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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
CURSO PEDAGOGIA
Jacyara Camargo
EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA:
QUAL A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA PARA O POVO KAINGANG DA
TERRA INDÍGENA XAPECÓ?
Florianópolis
2022
Jacyara Camargo
EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA:
QUAL A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA PARA O POVO KAINGANG DA
TERRA INDÍGENA XAPECÓ?
Orientadora: Profª Drª Jocemara Triches
Florianópolis
2022
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de Geração
Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.
Camargo, Jacyara
EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA: qual a função social da escola para o povo Kaingang da
Terra Indígena Xapecó? / Jacyara Camargo; orientadora, Jocemara Triches, 2022. 94 p.
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) Universidade Federal de Santa Catarina, Centro
de Ciências da Educação, Graduação em Pedagogia, Florianópolis, 2022.
Inclui referências.
1. Pedagogia. 2. Educação Escolar indígena. 3. Educação Indígena. 4. Escola Indígena de
Educação Básica Cacique Vanhkrê. 5. Escola Indígena Kaingang e sua Função Social. I.
Triches, Jocemara. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Graduação em Pedagogia. III.
Título.
Jacyara Camargo
EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA:
QUAL A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA PARA O POVO KAINGANG DA
TERRA INDÍGENA XAPECÓ?
Este Trabalho Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Título de
“Licenciada em Pedagogia” e aprovado em sua forma final pelo Curso Graduação em
Pedagogia
Florianópolis, 21 de março 2022.
________________________
Profª. Patrícia de Moraes Lima, Dra.
Coordenadora do Curso
Banca Examinadora:
________________________
Profª Jocemara Triches, Dra
Orientadora
CED/UFSC
________________________
Prof. Bruno Ferreira, Dr.
Avaliador
Instituto Estadual de Educação
Indígena Ângelo Manhká Miguel
________________________
Profª Ana Lúcia Vulfe Nötzold, Dra.
Avaliadora
CFH/UFSC
________________________
Prof Sandor Fernando Bringmann, Dr.
Avaliador
CED/UFSC
________________________
Profª Patrícia de Moraes Lima, Dra.
Avaliadora suplente
CED/UFSC
DEDICATÓRIA
Este trabalho é dedicado inteiramente aos indígenas. Em
especial aos colegas Fábio e Geny (Rethe), pelas valiosas
e incontáveis experiências de vida divididas comigo, que
influenciaram na minha trajetória até aqui. Poder contar
com a boa vontade e o conhecimento destas pessoas foi
essencial para o meu crescimento pessoal e intelectual.
Gratidão.
AGRADECIMENTOS
Não posso deixar de mencionar que sempre tive o sonho de estudar em uma Universidade
Federal, sendo que por muito tempo, por diversos motivos, acreditei que isso nunca seria
possível. Mas, na vida tudo tem o tempo certo para acontecer. E hoje agradeço a
oportunidade de estudar numa Instituição Pública, gratuita e de qualidade como a
Universidade Federal de Santa Catarina, com seus diversos espaços de formação que
concede aos estudantes;
À todos os professores que conheci e que contribuíram para o meu processo formativo.
Em especial, à Professora Jocemara Triches que marcou a minha trajetória no Curso de
Pedagogia sendo a minha maior inspiração, sempre estando presente em momentos que
precisei de ajuda, mesmo quando as dificuldades eram pessoais; além disso, por ter me
proporcionado a oportunidade de ser bolsista na monitoria indígena – inclusive foi esta
experiência que transformou minha trajetória acadêmica e a minha vida;
À Professora Ana Lúcia Vulfe Nötzold por estar sempre à disposição quando precisei;
por ter disponibilizado diversos materiais que foram essenciais para que este trabalho
fosse realizado; também por ministrar a disciplina de História Indígena com tamanha
intensidade onde eu tive a certeza do caminho que estava trilhando;
A todos os professores indígenas e lideranças que conheci em eventos, como Ailton
Krenak, Bruno Kaingang, Casé Angatu, Daniel Munduruku, Edson Kayapó, Edson
Krenak, Gersem Baniwa, Géssica Nunes, Marcia Kambeba, Raquel Kubeo, Rejane
Kaingang, Vangri Kaingang e tantos outros. A todos esses o meu muito obrigado, por
todos os ensinamentos;
À Professora Eliane Debus por todos os aprendizados, pelas conversas e cafés antes das
reuniões das terçasfeiras pela manhã; até mesmo pelas chamadas de atenção quando era
necessário. Pelo incentivo e preocupação que tem com cada um dos colegas petianos.
Todas as vivencias dentro do PETPedagogia contribuíram muito para a minha formação;
Ao Programa de Educação Tutorial (PET) que tive a oportunidade de participar desde
2018, e que me proporcionou incontáveis experiências e me aproximou de diversas
pessoas que contribuíram para a minha formação. Do PETPedagogia agradeço à
professora e tutora Eliane Debus; às Professoras Maria Hermínia F. L. Laffin e Walesca
R. Becker; aos colegas petianos Juliana B. Pires, Maria Lúcia Martins, Pedro Salles,
Suelen A. Ferreira e Thayene Esquivel; aos novos integrantes do PET que não foi possível
conhecer pessoalmente devido ao distanciamento social causado pela pandemia Covid19,
mas que mesmo distantes trouxeram grandes contribuições para a minha formação.
Obrigada por todas as ações e trabalhos realizados em conjunto, inclusive as faxinas na
sala do PET, os almoços no RU, os ensaios com o Grupo Cênico Literário Contarolando
nas quartasfeiras pela manhã;
Aos colegas indígenas Fábio e Geny por todo conhecimento que dividiram comigo;
À minha amiga Grace Gatto, que me indicou como bolsista para a creche do Centro de
Educação Infantil dos Associados do Hospital Universitário (CEI/ASHU), por sempre
estar presente, por ouvir meus desabafos, pela ajuda com os trabalhos, pelas conversas,
cafés e risadas compartilhadas;
Aos professores Ana Lúcia Vulfe Nötzold, Bruno Ferreira e Sandor Fernando Bringmann
e Patrícia de Moraes Lima por aceitarem participar da banca de TCC e colaborarem com
este processo;
Finalizo agradecendo à minha família, aos meus pais José William Camargo e Maria
Gorete Camargo por sempre me incentivarem a ir em busca dos meus sonhos. Agradeço
especialmente ao meu esposo Ricardo Kinal, pelo carinho e apoio que obtive ao longo
desses seis anos e por me dar todo o suporte necessário para que eu pudesse chegar até
aqui. Peço desculpas por todas as vezes que estive ausente. Essa vitória também é sua.
Amo você!
O Brasil indígena reflete hoje as grandes e complexas
contradições históricas enfrentadas na relação com o Estado e
com a sociedade nacional. Do ponto de vista da história colonial,
o Brasil indígena foi e continua portando diferentes imaginários
discriminatórios e excludentes. Tais imaginários reducionistas
escondem o Brasil indígena real, com suas limitações, grandezas,
potencialidades e oportunidades. O Brasil indígena de pessoas e
civilizações complexas e milenares, de cidadãos com vozes,
direitos e agendas políticas próprias e diferenciadas entre si e
com relação ao país, mas que clamam por atenção e interação
com a agenda nacional. O Brasil indígena de grande e rica
diversidade cultural, linguística e econômica que precisa ser
conhecida, reconhecida, valorizada e promovida.
Gersem Baniwa.
RESUMO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso teve como objetivo geral compreender qual
a função social da Escola Indígena de Educação Básica Cacique Vanhkrê, para as
comunidades Kaingang da Terra Indígena Xapecó, no oeste de Santa Catarina. Tratase
de uma pesquisa do tipo exploratória, com abordagem qualitativa, com análise
bibliográfica e documental. Entre o material analisado estão documentos oficiais da
política da educação escolar indígena nacional e do estado de Santa Catarina e, em
especial, o Projeto Político Pedagógico da Escola Indígena de Educação Básica Cacique
Vanhkrê. Para sustentar esta pesquisa, utilizamos um como base um referencial teórico
vinculado a autores estudiosos e militantes da causa educação escolar indígena, entre eles
Bruno Ferreira Kaingang, Carlos José Ferreira dos Santos – Casé Angatu, Gersem dos
Santos Luciano Baniwa, Ana Lúcia Vulfe Nötzold, Carlos Augusto da Rocha Freire, João
Pacheco de Oliveira, Juracilda Veiga, Maria Aparecida Bergamaschi, Sandor Fernando
Bringmann, Talita Daniel Salvaro. Estudar a modalidade educação escolar indígena é uma
das formas possíveis de conhecer um pouco mais sobre os povos indígenas, sobre nossa
história e de pensar outras formas possíveis de educação escolar. A escola tem um papel
importante para a comunidade indígena no que diz respeito ao fortalecimento e
revitalização da sua cultura e formação de quadros para representar e lutar por seus
direitos, porém os órgãos governamentais precisam estar atentos as diversidades étnicas,
para garantir o funcionamento das escolas de acordo com as especificidades de cada etnia.
Enfim, esta pesquisa possibilitou ampliar os conhecimentos sobre as diferenças de
educação para os Povos Indígenas.
Palavraschave: Educação Escolar indígena; Educação Indígena; E.I.E.B Cacique
Vanhkrê; Escola Indígena Kaingang; Função Social da Escola;
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Terras Indígenas em Santa Catarina, por etnia, em 2010................................22
Figura 2 – Povos Indígenas no Brasil em 1500.................................................................30
Figura 3 – Distribuição da população Indígena no Brasil, por habitantes, 2010..............31
Figura 4 – Estrutura das escolas indígenas no Brasil, 2020...............................................43
Figura 5 – Ensino na Língua materna..............................................................................44
Figura 6 – Escolas Indígenas em Santa Catarina, 2018.....................................................55
Figura 7 – Primeira escola ...............................................................................................62
Figura 8 – Localização da Terra Indígena Xapecó e suas localidades limítrofes..............64
Figura 9 – E.I.E.B Cacique Vanhkrê vista parcialmente..................................................73
Figura 10 – E.I.E.B Cacique Vanhkrê vista externa do prédio.........................................73
Figura 11 – E.I.E.B Cacique Vanhkrê vista do pátio interno...........................................74
Figura 12 – Ginásio de Esportes na forma de tatu, E.I.E.B Cacique Vanhkrê.................74
Figura 13 – Centro Cultural em forma de tartaruga, E.I.E.B Cacique Vanhkrê...............74
Figura 14 – Centro Cultural parte interna, E.I.E.B Cacique Vanhkrê...............................75
Figura 15 – Alfabeto móvel Kaingang.............................................................................83
Figura 16 – Cartaz com o alfabeto Kaingang...................................................................83
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Distribuição de alunos por turma na E.I.E.B. Cacique Vanhkrê, 2010........ 70
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Número de Escolas Indígenas, 1999 a 2018.................................................42
Gráfico 2 – Matrículas em escolas indígenas no Brasil, por etapa de ensino, 2020....... 43
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
ASIE – Ação Saberes Indígenas na Escola
BNCC – Base Nacional Comum Curricular
CEE – Conselho Estadual de Educação
CEPIN – Conselho Estadual dos Povos Indígenas
CF – Constituição Federal
CNE – Conselho Nacional de Educação
CNEEI – Conselho Nacional de Educação Escolar Indígena
COREF – Coordenadoria Regional da Grande Florianópolis
DCN – Diretrizes Curriculares Nacionais
DCNEI – Diretrizes Curriculares Nacional para Escolas Indígenas
EEI – Educação Escolar Indígena
E.I.E.B. – Escola Indígena de Educação Básica
ERER – Educação para as Relações ÉtnicoRaciais
FNDE – Fundo Nacional de Educação
FUNAI – Fundação Nacional do Índio
GERED – Gerências Regionais de Educação
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
LABHIN – Laboratório de História Indígena/UFSC
LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MEC – Ministério da Educação
NEI – Núcleo de Educação Escolar Indígena
OBEDUC – Observatório da Educação
OEEI – Observatório da Educação Escolar Indígena
OIT – Organização Internacional do Trabalho
PAR – Programa de Ações Articuladas
PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola
PEE – Plano Estadual de Educação
PNE – Plano Nacional de Educação
PPP – Projeto Político Pedagógico
SAAD – Secretaria de Ações Afirmativas e Diversidades
SED – Secretaria de Estado da Educação
SPI – Serviço de Proteção aos Índios
SPILTN – Serviço de Proteção aos Índios e Localização dos Trabalhadores Nacionais
TCC – Trabalho de Conclusão de Curso
TI – Terra Indígena
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFTM – Universidade Federal do Triangulo Mineiro
PUC – Pontifícia Universidade Católica
UFMA – Universidade Federal do Maranhão
UFSB – Universidade Federal do Sul da Bahia
IFBA – Instituto Federal da Bahia
CFH – Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Sumário
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 14
1.1 OBJETIVOS ......................................................................................................................... 20
1.1.1 Objetivo Geral: ................................................................................................................. 20
1.1.2 Objetivos Específicos: ...................................................................................................... 20
2. BREVE HISTÓRICO DOS POVOS INDÍGENAS EM SANTA CATARINA ........... 22
2.1 ETNIA INDÍGENA GUARANI EM SANTA CATARINA ................................................ 23
2.2 ETNIA INDÍGENA XOKLENG/LAKLÃNÕ EM SANTA CATARINA ........................... 24
2.3 KAINGANG: A MAIOR ETNIA INDÍGENA EM SANTA CATARINA .......................... 25
3. PROCESSO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA NO BRASIL 29
3.1 EM SÍNTESE: A ARTICULAÇÃO DA EDUCAÇÃO INDÍGENA E DA EDUCAÇÃO
ESCOLAR INDÍGENA .............................................................................................................. 46
4. A ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA EM SANTA
CATARINA ............................................................................................................................... 50
4.1 DADOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA: NACIONAL E DE SANTA
CATARINA ................................................................................................................................ 54
4.2 ESCOLA KAINGANG EM SC: A PRIMEIRA ESCOLA .................................................. 61
5. O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO E.I.E.B. CACIQUE VANHKRÊ ................ 68
5.1 A ESCOLA E SUA RELAÇÃO COM A COMUNIDADE ................................................. 69
5.2 FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA INDÍGENA ................................................................... 77
6 . CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 85
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 88
ANEXOS .................................................................................................................................... 94
14
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho de conclusão de curso (TCC) apresentado na licenciatura em
Pedagogia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) tem como tema a educação
escolar indígena, especificamente sobre a função social da escola para o povo Kaingang
da Terra Indígena (TI) Xapecó, em Santa Catarina.
A presença dos Kaingang neste Estado existe muito antes da chegada dos
exploradores europeus e da demarcação dos limites geográficos de Santa Catarina.
Brighenti (2012) nos explica que o povo indígena Kaingang ocupava originalmente um
território que compreendia “as terras altas, desde o interior do estado de São Paulo até o
centro norte do estado do Rio Grande do Sul”, portanto passando por terras hoje
consideradas de Santa Catarina. Segundo ele, “evidências arqueológicas indicam que os
Kaingang e Xokleng teriam ocupado primeiro o estado com posterior ocupação Guarani,
significando que não são territórios exclusivos” (SCHMITZ, 2011 apud BRIGHENTI,
2012, p. 01).1
Um dos maiores obstáculos e inimigo do povo Kaingang foi a exploração e
colonização do seu território pelos imigrantes europeus a partir do final século XIX. Os
grupos Kaingang resistiram por muito tempo impedindo a ocupação de suas terras, porém,
havia entre seu povo alguns membros que eram considerados colaboradores, entre eles os
caciques Vitorino Kondá e Estevão Ribeiro do Nascimento Veri, que em 1858
colaboravam com os governos provinciais facilitando a colonização da região em troca
de títulos militares, armas e remuneração. Oppitz e Reis (2012, p. 314) explicam que,
É importante ir além da noção de “colaboracionismo indígena” e da ideia de
manipulação de mão única por ela evocada. O que aconteceu entre o colo
nizador e lideranças indígenas, em meados do século XIX, foi uma “relação de
colaboração”, uma “colaboração mútua”, da qual ambas as partes, colonizador
e indígena, usufruíam.
Com o auxílio destes dois caciques foram abertas as estradas que ligavam os
campos de Palmas à região das Missões no Rio Grande do Sul, portanto atravessando
1
Na próxima seção retomarei a história sobre a ocupação e apresentação dos povos indígenas em Santa
Catarina, verticalizando a exposição sobre a etnia Kaingang.
15
grande parte do território indígena Kaingang e facilitando o processo interiorização da
colonização via doação de terras dessa região para imigrantes (BRIGHENTI, 2012).
Sobre este momento histórico Brighenti (2012, p. 52) relata que,
Concluído o domínio de diversos grupos Kaingang, são criados aldeamentos
para instruílos ao trabalho e convertêlos à fé católica. O aldeamento era
considerado uma forma de transformálos em não indígenas pela via do bran
queamento, através de incentivos a casamentos mistos. Ao final do século XIX
a política de aldeamento foi considerada um fracasso devido a resistência
indígena em aceitar a proposta e submeterse. Com o advento da República e
amparado pela Lei nº 601/1850 (Lei de Terras de 1850) o governo do Paraná
criou algumas reservas no estado, dentre eles a TI Xapecó, em 1902.
(BRIGHENTI, 2012, p. 52).
A partir da abertura das estradas a região dos rios Chapecó e Chapecozinho,
território dos grupos Kaingang, começou a ser colonizada. Nesta época o governo do
estado do Paraná destinava terras aos colonos imigrantes, enquanto contratava a mão de
obra indígena para a abertura das estradas e construção da linha telegráfica na região do
oeste de Santa Catarina. Um dos indígenas contratado pelo governo foi o Cacique
Vanhkrê, um importante líder Kaingang que ajudou na conquista e demarcação da TI
Xapecó por volta de 1890, quando solicitou ao governo que as terras seriam a forma de
pagamento, acordo efetivado pelo Decreto Nº 7, de 18 de Junho de 1902. Para entender o
contexto de como se chegou à conquista dessa terra segue abaixo uma citação em que
expressa,
O Governador do Estado do Paraná, atendendo a que a tribu de indios Coroados
de que é chefe o cacique Vaicrê, em número aproximado de duzentas almas,
achase estabelecido na margem esquerda do rio Chapecó, no município de
Palmas; e Considerando que é necessário reservar uma área de terra para que
os mesmos indios possam, com a necessário estabilidade dedicarse à lavoura,
á que estão afeitos; Usando da autorização que lhe confere o artigo 29 da Lei
nº 68 de 20 de dezembro de 1892 Decreta: Art. Único. Fica reservada para o
estabelecimento da tribu de indígenas coroados ao mando do cacique Vaicrê,
salvo direito de terceiros, uma das áreas de terra compreendida nos limites
seguintes: A partir do rio Chapecó, pela estrada que segue para o sul, até o
passo do rio Chapecósinho, e por estes dous rios até onde elles fazem barra.
Palácio do Governo do Estado do Paraná, em 18 de Junho de 1902, 14º da
República. Francisco Xavier da Silva Artur Pedreira de Cerqueira
(RELATÓRIO, 18 de junho de 1902 apud SILVA; SILVA, 2012, p 167).
Por volta de 1920 os conflitos em território Kaingang começaram a se intensificar,
não sendo possível impedir a ampliação da colonização da região e ataques e violência
contra os povos indígenas.
Em 1941 foi criado um posto do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) na TI
Xapecó, o Posto Indígena Chapecó onde ao longo dos anos foram acontecendo diversas
16
mudanças que impactou diretamente na organização social dos grupos Kaingang. Em
síntese, seguindo a tendência nacional, vítimas da violência do homem branco, o povo
Kaingang foi aos poucos sendo silenciado e impedido de utilizar seus costumes e rituais,
como Kiki2 (E.I.E.B CACIQUE VANHKRE, 2010).
Em 1965 o SPI realizou nova demarcação da TI Xapecó ficando definida até os dias
atuais em 15.623,9681 hectares ao total. A TI Xapecó é composta por 16 aldeias, a saber:
Aldeia Jacú (Sede), Olaria, Pinhalzinho, Cerro Doce, Serrano, Baixo Samburá, Água
Branca, Fazenda São José, Matão, Paiol de Barro, Linha Limeira, João Veloso, Manduri,
Guarani, Barro Preto e Campos Oliveira. A população é majoritariamente Kaingang
(5.105 pessoas) e possui um grupo Guarani (111 pessoas) que habitam a aldeia Linha
Limeira. (NÖTZOLD, 2015, p. 25). Nessas aldeias os primeiros registros de criação de
escola datam de 1939, na aldeia Banhado Grande.
A Escola escolhida para estudo nesta pesquisa, Escola Indígena de Educação Básica
(E.I.E.B) Cacique Vanhkrê, fica situada na aldeia Jacu – Sede da TI, atendendo crianças
e jovens Kaingang de aldeias próximas. Está localizada no município de IpuaçuSC, na
Terra Indígena Xapecó, entre os rios Chapecó e Chapecozinho. Originalmente a Escola
tinha outro nome, quando por volta do ano de 1999 a comunidade solicitou a Secretaria
de Estado da Educação de Santa Catarina (SED/SC), a troca de Colégio Estadual Vitorino
Kondá para Cacique Vanhrê, devido ao fato do primeiro homenageado ter sido um líder
aliado aos brancos e não representar os interesses da comunidade (E.I.E.B CACIQUE
VANHKRE, 2010).
Parece oportuno e necessário diferençar os conceitos de educação indígena e
educação escolar indígena. De acordo com Ferreira (2014, p. 76) “os povos indígenas
possuem seus modos próprios de construção de conhecimentos e que vem se sustentando
graças as estratégias ou as ações pedagógicas próprias de cada povo”, ou seja, a educação
indígena acontece no dia a dia, na convivência com a comunidade onde as crianças
aprendem através dos bons exemplos, oralidade e da observação. Além disso, não pode
ser considerada única devido ao grande número de etnias. Já a educação escolar indígena,
foco desse estudo, hoje uma modalidade de ensino, é aquela que acontece dentro do
2
Kiki é uma bebida típica Kaingang, produzida com mel nativo. O ritual do Kiki é uma festa oferecida aos
mortos recentes. É um momento muito importante, pois é nesse ritual que acontece o encontro das pessoas
que não existem mais entre os vivos; elas voltam para rever seus parentes que permanecem aqui na terra.
Dizem os Kaingang que, após a festa, os mortos retornam para suas moradas de baixo da terra, onde ficaram
aguardando a vinda dos seus parentes. Acreditase que a festa do Kiki seja o ritual mais importante do povo
Kaingang (FERREIRA, 2014 p. 38).
17
espaço escolar, com a mediação de um professor, onde é transmitido aos alunos os
conhecimentos científicos juntamente com os saberes tradicionais.
Sabemos que a educação precede a escola e que a educação formal/educação escolar
é uma das formas de educação de uma sociedade. Antes de uma criança ter contato com
a escola ela é constituída pelas relações e educação que recebe no meio em que vive, do
grupo que ela pertence. Por sua vez, a escola é uma Instituição social repleta de
contradições e disputas e é constituída e permeada pela compreensão de mundo que os
sujeitos trazem para a escola. No geral ela cumpre a função de interesse do grupo
hegemônico no país, mas tem disputas e tentativas de que ela atenda outros grupos
também (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012). Pela importância que assume nessa
pesquisa, nas próximas seções será retomado o debate sobre a relação entre a educação
indígena e educação escolar indígena.
Também considero importante apresentar como surgiu meu interesse pelo tema. As
motivações para a escolha dele teve início no decorrer da minha participação como
bolsista de monitoria de estudantes indígenas no Curso de Pedagogia, vinculada ao
projeto da Secretaria de Ações Afirmativas (SAAD/UFSC) em 2018, sob orientação local
da então subcoordenadora do Curso, a Profª Jocemara Triches. Meu papel enquanto
bolsista de monitoria era auxiliar os alunos indígenas do Curso, desenvolvendo atividades
de apoio, pois os alunos encontravam muitas dificuldades de adaptação à vida
universitária. As atividades desenvolvidas durante o período de monitoria foram para
auxiliálos na compreensão da linguagem acadêmica, possibilitando uma melhor
compreensão dos conteúdos. No início foi possível observar que os estudantes
apresentavam dificuldades com as tecnologias, isso dificultava a realização de trabalhos
acadêmicos de acordo com as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT).
Em todos os trabalhos realizados os estudantes traziam suas experiências de vida.
Desta forma, ao trazer suas vivências e saberes para a elaboração dos trabalhos
percebemos o aumento do interesse, bem como do desempenho e vínculo com o Curso.
Em vários momentos os estudantes explicitaram o desejo de ampliar seus conhecimentos
para lutar em defesa do seu povo. Entretanto percebemos a insegurança deles em relação
aos não indígenas. A experiência enquanto bolsista de monitoria foi surpreendente e a
formação recíproca.
A partir da experiência como monitora fui observando a falta de debate desse tema
no curso de Pedagogia, assim como a dificuldade dos professores lidarem com estudantes
18
indígenas. Ademais, em pesquisa realizada no Repositório Institucional de Trabalho de
Conclusão de Curso do Curso de Pedagogia – UFSC, constatei que não havia nenhuma
pesquisa relacionada sobre o tema – o que dá maior relevância para esta pesquisa. Esta
foi uma das razões que aumentou ainda mais o interesse em aprofundar os estudos sobre
a temática.
Além disso, em outubro de 2018, surgiu a oportunidade de ingressar como bolsista
do Programa de Educação Tutorial – PET Pedagogia/UFSC, como membro do Núcleo
de Pesquisa da Educação para as Relações ÉtnicoRaciais (ERER), desenvolvendo
pesquisa, ensino e extensão principalmente em projetos com autores indígenas uma das
ações foi Vozes Ancestrais: onde o silencio da poesia reverbera3, na elaboração de artigos
para o boletim informativo Abiodum4, que aborda cultura africana, afrobrasileira e
indígena e sobre leis relativas a essas temáticas. Poder participar como bolsista do PET
Pedagogia, possibilitou ampliar e diversificar significativamente a minha formação.
Em 2020 cursei a disciplina História Indígena, ofertada pelo Curso de Graduação
em História do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH/UFSC), ministrada pela
professora dra. Ana Lúcia Vulfe Nötzold. Durante as aulas, ao notar a intensidade que a
professora ensinava sobre a história dos Povos Indígenas, eu tive a certeza do caminho
que estava trilhando, pois aprendi muito e cada vez mais me envolvia com o tema.
Devido à pandemia da Covid19 5, a maiorias das atividades formativas tem sido
realizada de forma remota. Apesar do ensino remoto ter apresentado grandes limitações,
3
O Projeto Vozes Ancestrais: onde o silencio da poesia reverbera, realizado pelos bolsistas e tutora do
PET Pedagogia/UFSC, tem como objetivo trabalhar com a literatura Africana, Afrobrasileira e Indígena.
Para este projeto foram selecionados poemas das autoras Conceição Evaristo e Márcia Kambeba. Alguns
dos poemas estão disponíveis na plataforma YouTube, no canal do PET – Pedagogia/UFSC. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=TxT2WsRV6sU&t=1s
4
O Boletim Informativo Abiodum o boletim apresenta resultados de pesquisas, ações de ensino e
extensão que abordam cultura africana, afrobrasileira e indígena e sobre leis que contemplam essas
temáticas. O Boletim encontrase disponível em: https://petpedagogiaufsc.paginas.ufsc.br/abiodum/
5
A Covid19 é uma infecção respiratória aguda causada pelo coronavírus SARSCoV2. É uma doença com
grau elevado de contágio em nível global. Em casos mais graves o paciente precisa ser hospitalizado, pois
a doença causa pneumonia grave, dificuldade e insuficiência respiratória, podendo levar à morte. Foi
categorizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como Pandemia, em 11 de março de 2020. Diante
da emergência ocasionada pelo coronavírus SARSCoV2, o reconhecimento da pandemia pela OMS e a
declaração de Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN), o Ministério da Saúde tem
estabelecido sistematicamente medidas para resposta e enfrentamento da covid19. Entre as medidas
indicadas pelo MS, estão as não farmacológicas, como distanciamento social, etiqueta respiratória e de
higienização das mãos, uso de máscaras, limpeza e desinfeção de ambientes, isolamento de casos suspeitos
e confirmados e quarentena dos contatos dos casos de covid19, conforme orientações médicas. Ademais,
o MS recomenda ainda a vacinação contra a covid19 dos grupos prioritários conforme o Plano Nacional
de Operacionalização da Vacinação. Estas medidas devem ser utilizadas de forma integrada, a fim de
controlar a transmissão do SARSCoV2, permitindo também a retomada gradual das atividades
desenvolvidas pelos vários setores e o retorno seguro do convívio social. Disponível em:
https://www.gov.br/saude/ptbr/coronavirus/comoseproteger.
19
também abriu um campo de possibilidade, especialmente como oportunidade de
participação em cursos de extensão oferecidos online por diversas universidades federais
e privadas, que antes ofereciam apenas no presencial. Sendo assim, aproveitei
intensamente o ano de 2021 para participar em pelo menos 32 cursos de extensão
ofertados por instituições como Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), Instituto Federal da Bahia (IFBA),
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), Universidade Federal do
Triangulo Mineiro (UFTM), Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e tantas outras,
que ofereceram cursos com professores indígenas. Esses se constituíram para mim como
grandes referencias na área, como: Ailton Krenak, Bruno Kaingang, Casé Angatu, Daniel
Munduruku, Edson Kayapó, Edson Krenak, Gersem Baniwa, Marcia Kambeba, Raquel
Kubeo, Vangri Kaingang e outros, no qual demonstro imensa gratidão pelos
conhecimentos compartilhados.
Outro motivo para escolha do tema se deve por sentir que existe uma grande
necessidade de se ampliar o debate no Curso que estuda a educação, em especial a
educação escolar e forma professores para atuar na educação básica. Busco alcançar um
público maior de estudantes e docentes que se interessem em aprofundar os
conhecimentos sobre o tema, bem como procurar abrir caminhos para novas pesquisas a
fim de conhecer as culturas indígenas e suas formas de educar. Em outras palavras, na
minha visão o assunto ainda é muito pouco abordado nas disciplinas durante a licenciatura
e a maioria dos graduandos desconhece esta modalidade de ensino, assim como me sentia
e ainda me sinto sobre o tema.
Estudar a educação escolar indígena é para mim uma das formas possíveis de
conhecer um pouco mais sobre os povos indígenas, sobre nossa história e de pensar outras
formas possíveis de educação escolar. É voltarse para os povos originários,
reconhecendo e respeitando a grande diversidade cultural existente, as especificidades e
formas de organização de cada povo. Além disso, representa uma forma de firmar o
compromisso e direito previsto na Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988),
resultado das incansáveis lutas e resistência do Movimento Indígena.
Por limitação do contexto da pandemia, por distanciamento geográfico e pelo tempo
para se fazer um TCC, escolhi analisar o Projeto Político Pedagógico (PPP) da Escola
supracitada e estudar outras produções acadêmicas sobre ela. Contudo, tenho consciência
dos limites dessa escolha e tenho certeza que conhecer a escola e sua comunidade de
perto, por meio de uma pesquisa de campo, permitiria ir mais além, o que faria toda a
20
diferença. Todavia, acredito que esses materiais selecionados podem ajudar a responder
a principal questão dessa pesquisa, qual seja: qual é a função social da Escola Indígena
de Educação Básica Cacique Vanhkrê para as comunidades Kaingang da TI Xapecó.
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 Objetivo Geral:
Compreender qual é a função social da Escola Indígena de Educação Básica
Cacique Vanhkrê para as comunidades Kaingang da TI Xapecó.
1.1.2 Objetivos Específicos:
• Conhecer a organização das escolas indígenas em Santa Catarina a partir da
política deste Estado;
• Conhecer a escola e a proposta pedagógica apresentada no Projeto Político
Pedagógico da E.I.E.B Cacique Vanhkrê;
• Debater sobre o direito à Educação Escolar Indígena nas políticas
educacionais e as previsões de como garantilo;
• Mapear as reivindicações dos povos indígenas quanto a educação escolar e
a previsão legal nas políticas;
• Contribuir para a divulgação do tema na formação de licenciados em
Pedagogia da Universidade Federal de Santa Catarina;
Tratase de uma pesquisa exploratória, de abordagem qualitativa, com análise
documental e bibliográfica. Foram utilizados como fonte primária o PPP da E.I.E.B
Cacique Vanhkrê6 (ESCOLA CACIQUE VANHKRÊ, 2010) e documentos oficiais que
tratam da educação escolar indígena no Brasil e em Santa Cataria, entre eles: Política da
Secretaria de Estado da Educação de Educação Escolar Indígena (SANTA
CATARINA, 2018), Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas
6
Foram realizadas várias tentativas de contato buscando nos aproximar da escola para obter a versão mais
recente e atualizada do PPP, para que pudéssemos trabalhar com a versão do PPP de 2010 e a atual para
perceber os avanços alcançados. Porém não obtivemos êxito. Contudo, apesar de não ser possível buscar
dados mais recentes, este não foi um impedimento para que esta pesquisa se realizasse.
21
(BRASIL, 1998), Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena
na Educação Básica (BRASIL, 2012).
Ademais, para aprofundamento do estudo utilizei como referencial teórico
grandes estudiosos na área, que são pesquisadores e também militantes da causa, como:
Ana Lúcia Vulfe Nötzold (2012; 2017), Bruno Ferreira Kaingang (2014; 2020), Carlos
José Ferreira dos Santos – Casé Angatu (2015), Edson Kayapó (2019), Carlos Augusto
da Rocha Freire (2006), Gersem dos Santos Luciano Baniwa (2006; 2019), João Pacheco
de Oliveira (2006), Juracilda Veiga (1994), Maria Aparecida Bergamaschi (2010), Sandor
Fernando Bringmann (2012; 2017), Talita Daniel Salvaro (2009) e vários outros que
impulsionaram as discussões sobre a educação indígena.
Este trabalho está estruturado em seis seções que buscam demonstrar os estudos
que realizei para compreender o tema e responder à questão e objetivos de pesquisa. Para
além dessa primeira seção introdutória, a segunda tem um caráter mais histórico onde
serão apresentados os povos indígenas em Santa Catarina. Na terceira seção, apresento
mais detalhadamente o processo histórico da educação escolar indígena e a importância
dos povos indígenas na formação do Brasil, os direitos conquistados quanto à educação,
desde a promulgação da Constituição Federal de 1988 e os avanços desta modalidade nos
últimos trinta anos. Na quarta seção explico a organização da Educação Escolar Indígena
em Santa Catarina, os principais documentos e a criação da primeira escola indígena no
estado. Na quinta seção direciono a exposição sobre a Escola escolhida, fazendo análise
do Projeto Político Pedagógico da Escola Indígena de Educação Básica Cacique Vanhkrê,
buscando apresentar as características especificas da escola e sua função social para a
comunidade Kaingang. Na sexta e última seção apresento as considerações finais
trazendo algumas reflexões sobre o trabalho como um todo.
22
2. BREVE HISTÓRICO DOS POVOS INDÍGENAS EM SANTA CATARINA
Atualmente vivem em Santa Catarina três povos indígenas: Guarani,
Xokleng/Laklãnõ e Kaingang. Segundo censo realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), a população indígena no Estado somava um total de
16.041 pessoas vivendo em áreas urbanas e em terras indígenas (BRASIL, 2010). Desses,
10.369 habitantes estavam em terras indígenas, estando distribuídos pelas etnias Guarani
(com 1.657 habitantes); Xokleng/Laklãnõ (2.169); Kaingang (6.543 indígenas). Vêse
que a etnia Kaingang é a mais numerosa, ainda que bastante concentrada em algumas
regiões, como podemos ver no mapa a seguir:
Figura 1: Terras Indígenas em Santa Catarina, por etnia, em 2010.
Fonte: Clovis Antonio Brighenti, 2012. Elaborado por Carina Santos de Almeida.
De acordo com o Censo realizado em 2010, houve um aumento de 3% na
população indígena nas últimas décadas (BRASIL, 2010). Esse aumento pode estar
associado aos direitos conquistados com a Constituição Federal brasileira de 1988
(BRASIL, 1988). Contudo, embora os direitos estejam previstos na lei, na prática ainda
tem muito o que avançar. Desde a década de 1970, o movimento indígena tem sido
fundamental na luta pelos seus direitos que a todo instante é ameaçado por parte do
Estado.
Para Baniwa (2006, p. 62), “os povos indígenas, por serem sociedades
fundamentalmente guiadas por princípios de direitos coletivos, são constituídos por
23
organizações sociais complexas, na sua grande maioria nãoformais, nãoescritas, mas
que operam como referência para a vida individual e grupal”. Percebemos que essa forma
diferenciada de organização social não é respeitada, assim como é pouco conhecida pelos
não indígenas.
Existem grandes diferenças entre os povos indígenas. Cada povo apresenta suas
formas próprias de organização social, diferenças linguísticas, cosmologias, costumes e
culturas (BANIWA, 2006; BRIGHENTI, 2012). Porém, suas lutas têm um mesmo
objetivo: um compromisso entre as lideranças, povos e organizações indígenas para lutar
por direitos e políticas públicas, como direito à diferença, saúde e educação diferenciada;
lutam para defender seus territórios, pela demarcação de terras, pela proteção da natureza;
enfim lutam pela vida.
Para conhecer um pouco sobre a história dos povos originários em Santa Catarina
e da etnia aqui estudada, apresento na sequência cada um dos três grupos, mostrando
aspectos comuns e diferentes entre eles.
2.1 ETNIA INDÍGENA GUARANI EM SANTA CATARINA
Em Santa Catarina são 21 aldeias Guarani, normalmente localizadas ao litoral, às
margens da BR 101, mas é muito comum encontrar grupos que dividem terras com outros
povos, como os Kaingang da Aldeia Limeira na TI Xapecó e também com os
Xokleng/Laklãnõ nas Aldeias Toldo e TI Ibirama Laklãnõ. Além disso, são classificados
linguisticamente em Mbya e Nhandeva/Xiripa. Em nosso estado não tem Guarani
Kaiowá, sendo do tronco linguístico Tupi (BRIGHENTI, 2012).
São considerados povos transfronteiriços, ou seja, o território que habitam
compreende mais de uma região e de um país. Na América Latina estão no Brasil, no
Paraguai, na Bolívia e na Argentina. Na sua cosmovisão existe apenas um território,
baseado na sua compreensão de mundo juntando terra, águas e matas. Estudos indicam a
presença destes povos em nosso Estado há 400 anos antes da chegada dos europeus
(BRIGHENTI, 2012).
