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Faculdade De Educação
MARIANE BOLINA
CAMPINAS
2020
MARIANE BOLINA
CAMPINAS
2020
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
COMISSÃO JULGADORA:
José Claudinei Lombardi
Marcos Roberto Lima
Raquel de Almeida Moraes
A Ata da Defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no SIGA/Sistema de Fluxo de
Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da Unidade.
2020
Dedico este trabalho a todos os educadores que
buscam incessantemente compreender os
caminhos mais adequados ao alcance de uma
alfabetização desenvolvente.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu filho Caio, com quem аmо partilhar а vida, pelo encanto
inocente, pelo envolvimento com este trabalho, pelo encorajamento e, sobretudo, pela
capacidade de me trazer paz, alegria e esperança…
Agradeço ao meu amado pai Oswaldo (in memoriam), pela devoção às filhas
e, mesmo longe, iluminar os meus pensamentos…
Agradeço à minha amada mãe Letícia, por toda a sua dedicação com minha
formação humana, por seu amor profundo e preocupações constantes...
It is known that the achievement of literacy and children's literacy during the literacy
cycle still represents a challenge to be overcome at the national level, which involves
reasons of diverse and interconnected orders (political, economic, social and
educational) for a dialectical understanding, historical and critical. However, in this
work, the focus on the role that public policies play in teacher training and in directing
pedagogical actions was prioritized. When considering that the formation constitutes
as a founding element of the pedagogical practice - being the last product and process
that permeates the knowledge of the teachers - this research analyzed the path of
public policies to literacy in Brazil, verifying its effects, adhesions and refusals in the
movement of the implementations of the municipal network of Sorocaba. For this, the
research was developed through theoretical, statistical and documentary studies about
literacy, culminating in the elaboration of the historical (re) construction of the network's
formative processes (2001 - 2018), identifying in this period the conceptions and the
place that the training actions related to literacy occupied. As a philosophical-
methodological framework of analysis, the assumptions of Historical-Dialectic
Materialism, the contributions of Historical-Critical Pedagogy and Historical-Cultural
Theory were used. Based on the reflections made possible by this research, it is
expected to contribute to the defense of investment in public training policies that
prioritize overcoming the educational challenges posed to literacy, aiming to clarify the
role of the school in the founding perspective of teaching classical content and
identification of the most appropriate ways for its development.
REFERÊNCIAS .......................................................................................................172
ANEXOS ..................................................................................................................183
16
INTRODUÇÃO
O OBJETO DE PESQUISA
BASE 2000 2000 2001 2002 2002 2002 2002 2002 2002
Rudimentar 27% 26% 26% 26% 25% 20% 21% 23% 22%
Elementar 28% 29% 30% 31% 32% 35% 37% 42% 34%
Intermediário 20% 21% 21% 21% 21% 27% 25% 23% 25%
Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Analfabeto
Funcional 39% 39% 37% 37% 34% 27% 27% 27% 29%
Funcionalmente 61% 61% 63% 63% 66% 73% 73% 73% 71%
Alfabetizados
Fonte: Inaf 2001-2018
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Tabela 2 – Taxa de Reprovação (%) da Rede Municipal de Sorocaba (RM) e da Rede Estadual no
Município de Sorocaba (RE)
Ano 2015 2016 2017
RM RE RM RE RM RE
RM RE RM RE RM RE
RM RE RM RE RM RE
1º ano 22 9 21 5 28 1
2º ano 27 4 16 4 38 0
5º ano 41 2 52 2 42 2
Tabela 5 - Dados Históricos (%) do Nível de Leitura dos Alunos da Rede Municipal de Sorocaba ao
Término do Ciclo de Alfabetização Aferidos pela Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA, 2013 –
2014 – 2016)
2013 2014 2016
LEITURA N1 N2 N3 N4 N1 N2 N3 N4 N1 N2 N3 N4
11% 27% 42% 20% 9% 26% 43% 22% 10% 24% 43% 23%
2 Lei Federal nº 11.274/06, que institui o ensino fundamental de 9 anos, dando prazo máximo de até
2010 para as redes implementarem as modificações.
3 A Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) é uma avaliação externa que objetiva aferir os níveis
de alfabetização e letramento em Língua Portuguesa (leitura e escrita) e Matemática dos estudantes
do 3º ano do Ensino Fundamental das escolas públicas. As provas aplicadas aos alunos forneceram
três resultados: desempenho em leitura, desempenho em matemática e desempenho em escrita. Além
dos testes de desempenho, que medem a proficiência dos estudantes nessas áreas, a ANA apresenta
em sua primeira edição (2013), informações contextuais: o Indicador de Nível Socioeconômico e o
Indicador de Formação Docente da escola. A ANA é censitária, portanto, será aplicada a todos os
alunos matriculados no 3º ano do Ensino Fundamental. Considera-se apropriado que o professor
regente de classe esteja presente à aplicação. (Portal do INEP, 2013). A ANA foi aplicada no Brasil nos
anos de 2013, 2014 e 2016.
22
NÍVEL DESCRIÇÃO
Nível 1
(até Neste nível, os estudantes provavelmente são capazes de:
425 - Ler palavras com estrutura silábica canônica, não canônica, ainda que alternem sílabas canônicas e não canônicas.
pontos)
Além das habilidades descritas no nível anterior, os estudantes provavelmente são capazes de:
Nível 2
- Localizar informações explícitas em textos curtos como piada, parlenda, poema, quadrinho, fragmentos de narrativas
(maior
e de curiosidade científica, e em textos de maior extensão, quando a informação está localizada na primeira linha do
que 425
texto;
até 525
pontos) - Reconhecer a finalidade de texto como convite, campanha publicitária, infográfico, receita, bilhete, anúncio, com ou
sem apoio de imagem;
- Identificar assunto em textos como campanha publicitária, curiosidade científica ou histórica, fragmento de reportagem
e poema cujo assunto está no título ou na primeira linha;
Além das habilidades descritas nos níveis anteriores, os estudantes provavelmente são capazes de:
-Localizar informação explícita em textos de maior extensão como fragmento de literatura infantil, curiosidade
Nível 3 científica, sinopse, lenda, cantiga folclórica e poema, quando a informação está localizada no meio ou ao final do texto;
(maior
- Identificar o referente de um pronome pessoal do caso reto em textos como tirinha e poema narrativo;
que 525
até 625 - Inferir relação de causa e consequência em textos verbais como piada, fábula, fragmentos de textos de literatura infantil
pontos) e texto de curiosidade científica, com base na progressão textual; informação em textos como história em quadrinhos,
tirinha, piada, poema e cordel; assunto em textos de divulgação científica e fragmento de literatura infantil; e sentido de
expressão de uso cotidiano em textos como poema narrativo, fragmentos de literatura infantil, de curiosidade científica
e tirinha.
Além das habilidades descritas nos níveis anteriores, os estudantes provavelmente são capazes de:
Nível 4
- Identificar
o referente de: pronome possessivo em poema e cantiga; advérbio de lugar em reportagem; pronome
(maior
demonstrativo em fragmento de texto de divulgação científica para o público infantil; pronome indefinido em fragmento
que 625
de narrativa infantil; e pronome pessoal oblíquo em fragmento de narrativa infantil;
pontos)
- Identificar relação de tempo entre ações em fábula e os interlocutores de um diálogo em uma entrevista ficcional;
Tabela 6– Dados Históricos (%) do Nível de Escrita dos Alunos da Rede Municipal de Sorocaba ao
Término do Ciclo de Alfabetização Aferidos pela Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA, 2013 –
2014 – 2016)
2013 2014 2016
ESCRITA N1 N2 N3 N4 N5 N1 N2 N3 N4 N5 N1 N2 N3 N4 N5
NÍVEL DESCRIÇÃO
Nível 1
(menor Em relação à escrita de palavras, os estudantes que se encontram neste nível provavelmente não escrevem as
que 350 palavras ou estabelecem algumas correspondências entre as letras grafadas e a pauta sonora, porém ainda não
pontos) escrevem palavras alfabeticamente. Em relação à produção de textos, os estudantes provavelmente não escrevem
o texto ou produzem textos ilegíveis.
Nível 2
(maior ou Em relação à escrita de palavras, os estudantes que se encontram neste nível provavelmente escrevem
igual a
alfabeticamente palavras com trocas ou omissão de letras, alterações na ordem das letras e outros desvios
350 e ortográficos. Em relação à produção de textos, os estudantes provavelmente não escrevem o texto ou produzem
menor textos ilegíveis.
que 450
pontos)
Nível 3 Em relação à escrita de palavras, os estudantes que se encontram neste nível provavelmente escrevem
(maior ou ortograficamente palavras com estrutura silábica consoante- vogal, apresentando alguns desvios ortográficos em
igual a palavras com estruturas silábicas mais complexas. Em relação à produção de textos, provavelmente escrevem de
forma incipiente ou inadequada ao que foi proposto, sem as partes da história a ser contada, ou produzem
450 e
menor fragmentos sem conectivos e/ou recursos de substituição lexical e/ou pontuação para estabelecer articulações entre
que 500 partes do texto. Apresentam ainda grande quantidade de desvios ortográficos e de segmentação ao longo do texto.
pontos)
Nível 4 Em relação à escrita de palavras, os estudantes que se encontram neste nível provavelmente escrevem
(maior ou ortograficamente palavras com diferentes estruturas silábicas. Em relação à produção de textos, provavelmente
igual a atendem à proposta de dar continuidade a uma narrativa, embora possam não contemplar todos os elementos da
500 e narrativa e/ou partes da história a ser contada. Articulam as partes do texto com a utilização de conectivos, recursos
menor de substituição lexical e outros articuladores, mas ainda cometem desvios que comprometem parcialmente o sentido
que 600 da narrativa, inclusive por não utilizar a pontuação ou utilizar os sinais de modo inadequado. Além disso, o texto
pontos) pode apresentar poucos desvios de segmentação e alguns desvios ortográficos que não comprometem a
compreensão.
Em relação à escrita de palavras, os estudantes que se encontram neste nível provavelmente escrevem
Nível 5 ortograficamente palavras com diferentes estruturas silábicas. Em relação à produção de textos, provavelmente
(maior ou atendem à proposta de dar continuidade a uma narrativa, evidenciando uma situação inicial, central e final, com
igual a 600 narrador, espaço, tempo e personagens. Articulam as partes do texto com conectivos, recursos de substituição
pontos) lexical e outros articuladores textuais. Segmentam e escrevem as palavras corretamente, embora o texto possa
apresentar poucos desvios ortográficos e de pontuação que não comprometem a compreensão.
● 342 crianças em 2014 (6%) e 430 crianças em 2016 (8%) que escrevem
palavras, porém, ainda com possíveis trocas de letras e/ou omissões de
letras;
● 57 crianças em 2014 (1%) e 53 crianças em 2016 (1%) que escrevem
palavras com sílabas canônicas (consoante/vogal), mas que ainda
apresentam dificuldades nas sílabas mais complexas e desvios
ortográficos.
