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UNIDADE 1

LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E


APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• distinguir as concepções de Língua, Linguagem, Fala e Linguística;

• entender o processo constitutivo e o propósito da Linguística Geral, da


Linguística Teórica e da Linguística Aplicada da Língua Espanhola en-
quanto ciências;

• situar-se teoricamente nas bases que alicerçam o conhecimento linguístico


moderno, reconhecendo e aplicando conceitos como sincronia, diacronia,
sintagma, paradigma e signo linguístico;

• conhecer os principais estudos da Linguística como ciência da linguagem


humana;

• orientar-se historicamente na constituição da língua espanhola;

• identificar a linguagem e seus padrões;

• reconhecer as perspectivas de estudo da língua espanhola;

• relacionar os estudos linguísticos a temas voltados ao ensino de língua es-


panhola.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA

TÓPICO 2 – LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA

TÓPICO 3 – PERSPECTIVAS DE ATUAÇÃO NA LINGUÍSTICA APLICADA


À LÍNGUA ESPANHOLA

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UNIDADE 1
TÓPICO 1

UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA

1 INTRODUÇÃO
No presente tópico, vamos abordar os conceitos de língua, linguagem,
fala e linguística. Estes conceitos são considerados vitais para o entendimento que
construiremos ao longo de todo o livro. Ao assentarmos esta base estaremos aptos
para avançar em direção a questões específicas, afunilando progressivamente rumo
ao nosso destino: a linguística aplicada ao ensino do espanhol. Antes de começar,
gostaria de lançar um questionamento a você. Alguma vez já refletiu sobre a
importância da língua no desenvolvimento da humanidade? Já parou para pensar
como seria difícil a vida sem um sistema linguístico-comunicativo eficaz?

No filme “A Guerra do Fogo”, de 1981, os autores recriaram um período


da pré-história anterior ao uso da língua, no qual os hominídeos se expressavam
através de uma linguagem especial em que prevaleciam elementos como o corpo,
as expressões faciais, os movimentos repetitivos e os grunhidos. Todos estes de
importância vital para o contato em uma realidade na qual a comunicação, tal
como se conhece hoje, simplesmente não existia. É fato conhecido que na história
da humanidade a linguagem é uma das capacidades humanas que mais exerceu
fascínio nos povos de diversas culturas. De acordo com Margarida Petter, em
estudo publicado no livro “Introdução à Linguística”, os primeiros estudos da
língua remontam ao século IV a.C., sendo o interesse pela língua perceptível
através de "mitos, lendas, cantos, rituais ou por trabalhos eruditos que buscam
conhecer essa capacidade humana" (2003, p. 6).

No desenvolvimento deste tópico abordaremos o surgimento da


Linguística moderna como disciplina e também a importância de Ferdinand
de Saussure (1857-1913) para os estudos linguísticos do século XIX até a
contemporaneidade. Como você já deve ter percebido, toda ciência humana possui
referentes (obras fundadoras e pessoas que se destacaram) que são indispensáveis
para o conhecimento que se produz posteriormente. Ao entendermos o papel de
Saussure no âmbito dos estudos linguísticos, logo estaremos aptos para passar
à etapa seguinte: as vertentes que surgiram após este momento inicial. Neste
caso, observaremos o surgimento de duas correntes importantes na história dos
estudos linguísticos, o Estruturalismo e o Funcionalismo.

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UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

DICAS

No campo do cinema, a linguagem é um tema que exerce grande


fascínio. Um exemplo recente é o filme "A Chegada" (2016), do diretor
Denis Villeneuve. De acordo com a Revista Época, em matéria publicada
em 2 de desembro 2016, a trama "usa o aprendizado de um idioma
extraterrestre para provar que as palavras podem moldar nossa visão de
mundo". Com essa ideia, encontrada na hipótese linguística de Sapir-
Whorf, os autores mesclam ficção científica com teorias linguísticas
e constroem uma interessante obra ficcional. Veja mais em: <http://
epoca.globo.com/cultura/noticia/2016/12/o-filme-chegada-mostra-
como-linguagem-influencia-nossos-pensamentos.html>.
Divulgação do filme
“A Chegada”

2 PARÂMETROS FUNDAMENTAIS PARA O ESTUDO DA


LINGUÍSTICA
Para estudarmos os parâmetros que fundamentam o estudo da Linguística,
primeiramente estabeleceremos um itinerário de viagem que compreende
paradas essenciais, tais como:

a) Contexto histórico e conceito de Linguística.


b) Quem foi Ferdinand de Saussure?
c) Qual a diferença entre os termos Língua, Fala, Linguagem e Linguística?

A Linguística, como disciplina acadêmica, não surgiu antes do século XIX.


Ferdinand de Saussure, autor da obra de referência “Curso de Linguística Geral”
(1916), afirma que esta ciência, que se constitui em torno dos fatos da língua,
passou por pelo menos três fases sucessivas antes de reconhecer "o seu verdadeiro
e único objeto" (SAUSSURE, 2006, p. 7).

FIGURA 1 – LINGUAGEM HUMANA

FONTE: Disponível em: <https://www.comaudi.com/wp-content/


uploads/2017/03/p%C3%A9rdida-auditiva-669x272.png>. Acesso em: 6
out. 2017.

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TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA

Veremos quais foram as três fases pelas quais a linguagem passou antes
de chegarmos ao que hoje se entende por Linguística:

A primeira fase foi a Gramática. Esta disciplina, de acordo com Saussure


(2006, p. 7), visa "unicamente a formular regras para distinguir as formas
corretas das incorretas; é uma disciplina normativa, muito afastada da pura
observação e cujo ponto de vista é forçosamente estreito". Você provavelmente
já consultou gramáticas normativas para esclarecer dúvidas relativas ao uso
das regras estabelecidas pela gramática tradicional. A gramática tradicional,
tal como a conhecemos hoje, com frequência é objeto de crítica da Linguística
Contemporânea. Nos próximos tópicos entenderemos o porquê disso.

A segunda fase foi a Filologia. Saussure (2006, p. 7) ressalta que a Filologia


não se preocupava unicamente com a língua como objeto, mas sim visava
interpretar, fixar e comentar os textos, levando em consideração e ocupando-se
da "história literária, dos costumes e das instituições".

A terceira fase, de acordo com Saussure (2006, p. 9), começou quando


se descobriu que as línguas podiam ser comparadas, o que deu origem ao que
Saussure chama de "Filologia Comparativa" ou "Gramática Comparada". Os
estudos comparativos vieram por meio da mão de nomes significativos, como
Max Müller, G. Curtius e August Schleichter. Apesar de significar um avanço ao
possuir "o mérito incontestável de abrir um campo novo e fecundo", esta escola
não chegou a constituir a verdadeira ciência linguística, pois "jamais se preocupou
em determinar a natureza do seu objeto de estudo" (SAUSSURE, 2006, p. 9).

Ao ensinar a Linguística – e provavelmente sequer desconfiar que


postumamente se transformaria no primeiro grande nome referencial desta
disciplina –, Saussure (2006) afirma que a Linguística nasceu dos estudos
das línguas românicas com as línguas germânicas: "Os estudos românicos,
inaugurados por Diez – sua Gramática das Línguas Românicas data de 1836-1838
–, contribuíram particularmente para aproximar a Linguística do seu verdadeiro
objeto” (SAUSSURE, 2006, p. 11).

Se a Gramática trata das regras da língua e a Filologia trata da interpretação,


do que, afinal, trata a Linguística e qual a sua tarefa? Saussure responde a esta
pergunta de modo categórico. Leia com atenção a citação a seguir, pois ela define
com clareza o pensamento de Saussure em relação ao tema:

A matéria da Linguística é constituída inicialmente por todas


as manifestações da linguagem humana, quer se trate de povos
selvagens ou de nações civilizadas, de épocas arcaicas, clássicas ou de
decadência, considerando-se em cada período não só a linguagem
correta e a "bela linguagem", mas todas as formas de expressão. Isso
não é tudo: como a linguagem escapa as mais das vezes à observação,
o linguista deverá ter em conta os textos escritos, pois somente eles lhe
farão conhecer os idiomas passados ou distantes:
A tarefa da linguística será:

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a) fazer a descrição e a história de todas as línguas que puder abranger,


o que quer dizer: fazer a história das famílias de línguas e reconstituir,
na medida do possível, as línguas-mães de cada família;
b) procurar as forças que estão em jogo, de modo permanente e
universal, em todas as línguas, e deduzir as leis gerais às quais se
possam referir os fenômenos peculiares da história;
c) delimitar-se e definir-se a si própria (SAUSSURE, 2006, p. 13,
grifo nosso).

NOTA

Você recorda dos filmes “A Guerra do Fogo” e “A Chegada”, que mencionamos


nas páginas anteriores? São obras ficcionais que expressam a vitalidade da linguagem humana
no processo de comunicação e, por essa razão, importantes para a Linguística, visto que
abordam a linguagem a partir de perspectivas que vão além das regras e da interpretação por
si mesmas. São situações mediadas pelo contexto e pelas condições (como no filme A Guerra
do Fogo), e também por hipóteses ficcionalmente verossímeis (como no filme A Chegada).

Nesse momento você já deve ter percebido que o nome de Ferdinand de


Saussure aparece diversas vezes neste texto introdutório e possivelmente deve
estar se perguntando a razão disso. Afinal, é normal que você esteja curioso para
saber quem foi Saussure.

FIGURA 2 – FERDINAND DE SAUSSURE (1857-1913)

FONTE: Disponível em: <https://www.leme.pt/biografias/s/


saussure.jpg>. Acesso em: 22 out. 2017.

Ferdinand de Saussure nasceu em Genebra no dia 26 de novembro de


1857. Segundo Luis Casteleiro Oliveros (2000, p. 17), desde muito jovem dedicou-
se ao estudo das ciências. Ao mudar-se para Leipzig, em 1876, cidade que a esta
altura se constituía como a capital dos estudos linguísticos, Saussure teve como
professor ninguém menos que Jorge Curtius (1820-1885), um dos primeiros

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TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA

gramáticos comparativos que o autor cita na terceira fase antecessora aos estudos
linguísticos. Saussure não deixou livros publicados sobre linguística e o que
temos hoje é resultado dos esforços empreendidos por seus ex-alunos que, após
sua morte, converteram as anotações de aula em obras póstumas. É graças a
Saussure que hoje entendemos uma série de dicotomias linguísticas (oposições),
todas de importância inegável para o entendimento da Linguística. As principais
dicotomias saussurianas são: sincronia e diacronia, língua e fala, significante e
significado, sintagma e paradigma. Estudaremos cada uma dessas definições no
Subtópico 3 desta unidade.

NOTA

O Curso de Linguística Geral (1916), de Ferdinand de


Saussure, é uma obra fundamental para o estudo da linguística moderna,
pois congrega importantes apanhados e conceitos até hoje úteis para a
disciplina. O livro não foi publicado por Saussure em vida e trata-se de
uma obra póstuma editada por Charles Bally e Albert Sechehaye, com
base nos cursos oferecidos por Saussure na Université de Genève no
começo do século XX.

Primeira edição do
“Curso de Linguística
Geral”

Agora que já sabemos o que é a Linguística, do que ela se ocupa, o que


a antecedeu e já sabemos também quem é a principal referência primária no
âmbito moderno desta disciplina, que tal diferenciarmos os conceitos de Língua,
Linguagem, Fala e Linguística?

QUADRO 1 – DEFINIÇÕES DE LÍNGUA, LINGUAGEM, FALA E LINGUÍSTICA

A língua é um grande sistema constituído por regras. De acordo com Margarida


Petter (2003, p. 10), a língua é "um sistema de signos" - "um conjunto de unidades
que se relacionam organizadamente dentro de um todo”. É a “parte social da
Língua linguagem", exterior ao indivíduo; não pode ser modificada pelo falante e obedece
às leis do contrato social estabelecido pelos membros da comunidade".
Em uma visão complementar, José Luiz Fiorin (2003, p. 3) afirma que “as línguas
não são nomenclaturas, mas formas de categorizar o mundo”.
Se a língua é a “parte social da linguagem”, a linguagem está relacionada à
individualidade. Petter (2003, p. 9) relembra que Saussure considerou a linguagem
Linguagem
"heteróclita e multifacetada", pois abrange vários domínios; “é ao mesmo tempo
física, fisiológica e psíquica; pertence ao domínio individual e social”.

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UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

Ato enunciativo. É individual e, segundo Petter (2006, p. 10), resulta das


"combinações feitas pelo sujeito falante utilizando o código da língua; expressa-se
Fala
pelos mecanismos psicofísicos (atos de fonação) necessários à produção dessas
combinações".

Contemporaneamente, o objeto de estudos da linguística é tripartido em Língua,


Linguagem e Fala. De acordo com Petter (2003, p. 10), “A distinção linguagem/
língua/fala situa o objeto da Linguística para Saussure. Dela decorre a divisão
do estudo da linguagem em duas partes: uma que investiga a língua e outra que
analisa a fala. As duas partes são inseparáveis, visto que são interdependentes: a
Linguística
língua é condição para se produzir a fala, mas não há língua sem o exercício da
fala. Há necessidade, portanto, de duas Linguísticas: a Linguística da língua e a
Linguística da fala. Saussure focalizou em seu trabalho a Linguística da língua,
"produto social depositado no cérebro de cada um", sistema supraindividual que
a sociedade impõe ao falante”.

FONTE: O autor

NOTA

Segundo o Dicionário Houaiss (s.d., s.p.) da Língua Portuguesa, Heteróclito é


tudo aquilo que “se afasta, se desvia das regras e das normas estabelecidas”.

Vamos visualizar? Observe o diagrama que elaboramos para você.

FIGURA 3 – DIAGRAMA DE LÍNGUA, LINGUAGEM, FALA E LINGUÍSTICA

* Social (comum a todos)


Língua
* Organizada (possui regras)

* Individual e Social
Linguagem * Heteróclita e Multifacetada
(várias formas de expressão).

Individual (utiliza o código


Fala da língua + mecanismos
psicofísicos)

Ciência cujo objeto de estudo


Linguística é a tríade Língua, Linguagem
e Fala.

FONTE: Adaptado de Saussure (2006) e Fiorin (2003)

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TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA

3 DICOTOMIAS SAUSSURIANAS E CONCEITOS IMPORTANTES


Ao falarmos sobre o legado de Ferdinand de Saussure, com frequência nos
deparamos com o conceito de dicotomias saussurianas, mas o que significa o termo
"Dicotomia?". Consultamos dois dicionários para tentar entender melhor este
conceito. O primeiro deles é o Dicionário Aurélio (s.d., s.p.), para esta publicação, a
dicotomia é uma “divisão lógica de um conceito em dois outros conceitos, em geral
contrários, que lhe esgotam a extensão”. Para o Dicionário Michaelis (s.d., s.p.), o
termo "dicotomia" consiste em uma "classificação em que se divide cada coisa ou
cada proposição em duas". Na verdade, ambas as definições se complementam,
expressando-se de modo diferente. Vale lembrar que o termo dicotomia não é usado
somente no âmbito dos estudos linguísticos, mas também por outras áreas. Para a
Teologia, por exemplo, o corpo e a alma constituem a dicotomia mais importante.
Para o Direito, o público e o privado. Na filosofia oriental, Taoísmo, a dicotomia
mais importante é o símbolo do Yin-Yang. O Yin representa e energia feminina
(Lua), ao passo que o Yang representa a masculina (Sol).

FIGURA 4 – O YIN-YANG

FONTE: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/


wikipedia/commons/thumb/1/17/Yin_yang.svg/1200px-
Yin_yang.svg.png>. Acesso em: 20 out. 2017.

No âmbito da Linguística, as dicotomias saussurianas mais conhecidas são


quatro: língua e fala, sincronia e diacronia, sintagma e paradigma e significante
e significado.

Entender como funcionam as dicotomias saussurianas permitirá que você


pense elementos que são fundamentais para a linguística teórica. Vamos nessa?

3.1 LÍNGUA E FALA


O tema Língua e Fala você conheceu brevemente no Subtópico 2,
quando distinguimos os conceitos de Língua, Linguagem, Fala e Linguística. É
importante mencionar que estes dois conceitos constituem uma dicotomia para
Saussure. Enquanto a língua é um sistema de regras de uso coletivo, a fala é um
ato individual de enunciação que concretiza a língua. A existência de uma está
ligada à existência da outra. Nesse caso, a fala existe como realização da língua. A
língua e a fala também são conhecidas em linguística como langue e parole.

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UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

Ao discorrer sobre o tema, Saussure (2006, p. 27) afirma que o estudo da


linguagem comporta duas partes: “uma, essencial, tem por objeto a língua, que
é social em sua essência e independente do indivíduo; esse estudo é unicamente
psíquico; outra, secundária, tem por objeto a parte individual da linguagem, vale
dizer, a fala, inclusive a fonação e é psico-física”.

Linguagem

Língua Fala

Enquanto a língua está depositada no cérebro de todos, a fala compreende,


de acordo com Saussure (2006), combinações individuais (que dependem da
vontade do falante) e atos de fonação voluntários, que são necessários para a
execução dessas combinações. É exatamente essa relação entre uma e outra que
convertem o tema língua-fala em uma dicotomia, visto que são extremidades que
se correlacionam e existem em função uma da outra.

