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FATECE

FACULDADE DE TECNOLOGIA CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO

SIMONE MARIA SECCO MOREIRA

A ALFABETIZAÇÃO SOB OS ASPECTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO


DE APRENDIZAGEM

RIBEIRÃO PRETO / SP

2016
SIMONE MARIA SECCO MOREIRA

A ALFABETIZAÇÃO SOB OS ASPECTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO


DE APRENDIZAGEM

Trabalho de Conclusão de Curso OU


Monografia apresentado(a) à Faculdade
de Tecnologia Ciências e Educação como
exigência parcial para obtenção do título
de Licenciado OU Bacharel OU
Especialista em Licenciatura em
Pedagogia

Orientador: Camila Varalonga

RIBEIRÃO PRETO - SP

2016
Catalogação-na-Publicação
Biblioteca FATECE

Moreira, Simone Maria Secco


A alfabetização sob os aspectos que interferem no
processo de aprendizagem / Simone Maria Secco Moreira
– Ribeirão Preto, 2016.
34 f.

Orientadora: Camila Varalonga


Monografia (Graduação) – Faculdade de
Tecnologia, Ciências e Educação, Especialização em
Licenciatura em Pedagogia, Polo Ribeirão Preto,
2016.

1. Cultura. 2. Liderança. 3. Organizações. I.


Girotti, Camila Varalonga, orient. II. Título

Catalogação elaborada por Daniela Cristina dos Santos. Bibliotecária da FATECE –


Pirassununga/SP – CRB-8/9218

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE


TRABALHO, POR QUALQUER MEIO DE COMUNICAÇÃO CONVENCIONAL OU
ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A
FONTE E COMUNICADO AOS AUTORES A REFERÊNCIA DA CITAÇÃO.

Ribeirão Preto, / /2014.

Assinatura:
Dedicatória

Dedico esta pesquisa à minha família e,


sobretudo, a meu esposo, pelo auxílio e
paciência na construção e desenvolvimento do
trabalho e de mim mesma e pelo apoio ao que
escolhi seguir.
Agradecimentos

À minha orientadora, Profª. Camila Varalonga,


pela paciência e atenção dispensada durante a
elaboração de todos os passos da construção
desta pesquisa. E, sobretudo à minha família
pela ajuda e estímulo a conquistar novos
horizontes.
Epígrafe

“O homem não é nada além daquilo que a


educação faz dele”.
(Immanuel Kant)

RESUMO

O presente estudo, busca elucidar os diversos fatores que envolvem o ato de


alfabetizar, destacando que para tal ação, o educador deve estar consciente das
diversas fases pelo qual passam os alunos, dos fatores sociais e emocionais, dentre
outros, partindo do conhecimento das etapas vividas pela criança. Através de
pesquisa bibliográfica, para um levantamento de dados onde se possa buscar meios
para melhoria da prática pedagógica e da qualidade do sistema educacional, esta
pesquisa destina-se a auxiliar o docente quanto à questão das dificuldades de
alfabetização buscando meios para solucioná-las, senão apontar caminhos. Através
de algumas observações práticas também se pretende conhecer a realidade do
educando com dificuldades. Para a busca de tal objetivo, se faz necessário discorrer
sobre a história da alfabetização no Brasil e suas consequências, analisando
algumas teses até chegar à atual situação. Entretanto, vale ressaltar que, para se
chegar a resultados satisfatórios, o profissional da educação, precisa não só
conhecer a trajetória da alfabetização, como também as hipóteses de ensino,
elaboradas a partir do estudo da psicogênese da língua escrita até a etapa de
letramento, no qual a criança passa a construir a escrita. Desta forma, esta
pesquisa, a partir da busca bibliográfica e da observação na prática, procura
destacar que tão importante quanto conhecer o funcionamento do sistema de escrita
é poder envolver-se com uma prática pedagógica responsável que possa responder
às necessidades do sistema educacional.

Palavras-chave: Alfabetização. Letramento. Aprendizagem.


ABSTRACT

This study seeks to elucidate the various factors involved in the act of literacy, noting
that for such action, the teacher should be aware of the various stages through which
pass the students, social and emotional factors, among others, based on the
knowledge of stages experienced by the child. Through literature search for a data
collection where you can look for ways to improve teaching practice and the quality of
the education system, this research is intended to assist the teaching on the question
of literacy difficulties looking for ways to solve them, but point ways. Through some
practical observations also want to know the reality of the student with difficulties. For
search of this goal, it is necessary to talk about the history of literacy in Brazil and its
consequences, analyzing some theses to reach the current situation. However, it is
noteworthy that in order to reach satisfactory results, the professional education,
must not only know the history of literacy, as well as the chances of education,
developed from the study of psychogenesis of written language to literacy stage, in
which the child begins to build writing. Thus, this research from the literature search
and observation in practice, seeks to emphasize that as important as knowing the
operation of the writing system is able to engage with a responsible pedagogical
practice that can meet the needs of the educational system.

Keywords: Literacy. Literacy. Learning.


SUMÁRIO

1 A HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO.......................................................................13

1.1 A alfabetização nos dias atuais.........................................................................14

1.2 Escola e alfabetização......................................................................................16

2 O ENSINO E A APRENDIZAGEM COMO CAMINHO PARA A ALFABETIZAÇÃO


.....................................................................................................................................18

2.1 Ensino e Aprendizagem.....................................................................................18

2.2 Teorias da aprendizagem................................................................................20

2.2.1 Teorias Inatistas.........................................................................................20

2.2.2 Teorias Ambientalistas...............................................................................20

2.2.3 Teorias Interacionistas...............................................................................21

2.2.4 Teorias sociointeracionistas.......................................................................21

2.3 Panorama do processo de alfabetização.........................................................22

2.4 Métodos de ensino............................................................................................24

2.4.1 Método Sintético.........................................................................................24

2.4.2 Métodos Analítico e Global.........................................................................25

2.5 Psicogênese da língua escrita..........................................................................25

3 LETRAMENTO........................................................................................................29

CONCLUSÃO.............................................................................................................32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................34
10