● 3.543 crianças em 2014 (62%) e 3.931 crianças em 2016 (73%) que
escrevem palavras com diferentes estruturas silábicas e atendem a
proposta de dar continuidade a uma narrativa, embora cometam desvios
que comprometem o sentido da narrativa. Crianças que ainda
apresentam desvios de ortografia, ainda não segmentam e não utilizam
pontuação;
● 1.543 crianças em 2014 (27%) e 700 crianças em 2016 (13%) que
escrevem palavras com diferentes estruturas silábicas. Que conseguem
dar continuidade a uma narrativa evidenciando uma situação inicial,
central e final. Segmentam palavras corretamente, embora possam
apresentar alguns desvios ortográficos e de pontuação.
Por conseguinte, torna-se cada vez mais evidente as dificuldades para fazer
com que todos alcancem patamares superiores de alfabetismo4. Conforme os dados
do INAF, apresentados no início desta seção, a ampliação do acesso à educação
contribuiu para a redução do analfabetismo funcional, mas os dados atuais sugerem
que é urgente a necessidade de investimento na qualidade desse sistema, que não
basta somente ampliação de horas de estudo e/ou (re)definições de conteúdos.
Tabela 7 – Número de Alunos Matriculados nos Anos Iniciais em Sorocaba de 1999 a 2018
Rede Estadual Rede Municipal
ANO
EF –AI EF- AI
O PERCURSO METODOLÓGICO
5 Este capítulo se apresentará muitas vezes em primeira pessoa do singular por tratar de uma narrativa
que marca a constituição da pesquisadora em direção ao tema da alfabetização.
34
Minha vida escolar começou no ano de 1985, na pré-escola, quando tinha cinco
anos de idade e apenas completaria seis anos em 27 de dezembro de 1985. Apesar
de não ter condições financeiras na época, meus pais me matricularam em um colégio
particular da cidade de Sorocaba/SP. O ingresso nessa instituição foi resultado do fato
de uma tia paterna ser professora dessa escola, o que propiciou a dispensa das
mensalidades. Foi um início permeado de atividades de coordenação motora, uma
professora acolhedora, cheirinho de parque, tênis lotado de areia ao chegar em casa
e muita interação, brincadeira e inocência.
No ano seguinte, com seis anos de idade, ingressei na primeira série primária
da época, ou seja, hoje correspondente ao nosso 2º ano do Ensino Fundamental, hoje
com duração de nove anos. Nesse período, tudo se transformou radicalmente em
minha relação com a escola, a transição da Educação Infantil para a primeira série foi
uma experiência marcante. Era a aluna mais nova (cronologicamente) em relação aos
meus colegas, pois apenas faria sete anos ao final de dezembro. Muitos colegas da
pré-escola haviam mudado, mas outros novos e muitas outras questões começaram
a ser reveladas socialmente em relação aos amigos, ao entendimento das comandas,
à alteração da rotina e, especialmente, ao trato da professora com os alunos.
Quanto aos amigos, questões de comparação por aquisições materiais
começaram a se manifestar e foram recorrentes. O tipo do estojo (o meu era de
madeira, reutilizado do ano anterior, em detrimento de diversos estojos com botões,
sons e cores), dos lápis de cor (lápis reutilizados também, porém em ótimo estado,
em comparação a caixas gigantes de cores novas dos demais colegas), dos lacinhos
diversos e variados das meninas e o meu elástico simples de rotina. Da comparação
entre o que um ou outro carregava em suas lancheiras, ou até mesmo, de alguns que
levavam valores diários para consumir na cantina escolar, em contrapartida, meu
delicioso pão com manteiga e leite, preparados com muito carinho por minha mãe.
Naquele ano, as seleções dos colegas pelas aquisições materiais foram muito
35
6 De acordo com Branca Alves de Lima, criadora da Cartilha Caminho Suave, seu método de ensino
era eclético, “[...] baseei meu processo de ‘Alfabetização pela Imagem’ no ‘Método Analítico Sintético’,
mas partindo da palavra”, consistindo “esse processo, em relacionar a sílaba inicial de cada vocábulo
com um ‘desenho chave’” (LIMA, 1967 apud CARDOSO; AMÂNCIO, 2018, p.47).
36
da letra “i” cursiva, reproduzi recalcando todas as letras, para atingir o tal efeito
“negrito” do exemplo do livro, especialmente no pingo do “i”, que mais parecia uma
bolinha preenchida a lápis. Até o momento, não entendia como os colegas estavam
terminando tão rápido aquela lição, pois preencher todas aquelas “bolotas” e reforçar
bem o lápis era um processo lento que me atrasava em relação aos demais.
Foi quando orgulhosa de minha tarefa fui à mesa da professora para entregá-
la. Para minha surpresa, aos gritos fui recebida, com ordem para apagar tudo e fazer
novamente. Na segunda vez que levei à professora (e com muito medo), ouvi que
minha lição além de errada novamente, agora estaria “suja”, toda borrada com as
marcas apagadas da anterior. Com muita vergonha dos olhares para mim e segurando
o choro, voltei à carteira e comecei a apagar tudo novamente... Eis que num ato de
coragem extrema, um coleguinha japonês se arriscou a sair do seu lugar e foi até
minha mesa e fez para eu ver com o lápis o movimento do pingo do “i”.
Foi como se o universo inteiro se abrisse para mim, afinal ainda não sabia o
que havia de errado com meu feito. Era tão mais rápido assim, pensei... Sem o seu
rápido e eficaz exemplo, seria capaz de repetir mil vezes o mesmo erro, pois dentro
de meu pensamento estava fazendo “igualzinho” ao modelo em negrito que reforçava
muito a extensão do pingo e, dessa forma, estava obedecendo rigorosamente a
explicação dada: “igualzinho”. Quis imitar perfeitamente e fiz na realidade vários “is”
recalcados e algumas várias bolotas ao invés de pingos.
Na segunda série passei por experiências bem diferentes, hoje as defino como
fundantes no modelo de professor que decidi assumir profissionalmente. Mas o que
houve de tão especial nessa segunda série? Bem, defino como “Professora Fátima”,
na época, chamada carinhosamente de “Tia Fátima”. Ela era diferente em tudo: no
olhar, na fala, na explicação, no caminhar pelas carteiras, no sorriso no rosto, na
valorização do melhor de todos. Aquela mesma turma da 1ª série (competitiva e
excludente) se tornou uma turma unida, amigável e, além de aprender com prazer e
resgatar a minha confiança em minha capacidade, todos os colegas se tornaram muito
solidários também, ou seja, vivenciamos uma prática social transformada. Quando
tinha alguma dificuldade, logo ela aparecia e delicadamente ajudava com uma nova
informação ou um novo jeito de explicar individualmente. Na época, chegava a
imaginar que ela lia os meus pensamentos, mas hoje compreendo a importância de
um olhar atencioso aos conhecimentos e necessidades de cada um, tendo a
convicção da indispensabilidade de todo professor ter esse olhar. Flávia Asbahr
(2016), ao discorrer sobre as características do início da idade escolar7, fundamentada
em Leontiev (1998), salienta pontos importantes acerca do papel do professor e do
lugar que o mesmo ocupa no início da construção da atividade de estudo junto às
crianças:
[...] As exigências e tarefas propostas pelo(a) professor(a) são como leis para
crianças pequenas, o que é muito importante, pois elas ainda não possuem
condições cognitivas para compreender o significado de todas as ações
realizadas em sua formação geral. (Leontiev, 1998 apud Asbahr, 2016, p.
175). Nesse sentido, os motivos iniciais das crianças em idade escolar
vinculam-se fortemente à relação com o(a) professor(a), e são motivos
predominantemente afetivos, avaliamos que eles não condizem
imediatamente com as ações de estudo, mas podem ser motivos realmente
eficazes se forem considerados pontos de partida do trabalho pedagógico e
trabalhados como mediações para tal atividade. O papel do(a) professor(a)
na transformação desses motivos afetivos em motivos cognitivos é essencial
(ASBAHR, 2016, p. 175).
7 [...] a atividade de estudo é considerada a atividade principal das crianças em idade escolar (6-7
anos a 10 anos). Segundo Vigotski (VYGOTSKY, 1998), a entrada na escola traz profundas
transformações ao desenvolvimento infantil. (ASBAHR, 2016, p. 171).
38
Foi quando minha tia paterna, responsável por estarmos (minha irmã e eu)
estudando nesse colégio particular, foi demitida. As condições não eram favoráveis
para meu pai assumir duas mensalidades. Fomos até o fim do ano, findo o qual minha
mãe tentou vaga por sorteio (na época) em uma escola municipal de Sorocaba, bem
antiga e tradicional, existente até hoje, chamada “EM (Escola Municipal) Prof. Getúlio
Vargas”. Apenas minha irmã foi contemplada no sorteio. Como próxima alternativa,
minha mãe foi até a escola vizinha da rede estadual e lá conseguimos a vaga.
Assim, em 1989, fui estudar na EEPSG (Escola Estadual de Primeiro e
Segundo Grau) “Dr. Júlio Prestes de Albuquerque”, famoso “Estadão” da cidade de
Sorocaba. Com nove para dez anos descobri outro universo: uma escola gigante, com
muitos alunos, um prédio enorme, salas de aula lotadas, muita prática de esportes e
uma deliciosa merenda escolar.
Inevitável a recordação do quanto minha autoimagem e autoestima como aluna
foi transformada nesse local, pois me sentia totalmente bem, assuntos e amizades em
comum, além do fato de já conhecer muitos conteúdos que lá os alunos estavam ainda
iniciando. Conseguia até ajudar colegas em atividades em grupo - fato inédito! Passei
a amar esse lugar.
Como as coisas estavam ainda fáceis para mim, em relação aos conteúdos
escolares, até a 7ª série, infelizmente, havia perdido o hábito do estudo e de uma
conduta mais organizada nos registros e aulas. Passei a focar minha energia em jogos
de vôlei e amizades. Eis que um grande problema aconteceu ao levar para casa um
primeiro boletim com nota vermelha. Tirei um “D” em Matemática e fiquei pela primeira
vez em recuperação. Lembro-me que preparar minha mãe (para que ela preparasse
meu pai) e justificar essa informação em casa foi uma experiência muito sofrível, até
porque eu já sabia os motivos da reprova e minha irmã (cinco anos mais velha) nunca
havia tirado uma nota vermelha. Experimentei os efeitos da desconstrução de um
hábito, pois todo conhecimento se não constantemente buscado e acionado, uma hora
se limita, pois não evolui espontaneamente, esvazia-se.
8 A implantação do Ciclo Básico (CB), nos anos oitenta, foi uma medida de impacto na rede pública de
ensino do Estado de São Paulo e transformou as antigas primeiras e segundas séries do Primeiro Grau
em um continuum durante o qual o aluno realizaria o processo de aprendizagem sem interrupção,
excluindo-se as reprovações no primeiro ano de escolaridade. A medida procurava combater um dos
mais graves problemas do ensino fundamental em São Paulo e em todo o País: os inacreditáveis
índices de reprovação e evasão de alunos já em seu primeiro ano de escola.
41
9 Os métodos sintéticos em alfabetização pressupõem que o aluno deve partir de unidades linguísticas
menores (letras, sílabas ou fonemas), de forma acumulativa.
42
nunca mais voltaria a trabalhar meio período novamente. Foram 09 anos dobrando
período, com duas turmas por ano. Sempre em turmas de alfabetização inicial.
