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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE


NÚCLEO DE FORMAÇÃO DOCENTE
CURSO DE MATEMÁTICA - LICENCIATURA

DAYSE DANIELA DE CARVALHO DOS ANJOS

DESIGUALDADE SOCIAL E EDUCACIONAL: UMA AVALIAÇÃO ACERCA DAS


EXPERIÊNCIAS DOS DISCENTES DO CURSO DE MATEMÁTICA NO CAA NA
PERSPECTIVA DE BOURDIEU

Caruaru
2021
DAYSE DANIELA DE CARVALHO DOS ANJOS

DESIGUALDADE SOCIAL E EDUCACIONAL: UMA AVALIAÇÃO ACERCA DAS


EXPERIÊNCIAS DOS DISCENTES DO CURSO DE MATEMÁTICA NO CAA NA
PERSPECTIVA DE BOURDIEU

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Graduação em
Matemática-Licenciatura da Universidade
Federal de Pernambuco, como requisito
parcial para a obtenção do título de
Licenciada em Matemática.

Área de concentração: Ensino de


Matemática.
Orientador: Prof. Dr. Marcílio Ferreira dos
Santos.

Caruaru
2021
Catalogação na fonte:
Bibliotecária - Simone Xavier - CRB/4 - 1242

A599d Anjos, Dayse Daniela de Carvalho dos.


Desigualdade social e educacional: uma avaliação acerca das
experiências dos discentes do curso de matemática no CAA na perspectiva
de Bourdieu. / Dayse Daniela de Carvalho dos Anjos. – 2021.
63 f. ; il. : 30 cm.

Orientador: Marcílio Ferreira dos Santos.


Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Federal de
Pernambuco, CAA, Licenciatura em Matemática, 2021.
Inclui Referências.

Desigualdade social. 2. Educação. 3. Matemática – Estudo e


ensino 4. Professores - Formação. I. Santos, Marcílio Ferreira dos (Orientador).
II. Título.

CDD 371.12 (23. ed.) UFPE (CAA 2021-


DAYSE DANIELA DE CARVALHO DOS ANJOS

DESIGUALDADE SOCIAL E EDUCACIONAL: UMA AVALIAÇÃO ACERCA DAS


EXPERIÊNCIAS DOS DISCENTES DO CURSO DE MATEMÁTICA NO CAA NA
PERSPECTIVA DE BOURDIEU

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Graduação em
Matemática - Licenciatura da Universidade
Federal de Pernambuco, como requisito
parcial para a obtenção do título de
Licenciada em Matemática.

Aprovada em: 29/06/2021.

BANCA EXAMINADORA

Profº. Dr. Marcilio Ferreira dos Santos (Orientador)


Universidade Federal de Pernambuco

Profª. Drª. Jaqueline Aparecida Foratto Lixandrão Santos (Examinador Interno)


Universidade Federal de Pernambuco

Profª MScª Lidiane Pereira de Carvalho (Examinadora Externa)


Universidade Federal de Pernambuco
AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Prof. Dr. Marcilio Ferreira dos Santos, agradeço pela
orientação, tempo, ensinamentos, dedicação e paciência durante a construção desse
trabalho, tenho certeza que sem as suas contribuições esse trabalho não seria
concluído.
A minha família agradeço pelo apoio e carinho.
A minha filha Maysa, que é o grande amor da minha vida. Aos meus sobrinhos,
Carlos Daniel, Lyvia Karla, Isabela e Lara que sempre trazem felicidade a minha vida.
Agradeço a minha amiga Elba Cristina pela parceria durante toda a graduação,
me sinto abençoada por ter a sua amizade, serei sempre grata pela sua vida.
Aos meus amigos Daisy Veruska, Mércia Amorim, Eunice Freitas, Jennifer,
Samara, Thamires, Thaís, Débora, Almir, César Menezes, Rosivalda, João Victor,
agradeço pelo incentivo e amizade.
RESUMO

Estabelecer reflexões que possibilitem entender como a sociedade se


posiciona em relação aos problemas sociais, educacionais, bem como as
desigualdades, é de suma importância para que conheçamos como nossa sociedade
foi formada. A análise desse contexto nos permitiu encontrar respostas para o nosso
objeto de estudo; que foi compreender os impactos da desigualdade social na
aprendizagem. Alguns dos passos para entendermos melhor essas repercussões, é
avaliar algumas particularidades da educação em relação às desigualdades na
conjuntura social, bem como, avaliar as principais diferenças sociais existentes entre
as escolas públicas e privadas no Brasil. Através de uma breve passagem pela história
do Brasil, foi possível observar, como o país desde o início da sua história apresenta
traços de desigualdade, e mesmo passados 520 anos o nosso país ainda apresenta
um alto nível de desequilíbrio entre os mais ricos e os mais pobres. Ao longo do tempo
as disparidades continuam presentes e o ingresso ao ensino superior continua restrito.
Embora haja muito avanço, ainda é necessário viabilizar mais oportunidades de
acesso à educação, a fim de que possa proporcionar qualidade de vida para milhões
de brasileiros. Pois o conhecimento é a chave de acesso para a reflexão, crescimento
e a busca da equidade de direitos. Foi possível perceber, em nosso estudo, que a
desigualdade social não é o único fator responsável pelos impactos de desequilíbrio
na educação. Vimos também que outros fatores como: as relações familiares, as
desigualdades de renda, as relações sociais, religiosas e até mesmo o local de
nascimento dos indivíduos são fatores que podem de certa forma, repercutir direta ou
indiretamente na aprendizagem. Através da pesquisa realizada para este trabalho, foi
possível perceber como os futuros docentes em matemática relatam o apoio familiar
e incentivo recebido para cursar o ensino superior.

Palavras-chave: Desigualdade. Educação. Formação Docente. Matemática.


ABSTRACT

Establishing reflections that make it possible to understand how society


positions itself in relation to social and educational problems, as well as inequalities, is
of paramount importance for us to know how our society was formed. The analysis of
this context allowed us to find answers to our object of study; understanding the
impacts of social inequality on learning. Some of the steps to better understand these
repercussions is to evaluate some particularities of education in relation to inequalities
in the social conjuncture, as well as to evaluate the main social differences existing
between public and private schools in Brazil. Through a brief passage through the
history of Brazil, it was possible to observe how the country since the beginning of its
history has traces of inequality, and even after 520 years our country still has a high
level of imbalance between the richest and the poorest. Over time the disparities
remain present and the entry into higher education remains restricted. Although there
is much progress, it is still necessary to enable more opportunities for access to
education, so that it can provide quality of life for millions of Brazilians. For knowledge
is the key to access for reflection, growth and the search for equity of rights. It was
possible to perceive, in our study, that social inequality is not the only factor responsible
for the impacts of imbalance in education. We also saw that other factors such as:
family relationships, income inequalities, social and religious relationships and even
the place of birth of individuals are factors that can in some way, have a direct or
indirect impact on learning. Through the research carried out for this work, it was
possible to perceive how future teachers in mathematics report family support and
encouragement received to attend higher education.

Keywords: Inequality. Education. Teacher Training. Mathematics.


LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Contexto social e influências........................................................... 38


Quadro 2 Docência e mudança de hábitos...................................................... 39
Quadro 3 Ambiente acadêmico....................................................................... 40
Quadro 4 Escolaridade dos pais...................................................................... 41
Quadro 5 Profissões exercidas pelos pais dos discentes................................ 42
Quadro 6 Quadro 6: Resposta dos discentes em relação a mudança no
status social..................................................................................... 43
Quadro 7 Ganho mais relevante através da formação superior...................... 44
Quadro 8 Respostas dos participantes............................................................ 45
Quadro 9 Escolha pela docência..................................................................... 46
Quadro 10 Novos hábitos a partir da entrada no ensino superior..................... 47
Quadro 11 Posicionamento dos alunos em relação a profissão docente.......... 48
Quadro 12 Comunidade acadêmica.................................................................. 50
Quadro 13 A influência do professor................................................................. 51
Quadro 14 Criticidade promovida pela entrada no ensino superior................... 52
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 10
1.1 OBJETIVOS......................................................................................... 12
1.1.1 Objetivo geral....................................................................................... 12
1.1.2 Objetivos específicos........................................................................... 12
2 DISCUSSÃO TEÓRICA....................................................................... 13
2.1 DESIGUALDADE DE MODO GERAL.................................................. 13
2.2 RESUMO DA HISTÓRIA DA DESIGUALDADE NO BRASIL (DO
PERÍODO COLONIAL À REPÚBLICA)................................................ 15
2.3 RELAÇÃO EXISTENTE ENTRE A DESIGUALDADE E A
EDUCAÇÃO......................................................................................... 20
2.4 A DESIGUALDADE DE RENDA E A RELAÇÃO COM A
EDUCAÇÃO......................................................................................... 23
3 ESPÉCIE HUMANA EDUCAÇÃO DE DESIGUALDADE....…............ 26
3.1 O SER HUMANO PELA VISÃO DE BERNARD CHARLOT................ 26
3.2 PEDAGOGIA TRADICIONAL E PEDAGOGIA NOVA:
CONSTRUÇÃO ATRAVÉS DA VISÃO DO SER HUMANO.........….... 27
3.2.1 Pedagogia tradicional.…….............................………………………..... 27
3.2.2 Pedagogia nova................................................................................... 27
3.2.3 Tensões entre a norma e o desejo....................................................... 27
3.2.4 Relação com o saber........................................................................... 29
4 A TEORIA DO HABITUS EM PIERRE BOURDIEU............................ 31
4.1 O SISTEMA DE ENSINO..................................................................... 31
4.2 HABITUS, CAMPO E VIOLÊNCIA SIMBÓLICA.................................. 32
5 METODOLOGIA.................................................................................. 35
5.1 NATUREZA DA PESQUISA................................................................. 35
5.2 CAMPO E SUJEITO DA PESQUISA................................................... 36
5.3 INSTRUMENTO DA PESQUISA.......................................................... 36
5.4 O QUESTIONÁRIO.............................................................................. 37
6 ANÁLISE E RESULTADOS................................................................ 41
6.1 PERGUNTAS, RESPOSTAS E RESULTADOS.................................. 41
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................. 54
REFERÊNCIAS................................................................................... 56
.
APÊNDICE – QUESTIONÁRIO VIRTUAL.......................................... 61
10

1 INTRODUÇÃO

Ao longo da história, a desigualdade sempre esteve presente, e entender o


processo que levou o Brasil a ser um dos países mais desiguais do mundo, é entender
como e por que chegamos até aqui, ou seja, quais estruturas perpetuaram esta
desigualdade endêmica. A desigualdade, além de gerar o aumento da pobreza, não
permite que os mais necessitados consigam alcançar o básico para uma
sobrevivência digna. O próprio banco mundial que anteriormente defendia a ideia de
que o crescimento econômico do PIB impactaria na diminuição da desigualdade já
ponderou que as políticas as quais eles estimularam podem ter sido responsáveis pelo
aprofundamento das desigualdades.
Há quem defenda que a desigualdade não seria o principal problema, mas sim
a existência de pobreza. Mas as estruturas têm se mostrado perpetuadoras de status
quo. Isto está na sociedade de várias formas que exploraremos no texto; mas, em
resumo, quem integra a elite costuma gozar de vantagens que perpetuam números
de distribuição de riqueza como os citados acima. E, deste modo, para os mais pobres
alcançarem uma renda suficiente, ou seja, para acabarmos com a pobreza, seriam
necessárias muitas décadas. De modo que entendemos que, nesta direção, para
combater a pobreza se faz necessário combater a desigualdade.
Por muito tempo, acreditou-se que bastava ofertar uma educação pública e as
pessoas alcançariam suas posições sociais merecidas pelo próprio esforço.
Entretanto alguns relatórios começaram a enfraquecer essas teses, pois foi possível
verificar que as escolas, na realidade, serviam como perpetuadoras dos privilégios ao
valorizar certas bagagens culturais que os alunos mais abastados teriam. De modo
que, mesmo em uma sociedade com boas escolas para todos, a bagagem cultural
dos pais reservou aos filhos posições privilegiadas na sociedade.
Alguns importantes trabalhos nesta direção são devidos ao sociólogo francês
Bourdieu, que ao conferir dados de Liceus de Paris pôde notar que os alunos em
situação de fracasso escolar eram estatisticamente filhos dos mais pobres e os mais
bem sucedidos tinham pais com bagagem cultural que tornaria suas experiências na
escola mais facilitada. Este determinismo social do fracasso acabou por enfraquecer
a convicção das pessoas e gerar revoltas dos setores médios da sociedade e dos
pobres que percebiam que tinham sido enganados pela utopia meritocrática.
11

Como a desigualdade afeta a vida da população e quais os reflexos na


aprendizagem dos alunos são alguns dos questionamentos presentes neste trabalho.
Assim como: A desigualdade de renda tem influência na aprendizagem? As provas
externas refletem realmente o que os alunos aprenderam? A aprendizagem em
matemática é maior em escolas privadas?
Algumas destas questões já têm respostas e nos preocupamos em reconstruir
um apanhado de trabalhos que demonstrem estes fatos com nossa revisão de
literatura. Entretanto, compreender a desigualdade ainda não é um problema
concluído. Muitos dos teóricos da educação, além de compreenderem a estrutura,
passaram a estudar meios de contornar os problemas, visando alcançar uma
sociedade verdadeiramente mais justa.
Os reflexos da não aprendizagem podem permanecer durante toda a jornada
escolar dos alunos, no entanto, pode gerar consequências muito mais sérias quando
esse aluno ingressar no mercado de trabalho, ou até mesmo fazendo com que ele não
consiga concluir todas as etapas escolares.
Todos esses questionamentos fazem refletir em como a educação pode
aumentar ou diminuir a desigualdade. Como os alunos brasileiros mais pobres
chegarão ao mercado de trabalho, estamos formando adultos reflexivos, ou apenas
passando a cada ano os alunos para a etapa seguinte.
12

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo geral

Examinar, sobre a ótica da teoria de Bourdieu, como as experiências acadêmicas e


pessoais dos discentes da Matemática Licenciatura UFPE contribuíram em suas
trajetórias acadêmicas.