Segundo Brighenti (2012, p. 46), “A organização social, baseada na família
extensa (casal, filhos, genros e netos) possibilita que as comunidades sejam formadas por
pequenos contingentes populacionais, que comportam em média 80 pessoas”. Essas
24
pequenas comunidades só são possíveis desde que possua uma chefia espiritual e política
própria.
As cerimônias e rituais sagrados são realizados na casa de reza/opy que fica
localizada no centro da aldeia. As práticas religiosas têm uma duração de várias horas e
são conduzidas por um chefe espiritual. As rezas são feitas com cantos, danças e a
principal cerimônia praticada é Nheemongarai, que consiste na benção da colheita, e
também quando uma criança que nasce durante este período recebe o seu nome7.
(LADEIRA, 1984).
Segundo a crença Guarani a concepção de uma criança se dá através de Nhanderu,
que mostra em sonho ao pai, que conta à mãe. Sendo assim, a criança não é gerada, mas,
sim, enviada. Após o pai contar à mãe a palavra se apoia ao seio materno, se encarna e é
gerada. O nome é dado à criança através da revelação. Quando não há a revelação quer
dizer que a palavra não se encarnou, podendo a criança sofrer o risco de não sobreviver
(BRIGHENTI, 2012).
2.2 ETNIA INDÍGENA XOKLENG/LAKLÃNÕ EM SANTA CATARINA
Atualmente são 2.169 pessoas vivendo em duas terras indígenas – TI Ibirama
Laklãnõ, localizada nos municípios José Boiteux, Vitor Meireles, Dr. Pedrinho e
Itaiópolis; e TI Rio dos Pardos, localizada em Porto União. Até pouco tempo atrás
acreditavase que só havia Xokleng no Estado de SC, no entanto várias famílias têm
reconhecido sua identidade e pertencimento ao povo Xokleng e estão reivindicando seu
território no Rio Grande do Sul. Seu tronco linguístico é o Macrojê, evidenciando
parentesco com o povo Kaingang (BRIGHENTI, 2012).
O nome Xokleng é denominado “Montanha de rocha” e “Aranha”, porém o povo
não se reconhece como Xokleng e se autodeclaram como Laklãnõ, que quer dizer “Povo
do Sol” e “Gente ligeira”, que tem a face voltada para o sol.
Eram considerados povos nômades e faziam migrações sazonais, o que contribuía
para serem considerados inimigos do povo Kaingang, pois muitas vezes guerreavam por
causa das demarcações nas matas de araucárias. Viviam fugindo dos não indígenas
7
Disponível em https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Guarani_Mbya acesso em 20 de jan. de 2022
25
durante a colonização e foram quase dizimados por tamanha violência que sofreram por
resistir à invasão, sendo muito atacados pelos chamados bugreiros, que adentravam as
matas durante a noite e atacavam violentamente os homens, mulheres e crianças.
Em 1914 intensificouse a redução desse povo, tanto pelas epidemias quanto pela
violência dos imigrantes, impactando sobre a perda da sua cultura e memória,
principalmente pela morte dos anciãos.
2.3 KAINGANG: A MAIOR ETNIA INDÍGENA EM SANTA CATARINA
Kaingang quer dizer “homem do mato ou da mata”, associado às matas de
araucárias. Integram a maior população indígena do Sul do Brasil, com mais de 60 mil
pessoas, vivendo espalhados por mais de trinta terras indígenas, distribuídas em quatro
estados (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo). A comunidade
Kaingang da TI Xapecó fica localizada entre os municípios Entre Rios e Ipuaçu, com
aproximadamente cinco mil habitantes, distribuídos em novecentos e cinquenta famílias.
Possuem cinco dialetos e seu tronco linguístico pertence ao MacroJê (BRIGHENTI,
2012).
Os Kaingang não eram considerados povos nômades, pois praticavam o cultivo
da agricultura. Muitas vezes precisavam esperar um determinado tempo para a colheita
dos alimentos, então se deslocavam dentro do território histórico em busca de outras
fontes de alimentos em novas terras. Atualmente vivem longe do litoral, geralmente
próximos às matas de araucárias de onde provinha sua maior fonte de proteínas. Também
se alimentavam da mandioca, urtiga e do milho. O milho era um alimento muito
importante para a realização de rituais, e a urtiga era um alimento importante para os
Kaingang. Porém, com o aumento do desmatamento as florestas de araucárias foram
reduzidas, e hoje em dia existe uma grande dificuldade de coleta do pinhão. Outros fatores
também influenciaram a alimentação do povo Kaingang como é o caso dos alimentos
industrializados (OLIVEIRA, 2009).
Também sobrevivem da caça e pesca. Toda retirada da natureza acontece de
acordo com a lua para não destruir a natureza. A natureza e o meio ambiente tem grande
importância para os Kaingang, pois é como se fosse a sua própria vida.
26
Também eram conhecidos como coroados por causa do corte de cabelos que
usavam, Guayanás e Gualachos.
Uma das maiores características desse povo eram suas casas subterrâneas, também
conhecidas como “buracos de bugre". O povo Kaingang também são denominados
bugres, termo aplicado indistintamente aos selvagens do Brasil, além de ser uma forma
pejorativa de se utilizar (BRIGHENTI, 2012).
O contato do povo indígena Kaingang com os não indígenas teve início no século
XVI quando seus territórios começaram a ser invadidos pelos colonizadores e se
intensificou no século XVIII com a expansão das fazendas de criação de gado e abertura
das estradas e caminhos de tropas, que se resumia no trabalho escravo dos indígenas. A
região dos Campos Gerais e Campos de Guarapuava, no Estado do Paraná, eram muito
desejadas pelos colonizadores por serem terras apropriadas a plantações. A conquista
consolidouse em meados do século XIX com a política de imigração e colonização
europeia nas terras “devolutas” que compreendiam o território Kaingang (BRIGHENTI,
2012). Apesar de, a conquista ter se consolidado, existiu muita resistência por parte dos
indígenas.
Os exploradores deixaram registros minuciosos desses primeiros contatos com
os habitantes das florestas subtropicais da Província do Paraná. Mas é
interessante ressaltar que a historiografia oficial não considera essa expansão
como sendo de conquista das terras indígenas e sim como uma disputa pela
posse com os espanhóis. Os indígenas aparecem como obstáculos a serem
vencidos, numa proporção semelhante à dos animais e das florestas, como
empecilhos à implantação do “progresso e da civilização”. (TOMMASINO,
1995, p. 84).
Para o povo Kaingang o mundo é dividido em humanos e não humanos e todos
são regidos por espíritos. A vida religiosa desse povo encontrase no culto aos mortos
conhecido como kiki e na sua organização social em clãs. Neste ritual as metades ficam
separadas, assim utilizam as pinturas e cores diferentes, pois é isto que torna possível a
identificação de cada metade (FERREIRA, 2014).
A organização social deste povo é dividida em duas metades exogâmicas, sendo
elas: Kamé e Kanhru. Os filhos e filhas pertencem a metade do pai, onde cada metade
encontrase dividida em dois grupos com características sociais distintas, no qual são
identificados pela pintura no rosto, e são identificadas como Votôro e Kanhru; e Aniky e
Kame. As pessoas que possuem a mesma linhagem ou pertencem à mesma metade são
27
considerados rengré (irmãos) e os pertencentes a outra metade Iambré (genro, cunhado e
sobrinho) (ALMEIDA, 2012).
Esta divisão em clãs ou dualismo encontrase presente nos animais, plantas, astros
e previsões e está de acordo com o mito de origem Kaingang, pois cada metade possui
sua marca. Os Kamé utilizam Rá Téj como pintura facial – um risco vertical com marca
comprida em cada bochecha; os Kanhru utilizam a pintura Rá Ror na face e corpo com
marca curta8 (VEIGA, 1994).
Os casamentos só devem acontecer com as metades opostas, pois estas se
complementam. Os Kamé são considerados ligeiros, cheios de iniciativas, mas de pouca
persistência. Os Kanhru são considerados fracos/vagarosos, porém persistentes e firmes
na luta. Os elementos utilizados nas pinturas são também encontrados em seus
artesanatos. De acordo com Ferreira (2020, p. 63)
Dizem os kófa que os Kamẽ são considerados possuidores de espírito mais
forte e, por isso, sempre tomam a frente nas cerimônias relacionadas aos
mortos, pois possuem facilidade para intervir junto aos espíritos, caso esses
queiram levar pessoas daqui da terra para a morada dos antepassados
Kaingang, vẽnh kuprĩg jamã morada dos espíritos, prática muito especial no
ritual do Kiki. Por outro lado, os Kajru lideram nas questões políticas e nas
guerras. As distinções da marca téj e ror são importantes em muitos aspectos
da vida e da concepção de mundo. Os Kaingang pintamse principalmente para
o ritual do Kiki e cada metade tem sua pintura exclusiva. Os Kamẽ têm listras
e os Kajru, bolinhas. Os Kaingang vivem a relação de complementariedade,
caracterizada pela reciprocidade como organizadora de suas ações sociais.
Embora os filhos carreguem a marca do pai, quem tem as maiores
responsabilidades na criação dos filhos são as mães e avós. Quando nasce um menino o
avô paterno é o responsável em passar o conhecimento para a criança. Aliás, as crianças
pequenas são as mais respeitadas. Para falar com as crianças os pais precisam se agachar
e ficar à altura da criança, pois segundo a crença Kaingang no filho pode estar a alma do
avô ou bisavô (LUIZ, 2015).
Como o dualismo se encontra em tudo, alguns animais não podem ser caçados por
serem considerados sagrados, para o bem ou para o mal, e todos tem um significado para
o povo Kaingang. Alguns animais são considerados de mau agouro, pois trazem notícias
ruins, sendo um exemplo a coruja – que quando canta perto de casa à noite, anuncia a
morte de um membro da família. Por sua vez, no sentido positivo, o picapau é
considerado sagrado. Dizem que no passado era um espírito espião para os indígenas
8
Disponível em: http://www.portalkaingang.org/index_cultura_2_1.htm acesso: dia 16 de nov. de 2020
28
guerreiros, pois vivia por cima da mata e quando avistava os inimigos usava seu canto
para que seus companheiros pudessem se proteger e atacar seus adversários. Entre os
animais sagrados está o tatu, que seria sinais de abundância se passasse na frente da casa,
mas se cavasse um buraco em frente à casa e entrar nele quer dizer que as notícias seriam
ruins (SANTOS; SANTOS, 2015).
Hoje em dia boa parte da comunidade vive da agricultura e outras pessoas
trabalham fora da aldeia em frigoríficos que ficam próximos a região onde vivem.
Ademais, algumas pessoas obtêm renda da venda dos artesanatos, e algumas dependem
de auxílio de programas do governo federal.
A comunidade da TI Xapecó possui a maior escola indígena do Estado de Santa
Catarina, a E.I.E.B Cacique Vanhkrê. Além de oferecer educação básica para a
comunidade, a instituição é usada por outras instituições para oferta Ensino Superior,
como veremos posteriormente (NÖTZOLD; ROSA, 2012). Desta forma, muitos buscam
por uma formação específica para mais tarde atuar na escola e fortalecer a luta do povo
Kaingang.
29
3. PROCESSO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA NO
BRASIL
Apresentaremos nesta seção o processo histórico da luta pela educação escolar
indígena no Brasil e pela mudança na forma como o tema é abordado na escola de
educação básica que atende a população em geral. Para isso é importante reconhecermos
a importância dos povos indígenas na formação do nosso país, bem como a grande
diversidade cultural existente.
Muito antes da chegada dos portugueses aqui este território já era habitado por
diferentes povos e culturas e era chamado de Pindorama9 pelos Tupis. Isto significa que
os povos indígenas foram os primeiros habitantes deste território. Muitas foram as
contribuições deles para a constituição do nosso país, entre elas por hábitos alimentares,
nomes de pessoas, nome de cidades, na língua portuguesa brasileira, pois muitas são as
palavras utilizadas que tem origem Tupi e está presente diariamente em nossas vidas10.
Acreditase que em 1500, na chegada dos europeus no Brasil a população nativa
era em torno de 4 milhões de habitantes, sendo mais de 1.400 povos com diferentes
formas de organização social, falantes de mais de 1.200 línguas – conforme figura abaixo.
Muitos destes povos pertenciam às grandes famílias linguísticas como TupiGuarani, Jê,
Karib, Aruak, Tukano, Xirianá. Porém, com o passar dos anos houve uma diminuição
drástica na população indígena no Brasil por consequência da escravidão e massacres
produzidos pelos colonizadores (OLIVEIRA; FREIRE, 2006).
9
O nome Pindorama tem origem do tupi pindórama ou pindóretama “terra/lugar ou região das palmeiras”.
Assim os povos indígenas chamavam estas terras antes da chegada dos portugueses. Disponível em:
http://www.tancredoprofessor.com.br/conteudo/76/povosindigenasnobrasil
10
Podemos citar como exemplos nome de lugares, serras, rios, animais, alimentos etc. (Butantã “chão
duro”; Ipiranga “rio vermelho”; MojiMirim “rio pequenos das cobras”; jacu; siriema; baiacu; jacaré;
jibóia; abacaxi; maracujá; jacarandá, dentre outros). A cultura indígena tem uma grande influência em nosso
cotidiano.
30
Figura 2: Povos Indígenas no Brasil em 1500
Fonte: Atlas histórico (1991 apud TANCREDO, 2022)
Hoje no Brasil ainda existe uma diversidade cultural, étnica e linguística muito
grande em virtude do número de povos indígenas que compõem nosso país. Atualmente
o número de habitantes gira em torno de 896 mil indígenas, sendo 305 etnias, 274 línguas
e 69 povos que vivem isolados na Amazônia Legal. Dentre as etnias mais numerosas está
o povo Kaingang (BRIGHENTI, 2012).
Segundo o Censo do IBGE de 2010 32,2% da população indígena vivia em áreas
urbanas e 63,8% em área rural. Os Guarani estavam distribuídos nos Estados do Rio
Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Mato
Grosso do Sul e Pará; o povo Kaingang estava presente nos Estados Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Abaixo apresento uma figura produzida pelo IBGE
(BRASIL, 2010) que mostra a distribuição da população indígena por todo o território
brasileiro.
31
Figura 3: Distribuição da população Indígena no Brasil, por habitantes, 2010
Fonte: IBGE (2010)11
Os povos indígenas são muito diferentes entre si e durante muito tempo sofreram
grandes repressões e diversas formas de violência fazendo com que fossem silenciados e
muitos abandonassem suas culturas como forma de sobrevivência. Cabe aqui destacar o
“Sistema Panelão”, que de acordo com Veiga (2006, p. 5), tratouse de,
no regime de trabalho então implantado, os índios deixavam de ter direito de
trabalhar em suas roças, sendo obrigados a trabalhar nas roças do posto ‘a troco
de comida’: os homens para um lado, e as mulheres para outro. A comida era
feita em uma cantina, em grandes panelas, o que levou esse sistema a ficar
conhecido como panelão.
De acordo com Bringmann (2017), o sistema de trabalho denominado Panelão
aconteceu nos Postos Indígenas de Nonoai e Xapecó por volta de 1940 se intensificando
em 1950, sendo o SPI o órgão responsável. Porém, não ocorreu de modo especifico nestes
dois locais.
A exploração da força de trabalho indígena foi utilizada em vários lugares do país,
inclusive no Posto Indígena Nonoai e Xapecó, no qual eles eram obrigados a trabalhar o
dia todo nas lavouras plantando trigo e milho. Quando chegava a hora de comer eram
formadas grandes filas onde o indígena só comeria se pedisse a comida na língua
11
Disponível em: https://educa.ibge.gov.br/jovens/conhecaobrasil/populacao/20506indigenas.html
32
portuguesa, quem falasse na língua Kaingang era mandado para o final da fila e só
comeria se sobrasse comida (BRINGMANN, 2017).
Segundo Oliveira e Freire (2006), a escravidão adotada pelos colonizadores e
depois pelos imigrantes fez com que muitos povos se deslocassem para outras regiões em
busca de outras terras para viver e escapar da crueldade dos não indígenas. Inclusive, essa
realidade persistiu no Brasil até século XIX e XX. Ademais, a fome, grandes epidemias
e doenças contagiosas também foram responsáveis pelo deslocamento de vários povos.
A Carta escrita por Pero Vaz de Caminha e enviada ao Rei de Portugal, D. Manuel
em maio de 1500 é apontada como um dos documentos mais importantes sobre o
descobrimento do Brasil. Nele foi relatado de forma positiva as impressões de que se
tinha dos povos indígenas – o novo mundo associado ao Jardim do Éden por sua riqueza
natural, descrevendoos como gente inocente e de grande simplicidade, do “bom
selvagem” (OLIVEIRA; FREIRE, 2006).
Este fato também contribuiu para que os missionários portugueses tentassem a
conversão destes povos através da pregação do evangelho na tentativa de “civilizálos”,
sendo a catequização um dos caminhos para a civilização. Além disso, a catequese
contribuiria para expansão e fortalecimento do poder da igreja católica para territórios
além da Europa, tentando conter os efeitos do protestantismo e permitiria uma expansão
mais rápida do sistema colonial que, em resumo, dividia a população em aliados e
inimigos e tinha como objetivo a conversão desses povos à fé cristã (OLIVEIRA;
FREIRE, 2006).
Com a ação missionária houve um grande aumento da criação de conventos,
colégios e igrejas dentro das colônias cuja finalidade era a expansão do sistema colonial
dentro dos aldeamentos, como também a doutrinação e evangelização dos gentios. Estas
imposições eram comandadas pelos missionários e visava a civilização dos índios.
O ‘plano civilizador’, dirigido aos indígenas e explicitado por Nóbrega em
1558, visava ‘defenderlhe comer carne humana e guerrear sem licença do
governador’; ‘fazerlhes ter uma só mulher’; ‘vestiremse’; ‘tirarlhes os
feiticeiros’; fazêlos viver quietos sem se mudar para outra parte ... tendo terras
repartidas que lhes bastem. Com pequenas diferenças nos distintos tempos e
espaços do Brasil colônia, esses princípios se mantiveram nos séculos de
colonização, reforçados pela atuação de outras ordens religiosas como os
beneditinos, franciscanos, carmelitas, lassalistas e salesianos, e retomados pelo
Estado brasileiro no início do século XX, quando se configura um segundo
momento da educação escolar indígena (BERGAMASCHI; MEDEIROS,
2010, p. 57).
33
Contudo, isso não se deu de forma pacífica existindo muita resistência. Os
indígenas negavam o aprendizado e acabavam fugindo dos aldeamentos, porque tinham
dificuldade em abandonar seus costumes religiosos. Desta forma, os jesuítas precisaram
modificar suas práticas, devido a reação dos índios à catequese.
Entre os anos de 1540 e 1570 com a criação dos engenhos de canadeaçúcar os
colonos precisavam da força de trabalho indígena, porém quem era responsável pelos
trabalhos de agricultura eram as mulheres, assim os índios escravizados não aguentavam
o trabalho e acabavam fugindo dos canaviais. Nesta época os missionários se opunham à
escravização dos índios, onde foram combatidos pelos senhores do engenho uma vez que
que não permitiam a escravização de índios. Consequentemente, aconteceram muitas
rebeliões e massacres de indígenas, inclusive com alguns desses povos, como os
Tupiniquins, sendo dizimados (OLIVEIRA; FREIRE, 2006). Entre os movimentos de
grande resistência indígena podemos citar a “guerra dos bárbaros”12, revolta dos índios
Manao13, chefiados por Ajuricaba e os Jesuítas e os Trinta Povos das Missões14
(OLIVEIRA; FREIRE, 2006).
Os jesuítas impunham uma crença e cultura e contribuíam para dominação dos
povos indígenas. Nesse período os curumins, como eram chamados os indígenas nos
colégios de meninos, eram educados não somente pela pregação do evangelho, mas
também por meio de cantos religiosos e cultos. Além disso os jesuítas utilizavam o
catecismo como recurso para a conversão dos índios. A escola, pensada a partir de uma
visão eurocêntrica, começa então a se construir, sendo os jesuítas os responsáveis por ela
(OLIVEIRA; FREIRE, 2006).
A ação missionária jesuítica foi expulsa do Brasil no ano de 1759 por Marquês de
Pombal. As Reformas Pombalinas tinham como um de seus objetivos a modernização da
12
Compreendese por guerra dos bárbaros os conflitos entre índios “Tapuios” e portugueses que ocorreu
em meados do século XVI no litoral do Nordeste.
13
Os índios Manáos pertenciam a família linguística Aruak, que dominavam o território do Vale do Rio
Negro, inclusive outros povos que pertenciam a este território. Por volta do século XVII os portugueses
comercializavam os indígenas escravizados onde trocavam índios Manáos por armas e ferramentas. Alguns
conflitos ocasionaram na morte de Huiuebene, gerando grande revolta. Ajuricaba seu filho decidiu vingar
se dos portugueses, através de emboscadas fazendo alianças com holandeses e impedindo a mãodeobra
escrava. Esses conflitos causaram a morte de quarenta mil indígenas, e a exterminação do povo Manáos.
Ajuricaba então acabou sendo capturado pelos portugueses, mas ao ser levado para a prisão de Belém
acabou atirandose no rio Negro para escapar dos portugueses, onde acabou morrendo afogado. Preferindo
suicidarse do que ser escravizado (OLIVEIRA; FREIRE, 2006).
14
Jesuítas e os Trinta Povos das Missões A expansão do trabalho missionário de jesuítas espanhóis na
região abrangida hoje pelo sul do Brasil levou à criação de um sistema de reduções de índios Guarani.
Denominadas também de “misiones”, pois dirigidas a índios pagãos, as “reducciones” pretendiam “reduzir
os indígenas à vida civilizada” (Kern, 1982:9 apud OLIVEIRA; FREIRE, 2006).
34
cultura portuguesa, bem como a recuperação econômica. Além disso, Marques de pombal
buscava a separação do Estado da Igreja. Sobre isso, Oliveira e Freire (2006, p. 70),
explicam que,
[...] com a reforma aperfeiçoamento do aparelho estatal e administrativo, fato
que se estendeu às colônias (não só na América, mas também na África e na
Ásia). Foi implantada uma política de rigorosa laicização do Estado,
implicando a expulsão de ordens religiosas, o controle de todos os seus agentes
em contato com as populações indígenas e o confisco de suas propriedades.
Pouco antes da expulsão dos Jesuítas, em 1755 foi criado o Diretório dos Índios
que tinha por objetivo transformar os indígenas em cidadãos da coroa portuguesa,
passando a utilizar sobrenomes português. A comunicação entre os indígenas deveria se
dar exclusivamente mediante o uso da língua portuguesa e a língua geral, conhecida
também por nheengatu, ficando então proibida o uso da língua Tupi.
Sobre este contexto, Coelho e Melo (2016, p. 105) explicam:
Concebido também como uma lei “civilizatória” em relação aos povos
indígenas, o Diretório estabelecia que os diretores estimulassem o uso da
língua portuguesa entre os índios e prezassem para que estes fossem honrados
e estimados de acordo com seus cargos. Eram aconselhados a animar os
indígenas para o desenvolvimento do comércio e do trabalho agrícola em suas
próprias terras. Deveriam, ainda, incentivar uma relação amistosa entre
indígenas e brancos no interior das povoações, assim como o casamento entre
eles. O diretor tinha como função também participar ativamente do processo
de cálculo e arrecadação dos dízimos. Eram encarregados de auxiliarem na
distribuição e no controle da mão de obra indígena e na administração da
povoação, cuidando, entre outras coisas, da construção de casas, câmaras e
cadeias públicas. Em troca, os diretores deveriam receber a sexta parte de todos
os gêneros não comestíveis extraídos e cultivados pelos índios (COELHO;
MELO, 2016, p. 105).
Como a exploração da mãodeobra indígena era mantida pelos diretores, muitos
indígenas fugiam ocasionando vários conflitos administrativos. Em 1798 o Diretório
chegou ao fim.
Em síntese, desde o início das dominações portuguesa o objetivo era domínio das
novas terras e exploração das riquezas que aqui possuía, mas para isso era preciso a
civilidade, domínio, controle dos povos indígenas e expropriação de seus territórios.
Segundo Oliveira e Freire (2006, p. 72), “a ‘civilização’ dos índios seria realizada em
escolas públicas, onde lhes seriam ensinados ofícios domésticos e para a subsistência.
‘Índios civilizados’ não mais deveriam ser chamados de ‘negros’ (‘negros da terra’), mas,
35
sim, ganhar sobrenomes como em Portugal. Tinhase por intenção transformálos em
cristãos”.
A criação do Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores
Nacionais (SPILTN) no ano de 1910, que posteriormente passaria a ser chamado apenas
de Serviço de Proteção aos Índios (SPI), tinha como finalidade a continuação do processo
de pacificação de indígenas em áreas de colonização, bem como a proteção dos indígenas
através da tutela. De acordo com Baniwa (2006, p. 71),
Seguindo a concepção equivocada da incapacidade indígena, o SPI passou a
ser o portavoz e o representante dos índios dentro e fora do país. Paralelamente
à atuação do SPI, havia em curso um processo conhecido por “integração e
assimilação cultural” dos povos indígenas sob a tutela do Estado, o que na
prática significava a efetiva e inexorável apropriação de suas terras e a negação
de suas etnicidades e identidades. Os índios deveriam o mais rápido possível
ser integrados à sociedade nacional, ou seja, precisariam viver de maneira igual
a dos brancos, nas cidades ou nas vilas, deixando de ser índios para abrir
caminho à ocupação de suas terras pelos nãoíndios, sob o argumento e a
justificativa da necessidade de expansão das fronteiras agrícolas para o
desenvolvimento econômico do país.
Embora fosse um órgão específico de proteção não dava conta de solucionar os
problemas. O SPI não tinha a capacidade de controlar e promover melhorias na condição
sanitária dos povos indígenas, que enfrentavam surtos epidêmicos, facilitando a extinção
de muitas etnias. O SPI teria como reais intenções,
[...] três objetivos: discurso protetor para a mídia e opinião pública nacional e
internacional que tecia duras críticas aos governos brasileiros; reduzir o grau
de violência física ou pelo menos camuflar a divulgação dessa violência; e,
principalmente, acelerar, domesticar, pacificar e preparar os povos indígenas
para a completa integração e assimilação à sociedade nacional (BANIWA,
2019, p. 33).
O SPI começou a introduzir atividades educacionais voltadas para a produção
econômica e também investia na educação para tornar os índios trabalhadores nacionais.
Bringmann (2015, p. 304) explica que, “No quesito educação, o SPI construiu escolas em
praticamente todos os Postos Indígenas de Nacionalização, cuja função principal era o
tratamento e alfabetização dos indígenas para que os mesmos atingissem no futuro a
capacidade de dirigiremse por si próprios”. Mas, o ensino era precário, os professores
não possuíam nenhuma formação e os materiais didáticos utilizados não possibilitavam
resultados. Em outras palavras,
36
Essa política de “nacionalização” do indígena esteve presente em quase todos
os postos indígenas, onde a professora dos índios era quase sempre a esposa
do encarregado do posto, frequentemente uma pessoa sem qualquer
qualificação para esta prática. Os postos preparavam as crianças indígenas para
a integração no mercado regional à medida que aceitavam também como
alunos os filhos de colonos, dos empregados do posto e de fazendas vizinhas.
As escolas dos postos não se diferenciavam das escolas rurais, do método de
ensino precário à falta de formação do professor. (OLIVEIRA; FREIRE, 2006,
p. 124)
De fato, as intervenções do SPI visavam impor novas práticas alterando as práticas
tradicionais de cultivo dos povos indígenas. De acordo com Bringmann (2015, p. 309),
“por meio da educação, almejavase transformar camponeses considerados atrasados,
ignorantes, incultos, em sujeitos responsáveis pela “modernização” do meio rural. Esse
imaginário depreciativo referente às populações rurais pobres se estendia de forma ainda
mais patente entre as populações nativas instaladas nos Postos Indígenas”.
O SPI foi extinto no ano de 1967, consequentemente sendo criada a Fundação
Nacional do Índio (FUNAI), sendo muito semelhante ao SPI. Instituída durante o período
da Ditadura Militar era um órgão controlado pelas agências de segurança nacional.
Durante este regime muitos povos indígenas foram afetados com a aberturas e
construções de estradas e hidrelétricas. Comunidades foram expulsas de suas terras e
muito foram assassinados.
A Comissão Nacional da Verdade aponta em seus documentos vários tipos de
violência cometida pelos militares contra os indígenas. De acordo com Oliveira (2017), a
violência contra a população indígena não é um problema recente, essa é uma realidade
que teve início com o processo de colonização, sendo que durante alguns períodos se
intensificou, como foi o caso do regime militar, quando foi mais incentivada, até mesmo
financeiramente, para que agricultores povoassem diversas regiões do país ocupando os
territórios indígenas.
A partir das décadas de 1970 e 1980 através de muitas reivindicações e pressões
por parte do movimento indígena, o Estado então começa a agir, procurando melhorar os
serviços de assistência, saúde e educação, de forma que atendesse as especificidades das
comunidades indígenas. Período que passaram a ser reconhecidos e garantidos direitos
individuais e coletivos, por consequência,
Direitos específicos e cidadania plural indicam teoricamente que os povos
indígenas têm um tratamento jurídico diferenciado. Por exemplo, é concedido
a eles o direito de terra coletiva suficiente para a sua reprodução física, cultural
e espiritual, e de educação escolar diferenciada baseada nos seus próprios
37
processos de ensinoaprendizagem e produção, reprodução e distribuição de
conhecimentos (BANIWA, 2006 p. 36).
Foi neste período também que o Movimento Indígena começa a se instituir. Mas
o que é o Movimento Indígena e como compreendêlo? De acordo com Baniwa (2006, p.
58)
Movimento indígena, segundo uma definição mais comum entre as lideranças
indígenas, é o conjunto de estratégias e ações que as comunidades e as
organizações indígenas desenvolvem em defesa de seus direitos e interesses
coletivos. Movimento indígena não é o mesmo que organização indígena,
embora esta última seja parte importante dele.
Neste mesmo período, devido as grandes mobilizações, foi criado o Estatuto do
Índio, através da Lei n. 6.001, de 19 de dezembro de 1973 (BRASIL, 1973). Que traz em
seu Art. 65 a obrigação do Estado demarcar todas as terras indígenas no prazo de cinco
anos, mas que até hoje não se concretizou (CUNHA, 2018).
Em razão das grandes mobilizações do Movimento Indígena, juntamente com
aliados, foi que em 1988 a política indigenista começa a avançar. Foi somente com a
promulgação da Constituição Federal da República Brasileira de 1988 (BRASIL, 1988),
que ficou assegurado aos povos indígenas os seus direitos de ser e permanecer índio, bem
como ser reconhecidos como cidadãos brasileiros e passando a ser protagonistas das suas
histórias com o direito às diferenças como mostra o Art. 231 e Art. 232, que reconhece e
dá direito aos índios de terem e preservarem sua organização social, suas terras, seus
costumes, línguas, crenças e tradições, cabendo à União demarcar suas terras, proteger e
fazer respeitar todos os seus bens.
Já no que diz respeito ao direito à educação escolar diferenciada, podemos
observar o Art. 210 “§ 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua
portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas
maternas e processos próprios de aprendizagem” (BRASIL, 1988). 15 Segundo Baniwa
(2012, p. 70) “a escola indígena é o espaço, por excelência, de diversidade, não apenas
étnica, cultural e linguística, mas também de gênero, diferenças etárias, de visões de
mundo, projetos coletivos e valores”.
Foi a CF/88 (BRASIL, 1988) que oficializou que a escola indígena fosse instituída
e regulamentada, iniciando com a transferência da parte da educação indígena da FUNAI
15
Não eram reconhecidos os direitos de cidadãos indígenas nas Constituições Federais de 1824, 1891, 1934,
1937, 1946 e na de 1967. Portanto, a CF/88 foi um marco histórico para os povos indígenas, que conferiu
a todos os indígenas o direito à cidadania.
38
para o MEC, por meio do Decreto n° 26/1991 (BRASIL, 1991) que garantia o respeito
ao conhecimento das comunidades e a sua valorização. Posteriormente o MEC atribuiu
aos Estados e Municípios a responsabilidade pela educação escolar indígena.
Temse então duas vertentes distintas da e. e. i. [educação escolar indígena], a
primeira do período colonial que se estende até 1988 quando a escola indígena
estaria estruturada para a integração dos povos originários ao Estado brasileiro
e pós 88 com a escola valorizando os conhecimentos tradicionais, idiomas
maternos e culturas indígenas. (MEIRELES, 2020 p. 399).
Vale ressaltar que a CF/1988 garante o direito a educação indígena e da educação
escolar indígena. Lembrando que a Educação Escolar Indígena deve ser compreendida,
conforme afirma Baniwa (2012, p. 71), como aquela
[...] compreendida a partir da escola, tendo como fundamento e referência os
pressupostos metodológicos e os princípios geradores de transmissão,
produção e reprodução de conhecimentos dos distintos universos
socioculturais específicos de cada povo. Uma educação que garanta o
fortalecimento das identidades étnicas e a continuidade dos sistemas de saberes
próprios da comunidade indígena e a desejável complementaridade de
conhecimentos científicos e tecnológicos, de acordo com a vontade e decisão
de cada comunidade.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei n. 9.394, de 20
de dezembro de 1996, vem para complementar o previsto na Constituição de 1988
(BRASIL, 1988; 1996). Uma definição nova é a educação escolar indígena como uma
modalidade de ensino. Ademais, traz em seu artigo 78 e 78A (este último incluído em
2021), as especificidades da educação escolar indígena, definindo que o Sistema de
Ensino da União, com a colaboração das agências federais de fomento à cultura e de
assistência aos índios, desenvolverá programas integrados de ensino e pesquisa, para
oferta de educação escolar bilíngue e intercultural aos povos indígenas, com os seguintes
objetivos:
I Proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a recuperação de suas
memórias históricas; a reafirmação de suas identidades étnicas; a valorização
de suas línguas e ciências;
II Garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso às informações,
conhecimentos técnicos e científicos da sociedade nacional e demais
sociedades indígenas e nãoíndias. (BRASIL, 1996)
O artigo 79 (BRASIL, 1996) define que a União deverá apoiar técnica e
financeiramente os sistemas de ensino para efetivação de uma educação intercultural às
comunidades indígenas, desenvolvendo programas integrados de ensino e pesquisa, com
39
a participação de líderes indígenas e com compromissos assumidos nos Planos Nacionais
de Educação, que deveria:
I Fortalecer as práticas socioculturais e a língua materna de cada comunidade
indígena;
II Manter programas de formação de pessoal especializado, destinado à
educação escolar nas comunidades indígenas;
III Desenvolver currículos e programas específicos, neles incluindo os
conteúdos culturais correspondentes às respectivas comunidades;
IV Elaborar e publicar sistematicamente material didático específico e
diferenciado. (BRASIL, 1996)
A palavra indígena é encontrada onze vezes na LDBEN/1996, sendo a principal
garantia a utilização da língua materna nos processos próprios de aprendizagens. As
especificidades desta modalidade de educação estão explicitadas na LDBEN, que
determina como dever do Estado garantir a escola diferenciada, com formação
diferenciada para professores indígenas.
A escola indígena é fundamental para revitalização das culturas e línguas, para a
organização dos saberes tradicionais. A escola deve ser capaz de criar novas
possibilidades de dialogar com os diversos conhecimentos contemporâneos e tradicionais.
Sobre isso, Meireles (2020, p. 399) indica como parte da importância da escola,
Também a possibilidade das escolas indígenas utilizarem a divulgação dos
conhecimentos tradicionais associados aos universais, os da escola formal. A
escolarização indígena permite a disseminação de informações necessárias em
relação aos direitos legislativos, garantia do território, manutenção da cultura
tradicional, da organização social, saúde, preservação do meio ambiente,
proteção quanto a invasão de suas áreas e exploração de seus recursos naturais.
Associados estes importantes quesitos, está o ensino da língua portuguesa e
dos conhecimentos matemáticos básicos evitando que os índios sejam
explorados comercialmente. (MEIRELES, 2020. p. 399)
Já o Referencial Curricular Nacional para Escolas Indígenas (RCNEI), aprovado
em 1998 (BRASIL, 1998) é um documento ao qual foi elaborado por professores,
antropólogos e lideranças indígenas, que teve por objetivo auxiliar na construção dos
currículos, dos projetos político pedagógico (PPP) das escolas indígenas e dos materiais
didáticos. Há um incentivo para que a elaboração destes documentos deva contar com a
participação de toda comunidade indígena.
Outro documento importante para destacarmos é o Plano Nacional de Educação
(PNE), com especial destaque para o que está em vigor, portanto, o aprovado na Lei n.
13.005/2014, com durabilidade de 10 anos, 20142024 (BRASIL, 2014). Nele reforçase
40
Em relação as responsabilidades sobre a Educação Escolar Indígena cabem aos
Estados e Municípios:
[...] ao papel dos Estados, caberá a estes a oferta e execução da Educação
Escolar Indígena, diretamente ou por meio do regime de colaboração com seus
municípios; a regulamentação administrativa das escolas indígenas, nos
respectivos estados, integrandoas como unidades próprias, autônomas e
específicas no sistema estadual; o provimento de recursos financeiros,
humanos e materiais visando ao pleno funcionamento das escolas indígenas; a
regulamentação do magistério indígena por meio da criação da categoria de
professor indígena, admitido nos quadros do magistério público mediante
concurso específico; a promoção da formação inicial e continuada de
professores indígenas; a elaboração e publicação sistemática de material
didático, específico e diferenciado, para uso nas escolas indígenas. Já aos
Conselhos Estaduais de Educação compete o estabelecimento de critérios
específicos para criação e regularização das escolas indígenas e dos cursos de
formação de professores indígenas; a autorização para o funcionamento e
reconhecimento das escolas indígenas; a regularização da vida escolar dos
estudantes indígenas, quando for o caso. Conforme o que estabelece a referida
Resolução é facultado aos municípios a oferta da Educação Escolar Indígena
em regime de colaboração com os respectivos estados e anuência das
comunidades indígenas. Foi estabelecido o prazo de três anos para que as
escolas indígenas mantidas pelos municípios fossem estadualizadas, caso não
atendessem às exigências de terem se constituído em sistemas de educação e
possuírem dotações orçamentárias para o atendimento dessa demanda escolar.
