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Florianópolis
2022
JOICE RODRIGUES GOMES
Florianópolis
2022
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor,
através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da
UFSC.
Inclui referências.
Este Trabalho Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Título de
Licenciada em Pedagogia, e aprovado em sua forma final pelo Curso Pedagogia.
________________________
Prof. ª, Dra Patrícia de Moraes Lima.
Coordenador do Curso
Banca Examinadora:
________________________
Prof.ª Dra. Carolina Picchetti ________________________________
Nascimento Prof.ª Rosalba Maria Cardoso Garcia
Orientador(a) Instituição EED/CED/UFSC
MEN/CED/UFSC
________________________ ________________________
Prof.ª Dra. Katia Adair Agostinho Prof.ª Dra. Patrícia de Morais Lima
Avaliador(a) Avaliador(a)
Instituição MEN/CED/UFSC Instituição MEN/CED/UFSC
Dedico este trabalho aos meus familiares, em especial minha
mãe Clausiane Rodrigues Fernandes e meus irmãos Carlos
Eduardo, Josiele Rodrigues e Laura Nicoletti.
AGRADECIMENTOS
MUITO OBRIGADA!
“Mais que um jeito de aprender, brincar é o jeito de as crianças
serem. Não é uma coisa que possa ser substituída,
reembolsada amanhã, ou uma preparação para o futuro. As
crianças precisam brincar hoje e todos os dias de sua infância.”
(GIRARDELLO, 2006, p. 65)
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo geral compreender algumas relações entre as
brincadeiras tradicionais e o trabalho pedagógico nos anos iniciais do ensino
fundamental. Formularam-se dois objetivos específicos: caracterizar a brincadeira
tradicional, destacando as relações entre permanência e transformação; analisar as
contribuições acadêmicas sobre a temática brincadeiras tradicionais e trabalho
pedagógico, notadamente a partir da área de Educação Física. Para alcançar esses
objetivos foram organizadas três ações metodológicas: a) um diálogo com parte da
literatura sobre brincadeira e infância, que pudesse contribuir com a ideia de
caracterizar a brincadeira tradicional; b) diálogo com imagens artísticas que
tematizassem a brincadeira; c) a análise de trabalhos acadêmicos, no campo da
Educação Física, que contemplassem o ensino com brincadeiras, construindo um
panorama sobre como a brincadeira vem sendo articulada ao trabalho
pedagógico. Diante da problemática em foco, reforça-se a importância de refletir
sobre o tempo do brincar dentro das escolas, desvinculando-o de um olhar utilitário.
Compreende-se, ainda, que essas brincadeiras podem revelar múltiplas
aprendizagens às crianças, o que depende de condições para que efetivamente se
engajem na atividade de brincar. A presente pesquisa buscou sistematizar algumas
problemáticas e “trilhas” para sua resolução, a fim de permitir que as mesmas se
fortaleçam e produzam ações concretas dentro das escolas, contribuindo para que de
fato consigamos assegurar que o direito de brincar e da brincadeira sejam vivenciados
na sua totalidade.
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 15
2 A BRINCADEIRA TRADICIONAL: entre permanências e transformações
21
2.1 Diálogos com Imagens....................................................................................... 26
1 INTRODUÇÃO
1Este estágio é realizado em dupla e minha parceira foi a Priscila Kalbusch, que dividiu a experiência
docente comigo.
17
2
Perguntas que foram norteadoras do questionário: Nome do entrevistado? Qual a sua idade? Mora
na rua desde que ano? Utilizava a rua para brincar? E com quais brincadeiras?
18
utilizávamos este espaço para brincar, de que nos dias atuais ainda moro no mesmo
bairro, na mesma rua e de todas as transformações que acompanhei.