1.1.2 Objetivos específicos

● Compreender as relações de desigualdade no Brasil ao longo da história.


● Estudar a origem da Escola Pública no Brasil desde a sua função e as suas
influências na história de desigualdade dos brasileiros.
● Compreender a trajetória dos estudantes de matemática do CAA.
13

2 DISCUSSÃO TEÓRICA

Neste capítulo, apresentaremos como o conceito de igualdade está presente


na sociedade, além de explorarmos como a desigualdade está presente na história do
Brasil desde o período colonial. Também será possível conhecer se existe relação
entre a desigualdade e a matemática.

2.1 DESIGUALDADE DE MODO GERAL

O conceito de igualdade está presente na consciência dos indivíduos a muito


tempo. Em ciência política, a igualdade é a pressuposição que dois indivíduos não se
distinguem entre direitos e deveres. Na constituição, o conceito de igualdade é
expresso da seguinte forma: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes da constituição federal”. (BRASIL, 2016).
Segundo Cantante (2019), a ideia de igualdade ou desigualdade econômica e
social é uma temática importante desde a antiguidade ocidental, sendo tema de
debates frequentes na história da política do mundo ocidental. Ainda segundo
Cantante (2019), os conceitos de igualdade ou desigualdade são uma forma de
compreender como se comportam membros ou grupos sociais, é também um modo
de entender a construção de uma sociedade.
Considerando-se a diversidade na sociedade, a equidade passa a ser um
conceito necessário ao adaptar os direitos e deveres a situações e assim tornar sua
aplicação mais justa. Apesar da igualdade constar nas constituições há muito tempo,
só com o passar dos anos e muitas reivindicações as interpretações progressistas
passaram a incluir igualdade de raça, gênero, credo e afins.
Defende-se a ideia de uma sociedade igualitária, com oportunidades iguais
para todos, mas, afinal, ainda existem muitos aspectos de desigualdade nas
sociedades. Ser desigual quase sempre implica ter um grupo inferior a uma condição
média considerada razoável. Enxergar as desigualdades como um fato existente
ainda é um desafio, pois costuma mexer com privilégios de certas classes que não
aceitam facilmente terem que mudar seu modo de vida. Por outro lado, para Pinheiro
14

(2009), não existe quem esteja satisfeito com a inferioridade, é muito mais fácil falar
em igualdade do que de fato alcançá-la.
A igualdade pressupõe a cidadania, pois ser cidadão é ter direitos cívicos,
políticos e sociais, segundo a visão de Marshall (1950). Por último, não casualmente,
os direitos sociais foram os últimos a serem reconhecidos como dever do estado para
com seus cidadãos. Por exemplo, o direito à educação não existia antes da
constituição de 1988, ou seja, o estado não era obrigado a fornecer educação gratuita
a quem não pudesse pagar, sendo considerada uma assistência ou um amparo para
quem não pudesse pagar. De modo que estas questões passaram a ser consideradas
essenciais para a cidadania recentemente e são contempladas atualmente pela
declaração de direitos humanos.
Desde o fim do século XIX, a discussão sobre a problemática da desigualdade
muda do paradigma do Darwinismo social que pressupunha que a desigualdade era
uma característica inerente a raça humana, ou seja, a própria superioridade dos seres
humanos levaria certos seres humanos a merecerem e concretizarem que
acumulassem grandes fortunas e, portanto, não seria uma consequência da estrutura
social. A principal referência nessa perspectiva seria o Spencer que acabou por ser
parcialmente apagado da história da sociologia por seus contemporâneos Karl Marx,
Émile Durkheim e Max Weber que passaram a ser considerados seus pais
fundadores. A desigualdade, neste ponto, adquiriu legitimidade intelectual e política,
e daí em diante o debate entre reformistas, revolucionários e conservadores se
efervesceu, incluindo, mesmo nos contrários a visão do combate à desigualdade, uma
visão da sociedade estratificada, ou seja, baseada no conflito entre as classes (De
Souza, 2018).
Thomas Piketty em seu livro O capital no século XXI (PIKETTY, 2014) retoma
a temática, ressaltando o problema da acumulação de riqueza e as consequências da
geração de muito ricos, mostrando que a discussão é muito atual (DE SOUZA, 2018).
O geógrafo brasileiro Milton Santos, em seu livro O Espaço do Cidadão
(SANTOS, 2007), discute o que é a cidadania. Em resumo, entendemos ser cidadão
o indivíduo com seus deveres e direitos garantidos. Não apenas proferidos na carta
magna, mas presentes na existência dos indivíduos, sendo isto muito importante. Não
basta apenas termos a declaração que somos cidadãos, é necessário o acesso aos
direitos fundamentais. Caso contrário, o texto se torna apenas de retórica persuasiva.
O livro citado é provocativo ao esquadrinhar a cidadania e as diferenças de acesso a
15

direitos dependendo da classe do indivíduo e da sua distribuição espacial, pois, por


exemplo, num aspecto simplista 35,7% da população não tem acesso a esgoto em
2019 e as regiões Norte e Nordeste são as mais afetadas. Reforçando a tese de
Santos que a cidadania também influencia na distribuição social e espacial.
A distribuição desigual de oportunidades, escolaridade, renda, qualidade de
vida e de conhecimento, tornam as condições sociais cada vez mais precárias. Quem
tem muito, recebe muito e tem acesso a direitos políticos que garantem esse privilégio.
Por outro lado, quem tem pouco, recebe pouco e quem não tem nada, continua sem
nada. Assim, por não haver perspectiva de ter suas reivindicações atendidas, os
direitos políticos, sociais caem como retórica frágil para o povo. A desigualdade é um
fenômeno social, com efeitos negativos, sentidos principalmente em grupos mais
vulneráveis. Cantante (2019), expõe que a frequente desigualdade pode gerar
conflitos, retomando a longa discussão exposta por (De Souza, 2018), sendo a
igualdade um fator que garante o equilíbrio de uma sociedade.
Fica evidente que, embora a desigualdade esteja presente e seja um tema
debatido em diversos momentos da história, ainda não foi possível a construção de
uma sociedade com condições de igualdade ou ainda que garanta o equilíbrio social.
Também não há consenso político e quais medidas devemos adotar para combater o
aprofundamento das desigualdades. Por outro lado, pelo exposto, é evidente que a
desigualdade é um problema social a ser combatido devido a tamanhas mazelas que
ela gera.

2.2 RESUMO DA HISTÓRIA DA DESIGUALDADE NO BRASIL (DO PERÍODO


COLONIAL À REPÚBLICA) E SUAS RELAÇÕES COM A EDUCAÇÃO.

Com a chegada de Pedro Álvares Cabral e suas embarcações nas praias da


Bahia em 22 de abril de 1500, começa o que se conhece historicamente como o
descobrimento do Brasil. Os índios que habitavam as terras brasileiras foram
enganados, passaram a trocar madeira, e todas as riquezas naturais que eram
encontradas em solo brasileiro. Os portugueses ofereciam materiais sem qualquer
valor, e levavam o que de melhor existia. Com o passar do tempo, os índios perdem
o interesse pelas bugigangas europeias e passam a resistir e a oferecer o trabalho
braçal. Pela falta de mão-de-obra e com a intenção de aumentar a produção, é trazido
ao Brasil as primeiras embarcações de escravos. Nativos da África, os escravos eram
16

obrigados a trabalhar em muitas situações até a morte, as mulheres além de


escravizadas, estupradas e seus filhos sofriam todo tipo de abusos.
O período entre o descobrimento em 1500 até seu fim em 1808 é conhecido
com período colonial. Nessa época, a educação existente nas tribos que habitavam
o Brasil baseava-se em aprender através da observação do trabalho exercido pelos
membros mais velhos da tribo, ou também, por meio da realização direta das
atividades. Segundo Costa e Menezes (2009) os índios mais velhos ensinavam aos
mais novos as regras de convívio social, os rituais, o trabalho e a guerra, entre outras
atividades. Com a chegada dos europeus, a educação deixa de ocorrer de maneira
informal, passando a acontecer através de preceitos religiosos, conhecido como
catequese.
Costa e Menezes (2009, p. 32), descrevem a educação brasileira no período
colonial, no trecho abaixo:
Falar de educação na sociedade colonial brasileira é falar de como os
homens se educavam, os valores e virtudes a serem favorecidos, os
vícios a serem evitados, os saberes considerados fundamentais para
o exercício da vida comum ou da vida letrada, tudo isso em meio a um
contexto em que o Brasil, enquanto nação, não existia ainda, pois
predominava a política, a economia, a cultura portuguesa.

Para Ribeiro (1993), no período colonial brasileiro, a mão de obra que existia
era a mão-de-obra escrava e a dominação estava nas mãos dos proprietários de
terras. Uma sociedade burguesa necessitava apenas do trabalho braçal, não havendo
interesse que seus membros fossem alfabetizados.
Segundo Ribeiro (1993, p.1) afirma que:
Uma sociedade latifundiária, escravocrata e aristocrática, sustentada
por uma economia agrícola e rudimentar, não necessitava de pessoas
letradas e nem de muitos para governar, mas sim de uma massa
iletrada e submissa. Neste contexto, só mesmo uma educação
humanística voltada para o espiritual poderia ser inserida, ou seja,
uma cultura que acreditava ser neutra.

Para que os nativos continuassem a ser explorados e pudessem ser


convertidos ao cristianismo, em 1549 chegaram ao Brasil os padres da ordem dos
jesuítas, juntamente com Tomé de Souza que era o primeiro governador geral da
colônia portuguesa.
De acordo com Ribeiro (1993), a Companhia de Jesus veio para o Brasil com
o objetivo de converter os índios ao catolicismo e assegurar que esses continuariam
17

a ser dominados pelos portugueses. Ribeiro (1993) ainda expõe que a educação
média era um privilégio para homens brancos da classe dominante, exceto para as
mulheres e o filho primogênito, que deveria permanecer junto ao pai para futuramente
assumir a administração das propriedades da família. A educação superior na colônia
seria voltada apenas para os filhos da nobreza que quisessem ingressar na classe
sacerdotal. Portanto, a educação de qualidade no Brasil, visava uma minoria da
população (elite) sempre reproduzindo e mantendo as desigualdades como fator de
dominação. Com a expulsão dos padres jesuítas em 1759 de Portugal e de todas as
suas colônias, inicia-se o período conhecido como Pombalino, o período recebeu esse
nome em referência ao ministro de Portugal, o Marquês de Pombal.
O período Pombalino é iniciado e decorre até o ano de 1788. Nesse período,
Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido como Marquês de Pombal,
instaura uma nova reforma administrativa e educacional. Após o período de quase
dois séculos da intervenção dos Jesuítas na colônia brasileira, a reforma proposta
pelo Marquês de Pombal tira das mãos da Companhia de Jesus a educação dos
colonos brasileiros, e a educação passa a ser responsabilidade da coroa portuguesa.
De acordo com Maciel e Neto (2006, p. 470), “Na administração de Pombal, há
uma tentativa de atribuir à Companhia de Jesus todos os males da Educação na
metrópole e na colônia, motivo pelo qual os jesuítas são responsabilizados pela
decadência cultural e educacional imperante na sociedade portuguesa”.
Scachetti (2013) relata que no período pombalino, durante o reinado de Dom
José I, houve interesse que o reino evoluísse, as aulas que eram ministradas pelos
padres jesuítas passaram a ser ministradas por professores que participaram do
primeiro concurso público para professores em 1760 que ocorreu no Recife, as aulas
ministradas eram de ler, escrever, contar e humanidades, a educação passou a ser
laica, no entanto, o catolicismo ainda estava presente.
Segundo Maciel e Neto (2006, p.470), o Marquês de Pombal pretendia inserir
medidas para organizar a educação, isso porque, ele não acreditava que a educação
existente era satisfatória.

As principais medidas implementadas pelo marquês, por intermédio


do Alvará de 28 de junho de 1759, foram: total destruição da
organização da educação jesuítica e sua metodologia de ensino, tanto
no Brasil quanto em Portugal; instituição de aulas de gramática latina,
de grego e de retórica; criação do cargo de ‘diretor de estudos’ –
pretendia-se que fosse um órgão administrativo de orientação e
18

fiscalização do ensino; introdução das aulas régias – aulas isoladas


que substituíram o curso secundário de humanidades criado pelos
jesuítas; realização de concurso para escolha de professores para
ministrarem as aulas régias; aprovação e instituição das aulas de
comércio.