(BRASIL, 2013, p. 398)
Entretanto, embora muitos direitos estejam assegurados aos povos tradicionais
pela Constituição e por outros documentos educacionais oficiais, na prática a
concretização desses direitos tem se mostrado difícil. Anteriormente a responsabilidade
pelas escolas indígenas era da FUNAI. Com o Decreto 26/91 essa responsabilidade foi
transferida para o MEC, que atribuiu a execução das ações aos estados e municípios. O
que acabou gerando diversos problemas de gestão educacional, não havendo uma
responsabilidade clara entre União, estados e municípios. Assim as demandas e interesses
das comunidades indígenas acabaram não sendo contempladas.
Sobre o avanço da efetivação do direito a educação escolar indígena, no Gráfico
a seguir é possível observar o crescimento no número de escolas indígenas no país nos
últimos vinte anos, conforme informações disponibilizadas pelo MEC.
42
Gráfico 1: Número de Escolas Indígenas no Brasil, 1999 a 2018.
2.000 1.392
1.000
0
1999 2010 2018
Fonte: Ministério da Educação
Segundo o Censo Escolar 2018 apresentado pelo MEC a situação da educação
escolar indígena em 2017 era:
• Havia 255.888 estudantes matriculados em escolas indígenas;
• 1.029 escolas não funcionavam em prédios escolares;
• 1.027 escolas indígenas não estavam regularizadas nas redes de ensino;
• Do total das escolas indígenas, 1.539 eram estaduais, distribuídas em 26
estados e 1.806 eram municipais, distribuídas em 203 municípios;
• 3.288 escolas estavam localizadas em áreas rurais e 57 em áreas urbanas.
(BRASIL, 2018)
Através destes dados podemos observar que houve uma expansão nas escolas
indígenas no país. Por outro lado, existe um desequilíbrio entre os níveis e modalidades
de ensino, onde o maior número de estudantes ainda está concentrado no ensino
fundamental.
No gráfico a seguir observase o número de estudantes matriculados em escolas
indígenas no Brasil, por etapa da educação básica. Estes dados foram publicados pelo
Instituto Unibanco em conformidade com o Censo Escolar de 2020.
43
Gráfico 2: Matrículas em escolas indígenas no Brasil, por etapa de ensino, 2020.
Fonte: Observatório de Educação do Instituto Unibanco
44
Figura 5: Ensino na Língua Materna
Fonte: Observatório de Educação do Instituto Unibanco
Enfim, esses dados confirmam os avanços na Educação Escolar Indígena em
relação a décadas anteriores. Mas, é importante destacar que estes não são dados
atualizados, e que neste período muitas escolas podem ter sido abertas e outras fechadas.
A escola hoje tem um papel importante de reafirmar a identidade dos sujeitos
indígenas contemporâneos, que lutam diariamente perante a sociedade não indígena,
buscando ser protagonistas de suas histórias, caminhando na direção do lema: “Posso ser
o que vocês são sem deixar de ser o que sou” (E.I.E.B Cacique Vanhkrê, 2010, p. 6).
Na esteira dos avanços e conquistas sobre a pauta em questão, para além da
educação escolar indígena é preciso pensar sobre como a questão indígena entra no
currículo escolar para formação de toda sociedade, para além da modalidade específica.
A partir do momento que iniciamos a nossa jornada escolar aprendemos que o Brasil foi
descoberto pelos portugueses, omitindo ou diminuindo o fato de que já havia outros povos
aqui com diferentes culturas e diferentes formas de organização social, e que este
território foi invadido pelos portugueses. O que acontece é que na maioria das vezes a
temática indígena é silenciada dentro dos currículos escolares e quando trabalhada os
apresentam de forma estereotipada e preconceituosa, como algo exótico e folclórico.
As escolas e seus currículos, por sua vez, sutilmente vêm acompanhando a
ação genocida do Estado brasileiro, seja no silenciamento desses povos na
história e no estudo da História, na transformação de suas culturas em folclore
nacional, ou ainda condenandoos a um passado longínquo da história
nacional. Os povos indígenas são oportunamente lembrados nas aulas de
História que tratam da “descoberta do Brasil”, da montagem do sistema
colonial e, eventualmente, em momentos pontuais da recente história brasileira
(KAYAPÓ, 2019, p. 58).
45
É comum vermos escolas trabalhando com a temática indígena numa perspectiva
rasa, generalizante e preconceituosa, como se o índio fosse coisa do passado e
ultrapassado, negando a existência dos diferentes povos e culturas. Podese dizer que
historicamente a escola regular não indígena também tem sido violenta com os povos
indígenas, inclusive por predominar uma organização escolar e concepção de educação
eurocêntrico.
É lamentável que treze anos após publicada a Lei 11.645/2008 (BRASIL, 2008),
que institui a obrigatoriedade do ensino de "História e Cultura AfroBrasileira e
Indígena", ainda se fale em implementação ou limitando a abordagem do tema apenas no
dia 19 de abril. Ademais, é preciso questionar o ensino dentro das escolas e Instituições
de Ensino Superior para não reproduzirmos o silenciamento dos povos indígenas dentro
da sala de aula. Nessa direção,
O grande desafio, a mais de duas décadas de regime democrático, consiste em
fazer com que a escola possa, de maneira efetiva, incluir a temática indígena
na sala de aula. A escola, por seu papel de formação da criança, adquire um
potencial estratégico, capaz de atuar para que os índios passem a ser
considerados não apenas um “outro”, a ser observado a distância e com medo,
desprezo e admiração, mas como parte deste nosso maior tesouro: a
diversidade (FUNARI; PIÑON, 2011, p. 115).
Os desafios estão colocados tanto na educação básica quando na formação de
professores e ensino superior. Segundo Santos (2015, p. 199) “aqui cabe questionarmos
quantos são os cursos de formação de professores que possuem disciplinas e/ou conteúdos
específicos sobre as Histórias e Culturas Indígenas voltados para a formação dos futuros
professores”. Portanto, são problemas que demandam um trabalho em longo prazo, mas
exige reflexões e questionamentos que necessitam ser respondidos. Essa discussão é
fundamental para expor as fragilidades na formação de professores, e pensar na
valorização dos povos indígenas, pensando na grande diversidade cultural existente, bem
como nas especificidades de cada etnia, rompendo com a ideia de índio genérico. Cada
povo possui seus saberes, suas vivências, suas crenças, sua arte. São povos que fazem
parte da nossa sociedade e tem um papel muito importante na história do Brasil.
46
3.1 EM SÍNTESE: A ARTICULAÇÃO DA EDUCAÇÃO INDÍGENA E DA
EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA
Conforme exposto até aqui existe uma diferença entre os conceitos educação
indígena e educação escolar indígena. O primeiro conceito referese às particularidades
de cada povo, sua cultura e seus mecanismos de transmissão de conhecimentos, seus
aprendizados e valores. É durante este processo de aprendizagem que se constrói a
identidade étnica de cada indivíduo. Um dos objetivos da educação indígena é ensinar a
sua cultura às novas gerações através da oralidade, crenças, costumes. Os anciãos têm um
papel muito importante na formação das crianças, pois são os mais velhos que ensinam
os pequenos por meio da ancestralidade e do contato com a natureza. É neste convívio
com os mais sábios que a criança aprende sua língua materna e a importância de preservá
la para que esta se mantenha por várias gerações.
os saberes ancestrais são transmitidos oralmente de geração em geração,
permitindo a formação de músicos, pintores, artesões, ceramistas ou cesteiros,
além de todos saberem cultivar a terra e a arte de caçar e pescar. Os pais e os
avós são os responsáveis por transmitir aos seus filhos ou netos, desde a mais
tenra idade, a sabedoria aprendida de seus ancestrais. Assim, as crianças desde
cedo vão aprendendo a assumir desafios e responsabilidades que lhes permitam
inserirse na vida social e o fazem, principalmente, por meio da observação, da
experiência empírica e da autoreflexão proporcionadas por mitos, histórias,
festas, cerimônias e rituais realizados para tal fim. (LUCIANO, 2006, p. 130).
Por muito tempo se ignorou os saberes indígenas, acreditando que esses povos
não dispunham de nenhum tipo de educação, uma vez que os ensinamentos acontecem
através dos bons exemplos, da vivência e pela oralidade. A educação indígena acontece
no diaadia na convivência com a comunidade, nos acontecimentos diários que são
marcados pelo nascimento de uma criança ou morte de alguém que pertence a esta
comunidade. Compreende todo um processo que se inicia antes mesmo do nascimento da
criança, quando os pais firmam um compromisso de proteger a criança até ela alcançar a
vida adulta. Todos estes momentos são marcados pela educação tradicional, que carrega
em si vários ensinamentos que são fundamentais para o percurso em suas vidas, para que
no futuro possam ser transmitidos aos seus filhos e netos (BANIWA, 2006).
No que se refere ao segundo conceito, Baniwa (2006, p. 129) afirma, “a educação
escolar indígena diz respeito aos processos de transmissão e produção dos conhecimentos
47
nãoindígenas e indígenas por meio da escola, que é uma instituição própria dos povos
colonizadores”.
É uma modalidade de ensino e nesta prática educativa é direito que a educação
intercultural e bilíngue esteja em prática e busque recuperar a memória histórica, bem
como valorizar as diferentes línguas e culturas. A educação escolar está vinculada aos
modos próprios de educação, onde cada povo no decorrer dos anos foi criando e
estabelecendo suas formas de educar e passar seus conhecimentos, sempre baseados em
suas crenças e tradições. Em outras palavras, a educação tradicional deve estar presente
na educação escolar indígena, como forma de valorização, manter e perpetuar a cultura
de cada povo, aliando com o currículo oficial na nação.
Durante muito tempo as populações indígenas resistiram ao modelo de escola
implantada pelos portugueses, visto que a escola causou estranheza em função de haver
professores, horários e acontecer dentro de um espaço fechado, distanciando o convívio
com suas comunidades.
Embora esta modalidade de educação tenha surgido no Brasil em 1939, com a
escola São Pedro que ficava situada na Aldeia Banhado Grande na TI Xapecó. Essa
modalidade tornouse conhecida por volta de 1970, mas, somente a partir da Constituição
Federal de 1988 é que a política indigenista começa a mudar, garantindo o direito de
utilizar seus métodos próprios de transmissão de conhecimentos, ou seja, uma escola
apropriada que atenda às necessidades de cada comunidade indígena.
O estudo realizado nesta pesquisa me permitiu entender que algo fundamental na
educação escolar indígena é que as escolas precisam ser interculturais, buscando trabalhar
os saberes tracionais e a diversidade cultural e linguística, garantindo o ensino
diferenciado. Mas, a escola precisa estar alinhada à comunidade, por este motivo uma de
suas características é ser comunitária, pois toda a comunidade participa na elaboração de
seu Projeto Político Pedagógico, materiais didáticos e outros projetos que envolvem a
escola. Se a comunidade não participa ela é apenas mais uma escola tecnicista que se
instala dentro das comunidades indígenas. Nötzold e Rosa (2012, p. 16) afirmam que
A construção de uma proposta pedagógica baseada na maneira como os in
dígenas veem o mundo e o uso do idioma materno em seu processo de
aprendizagem é fundamental para o êxito da escola indígena. Não basta incluir
a noção de diversidade cultural numa ou noutra disciplina, é preciso levar em
conta a diversidade que se expressa no diálogo interpessoal em sala de aula e
na troca de experiências em que são comunicados valores, crenças, aptidões e
comportamentos.
48
Além disso, a escola deve contribuir para o empoderamento dos povos e suas
culturas, viabilizando o conhecimento a outros saberes que ajudem a fortalecer suas lutas
para conquistar seus direitos, através de seus métodos próprios de educar. Mas, para isso
é indispensável o diálogo e a participação de todos, pois a comunidade ainda é a
responsável pela formação humana e indígena e a escola é o espaço onde ocorre o
encontro de saberes.
Para que possamos ter uma melhor compreensão sobre a Educação Escolar é
necessário rompermos com os métodos tradicionais de ensino que conhecemos e
compreender que na Educação Escolar Indígena tudo o que se aprende é considerado
importante e respeitado por todos. É um compromisso social, por isso,
A educação escolar indígena referese à escola apropriada pelos povos
indígenas para reforçar seus projetos socioculturais e abrir caminhos para o
acesso a outros conhecimentos universais, necessários e desejáveis, a fim de
contribuírem com a capacidade de responder às novas demandas geradas a
partir do contato com a sociedade global (BANIWA, 2006, p. 129).
Sem dúvida podemos dizer que ao longo da história os povos indígenas
vivenciaram momentos diferentes no que diz respeito a educação, iniciando com uma
escola autoritária e integracionista, e hoje passam a possuir um modelo de educação
autônoma e diferenciada. Porém, muito precisa ser feito ainda para que na prática de fato
aconteça.
Embora, tenha avançado nos últimos trinta anos, ela ainda não contempla a todos,
pois existe uma grande diversidade de povos e culturas, um exemplo claro são os 64 povos
que vivem na Amazônia, que teriam por direito ter cada um a sua escola, com seu PPP
diferente (BANIWA, 2012).
Além disso, a educação escolar indígena varia de um Estado para outro, isso tem
dificultado o trabalho nas escolas, uma vez que nem todos os sistemas de ensino e
secretarias de educação dão autonomia real e reconhecem as mudanças e elaboração de
seus PPP. Enquanto em alguns Estados os povos recebem escolas com ensino bilíngue,
ensino médio, material didático e formação de professores adequados; em outros Estados
um mesmo povo não dispõe de nada disso. Ou seja, a desigualdade escolar é sentida
também, e possivelmente em proporções maiores, pelos povos indígenas. Um dos fatores
que pode contribuir para essa desigualdade é a estadualização das escolas indígenas.
Em síntese, pude compreender que a escola indígena precisa ser democrática e
parceira de sua comunidade, sendo construída de dentro para fora, mais que isso, deve ser
49
um espaço como forma de empoderamento. Mas, para que isso aconteça não pode haver
a negação da sabedoria indígena. Aliás, a educação tradicional pode contribuir bastante
para a educação não indígena, mas é preciso antes de tudo a desconstrução do pensamento
para que todos sejam capazes de valorizar e respeitar os modos próprios de ensino.
50
4. A ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA EM SANTA
CATARINA
Como explorado na seção anterior, desde a promulgação da Constituição Federal
(BRASIL, 1988) foi assegurado aos povos indígenas do Brasil o direito à educação
escolar diferenciada, podendo utilizar suas línguas maternas e métodos próprios de
aprendizagens na educação escolar. Posteriormente, algumas leis que tratam do tema em
tela foram sendo constituídas e outras renovadas sendo elas:
a) Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) n. 9.394/1996
(BRASIL, 1996);
b) Plano Nacional de Educação (Lei 10.172) (BRASIL, 2001);
c) Resolução 03/99 do Conselho Nacional de Educação. (BRASIL, 1999);
d) Decreto Presidencial nº 5.051 de 19 de abril de 2004 que promulga a
Convenção 169 da OIT. (OIT, 2005);
e) Diretrizes para a Política Nacional de Educação Escolar Indígena
publicadas pelo MEC em 1994. (BRASIL, 1994);
f) Base Nacional Comum Curricular (BNCC), Parecer CNE/CP Nº: 15/2017
aprovada em 22 de dezembro de 2017. (Brasil, 2017);
g) Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas
(RCNEE/Indígena) (BRASIL, 1998);
h) Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCNs), em
especial o Parecer CNE/CEB nº 14/99 e a Resolução CNE/CEB nº 3/99
que define as DCN para ed. indígena (BRASIL, 2013);
i) Criação em 2004 da Comissão Nacional de Educação Escolar Indígena
(CNEEI) vinculada ao Ministério da Educação, composta por 10
representantes de organizações de professores indígenas, quatro
representantes de organizações indígenas regionais e a representação
indígena no Conselho Nacional de Educação, dentre outros. Estes
documentos citam, impactam e alguns determinam a organização da
educação escolar indígena, pautadas na ancestralidade e conhecimentos
tradicionais, a fim de valorizar os saberes indígenas.
51
Essas mudanças, apesar de recentes na história, estão realizando grande
transformação, visto que a escola começa a ganhar uma nova função social. Um dos
efeitos imediatos desses novos instrumentos jurídicos na esfera administrativa
corresponde à criação, intensificada nos últimos anos, de núcleos, divisões e conselhos
estaduais e municipais de educação escolar indígena em todas as regiões do país, o que é
um passo significativo (BANIWA, 2006).
Embora na legislação esteja garantido o direito à educação diferenciada é preciso
se atentar às especificidades dessa modalidade de ensino uma vez que no Brasil são 305
povos indígenas, falantes de mais de 274 línguas. Mas, como contemplar essa imensa
diversidade de culturas? Esta resposta podemos encontrar no Referencial Curricular
Nacional para as Escolas Indígenas (BRASIL, 1998, p. 34):
Os princípios contidos nas leis dão abertura para a construção de uma nova
escola, que respeite o desejo dos povos indígenas por uma educação que
valorize suas práticas culturais e lhes dê acesso a conhecimentos e práticas de
outros grupos e sociedades. Uma normatização excessiva ou muito detalhada
pode, ao invés de abrir caminhos, inibir o surgimento de novas e importantes
práticas pedagógicas e falhar no atendimento a demandas particulares
colocadas por esses povos. A proposta da escola indígena diferenciada
representa, sem dúvida alguma, uma grande novidade no sistema educacional
do país, exigindo das instituições e órgãos responsáveis a definição de novas
dinâmicas, concepções e mecanismos, tanto para que essas escolas sejam de
fato incorporadas e beneficiadas por sua inclusão no sistema, quanto
respeitadas em suas particularidades.
Mas, afinal o que é o Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas?
O RCNEI é um documento que apresenta um conteúdo abrangente e que garante a
interculturalidade nas escolas indígenas. É um importante marco histórico para os povos
indígenas e faz parte de uma política pública voltada à educação escolar indígena. Este
documento tem como objetivo, contribuir para que professores indígenas, assim como
suas comunidades, conheçam a legislação e o direito que lhes é assegurado, bem como
para ser uma referência material.
Este documento traz algumas reflexões importantes sobre a construção dos
currículos e projetos políticos pedagógicos dentro das escolas indígenas. Apesar de
algumas escolas disporem de projetos pedagógicos mais avançados, não podemos afirmar
que o mesmo acontece em todas as escolas do território nacional. Desta forma, o RCNEI
vem para contribuir para a elaboração e implementação de programas de educação
escolar, bem como a formação de professores indígenas. Além disso, é um documento de
responsabilidade do Ministério da Educação (MEC) e seu conteúdo deve ser discutido e
52
avaliado em conjunto, com todos aqueles que compõem a educação escolar indígena em
todas as esferas, levando em conta a especificidade de cada escola, de cada região, de
cada etnia. Sendo assim, é dirigido aos responsáveis pelo sistema de ensino estaduais e
municipais.
Em síntese, este Referencial é resultado do processo histórico das mobilizações
sociais, movimento indígena e de luta coletiva pelos direitos indígenas que hoje encontra
se amparado pela legislação em vigor. No entanto, este não é o único documento referente
à educação escolar indígena. De fato, desde a promulgação da Constituição Federal de
1988, muitos foram os avanços e conquistas de direitos, como o reconhecimento da
existência da modalidade de educação escolar indígena previsto na LDBEN/1996, que
veio para regulamentar e reorganizar a educação brasileira, numa perspectiva
democrática. Nela se prevê para a organização escolar indígena: flexibilidade na sua
organização, onde cada uma pode se organizar de acordo com a sua cultura; o calendário
deve corresponder às especificidades de cada localidade e; pode ser organizado por séries
anuais, semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudo, grupos não seriados
por idade e outros padrões (isso também previsto para demais escolas). Salientase ainda
que a Lei, em seu Artigo 87, parágrafo 3o, inciso III (BRASIL, 1996), estabelece como
obrigação dos estados e municípios a realização da formação e capacitação de
professores, podendo utilizar recursos de educação a distância.
Outro documento que tem grande importância são as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Escolar Indígena (DCNEEI) (BRASIL, 2012). Aqui estão
presentes normas obrigatórias que orientam o planejamento e a elaboração dos currículos
nas instituições de ensino. Neste documento está definido que:
Na organização da escola indígena deverá ser considerada a participação de
representantes da comunidade, na definição do modelo de organização e
gestão, bem como suas estruturas sociais; suas práticas socioculturais,
religiosas e econômicas; suas formas de produção de conhecimento, processos
próprios e métodos de ensinoaprendizagem; o uso de materiais didático
pedagógicos produzidos de acordo com o contexto sociocultural de cada povo
indígena; e a necessidade de edificação de escolas com características e
padrões construtivos de comum acordo com as comunidades usuárias, ou da
predisposição de espaços formativos que atendam os interesses das
comunidades indígenas. (BRASIL, 2013, p. 381).
Para além disso, o documento destaca que:
Vêse que está previsto para organização escolar indígena: autonomia na
construção de seus projetos pedagógicos; autonomia nas formas de organização e gestão
de acordo com a especificidade de cada comunidade; flexibilização dos currículos
levando em consideração o interesse de suas comunidades; avaliação da aprendizagem
coerente e associada aos seus métodos próprios de ensino e aprendizagem e; formação de
professores específica.
Um ponto importante de ser destacado é o uso da língua materna que está
garantido como direito na CF/88 e na LDBEN/96 (BRASIL, 1988; 1996). Está assegurada
às comunidades indígenas a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de
aprendizagem. Esse direito é fundamental para que as crianças desenvolvam corretamente
a oralidade, enquanto outras escolas utilizam as línguas indígenas como prática a ser
revitalizada. Esta relação com a língua materna repercute na produção de materiais
didáticos, pois as escolas precisam dispor de materiais que atendam as especificidades de
cada comunidade.
Destacamos ainda a importância dos professores que atuam nestas escolas sejam
indígenas, pois são eles os principais interlocutores entre os diversos saberes e
conhecimentos. Baniwa (2012, p. 74) afirma que, “a grande maioria dos professores,
gestores e técnicos que trabalham nas escolas das aldeias são indígenas que podem fazer
a diferença no campo do fazer pedagógico e na gestão da escola indígena”. Mas ainda
existe uma grande dificuldade a ser superada no que se refere a formação docente.
Pensando em ampliar a formação docente foi criado o curso de graduação de Licenciatura
Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica na Universidade Federal de Santa
Catarina a partir de 2008.
A responsabilidade em realizar cursos de formação continuada cabe as secretarias
estaduais, porém somente este tipo de formação não é suficiente. Ainda existe uma grande
carência de profissionais formados e especializados em diversas áreas de conhecimento,
o que acaba afetando algumas etapas da educação escolar indígena como é o caso do
Ensino Médio. A falta de professores faz com que muitas escolas deixem de ofertar esta
etapa de ensino.
Outro fator importante de se destacar é a reestruturação curricular nos cursos de
licenciaturas nas universidades e a falta de espaço para os saberes indígenas dentro destas
54
instituições. As universidades precisam dialogar com os povos indígenas, abrindo espaço
para que os grandes sábios possam participar dos debates e assim todos possam aprender
com os seus saberes e tudo o que ao longo dos anos foi silenciado, os povos indígenas
tem o direito de mostrar os seus diversos pontos de vista dentro do espaço acadêmico.
Os aspectos apresentados até aqui se referem a aspectos da organização escolar
do país como um todo, mas, considero importante apresentar a organização e situação da
educação escolar indígena em Santa Catarina, visto que a TI escolhida para análise faz
parte deste território.
4.1 DADOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA: NACIONAL E DE SANTA
CATARINA
Segundo o Censo Escolar realizado em 2010, existiam naquele momento 2.836
escolas indígenas, um aumento significativo em relação ao primeiro Censo realizado em
1999, onde eram 1.392 escolas. Este aumento se deu porque os sistemas de ensino
estaduais e municipais iniciaram um processo de regularização e reconhecimento das
escolas indígenas, atualmente o maior número de escolas está vinculado aos municípios
sendo: 1.508 escolas municipais (53,17%) e 1.308 escolas indígenas estaduais (46,13%).
Observando o cenário da Educação Escolar Indígena no estado de Santa Catarina,
constatase que a Secretaria de Estado de Educação (SEDSC) atende 39 escolas
indígenas, localizadas em 26 T.I, dentre elas 33 são responsabilidade do governo do
Estado e seis de responsabilidade de municípios (SC, 2018).
As escolas indígenas em Santa Catarina são distribuídas por regionais, sendo que
as escolas Kaingang da TI Xapecó concentram se no oeste do estado, enquanto as escolas
Guarani estão situadas na região litorânea, e as escolas da etnia Xokleng/Laklãnõ ocupam
a região do Vale do Itajaí como podemos observar no mapa a seguir:
55
Figura 6: Escolas Indígenas em Santa Catarina, 2018
Fonte: Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina, 2018.
Segundo divulgado pela SEDSC, a gestão destas escolas teve início no ano de
1993, através da Comissão Estadual de Educação, criada pela Portaria nº 16.207/93. Mas,
somente em dezembro de 2002 é que foi criada a categoria escola indígena no estado,
pela Lei nº 12.449/2002. Ademais, outras orientações que diz respeito ao currículo e
funcionamento das escolas indígenas foram registradas e normatizadas na Proposta
Curricular de Santa Catarina (1998/2014), no Parecer nº 282/2005 do Conselho Estadual
de Educação (CEE) e no Plano Estadual de Educação (PEE) – 2015/2023 (SC, 1993;
2005; 2014; 2015).
Segundo os dados do Censo Escolar realizado em 2015, foram realizadas 2.749
matrículas nas escolas indígenas no estado, sendo o maior número em rede estadual, com
2.749 matrículas e 153 nas redes municipais de ensino. O Ensino Fundamental conta com
71% das matrículas, já a Educação Infantil soma 6,5%, sendo responsabilidade das redes
municipais de ensino.
Dentre as 39 instituições escolares de Educação Básica, 15 atendem à etnia
Guarani, 18 atendem à etnia Kaingang e 4 atendem à etnia Xokleng/Laklãnõ (BRASIL,
2015). Existe uma grande diferença em relação ao número de matrículas realizadas entre
as três etnias e as particularidades de cada uma deve ser levado em consideração como,
por exemplo, os níveis e modalidades de ensino oferecidas.
Quanto a continuidade de formação, especialmente no ensino superior, há ações
afirmativas para as universidades, inclusive com processos seletivos de ingresso
suplementar, com vagas destinadas para estudantes indígenas:
56
As instituições federais de ensino superior deverão formular e implantar, na
forma estabelecida em seu plano de desenvolvimento institucional, medidas de
democratização do acesso, inclusive programas de assistência estudantil, ação
afirmativa e inclusão social. [...] Os programas de ação afirmativa e inclusão
social deverão considerar a promoção das condições acadêmicas de estudantes
egressos do ensino médio público, especialmente afrodescendentes e indígenas
[...] (BRASIL, 2006b).
Além disso, há também a Lei de Cotas para indígenas e negros, Lei nº 12.711, de
29 de agosto de 2012 (BRASIL, 2012). Sobre isso, um dos desafios, para além do acesso
é a permanência desses estudantes no ensino superior.
Outro dado importante diz respeito ao número de habitantes nas aldeias. No caso
das escolas Kaingang os números de matrículas são mais altos podendo chegar a 800
matrículas na E.I.E.B. Cacique Vanhkre, localizada no município de Ipuaçu/SC. Por outro
lado, o número de matrículas nas escolas do povo Guarani, são reduzidas podendo contar
com menos de 40 estudantes, sendo que para este povo o maior número de matrícula se
concentra na E.I.E.B. Tekoa Marangatu, localizada no município de Imaruí SC, com
aproximadamente 100 matrículas (SED, 2018).
No Estado de Santa Catarina a Educação Escolar Indígena é orientada pelo
Parecer nº 282, aprovado em 22 de novembro de 2005, reiterando as orientações previstas
pela Resolução nº 03/1999 (BRASIL, 1999b)16.
Inicialmente, em 16 de outubro de 1996, foi criado no Estado de Santa Catarina o
Núcleo de Educação Indígena, via Portaria nº E/417/1996 (SC, 1996). Este núcleo foi
constituído para ser um espaço de planejamento da Educação Escolar Indígena, que tinha
como função definir e orientar a implementação da política de Educação Escolar
Indígena. Sua organização inclui representantes indígenas, técnicos da SEDSC e
Gerências Regionais de Educação (GERED). Neste período as ações desempenhadas pelo
NEI davam conta de elaborar e realizar formações, bem como capacitações para os
professores e a formação em magistério específico para os indígenas dos três povos que
vivem em Santa Catarina (SANTA CATARINA, 2018). Porém, com o decorrer dos anos
houve um grande enfraquecimento, onde o NEI precisou ser reestruturado. Por ser um
importante espaço que defende a garantia de direito dos povos indígenas no estado, o NEI
passou a ser muito requisitado pelos professores, gestores e lideranças indígenas.
Em 2016 foi publicada na SEDSC a Portaria nº 2.385, em 23 de setembro, que
criou a Coordenação de Políticas nas Diversidades, com a função de apoiar os Núcleos
16
Esse parecer encontrase no Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina para edição das Diretrizes
da EEI em Santa Catarina, na forma de resolução. (SANTA CATARINA, 2018)
57
na SED (SC, 2016). Mais tarde, em 24 de agosto do mesmo ano, em reunião com os
representantes indígenas, foram coletadas suas expectativas tendo como resultado a
elaboração de um documento que definiu a composição, estrutura e funcionamento do
NEI na SED, bem como propos a articulação junto às Gerências Regionais de Educação
(GERED) que atendem às escolas indígenas, fomentando e orientando para a
institucionalização do NEI/SED e dos NEI/GERED (SANTA CATARINA, 2018).
Portanto, segundo a SED, a efetivação dos NEI favoreceu a organização e definição da
Política de Atendimento à Educação Escolar Indígena pela Secretaria de Estado da
Educação de Santa Catarina.
A composição e estrutura do Núcleo de Educação Escolar Indígena na SED
SC e nas GERED, encontrase organizada da seguinte forma:
1. Um representante indígena por Gerência Regional de Educação e um
representante indígena da Coordenadoria Regional da Grande Florianópolis
(COREF), com indicação de suplência (2 indicações indígenas por Regional);
2. representantes das Diretorias que integram a Secretaria de Estado da
Educação de Santa Catarina: Diretoria de Políticas e Planejamento
Educacional, Diretoria de Articulação com os Municípios, Diretoria de Gestão
da Rede Estadual, Diretoria de Gestão de Pessoas, Diretoria de Tecnologia e
Inovação, Diretoria de Infraestrutura e Diretoria de Administração e Finanças.
Também integram o NEI: a Assessoria de Imprensa (ASCOM) e a Consultoria
Jurídica da SED (COJUR), além de representação da Coordenadoria de
Educação da Grande Florianópolis;
3. gestores(as) de cada uma das Gerências Regionais de Educação que atendem
às escolas indígenas, mais Coordenadoria Regional da Grande Florianópolis,
com 1 indicação cada;
4. representante do Ministério Público Federal;
5. representante da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), e por meio desta:
representante do Conselho de Caciques (Kaingang), Cacique Geral (Xokleng)
e presidente da associação Nhemonguetá (Guarani);
6. representante do Conselho Estadual dos Povos Indígenas (CEPIN);
7. representante do Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina (CEE);
8. representante de Instituições de Educação Superior. (SC, 2018, p. 38).
Além disso, o documento define a composição do NEI nas Gerências Regionais
de Educação (GERED) e na Coordenadoria Regional da Grande Florianópolis (COREF),
o que deveria possibilitar uma maior participação e integração efetiva entre a SED e as
etnias, sendo composta por:
1.Um representante (indígena) do quadro do magistério indígena por escola
atendida na respectiva Regional;
2. um representante das supervisões de: Políticas e Planejamento Educacional,
Gestão da Rede Estadual, Articulação com os Municípios, Infraestrutura,
Gestão de Pessoas e Tecnologia e Inovação (SC, 2018, p. 38).
58
Entre a organização do trabalho do Núcleo está que os encontros realizados no
NEI/SED, que é o órgão central, devem ocorrer duas vezes no ano; já na Gerências
Regionais de Educação (GERED) e na COREF devem ser bimestrais. O NEI tem o
compromisso de organizar formações e viabilizar o atendimento aos representantes das
escolas indígenas, organizar materiais didáticos, acompanhar o funcionamento das
escolas, com a finalidade de garantir os direitos indígenas e seus métodos próprios de
pensar a educação e a escola.
A organização da Educação Escolar Indígena em Santa Catarina se dá da seguinte
forma:
• As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena
orientam as organizações escolares, que vão desde o calendário, currículo,
transporte, alimentação, formação de professores, material didático, dentre
outros;
• As edificações das escolas devem ser realizadas de acordo com as
especificidades de cada comunidade. A arquitetura deve ser caracterizada pela
realidade local respeitando os aspectos culturais das comunidades. Também é
preciso levar em conta o número de estudantes, pois pode variar de acordo
com a etnia;
• O Projeto Político Pedagógico é o documento mais importante no que se refere
a EEI, e deve estar de acordo com a LDBEN/96, com as DCNEEI, com o
Parecer do Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina (CEE/SC) nº
282/2005 e Proposta Curricular de Santa Catarina. É o PPP que permitirá
grandes avanços nas escolas e precisa estar de acordo com as demandas, bem
como a singularidade de cada etnia e comunidade. Ele orientará a organização
das atividades desenvolvidas em cada escola.
Segundo a SEDSC, a Proposta Curricular de Santa Catarina (SC, 2019) foi
construída com uma grande participação de representantes indígenas, Fundação Nacional
do Índio (FUNAI) e universidades. Nela, foram incorporados temas ligados à
antropologia, história, pedagogia e linguística, busca reconhecer as especificidades,
diversidade e bilinguismo, bem como a diferença entre as comunidades para a
organização das escolas.
No Plano Estadual de Educação (PEESC) 20152023 (SC, 2015) dentre as 19
metas estabelecidas estão a garantia de continuidade de escolarização após a alfabetização
inicial; à oferta de exames para certificação de Ensino Fundamental e Médio; à expansão
59
da oferta de educação profissional em nível técnico e superior; à ampliação do
atendimento escolar; ao fomento e garantia da produção de material didático; e ao
desenvolvimento de currículos e metodologias específicas. (SC, 2018, p. 44).
Para manutenção das escolas indígenas, elas também são contempladas com o
Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), criado em 2005, que tem como objetivo
promover a autonomia e a gestão democrática. Através deste programa a União repassa
recursos às Unidades Escolares, que irão receber, executar e prestar contas dos recursos
transferidos. Mas como algumas escolas indígenas não dispõe de diretores a
responsabilidade por estes recursos, este fica por conta da GERED ou Coordenadoria
Regional da Grande Florianópolis (COREF) (SANTA CATARINA, 2018). Os recursos
podem variar de acordo com o número de estudantes matriculados, declarados pelo Censo
do ano anterior. (SC, 2018).
Sobre a formação continuada de professores em Santa Catarina, ela é de
responsabilidade da GERED, que deve disponibilizar recursos do Programa de Ações
Articuladas (PAR) do Ministério da Educação (MEC)/Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE). Mas, cada escola pode organizar e realizar
formações para seus docentes e profissionais de acordo com o PPP e a Proposta Curricular
de Santa Catarina (SC, 2018).
No caso da modalidade da educação escolar indígena, relembramos que há um
programa chamado de Ação Saberes Indígenas na Escola (ASIE), que deve promover a
formação continuada de professores indígenas dos anos iniciais, além de contribuir na
elaboração de materiais didáticos e paradidáticos e fortalecimento e revitalização de
saberes indígenas. Os materiais são desenvolvidos de acordo com práticas e saberes
indígenas dos territórios de ocupação tradicional. Aqui em SC este projeto é desenvolvido
pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em parceria com a Secretaria de
Estado da Educação de Santa Catarina.
O curso específico de formação de professores em SC, chamado de Formação
Magistério Indígena, possui 3.380 horas e é realizado ao longo de três anos e seis meses
de duração. O Estágio obrigatório conta com uma carga horária total de 400 horas, sendo
100 horas para o Estágio em Educação Infantil e 300 horas para o Estágio nos Anos
Iniciais do Ensino Fundamental. A certificação é emitida pelo Instituto Estadual de
Educação (IEE) no município de Florianópolis, que oferece 30 vagas, sendo 10 vagas
para a etnia Kaingang, 10 vagas para a etnia Guarani e 10 para a etnia Xokleng/Laklãnõ
(SC, 2018). O objetivo deste curso é habilitar professores para atuar na Educação Infantil
60
e Anos Iniciais do Ensino Fundamental buscando ampliar o acesso a permanência da
população indígena ao ensino diferenciado.
Segundo Nötzold (2012, p. 81) para a consolidação de uma Educação Escolar
Indígena pautada nos princípios da diferença, da especificidade, do bilinguismo e da
interculturalidade, é fundamental que os professores que atuam dentro das comunidades
sejam indígenas e tenham uma formação específica.
A contratação de docentes é realizada através de concurso público de ingresso e
processo seletivo público. Para a elaboração dos editais e contratação de professores os
povos indígenas do estado são consultados. Os concursos são realizados nas Gerências
Regionais de Educação (GERED) de Ibirama, Canoinhas, Chapecó, Xanxerê, Seara,
Laguna, Joinville, Brusque e Coordenadoria Regional de Educação da Grande
Florianópolis, tendo sido o último no ano de 2017.
Vale ressaltar que a Educação Escolar Indígena em Santa Catarina teve um
importante avanço, pois ao longo dos anos o OEEI (Observatório da Educação Escolar
Indígena (2009 2012), e Observatório da Educação/OBEDUC: “Ensino, saberes e
tradição: elementos a compartilhar nas escolas da Terra Indígena Xapecó/SC”, projeto no
âmbito da CAPES, que ocorreu de março de 2013 a novembro de 2017, em parceria com
o LABHIN/UFSC que vem desenvolvendo atividades formativas com professores
indígenas que atuam nas escolas das aldeias.