3.2 SINCRONIA E DIACRONIA


Os conceitos de sincronia e diacronia são de importância vital para os
estudos linguísticos. Saussure estabeleceu dois tipos de linguísticas: a linguística
sincrônica e a linguística diacrônica. A sincrônica se ocupa de um recorte
temporal (por exemplo, a língua no século XV). Já a linguística diacrônica se
ocupa com as transformações da língua através do tempo (a língua nos séculos
XV, XVI, XVII, XVIII...). Segundo Pietroforte (2005, p. 102), o significado das
palavras sincronia e diacronia está ligado à origem na língua grega: "Diacronia,
do grego dia "através" e chrónos "tempo", quer dizer "através do tempo", e
sincronia, do grego syn "juntamente" e chrónos "tempo", significa "ao mesmo
tempo". Observe a seguinte imagem:

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TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA

FIGURA 5 – SINCRONIA E DIACRONIA

FONTE: O autor

Na Figura 5 percebemos os séculos dispostos temporalmente (as linhas


horizontais). O estudo do momento da língua em um destes séculos constitui o
que chamamos de Sincronia. Por outro lado, ao compararmos a língua através
do tempo, estamos realizando uma perspectiva dentro da linguística diacrônica.

Um estudo diacrônico poderia se preocupar, por exemplo, com a


evolução do pronome "você". Se buscarmos nos primórdios da língua portuguesa
encontraremos a forma "vossa mercê". Com o passar do tempo adotou-se o
"vosmecê". Posteriormente, "vancê" e atualmente "você". Hoje, no século XXI, há
registros orais em que os falantes da língua utilizam somente a forma "Cê".

FIGURA 6 – DIACRONIA

FONTE: O autor

Agora, imagine a seguinte situação: você está cursando a disciplina de


Literatura da Língua Portuguesa e em algum momento o professor pede para
que você leia uma cantiga de amor do período trovadoresco, ainda no tempo em
que o português não existia tal como o conhecemos hoje. Observe a Cantiga da
Ribeirinha, atribuída a Paio Soares de Taveirós:

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FIGURA 7 – SINCRONIA

FONTE: O autor

O poema, que data do período de formação da língua portuguesa, possui


um vocabulário que nos permite compreender melhor o estágio da língua
naquele tempo específico. Por exemplo, a palavra "mentre" (verso 2) possui o
mesmo significado de simultaneidade da palavra "enquanto" do português atual.
O "Semelha" (verso 12) significa "parecer", ou dá indícios de que se desdobrou na
palavra "semelhança". Um estudo diacrônico não se preocuparia em comparar (ver
como essa palavra se modificou até chegar no estágio atual), mas compreender a
língua tal como ela se apresentava no período estudado. Por exemplo: no século
XII, o vocábulo “mentre” possuía a carga semântica de simultaneidade.

NOTA

A Cantiga da Ribeirinha é considerada o primeiro texto literário na língua galaico-


portuguesa. O registro pertence a um período chamado “Trovadorismo” (literatura oral) e sua
data é incerta, havendo divergências se a ocorrência remonta ao ano 1889, 1198, ou 1200.

3.3 SINTAGMA E PARADIGMA


Imagine a seguinte situação: Você precisa muito dizer algo a alguém, mas
desiste de falar por não saber como fazer, pois acredita que o assunto é sério
demais para falar sem pensar. Você então decide se recolher e pensar melhor nas
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TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA

palavras que vai utilizar. É necessário ser suave diante da situação. Ao recolher-
se você buscou e escolheu as palavras disponíveis no seu paradigma, como se
elas estivessem disponíveis em um compartimento do seu cérebro. Ao finalmente
decidir falar, você trouxe as seguintes palavras escolhidas para o seu sintagma: A
dicotomia paradigma e sintagma é vital quando pensamos nos processos língua,
linguagem e fala. Mais uma vez, é preciso evocar as formas horizontais e verticais
para compreender como se dá essa relação. É através do paradigma que se torna
possível fazer as escolhas (eixo vertical). São estas escolhas que se combinam em
um Sintagma (eixo horizontal). Segundo Petroforte (2005, p. 116), “O paradigma
não é qualquer associação de signos pelo som e pelos sentidos, mas uma série de
elementos linguísticos suscetíveis de figurar no mesmo ponto do enunciado, se o
sentido for outro”. Vamos entender na prática?

Paradigma

Sintagma

Observe a seguinte frase:

O Brasil é o melhor país do mundo.

A todo momento o falante da língua escolhe palavras na hora de falar.


Estas palavras estão no que, linguisticamente, entendemos por paradigma. São as
possibilidades que a língua oferece para expressar o que queremos. Esta escolha
se dá em oposição a tantas outras formas possíveis. Desse modo, repare agora as
outras formas possíveis de combinação no exemplo dado.

O Canadá é o melhor país do mundo.


O Japão é o melhor país do mundo.
O Equador é o melhor país do mundo.

Cada escolha pressupõe a seleção de outras combinações possíveis de acordo


com a língua. Por exemplo, se a frase se referisse a países como “”Itália”, “Suíça” ou
“Alemanha”, o artigo masculino “O” mudaria para o artigo feminino “A”.

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UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

A Itália é o melhor país do mundo.


A Suíça é o melhor país do mundo.
A Alemanha é o melhor país do mundo.

É importante lembrar que as combinações não são aleatórias e não podem


transgredir o sistema da língua. Por exemplo: Jamais poder-se-ia dizer “Brasil O é
melhor país mundo DO”. Por outro lado, outros elementos do sintagma poderiam
ser substituídos por outros termos. Por exemplo, a palavra “melhor” concorre
com a palavra “pior”. A palavra “mundo” concorre com a palavra “continente”.
Perceba o que Petroforte (2005, p. 116-117) diz a respeito deste tema:
No sintagma não se combinam quaisquer elementos aleatoriamente. A
combinação no sintagma obedece a um padrão definido pelo sistema.
Assim, por exemplo, podem-se combinar um artigo e um nome e, nesse
caso, o artigo deve sempre preceder o nome. Em português, é possível
a combinação o irmão, mas não a combinação irmão o. Por essa razão,
não se deve confundir paradigma com língua e sintagma com fala.
Tanto um quanto outro pertencem ao sistema, aquele por estabelecer
os elementos que podem figurar num dado ponto da cadeia falada e
este por obedecer a um padrão rígido de combinação.

NOTA

Sintagma: Horizontal – onde se combinam os elementos escolhidos no paradigma.


Paradigma: Vertical – são as possibilidades de escolha que possui o falante da língua.

3.4 SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO (SIGNO LINGUÍSTICO)


Até aqui conhecemos dicotomias importantes para os estudos linguísticos,
como as dualidades sincronia-diacronia e sintagma-paradigma. Vamos pensar
agora no signo linguístico. Você provavelmente já deve ter questionado a razão
de certas coisas possuírem o nome que têm. Por exemplo, haveria alguma
relação lógica entre a palavra que designa “cavalo” com o conceito equino ao
qual se associa? Sabemos que este animal possui nomes diferentes em outras
línguas, como caballo (espanhol), horse (inglês), pferd (alemão), cheval (francês)
ou cal (romeno) e com frequência nos perguntamos: os nomes nestes idiomas
são associados ao conceito por alguma razão natural ou socialmente decidiu-se
nomeá-los assim sem justificativa alguma?

Para entender isso é importante levar em consideração dois conceitos


que vamos estudar nos parágrafos seguintes: significante (imagem acústica) e
significado (conceito).

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TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA

O signo linguístico é um conceito que abrange a dicotomia significante


e significado. Segundo Saussure (2006, p. 80), o signo linguístico “une não uma
coisa e uma palavra”, mas sim “um conceito e uma imagem acústica". A imagem
acústica não é um som material, mas a “impressão psíquica desse som”.

FIGURA 8 - O SIGNO LINGUÍSTICO BIPARTIDO EM CONCEITO E


IMAGEM ACÚSTICA

Conceito

Imagem
acústica

FONTE: Saussure (2006)

Saussure (2006) relembra que as palavras da língua (significante) são imagens


acústicas para nós. O signo linguístico, portanto, é a combinação do conceito (ordem
semântica) com a imagem acústica (ordem fonológica). Segundo Ernani Viotti (2003,
p. 21): “Ao impor uma formatação à massa amorfa do pensamento, a língua cria o
significado, que é um conceito. Ao impor uma formatação à massa amorfa fônica/
gestual, a língua cria o significante, que é uma imagem acústica (no caso das línguas
orais) ou ótica (no caso das línguas de sinais)”.

Sobre o questionamento que lançamos no primeiro parágrafo, sobre a


relação entre o nome e o conceito ser algo natural ou convencionado, Saussure
afirma que o signo linguístico é arbitrário. Isto significa dizer que não há uma
relação óbvia entre o significante (imagem acústica) e o significado (conceito).
Não há um motivo que justifique.

O autor cita o exemplo do signo mar: “a ideia de "mar" não está ligada por
relação alguma interior à sequência de sons /m-a-r/ que lhe serve de significante;
poderia ser representada igualmente bem por outra sequência, não importa qual”
(SAUSSURE, 2006, p. 81-82). Nesse sentido, o significante /mar/ poderia estar
associado a outro conceito qualquer. Não há uma relação óbvia entre eles. É nesse
sentido que o signo linguístico é arbitrário (não tem regras).

NOTA

Significante: a palavra – grafia e som (imagem acústica) no caso das línguas


orais ou os gestos, no caso das línguas de sinais.
Significado: O conceito ao qual nos remete o significante.

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UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

4 ESTRUTURALISMO E GERATIVISMO
No âmbito acadêmico existem correntes que defendem entendimentos
próprios em relação a determinados fenômenos ou objetos de estudo. A visão
sobre um conceito, por exemplo, pode ter definições distintas de acordo com a
linha de estudos “A” ou “B”. Nos estudos linguísticos, a primeira referência que
temos se chama Estruturalismo.

O estruturalismo é uma corrente de estudos linguísticos que, muitas vezes,


confunde-se com o surgimento da linguística moderna, já que surgiu na esteira das
ideias de Saussure. O autor suíço defendia que a língua se assemelhava a um jogo
de xadrez no qual o que interessa são as regras que determinarão o movimento
das peças. Não por acaso, em seu “Curso de Linguística Geral” Saussure afirmou
que a língua é um sistema cujas partes “podem e devem ser consideradas em
sua solidariedade sincrônica” (SAUSSURE, 2006, p. 102). Isso significa dizer que
cada elemento possui um papel funcional ao integrar o grande todo. Interessa,
então, pensar um elemento em relação ao outro, e não na função independente de
cada um. O exemplo do jogo de xadrez é uma analogia coerente com essa ideia:
recorde que cada peça do jogo (rei, rainha, cavalo, bispo, torre e peão) possui
movimentos predeterminados por regras que embasam o jogo.

FIGURA 9 – JOGO DE XADREZ: CADA PEÇA É MOVIDA POR REGRAS


PREDETERMINADAS

FONTE: Disponível em: <https://www.ibusiness.de/cgi-bin/resize/


upload/bilder/334866jg.jpg?maxheight=900&maxwidth=1600>.
Acesso em: 20 out. 2017.

Recentemente, você foi apresentado às dicotomias de Saussure e percebeu


que o entendimento delas nos condiciona a uma compreensão sistemática da
língua. Certamente, recordará que para Saussure a LÍNGUA era o principal objeto
de estudo da Linguística. Dentro dessa perspectiva, os estruturalistas entendem
a língua como forma (estrutura), e por isso são conhecidos – em um sentido mais
amplo – também como formalistas.

Além do estruturalismo, na metade do século XX registrou-se o surgimento


de outra importante teoria de base formalista: o gerativismo chomskyano.

16
TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA

FIGURA 10 – NOAM CHOMSKY

FONTE: Disponível em: <https://upload.


wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/bb/
Noam_Chomsky%2C_2004.jpg/1200px-Noam_
Chomsky%2C_2004.jpg>. Acesso em: 20 out. 2017.

Fato incontestável é que por quase meio século o estruturalismo dominou


os estudos linguísticos até o surgimento do gerativismo, em 1957, com a publicação
da obra “Estruturas Sintáticas”. Noam Chomsky, o precursor desta corrente,
nasceu na Filadélfia (Estados Unidos da América) em 1928. Entre tantas das suas
contribuições científicas, a mais representativa para os estudos linguísticos é a
Sintaxe Gerativa.

Se para Saussure a linguística deveria descrever os elementos fundamentais


do sistema linguístico, para Chomsky (2004) a linguística deveria explicar o caráter
gerativo das línguas naturais. Na verdade, Chomsky não nega a relevância do
descritivismo característico do estruturalismo, mas entende que qualquer falante
da língua pode gerar uma infinita quantidade de sentenças.

Segundo Eni Orlandi (1986, p. 37), Chomsky propõe “uma teoria a que
chama de gramática e centra seu estudo na sintaxe. Esta, segundo ele, constitui
um nível autônomo, central para a explicação da linguagem. A finalidade dessa
gramática não é ditar normas, mas dar conta de todas (e apenas) as frases
gramaticais, isto é, que pertencem à língua". Ainda hoje o Gerativismo inspira
importantes estudos no âmbito dos estudos linguísticos.

Você recorda das análises sintáticas que fazia no Ensino Médio na


disciplina de Língua Portuguesa? Muito do que hoje se entende por sintaxe se
deve aos estudos gerativistas da década de cinquenta e aos seus desdobramentos.

17
UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

FIGURA 11 – ANÁLISE SINTÁTICA

FONTE: Chomsky (2004)

Para o Gerativismo importa a forma, a língua como sistema. Nesse sentido,


tanto o Estruturalismo como o Gerativismo são teorias que encontram afinidades
significativas uma na outra. E são justamente essas afinidades que possibilitarão
a crítica e, por conseguinte, o surgimento de uma terceira onda nos estudos
linguísticos: os estudos de base funcionalista. Agora, já não mais apenas a Língua,
mas também os aspectos de mudança e variação como parte da grande Língua.

5 FUNCIONALISMO: A TERCEIRA ONDA DOS ESTUDOS


LINGUÍSTICOS
Observamos, até o presente ponto, duas correntes focadas na forma (o
Estruturalismo e o Gerativismo). Foi em contraposição às ideias defendidas por ambas
as teorias que, na década de setenta, surgiu o que hoje conhecemos por Funcionalismo
linguístico, apesar de anteriormente já existirem registros esparsos do que mais tarde
surgiu como uma teoria linguística. De acordo com Fiorin (2003, p. 22), "a gramática
funcional leva em consideração o uso das expressões linguísticas na interação verbal;
inclui na análise da estrutura gramatical toda a situação comunicativa: o propósito do
evento da fala, os participantes e o contexto discursivo".

O Funcionalismo está ligado ao Círculo Linguístico de Praga, local onde


foram gerados importantes estudos para o desenvolvimento desta corrente. As
teses de Praga são nove teses que englobam estudos que se dedicam ao estudo
da língua, sempre utilizando por base o estudo do tcheco e das línguas eslavas.

Fiorin (2003, p. 23) afirma que os desdobramentos que o Funcionalismo


apresenta na atualidade "concordam com o fato de que a língua é, antes de tudo,
instrumento de interação social, usado para estabelecer relações comunicativas
entre os usuários". Isso significa dizer que, para os funcionalistas, é na parole
(fala) que se encontra o grande fenômeno linguístico de interesse dos seguidores
desta corrente de estudos.

18
TÓPICO 1 | UMA VISÃO GERAL DA LINGUÍSTICA

NOTA

Você se lembra da hipótese linguística de Sapir-Whorf que mencionamos


ao falar sobre o filme “A Chegada”? Eduard Sapir é um dos linguistas referenciais para o
funcionalismo linguístico. Foi ele quem, com Benjamin Lee Whorf, postulou a hipótese
linguística de que o pensamento humano é moldado pela linguagem e pela cultura.

FIGURA 12 – EDUARD SAPIR

FONTE: Disponível em: <http://linguisticanthropology.org/wp-


content/uploads/2014/06/et0924b.jpg>. Acesso em: 20 out.
2017.

Você recordará que para o Estruturalismo havia a dicotomia Língua e


Fala (Langue e Parole). Já para o Funcionalismo não há essa divisão, visto que
esta corrente enxerga a Língua e a Fala como uma mesma entidade. O bloco
funcionalista nos estudos linguísticos se preocupa com questões ligadas à
língua (sistema), à linguagem (formas de manifestação desse sistema) e à fala
(manifestação individual do falante). São os estudos funcionalistas que permitem,
por exemplo, que se diga que o objeto da linguística hoje é a Língua, a Linguagem
e a Fala, tal como a definição que apresentamos nos pressupostos fundamentais
para o estudo da linguística nesta unidade.

19
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Existe uma série de parâmetros básicos para o estudo da Linguística.

• O marco de fundação da Linguística moderna foi fundado na figura de


Ferdinand de Saussure.

• Existem delimitações conceituais dos termos Língua, Fala, Linguagem e


Linguística.

• Existiram três fases pelas quais passaram os estudos linguísticos.

• As dicotomias saussurianas de língua e fala, sincronia e diacronia, sintagma


e paradigma e significante e significado são importantes para o estudo da
linguística.

• As principais correntes linguísticas do século XX.

20
AUTOATIVIDADE

1 Marque a questão incorreta:

a) A Diacronia se ocupa com a língua através de um recorte, ao passo que a


Sincronia se preocupa com as transformações da língua através do tempo.
b) O paradigma é o âmbito das possibilidades, já o sintagma é a realização das
escolhas paradigmáticas.
c) O significante se constitui por uma imagem acústica e o significado constitui
o conceito ao qual se atrela o significante.
d) A linguagem é heteróclita e a língua é organizada.
e) No sintagma não se combinam quaisquer elementos aleatoriamente.