INTRODUÇÃO

Em meio aos desafios comumente encontrados na área pedagógica, se faz


necessário a todo educador uma reflexão sobre sua prática, haja vista as constantes
reclamações e indagações sobre seu real papel diante da aprendizagem.
O ato de educar exige uma reflexão crítica sobre a prática, exige que se
acredite na possibilidade da mudança, exige diálogo, querer bem aos educandos e
acima de tudo, exige amor à profissão.
Assim, é fundamental que o educador busque conhecer as variáveis pessoais
que influenciam na aprendizagem do aluno em relação à alfabetização e nas
mudanças que surgem e como a prática pedagógica contribui para o sucesso ou
fracasso escolar.
Haja vista, os problemas comumente encontrados pelo profissional da área de
educação, as frequentes queixas e observação de um razoável percentual de
crianças não alfabetizadas já no final do ciclo de alfabetização e considerando os
aspectos que interferem neste fenômeno, surge a questão ligada a melhor forma
para se alfabetizar hoje.
Assim, a escolha do tema para a presente pesquisa, engloba toda esta
questão da alfabetização e as possíveis causas que dificultam tal ação pedagógica.
Procurando encontrar meios e soluções, atentando para todas as fases pela qual
passa a criança na idade escolar, quais as dificuldades encontradas e quais as
possíveis causas para esta dificuldade. Levando o professor a observar e entender
as mesmas.
De acordo com Cury (2003), o professor deve conscientizar-se de que seu
papel fundamental é o de mediador no processo de ensino-aprendizagem, levando
os alunos à interação, onde poderá construir seu conhecimento de acordo com suas
experiências de vida, passando a ser o agente de sua aprendizagem.
A partir desta perspectiva, esta pesquisa visa mostrar que apesar dos
aspectos que interferem no processo de alfabetização, há muitas maneiras que
apontam vários caminhos para a alfabetização.
A maneira tradicional de alfabetizar está vinculada à ideia de que o professor
deve transmitir o que sabe a seus alunos, porém muitos destes educadores não
11

estão preparados para compreender as dificuldades que algumas crianças têm


antes de descobrir a leitura e a escrita.
Neste aspecto, as práticas utilizadas, muitas vezes se baseiam apenas na
junção das sílabas, memorização e cópia, não permitindo que o educando participe
ativamente do processo de construção do conhecimento, sem levar em conta se o
aluno está realmente assimilando o conteúdo transmitido, se houve a aprendizagem
e qual a evolução do aluno. Trata-se, segundo Emília Ferreiro (1996) de uma ideia
errônea de alfabetizar, vista simplesmente como mais uma técnica.
Desta forma, esta pesquisa procura mostrar algumas propostas fundamentais
no processo inicial de alfabetização, apoiada nos estudos de Emília Ferreiro,
registrados nas várias obras da autora e suas experiências com crianças; como
também as teses/pensamentos de vários autores no campo pedagógico.
O primeiro capítulo e segundo capítulos detém-se no estudo da
alfabetização, desde a história, os estudos sobre o tema, os entraves encontrados
pelo caminho, a situação da escola como comunidade, a responsabilidade dos pais
no processo pedagógico, as fases que envolvem o processo, a passagem para a
fase escrita, o letramento e a relação entre ensino e aprendizagem
Partindo do estudo sobre a história da alfabetização no Brasil, a importância
da escola neste processo, alguns métodos apresentados por estudiosos, estudos
voltados à origem e ao desenvolvimento dos processos mentais e as referências
curriculares comum para todo país expressas nos documentos da Secretaria de
Educação Básica (SEB), esta pesquisa busca uma correlação entre as ações
pedagógicas e a efetivação do conhecimento pelo aluno, levando este a plena
alfabetização, sem traumas e sendo enxergado como principal personagem do
processo de ensino-aprendizagem.
No desenvolvimento do terceiro capítulo, este estudo aprofunda-se no tema, a
partir da explanação sobre o letramento, destacando a diferença entre uma criança
alfabetizada e não letrada. Apontando as diferenças entre o ler e o escrever. Enfim,
que alfabetização não é letramento.
Em linhas gerais, o desenvolvimento deste estudo, descerra desde a história
da educação, conceituação de aprendizagem, os fatores que prejudicam ou
dificultam a aprendizagem, os ciclos de alfabetização e observação da prática
pedagógica na rede pública até a alfabetização propriamente dita.
12

Enfim, a busca dos meios para alfabetizar de uma forma correta, tendo como
principal alvo o aluno, de forma responsável e comprometida com a educação.
13

1 A HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO

De acordo com alguns dados históricos, possivelmente a escrita surgiu a


partir da necessidade do homem, em um período remoto da história, de símbolos
para contagem de espécies e para trocas ou vendas, para representar as
quantidades e os produtos, bem como seus proprietários.
Nessa época de escrita primitiva, ser alfabetizado significava saber ler o que
aqueles símbolos significavam e ser capaz de escrevê-los, repetindo modelos mais
ou menos padronizados, mesmo porque o que se escrevia era apenas um tipo de
texto ou documento.
Segundo Cagliari (1998), com a expansão do sistema de escrita, a quantidade
de informações necessárias para que alguém soubesse ler e escrever aumentava
diariamente, obrigando as pessoas a abandonar o sistema de símbolos para
representar coisas e a usar cada vez mais símbolos que representassem os sons da
fala. Assim, a escrita foi se disseminando pelo mundo, onde vários povos faziam
suas adaptações, até a criação do alfabeto.
Ainda segundo Cagliari (1998), com o surgimento do alfabeto, afloraram
também alguns problemas, o aparecimento de formas variantes de representação
gráfica das letras, por exemplo, fez com que uma letra passasse a ser apenas um
valor abstrato do alfabeto, que podia ser representado por muitas formas gráficas, as
quais o leitor precisaria conhecer e diferenciar.
Como de inicio só havia as letras maiúsculas, o surgimento das letras
minúsculas, exigia o conhecimento do usuário da escrita, que esses diferentes
símbolos representavam o mesmo fonema.
[...] não bastava saber o alfabeto, seu princípio acrofônico e a
ortografia: era preciso, ainda, saber fazer a categorização correta das
formas gráficas, reconhecendo a que categoria pertence cada letra
encontrada nas diferentes manifestações gráficas da escrita
(CAGLIARI, 1998,p.19).