Citei sobre a importância destes espaços: campo X cidade, que independente
das inúmeras transformações, devem se sentir pertencentes, reivindicar seus direitos
enquanto criança, lutar por espaços que sejam destinados a elas. Para finalizar a
prática pedagógica com o grupo do 3º ano direcionei as crianças ao pátio do colégio
e utilizamos o horário da aula para brincar de bate-manteiga. Foi escolhida esta
brincadeira, pois neste último encontro, perguntei se as crianças conheciam a
brincadeira, e todos responderam que não, então fiz o convite: que tal brincarmos de
bate-manteiga? Contei para a turma que brinquei muito na rua, na infância, e que essa
era a brincadeira que eu mais gostava, então, a turma foi dividida em dois grupos,
escolhas que as próprias crianças fizeram, depois disso expliquei sobre as regras que
há nessa brincadeira e se gostariam de criar uma diferente, todos responderam que
não, e foi aí que a brincadeira começou.
Neste processo de alcançar respostas, cheguei à conclusão de que estas
brincadeiras que citei no decorrer do texto e da experiência que tive com a turma do
3º ano A, revelam muito mais que memórias/vivências: está enraizado a história da
minha própria constituição como sujeito. Há uma ponte que liga o passado e vive no
presente. Não há um manual pronto que nos conte a origem de cada brincadeira, mas
parece que temos escrito, ao longo do tempo, um caderno coletivo sobre o brincar e
as brincadeiras, recebendo representações culturais, sociais e históricas que, em si
mesmas, deveriam compor o repertório de conhecimentos e práticas a serem
apropriados por cada criança.
Parte-se da compreensão, então, que:
considerar que a brincadeira pode e deve ter o fim nela mesma, aproximando-a não
do “entretenimento”, mas do engajamento cultural (SILVA, 2012), tal qual buscamos
igualmente um engajamento dos sujeitos com a literatura, a poesia, o teatro etc.
Podemos apresentar, então, algumas inquietações que movimentaram a
elaboração desta pesquisa: de que forma e a partir de quais práticas pedagógicas
podemos resgatar as memórias infantis de outras gerações sobre o brincar? Quais as
contribuições teóricas referente a essa temática e como tais conhecimentos podem
orientar a nossa prática docente? Como a escola se insere nesse processo histórico
de compartilhamento de diferentes brincadeiras de uma geração para outra? Será que
os professores brincam com seus grupos e, se brincam, como se organiza esse
processo, de modo que a brincadeira aparece efetivamente como um elemento
cultural que exige engajamento por parte das crianças e adultos? De que forma esse
conjunto de brincadeiras tradicionais está articulada ao planejamento do professor?
Diante dessas problemáticas formulou-se como objetivo geral desta pesquisa
compreender algumas relações entre as brincadeiras tradicionais e o trabalho
pedagógico nos anos iniciais do ensino fundamental. Como objetivos específicos tem-
se: a) caracterizar a brincadeira tradicional, destacando como as relações entre
permanência e transformação aparecem; b) analisar as contribuições acadêmicas
sobre a temática brincadeiras tradicionais e trabalho pedagógico, notadamente a partir
da área de Educação Física.
Para nos aproximarmos de respostas a tais objetivos organizamos a pesquisa
a partir de quatro ações metodológicas centrais.
Para iniciar, um diálogo com parte da literatura sobre infância e sobre a
brincadeira, compondo uma fundamentação de base para as discussões construídas
neste trabalho. Os autores com os quais estabelecemos esse diálogo foi Alexandre
Vaz (2002), Florestan Fernandes (2004), Renata Meirelles (2015a; 2015b), Quinteiro
e Carvalho (2007), que foram escolhidos considerando minha trajetória acadêmica,
bem como indicações da orientadora.
A segunda ação metodológica foi a busca e análise de materiais audiovisuais,
disponíveis em plataforma digital e/ou escritos de Renata Meirelles, pesquisadora que
vem se dedicando ao estudo sobre “brincadeiras tradicionais” em território brasileiro.
Destaca-se nesse diálogo o longa-metragem Território do Brincar (Meirelles, 2015b).
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3 Algumas legislações asseguram o brincar como direito, por exemplo: ECA- Art. 16.IV – brincar, praticar
esportes e divertir-se.