No primeiro semestre de 2002 concluí a faculdade de Psicologia, cinco anos
de faculdade dobrando nesse ritmo, trabalhando o dia todo e estudando todas as
noites. A partir do 4º ano da faculdade passei a ter inclusive aulas aos sábados. Por
inúmeras vezes necessitava estudar de madrugada e na hora do almoço, além dos
finais de semana para dar conta das leituras. Hoje olho para trás e canso só de
lembrar... E não canso de agradecer a todas essas conquistas.
Nesses nove anos dobrando, atuei também em outras escolas particulares,
felizmente numa condição ascendente. Pude com isso conhecer diversos métodos de
ensino e diversas realidades educacionais (Colégio Humanus, Colégio Mundo Novo e
Colégio Objetivo). Sempre tive um olhar muito atento e uma preocupação muito
grande com a aprendizagem e desenvolvimento de todos e cada um. Tenho meus
cadernos de anotações e planejamentos guardados como recordação e que me
emocionam até hoje. Em meio a esses anos dobrando, em 2004, realizei outro grande
sonho: fui chamada no concurso público para efetivação como PEB I (Professor de
Educação Básica I) na rede municipal de Sorocaba.
Creio ser importante fazer um destaque especial nessa experiência que
transformou meu fazer como educadora e meu olhar para a condição humana e social,
como um todo. Cheguei ao conhecido “Habiteto” de Sorocaba (Conjunto Habitacional
Ana Paula Eleotéreo10), minha primeira e única escola pública como docente
localizada num dos bairros mais distantes da região central de Sorocaba e, também,
muito carente. Local de difícil acesso, ruas de terra, comunidade marcada pela
pobreza, abandono e poucas famílias alfabetizadas. Sabe aquelas comunidades
escolares onde não param professores e nem gestão escolar? Que sempre sobram
vagas para a equipe e docentes? Bem, foi para essa escola que uma nova diretora,
uma vice, um coordenador e mais vinte professores entraram juntos cheios de energia
e brilho nos olhos. Todos novos naquele novo contexto e também como concursados
(apenas os cargos de suporte pedagógico na época não eram por concurso, mas por
designação de professores efetivos).
A equipe que se formou tinha, desde o início muita afinidade nos propósitos e
ideologias, o que nos tornou um grupo forte para aquela comunidade, pois abraçamos
os nossos propósitos e, pelo menos, durante quatro anos consecutivos, mesmo
havendo possibilidade de remoção, sendo um lugar muito distante para todos,
ninguém saiu.
Nesses quatro anos lá, minha primeira turma, atribuída no momento do
ingresso na rede, foi uma 4ª série. Confesso que cheguei muito receosa, tanto pela
inexperiência como docente de 4ª série, com os conteúdos de 4ª série, quanto com a
com a idade das crianças. O começo do ano letivo foi bem desafiador para mim; era
uma turma muito agitada, com muitos problemas de relacionamento entre o grupo,
brigas constantes e o hábito da negação de muitos para realizar qualquer atividade.
Admito que no início retornava aquele longo caminho de volta para casa chorando por
muitas vezes, sem saber o que fazer para quebrar as barreiras relacionais e termos,
ao menos, um dia produtivo, tranquilo, em que eu pudesse conhecê-los melhor,
identificando as necessidades ainda blindadas por meio dessa negação em realizar
as tarefas e da agressividade entre eles.
Minha abordagem foi mudando a cada dia e acertei quando comecei a dialogar
individualmente com alguns alunos em meio a atividades que os demais realizavam.
Posso dizer que essa ação começou a me aproximar deles, um a um. Fui percebendo
com esse movimento o quanto essas crianças ditas rebeldes tinham profundas
necessidades, além das sociais e emocionais, necessidades na aprendizagem escolar
que começavam pela alfabetização. Dos 29 alunos da classe, constatei aos poucos,
vencendo as barreiras individualmente, que apenas 10 eram alfabetizados. Sim, havia
19 alunos na classe de 4ª série (correspondendo hoje ao 5º ano do EF), ainda em
diferentes momentos da compreensão do sistema alfabético da escrita, porém, todos
copistas. Não sabiam ler e escrever alfabeticamente as palavras que copiavam tão
bem da lousa.
Percebi que muito desse comportamento hostil em realizar as tarefas, era
reforçado por essa dificuldade, pois o espaço escolar para eles representava a
reafirmação diária do fracasso e do incômodo gerado pela falta de compreensão em
tudo o que precisavam realizar. Nessas idas e vindas do caminho da escola para casa,
pensando muito no que fazer e muito preocupada com o direito de aprender a ler e
44
necessidade de ajuda, uma vez que nem os pais sabiam ler e escrever, além de não
existir espaço adequado para fazer qualquer tipo de lição em casa. Muitos também
ajudavam seus pais a trabalhar quando estavam fora da escola. Enfim, crianças para
as quais a escola, nosso olhar acerca delas, nossa persistência e afeto tinham um
papel único e transformador. Uma responsabilidade e importância imensas na vida de
cada um rumo às condições de transformação social que tanto reverberamos.
Depois desse processo vivido, houve um reconhecimento da diretora da escola
quanto ao trabalho com alfabetização que foi desenvolvido e, a partir de então, as
demais atribuições de classe/turma nesta escola municipal foram todas de primeira
série (na rede municipal de Sorocaba as atribuições de turmas/turnos é escolha e
responsabilidade do diretor). Quando cheguei à minha primeira experiência na
primeira série do “Habiteto” revi todos os meus conceitos sobre ser uma “boa
professora alfabetizadora”, pois mesmo no contexto dos alunos do ano anterior (4ª
série), assim como em todos os meus anos anteriores em escolas particulares em que
trabalhava com a alfabetização, as crianças já haviam superado a escrita primitiva,
pré-instrumental. Ou seja, aligeirei-me a estudar e pesquisar mais e mais e reconstruí
muitas ideias e práticas, pois tinha trinta e dois alunos nesse primeiro estágio da pré-
história da escrita11. Esse sempre me pareceu ser o maior encanto e ao mesmo tempo
o maior desafio da docência: as singularidades de cada turma, de cada criança, de
cada contexto que nos faz ativos, intrigados pesquisadores e estudiosos. Relembrei,
pelas necessidades reais da turma, conceitos e saberes relacionados à imensidão
desse vasto processo linguístico e o quanto isso exigia de mim novas e novas práticas,
como se estivesse iniciando a minha docência naquele dia novamente.
Um ponto importante nesse percurso foi a oferta de um curso de extensão para
professores alfabetizadores da rede pública, chamado “Letra e Vida”. Logo que houve
a primeira proposta de adesão para professores da rede pública municipal,
imediatamente me inscrevi, sendo o curso realizado em 2005. O curso aconteceu por
um ano e meio no período noturno e este foi o meu primeiro contato com uma política
pública voltada para alfabetização das crianças.
11 Luria (2016, p. 148) denomina esse primeiro estágio da pré-história da escrita de fase pré-
instrumental e explica a ausência de consciência na criança do significado da escrita como signo
auxiliar, assim, o desenvolvimento da escrita na criança percorre um longo caminho desde o primeiro
estágio dos rabiscos ou registros não diferenciados até o signo diferenciado, postulando complexos
processos de ensino e aprendizagem.
46
do programa era voltada a ensinar aos professores quais são as hipóteses de escrita
e qual é a concepção de escrita que a criança tem em cada uma das fases na qual se
encontra. As hipóteses de escrita, segundo a orientação do programa, são: pré-
silábico, silábico sem valor sonoro, silábico com valor sonoro, silábico-alfabético e
alfabético. Como sabemos, essa concepção vem dos estudos de Emília Ferreiro e
Ana Teberosky que, de 1974 à 1976, realizaram um estudo com um grupo de crianças
oriundas de áreas carentes de Buenos Aires, na Argentina.
Lembro-me do quanto aprendi em relação ao trabalho com textos, às atividades
de leitura e escrita, aos agrupamentos produtivos, porém, uma questão sempre ficava
travada em mim e todos os participantes que não queriam ser considerados
“tradicionais” uns perante os outros: E o papel dos fonemas? Das sílabas? Bastava
ensinar as letras e tudo seria compreendido por meio dos portadores textuais reais?
Por meio das inferências, seleções e antecipações e contatos permanentes sem
isolamentos explícitos?
O curso era basicamente composto por três etapas para cada ideia
desenvolvida no programa: 1) Leitura compartilhada de textos literários, realizada pelo
professor formador para o grupo; 2) A rede de ideias, que é um momento de os
professores compartilham suas ideias opiniões e dúvidas a partir de tarefas propostas
no trabalho pessoal e; 3) O trabalho pessoal, que envolve situações de leitura e/ou
escrita a serem realizadas em sala de aula com crianças, com o objetivo de
complementar o que foi tratado no encontro. É inegável que as propostas de trabalho
com portadores textuais reais traziam bons resultados, mas de fato, naquele contexto,
todo o trabalho com os sons das letras, a consciência fonológica, tipos de sílabas ou
foi deixando de acontecer, sendo substituído pela espera de um estabelecimento de
relações espontâneo por parte das crianças, ou foi realizado em conjunto “às
escondidas” por ser considerado atrasado, “tradicional” ou mecânico.
Na entrega final de meu trabalho de conclusão do curso, mostrei as etapas
contextualizadas textualmente dentro e fora dos projetos propostos pelo programa,
porém, não deixei de evidenciar o trabalho com os segmentos menores da escrita e
suas partes. Na apreciação das formadoras, todos os pontos positivos relatados
referenciavam-se apenas ao trabalho com textos ou projetos. Qualquer ação relatada
de rotina envolvendo a análise da língua fora desses contextos não era bem vista.
O furacão da relação entre construtivismo x ensino tradicional praticamente
definia as pessoas e era muito forte a tendência dos docentes assumirem um discurso
48
moderno e inovador, defendendo muitas vezes algo que não estava completamente
compreendido. Na prática, os efeitos desse momento na história dos métodos de
alfabetização no Brasil foram marcantes. Muitos aprenderam a classificar as crianças
em hipóteses, mas não sabiam o que fazer com elas. Muitos lotavam as salas de
estímulos textuais, mas as crianças não evoluíam no plano da compreensão do
sistema alfabético da escrita, muitos passaram a realizar apenas atividades em grupos
no intuito de um aprender com o outro, porém, em todos esses casos o lugar do ensino
se tornava o lugar do estímulo e da espera, como o lugar da “descoberta” do aluno
como um processo espontâneo.
Sabemos que jamais seria a intenção das idealizadoras e defensoras do
construtivismo desencadear esses reflexos na prática pedagógica, porém, como toda
política pública e toda história são permeadas de diversos interesses, contextos,
formas de interpretação e condicionantes, infelizmente, ainda vivemos muitos
resquícios dessas diversas interpretações, limites, mitos e temos muitos entraves a
superar quando falamos de alfabetização e letramento.
Em março desse mesmo ano, fui indicada pela minha diretora da escola pública
do Habiteto a ser Orientadora Pedagógica na rede municipal de Sorocaba. Não havia
concurso na época para esse cargo de gestão escolar (Suporte Pedagógico). O
primeiro concurso ocorreu na rede no ano seguinte, 2008. Mesmo com muito receio
dos impactos em deixar minhas turmas e, também, por tamanha responsabilidade em
assumir o cargo, enfim, decidi tentar. Afastei-me das salas de aula e fui para um novo
desafio em uma escola também localizada na zona norte de Sorocaba, EM “Prof.