A TI Xapecó apresentase como um campo vasto de possibilidades de
realização e aplicação de políticas públicas relacionadas à educação, além de
constituir um local oportuno de pesquisas e estudos acerca das temáticas
inerentes às questões indígenas, especialmente ao povo Kaingang. Com vistas
a atender os princípios de ensino, pesquisa e extensão, a UFSC, por meio do
LABHIN busca a efetivação e realização deste projeto, a partir de uma grande
parceria envolvendo lideranças, professores, direções das escolas, acadêmicos
e pesquisadores, com o intuito de oportunizar e melhorar a qualidade da
Educação Escolar Indígena. (NÖTZOLD; ROSA, 2016, p. 2)
Em síntese, compreendemos que a escola indígena é uma conquista recente e
embora tenha alcançado grandes avanços nos últimos anos com o aumento de professores
indígenas formados, alguns desafios ainda persistem e preocupam como a baixa oferta do
Ensino Médio das escolas indígenas que acaba fazendo com que muitos jovens saiam de
suas aldeias em busca de oportunidades. Outro dado importante de se destacar é que a
política reconhece o direito a educação escolar indígena apenas aqueles que vivem nas
aldeias, negando este direito aos indígenas que vivem em grandes centros urbanos
(BANIWA, 2019). Portanto concluímos que, negar aos sujeitos indígenas o acesso ao
61
conhecimento pode ser considerado uma prática discriminatória e racista, além de
aumentar os níveis de desigualdade. Desta forma, é fundamental uma política pública que
faça a inclusão e garanta o direito e o reconhecimento da diversidade. Neste sentido as
Instituições de Ensino Superior/IES em Santa Catarina como a Universidade Federal de
Santa Catarina, Unochapecó, Univale tem ofertado cursos de Licenciaturas Indígenas e
curso de Pedagogia Guarani, visando contemplar essa demanda. Sendo assim, ao
formarem professores indígenas para atuar nas escolas das aldeias procurase empoderar
as comunidades indígenas, bem como revitalizar e fortalecer as suas culturas.
4.2 ESCOLA KAINGANG EM SC: A PRIMEIRA ESCOLA
A primeira escola Kaingang em SC foi construída em 1937, no município de
Chapecó, por Antonio Selistre de Campos, um jurista e defensor dos direitos indígenas.
Antonio Selistre se formou na Faculdade de Direito em 1909 e em 1914 foi nomeado Juiz
Estadual para a Comarca de Campos Novos no Estado de Santa Catarina. Em 1931
assumiu a comarca na cidade de Chapecó/SC onde teve o primeiro contato com os
indígenas Kaingang. Antonio Selistre era uma pessoa que se preocupava com a saúde e a
educação dos Kaingang. Teve grandes influências dentro do Serviço de Proteção aos
Índios (SPI) onde articulava alguns cargos, entre os anos de 1942 e 1948. Período que
indicou Francisco Siqueira Fortes para a função de encarregado do Posto Indígena da TI
Xapecó, com quem trocava correspondências (MANFROI; NÖTZOLD, 2012).
Bringmann (2015, p. 32) explica que, “este jurista é marcado por ser um dos
grandes incentivadores da organização de Postos Indígenas do SPI para os Kaingang do
oeste catarinense e também, por ser o maior crítico dos rumos tomados pela política
indigenista nas décadas de 1940 e 1950”. Nesta mesma época, escolas começaram a ser
implantadas pelo SPI, dentro das comunidades indígenas, com a finalidade de “civilizar”
os indígenas para sua integração à “sociedade dos nãoindígenas”. As aulas geralmente
eram ministradas por não indígenas, com exceção da escola supracitada que tinha como
responsável pela educação o professor indígena Felicíssimo Belino. Abaixo apresentamos
uma imagem da escola indígena da época e capa do Livro: História, Cultura e Educação
Indígena: Protagonismo e Diversidade.
62
Figura 7: Primeira escola
Fonte: CEOM, Chapecó SC
A educação para os Kaingang da TI Xapecó ao longo dos anos passou por
diferentes estágios. Antes de 1912 a educação davase através da oralidade que era
passada de geração em geração. Nos anos seguintes, um professor chamado Samuel Brasil
passou a ensinar nas casas. Dados de 1947, mostram que os Kaingang tiveram como
professor o senhor Felicíssimo Belino, que também era indígena, e as aulas aconteciam
debaixo das árvores. Em 1940 foram construídas as primeiras escolas pelo SPI, uma na
aldeia Sede e outra na aldeia Pinhalzinho. Já na década de 1960, foi construída a primeira
escola da Aldeia, cujo nome era Escola Estadual São Pedro e ficava situada na Aldeia
Água Branca. Em 1975 essa escola foi transferida para a sede da TI Xapecó, onde teve
seu nome alterado, passando a se chamar Escola Isolada Federal Posto Indígena Xapecó.
Já no ano de 1984, a mesma recebe o nome de Escola Federal Vitorino Kondá. Em 1988,
através da Portaria nº. 488/1988 de 30/12/88 e Parecer nº. 609/1988, acontece nova
alteração de nome passando a ser chamada de Escola Isolada Federal Vitorino
Kondá. Dez anos mais tarde, no ano de 1998, via Portaria nº. 014/98 (27/01/98) e Parecer
nº. 352/1997 do Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina a Secretaria de
Educação e Desporto aprovou o Ensino Médio nesta Unidade Escolar, passando a se
chamar Colégio Estadual Vitorino Kondá. Salientase ainda que o Colégio Estadual
63
Vitorino Kondá foi a primeira Escola Indígena a ter Ensino Médio no Brasil (NÖTZOLD;
ROSA, 2012).
No ano 2000 nova alteração foi feita, através da portaria E/040/SED de
07/06/2000, onde passou a ser chamada Escola Indígena de Educação Básica Cacique
Vanhkrê17. Hoje a escola é considerada a maior escola indígena do Estado de Santa
Catarina, bem como uma grande referência para o povo Kaingang e sociedade não
indígena. Além disso, ela é a pioneira das nove escolas que estão localizadas dentro da TI
Xapecó.
Atualmente, essa Terra Indígena (TI Xapecó) dispõe de um território de 15.623
hectares, onde vive o maior grupo de indígenas do estado de Santa Catarina, o povo
Kaingang. São dezesseis aldeias onde vivem 6.543 pessoas. Na imagem a seguir podemos
observar a localização da TI Xapecó, que faz divisa com os seguintes municípios: Bom
Jesus, Ipuaçu, Entre Rios e Marema.
17
De acordo com D’ Angelis e Fókâe (1994, p.20), Vitorino Kondá foi um líder indígena que cresceu em
aldeamento em Xapecó em contato com não indígenas. O cacique trabalhava para o governo provincial do
Paraná, na conquista dos campos de Guarapuava. Podese dizer que Vitorino Kondá foi um importante líder
e considerado um herói para os brancos, pois trabalhava para o governo sendo um capitão dos índios que
conseguisse amansar. Cacique Vanhkrê foi um importante líder Kaingang que ajudou na conquista da TI
Xapecó por volta de 1890, quando a linha telegráfica começou a ser construída na região do oeste de Santa
Catarina, onde foi contratada a mão de obra indígena, as terras seriam a forma de pagamento. Através do
Decreto Nº 7 O Governador do Estado do Paraná, atendendo a que a tribu de indios Coroados de que é
chefe o cacique Vaicrê, em número aproximado de duzentas almas, achase estabelecido na margem
esquerda do rio Chapecó, no município de Palmas; e Considerando que é necessário reservar uma área de
terra para que os mesmos indios possam, com a necessário estabilidade dedicarse à lavoura, á que estão
afeitos; Usando da autorização que lhe confere o artigo 29 da Lei nº 68 de 20 de dezembro de 1892 Decreta:
Art. Único. Fica reservada para o estabelecimento da tribu de indígenas coroados ao mando do cacique
Vaicrê, salvo direito de terceiros, uma das áreas de terra compreendida nos limites seguintes: A partir do
rio Chapecó, pela estrada que segue para o sul, até o passo do rio Chapecósinho, e por estes dous rios até
onde elles fazem barra. Palácio do Governo do Estado do Paraná, em 18 de Junho de 1902, 14º da República.
Francisco Xavier da Silva Artur Pedreira de Cerqueira (SILVA; SILVA, 2012, p. 167).
64
Figura 8: Localização da TI Xapecó e suas localidades limítrofes.
Fonte: Elaborado pelo geógrafo Alexandre L. Rauber e por Carina S. de Almeida a partir de
base cartográfica IBGE, 2011. Acervo LABHIN/UFSC, 2015.
No total, Santa Catarina conta com quatorze Escolas Indígenas Kaingang, sendo
que nove estão localizadas na TI Xapecó, onde 1.334 alunos são atendidos e 89
professores compõem o corpo docente. Nos dias atuais a EIEB Cacique Vanhkrê oferece
Ensino Fundamental, Ensino Médio. Além, disso, a escola cede o espaço para cursos
superiores de formação de professores, onde a UNIASSELVI, oferece o Curso de
Licenciatura em Pedagogia na modalidade EAD e para UNOCHAPECÓ, que oferece o
Curso de Licenciatura Específica para a formação de professores indígenas Kaingang.
(NÖTZOLD; ROSA, 2012).
Para maior compreensão da estrutura da escola, segue descrição de Biazi e
Assumpção (2020, p. 6)
A Escola Indígena de Educação Básica Cacique Vanhkre está localizada na
aldeia Sede da Terra Indígena Xapecó no lugar alto onde pode ser avistada, sua
estrutura é em formato de animais que estão presentes nas histórias contadas
pelo Kofá (pessoas sábias que possuem um vasto conhecimento sobre a cultura
e tradição do povo), nos dias atuais a escola é um espaço turístico do município
de Ipuaçu, pois o ginásio de esporte possui a forma de tatu, o centro cultural a
forma de uma tartaruga, o espaço onde estão as salas de aula e banheiros
possuem um modelo de aldeia circular, no passado as casas eram posicionadas
em sentido circular para que todas as portas das casas dessem ao grande pátio,
desta forma todos os Kaingang cuidavam das crianças que ali brincavam. No
meio da aldeia circular está a casa da liderança maior, o cacique, na estrutura
65
escolar o centro do círculo inclui a secretaria, sala dos professores, a copa e a
cozinha.
Como dito na seção anterior, a educação escolar indígena está ligada aos métodos
próprios de transmissão de conhecimento e os ensinamentos acontecem através dos
cantos, danças, mitos, na confecção de artesanatos, nos rituais sagrados e diversas
atividades que acontecem no cotidiano de uma criança indígena. Esses conhecimentos
são passados de geração em geração através da oralidade. Normalmente os Kofás anciãos,
que são considerados os mais sábios, são aqueles que ensinam os mais novos. Os
ensinamentos envolvem todo o espaço físico em que a comunidade vive, bem como o
contato com a natureza, animais e plantas. A oralidade é muito importante nas culturas
indígenas e por isso são muito valorizadas. É através dela que os saberes são transmitidos.
Estes saberes tradicionais são incorporados ao PPP e no currículo das escolas com o
objetivo de valorizar as pedagogias indígenas.
Ao mesmo tempo que para uma comunidade a escola deve possibilitar a
aprendizagem do conhecimento da sociedade não indígena, como a importância do uso
das tecnologias, o ensino da língua portuguesa e matemática para que esses povos possam
lutar pela defesa de seus direitos; outras comunidades preferem os métodos próprios de
transmissão de conhecimentos com o intuito de valorizar e revitalizar as suas culturas.
As narrativas indígenas se sustentam e se perpetuam por uma tradição de
transmissão oral (sejam as histórias verdadeiras dos seus antepassados, dos
fatos e guerras recentes ou antigos; sejam as histórias de ficção, como aquelas
da onça e do macaco). [...] O fato é que os povos indígenas no Brasil, por
exemplo, não empregavam um sistema de escrita, mas garantiram a
conservação e continuidade dos conhecimentos acumulados, das histórias
passadas e, também, das narrativas que sua tradição criou, através da
transmissão oral. Todas as tecnologias indígenas se transmitiram e se
desenvolveram assim. E não foram poucas: por exemplo, foram os índios que
domesticaram plantas silvestres e, muitas vezes, venenosas, criando o milho, a
mandioca (ou macaxeira), o amendoim, as morangas e muitas outras mais (e
também as desenvolveram muito; por exemplo, somente do milho criaram
cerca de 250 variedades diferentes em toda a América) (D’ANGELIS, 2008,
p. 2).
Nas escolas indígenas os professores ao ensinarem a língua materna dão
continuidade ao ensino da oralidade através dos mitos e lendas indígenas. Na cultura
Kaingang o mito dos irmãos Kamé e Kainhru conta a história da origem do mundo e de
seu povo. Ele é muito utilizado como ferramenta pedagógica pelos professores em sala
de aula.
66
A escola não é o único espaço que acontece a educação escolar, as aprendizagens
acontecem em outros espaços dentro das comunidades indígenas. Esses espaços são
considerados espaços de construção de conhecimentos, ou seja, é nos fazeres diários que
o conhecimento é transmitido às crianças. Isto significa que dentro de uma comunidade
Kaingang todos os adultos são responsáveis pela educação das crianças, e elas são tratadas
com muito respeito.
No processo de aprendizagem as crianças indígenas Kaingang desfrutam de muita
liberdade e autonomia. Desta forma, os outros espaços também são considerados de
aprendizagens não se separando da escola. Reforçamos que os anciãos são os detentores
do conhecimento e através da oralidade e do exemplo é que as crianças aprendem. Assim,
a ancestralidade é repassada através das narrativas que permite que mantenham suas
tradições.
Se durante o século XX o objetivo da escola era civilizar e integrar o índio à
sociedade nacional formando para a mão de obra, hoje, em contrapartida, a escola busca
revitalizar e fortalecer as culturas indígenas. Mas, o conhecimento não indígena é
fundamental para que os diferentes povos desenvolvam autonomia, o domínio da língua
portuguesa e outros códigos da sociedade para que possam lutar e reivindicar os direitos
que lhes foram assegurados. Sobre isso, salientase:
O que o povo Kaingang almeja é que a escola possa instrumentalizar as lutas
dos povos indígenas, mais especificamente a sua luta. Dessa forma, há uma
mobilização em busca de políticas públicas para uma educação escolar que
permita a transmissão dos conhecimentos tradicionais e sua sobrevivência
como conhecimento de povo etnicamente diferente, cultural e
linguisticamente, pois, o contato com as sociedades não indígenas representou
para os Kaingang diminuição do uso de sua língua e suas práticas tradicionais
(FERREIRA, 2014, p. 77).
Hoje a escola tem um papel importante de tornar mais forte vários elementos
dessas culturas que foram silenciadas e modificadas ao longo dos anos. Porém,
atualmente a escola deve articular os conhecimentos científicos e saberes tradicionais
buscando o fortalecimento e a revitalização. Para Ferreira (2020, p 130) “interessa aos
Kaingang aprender conhecimentos importantes de outras sociedades e a escola é um lugar
que poderá propiciar isto. Mas esta aprendizagem não pode ocasionar a perda ou a
desvalorização dos conhecimentos e dos valores próprios da cultura Kaingang”.
Por fim, ficou latente com a pesquisa que a cultura e os saberes do povo Kaingang
devem ser incorporados ao PPP e no currículo das escolas, assim muitos destes saberes
67
5. O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO E.I.E.B. CACIQUE VANHKRÊ
O PPP é um instrumento fundamental para as instituições de ensino. Nele deve ser
apresentado os objetivos da escola, como serão organizados os trabalhos pedagógicos e
as ações que serão desenvolvidas ao longo do ano letivo. Deve estar articulado com a
proposta curricular, visando melhorar e/ou garantir a qualidade do processo de ensino e
aprendizagem. Isto significa que o PPP é a expressão da organização e gestão escolar.
Libâneo (2012, p. 470) afirma que “o projeto é um documento que propõe uma direção
política e pedagógica ao trabalho escolar, formula metas, prevê as ações, institui
procedimentos e instrumentos de ação”.
Ele deve ser construído coletivamente com a participação de todos aqueles que
integram a escola, visando o diálogo e sempre levando em conta o contexto em que a
escola está inserida, sendo possível definir que tipo de escola querem e qual sociedade
anseiam para o futuro.
Salientase ainda que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN)
em vigor, a Lei n. 9394/1996 (BRASIL, 1996), assegura às instituições de ensino básico
a autonomia de elaborar, executar e avaliar seu projeto pedagógico, sendo necessário ser
reavaliado anualmente. Não é à toa que as redes de ensino orientam a elaboração e exigem
este documento em todas as instituições educativas.
Sabese que uma serie de reflexões são necessárias para se pensar o PPP de uma
escola indígena devido as suas características particulares, como: pensar em
problematizar a realidade da escola destacando pontos fortes e fracos; pensar como é a
aldeia na qual a escola está inserida; o que a comunidade anseia sobre escola; que cidadão
pensam em formar; qual o papel dessa escola; qual a relação da escola com a comunidade;
como garantir conhecimentos via escola fortalecendo a cultura local, entre outros pontos.
Estas reflexões permitem que a comunidade e integrantes da escola construam um Projeto
e uma escola, esforçandose para que ela atenda às necessidades da comunidade, com um
ensino diferenciado, que fortaleça a cultura indígena e seja capaz de formar cidadãos que
serão transmissores e defensores da cultura indígena no futuro.
Considerando a importância deste documento para a construção da identidade de
uma escola e as diferenças que constituem as escolas indígenas, buscamos explorar o PPP
da E.I.E.B. Cacique Vanhkrê (2010), da TI XapecóSC. Aqui buscamos conhecer quais
69
conhecimentos são trabalhados na escola, como acontece a educação escolar indígena,
como é a sua organização, a função social da escola para este povo etc.
O PPP que tivemos acesso não é a versão atualizada, mas a anterior, disponível na
página da Secretaria Estadual de Educação (SED/SC), datado de 2010 (ESCOLA
CACIQUE VANHKRE, 2010)18. Está fundamentado na Proposta Curricular de SC e no
Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas (RCNEEI) (SANTA
CATARINA, 2018; BRASIL, 1998).
O PPP estudado contém 82 páginas e está dividido em 20 partes, sendo elas:
Introdução; Histórico da Terra Indígena Xapecó; Histórico da Escola Indígena de
Educação Básica Cacique Vanhkrê; Características da Escola; Concepção Filosófica –
Pedagógica; Diretrizes e Metas para 2010; Organização Escolar; Corpo Discente;
Calendário Escolar; Horário Escolar; Estrutura Curricular; Serviços e Projetos de Apoio
Pedagógico na Escola; Atividades Escolares; Relação da Escola com a Comunidade;
Disciplina Escolar; Do Corpo Discente; Da Organização Escolar; Recursos Humanos;
Responsabilidades; Apreciação e Aprovação e; Anexos.
Para o presente estudo foram escolhidos três subtemas para serem abordados nessa
seção: características da escola e sua relação com a comunidade, função social da escola
e ensino da língua Kaingang.
5.1 A ESCOLA E SUA RELAÇÃO COM A COMUNIDADE
A E.I.E.B. Cacique Vanhkrê é uma das escolas Kaingang que fica situada na TI
Xapecó, a TI faz divisa com os municípios de Bom Jesus, Ipuaçu, Entre Rios e Marema.
A escola localizase no município de Ipuaçu, cidade à 75 km de Chapecó, no oeste de
Santa Catarina. A escola oferece ensino bilíngue, intercultural, diferenciado, comunitário
e específico. Além disso, oferece ou acontece as seguintes modalidades e etapas de
ensino:
• Ensino regular de Ensino Fundamental e Ensino Médio;
• Educação Especial, turma de SAEDE;
18
Infelizmente, apesar de várias tentativas, por diferentes caminhos, não conseguimos a versão atualizada
do PPP. Apesar disso, mesmo com certo prejuízo, consideramos que este fator não impediu de realizar a
pesquisa, de se aproximar da escola e entender um pouco sobre a educação escolar indígena.
70
• Cede espaço para oferta de Ensino Superior, como os cursos de Licenciatura
para Professores Indígenas Kaingang (neste caso o espaço é cedido para a
UNOCHAPECÓ, responsável pelos cursos desde 2009); e Licenciatura em
Pedagogia Uniasselvi (o espaço é usado pelos professores indígenas para
fazerem seus estudos à distância).
Em 2010, a escola totalizava 42 turmas de educação básica e 956 alunos
matriculados, distribuídos da seguinte forma:
Quadro 1: Distribuição de alunos por turma na E.I.E.B. Cacique Vanhkrê, 2010.
Etapas Número de turmas Número de alunos
Turma Especial de Surdos 1 4
Ensino Médio 6 130
Atividades Curriculares Complementares 4 76
Fonte: (Escola Cacique Vanhkrê, 2010)
Percebemos uma adesão baixa ao número de matrículas no Ensino Médio, pelos
alunos estudarem em escolas fora das aldeias, muitos por falta de opção, muitos não
seguem os estudos, por razões econômicas e familiares. Outros precisam trabalhar fora,
outros em razão do casamento e nascimento dos filhos acabam deixando os estudos. E
algumas vezes falta professores com a formação necessária para dar aulas nos anos finais
da Educação Básica e outros porque escolhem estudar em outras Instituições.
Um dos pontos mais importantes a ser destacado nesta pesquisa são os
conhecimentos trabalhados na E.I.E.B Cacique Vanhkrê com o fim de revitalizar a cultura
Kaingang. A escola trabalha com projetos específicos e atividades complementares que
compreende toda a cultura material como a confecção de artesanato, instrumentos
musicais e afins. Já na cultura não material são trabalhadas as músicas, danças e a língua
Kaingang. O projeto atendia aproximadamente 50 alunos, podendo ter a participação de
toda comunidade que desejam aprender a língua Kaingang.
As atividades desenvolvidas e os temas que compõem a estrutura curricular da
escola, estão articulados às necessidades da comunidade e em todas as disciplinas estão
presentes elementos da cultura Kaingang e de outros povos indígenas. A grade curricular
é composta pelas seguintes disciplinas: Artes; Biologia; Ciências; Cultura Indígena;
71
19
Apesar de o currículo apresentar grande importância para essa pesquisa, não se deu conta de explorálo,
sendo necessário dar continuidade em estudos posteriores. Existindo então a possibilidade de
aprofundamento para uma melhor compreensão sobre como a educação tradicional aparece no currículo da
educação escolar indígena.
72
gestão da escola funciona a partir do diálogo com a participação de toda comunidade.
Porém, não consta no documento como é realizada a escolha da direção.
Sabese que para assumir o cargo de diretor é necessário ser concursado, diante
disso geralmente o diretor ou gestor é um não indígena. Porém, com os avanços dos cursos
superiores os indígenas estão se habilitando e realizando concursos. Entretanto, a decisão
se o candidato poderá atuar na aldeia é do cacique.
A E.I.E.B Cacique Vanhkrê era uma escola com o quadro docente composto
principalmente por professores indígenas, em 2010 haviam 41 professores indígenas,
dentre eles a maioria estavam com os cursos superiores de letras, pedagogia, educação
física e geografia em andamento; alguns professores possuíam cursos de especialização
em matemática, física, psicopedagogia. Entre os anos de 2011 e 2012 o número de
professores formados subiu para 45. Em grande parte os docentes da EIEB Cacique
Vanhkrê são admitidos em caráter temporário (ACT). Um dado importante de se destacar
é como é realizada a escolha dos professores que irão atuar na aldeia, conforme explicado
por Nötzold e Rosa (2012, p. 26).
[...]o critério para seleção de professores para as escolas estaduais que se
localizam dentro das terras indígenas é diferente do padrão das outras
instituições escolares. Há uma série de quesitos que devem ser levados em
conta na seleção: formação do profissional, tempo de trabalho (experiência),
etnia, relação com a comunidade e, ao final, o aval do cacique da aldeia. O que
acontece na realidade é que o critério que deveria ser o último na seleção do
docente acaba sendo o primeiro. Ou seja, pela força política exercida pela
autoridade máxima na terra indígena, que é o cacique e não podemos esquecer
que esse poder é multiplicado nas terras Kaingang, principalmente na T.I.
Xapecó, onde só existe um cacique geral – este tem o poder de anular os
critérios da seleção e decidir sumariamente. Isso levou a uma grande mudança
no quadro docente, pois entre 2010 e 2011 houve eleições para liderança e uma
consequente mudança do cacique. Essa alteração trouxe consigo um novo
quadro docente aliado às lideranças indígenas, que não necessariamente eram
os professores mais bem formados.
A função deles era buscar que os objetivos da escola fossem alcançados da
mesma forma que lutavam para o fortalecimento da cultura Kaingang. Deveriam trabalhar
de forma interdisciplinar com projetos voltados à realidade da comunidade naquela época.
Uma das características notáveis é a arquitetura admirável da escola, carregada de
significados. O prédio da Instituição em questão foi construído de forma circular,
assemelhandose a uma “oca”. Este formato procura demonstrar como a comunidade se
organizava no passado, onde as casas eram distribuídas dentro da aldeia formando um
grande círculo. Segundo Salvaro (2009, p. 104) “a sala da direção localizada no centro
73
como se fosse a casa do cacique e as salas de aula ficam ao seu redor, significando as
casas das famílias da comunidade”. No passado era importante que a porta dos fundos
sempre estivesse voltada para o pátio, assim todos eram responsáveis em cuidar das
crianças.
O ginásio de esportes foi construído em formato de um tatu onde os alunos faziam
educação física; o centro cultural em formato de uma tartaruga, local onde a comunidade
fazia apresentações artísticas, reuniões e recebiam visitantes. A construção deste espaço
tinha como finalidade integrar escola e comunidade. Ambos os animais são considerados
sagrados para o povo Kaingang e eram utilizados na alimentação. Todas estas
características foram pensadas de forma a atender as necessidades da comunidade,
buscando o fortalecimento da cultura e de seus costumes. Para melhor visualizar,
apresentamos algumas fotos da escola.
Figura 9: E.I.E.B Cacique Vanhkrê vista parcialmente
Fonte: Acervo LABHIN
Figura 10: E.I.E.B Cacique Vanhkrê vista externa do prédio
Fonte: Zanin e Dill, 2016
74
Figura 11: E.I.E.B Cacique Vanhkrê vista do pátio interno
Fonte: Zanin e Dill, 2016
Figura 12: Ginásio de Esportes na forma de tatu, E.I.E.B Cacique Vanhkrê
Fonte: Zanin e Dill, 2016
Figura 13: Centro Cultural em forma de tartaruga, E.I.E.B Cacique Vanhkrê
Fonte: Acervo LABHIN
75
Figura 14: Centro Cultural parte interna, E.I.E.B Cacique Vanhkrê
Fonte: Zanin e Dill, 2016
É importante salientar que, com o decorrer dos anos as estruturas destes espaços
começaram a deteriorarse e necessitam de reformas. Neste sentido, a responsabilidade
pela manutenção e reformas cabe a SED, que por meio de sua Diretoria de Infraestrutura,
e em articulação com as Gerências Regionais de Educação (GERED) que atendem às
comunidades indígenas, solicita recursos ao Ministério da Educação (MEC) por meio do
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) (SANTA CATARINA, 2018,
p. 47). Embora seja considerada a maior escola indígena do estado de SC, a falta de espaço
tornouse um grande problema para a comunidade, conforme consta registo no PPP da
Escola (ESCOLA CACIQUE VANHKRE, 2010). Em 2010 o espaço já não estava dando
conta devido ao aumento do número de alunos matriculados até aquele momento e a
escola precisou ser adaptado. Segundo relatos no PPP, o problema com a falta de espaço
teve início no ano de 2006.
[...] na questão da estrutura física que deixa a desejar, pois possuímos muitos
alunos para poucas salas de aula, e, com o crescente número de aluno a
biblioteca virou sala de professor e a sala de professor virou uma mini
biblioteca e sala do SAED, onde também tínhamos uma sala de artes que era
de chão batido onde teve que ser feita de azulejo para também ficar
funcionando como sala de aula normal. Tínhamos também uma sala de vídeo
que também hoje é sala de aula, e a nossa sala de computação com poucos
computadores que nossos alunos usam cada dois um micro somente, e também
funciona como sala de vídeo (ESCOLA CACIQUE VANHKRE, 2010, p. 22).
É importante destacar que as alterações realizadas em espaços como a sala de artes
que naquele momento era de chão batido, onde o espaço era utilizado para a confecção
de artesanatos também sofreu uma mudança na concepção de uso.
76
Em 2001 foi solicitado a oferta de educação infantil na aldeia, demanda atendida
até 2003. Porém, em 2004 as crianças passaram a ser atendidas em diferentes locais, de
responsabilidade do município, pois a escola na aldeia não possuía mais de espaço físico,
sendo necessário a construção de um específico voltado para a educação infantil 20. Na
ocasião a reivindicações da comunidade indígena junto a SED/SC era para a transferência
da educação infantil para a esfera estadual, contudo, a responsabilidade pela educação
infantil continuava, até 2010, com a Prefeitura Municipal de IpuaçúSC.
No PPP (2010) consegui captar a visão dos pais sobre a escola em questão. A
comunidade possui uma relação aberta com a Instituição Educativa, o que permite a
participação de todos. Para a construção do PPP foi realizado um questionário com os
pais de alunos para saber o que as famílias pensavam sobre a escola e o ensino, o que eles
desejavam e esperavam da escola. O resultado da pesquisa de opinião está no PPP, nos
permitindo conhecer um pouco mais da escola, por isso destacamos algumas das questões
feitas.
• Dos 21 pais que responderam o questionário 14 indicaram que achavam a
escola boa e destacaram o bom trabalho desenvolvido pelos professores. Três
responderam que a escola é ótima; três indicaram ser regular e; uma pessoa
afirmou que a escola era ruim, porém não explicou o motivo dessa avaliação.
• A maioria dos pais (12) indicaram que participavam das atividades que a
escola oferecia para a comunidade e acompanhavam o desempenho dos filhos;
seis disseram que participavam somente nos dias de reunião; três quando os
professores ou a direção solicitava a presença.
• No que diz respeito à avaliação do trabalho realizado pelos professores, a
maioria concordou que os professores têm desenvolvido um bom trabalho,
elevando o nível de aprendizagem dos alunos. Parece que tudo o que acontecia
na escola era compartilhado com a comunidade, e tudo o que os alunos
aprenderam primeiramente passava pelos pais;
• Apesar dos pais defenderem que todos os professores da escola devessem ser
indígenas, consideravam que a presença de professores nãoindígenas poderia
enriquecer no âmbito educativo através da troca de conhecimento com a
sociedade nãoindígena.
20
Ademais, outro fator que pode ter interferido nessa decisão pode ter sido a questão da municipalização
da educação infantil e ensino fundamental (BRASIL, 1996).
77
Embora a escola possua um currículo diferenciado, na maioria das vezes é
desrespeitado pelos órgãos competentes. Isso se materializa, por exemplo, tanto no
calendário escolar como no livro didático. É importante salientar que no ano de 2010 a
escola não dispunha de material didático próprio, utilizandose dos livros como as demais
escolas nãoindígenas – material esse que desconhecia e não atendia a realidade indígena
local.
Identifiquei no PPP que naquele ano a comunidade almejava e reivindicava
melhorias na escola, entre elas: garantir ensino diferenciado de qualidade, com estrutura
e espaço adequado para melhor atender a todos; uma biblioteca com livros de literatura
de qualidade; sala de multimídia com boa estrutura; mais salas de aula e; e refeitório
planejado com espaços adequados; uma escola com estrutura capaz de atender os alunos
portadores de deficiência com mais conforto; com uma área para a realização de
atividades de educação física que também possibilitasse os alunos com necessidade
especiais participar da vida escolar por completo; um currículo diferenciado e respeitado
pelos órgãos competentes, assim como é assegurado na CF/1988 (BRASIL, 1988), sem
ter a obrigação de se adequar aos modelos de educação nãoindígena; por fim, uma escola
que busque o empoderamento e protagonismo dos sujeitos indígenas. Talvez de lá até
hoje, passados 12 anos, alguns desses desafios tenham sido conquistados ou piorados.
Dentre as metas estabelecidas para o ano de 2010 encontradas no documento
estavam o desenvolvimento de ações envolvendo os pais de alunos e assim aumentar a
participação na aprendizagem, projetos de arborização e cultivo da horta escolar,
aquisição de livros e diversos materiais para auxiliar o trabalho pedagógico, ampliação
de alguns espaços e melhoria na estrutura do prédio, além de outros tantos projetos mais
específicos sobre a cultura indígena.
5.2 FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA INDÍGENA
Escola, que lugar é esse? Sabese que a educação é um direito de todo cidadão e
um dever do Estado. A escola é entendida como um espaço que garante o direito a
educação formal através das práticas pedagógicas, bem como a socialização dos sujeitos.
A escola tem como função nas palavras de Libâneo (2012, p. 49),
78
[...] o desenvolvimento das potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos
alunos, por meio da aprendizagem dos conteúdos (conhecimentos, habilidades,
procedimentos, atitudes, valores), para se tornarem cidadãos participativos na
sociedade em que vivem. O objetivo primordial da escola é, portanto, o ensino
e a aprendizagem dos alunos, tarefa a cargo da atividade docente.
Mas, e quanto a função social da escola indígena? Primeiramente é importante
relembrar e reforçar que a escola indígena precisa atender os interesses das comunidades
indígenas, a fim de revitalizar suas culturas e fortalecer a língua materna, assim como
valorizar os mais velhos e possibilitar a presença destes sábios dentro do espaço escolar.
De acordo com Nötzold (2015, p. 32), "estudar, ler e escrever é direito de todos. Saber ler
e escrever na língua materna (indígena) é acessar códigos, significados e expressões que
são intraduzíveis, que existem apenas naquela expressão, naquela forma de falar, naquele
jeito de dizer, somente possuem aquele significado”.
Pelas evidências encontradas no PPP, podese afirmar que a E.I.E.B Cacique
Vanhkrê vem desenvolvendo o seu papel, trabalhando juntamente com a comunidade
Kaingang em busca de recuperar os conhecimentos tradicionais, ao mesmo tempo que
trabalha com o ensino convencional (SILVA; SILVA, 2012).
Em 2010 os pais acreditavam na importância da escola para a comunidade, pois
nela irão adquirir os conhecimentos capazes de fortalecer sua cultura, na luta pelos seus
direitos e na comunicação com as sociedades indígenas e nãoindígenas. Além disso, a
escola era vista como o lugar onde as crianças serão preparadas para realidade em que
vivem.
No PPP (ESCOLA CACIQUE VANHKRÊ, 2010) há registros de que os pais
acreditavam e valorizavam a escola principalmente quando se trata de cultura, história e
tradições do povo Kaingang.
O Observatório da Educação Escolar Indígena/OEEI21 é um projeto anterior ao
OBEDUC, o principal objetivo do OEEI era instrumentalizar e empoderar os professores
21
O Projeto Observatório da Educação Escolar Indígena (OEEI/CAPES/SECAD/INEP), realizadas pela
equipe de pesquisadores do Laboratório de História indígena (LABHIN/UFSC) entre os anos de 2010 e
2012. Este projeto foi submetido ao edital n°. 01/2009/CAPES/SECAD/INEP, com o título “Autogestão e
processos próprios de aprendizagem: desafios para uma educação escolar indígena com autonomia”, sendo
aprovado e publicado no Diário Oficial da União/DOU 15.12.2009, Seção 03, p.37. Neste sentido realizou
se um diagnóstico por amostragem das escolas indígenas de Santa Catarina para analisar a implementação
dos referenciais da interculturalidade, do bilinguismo, da participação comunitária nos diferentes níveis de
ensino, a partir dos dados levantados no Sistema Estadual de Registro e Informação Escolar – SERIE/SC,
Censo Escolar, Educacenso e SAEB das escolas indígenas. Com o intuito de operacionalizar o projeto,
foram propostos os objetivos específicos: analisar os Projetos Políticos Pedagógicos das escolas,
evidenciando os processos próprios de aprendizagem; identificar a evasão e seus motivos; avaliar o número
de alunos que permanecem na escola a partir do Ensino Fundamental e dos alunos que buscaram Ensino
79
indígenas com as oficinas realizadas na época para que tivessem autonomia para
elaboração do PPP e demandas sobre o calendário diferenciado. Em uma pesquisa
realizada ([2010?]) com os estudantes na escola, baseado nas informações encontradas no
PPP. Os alunos foram questionados sobre como é a escola e qual a sua importância. Nas
respostas foi possível observar que os alunos consideram que ela tem um papel importante
para a formação e a consideram um ambiente agradável. Ao serem questionados sobre o
que aprendem, os alunos responderam: contas matemáticas, fazer provas, língua e história
do povo Kaingang, escrever e ler, respeitar os colegas e os mais velhos, a pensar no futuro,
biologia, educação e outras matérias. Sobre o que os alunos desejam aprender as respostas
foram: mais aulas de Língua Kaingang, matemática, português e ciências, aulas de dança,
teatro, violão, artesanato, informática, esporte e experiência com animais e também
preparação para o Enem e o vestibular.
Pude identificar que algumas atividades reivindicadas já são contempladas através
dos projetos que buscam a interdisciplinaridade (ESCOLA CACIQUE VANHKRE,
2010).
Encontramos no PPP o compromisso da Escola ao se definir a Concepção
Filosófico – Pedagógica, afirmandose que:
A E.I.E.B. Cacique Vanhkre objetiva formar jovens que saibam decifrar os
variados signos linguísticos da comunicação das sociedades dos índios e não
índios, sendo que possam defender sua cultura e ter conhecimento científico,
para debater igualmente com qualquer pessoa de qualquer etnia e sociedade.
Na construção da cidadania, a escola orientase da formação dos educandos,
pessoas que sejam portadores de vez e voz dentro e fora da comunidade, e
estando fora de sua sociedade possa falar em pé de igualdade com os não
índios. [...] Sendo uma escola indígena com características particulares abre
espaço à comunidade para que a mesma possa se identificar e se espelhar nas
experiências escolares, voltadas para a realidade da vida e da situação dessa
comunidade como se sabe, a escola se constrói através de valores e deverá
atuar junto à comunidade e lideranças na defesa da prevenção da cultura,
fortalecendo as artes, por ser uma das formas do povo indígena Kaingang
(ESCOLA CACIQUE VANHKRÊ, 2010, p. 23; 25).
O documento ainda se refere a questões como território, conceito central
mencionado quatorze vezes no PPP. Afirmase que este tema deve ser trabalhado nas
disciplinas de Cultura Indígena, Geografia e também em História.
