face das
orientações, como o gerativismo, o funcionalismo e a análise do discurso.

O estruturalismo linguístico se impôs no Brasil vencendo as resistências de


outras tradições de análise, e acabou, ele próprio, sendo superado pelas novas
tendências de uma disciplina que tinha contribuído para consolidar. Tendemos pensar
que no estruturalismo linguístico como um movimento uniforme e coeso, mas, no que
concerne no Brasil, é preciso considerar pelo menos dois focos de irradiação distintos,
localizados respectivamente no Rio de Janeiro e em São Paulo.

No Rio de Janeiro, atuou desde a década de 1930 Joaquim Mattoso Câmara


Jr., redigiu o primeiro livro sobre linguística da América do Sul. Em São Paulo, esteve
presente em cursos de graduação e pós graduação na USP, Eni Orlindi (SP), Izidoro
Blikstein (SP) e Clidimar Teodoro Paes (SP). O acervo de professores de São Paulo
teve como releitura autores como Hjelmslev, Barthes e o próprio Ferdinand de
Saussure.

Com base na percepção da tradição estruturalista europeia, a publicação do


livro “Cours de Linguistique Générale” (Curso de Linguística Geral), publicado em
1916, por Ferdinand de Saussure, como um importante pilar em sua formação. Ele
não foi escrito por Saussure, mas por alunos que assistiram alguns de seus cursos e
que juntaram anotações próprias com manuscritos do autor e assim, redigiram este
livro que implicou no nascimento da linguística. Devido a isso, surgiram dúvidas sobre
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o “verdadeiro pensamento” do mestre e em busca desta veracidade, houve várias
releituras da obra. E graças a esta busca, foi possível novos pensamentos, novos
conceitos e novas visões diversificadas sob o mesmo objeto, pois cada nova ciência
propõe uma nova visão de mundo. Mais importante do que discutir a veracidade do
autor sobre a obra é aproveitar os conhecimentos expostos além de observar as
diferentes percepções sob um mesmo objeto que só foi possível com este livro. Na
década de 1960, o crítico literário Starobinsky deu início a uma série de ensaios nos
quais dá conta de uma preocupação que Saussure alimentou no final da vida, o estado
dos “anagramas”. Ao analisar textos do latim antigo e do germânico, Saussure tinha
chegado hipótese de que esses textos, além de permitir a leitura linear que fazemos
hoje, ensejariam outra leitura, baseada num tipo de repetição dos fonemas nos textos.
Saussure formula a hipótese de que esse tipo de prática da poesia era consciente na
literatura da antiguidade em algumas cartas mandadas em 1907-1908 a seu antigo
aluno, o linguista Antoine Meillet. Hipótese forte, que altera não só a maneira de
conhecer a poesia antiga, mas a própria noção de leitura.

Houve também a imagem de um pensamento em evolução, no qual as teses


que hoje atribuímos a Saussure estão ainda tomando forma, de maneira tensa e, às
vezes, pouco clara.

É preciso lembrar que o estruturalismo linguístico, se deve como referência as


ideias expostas no Cours de Linguistique générale, foi também sendo alimentado pela
descoberta desses outros Saussurres supostamente mais “verdadeiros”, cujas ideias
estão em relação dialética com as do primeiro. Como essa dialética não aparece no
Cours, podemos dizer que o livro foi fruto de uma simplificação excessiva, que
contribuiu para seu enorme sucesso, mas também pode ser encarada como uma de
suas principais fraquezas.

Toda revolução cientifica, toda orientação teórica inovadora parte de um


pequeno conjunto de metáforas que produzem um modo novo de enfocar os fatos a
serem explicados. No século XIX, durante o qual a metáfora de base para a
compreensão dos fenômenos linguísticos tinha sido a ideia evolucionista da
transformação das espécies, Saussure elegeu como noção central para a
compreensão do fenômeno linguístico a noção de valor. A noção saussuriana de valor
só pode ser compreendida à luz de uma série de distinções teóricas e decisões que a

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preparam, entre as quais se incluem a distinção língua x fala, forma x substância, a
noção de pertinência, e as noções de significante, significado e signo.