Basílio da Costa Daemon”, no Parque das Paineiras, escola na qual estou até hoje.
O trabalho como Orientadora Pedagógica de uma escola de “1ª a 4ª séries” foi
engrandecedor... Iniciamos por um movimento de organização dos conteúdos de
ensino por série, pois ainda não tínhamos uma matriz curricular na rede. Quando olho
para esse passado “tão recente” em termos de história na educação pública, penso o
quanto já caminhamos, porém, o quanto ainda temos a trilhar, pois até hoje existem
diversos entraves sobre o que de fato deve ser ensinado aos alunos como
conhecimento clássico, acumulado historicamente.
As discussões acerca de quais concepções o ensino deve estabelecer nas
práticas pedagógicas desses conteúdos estão ainda mais distantes e desafiadoras.
Como exemplo vivemos recentemente o difícil consenso e a polêmica aprovação, em
15 de dezembro de 2017, da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a EI e
EF, prevista desde 1988 em nossa Constituição, onde no Artigo 210, já reconhece a
necessidade que sejam “fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de
maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e
artísticos, nacionais e regionais”, necessidade reforçada posteriormente em 1996
conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9495/96).
50
Sorocaba, por ter sido um cargo via concurso, observamos alguns casos evidenciando
relações mal sucedidas entre Diretores (as) e seus (suas) Vices. Afinal, como ser
portador ou executor/líder de comandos e ações/decisões educacionais que muitas
vezes são compreendidas de formas extremamente diferentes no plano ideológico ou
das formas de execução?
Posso dizer que nesse aspecto tive excelentes companheiros (as), trabalhei
com diretores (as) abertos (as) e com concepções próximas. Porém, o distanciamento
das demandas formativas e essencialmente pedagógicas no âmbito da aprendizagem
inerentes a esse cargo realmente me frustraram e de certa forma ainda frustram.
Mesmo assim, mantenho-me atuante participando sempre que possível das ações
pedagógicas por meio das HTPs, na presença em Conselhos de Classe e Reuniões
de Avaliação de Ensino e Aprendizagem (RAEAs).
Nesses nove anos dentro da escola como Vice-Diretora (já excluídos os anos
no cargo de Vice em que fiquei designada na secretaria da educação) experimentei
vários tipos de fazeres na divisão do trabalho, sempre de acordo com as tarefas cada
diretor menos simpatizava. Algumas tarefas como as que descreverei são as que
normalmente ocupam o dia a dia desse profissional da educação em parceria com o
diretor : observar mobiliários, organizar relação de patrimônios por local de uso, fazer
solicitações para a secretaria da educação, recolher APM, fazer prestação de contas,
fazer boletim de ocorrência quando a escola é invadida ou vandalizada, organizar
listas dos alunos, organizar as turmas para o ano seguinte após conselho final, realizar
pesquisas para o PPP e tabular, registrar ideias do Projeto Político-Pedagógico (PPP),
escrever atas, controlar datas de dedetização, datas de troca de filtros e limpeza da
caixa d’ água, anotar e fazer chamamento de manutenções prediais, organizar ações
da formatura (camisetas, passeio, ônibus, cerimonial, presentes, controlar
contribuições, organizar rifas), chamar eventuais, fazer frequência, observar
intervalos, organizar estagiários, organizar o trabalho junto aos funcionários de apoio
(inspetores, merendeiras, auxiliares de limpeza, cuidadores e estagiários), organizar
a festa junina da escola, redigir documentos, atender pais, atender casos de
indisciplina, organizar homenagens para datas especiais (início do ano, dia das
crianças, dia dos professores, dia do funcionário público, etc.), responder pela escola
nas saídas da direção para gasto de verbas, convocações da secretaria da educação
ou férias da direção, acompanhar atendimentos do diretor(a) para registrar, preparar
a escola para todo começo letivo (horários, orientações, placas de identificação no
52
prédio, nas salas, nos pertences dos professores, turmas dos alunos, prontuários,
Power Point para a reunião de equipe, lanche de recepção da equipe) entre tantas
outras situações operacionais e administrativas. Sim, é um trabalho extremamente
importante que necessita de um olhar pedagógico para se aproximar dos reais
objetivos educacionais. Porém, quem gosta muito das ações e discussões acerca do
ensino e da aprendizagem, ser um bom Vice-Diretor torna-se, invariavelmente, um
fazer distante da imersão nas questões pedagógicas, formativas e de estudo coletivo,
que a meu ver me identifica e me traduz na educação.
De 2007 a 2011 mantive meu coração e minhas ações na EM “Basílio da Costa
Daemon”, escola do bairro Parque das Paineiras, e que ficava a aproximadamente
40/45 minutos da minha casa (com condução própria). Foi quando algo maravilhoso
e único se realizou em minha vida pessoal: o nascimento - em 12 de janeiro de 2011-
do meu filho Caio! Até então todos os lugares que trabalhava mantinha-me por conta
do afeto que estabelecia, das relações construídas com a comunidade e por conta de
acreditar que um trabalho consistente em qualquer escola demanda tempo, exige
compromisso e não rotatividade. No entanto, a maternidade transformou a minha vida
e, pela primeira vez, participei de uma remoção, para poder trabalhar mais perto de
casa. Vida de mãe, com bebê mais de 9 h por dia no integral para trabalhar é muito
difícil afetivamente, operacionalmente e fisicamente.
Assim, em 2012, fui trabalhar na especial comunidade da EM “Edemir Antonio
Digiampietri” e em cinco minutos, entre minha casa e a escola do Caio, já chegava ao
trabalho. Essa escola, localizada na Vila Barão, ao lado do Jardim Nova Esperança
também me ensinou muitas e muitas coisas. Uma escola muito próxima ao centro da
cidade e localizada num bairro carente e muito marcado pelo tráfico de drogas. As
dificuldades de aprendizagem ocorriam em grande proporção em cada sala de aula,
problemas no processo de alfabetização também em grande escala.
A escola atendia a alunos do 1º ao 5º ano e possuía um prédio separado para
alunos matriculados em tempo integral. Atuei como vice-diretora dessa escola e muito
me envolvia com as questões da alfabetização dos alunos, pois as dificuldades
encontradas eram semelhantes em alguns pontos à experiência que vivi como
docente na escola do Habiteto. Foi um tempo intenso com parcerias inesquecíveis,
uma diretora extremamente dedicada às questões pedagógicas da escola, porém, um
tempo curto, comparado às minhas outras vivências.
53
alfabetização e pode prejudicar o rendimento escolar da criança no ensino fundamental como um todo
e, particularmente, na passagem do primeiro para o segundo ano de escolaridade e deste para o
terceiro. Defende também que a complexidade do processo de alfabetização requer a continuidade do
aprendizado para que sejam respeitados os diferentes tempos de desenvolvimento das crianças de
seis a oito anos de idade. Ao final do ciclo, a criança deve estar alfabetizada.
57
Estamos ainda muito distantes dos embates relacionados ao “como fazer”, com
a necessidade de clareza sobre “o que é alfabetização”, o “que ensinar” e “por que
ensinar”. Entender o que deve ser objeto de ensino em cada ano/série dos anos
iniciais do Ensino Fundamental... Em geral, parece que há uma lacuna expressiva
acerca da importância dos conteúdos e métodos de ensino no ciclo de alfabetização
em cursos de formação de professores (Pedagogia), os quais, também, vem se
apresentando cada vez menos presenciais e mais marcados pela EaD.
[...] o planejamento pedagógico deve ter objetivos claros, instituindo-se como
um dos primeiros pontos necessários ao bom ensino. E nele precisam ser
considerados os elementos: conteúdo – forma - destinatário (MARTINS, 2013).
Dessa maneira, ao planejar o ensino, o professor vislumbrará o que ensinar
(conteúdos), quem é o aluno (saberes efetivados e saberes iminentes) e
elegerá a melhor forma correspondente às necessidades de aprendizagem de
cada criança. [...] O professor então precisa ter intencionalidade clara das
demandas educacionais, conhecer o objeto com o qual trabalha, bem como,
conhecer os aspectos próprios ao desenvolvimento do aluno com quem está
interagindo. Nessa direção, o ensino deve orientar os alunos na tomada de
consciência sobre seu aprendizado, oportunizando-lhes o desempenho de um
papel ativo nesse processo organizado pelo professor. Assim, torna-se
fundamental aos alunos saberem por que e para que estão aprendendo dado
conteúdo (DANGIÓ; MARTINS; 2018, p. 62).
Pois bem, retornava agora em uma ação diferente das anteriores e, com essa
profissional, estávamos à frente do desafio imenso de delinear, debater e desenvolver
as concepções de dois programas de naturezas conceituais distintas; desde a
operacionalização dos processos (aquisição e distribuição de livros, preenchimento
de sistemas, monitoramento), até subsidiar a práxis em sala de aula, de uma rede de
mais de 25 mil alunos. Qual o contexto para isso? Bem, um contexto desfavorável a
qualquer processo que se queira chamar de formativo.
Tínhamos na secretaria da educação, a realização de reuniões quinzenais com
mais de cem Orientadores Pedagógicos, porém, as mesmas já estavam programadas
pela gestora chefe13 acerca de outra temática até agosto. Não poderíamos convocar
esse grupo para além desse cronograma já instituído, ademais, ainda se mantinha o
contingenciamento financeiro, inviabilizando qualquer proposta de formação em
serviço diretamente aos docentes via convocação em horário de trabalho, tendo em
vista que o custo com professor eventual para pagar as ausências dos docentes
alfabetizadores seria oneroso e, em Sorocaba, até então não havia definição nem
recursos suficientes para a implementação da Lei do piso no que se refere ao tempo
de formação e estudo (Lei Nº 11.738, de 16 de Julho de 200814)14 .
Foi então que observamos no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), na
época - recém-criado pelo Gestor de Desenvolvimento Educacional Luis Gustavo
Maganhato - uma opção para dialogarmos acerca de temas fundamentais da
alfabetização e do letramento. Muito longe de ser um ideal de viabilidade para todos,
apresentou-se como um caminho de livre escolha para utilização de materiais e vídeos
nas Horas de Trabalho Pedagógico (HTP) em local de trabalho. A proposta
aparentemente foi bem vista pelo grupo, tanto que tivemos duas competentíssimas
supervisoras de ensino conosco alternando as gravações, além de convidados (de
dentro ou de fora da rede municipal) com experiência no tema a ser tratado a cada
gravação. Todavia, sabíamos que estávamos distantes de implementar um plano
13 Nesse governo retiraram da pasta da educação o cargo de Diretoria de Área de Gestão Pedagógica
e assim, abaixo da Secretária da Educação, estavam os treze cargos de Gestores de Desenvolvimento
Educacional, porém, havia uma hierarquia entre os gestores de acordo com a formatação estabelecida
na época.
14 A Lei Federal 11.738 de 16/07/2008 apenas se concretizou a partir de 01/02/2019 aos docentes da
rede municipal de Sorocaba por meio da LEI Nº 11.848, DE 20 DE DEZEMBRO DE 2018, que altera a
redação dos artigos 14, 29 e 34 da Lei nº 4.599, de 6 de setembro de 1994, alterada pela Lei nº 8.119,
de 29 de março de 2007, que estabelece o Quadro e o Plano de Carreira do Quadro do Magistério
Público Municipal de Sorocaba e dá outras providências.