As mudanças propostas por Pombal, foram consideradas impossíveis e


inalcançáveis, fazendo com que as alterações não se cumprissem. Com o fim do
período pombalino, inicia-se o Período Imperial Brasileiro, esse período tem seu início
em 1822 e é finalizado em 1889 com a proclamação da república. No período imperial,
a economia presente ainda era construída através da mão de obra escrava, a
educação continuava predominantemente para a parcela elitizada da sociedade. Com
a intenção de inserir um novo regime político e retirar das mãos dos senhores de
engenho a criação e a aplicação das leis, o imperador Dom Pedro I convocou eleições
para construção de uma Assembleia Nacional Constituinte, embora, essa Assembleia
tenha sido aprovada, pouco tempo depois foi esquecida e anulada, mesmo assim, as
mudanças na organização da educação começam a acontecer.
A partir desse momento, a educação no Brasil começa a ser pensada e
organizada em um modelo de educação nacional. No entanto, Silva e Santos (2019)
apontam que o interesse em organizar a educação no período imperial seria para
suprir os desejos da sociedade com maior poder aquisitivo e continuar a excluir os
grupos menos favorecidos. Ainda segundo os autores citados anteriormente, a
educação no período imperial estava organizada em três níveis: no nível primário era
possível aprender a ler e a escrever, no nível secundário estavam as aulas régias e o
nível superior estava à disposição da elite. Em 1827, os cursos das primeiras letras e
os cursos jurídicos entram em vigor em São Paulo e Olinda, no entanto, esses cursos
são voltados apenas para atender os interesses da elite. Em 1871, a escravidão
teoricamente começa a ser finalizada, a Lei do Ventre Livre garante a liberdade aos
filhos nascidas de escravas. Em 1885, a Lei dos Sexagenários permite que os
escravos maiores de 65 anos sejam livres e finalmente em 1888 é instaurada a lei
Áurea, permitindo a abolição da escravidão (Correa, 2019).
De modo geral, infere-se que a estrutura do estado estava definindo, através
da educação, a classe dos que ocuparam cargos elevados e a classe da “ralé”
brasileira. Como a elite tinha acesso a formação mais elevada, ocuparia cargos de
poder no estado e “confirmaria” a desigualdade entre os brasileiros.
19

A conspiração do golpe militar de 1889 organizado pelo Marechal Deodoro da


Fonseca, daria início a queda da monarquia, porém, Deodoro da Fonseca não derruba
a monarquia nesse primeiro encontro, apenas é tirado de cena o presidente do
conselho dos ministros. Em 15 de novembro de 1889 é proclamada a República do
Brasil. Começa, então, o período da Primeira República (1889 a 1930), nesse período
o governo federal iniciou várias reformas educacionais.
Com a constituição de 1891, o Brasil passa a ter pela primeira vez um sistema
presidencialista, é instaurado os poderes executivo, legislativo e judiciário, além disso,
o direito ao voto conferido anteriormente apenas aos mais ricos, passa a ser direito
de todos ao menos na retórica do texto. No entanto, segundo Oliveira e Santana
(2010) a União que antes era responsável pela educação no país, assume apenas a
educação no Distrito Federal, transferindo aos estados a responsabilidade de
organizar o seu próprio sistema educacional. Ainda segundo Oliveira (2010) os
estados do Sul e Sudeste constroem seus próprios sistemas de ensino e transferem
aos seus municípios, porém, os estados do Norte e Nordeste não se responsabilizam
em construir seus próprios sistemas, deixando os municípios com essa
responsabilidade. Essa transferência de responsabilidade da União, passa a gerar um
grande desequilíbrio educacional, enquanto os estados do sul e sudeste avançam, os
estados do norte e nordeste passam a ter uma educação precária e desorganizada.
Esta decisão, em um país continental, marcada por estruturas de poder e interesses
distintos de regiões. A saber, o Coronelismo foi marcante no Brasil por muitas décadas
e influenciando os processos eleitorais e consequentemente as estruturas que
garantiriam a cidadania e igualdade dos brasileiros.
Para Oliveira e Santana (2010, p. 16) essa desorganização é a primeira
exclusão de atendimento no Brasil.
Essa diferença na forma de expansão, em certa medida decorrente da
estrutura tributária vigente, é a explicação primeira da desigualdade
no atendimento educacional no país. Os estados mais ricos
assumiram diretamente a responsabilidade pela oferta e os mais
pobres passaram-na para seus municípios, ainda mais pobres que os
respectivos estados. Estes se desincumbiram da tarefa nos limites de
suas possibilidades.

Em 1930, com o governo de Getúlio Vargas, a educação volta a ser


responsabilidade do governo federal, contudo, Oliveira e Santana (2010) relatam que
poucas mudanças ocorreram com essa volta de responsabilidade a União.
20

O problema é que, quando se analisa a materialização desse arranjo,


observa-se que a desigualdade se mantém significativa, posto que a
divisão dos recursos orçamentários, decorrente da estrutura tributária,
não se altera. Tal situação é agravada com a Constituição de 1988, ao
incorporar o município como ente federativo, evidenciando-se
descompasso entre os recursos disponibilizados a cada um e suas
responsabilidades na oferta educacional, mesmo considerando-se os
mecanismos de transferências intergovernamentais.

Centralizar a educação não causa um grande impacto se não existe


proporcionalidade de recursos orçamentários. Assim a capacidade de um município
de gerir a educação já é, na origem, desigual. Aprofundando ainda mais a
desigualdade.
Uma “lei do boi” que mostra o quanto as estruturas legais no Brasil estimularam,
ao contrário do que faria sentido, os filhos da elite a terem mais oportunidades
reservadas. Assim, por um tempo no Brasil, ao invés de compensar a desigualdade
de acumulação de terras, eles buscaram favorecer quem já tinha terras. A ideia seria
que o mau uso do solo diminuiria a oferta de terra e concentraria as terras nas mãos
de alguns poucos. Assim eles ofertaram cotas aos filhos de proprietários de terra com
a justificativa que se eles pudessem preservar mais o solo, sobraria mais para os
outros cidadãos (MAGALHÃES, 2017). Deste modo, eles evitariam a redistribuição de
terra e aumentavam ainda mais a diferença formativa entre o camponês e o filho da
elite.
Em 1996, uma nova política de transferência de recursos é iniciada, a partir
desse momento os estados começam a receber recursos financeiros federais pela
quantidade de gastos de cada aluno matriculado, para que os recursos federais
chegassem integralmente aos estados era necessário que a média nacional de
educação fosse atingida. Embora, a política de transferência per capita possa ser vista
como algo positivo, a desigualdade de recursos estava em desequilíbrio, enquanto os
estados mais ricos conseguiam está acima da média nacional de educação e ter um
grande número de alunos matriculados, estados mais pobres recebiam menos
recursos, pois, como não tiveram oportunidades de atingir metas decorrente de
processos que não favoreceram uma educação com qualidade anteriormente,
sofreram mais com esse processo.
Em 2007 é criado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), a partir da criação
21

do Fundeb a União começa a distribuir os recursos de acordo com a economia e o


desenvolvimento social de cada região brasileira.

2.3 RELAÇÃO EXISTENTE ENTRE A DESIGUALDADE E A EDUCAÇÃO

A matemática europeia proveniente dos gregos, surge na época de Tales e


Euclides, é traduzida pelos árabes, retornando para Europa entre os séculos XIII e
XV. Contudo, esse relato surge do princípio de que a matemática seria um saber
único, divulgado pelos egípcios e mesopotâmicos, sendo uma criação dos gregos. No
entanto, não há indícios suficientes que comprovem essas colocações, visto que,
quando a matemática grega surge, a matemática da Mesopotâmia já estava
desaparecida (Roque, 2012).
No Egito, a matemática era feita pelos escribas reais, eles eram responsáveis
por contabilizar os gastos com as construções, calcular os impostos que seria
devolvido ao faraó, além de ficarem responsáveis por toda administração. Dessa
forma, a matemática surge no Egito também com a intenção de contabilizar os lucros
e evitar os prejuízos.
No século XIV, surge o movimento dos humanistas italianos, esse movimento
aparece com a intenção de enaltecer a sabedoria dos europeus mais antigos.
Diversos trabalhos foram escritos para elevar o conhecimento matemático dos gregos,
deixando de lado as contribuições de outros matemáticos de outras nacionalidades.
A função da matemática não deve ser apenas de enaltecer uma parte da história, sua
função também deve ser social e política (Ramos, 2012).
Na Europa do século XVI, na cultura europeia não havia separação entre o
tratamento do conhecimento de alto nível e da cultura popular, a compreensão entre
os saberes de diferentes classes sociais era compartilhada, estando à disposição de
todos. No entanto, com tensões que seguiram pela obtenção de demarcação de
conhecimento superior. O conhecimento que antes era compartilhado, passa a ser
dividido por classes sociais. “A imagem da Matemática como um saber superior,
acessível a poucos, ainda é usada para distinguir as classes dominantes das
subalternas, o saber teórico do prático.” (RAMOS, 2012. p.12).
Com a divisão das classes sociais, o conhecimento de alto nível fica à
disposição de uma pequena parcela privilegiada da sociedade, impedindo que a
maioria consiga ter acesso aos benefícios que esse conhecimento pode proporcionar.
22

O acesso à educação de qualidade permite a uma sociedade benefícios que


vão além de ganhos econômicos. Uma população mais educada, tem maior
conhecimento de seus direitos, cuida melhor da saúde, têm maior consciência na
escolha de seus representantes políticos. Em contrapartida, espera-se de uma
sociedade com menores índices educacionais, convivendo com mais violência, fome,
pobreza, maior quantidade de população carcerária, além de possuir mais analfabetos
ou população menos alfabetizada. Não que a falta de formação implique em menores
critérios morais, mas que uma população com mais “ferramentas” está mais apta a
buscar alternativas criativas a seus problemas. Encontrando essas soluções e
sabendo buscar seus direitos, o cidadão passa ter valor para as estruturas de poder,
devido a eles organizados serem capazes de exigirem que seus direitos sejam
restabelecidos.
Para fundamentar esta relação grau de escolaridade ou acesso à educação
versus ganhos de cidadania, citamos alguns artigos que debatem a relação acesso à
educação com alguns índices sociais. Não estamos preocupados, neste trabalho, em
apontar a causalidade da questão, mas apontar essa relação estatística entre os
dados. Um estudo muito popular acerca do resultado de se investir em educação foi
feito pelo, agraciado com o Prêmio de Ciências Econômicas em Homenagem ao
Nobel James Heckman. No relatório (UNESCO, 2007), alguns estudos com
argumento econômico mostraram que, quando dois grupos de alunos foram
acompanhados, sendo estes dois grupos de crianças de 3-6 anos, onde o primeiro
grupo teve acesso a uma pré-escola de alta qualidade e puderam se desenvolver
nesta fase. Enquanto o outro grupo não teve a mesma oportunidade. Com o passar
dos anos observou-se que as médias e o “sucesso escolar” e profissional tendiam
para o ganho do grupo que teve acesso a uma educação melhor.
A importância do trabalho é devido a demonstrarmos que não existe
superioridade dos que alcançam o sucesso escolar. Isto se trataria apenas do
resultado de um investimento, da oferta de oportunidade. Quem não tem oportunidade
não obtém o sucesso estatisticamente e nada mais.
Claro que o trabalho mostra que ao investir mais cedo, você teria retornos
maiores, incluindo mostrando que os que tiveram oportunidade de estudo mais cedo
tiveram menor tendência estatística de terem cometido crime no futuro, mas não
elimina a importância de investir em educação em qualquer fase da vida acadêmica.
23

Queremos citar também que (REIS, 2011, p. 192), mostra que pais mais
educados implicaram em filhos que iriam mais adiante na vida acadêmica e teriam
maior rendimento no futuro:
Evidências na literatura mostram que as diferenças educacionais,
assim como nos rendimentos, apresentam um elevado grau de
persistência de uma geração para outra no Brasil. Os resultados
apresentados nesse artigo indicam que a estrutura educacional da
família parece ter um papel importante nesse processo de transmissão
da desigualdade de rendimentos entre gerações. Trabalhadores cujos
pais ou mães alcançaram níveis mais altos de educação tendem a
apresentar não apenas mais anos de estudo em média, como também
os retornos à escolaridade são maiores do que aqueles cujos pais ou
mães adquiriram poucos anos de escolaridade. (REIS, 2011, P. 192)

Assim, investir na educação dos jovens de hoje implicaria, dentro de condições


a serem estudadas, além do resultado na sociedade atual, num impacto nos filhos
destes jovens. Num ideal progressista de sociedade onde o investimento nesta
geração potencializa o resultado das gerações vindouras.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública do Brasil no ano de 2017, após
levantamento sobre dados penitenciários, chegou ao chocante número de 726.712
encarcerados nos presídios brasileiros. Além disso, segundo o Conselho Nacional de
Justiça, através de uma pesquisa realizada no ano de 2018, foi possível verificar que
há mais de 22 mil adolescentes infratores internados nas unidades socioeducativas.
Dados do Portal Educação (2015) expõem que mesmo estando no século XXI o Brasil
ainda possui 14 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais. A maior parte da
população carceraria é do sexo masculino, predominam pretos, pardos, pobres e com
menor nível de escolaridade. Dessa maneira, fica claro que a educação brasileira
ainda está muito distante de permitir uma vida com maior dignidade para a maior parte
dos brasileiros.
Mesmo com os investimentos do governo federal, através das metas do Plano
Nacional de Educação (PNE), a educação não tem chegado com a mesma qualidade
para todos os estudantes brasileiros, um exemplo disso, pode ser comprovado através
do exame internacional Pisa, onde o resultado das provas dos estudantes brasileiros
de escolas públicas em matemática e ciências esteve entre os dez piores dos 70
países participantes da avaliação no ano de 2015. Em nova avaliação do Pisa em
2018, foi possível verificar que os estudantes que pertencem a níveis
socioeconômicos mais altos estão há quase três anos de aprendizagem à frente dos
estudantes de níveis econômicos mais baixos. Com esses resultados é possível
24

verificar que os estudantes mais pobres aprendem menos, e estão atrasados em


relação aos estudantes de classe média e alta, principalmente na aprendizagem em
matemática.
Matos (2005, p.2) mostra como aprendizagem matemática pode incluir ou
excluir:
A matemática é tipicamente um mistério para muita gente e tem lhe
sido oferecido o papel de juiz pseudo-objectivo, que decide quem está
apto e quem está inapto na sociedade, rotulando e posicionando as
crianças, os jovens e os adultos como aptos ou como inaptos, e por
isso tem servido como um dos guardiões do direito de participação nos
processos de decisão da sociedade.