2 Considere as seguintes afirmações:

I - Enquanto a língua é um sistema de regras de uso coletivo, a fala é um ato


individual de enunciação que concretiza a língua.
II - A Linguagem é heteróclita e multifacetada.
III - A Filologia constitui a terceira fase que antecedeu a Linguística como
disciplina moderna.
IV - A Gramática trata das regras da língua.
V - O Curso de Linguística Geral é uma obra póstuma, encontrada nos pertences
pessoais de Saussure e publicada posteriormente por dois ex-alunos do mestre.

Assinale a alternativa correta:

a) ( ) I, II, III, e V estão corretas.


b) ( ) V e II estão incorretas.
c) ( ) III e V estão incorretas.
d) ( ) Somente a V é correta.
e) ( ) Todas as alternativas estão incorretas.

21
22
UNIDADE 1
TÓPICO 2

LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA

1 INTRODUÇÃO
No Tópico 1, você foi introduzido aos estudos linguísticos. Aprendeu conceitos
importantes, conheceu autores notórios e descobriu que existem teorias linguísticas
que são fundamentais para o conhecimento desta disciplina. Agora, munido dessas
informações, você está apto para adentrar no Tópico 2, no qual discorreremos sobre
o que se entende por Linguística Teórica da Língua Espanhola no âmbito científico.

Neste aprendizado, possivelmente você deve estar se questionando: se a


linguística geral engloba as perspectivas sincrônica e diacrônica, qual perspectiva
abarcará a linguística teórica?

A linguística teórica se propõe a entender como o idioma se organiza,


tentando compreender minimamente cada uma das partes (fonemas, morfemas,
orações, discursos) que o conformam como tal. Hernández de Mota (2000, p. 60)
afirma que:

La lingüística teórica o descriptiva se encarga de definir la forma como


un idioma está organizado (estructura gramatical) descubriendo las
unidades que lo conforman y determinando su posible combinación
para expresar diversos significados; también investiga la utilidad
y el nivel jerárquico de cada uno de sus elementos, ej. los sonidos
se unen para formar morfemas; una palabra forma parte de una
frase; una frase es elemento constitutivo de una oración y, a su vez,
las oraciones se conectan entre sí para formar unidades complejas
denominadas discursos.

Compreender como se organiza a linguística teórica em língua espanhola


é importante para que entendamos como o estudo dessa disciplina pode ser
funcional no processo de ensino e aprendizagem da língua espanhola, quando
podemos lançar mão de subsídios e ferramentas para melhor compreender o
idioma que visamos aprender.

23
UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

2 PERSPECTIVAS DE ESTUDO DA LINGUÍSTICA TEÓRICA


A linguística teórica se divide basicamente em áreas de especialização: a
fonética, a fonologia, a morfologia, a sintaxe, a análise do discurso, a pragmática
e a semântica. Cada uma dessas áreas se ocupa de aspectos específicos da
linguagem. Você recorda que no Tópico 1 vimos que a linguagem é definida
como multifacetada (possui várias faces) e que também abrange vários
domínios, sendo então "física, fisiológica e psíquica"? (PETTER, 2003, p. 9). É
no âmago destes desdobramentos que se dividem as áreas de especialização da
linguística teórica.

FIGURA 13 – RAMOS DA LINGUÍSTICA

Linguística

Teórica Aplicada

Fonética Psicolinguística
Fonologia Sociolinguística
Morfologia Neurolinguística
Sintaxe Linguística matemática
Análise discursiva Linguística computacional
Pragmática Outras

FONTE: Mota (2000)

Fonética

No âmbito da linguística teórica, a Fonética é a disciplina que vai se


ocupar de como se pronunciam os sons que formam parte da linguagem humana.
De acordo com Mota (2000, p. 62), a Fonética "Describe cómo es producido cada
sonido fisiológicamente: qué órganos vocales entran en juego, de dónde proviene
y cómo se conduce el aire empleado en su producción y otras características
importantes". Isto significa dizer que a Fonética se preocupa com a articulação
das palavras no aparelho fonador.

Já vimos que o signo é composto pelo significante e pelo significado.


A Fonética se preocupa justamente com a parte significante, jamais com o
significado. Você também já deve ter percebido que ao aprendermos uma nova
língua, com frequência nos deparamos com sons que não existem ou que estão
em desuso no português. Um exemplo clássico é o /r/ em espanhol. Você recorda
o som que este /r/ faz no começo de palavras como “Ratón” “Ritmo” e “Ruta”?
Observe a figura a seguir:

24
TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA

FIGURA 14 – APARELHO FONADOR

Fossas nasais
Palato
Abóbada palatina Véu palatino

Alvéolos Úvula
canal respir
Lábio superior

at
Língua

ório
Dentes superiores Faringe
Dentes inferiores
Lábio inferior Epiglote

Laringe
Cordas vocais

FONTE: Disponível em: <http://blogdelinguistica.blogspot.com.br>. Acesso em: 7


ago. 2017.

Ao pronunciarmos estas palavras pronunciamos um /r/ vibrante. Para


conseguir alcançá-lo precisamos elevar a língua até os alvéolos, vibrando-a
(localize os alvéolos na figura). Esta é a particularidade deste som. Ao pronunciar
as palavras em língua espanhola é importante que saibamos como fazê-lo e é
justamente neste aspecto que o conhecimento da Fonética da língua espanhola
pode ser uma ferramenta de grande auxílio no processo. No exemplo dado,
mencionamos o caso da letra /r/ (que de acordo com a fonética possui duas
possibilidades de pronúncia). Tanto a produção de vogais como as consoantes
poderão ser descritas pela Fonética.

Fonologia

Se a Fonética se preocupa com a acústica, com os sons que o nosso aparelho


fonador é capaz de fazer para pronunciar o aspecto significante do signo, a
Fonologia se preocupa com a função e a organização do sistema sonoro da língua.
Como você pode perceber, são áreas irmãs no âmbito dos estudos linguísticos. Ao
se preocupar com a funcionalidade da fala, a Fonologia se preocupa com questões
de diferenciação entre os fonemas no processo de produção de sentido, como
no caso dos pares mínimos. Mota (2000) relembra que, ao se comparar os pares
mínimos, «muro / duro», «mudo / dudo» y «mimo / mido», logo se comprova que
os sons de /m/ e /d/ são fonemas diferenciados, pois a existência deles é capaz de
modificar completamente o sentido e a função de uma palavra. Outra função da
fonologia é pensar a estrutura silábica de uma língua, conforme exemplifica Mota
(2000, p. 63) ao comparar a estrutura silábica do maia (Consoante+vogal+consoante)
com o espanhol (consoante+vogal): “los patrones que forman (estructura
silábica), por ejemplo, en los idiomas mayas predomina la secuencia de sonidos
consonante+vocal+consonante (CVe) como en hin-q'ab' (mi mano en qanjob'aL) y
en el español la combinación consonante+vocal (CV) como en «si-lla»”.

25
UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

NOTA

Na atualidade, mais de seis milhões de pessoas falam o maia. Sua maior


ocorrência se dá na América Central e parte da América do Norte (sul do México),
especialmente em países como Guatemala, México e Belize. É uma das línguas indígenas
mais antigas de que se tem notícia e seus primórdios antecedem o período pré-colombiano
(descoberta da América).

Sintaxe

Você recorda que quando falamos sobre o gerativismo de Noam Chosmky


mencionamos a existência de uma sintaxe gerativa? Dentro daquela perspectiva
importava a forma. A Sintaxe é o ramo da linguística teórica que vai se preocupar
com as regras que permitem que se combine as palavras de forma linear, ou,
como afirma Mota (2000, p. 64), "de manera que se formen unidades mayores
de significado tales como frases y oraciones; la posibilidad de combinación
es infinita". É a língua em seu aspecto horizontal, é a realização que se dá no
sintagma. Observe a seguinte frase em espanhol:

FIGURA 15 – ANÁLISE SINTÁTICA

Oración
El periodista escribió un artículo para el periódico.

frase nominal frase verbal

artículo substantivo verbo frase nominal frase preposicional

artículo substantivo preposición frase nominal

artículo substantivo

El periodista escribió un artículo para el periódico

FONTE: Mota (2000)

No exemplo dado percebe-se a função de cada um dos elementos da frase


“El periodista escribió um artículo para el periódico”. A Sintaxe, então, ocupa-
se de compreender a relação estabelecida entre cada um desses elementos. Esta
relação se dá em função de regras previamente estabelecidas.

26
TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA

Morfologia

Se a Sintaxe se preocupa com a organização das palavras no sintagma,


a morfologia se preocupa com a estrutura das palavras como unidades. Esta
disciplina estudará a constituição das palavras através das unidades mínimas
de significado (morfemas). A classificação dos morfemas se dá por morfemas
independentes e morfemas dependentes.

Os morfemas independentes possuem significado por si só sem necessitar


que se unam com outro morfema (ocorre em palavras como: aunque, pero, desde,
ella, él, azul, árbol, leche).

Já os morfemas dependentes são aqueles que precisarão unir-se a outros


para constituir um significado. Os morfemas derivacionais prefixais, ou prefixos,
se colocam antes da raiz (ou radical), modificando seu significado original. Um
exemplo de prefixo em língua espanhola são as unidades "An" e "A". Ambos
sinalizam negação ou anomalia: analfabeto; amorfo.

Além dos prefixos (que vêm antes), há também os sufixos (que vêm depois).
O sufixo "Filia", por exemplo, significa aficção por algo que está representado pela
palavra raiz. É o caso de "bibliofilia" (aficção por livros) e "francofilia" (aficção pela
língua francesa). Cabe salientar, contudo, que o âmbito dos estudos morfológicos
constitui uma disciplina bastante completa. Os exemplos de morfemas que você
acabou de ver constituem uma partícula mínima do que pode vir a ser estudado
nessa disciplina.

Semântica

No âmbito linguístico, a Semântica estudará o significado das palavras.


Em espanhol, também é conhecida pelos nomes de onomasiología, semología,
semasiología y sematología (RAIMONDO, 1991, p. 251 apud Mota, 2000). O que
importa entender é que a semântica se preocupará com a acepção individual ou
não de palavras, frases, morfemas e orações. Entre outras atribuições, a Semântica
preocupa-se com:
La construcción de definiciones para los vocablos de un idioma (léxico),
con base en rasgos que le son característicos (semas), ej. Mujer: especie:
+humano; sexo: +femenino; edad: [+adolescente, +joven, +adulto, +
anciano]; número: [+individual, + colectivo].
Mujer: Ser humano de género femenino, pudiéndose asignar este
término desde la etapa de la pubertad hasta la vejez, dependiendo
de la cultura, para denotar una persona en particular (<<Esa mujer
es interesante») o un grupo colectivo (<<La mujer y su papel en la
sociedad»). En algunos contextos, durante la etapa de la infancia y
la niñez la palabra es empleada con fines de identificación de género
(<<Fue una mujercita» -la bebé que nació-) (RAIMONDO, 1991, p. 251
apud MOTA, 2000, p. 66).

27
UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

Se pensarmos em comparação com a sintaxe, que se preocupa com a


estrutura da língua e como ela se realiza no sintagma, a semântica vai se preocupar
com o significado da realização sintagmática. Muitas vezes, você já deve ter se
preocupado com o significado de uma palavra ou de uma frase específica. Em
linhas gerais, essa é uma preocupação de ordem semântica. Nos domínios da
linguística teórica esta é uma área de grande importância, visto que observa a
língua no âmbito da sua realização.

Análise do Discurso

Se a Semântica se preocupa com o significado de unidades menores (como


palavras, frases e orações), a análise do discurso vai se debruçar sobre as unidades
maiores que a oração, como os parágrafos, os textos e os discursos. De acordo com
Mota (2000), este ramo dos estudos linguísticos vai se preocupar com aspectos
como o conteúdo, a coesão, a coerência, os referentes linguísticos e a temática.

Foi o filósofo francês Michel Pêcheux (1938-1983) um dos grandes baluartes


da análise do discurso francês. Entre as principais obras do autor, destaca-se
"Análise Automática do Discurso" (1969), “O discurso: estrutura ou acontecimento”
(1983) e “Semântica e discurso: uma crítica da afirmação do óbvio” (1975).

FIGURA 16 – MICHEL PECHEUX (1938-1983): UM DOS GRANDES


EXPOENTES DA ANÁLISE DO DISCURSO

FONTE: Disponível em: <http://www.labeurb.unicamp.br/portal/


UserFiles/Image/Michel1.JPG>. Acesso em: 24 out. 2017.

Pragmática

A Pragmática se centra, fundamentalmente, no uso que as pessoas dão ao


seu idioma em contextos distintos. Este uso pode estar mediado por uma intenção
definida. É o usar a língua para a produção de efeitos e geração de significados
específicos. São importantes vários elementos, tais como:
• El efecto de lo que se dice o escribe en los demás.
• La función del contexto, del conocimiento previo y de las experiencias
socioculturales en la expresión y la interpretación. Tannen (2000)
menciona que en la India, las normas de cortesía sugieren que si
alguien expresa admiración o gusto por algo que lleva su interlocutor,

28
TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA

se espera que lo admirado le sea obsequiado; en América, la intención


al expresar admiración conlleva únicamente agrado y nada más.
• «La forma como se establece, se mantiene y se modifica la relación
entre interlocutores» o participantes en el acto comunicativo
(RAIMONDO, 1991, p. 174 apud MOTA, 2000, p. 72).

Para pensar na importância da Pragmática, pensemos em uma figura de


linguagem chamada ironia. Ao fazer um exame de memória, você seria capaz
de lembrar quantas vezes já se valeu deste recurso para comentar algo? Ou
então, quantas vezes alguém já utilizou esta figura com você? Se você não for
adepto a este uso, talvez consiga recordar quantas vezes utilizou. Contudo, há
muitas pessoas que usam a ironia com muita frequência. Se você for uma delas,
certamente não conseguirá contar quantas vezes já a utilizou. O exercício da
ironia em um discurso é uma função cabalmente analisada pela Pragmática.

3 AS LINGUAGENS ESCRITA E ORAL E SEUS PADRÕES


No primeiro tópico, você aprendeu que a Língua é um grande sistema
organizado e que constitui a parte social da linguagem. Já no segundo tópico,
conheceu as diversas formas de se estudar essa língua. Nesta etapa, chegou o
momento de compreendermos um conceito que é indispensável quando queremos
ensinar ou aprender uma língua estrangeira: a norma estándar.

Você já deve ter percebido que a linguagem, por ser multifacetada, pode
ser adequada a diversas situações comunicativas. Esta adaptabilidade se percebe,
por exemplo, quando você precisa se dirigir ao reitor da universidade onde estuda
ou a alguma autoridade. De acordo com a norma, no trato com essas pessoas é
indispensável que utilizemos uma linguagem formal, mediada por pronomes de
tratamentos (como Vossa Senhoria, Excelentíssimo, no caso do português), assim
como outras palavras e expressões específicas. Em língua espanhola, essa forma
de se comunicar é orientada pelo que se entende por norma estándar (padrão).

O tratamento formal difere, por exemplo, do modo como nos comunicamos


com pessoas com as quais temos intimidade (familiares, conhecidos e amigos
íntimos). De acordo com Mota (2000, p. 40):

Las normas definen lo que es y no es permitido con uno u otro grupo;


algunas comunidades optan por un lenguaje coloquial para con los
familiares mientras otros/ especialmente en relación a los padres,
prefieren el uso de un tono formal. Las normas sociales determinan
cómo debe la gente expresarse según la intención (saludar, agradecer,
pedir, amenazar etc.), la audiencia (tipo de oyente o lector), el lugar, el
medio de comunicación etc.

A linguagem escrita, em língua espanhola, é normatizada por entidades


como a Real Academia Española e pela Associação de Academias de Língua
Espanhola. Este padrão de linguagem escrita se impõe frente às variações sociais
e locais, em uma tentativa de unificar o idioma no plano textual, respeitando as
particularidades de cada situação comunicativa.
29
UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

Nos exemplos a seguir selecionamos dois tipos de cartas redigidas para


autoridades. O texto 1 trata de uma carta escrita pelo presidente do governo
espanhol Mariano Rajoy e dirigida ao presidente do governo da Catalunha. Já no
texto 2 se reproduz uma carta escrita por uma criança de oito anos e destinada ao
presidente da Bolívia, Evo Morales.

Carta do presidente do governo da Espanha (Mariano Rajoy) ao


presidente do governo da Catalunha.
Texto 1:

Estimado President:

Contesto la carta que me ha remitido, a la que adjunta el acuerdo


aprobado por el Gobierno de la Generalitat de Cataluña, mediante el cual
se solicita al gobierno español el inicio de negociaciones sobre los términos
y las condiciones para la celebración de un referéndum en Cataluña, así
como la Moción 122/XI aprobada por el pleno del Parlament de Cataluña
el pasado 18 de mayo.
Como usted sabe, mi voluntad de dialogar y de llegar acuerdos con
E la Generalitat de Cataluña, como con cualquier otro gobierno autonómico,
es plena y sincera. Esta disposición al diálogo y a la cooperación entre
administraciones ha quedado de manifiesto a lo largo de estos años, en
S
los que hemos llegado a numerosos acuerdos y prestado toda nuestra
colaboración a la Generalitat. Son muchos los ámbitos en los que dicha
P
colaboración ha redundado en beneficio de los ciudadanos de Cataluña.
He tenido ocasión de reiterarle, tanto en público como en privado, las
A
obligaciones constitucionales que comporta tanto mi cargo como el suyo. La
primera de ellas, ineludible para mí, es la defensa del orden constitucional.
N A nadie se le oculta que la propuesta política a la que se me invita consiste
en pactar con el gobierno que usted preside, la forma de vulnerar el núcleo
H esencial de la Constitución española.
(…)
A Como gobernante y representante del Estado, le invito a recuperar
los planteamientos que, lejos de generar desencuentro y frustración, se
ajusten al común marco de convivencia y respondan a las necesidades
reales de los catalanes, y desde esa posición, logremos encontrar espacios
de acuerdo en beneficio de todos.