64
Para iniciar, diria que o tema coloca [...] no núcleo da discussão terminológica
e conceitual representada por palavras como alfabetização, analfabetismo e
letramento, [...], e outras como iletrismo, iletrado, alfabetismo, literacia etc. A
confusão é tal, que, por exemplo, o Dicionário de Antônimos e Sinônimos, de
F. Fernandes (1957), lista como sinônimos de analfabeto os termos ignorante,
estúpido, boçal, bronco, sem qualquer referência à condição de não saber ler
e escrever, e dá como antônimos simplesmente os termos culto e polido, sem
qualquer menção a alfabetizado ou a capacidade de ler e escrever. É claro que
“muita água rolou” desde a 11ª edição, em 1957, do referido dicionário. [...] As
questões que não posso deixar de levantar aqui são duas: a primeira é a da
comparabilidade, no tempo, das estatísticas censitárias; a segunda é a de
saber se e como as estatísticas censitárias podem (cor)responder a conceitos
tão polissêmicos e cambiantes como os relacionados com o tema em questão
(FERRARO, 2002, p. 22).
15 Entendendo a educação como um processo por meio do qual a humanidade elabora a si mesma em todos os
seus mais variados aspectos, Manacorda (1989, p. 6) acredita poder sintetizá-los em três pontos básicos: “na
enculturação nas tradições e nos costumes (ou aculturação, no caso de procederem não do dinamismo interno,
mas do externo), na instrução intelectual em seus dois aspectos, o formal-instrumental (ler, escrever, contar) e
o concreto (conteúdo do conhecimento), e, finalmente, na aprendizagem do ofício”. Ora, no caso da educação
instaurada no âmbito do processo de colonização, tratava-se, evidentemente, de aculturação, já que as tradições
e os costumes que se busca inculcar decorrem de um dinamismo externo, isto é, que vai do meio cultural do
colonizador para a situação objeto de colonização. (SAVIANI, 2013, p. 27)
70
Para uma análise dos impactos dessa lei na época, torna-se importante
apresentar a informação de que o primeiro Censo demográfico realizado no Brasil, no
ano de 1872, acusou uma taxa de analfabetismo de 82,3%, para a população de cinco
anos ou mais. Estimativas indicam que para a população de 10 anos ou mais essa
taxa estaria em torno de 78% (Recenseamento do Brasil, 1872). Com a exposição
desses dados procura-se demonstrar o quanto é notável que durante o período da
reforma eleitoral a maior parte da população brasileira era composta por analfabetos,
ou seja, de pessoas impedidas de participar das decisões políticas do país. Nesse
contexto, repleto de condicionantes e consequências sociais, atrelando o
analfabetismo à vergonha nacional, à incapacidade e à marginalização da grande
maioria dos integrantes ativos de uma nação, Ferraro (2004) destaca que o
analfabetismo emergiu então como:
povo. Surge como problema vinculado a uma das quatro questões que
agitaram o final do Império, sinalizando e aprofundando o seu declínio e
apressando o advento da República: a questão religiosa, a militar, a escravista
e a eleitoral. A dimensão econômica do analfabetismo só seria levantada muito
mais tarde, a partir do segundo pós-guerra mundial, com as teorias do
desenvolvimento, que dariam sustentação teórica e ideológica ao pouco de
Estado keynesiano ou do bem-estar que o Brasil chegou a conhecer
(FERRARO, 2004, p.113-114).
De acordo com José Carlos Aleixo (1982, p.15), na vigência das Constituições
de 1946 e 1967, a pauta do analfabetismo como impedimento de exercer a igualdade
de condições no direito ao voto se manteve e numerosos congressistas apresentaram
projetos de emenda constitucional em favor do sufrágio do analfabeto, todos sem
sucesso, “malogrando por decurso de prazo e arquivamento” ou falta de quórum. São
exemplos, na Câmara, o acima descrito de Armando Falcão (15/57), e outros como:
Rui Ramos (02/59), Fernando Ferrari (27/61), Magalhães Melo (10/63), Ruy Barcelar
(15/77), Joel Ribeiro (73/80) e José Costa (91/80).
Assim, mesmo com debates que duraram longos anos, como todas as
tentativas de projetos de emenda constitucional, todas as Constituições da República
72
Não
alfabetizada
Ano do
Censo Total Nº %
a) População de 5 anos a 10
16 A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) foi criada em
16 de novembro de 1945, logo após a Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de garantir a paz por
meio da cooperação intelectual entre as nações, acompanhando o desenvolvimento mundial e
auxiliando os Estados-Membros na busca de soluções para os problemas que desafiam nossas
sociedades.
74
Constatar que apenas em 1950 o IBGE redigiu o texto: “Aquela que aprendeu
a ler e escrever, mas esqueceu, e a que apenas assinava o próprio nome foram
consideradas analfabetas”, sugere ainda uma quantidade muito maior de analfabetos
brasileiros escondidos dos censos anteriores. Como verifica-se, não ser “alfabetizado”
tornou-se um obstáculo social de certa forma recente e sendo estatisticamente
acompanhado apenas a partir de 1872, ou seja, há apenas 147 anos. Adversidade
que aos poucos, mesmo que descontinuamente, foi propiciando mobilizações de
ordem política, social, econômica, educacional, conceitual, e inclusive estatística. No
entanto, ainda somos marcados pelo fracasso, pois há muitos milhões de brasileiros
com o estigma do analfabetismo, essa forma extrema de exclusão educacional, social
e fundamentalmente humana, a qual urge sua superação.
de maneira menos informal, mas ainda precária, nas poucas “escolas” do Império
(“aulas régias”) — tornaram-se fundamentos da escola obrigatória, leiga e gratuita e
objeto de ensino e aprendizagem escolarizados. Caracterizando-se como
tecnicamente ensináveis, as práticas de leitura e escrita passaram, assim, a ser
submetidas a ensino organizado, sistemático e intencional, demandando, para isso, a
preparação de profissionais especializados (ibidem).
Em nosso país, a história da alfabetização tem sua face mais visível na história
dos métodos de alfabetização, em torno dos quais, especialmente desde o final
do século XIX, vêm-se gerando tensas disputas relacionadas com "antigas" e
"novas" explicações para um mesmo problema: a dificuldade de nossas
crianças em aprender a ler e a escrever, especialmente na escola pública.
Visando a enfrentar esse problema e auxiliar "os novos" a adentrarem no
mundo público da cultura letrada, essas disputas em torno dos métodos de
alfabetização vêm engendrando uma multiplicidade de tematizações,
normatizações e concretizações, caracterizando-se como um importante
aspecto dentre os muitos outros envolvidos no complexo movimento histórico
de constituição da alfabetização como prática escolar e como objeto de
estudo/pesquisa (MORTATTI, 2006, p. 01).
Desde então, pode-se observar muitas iniciativas, porém, ainda com índices
consideráveis e preocupantes do fracasso escolar na alfabetização, ora atribuído ao
método, ora ao sistema escolar, ora ao aluno, ora ao professor, ora à formação do
professor, ora às condições sociais, ora à gestão escolar, ora a desestruturação das
famílias, ora às políticas públicas. No entanto, nem sempre ou muito pouco esse
conjunto de fatores e/ou condicionantes foram observados na história das
implementações dos métodos de alfabetização no Brasil os quais serão apresentados
nesta seção.
Assim, os métodos sintéticos (da “parte” para o “todo”), a começar pelas “Cartas
de ABC” e, posteriormente, no final do século XIX, com a elaboração das primeiras
77
Esse 1º momento se estende até o início da década de 1890 e nele tem início
uma disputa entre os defensores do "método João de Deus" e aqueles que
continuavam a defender e utilizar os métodos sintéticos: da soletração, fônico
e da silabação. Com essa disputa, funda-se uma nova tradição: o ensino da
leitura envolve necessariamente uma questão de método, ou seja, enfatiza-se
o como ensinar metodicamente, relacionado com o que ensinar; o ensino da
leitura e escrita é tratado, então, como uma questão de ordem didática
subordinada às questões de ordem linguística da época (MORTATTI, 2006,
p.6).
17 Antônio da Silva Jardim (1860-1891) foi ativista político brasileiro. Formado em Direito, defendeu
principalmente as causas dos escravos. Foi atuante propagandista da República. Silva Jardim realizou diversos
eventos com o objetivo de divulgar o “método João de Deus”. Conforme Mortatti (2000), ele também foi crítico
ferrenho do método da soletração, usado no Brasil até o momento.
78
18 Antonio de Sampaio Dória, formado pela Faculdade de Direito de São Paulo, ingressou na Escola Normal da
Praça, em 1914, assumindo a cadeira de Psicologia, Pedagogia e Educação Cívica. Engajou-se em redes de
relações sociais das quais participou na condição de fundador e membro do grupo dirigente, tais como: a Liga
Nacionalista, a Sociedade de Educação e o Lyceu Nacional Rio Branco. Por meio dessas redes de relações sociais
Sampaio Dória colaborou, como produtor e divulgador, da construção de um projeto de nação, no qual as causas
educacionais tinham lugar privilegiado. Reconhecido por seus contemporâneos como um dos principais líderes
da elite cultural paulista, foi convidado a assumir o cargo de diretor geral da Instrução Pública de São Paulo, em
1920, ocasião em que organizou o primeiro recenseamento escolar do estado, bem como apresentou o projeto
de reforma da instrução pública, considerada na historiografia educacional como um marco dos movimentos de
modernização do ensino no período. Embora a breve passagem por esse cargo seja o momento de maior
expressão pública de Sampaio Dória, constatou-se que nesse episódio representou uma rede de relações que foi
responsável pela constituição do ensino paulista nas décadas subsequentes.
80
Nesse contexto, conforme a autora (ibidem), essa “nova ordem” dizia respeito
a um ensino e uma educação renovada que pudesse desempenhar a socialização
rápida e eficaz da alfabetização que era destinada ao povo como um todo,
ressaltando, para isso, à supremacia dos aspectos psicológicos sobre os aspectos
linguísticos e pedagógicos. Foi quando apareceu a influência política e estratégica de
Lourenço Filho elaborando e apresentando os “Testes ABC” que se tornaram um
marco fundamental para os destinos do ensino da leitura e escrita. Assim, os famosos
“Testes ABC”19, criados em 1934, trouxeram o processo de verificação da maturidade
para a aprendizagem da leitura e escrita tornando tais testes uma das obras mais
difundidas no Brasil no âmbito da Psicologia da Educação, sendo também traduzida
em outras línguas. No entanto, os “Testes ABC” que eram rigorosamente instruídos
para a sua aplicação, visavam não apenas o diagnóstico individual de cada criança,
como especialmente a sua classificação em classes homogêneas, objetivando a
racionalização e à eficácia da alfabetização. Assim, desse ponto de vista em diante:
19 O objetivo dos Testes ABC era o de classificar as crianças pela sua capacidade real de aprendizagem na leitura
e escrita, promovendo um relatório individual em relação à maturidade para a aprendizagem dessas habilidades,
composto por oito testes que procuravam atender aos pontos de análise: coordenação visual-motora; resistência
à inversão na cópia de figuras; memorização visual; coordenação auditiva motora; capacidade de prolação;
resistência à ecolalia; memorização auditiva; índice de fatigabilidade; índice de atenção dirigida; vocabulário e
compreensão geral.