Sobre isso, Baniwa (2006, p. 105) afirma que,
Superior; perceber os mecanismos de interferência da escola na comunidade e da comunidade na escola
(NÖTZOLD, 2012, p. 15).
80
[...] a garantia efetiva da terra é fundamental para a sobrevivência física e
cultural dos povos indígenas e para o desenvolvimento econômico sustentável
do país. A falta de terra ou a sua insuficiência acarreta não apenas dificuldades
de sobrevivência física das comunidades indígenas, mas ameaça a própria
continuidade étnica, na medida em que impede a realização de práticas
tradicionais, como os rituais, as cerimônias, as festas e outras tradições
fundamentais para a reprodução da cultura ancestral do povo. É igualmente
grave a situação de terras já regularizadas, mas que foram invadidas,
impedindo a ocupação efetiva dos povos indígenas, seus habitantes originais.
A situação das terras indígenas no Brasil é tão complexa que é difícil obter e
confiar em dados sobre elas, uma vez que eles podem representar aspectos e
horizontes de interesses diversos.
Ao analisar o documento em sua integralidade verificase que a proposta
pedagógica está fundamentada em autores como Howard Gardner, Moacir Gadotti, Paulo
Freire, Vygotsky e Vitor da Fonseca. Além disso, a E.I.E.B Cacique Vanhkrê inclui em
seu planejamento saúde indígena, medicina indígena, temas transversais de acordo com
o RCNEEI e Proposta Curricular de SC, com o objetivo de formar cidadãos críticos que
reafirmem sua identidade (ESCOLA CACIQUE VANHKRÊ, 2010).
O currículo diferenciado permite ao aluno a realização de pesquisas sobre sua
cultura aumentando seus conhecimentos e também o desenvolvimento em sua própria
comunidade (ESCOLA CACIQUE VANHKRE, 2010). Portanto, ficou notável o esforço
da E.I.E.B Cacique Vanhkrê em formar cidadãos críticos que defendem sua cultura,
indígenas protagonistas de suas próprias histórias.
5.3 ENSINO DA LÍNGUA KAINGANG
A língua materna é ensinada pela oralidade, onde os mais velhos ensinam os mais
novos através de memórias. Mas, existe uma grande preocupação para o povo Kaingang
no que diz respeito aos registros dessas memórias e dos saberes tradicionais, em razão
dos mais sábios estarem morrendo e junto com eles muitos conhecimentos.
Sabese que a língua é um dos elementos fundamentais para reafirmar a identidade
de um povo. É através da oralidade que são repassados os saberes tradicionais de geração
em geração, por esse motivo percebese a importância de se fazer o registro através da
escrita. Nessa direção, encontrei no PPP da Escola:
A inclusão da língua indígena Kaingang no currículo escolar tem a função de
atribuirlhe status de língua plena e de colocála, pelo menos no cenário
81
escolar, em pé de igualdade com a língua portuguesa, um direito previsto pela
Constituição Brasileira (E.I.E.B Cacique Vanhkê, 2010, p. 51).
Levando em conta essa preocupação a E.I.E.B Cacique Vanhkre vem
desenvolvendo o ensino da língua Kaingang por meio da oralidade e escrita, pois os
registros facilitam na preservação da memória de seu povo. Nas palavras de Salvaro
(2009, p. 153),
a escrita do Kaingang tem como principal papel transmitir os conteúdos das
disciplinas, bem como, para lecionar todas as outras, pois é preciso que o aluno
possa acompanhar as atividades e fazer as avaliações. Tudo isso acontece por
meio da escrita, porém a oralidade é mantida e tem como principal função
manter a cultura Kaingang. A escrita é utilizada como uma forma de registro
da tradição do povo Kaingang, pois é perceptível nas oficinas a presença dos
mais velhos que relatam por meio oral os saberes tradicionais, revelando como
era a vida nos tempos antigos. Os mais novos, por sua vez, fazem o registro
por meio da escrita. Geralmente o material é bilíngue, pois muitas crianças não
têm domínio da língua Kaingang e sentem dificuldades na aprendizagem. A
escrita é percebida como um espaço realmente de registro para as próximas
gerações, visto que a eles foi imposta a escrita da língua portuguesa, então,
como para resgatar a igualdade, é preciso ter a língua que identifica o povo
tanto na oralidade quanto na escrita.
Como a maioria das crianças não são falantes da língua Kaingang, a alfabetização
ocorre primeiramente na língua portuguesa e depois de alfabetizadas a criança começa a
aprender a sua língua mãe, que vai sendo inserida aos poucos como segundo idioma.
Inicialmente é trabalhada a oralidade no primeiro ao terceiro ano, mais tarde, a partir do
quarto ano, a escrita começa a ser inserida aos poucos.
Em 2014 o Projeto Observatório da Educação (OBEDUC), realizado através do
Laboratório de História Indígena (LABHIN/UFSC) e também coordenado pela Profa.
Dra. Ana Lúcia V. Nötzold, realizou um levantamento de dados com auxílio de
instrumentos de pesquisa na T.I. Xapecó a respeito da cultura Kaingang. Foi então
realizado um levantamento linguístico entre as famílias, onde 2.097 responderam, sendo
eles estudantes, pais e outros familiares (NÖTZOLD; ROSA, 2017). Todos os resultados
evidenciaram a realidade da utilização da língua na comunidade Kaingang da TI Xapecó.
Nötzold e Rosa (2017, p. 27) afirmam que
Constatouse que são poucos os Kaingang que entendem, falam, lêem ou
escrevem na sua língua materna. Lideranças e professores indígenas
consideravam que um percentual de pouco mais de 10% da população da TI
Xapecó entendesse ou estaria familiarizado com a língua Kaingang.
82
Atualmente percebese que muitos povos indígenas deixaram de falar suas línguas
maternas ao longo dos anos em consequência do processo histórico de proibição do seu
uso como forma primeira de comunicação. E hoje as escolas indígenas tem esse
importante papel de fortalecer essas línguas com ensino específico, garantindo a
preservação da identidade de um povo.
Um dos principais desafios encontrados pelos professores da E.I.E.B Cacique
Vanhkrê, diz respeito a falta de material didático próprio. De acordo com Nötzold (2015,
p. 26)
O nível de conscientização por parte da comunidade escolar sobre a
precariedade de material específico, sobretudo sobre a própria história de seu
povo, bem como a carência de produção na língua indígena levou os
professores a serem os produtores de seus próprios materiais. Para tanto criam
suas próprias metodologias e estratégias para suprir essas lacunas.
Logo após o levantamento desses dados a equipe do Projeto OBEDUC22, em
conjunto com os professores da escola, realizaram oficinas pedagógicas para construção
de materiais didáticos específicos, que são fundamentais na revitalização da cultura
Kaingang. Dentre os materiais produzidos está o Cartaz com o Alfabeto Kaingang e o
Alfabeto Móvel Kaingang23. Todos os materiais produzidos nas oficinas foram
publicados pelo LABHIN/UFSC, que desde 1999 vem realizando formação continuada
de professores, pesquisas e projetos em conjunto com a comunidade Kaingang da TI
Xapecó. Os materiais produzidos têm auxiliado no trabalho dos professores, bem como
na alfabetização das crianças Kaingang.
Também foram produzidos o Caderno Pedagógico intitulado “Povo Kaingang –
Vĩ To Venh Rã” (NÖTZOLD; ROSA, 2017), o livro “Ouvir Memórias, Contar Histórias:
Mitos e Lendas Kaingáng” (NÖTZOLD, 2015), “Kanhgág ag vi fã TI Xapecó Ki. O modo
de fala a língua Kaingang na TI Xapecó/SC” (NÖTZOLD; ROSA, 2016), “Kanhgág ag
Vi to Rãnhrãj Ve” Caderno Pedagógico II Anos finais do ensino fundamental (2017).
22
O Projeto do Observatório da Educação – OBEDUC, “Ensino, saberes e tradição: elementos a
compartilhar nas escolas da Terra Indígena Xapecó/SC”, elaborado pela coordenação do Laboratório de
História Indígena LABHIN, da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC, visando concorrer ao
Edital nº 049/2012, proposto pela Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
– CAPES, em parceria com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira –
INEP, no âmbito do Programa Observatório da Educação, da Diretoria de Formação de Professores da
Educação Básica (DEB/CAPES). O referido projeto foi aprovado para vigência entre o período de março
de 2013 a novembro de 2017. Assim sendo, propõese aqui registrar e partilhar as experiências de ensino,
pesquisas e extensão, viabilizadas a partir do desenvolvimento do projeto junto às escolas da Terra Indígena
Xapecó, localizada no oeste do estado de Santa Catarina. (NÖTZOLD; ROSA, 2017, p. 15)
23
Os materiais podem ser encontrados no link: https://labhin.ufsc.br/livros/
83
Além de vídeos gravados pelos anciãos contando sobre as memórias e o mito de origem
do mundo, segundo o povo Kaingang, que explica sobre a organização social e sua divisão
em clãs.
Nas imagens a seguir está detalhada as oficinas realizadas pelo LABHIN/UFSC
na EIEB Cacique Vanhkrê.
Figura 15: Alfabeto Móvel Kaingang.
Fonte: Acervo LABHIN/UFSC (2013)
Figura 16: Cartaz com o Alfabeto Kaingang
Fonte: Acervo LABHIN/UFSC (2013)
84
Sobre as diferenças dialetais da língua Kaingang, Nötzold (2015, p. 24) afirma
que,
[...] a língua Kaingang possui vários dialetos, o que pode diferenciar a língua
de uma região para outra. Em cada uma dessas localidades, o uso da língua tem
uma intensidade de uso diferente. Pensando na língua como um fator de
identidade muito significativo para os povos indígenas, de diferenciação
cultural e de pertença étnica, é relevante considerar esse elemento; visto que
falar a língua indígena é um marcador de fronteira étnica e social, sendo o
ponto que separa um grupo de outro e que demarca a diferença entre ambos.
Todos os trabalhos realizados pelos professores, escola e comunidade visam o
fortalecimento da língua Kaingang em todos os espaços. Segundo Nötzold e Rosa (2017,
p. 41) “Os professores bilíngues são considerados, juntamente com as pessoas mais velhas
da comunidade, os especialistas da língua e esta elaboração provêm deste esforço
conjunto.” Aqui percebese a importância de um plano pedagógico que apoie o trabalho
do professor.
Para finalizar ficou explícito a importância dos trabalhos realizados pelo
LABHIN/UFSC em conjunto com a comunidade Kaingang da TI Xapecó ao longo dos
anos para fortalecimento e defesa do registro e memória da cultura e história desse povo,
ajudado muito no processo de revitalização e fortalecimento da cultura Kaingang.
Sabemos da importância de fortalecer a luta por políticas públicas que atendam as
demandas das escolas indígenas, garantindo nas escolas currículos interdisciplinares,
formação continuada de professores, que é algo extremamente necessário para os que
atuam nas aldeias. Precisamos de políticas públicas que façam acontecer; de uma gestão
que ampare o trabalho docente, pois o trabalho de um professor sozinho não se sustenta.
85
6 . CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levando em conta os aspectos observados ao longo desta pesquisa, compreendi
que os povos indígenas vivenciaram momentos diferentes no que se refere a educação
escolar. Por isso foi necessário conhecer o processo histórico da educação escolar
indígena no Brasil desde o início da colonização, as violências sofridas pela população
indígena, o silenciamento e apagamento das diferentes culturas, o projeto civilizatório
que pretendia integrar os indígenas a sociedade nacional por meio da catequização que
era realizada pelos missionários.
Foi somente com a promulgação da CF/1988 que o cenário começou a mudar,
representando um marco histórico importante para os povos indígenas. Fica
assegurado/reconhecido o direito deles de ser e permanecer índio, bem como o direito de
ser cidadãos. Sem dúvida esses avanços se deram através da luta envolvendo o
Movimento Indígena na conquista de uma política nacional que atendesse as demandas
das populações autóctones.
No âmbito educacional foi assegurado o ensino diferenciado, a utilização da
língua materna e processos próprios de aprendizagem, sendo regulamentada pela
LDBEN/1996. Com isso, percebemos que a escola ganha um novo sentido, pois nos dias
atuais ela busca dar autonomia e formar sujeitos críticos e ativos, capazes de reafirmar
sua identidade.
Respondendo o objetivo principal desta pesquisa – compreender qual a função
social da Escola Indígena de Educação Básica Cacique Vanhkrê – ficou claro que entre
os objetivos está em formar cidadãos que defendam a sua cultura à frente da sociedade
nãoindígena, reafirmando a sua identidade. Deve, não somente formar cidadãos, mas,
também, formar pessoas que possam desempenhar algum papel junto à comunidade. A
escola deve ajudar a formar para dentro e para fora da comunidade, contribuindo para
fortalecimento e revitalização da cultura Kaingang. É uma escola coletiva onde toda a
comunidade é participante dos projetos e ações que são desenvolvidos em conjunto;
muitos dos conhecimentos trabalhados têm como finalidade a revitalização da cultura
Kaingang em atividades como confecção dos artesanatos, nas artes, danças e cantos e
ensino da Língua. Em outras palavras, esta pesquisa permitiu compreender que a escola
possui um papel importante para os indígenas, mas para eles é uma questão de resistência
e reexistência.
86
Existe grande necessidade da escola constituirse na interculturalidade, ou seja,
precisa estar em processo de luta rompendo com as formas tradicionais de ensino. Precisa
ter interdisciplinaridade, buscar o diálogo entre os conhecimentos científicos e saberes
ancestrais diante da grande pluralidade indígena existente no Brasil, que precisa ser
reconhecida.
Mesmo com avanços alcançados ao longo dos últimos anos as escolas indígenas
ainda enfrentam vários problemas como a falta de qualificação de professores para atuar
em disciplinas especificas nas etapas finais da educação básica. No caso da TI Xapecó os
professores possuem habilitação, mas dependem do aval do cacique para que possam
atuar nas escolas.
É preciso um olhar mais atento para o baixo número de estudantes indígenas
matriculados no ensino médio. Este ainda é um grande desafio a ser superado. Outra
questão que merece a atenção diz respeito ao calendário escolar, como organizálo de
forma que atenda as especificidades da comunidade incorporando datas que são
importantes para a cultura indígena, como a morte de um ancião ou cacique. Como
garantir que calendário diferenciado seja de fato respeitado pelos órgãos competentes?
Essas reflexões são importantes para pensar como será essa escola no futuro.
No PPP da escola estudada foi possível identificar a visão das famílias em relação
a ela e os conteúdos trabalhados, sempre em busca de um ensino diferenciado e de
qualidade, pois primeiramente a escola precisa contemplar os interesses de sua
comunidade. Desta forma, a E.I.E.B Cacique Vanhkrê tem se destacado pela valorização
dos anciãos, pois eles estão sempre presentes dentro da escola trabalhando em conjunto
com os professores na revitalização da cultura e no ensino da língua Kaingang através do
ensino das memórias. Um dos principais objetivos da escola é formar cidadãos ativos,
que defendam a sua cultura e reafirmem sua identidade diante da sociedade não indígena.
Considero que todos os objetivos da pesquisa foram respondidos e explorados ao
longo das seções. Porém, nesta pesquisa não se deu conta de explorar o currículo da
escola, sendo necessário dar continuidade em estudos posteriores para compreender como
a educação tradicional aparece no currículo, como estes conhecimentos são trabalhados,
como estão organizados estes componentes curriculares. Havendo então, a possibilidade
de aprofundamento.
A aproximação com o tema possibilitou não apenas um grande aprendizado, mas
também uma transformação para a vida pessoal. Sendo que apoiar a cultura e os direitos
dos Povos Indígenas tornouse uma causa pessoal pela qual vale a pena lutar. Portanto,
87
não tenho dúvida que aprendi muito com este trabalho, tanto na dimensão pessoal, mas,
principalmente profissional. Aprendi mais sobre a história dos Povos Indígenas e desse
estado. Mas, espero que esta pesquisa também chegue em outros estudantes, bem como
os docentes. Espero que se fortaleçam novas pesquisas com a intenç1ão de se ampliar o
repertório, conhecendo os saberes indígenas, assim como a educação indígena, que
podem contribuir muito para a educação não indígena nos diversos espaços e níveis de
formação.
No início havia uma insegurança em pesquisar a temática indígena. Este receio se
dava justamente pelo lugar de fala e não pertencimento a uma etnia indígena. No entanto,
a necessidade de continuar essa pesquisa era maior. Considero um tema importante para
mim e para o Curso de Pedagogia, pois estamos falando de um espaço de formação de
professores e a necessidade que esta temática seja inserida no currículo. Apesar da
carência de debates específicos no Curso foi ele que acolheu e possibilitou a realização
deste trabalho, o qual manifesto gratidão, pois mesmo havendo alguns impedimentos
pelas regras internas foi possível a finalização deste trabalho. Deixo assim a sugestão e
defesa para que com a reestruturação curricular nos cursos de licenciatura seja inserida
disciplina especifica em história indígena, para que a Lei 11.645/2008 seja de fato
efetivada nos cursos superiores, em especial nas licenciaturas. Porém, enquanto isso não
acontece, a coordenação do curso de Pedagogia pode solicitar a oferta da disciplina
História Indígena como optativa ao departamento de História.
Sinto o desejo de dar seguimento a essa pesquisa com o objetivo de aprofundar os
estudos sobre a história das populações indígenas, da importância desses povos na
formação do Brasil e em especial sobre a educação escolar indígena.
88
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Acesso em: 09 out. 2021.
94
ANEXOS
Anexo A – PPP da E.I.E.B. Cacique Vanhkrê, 2010.
2
ESTADO DE SANTA CATARINA
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO E INOVAÇÃO
GERENCIA REGIONAL DE XANXERÊ
TERRA INDÍGENA XAPECO
839330E. I.E.B. CACIQUE VANHKRE.
DIRETORA: ANISIA FÁTIMA MAGISTRALI BELINO
ASSESSORA DE DIREÇÃO: CREIDE ALÍPIO
ASSESSORA DE DIREÇÃO: CRISTINA DE FÁTIMA SILVA
ASSISTENTE DE EDUCAÇÃO: GETÚLIO NARSIZO
ASSISTENTE TÉCNICO PEDAGÓGICO: LÍRIO COSTA DOS SANTOS
PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO 2010
TERRA INDÍGENA XAPECÓ, FEV 2010
3
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 06
2. HISTÓRICO DA TERRA INDÍGENA XAPECÓ.................................................. 09
3. HISTÓRICO DA ESCOLA INDÍGENA DE EDUCAÇÃO BÁSICA 16
CACIQUE VANHKRE..................................................................................................
4. CARACTERÍSTICAS DA ESCOLA....................................................................... 19
5. CONCEPÇÃO FILOSÓFICA – PEDAGÓGICA................................................... 22
6. DIRETRIZES E METAS PARA 2009...................................................................... 25
7. ORGANIZAÇÃO ESCOLAR................................................................................... 27
7.1. Plano de Trabalho da Diretora............................................................................. 27
7.2. Plano de Trabalho da Assessora de Direção....................................................... 29
7.3. Plano de Trabalho do Assistente Técnico Pedagógico....................................... 30
7.4. Plano de Trabalho do Assistente de Educação................................................... 32
7.5. Plano de Trabalho do Corpo Docente................................................................. 34
7.6. Plano de Trabalho de APP e Conselho Deliberativo.......................................... 36
7.7. Plano de Trabalho das Serventes......................................................................... 37
7.8. Plano de Trabalho da Merendeira....................................................................... 38
8. CORPO DISCENTE................................................................................................... 39
8.1. Direito dos Alunos................................................................................................. 39
8.2. Deveres dos Alunos............................................................................................... 40
4
9. CALENDÁRIO ESCOLAR – 2010......................................................................... 41
10. HORÁRIO ESCOLAR............................................................................................. 43
11. ESTRUTURA CURRICULAR................................................................................ 44
11.1. Organização das turmas...................................................................................... 44
11.2. No Ensino Fundamental e no Ensino Médio.....................................................
11.3. A avaliação............................................................................................................
11.3.1 Recuperação...................................................................................................
11.4. O Conselho de Classe...........................................................................................
12. SERVIÇOS E PROJETOS DE APOIO PEDAGÓGICOS NA ESCOLA...........
13. ATIVIDADES ESCOLARES..................................................................................
14. RELAÇÃO DA ESCOLA COM A COMUNIDADE............................................
15. DISCIPLINA ESCOLAR.........................................................................................
15.1 DO CORPO DISCENTE.....................................................................................
15.1.1 Ensino Fundamental......................................................................................
15.1.2. Ensino Médio.................................................................................................
15.1.3 – Do corpo Docente........................................................................................
15.1.4 – Dos demais funcionários............................................................................
5
16. DA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR...........................................................................
16.1. Regime de Funcionamento................................................................................
16.2. Níveis de Ensino.................................................................................................
16.3. Matrículas...........................................................................................................
16.5. Ensino Especial para Surdos.............................................................................
16.6. O Ensino Fundamental......................................................................................
16.7. O Ensino Médio..................................................................................................
16.8. Transferência......................................................................................................
16.9. Adaptações..........................................................................................................
16.10. Aproveitamento de estudos.............................................................................
16.11. Progressão parcial (dependência)..................................................................
16.12. Classificação.....................................................................................................
16.13. Reclassificação..................................................................................................
16.14. Organização dos tempos escolares..................................................................
16.15. Freqüência........................................................................................................
16.16. Aluna gestante..................................................................................................
17. RECURSOS HUMANOS.........................................................................................
18. RESPONSABILIDADES.....................................................................
19. APRECIAÇÃO E APROVAÇÃO...........................................................................
20. ANEXOS...................................................................................................................
6
1. INTRODUÇÃO
“Posso ser o que vocês são sem deixar de ser o que sou”
Povos indígenas.
Desde o século XVI, o grande marco da historia indígena, foi à educação voltada ao
ensino baseado na cultura européia, onde por muito tempo houve descaso à cultura indígena.
Não pode ser negado que o povo indígena foi ignorado pela sociedade por longos
anos. Mas, com a preocupação do fortalecimento da cultura nasce a Escola Indígena de
Educação Básica Cacique Vanhkre, que é concebida e planejada como reflexo das aspirações
particulares do povo indígena kaingang e com autonomia em relação a determinados aspectos
que regem o funcionamento e orientação da escola nãoindígena.
Temos calendário diferenciado, escolha de professores, direção e funcionários
escolhidos pela comunidade escolar. Sendo avaliados durante a realização de todo o trabalho,
em cada ano letivo.
A E.I.E.B. Cacique Vanhkre fundamentase na Proposta Curricular e nos Rcneis
Indígenas, bem como o reconhecimento da pluralidade e diversidade cultural, educação e
conhecimentos indígenas, e conhecimento universal.
Os valores e procedimentos próprios das sociedades originalmente orais, culturalmente
formadas, onde crianças, jovens e adultos estão num processo integrado, apesar de suas
inúmeras particularidades.
Uma das características mais comuns da escola é que cada experiência cognitiva
carrega múltiplos significados, que os identificam como comunidade kaingang.
A escola oferece uma educação bilíngüe, intercultural, diferenciada, comunitária e
especifica.
Trabalhamos com Educação Bilíngüe, com objetivo principal de priorizar o
ensino/aprendizagem da língua Kaingang, visando revitalizar, preservar e valorizar a
identidade cultural, social e étnica do povo Kaingang, por meio da oralidade, da escrita e de
outros projetos culturais;
Nossa Escola é Intercultural e Diferenciada, quando o ensino é diferenciado, alem
de revitalizar a cultura indígena de cada povo, precisa interagir com outras culturas para um
melhor desempenho educacional. Sendo que é necessário relacionar o conhecimento cultural
com o conhecimento universal.
É também Comunitária e Especifica, pois atende os anseios da comunidade indígena,
valorizando a participação da mesma nas atividades escolares, envolvendo pais, alunos e
7
“... Queremos uma escola que proporcione prazer, à vontade de estar todos os dias
nela. Não queremos que nossos alunos ao chegar nela sintam vontade de voltar. Queremos a
cada dia estar proporcionando aos nossos alunos um conhecimento que realmente esteja de
acordo com suas necessidades”. (RCNEI, MEC).
Para tornar possível à realização desse trabalho nos baseamos na Legislação vigente
tais como: Constituição Federal / 88 e Estadual / 89, LDB nº 9394/96, SEE/ SC, resolução
23/00 e proposta curricular de SC, Diretrizes Administrativas e Pedagógicas da SED com
princípios de autonomia e gestão democrática num processo dinâmico e permanente. Ainda
observamos o decreto nº 3429 / 98 / SC e portaria 08/99/SED/S, Conselho Deliberativo
Escolar decreto nº 31/13/86, APP e Lei 7398/85 e Grêmio Estudantil, Parecer nº 279, Portaria
nº 20/2010 e Resolução nº 158.
2. HISTÓRICO DA TERRA INDÍGENA XAPECÓ
Em 1848, com a abertura deste novo caminho para o sul do Brasil, as regiões dos rios
Chapecó e Chapecozinho onde está atualmente situada a Terra Indígena Xapecó entraram
no cenário da colonização branca.
Em 1859 (Decreto 2.502 de 16/11/1859) foi criada a Colônia Militar de Chapecó,
localizada no território do atual município de Xanxerê. Sua implantação ocorreu apenas em
1882. Seus objetivos, entretanto, já haviam sido definidos em seu decreto de fundação: a)
defender as fronteiras; b) proteger os habitantes dos Campos de Palmas contra a incursão dos
índios arredios; c) implementar a catequese e a civilização dos indígenas que ali viviam.
Com a implantação da Colônia Militar de Chapecó houve o inicio sistemático da
colonização branca na região. Entre os anos de 1882 e 1910, houve a distribuição de “255
títulos de propriedade a agricultores, na periferia da atual cidade de Xanxerê, local onde se
sediava a Colônia. Mas os agricultores beneficiados eram, na maioria, nordestinos, ex
integrantes das forças militares sediadas na Colônia." (Santos 1969:2728).
Com o aumento da população branca e do interesse na fertilidade dos campos e matas
da região, o governo do Estado do Paraná em 1902, (até 1916 esta região pertenceu ao estado
do Paraná), reservou um território para os nativos habitantes do Toldo das Formigas.
Confinando os índios a um território limitado, o governo liberava terras 'etnicamente limpas'
para destinar à colonização por colonos imigrantes, ao mesmo tempo em que “pagava” aos
índios pelos serviços prestados na abertura da estrada que ligava os Campos de Palmas ao Rio
Grande do Sul.
Segundo o decreto número 7, de 18 de junho de 1902, a terra reservada aos índios
tinha aproximadamente 76.623 hectares, sendo seu limite Norte definido pelo rio Chapecó, o
Sul pelo rio Chapecozinho e o Oeste pela linha telegráfica que ligava a cidade de Xanxerê à
cidade de Palmas (o traçado desta linha telegráfica corresponde ao traçado da atual estrada
que liga estes municípios). Conforme o texto do próprio decreto:
[...] fica reservado para o estabelecimento da tribo de indígenas coroados ao mando
do cacique Vaicrê, salvo direito de terceiros, uma área de terras compreendidas nos limites
seguintes:
A partir do rio Chapecó, pela estrada que segue para o sul até o passo do rio
Chapecozinho, e por estes dois rios até onde eles fazem barra”. (Decreto n.7 de 18/06/1902)
No interior desta terra reservada aos Kaingang havia diversos acampamentos, os quais
eram genericamente chamados de Toldos. Não há registros sobre quantos e quais eram os
toldos existentes nesta terra reservada. Sabemos, entretanto, que além do Toldo das Formigas,
havia o Toldo Jacutinga (onde atualmente está localizada a Aldeia Sede, principal
10
concentração de indígenas na Terra Indígena. Xapecó) que contava com aproximadamente
200 indivíduos à época, e o Toldo lmbú (na ocasião conhecido como Palmas do Sul) onde
viviam 369 indivíduos (segundo o primeiro Recenseamento Geral do Brasil, realizado em
1890).
O “direito de terceiros", ressalvado no referido Decreto, visava a respeitar as titulações
que obedeciam as regras impostas pela Lei de Terras de 1850. Sendo assim, as Fazendas 'do
Marco', 'Alegre do Marco', 'Santa Luzia' 'São Pedro' e 'São Francisco', foram reconhecidas,
apenas na década de 1950, como as únicas propriedades que deveriam ser respeitadas por
obedecer às regras de titulação da Lei de Terras.
É importante registrar que o texto do Decreto número 7, reserva terras para o
estabelecimento de índios ao mando do cacique Vanhkre, o que demonstra que o poder das
Lideranças kaingang era reconhecido pelas próprias autoridades provinciais. Entretanto, no
inicio do século XX as Lideranças kaingang já não eram mais utilizadas pelos governos
provinciais para garantir a segurança dos colonos e conquistadores brancos da região.
Neste período os índios colaboradores não mais recebiam os títulos militares, as armas
e os pagamentos, como acontecera na segunda metade do século XIX. A autoridade dos
líderes Kaingang passou, a partir de então, a ser restrita ao interior de suas próprias
comunidades. Mesmo este tipo de autoridade foi reduzida em muitos casos. Entre os kaingang
de Palmas, por exemplo, a presença do Diretor de Índios, a partir de 1881, substituiu muitas
funções anteriormente atribuídas aos líderes nativos.
Na Terra Indígena Xapecó não havia um Diretor de Índios, mas um 'encarregado'
subordinado ao Diretor de Palmas.
Destituídos das atribuições de mediadores da política externa junto às autoridades dos
brancos, os líderes Kaingang não conseguiram defender suas terras dos processos de invasão
que se intensificaram, especialmente, a partir da década de 1920.
Em 1934, devido a uma pressão realizada por madeireiros de Passo Fundo, uma nova
medição suprimiu parte das terras conhecidas como 'Canhadão' e 'Pinhalzinho' (hoje em dia os
Kaingang pretendem recuperar esta terra, porém, devido à complexidade burocrática que
envolve estas questões esta reivindicação esbarra na esfera judicial onde dificilmente será
resolvida).
Em 1941, o Serviço de Proteção ao Índio criou o Posto Indígena Xapecó. Com a
presença de autoridade institucional no interior da Terra Indígena houve profundas mudanças,
tanto na organização social deste grupo, quanto na sua inserção no contexto regional, bem
como nas características de seu habitat.
11
Silvio Coelho dos Santos assim descreve o período que se seguiu à instalação do Posto
Indígena:
[...] alguns anos depois da instalação o Posto Indígena já caminhava para
uma organização de empresa, explorando os ervais da reserva e realizando
anualmente uma roca. [...] O posto estava engajado numa economia de
mercado, especialmente o cultivo de trigo e de milho [...] O beneficio que os
índios recebiam, entretanto, era mínimo e na maioria das ocasiões não era
por eles solicitado ou aproveitado, pois eles praticavam uma escassa
atividade agrícola própria [...] Desde 1948 começaram a se localizar na
reserva vários colonos, especialmente italianos [...] Os indígenas cediam aos
colonos locais às terras que tradicionalmente ocupavam [...] A presença dos
colonos arrendatários na área criou novas oportunidades de aproveitamento
da mãodeobra indígena [...] Ainda na sua 'situação de empresa', o Posto
Indígena dedicouse à exploração dos recursos florestais da área indígena,
particularmente os pinheiros. O Posto chegou a instalar uma serrana própria
[...] A devastação que ocorreu nas reservas florestais da área indígena foi
praticamente total. As empresas madeireiras da região, que há muito vinham
se ressentindo do escassamento da matériaprima, passaram há trabalhar 24
horas por dia. Sessenta mil pinheiros, aproximadamente, foram derrubados
na reserva indígena. (Santos, 1969:6366)
Estas transformações estão ainda presentes na memória dos mais velhos moradores da
Terra Indígena Xapecó. Os relatos sobre o tempo dos antigos (neste caso referindose,
aproximadamente, ao período entre 1915 e 1940) são férteis em descrições sobre a boa vida
que os índios levavam, conforme o relato abaixo:
Nós não sofria [...] Era tudo pínhalão [...] a gente colhia pinhão
e ervamate [...] Tinha muita caça grande:anta, capivara, porco
do mato, tigre, macaco, mico, bugio, passarinho, corvo, abelha
(todo o tipo de abelheiro) e muito peixe. De dia a gente pegava
caça grande. De noite pegava a pescar. Pegava peixe mais alto
que a pessoa [...] era tudo fechado de mato.
Além da caça, pesca e coleta, os antigos, dizem os mais velhos, faziam suas roças
(milho, feijão, aipim e abóbora) e às vezes trabalhavam para fora, colhendo ervamate.
O orgulho e a felicidade que envolve estas narrativas nostálgicas dá lugar a um tom de
tristeza e preocupação quando passam a falar dos processos de exploração de suas terras
vividos nos últimos cinqüenta anos.
Em 1948 os Kaingang que habitavam do Toldo lmbú, que fazia parte da terra
reservada no inicio do século, foram expulsos. Segundo relatos dos Kaingang que viveram
este episódio, a expulsão ocorreu com muita violência por parte dos 'encarregados' do Serviço
de Proteção do Índio (S.P.l.) Nas palavras de um velho kaingang octogenário:
Ai a custa de força [...] foram pegando e foram pinchando dento do caminhão,
amarrado com as mãos pra traz e os pé amarrado [...] Dai não deu mais pra voltar. Os outros
deixaram tudo que tinha: planta, cria de abelha, mato, monjolo; criação de animal, porco,
pato, caixa de abelha, roça, deixaram a roça sem colher feijão empaiolado, galinhada, tinha
tudo, tudo.
12
A expulsão dos Kaingang do Toldo lmbú foi estratégica para a liberação de terras para
a exploração madeireira e, posteriormente, agrícola. Sobre este território tradicional kaingang
está hoje localizado o núcleo urbano do município de Abelardo Luz.
Além das transformações em suas terras, da imposição de limites ao exercício de sua
autoridade política, da exploração de suas reservas florestais, os Kaingang foram impedidos,
em 1951, de realizar seu principal ritual: o ritual do Kiki.
Desde o final do século XIX o kiki tem sido caracterizado como o centro da vida
religiosa dos kaingang. Etnólogos renomados como Curt Nimuendajú (1913) e Herbert
Baldus (1937) descreveram em detalhe este ritual em diversas comunidades Kaingang.
A partir da década de 1940 o Kiki deixou de ser realizado em todas as Terras
kaingang. Em Palmas, por exemplo, percebese, através dos relatos dos mais velhos, que
houve uma gradual substituição do ritual do Kiki pela celebração do dia do índio (instituída
por decreto do presidente Getúlio Vargas em 1943).
No Posto Indígena Xapecó o Kiki deixou de ser realizado em 1951. Alguns afirmam
que as próprias autoridades do Posto Indígena proibiram a realização do ritual, pois, em sua
cerimônia de encerramento, há um consumo generalizado de bebidas alcoólicas.
Em 1965 os limites da Terra Indígena Xapecó foram demarcados pelo SPI. Através
desta demarcação a área total desta Terra lndígena ficou definida: 15.623,9681 hectares. A
opinião dos mais velhos sobre este processo de demarcação é clara: "Onde tinha pinhal eles
mandaram medir onde tinha madeira os madeireiros pegava, onde não tinha madeira ficava
pros índios".
Segundo os relatos dos índios que acompanharam as medições de sua terra, iniciada
em 1964, eles perceberam que a terra estava sendo reduzida, ao que reclamaram junto ao
então chefe do posto. “O chefe do posto disse que não queria saber sobre a medição”. Houve
um conflito entre o chefe do posto e os índios, que culminou com o afastamento deste chefe.
A demarcação das terras, no entanto, não respeitou os limites reconhecidos pela
comunidade. Ainda hoje os kaingang da Terra lndígena Xapecó estão pleiteando a
recuperação de uma porção de terra suprimida neste processo.
Em 1978 os kaingang da Terra lndígena Xapecó enfrentaram os colonos invasores de
suas terras e forçaram sua retirada. Neste processo índios vindos de outras terras indígenas
(especialmente Nonoai/Rio Grande do Sul e Mangueirinha/Paraná) auxiliaram nesta
verdadeira ação militar empreendida pelos Kaingang.
Segundo afirmam aqueles que participaram deste processo, havia 700 arrendatários na
Terra Indígena Xapecó, muitos destes eram efetivamente colonos invasores, ou melhor,
13
colonos com títulos de propriedade emitidos pelo Estado. (Situação semelhante foi enfrentada
em Nonoai e Mangueirinha. Em Nonoai foram 1400 colonos expulsos da Terra Indígena. Seus
títulos de propriedade haviam sido conferidos pelo governo daquele Estado em 1962).
Evidentemente, houve resistência por parte dos colonos na Terra lndígena Xapecó. O
conflito foi inevitável: "tiramos eles a faca. E pau e pau. Quatro índios ficaram feridos". Neste
processo de retomada de suas terras houve a participação da Funai, de autoridades estaduais
civis e religiosas.
Mesmo tendo sido este o processo étnicopolítico mais significativo na história recente
do Sul do Brasil, ainda não dispomos de um estudo sistemático, que integre suas diversas
versões. Não é uma simples coincidência que tal processo de retomada de terras tenha
ocorrido no mesmo contexto de retomada do principal ritual kaingang.
O ritual do kiki foi retomado pelos Kaingang da Terra lndígena Xapecó em 1976. A
retomada deste ritual está ligada ao reforço da identidade étnica deste grupo e à conseqüente
retomada de suas terras invadidas e espoliadas ao longo do século XX.
Esse ritual foi realizado nesta Terra lndígena, enquanto o último pajé Vicente
Fernandes ainda vivia, após seu falecimento o ritual deixou de ser praticado, devido a grande
influência do Cristianismo nessa Terra. Hoje é trabalhado nas escolas para o povo conheça a
religião e os rituais do povo Kaingang.
Segundo o excacique Nilson Belino, a última edição do Kiki datase de 1999, onde o
mesmo fez algumas doações de açúcar, cachaça, arroz aos organizadores.
Só no estado de Santa Catarina, além das terras recuperadas na Terra lndígena Xapecó,
quatro outras Terras Indígenas Kaingang foram recuperadas desde 1986 até os dias de hoje.
São estas: Toldo Chimbangue (município de Chapecó), Toldo Pinhal (município de Seara),
Toldo Imbu (município de Abelardo Luz) e a Aldeia Condá (município de Chapecó). Hoje em
dia está em curso um processo de legalização da expansão das terras Toldo Chimbangue.