A noção central elegida por Saussure para a compreensão da linguística é a


noção de valor, que só pode ser compreendida por distinções teóricas, como a língua
e fala (langue e parole), a mais fundamental oposição saussuriana. Analisando um
jogo de xadrez, e se apropriando de metáforas, Saussure concluiu que o objeto
específico da linguística, comparando ao jogo, seria as suas regras (isto é, o sistema
linguístico), e não os objetos do jogo (ou seja, os elementos linguísticos). Não se
compreendia o uso individual da língua como um objeto de estudo. A ideia de que no
jogo de xadrez são possíveis certas jogadas, mas não outras (por exemplo, a torre
pode atacar qualquer peça adversaria, mas tem que fazê-lo deslocar-se em sentido
perpendicular aos lados do tabuleiro) leva, em suma, valorizar o que não se observa,
ou seja, a regra do jogo, encarada como condição de possibilidade do jogo ou, no
caso da língua, como condição de comunicação. Além disso, estabeleceu com toda
clareza que o objeto especifico da pesquisa linguística teria que ser a “regra do jogo”,
isto é, o sistema, e não as mensagens a que ele serve de suporte. No entanto, nem
todos os estruturalistas concordaram completamente com a teoria apresentada no
livro. Houve divergências, por exemplo, como no caso da arbitrariedade.

Inicialmente, Saussure delimitou a língua como objeto da Linguística e fixou


marcos em suas reflexões: a distinção entre fatos da língua e fatos da fala e entre
estudos sincrônicos e estudos diacrônicos. Considerando, então, a amplitude e a
dificuldade em abordar os fenômenos linguísticos em ambas as direções, Saussure
(19enfatiza que “É necessário colocar-se primeiramente no terreno da língua e tomá-
la como norma de todas as outras manifestações da linguagem”.

Assim, situar-se no percurso da língua é observá-la como um sistema


estabelecido, possibilitando estudar a organização deste sistema num estado do
tempo (sincronia). Não que Saussure tenha ignorado outros fatos da linguagem, como
o falante, por exemplo, e mesmo a noção de diacronia, mas é evidente a ênfase dada
por Saussure ao estudo da língua a partir de sua própria “estrutura”.

Isso posto, Saussure definirá que a língua se constitui num sistema de signos,
onde de essencial, só existe a união do sentido e da imagem acústica”, e, em outro
momento, que a “A língua é um sistema de signos que exprimem ideias. Saussure é
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radical, pois sua definição de língua implica eliminar tudo que é exterior a este sistema,
assinalando que a língua, como objeto exclusivo da Linguística, é um sistema que
conhece somente sua ordem própria”

Podemos ter uma ideia menos confusa de seu alcance se pensarmos no que
distingue ainda hoje a orientação do filósofo e a orientação do linguista. O filósofo
vale-se de quaisquer conhecimentos pertinentes (inclusive os linguistas) para colocar
à nossa disposição a melhor explicação possível sobre a forma original de um texto
antigo e sobre a interpretação que o autor esperava para ele no momento em que foi
escrito. Já o linguista, quando dirige sua atenção para textos específicos, tende
sobretudo a usá-las como evidência de que, no momento em que foram produzidos,
o sistema linguístico oferecia aos usuários da língua determinadas possibilidades
(sintáticas, semânticas, fonéticas, ortográficas), e de que esse modo de ser do sistema
é que permitiu dar às mensagens determinadas formas e intepretações.

Os indivíduos que utilizam a linguagem o fazem sempre por iniciativa pessoal,


mas sua ação verbal só tem os efeitos que possui na experiencia de um sistema que
o usuário com outros membros da comunidade linguística de que se faz parte. À luz
dessa analogia, não admira que Saussure tenha qualificado a língua como um
fenômeno social, e que tenha caracterizado a linguística como um ramo da psicologia
social.

Voltando à metáfora do jogo e ao conceito de valor, e também o que foi


apresentado até aqui, é importante saber que partindo da tese saussuriana, a
descrição de um sistema linguístico não é a descrição física de seus elementos, e sim
a descrição de sua funcionalidade e pertinência.

Falar em pertinência, significava excluir como não- linguísticas uma série de


informações que a tradição gramatical, a linguística historica de inspiração
neogramática e a fonética experimental do século XIX (Abade Rousselof) tinham
considerado com bastante atenção. A maneira de formular essa exclusão foi a
representação a que chegou o linguista dinamarquês Luis Hjelmslev, elaborando a
distinção feita anteriormente por Saussure entre forma (tudo aquilo que uma
determinada língua institui como unidades através da oposição) e substância (suporte
físico da forma, que tem experiencia perceptiva, mas não necessariamente
linguística).
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É, em suma, o significante, na medida em que se distingue de outros
significantes, que dá legitimidade linguística ao significado; e é o significado, na
medida em que se distingue de outros significantes, que dá legitimidade linguística ao
significante, por isso, uma das passagens mais difíceis e originais do Curso de
Linguística geral, são aquelas em que o texto procura explicar a indissolubilidade da
relação ente significado e significante.