4 A missão do Instituto Alana é honrar a criança. E, para honrar a criança, é preciso honrar o brincar. O
Instituto Alana é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos – nasceu com a missão de
“honrar a criança” e é a origem de todo o trabalho do Alana que começou em 1994 no Jardim Pantanal,
zona leste de São Paulo. O Instituto conta hoje com programas próprios e com parceiros, que buscam
a garantia de condições para a vivência plena da infância e é mantido pelos rendimentos de um fundo
patrimonial desde 2013. Link do site: Alana
5 Endereço para acessar o sitio do Território do Brincar: Território do Brincar (território do
brincar.com.br)
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Este projeto foi realizado entre abril de 2012 e dezembro de 2013, percorreram
o Brasil, visitando comunidades quilombolas, indígenas, rurais, sertão e litoral, de
norte a sul do país, registrando, através das lentes de uma câmera, as sutilezas e os
olhares das crianças, o brincar universal de meninas e meninos, se tornando um
verdadeiro intercâmbio entre brinquedos e brincadeiras.6 Além disso, durante a
realização deste projeto houve parceria com seis escolas, sendo uma de Santa
Catarina, Florianópolis - Casa Amarela - e as outras do estado de São Paulo. Com o
objetivo de criar um diálogo, compartilhar as reflexões, registros e vivências do projeto
com os educadores, tentando trazer sentido para a realidade de cada unidade, estes
encontros foram realizados através de videoconferências mensais, com temas
organizados pela equipe do Território do Brincar.
É possível encontrar outras publicações que contam um pouco desta trajetória:
livros, artigos, séries de televisão, exposições, entrevistas e em todos os trabalhos um
convite para o aprofundamento à infância, educação e o brincar. Para o presente
Trabalho de Conclusão de Curso nos debruçamos na análise do longa-metragem
Território do brincar (2015) e do curta Diálogo com as escolas (2015), anotando cenas
e/ou falas que nos revelassem elementos que vão ao encontro dos objetivos e
pressupostos desta pesquisa: a diversidade das brincadeiras e a criança vista como
protagonista, sustentando o brincar como prática infantil. No quadro 1, destacamos os
materiais analisados da autora.
Território do brincar: diálogo com escolas / Renata Meirelles, (org.). -- São Paulo: Instituto Alana,
2015. -- (Coleção território do brincar) MEIRELLES 2015ª
MEIRELLES, Renata; et al. “Olhares por dentro do brincar e jogar, atualizados no corpo em
movimento". Sem Data.
Fonte: Elaborado pela autora.
6 Endereço para acesso ao curta-metragem: Diálogo com as escolas ((1741) Território do Brincar -
Diálogos com escolas - YouTube).
Endereço para acesso ao longa-metragem:Território do Brincar, disponível na plataforma Prime Video
(Prime Video: Território do Brincar).
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7 Quem anda pelas ruas de Acupe (BA) nos domingos de julho, não tem como não conhecer as
tradicionais “Caretas de borracha”. São inúmeras pessoas, crianças e adultos, vestindo máscaras e
roupas assustadoras e batendo em quem as provoque.(link: Venha careta, venha! - Território do Brincar
(territoriodobrincar.com.br)).
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poesia, o teatro, a literatura, a pintura. Sendo assim, é preciso tempo e condições para
se engajar com esse elemento cultural, para se apropriar do brincar. Esta posição nos
permite afirmar - junto com o documentário Território do brincar (2015), junto com Vaz
(2002) e Silva (2012), que quando a criança brinca, na escola, não é tempo da
conversa, do descanso ou de planejar uma aula por parte do professor; é momento
de parar, observar, participar e contemplar o que as crianças podem nos revelar em
suas brincadeiras, dar voz às práticas das crianças que corporalmente nos dizem
muito.
É necessário sempre estar revendo e repensando sobre a nossa atuação
docente, me pergunto e deixo para reflexão: será que toda vez que nos propusemos
a brincar com as crianças, nos colocamos de forma presente, intencional e
acolhedora? Ou tentamos cada vez mais dar conta dos 200 dias letivos e dos
conteúdos, atravessados pelo tempo e rotina.
Entre idas e vindas ao documentário Território do Brincar (2015b), uma reflexão
fez-se latente: de olhar para brincadeira sem enquadramento de gênero, classe
econômica ou faixa etária.