Mariano Rajoy Brey

Presidente del Gobierno

Fonte: http://www.lamoncloa.gob.es/presidente/actividades
Paginas/2017/250517rajoycataluna.aspx

30
TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA

Texto da atriz Kate del Castillo sobre a existência


Texto 2:

Es increíble la manera en que me mira, como resguardando,


aceptándome con todo y mis noches de nostalgia, mis días de tristeza, mis
despertares bañada en llanto, mis noches de lujuria, mis tardes filosóficas,
mis borracheras en soledad hasta quedarme dormida. Me mira sin juzgar.
Aquí en este lugar que decidí llamar mi hogar, HOME. Mi único YO, donde
floto, donde me vuelvo niña y a madrazos me he vuelto mujer, donde soy
simplemente YO. Nada se mueve, nada existe sin que yo lo decida…lo
he hecho mío. Un espacio. Un vacío que llené de mí a base de lágrimas,
rechazo, lucha, alegrías, amor y desamor, crecimiento y madurez, cómo
duele madurar, duele crecer, cabrón duele. Su mirada me penetra y sonrío.
Hasta lo más difícil que es ir en contra de mi misma, me ha costado mi
hogar, home. Dejar, deshacerme, desligarme de…lo que creí era mío. Yo sé
que nada me pertenece, que cuando muera, me iré sin maletas, sólo recuerdos
y lo poco que quedará de mí, que será mucho pues…satisfacciones, tanto
amor, tantas risas, tanto reconocimiento que tal vez no merecía, pero eso sí,
plena, satisfecha y feliz me iré porque habré hecho y deshecho. Me habrán
M amado profundamente; he sido una mujer muy amada lo sé y tengo muy
mala memoria pero de eso sí me acuerdo y para siempre, me han amado.
É Desde siempre me han amado.
Más de lo que yo he amado tal vez y no es que no haya amado con
X todo lo que soy, apasionada y profundamente, es que … apenas me di cuenta.
Estoy aprendiendo a amar. Su mirada me da consuelo.
I Nunca me he sentido tan vacía y tan feliz. Nunca me he sentido
tan feliz pero tan vacía. Como sea da igual. Me doy las gracias a MÍ. Sólo
a mí; por haber querido ser quien no era, como Dalí, mi ambición ha ido
C en aumento, ahora quiero ser KATE y lo estoy consiguiendo. La cultura, el
poder, el conocimiento, la política, Hollywood, premios, no me darán una
O mejor tumba. Ser feliz será lo único que me dará a mí y a mis seres queridos
paz cuando me vaya. Le entregaré cuentas al señor cuando me pregunte si
fui feliz porque a eso me mandó no? Y tal vez mis cuentas se lean algo así:
LA PASÉ DE LA FREGADA,SIEMPRE QUISE MÁS Y MÁS, A LO
TARUGO ME PUSE INTENSÍSIMA, ESPERÉ MÁS DE LA GENTE,ME
ENOJÉ POR TONTERÍAS,ME CALLÉ CUANDO NO DEBÍ,ODIÉ,
ENVIDIÉ,ME TRAICIONÉ, MALDIJE, JUZGUÉ …
… pero también me apasioné como desquiciada, me encabroné, me
agarré a madrazos por amor, tuve pasión por mi profesión, defendí mi familia
con los dientes, enloquecí de amor, tuve amistades que me sostuvieron las
miles de veces que caí destrozada, viví intensamente, me lastimaron en lo más
profundo, lastimé yo aún más, sentí morirme. Pero señor, no me arrepiento
de un sólo momento, de una sola decisión porque por más estúpidas que
fueron, salieron de mis entrañas, de mi par de ovarios, de mi corazón, de
mi cabeza … de mí pues. Lucho y me hago más fuerte. FORTALEZA. Vivo
y me hago más vulnerable.
VULNERABILIDAD. Siento su mirada, sin ver, puro amor, amor puro.
El “saber” me preocupaba tanto de chavita, quería dejar claro que no era
tonta, era quien no quería ser y peor aún, quien no era ni seré. La vida es un instante
de verdad, me da tristeza reconocerlo. Sólo quiero atenderme, sólo así podré superar

31
UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

la idea de que esto va a terminar algún día. Soy romántica y cariñosa aunque me
digan que tengo cara de cabrona. También soy bien cabrona. La vida en pareja es
lo más maravilloso y divertido que me ha sucedido aunque ha sido breve, pero
divino. Sólo si me atiendo podré ser liviana para mí. Para quien llegue a tomarme
de la mano para caminar juntos riéndonos de habernos encontrado hasta ahora y
sin lamentarnos el no habernos encontrado antes y que me calle con un beso largo
y lento, lleno de vivencias, de vidas vividas por separado y después, formar una
familia. Yo sé que llora al verme rota, toda rota.
La muerte es egoísta. Los que nos quedamos la pasamos de la fregada. Por
intereses personales : extrañamos, nos duele no volver a estar juntos nunca más, nos
encontramos perdidos sin saber enfrentar nuestros propios elementos. Si pensáramos
más en los “idos” y menos en nuestro dolor, no nos sería tan dura su partida. La
muerte es EGO. Aunque los vacíos siempre serán eso, VACÍOS. Pero su mirada, su
pequeñísima presencia llena en ese momento mi vacío.
Mi corazón ha sido pisoteado, escupido, apuñalado, tiene moretones aún pero
ha sanado no una varias veces a través de mi vida, sin embargo, me siento orgullosa de
él porque todavía ama con toda su fuerza. Hoy brindo por ser capaz de sentir, de amar,
por el privilegio de sentirme viva y que dure lo que tenga que durar. Mientras tanto…
AQUÍ ESTARÉ.
Tú, sólo tú me conoces más que yo misma.
Kate
“Los vacíos nunca se llenan, déjalos en paz, siempre hay “llenos” que
necesitan más de tu atención, ellos te darán la mayor satisfacción, ver los vacíos
como llenos.”- Yo
“Que nos atrevamos a salir del cubo llamado SOCIEDAD y así logremos amar
sin ataduras para ser… simplemente libres” – Yo mera. Es un quote de mi libro TUYA.
-“Qué quisiera ser?”
-“Dalí. Cuando tenía 4 años quería ser cocinero, a los 6, Napoleón y
desde entonces mi ambición ha ido aumentando; ahora quiero ser Dalí y lo estoy
consiguiendo.” Salvador Dalí

Kate del Castillo. Disponível em: https://twitter.com/katedelcastillo/


status/287700906210885632 Acesso em 17 abr 2018.

No primeiro texto, percebemos uma manifestação cabal do uso da


norma culta – ou do espanhol dito estándar -, no qual o autor respeita o padrão
da linguagem escrita e se dirige formalmente a outra autoridade. Já no segundo
texto, percebe-se a ausência significativa de sinais de pontuação. No entanto,
coexistente com a não pontuação (se considerarmos que o texto supostamente
foi escrito por uma criança de oito anos – o que é questionável), percebe-se uma
notável tentativa de adequação linguística no que diz respeito ao destinatário. Ao
longo da explanação, em nenhum momento a autora refere-se ao presidente de seu
país de outra forma senão como “Señor Presidente” ou “Distinguidísimo Señor
Presidente”, o que – neste aspecto – se compatibiliza com a norma estándar. Ambos
os exemplos explicitam uma faceta do padrão da linguagem escrita normatizada
pela Real Academia Española: um que se escreve por completo dentro da norma
e outro que almeja alcançar este padrão. De acordo com Demonte (2005, p. 3):
El estándar es, además de la supravariante de prestigio, el conjunto
“borroso” de rasgos y procesos fonéticos, morfológicos, sintácticos y
léxicos que se describirían en parte en algunas gramáticas normativas,

32
TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA

en las lenguas que las formulan. Así las cosas, los rasgos y procesos de
una variedad estándar no configuran un sistema, un todo exhaustivo y
homogéneo, sino que surgen por contraste y debilitación de los rasgos
y procesos considerados regionales, rurales, marginales, anormales,
inapropiados, incorrectos, entre otras denominaciones posibles.

A língua estándar refere-se, basicamente, à linguagem escrita. Quando


falamos em linguagem oral, o termo mais adequado é a neutralidade. A
neutralidade – ou a tentativa de alcançá-la – consiste na eliminação de gírias e
expressões regionais na articulação oral do idioma. Esta é uma linguagem muito
utilizada nos meios de comunicação internacional (por exemplo, nos canais de
televisão internacionais, ou em produtos audiovisuais de exportação, como as
séries e novelas). Cabe sinalizar que na linguagem oral é impossível haver um
único espanhol neutro, tendo em vista a variedade dialetal existente neste idioma.
No entanto, há esforços significativos para se tentar encontrar um meio-termo
entre os regionalismos e as expressões linguísticas típicas de cada país.

FIGURA 17 – PAÍSES DE LÍNGUA ESPANHOLA

FONTE: Disponível em: <http://culturahispana2f.blogspot.com.br>.


Acesso em: 20 set. 2017.

NOTA

Você sabia que existem diversas formas de falar o espanhol no mundo? Assim
como na língua portuguesa, que possui variantes dentro de cada país e também nos demais
países falantes deste idioma, no mundo hispânico cada país possui sua variante específica e dentro
de cada variante existem outras variantes. A linguagem, viva e composta pelas distintas culturas
que a conformam, se modifica a todo momento e caracteriza geograficamente os falantes do
idioma. Isto significa dizer que o espanhol, como a terceira língua mais falada do mundo (com
500 milhões de falantes), pode ser ouvido de forma distinta de acordo com o país onde se está,
havendo variantes distintas na Argentina, no Chile, no México, na Espanha e em outros países. O
estudo dessas variantes estará ligado à Sociolinguística, um braço da Linguística Aplicada.

33
UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

DICAS

Você conhece o “Tu Babel”? Trata-se de uma plataforma colaborativa que serve
para esclarecer as distintas gírias usadas em países hispanofalantes. Você pode consultar o
termo como em qualquer outro dicionário. Vale a pena dar uma conferida! Acesse: <http://
www.tubabel.com/>.

A tentativa de neutralidade no âmbito oral pode ser percebida em três


manifestações: a) no espanhol europeu, falado na Espanha; b) no espanhol rio-
platense, falado na Argentina e no Uruguay; c) no espanhol pautado na variante
mexicana, que se disseminou na América Central, nos Estados Unidos e em
grande parte da América Latina.

Estes três padrões de neutralidade se apresentam, sobretudo, em função


de domínio geoestratégico em âmbito audiovisual (na tradução e dublagem de
filmes, novelas e seriados). Os três são igualmente aceitos e, ao menos oficialmente,
não há hierarquia instaurada entre eles.

4 A CONSTITUIÇÃO DAS LÍNGUAS NEOLATINAS


De acordo com a Enciclopédia de Sistemas Escritos e Linguagens
(Omniglot), na atualidade existem aproximadamente 6.703 línguas. Alguma vez
você já questionou a razão da existência de tantos idiomas distintos? Este é um
questionamento que há muito intriga a humanidade.

FIGURA 18 – GUSTAVE DORÉ: TORRE DE BABEL. UM DOS


PRIMEIROS MITOS ASSOCIADOS AO SURGIMENTO DAS LÍNGUAS

FONTE: Doré (2008)

34
TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA

Ao longo da história da humanidade tentou-se responder este


questionamento de distintas formas. Há explicações míticas, bíblicas e científicas.
Independentemente da explicação que se observe, sempre seremos direcionados
para a história.

O fato incontestável é que cada língua possui o seu próprio processo


constitutivo e a compreensão do surgimento de cada uma delas está ligada aos
estudos linguísticos de matriz diacrônica. Para que possamos compreender
melhor o processo de surgimento da língua espanhola no subtópico seguinte,
dediquemos um pouco de atenção a uma língua que certamente você já ouviu
alguém falar sobre: o Latim.

O latim é uma língua indoeuropeia (da Europa e Ásia meridional). Na


Roma antiga era a língua oficial do Império Romano. Por qual razão para nós,
falantes do português e do espanhol, é tão importante esta língua que já não
mais se fala? A razão, apesar de estar ligada a uma historicidade complexa,
em linhas gerais é simples: com a expansão do Império Romano pelo território
europeu, o latim foi gradualmente sendo instituído como língua em lugares
muito distantes do território da Roma antiga. Graças a esta expansão surgiram
línguas descendentes do latim, as chamadas línguas romances. Essas línguas, na
atualidade, são conhecidas como francês, espanhol, português, romeno, catalão,
italiano, valenciano, galego, aragonês, entre outras.

FIGURA 19 – IMPÉRIO ROMANO

FONTE: Disponível em: <http://mihistoriauniversal.com/wp-content/uploads/


mapa-imperio-romano.jpg>. Acesso em: 20 set. 2017.

35
UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

Nas colônias romanas falavam-se variações dialetais do latim vulgar. São


essas variações que possibilitaram o surgimento das línguas que mencionamos
anteriormente. Veja o que diz o autor Jorge Fernández Jaén (2006, p. 15) sobre o
latim vulgar:
¿Qué es el latín vulgar? El latín, al igual que todas las demás lenguas, tenía
variedades lingüísticas relacionadas con factores dialectales (variedades
diatópicas), con factores socioculturales (variedades diastráticas), con
factores históricos y evolutivos (variedades diacrónicas) y con factores
relacionados con los distintos registros expresivos (variedades diafásicas);
pues bien, el latín vulgar (también llamado latín popular, latín familiar,
latín cotidiano o latín nuevo) era la variante oral del latín, es decir, el latín
que utilizaban los romanos (fueran cultos, semicultos o analfabetos) en
la calle, con la familia y, en general, en los contextos relajados. Se trata,
por tanto, de un latín que se aleja del latín clásico y normativo debido a
la espontaneidad y viveza que le otorga su naturaleza oral y cotidiana.
Esta variante diafásica de la lengua latina es de vital importancia puesto
que es de ella (y no del latín culto de la literatura y los registros formales)
de donde van a proceder las lenguas romances o románicas, y más en
concreto del latín vulgar del período tardío.

É justamente por esse motivo que, quando ouvimos alguém falar em


algum desses idiomas, somos capazes de identificar palavras parecidas com o
português. Dessa origem surgiu o mito de que o espanhol é uma língua fácil de
se aprender, dada a proximidade com o português (recorde-se que na Península
Ibérica Portugal e Espanha são países fronteiriços).

Observe a mesma frase retirada de Gênesis 1:1, escrito em línguas


neolatinas diferentes:

Latim In principio creavit Deus caelum et terram.


Português No princípio criou Deus o céu e a terra.
Espanhol En el principio crió Dios los cielos y la tierra.
Francês Dieu, au commencement, créa les cieux et la terre.
Italiano Nel principio Iddio creò il cielo e la terra.
Catalão Al principi, Déu va crear el cel i la terra.
Galego No comezo, Deus creou o ceo e a terra.
Romeno La început, Dumnezeu a creat cerul și pământul.

Se você observar cada uma das palavras, verá uma relação muito forte
entre elas, como no caso o “creavit” em latim, que se desdobrou em (criou, crió,
créa, creò, crear, creou e creat), ou então a palavra Deus (desdobrada em Dieu,
Dios, Iddio, Déu, Dumnezeu).

É graças à linguística sociocomparativa que hoje existem hipóteses


plausíveis sobre o surgimento das línguas. Gonçalves (2009, p. 9) menciona a
existência de uma protolíngua, uma língua que teria originado todas as demais:
36
TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA

Ao longo, principalmente, do século XVIII, estudiosos europeus


interessados em várias línguas e culturas começaram a perceber as
similaridades muito claras entre palavras de línguas que já se sabia
que eram aparentadas, como o grego e o latim, e línguas de regiões
muito afastadas da Europa Ocidental, como o sânscrito, língua sagrada
da antiga civilização dos Vedas, da Índia. Perplexos, os pesquisadores
começaram a estabelecer relações entre essas línguas e a maioria
das línguas faladas na Europa, e foram mapeando semelhanças que
constituíam evidência forte demais para levantar a hipótese de que
todas essas línguas teriam derivado de algum ancestral comum.

Esta protolíngua seria a fonte primogênita de todas as demais línguas.


Observe com atenção a figura elaborada por Gonçalves (2009):

FIGURA 20 – A GRANDE FAMÍLIA LINGUÍSTICA

FONTE: Gonçalves (2009)

Além das palavras que herdamos do latim cuja raiz hoje compartilhamos
com outras línguas romances, também se registra nas línguas portuguesa e
espanhola uma gama infindável de expressões que possuem origem na cultura
greco-romana. Como bem sabemos, o contexto de uso de uma língua está mediado
por diversos fatores socioculturais. Como o latim é a fonte de onde se originam o
português e o espanhol, é comum que muito do que falamos esteja ligado a esta
língua, ainda que muitas vezes não saibamos disso.