81
Segue abaixo uma síntese dos métodos de alfabetização na relação entre seus
princípios e as capacidades priorizadas por cada método:
20 Conforme Sforni (2014, p.29), no final da década de 1980, a perspectiva denominada “interacionista” é
baseada na Psicologia soviética, Teoria Histórico-Cultural, sobretudo por meio dos estudos de Vigotski, Luria e
Leontiev, traduzidos para o Brasil nessa mesma década, a saber: “Formação Social da Mente”, em 1984;
“Pensamento e Linguagem”, em 1987; e “Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem”, em parceria com
Leontiev e Luria, em 1988.
85
A dificuldade que eu vejo com essa terminologia é que ela gera uma
dissociação entre algo que é visto como um código ou um sistema de marcas,
com correspondências grafofônicas e nada mais, e por outro lado, algo como
os usos sociais e as funções sociais da escrita. Então, o problema que eu
apresento é que, primeiro, a escrita está mal caracterizada quando se pensa
que é um código e a coisa não se resolve dizendo que há que alfabetizar
letrando e letrar alfabetizando, porque, uma vez que gerei dois termos nas
expectativas educativas, é que existam duas maneiras distintas de abordar
esses componentes, digamos, e que algumas educadoras alfabetizadoras e
outras, alfabetizadoras “letrantes”, ou não sei como se chamaria. Em todo
caso, me parece que ter os dois componentes designados por dois termos
diferentes está contribuindo, pelo pouco que sei e vejo, para enfatizar
novamente a parte do código, a aprendizagem do código (FERREIRO, 2013,
Entrevista Transcrita).
86
[...] cada subfaceta da faceta linguística tem uma natureza específica, cada
uma delas é esclarecida por determinadas teorias, mas no ensino, embora
cada uma demande ações pedagógicas diferenciadas – procedimentos
específicos, definidos pelos princípios e teorias em que cada uma delas se
fundamenta -, devem ser desenvolvidas de forma integrada e simultânea. No
entanto, por sua diversidade e especificidade, a reunião desses procedimentos
pode constituir um método; é a ação docente que leva em conta as diferentes
subfacetas e as desenvolve simultaneamente, embora respeitando a
especificidade de cada uma, segundo as teorias que a esclarecem, que
constitui alfabetizar com método. Entendendo-se a palavra método segundo
sua etimologia – meta + hodós = caminho em direção a um fim, considera-se
o fim, considera-se que o fim é a criança alfabetizada, o caminho é o ensino e
a aprendizagem das várias facetas da faceta linguística, por meio de
procedimentos adequados a cada uma delas, segundo as diferentes teorias
que as esclarecem -, os procedimentos desenvolvidos de forma integrada e
simultânea constituem o alfabetizar com método (MORAES, 2018, p. 333).
Em meio a esse debate histórico que ainda não foi superado, percebe-se
novamente na história do país a apropriação dos novos termos “alfabetização e
letramento” com força de política pública nacional. Nos últimos anos, mais
precisamente com a chegada do Programa Pró-Letramento (2005) e, posteriormente
em 2012 com o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, as ideias de Magda
Soares e Artur Gomes de Morais e outros colaboradores acerca da alfabetização e do
letramento tornam-se presentes. Tais pressupostos são materializados por meio
desses programas na explicitação das especificidades de cada objeto de
conhecimento para propor avanços nas propostas didáticas envolvendo a natureza
dos objetos de ensino ora voltados aos saberes da faceta da alfabetização, ora
voltados para os saberes da faceta do letramento.
Diante de tantos investimentos que cada política pública necessita para sua
elaboração e devida implementação, as formações aos docentes provenientes dos
programas ou projetos governamentais apresentam grande responsabilidade no
direcionamento das ações educacionais da nação, estados ou municípios, uma vez
que se constituem praticamente como normas regulatórias, ou leis a serem seguidas
pelo professor.
formação acadêmica,
considerado pelo programa
como peça-chave no projeto,
pois ele será o articulador entre
a Universidade e os cursistas;
e, por último, o Professor
Cursista: deve ser professor das
séries ou anos iniciais do
ensino fundamental (1ª a 4ª
série ou 1º ao 5º ano), estar
atuando em sala de aula e ter
feito a inscrição.
[...] para se tornar atual à sua época é preciso que o ser humano se aproprie
do conjunto das objetivações que configuram a estrutura da sociedade em que
ele nasce e vai viver sua vida. Notamos que contemporaneamente estamos
diante de uma forma de sociedade que incorporou ao seu modo de vida
105
processos formais, cuja base mais conspícua pode ser definida pela linguagem
escrita. Ora, essa forma de linguagem, diferentemente da linguagem oral, não
é espontânea e “natural”, mas formal e codificada. Nessa condição ela não
pode ser aprendida por um processo educativo espontâneo e assistemático
requerendo uma educação específica, formalmente construída. E a instituição
escolar surgiu exatamente para atender a essa exigência. Eis como a escola
veio se converter, na época moderna, na forma principal e dominante de
educação, constituindo-se como a mediação mais adequada para a
apropriação, pelos membros das novas gerações, das objetivações humanas
próprias da cultura letrada que caracteriza a sociedade atual (SAVIANI, 2019,
p.177).
um fenômeno próprio dos seres humanos que se expressa no trabalho e por ele é
exigido para garantir a sua continuidade e novas transformações, constituindo assim
o sentido prático/laboral dos saberes e da sua relevância no mundo cultural.
Considera-se assim, que a produção da existência humana não se desvincula
da garantia da sua subsistência material, a qual evoca meios para produzir a própria
realidade - aciona a antecipação mental e o uso dos conhecimentos para a execução
das ações em objetivos reais – mas que, no entanto, ao produzir a sua existência
coloca em jogo um vasto repertório da categoria da “produção do saber”, da “cultura”,
da “natureza” que desenvolve fundamentais dimensões do trabalho não material,
definido por Saviani como: ideias, conceitos, habilidades, símbolos e hábitos. Sendo
assim, as relações educativas formais ou informais, conforme acima mencionadas,
são responsáveis pela assimilação das formas de ser e se relacionar no mundo.
Com efeito, a natureza humana não é dada ao indivíduo humano com o seu
nascimento, mas é produzida pelos próprios homens sobre a base da natureza
biofísica, razão pela qual o trabalho educativo consiste no ato de produzir, em
cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida historicamente pelo
conjunto de homens (SAVIANI, 2019, p. 41).
Essa separação entre escola e produção reflete, por sua vez, a divisão que se
foi processando ao longo da história entre trabalho manual e trabalho
intelectual. Por esse ângulo, vê-se que a separação entre escola e produção
não coincide exatamente com a separação entre trabalho e educação. Seria,
portanto, mais preciso considerar que, após o surgimento da escola, a relação
entre trabalho e educação também assume uma dupla identidade. De um lado,
continuamos a ter, no caso do trabalho manual, uma educação que se
realizava concomitantemente ao próprio processo de trabalho. De outro lado,
passamos a ter a educação de tipo escolar destinada à educação para o
trabalho intelectual. (SAVIANI, 2007, p. 157).
parte efetiva da sua cultura. Nesse sentido, a escola é lugar da transmissão da ciência,
do saber sistematizado, da socialização da cultura, essenciais para o desenvolvimento
humano. É o espaço predominante da educação. Por isso, Dermeval Saviani toma a
educação em sua predominância na sociedade capitalista como objeto de estudo,
preocupado em conhecer a escola na sua totalidade concreta e apontar para ela uma
direção política e não meramente técnica ou reprodutivista, fazendo evidenciar a
função política da educação.
Saviani também discute o papel do conhecimento no interior da escola,
destacando que uma pedagogia articulada aos interesses da classe dominada será
uma pedagogia voltada à valorização da escola, preocupada com a sua qualidade e
bom funcionamento. Sendo a escola o lócus social e cultural propulsor da garantia do
acesso aos conhecimentos historicamente produzidos, ela deverá preocupar-se
fundamentalmente com as formas de tornar o ensino desenvolvente, assim, o método
de ensino ocupa uma função determinante para que a escola supere os efeitos dos
métodos tradicionais ou meramente técnicos (repertoriados de vazios de sentido
interacionista e sociocultural) e também dos métodos da escola nova, repletos de o
espontaneísmo e esvaziamento dos conteúdos.
Apresenta-se assim, nas condições atuais, um complexo dilema, pois além dos
fatores históricos que marcam a existência de uma sociedade desumanizadora e
excludente - a qual invariavelmente limita ao máximo, quando não impede as
possibilidades de desenvolvimento humano, produzindo e reproduzindo alienação e
exclusão - temos também a docência como uma profissão desvalorizada socialmente,
financeiramente e com condições de trabalho e desenvolvimento formativos precários.
Um desafio a equacionar permeado de forças contraditórias nas perspectivas de
112
A invenção de sinais para representar palavras a princípio parecia ser uma boa
solução para o registro, contudo, com a complexificação das relações sociais,
foi necessária a criação de muitos outros sinais. Zatz (2002, p.25) justifica essa
necessidade: “aos poucos, foi-se tornando necessário escrever mais palavras
e era impossível inventar e decorar sinais para todas elas”. [...] Um exemplo
desse momento era o sinal para a palavra SOL, podendo expressar SOL e
DIA. Entretanto, havia palavras impossíveis de serem escritas dessa maneira,
tais como nomes de pessoas, lugares, palavras representativas de vida,
saudade, alegria (DANGIÓ; MARTINS, 2018, p. 15).
21 Conforme Martins (2016), as funções elementares e superiores não são hierarquizadas, tendo-se
nas primeiras uma suposta base que conduzirá necessariamente às segundas. O percurso do
desenvolvimento não ascende do natural ao cultural, mas imbrica essas linhas contínua e
permanentemente à medida das contradições geradas pela vida social entre o legado da natureza e o
requerido pela cultura.
119
Por meio do uso mais objetivo das marcas gráficas na condição de signos, tem
início à etapa seguinte, o estágio da escrita gráfica diferenciada, no qual os registros
(rabiscos) feitos pela criança são capazes de relembrar algo, momento em que os
registros passam a ter uma função no ato da memorização. Conforme os estudos,
considerando as possibilidades de desenvolvimento, é possível identificar essa etapa
entre 4 – 5 anos de idade.
Dessa maneira, por volta dos 5 e 6 anos, com a adoção do desenho como
forma de registro, inicia-se a escrita pictográfica, momento em que “as crianças já
sabem desenhar com certa destreza, mas não relacionam o desenho a um expediente
auxiliar da escrita” (MARTINS; MARSIGLIA, 2015, p. 56), mas a uma importante fase
simbólica de representação gráfica do mundo social, da representação oral e função
mnemônica. Assim, o avanço do estágio da escrita pictográfica em direção à escrita
simbólica subordina-se à capacidade abstrativa da criança, pela qual ela apreende
121
que o ato de escrever é guiado pela palavra a ser escrita que passa a compreender
outros signos com face semântica e face fonética, não mais apenas pelo desenho das
coisas, que se estruturava em uma relação direta com o objeto.
Conforme Martins e Marsiglia (2015), por volta dos 6 anos a criança se encontra
na fase da escrita simbólica, utilizando as letras para escrever ainda como um ato
externo, que precisa ser internalizado por meio da compreensão do funcionamento da
escrita alfabética ao mesmo tempo que atribui significado semântico – histórico e
social.