Ao mesmo tempo, não podemos nos esquecer que o brincar das crianças,
ocorrendo sempre concretamente no tempo e no espaço, estará inevitavelmente
atravessada por essas marcas sociais. Como alerta Maurício Silva (2012, p. 220), “O
corpo das crianças é um ‘território em disputa’, apropriado pelo Estado, escola, família,
mídia e religião, cujas práticas sociais oriundas dessas instâncias deixam tatuagens
históricas nas subjetividades e coletivos sociais”.
Florestan Fernandes (2004), em uma pesquisa realizada com crianças de um
bairro de São Paulo, em 1944, reforça o quanto as crianças “[...] passam a orientar-se
na escolha dos folguedos, de acordo com as habilidades geralmente consideradas
próprias dos homens e das mulheres” (FERNANDES, 2004, p. 238), sendo que a
26
brincadeira das meninas são, geralmente, sedentárias e “geralmente, não passam das
calçadas ou dos quintais de suas casas” (idem, p. 240).
Evidenciarmos essa condição parece ser mais um elemento relevante para
pensarmos o movimento entre permanência e transformação na brincadeira
tradicional. Considerando o projeto formativo que queremos contribuir para construir
na escola, em nossa sociedade, o que do brincar pode e deve permanecer e, ao
mesmo tempo, o que do brincar pode e deve ser transformado? Eis um caminho para
a continuidade de nossas reflexões e prática como docentes.
2.1.1 As Imagens
8 Acervo das imagens: 1) Obra Meninos soltando Pipas 1943 Portinari: link: Portal Portinari - Meninos
Soltando Pipas. 2) Foto retirada do Acervo Museu do Brinquedo. 3) Obra Ivan Cruz: link: Galeria |
ivancruz. 4) Obra Ricardo Ferrari; link: Ricardo Ferrari exposicao - Guia das Artes.
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1) 2)
1) 2)
10Acervo das imagens: 1) Obra Ricardo Ferrari; link:Ricardo Ferrari exposição - Guia das Artes. 2) Obra:
Futebol 1935 Portinari; link:Portal Portinari - Futebol
11Acervo das imagens: 1)Obra Ivan Cruz; link: Galeria | ivancruz. 2)Obra Ciranda 1958 Portinari; link:
1) 2)
1) 2)
12Acervo das imagens: 1)Obra Ivan Cruz; link:Galeria | ivancruz 2)Obra Meninos Pulando Carniça
1957 Portinari; link:Portal Portinari - Meninos Pulando Carniça
13 Acervo das imagens: 1)Obra Ricardo Ferrari; link: Ricardo Ferrari exposicao - Guia das Artes 2)Obra
Ivan Cruz; link: Galeria | ivancruz 3)Obra Meninos Brincando 1945 Portinari; link: Portal Portinari -
Meninos Brincando
30
3)
14
A exposição “Cascaes: a origem do museu” está instalada na Biblioteca Universitária da UFSC, junto
ao setor de Obras Raras, no piso superior. Na mostra estão expostas as peças do acervo do museu
relacionadas a essas brincadeiras tradicionais, usando materiais que, em geral, são criados
artesanalmente. E também é possível conhecer o trabalho da escultora Myllene Machado, que
registrou, em argila, as crianças brincando. Pião, pandorga, cinco marias, bola de vidro, pé de lata,
bilboquê, boneca, casinha e roda de aro são algumas das brincadeiras lembradas na exposição, que
irão reavivar a memória dos adultos e, claro, interessar às crianças de hoje. link: Museu do Brinquedo
da Ilha de Santa Catarina (ufsc.br)
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Agora direciono um diálogo direto com você, querido leitor. Vamos entrelaçar
nossas linhas de pensamento, o que acha? Provavelmente você já vivenciou alguma
destas brincadeiras na sua infância, com primos, irmãos, colegas ou amigos. Talvez,
brincando de pular-corda, pega-pega, amarelinha, pião, carrinho, pipa, futebol, 5
Marias, bolinha de gude, enfim, são infinitas brincadeiras que posso citar aqui.
Reconhece alguma brincadeira das imagens? Eu tenho 25 anos e você? Será que
possuímos alguma diferença de idade e mesmo assim você conhece estas
brincadeiras? Ou conhece a brincadeira por outro nome?