Sendo assim, saber matemática poderia ser um instrumento que permitiria


ascensão social. Visto que, diante dos parâmetros sociais, quem sabe mais
matemática é mais capaz.
Exames e avaliações nacionais e internacionais, podem servir como medida
para análise de dados sobre aprendizagem, do mesmo modo, que são um indicador
do desequilíbrio entre os que terão sucesso ou não. Visto que, o acesso aos cursos
superiores mais desejados socialmente e que garantem melhor remuneração salarial
são destinados a quem consegue melhor pontuação.
Para Nascimento (2021) o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), é outro
fator que traz desequilíbrio para o acesso dos estudantes menos favorecidos aos
cursos com maior prestígio social. Visto que, os estudantes com maior poder
econômico estão em melhores escolas, conseguem ter acesso a internet facilmente,
contam diariamente com alimentação balanceada, aulas de reforço, cursinhos e
dedicação exclusiva aos estudos, enquanto os mais pobres não conseguem em
muitas ocasiões ter acesso a alimentação nas principais refeições, além disso, grande
parte precisa trabalhar para ajudar os pais, ou ainda, cuidar de outros membros mais
novos da família, criando um abismo de aprendizagem gigantesco diante das
diferentes realidades sociais.

2.4 A DESIGUALDADE DE RENDA E A RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO

Através de pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística (IBGE), no Brasil o “rendimento do 1% que ganha mais equivale a 33,7
vezes a da metade da população que ganha menos”. O rendimento médio real dos
25

trabalhadores brancos corresponde a (R$2.999), pardos (R$1.719) e pretas


(R$1.673). Os ganhos também estão relacionados com o gênero, os homens ganham
em média 28,7% a mais que as mulheres (IBGE, 2019).
O grau de escolaridade é outro fator que demonstra a diferença salarial dos
brasileiros, o rendimento das pessoas com ensino superior completo é três vezes
maior que as pessoas com ensino médio completo e seis vezes maior que as pessoas
sem instrução (IBGE, 2019). De acordo IBGE (2017) os jovens com pouca instrução
no Brasil estão em maior quantidade entre negros, pardos e mulheres. A Agência do
Brasil (2017) destaca que quanto menor a escolaridade do sujeito, mais difícil será
que ele consiga um emprego.
Fernandes, Pazello e Felício (2002, p. 233) afirmam que a renda dos brasileiros
tem relação com a escolaridade.
A desigualdade de rendimentos no Brasil está fortemente associada
ao nível educacional de seus trabalhadores. Os fatores que explicam
essa forte influência da educação sobre os rendimentos são: a grande
desigualdade educacional entre os trabalhadores e a elevada taxa de
retorno da educação. Tais aspectos têm levado à conclusão de que a
principal explicação da pobreza no país estaria no baixo valor de
mercado dos ativos dos pobres, especialmente aqueles associados ao
capital humano.

A falta de investimento em educação no Brasil, aumenta progressivamente a


desigualdade educacional. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep) divulgou no ano de 2016, que 54,73% das crianças acima de 8
anos matriculadas em escolas públicas, têm nível insuficiente de leitura, 33,95%
dessas crianças apresentam deficiência na escrita, e 54,4% tem pouco desempenho
em matemática. Em 2018, o Indicador de Analfabetismo Funcional (INAF), mostra
através de dados de uma pesquisa realizada com jovens de 15 a 64 anos que apenas
1% dos pesquisados que concluíram os anos iniciais do ensino fundamental
conseguem elaborar textos e interpretar dados, ainda, dos que responderam à
pesquisa e possuíam ensino superior completo apenas 34% atingiram a proficiência.
Desse modo, não seria possível indicar que ter acesso à escola seria o único
fator responsável pelo desequilíbrio de renda. Segundo Fernandes, Pazello e Felício
(2002) fatores como a estrutura familiar e o engajamento no mercado de trabalho
também poderiam contribuir para a desigualdade de rendimentos.
O sociólogo francês Pierre Bourdieu em seu livro Escritos de educação (2007),
traz uma visão diferente sobre a função da escola diante da diminuição da
26

desigualdade. Para o autor, o sistema escolar mantém o indivíduo estagnado diante


da possibilidade de elevação social. Bourdieu (2007, p. 42):
É provável por um efeito de inércia cultural que continuamos tomando
o sistema escolar como um fator de mobilidade social, segundo a
ideologia da “escola libertadora”, quando, ao contrário, tudo tende a
mostrar que ele é um dos fatores mais eficazes de conservação social,
pois fornece a aparência de legitimidade às desigualdades sociais e
sanciona a herança cultural e o dom social tratado como dom natural.
O sistema escolar, do jeito que ele é posto, seria responsável pela manutenção
das classes sociais, não permitindo a ascensão social.
Ferrasoli (2016, p. 1) traz em sua manchete no Jornal Folha de São Paulo “A
elite está nos cursos mais concorridos da Universidade de São Paulo (USP); a classe
C, nos menos”. Em entrevista ao jornalista estudante da Escola Politécnica de
engenharia elétrica da USP relata: “Como a educação pública é ruim, pessoas de
baixa renda não passam nos cursos mais difíceis. Na maioria das unidades você
consegue achar um pessoal mais pobre, na Poli não”. O estudante ainda expõe que
a maioria dos colegas se diz de direita, “Falam muito em meritocracia”. Nos cursos
mais concorridos da USP como direito, economia, administração e medicina,
predominam os integrantes da classe A. Os cursos de letras e ciências humanas são
mais frequentados pela classe C.
27

3 ESPÉCIE HUMANA, EDUCAÇÃO DE DESIGUALDADE

Neste capítulo, apresentaremos a importância de estudar o ser humano através


das concepções de Bernard Charlot, além de conhecer sua interpretação em relação
ao saber.

3.1 O SER HUMANO PELA VISÃO DE BERNARD CHARLOT

Estudar a espécie humana e todas as suas concepções, origem, costumes,


raça, desenvolvimento físico, social e cultural além de outras inúmeras
particularidades, sempre foi um fator complexo. Segundo Charlot (2019) estudar o ser
humano é um processo contínuo e crescente, cercado por dúvidas e indeterminações.
Ser civilizado para os gregos era pertencer a sociedade grega, os gregos viam os
persas como seres menores, desprezíveis, não civilizados “bárbaros”. “O bárbaro tem
aparência humana, mas é radicalmente outro que não um verdadeiro ser humano e,
logo, pode ser tratado como um objeto; em particular, ele pode ser escravizado.”
(CHARLOT, 2019, p.162).
No período entre 1500-1551 na Espanha, os teólogos reunidos com o
imperador Carlos V, já discutiam se os índios deveriam ser enxergados como filhos
de Deus, e assim, ser evangelizados, ou se seriam apenas bárbaros, podendo ser
escravizados. Em 1573 uma lei proibiu a escravidão e a violência contra os índios, no
entanto, esse processo acelera a escravidão dos negros, não considerados filhos de
Deus pelos europeus no século XVI (CHARLOT, 2009).
De acordo com Charlot (2019, p. 162) o processo de civilização foi uma procura
pela obtenção de direitos, principalmente para os menos favorecidos.
O processo de civilização consistiu em ampliar o campo da
humanidade e dos direitos humanos: proibição da escravidão e do
trabalho infantil, direito ao voto pelas mulheres, inclusão social e
pedagógica das pessoas com deficiência, luta contra a discriminação
étnico-racial, religiosa, de gênero etc. De tal modo que passou a ser
considerado bárbaro quem não reconhecia os direitos fundamentais
de todos os seres humanos e apelava para a violência contra uma
categoria de homens (ou de mulheres).

O processo de civilização não modificou inteiramente o tratamento entre os


seres humanos, barbáries continuam a acontecer em todas as sociedades. “Hoje,
porém, multiplicam-se os indícios de sua volta, inclusive no Brasil: intolerância
28

religiosa ou nacionalista, ódio político, terrorismo que mata até crianças, assassinatos
de jornalistas ou candidatos a uma eleição, elogio à tortura, separação entre pais e
filhos migrantes, feminicídios etc.” (CHARLOT, 2019, p. 163).

3.2 PEDAGOGIA TRADICIONAL E PEDAGOGIA NOVA: CONSTRUÇÃO ATRAVÉS


DA VISÃO DO SER HUMANO

Como ciência que estuda o processo de ensino, a pedagogia foi criada para os
seres racionais. Para Charlot (2019), a pedagogia tradicional e a pedagogia nova tem
sua sustentação no estudo do ser humano.

3.2.1 Pedagogia tradicional

Para Charlot (2019) na pedagogia tradicional a norma está contra o desejo, as


emoções devem ser reprimidas, a criança deve ser disciplinada, aceitando as normas
e orientações a ela ordenada. A versão religiosa dessa pedagogia enxerga a criança
como ser corruptível, desordenada, pecador. Na versão laica e iluminista tradicional,
a visão de pecado desaparece, no entanto, a disciplina é quem irá transformar o
comportamento da selvageria.

3.2.2 Pedagogia nova

A pedagogia nova é a favor do desejo e contra a norma adulta (CHARLOT,


2019). Na pedagogia nova, o estudo da natureza humana continua presente, a criança
deixa de ser vista como corruptível, e passa a ser definida como um ser de natureza
boa, inocente, pura, no entanto, percebe-se que os adultos podem interferir nessa
natureza infantil.

3.2.3 Tensões entre a norma e o desejo

Nas décadas de 1960-1970, devido a introdução do desejo e o


desenvolvimento social e econômico, se faz necessário criar um novo mercado
escolar. A partir desse momento, os jovens precisam elevar o grau de instrução, se
qualificar. Na década de 60, o ensino primário também entra na corrida do
29

desenvolvimento, a entrada na escola precisa ocorrer o mais cedo possível na vida


das crianças, gerando constante concorrência inclusive dentro da escola. Já na
década de 80, todos os jovens que cursam o ensino médio e vivem em países mais
desenvolvidos precisam ser escolarizados. A partir da década de 80 os jovens estão
na escola pelo período mínimo de nove anos, nos países mais ricos esse período
passa a ser de quinze anos (CHARLOT, 2019).
De acordo com Charlot (2019), o fato de ser escolarizado não é o fator mais
importante para promover inserção social e profissional, a razão mais importante
passa a ser a quantidade de anos estudados, o tipo de escola, e se teve sucesso em
conseguir entrar no ensino superior. Em uma sociedade onde os números ditam as
regras, onde as notas, o dinheiro e o prestígio pertencem aos que têm maior
quantidade de poder econômico e social, os indivíduos que não conseguem obter o
mínimo necessário, viverão subalternos aos que podem mais.
A corrida para obtenção dos desejos é descrita por Charlot (2019, p. 170):
Os jovens encontram-se, assim, engajados em uma grande corrida
escolar, regida por uma impiedosa lógica da performance e da
concorrência – forma escolar do “livre mercado” neoliberal. Os jovens
são livres, eles não têm mais que aguentar o peso de um monte de
normas impostas pelos adultos, desde que estudem, estudem,
estudem, para preparar as provas, tirar notas boas e, um dia, entrar
na universidade.

O sistema escolar permanecerá oferecendo melhor educação aos que podem


fazer integralmente essa corrida. A pedagogia tradicional e a pedagogia nova
continuam a impulsionar uma educação excludente.
Bernard Charlot (2019, p. 170):
A pedagogia tradicional, a pedagogia da norma, funciona mal em uma
sociedade onde o desejo adquiriu legitimidade. Mas a pedagogia nova,
pedagogia do desejo, não a pode substituir em uma sociedade onde
notas, provas e concorrência generalizada passaram a ser os novos
instrumentos da disciplina social.