Outro conteúdo imprescindível no plano ontogenético da linguagem e
interdependente a todo esse contexto de cada etapa da pré-história da escrita, refere-
se ao conhecimento das atividades guias que norteiam as formas de interação social
da criança em cada fase do desenvolvimento. Sendo preponderante desvelar seus
122
realidade. Nisso, decorre outro estágio dominante, marcado pelo jogo protagonizado,
onde se destaca a imaginação, a percepção da função social das pessoas e objetos
que a cercam, momento pelo qual Elkonin (1987) apresenta como jogo de papéis, a
qual ocorre no período de aproximadamente 3 a 6 anos, idade pré-escolar.
[...] o desenho na educação infantil deve fazer parte das atividades diárias,
possibilitando à criança sua objetivação por meio do gesto gráfico em direção
a representações cada vez mais abstratas do mundo. Para além de ensinar a
criança desenhar, está também em jogo o ensino da linguagem do desenho
(TSUHAKO, 2016), repertoriando seu olhar, ensinando técnicas, qualificando
sua percepção (DANGIÓ; MARTINS, 2018, p.165).
124
alfabética na Língua Portuguesa que todo professor deve conhecer e toda criança
deve reconstruir para tornar-se alfabetizada:
22 Conforme Soares (2018, p.125) a Consciência Metalinguística refere-se à capacidade de tomar a língua como
objeto de reflexão e análise e envolve a reflexão consciente e controle intencional dos vários aspectos da:
fonologia, semântica, morfossintaxe, discurso e pragmática.
129
Quadro 6 – Seis Consoantes do Alfabeto Português que Começam com o Fonema que o Nome da
Letra Representa:
LETRA NOME FONEMA EXEMPLOS
Quadro 7 – Seis Consoantes do Alfabeto Português que Contém o Fonema em Posição Medial em
Relação ao Nome da Letra:
LETRA NOME FONEMA EXEMPLOS
Quadro 8 – Três consoantes do Alfabeto Português que Mantém seu Fonema em Relação ao Nome
da Letra Apenas em Determinados Contextos Linguísticos:
LETRA NOME FONEMA EXEMPLOS
Crianças que escrevem CBOLA por cebola, GMA por gema, supõem que a
letra, graças a seu nome, equivale à sílaba CE ou GE, ou, influenciadas pelo
nome da letra Q, escrevem BEQO por beco, PIPOQA por pipoca (SOARES,
2018, p. 221).
Quadro 9 – Cinco Vogais do Alfabeto Português que Mantém seu Fonema Representado Apenas na
Forma Oral e não Nasal:
LETRA FONEMAS
ORAIS NASAIS
A /a/ - ave, mata /ã/ [an, am, ã] – anzol, manta, campo, maçã
E /e/ - medo, você /ẽ/ [en, em] – pente, avenca, tempo, sempre
O /o/ - boca, avô /õ/ [on, om, õ] – conto, onda, pomba, balões
U /u/ - mudo, maluco /ũ/ [un, um] – mundo, junto, chumbo, comum
I /i/ - igreja, vida /ĩ/ [in, im] – índio, cinto, capim, símbolo
Por fim, o processo que tornou a criança alfabética precisa agora se ocupar em
torná-la ortográfica, conforme as normas da Língua Portuguesa. Para que esse ensino
se torne desenvolvente, o professor precisa conhecer e identificar o momento que se
deve iniciar esse ensino sistemático, quais palavras podem ser compreendidas pelas
regras e quais de fato precisam ser memorizadas por sua origem etimológica ou por
sua tradição.
Acerca do momento oportuno para iniciar esse ensino, Artur Gomes de Morais,
(2012, p. 161) ressalta que seu início sistemático, com sentido e significado, precisa
ocorrer após os alunos terem consolidado bem a escrita alfabética, ou seja, lendo e
escrevendo com certa fluência. Assim, o autor considera que entre os 2º e 3º anos do
Ensino Fundamental esse ensino deva ter seu início formal, no entanto, alerta para o
fato de que isso não significa que tais questões não tenham sido abordadas durante
o processo de aquisição do SEA, porém, naquele momento funcionaram como
conhecimento assessório elucidador de algumas questões. Vale ressaltar, que Morais
enfatiza a importância e necessidade para o ensino do acompanhamento detalhado
do professor acerca dos conhecimentos ortográficos que cada criança já possui.
Assim, propõe como principais regularidades da norma a serem abordadas no ciclo
de alfabetização:
(diante de e ou i)
/s/
PADRÕES EXEMPLOS
SILÁBICOS
Fonte: SILVA (2011, p; 119); MARQUES (2008, p.92); apud SOARES (2018, p.312).
0 0 0 0 0 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18
1 2 3 4 5
d’ Água28
Educação Ambiental -
Agenda 2129
Formação + Material
Formação + Cartilha
Escola
26 Ao final do ano de 2002, terminaram os dez anos de assessoria da Profa. Maria Tereza Eglér
Mantoan junto à rede municipal, onde permaneceu o trabalho desenvolvido pelas equipes da secretaria
pautadas nos Projetos Políticos Pedagógicos das escolas. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-32622018000300335
27 Seção de Apoio Psicológico e Terapêutico da Secretaria da Educação - SAPT.
28 O Projeto Roda d’água visava oferecer algumas ferramentas a serem iniciadas na escola e nas
comunidades, para que fossem trilhados caminhos necessários à transformação social em que a
natureza e suas águas estivessem contempladas nas mudanças das regras do cotidiano. Disponível
em:
https://ambientes.ambientebrasil.com.br/educacao/programas_ambientais/projeto_roda_dagua.html
29“Agenda 21”, nome dado a um plano de ação formulado internacionalmente para ser adotado em
escala global, nacional e local por organizações do sistema das Nações Unidas, pelos governos e pela
sociedade civil, em todas as áreas em que a ação humana impacta o meio ambiente. Disponível em:
http://www.institutoatkwhh.org.br/compendio/?q=node/21
30 Em Sorocaba, em 1997, no governo de Renato Amary (PSDB), o projeto "Deus na escola" foi
instituído. A cartilha usada em salas de aulas se propunha a auxiliar o professor do Ensino Fundamental
a ministrar aulas de religião interdisciplinarmente. Disponível em:
http://clubecetico.org/forum/index.php?topic=13136.0
31 O Projeto teve início apenas como “Rádio Escola” e a partir de 2003 avançou para “Projeto Rádio
Vídeo Escola”, no entanto, tratava-se do mesmo objetivo com a utilização de instrumentos de
comunicação por meio da tecnologia. A ideia pautava-se na construção coletiva das crianças de
programas comunitários de rádio e vídeo, com notícias e assuntos de interesses locais. Disponível em:
http://www.intervozes.org.br/direitoacomunicacao/?p=23682
146
Equipamento +
Material + Formação
Projeto 4ª “série” X X X X
PROCEL32
Formação + Material
Informática33 anos)
Equipamentos +
POSITIVO
Materiais + Extensa
Formação34.
Empreendedora
Formação + Material
37
32 Procel aborda a educação para a eficiência energética, envolvendo os elementos energia, meio
ambiente e sustentabilidade, numa interlocução com a educação ambiental, cidadania e ética. Assim,
foram desenvolvidos materiais didáticos, que abordavam o tema energia de forma transversal. Esse
material foi desenvolvido por meio do programa Procel nas Escolas - projeto interdisciplinar do Procel
e do Ministério de Minas e Energia, em parceria com o Ministério da Educação, realizado por meio das
concessionárias de energia elétrica do país e de outros agentes. Disponível em:
http://www.procel.gov.br/main.asp?View={86E6ABAE-BD4E-4F3B-86BF-229FD184D004}
33 A Positivo Informática Tecnologia Educacional, parceira da Secretaria de Educação de Sorocaba
desde 2002 implementou propostas educacionais por meio de equipamentos voltados ao ensino de
forma lúdica e interativa: Mesas Educacionais Alfabeto e Mundo das Descobertas. Disponível em:
https://www.maxpress.com.br/Conteudo/1,748524,Parceira_da_educacao_de_Sorocaba_desde_2002
_Positivo_Informatica_Tecnologia_Educacional_marca_presenca_no_lancamento_do_,748524,8.htm
34 Salas de informáticas e seus equipamentos são disponibilizados até hoje, porém os processos
formativos ocorreram (com diferentes cargas horárias) no período de 2001 a 2011.
35 Formações passaram a ocorrer após o primeiro resultado do SARESP no município. As formações
eram desenvolvidas junto aos professores conforme os conteúdos da matriz de referência da avaliação
externa. A formação era realizada por equipe de professores formadores da secretaria da educação.
36 Avaliação Nacional do Rendimento Escolar também conhecida como Prova Brasil, avaliação criada
em 2005 pelo Ministério da Educação. É complementar ao Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Básica (SAEB) e um dos componentes para o cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica (IDEB).
37 A Pedagogia Empreendedora, proposta de Fernando Dolabela foi adotada em 2006 pela Prefeitura
de Sorocaba visando desenvolver desde da educação infantil capacidades ao “futuro jovem”, para que
pudesse “ser empreendedor da própria vida, guiando a própria jornada”. O projeto se desenvolveu por
meio de atividades interdisciplinares que incentivava o aluno “a identificar seus sonhos, seus desejos,
e o que é preciso fazer para alcançá-los”. O projeto se desenvolvia por meio de aulas semanais
propostas pelo programa. Disponível em:
https://www2.jornalcruzeiro.com.br/materia/371749/pedagogia-empreendedora-de-sorocaba-inspira-
chilenos-da-provincia-de-huasco
147
IPF
Formação + Material
Caminhos para
3º e 4º anos a partir de
a Cidadania42 2011.
Programa Formações a X X X X X X X X
Clube da Estagiários e
Professores de
Escola44
Formação + Material
Avisa-lá”46
Formação
Programa 2ª “série” X X X X X X
Amigos do
Formação + Materiais
Maçã47
AEE49
Amigos do
Formação + Material
Zippy em
Casa50
Alfabetização e anos.