Leia atentamente a citação a seguir, retirada de um livro de Ana Maria


Machado intitulado “Como e por que ler os clássicos universais desde cedo”.
Nesta longa citação podemos complementar a ideia de que a linguagem é
heteróclita e multifacetada. Você vai se surpreender com a quantidade de
palavras do latim que utilizamos.

37
UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

A nossa linguagem está cheia de referências aos antigos mitos greco-


romanos, de tanto que eles nos influenciaram. Quando dizemos que
uma coisa é bacana, estamos fazendo uma alusão a Baco, o nome romano
do deus do vinho. Se alguém recebe um presente de grego, isso é uma
lembrança da guerra de Troia. Se lança o pomo da discórdia, também é.
Cada referência dessas remonta a toda uma história. Falamos em ouvir
o canto da sereia, em narcisismo, em complexo de Édipo, em caixa de
Pandora, em calcanhar de Aquiles - e cada uma dessas expressões se
refere a uma história grega diferente. Dizemos que uma coisa é uma
verdadeira odisseia, que alguém está fazendo um esforço hercúleo, que
o eco repete os sons - e com isso lembramos os personagens de Odisseus,
Hércules ou a ninfa Eco. O oceano Atlântico lembra a Atlântida e o
gigante Atlas, um vulcão era a chaminé da forja do deus Volcano, um
labirinto era onde vivia o Minotauro, as olimpíadas prestam tributo aos
deuses do Olimpo. Um desinfetante que se chame Ajax, uma revista de
companhia aérea intitulada Ícaro, uma empresa de informática com a
marca Medusa estão homenageando personagens mitológicos gregos
- com muita pertinência, porque há na história de cada um deles uma
explicação para a escolha desse símbolo. Uma foto erótica tem a ver
com o deus Eros, um fenômeno psíquico recorda sua amada Psiquê, e
qualquer coisa voluptuosa se refere à filha deles, Volúpia. A deusa do
amor, Afrodite, é lembrada nos afrodisíacos - e com seu nome romano,
Vênus, deixou sua marca nas doenças venéreas. As artes marciais têm
esse nome porque seu patrono é Marte, o deus da Guerra. Uma coisa
hermética é como se fosse guardada por Hermes, mensageiro dos
deuses, que não podia entregar suas mensagens a quem não fosse o
destinatário. Um cronômetro, uma cronologia e uma doença crônica
aludem ao deus do tempo, Cronos - cujo nome romano, Saturno, batizou
o dia de sábado em algumas línguas, como saturday, em inglês. Aliás,
outros deuses greco-romanos também patrocinam diretamente outros
dias da semana em outros idiomas: Marte (martes em espanhol, martedi
em italiano, mardi em francês), Mercúrio (respectivamente miércoles,
mercoledi, mercredt), Júpiter ou Jove (jueves, giovedi, jeudt), Vênus (viernes,
venerdi, vendredt). O deus Janus, de duas caras, uma olhando para a
frente e outra para trás, é homenageado pelo mês de janeiro, em que
um ano começa ainda próximo das lembranças do que terminou. A lista
seria interminável. Um delicioso catálogo do variadíssimo patrimônio
que a mitologia clássica nos deixou. Uma mãe ou pai atento pode se
divertir muito, revelando aos filhos as pistas dessa riqueza, brincando
de uma espécie de caça ao tesouro cultural. Um professor criativo pode
mobilizar sua turma durante muito tempo, procurando vestígios gregos
e romanos no nosso dia a dia (MACHADO, 2002, p. 29).

NOTA

Apesar de o texto se referir à língua portuguesa, as expressões latinas


mencionadas por Machado também possuem sua versão em língua espanhola.

38
TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA

5 A LÍNGUA ESPANHOLA E SUAS ORIGENS


Tratar sobre a origem de uma língua é uma tarefa bastante complexa. No
caso do espanhol, é preciso remontar à origem dos povos e das línguas faladas
na Península Ibérica antes da colonização romana. Sabendo da complexidade do
assunto e do caráter introdutório do presente material, nesta etapa partiremos da
romanização da Península Ibérica como ponto de eclosão da língua espanhola.

DICAS

Se você deseja saber mais informações sobre os povos e as línguas que eram
faladas na antiga Ibéria, não deixe de consultar o texto de Xose A. Padilla García intitulado
"Escrituras y lenguas en la hispania prerromana".
PADILLA GARCÍA, X. P. Escrituras y lenguas en la hispania prerromana. In.: História de la
lengua española (livro digital) p. 3-14 Disponivel em: <http://www.cervantesvirtual.com/
portales/lengua/>.

Como você aprendeu no subtópico anterior, foi a partir da fragmentação do


latim vulgar que surgiram as chamadas línguas romances, entre elas o espanhol.
A origem do espanhol moderno está intimamente ligada a uma língua romance
conhecida como "espanhol arcaico". De acordo com o autor Miguel Ángel Mora
Sánches (2006, p. 19):
Se entiende por «español arcaico» el conjunto de manifestaciones
lingüísticas, em una lengua romance cercana al futuro castellano,
que se producen en una parte del dominio de la Península Ibérica
antes de la aparición de los primeros documentos escritos literarios
(s. XII). Sus principales características van a ser dos: la escasez del
corpus y su dispersión. De hecho, ha llegado a nosotros de forma muy
fragmentada y, en gran parte, através de textos notariales.

O registro oral do espanhol arcaico infelizmente não chegou até nós.


Atualmente, temos acesso a documentos literários que nos possibilitam conhecer
como se dava este espanhol arcaico. Há registros de jarchas (composições de
origem árabe) e de obras de importância vital escritas no período medieval, como
o El Cantar de Mio Cid (Anónimo), El Libro de Buen Amor (Arcipreste de Hita), La
Celestina (Fernando de Rojas), El Conde Lucanor (Don Juan Manuel) e tantas outras.

39
UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

NOTA

Segundo Sánchez (2006, p. 1), a “Jarcha es una palabra árabe que significa
«salida» o «finida». Las jarchas son unas pequeñas cancioncillas romances - los más antiguos
vestigios de la lírica popular en Europa. Estas cancioncillas están situadas al final de unos
poemas árabes o hebreos (imitación estos últimos de los árabes) llamados moaxajas; género
inventado en la Andalucía Musulmana”.

O espanhol arcaico era muito diferente do espanhol que nós conhecemos


hoje. Os textos que chegaram até nós constituem um registro histórico cabal e
demonstram um estágio da língua cuja compreensão, para nós, falantes no século
XXI, compõe uma tarefa bastante árdua.

Você recorda do fragmento que trouxemos da cantiga trovadoresca de


Paio Soares de Taveirós, quando falamos sobre o estudo sincrônico da língua?
Aquele exemplo data de um período em que a língua portuguesa e a língua
galega ainda coexistiam como uma única expressão linguística. Observe agora
um exemplo de espanhol arcaico através da observação do Cantar de Mio Cid,
um dos primeiros textos literários em língua espanhola:

Poema de Mio Cid em espanhol arcaico


1. De los sos ojos tan fuerte mientre lorando
3. tornava la cabeça y estava catando.
3. Vio puertas abiertas e uços sin cañados,
4. alcandaras vazias sin pielles e sin mantos
5. e sin falcones e sin adtores mudados.
6. Sospiro mio Cid ca mucho avie grandes cuidados.
7. Fbablo mio Çid bien e tan mesurado:
8. '¡Grado a ti, señor, padre que estas en alto!
9. ¡Esto me an buelto mios enemigos malos!'

10. Alli pienssan de aguijar, alli sueltan las riendas.


11. A la exida de Bivar ovieron la corneja diestra
12. y entrando a Burgos ovieron la siniestra
13. Meçio mio Çid los ombros y engrameo la tiesta:
14 ¡Albriçia, Albar Ffañez, ca echados somos de tierra!

Agora, observe o mesmo texto adequado ao castelhano moderno:

Cantar de Mio Cid em espanhol moderno


1. De los sus ojos tan fuertemente llorando,
2.Tornaba la cabeza y estábalos catando.
3. Vio puertas abiertas y postigos sin candados,
4.Alcándaras vacías, sin pieles y sin mantos,

40
TÓPICO 2 | LINGUÍSTICA TEÓRICA DA LÍNGUA ESPANHOLA

5. Y sin halcones y sin azores mudados.


6.Suspiró mío Cid pues tenía muy grandes cuidados.
7.Habló mío Cid, bien y tan mesurado:
8. ¡Gracias a ti, señor padre, que estás en alto!
9. ¡Esto me han vuelto mis enemigos malos!

10. Allí piensan aguijar, allí sueltan las riendas.


11. A la salida de Vivar, tuvieron la corneja diestra,
12. Y, entrando en Burgos, tuviéronla siniestra.
13. Meció mío Cid los hombros y movió la cabeza:
14. ¡Albricias, Álvar Fáñez, que echados somos de tierra!

A distinção entre uma versão e outra é notável, você concorda? Observe


a diacronicidade que o poema nos mostra, pois na prática a língua(gem) é um
organismo vivo que está em processo constante de modificação, conforme a
revelação da Linguística.

Devido a sua geografia, por ser uma espécie de porta de entrada da África para
a Europa, a Península Ibérica, por muito tempo foi ocupada por árabes. A presença
árabe (em torno de 700 anos) se percebe, na contemporaneidade, na arquitetura e no
aspecto genotípico da população de determinadas regiões da Espanha, como nos
nativos da comunidade autônoma de Andalucía. Além disso, na língua espanhola a
presença moura deixou marcas significativas, como uma herança de 4.000 palavras
de origem árabe. De acordo com Santiago González, entre estas palavras, muitas
dão nome a cidades espanholas, como La Mancha (la’a Ma-anxa, que significa ‘sin
agua’), Algeciras (de Al Khadra ( ), ‘la isla verde’), Alcalá (do árabe al-
qala`a ( ), ‘el castillo’), Henares (An-Nahar ( ), “el río”), assim como outras
palavras de uso comum, como ‘faquir”, “almohada”, elixir”, “quilate” etc.

DICAS

Você sabia que existe um dicionário de palavras espanholas de origem árabe?


Consulte: <http://www.arabespanol.org/andalus/palabras.htm>.

Os diversos conflitos sociais e geoculturais pelos quais a língua espanhola


passou configuram o que a língua se tornou hoje. A história da Ibéria – e mais
tarde a da América hispânica – constituem a força motriz que possibilitou a
mudança linguística e a afirmação da língua espanhola moderna enquanto tal.
Neste capítulo, aprendemos que o latim, uma língua que pode ter surgido de uma
poderosa protolíngua, deu origem às línguas neolatinas. Estas línguas, outrora
dialetos, ressignificaram-se através de seus respectivos contextos geográficos e
afirmaram-se como línguas romances.

41
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Existem distintas perspectivas de estudos da Linguística Teórica, como a


Fonética, a Fonologia, a Sintaxe, a Morfologia, a Semântica, a Análise do
Discurso e a Pragmática.

• Os conceitos de língua estándar, linguagem neutra e as circunstâncias de uso


destas são importantes no âmbito hispânico.

• São importantes a noção de latim vulgar e a origem das línguas neolatinas,


como o português, o espanhol, o francês, o romeno, o catalão, o galego e o
italiano.

• A hipótese de uma protolíngua teria dado origem ao grego clássico, ao latim,


ao sânscrito e às línguas germânicas.

• Existem expressões greco-latinas que ainda se mantêm vivas.

• A origem da língua espanhola é rastreável.

• O espanhol arcaico pode ser estudado através do Cantar de Mio Cid.

• As palavras de origem árabe ainda se fazem presentes no espanhol moderno.

42
AUTOATIVIDADE

1 As línguas abaixo são consideradas línguas de origem latina, exceto:

a) ( ) Galego
b) ( ) Romeno
c) ( ) Francês
d) ( ) Inglês
e) ( ) Catalão

2 Com base no que você estudou neste tópico, observe as alternativas que se
apresentam:

I - A língua estándar refere-se, basicamente, à linguagem escrita. Quando


falamos em linguagem oral, o termo mais adequado é neutralidade.
II - O latim é uma língua helênica (da Europa e Ásia meridional).
III - O espanhol é uma língua que possui duas variantes: a peninsular e a
portenha.
IV - A semântica é a disciplina que se preocupa com o significado.
V - Apesar da cultura árabe ser de importância inegável para a língua espanhola,
não restaram na língua espanhola heranças linguísticas deste povo.

Assinale a resposta certa:

a) ( ) Apenas I e II estão corretas.


b) ( ) Todas as alternativas estão incorretas.
c) ( ) Apenas I e IV estão corretas.
d) ( ) Apenas IV e V estão incorretas.
e) ( ) I, II, III e IV estão corretas.

43
44
UNIDADE 1
TÓPICO 3

LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA

1 INTRODUÇÃO
Olá! Chegamos ao último tópico da primeira unidade. Nos tópicos
1 e 2 conhecemos a Linguística Geral, com suas bases, seus conceitos e seus
nomes mais significativos, e também a Linguística Teórica, com suas distintas
perspectivas de estudos e desdobramentos. Para completar esta tríade, no Tópico
3 conheceremos a Linguística Aplicada. Ao fecharmos esta unidade introdutória,
concomitantemente, abrimos uma porta para as unidades seguintes, visto que a
Linguística Aplicada à Língua Espanhola é o nosso objeto de estudo e sobre ele
estudaremos nas unidades 2 e 3 deste livro de estudos. Por essa razão, é muito
importante que você estude com atenção este tópico. Ele vai apresentar a base do
conhecimento que encontrará nas unidades seguintes.

Você deve estar se questionando: se a Linguística Teórica se preocupa


em entender como o idioma se organiza, buscando uma compreensão de cada
uma das partes (fonemas, morfemas, orações, discursos), o que resta então para
a Linguística Aplicada? Este é o nosso ponto de partida neste tópico: o objeto de
estudo da Linguística Aplicada à Língua Espanhola. Sobre o que se debruça?
Quais soluções propõe? Como atua?

FIGURA 21 – A LINGUÍSTICA APLICADA NA ÁRVORE DAS CIÊNCIAS

FONTE: Disponível em: <http://www.sala.org.br/index.php/estante/academico/61-a-


lingueistica-aplicada-na-grande-area-da-linguagem>. Acesso em: 20 set. 2017.

45
UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

2 A LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA:


HISTÓRIA DA DISCIPLINA E CONCEPÇÃO INICIAL
De acordo com o Diccionario de términos clave de Español Lengua Extranjera,
do Instituto Cervantes, a Linguística aplicada é um ramo da Linguística cuja
meta é a aplicação das teorias, dos métodos e dos conhecimentos próprios da
linguística para a resolução de problemas diversos, no que está implicado o uso
da língua. Ainda de acordo com esta instituição cultural (s.d., s.p.), considerada a
instância máxima no ensino e difusão da língua espanhola, a Linguística Aplicada
“se interesa por las aplicaciones de la lingüística en otras áreas de la experiencia
humana [...] la lingüística aplicada comprende de hecho disciplinas diversas, la
mayoría de las cuales se constituyen como campos interdisciplinares del saber”.
Em uma visão mais específica, Mota (2000, p. 73) afirma que:
la linguística aplicada busca utilizar las técnicas y los hallazgos
científicos de la lingüística teórica en el análisis o resolución de
problemas de la vida diaria; su multidisciplinariedad creciente
incorpora un accionar conjunto con campos como la psicología, la
pedagogía, la neurología, la medicina, la psiquiatría, la música, la
matemática, la antropología etc.

Ao completar as unidades anteriores, você deve ter se perguntado o


porquê de tantas segmentações e campos específicos de estudos no âmbito
da linguística teórica (como a morfologia, a fonologia, a sintaxe, a pragmática
etc.). Conforme você pode ver, o conhecimento produzido nessas áreas não fica
isolado em compartimentos desconexos. A Linguística Aplicada lança mão dos
estudos realizados nos mais diversos campos da Linguística Teórica para resolver
problemas específicos. Nesse aspecto, o termo "aplicada" pode ser entendido
em sua completude, visto que se aplica à linguística, à sociolinguística (língua
e sociedade), à etnolinguística (língua e cultura), à neurolinguística (língua e
cérebro), à pedagogia (língua e ensino-aprendizagem). Esta última aplicação
constitui um dos solos mais fecundos da Linguística Aplicada à Língua Espanhola.

NOTA

Você já ouviu falar no Instituto Cervantes? Esta é uma instituição


cultural tida como referência no âmbito da Língua Espanhola e da Cultura
da Espanha e da América Hispânica. O Instituto Cervantes está vinculado ao
Ministério de Assuntos Exteriores da Espanha e possui sucursais em todos
os continentes.

46
TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA

A esta altura você deve estar se perguntando: se os estudos linguísticos


ganharam forma ainda no final do século XIX e começo do século XX, em que
momento da história surgiu a linguística aplicada?

Esta pergunta nos faz retornar ao século XX, em um dos momentos


mais conturbados daquele período: a Segunda Guerra Mundial. Você recorda
que mencionamos o fato de a linguística aplicada encontrar um solo fecundo
no âmbito pedagógico e nas questões de ensino-aprendizagem? Foi justamente
em um contexto de guerra, no qual se necessitava fazer-se entender e entender
ao outro da forma mais clara possível, que os estudos da linguística aplicada
ganharam força. A data geralmente aceita é o ano 1946. De acordo com o
pesquisador Francisco Adolfo Marcos Marín (2016, p. 25), foi neste ano que a
Universidade de Michigan ofereceu um curso com este rótulo:

Dos profesores de esta universidad, Charles Fries y Robert Lado


(que pasó después a la Universidad de Georgetown, en la capital
federal), fueron los impulsores de estos estudios. En 1948 se
empezó a publicar la primera revista especializada, Language
Learning: A Quarterly Journal of Applied Linguistics. El Consejo
de Europa apoyó financieramente los trabajos preparatorios entre
1962 y 1964, que concluyeron ese último año con la fundación
de la Association Internationale de Linguistique Appliquée, y
con la celebración de su primer congreso en la ciudad francesa
de Nancy. Por esta razón se conoce a esta sociedad por las
siglas francesas, AILA, frente al hábito de citar las asociaciones
internacionales por su nombre inglés (International Association
of Applied Linguistics, en este caso).