A busca pelas melhores notas, melhores escolas e melhores salários


continuarão disponíveis a quem possa pagar, gerando aos menos favorecidos uma
sensação de incapacidade, trazendo um crescente desequilíbrio. Enquanto o sistema
escolar girar em torno de pontuação, a sociedade continuará a ter uma geração
emocionalmente e economicamente deficiente. “Não surgiu uma pedagogia
“contemporânea” que pudesse ultrapassar essas contradições e, no cotidiano, pais e
docentes sobrevivem com bricolagens pedagógicas.” (CHARLOT, 2019, p. 170).
30

3.2.4 Relação com o saber

Conhecer a origem social dos indivíduos poderia ser um indicador que permite
saber os motivos do sucesso ou fracasso escolar. No entanto, para Charlot (1996) o
fracasso escolar não existe, o que se encontra são particularidades presente na
história do indivíduo que não permitem que ele aprenda. Embora, Charlot (1996)
reconheça que a origem social, a educação familiar, e a escola possam contribuir para
a não aprendizagem, é preciso analisar a singularidade de cada ser humano. “Embora
o indivíduo se construa no social, ele se constrói como sujeito, através de uma história,
não sendo assim, a simples encarnação do grupo social ao qual pertence.”
(CHARLOT, 1999, p.49).
Charlot (1999) ressalta que nem todos os alunos conseguem enxergar a escola
como um espaço para aprender, muitos estudantes vão à escola para obtenção de
uma profissão no futuro, acreditam que a escola funcionará como uma escada que à
medida que vão passando adiante nas séries estão garantindo, uma boa posição no
mercado de trabalho. O saber precisa fazer sentido para os que vão à escola, se assim
não acontece, qual a necessidade que poderá existir durante o período da jornada
escolar, não haveria. No entanto, Charlot (1999, p.57) explica que a família pode ser
um fator que mobiliza e incentiva a aprendizagem:
Por que aprender? Por que estudar na escola? Para ter uma boa
profissão, um bom futuro, uma boa vida: potencialmente, a grande
maioria dos jovens de famílias populares estão mobilizados em
relação à escola. Como eles passam da mobilização potencial à
mobilização efetiva? Com frequência pela demanda familiar de
sucesso social por intermédio da escola. Por que aprender? Por que
estudar na escola? Para que meus pais tenham orgulho de mim. A
demanda familiar funciona então como motivo principal da mobilização
e assegura a continuidade no tempo, às vezes, apesar das vicissitudes
da história escolar.

A família tem um espaço importante no incentivo à educação, na formação


escolar, não como modelo a ser seguido em muitas ocasiões, mas como referência.
Visto que, os pais que não tiveram oportunidade de ir à escola, geralmente contam
aos filhos a importância de estudar, trazendo sempre reflexões que fazem sentido ir à
escola.
31

A ideia de escola como instrumento para a mobilização social é defendida por


Charlot (1999) que defende a estrutura escolar como um sendo um local de
aprendizagem para todos os que desejam se apropriar do saber. O autor defende a
singularidade do indivíduo na construção desse saber, além de não acreditar que a
escola é um local apenas para reprodução. Charlot (1999, p. 49) explica o espaço
escolar:
Enfim, essas teorias reduzem a instituição escolar a um espaço de
diferenciação social, esquecendo que ela é também um espaço onde
os jovens se formam, onde o saber se transmite. A escola não é pura
e simplesmente uma máquina de selecionar, que se pode analisar sem
dar importância às atividades que ali se desenvolveram. Ela é uma
instituição que preenche funções específicas de formação e que
seleciona jovens através dessas atividades específicas.

Dessa forma, o autor reforça a importância da escola como instrumento para


mobilidade social. No capítulo a seguir, veremos em Bourdieu um posicionamento
diferente sobre a função da escola.
32

4 A TEORIA DO HABITUS EM PIERRE BOURDIEU

Neste capítulo apresentaremos como o sociólogo francês Pierre Bourdieu


descreve sua teoria de habitus, além de explicar os conceitos de campo e violência
simbólica descritos por ele.

4.1 O SISTEMA DE ENSINO

É um espaço organizado para atender as necessidades de uma sociedade, é


também, uma construção de elementos que busca trazer de melhor maneira
benefícios para uma sociedade.
Saviani (1999, p. 119) explica o que significa sistema de ensino da seguinte forma:

Com efeito, o sistema resulta da atividade sistematizada; e a ação


sistematizada é aquela que busca intencionalmente realizar
determinadas finalidades. É, pois, uma ação planejada. O Sistema de
ensino significa, assim, uma ordenação articulada dos vários
elementos necessários à consecução dos objetivos educacionais
preconizados para a população à qual se destina.

Desse modo, o sistema de ensino tem sua finalidade ao buscar estratégias que
atendam o seu público específico. Assim, entende-se que a escola é planejada e
organizada para atender todos os envolvidos no processo educacional.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) estabelece em seu
Art.2 da Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, regras para nortear a função da
escola.

A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de


liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o
pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho (Brasil, 1996).

Em contrapartida, Bourdieu (2007) entende que o sistema escolar é uma


estrutura que não permite que os indivíduos evoluam socialmente, criando barreiras
entre as classes sociais. É possível através do trecho abaixo conhecer como Bourdieu
(2007, p.41), percebe o sistema escolar.
33

É provavelmente por um efeito de inércia cultural que continuamos


tomando o sistema escolar como um fator de mobilidade social,
segundo a ideologia da “escola libertadora”, quando, ao contrário, tudo
tende a mostrar que ele é um dos fatores mais eficazes de
conservação social, pois fornece a aparência de legitimidade às
desigualdades sociais, e sanciona a herança cultural e o dom social
tratado como dom natural.

O autor atribui essa sua avaliação baseada nos mecanismos de exclusão que
cercam o contexto escolar. Para ele a escola é pensada e organizada para atender
uma classe única, sem levar em consideração os diferentes contextos sociais aos
quais os sujeitos estão inseridos.

4.2 HABITUS, CAMPO E VIOLÊNCIA SIMBÓLICA

A sociedade é dividida em grupos, denominados de classes. Esses grupos são


divididos considerando as características que estão no espaço social. Os
comportamentos estão inscritos dentro de regras às quais um sujeito faz parte. A partir
do nascimento, a criança aprenderá os costumes que já foram pré-estabelecidos pela
família ou grupo social ao qual ela fará parte. Não é possível que a criança escolha a
religião, a música, os costumes, o grupo pertencente, a condição financeira familiar e
como será a estrutura familiar, dessa forma, esses agentes serão os condutores na
construção social da criança. A maneira como o sujeito incorpora os valores sociais,
será o fator que determinará seus gostos e atitudes. Bourdieu (2017, p.41) descreve
o conceito de habitus no trecho abaixo:

Habitus é o conceito que diz algo concreto e dinâmico sobre os


agentes sociais, pois representa o esquema de percepção e de ação
de cada indivíduo, adquirido e formado pela história social de cada um
é resultante de um longo processo de aprendizagem formal e informal.
Os habitus, assim adquiridos, funcionam no estado prático da vida
social, isto é, permitem aos seus portadores operar um senso prático
da vida, como um esquema de percepção, de apreciação e de ação
que é acionado em determinadas situações sociais.

Dessa forma, o indivíduo incorpora os habitus que fazem parte do seu ambiente social,
reproduzindo os comportamentos. Setton (2002, p. 64) reforça o conceito de habitus:

Habitus é um instrumento conceptual que auxilia a apreender uma


certa homogeneidade nas disposições, nos gostos e preferências de
grupos e/ou indivíduos produtos de uma mesma trajetória social.
34

Assim o conceito consegue apreender o princípio de parte das


disposições práticas normalmente vistas de maneira difusa.

Além do conceito de habitus, o conceito de campo também explica como


esses habitus internalizados podem ser observados em ações através do campo. O
campo é o espaço abstrato das posições e relações onde agentes específicos atuam,
buscando através dos habitus que foram internalizadas posições sociais. Cada campo
tem características próprias, pois só integram esse campo seus membros específicos.
Cherques (2006, p. 40) explica que o campo é um sistema constituído por disputas,
cada campo opera com um sistema próprio e cada agente tem um lugar definido na
disputa por posições.

Cada campo tem um sistema de filtragem diferente: um agente


dominante em um campo pode não ser o outro. A admissão no campo
requer: a posse de diferentes formas de capital, o cacife (enjeux) na
quantidade e qualidade do que conta na disputa interna e que constitui
a finalidade, o propósito, do jogo específico; e as disposições,
inclinações e aprendizados, que conformam o habitus do campo.

A disputa pelo poder vai além da busca para obtenção de capital, isso porque,
a disputa pelo poder é o que torna o campo mais restrito. No mesmo campo, os
agentes ocupam posições diferentes, quanto maior o status, maior também a
dominação. Cada campo é alimentado pela frequente concorrência. No campo
escolar, indivíduos com a mesma idade, na mesma série, em escolas diferentes
participam da invisível concorrência, quem melhor se adaptar ao sistema, poderá
obter melhores resultados futuramente. Estudantes que terminam o ensino médio e
entram em uma mesma universidade, estão no mesmo campo acadêmico, no entanto,
o curso escolhido poderá colocá-los em posições totalmente desiguais.
As interferências que ocorrem dentro do campo, colocando normas e aplicando
inconscientemente verdades que são apenas invenções de determinados grupos, é
classificado como violência simbólica. Os padrões sociais geram uma determinada
dominância aos que não se encaixam, gerando invisíveis processos de exclusão.
O poder invisível acontece sem que os agentes envolvidos consigam saber de
onde vem. Rosendo (2009, p. 4) explica através da teoria de Bourdieu que as ações
pedagógicas são consideradas um tipo de violência simbólica.
35

As relações simbólicas são simultaneamente autónomas e


dependentes das relações de força, portanto toda a ação pedagógica
deverá ser considerada como uma violência simbólica porque
imposição por um poder arbitrário de um arbítrio cultural. As relações
de força encontram-se sempre dissimuladas sob a forma de relações
simbólicas.

Sendo assim, a escola funcionaria como reprodutora cultural do sistema social,


atribuindo aos grupos considerados superiores, dominância sobre os menos
favorecidos. Deste modo, a violência ocorria como um acordo entre os dominantes e
os dominados, perpetuando assim, o desequilíbrio educacional.
36

5 METODOLOGIA

Neste capítulo apresentaremos a metodologia, onde buscamos descrever:


natureza da pesquisa; campo e sujeito da pesquisa; instrumento da pesquisa e o
questionário.

5.1 NATUREZA DA PESQUISA

De acordo com Pádua (2019), pesquisar é buscar por respostas, é a análise


que ocorre através de uma investigação científica, pesquisa também é encontrar fatos
que respondam aos questionamentos que estão incomodando e despertando
curiosidades. Lakatos e Marconi (2003, p. 155) reforçam que “a pesquisa, portanto, é
um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo, que requer um
tratamento científico e se constitui no caminho para conhecer a realidade ou para
descobrir verdades parciais”.
Segundo Lakatos e Marconi (2003, p. 160) a pesquisa “Estuda um problema
relativo ao conhecimento científico ou à sua aplicabilidade”. Com intuito de continuar
a descobrir e ampliar os conhecimentos em uma área de conhecimento, essa
pesquisa se caracteriza como uma pesquisa de natureza básica.
Como assegura Gerhardt e Silveira (2009), pode-se dizer que a pesquisa do
tipo exploratória é caracterizada por apresentar informações que contribuem para que
ocorra a construção do conhecimento explorado. Desse modo, fica claro que a
pesquisa exploratória é feita através de levantamento de informações.
Portanto nossa pesquisa classifica-se como exploratória, pois busca conhecer
o ponto de vista dos autores e estudiosos a respeito do tema escolhido. A construção
do referencial teórico utilizará livros, trabalhos acadêmicos, sites, revistas digitais, com
o intuito de conhecer como o tema é abordado em diferentes fases da história. Além
de conhecer o ponto de vista dos autores, também usamos o questionário para
compreender melhor o posicionamento dos discentes do curso de licenciatura em
matemática do campus do agreste, além de atender com maior eficiência os objetivos
propostos.
Deste modo, de acordo com Stake (2011) a pesquisa é qualitativa quando se
aborda como os fatos ocorreram. Portanto, trata-se de uma funcionalidade, sendo
uma construção através da racionalidade do conhecimento humano. Além disso, é
37

uma pesquisa qualitativa porque traz relevância ao buscar respostas que expliquem
as relações (Flick, 2009). Por outro lado, a pesquisa é quantitativa quando existe
“associação ou correlação, a pesquisa quantitativa também pode, ao seu tempo, fazer
inferências causais que explicam por que as coisas acontecem ou não de uma forma
determinada” (ESPERÓN, 2017, p. 1).
Buscamos relacionar o conceito de habitus, campo e violência simbólica para
elaboração do questionário. Esses conceitos descrevem a visão do autor Pierre
Bourdieu em sua obra; A reprodução: elementos para uma teoria geral do sistema de
ensino de 1970.
Esses conceitos podem ser entendidos como áreas da sociedade. Campo é
qualquer estrutura social onde haja conflitos de interesse, no campo a disputa ocorre
entre dominante (possui maior posição social) e dominado (menor posição social). O
habitus é a incorporação que o indivíduo faz diante da realidade onde ele está inserido,
dessa forma, o indivíduo absorve costumes, crenças, cultura, pensamentos que não
são dele, e sim da estrutura ao qual ele faz parte, podendo passar adiante através de
sua geração ou apoiadores. A violência simbólica tem relação com o poder,
dominação, é uma porta para a exclusão dos menos favorecidos, pois, pode através
de suas regras nocivas tornar o indivíduo um eterno dominado (Brandt, 2014).

