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ISBN 978-85-7846-516-2

ANÁLISE DIDÁTICA: GRAMÁTICA COMPARATIVA E NEOGRAMÁTICA


Weslei Chaleghi de Melo – UEL /UTFPR
E-mail: weslei@alunos.utfpr.edu.br

Renan Guilherme Pimentel - UENP


E-mail: renangpimentel@gmail.com

Eixo 3: Temas contemporâneos na Educação

Resumo
Este trabalho busca apresentar de forma expositiva as características históricas que
o estudo da gramática percorreu no âmbito dos estudos linguísticos. Para solucionar
a questão norteadora de como os estudos da gramática se comportaram nos seus
respectivos períodos chamados de Gramática comparativa e a Neogramática,
trazemos uma verificação de cunho bibliográfico e analítico ao comparar estudos de
autores consagrados na linguística, como Saussure. A verificação busca
proporcionar uma base de aporte teórico para posteriores pesquisas em que a
relação à análise didática e entre as concepções históricas da gramática sejam
propostas reflexões para compreensão dos mecanismos de aprendizagem.

Palavras-chave: Gramática comparada, neogramática, Análise didática.


Introdução

1 Gramática comparada
Os estudos da gramática comparada podem ser suscitados pelo linguista
americano Robert Trask (2004) como a busca pela origem em comum de um grupo
de línguas. A gramática comparada assume, em sua essência, duas principais
características, podendo ser sincrônica ao deter-se a descrever os fatos, ou
diacrônica ao buscar suas bases históricas para embasar sua explicação.
Compreende-se a concepção de estudo comparativo pela busca nas identificações
de possíveis semelhanças e/ou diferenças nas relações intralinguística de duas ou
mais línguas em seus conceitos semânticos.
Por volta do século XIX, a história da constituição da linguística teve um
importante marco, o estudo das gramáticas comparadas. Esta perspectiva, que
surge da ruptura do modelo gramatical do século XVII, conhecida como Gramática
Geral (conhecida por Gramática de Port Royal), descentraliza o pensamento de um

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ideal universal. Dessa forma, Orlandi (1986, p.15) destaca que “A grande
contribuição das gramáticas comparadas foi evidenciar que as mudanças são
regulares, têm uma direção. Não são caóticas como se pensava”.
Dentre os principais pontos que esta perspectiva trazia em seu bojo, como
ressalta Orlandi (1986) é a concepção de valorização das transformações históricas
que a língua sofre. Exemplo disto foram os estudos realizados pelo alemão Franz
Bopp (1816 apud ORLANDI, 1986, p.13), onde o autor faz os estudos conjugativos
da língua sânscrito em comparação ao grego, latim, persa e germânico.

O pressuposto de base é que entre elementos de línguas aparentadas


existem correspondências sistemáticas (e não apenas aleatórias ou
casuais) em termos de estrutura gramatical, correspondências estas
passíveis de serem estabelecidas por meio duma cuidadosa comparação.
Com isso, podemos não só explicitar o parentesco entre línguas (isto é,
dizer se uma língua pertence ou não a uma determinada família), como
também determinar, por inferência, características da língua ascendente
comum de um certo conjunto de línguas. (FARACO, 2005, p. 135)

Partindo dessas premissas, podemos definir que esta perspectiva foi


propulsora de novas ideias que posteriormente foram reanalisadas pela
neogramática. “É a época dos estudos históricos, em que se procura mostrar que a
mudança das línguas não depende da vontade dos homens, mas segue uma
regularidade, isto é, não se faz de qualquer jeito” (ORLANDI, 1986, p.13).
Inferindo nesta temática, Weedwood (2002) ressalta que, no método
comparativo, buscou estabelecer relações fonéticas e gramaticais correlatas entre
línguas, buscando uma raiz comum entre as línguas, que foi chamada de indo-
europeia.
Concorda-se em geral que a mais extraordinária façanha dos estudos
linguísticos do século XIX foi o desenvolvimento do método comparativo,
que resultou num conjunto de princípios pelos quais as línguas poderiam
ser sistematicamente comparadas no tocante a seus sistemas fonéticos,
estrutura gramatical e vocabulário, de modo a demonstrar que eram
“genealogicamente” aparentadas. (WEEDWOOD, 2002, p.103).

No método comparativo, o processo se dá por meio da comparação histórica


estabelecendo pressupostos gramaticais de correspondências correlatas de forma
sistêmica, tais parâmetros poderiam ser estabelecidos de acordo com esse
pensamento a partir da uma comparação minuciosa na relação língua/história,
buscando não se restringir a estabelecer as relações de parentesco entre às línguas,

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mas evidenciar as características linguísticas ascendente comum entre outras
línguas.