Deste modo, a ortografia vem para guiar e interpretar o indivíduo quanto à


variação gráfica das próprias letras através da ortografia, até mesmo nos dias
atuais, é possível fazer a distinção entre as formas gráficas e os fonemas.
Sob este aspecto, também Britto (2005) disserta que a preocupação com a
alfabetização passou a ter uma importância muito grande, a partir que a edição de
livros era maior, e a leitura passou a ser mais utilizada individualmente.
14

Com a modernização e a preocupação com o letramento, surgem as cartilhas,


no intuito de estabelecer uma ortografia uniforme e ensinar o povo a escrever na
língua vernácula, que davam ênfase à leitura, tendo como primordial o aprendizado
do abecedário. A leitura era feita através de exercícios de decifração e identificação
das palavras, por meio das quais os alunos aprendiam as relações entre as letras e
os sons, segundo a ortografia da época. A cópia era a principal atividade e os
modelos eram os grandes autores, utilizando sempre a norma culta (Cagliari, 1998).
Já na década de 80, essa prática pedagógica passa a ser questionada, pois
os índices de fracasso na alfabetização passa aumentar consideravelmente. Em
decorrência da necessidade de se reformular o sistema educacional, devido às
novas urgências sociais e políticas, o pensamento construtivista, segundo Mortatti
(2006), resultante das pesquisas sobre a psicogênese da língua escrita, passa a ser
a maior fonte de busca para tal questão.
Com o passar do tempo foram surgindo várias correntes teóricas a respeito
do tema, novos modelos foram criados, cabendo ao educador, dar a devida
importância a esta questão, tanto quanto às outras envolvidas no processo de
aprendizagem da leitura e da escrita.
Mesmo com os movimentos “anti-cartilhas”, e pró-construtivismo, esta
permaneceu, mesmo que de forma “maquiada”, ou como instrumento de consulta,
vista como ferramenta indispensável para a sequência de programação teórica para
as séries iniciais. Assim, aponta Mortatti (2000), ao descrever o uso da cartilha como
um “pacto secular”, se referindo à sua utilização, como um aspecto da cultura
escolar, aliada ao conservadorismo da escola e do professor, na metodologia
aplicada nas classes de alfabetização.
Em vez dos métodos impostos e tidos como politicamente corretos, o
professor deve conscientizar-se que pode fazer inúmeras atividades, mais
inteligentes, que contribuam de fato para o processo de alfabetização.

1.1 A alfabetização nos dias atuais

Apesar das interferências e dos recentes estudos sobre o processo de


alfabetização, a prática pedagógica mais comum é, ainda, apoiada na cartilha
tradicional (disfarçadamente). Contudo, há cada vez mais professores conduzindo o
15

processo de alfabetização diferenciado, em busca do equilíbrio entre processo de


ensino com a aprendizagem.
[...] velhas ideias, porém básicas, como ensinar o alfabeto, as
relações entre as letras e sons, os diferentes sistemas de escrita que
temos no mundo em que vivemos, a ortografia, estão voltando a ter
importância na alfabetização. (CAGLIARI, 1998, p.31)

Aos poucos, as chamadas técnicas de alfabetização, estão sendo deixadas


de lado, para dar espaço a novos estudos e novos modos de trabalho, trazendo
vantagens para o processo educativo.
O processo de ensino não visa apenas a nota ou média como objetivo
principal, abandonando o fantasma da reprovação, levando adiante um trabalho de
ensino e aprendizagem tendo como ponto principal a formação, a instrução, enfim, a
educação.
Sob a visão de Morais (2009), a questão da alfabetização no Brasil encontra-
se em um momento complexo, com uma grande quantidade de produções e
discursos teóricos e pobre em alternativas que de fato possam dar sustentação aos
mesmos, afirmando que em geral, os saberes referentes às pesquisas não são
suficientes para a prática propriamente dita.
Ora, inúmeras pesquisas, planos, artigos, discussões propõem descobrir as
causas do fracasso escolar, no que diz respeito à alfabetização, que acabam por se
perder no caminho em busca dos culpados para tal fracasso, enquanto que, o que
deveria ser buscado, é a melhor forma para aplicar as pesquisas e averiguar sua
funcionalidade.
Nesta perspectiva, Belintane (2006), reflete sobre o tema como confrontos
entre métodos e metodologias, situando sua argumentação a partir de alguns
embates e preocupações neste campo do ensino, apontando a necessidade de um
novo olhar sobre a linguagem oral, abrindo perspectivas importantes para a
alfabetização e leitura. Ainda afirma a necessidade do Estado assumir a
alfabetização como prioridade absoluta, sem deixar de assumir a complexidade da
situação, levando em conta a singularidade da escola brasileira.
Se um consenso científico é necessário para que os educadores e
gestores possam contar com sugestões de programas e currículos
em um esforço coletivo de enfrentar as complexas demandas
brasileiras, é fundamental que ele se dê a partir de uma articulação
mais ampla que considere o movimento científico contemporâneo
que, salvo raras exceções, cultua a interdisplinaridade, respeita a
heterogeneidade e a complexidade dos processos e das diversidades
16

culturais. E é importante que a busca desse consenso esteja inserida


num plano amplo que faça da alfabetização e do ensino da leitura no
Brasil prioridades absolutas (BELINTANE, 2006, p. 273).
Enfim, é preciso assegurar a alfabetização, leitura e escrita como parte de um
projeto social, estabelecendo uma política cultural efetiva.