5.2 CAMPO E SUJEITO DA PESQUISA

Escolhemos realizar nossa pesquisa na Universidade Federal de Pernambuco


Centro Acadêmico do Agreste (UFPE-CAA). Os sujeitos da pesquisa foram discentes
matriculados no curso de Matemática-Licenciatura. A escolha por esse público se deu
através de dados encontrados nesse trabalho acerca da importância do ensino
superior na construção do status social.

5.3 INSTRUMENTO DA PESQUISA

Devido à impossibilidade da aplicação do questionário presencial, optamos pela


realização e compartilhamento de forma online. A pesquisa realizou-se através de um
38

questionário virtual, construído no Google Forms1 juntamente com um link2,


disponibilizado para obtenção dos resultados. O questionário foi disponibilizado e
esteve disponível para receber respostas entre os dias 26 e 28 de março de 2021.
Finalizado o tempo disponível, obtivemos 22 questionários respondidos pelos
discentes. Utilizamos o questionário online como ferramenta metodológica para
descobrir diferentes posicionamentos acerca do tema pesquisado e para nortear a
pesquisa.

5.4 O QUESTIONÁRIO

A construção do questionário se deu após a leitura de resumos sobre a obra a


Reprodução: Elementos para uma teoria de ensino de 1970. Após as leituras
começamos a construir as perguntas de acordo com os conceitos de habitus, campo
e violência simbólica. Buscou-se através dessa junção de elementos, conexões que
nos fizessem chegar ao nosso objetivo de pesquisa. O questionário foi elaborado em
três seções, contendo 11 perguntas de respostas obrigatórias.
Buscamos através da elaboração do questionário, perguntas que nos fizessem
analisar: a escolaridade e profissões dos pais dos pesquisados, a relação entre a
escolha pela licenciatura e o status social, procuramos entender como os pesquisados
avaliam os ganhos decorrentes a sua formação e como examinam o ambiente
acadêmico.
O questionário foi dividido em três seções. Na seção 1 exploramos o contexto
familiar, na seção 2 o contexto profissional e na seção 3 o contexto educacional.
A seguir, as seções serão melhor definidas. Começaremos com a seção 1 logo
abaixo:

SEÇÃO 1: Na primeira seção procuramos relações entre o ambiente social e o


ambiente familiar em que o indivíduo está inserido. Procuramos saber se o pesquisado
tinha seguido a profissão dos pais? Foi influenciado em relação a escolha pela
docência?
Segue abaixo o quadro 1 com as respectivas perguntas da seção 1.

1 Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Google_Forms
2 https://pt.wikipedia.org/wiki/Hiperliga%C3%A7%C3%A3o
39

QUADRO 1: Contexto social e influências


SEQUÊNCIA PERGUNTAS TIPOS DE RESPOSTAS
DE
PERGUNTAS
Pergunta 1 Descreva a formação escolar dos seus Resposta aberta.
pais e suas profissões ou atividades.
Pergunta 2 Você acredita que a sua formação Múltipla escolha.
como professor terá impacto em seu ● Sim
status social? ● Não
● Não tenho certeza
Pergunta 3 Você avalia o crescimento financeiro ou Múltipla escolha.
crescimento cultural como o ganho ● Crescimento cultural
mais relevante da sua formação? ● Crescimento financeiro
● Crescimento cultural e
crescimento financeiro
● Nenhum
Pergunta 4 Houve incentivo familiar de sua família, Múltipla escolha.
professores, amigos ou semelhantes ● Sim
para sua formação? ● Não
● Incentivo Parcial
Pergunta 4.1 Exemplifique como estes incentivos Resposta aberta.
podem ter contribuído em suas
escolhas.
Fonte: Própria autora

A elaboração dessas perguntas se deu pelo objetivo em saber se os estudantes


teriam a mesma escolaridade dos pais, qual o contexto social em que viveram, se
receberam apoio em escolher a profissão docente, as respostas obtidas nesta seção
estarão relacionadas com o conceito de habitus.

SEÇÃO 2: Nesta segunda seção, procuramos respostas que explicassem a escolha


profissional dos pesquisados, além das mudanças nos hábitos decorrentes da entrada
no ensino superior. Buscamos explicações que justificassem essas transformações,
relacionadas com o conceito de campo. Segue abaixo o quadro 2 com as perguntas
da nossa pesquisa.
40

Quadro 2: Docência e mudança de hábitos


SEQUÊNCIA PERGUNTAS TIPOS DE RESPOSTAS
DE
PERGUNTAS
Pergunta 5 O que te motivou a ser docente? Resposta aberta.
Pergunta 6 Você adquiriu hábitos novos (passou Múltipla escolha.
a ler mais, aprecia mais alguma ● Sim
expressão artística, música e etc.) ● Não
com relação aos costumes que você
tinha antes de ser estudante
universitário?
Pergunta 6.1 Caso a resposta anterior tenha sido Pergunta destinada aos que
sim, exemplifique: responderam sim, na pergunta
anterior.
Pergunta 7 Refletindo sobre o conhecimento Resposta aberta.
matemático e pedagógico adquirido
durante a graduação, qual a sua
avaliação pessoal sobre esses
conhecimentos na sua forma de ver a
sociedade e seu papel como
educador?
Fonte: Própria autora.

As experiências e incentivos que o ser humano tem, pode ter influência no


momento em que precisa tomar decisões. Os fatores internos, externos, financeiros,
sociais e familiares conseguem servir como referência nesses momentos. Hábitos
adquiridos, experiências construídas podem fazer com que o sujeito transite entres as
classes sociais, um indivíduo que nasceu e cresceu na classe C, pode através das
suas conquistas materiais e intelectuais mudar de classe social. Bourdieu através do
conceito de campo, explica que, embora seja mais natural que o indivíduo permaneça
no seu grupo social de origem, é possível que ele mude sua posição social. Esses
questionamentos nos fizeram escolher essas perguntas para obter resposta sobre
esse conceito. Quais as mudanças que os discentes estão fazendo para mudar sua
posição social?

SEÇÃO 3: Na terceira seção, buscamos entender como os discentes descrevem o


ambiente acadêmico, além de conhecer sua opinião sobre os docentes que fazem
partem da sua formação.
41

Quadro 3: Ambiente acadêmico


SEQUÊNCIA PERGUNTAS TIPOS DE RESPOSTAS
DE
PERGUNTAS
Pergunta 8 Você considera a universidade um ambiente Resposta aberta.
elitista? Por quê?
Pergunta 9 Sem citar nomes, existem professores em Resposta aberta.
quem você se inspira como profissional?
Qual o motivo?
Pergunta 10 Você se considera mais crítico depois que Resposta aberta.
iniciou seu curso? A que você atribui isto?
Pergunta 11 Suas perspectivas profissionais mudaram Resposta aberta.
durante a graduação?
Fonte: Própria autora.

Agora, procuramos entender como os discentes enxergam a universidade.


Ainda existem traços da desigualdade trazidas do período colonial e imperial? Como
os discentes enxergam seus professores? A entrada no ensino superior permite que
os alunos se tornem mais críticos? Partindo dessas indagações percebemos que seria
de grande relevância saber o posicionamento dos discentes, para entendermos qual
a importância da universidade na vida dos alunos que participaram da pesquisa. O
conceito de violência simbólica entra nessa seção para investigar se a universidade é
uma reprodutora das desigualdades. Diante dos posicionamentos que serão vistos na
análise desse trabalho, fica claro, que para os alunos que participaram da pesquisa,
o problema da desigualdade ainda está presente.
Para melhor organização dos dados os 22 participantes da pesquisa serão
chamados de P1 (primeiro participante), decorrendo até o participante P22 (vigésimo
segundo participante. É importante ressaltar que os conceitos são interligados,
podendo uma mesma pergunta, obter uma resposta com mais de um conceito para
ser analisado.
42

6 ANÁLISE E RESULTADOS

Neste capítulo apresentaremos as análises e os resultados da pesquisa,


enfatizando os pontos de vista dos estudantes apresentados durante o preenchimento
da pesquisa dos discentes do curso de licenciatura em matemática da Universidade
Federal de Pernambuco no Centro Acadêmico do Agreste (UFPE-CAA).

6.1 PERGUNTAS, RESPOSTAS E RESULTADOS

Pergunta 1: Descreva a formação escolar dos seus pais e suas profissões ou


atividades.

As influências decorrentes do círculo social em que o indivíduo está inserido,


pode em algum momento lhe servir como referência.
Bourdieu em seus estudos sobre o conceito de habitus traz reflexões sobre o
contexto social no qual os indivíduos estão localizados, as normas presentes, e como
esses lugares estão interiorizados no inconsciente. Inicialmente a pesquisa procurou
conhecer a formação educacional, profissional ou atividades exercidas pelos pais dos
22 discentes que participaram da pesquisa.
No quadro abaixo é possível verificar a escolaridade dos pais dos discentes
que cursam licenciatura em matemática no campus do agreste da UFPE.

Quadro 4: Escolaridade dos pais


GRAU DE ESCOLARIDADE ESCOLARIDADE MÃE ESCOLARIDADE PAI
Analfabetos 3 3
Ensino Fundamental Completo 2 2
Ensino Fundamental Incompleto 7 11
Ensino Médio Completo 7 4
Ensino Médio Incompleto 0 0
Ensino Superior 1 1
Não informou 1 2
Fonte: Própria autora.

Nesta questão, também buscamos confirmar se a interiorização não estaria


apenas replicando e, assim perpetuando, o mesmo patamar educacional de seus pais.
Observamos que os discentes puderam ir bem além do nível educacional dos pais.
Isto é avaliado como um bom resultado para a educação na região. As políticas
43

educacionais recentemente adotadas podem ter influenciado no resultado a médio e


longo prazo, pois a interiorização com a política de cotas abriu oportunidades para
discentes locais.
No quadro abaixo é possível ver as profissões ou atividades exercidas pelos
pais dos discentes do curso de licenciatura em matemática do campus do agreste da
UFPE.

Quadro 5: Profissões ou atividades exercidas pelos pais dos discentes


PROFISSÕES QUANTIDADES
Açougueiro 1
Agricultores 8
Autônomo 1
Aposentado 2
Cabelereiro 1
Comerciantes 5
Costureiros 6
Desempregado 1
Doméstica 2
Donas de casa 3
Eletricista 2
Feirante 1
Professor 3
Supermercado 1
Taxista 1
Téc. contabilidade 1
Vendedor 1
Não informou 4
Fonte: Própria autora.

No geral, observa-se que os discentes têm origem popular e isto mostra como
o curso da UFPE-CAA tem cumprido um papel inclusivo na região do agreste
pernambucano. Abriu-se a possibilidade de formar professores de origem popular e
assim ter um impacto real no status social e intelectual nas famílias do agreste

Pergunta 2: Você acredita que a sua formação como professor terá impacto em seu
status social?

A segunda questão trata de uma análise sobre o posicionamento dos


pesquisados a respeito de uma possível mudança no status social após a conclusão
do ensino superior. Essa pergunta foi apresentada no questionário após a reflexão
sobre o conceito de habitus, definido no tópico 4.1.
44

No quadro abaixo é possível verificar como os discentes responderam à


pergunta:

Quadro 6: Resposta dos discentes em relação à mudança no status social.


Sim. Acredito que minha formação terá impacto no meu status social. 16
Não. Minha formação não terá impacto no meu status social. 2
Não tenho certeza que minha formação terá impacto no meu status social. 4
Fonte: Própria autora.

A pergunta se desdobrava em que tipo de ganho os discentes esperavam obter


com a graduação, a maioria acredita que terá melhora nas condições financeiras e
culturais. Isto mostra que os participantes também esperam ter um aumento de status
pelo engrandecimento cultural.
Com base nos dados apresentados é possível perceber a importância da
formação como docente. A conclusão do ensino superior é percebida e esperada
como um instrumento de elevação social.

Pergunta 3: Você avalia o crescimento financeiro ou crescimento cultural como o


ganho mais relevante da sua formação?