Atualmente a Terra Indígena Xapecó possui uma área de 15.623 hectares com uma
população de aproximadamente 5.500 índios, sendo a maioria kaingang e um pequeno
número de índios Guarani. Estando divididos em 15 aldeias: Sede, Olaria, Pinheirinhos,
Pinhalzinho, Água Branca, Serrano, Baixo Samburá, Cerro Doce, Matão, Paiol de Barro,
Fazenda São José, Limeira, Barro Preto, João Veloso e Linha Guarani.
3. HISTÓRICO DA ESCOLA INDÍGENA CACIQUE VANHKRE
14
A Educação na Terra Indígena Xapecó passou por várias etapas, durante seu processo
histórico, procuramos fazer uma abordagem significativa de cada uma delas.
Antes de 1912, a educação era realizada de geração a geração:“... na idade de nove
anos, quando saía para caçar com meu pai, ele me ensinava que o canto dos passarinhos
avisava se o dia era propicio para caçar”. (Leaci Lopes, professor índio kaingang/2001).
A partir dessa época segundo um relato de Dona Emilia N. Pacifico Gabriel, existiu
um professor nãoíndio chamado de Samuel que ensinava nas casas.
Dados de 1947, nos relatos que os índios tiveram como professor Felicíssimo Belino,
pago pelo Sr. Selistre de Campos, Chefe do Posto na época, as aulas eram ministradas
embaixo das árvores.
Em meados de 1960, foi criada a primeira escola da aldeia chamada Escola Estadual
São Pedro, na aldeia Água Branca. Em 1975, foi transferida para a sede da Terra Indígena
Xapecó, onde passou a se chamar Escola Isolada Federal Posto Indígena Xapecó, por volta de
1984, à referida escola recebe a denominação de Escola Federal Vitorino Kondá.
Em 1988, pela portaria nº. 488/88 de 30/12/88, parecer nº. 609 passou a se chamar
Escola Isolada Federal Vitorino Kondá. No ano de 1998 pela portaria nº. 014/98 (27/01/98), a
Secretaria de Educação e Desporto, através do parecer nº. 352/97 do Conselho Estadual de
Educação aprovou o Ensino Médio nesta Unidade Escolar. Passando então a referida a se
chamar Colégio Estadual Vitorino Kondá.
Vale ressaltar que o Colégio Estadual Vitorino Kondá foi à primeira Escola
Indígena a ter Ensino Médio no Brasil.
Através de um aprofundado estudo e relatos, sobre a vida do Índio Vitorino Kondá,
descobriuse que era contratado por grandes fazendeiros para facilitar a entrada dos não
índios para ocuparem as terras indígenas. Expandindo assim as fazendas e diminuindo o
espaço ocupado pelos índios. Surgindo então o nome da Liderança do cacique Vanhkre que
foi o primeiro responsável pela demarcação desta terra.
Isso ocorreu no ano de 1999, onde a partir dessa realidade decidiuse mudar o nome da
escola. No ano de 2000, através da portaria E/040/SED de 07/06/2000, passou então a ser
chamada Escola Indígena de Educação Básica Cacique Vanhkre.
Em 2001, por solicitação da comunidade indígena e o grande número de crianças de 4
a 6 anos, por dispor de espaço físico teve início a educação infantil com Ensino Bilíngüe. A
contratação do professor ficou por responsabilidade da Prefeitura Municipal de Ipuaçú.
15
Desde 2004 a Educação Infantil não funciona mais no prédio da Escola, pois não
dispomos de espaço físico, sendo que cada ano funciona em lugares distintos, não tendo à
Prefeitura construído prédio específico para a Educação Infantil.
Há um bom tempo a Comunidade Kaingang vem solicitando junto a Secretaria
Estadual de Educação a transferência da educação infantil que atualmente está sob
responsabilidade da Prefeitura Municipal, para o atendimento desta demanda na esfera
estadual.
A E.I.E.B. Cacique Vanhkre oferece as seguintes modalidades de ensino:
Ensino Fundamental
Educação Especial: Turma de SAEDE
Ensino Médio
Ensino Superior – Licenciatura para Professores Indígenas Kaingang (Cede
espaço para a UNOCHAPECÓ – desde 2009.)
Ensino Superior – Licenciatura em Pedagogia (cede espaço para aos
professores Indígenas para fazerem seus estudos à distância)
Nesse ano de 2010 contamos com um total de 42 turmas com 956 (Novecentos e
cinqüenta e seis alunos) alunos distribuídos na seguinte forma:
Ensino Fundamental – 30 turmas, com 746 alunos.
Turma Especial de Surdos – 1 turma, com 4 alunos.
Ensino Médio – 6 turmas, com 130 alunos.
Atividades Curriculares Complementares – 4 turmas, com 76 alunos.
A Escola trabalha também com projetos especiais para revitalizar a cultura Kaingang,
tanto na cultura material (artesanato, instrumentos musicais e afins) como na cultura não
material (musicas, danças, língua Kaingang). Atendendo semanalmente em torno de 40 a 50
alunos intercalados durante a semana, atende também professores e pessoas da comunidade
que desejam aprender a Língua Kaingang.
Para um ambiente agradável e limpo contamos com seis serventes contratadas pela
APP, e remuneradas pelo Estado.
O quadro docente é composto por 41 professores, sendo que 02 não são índios
kaingang, porém são casados com índios e residem nessa Terra Indígena Xapeco. Todos os
professores estão compromissados na luta pelo fortalecimento da cultura do povo kaingang.
Para isto estão buscando formação especifica, bem como capacitação continuada.
16
Nosso quadro docente é composto por uma professora com Ensino Médio, três
professores habilitados com Magistério Bilíngüe (sendo que 1 deles já concluiu Pedagogia,
outro História e o 3º está cursando graduação); 11 professores já estão habilitados na
disciplina que lecionam, sendo que 2 deles já possuem especialização; e o restante estão
cursando Ensino Superior Licenciatura nas diversas áreas do conhecimento.
4. CARACTERÍSTICAS DA ESCOLA
Pensando em uma educação diferenciada, a comunidade sentiu a necessidade de uma
estrutura também diferenciada, bem como um calendário escolar de acordo com a realidade
do povo indígena kaingang e as necessidades da comunidade.
O calendário escolar é planejado de forma diferenciada em relação às demais escolas.
Devido a grande evasão escolar em épocas de frio e chuva, devido ao fato do transporte
escolar ser impossibilitado pela precariedade das estradas, fazse um calendário que esteja
voltado às necessidades dos educandos, iniciando as aulas semanas antes para um maior
recesso escolar de julho.
Também no calendário escolar se encontram datas comemorativas celebradas pela
comunidade, como as datas de aniversários de morte de líderes, festas realizadas pela
comunidade, e algumas datas de comemoração de povos nãoíndios. Temos ainda em dias
específicos trabalhos coletivos nas lavouras familiares e escolares.
O prédio onde funciona a escola possui forma arredondada com quatorze salas,
caracterizando uma “oca”, demonstrando como era organizada a comunidade no passado na
distribuição das casas.
A sala de informática foi equipada com 15 (quinze) computadores novos e uma
impressora onde os professores poderão desenvolver seus trabalhos de pesquisa na internet,
digitações e outros.
Dispomos de uma sala de professores, onde os mesmos preparam suas aulas em horas
atividades, preparam e aplicam reforço para seus alunos, guardam seus materiais e os livros
didáticos.
O pequeno acervo bibliográfico, devido à falta de salas de aula, foi colocado na sala
destinada aos alunos surdos, onde ficou uma minibiblioteca. Com relação aos livros, devido à
falta de uma pessoa específica para trabalhar na biblioteca, controlar as entradas e saídas, e
devido também as constantes mudanças que tivemos que realizar, já que o problema do
17
espaço físico começou em 2006, está deficitário, temos livros relacionados à cultura kaingang,
literatura infanto juvenil, literatura infantil, e livros técnicos.
Temos ainda uma secretaria, uma sala da direção, e uma sala de apoio pedagógico,
porém esse espaço também é muito pequeno para um atendimento apropriado.
A escola disponibiliza também de dois bebedouros, uma pia com nove torneiras, onde
funciona a escovação dentaria dos alunos, estão disponíveis 3 banheiros com dezoito vasos
sanitários.
A merenda distribuída aos alunos é preparada na própria escola, por uma servente e
uma auxiliar. O cardápio é bastante variado, sendo três vezes por semana comida de panela
com salada, uma vez por semana frutas, e uma vez por semana biscoito com chocolate, ou
sanduíche e algumas vezes cachorro quente.
A merenda é oferecida em convênio com União e Estado. A Secretaria Regional faz a
licitação do itens e a merenda é entregue semanalmente em nossa escola. A cozinha está
sempre bem higienizada, bem como a escola como um todo.
O ginásio de esportes possui a forma de tatu, devido ao fato de este animal ter sido à
base da alimentação kaingang, em um período que havia muita araucária na região, sua
pintura representa as cores da natureza, sendo a mesma importantíssima para os índios
antigamente.
No ginásio de esportes os alunos fazem educação física, também são realizados
eventos como formaturas, bailes, enfim as comemorações e festividades da comunidade em
geral.
Em formato de uma tartaruga, funciona o Centro Cultural, onde são realizadas as
apresentações artísticas, reuniões da comunidade, recebemos os visitantes, tendo a tartaruga
um grande significado cultural e religioso, também já foi muito utilizada na alimentação
indígena. Este local foi construído para integração da comunidade/escola, e acima de tudo
preservar os costumes e a cultura kaingang.
A comunidade interage constantemente no processo educativo escolar, que além de
alguns projetos específicos desenvolve os temas transversais, principalmente as Drogas, DST,
Ética e Cidadania, Meio Ambiente, Artesanato, Ervas Medicinais Kaingang, Comida Típicas
Kaingang , as danças, o teatro e outros.
Em parceria com o Projeto Rondon é realizado o projeto de prevenção da cárie
dentaria com aplicação de flúor e escovação mensal.
A comunidade é carente e a maioria vive da agricultura de subsistência, da fabricação
do artesanato que é vendido nas cidades próximas. Outras famílias dependem da ajuda
18
sociedade não indígena. Os métodos usados na avaliação dos alunos na escola são
satisfatórios na visão da comunidade, aonde até hoje vem dando resultado. Vemos
que a agricultura é uma das fontes de renda de várias famílias, mas também
devemos ressaltar que vários indígenas trabalham nas empresas da região ( SEARA
e Diplomata).
Em nossa comunidade vemos que a grande maioria se beneficia do auxilio
Bolsa Família. Para a melhoria da comunidade com a escola estes temas citados
aqui, que são: diálogo, respeito, atividades culturais, mais diversão, união,
compreensão e palestras aos pais que dariam muito em bom desenvolvimento de
ambas as partes.
Marcelo Narciso, Daiane R. Lemos, Cristiane Belino, Eloir Gonsalves, Valdir
Belino, Ruth B. de Paula.
Grupo de Professores: Ana Paula Narcizo, Andréia Bazzi, Ari neves, Edimara
Alves, Jaison Ferreira e Jonatas de Oliveira.
Em uma pesquisa feita na E.I.E.B Cacique Vãnkre, pela equipe do
Observatório da Educação Escolar Indígena aos alunos de2 a, 3a, 5a, 7a e 8a séries,
dando ênfase no PPP da escola.
Quando perguntado aos alunos como é sua escola tivemos 14 alunos que
responderam que a escola é ótima para eles estudarem, 12 responderam que a
escola é boa, 3 responderam que a escoa é regular e apenas 1 aluno respondeu
que a escola é ruim.
Sobre as respostas dos alunos percebemos que os mesmos percebem que a
escola é um ambiente agradável.
Com relação da importância da escola na vida dos alunos, 26 responderam
que a escola é muito importante para sua vida, 5 opinaram que a escola é
importante. Sendo assim percebese que para esses alunos a escola tem papel
fundamental para os mesmos.
Ao questionar os alunos referente ao que eles aprendem na escola entre os
30 que foram aplicados os questionários, responderam que eles aprendem muitas
coisas, entre elas: contas matemáticas, fazer provas, língua e história do povo
Kaingáng, escrever e ler, respeitar os colegas e os mais velhos, a pensar no futuro,
biologia, educação e outras matérias. Assim percebese que levaram em
consideração o seu cotidiano que estão inseridos.
Em continuação das questões aplicadas foi questionado aos alunos o que
gostariam de aprender na escola? Onde que muitas coisas que os mesmo
responderam que gostariam então que tivessem mais aulas de Língua Kaingáng,
matemática, português e ciências, aulas de dança, teatro, violão, artesanato,
informática, esporte e experiência com animais e também preparação para o Enem e
o vestibular. Em virtude destas respostas nós enquanto educadores, percebemos
que muitas dessas atividades já estão sendo desenvolvidas neste âmbito escolar
através de projetos, procurando desenvolver a interdisciplinaridade.
Ainda ao questionar os alunos se os mesmos utilizam o que aprendem na
escola em seu diaadia, todos responderam que utilizam, pois aplicam esses
conhecimentos através das brincadeiras até mesmo no trabalho e também na família
, quando entram em contato na hora de fazer compras, fazendo assim o repasse do
conhecimento adquirido.
21
Do alunos que foram entrevistados, sobre a questão, como você vem até a
escola, alguns responderam que vêm de transporte, outros vêm a pé, uns vêm de
carona com alguém da família, mas nenhum vem de bicicleta. Sobre a questão de se
conseguem ir até a escola todos os dias letivos, nem todos responderam igual, uns
disseram que sim, porque a preocupação com o futuro, desejo de formação, outros
disseram que não, e explicaram porque a dificuldades de acesso (estrada e
transporte).
Na opinião de 30 alunos entrevistados, sobre o que acharam da merenda da
sua escola, 13 alunos acharam boa, 8 disseram ótima, 7 regular, 1 disse ruim e um
disse insuficiente, estas foram a respostas obtidas.
Avaliando o quadro educacional e a estrutura escolar foi atribuído uma média:
Professores > 8.9
Direção> 8.2
Funcionários > 7.2
Lab. informática > 7.1
Biblioteca > 7.2
Pátio > 7.0
Quadra de esporte > 7.2
Sala de aula > 8.2
Banheiro > 6.0
Autores:
Cíntia Márcia Silva;
Charlene Lopes;
Elizandra Pedroso;
Fátima Belino;
João Maria Pinheiro;
Leci Pinheiro;
Moacir Francisco.
ESCOLA QUE TEMOS
A escola que temos hoje e uma escola que procura fazer um bom trabalho,
pois esta com a maior parte de professores indígenas atuando procurando sempre
dar o melhor de si mesmo, pois faz parte da nossa vida como profissional indígena.
Também possui uma administração que sempre procuram fazer o seu trabalho
melhor que podem, mas na questão da estrutura física que deixa a desejar, pois
possuímos muitos alunos para poucas salas de aula, e, com o crescente numero de
aluno a biblioteca virou sala de professor e a sala de professor virou uma mini
biblioteca e sala do SAED, onde também tínhamos uma sala de artes que era de
chão batido onde teve que ser feita de azulejo para também ficar funcionando como
sala de aula normal. Tínhamos também uma sala de vídeo que também hoje e sala
de aula, e a nossa sala de computação com poucos computadores que nossos
alunos usam cada dois um micro somente, e também funciona como sala de vídeo.
A escola também procura sempre fazer a interdisciplinaridade, projetos
voltados para a realidade da comunidade indígena e cultura, mas também utilizando
o livro didático como as demais escolas não indígenas, pois ainda não possuímos
materiais específicos da cultura e os que possuímos são poucos, e muitas das vezes
as questões indígenas tratadas no livro didático falam somente dos indígenas do
norte e bem fora de nossa realidade e ritmo de vida.
23
5. CONCEPÇÃO FILOSÓFICA – PEDAGÓGICA
A E.I.E.B. Cacique Vanhkre objetiva formar jovens que saibam decifrar os variados
signos lingüísticos da comunicação das sociedades dos índios e não índios, sendo que possam
defender sua cultura e ter conhecimento cientifico, para debater igualmente com qualquer
pessoa de qualquer etnia e sociedade.
Na construção da cidadania, a escola orientase da formação dos educandos, pessoas
que sejam portadores de vez e voz dentro e fora da comunidade, e estando fora de sua
sociedade possa falar em pé de igualdade com os nãoíndios.
Temos que ter presente que a escola indígena deve ter como meta principal, formar
cidadãos índios capazes de atuar com competência e dignidade, sendo agentes
transformadores da realidade.
Para tanto, temos como aliados o pensamento, proposta de alguns educadores, os quais
deverão nortear a nossa prática pedagógica:
24
Segundo Paulo Freire: “A educação deve ser coletiva, um ato de amor, uma
tarefa de troca entre pessoas, onde o aluno e o professor aprendem juntos. Ensinar exige
comprometimento, criatividade, estética, ética, pesquisa, liberdade, autoridade, humildade,
tolerância, diálogo, convicção de mudança, querer bem aos educadores, apreensão da
realidade”.
Vitor da Fonseca defende a idéia do Aprender a Aprender, pois em plena era da
informação e emergência das novas tecnologias é necessário entendermos o processo de
aprendizagem como algo mais complexo, face a urgente necessidade de “aprender a
aprender”, esta é uma nova forma de pensar em educação, em formação e em qualificação de
recursos humanos.
Neste mundo conturbado e cheio de conflitos se quisermos desenvolver valores
em nossos alunos é imprescindível o Trabalho com o Lado Emocional do Indivíduo. Segundo
Howard Gardner em suas explicações sobre Inteligência Emocional, o aluno é um todo e é
impossível separar seu lado intelectual do lado afetivo e emocional.
Para Gardner, além das inteligências Lógico – Dedutiva, Lingüística e Espacial, tem o
ser humano a capacidade de desenvolver a inteligência musical (teatro e poesia); Inteligência
Sinestésica (corpo, movimento); Interpessoal (emoções e sentimentos); Intrapessoal (eu e os
outros); Transcendente (o religioso, o que não posso tocar); Política (entender os papéis
sociais, direitos e deveres).
Portanto, as maneiras de trabalhar precisam ser tão múltiplas quanto às inteligências.
Para Gardner o emocional e o intelectual devem caminhar junto em nossas escolas.
Moacir Gadotti nos coloca: “que o conhecimento é duradouro e a informação é
efêmera. Só aprendemos quando aquilo que buscamos é significativo para nós. Devemos nos
preparar, equipar nosso aluno para a sociedade do conhecimento, conhecer o que está no
planeta. As escolas que ficarem lecionando no sistema tradicional, como diz o Hitel serão
futuros cemitérios, não terão nenhum espaço nesse momento do futuro”.
Para Vygotsky, os fenômenos devem ser estudados em movimento e
compreendidos como em permanente transformação. Considera que as mudanças que
ocorrem em cada um de nós têm sua raiz na sociedade e na cultura.
Para ele a aprendizagem sempre inclui relações entre as pessoas e não há como
apreender o mundo se não tiver outro.
A aprendizagem da criança se inicia muito antes de sua entrada na escola, pois desde
seu primeiro dia de vida ela já está exposta aos elementos da cultura e a presença do outro. A
25
escola será então um lugar privilegiado para desenvolver habilidades e capacidades superiores
de uma maneira sistemática, intencional e planejada.
A aprendizagem é, portanto, um processo essencialmente social, que ocorre na
interação com os adultos e os colegas.
Sendo uma escola indígena com características particulares abre espaço à comunidade
para que a mesma possa se identificar e se espelhar nas experiências escolares, voltadas para a
realidade da vida e da situação dessa comunidade como se sabe, a escola se constrói através
de valores e deverá atuar junto à comunidade e lideranças na defesa da prevenção da cultura,
fortalecendo as artes, por ser uma das formas do povo indígena kaingang.
Esta escola integra em seus planejamentos:
Preocupação com a saúde dos alunos índios promovendo pesquisas em prol da
medicina indígena, e o incentivo à cura medicinal adotando assim parcerias com a saúde
Fototerápica na escola.
Os temas transversais definidos no RCNEI e na Proposta Curricular que são
recursos de trabalho que garantem o desenvolvimento de um currículo mais significativo e
flexível.
O fazer pedagógico objetiva formar crianças numa concepção critica e que ela
saiba entender e compreender o seu mundo, sua função e posição diante do seu papel na
sociedade, e o mundo do branco sem esquecer de sua identidade enquanto indígena.
A educação nas séries iniciais tem uma concepção diferenciada dentro da
comunidade, pois segundo a visão comunitária a criança adquire conhecimentos para a vida
na comunidade, chegando à escola com uma bagagem grande o bastante para que o educador
se sinta na obrigação de pesquisar e buscar dentro da própria comunidade o desenvolvimento
do aluno, oferecer possibilidades para a aquisição de novos conhecimentos.
No ensino fundamental e médio a escola pretende formar sujeitos capazes de
transformar a realidade com suas produções e argumentações.
A gestão escolar é concebida num dialogo aberto onde todos possam opinar e
chegar a conclusões em conjunto.
Na compreensão do currículo trabalhase o diferenciado partindo do
conhecimento cultural trazido das famílias ao ensino universal, onde se abre à janela numa
visão critica do mundo de fora da escola indígena, fazendo do aluno um pesquisador de sua
própria cultura.
Avaliando nossos educandos, buscamos sempre valorizar de uma forma contínua,
paralela, diagnóstica, produtiva e participativa por parte do corpo discente e docente dessa
26
unidade escolar. Por ser a avaliação muito complexa, consideramos os itens já citados como
fundamentais para a elaboração de conceitos se o aluno é capaz ou não de produzir em seus
estudos de acordo com sua idade ou série.
O processo de planejamento é realizado de forma diferenciada, onde atende os anseios
dos alunos e da comunidade valorizando e fortalecendo sua cultura seus saberes, seus
interesses e acima de tudo defender suas características indígenas.
A E.I.E.B. Cacique Vanhkre mantém uma relação aberta e comunicativa, participativa,
em prol da comunidade kaingang, abrindo espaço aos anseios da comunidade.
Fazem parte da unidade escolar, profissionais que tem consciência da importância de,
através da pesquisa, registrar todos os acontecimentos que possam trazer benefícios e
fortalecimento aos valores culturais e históricos, que são de suma importância para a vivência
em um grupo etnicamente formado e identificado enquanto cultura indígena kaingang.
Portanto nossa escola vem trabalhando constantemente de uma forma diferenciada,
aberta a comunidade, pesquisadora, democrática onde todos que tem relação com ela têm vez
e voz. È uma escola específica e diferenciada, bilíngüe, formadora de sujeitos capazes de
defenderem seus direitos com voz e pé de igualdade com os não índios defendendo assim sua
cultura e seu povo.
Partindo do pressuposto de que a escola indígena possui uma proposta intercultural,
bilíngüe, especifica, diferenciada e comunitária a escola trabalha o diferenciado tendo o seu
calendário escolar diferente de outras escolas adequando de acordo com a realidade da
comunidade indígena kaingang sendo respeitado os feriados dentro da cultura, com inicio,
recesso e fim definidos pela comunidade escolar indígena respeitando os duzentos dias letivos
previstos pela LDB.
È também uma escola diferenciada por estar localizada em terras indígenas
diferenciando na estrutura de acordo com critérios da comunidade e a valorização da cultura.
O tempo que o aluno permanece na escola varia de acordo com as atividades que estão sendo
desenvolvidos no momento.
Por exemplo, nos projetos do Centro Cultural e Projeto de Atividades Complementares
o aluno freqüenta suas aulas regulares em período matutino e vespertino participa de oficinas
de dança, teatros e aulas de praticas de artesanato kaingang, atividades de educação física etc.,
permanecendo em tempo integral na escola enquanto esse tempo se tenha o acompanhamento
dos professores onde serão realizadas escalas do Ensino Fundamental e Médio.
27
Aquisição de material (através de solicitação a parceria Rondon Brasil) esportivo tais
como: bola, rede, raquete e bolinha, corda, etc.;
Aquisição de material didático, tais como: caderno, lápis, lápis de cor, caderno de
desenho, borracha, régua, mapas, folhas, papel crepom, papel laminado, papel camurça,
duplex, papel cartão, EVA, cartolina, tinta, pincel atômico, pincel, giz, matrizes, lâminas, tinta
e afins;
Compra de cortinas para todas as salas de aula;
Comprar cafeteira, sofá para sala dos professores, microfone sem fio e outros;
Projetos de valorização da cultura indígena, tais como: artesanato, dança teatro,
cantos, pesquisas, palestras, seminários;
Aquisição de materiais para a produção de artesanato;
Através de pesquisa com pessoas idosas, revitalizar a originalidade da cultura
Kaingang e Guarani;
Promover Feiras Interdisciplinares Relacionadas com a cultura Kaingang e outros
assuntos de interesse da Comunidade;
Manter Projetos de Erradicação da Evasão Escolar, Reprovação Escolar e Baixo
Rendimento em parcerias com Lideranças Indígenas e Conselho Tutelar;
Desfiles de Jovens indígenas (meninas e meninos) nas datas comemorativas dos Povos
Indígenas com trajes e adornos típicos;
Desenvolver projetos com o seguinte objetivo: Aprender (todos) a língua Kaingang e a
Língua de Sinais (Libras);
Construção de auditório para realização de eventos;
Construção do prédio para o Préescolar indígena;
Construção de quadra de esportes coberta, campo de areia e campo de futebol suíço;
Criação do museu cultural kaingang Cacique Vanhkre através de parceria com
universidades utilizando um espaço específico do Centro Cultural para desenvolver suas
atividades;
Ampliação da sala de informática;
Aquisição de sinal de internet de alta velocidade;
Sala específica para a pratica do artesanato indígena
Solicitação de linha telefônica fixa para a Escola;
Conserto das telas ou construção de muros no pátio escolar;
Trocar os portões;
Construção de rampas para acesso a portadores de deficiência física cadeirantes.
29
7. ORGANIZAÇÃO ESCOLAR
7.1. PLANO DE TRABALHO DA DIRETORA
Convocar os professores para iniciar as atividades na escola;
Planejar com os professores a dinâmica de acompanhamento e controle da avaliação
de Ensino Fundamental e Médio;
Dirigir o estabelecimento escolar para atingir o objetivo da escola;
Interpretar e colocar em execução as leis e regulamentos oficiais;
Representar o estabelecimento de ensino perante autoridades Federais, Estaduais e
Municipais;
Presidir o funcionamento de todos os serviços administrativos burocráticos da escola,
inclusive a orientação e funcionamento;
Elaborar com o corpo docente e os órgãos de decisão, o planejamento Geral da escola;
Orientar os professores na utilização de novos materiais, métodos e técnicas a serem
usadas na Unidade Escolar;
Envolver todos os professores da Unidade Escolar no processo Ensino –
Aprendizagem;
Orientar os professores no aproveitamento de recursos físicos materiais e humanos da
comunidade e região;
Orientar e acompanhar os professores nos trabalhos com resultados dos conselhos de
classe, recuperação e avaliação dos alunos;
Convocar reuniões do corpo docente e presidilas;
Receber, informar e despachar petições e papéis, encaminhandoos às autoridades de
Ensino, GEREI, Secretaria de Estado, NEI e Departamento de Educação da FUNAI;
Supervisionar, assinar e rubricar todos os documentos pertinentes à escola;
Assinar todos os documentos oficiais expedidos;
Promover as comemorações cívicas e cumprimento dos deveres sociais da escola;
Orientar sobre a elaboração dos planos diários;
Convocar reuniões, quando necessário, com professores, APP, pais e lideranças da
comunidade;
Acompanhar e promover a integração Escola X Comunidade;
Presidir as atividades, encontros de estudos e nos trabalhos dos professores;
30
Presidir as atividades do corpo docente e discente dentro do estabelecimento, encontro
de estudos, às relações com a vida exterior e ao intercâmbio entre si e aos pais da
comunidade;
Advertir verbalmente os profissionais da escola sejam professores, auxiliares ou
serventes; Caso volte a acontecer à falta registra no livro de ocorrências para posteriores
providências;
Acompanhar o Plano de aplicação financeira e a respectiva prestação de contas;
Comunicar as Lideranças Indígenas e Conselho Tutelar os casos de maus tratos,
reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar dos alunos.
Exercer as demais funções decorrentes de seu cargo, obedecendo às disposições legais
e normais de ensino, atribuídas pelos estatutos da entidade mantenedora;
7.2. PLANO DE TRABALHO DAS ASSESSORAS DE DIREÇÃO
Assessorar a Diretora em todas as atividades a ela destinadas, nas quais for solicitado
pela mesma;
Assessorar o Planejamento com os professores a dinâmica de acompanhamento e
controle da avaliação de Ensino Fundamental e Médio;
Organizar Dinâmicas de Grupo;
Elaborar correspondências oficiais;
Dar assessoramento pedagógico a professores e alunos;
Zelar pelos bens da escola;
Representar a Diretora do estabelecimento de ensino perante autoridades Federais,
Estaduais e Municipais;
Auxiliar na elaboração do planejamento Geral da escola;
Orientar os professores na utilização de novos materiais, métodos e técnicas a serem
usadas na Unidade Escolar;
Orientar e acompanhar os professores no que tange ao setor pedagógico, priorizando
sempre a aprendizagem do aluno;
Elaborar em conjunto com a diretora pauta dos dias de estudos, bem como
organização;
Assinar, na ausência da diretora, documentos oficiais;
Acompanhar e promover a integração Escola X Comunidade;
Conferir pagamentos dos funcionários, bem como faltas, contratações e afins;
Exercer as demais funções decorrentes de seu cargo, obedecendo às disposições legais
e normais de ensino, atribuídas pelos estatutos da entidade mantenedora;
31
7.3. PLANO DE TRABALHO DO ASSISTENTE TÉCNICO PEDAGÓGICO
Participar na elaboração, execução e avaliação do Projeto Político Pedagógico da
Unidade Escolar;
Subsidiar a Direção na definição do Calendário Escolar, organização das classes, do
horário semanal e distribuição das aulas;
Supervisionar o cumprimento do Calendário Escolar e das aulas ministradas previstas
no horário semanal;
Verificar e auxiliar o corpo docente para que a escola cumpra sua função de
socialização e construção do conhecimento;
Acompanhar o processo ensino/aprendizagem, intervindo sempre que necessário,
atuando junto aos professores, alunos e pais, no sentido de propiciar aos alunos a aquisição do
conhecimento científico, erudito e universal para que os mesmos reelaborem novos
conhecimentos a partir dos que já adquiridos, objetivando fortalecer a cultura Kaingang;
Conhecer a realidade dos educandos, bem como conversar com os mesmos,
procurando solução para os problemas emocionais ou de aprendizagem;
Estar sempre atualizado, fazendo leituras, acompanhando a evolução da educação, e
permitindo que a escola também evolua;
Ter um bom relacionamento com professores e alunos, para que os mesmos sintam
confiança em solicitar auxilio, e serem ajudados;
Promover e coordenar capacitação constante para todo corpo docente da escola,
através de dias de estudo e/ou reuniões pedagógicas;
Coordenar o processo de análise e seleção dos livros didáticos obedecendo às
diretrizes e os critérios estabelecidos pela Secretaria de Educação do Estado de Santa
Catarina;
Promover ações que objetivem a diminuição dos índices de repetência e evasão
escolar, tais como:
Visitas nas famílias, conscientizando da importância da criança estar na
escola, e explicitar o que diz a lei sobre esse fim;
Capacitação constante para os professores;
Visitas constantes nas salas de aula, observando como as aulas são
ministradas, dando sugestões sempre que forem necessárias;
Acompanhar a elaboração das aulas, observando o caderno de planejamento, e
verificando se as aulas estão em acordo com o sóciointeracionismo; se estão interessantes; se
32
são dinâmicas e criativas, de forma a incentivar os alunos para aprendizagem do conteúdo
trabalhado;
Passar para a direção sempre que algum professor não estiver cumprindo seu papel de
educador, para que possam ser tomadas as devidas providências;
7.4. PLANO DE TRABALHO DO ASSISTENTE DE EDUCAÇÃO
Assinar com a direção, atestados, certificados e demais documentos referentes à vida
escolar do aluno;
Assessorar a direção no cumprimento dos compromissos assumidos, nas
comunicações de decisões, na execução de reuniões, na preparação dos despachos de
expedientes;
Coletar e fornecer dados estatísticos sobre a matrícula e resultados parciais ou globais
do processo de ensino;
Cumprir e fazer cumprir os despachos e determinações da direção;
Implementar e Alimentar o Projeto Série Escola; Série DH; Série Calendário, enfim
todo o projeto Série;
Encaminhar os documentos solicitados pela Gerei, dentro do prazo préestabelecido;
Lavrar e subscrever atas, termos referentes aos resultados de trabalhos escolares que se
fazem necessários;
Orientar os pais e alunos, bem como receber documentos e executar matrícula dos
alunos;
Orientar a elaboração do movimento mensal da Unidade Escolar de editais, avisos
relativos às atividades discentes;
Organizar o serviço da secretaria de modo a concentrar nela toda a escrituração;
Organizar os arquivos de modo a assegurar a preservação dos documentos escolares e
poder atender as exigências a quaisquer pedidos de informações ou esclarecimentos de
interessados;
Organizar e manter organizadas coleções, de leis, regulamentos, instruções, circulares,
despachos que interessam ao estabelecimento;
Participar do plano geral da escola;
Prestar informações em processos com os funcionários da escola, e a vida escolar do
aluno;
Receber, registrar, encaminhar, redigir e preparar correspondências oficiais do
estabelecimento submetendoa assinatura da direção;
33
Comunicar, em tempo hábil, aos professores e aos alunos qualquer modificação que
venha a sofrer o horário escolar;
Auxiliar na coordenação geral da Escola bem como na disciplina de professores e
alunos.
7.5. PLANO DE TRABALHO DO CORPO DOCENTE
Trabalhar suas aulas de forma dinâmica e criativa, de forma a incentivar os alunos
para a aquisição e construção dos conhecimentos;
Participar de elaboração, execução e avaliação do Projeto Político Pedagógico da
Unidade Escolar;
Participar do processo de análise e seleção dos livros e materiais didáticos;
Elaborar o planejamento anual de sua disciplina, ou série em que trabalha, em acordo
com o PPP da Escola, em consonância com o Sóciointeracionismo e com a legislação
vigente;
Proporcionar a aquisição do conhecimento científico, erudito e universal para que os
alunos reelaborem os conhecimentos adquiridos e elaborem novos conhecimentos a partir de
sua cultura, seus valores culturais artísticos e históricos próprios do contexto social do
educando, garantindolhe a liberdade de criação e o acesso às fontes de cultura;
Promover avaliação do aluno de forma continua e enriquecedora, proporcionando a
avaliação de seu trabalho, replanejando sempre que necessário;
Participar ativamente do Conselho de Classe;
Participar de reuniões de estudos, encontros, cursos, seminários, atividades cívicas,
culturais, recreativas e outros eventos, tendo em vista o seu constante aperfeiçoamento e
conseqüentemente melhorar sua prática pedagógica;
Promover trabalhos de pesquisa de campo, com intuito de conhecer mais sobre a
cultura do índio Kaingang, valorizando o passado e construindo o futuro;
Dedicarse integralmente a sua profissão, buscando sempre novas formas de ensinar,
procurando abranger a todos os alunos, conhecendo suas especificidades e trabalhar sobre
elas;
Objetivar o tempo todo à aprendizagem e o crescimento dos alunos;
Desenvolver projetos interdisciplinares, ou não, propiciando a criticidade e
criatividade dos alunos;
Trabalhar de forma a valorizar a cultura e os conhecimentos que os alunosindíos têm,
para a partir desses conhecimentos desenvolver outros e ter acesso ao conhecimento
científico;
34
Monitorar os intervalos, conforme escala fixada no mural da sala dos professores;
Trabalhar sempre que convocado, em qualquer evento que a Escola promova,
independendo do dia e horário;
Manter um bom relacionamento professor x aluno, para que ambos sintam liberdade
de expor suas necessidades e aspirações.
7.6. PLANO DE TRABALHO DA APP E CONSELHO DELIBERATIVO
Limpar o pátio da escola;
Arar o solo para plantio da horta escolar;
Realizar reparos que surgirem na escola;
Plantio de árvores no pátio da escola e acesso, principalmente árvores nativas;
Jardinagem na escola e canteiros de acesso;
Através da realização de promoções (bailes, festas...) arrecadar fundos para compra de
materiais de consumo para secretaria, alunos, bem como material de limpeza;
Solicitar recursos para excursão dos alunos em outras reservas indígenas, e cidades
turísticas no final do ano;
Pagamento do contador da APP.
MEMBROS DA APP
PRESIDENTE: ATAÍDE LUCAS
1º TESOUREIRO: LIBRANTINA BELINO XETÁ
2º TESOUREIRO: JAISON FERREIRA
1º SECRETARIO: LÍRIO COSTA DOS SANTOS
2º SECRETARIO: JONATAS DE OLIVEIRA
CONSELHO FISCAL: ADAIR PALIANO, ALBÉRICO PALIANO
SUPLENTES: LUCIANO FERNANDES, DORVINA FERNANDES
7.7. PLANO DE TRABALHO DAS SERVENTES E DO SERVENTE
Verificar a ordem e a limpeza em todas as dependências da escola, carteiras, quadro e
sobre armários.
Caso algum material foi deixado pelos alunos recolher e deixar na secretaria.
Observar sempre a limpeza dos banheiros e repor papel higiênico.
Caso haja qualquer irregularidade informar imediatamente a direção.
Abrir as salas antes de bater o sinal de entrada.
Recolher copos, pratos e talheres que por ventura não forem devolvidos na cozinha;
Cuidar da limpeza interna e externa;
Conferir se não tem torneiras abertas, principalmente após o recreio e final das aulas;
35
Entregar material para empréstimo, após a liberação da direção;
Varrer as dependências da escola, passar pano, lavar, lustrar, passar cera, sempre que
for necessário;
Limpar carteiras, armários, recolher e queimar o lixo quando for necessário e juntar o
que estiver espalhado;
Cuidar dos canteiros de flores e samambaias e demais flores da escola;
Informar e solicitar na secretaria sempre que faltar material de limpeza;
Comparecer sempre que for convidada, mesmo que seja fora do seu horário de
trabalho;
Trabalhar nas festas e promoções da escola;
Zelar por todo o patrimônio da escola;
Manter bom relacionamento com professores, direção e alunos;
Colaborar na disciplina dos alunos;
Auxiliar a merendeira sempre que for solicitada pela direção.