1.2 Escola e alfabetização

Ao longo dos anos a alfabetização tem gerado controvérsias entre teoria e


prática, exigindo da escola de um modo geral, uma posição no que diz respeito a
prática adotada.
No Brasil, desde o final do século XIX, a educação ganhou destaque como
uma utopia da modernidade. A escola tornou-se um lugar institucionalizado para o
preparo de novas gerações, visando atender aos ideais do Estado.
A leitura e escrita, que eram práticas culturais cuja aprendizagem se dava de
forma restrita a poucos e ocorria por meio de transmissão assistemática, geralmente
no lar ou de maneira informal, torna-se fundamento da escola obrigatória e gratuita e
objeto de ensino e aprendizagem escolarizados. Assim, as práticas de leitura e
escrita passaram a ser submetidas a ensino organizado, sistemático e intencional,
exigindo para isso, a preparação de profissionais especializados. (BESSA, 2010).
De acordo com Mortatti (2000), o processo de ensinar e de aprender a leitura
e a escrita na fase inicial de escolarização da criança é um momento de passagem
para um novo mundo, que traz novas formas de relação dos sujeitos como meio,
novos modos de pensar, agir sentir e querer.
Porém, desde as últimas duas décadas, as evidências que sustentam a
associação entre escola e alfabetização vêm sendo discutidas, devido às
dificuldades de se concretizarem as promessas e os efeitos esperados com a ação
da escola sobre o cidadão. Visto como problema decorrente, o método de ensino, o
aluno, o educador, o sistema escolar, condições sociais, enfim, a recorrência sobre
estas dificuldades de a escola conseguir cumprir sua tarefa não é exclusivo da
atualidade.
Observa-se repetidos esforços de mudança, para superar as necessidades do
que, a cada momento histórico, considera-se o fator responsável pelo tal fracasso
escolar. (MORTATTI, 2000).
17

A tentativa de se encontrar um responsável pelo problema se concentrou nos


métodos de ensino da leitura e escrita, e então começaram a surgir disputas entre
os que se consideravam representantes de um novo método de alfabetização e
aqueles que permaneciam defendendo os métodos ditos antigos e tradicionais.
A partir destes confrontos de métodos de ensino, que visavam encontrar uma
forma de acabar com os problemas de alfabetização, vêm sendo pensado em todos
os fatores com outro ponto de vista, em particular com relação a compreender o
processo de aprendizagem da criança que está se alfabetizando.
A ideia de renovação está contida em movimentos que impulsionavam
ampliação do acesso à educação básica, discutida enquanto modelo válido ou não
para a educação de todas as camadas sociais, que tinham propósito de renovar o
ensino inserindo novas práticas pedagógicas.
Esta ação desenvolvida a favor da alfabetização torna possível a percepção
das constantes mudanças no âmbito escolar, destacando o aluno como sujeito da
aprendizagem, caracterizando a alfabetização fundamental para que o indivíduo leia,
interaja e comunique-se no mundo. (BESSA, 2010)
18

2 O ENSINO E A APRENDIZAGEM COMO CAMINHO PARA A ALFABETIZAÇÃO

O educador deve ter em mente que a questão metodológica não é a essência


da educação, mas uma ferramenta de apoio pedagógico. Assim, deve saber tirar
todas as vantagens dos métodos, bem como conhecer as limitações de cada um.
Segundo Gagliari (1998),” há uma grande confusão por parte dos educadores
entre o conceito de ensino e aprendizagem.” Sendo mais comum levar em conta
apenas o conceito de ensino, pressupondo erroneamente que a aprendizagem
ocorre automaticamente, como fruto inevitável do ensino.
Destacando os fenômenos do ensino e da aprendizagem, vale ressaltar
alguns aspectos a partir de diferentes perspectivas de análise, para se descobrir os
caminhos de aprendizagem por quais seguem o aluno, destacando o elo entre tais
processos.

2.1 Ensino e Aprendizagem

Ensinar é um ato coletivo, haja vista que é possível ensinar várias pessoas,
seja numa aula, palestra, conferência, etc. O sujeito que ensina procura transmitir
seus conhecimentos para seus ouvintes.
O ato de ensinar consiste em transmitir algo que o educador julga relevante,
dando informações importantes, para que o educando aprenda algo que deseja
transmitir.
Diferentemente do ato coletivo do ensinar, o aprender é um ato individual –
cada um aprende segundo seu próprio metabolismo intelectual. A aprendizagem não
se processa paralelamente ao ensino. (BESSA, 2010)
Aprender é criar algo semelhante àquilo que foi ensinado, dependendo da
iniciativa individual de quem aprende (CAGLIARI, 1998)
A aprendizagem é o tema central na atividade do professor, uma ação que
leva o indivíduo à mudança de comportamento, entendendo comportamento em seu
sentido mais amplo, exemplificando: se uma criança que, ao entrar na classe de
alfabetização, não lê e, ao final do ano está lendo, apresenta uma modificação.
Porém, a aprendizagem não deve ser vista apenas como aquilo que o
educando demonstra ter adquirido através da avaliação. Aprendizagem é um
fenômeno do dia-a-dia, que ocorre desde o início da vida. (FALCÃO, apud
LIMA.2008)
19

Ainda sob a análise do mesmo autor:

(...) pode-se definir aprendizagem como uma modificação


relativamente duradoura do comportamento, através de treino,
experiência e observação. Se a pessoa treinou, ou passou por uma
experiência especialmente significativa para ela, ou observou alguém
na realização de algo, e depois disso mostrou-se de alguma forma,
podendo demonstrar esta modificação desde que se apresentem
condições adequadas, e, além disso, mantiver esta mudança por
tempo razoavelmente longo – então podemos dizer que houve
aprendizagem. (FALCÃO, apud LIMA, 2008,np.)

Assim, é possível observar o processo de aprendizagem como uma forma de


como o indivíduo adquire novos conhecimentos, desenvolve competências e muda o
comportamento.
A aprendizagem está envolvida em múltiplos fatores, que se implicam
mutuamente e que embora possamos analisá-los separadamente, fazem parte de
um todo que depende, quer na sua natureza, quer na sua qualidade, de uma série
de condições internas e externas ao sujeito. Vista como um fenômeno
extremamente complexo, envolvendo aspectos cognitivos, emocionais, orgânicos,
psicossociais e culturais. A aprendizagem é resultante do desenvolvimento de
aptidões e de conhecimentos, bem como da transferência destes para novas
situações. (LIMA, 2008).
Como afirma Cagliari (1998, p.37):
A aprendizagem é sempre um processo construtivo na mente e nas
ações do indivíduo. O ensino não constrói nada: nenhum professor
pode aprender por seus alunos, mas cada aluno deverá aprender por
si, seguindo seu próprio caminho e chegando onde sua
individualidade o levar. Por isso, a aprendizagem será sempre um
processo heterogêneo, ao contrário do ensino, que costuma ser
tipicamente muito homogêneo.