FIGURA 22 – UNIVERSIDADE DE MICHIGAN NA DÉCADA DE 40

FONTE: Disponível em: <http://www.annarbor.com/news/a-


retrospective-of-the-university-of-michigan-lawyers-club/>. Acesso em:
20 set. 2017.

Conforme Marín (2016), após o surgimento nos Estados Unidos no final da


década de 40, em 1957 fundou-se na Universidade de Edimburgo (Reino Unido) a
primeira escola de Linguística Aplicada, e em 1959 o Center for Applied Linguistics
(CAL), nos Estados Unidos. Foi esta escola que preconizou a ideia de "promover
o estudo da linguagem e ajudar as pessoas a alcançar suas metas educativas,
laborais e sociais por meio de uma comunicação mais eficaz" (tradução nossa).
47
UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

No âmbito da Língua Espanhola, quando surgiu a Linguística Aplicada?

Na Espanha, a Linguística Aplicada surgiu, pelo menos, quase 40 anos


mais tarde, mais especificamente no dia 31 de maio de 1982. Foi nesta data que,
segundo Marín (2016), se reuniram na Universidad de Granada vários professores
universitários que deram os primeiros passos para a fundação da AESLA - Asociación
Española de Linguística Aplicada. Evidente que a Linguística na Espanha era estudada
e conhecida pela comunidade acadêmica. Esta data trata-se de uma formalização,
conforme Marín (2016, p. 26), "el hecho mismo de esta reunión ya indica que la
actividad existía previamente; pero tras ella se le puede dar una fecha".

Em seus primórdios, o ponto de partida da Linguística Aplicada era o


ensino de línguas segundas (ou estrangeiras) a indivíduos não nativos. De acordo
com o texto de Marín, parte integrante do Vademécum para la formación de Profesores
enseñar español como segunda lengua (l2)/lengua extranjera (LE)

La necesidad de este tipo de enseñanza de las lenguas se había


puesto de manifiesto durante la Segunda Guerra Mundial,
cuando el ejército de Estados Unidos tuvo que desarrollar
un sistema acelerado de enseñanza de lenguas, que hubo de
mantener después para cubrir las necesidades de la posguerra.
Pero el hecho que realmente cambió el panorama de la disciplina
fue el gran auge cobrado por el inglés, que, entre 1965 y 1975,
desplazó al francés en las preferencias como segunda lengua
incluso en países como España, donde se invirtió una tradición
secular (MARÍN, 2016, p. 25).

NOTA

Você sabia que o Vademécum é um compêndio que reúne


textos de ordem teórica e prática sobre os temas de ensino e aprendizagem
do espanhol como segunda língua ou como língua estrangeira? O livro
é de importância significativa para o professor de Língua Espanhola em
formação, pois fornece informações sobre questões basilares, como a
epistemologia, o processo de aprendizagem, a competência comunicativa,
o processo de ensino, as habilidades comunicativas, entre outros.
FONTE: Disponível em: <http://aulaintercultural.org/wp-content/uploads/
2014/06/vademecum.jpg>. Acesso em: 20 set. 2017.

Se nos seus primórdios a Linguística Aplicada se debruçava unicamente


sobre o ensino de línguas, na atualidade este panorama se reconfigurou, apesar de
ainda constituir um dos principais braços de força da disciplina. Esta reconfiguração
abarca uma série de temas e problemas que expressam uma disciplina mais
dinâmica e em constante intersecção com as mais distintas áreas do saber.

48
TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA

Do primeiro tópico até aqui você percebeu que uma ciência passa por
diversos momentos, que vão desde o questionamento dos seus métodos até a
apresentação de novas propostas. A Linguística Aplicada, tal como a conhecemos
hoje, constitui um exemplo cabal do desenvolvimento científico dos estudos
linguísticos ao longo do século XX e XXI.

3 PERSPECTIVA AMPLIADA DE ESTUDO DA LINGUÍSTICA


APLICADA
O avanço da globalização no século XX e a Segunda Guerra Mundial foram
dois acontecimentos que proporcionaram o desenvolvimento da Linguística
Aplicada. Já no final dos anos 50, pouco mais de dez anos após o surgimento da
disciplina, um novo campo tecnológico surgia e possibilitava novos horizontes: a
computação. De acordo com Marín (2016, p. 26):
desde finales de los años 50 y primeros 60 del pasado siglo, la
lingüística aplicada se amplió para abarcar también lo relacionado
con un nuevo campo,derivado igualmente de las exigencias de una
comunidad internacional cada vez mejor comunicada: la traducción
por ordenador, más conocida por las siglas inglesas MT (Machine
Translation).

FIGURA 23 – ENIAC, O PRIMEIRO COMPUTADOR

FONTE: Disponível em: <https://tecnoblog.net/wp-contentuuploads/2011/


02/785px-Eniac.jpg>. Acesso em: 20 set. 2017.

Você concorda que a computação possa facilitar o processo de


aprendizagem de idiomas? Muitas das ferramentas que conhecemos hoje, como
o Duolingo, o Google translate e o Livemocha, possuem suas origens na metade do
século XX, quando a computação, tal como a conhecemos hoje, ainda não existia
e constituía apenas uma experiência com promessa de futuro.

49
UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

Somado ao advento da computação, o tema da globalização foi muito


importante. Imagine como a linguística aplicada pode ter sido importante em um
contexto de colonização, no qual era de importância vital para os colonizadores
ensinarem às populações autóctonas suas línguas originais. Marín (2016, p. 26)
menciona que, somada ao ensino científico das línguas e ao advento da tradução
por computador, no âmbito da Linguística Aplicada "se unió muy pronto la más
política de las aplicaciones de la sociolingüística, la planificación de las lenguas,
consecuencia del desarrollo de lenguas en las naciones independientes y de la
necesidad inicial de sustituir las lenguas de las naciones colonizadoras, en Asia,
Oceanía y África, por lenguas vernáculas".

FIGURA 24 – GLOBALIZAÇÃO E O MUNDO CONECTADO


ATRAVÉS DO COMPUTADOR

FONTE: Disopnível em: <https://www.namindonesia.com/blog>.


Acesso em: 20 out. 2017.

A tradução por computador, realizada através de ferramentas como


tradutores por software ou on-line, possibilitou que se usasse cada vez mais o
meio virtual como forma de ensino e aprendizagem de línguas. Marín (2016)
relembra que este fenômeno em inglês é chamado de CALL (Computer Assisted
Language Learning). De acordo com Michael Levy (1997, p. 1, tradução nossa), o
CALL significa "a pesquisa e o estudo de aplicações de computador em ensino e
aprendizagem de línguas".

Se a Linguística Aplicada é uma disciplina que busca aplicar as teorias,


os métodos e os conhecimentos próprios da linguística para a resolução de
problemas diversos, como isso funcionaria no âmbito de uma perspectiva de
ensino de línguas?

Vamos pensar em uma ferramenta muito popular nos dias atuais: o


Google Tradutor. Alguma vez você já usou este dispositivo? Se sim, saiba que,
sem alguma das áreas de atuação da Linguística Aplicada (como a Lexiografia e a
Planificação Linguística), teria sido praticamente impossível o desenvolvimento
desta ferramenta.

50
TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA

FIGURA 25 – GOOGLE TRADUTOR

FONTE: O autor

Agora que já conhecemos o surgimento da Linguística, sua concepção


inicial e o seu desenvolvimento – graças ao advento da globalização e da
computação –, no subtópico seguinte conheceremos as distintas áreas de atuação
da linguística aplicada, sem as quais seria impossível a criação de softwares de
computador e ferramentas de tradução on-line.

4 ÁREAS DE ATUAÇÃO DA LINGUÍSTICA APLICADA


Assim como a Linguística Teórica, a Linguística Aplicada também possui
suas áreas de atuação. De acordo com o Instituto Cervantes (s.d.), na atualidade
esta disciplina compreende um número bastante elevado de segmentos, que
veremos na sequência.

4.1 LOGOPÉDIA
A Logopédia é uma disciplina que trata de resolver quaisquer transtornos
no uso da linguagem que porventura venham a afetar a voz, a pronúncia e a
linguagem oral. Faz parte da Linguística clínica e está associada ao estudo das
alterações da linguagem. No Brasil, também é conhecida como Fonoaudiologia.
O profissional de Linguística Aplicada que opte por se orientar por este caminho,
por exemplo, poderá realizar uma formação paralela em Fonoaudiologia ou
participar de atividades investigativas ou laborais que envolvam esta área.

51
UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

Javier Gutiérrez-Rexach (2016, p. 75), em sua Enciclopédia de Linguística Hispânica,


adverte que “la formación linguística del profesor orientada a los trastornos del
lenguaje es, en la mayoría de los casos, autoformativa; muy pocos se han formado
a la vez en linguística y logopedia, por lo que en muchas ocasiones la aportación
y relevancia de los conocimientos aplicados queda bastante diluída".

NOTA

Você já conheceu alguma pessoa com dislexia? De acordo com a Sociedade


Brasileira de Dislexia (2007, p. 1), este transtorno de aprendizagem se caracteriza pela
“dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na habilidade de
decodificação e em soletração”. Este é um dos transtornos que, em conjunto com outras
áreas, pode ser estudado e tratado pela Logopedia/Fonoaudiologia.

FIGURA 26 – DISLEXIA

FONTE: Disponível em: <https://ohsemmama.com/wp-content/


uploads/2016/03/2016-03-25-18.40.10.jpg>. Acesso em: 20 out.
2017.

4.2 PLANIFICAÇÃO LINGUÍSTICA


Lembra quando falamos sobre a língua estándar? Esta é uma preocupação
da Planificação Linguística, que é um ramo da Sociolinguística. De acordo com
o Instituto Cervantes (s.d., s.p.), o interesse dessa disciplina se centra nos usos
linguísticos que "se consideran normativos y en la creación de un estándar". Seu
funcionamento é imprescindível em regiões bilíngues e multilíngues, sobretudo
em megalópoles que concentram índices relevantes de imigração. A Planificação
Linguística anda de mãos dadas com outro ramo, a Política Linguística. Aguilera
Martín (2003, p. 91) menciona que a Política linguística:

estaría constituida por el conjunto de ideas, leyes, regulaciones y


prácticas que se dirigen a producir cambios en los comportamientos
lingüísticos de una sociedad o de un grupo social, mientras que la
planificación lingüística haría referencia al conjunto de decisiones
adoptadas por una autoridad, en principio gubernamental, para
conseguir estos mismos resultados.

52
TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA

4.3 LEXICOGRAFIA
Com qual frequência você utiliza dicionários de português ou de línguas
estrangeiras? Muitas vezes não sabemos o significado específico de uma palavra,
e é neste momento que a profissão de lexicógrafo é fundamental para que
possamos esclarecer nossas dúvidas. A Lexicografia é a disciplina que se preocupa
com as orientações teóricas que deverão ser aplicadas na criação de dicionários.
O lexicógrafo trabalha diretamente com a palavra e também com princípios
metodológicos importantes na organização de dicionários. Passam pelo eixo da
profissão questões ligadas à inserção de termos modernos, atualização de termos
existentes e estabelecimento de definições incorporadas a partir do uso.

NOTA

Você sabia que existe um dicionário criado exclusivamente para o ensino de


língua espanhola para brasileiros? Trata-se de uma obra elaborada pela Universidad de Alcalá
de Henares (Espanha) e é composta por 45 mil palavras. No contexto de aprendizagem da
língua espanhola pode ser uma ferramenta funcional.

DICAS

Outra ferramenta importante é o Dicionário On-line da Real Academia


Española. Trata-se de um recurso gratuito que pode ser acessado através
do website: <www.rae.es>.

53
UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

4.4 TERMINOLOGIA
De acordo com o Diccionario de términos clave de ELE (s.d., s.p.) do Instituto
Cervantes, a Terminologia "identifica y analiza los términos que se utilizan en las
diversas áreas del saber, con el fin de hacer propuestas de estandarización". Você,
certamente, já deve ter se encontrado em situações nas quais presenciou o uso de
palavras que somente são usadas no âmbito de áreas específicas, como a Medicina
(em uma consulta médica) ou o direito (em uma audiência). Estes termos técnicos
constituem uma ocupação da Terminologia. Diferentemente da Lexicografia, que
é um âmbito mais amplo e que se ocupa de todas as palavras encontradas em um
dicionário, a Terminologia se preocupa unicamente com termos técnicos de áreas
determinadas e não aceita definições inespecíficas.

4.5 TRADUÇÃO ASSISTIDA POR COMPUTADOR


A principal função desta disciplina constitui o desenvolvimento de
ferramentas virtuais que auxiliem o tradutor no processo de tradução. Você recorda
quando abordamos anteriormente algumas perspectivas ampliadas de estudo da
Linguística Aplicada? Na ocasião, mencionamos a importância das ferramentas
on-line no processo de tradução e como são importantes, para a criação destas
ferramentas, outras disciplinas da Linguística Aplicada, como a Lexicografia, a
Planificação Linguística e a Terminologia. É no âmbito da Tradução assistida por
computador que o conhecimento linguístico se encontra e possibilita a criação de
linguagens de programação munidas por ricos bancos de dados.

4.6 FONÉTICA APLICADA


Em algum momento da sua vida você possivelmente já utilizou
aplicativos de celular capazes de executar funções através do reconhecimento de
voz. O exemplo mais famoso é o aplicativo do Google, naturalmente presente em
smartphones com o sistema Android. Ao falar no microfone palavras ou frases que
você deseja buscar na web, prontamente o aplicativo realiza uma busca on-line com
base no reconhecimento de voz. Esta é uma tecnologia possível graças ao avanço
da fonética aplicada. Os profissionais que trabalham no âmbito desta disciplina, de
acordo com o Instituto Cervantes (s.d., s.p.), “desarrollan herramientas para que
la comunicación entre el hombre y las máquinas se pueda llevar a cabo mediante
la voz”. Estes profissionais realizam análises acústicas e outros trabalhos técnicos
ligados ao âmbito da fala e de softwares voltados para este fim.

4.7 LINGUÍSTICA FORENSE


A Linguística Forense dedica-se a investigar o estudo da linguagem e
a autoria de textos ou vozes com finalidades forenses. Esta área da Linguística
Aplicada estrutura-se em várias áreas que vão desde a linguística, como auxílio
à investigação policial, até à linguagem da lei, passando pela linguagem dos

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TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA

tribunais, pela linguagem utilizada em contextos policiais, pelo multilinguismo e


pelos direitos linguísticos, não esquecendo a linguagem como prova. No âmbito
da Linguística Forense, destacam-se casos famosos, como o do estadunidense
Ted Kaczynski, o Unabomber, condenado por envio de cartas-bomba. Outro caso
relevante é o do britânico Derek Bentley, condenado à morte e inocentado 45 anos
depois de provas linguísticas. No âmbito da língua espanhola o caso mais famoso
é o de Óscar Sánchez, espanhol que ficou 20 meses na cadeia e que foi inocentado
através de uma gravação telefônica. Na ocasião, um linguista forense identificou
que o sotaque latino-americano detectado na gravação não correspondia ao
acento linguístico de Sánchez.

4.8 ENSINO E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA


O ensino e a aprendizagem do espanhol são uma das principais áreas da
Linguística Aplicada. Este âmbito recebe muita atenção por parte da academia e
com frequência são realizados estudos sobre o tema, o que atualiza o repertório
de material disponível sobre o assunto. Esta área da linguística aplicada se propõe
a observar os processos de aquisição de língua estrangeira (LE) e língua materna
(LM). Estudaremos estes conceitos na terceira unidade deste livro de estudos.
Além do estudo de aquisição da LM e da LE, este ramo da linguística aplicada
também se dedica ao desenvolvimento de materiais, à elaboração de provas de
conhecimentos de línguas, à análise de erros, à elaboração curricular e também à
formação em retórica e comunicação.

5 ESTUDO LINGUÍSTICO E ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA


Conforme você vem aprendendo desde o início dos nossos estudos, os
estudos linguísticos funcionam de forma interligada. Baralo (2014, p. 31) relembra
que enquanto o objetivo da Linguística teórica é o conhecimento pelo próprio
conhecimento, a meta última no âmbito da Linguística Aplicada é a proposta "de
soluciones que resuelvan problemas materiales surgidos en torno al lenguaje y
las lenguas, lo cual no significa que no haya investigación y teoría en el campo de
la linguística aplicada".

A grande protagonista no âmbito da Linguística Aplicada, conforme


sinalizamos anteriormente, é a Didática da Língua. Esta disciplina é reconhecida,
segundo Baralo (2014), desde o começo da Linguística Aplicada como uma disciplina
que possui autonomia, ainda que esteja relacionada com outras disciplinas.

Por qual razão estamos enfatizando a questão didática da Linguística


Aplicada desde o tópico anterior? Para você, estudante do curso de Letras da
UNIASSELVI, a aprendizagem deste enfoque de estudos linguísticos é o que mais
será funcional como aluno e, futuramente, como professor de Espanhol como
língua estrangeira.