49 No ano de 2010, iniciou-se o processo de implantação das salas de recursos multifuncionais (SRM),
provenientes do Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, da Secretaria de Educação
Especial do Ministério da Educação, assim, a formação dos professores que atuavam nestas salas deu
início por meio dos profissionais do Centro de Referência em Educação, sendo realizadas até os dias
atuais. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
32622018000300335
50 O “Amigos do Zippy em Casa” é um programa com atividades lúdicas para serem realizadas em
casa pelos pais ou responsáveis ao lado dos filhos. É composto de encontros que são realizados nas
escolas, coordenados por educadores das próprias unidades. Os pais recebiam orientações,
compartilhavam e trocavam experiências de “como lidar com as emoções de seus filhos e com seus
próprios sentimentos”. Disponível em:
http://www.amigosdozippy.org.br/index/index.php?option=com_content&view=article&id=164%3Aamig
os-do-zippy-em-casa-beneficia-mais-de-6-mil-pais-no-brasil-desde-2007&catid=36%3Aacontece-
dezembro-2012&Itemid=176
51 Programa de formação voltado aos estagiários selecionados pelo Centro de Integração Empresa
Escola (CIEE), para atuar nas salas de aula da Educação Infantil ou Ensino Fundamental, com a
supervisão do professor regente. As frentes de atuação dos estagiários envolviam: apoio aos alunos
com Necessidades Educacionais Especiais (NEE), apoio às turmas de alfabetização (1º e 2º anos) e
atuação no programa Clube da Escola. O programa contou com intenso processo formativo aos
estudantes por meio de cursos oferecidos pelo CRE no período de 2010 a 2013. Atualmente, não são
todas as turmas de alfabetização que possuem o apoio do estagiário em sala, sendo priorizados os
casos de NEE e, também, não havendo mais o programa Clube da Escola. Disponível em:
http://agencia.sorocaba.sp.gov.br/secretaria-da-educacao-realiza-integracao-de-883-novos-
estagiarios/
52 Programa que uniu formação para os professores alfabetizadores em 8 módulos (2010: 1º anos e
2011/2012: 1º e 2º anos), mais existência de um estagiário como 2º professor em todas as turmas de
alfabetização. Os estagiários do Programa receberam a mesma formação dos professores durante
esses três anos, porém, no caso dos estagiários, a formação ocorria em horário de serviço sendo que
a dos professores ocorria por meio de pagamento de carga suplementar de modo opcional, fora do
horário de serviço. (Saiba mais em: https://www.youtube.com/watch?v=j5mKU25vJ3g
53 Disponível em: https://educacao-sorocaba.webnode.com/publica%C3%A7%C3%B5es-
oficiais/matriz-curricular-da-rede-municipal/
151
Sorocaba publicada
em 2012
Formações + Material
Emocional55 Formação
Fundamental e Médio
Formação + Material
Projeto Professores de X X X
Intervenção recuperação que
atuavam com
Pedagógica
dificuldades em
conteúdos específicos
do ano
Formação + Material
54 Formação voltada à correção de todas as avaliações dos alunos da rede municipal de Sorocaba
participantes do SARESP.
55 Desenvolvido para apoiar as equipes escolares, colaboradores, professores e gestores, a
organização ASEC desenvolve a metodologia “Um dia para Mim”, com o “objetivo de estimular que os
participantes, normalmente assoberbados pela rotina escolar, possam pensar sobre si e sobre suas
ações no espaço educativo”. Disponível em: https://educacaointegral.org.br/experiencias/amigos-
zippy-apoia-escolas-a-serem-facilitadoras-do-desenvolvimento-emocional-das-criancas/
56 Foram instaladas algumas lousas digitais nas escolas de ensino fundamental e médio. O objetivo
era da lousa interativa (digital) ir aos poucos substituindo os tradicionais quadros negros e o giz, visando
para todos “aulas mais dinâmicas, ilustradas e, principalmente, produtivas”. O material é composto por
um quadro eletrônico branco conectado a um computador, por meio de uma entrada USB. A lousa
funciona ao toque de uma caneta magnética, que a transforma em uma tela de total interação com o
computador. Disponível em: http://www.sorocaba.sp.gov.br/anexos/SECOM%2FJornal-do-
Municipio%2F2009/1.362%20-%2024%20de%20abril%20de%202009.pdf
57 As formações enquanto convocação para uso da Lousa Digital passaram a compor o catálogo de
cursos de livre escolha e encerraram em 2017.
152
Arte CEDAC58
Formação de 4º e 5º anos X X
Matemática
Formação + Material
MATHEMA59
Instituto Professores de X
ABCD62 Recuperação Paralela
Formação + Material
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Formação + Material
63 Parceria da rede estadual com o município na oferta (fora do horário de serviço) do curso Letra e
Vida. Como já mencionado em capítulos anteriores a formação segue a concepção construtivista para
a alfabetização.
64 O curso visava habilitar a atuação dos Professores Educadores Comunitários da rede municipal de
Sorocaba que possuíam interesse de trabalhar na coordenação das ações da escola em tempo integral,
assim, todo educador comunitário, além de concursado PEB I, precisava como requisito ter realizado
este curso que foi ofertado em caráter opcional no ano de 2007, por meio de parceria entre SEDU e
Programa Professor Aprendiz. Cabia a este professor o mapeamento das oportunidades educativas
dos territórios, o estabelecimento de parcerias visando a participação comunitária na escola e o
aprofundamento do diálogo entre as atividades complementares [extraclasse] da escola. Disponível
em: https://portal.aprendiz.uol.com.br/arquivo/2013/05/02/professor-comunitario-amplia-relacao-da-
escola-com-a-cidade/
65 Programa que uniu formação para os professores alfabetizadores em 8 módulos (2010: 1º anos e
2011/2012: 1º e 2º anos), mais existência de um estagiário como 2º professor em todas as turmas de
alfabetização. Os estagiários do Programa receberam a mesma formação dos professores durante
esses três anos, porém, no caso dos estagiários, a formação ocorria em horário de serviço e dos
professores ocorria por meio de pagamento de carga suplementar de modo opcional, fora do horário
de serviço. (Saiba mais em: https://www.youtube.com/watch?v=j5mKU25vJ3g
(Saiba mais em: https://www.youtube.com/watch?v=j5mKU25vJ3g
154
68 Em sua proposta inicial, o Centro de Referência em Educação foi considerado uma inovação no
setor educacional, o prédio 100% acessível contou, desde a concepção e a execução do projeto, com
orientação e apoio técnico do Instituto Paradigma. No local, um grupo de profissionais – pedagogos,
psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeuta, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais – foi
selecionado para atuar em parceria com os educadores (professores, diretores, coordenadores,
orientadores e supervisores). A equipe de profissionais foi criada para atender as demandas sociais,
pedagógicas e psicológicas dos alunos. Atualmente o prédio funciona como sede da Secretaria da
Educação e a equipe multidisciplinar realiza orientações ou formações conforme a solicitação das
escolas.
156
69 PTA: Plano de Trabalho Anual das Escolas, apresentado junto PEPP: Projeto Eco-Político-
Pedagógico e Marco Referencial denominação dada via assessoria do Instituto Paulo Freire nas
ações do Programa Cidade Educadora – Escola Cidadã).
157
70 Temas que abordam valores referentes à cidadania: Ética, Saúde, Meio Ambiente, Orientação
Sexual, Trabalho e Consumo e Pluralidade Cultural.
158
Instituto Paradigma
Projeto Recuperação Paralela e
Intervenção Pedagógica
Projeto Sala de Recursos
Multifuncionais
Programa Amigos do Zippy em Casa
Programa Aluno Educador
Formação Currículo em Ação
Programa Saúde Emocional
Projeto Lousas Digitais
Projeto Roteiro Educador
2013 Projeto Informática PNAIC
Formações SARESP Oficinas e palestras diversas
Projeto Amigos do Zippy
Projeto Oficina do Saber
Projeto Caminhos para a Cidadania
Programa Clube da Escola
Programa Amigos do Maçã
Projeto Recuperação Paralela
Projeto Sala de Recursos
Multifuncionais
Programa Amigos do Zippy em Casa
Programa Aluno Educador
Programa Saúde Emocional
Projeto Lousas Digitais
Projeto Roteiro Educador
2014 – 2015 Projeto Informática (Programa Escola PNAIC
Digital) Programa Escola da Escola:
Projeto Oficina do Saber (Programa Cursos de curta duração de
Escola Viva) livre escolha
Projeto Caminhos para a Cidadania Especialização (lato-sensu)
Projeto Clube da Escola (Programa em Arte Educação pela
Escola Viva) FEUSP
Projeto Recuperação Paralela Especialização (lato-sensu)
Projeto Sala de Recursos em Educação Infantil
Multifuncionais
Programa Aluno Educador (Programa
Professor Aprendiz)
Projeto Lousas Digitais (Programa
Escola Digital)
Projeto Roteiro Educador (Programa
Escola Viva)
Projeto Salas de Leitura – Novos
Olhares
Projeto Bebeteca
Formações em Linguagem (Língua
Portuguesa e Arte) – CEDAC
Formações em Matemática –
MATHEMA
Instituto ABCD
2016 Projeto Caminhos para a Cidadania PNAIC
Projeto Recuperação Paralela Programa Escola da Escola:
Projeto Sala de Recursos Cursos de curta duração de
Multifuncionais livre escolha
Projeto Salas de Leitura – Novos
Olhares
160
Projeto Bebeteca
2017 – 2018 Projeto Caminhos para a Cidadania PNAIC
Projeto Recuperação Paralela Cursos de Livre Escolha
Projeto Sala de Recursos
Multifuncionais
Projeto Salas de Leitura
Projeto Leitura para a Primeira Infância
(Bebeteca)
Fonte: Quadro elaborado pela pesquisadora.
Pode-se observar, que em 2013 , primeiro ano de transição após oito anos
consecutivos do governo anterior, apresentou-se redução significativa em
comparação à “quantidade” da lista que ocupou os anos de 2005 a 2012, assim, ações
como: Instituto Paulo Freire (Programa Cidade Educadora - Escola Cidadã), Fundação
Pitágoras (Sistema de Gestão Integrado - SGI) e Pedagogia Empreendedora não
ocorriam mais como implementação na rede envolvendo formações por parte da
SEDU e tiveram no seu último ano (ocorrendo ainda em 2013) ações como: formação
aos professores envolvidos nas avaliações externas, e projeto de educação emocional
(Amigos do Zippy, Amigos do Maçã, Zippy em Casa e Saúde Emocional).
A partir de meados de 2013 a 2015 apresenta-se uma reestruturação na
organização dos projetos que se mantiveram, sendo basicamente organizados pela
denominação de 5 “programas”: Programa Escola Viva, composto pelos projetos:
Escola de EF em Tempo Integral, Clube da Escola, Roteiro Educador, Musicalização,
Sala de Leitura - Novos Olhares; Bebeteca e Caminhos para a Cidadania. Programa
Escola Digital, composto pelos projetos: Sala de Informática e Lousas Digitais.
Programa Escola da Escola: envolvendo parcerias com universidades ou profissionais
da educação para o desenvolvimento de cursos de livre escolha em diversas áreas
do conhecimento. Programa Professor Aprendiz: envolvendo ações formativas junto
aos estagiários e Programa Escola Saudável71.
Nesse período (2013 a 2015), assim como nos anteriores, desde a
implementação da “Oficina do Saber” em 2007, também se mantiveram as diversas
formações em serviço aos professores da escola em tempo integral.
71 Programa existente em todos os governos anteriores, mas não elencado na tabela deste estudo por
não envolver investimentos específicos em formação dos professores, mas atuação de diferentes
formas a cada governo junto às escolas, contemplando: saúde bucal, teste de acuidade visual,
prevenção de doenças, campanhas de vacinação, campanhas acerca da Dengue, da Gripe H1N1, entre
outras ações.
161
Ao final do ano letivo, após todas essas atividades, fica a questão: as crianças
foram alfabetizadas? Aprenderam português? Aprenderam matemática,
ciências naturais, história, geografia? Ora, esses são os elementos clássicos
do currículo escolar, tão clássicos que ninguém contesta. Às vezes se contesta
a forma: será que se deve alfabetizar assim ou seria melhor de outra forma?
Mas alguém ousaria afirmar que a escola não deve alfabetizar? No entanto,
esses elementos acabam por ser secundarizados, diluídos numa concepção
difusa de currículo (SAVIANI, 2011, p.87).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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