Assim, é possível observar o processo de aprendizagem como uma forma do


indivíduo adquirir novos conhecimentos, desenvolver competências e mudar o
comportamento. No ensino é muito importante o que se diz; na aprendizagem, o que
se faz. Portanto, aprender não é repetir algo que foi ensinado, mas criar algo
semelhante a partir da iniciativa individual de quem aprende.
A relevância do estudo deve atentar para fatores ainda desconhecidos,
buscando maior aproximação entre o professor, em sua prática pedagógica e os
conceitos de ensino e aprendizagem.
20

Como elucida Kramer (2010), o estudo deve estar focado no problema básico
da aprendizagem para que haja sucesso na prática de alfabetização, apesar de
algumas limitações ocasionalmente encontradas pelo caminho.

2.2 Teorias da aprendizagem

Em busca do entendimento sobre o processo de aprendizagem, foram se


desenvolvendo teorias que buscam explicar este processo por vias diferentes.
Teorias estas que visam buscar explicações para a forma com que o indivíduo
aprende ao longo de seu desenvolvimento, a partir de seus sentimentos e
percepções. Essas teorias foram classificadas como:

2.2.1 Teorias Inatistas

Um dos primeiros grupos que tentou explicar a aprendizagem, partindo do


pressuposto de que as ideias ou princípios existem independentemente da
experiência, onde a aprendizagem não depende daquilo que é vivido pelo sujeito, de
suas experiências no mundo, estando relacionada à capacidade congênita do
individuo de desempenhar tarefas que lhe são propostas. (BESSA, 2010)
Segundo Moura e Mehlecke apud Bessa (2010), define o inatismo como algo
que se opõe à experimentação, haja vista que o indivíduo traz congenitamente
condições do conhecimento e da aprendizagem manifestados ao decorrer do seu
desenvolvimento natural.
A partir desta teoria presume-se que toda atividade de conhecimento é de
exclusividade do aprendiz, sem participação do meio. É chamada de aprendizagem
de dentro para fora.

2.2.2 Teorias Ambientalistas

Diferentemente das teorias inatistas, as teorias ambientalistas levam em


consideração a o meio no qual o sujeito está inserido, onde o ambiente possa
influenciar a aprendizagem do indivíduo.
Para esse tipo de teoria, segundo Bessa (2010), a criança aparece como uma
folha em branco, no qual serão inscritos hábitos, comportamentos e demais
21

aprendizagens a partir da relação do sujeito com o meio, acontecendo de fora para


dentro.
Assim sendo, o entorno é muito importante ao desenvolvimento da criança.
Estando aí inseridos os hábitos e costumes de seu povo, de sua cultura, crescendo
junto consigo, pois é parte de sua realidade.

2.2.3 Teorias Interacionistas

As teorias interacionistas estão embasadas na interação do sujeito com o seu


meio. É a partir desta interação que o sujeito extrai daquilo que deseja conhecer as
informações necessárias para seu uso, caracterizando desta forma, uma
aprendizagem ativa. Nestas teorias, está incluso o construtivismo, que enxerga a
aprendizagem como um processo de interação entre o sujeito e o objeto, como
também o indivíduo um sujeito ativo e construtor de seu próprio conhecimento.
Nesta perspectivas, esta teoria valoriza a interação do indivíduo com o meio,
valorizando sua procedência e seu conhecimento concreto.

2.2.4 Teorias sociointeracionistas

Estas teorias buscam explicar a aprendizagem como um processo de


interação social realizada pelo aprendiz. Segundo esta linha de pesquisa, a partir
das relações sociais estabelecidas ocorre a construção do conhecimento, levando
em consideração as relações que o indivíduo estabelece com o meio durante o
processo de aprendizagem.

A partir das varias teorias desenvolvidas, formadas ao longo dos anos sob a
visão de distintos estudiosos, Bessa (2010) destaca, dentre outras:

 Teoria Construtivista de Jean Piaget.


 Teoria Sócio-histórica-cultural de Lev Vygotsky.
 Henri Wallon e a psicogênese da pessoa completa.
 Maria Montessori e a aprendizagem exploratória.
 Emília Ferreiro e a aprendizagem da leitura e da escrita.
 Célestin Freinet e a aprendizagem natural.
22

 Teoria libertadora de Paulo Freire.


 Madalena Freire e a aprendizagem profissional.
 Jerome Bruner e a aprendizagem em espiral.
 David Ausubel e a aprendizagem significativa.
 Howard Gardner e a teoria das múltiplas inteligências.
 Philippe Perrenoud e a teoria das competências.

Para que o professor aperfeiçoe sua prática pedagógica e compreende o


processo de aprendizagem, é necessário que busque as raízes históricas da
educação, enxergando a aprendizagem como um processo coletivo, que envolve
tanto as ações do educando quanto do educador.
Para Bessa (2010, p.15),

(...) o processo de aprender não está relacionado apenas com as


“capacidades” intelectuais de cada aprendiz, mas, de uma forma
mais ampla, o processo de aprender envolve, para além das nossas
habilidades cognitivas, as relações estabelecidas entre professores e
alunos e, consequentemente, a relação que se constrói em torno do
ensino e da aprendizagem. Isso significa que, mesmo um aluno
considerado inteligente pode apresentar dificuldades se a relação
que estabelece com a matéria, a partir do professor e de sua
dialética, não for bem construída.

A partir do conhecimento de diferentes recursos teóricos, metodologias e


estudos gerais acerca da aprendizagem, o trabalho do professor, além de ser
facilitado, ganha qualidade, levando o aluno a experimentar o conteúdo a ser
aprendido por diferentes maneiras.
Enfim, independente de quaisquer teorias, o educador precisa estar
consciente a respeito de alguns aspectos detectados ao longo do processo
educativo.