A diversidade contemplada nessas brincadeiras pode fazer parte do cotidiano
de crianças da região norte, sul, sudoeste, centro oeste, etc., ultrapassando fronteiras
territoriais. São fragmentos da cultura e de manifestações populares que podem
receber variações de regras, de modos de brincar, mas provavelmente - sendo a
mesma brincadeira - compartilham em comum a permanência de um mesmo objetivo
que passa a orientar a ação de brincar de cada criança.
Trazendo referência, novamente, das reflexões de Florestan Fernandes (2004),
que na década de 1940, realizou um trabalho de análise de todos os tipos de grupos
infantis formados nas ruas do Bom Retiro, em que as crianças chamavam de
“Trocinhas”, a maior motivação para formação das “trocinhas", era o desejo de se
reunir para brincar. O estudo analisou como se dava a formação, interação e
organização das crianças. Cada “trocinhas" era composta por diversas peculiaridades,
separações entre os membros (meninos/meninas; ricos e pobres, negros e brancos);
auto-organização em relação a direitos, deveres e regras estabelecidas pelo próprio
grupo, que vão conduzindo as maneiras e escolhas de brincar.
Além dos padrões sociais em que as crianças estão inseridas, as brincadeiras
se diferenciam de acordo com suas organizações e interações internas, havendo
resistência em inserir um membro da classe social, etnia, gênero oposto, a partir de
um processo de reprodução do sistema de valores em que vivem, mas é superado,
por vezes, pela vontade maior: a brincadeira. Fernandes (2004) comenta que, entre
as meninas a brincadeira começava com “Bom dia, meu Senhorio” e logo depois
32
15
“O Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte (CONBRACE) e Congresso Internacional de Ciências
do Esporte (CONICE) é um evento científico de periodicidade bienal. Constitui-se no maior evento do
Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE) e é considerado um dos mais importantes e rigorosos
congressos dentre as sociedades científicas da área.”
16
Sistema Online de Apoio a Congressos (SOAC) do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE)
é iniciativa da Gestão 2007/2009 com o intuito de disponibilizar uma ferramenta de gerenciamento do
seus congressos e de publicação eletrônica dos anais dos congressos científicos, contribuindo assim,
para a democratização do acesso ao conhecimento produzido pelos membros dessa comunidade. Link:
Sistema Online de Apoio a Congressos do CBCE
17
Por exemplo, trabalhos que focavam a formação de professores e mencionavam a expressão
“brincadeira ou jogo” como um dos conteúdos de ensino da Educação Física, sem, contudo, discorrer
sobre ele.
35
Os Jogos Olímpicos nas aulas de Educação Física XX CONBRACE VII ROCHA (2017)
em relato de prática. CONICE, Goiânia-GO.
2017.
Programa Aretê- Projeto Jogos Escolares: novos XXVIII ENAREL, I LIMA, Felipe; et
significados a velhos jogos. ENIPPEL e VI CONECE, al, 2016
2016
ou territórios - por exemplo, os trabalhos de Silva e Silva (2017); Neta, et al. (2021);
Faria et al. (2017). Nestes últimos trabalhos, os autores destacam os diferentes
espaços nos quais o brincar ocorre em nossa sociedade (escola, rua, bairro, praças,
parques, condomínios). Conforme Silva e Silva (2017 p. 1607) “O brincar cruza
diferentes tempos e lugares, passados, presentes e futuros, sendo marcado ao
mesmo tempo pela continuidade e pela mudança”. Ressalto aqui, que compreendo o
termo mudança atrelado ao brincar não de forma concreta e absoluta, de algo que
possui um fim. Mas de um brincar que se constitui como expressão da vida.
Do ponto de vista didático e metodológico, essa compreensão sobre a
brincadeira se expressou - nos resumos analisados - na organização de ações de
ensino que propunham intencionalmente uma reflexão sobre as formas de brincar
entre as gerações e ou entre regiões distintas. Por um lado, alguns trabalhos
destacam a realização de pesquisas, por parte das crianças, com familiares (pais, tios,
avós) para descobrirem do que brincavam e como brincavam - por exemplo, os
trabalhos de Silva e Silva Junior (2015); Neta, et al. (2021); Jesus e Tavares (2017);
Faria et al. (2017) - ou, ainda, destacam as memórias dos próprios professores que
atuavam com as crianças (FARIA et al. 2017; LIMA et al. 2016). Por outro lado,
destacam-se, também, proposições nas quais se realizava uma mesma brincadeira
“tomando as regras de vários locais, para que eles entendessem o jogo enquanto
fenômeno cultural e flexível que tende a ser alterado dependendo das suas
necessidades” (SILVA e SILVA JUNIOR, 2015, p. 2).