2 Neogramática

O final do século XIX, por volta de 1878, ficou caracterizado pelo afloramento
dos pensamentos neogramáticos. Esses novos pensadores linguísticos estavam
vinculados com a Universidade de Leipzig que, dentre suas ideologias, almejavam
fundamentar-se na contraposição das ideias tradicionais das práticas Histórico-
comparativa. Nessa linha conceptiva de uma nova visão gramatical, se buscava
contestar o descritivismo dos estudos tradicionais.
Essa nova concepção criticava os conceitos que até então eram
estabelecidos pelo modelo anterior, que compreendia a língua como objeto
naturalista, sendo independente suas modificações, ou seja, por fatores biológicos.
A língua deveria mudar por deter instrumentos para isso naturalmente, o que para os
neogramáticos é um equívoco, pois, o indivíduo falante tem sua função neste ciclo,
e, portanto, deve ser considerado.
Faraco (2005, p.34) destaca que

Com isso, introduziam-se uma orientação psicológica subjetivista na


interpretação dos fenômenos de mudança (a língua existe no indivíduo e as
mudanças originam-se deles) - orientação que até hoje é bastante forte em
muitos estudos históricos, quando não no próprio senso comum.

Diferentemente dos estudos anteriores que buscavam chegar a uma língua


comum, gênese das demais línguas, chamada de indo-europeia, os estudos
neogramáticos buscavam dar ênfase nas línguas vivas e à investigação que
ocasionam as mudanças. Fazendo correspondências sistemáticas entre as línguas
para seus estudos.
Os estudiosos neogramáticos estudavam as línguas de forma geográfica,
aferindo as variações dos sons ao longo do tempo em diversas partes do planeta.
Saussure (1971, p.230) diz que a “diversidade geográfica é, pois, um aspecto
secundário do fenômeno geral”. Sendo necessário a compreensão em escalas micro
e também macro ao relacionar a língua, espaço e tempo.

3 Gramática comparada e neogramática em uma análise comparativa

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A gramática comparada, diferentemente da neogramática, leva muito mais em
conta os fatores subjetivos na construção da linguagem. Dentre os fatores subjetivos
temos a ação comunicativa recíproca entre os falantes da língua, as ressignificações
dos sujeitos que se inserem no mundo da linguagem (crianças) além dos aspectos
individuais de cunho psicológico. O indivíduo, dessa forma, é figura chave para o
desenvolvimento e a estruturação de uma língua. Além, é claro, de aspectos
geográfico na construção da identidade linguística do individuo.
[...] diversidade geográfica é, pois, um aspecto secundário do fenômeno
geral. A unidade de idiomas aparentados só pode ser achada no tempo.
Trata-se de um princípio de que o comparatista se deve imbuir se não
quiser ser vítima de lamentáveis ilusões. (SAUSSURE,1971, 18ª ed. Trad.
de Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. 1995)

A neogramática classifica as línguas conforme sua escala de “parentesco”.


Acreditava-se, inclusive, que um dos aspectos que fazia a modificação das línguas
para novos dialetos e, consequentemente, novas línguas era o aspecto geográfico,
pois uma velha língua incorporada em um novo espaço físico incorporaria novas
configurações fonéticas e estruturais.

Conclusão

Percebe-se então a diferença entre a gramática comparada, que se volta para


o indivíduo, e a gramática comparativa, que de alguma forma volta-se para o
ambiente no qual a língua é falada.
Alguns teóricos e linguistas dentro da gramática comparada sustentam que,
pelo fato de muitas línguas serem faladas por grandes massas ocorrem “confusões”
fonéticas, os usuários da língua passam a já não ter certeza de qual é a pronuncia
padrão de determinados grafemas/fonemas, mas com o tempo esse fator modifica a
língua substancialmente.

Referências Bibliográficas
FARACO, Carlos Alberto. Linguística histórica: uma introdução ao estudo da
história das línguas. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.

SUASSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. São Paulo, Cultrix, 1995
[1971], 18ª ed. Trad. de Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein.

TRASK, Robert L. Dicionário de linguagem e linguística. São Paulo: Contexto,


2004.
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WEEDWOOD, Barbara. História Concisa da Linguística. São Paulo: Parábola,
2002.

ORLANDI, Eni Pulcinelli. O que é linguística. 1. ed. São Paulo: Brasiliense, 1986.

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