55
UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

FIGURA 27 – APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ATRAVÉS DE


TECNOLOGIAS – UMA REALIDADE

FONTE: Disponível em: <https://pxhere.com/en/photo/1280164>.


Acesso em: 20 out. 2017.

Antes de estudarmos como o ensino de língua espanhola ocorre na


atualidade, veremos em que momento da história essa área da linguística aplicada
passou a ganhar força no âmbito da disciplina.

Baralo (2014) sinaliza que o ponto de eclosão da Didática da língua no


âmbito da Linguística Aplicada teria surgido com Bloomfield (1942), cuja obra
inspirou-se nos princípios do estruturalismo estadunidense e aplicada ao ensino
das línguas estrangeiras através do método áudio-oral:
Este modelo didáctico se basaba también en los princípios del
aprendizaje conductista establecidos por Skinner, con lo que comienza
en la segunda mitad del siglo XX una contribución sistemática no sólo
de la lingüística, sino también de las teorías del aprendizaje en el ámbito
de la enseñanza de las lenguas no nativas (BARALO, 2014, p. 31).

Após esta experiência primeira, que se baseava em princípios gramaticais,


normativos e de tradução, posteriormente refinou-se os métodos adotados e a
Linguística encontrou solo produtivo no âmbito do ensino de línguas. Conforme
Baralo (2014), isso ocorreu nas décadas de 50 e 60.

Se o surgimento da Linguística Aplicada se deu em um dos contextos


mais conturbados do século XX, durante a Segunda Guerra Mundial, a afirmação
desta disciplina ocorreu em um momento igualmente tenso: a Guerra Fria.

Observe o que diz Baralo sobre o começo da profissão de professor de


língua estrangeira e os processos históricos pelos quais passou a Linguística
Aplicada:
La aplicación de los princípios teóricos de la lingüística y de la
psicología a la enseñanza de lenguas en la década de los 50 y de los 60,
en plena guerra fría, permitió acelerar y mejorar los domínios de las
lenguas mediante una ejercitación sistemática, basada en la creación
de hábitos lingüísticos nuevos para estructuras nuevas, tanto en lo
fonológico, como en lo léxico y lo gramatical. Los resultados de los
trabajos en los laboratórios audiolinguales fueron excelentes, dentro
de los programas especializados de la armada norteamericana. Esta

56
TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA

colaboración en un campo concreto de aplicación - la enseñanza de


lenguas - del estructuralismo y del conductismo, significó el comienzo
de la Lingüística aplicada, el comienzo de la profesión de profesor de
lenguas extranjeras y el comienzo de una estrecha interrelación más o
menos feliz, más o menos directa, más o menos explícita, más o menos
exitosa y aplicable, pero siempre fructífera y bidireccional (BARALO,
2014, p. 32).

Depois da experiência nos anos 1950 e 1960, a Linguística Aplicada


passou por um processo de meditação e desenvolvimento. Você lembra quando
estudamos o modelo gerativo de Noam Chomsky? O modelo gerativista
transformacional de Chomsky foi o responsável, no âmbito científico, pela crise
do modelo audiolingual (no qual o aluno supostamente aprendia uma língua
estrangeira através de estímulos e respostas).

Mais adiante, nos anos 1970 e 1980 ocorre o que Baralo (2014, p. 32)
distingue como "el verdadero nacimiento de la lingüística aplicada como ciencia
relativamente independiende de la lingüística teórica, de la psicología y de la
didáctica, pero al mismo tiempo como un área interdisciplinar que recoge
modelos teóricos de todas ellas para aplicarlos a la enseñanza".

A partir deste momento, a Linguística Aplicada segue o seu


desenvolvimento e encontra confluências metodológicas a partir dos anos 1990.

DICAS

No Livro “Español y Portugués – Desenredando las


lenguas”, a linguista María Josefina Israel Semino López aborda, entre
outros temas, problemas de ensino-aprendizagem no âmbito da
Linguística Aplicada. O livro utiliza uma linguagem didática e pode
ser um importante aliado no estudo de aquisição do espanhol como
Língua Estrangeira por parte de estudantes brasileiros.

SEMINO, María Josefina Israel. Español y Portugués: desenredando


las lenguas. Guía para profesores y alumnos brasileños. Rio Grande:
Editora da FURG, 2007.

5.1 MARCO COMUM EUROPEU DE REFERÊNCIA PARA AS


LÍNGUAS
O ensino de língua espanhola na atualidade se dá em diversas esferas:
na escola normal, em cursos de idiomas, através de professores particulares, em
universidades e em instituições culturais de ensino da língua, como é o caso do
Instituto Cervantes.

57
UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

Considerando esta instituição como uma instância legitimada pelo governo


espanhol, observemos com atenção a forma como esta entende o ensino de língua
espanhola no mundo. Primeiramente, cabe referenciar que o plano curricular do
Instituto Cervantes segue as diretrizes do Marco Comum Europeu de Referência
para as Línguas. Lembra quando falamos em Planificação Linguística?

O Marco Europeu é uma forma estándar criada na Suíça e que serve de base
para a medição do nível de compreensão oral e escrita em uma língua específica.
O Marco foi adotado pelos países europeus e pressupõe o desenvolvimento de
habilidades como a compreensão, a fala e a escrita. Os níveis são: A1, A2 (básico)
B1, B2 (independente) e C1 e C2 (competente).

O Marco propõe que as pessoas que se ocupam da organização e


do aprendizado de idiomas passem a basear seu trabalho em necessidades,
motivações, característica e recursos dos estudantes. Essa sugestão pressupõe
que o profissional tente responder a estas perguntas:

• ¿Qué tienen que hacer los estudiantes mediante el uso de la lengua?


• ¿Qué tienen que aprender para poder utilizar la lengua con el fin de
conseguir esos fines?
• ¿Qué les hace querer aprender?
• ¿Qué tipo de personas son (edad, sexo, origen social y nivel
educativo, etc.)?
• ¿Qué conocimientos, destrezas y experiencias tienen sus profesores?
• ¿Qué acceso tienen a manuales, obras de consulta (diccionarios,
gramáticas, etc.), medios audiovisuales, ordenadores y programas
informáticos?
• ¿De cuánto tiempo disponen o cuánto están dispuestos a emplear?
(MINISTÉRIO DE EDUCACIÓN, 2002, p.12).

Ao sugerir estes questionamentos, o Marco Europeu propõe uma


consciência de ensino que enxerga o estudante como sujeito social e não como
receptáculo de informações sujeitado a estímulos e condicionado a respostas óbvias.
Neste processo, é fundamental o entendimento de questões como a motivação
do estudante em aprender o idioma, os objetivos pessoais de aprendizagem,
a realidade sociocultural e financeira e também o acesso do aluno a materiais
didáticos. Respondidos os questionamentos apresentados, a metodologia de
trabalho adequar-se-á à realidade do estudante e possibilitará um processo de
ensino e aprendizagem eficaz, respeitando os níveis comuns de competência.

DICAS

Você pode conhecer mais sobre o Marco Europeu em <http://cvc.cervantes.


es/ensenanza/biblioteca_ele/marco/cvc_mer.pdf>. O documento apresenta orientações
relativas ao aprendizado, ao ensino e à elaboração de métodos de avaliação.

58
TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA

QUADRO 2 – NÍVEIS COMUNS DE COMPETÊNCIAS EM ESCALA GLOBAL DE ACORDO COM O


MARCO EUROPEU

Es capaz de comprender con facilidad prácticamente todo lo que oye o lee. Sabe
Usuario competente

reconstruir la información y los argumentos procedentes de diversas fuentes, ya


sean en lengua hablada o escrita, y presentarlos de manera coherente y resumida.
C2
Puede expresarse espontáneamente, con gran fluidez y con un grado de precisión
que le permite diferenciar pequeños matices de significado incluso en situaciones
de mayor complejidad.
Es capaz de comprender una amplia variedad de textos extensos y con cierto nivel
de exigencia, así como reconocer en ellos sentidos implícitos. Sabe expresarse de
forma fluida y espontánea sin muestras muy evidentes de esfuerzo para encontrar
C1 la expresión adecuada. Puede hacer un uso flexible y efectivo del idioma para
fines sociales, académicos y profesionales. Puede producir textos claros, bien
estructurados y detallados sobre temas de cierta complejidad, mostrando un uso
correcto de los mecanismos de organización, articulación y cohesión del texto.
Es capaz de entender las ideas principales de textos complejos que traten de temas
Usuario independiente

tanto concretos como abstractos, incluso si son de carácter técnico, siempre que estén
dentro de su campo de especialización. Puede relacionarse con hablantes nativos
B2 con un grado suficiente de fluidez y naturalidad, de modo que la comunicación se
realice sin esfuerzo por parte de los interlocutores. Puede producir textos claros y
detallados sobre temas diversos, así como defender un punto de vista sobre temas
generales, indicando los pros y los contras de las distintas opciones.
Es capaz de comprender los puntos principales de textos claros y en lengua estándar
si tratan sobre cuestiones que le son conocidas, ya sea en situaciones de trabajo,
de estudio o de ocio. Sabe desenvolverse en la mayor parte de las situaciones que
B1 pueden surgir durante un viaje por zonas donde se utiliza la lengua. Es capaz de
producir textos sencillos y coherentes sobre temas que le son familiares o en los que
tiene un interés personal. Puede describir experiencias, acontecimientos, deseos y
aspiraciones, así como justificar brevemente sus opiniones o explicar sus planes.
Es capaz de comprender frases y expresiones de uso frecuente relacionadas con
áreas de experiencia que le son especialmente relevantes (información básica
sobre sí mismo y su familia, compras, lugares de interés, ocupaciones, etc.). Sabe
Usuario básico

A2 comunicarse a la hora de llevar a cabo tareas simples y cotidianas que no requieran


más que intercambios sencillos y directos de información sobre cuestiones que le son
conocidas o habituales. Sabe describir en términos sencillos aspectos de su pasado
y su entorno, así como cuestiones relacionadas con sus necesidades inmediatas.
Es capaz de comprender y utilizar expresiones cotidianas de uso muy frecuente,
así como, frases sencillas destinadas a satisfacer necesidades de tipo inmediato.
Puede presentarse a sí mismo y a otros, pedir y dar información personal básica
A1
sobre su domicilio, sus pertenencias y las personas que conoce. Puede relacionarse
de forma elemental siempre que su interlocutor hable despacio y con claridad y
esté dispuesto a cooperar.

FONTE: Ministério de Educación. Instituto Cervantes (2002, p. 26)

O grande diferencial do enfoque adotado pelo Marco Europeu diz respeito


à questão de ação. Todas as diretrizes padronizadas no Marco objetivam o
processo de ensino e aprendizagem e a ação. Você consegue distinguir um modo
tradicional de ensino de um modelo baseado em uma perspectica interativa?

59
UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

O ensino de línguas mediado através de uma perspectiva tradicional


pode envolver um estudo exaustivo de normas gramaticais, assim como listas
de verbos e situações comunicativas hipotéticas. Em linhas gerais, este método
ainda é aplicado em diversas escolas e cursos, pouco proveito pode oferecer ao
aluno em relação à aprendizagem efetiva de uma língua estrangeira. Aprender
um novo idioma, de acordo com o entendimento expresso pelo Marco Europeu,
pressupõe que o falante esteja exposto a situações reais da língua.

FIGURA 28 – A AÇÃO NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

FONTE: Disponível em: <http://estaticos.educalab.es/intef/formacion/


materiales-formativos/Aplicaciones_educativas_para_alumnado_
con_problemas_de_aprendizaje/aplicaciones_educativas_para_
alumnado_de_integracin_tarda_al_sistema_educativo.html>. Acesso
em: 20 out. 2017.

A perspectiva centrada na Ação considera os usuários e estudantes de


um idioma como "agentes sociais". De acordo com o Marco Europeu, a ideia
de agentes sociais nos condiciona ao entendimento de que os membros de uma
sociedade possuem tarefas que não propriamente têm a ver unicamente com o
uso da língua. Estas tarefas são efetivadas em determinadas circunstâncias, como
em uma situação formal (escola, trabalho) ou em uma situação informal (quando
você compra um cachorro-quente na rua, por exemplo).

Você já parou para pensar que ao falarmos com outras pessoas


podemos incorporar no nosso paradigma expressões e palavras que antes não
utilizávamos? Agora imagine isso aplicado ao âmbito de aprendizagem de uma
língua estrangeira.

Aprendemos em sociedade a utilizar a língua a nosso favor, muitas vezes


para obter resultados específicos. Veja o que o Marco Europeu (2002, p. 9) diz a
respeito desta perspectiva:

60
TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA

Aunque los actos de habla se dan en actividades de lengua, estas


actividades forman parte de un contexto social más amplio, que
por sí solo puede otorgarles pleno sentido. Hablamos de «tareas»
en la medida en que las acciones las realizan uno o más individuos
utilizando estratégicamente sus competencias específicas para
conseguir un resultado concreto. El enfoque basado en la acción, por
lo tanto, también tiene en cuenta los recursos cognitivos, emocionales
y volitivos, así como toda la serie de capacidades específicas que un
individuo aplica como agente social.

O Marco Europeu entende ainda que, no que se refere ao uso e aprendizado


de uma língua, toda a comunicação humana depende de um conhecimento
compartilhado de mundo. É esta perspectiva de interação que embasa muitas das
práticas de ensino de espanhol, conforme veremos no subitem seguinte.

NOTA

Você já participou de uma aula dinâmica de língua estrangeira? Uma metodologia


de ensino e aprendizagem focada na ação, ao trabalhar aspectos da compreensão, fala e escrita,
o faz através do uso de recursos didáticos como filmes, músicas, novelas, conversas com
falantes nativos, diálogos entre os colegas, softwares e também leituras de livros significativos
no âmbito da cultura hispânica. Neste aspecto, no processo de planejamento é fundamental
que o profissional respeite a realidade do estudante e os objetivos individuais de aprendizagem.

5.2 ALGUMAS EXPERIÊNCIAS NO ENSINO DE ESPANHOL


Como já sinalizamos anteriormente, a metodologia de ensino de espanhol
deve levar em consideração a faixa etária do estudante e os aspectos subjetivos de
cada aluno. Selecionamos alguns exemplos de experiências realizadas no âmbito
virtual da Linguística Aplicada.

A primeira delas, intitulada El Quijote, crisol didáctico para el encuentro de la


lengua, la cultura y el discurso, propõe-se a ser uma ferramenta auxiliar do professor
de Espanhol como Língua Estrangeira no processo de ensino e aprendizagem da
língua e da cultura hispânica. A base deste material didático é a magnífica obra
Don Quijote de la Mancha, de Miguel de Cervantes, publicada pela primeira vez
em 1615. A leitura do livro, que na atualidade é praticamente o mais importante
símbolo da língua e da literatura espanhola no mundo, a todo momento é
incentivada através de tarefas e exercícios interativos. De acordo com o Instituto

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UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

Cervantes (2002, s.p.), criador do conteúdo, a obra "pretende ahondar en la


interacción entre la lengua y la cultura, a través de la lectura del texto cervantino
[...] mediante el análisis de seis unidades (cinco breves fragmentos y un capítulo
de la primera parte del Quijote en su versión auténtica y no adaptada)" (web). A
programação parte de uma perspectiva textual e condiciona o leitor à interação
com a plataforma. Além disso, ainda adverte que nesta ferramenta também:

se propone una explotación didáctica para construir en el aula


de español tres competencias básicas: la competencia cultural, la
competencia discursiva, y la competencia literaria. Para ello, se
han diseñado tres secciones en cada unidad: en la Competencia
docente I, Construir una lectura, se promueve una reflexión sobre
el texto para hacer una lectura propia del mismo; en la Competencia
docente II, Leer para enseñar, leemos el texto como profesores,
analizando los contenidos discursivos, léxico-gramaticales,
literarios y culturales con los que podemos familiarizar al
estudiante a través de su lectura. Por último, en la Competencia
docente III, Diseñar actividades, el profesor encontrará una
secuencia didáctica de actividades para seis sesiones de trabajo,
con los objetivos y las sugerencias necesarios para llevarlas a la
clase de español (INSTITUTO CERVANTES, 2002, s.p.).

DICAS

Você pode acessar o website e encontrar mais informações a respeito


diretamente na plataforma: <http://cvc.cervantes.es/ensenanza/quijote_aula/default.htm>.

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TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA

FIGURA 29 – FERRAMENTA INTERATIVA CRIADA COM O PROPÓSITO DE “APROFUNDAR


AS RELAÇÕES ENTRE A LÍNGUA, A LITERATURA E A CULTURA”

FONTE: Disponível em: <http://cvc.cervantes.es/ensenanza/quijote_aula/default.htm>.


Acesso em: 20 set. 2017.