Uma segunda temática destacada da leitura e análise dos artigos refere-se ao
“o que se aprende” ao brincar. Alguns trabalhos destacam a aprendizagem de uma
dimensão “conceitual” dos jogos populares ou brincadeiras tradicionais, contudo, nos
artigos analisados - por exemplo, Neta, et al. (2021), Martin et al. (2021) – essa
aprendizagem acaba sendo abordada, sobretudo, a partir de uma perspectiva quase
exclusivamente classificatória dos tipos de jogos. Assim, mencionam-se as divisões
entre “jogo e cooperação"; "jogo e competição"; "jogos populares", "jogo x esporte" e
"jogo x brincadeira" (FERREIRA, 2015) ou de Jogos “Populares, Eletrônicos,
Esportivos, Competitivos, Cooperativos, Juninos e Teatrais” (NOGUEIRA et al. 2015).
Essas classificações são destacadas, em especial, naqueles trabalhos que afirmam o
Jogo como conteúdo de ensino da Educação Física (MARTINS et al. 2021; ORTEGA
e OLIVEIRA, 2015). Outros trabalhos vão destacar como aprendizagem com o jogo,
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Fazer um levantamento geral sobre o que, como e com quem brincam, pode
ser um começo, perguntas norteadoras que vão esboçar as características e
diversidades do grupo, pontuar traços da nossa própria infância, dos espaços que
brincávamos quando criança, indagando se conhecem ou não as brincadeiras, se já
ouviram falar, se conhecem as regras ou se há variações, problematizar com as
crianças sobre o brincar nos dias de hoje, se há espaços destinados a elas, do que
brincam na escola, construir um movimento de conhecer e desconhecer as
brincadeiras, o brincar enraizado em cada um, sobre o que conhecem, constroem e
compartilham, atravessados por tempos e espaços diferentes.
Uma terceira temática destacada com os resumos expandidos refere-se à
relação entre as brincadeiras tradicionais e os jogos eletrônicos. Jesus e Tavares
(2017), por exemplo, realizam um trabalho que propunha às crianças pesquisarem
“jogos virtuais” das brincadeiras tradicionais previamente pesquisadas com familiares.
Melo e Golin (2017, p. 2546), investigaram o que as crianças fazem no tempo livre, do
que brincam e discutem que “[...] o jogar-brincar vai se modificando, se reinventando
para atender as diferentes demandas da modernidade. Uma dessas atividades é o
surgimento dos jogos eletrônicos”.
Outra discussão presente nesses trabalhos é sobre a formação docente e
sobre a perspectiva infantil em relação ao brincar (ARAÚJO et al. 2017). Entretanto, é
perceptível que nos últimos anos os jogos e brincadeiras tradicionais têm sido cada
vez mais restritos à escola, fruto das inúmeras transformações sociais, que vão desde
a popularização dos jogos eletrônicos ao quase desaparecimento da cultura do brincar
na rua, dentre outros (ORTEGA e OLIVEIRA, 2015, p.1). Por outro lado, observa-se
que as crianças não fizeram diferenciação em relação aos conteúdos,
compreendendo também as modalidades esportivas no contexto de jogos e
brincadeiras.
Mesmo com metodologias e objetivos diferentes, os trabalhos tinham uma
abordagem em comum, reconheciam a importância do brincar, consideravam a
40
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
algo útil, assim como lembra Florestan Fernandes (2004), os adultos não atuem
diretamente no brincar das crianças, mas ainda assim, elas mesmas reproduzem os
estereótipos de gênero.