2.3 Panorama do processo de alfabetização

Para realizar um trabalho de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita é


preciso saber direcionar os objetivos, e ter claro o conceito de alfabetização.
Segundo Cagliari (1998), muitos problemas surgiram na história da alfabetização
realizada na escola porque os objetivos específicos não eram muito claros.
23

Alfabetizar é ensinar a ler e a escrever, porém o segredo da alfabetização é a


leitura, ou seja a decifração, então a culminância da alfabetização está em ensinar o
aluno a decifrar a escrita e, em seguida aplicar este conhecimento para produzir a
sua própria escrita.
Para Ferreiro (1996), o desenvolvimento da alfabetização ocorre no ambiente
social, mas as práticas sociais, assim como as informações sociais, não são
recebidas passivamente pelas crianças.
De acordo com suas experiências com crianças, Ferreiro (1999, p.44-7),
esquematiza algumas propostas fundamentais sobre o processo de alfabetização
inicial:
- Restituir a língua escrita seu caráter de objeto social;
- Desde o inicio (inclusive na pré-escola) se aceita que todos na escola podem
produzir e interpretar escritas, cada qual em seu nível;
- Permite-se e estimula-se que a criança tenham interação com a língua escrita,
nos mais variados contextos;
- Permite-se o acesso o quanto antes possível à escrita do nome próprio;
- Não se supervaloriza a criança, supondo que de imediato compreendera a
relação entre a escrita e a linguagem.
- Não se pode imediatamente, ocorrer correção gráfica nem correção ortográfica.

Entretanto no processo de alfabetização inicial, nem sempre esses critérios


são utilizados. Sabemos que os professores ensinam da mesma maneira como
aprenderam quando eram alunos, porém não aceitam os erros que seus alunos
cometem.
Sawaya (2000), acredita que ao trazerem mudanças nas concepções de
ensino e aprendizagem da leitura, os estudos da psicogênese da língua escrita,
indicam um caminho para novos entendimentos sobre as dificuldades escolares.
Assim, o professor precisa embasar sua prática pedagógica a partir de sua
experiência, advinda de conhecimentos sólidos e profundos da matéria que leciona.
Quando o professor domina a matéria, desenvolve um jeito particular de ensinar,
assim como seus alunos têm um modo próprio de aprender. Essa troca é
fundamental para o processo educativo.
A metodologia normalmente utilizada pelos professores parte daquilo que é
mais simples, passando para os mais complexos.
24

2.4 Métodos de ensino

Sob os aspectos do processo de ensino, considerando o trabalho do


professor como uma combinação de atividades entre este e o educando, a análise
desta ação pedagógica direciona o trabalho do educador para alcançar os objetivos
gerais e específicos de ensino.
De acordo com Ferreiro (2000), tradicionalmente, as decisões a respeito da
prática alfabetizadora estão centrados na polêmica sobre os métodos utilizados.
Destacando:

2.4.1 Método Sintético

Consiste na correspondência entre o oral e o escrito, entre o som e a grafia.


Estabelece a correspondência a partir dos elementos mínimos (que são as letras),
em um processo que consiste em ir das partes ao todo. Durante muito tempo se
ensinou a pronunciar as letras, estabelecendo-se as regras de sonorização de
escrita no seu idioma correspondente.
Posteriormente, sob a influência da linguística, desenvolve-se o método
fonético, propondo que se comece do oral. A unidade mínima do som da fala é o
fonema. Assim, neste processo iniciar-se-ia pelo fonema, associando-o à sua
representação gráfica. É preciso que o sujeito seja capaz de isolar e reconhecer os
diferentes fonemas de seu idioma, para poder, a seguir, relacioná-los aos sinais
gráficos. A ênfase está na análise auditiva para que os sons sejam separados e
estabelecidos as correspondências grafema-fonema (letra-som). (BESSA, 2010)
Na Escola ensinavam-se os nomes e o traçado de todas as letras do
abecedário, isoladas umas das outras, sem o aluno saber o que era e para que
servia aquilo e depois de bem sabidas era suposto que o aluno já sabia ler porque
bastava juntar as letras e soletrar.
Este método defende que a aquisição da linguagem é um processo mecânico,
ou seja, a criança será sempre estimulada a repetir os sons que absorve do
ambiente. Assim, a linguagem seria a formação do hábito de imitar um modelo
sonoro. Os usos e funções da linguagem, neste caso, são descartados por se
tratarem de elementos não observáveis pelos métodos utilizados por essa teoria,
dando-se importância à forma e não ao significado.
25

No tocante à aquisição da linguagem escrita, a fônica é o intuito de fazer com


que a criança internalize padrões regulares de correspondência entre som e
soletração, por meio da leitura de palavras das quais ela, inconscientemente, inferir
as correspondências soletração/som.

2.4.2 Métodos Analítico e Global

Na aprendizagem da leitura e da escrita, o aluno aprende primeiro um texto


escrito, à medida que entra em com o texto que já decorou, vai percebendo a
medida das suas capacidades, das suas partes componentes, tirando as suas
conclusões e a partir da experiência adquirida, passe a ler sozinho algumas palavras
e mesmo algumas pequenas frases. Na escrita, o aluno vai escrevendo a frase ou
frases cuja leitura já conhece como um todo, não distinguindo as letras nem as
palavras, de início.
Justificando o método analítico, Nicolas Adam, responsável por suas bases,
vai utilizar-se de uma metáfora, dizendo que, quando se apresenta um casaco a
uma criança, mostra-se ele todo, e não a gola, depois os bolsos, os botões etc. Ele
afirma que é dessa forma que uma criança aprende a falar, portanto deve ser da
mesma forma que deve aprender a ler e escrever, partindo do todo, decompondo-o,
mais tarde, em porções menores. Para ele, era imprescindível ressaltar a
importância que a criança tem de ler e não decifrar o que está escrito, isso quer
dizer que ela tem a necessidade de encontrar um significado afetivo e efetivo nas
palavras. (BESSA, 2010)