O curso de matemática-licenciatura, como todo o curso superior, já foi tido


como curso de elite no Brasil. Afinal curso superior começou como um privilégio da
elite, sendo as formações pedagógicas desempenhadas pelas mulheres filhas da elite.
Mas atualmente o curso de licenciatura não goza de um grande status3 entre os cursos
de graduação. Talvez por ser a profissão de nível superior com quem a classe C têm
mais contato, visto que todo aluno de ensino básico e médio teria contato com
licenciados e pedagogos.
Dados financeiros médios sobre os rendimentos do professor o equipara a
profissionais liberais sem formação superior como pequenos comerciantes e
profissionais técnicos com nível de ensino médio. Sendo assim, seria esperado que
os discentes não tivessem boas perspectivas financeiras. Segundo Alves e Pinto
(2011, p. 630), através de dados obtidos através de uma pesquisa realizada pelo
censo 2009, “os professores compõem o grupo de ocupações com menores
rendimentos entre as ocupações de nível superior”.

3 https://pt.wikipedia.org/wiki/Estatuto_social
45

As respostas dos docentes para a pergunta, podem ser observadas no quadro


abaixo:

Quadro 7: Ganho mais relevante através da formação superior.


Crescimento cultural 8
Crescimento financeiro 1
Crescimento cultural e Crescimento financeiros 12
Nenhum dos dois 1
Fonte: Própria autora

O objetivo, nesta pergunta, também era investigar o quanto os alunos fazem o


curso pensando além da ascensão financeira e associam a graduação a um
engrandecimento cultural. Mas notamos que dentro da realidade da instituição ser
lotada no agreste Pernambucano o ganho financeiro parecer ser esperado também.
Afinal o discente vem de uma realidade de rendimentos em muitos casos instável e
possivelmente inferior ao trabalho de professor.
Alguns relatam trabalhar em comércio, como pedreiro, como vaqueiro e outras
funções além de professor. Relatando que prefeririam trabalhar como docentes, mas
que tiveram essas experiências de trabalho.

Pergunta 4: Houve incentivo familiar de sua família, professores, amigos ou


semelhantes para sua formação?

O meio onde o sujeito faz parte pode ter influência nas tomadas de decisão,
fazendo em muitos casos com que ele responda positivamente ou negativamente as
oportunidades a que a eles, os discentes, são apresentados. Se o meio social,
enquanto incentivador, estimula a formação dos discentes, os resultados podem ser
potencializados. Entretanto, se o grupo social vê a profissão de professor como uma
profissão difícil, a influência poderia ser negativa. A família como sendo o primeiro e
mais constante meio social onde o indivíduo convive, se relaciona e aprende, tem um
forte fator de influência nas tomadas de decisões.
Selecionamos algumas respostas dos participantes a respeito dessas
perguntas, elas podem ser verificadas no quadro abaixo:

Quadro 8: Respostas dos participantes


46

P1 Sim. Minha mãe deu aula nas séries iniciais por ter optado por fazer magistério.
Eu sempre fui influenciada por ela.
P3 Sim. Saber que tem alguém que torce para o seu desenvolvimento, incentiva a
querer dar o melhor de si para concluir esses objetivos. Minha mãe queria ser
professora, então tive apoio dela para isso, saber que estou realizando algo que
ela queria é gratificante para ambas.
P7 - Incentivo parcial. Tive incentivo em fazer um curso superior, tanto pela escola
de tempo integral onde me formei quanto pelos meus familiares, porém o curso
que escolhi não foi bem “o que sonharam pra mim”.
P11 Não. No meu caso fui eu que corri atrás, após 20 anos sem estudar
decidi terminar meus estudos e vi que podia chegar mais longe. Hoje me sinto
realizado e me orgulho de ser professor de matemática.
Fonte: Própria autora.

Ao avaliar esta questão, buscamos entender como a admiração pelo


conhecimento do professor teria influenciado os discentes a prosseguir nos estudos.
O maior contato dos pais com educação, entre os casos encontrados, foram um
incentivo para os discentes.
Houve uma resposta que mostrava apoio, embora não fosse a profissão dos
sonhos dos pais do discente. Isto mostra o ônus da visão acerca da desvalorização
social do professor sobre a visão dos pais. Demonstrando que os pais podem desejar
que os filhos estudem, ao mesmo tempo que se mostram preocupados com a questão
financeira dos filhos. Realidade que representa a insegurança que os docentes têm
sobre o futuro da profissão.
A quarta resposta mostra, por outro lado, que alguns não tiveram oportunidade
de se dedicar ao estudo e após um longo período voltaram a estudar. Aparentemente
com uma motivação pessoal de seguir nos estudos. Pesquisas sobre esta retomada
das perspectivas acadêmicas seriam interessantes para compreender mais
especificamente as motivações deste perfil de discente que também podem ter
guardado uma experiência positiva no passado ou que podem ter sido expostos a
outras experiências no mercado de trabalho que os motivaram mais após o tempo
afastado dos estudos.

Pergunta 5: O que te motivou a ser docente?

Escolher uma profissão envolve muitos critérios em alguns casos, em outros,


é uma escolha totalmente sem parâmetros, isso porque, a escolha por uma profissão
envolve fatores financeiros, culturais, sociais, familiares, de afinidade com uma área
47

do conhecimento, paixão, necessidade, identificação, impulso, ou em muitos casos,


por ser a única opção de profissão/formação disponível.
Buscar respostas para as motivações que levam alguém a escolher a docência
como profissão é uma das indagações que fizemos nesse questionário. Para Bourdieu
o campo onde o agente se posiciona pode sofrer interferências diretas ou indiretas. A
partir das respostas apresentadas no questionário é possível perceber como se deu a
escolha pela docência dos participantes. Informações no quadro abaixo:

Quadro 9: Escolha pela docência


P1 Ir sempre à escola com minha mãe que dava aula nas séries iniciais. E
por me identificar com a forma como ela conduzia.
P4 A matemática me escolheu, a decisão entre licenciatura e bacharelado
se deu por conta da questão financeira.
P9 O exemplo dos meus pais.
P11 Meu professor de matemática
P16 Oportunidade maior no mercado de trabalho, possuir uma formação
profissional, admiração pelo trabalho do professor e conseguir uma
remuneração melhor.
Fonte: Própria autora.

Desse modo, é possível entender o conceito de habitus definido por Bourdieu,


onde os fatores externos podem se interiorizar e influenciar nas tomadas de decisões.
Embora, nem sempre seja possível perceber as interferências que ocorrem no meio
social, o local onde o sujeito está ancorado, com quem ele se comunica, as músicas
que ouve, a religião que lhe foi apresentada, a cultura e costumes que o cercam,
contribui para sua formação como pessoa, como profissional, de maneira intelectual
e social.
Gostaríamos de ressaltar também que vimos exemplos claros dos principais
atores do incentivo aos estudos: a família incentivadora, a experiência familiar com a
educação e o docente motivador. Fundamentando a relação com o saber que o
participante da pesquisa teve desde o primeiro momento.

Pergunta 6: Você adquiriu hábitos novos (passou a ler mais, aprecia mais alguma
expressão artística, música e etc.) com relação aos costumes que você tinha antes de
ser estudante universitário?

Adquirir novos hábitos está relacionado com o ambiente ao qual estamos


expostos, a maneira como se reproduzem, alteram ou surgem novos hábitos é reflexo
48

da mudança dos cenários ao qual o indivíduo está. Bourdieu defende que embora o
natural seja os comportamentos permanecerem ou se conservarem com o indivíduo,
a mudança de ambiente pode transformar suas condutas, que seria o ato ou ação de
reproduzir o que está na sociedade. No quadro abaixo, é possível visualizar algumas
das respostas obtidas para essa pergunta:

Quadro 10: Novos hábitos a partir da entrada no ensino superior.


P3 Passei a me interessar mais em ler, pois me ajudava a produzir os
trabalhos solicitados. Músicas que estejam relacionadas a
valorização do povo brasileiro e suas lutas, passaram a fazer parte
da minha playlist.
P7 Passei a frequentar cinema, livrarias e a ter mais contato com
cultura e política depois do ensino superior.
P8 Você passa a compreender pontos positivos e negativos. Uma
imaginação surreal por cada detalhe.
P19 Ler mais, analisar com maior precisão tanto o que se lê quanto o
que se ouve, refletir mais sobre a sociedade.
Fonte: Própria autora.

Dos participantes, 21 relataram mudanças em seus hábitos após a entrada na


universidade, 1 participante não percebeu nenhuma mudança.
Os participantes relataram que após se tornarem estudantes universitários
passaram a ler mais, escrever melhor, organizar melhor os pensamentos, pesquisar,
ter um olhar mais crítico. O convívio no ambiente universitário também possibilitou aos
estudantes o interesse por teatro, cinema e música.
É possível dessa forma compreender uma extensão nas escolhas e nas opções
que foram criadas após o início da jornada universitária. Os estudantes relatam que o
ambiente acadêmico possibilita mudanças em seus comportamentos, em sua forma
de olhar para a sociedade, de olhar para si mesmo e escolher com mais clareza.
Desse modo, fica evidente a necessidade da construção de uma sociedade que
estude mais, que avance na busca pelo ensino superior, que leia mais, melhor e de
maneira crítica e reflexiva. Inserir, criar condições para que todos consigam ter acesso
ao ensino fundamental, ensino médio e superior é sem dúvidas criar um ambiente e
uma sociedade mais estruturada.

Pergunta 7: Refletindo sobre o conhecimento matemático e pedagógico adquirido


durante a graduação, qual a sua avaliação pessoal sobre esses conhecimentos na
sua forma de ver a sociedade e seu papel como educador?
49

A mudança de ambiente e as oportunidades criadas durante o percurso


acadêmico permitem novas compreensões a respeito do que se aprende ou do que
se ensina. A troca de conhecimentos e experiências enriquecem o ambiente
acadêmico e possibilitam o surgimento de novas visões a respeito de um determinado
tema. Selecionamos algumas respostas que expressam a opinião de alguns
pesquisados.

Quadro 11: Posicionamento dos alunos em relação a profissão docente


P1 A maioria dos professores da UFPE não nos dão a contribuição que
precisamos quando saímos da universidade. Acho que esquecem que vamos
atuar em escolas de 5 ao 9 ano.
P6 Abriu meus olhos para mudanças que deveriam ser feitas não só na educação,
mas no social em geral, mudanças no modo de agir sobre diversos assuntos,
com isso entendi que meu papel como educador é lutar por essas mudanças, é
ter voz e usá-las para evidenciar o que precisa ser mudado.
P9 Durante a graduação nos sentimos muito preparados para atuar na área, mas
embora tente, a graduação não nos prepara 100% para ser professor, notei
isso durante o período de 6 meses em que fui professor do 8⁰ ano dos anos
finais, onde precisei muito lembrar das minhas aulas de didática. Na
universidade tudo dá certo, só que, na prática, a teoria é outra. Acredito que
esse aspecto só será aperfeiçoado com a vivência e a experiência docente.
Nosso papel é tentar usar o palco que nos foi dado para burlar o sistema e
ensinar nas entrelinhas dos cálculos, algo além de matemática, porque além
de alunos, estamos formando cidadãos.
P15 Na verdade, hoje vejo que nem todos tiveram a oportunidade que eu e tantas
outros estudantes tiveram em fazer parte de uma universidade, é um privilégio,
então como educador o que eu puder fazer para ajudar alguém seja a tirar
dúvidas de como ingressar numa universidade, uma dúvida na escola... eu
faço de tudo para ajudar.
P22 A importância e responsabilidade de realizar a educação matemática em um
contexto escolar de tanta desmotivação e o impasse da corrida entre cumprir o
currículo e conseguir em tão pouco tempo transmitir tantos saberes e fazê-los
significados para os aprendentes.
Fonte: Própria autora.

Sobre a resposta do estudante P1, é comum ouvirmos reclamações neste


sentido. Acreditamos que a conceituação da universidade é que acaba não sendo
totalmente compreendida pelos discentes. A universidade, embora forme também
para o mercado, busca incentivar uma formação pessoal que não se limite apenas às
atividades profissionais que o discente vai executar em seu dia a dia.
Para entender melhor o que desejamos dizer, esclarecemos que a universidade
se fundamenta em uma tríade Ensino-Pesquisa-Extensão. Assim o discente não
apenas aprende a ser professor, ele pesquisa sobre a função de professor. Assim
50

como é objeto de pesquisa sobre o tema. O estudante também é levado a interagir


com a sociedade, pois seria impossível para qualquer instituição abranger todas as
habilidades futuras que os novos discentes devem ter. A escolha feita, então, foi
formar um docente autodidata, capaz de se adaptar. Quem entra na universidade com
a visão de que irá apenas se profissionalizar, poderia ter um choque. Pois o ambiente
cobra até mesmo um novo habitus, um novo comportamento.
As outras respostas demonstraram uma visão muito bem trabalhada sobre o
papel social do docente que lemos com uma mudança no paradigma da profissão do
professor como o pobre coitado que recebe mal, para o ator social que consegue
provocar algumas mudanças.

Pergunta 8: Você considera a universidade um ambiente elitista? Por quê?