7.8. PLANO DE TRABALHO DA MERENDEIRA
Preparar a merenda dentro dos padrões de higiene e das técnicas próprias da culinária
que cada tipo de merenda exige;
Manter a cozinha e dispensa, sempre limpa e organizada;
Zelar por tudo que estiver na cozinha;
Organizar o estoque de merenda, de forma a manter os alimentos sempre frescos e
com higiene;
Usar toca, avental, tênis ou sapato, para evitar acidentes da cozinha;
Servir aos alunos sempre com educação, amor e respeito;
Não permitir que outras pessoas permaneçam na cozinha, a não ser uma auxiliar;
Informar e solicitar na secretaria sempre que houver falta de algum ingrediente para a
merenda;
Comparecer sempre que for convidada, mesmo que seja fora do seu horário de
trabalho;
Trabalhar nas festas e promoções da escola;
Manter bom relacionamento com professores, direção e alunos;
8. CORPO DISCENTE
8.1. DIREITOS DOS ALUNOS:
Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
36
Aquisição do conhecimento científico;
Estar informado e participar de todos os serviços oferecidos pela Unidade
Escolar;
Fazer uso dos serviços e dependências escolares de acordo com as normas
previstas neste PPP;
Tomar conhecimento de seu rendimento escolar e de sua freqüência, através do
boletim escolar;
Contestar critérios avaliativos podendo recorrer à direção da escola, quando
julgar necessário;
Solicitar revisão de provas, num prazo de 5 (cinco) dias a contar da divulgação
da nota;
Requerer transferência ou cancelamento de matrícula por si, quando maior de
idade, ou através dos pais ou responsáveis, quando menor;
Apresentar sugestões relativas a conteúdos programáticos, atividades e
administrativos, desde que tenham um bom suporte de considerações, objetivando melhorar o
processo ensino/aprendizagem;
Reivindicar o cumprimento da carga horária prevista em lei;
Participar de todas as aulas, como sujeito do processo ensino/aprendizagem;
Levar até a direção os problemas que vierem a ocorrer, seja com colegas,
professores ou demais profissionais da escola, para que juntos possam encontrar soluções para
os mesmos;
Participar dos Conselhos de Classe, podendo expressarse sempre que encontrar
necessidade;
Cumprir e fazer cumprir as normativas do Estatuto da Criança e do Adolescente.
8.2. DEVERES DOS ALUNOS:
Cumprir as disposições deste Projeto Político Pedagógico;
Atender as determinações dos diversos setores da Unidade Escolar;
Comparecer pontualmente as aulas e demais atividades escolares;
Cooperar na manutenção da higiene e na conservação das instalações escolares;
Promover e manter um bom relacionamento com colegas, professores, direção e
funcionários da escola;
Indenizar o prejuízo, quando produzir dano material a Unidade Escolar e a
objetos de propriedade de colegas e funcionários;
37
Justificar a Direção e professores, mediante atestado médico ou declaração dos
pais ou responsáveis, a ausência a provas e entrega de trabalhos na data prevista;
Dedicarse exclusivamente aos estudos, realizando tarefas extra classe, tais
como pesquisas, leituras e revisão do conteúdo visto em aula;
Comprometerse com a sua aprendizagem, tendo consciência que é sujeito de
seu processo ensino/aprendizagem;
Cobrar dos professores aulas dinâmicas, interessantes e bem planejadas.
38
9. CALENDÁRIO ESCOLAR – 2010
MÊS DL DTEE ATIVIDADES ESCOLARES FERIADOS
FEV 13 08 08 – Inicio com professor
08 a 12 – Planejamentos e Reuniões
Pedagógicas
16 – Carnaval
17 – Inicio das aulas
26 – Assembléia Geral com pais, alunos,
professores, Direção, Lideranças, APP e
Conselho Deliberativo. (PERÍODO
NOTURNO DAS 17:00 AS 19:00)
MAR. 22 22 18 – Vitória de Mberoré 23– Morte de Líder
31 Dia do Município Indígena (Joares
Narciso)
ABR. 21 21 01– Abolição da escravatura dos índios 2 – 6ª Feira da
18– Dia do livro Paixão
14 a 19 Semana dos Povos Indígenas 4 Páscoa
17 – Noite Cultural
17 de 1974 Assembléia dos Povos Indígenas
em Diamantina (MT)
19– Dia do Índio com homenagem de alunos
e festividades.
21– Dia de Tiradentes
22 a 25 – Semana da Educação
28 – Entrega do PPP
30 – Conselho de Classe
MAIO 21 20 01 Dia do Trabalho 06 Morte do
05 Dia nacional da comunicação Cacique Orides
08 Homenagem as Mães
12 Dia da Enfermeira
13 Dia da Padroeira do Município
13 Abolição da Escravatura
18/1978 Morte de Tupac Amaru
20 Morte de Xicão Xucuru, dia do divino
22 – Reunião Pedagógica
30 Dia do Diretor
JUN. 22 21 02 a 06 Semana do Meio Ambiente 03 – Corpus
05 – Reunião Pedagógica Christi
05 Dia Mundial do Meio Ambiente
18 – Assinatura do Decreto de compra da T.I.
Xapeco
26 Festa Junina
23 a 27 Semana do Combate as Drogas
JUL. 22 12 02 Dia do Bombeiro 17/07 a 31/07 –
01 a 04 Semana da Prevenção contra Incêndio Recesso Escolar
21 Conselho de Classe
17/07 a 31/07 – Recesso Escolar
Reunião
Pedagógica/Capacitação
39
121 104
AGOS. 23 22 02 – Inicio do 2° semestre
05 Dia Nacional da Saúde
14 – Homenagem aos Pais e
Estudantes
11 Dia do Estudante
12 Dia Nacional de Artes
16 a 20 Semana do Folclore
SET. 22 21 01 a 07 Semana da Pátria 07 – Dia da
05 Dia da Juventude Pátria
07 – Reunião Pedagógica
17 a 21 Semana do Transito
20 – Revolução Farroupilha
21 Dia da Árvore
22 Inicio da Primavera
27 Dia do Idoso
30 – Conselho de Classe
30 Dia da Bíblia
30 Dia da Secretária
OUT. 20 19 06 a 10 Semana das Ciências e 12 – Dia de
Tecnologias Nossa Senhora
12 Dia da Criança Aparecida
12Dia da Nossa Senhora 15 – Dia do
Aparecida Professor
15 Dia do Professor –
Homenagem aos professores
20 a 24 Campanha contra o uso
do álcool
23 Dia do Aviador – Santos
Dumont
NOV. 21 21 01 Dia de todos os Santos 02 Finados
02 Dia de Finados
04 Dia da Cultura
15 Proclamação da República
19 Dia da Bandeira
24 Dia Nacional de Ação de
Graças
25 Dia de Santa Catarina
29 – Feira Interdisciplinar
DEZ 13 13 10 – Resultado para exame 25 – Natal
15 a 17 Exames
17 – Encerramento do Ano
Letivo
99 96 TOTAL DTEE: 200
TOTAL 220 200
40
10. HORÁRIO ESCOLAR
HORÁRIO DAS AULAS
MANHÃ TARDE
Entrada 7:45 h Entrada 13:00 h (1:00h)
1ª Aula – 7:45 h 1ª Aula – 13:00 h (1:00h)
2ª Aula – 8:30 h 2ª Aula – 13:45 h (1:45 h)
3ª Aula – 9: 15 h 3ª Aula – 14:30 h (2:30 h)
Intervalo – 10:00 h Intervalo – 15:15 h (3:15 h)
4ª Aula – 10: 15 h 4ª Aula – 15:30 h (3:30 h)
5ª Aula – 11:00 h 5ª Aula – 16:15 h (4:15 h)
Saída – 11:45 h Saída – 17:00 h (5:00 h)
TERÇA – FEIRA
MATUTINO VESPERTINO
7:45 1:00
8:22 1:37
8:58 2:15
9:37 2:52,30
Intervalo – 10:11 3:30 – INTERVALO
10:26 3:45
11:02 4:22,30
11:45 5:00
NOITE
Entrada 18:00 h (6:00)
1ª Aula – 18:00 h (6:00)
2ª Aula – 18:40 h (6:40)
3ª Aula – 19:20 h (7:20)
Intervalo – 20:00 h (8:00)
4ª Aula – 20:10 h (8:10)
5ª Aula – 20:50 h (8:50)
Saída – 21:30 h (9:30)
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11. ESTRUTURA CURRICULAR
11.1. Organização das turmas
O currículo escolar não é um instrumento neutro nem pode ser separado do
determinado. É constituído em processo dinâmico a partir da realidade do aluno, das diretrizes
curriculares nacionais, na Proposta Curricular de Santa Catarina, referenciais locais
produzidas no âmbito do P.P.P elaborado pela unidade escolar. Sendo as crianças organizadas
em turmas de acordo com as séries, tendo funcionamento no horário das 7:45 às 21:30 h.
As turmas são desdobradas sempre que estiverem com 28 alunos +1 no Ensino
Fundamental e 30 +1 no Ensino Médio.
O Ensino Fundamental está dividido em:
3 turmas de 1ª série
3 turmas de 2ª série
3 turmas de 3ª série
4 turmas de 4ª série
1 Sala de Recursos/DA, SAEDE
4 turmas de 5 ª série
5 turmas de 6ª série
4 turmas de 7ª série
4 turma de 8ª série
O Ensino Médio está dividido em:
3 turmas de 1ª série;
2 turmas de 2ª série;
1 turma de 3ª série.
Em parceria com a UNIASSELVI, cursa em nossas dependências uma turma de
Pedagogia, na modalidade à distância, e em parceria com a UNOCHAPECÓ cursa em nossas
dependências também o Curso de Licenciatura para Professores Kaingang, sendo que para
ambas a Escola empresta a sala de aula, 1 vez por semana, sem detrimento dos alunos da rede
estadual.
11.2. No Ensino Fundamental e no Ensino Médio. Procurase trabalhar de forma
interdisciplinar, através de projetos, priorizando os conceitos essenciais de cada disciplina,
sempre objetivando a aprendizagem dos educandos.
Além disso, na estrutura curricular de todos os níveis é trabalhado o ensino
diferenciado juntamente com os conhecimentos científicos universais, temos os temas
transversais e multidisciplinares.
O calendário é formado conforme a necessidade da comunidade e da unidade escolar
com as paradas pedagógicas conforme as necessidades que encontramos, é uma escola
dinâmica e aberta para a participação de pais da comunidade em geral.
42
As crianças se apropriam do conhecimento através da interação e socialização dos
trabalhos que vem sendo desenvolvidos com os professores, comunidades e Unidade escolar,
os conteúdos são organizados a partir da realidade e do meio familiar do aluno.
A metodologia utilizada é de uma linguagem que possui entendimento por todos.
As práticas teóricas e metodológicas possuem compreensão do todo, em uma visão
geral de conhecimento, abrindo espaços para que todos possam contar e expressar suas
experiências e produções. Dessa forma o aluno poderá avançar seus estudos conforme seu
nível e idade a qualquer momento que percebemos a sua capacidade de acompanhar a série
seguinte.
11.3 Grade Curricular
Artes
A compreensão do significado de toda manifestação cultural da comunidade deve ser
ilustrada aos educandos como aquilo que chamamos de Arte. A história que também introduz
os grupos ao conhecimento sobre os povos, permitirá perceber a forma pela qual
manifestações culturais são valorizadas pela sociedade envolvente enquanto linguagem
artística. A arte está ligada à vida de todos os povos, especialmente a vida dos povos
indígenas, entre os quais as imagens, a música ou a dança constituem, em inúmeros casos, os
principais meios de expressão e comunicação de idéias e conhecimentos. Assim como a (s)
língua (s), os conhecimentos matemáticos, a história, a geografia ou as ciências integram as
áreas do currículo escolar, também a arte pode constituirse como tal e ser trabalhada por
meio dos conteúdos que lhe são próprios. Cada modalidade artística tem suas particularidades:
nas artes visuais (desenho, pintura, escultura, gravura etc.) estudamse as técnicas, o preparo
das tintas, trabalhamse as linhas, as formas, as cores; no teatro, os personagens, o texto, o
cenário; na música, há os ritmos, a altura dos sons, o timbre da voz etc.
Além desses, outros aspectos estão relacionados com as produções artísticas, como a
percepção, a criação, a fantasia, a imaginação, a reflexão, a emoção, o sentimento. Tais
aspectos, tratados adequadamente, propiciam o desenvolvimento de potencialidades
individuais que também são fundamentais à construção de outros conhecimentos.
A partir destes conceitos os conteúdos didáticos organizamse em três temas:
Arte, expressão e conhecimento;
* Produção artística/cultural da comunidade;
* As técnicas de confecção dos objetos;
* Importância da música e da dança;
* As pinturas e a decoração dos objetos;
43
* Habitações de um povo;
* Conhecimento da natureza;
* As matériasprimas e sua obtenção na natureza;
* Exploração das linguagens da Arte (Plástica, música, dança e teatro)
Arte e pluralidade cultural;
* Estudo da multiplicidade das manifestações artísticas/culturais que existem no
mundo;
* Estudo da História das Artes;
Arte, patrimônio e identidade.
Biologia
Por que estudar Biologia na Escola Indígena? Talvez o motivo mais importante seja
aumentar nossa capacidade de entender e de participar do que se passa em nosso diaadia na
aldeia. Grande parte do noticiário atual se relaciona a temas biológicos. Quando os indígenas
ouvem falar em clones, em alimentos transgênicos, em testes de DNA, ou nos projetos
Genoma Humanos, é de Biologia que se trata. Quando se descobrem novos tratamentos para
as doenças e se vislumbra a cura para o câncer, quando se fala na possibilidade de “reviver”
os dinossauros, é também de Biologia que se trata. Num outro nível, discutir a proteção à
camada de ozônio, o efeito estufa, a poluição crescente da água e do ar, a extinção de várias
espécies de animais e de vegetais de nossas aldeias, é também falar de temas relacionados à
Biologia.
Principais temas de estudo no Ensino Médio:
As características da vida;
A química da célula;
A vida no nível da célula;
O metabolismo celular;
44
Vírus: entre moléculas e células;
A origem da vida;
Histologia animal;
Biodiversidade e classificação;
Os Reinos mais simples;
O Reino Animalia;
Fisiologia Humana;
Reino Plantae;
Genética;
Evolução;
Ecologia.
Ciências
A abordagem das ciências deverá voltarse para a compreensão das relações dos seres
entre si e com o meio. O ensino de ciências deve levar a compreensão da interrelação entre o
homem, a natureza e a cultura. Deve leválo a construir os conceitos científicos
interrelacionando para que possa tomar decisões e interferir na realidade que o cerca. O
ensino de ciências deve contribuir para a compreensão através da pesquisa e valorização dos
sistemas de conhecimentos indígena relativos ao meio ambiente, como classificação e
manuseio de espécies vegetais, de recursos naturais, teorias, astronomia e cosmologia;
explicações do dinamismo das transformações da matéria e da energia, com o objetivo de
demonstrar as possibilidades de domínio do homem sobre as transformações e da ação
transformadora do homem sobre a natureza; explicações das teorias nãoindígenas sobre as
transformações dos fenômenos da natureza enquanto redigidas por leis naturais e universais,
que ocorre no tempo e no espaço; explicações de como as transformações dirigidas pelo
homem ocorrem em contextos históricos que determinam efeitos na saúde, na economia etc.:
necessidade de se possibilitar ao aluno uma leitura e compreensão da totalidade, isto é, um
trabalho de apreensão do conteúdo mais amplo na sociedade, a fim de que este possa levantar
45
questionamentos e discussões sobre a prática social mais ampla.São temas de estudo nesta
disciplina:
Os seres humanos e o meio ambiente
Relações com a natureza;
Uso e conservação;
Animais;
Extinção das espécies;
Ambientes e suas transformações;
Lixo;
Água;
Clima, temperatura e calor;
Ar;
Minerais;
Solos;
Energia.
O corpo humano e a saúde
Cuidados corporais: decoração pessoal;
O corpo humano e a alimentação;
Saúde e doença;
Sentidos ( Luz e som, visão e audição);
Doenças sexualmente transmissíveis (DST).
Atividades produtivas e relações sociais
Economia;
Produção e mercado;
Calendário ecológicoeconômico;
Ferramentas, máquinas e construções;
Eletricidade e magnetismo;
Construções e utensílios;
Relações econômicas e ecológicas.
A terra no espaço.
Cultura Indígena
Cada povo, ou grupo étnico, construiu sua vida específica através da humanidade
política da língua da economia, da religião e das formas de sociabilidade que elegeu, mas não
é só isso, os indígenas são uma parte do povo brasileiro. Uma parte que é composta de
diferenças. Onde esta é a causa da dificuldade em aceitalos como uma parcela do Brasil. É
um povo com histórias marcadas por transformações, pelo contato e dificuldades no confronto
com outros povos. Uma História marcada pelos territórios que percorreram, que conquistaram
e que perderam, nas guerras, pelo comércio, pelas migrações. A disciplina Cultura Indígena
cabe o papel de favorecer a compreensão que os índios só não viveram no Brasil Colônia o
que é repassado através de algumas literaturas, mas que estão aqui e agora com direitos
garantidos pela Constituição. Seus problemas são os mesmos de muitos brasileiros de agora:
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ameaças as suas terras, à sua sobrevivência, à sua liberdade, e o direito de ter sua própria vida,
de decidir sobre seu destino e de participar nas decisões que os afetam.
Educação Física
Todos os índios, em geral mostram grande interesse em conhecer as regras e técnicas
das diferentes modalidades esportivas existentes na sociedade nãoíndia, possibilitando a
prática e o conhecimento das regras do jogo e esporte mais valorizado e requisitado pela
comunidade indígena bem como diversas brincadeiras serão incluídas nas aulas de Educação
Física.
O currículo de Educação Física em escolas indígenas abrange três grandes temas de
estudo:
a cultura corporal de movimento de outros povos indígenas;
Tratase do levantamento das práticas corporais tradicionais: jogos, danças, lutas,
brincadeiras, técnicas de confecção de utensílios, técnicas de caça, pesca, plantio etc;
Histórias e significados dessas diferentes práticas;
Práticas corporais infantis e adultas;
Atividades físicas femininas e masculinas.
a cultura corporal de movimento de outros povos indígenas;
Práticas corporais de diferentes povos indígenas: seus significados históricos e
culturais; sua comparação com práticas da própria comunidade.
Atividades com jogos selecionados de outros povos.
a cultura corporal de movimento da sociedade envolvente (brasileira e
internacional).
Voleibol – Handebol – Futsal – Futebol – Basquete.
Ginásticas e habilidades
* formação do movimento, coordenação dinâmica geral, equilíbrio e agilidade,
esquema corporal frente e trás, direita e esquerda;
* Tempo e espaço
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Atletismo
* corrida
* velocidade e resistência
* salto em distância
* salto em altura
* habilidades no manejo da bola
Recreação
* brincadeira de rodas e cantadas
* brincadeiras de leva e trás
* jogos educativos
Atividades complementares
* Noções de higiene e postura
*Noções de ordem e disciplina
A disciplina de Educação Física inclui em seu currículo:
As modalidades esportivas mais praticadas no Brasil e no mundo: seus aspectos
culturais, sociais, econômicos, históricos e políticos; e suas regras de funcionamento, técnicas
e táticas de jogo, bem como noções de arbitragem.
Novas atividades físicas ( outros jogos, esportes, danças, lutas, brincadeiras etc.),
sempre que a comunidade julgar conveniente.
A diversidade entre formas diferentes de atividades corporais nas culturas indígenas
e nãoindígenas.
Física
O mundo que a Física busca atingir é um mundo autônomo, indiferente a nossa
situação particular com nossa própria existência. A Física visa interferir, através de estruturas
lógicas formais nas relações, nos objetos e nos acontecimentos, tais como são na “realidade”
do mundo físico, que é objetivo somente compreendido mediante estas estruturas abstratas e
operações racionais que rompem com as construções mecanicistas e lineares da Física clássica
a atividade dos físicos deve produzir uma objetividade crescente, nas construções sobre o
mundo, uma vez que sua ação no mundo material está inserida num sistema de coordenação
de ações lógico matemático e operações abstratas mais avançadas que transformam os
elementos do mundo dado e os recombinam, recriando novos elementos, novos mundos.
Bases de trabalho: mecânica, Física térmica, óptica, eletromagnetismo,
microeletrônica e mecatrônica.
48
Geografia
Devemse integrar aos demais ramos do conhecimento na medida em que se preocupa
com localizações, estruturais, espaciais, ( localização dos espaços uns em relação aos outros)
e dos processos especiais. Tratase, portanto, da produção e da organização do espaço
geográfico, historicamente determinado a partir das relações sociais de produção. Deve ser
uma abordagem crítica, que desvele a realidade, uma geografia que conceba o espaço
geográfico como sendo um espaço social, produzido pela sociedade humana, com vistas à
nele se valorizar ou produzir.
Principais temas de estudos:
Os espaços geográficos da aldeia, do território, de outros territórios;
Componentes da natureza e modos de vida;
Identidade, território e relações sociais;
Usos dos recursos naturais;
Relação com os nãoíndios;
O espaço geográfico brasileiro
Cartografia;
As principais bacias hidrográficas do Brasil;
A ocupação histórica do espaço no Brasil pelos povos indígenas;
O território brasileiro ocupado pelos povos indígenas hoje;
A questão ambiental dentro dos territórios indígenas brasileiros;
Terras Indígenas brasileiras;
Apropriação e utilização do território brasileiro pelos nãoíndios;
Como é a economia brasileira hoje?
Quem é o brasileiro?
O Brasil no espaço internacional;
O espaço geográfico mundial – o local e o global
Apropriação, utilização e conservação do espaço geográfico mundial pelos diferentes
povos indígenas;
Apropriação, utilização e conservação do espaço geográfico mundial pelos outros
povos;
A ordenação do mundo: como a história, a economia e a política vão definindo as
regiões do mundo;
Quem são os outros? Os grupos étnicos do planeta.
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História
O ponto de partida para o ensino de história é a valorização do conhecimento histórico
tradicional de cada grupo indígena transmitido ao longo das gerações através da história oral.
Essa disciplina incluirá também a valorização das expressões artísticas e estéticas e cognitivas
(mitos, músicas, danças e pinturas...) que fazem parte do repertório cultural da população.
Bem como a história da humanidade.
O estudo de História no contexto indígena visa à valorização e a construção do
conhecimento histórico cultural de cada grupo transmitido ao longo do tempo através das
gerações, permitindo um diálogo com as diferentes realidades no tempo e no espaço.
A História procura formar educandos pensantes críticos, capazes de fazer leitura
análises a partir de sua visão, estabelecendo relação com diferentes realidades presentes em
toda a vida social e cultural do ser humano, buscando, investigar, interpretar as fontes
históricas possibilitando ao educando ser participativo conhecendo as questões locais e
regionais.
A disciplina de História tem por objetivo levar ao conhecimento do educando a
importância da História para os Povos Indígenas, pois a mesma está presente em toda a vida
social e cultural sendo uma dinâmica constante no processo de ensino aprendizagem,
valorizando e revitalizando a cultura Kaingang e o intercâmbio do conhecimento com outras
culturas.
TEMÁTICA INDÍGENA
História de nosso Povo
Primeiros contatos;
Divisão de tarefas;
De donos da terra a sem terra;
O jeito de contar História;
Outras formas de transmissão da História;
Divisão do tempo na cultura indígena;
O direito a terra e a cidadania
Identidade cultural;
Identidade étnica;
Direitos políticos;
Direitos territoriais;
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Lutas políticas;
Formas de Organização de Lideranças Indígenas
Organização Políticas;
Governo;
Organização social;
Religião X Religiosidade;
Elementos da natureza
Mitos e lendas indígenas;
Divisão do tempo;
Marcas tribais;
Rituais, dança e artes;
Usos e costumes.
Língua Portuguesa
A língua funciona como um elemento integrador ou uma mola geradora de
entendimento entre as diversas áreas do conhecimento.
Na aprendizagem do português, um dos objetivos deverá ser o de fornecer subsídios
para que o aluno chegue a dominar a variedade padrão da língua portuguesa nas modalidades
oral e escrita. A aprendizagem da escrita, deve estar fundamentada na leitura e produção de
textos relevantes para ele e para sua comunidade indígena.
Não deverão ser trabalhados textos que apenas juntem frases com o mero pretexto de
exercitar os códigos gráficos, mas sim que, tenham funções sociais e culturais específicas da
sua cultura.
Deverão ser trabalhados dentro da área de língua portuguesa textos descritivos e
narrativos, dissertações que englobem a história do povo kaingang a sua cultura, suas
tradições, enfim a história. Textos também serão trazidos para a sala de aula onde haverá uma
contextualização uma comparação de como era antes e como é hoje e partindo daí os alunos
farão os seus próprios textos.
Ficarão registrados os trabalhos dos alunos que falem da comunidade como forma de
conhecimento para os demais.
Além disso, serão trabalhados alguns tipos de textos que desenvolvam algumas
possibilidades de prática de leitura e escrita:
Contos, crônicas, histórias, relatos;
Receitas, bulas, rótulos, manuais de instrução, regulamentos e listas;
Bilhetes, cartas, radiogramas, atas e ofícios;
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Questionários, formulários e documentos pessoais;
Textos de jornais e revistas;
Textos de cartazes, folhetos publicitários e propagandas;
Textos científicos;
Projetos;
Textos legais;
Formulários e questionários;
Anúncios, folhetos e cartazes;
Poemas, contos, histórias em quadrinhos;
Dicionários, enciclopédias, antologias, materiais didáticos e paradidáticos
Língua Kaingang
O português não é a única língua falada em nosso país. No Brasil são faladas muitas
línguas diferentes porque aqui convivem muitos povos e culturas diferentes. São faladas no
Brasil hoje, 180 línguas indígenas, portanto, o Brasil é um país multilíngüe. Quando os
portugueses chegaram ao Brasil, havia de 6 a 10 milhões de índios e aproximadamente 1.300
línguas indígenas. Hoje, a população indígena não chega a 300.000.
Toda língua é complexa: toda língua tem um sistema que organiza seus sons, tem um
sistema que organiza a construção de palavras, tem regras e princípios que permitam construir
frases e discursos. Toda língua tem um vocabulário com milhares de palavras, e esse
vocabulário está sempre aumentando porque toda língua está sempre criando novas palavras.
Não existem, portanto, línguas mais pobres e línguas mais ricas, ou línguas com poucas
palavras e línguas com vocabulário extenso. Não existem línguas sem gramática – embora
existam línguas cujas gramáticas não estejam registradas em livros. Não existem livros com
gramática simples e línguas com gramática complexa, línguas com sons esquisitos e línguas
com sons normais. Não existe língua primitiva. Toda língua é completa, rica e serve
plenamente para todos os usos que dela se queira fazer. A inclusão da língua indígena
kaingang no currículo escolar tem a função de atribuirlhe status de língua plena e de colocá
la, pelo menos no cenário escolar, em pé de igualdade com a língua portuguesa, um direito
previsto pela Constituição Brasileira.
Principais conteúdos:
Oralidades;
Sons das palavras;
Linguagem oral;
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As vogais;
Frases;
Sílabas;
Singular e plural;
Construção de números;
Teatros;
Acentuação;
Cânticos diversos
Matemática
A idéia básica é a de a escola incorporar os modelos ligados à tradição do aluno e
reconhecer como válidos os sistemas de explicações, de conhecimentos, construídos pelos
povos. Através de situações mais variadas possíveis, que naturalmente toquem o emocional
do aluno, isto é, que lhe despertem o interesse, a curiosidade, que lhe sejam agradáveis, o
aluno se envolverá na busca de explicações, maneira de entender o que rodeia, e o professor
desenvolverá junto com eles meio de trabalhar com a realidade, um dos quais é a matemática.
Tem como pressuposto caráter social do conhecimento matemático, a relação entre o
conhecimento historicamente produzido e a lógica de sua elaboração, enquanto fatores
intimamente ligados. Aprender matemática deve ser interpretar, criar significados, construir
seus próprios instrumentos para resolver o raciocínio lógico, a capacidade de conhecer
projetar e transcender o imediatamente sensível.
Sociologia
A sociologia desenvolve o papel de favorecer a compreensão da função social que tem
a educação de repensála de modo que sejamos capazes de como membro da comunidade de
propor e até atuar de maneira mais integrante e ativa.
O professor ao ministrar suas aulas não será um expositor de conteúdos sem ligação
com o cotidiano. O cotidiano do aluno, na medida do possível será trabalhado em sala de aula,
de forma organizada, para que a partir dele, possa o aluno refletir sobre sua história.
Trabalharseá com textos objetivos, afim de que possam estimular o debate, provocar
dúvidas e levar ao aluno a buscar leituras mais aprofundadas.
Tema e texto em sala de aula serão trabalhados juntos facilitando a aprendizagem e o
interesse pelo aluno pela disciplina.
As relações sociais serão vivenciadas na escola através relação professoraluno,
relação alunoaluno, relação entre professorcomunidade. Estas relações além de oportunizar
53
o entrosamento, farão com que os elementos atuem e participem questionando e propondo
encaminhamentos.
PLANO DE AULA DO PROJETO DA ARAPUCA AO FUTEBOL
CIÊNCIAS E GEOGRAFIA
Professores: Andreia Bazzi, Ana Paula Narciso, Nilton Belino.
Conteúdo: Tipos de matérias –primas usadas para a confecção da arapuca.
Objetivo: Possibilitar ao educando a conhecer quais são as matériasprimas que
usasena confecção da rapuca e quais são os animais que são capturados pela
mesma, como essa atividade é vista pelos indivíduos que usam essa técnica.
LINGUA PORTUGUESA
Professores: Ari Neves, Cintia, Jusara, Daiane, Clarlene
Conteúdo:
MATEMÁTICA
Professores: Anisia F. M. Belino, Cristina F. da Silva, Jaison Ferreira, João M.
Pinheiro
Objetivo: demonstrar que a matemática sempre foi utilizada pelos povos indígenas
para suprir suas necessidades.
Objetivos Específicos: identificar as figuras geométricas, utilizar as unidades de
medidas para construir a arapuca, inserir os conceitos físicos, plano, alavanca e
equilíbrio.
Conteúdos: medidas, contagem, alavanca, figuras geométricas.
Conteúdos: Elaborados pelos professores da Escola na Oficina do
OEEI/LABHIN/UFSC maio de 2011.
MATEMÁTICA:
Professores: Anisia F. M. Belino, Librantina Belino Xetá, Márcio Pinheiro e Levi
Feliciano.
Conteúdos:
Ensinar números, medidas, álgebra e geometria, contagem e medidas, jogos,
brincadeiras, cantos. Operações básica através de questionamentos do dia a
dia. Pesquisas estatísticas.
CIÊNCIA NATURAIS E UNIVERSO
Professores: Andréia Mara Bazzi, Nilton Belino.
Conteúdos:
Água: Conhecer as nascente na comunidades; Preservação da água na
comunidade; Desperdício da água;
Solo: Causas que levou o solo a ter a utilização de produtos químicos
(adubos); Qual é o solo propício para a produção; Os tipos de solo existente
na comunidade;
Ar: Causas da poluição do ar para os indígenas; Doenças causadas pela
poluição do ar na comunidade;
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Seres Vivos: Relacionar quais eram as espécies do passado com as atuais;
Extinção de espécies na comunidade (vegetais e minerais); Problemas
causados para cadeia alimentar;
Saúde: Comidas típicas da cultura; Ervas medicinais existente na
comunidade; Higienização dos alimentos e doenças causadas pela má
alimentação; quais as ocorrências de DSTs ocorridas nas terras indígenas;
formas de prevenção indígena contra DST.
BIOLOGIA
Professores: Andréia Mara Bazzi, Nilton Belino.
Conteúdos:
Origem, evolução e Teoria Celular: Construção de árvore geológica (família);
Ocorrência da evolução indígena;
Biodiversidade: Diferença da mata nativa com a exótica; conhecer os
problemas da biodiversidade da terra indígena; a importância da
biodiversidade para a comunidade indígena; conhecer a biodiversidade de
espécies aquáticas; conhecer os fatores que levam a perda da biodiversidade;
Genética e Sexualidade: Casamento de índio com não indígena; Riscos em
relacionamentos de indígenas com grau de parentesco; tipos de genes que o
casal indígena transmite para os filhos;
SOCIOLOGIA
Professores: Ana Paula Narsizo, Jaison Ferreira.
Conteúdos:
Cultura Material e Cultura Imaterial; Sociedade Indígena e os meios de
comunicação; relações sociais: poderpolíticaeconomiasocial na aldeia.
FILOSOFIA
Professora: Rute B. de Paula
Conteúdos:
Mundo/Homem: Compreender o modo de viver do homem e do mundo
Conhecimento/Ética: Relações sociais, pensamento.
Ser/Estética: debates sobre estética, diferentes pensamentos.
ARTES:
Professores: Alair Guisso, Gracieli Belino, Jonatas de Oliveira.
Conteúdos:
Arapuca: Conhecer modelos dessas armadilhas; confecção dos modelos
estudados; entrevista com mais velhos; coleta de materiais; Técnicas para
uma arapuca.
REDAÇÃO (não identificaram a disciplina, imagino que seja redação)
Professores: Cíntia Márcia da Silva, Lucinéia Melo, Ari Neves, Daiane Lemos, Aldeci
Alipio, Neiva de Lima, Elizandra Pedrozo, Jussara Lopes.
Conteúdos: leitura e interpretação de texto e produção. a história do povo
kaingáng.E acróstico e cruzadinha.
QUÍMICA (OBS: Como ele fez um plano de aula, digitamos tudo.)
Prof. Jaison Ferreira
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TEMA: Matéria Prima
OBJETIVOS: Conhecer e diferenciar os diferentes tipos de matéria prima utilizada no
ritual do Kiki.
METODOLOGIA:Será feito um resumo sobre o que é matéria prima , onde os
mesmos iriam destacar quais os tipos de matéria prima utilizados no ritual do Kiki e
são utilizados os mesmos. Será feita pesquisa.
AVALIAÇÂO: Será avaliado o desempenho de cada um dos educandos e a
dedicação dos mesmos onde também será avaliado a participação de cada um.
CRONOGRAMA: Será trabalhado em 4 aulas.
PUBLICO ALVO: 1ª série do Ensino Médio.
HISTÓRIA OBS: Como ele fez um plano de aula, digitamos tudo.)
Prof.: Alcione Belino, Aldacir V. Almeida, Leci Pinheiro, Moacir Francisco, Valdir
Belino, Rute Barbosa de Paula.
TEMA: Imaginário.
JUSTIFICATIVA: Justificase por este tema, a necessidade de conhecer e descobrir
se entre o povo Kaingáng a imaginação dos tradicionais ainda é preservado dentro
dos conhecimentos populares demonstrando quais as imaginações existentes, e que
podem ser considerados com a crença do povo.
OBJETIVO GERAL: Buscar a valorização dos conhecimentos tradicionais dos mais
variados saberes existentes, e que ainda se constitui como tradições culturais,
repassando para as novas gerações demonstrando dentro das mais variadas
crenças.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Buscar os conhecimentos das praticas populares;
Identificar os mais variados saberes ainda existentes;
Inserir na sociedade escolar tais conhecimentos, buscando atribuir valores
enquanto povo, respeitando seus limites;
Propor aos alunos todos esses conhecimentos que envolvem o imaginário
existente em um povo, não deixando de oportunizar aos alunos o resgate
histórico de uma memória do passado.
METODOLOGIA: Todo esse trabalho será desenvolvido através de pesquisas
diversas. Na oportunidade serão entrevistadas pessoas idosas na comunidade.
Na oportunidade serão utilizados os seguintes materiais: caderno, caneta,
lápis, borracha, folha A4, giz, quadro negro, gravador, máquina fotográfica, cartolina,
régua, pincel atômico.
CONTEÚDO:
Mitos;
Lendas;
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Crenças/Religiosidade;
Praticas populares.
AVALIAÇÂO: Será avaliado no quadro do aluno, o desenvolvimento, a produção,
criatividade, criticidade.
CRONOGRAMA: O tempo estimado para a realização destas atividades vai de 15
a 20 dias de aula.
PÚBLICO ALVO: 5ª E 6ª séries.
FONTES p/ PESQUISAS: Livro: Mitos e Lendas do povo Kaingáng; Comunidade
kaingáng.
GEOGRAFIA
Prof.: Ana Paula narsizo.
Conteúdo:
Sociedade: Que modificações podemos perceber na sociedade indígena com
relação à sociedade não indígena.
Espaço/tempo: Apresentar e representar através da linha do tempo as
transformações ocorridas na aldeia.
Território/região: Construir mapas e elencar os diferentes tipos de espaço que
encontramos na nossa aldeia e como esses espaços estão sendo utilizados.
Conhecer através das regiões quais são os territórios indígenas e como são vistos
pela lei hoje.
Lugar/paisagem/meioambiente: Perceber através de imagem e pesquisa de
campo como era o lugar, a paisagem e o meio ambiente antes do contato, e
como estão usufruindo do mesmo, na visão de ser índio e parte integrante do
processo.
EDUCAÇÃO FÍSICA
Professores: Eline Pedroso, Luiz Fernando de Lima, Marcelo Narciso
Conteúdo
Utilizar as aulas de Educação Física para através de jogos (prédesportivos e
desportivos) trabalhar conceitos presentes na vida em sociedade, assim como
aumentar o entendimento do aluno sobre seu corpo.
Trabalhar com danças, dando ênfase aquelas que são da sua cultura,
podendo adaptar essa prática as técnicas da dança de salão.
Todas as atividades podem ser trabalhadas dando sempre atenção a História,
para que se crie uma consciência do aluno quanto ao lugar daquele
determinado desporto em sua sociedade.
EDUCAÇÃO FÍSICA
Professores: Elinei Pedroso, Jairo Narciso, Marcelo Narciso, Sonia Borges.
Conteúdo:
TEMA: Arapuca
ATIVIDADE: Arapuca Humana
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OBJETIVO: Desenvolver nos participante espírito de coletividade, raciocínio e
atenção.