A Escola Linguística de Praga, cujo foco é a Fonologia e que tem como


representantes Troubetzkoy, Roman Jakobson e Wilhem Mathesius, que influenciou
linguistas da Escola de Praga. Estes linguistas desenvolveram uma concepção de
comunicação mais rica, que levou a perspectiva da análise conhecida como
Perspectiva Funcional da Sentença, ou seja, a concepção dinâmica da comunicação.
O dinamismo comunicativo se distribui de maneira desigual nos enunciados e
comporta uma parte menos dinâmica - o tema - e uma parte mais dinâmica – o rema.
Essas duas funções comunicativas são autônomas em relação às funções sintáticas
do sujeito e do predicado.

Outra escola de linguística estrutural analisada por Ilari foi a Glossemática,


cujos expoentes são Hjelmslev, Viggo e Brondal. Hjelmslev procurou caracterizar as
relações pelas quais as línguas se estruturam, do ponto de vista lógico, atribuindo
atenção particular às relações entre as unidades nos vários níveis de análise. O par
terminológico sintagma e paradigma e a variedade de relações entre eles é objeto de
tipologia exaustiva. No Brasil, a Glossemática ficou conhecida como Análise
Composicional.

Descendentes do Saussurianismo e com fortes contatos com o Círculo de


Praga e Copenhague, André Martinet apresenta o Funcionalismo, que é menos
marcado do ponto de vista do conceito. O funcionalismo de Martinet a importância do
princípio da economia, pela qual se desenvolveu a fonologia diacrônica. Como última
figura do estruturalismo europeu, identifica-se Roman Jakobson, que transitou por
vários campos, deixando contribuição original, desde a fonologia até a linguagem da
poesia, desde a aquisição da linguagem dita “normal" até a patologia linguística.

Quanto ao estruturalismo americano, a preocupação foi analisar as línguas dos


indígenas da América do Norte descritivamente, por meio da gramática, procurando
evitar a interferência dos conhecimentos dos linguistas. Os linguistas americanos não
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se reconheceram como saussurianos e têm como referência intelectual Leonard
Bloomfield. Tem interesses diversificados e preconizam a constituição de um corpus
de sentenças ou textos de uma língua. É aqui que aparecem dois momentos de
representação da língua: o morfema e o fonema, e que a análise do corpus pode ser
mediada. Seus estudiosos mais dedicados foram Bons, Sapir, Bloomfield e Harris.
Para Boas a língua tem estrutura peculiar e por isso é impossível aplicar a gramática
de uma língua em outra. Bloomfield esforçou-se para tornar a linguística uma
disciplina autônoma e cientifica. Rejeita a abordagem direta dos dados e sua
mensuração. Harris defende a gramática não conteudista, em que tudo se distribui
caoticamente e entram em determinados ambientes sintáticos e em outros não.

O estruturalismo, no final dos anos 60, apresenta no hemisfério norte, sinal de


esgotamento e começa a receber críticas como as de Émile Benveniste, que afirma
ter o estruturalismo ignorado o papel do sujeito na língua. Acredita que os fenômenos
não são explicáveis fora de uma referência à fala e aos diferentes papéis que os
falantes assumem na interlocução. Para Eugênio Cosseriu, a sincronia é ficção, pois
o velho convive com o novo e é fruto de diferentes momentos da história. Propõe a
pancrônica, uma instância operacional e psicologicamente mais real que a própria
língua: a norma.

A crítica de Pêcheux é que ao ignorar a parole (fala), o estruturalismo


inviabilizou estudos textuais e sentidos dos textos. Pêcheux salienta a representação
equivocada de liberdade linguística defendida pelos estruturalistas. Dessas críticas,
perceberam-se três traços entendidos como problemas para o estruturalismo: seu
caráter anti-historicista, anti-idealista e anti-humanista. Como se pôde perceber, o
mérito do capítulo O Estruturalismo: alguns caminhos estão em Rodolfo Ilari situar o
leitor historicamente acerca do estruturalismo, de maneira que este possa ter a noção
de como se consolidou a linguística e quem foram seus grandes contribuintes.

Para entender e gostar do ensaio é necessário ter conhecimento prévio sobre


o assunto. A linguagem do texto permite sua indicação a professores de Letras, alunos
de graduação preocupados com a linguagem e interessados a conhecer os processos
pelos quais se chegou aos estudos linguísticos contemporâneos.

Deste modo, quaisquer que sejam as noções de estrutura produzidas nos


estudos sobre a linguagem na linguística, é possível considerarmos que, desde os
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gregos até toda a difusão teórica desencadeada por Saussure, estas noções são um
resultado de uma incansável busca, feita por estudiosos de diversas áreas, em
compreender a linguagem humana, sua natureza e funcionamento.

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