Outra plataforma desenvolvida para a web e voltada para o ensino de


espanhol se chama Mi mundo en palabras. Trata-se de uma ferramenta destinada
a crianças de sete a nove anos de idade. A programação se vale de elementos
lúdicos – como desenhos e vozes infantis – e deve ser usada pela criança com
o auxílio de professores, pais ou algum tutor. A plataforma propõe favorecer
o aprendizado do léxico em espanhol através de atividades variadas, além
de fomentar a autonomia no momento de aprender, assim como estimular a
competência comunicativa neste idioma através de atividades de compreensão
auditiva, de leitura e audiovisual. Estruturalmente, o material se divide em 10
módulos, vai desde o primeiro, no qual ocorre a apresentação do personagem
Carlos, até o último módulo, que se passa em uma festa à fantasia. Ao longo dos
módulos o estudante experiencia situações específicas ligadas ao uso da língua,
como os finais de semana, a excursão à granja, um dia no parque, os desenhos,
aula de ginástica, colégio e família. Assim como a ferramenta anterior, esta é uma
ferramenta gratuita e segue as orientações do Marco Europeu.
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UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

FIGURA 30 – MI MUNDO EM PALAVRAS – APLICAÇÃO CRIADA PARA CRIANÇAS DE 7 A 9


ANOS QUE ESTEJAM APRENDENDO ESPANHOL COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA

FONTE: Disponível em: <http://cvc.cervantes.es/ensenanza/mimundo/default.htm>.


Acesso em: 20 set. 2017.

Outra ferramenta relevante no âmbito da Linguística Aplicada é a AVE


(Aula Virtual de Español). Esta ferramenta destina-se a estudantes estrangeiros
do idioma e contempla atividades e conteúdos voltados para todos os níveis
A1-A2, B1-B2 y C1, orientados pelo Marco Comum Europeu de Referência para
as Línguas e presentes na grade curricular do Instituto Cervantes. Entre estas
tarefas, encontram-se conteúdos gratuitos voltados para temas recorrentes no
uso da língua, como descrição física, pronúncia, comidas, horas, números, além
de questões de cunho gramatical, como o pretérito indefinido, pretérito perfeito
do indicativo, imperativo, verbos e outros. Todos os conteúdos estão divididos
de acordo com o nível do estudante e podem ser acessados gratuitamente. Além
disso, para cada conteúdo postado no website há uma "Ficha do professor" na qual
existem orientações relativas ao conteúdo e à atividade em questão.

DICAS

A ferramenta AVE é atualizada periodicamente e pode ser acessada através


do endereço <http://cvc.cervantes.es/ensenanza/actividades_ave/default.htm>. Ao entrar no
website, o usuário poderá acessar a “Aveteca”, um banco de dados organizados através dos
conteúdos e dos níveis dos estudantes.

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TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA

Todas as ferramentas apresentadas, quando associadas a um


planejamento estratégico de ensino da língua espanhola, podem ser recursos
bastante válidos e aliados do professor. Estas experiências associam a Didática
da língua, um dos pilares fundamentais da Linguística Aplicada, a um elemento
que se encontra nos primórdios da disciplina: a informática. Juntos, reforçam a
vocação interdisciplinar da Linguística Aplicada e possibilitam novos horizontes
no âmbito desta jovem disciplina.

DICAS

Você sabia que é possível acessar gratuitamente todos os termos do


Diccionário de términos clave de Español Lengua Extranjera? Basta acessar <http://cvc.
cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/diccio_ele/> e consultar o termo que você deseja.
Trata-se de uma ferramenta útil ao profissional da área de língua espanhola e pode esclarecer
inquietações importantes ligadas a esta disciplina.

DICAS

Além do dicionário, também é possível acessar uma biblioteca de textos


teóricos voltados para a Didática do Espanhol. Todos os materiais são gratuitos e estão
disponíveis para qualquer pessoa que tenha acesso à web. Basta acessar <http://cvc.
cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/diccio_ele/>.

6 AVALIAÇÕES E CERTIFICAÇÕES LINGUÍSTICAS


No âmbito da Linguística Aplicada é comum a aplicação de testes a
estrangeiros que buscam comprovar proficiência em um idioma específico. Cada
idioma possui um ou mais exames voltados para este fim: Goethe-Zertifikat
(alemão), HSK (mandarim), DELF (francês), DELI/CELI (italiano), TORFL (russo),
PTIT (holandês), TOEFL (inglês), CELGA (grego), CELPEBRAS (português) e
DELE/Celu (espanhol). A maioria dos testes respeita os níveis estabelecidos pelo
Marco Europeu, que vão do A1 até o C2. Você já participou ou ouviu falar em
alguma destas provas?

Além dos exames oficiais que mencionamos (reconhecidos pela maioria


das empresas e universidades estrangeiras), também existem as provas de
proficiência em leitura. Estas, restritas ao âmbito universitário, geralmente
trabalham unicamente com a competência de leitura e possuem validade de
somente dois anos. Servem, em linhas gerais, para comprovação universitária.

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UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

Os estudantes, ao se apresentarem a vagas de mestrado e/ou doutorado, precisam


comprovar que são proficientes em leitura de textos escritos em língua estrangeira.
Cada critério é estipulado pelas próprias instituições universitárias e não possuem
equivalência legal com os testes aplicados pelas instituições culturais, como o
Instituto Cervantes, o Instituto Goethe ou a Aliança Francesa. No âmbito da
língua espanhola, além das provas de proficiência aplicadas nas mais diversas
universidades brasileiras, há também dois exames oficiais: o DELE (Diploma de
Español como Lengua Extranjera) e o CELU (Certificado Español Lengua y Uso).

FIGURA 31 – SEDE DO INSTITUTO CERVANTES EM MADRID,


INSTITUIÇÃO APLICADORA DO DELE

FONTE: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/


commons/8/8b/Edificio_de_las_Cari%C3%A1tides_-_Instituto_
Cervantes_-_01.jpg>. Acesso em: 20 out. 2017.

6.1 DIPLOMA DE ESPAÑOL COMO LENGUA EXTRANJERA


(DELE)
O DELE é um título oficial que acredita o grau de competência e domínio
da língua espanhola. Trata-se de uma prova elaborada e aplicada pelo Instituto
Cervantes em nome do Ministério da Educação, Cultura e Esporte da Espanha.
A prova, geralmente, é aplicada duas vezes ao ano e ocorre em cidades nas quais
existem sedes ou representações oficiais do Instituto Cervantes. O prestígio da
prova está ligado ao caráter oficial que o governo espanhol atribui ao teste e
também a associação do Instituto Cervantes a órgãos como a ALTE (Asociación
Europea de Entes Certificadores de la Competencia Lingüística), ao SICELE (Sistema
Internacional de Certificación de Español como Lengua Extranjera) e ao EQUALIS
(Asociación Europea para la Calidad de Servicios de Idiomas). Estas associações,
assim como o prestígio da instituição que aplica a prova, fazem com que o teste
seja reconhecido internacionalmente por autoridades educacionais, pelo ramo
empresarial e também por câmaras do comércio. De acordo com o Instituto
Cervantes, o DELE também é reconhecido pelo Ministério da Justiça da Espanha,

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TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA

pelo Ministério da Saúde e também pela Administração geral do Estado e


organismos públicos.

Imagine a seguinte situação hipotética: você participou de um processo


seletivo e ganhou uma bolsa de estudos para ficar um ano letivo na Espanha.
Você é falante da língua portuguesa e, para poder comprovar que será capaz de
compreender as aulas ministradas em língua espanhola, precisará fazê-lo através
de um teste. O DELE seria o teste indicado. Uma vez inscrito, você seria testado
em suas competências de leitura, compreensão e fala.

Em todos os níveis exige-se o exercício das três competências fundamentais:


leitura, compreensão e fala. O que muda, de uma prova para outra, é o nível de
dificuldade, a junção de competências avaliadas na mesma prova e também a
pontuação que se atribui para cada item avaliado. O aluno que tenha o desejo
de se apresentar às provas deste instituto pode buscar um preparo oficial ou o
treinamento à parte.

ATENCAO

Você sabia que é possível acessar as provas anteriores do DELE? Basta


acessar <https://examenes.cervantes.es/es/dele/preparar-prueba> e selecionar o nível de
prova que você deseja ter acesso. Não esqueça que é necessário ter um leitor de PDF
instalado em seu computador e também um aplicativo capaz de reproduzir MP3 (para as
provas de competência auditiva).

Durante as provas, requere-se ao falante estrangeiro que se expresse em


língua espanhola de acordo com os enunciados. Na prova de nível C2 2013, por
exemplo, solicitou-se que o aspirante escrevesse um e-mail. Na carta, que deveria ter
de 100 a 120 palavras, o estudante deveria cumprimentar o remetente, responder
pontualmente às perguntas que lhe foram feitas, enviar-lhe conselhos sobre o que
a pessoa deveria fazer em sua casa (com base no e-mail apresentado) e despedir-se.
Neste caso, solicitou-se competências ligadas ao uso formal da língua.

Na prova de competência auditiva é solicitado que o estudante demonstre


ser hábil na compreensão de inúmeras situações comunicativas do cotidiano.
Nas provas realizadas ao longo dos anos surgiram comerciais de eletrônicos,
comentários de ouvintes feitos em rádios espanholas, assim como outras situações
recorrentes no uso e na compreensão da língua.

Já no âmbito da competência de leitura, as questões são basicamente


ligadas ao tema da interpretação textual. Vale ressaltar que, em todos os níveis, as
provas são realizadas em língua espanhola.

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UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

FIGURA 32 – MODELO DE PROVA DE MÚLTIPLA ESCOLHA APLICADA NO NÍVEL B1


(INTERMEDIÁRIO)

FONTE: Instituto Cervantes (s.d.)

DICAS

Você pode melhorar sua competência auditiva através de ferramentas


on-line. A internet pode ser uma mina de ouro no que diz respeito ao acesso a
materiais gratuitos. Uma forma muito útil de treinar a competência auditiva é através
do Youtube (www.youtube.com).Lá, você pode encontrar canais específicos nos quais é
possível acessar vídeos em conteúdo em língua espanhola (com a opção de colocar ou não
legendas em português ou em espanhol). Um dos canais mais famosos é o TED em Español.
Lá é possível encontrar diversas palestras sobre temas de interesse do usuário. Outro modo
interessante é o uso de redes sociais, como o Facebook, onde é possível subscrever-se a
páginas de países latino-americanos ou da Espanha.

6.2 CERTIFICADO DE ESPAÑOL LENGUA Y USO (CELU)


O CELU - Certificado de Español Lengua y Uso é uma certificação
oficial oferecida pelo Governo da Argentina. Diferentemente do DELE, o CELU
contempla somente os níveis Intermediário e Avançado do Marco Europeu
(B2 e C1). A proposta do CELU está centrada no uso da língua espanhola e
nas capacidades de desenvoltura do falante da língua nas distintas situações
comunicativas. De acordo com o Consórcio ELSE, responsável pela elaboração
da prova, os níveis Intermediário e Avançado são entendidos da seguinte forma
pela instituição organizadora:

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TÓPICO 3 | LINGUÍSTICA APLICADA À LÍNGUA ESPANHOLA

Intermedio:
Puede desenvolverse en español oral y escrito con cierta fluidez
y naturalidad en situaciones familiares, sociales y de servicios
aunque vacila en contextos desconocidos o ante la necesidad
de matizar o precisar sus enunciados. Puede desempeñarse
medianamente en los ámbitos laboral o académico con
algunas dificultades en la precisión o en situaciones especiales.
Comparable al Nivel B2 del MCER y al Advanced Low del
ACTFL
Avanzado:
Se desempeña cómoda y espontáneamente en la lengua española
oral y escrita en una amplia gama de situaciones familiares y
sociales. Puede desempeñarse correcta y adecuadamente en el
ámbito laboral y en el ámbito académico. Comparable al Nivel
C1 del MCER y al Superior del ACTFL (Disponível em: <http://
www.celu.edu.ar/es/content/validez>. Acesso em: 10 out. 2017).

O certificado CELU, assim como o DELE, não possui data de validade pré-
estipulada. Isso significa que, uma vez realizada a prova e obtida a aprovação, o
falante obtém uma certificação vitalícia.

Você lembra quando mencionamos a situação hipotética do ganho de


uma bolsa de estudos na Espanha e a necessidade da comprovação de habilidade
comunicativa através do DELE? O mesmo pode ocorrer com o CELU em relação à
Argentina. Esta é a única certificação reconhecida pelo governo daquele país. No
âmbito da língua espanhola, são as únicas certificações oficiais. O CELU ampara-
se em uma filosofia não propriamente centrada na ação, mas no uso da língua
espanhola nos seus distintos contextos comunicativos. A prova ainda se isenta de
exigir do falante o conhecimento de expressões regionalistas ou do domínio dos
acentos linguísticos falados na Argentina.

FIGURA 33 – CELU – CERTIFICADO DE ESPANOL DE LENGUA


Y USO

FONTE: Disponível em: <http://www.celu.edu.ar/>. Acesso


em: 20 set. 2017.

No Brasil, há aplicações do CELU em Santa Catarina, no Rio Grande do


Sul, no Paraná, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, no Tocantins,
na Bahia, em Pernambuco, no Ceará e no Amazonas.

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UNIDADE 1 | LINGUÍSTICA GERAL, TEÓRICA E APLICADA DA LÍNGUA ESPANHOLA

NOTA

Você pode obter mais informações sobre os critérios deste certificado em


<www.celu.edu.ar>. No website atualmente disponível é possível encontrar informações
sobre os níveis, sobre as provas, assim como as sedes de aplicação credenciadas no Brasil
e no exterior.

6.3 PROFICIÊNCIA EM LEITURA

Outra forma de testar o conhecimento em língua estrangeira é através de


provas de proficiência em leitura. Estas provas, geralmente com validade em todo o
território nacional, possibilitam ao estudante de graduação e pós-graduação obter
uma certificação oficial de instituição de nível superior reconhecida pelo Ministério
da Educação do Brasil. Diferentemente do DELE e do CELU, estes certificados
dificilmente são aceitos no exterior com os mesmos efeitos das provas aplicadas
pelos governos da Espanha e da Argentina, visto que não testam as competências
orais e escritas em língua estrangeira. Cada universidade brasileira adota seus
próprios critérios na elaboração e correção de suas provas e os interessados podem
se inscrever diretamente nos domínios de cada instituição de ensino.

A Linguística Aplicada aos certificados de competência em língua estrangeira


é uma área muito explorada no âmbito da didática de espanhol como língua
estrangeira e movimenta diversos ramos profissionais no âmbito desta disciplina.

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RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A história da Linguística Aplicada e a concepção inicial de uso dessa disciplina


ocorreram em um contexto histórico turbulento.

• Os desdobramentos da Linguística Aplicada se desenvolveram na esfera de


uma perspectiva ampliada, a computação.

• As áreas de atuação da Linguística Aplicada e as problemáticas destas


movimentaram a produção de conhecimento em cada uma das respectivas
áreas.

• O tema da didática da língua espanhola constitui uma abordagem importante


no âmbito da Linguística Aplicada.

• O Marco Europeu de Referência para as Línguas é vital para o ensino de


espanhol como língua estrangeira.

• As experiências digitais no ensino de espanhol como língua estrangeira, como


"El Quijote en el aula", "Mi mundo en palabras" e o "AVA".

• Os exames DELE e CELU, e as provas de proficiência em leitura como


possibilidades de certificação linguística no âmbito do espanhol.

71
AUTOATIVIDADE

1 De acordo com as leituras realizadas na primeira parte do presente tópico,


a Linguística Aplicada é:

a) A parte da linguística que investiga os aspectos centrais das línguas


vernáculas, dedicando-se a entender a estrutura de cada idioma e a
caracterização do conhecimento linguístico dos falantes. É formada por
outras disciplinas igualmente importantes, como a Morfologia, a Semântica,
a Sintaxe e a Linguística Geral.
b) A disciplina responsável por estudar questões ligadas a fatores
psicolinguísticos e universais, ignorando aspectos de ordem fonológica.
c) A disciplina que busca compreender como se produzem os sons da fala
humana, assim como questões de ordem física no processo de enunciação
destas palavras.
d) A disciplina que busca utilizar as técnicas e os achados científicos da
linguística teórica na resolução de problemas da vida diária. Está em
constante articulação com todo o conhecimento produzido em outros
domínios da linguística.

2 Observe as seguintes definições correspondentes a cada uma destas áreas


linguísticas e atribua a condição de “V” (verdadeiro) ou “F” (falso).

Nome da Verdadeiro
Descrição
Disciplina ou falso?
Os profissionais que trabalham no âmbito
desta disciplina, de acordo com o Instituto
Cervantes, “desarrollan herramientas para
que la comunicación entre el hombre y las
Terminologia máquinas se pueda llevar a cabo mediante
la voz”. Estes profissionais realizam análises
acústicas e outros trabalhos técnicos ligados
ao âmbito da fala e de softwares voltados para
este fim.
O interesse dessa disciplina se centra
nos usos linguísticos que "se consideran
normativos y en la creación de un estándar".
Tradução Assistida
Seu funcionamento é imprescindível em
por Computador
regiões bilíngues e multilíngues, sobretudo
em megalópoles que concentram índices
relevantes de imigração.

72
É o profissional que trabalha diretamente
com a palavra e também com princípios
metodológicos importantes na organização
de dicionários. Passam pelo eixo da profissão
Lexicógrafo
questões ligadas à inserção de termos
modernos, atualização de termos existentes
e estabelecimento de definições incorporadas
a partir do uso.
É a disciplina que "identifica y analiza los
términos que se utilizan en las diversas áreas
Fonética Aplicada
del saber, con el fin de hacer propuestas de
estandarización".
Faz parte da Linguística clínica e está associada
ao estudo das alterações da linguagem.
No Brasil, também é conhecida como
Fonoaudiologia. O profissional da Linguística
Logopédia Aplicada que opte por se orientar por este
caminho, por exemplo, poderá realizar uma
formação paralela em Fonoaudiologia ou
participar de atividades investigativas ou
laborais que envolvam esta área.

73

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