Durante os aproximadamente 210 anos que a Companhia de Jesus esteve no


Brasil e instaurou a educação, a educação era recebida de modo distinto dependendo
da divisão social. Enquanto os índios recebiam ensinamentos cristãos nas aldeias, a
elite recebia educação nos colégios católicos. A divisão social esteve e está presente
em muitos momentos da história do Brasil, no entanto, com a lei de cotas nas
universidades de 2012 foi possível ampliar e incluir mais negros, pardos e índios no
ensino superior, além de incluir estudantes que concluíram o ensino médio em escolas
públicas no ambiente acadêmico. Mesmo com o aumento no número de estudantes
nas universidades, será que o ambiente acadêmico ainda é considerado elitizado? A
partir desse questionamento perguntamos aos participantes da pesquisa e algumas
das respostas obtidas podem ser verificadas no quadro abaixo:

Quadro 12: Comunidade acadêmica


P1 Graças ao fácil acesso por nota, não.
P3 Em parte, sim, acredito que pessoas que tiveram condições financeiras melhores na
educação básica, querendo ou não têm privilégios sobre aqueles que estudaram em
escolas que ao menos tiveram professor de matemática o ano todo. Assim, a
inserção desses alunos na universidade é maior.
51

P6 Em grande parte, sim, mas já mudou bastante, se ainda fosse extremamente elitista
eu, filha de dois agricultores, pessoas da roça, semianalfabetos, jamais teria entrado
na universidade, porém a grande parte elitista dela dificulta muito a vida de quem
não faz parte Da elite em diversos cursos lá dentro.
P7 Acredito que sim, seria ingenuidade minha dizer que não, infelizmente é uma
verdade que os cursos mais desejados e concorridos ainda têm suas vagas
ocupadas por pessoas de classes econômicas mais elevadas. É verdade que hoje é
comum aos demais cursos, estudantes pobres, porém é muito raro alunos que
realmente vieram da periferia ou de situação de extrema pobreza.
P9 Sim, porque o governo não oferece uma educação de qualidade para todos e no
vestibular temos que competir com pessoas com mais estruturas para estudo, sendo
assim, temos que fazer mais com menos. A maioria não consegue e é essa a
estratégia do sistema, não existe meritocracia quando um aluno 1 é bem estruturado,
sala de aula equipada, professores bem capacitados bem pagos e toda uma
preparação para o vestibular, enquanto o aluno 2 não tem uma boa educação
básica, escolas caindo aos pedaços, professores mal pagos, em casa fome... são
tantas dificuldades incumbidas no processo de ingresso do aluno 2 que quando ele
consegue entrar na universidade, muitas vezes vira manchete de jornais.
P11 Atualmente não. Hoje a universidade está ao alcance de todos sem distinção de
classe social
Fonte: Própria autora.

Mesmo com as mudanças e programas de inclusão para o acesso ao ensino


superior, ainda é possível perceber pelas respostas dos participantes que a
universidade ainda é um ambiente mais preparado para as classes médias e altas.
Mesmo com o aumento no número de estudantes no ensino superior, segundo o Inep
(2020) dos alunos que ingressaram no ensino superior no período de 2010-2019, 59%
haviam desistido do curso. Diante desse cenário, muitos questionamentos e reflexões
se tornam presentes. Os programas de cotas estão ampliando a entrada dos
estudantes na universidade, porém, quantos desses alunos conseguem concluir a
graduação?

Pergunta 9: Sem citar nomes, existem professores em quem você se inspira como
profissional? Qual o motivo?

Além de ensinar, o professor consegue em muitas ocasiões influenciar os


alunos. A relação de troca que acontece durante as aulas pode servir de inspiração
positiva ou negativa. Pensando na influência que o professor pode ter em relação aos
alunos levantamentos o seguinte questionamento e obtivemos 22 respostas, algumas
podem ser observadas a seguir:

Quadro 13: A influência do professor.


52

P5 Sim, alguns por conhecimento, outros por história de vida.


P6 Sim, a força, a garra, a luta pelo futuro, a maneira de lidar com o aluno
se colocando no lugar dele lembrando-se de quando também era aluno,
me inspiram, suas caminhadas me inspiram a seguir procurando
sempre ser melhor do que posso ser dentro da área que escolhi e como
pessoa também.
P12 Sim, humanos e que buscam uma coerência no ato de educar, que não
estão preocupados em criar um demônio de sua imagem dentro da
universidade, de forma que os anos passam os filhos daquele
estudante vai saber que o pai ou mãe teve um professor muito isso ou
aquilo. Sem contar que didática é melhor que desafios e que
acompanhar o aluno é melhor que os assustar, por mais difícil que o
assunto possa ser.
P19 Sim, tanto positivamente quanto negativamente. Existem professores
que te inspiram a ser futuramente como eles. Mas também existem
professores que te inspiram a não seguir o modelo dele jamais.
Fonte: Própria Autora.

É possível observar que nem sempre os professores inspiram os alunos de


forma positiva, pelos relatos percebe-se que o professor é muitas vezes temido por
impor o medo, criando um ambiente de dominante e dominado. O professor sendo um
influenciador pode acabar reproduzindo os problemas sociais e seus alunos poderão
fazer o mesmo. Para Bourdieu, para que o professor não seja um reprodutor das
crenças sociais, ele não pode reproduzir os discursos dominantes que cercam a
sociedade.

Pergunta 10: Você se considera mais crítico depois que iniciou seu curso? A que você
atribui isto?

O olhar crítico, reflexivo, responsável e humano sobre os problemas sociais é


uma prática constante. O ambiente e as relações que estabelecemos são um reflexo
de como pensamos, das opiniões que professamos, dos nossos costumes e de como
agimos. É quase impossível não sofrer influência do ambiente ao qual estamos
expostos, pensando nisso, procuramos entender como o ambiente universitário pode
influenciar, construir e modificar hábitos.
Todos os participantes relatam que se tornaram mais críticos após estarem
expostos ao ambiente acadêmico, reforçando a teoria de Bourdieu que os
pensamentos, ações, interações podem sofrer mudanças de acordo com a mudança
do ambiente social.
Algumas das respostas dadas pelos participantes diante dessa indagação.
53

Quadro 13: Criticidade promovida pela entrada no ensino superior.

Quadro 14: Criticidade promovida pela entrada no ensino superior.


P2 Sim, aos debates promovidos nas aulas.
P5 Sim. A Universidade proporciona uma maneira diferenciada de enxergar
o meio. Também faz o contrário, mas o balanço é positivo.
P7 Sim, depois do curso passei a compreender melhor algumas coisas e
quando compreendemos melhor algo, formamos mais opiniões.
P12 Com certeza!!!!!! Atribuo a experiências boas e ruins vivenciadas, sejam
elas para crescimento e/ou tormento.
P18 Sim, a um modelo crítico de observar o mundo.
P19 De certa forma sim, o regime de estudos e de leituras e etc. Te fazem
ver o mundo a partir de diversas perspectivas e assim moldar seus
pensamentos. Isso acaba te fazendo ser mais crítico também.
Fonte: Própria autora.

Após essas respostas é possível perceber a presença de palavras como:


tormento, modelo, regime e moldar, palavras que se analisadas podem ser
consideradas opostas ao que seria formar um pensamento crítico. Embora o
questionamento procure respostas que expliquem como os estudantes passaram a
observar com maior racionalidade o que ocorre a sua volta após a entrada na
universidade é possível perceber uma dualidade entre o que seria pensamento crítico
e o que eles acreditam ser. O pensamento crítico surge através da análise pessoal
sobre um determinado acontecimento, não sendo algo moldado, ou como um modelo
pronto.

Pergunta 11: Suas perspectivas profissionais mudaram durante a graduação?

A mudança no posicionamento a partir das experiências podem refletir no modo


de como observamos as mudanças pessoais e profissionais. Toda mudança gera um
impacto. A entrada na universidade é para muitos uma oportunidade para melhorar a
vida, e acreditar na possibilidade da existência em um futuro melhor.
É natural que ao longo da caminhada acadêmica surjam inseguranças, medos,
arrependimentos e frustrações, no entanto, a esperança de que no final da jornada
todo esforço valerá a pena é o que faz todo esforço valer a pena.
Nesta pergunta, em particular, a autora da pesquisa buscava entender se a
graduação aumentava as expectativas pessoais dos discentes, porque, como
54

esperávamos, a graduação representava um salto qualitativo em status. Entretanto,


devido a questão ser muito subjetiva, percebemos com as respostas que os discentes
demonstraram interesses em fazer pós-graduação, algumas frustrações, se tornaram
mais motivados como professores e se identificaram como o habitus da profissão.
Entretanto não é possível fechar uma análise, como queríamos, assim optamos por
nos abster da análise e deixar esse desdobramento para futuras pesquisas.
55

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a construção deste trabalho foi possível analisar como a desigualdade


ainda está presente na sociedade, e como o discurso de educação de qualidade para
todos ainda está distante de atingir seu real significado, além disso, foi possível fazer
uma reflexão acerca da desigualdade educacional existente no Brasil desde o início
da chegada dos europeus.
Pudemos reconstruir um pouco do histórico da desigualdade social de toda
sociedade, posteriormente investigamos o histórico da desigualdade no Brasil.
Inclusive investigamos como até mesmo as leis do nosso país incentivaram a
acumulação de patrimônio e conhecimento pela elite. Assim não só o Brasil não
combateu a pobreza, como atuou no sentido oposto. Assim o estado, que sempre foi
muito permeado da elite, cultivou desigualdade que são refletidas na bagagem cultural
das famílias e consequentemente nas oportunidades que as famílias mais pobres têm
oportunidades.
Foi possível perceber de modo geral, que a maioria dos alunos que
responderam à pesquisa possuem pais com o nível de escolaridade inferior aos filhos,
os pesquisados receberam apoio familiar para começar a graduação. Ao retomar a
questão que nos trouxe a essa pesquisa: como a educação pode aumentar ou diminuir
a desigualdade? Diante da pesquisa desenvolvida e através dos resultados, foi
possível estabelecer algumas conclusões:
Se tratando de objetivo: Foi possível compreender que a desigualdade gera
maior instabilidade social, educacional e financeira. Dessa forma, é possível perceber
que a construção de uma sociedade desigual, gera pobreza e desinformação.
Percebemos como o habitus foi bastante relevante no incentivo dos discentes
em buscarem formação. Primeiro os discentes tiveram experiência com pais,
professores e assim se mobilizaram a buscar formação, seja por necessidade de
ganho financeiro ou cultural.
A universidade, inclusive, contribuiu para que os discentes obtivessem mais
exposição cultural a ponto de adquirirem experiências mencionadas. Conhecimentos
outrora elitizados como o acesso à leitura passaram a ser adotados pelos discentes e
um pensamento mais crítico também foi cultivado pelas respostas dos discentes.
56

Há uma sensação de que o ambiente da universidade seja elitista, mas também


uma sensação de que esta estrutura esteja mudando com os projetos de inclusão
como cotas regionais e raciais.
Considerando todas as respostas, percebemos que a sociedade tem carência
acerca de formação que parece não ter sido oportunizada aos brasileiros. O
progresso de programas de inclusão e combate à desigualdade permitiu que filhos de
agricultores, costureiras, taxistas, comerciantes pudessem acessar o ensino superior.
A desigualdade social provavelmente não deixaria de existir por causa destas
mudanças sociais, mas o impacto pontual é um esboço de como podemos dar
oportunidades ao cidadão de alcançarem uma real igualdade.
57

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62

APÊNDICE – QUESTIONÁRIO VIRTUAL

CONTEXTO SOCIAL E INFLUÊNCIAS


Pergunta 1: Descreva a formação escolar dos seus pais e suas profissões ou
atividades.
Resposta aberta

Pergunta 2: Você acredita que a sua formação como professor terá impacto em seu
status social?
( ) Sim
( ) Não
( ) Não tenho certeza

Pergunta 3: Você avalia o crescimento financeiro ou crescimento cultural como o


ganho mais relevante da sua formação?
( ) Crescimento cultural
( ) Crescimento financeiro
( ) Crescimento cultural e crescimento financeiro
( ) Nenhum

Pergunta 4: Houve incentivo familiar de sua família, professores, amigos ou


semelhantes para sua formação?
( ) Sim
( ) Não
( ) Incentivo Parcial

Pergunta 4.1: Exemplifique como estes incentivos podem ter contribuído em suas
escolhas.

DOCÊNCIA E MUDANÇA DE HÁBITOS


Pergunta 5: O que te motivou a ser docente?
Resposta aberta
63

Pergunta 6: Você adquiriu hábitos novos (passou a ler mais, aprecia mais alguma
expressão artística, música e etc.) com relação aos costumes que você tinha antes de
ser estudante universitário?
( ) Sim
( ) Não

Pergunta 6.1: Caso a resposta anterior tenha sido sim, exemplifique:

Pergunta 7: Refletindo sobre o conhecimento matemático e pedagógico adquirido


durante a graduação, qual a sua avaliação pessoal sobre esses conhecimentos na
sua forma de ver a sociedade e seu papel como educador?
Resposta aberta

AMBIENTE ACADÊMICO
Pergunta 8: Você considera a universidade um ambiente elitista? Por quê?
Resposta aberta

Pergunta 9: Sem citar nomes, existem professores em quem você se inspira como
profissional? Qual o motivo?
Resposta aberta

Pergunta 10: Você se considera mais crítico depois que iniciou seu curso? A que você
atribui isto?
Resposta aberta

Pergunta 11: Suas perspectivas profissionais mudaram durante a graduação?


Resposta aberta

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