DESENVOLVIMENTO: dividese os alunos em 3 grupos, 1 grupo de 16
alunos que formarão a arapuca humana de mãos dadas em forma de um
círculo, serão 3 alunos dentro da arapuca e dois gaviões que tentarão
capturálos. Para conseguir capturar os pintinhos que estão dentro da
arapuca será feita uma pergunta para cada pintinho envolvendo
conhecimentos gerais, se os pintinhos responderem de forma incorreta serão
capturados, caso houver acerto o gavião ficará preso na arapuca e ai entra o
aluno com o mesmo objetivo.
ARTES, PRODUÇÃO ARTISTICA E CULTURAL
Professores: Cralene Lopes, Fátima Belino, Jonatas de Oliveira, Eloir Gonçalves
Conteúdo
Som: cantos, som dos instrumentos, som que os animais emitem, chocalho,
flauta, sopro, turu, som dos pássaros, trovão e chuva, instrumentos
industrializados.
Forma: dos artesanatos, instrumentos musicais, cestaria, armas, adornos,
elementos da natureza, peixes, aves e animais, matéria prima e bruta, matéria
prima trabalha e preparado, frutas, casas do passado e hoje, cerâmicas e
pilão, marcas tribais, alimentação e ervas medicinais.
Cor: Kamé e Kanhuru, tintas tiradas da natureza, plantas medicinais, animais,
peixes, aves (plumas), alimentação, frutas, cores primárias e secundária.
Gestos: nos rituais de danças, rezas, teatros, dos animais entre si, no
contanto do diadia, cânticos.
11.4. A AVALIAÇÃO
A avaliação é feita de forma diagnóstica, paralela, contínua, descritiva, onde são
realizados registros de notas por bimestre, sendo então quatro registros de notas por ano.
Também a comunidade avalia relacionando a comunidade e escola. A avaliação é feita num
todo, o aluno é avaliado desde a sua chegada na escola, na sala, no recreio, enfim em todo
tempo que estiver na escola.
Os professores são orientados a terem no mínimo três avaliações por disciplina para
fechar a média bimestral, ainda orientamos que os instrumentos de avaliação devem ser
diversificados pois, sendo assim propicia aos alunos novas chances e oportunidades de
alcançar a média desejada.
58
A avaliação do rendimento do aluno deverá ser registrada no diário de classe do
professor ou documentos equivalentes, incluídos os procedimentos avaliativos de recuperação
de estudos.
A partir do ano de 2009 novas mudanças nortearam avaliação do processo ensino
aprendizagem de acordo com o disposto Resolução No. 158/2008/ Conselho Estadual de
Educação, e formalizadas na Portaria nº 20 de 24/05/2010, que dispõe sobre:
Nas cinco séries dos anos iniciais do ensino fundamental, o registro da avaliação será
descritivo, no decorrer do ano letivo, e transformado em valores numéricos quando o aluno se
transferir.
Nas primeiras, segundas e quartas series dos anos iniciais do Ensino Fundamental será
registrada apenas a freqüência anual e, se o aluno atingir o estabelecido em Lei,
automaticamente o Série registrará AP (aprovado), não haverá retenção de alunos nessas
séries, sendo automaticamente aprovados.
Na terceira e quinta série registrarseá, no SERIE, uma expressão numérica de 01 a
10, com parâmetro para retenção as inferiores a sete.
O registro do resultado da avaliação nas demais séries do Ensino Fundamental Séries
Finais continua sendo expresso de forma numérica, de 1 a 10, com fração de 0,5; Sempre que
a avaliação do aluno resultar em número fracionado de 0,1 a 0,4 deverá ser arredondado para
0,5 e de 0,6 a 0,9, arredondado para número inteiro superior.
Artigo 6º da Portaria 20/2010 – Terseão como aprovados quanto ao rendimento em
todas as etapas e modalidades da Educação Básica e Profissional, exceto na Educação Infantil
e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, os alunos que:
I – Obtiverem a média anual igual ou superior a sete (7) em todas as disciplinas;
II – Submetidos a exame final, obtiverem catorze(14) pontos ou mais.
Para o educando que no final do processo não atingir a média mínima anual de três (3)
pontos será concebido o exame final, e o exame é facultativo para o aluno com média superior
a sete (7).
59
Terseão como reprovados automaticamente os alunos com média anual inferior a três
(3), não sendo oferecido à estes exame final, e os que não alcançarem, no mínimo, 14 pontos,
aplicada a formula, após o exame final.
Para efeitos de calculo do resultado de aprovação/reprovação, devese aplicar a
formula: (Média anual dos bimestres ou trimestres x 1,7 + (Nota do exame final x 1,3) > ou =
14 pontos.
Sempre que houver um impasse na avaliação do rendimento do aluno, caberá ao
Conselho de Classe, a decisão final. A representação do conselho de Classe deverá ser de, no
mínimo 51% dos integrantes e o resultado deverá ser registrado em ata.
11.3.1. Recuperação
A E.I.E.B. Cacique Vanhkre oferece a recuperação, que é garantida em lei à todos os
alunos que no decorrer do processo ensinoaprendizagem durante o ano letivo não
conseguiram alcançar resultados satisfatórios, ou seja, notas inferior a sete (7) em relação as
disciplinas escolares.
A recuperação dáse de uma forma paralela no decorrer do bimestre, tendo como
objetivo proporcionar ao aluno novas oportunidades de aprendizagem para corrigir defasagens
e insucessos constatados pelo docente, ou solicitados pelo discente.
Os estudos de recuperação serão ministrados pelos próprios professores, e estes serão
proporcionados mediante aulas ministradas, atribuições de tarefas escolares, exercícios e
demais trabalhos.
Aos alunos com baixo rendimento escolar, será disponibilizado oportunidades de
virem à Escola no contraturno para fazerem atividades que possam suprir suas deficiências
de aprendizagem, bem como reforço escolar.
Serão atribuídas notas de 1 (um) à 10 (dez) a todos os trabalhos, atividades, exercícios,
provas, testes e outras atividades aplicadas na recuperação. Prevalecerá a nota mais alta para
soma da média final.
O regime de dependência está suspenso pela Portaria 020/2010, não havendo mais a
possibilidade de acessar a série seguinte se não for aprovado em todas as disciplinas.
Para os alunos com altas habilidades, a classificação/reclassificação será feita sempre
que comprovado caso, e em compatibilidade da idade/série e conhecimentos adquiridos em
todas as disciplinas. Os resultados dessa avaliação deverão ser convalidados em Conselho de
Classe e registrados em ata.
11.4. Conselho de Classe
O Conselho de Classe é composto pelos professores da turma, pela direção do
estabelecimento ou seu representante, pela equipe pedagógica da escola, pelos alunos e pelos
pais ou responsáveis, quando for o caso.
A reunião do conselho de classe possibilita a avaliação global do aluno, levantando
suas dificuldades envolvidas no trabalho educativo durante o processo. O conselho de classe é
realizado bimestralmente com a participação de professores, pais, alunos e direção.
Caberá ao Conselho de Classe a decisão final a respeito da avaliação do rendimento do
aluno.
Primeiro é realizado o préconselho com professores e direção, relatando os avanços e
dificuldades de cada aluno, com registro em ata específica.
O conselho de classe tem por objetivo desenvolver a capacidade de questionar o
processo educacional, apresentado interpretações e prevendo evoluções. Também tem por
objetivo rever a vida escolar de cada aluno tentado resolver os problemas que vem fazendo
com que o aluno não esteja progredindo em seus conhecimentos e solucionar da melhor
maneira possível.
O conselho de classe tem por finalidade:
61
O conselho de classe possibilita a avaliação global do aluno e o levantamento das
dificuldades, a avaliação dos envolvidos, no trabalho educativo e no estabelecimento de ações
para superação das dificuldades, a avaliação do processo ensino/aprendizagem desenvolvidos
pela escola na implementação das ações propostas e verificação dos resultados, a definição de
critérios para a avaliação e sua revisão quando necessária.
A avaliação da pratica docente, também é realizada, não enquanto punição mas
enquanto motivação e produção de condições de apropriação do conhecimento, no que se
refere: a metodologia, aos conteúdos programáticos e a totalidade das atividades pedagógicas
realizadas.
12. SERVIÇOS E PROJETOS DE APOIO PEDAGÓGICOS NA ESCOLA
metodologias de trabalho para estar envolvendo todas as crianças de uma maneira que elas
possam estar crescendo cada vez mais.
Ao longo de muitos anos as sociedades indígenas viveram pelos seus próprios modos
de socialização. Devido às transformações sociais e a entrada de outras culturas, sentiram a
necessidade de implantar novas formas de sobrevivência, interagindo com outras culturas.
Os povos indígenas obrigaramse a se adaptar ao novo modo de vida. Logo, sentem a
necessidade de implantar novas técnicas de sobrevivência.
Sabemos da importância de embasar nos valores culturais da comunidade para
construir uma proposta pedagógica, pois sabemos que alguns valores deixaram de ser
praticados.
Devemos estar comprometidos em desenvolver o processo de ensinoaprendizagem
não como detentores do saber, mas como articuladores, intervindo, orientando,
problematizando sem desconsiderar a curiosidade para novos conhecimentos.
Nesse sentido é que desenvolvemos ao longo do ano reuniões pedagógicas mensais,
com objetivo de motivar, instruir e capacitar nossos professores para sua prática pedagógica.
Além disso desenvolvemos ao longo do ano projetos interdisciplinares que visam a
melhoria da aquisição de aprendizagem, a revitalização da cultura do povo Kaingang, o
exercício da criticidade e criatividade, para este ano de 2010, elencamos os temas transversais
que serão transformados em projetos ao longo do ano, sendo: Terra e biodiversidade; Auto
sustentação; Direitos, lutas e movimentos, Ética; Pluralidade cultural; Saúde e educação,
Drogas, Violência.
13. ATIVIDADES E PROJETOS ESCOLARES
Para o ano de 2010 continuaremos o projeto que visa a erradicação da evasão escolar e
do baixo desempenho no ensinoaprendizagem de nossos educandos, o referido projeto está
em anexo ao PPP. Além disso, a escola realiza para alunos com defasagem idade/série uma
avaliação progressiva de conhecimentos básicos em todas as disciplinas do Ensino
Fundamental oferecendo oportunidades de avanço/série para aqueles alunos que conseguirem
a média mínima exigida.
Alguns alunos participam do grupo de dança no contra – turno, para ensaios de
danças, bem como revitalização da cultura, para posterior apresentação aos visitantes.
63
A E.I.E.B Cacique Vanhkre participa também do Moleque Bom de Bola, campeonato
este que é disputado em três fases: municipal, regional e estadual, inclusive já conquistando
premiações importantíssimas nesta modalidade.
O grupo de canto organizado neste ano ensaia músicas em português e kaingang, Hino
Nacional em Kaingang para apresentações aos visitantes, festas e cerimônias em eventos
realizados na Terra Indígena Xapecó.
A escola também conta com um grupo de teatro organizado por professores e alunos
da E.I.E.B Cacique Vanhkre onde o mesmo relembra um pouco da história do povo kaingang.
As atividades de dança, teatro e canto serão desenvolvidas dentro do projeto centro
cultural e fortalecimento da língua Kaingang, neste ano de 2010 temos professores
contratados para esse fim, bem como para atividades curriculares complementares.
Também contamos com o projeto das Atividades complementares que visa atender os
alunos do ensino fundamental séries finais nos períodos de contra turno desenvolvendo
atividades de dança, teatro, coreografias, atividades físicas etc,.
Para atender os alunos e auxiliar os professores nas tecnologias contamos com os
professores orientadores das Tics, que auxiliam os alunos e professores quanto ao uso das
tecnologias educacionais.
14. RELAÇÃO DA ESCOLA COM A COMUNIDADE
A escola compartilha todos os acontecimentos com a comunidade coletivamente com
as atividades referentes às datas comemorativas, como: dia das mães, dia dos pais, dia das
crianças, páscoa, semana de reflexão dos povos indígenas, enfim ela vive em constante
contato com comunidade.
A formação contínua dos professores é realizada através de capacitação indígena para
que possam estar inovando suas práticas pedagógicas e aperfeiçoando seus conhecimentos,
inovando suas idéias para formação de alunos que realmente sejam capazes de mostrar para
sua comunidade, no futuro seu trabalho em beneficio a própria comunidade.
64
Durante o ano realizamos reuniões pedagógicas objetivando a capacitação continua de
nossos educadores, e em conseqüência disso a melhoria da educação em nossa comunidade.
15. DISCIPLINA ESCOLAR
O regime disciplinar para os componentes da Organização Escolar será decorrente de
disposições legais que são aplicadas a cada caso, das normas estabelecidas no Estatuto dos
Funcionários Públicos Civis, Estatuto do Magistério Publico do Estado, nas Consolidações
das Leis de Trabalho e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
A disciplina escolar está prevista sempre que ocorrerem faltas que prejudiquem o
processo ensinoaprendizagem, o bom andamento da escola, a integridade física e moral dos
membros que a compõe (alunos, professores, funcionários e direção).
15.1 DO CORPO DISCENTE:
Pela inobservância dos deveres previstos neste PPP e conforme a gravidade serão
aplicadas aos alunos as seguintes medidas disciplinares:
1. Advertência verbal e escrita pelo professor ou direção.
2. Exigência do comparecimento do pai ou responsável.
3. Tarefa aplicada, que não caracterizem violência física, nem psicológica, pelo
diretor ou responsável pela secretaria que não interfiram nem denigram seu rendimento
pedagógico.
4. Quando abordados alguns alunos que não entram na sala a direção estabelecerá
determinadas tarefas ao infrator (dentro do especificado acima).
5. Em último caso será comunicado às lideranças indígenas, onde os mesmos
darão o parecer final.
15.2. – Do corpo Docente
65
Os professores no caso de alguma infração, ou não estarem cumprindo com
competência seu papel, serão advertidos oralmente pela direção. Se houver reincidência, serão
advertidos de forma escrita e com testemunhas.
Se reincidirem na falta será informado as Lideranças Indígenas e a Gered, e aberto
processo disciplinar, dependendo da falta podendo ocorrer a demissão do mesmo.
Todo o processo será realizado de acordo com o que prevê as leis maiores citadas
anteriormente.
15.3 – Dos demais funcionários
Para os demais funcionários também serão aplicadas as mesmas providencias, sendo
advertência verbal, com reincidência advertência escrita com testemunhas. Prosseguindo o
comportamento serão tomadas as devidas providências como prevê as Leis Trabalhistas.
16. DA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR
16.1. Regime de Funcionamento: A E. I. E. B. Cacique Vanhkre é organizada de
acordo com a Lei 9394/96 e a Lei complementar nº. 170/98 sendo a organização em séries no
Ensino Fundamental e Ensino Médio.
16.2. Níveis de Ensino: A E.I.E.B. Cacique Vanhkre oferece os seguintes níveis de
ensino:
Ensino Especial para Surdos
Ensino Fundamental Séries Iniciais (9 anos)
Ensino Fundamental Séries Finais (8 anos)
Ensino Médio.
16.3. Matrículas:
A matricula compreende:
Admissão de novos alunos
Admissão de alunos por transferência
Admissão de alunos, independentes da escolarização anterior.
Admissão de alunos por transferência de suas famílias de outras terras
indígenas.
Confirmação pelos pais ou responsáveis para os atuais alunos
A classificação do aluno em qualquer série nos níveis fundamental e médio,
independentemente de escolarização anterior, prevista na alínea “c” do inciso II do artigo 24
66
da lei nº. 9394/96, aplicarseá nos casos em que o aluno não tenha, ou não possa comprovar
sua vida escolar anterior.
16.5. Ensino Especial para Surdos e outras necessidades especiais
A Inclusão é uma realidade em nossa Unidade Escolar, pois entendemos que todas as
crianças tem direito a escolarização, independendo de sua condição física ou cognitiva, ela
vem acontecendo desde 2006.
A inclusão de alunos especiais hoje é uma realidade, porém aos poucos os educadores
através da prática e estudos estão adquirindo conhecimento sobre como trabalhar com essas
deficiências, quais são as estratégias para trabalhar com esses alunos, o que deve ser
trabalhado, o que deve ser cobrado, o que são capazes de desenvolver? Todas essas dúvidas
norteiam nosso corpo docente, porém estamos cientes que só poderão ser respondidas por nós
mesmos, na medida em que formos lendo, conhecendo e trabalhando com as crianças
especiais.
Temos hoje vários alunos incluídos, sendo com deficiência mental leve a moderado, e
uma aluna cadeirante, além de 4 alunos surdos que recebem o auxilio de interprete de Libras,
bem como os demais tem segundo professor, para auxiliar em suas necessidades básicas e em
seu processo ensino aprendizagem.
O Trabalho com os alunos surdos é feito desde 2004, hoje temos pessoas da
comunidade especializada e com conhecimento da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS,
atuando na 5ª, 7ª e 8ª série.
A sala de recursos DA também funciona, onde a professora consegue trabalhar a
Língua Brasileira de Sinais, aliando a aprendizagem da escrita e leitura.
Percebese que as crianças tiveram grandes avanços, a aprendizagem é significativa,
sendo que o relacionamento melhorou, são tratados como qualquer outra criança, e sentemse
como tal. O relacionamento com colegas e professores, bem como pessoal da escola,
melhorou bastante, mas ainda estão bastante apegados a professora “deles”, sendo que
possuem com a mesma um relacionamento diferenciado.
16.6. O Ensino Fundamental
Consolidouse na atual LDB como a segunda etapa da Educação Básica.
Em 2007 foi implantado no Estado de Santa Catarina o Ensino Fundamental de 9 anos,
sendo que por ser novidade, houveram várias dúvidas de como funcionaria, hoje temos
melhores condições de trabalhar, pois já temos as séries iniciais do ensino fundamental nesse
sistema.
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No Ensino de 9 anos a criança entra na escola com 5 anos para completar 6 até dia 1°
de março do corrente ano. A metodologia utilizada difere um pouco das demais, pois o
trabalho deve ser mais lúdico, e não é obrigação da 1ª série alfabetizar, processo terá
continuidade na 2ª série.
Segundo essa nova formatação o Ensino Fundamental será dividido em 5 anos de
séries iniciais e 4 anos de séries finais.
16.7. O Ensino Médio é a etapa final da Educação Básica, com características de
terminalidade, de formação geral, vinculado ao mundo do trabalho e da pratica social, tendo
por objetivos:
Consolidar e aprofundar os conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental;
Aprimorar o educando como pessoa humana;
Possibilitar o prosseguimento dos estudos;
Garantir a preparação básica para o trabalho e para a cidadania;
Dotar o educando dos instrumentos que lhe permitam a continuidade dos estudos e a
compreensão dos fundamentos científicos e tecnológicos dos processos de produção.
Será organizada em séries, com duração mínima de três anos e de, pelo menos,
duzentos dias de efetivo trabalho escolar por ano com uma carga semestral de quatrocentas
horas envolvendo a participação de docentes e educandos.
16.8. Transferência:
A transferência é concedida e recebida em qualquer época do ano, por solicitação do
responsável ou do próprio aluno, se maior de idade.
Quando o aluno for reclassificado será mantido em sua pasta de arquivos o registro das
avaliações e de todos os documentos, tais como: atas, provas ou outros trabalhos que venham
a ser exigidos e mais as anotações legais que devem constar no histórico escolar.
16.9. Adaptações
É o processo através do qual a escola busca integrar o aluno recebido por transferência
à nova grade curricular. É uma adaptação à nova situação, mediante estudos especiais
programados, visando à complementação indispensável.
A escola e os professores assumirão uma grande responsabilidade, devendo assim
definir e escrever com competência os processos avaliativos para o aproveitamento de
estudos, a reclassificação e adaptação.
Os extremos de rigidez e de liberdade serão evitados, pensando no educando,
valorizando sua aprendizagem e conhecimento.
68
16.10. Aproveitamento de estudos
É o reconhecimento dos estudos feitos (com aprovação) pelo aluno na série e ocorre
quando o aluno for reprovado em alguma disciplina em serie que não oferece progressão
parcial (dependência). Neste caso o aluno devera repetir a série e a escola deverá considerar o
conhecimento e a aprendizagem das disciplinas e que já logrou êxito. Ou seja, nas disciplinas
em que foi aprovado no ano interior, não poderá ser reprovado, entendendo que o aluno não
desaprende.
16.11. Progressão parcial (dependência)
De acordo com a Portaria N/20 – de 24/05/2010 que regulamenta a implantação da
sistemática de avaliação do processo ensinoaprendizagem na Rede Pública Estadual de
Ensino, no artigo 9 da referida portaria, fica suspenso o regime de dependência nas duas
séries finais do Ensino Fundamental e em todas as séries do Ensino Médio.
16.12. Classificação
Classificar significa posicionar o aluno em série compatível com sua idade,
conhecimento e experiência, podendo ser feita:
Por promoção para alunos que cursaram com aproveitamento, na própria escola;
Por transferência – para alunos procedentes de outras escolas;
Por avaliação – independente de comprovação de escolarização anterior, mesmo
que não tenha certificado formal, mediante classificação, feita pela escola, que avalia o
conhecimento e a experiência do aluno permitindo sua matricula na série.
16.13. Reclassificação
Conforme a lei nº. 9394/96 e a lei nº170/98 em seus artigos 23 e 24, parágrafo único,
respectivamente e disposto 158/2008, e portaria Nº 20/2010 delegam às escolas a
possibilidade de reclassificar os alunos, inclusive em situações de transferência entre
estabelecimento situados no território nacional e no exterior.
A reclassificação poderá ser feita na E.I.E.B Cacique Vanhkre nas seguintes situações:
Avanço de séries ou cursos por alunos com comprovado desempenho. É a
forma de oferecer ao aluno a oportunidade de concluir em menor tempo, séries ou cursos,
desde que apresente conhecimento com comprovado desempenho.
Transferência entre estabelecimentos situados no país e no exterior
posicionando o aluno na série adequada, tendo como base as normas curriculares gerais.
A decisão de reclassificação será considerada de caráter essencialmente pedagógico,
onde será constituída uma banca formada por representantes dos órgãos de decisão coletiva
69
que submeterá o aluno a avaliações de conhecimento e experiência, para definir e comprovar
a matrícula na série correspondente.
A lei, ao tratar de reclassificação, valoriza o conhecimento e experiência do aluno e
não faz nenhuma referencia a freqüência mínima exigida. Portanto, se não for cumprido esse
mínimo exigido, nada impede que o aluno continue seus estudos no período letivo seguinte.
Ao admitir a possibilidade da reclassificação dos alunos, a própria lei esta dizendo que
deve prevalecer o conhecimento do aluno. Ainda assim, consideramos a freqüência
importante para a aprendizagem do aluno. Quando o aluno será reclassificado a escola
manterá arquivados os registros das avaliações e todos os documentos, tais como: atas, provas
ou outros trabalhos.
16.14. Organização dos tempos escolares
Segundo a lei (Lei nº. 9394/96 art. 23,24 e Lei Complementar 170/98, art.25,26), o ano
letivo será de 200 dias de efetivo trabalho escolar, com carga horária anual mínima de 800
horas.
A jornada escolar no Ensino Fundamental e Médio será de no mínimo 4 (quatro) horas
de efetivo trabalho escolar.
O Calendário Escolar é elaborado com a participação da Comunidade Escolar (pais,
professores, alunos, lideranças indígenas) de acordo com o clima da Região e respeitando as
datas comemorativas da cultura indígena.
16.15. Frequência
De acordo com a lei 9394/96 a aprovação do aluno esta condicionada ao mínimo de
75% de frequência às aulas, em relação ao cômputo total da carga horária anual em vigor, ou
seja, 100% da carga horária anual ou semestral, o aluno poderá faltar 25% das aulas. Dessa
forma, a apuração da freqüência não se fará mais sobre a carga horária especifica de cada
disciplina.
No Ensino Fundamental, de 1ª à 4ª série, o registro da freqüência caberá ao professor
de turma, utilizandose o diário de classe. O mesmo procedimento imprescindivelmente será
feito pelo professor das diversas disciplinas de 5ª à 8ª serie do Ensino Fundamental e Ensino
Médio.
O professor é responsável pelo registro da freqüência e pelo acompanhamento do
desempenho de seus alunos em conformidade com o Projeto Político Pedagógico.
16.16. Aluna gestante
70
Tem seus direitos garantidos nas Constituições Federal e Estadual e no Estatuto da
Criança e do Adolescente. Como aluna, tem direitos e deveres a cumprir, com aproveitamento
e freqüência exigidos pela legislação vigentes.
Não existe tratamento diferenciado à aluna gestante quanto à freqüência mínima de
75% exigida para a aprovação. O limite da ausência às aulas garantidas pela legislação é de
25%, o que corresponde, no Máximo a 50 dias do calendário de 200 dias letivos.
O atestado médico assegura o direito ao afastamento das atividades escolares para a
aluna gestante. No período de licença, atestado pelo médico, a escola deve garantir o direito
de realizar exercícios domiciliares.
17. RECURSOS HUMANOS
Nome do Professor Cargo/Função Hab. Nível de Escolaridade Período
1. Anísia F. M. Belino Diretora 300 Especialista em
Matemática e Física
2. Cristina de Fátima Silva Assessora de Direção 300 Especialista em
Psicopedagogia e Física
3. Creide Alípio Assessora de Direção 030 Magistério Bilíngüe
Cursando LEPIK 4º
4. Getúlio Narsizo Assistente de Educação 030 Magistério Bilíngüe
Cursando Pedagogia 7º
5. Lírio Costa dos Santos Assistente Técnico 300 Licenciado em Pedagogia
Pedagógico
6. Adair Correia da Silva Professor de Ens. 100 Ensino Médio
Religioso e Ed. Física
7. Alair Guisso Professor de Artes 100 Cursando Pedagogia e 7º
LEPIK 4º
8. Alcione B. de Almeida Professora de 1ª e 3ª série 300 Especialista em Educação
iniciais Anos Iniciais
9. Alcenir dos Santos Professor de Língua 100 Cursando LEPIK 4º.
Kaingang
10. Aldacir V. de Almeida Professor de História e 300 Licenciado em História
Geografia
11. Aldecir A. dos Santos 2º professor 6ª 2 100 Cursando Pedagogia 7º.
12. Ana Paula Narsizo Professora de Geografia 100 Cursando Geografia 8º
Cursando LEPIK 4º
13. Andréia Mara Bazzi Professora de Ciências e 300 Licenciada Ciências
Biologia – 2ª professora Biológicas
14. Ari Neres Professor de Língua 100 Cursando Letras 4º.
Portuguesa Cursando LEPIK
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iniciais Ens. Fundam.
45. Antoninha Belino Padilha Servente Ensino Médio
46. Lorildes Luiz Servente Ensino Fundamental
47. Doralina Pinheiro Servente Ensino Fundamental Inc.
48. Judite Leopoldina Merendeira Ensino Fundamental Inc.
49. Salete Fongrê Servente Ensino Fundamental Inc.
50. Laudacir Batista Servente Ensino Fundamental
LEPIK – LICENCIATURA ESPECIAL PARA POVOS INDÍGENAS KAINGANG
18. RESPONSABILIDADES
O Projeto Político retrata a identidade da escola, oferecendo diretrizes gerais quanto
ao que a escola precisa desenvolver, e é papel do professor respeitar a realidade do aluno,
conhecendoo e valorizando seu modo de vida.
A construção do conhecimento deve ser comprometida com a transformação social
referenciada na realidade histórica em interação com os diferentes saberes e com a
valorização da cultura indígena.
A comunidade deve participar do PPP para que se torne algo de acordo com a
realidade, com os costumes e com a forma de organização. É de responsabilidade da
comunidade escolar (professor, aluno, pais e demais membros da escola), fazer a educação
diferenciada acontecer como um processo permanente de formação desenvolvendo sujeitos
autônomos e com posição crítica frente às desigualdades e as injustiças sociais. Garantir o
acesso e permanência e a aprendizagem na educação básica como exigência do
desenvolvimento social.
Enfim devemos construir um jeito novo de ensinar, pois queremos alunos que
aprendam de verdade, e para tanto devemos sempre inovar nossas práticas em sala de aula
para que o ensino/aprendizagem aconteça.
19. APRECIAÇÃO E APROVAÇÃO
O presente projeto foi reformulado, apreciado e aprovado em Assembléia Geral
conforme data e Assinaturas em Ata Anexa.
73
20. ANEXOS
ATA DE APRECIAÇÃO E APROVAÇÃO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO
ATA Nº 0067/2010
(Livro de Atas da APP p. 75)
Aos dez dias do mês de maio de dois mil e dez reuniramse em Assembléia geral, os pais,
professores, Direção, Lideranças e alunos da E. I. E. B Cacique Vanhkre reuniramse para
atualizar e aprovar o PPP deste ano. Iniciamos com a divisão dos grupos para estudo e
conseqüentes atualizações, as temáticas foram divididas, e os grupos iniciaram seus trabalhos.
Após essa etapa iniciaram os trabalhos de explanação e aprovação. A Diretora Anisia deu
abertura, falando da importância que tem o PPP, e ainda da importância de toda comunidade
escolar participar do processo de elaboração. Em seguida os grupos foram apresentando suas
temáticas, as quais foram sendo reestruturadas. Não ouve divergências e o PPP foi aprovado
através de aclamação. Nada mais havendo a tratar, encerro a presente ata que segue assinada
por mim e demais presentes.
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ESTADO DE SANTA CATARINA
SECRETARIA DE ESTADO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL
5ª GEREIGERENCIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO E INOVAÇÃO
083933 E.I.E.B. CACIQUE VANHKRE
IPUAÇUSC
CONSELHO DE CLASSE PARTICIPATIVO: UM PROCESSO DINÂMICO,
INTERATIVO E REFLEXIVO, PARA UMA ESCOLA INDÍGENA KAINGANG DE
SUCESSO.
75
TERRA INDÍGENA XAPECÓ, IPUAÇÚSC 2010
I JUSTIFICATIVA
A educação indígena é um processo dinâmico, interativo, participativo e solidário, que
está cada dia ganhando espaço, gerando mudanças e promovendo melhorias na qualidade de
ensino desenvolvido nas escolas indígenas. Nesta perspectiva, fazse necessário oferecer
oportunidades a todos que fazem parte deste processo, a participarem das tomadas de decisões
da escola.
Dentre este processo devese ter clara a importância de que os próprios estudantes
indígenas precisam conhecer de perto como é que a escola está trabalhando para atendêlos, se
os dados relativos ao desempenho escolar estão fracassados ou não, como também as
principais dificuldades de aprendizagem de cada um, que está inserido no processo
educacional, não só o desenvolvimento do aluno, como também, o desenvolvimento dos
professores, fazendo reflexões de suas práticas pedagógicas, a ação de funcionários não
docentes, o compromisso e a atuação dos pais e da comunidade e seus respectivos papéis, sem
esquecer de um fator importantíssimo, o trabalho da gestão como gerenciador da dinâmica
educacional de ensino.
Portanto, tais argumentos levamnos a estarmos motivados e a darmos continuidade na
realização deste projeto. Consolidandoa como prática inovadora, integradora, democrática e
autônoma, diagnosticando as eventuais causas que provocam situações problemas no âmbito
escolar interferindo no bom desempenho escolar do aluno. Através de diagnóstico fazse
necessário uma reflexão participativa dos alunos, pais, professores, gestão pedagógica e
funcionários da E.I.E. B Cacique Vanhkre, o qual buscase inovações para que, na elaboração
do plano de intervenção as ações possam estar voltadas para os problemas diagnosticados.
76
II OBJETIVOS
Geral:
Promover a participação direta dos pais, alunos, equipe pedagógica e funcionários,
diagnosticando as causas e propondo ações como meio preventivo para minimizar os
problemas que venham interferir na aprendizagem dos alunos índios kaingang da E.I.E. B
Cacique Vanhkre.
Específicos:
Integrar a comunidade escolar a fim de participar da reflexão do processo educativo
que a escola desenvolve;
Desenvolver ações buscando maior participação dos pais indígenas nos conselhos de
classe;
Diagnosticar as causas e os problemas que interferem na aprendizagem dos alunos;
Promover a participação coletiva da comunidade escolar kaingang nas tomadas de
decisões;
Refletir com pais, alunos e professores os índices de aprovação, reprovação e
abandono escolar;
Cumprir o plano de intervenção para minimizar as dificuldades de aprendizagem dos
alunos.
77
III METODOLOGIA
O Conselho de Classe Participativo é um processo inovador com prática reflexiva, que
visa melhor sucesso da aprendizagem do educando, promovendo meios para que todos os
envolvidos possam participar nas tomadas de decisões da escola.
Nesta perspectiva inovadora é que a Gestão Pedagógica da Escola Indígena de
Educação Básica Cacique Vanhkre implantou o Projeto Conselho de Classe Participativo:
“Um Processo Dinâmico, Interativo e Reflexivo para uma Escola de Sucesso”, estruturado,
através da escolha do professororientador de turma, ou seja professor regente. Cada professor
acompanha especificadamente a turma que lhe foi direcionada, tanto na questão de
dificuldades na aprendizagem, reprovação, abandono, como também na indisciplina do
próprio aluno.
Da mesma forma é com o alunado, no início do ano letivo escolhese o representante e
o vice de cada turma, essa escolha é feita pelos próprios alunos da turma, através do voto
democrático, dentre os alunos escolhidos, criase um colegiado, para que também os mesmos
possam se reunir, avaliar o trabalho do professor e também o trabalho da gestão pedagógica e
administrativa da escola.
No final de cada bimestre, gestão e suporte pedagógico estruturam fichas diagnósticas,
repassamnas ao professororientador de cada turma, onde o mesmo reúne sua turma
juntamente com pais e/ou responsáveis para avaliar o processo de ensino e aprendizagem,
como também o trabalho pedagógico, administrativo e financeiro desenvolvido pela escola.
A gestão e suporte pedagógico fazem a sistematização das fichas diagnósticas. Em
seqüência reúnemse, professores, pais, e o grupo de alunos do colegiado para uma reflexão
dos resultados diagnosticados.
No momento do conselho de classe são analisados todos os diagnósticos, é neste
instante que os problemas da sala de aula como também os da escola são discutidos, e as
causas são mencionadas. Propõemse um plano de intervenção para ser desenvolvido no
bimestre seguinte, com ações específicas para minimizar as causas que geram problemas que
a escola vem enfrentando em seu diaadia.
Portanto o Conselho de Classe Participativo é um projeto inovador, dinâmico,
interativo e reflexivo, que foi implantado pelo suporte pedagógico da Escola Indígena de
Educação Básica Cacique Vanhkre. Desta forma a comunidade escolar indígena kaingang da
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Terra Indígena Xapecó passa a conhecer o processo educativo na íntegra, sentindose
responsável pela a qualidade do ensino e pela melhoria da aprendizagem do aluno no meio
educacional que está inserido.
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IV – RESULTADOS ESPERADOS
Equipe pedagógica, alunos e pais envolvidos diretamente nas ações da escola
indígena, buscando minimizar os problemas existentes e interferindo na aprendizagem dos
alunos;
Professores utilizando a autoavaliação para rever e renovar a prática pedagógica em
sala de aula;
Garantir sempre o sucesso do conselho de classe participativo, inovandoo quando
necessário;
Medidas implantadas melhorando o processo de ensino e aprendizagem do educando;
Comunidade Escolar conhecendo o processo educacional que a escola está inserida;
Equipe pedagógica refletindo bimestralmente o rendimento de aprovação, reprovação
e abandono dos alunos, através do estudo dos gráficos.
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ESTADO DE SANTA CATARINA
SECRETARIA DE ESTADO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL
5ª GEREIGERENCIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO E INOVAÇÃO
083933 E.I.E.B. CACIQUE VANHKRE
IPUAÇUSC
COMBATE A EVASÃO, REPETÊNCIA E DIFICULDADES NO ENSINO
APRENDIZAGEM NA E.I.E.B. CACIQUE VANHKRE
TERRA INDÍGENA XAPECÓ, IPUAÇÚSC 2010
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COMBATE A EVASÃO, REPETÊNCIA DIFICULDADES NO ENSINO
APRENDIZAGEM NA E.I.E.B CACIQUE VANHKRE
RESPONSÁVEIS: DIREÇÃO E PROFESSORES
DESTINATÁRIO(S): ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO
OBJETIVO GERAL:
Elaborar conjuntamente uma série de ações voltadas para o combate da evasão
escolar, repetência e dificuldades de ensinoaprendizagem buscando melhorar a qualidade
educacional dos alunos do Ensino Fundamental e Médio da escola
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Promover o acesso de todas as crianças a partir dos 06 anos à escola garantindo a
permanência e o desenvolvimento do Ensino/aprendizagem dos alunos na E.I.E. B Cacique
Vanhkre;
Conhecer os educandos, diagnosticando as possíveis dificuldades de aprendizagem,
bem como identificar e trabalhar as causas que levam a evasão escolar;
Conhecer a realidade sócioeconômica dos alunos em nossa comunidade;
Disponibilizar aos educandos com dificuldades e/ou defasagem escolar atendimento
individual para superação das mesmas;
Utilizar aulas atividades para tomar a leitura, resolver exercícios matemáticos, estudar
a tabuada, ou seja, todas as atividades que supram dificuldades por ventura existentes.
DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES
ATIVIDADES RESPONSÁVEIS DATA RESULTADO
ESPERADO
Diagnóstico Professores 11/02 à Ter o diagnóstico do
regentes 31/03/10 nível de aprendizagem
dos alunos.
Leitura Todos os Semanalmente Desenvolver o hábito a
professores prática da leitura. Nas
atividades desenvolvidas,
em classe pelos alunos
com dificuldades.
Recuperar alunos Professores Diariamente Prestar auxílio nas
em defasagem regentes e atividades desenvolvidas,
escolar/dificuldades auxiliares em classe pelos alunos
com dificuldades.
Buscar alunos Professores Semanalmente Extinguir a evasão de
evadidos ou em regentes e nossa escola.
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risco de evasão auxiliares
Registro das Professores Diariamente Ter relatórios do ano
atividades letivo.
realizadas
Encaminhamentos Professores Semanalmente Que a administração,
dos casos que não lideranças, Conselho
conseguir resolver Tutelar e Promotoria
pública possam ser
acionados.
AVALIAÇÃO
A avaliação ocorrerá durante todo o processo sendo que no final serão discutidas e
analisadas, juntamente com a equipe gestora as ações que não deram certo procurando
reformulálas com o propósito de alcançar todos os objetivos propostos para as etapas
subseqüentes.