2.5 Psicogênese da língua escrita

Uma abordagem psicológica a fim de investigar como a criança se apropria da


lingua escrita e não um método, a psicogênese da língua escrita transforma estudos
em abordagens pedagógicas, cabendo ao professor transpor esta abordagem para
sua prática.
A psicogênese da língua escrita trouxe aos educadores um melhor
entendimento de que alfabetizar engloba um complexo processo de elaboração de
hipóteses sobre a representação da linguistica, o que até então era visto como uma
26

apropriação de códigos. Com isso, rompe-se a idéia de que o aluno tem o papel
somente de aprender, e o educador que somente ensina, e também se acaba com a
idéia de que o único espaço onde ocorre a aprendizagem é a sala de aula. (MOURA,
1999)
Os estudos de Emília Ferreiro, segundo Bessa (2010), não requerem uma
metodologia de ensino-aprendizagem para as classses de alfabetização, mas busca,
da mesma forma que Piaget, compreender de que forma se dá o conhecimento da
criança sobre os processos da leitura e da escrita. Como prepulsora dos estudos
sobre a psicogênese da lingua escrita, investigou de que maneira as crianças
constroem hipóteses linguisticas sobre o sistema de escrita.
A partir das observações ligadas às pesquisas de Emilia Ferreiro é possível
observar que a aprendizagem da escrita dissocia-se da aprendizagem da fala e que
o caminho utilizado pela criança para a compreensão dos símbolos linguisticos
passa pelas associações entre os fonemas e grafemas de cada conjunto de
linguagem. Desta forma o construtivismo é apontado como suporte teórico
privilegiado para a explicação do processo de escrita, uma vez que para escrever é
necessário a realização de constantes interações com o entorno e com os códigos
linguísticos que representam o que se deseja denominar. (BESSA, 2010)
Conforme Colello (2003), a aprendizagem se desenvolve em uma relação
interativa entre o sujeito e o meio em que vive, tendo então que ser considerado
todos os aspectos do seu cotidiano, respeitar e auxiliá-lo da melhor forma possível,
adaptando o conteúdo a ser trabalhado de acordo com a sua realidade. Assim, há
que se valorizar os inúmeros agentes mediadores da aprendizagem para que se
possa fazer um trabalho direcionado e totalmente real ao sujeito.
Confirmando a importância da psicogênese para a construção da escrita e a
prática pedagógica do educador, pode-se dizer que:

A psicogênese da língua escrita representou uma grande revolução


conceitual nas referencias teóricas com que se tratava a
alfabetização até então,iniciando a instauração de um novo
paradigma para a interpretação da forma pela qual a criança aprende
a ler e a escrever. (AZENHA,apud MOURA,1999, p.215)

A psicogênese realiza um processo de recontar a escrita, sugerindo que se


leve em consideração o entendimento prévio que o aluno tem sobre a escrita, pois
se as hipóteses parecem ser óbvias e naturais para um adulto alfabetizado por
27

métodos apresentados das partes para o todo, o mesmo não ocorre com as
crianças. Portanto, essa é a única forma para que o adulto (professor), possa
compreender como ocorre o processo de construção da escrita pela criança e assim,
supere os costumes tradicionais de ensino. O importante é a modificação nessa
concepção sobre a escrita para que se entenda que alfabetização acontece em um
processo conceitual.
As crianças, desde muito cedo, procuram compreender todas as informações
que recebem, tanto através de textos de outras pessoas, ou ao participar de atos
sociais que envolvem leitura e escrita, pois essa informação antecede o início da
instrução escolar. A criança consegue interpretar e produzir escritas muito antes de
conseguir ler e escrever convencionalmente, pois criam situações experimentais
onde ela busca a aprendizagem na medida em que constrói o raciocínio lógico.
Ferreiro (apud Bessa, 2010), orienta que para se evitar erros frequentes,
ligados ao processo de ensino de crianças em classes de alfabetização, o educador
precisa conhecer as teorias psicológicas, as práticas pedagógicas e das
metodologias voltadas à compreensão da maneira com que a criança lida com o seu
próprio processo de desenvolvimento quanto à escrita.
Desta forma, Bessa (2010, p.92), destaca os pensamentos de Emília Ferreiro:
[...] a questão da alfabetização gira em torno da representação que a
criança faz do mundo, ou seja, de que maneira cada criança “lê” o
mundo e o traduz em imagens e palavras. Somente a partir dessa
representação, ou melhor, da compreensão pelos professores sobre
o modo como cada criança “lê” o mundo, é que se pode
compreender a forma como cada criança evolui no sentido da
construção do seu conhecimento sobre a leitura e a escrita.

De acordo com esse pensamento é que Emília Ferreiro formula a noção de


hipóteses linguísticas. Hipóteses que se iniciam antes mesmo do processo formal de
alfabetização.
Assim, de acordo com Ferreiro e Teberosky (1999), as crianças começam
suas leituras a partir dos desenhos, mas depois de algum tempo, a partir da
alfabetização formal, vão conhecendo outros códigos para essas representações,
podendo distinguir o desenho da grafia textual.
Para que a criança consiga ler e escrever, ela precisa passar por
fases, e estas são essenciais e devem ser acompanhadas e
respeitadas pelo educador, para que o aprendizado ocorra de forma
prazerosa e compatível com a idade e momento em que a criança se
encontra. Essas fases são hipóteses de leitura, que auxiliam os
educadores em seu trabalho e que dão um suporte para que ele
28

possa diagnosticar e elaborar práticas para aquele momento da


criança. (FERREIRO; TEBEROSKY, 1999)

Assim, torna-se essencial que o professor tenha conhecimento das fases de


desenvolvimento da criança, procurando entendê-las para que sua prática seja
concernente com a hipótese pela qual a criança passa, trazendo benefícios para
ambos.
29

3 LETRAMENTO

Atualmente as crianças são alfabetizadas, porém em sua maioria não são


letradas, isto quer dizer que se lê o que está escrito, mas não se consegue
compreender, interpretar o que leu. Isto faz com que a criança tenha limitações para
interpretar corretamente um texto, o que a levará a ter problemas em todas as
disciplinas que fazem parte de seu currículo escolar. (BRITTO, 2005)

Desta forma, é importante saber ler e escrever para que as pessoas


participem integralmente da sociedade, pois quanto maior for o nível de letramento,
maior será a frequência de manuseio dos textos escritos, da produção escrita,
registros, ou seja da interação com o meio linguístico.