Com as análises dos trabalhos na área de Educação Física (Conbrace),
realizada a partir de um levantamento de dados, foi possível averiguar como está o
debate acadêmico sobre a brincadeira tradicional e o trabalho pedagógico. Dentro
dessa investigação observou-se nas pesquisas: a brincadeira em diferentes espaços;
a brincadeira a fim de resgatar vivências de outras gerações; a brincadeira a partir da
construção de brinquedos; a brincadeira como expressão do lúdico; a brincadeira e
classificando a mesma de acordo com finalidades externas a elas (tornando-a útil).
Logo, ao analisar os trabalhos ficou evidenciado que dentro das escolas a brincadeira
tem um enquadramento específico, isto é, na maioria das vezes ela está alinhada a
alguma finalidade pedagógica que não a busca de que todas as crianças possam
efetivamente se engajar com a atividade de brincar.
Essa reflexão, me trouxe mais questionamentos como, por exemplo: por que
professores pensam que é um “erro” utilizar o tempo de uma aula para brincar com as
crianças? Porque os professores se sentem “culpados” em não estar cumprindo uma
carga de conteúdos ao destinar um tempo para brincar? Diante das mudanças e
transformações da sociedade globalizada na qual estamos vivenciando, as crianças,
pouco utilizam o espaço da rua para brincar e passam maior parte do seu cotidiano
na escola. Em concordância com Quinteiro e Carvalho (2007) “a escola, na atualidade,
é um lugar privilegiado para que a criança possa viver a infância na sua plenitude, o
que envolve a realização dos direitos de participar, brincar e aprender” (p.131, 2007).
Diante disso, novas questões podem ser feitas: a escola tem de fato assegurado o
direito de brincar, entre todos os seus pares? O que, como e de que tem brincado as
crianças neste espaço? O que as crianças da sociedade atual irão contar sobre suas
infâncias e brincadeiras na vida adulta?
Nesta caminhada de pesquisa, ao me debruçar sobre a temática em questão,
se fortaleceu a concepção de transformação e permanência de uma ou de várias
brincadeiras, da qual devem estar atravessadas a transformação e permanência da
ação docente. Para que esta prática aconteça de fato, enquanto educadores,
precisamos compreender que o brincar e brincadeira, sem estar articulado a alguma
finalidade específica, também pode revelar múltiplas aprendizagens para as crianças,
44
5 REFERÊNCIAS
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ciclo do Ensino Fundamental. XX CONBRACE VII CONICE, Goiânia-GO, 2017.
JESUS, Jean; TAVARES, Raquel. Uma Dialética Pedagógica Possível: A simbiose entre o
celular e os jogos tradicionais no ambiente escolar. XX CONBRACE VII CONICE, Goiânia-
GO, 2017.
LIMA, Felipe; et al. Programa Aretê- Projeto Jogos Escolares: novos significados a velhos
jogos.
MARTINS, Naiara; et al. Fanzine e Jogos Populares nas aulas de Educação Física nos anos
iniciais do COLUN/UFMA. XXII CONBRACE IX CONICE, 2021.
MEIRELLES, Renata; et al. “Olhares por dentro do brincar e jogar, atualizados no corpo
em movimento". Sem data.
46
NETA, Marina; et al. Dimensão Conceitual dos Jogos Populares no Ensino Fundamental:
Trocas pedagógicas a partir do PIBID/UFMA. XXII CONBRACE IX CONICE, 2021.
ROCHA, Robinson. Os Jogos Olímpicos nas aulas de Educação Física em relato de prática.
XX CONBRACE VII CONICE, Goiânia-GO. 2017.
SILVA, José Antonio; SILVA JUNIOR, Genival. Jogos e Brincadeiras a partir de uma
Perspectiva Crítica: Relato de experiência com os 1º anos de Ensino Médio em Glória do
Goitá-PE. XIX CONBRACE VI CONICE,Vitória-ES, 2015.
SILVA, Mauricio Roberto da. Exercícios de ser criança: o corpo em movimento na educação
infantil. ARROYO, Miguel G., SILVA, Mauricio Roberto da. Corpo Infância: exercícios
tensos de ser criança – por outras pedagogias dos corpos. Petrópolis; Vozes, 2012, p.115-
139.
ZATZ, Silvia; ZATZ, André; HALABAN, Sergio. Brinca comigo!: tudo sobre brincar e os
brinquedos. Marco Zero, 2006.