Geraldi (apud Bessa, 2010), sustenta que a linguagem é uma forma de


interação ao considerar a linguagem como um meio de transmissão de informações,
tornando-se um espaço do resultado das interações humanas. Utilizando-a, as
pessoas realizam ações que não conseguiriam realizar a não ser falando.

De acordo com FREIRE (1989, p.58), “o ato de estudar, enquanto ato curioso
do sujeito diante do mundo é expressão da forma de estar sendo dos seres
humanos, como seres sociais históricos, seres fazedores, transformadores, que não
apenas sabem, mas sabem que sabem.”

Sendo assim, o professor tem importante papel no sentido de transformar


esta pessoa alfabetizada em uma pessoa letrada, e isso se dá através de incentivos
variados, no que diz respeito à leitura de diversas tipologias textuais e também se
utilizando de exercícios de interpretação e compreensão de diferentes tipos de
textos, em que vários tipos de ferramentas podem ser utilizadas. Podem ser usados
materiais como livros, revistas, jornais, músicas, poesias, listas, entre outros.

Mais importante que decodificar símbolos (letras e palavras), é preciso


compreender a funcionalidade da língua escrita, pois é assim que o cidadão torna-se
mais atuante, participativo e autônomo, de forma significativa na sociedade na qual
este está inserido. E assim, a criança precisa ter uma base sólida em sua
alfabetização para que o aprendizado se construa com um bom trabalho e com isso
ela consiga compreender o que está escrevendo e não só decodificar.
30

Letrar significa inserir a criança no mundo letrado, trabalhando com os


diferentes usos de escrita na sociedade. Essa inserção começa muito antes da
alfabetização propriamente dita, quando a criança começa a interagir socialmente
com as práticas de letramento no seu mundo social: os pais leem para ela, a mãe
faz anotações, os rótulos indicam os produtos, as marcas ressaltam nas prateleiras
dos supermercados e na despensa em casa. O letramento é cultural, por isso muitas
crianças já vão para a escola com o conhecimento adquirido incidentalmente no dia-
a-dia.

A escola deve continuar o desenvolvimento das crianças nesse processo,


evitando as práticas que tornam a criança alfabetizada, com conhecimento do
código, mas incapaz de compreender o sentido dos textos. (BESSA, 2010)

O professor deve tomar alguns cuidados para envolver o aluno no processo


de construção da escrita, tais como:

• Criar um ambiente letrado, em que à leitura e a escrita estejam presentes mesmo


antes que a criança saiba ler e escrever convencionalmente.

• Considerar o conhecimento prévio das crianças, pois, embora pequenas, elas


levam para a escola o conhecimento que advém da vida.

• Participar com as crianças de práticas de letramento, ou seja, ler e escrever com


função social.

• Utilizar textos significativos, pois é mais interessante interagir com a escrita que
possui um sentido, constitui um desafio e dá prazer.

• Utilizar textos reais, que circulam na sociedade.

• Utilizar a leitura e a escrita como forma de interação, por exemplo, para informar,
convencer, solicitar ou emocionar.

Quando se considera a importância do letramento, ficam de lado os exercícios


mecânicos e repetitivos, baseados em palavras e frases descontextualizadas. O
enfoque está no aluno que constrói seu conhecimento sobre a língua escrita e não
no professor que ensina. Na escola, a criança deve prosseguir a construção do
conhecimento iniciada em casa e interagir constantemente com os usos sociais da
31

escrita. O importante não é simplesmente codificar e decodificar, mas ler e escrever


textos significativos. (SOARES, 1998)
32

CONCLUSÃO

A partir da análise da alfabetização ao longo da história, os problemas


encontrados e face às divergências nas práticas pedagógicas, este estudo buscou
analisar os aspectos que interferem no processo ensino aprendizagem

Ao se falar em processo de ensino aprendizagem, há de se levar em


consideração todos os fatores que influenciam positiva e negativamente para que
isto ocorra. Características de personalidade, ritmos distintos na execução de tarefas
e formas peculiares de interpretar o que acontece ao seu redor, sobretudo nas suas
relações interpessoais, devem ser respeitadas e auxiliadas para que a criança tenha
então um suporte e consiga a partir de um trabalho específico, obter bons
resultados.

Para que o professor seja bem sucedido na sua tarefa de ensinar, é preciso,
portanto, ajustar-se às expectativas sociais (as que dizem respeito aos objetivos da
escola) e à realidade pessoal da criança.

A criança estará preparada para aprender quando tiver desenvolvido um


comportamento ativo, o que é uma evidência de que já tem ao seu alcance a
possibilidade da informação e do conhecimento. Isso só ocorre, no entanto, se o que
apresentamos tiver um significado para ela.

Cada criança tem o seu momento, suas dificuldades e cabe ao educador ter
um conhecimento sobre as fases pelas quais a criança passa até chegar ao
conhecimento da escrita e leitura, e dar suporte durante este processo.

É preciso entender que até ler e escrever convencionalmente, a criança terá


momentos próprios para obter isso, e com um trabalho compatível à sua fase, ela se
desenvolverá.

Se o professor não demonstrar interesse por cada um de seus alunos,


analisando suas dificuldades e procurando resolvê-las a partir do conhecimento
específico dos casos, sua ação será falha, levando seus alunos ao fracasso ou
insucesso escolar.
33

É fundamental que o educador esteja atento aos fatos, procure lidar


adequadamente com as dificuldades das crianças durante o processo de
alfabetização, tendo consciência de que sua ação influenciará, e muito, a vida do
educando.

Quando o processo de alfabetização não acontece com facilidade, o professor


deve redobrar a atenção com o aluno, observando também as outras capacidades
desta criança, tomando cuidado com os rótulos comumente impostos a alguns
alunos.

Enfim, alfabetizar não é o simples ato de “ensinar a ler”, mas um delicado


processo de construção da escrita que necessita ser avaliado e reavaliado
constantemente buscando o completo desenvolvimento da criança.

É preciso olhar para as crianças, ver suas necessidades e atendê-las, pois


não adianta fechar os olhos ou tentar encobrir a realidade.

É necessário que nós educadores, tenhamos consciência de nosso papel, e


que o façamos com total responsabilidade, só assim, poderemos mudar a vida das
crianças que tanto dependem de nós.
34

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