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No contexto dos estudos sobre a história da língua portuguesa, ainda hoje o tratamento
das fontes continua a ser um desafio para todo pesquisador. Trata-se de investigações cuja
base documental perpassa por questões linguísticas e literárias. Por serem reveladoras de
práticas de convívio, de condutas e de manifestações de diversas naturezas, perpetuadas por
meio da memória escrita, dependem de contextualização histórica, social, política e material,
para se alcançar a inter-relação entre a linguagem e a sociedade. O surgimento das
Humanidades Digitais tem contribuindo significativamente para o enfrentamento de questões
relacionadas ao uso adequado e mais eficiente de documentos, manuscritos e impressos; o
aumento de trabalhos interdisciplinares também têm sido fundamental para resultados mais
consistentes. Embora sejam muitas as adversidades enfrentadas, são muitos os pesquisadores
e grupos de pesquisa engajados em ampliar o conhecimento a respeito de documentação
antiga, produzida em diversas partes do mundo, representativa de um patrimônio cultural
imensurável.
Um desses desafios diz respeito à análise filológica e paleográfica de manuscritos
produzidos a partir do século XVI, em Portugal e no Brasil, principalmente. Diante de um
contexto em que a diversidade de hábitos gráficos resulta em pluralismos e grafismos
pessoais, a ausência de manuais de Paleografia que descrevam em detalhes a escrita do
período em questão e, de alguma forma, sirvam como parâmetro para estudos afins, dificulta a
seleção de alguns documentos para a composição de corpora. Nem sempre as datações tópica
e cronológica, assim como a assinatura encontradas nos manuscritos representam
concretamente a sua realidade documental; noutros casos, tais informações nem constam do
papel, tendo de ser deduzidas por métodos comparativos. Trata-se de um tipo de dúvida que
tende a acompanhar o pesquisador ao longo de seu trabalho, inviabilizando, em algumas
situações, a sustentação das hipóteses levantadas.
Atualmente, diferentes grupos de pesquisa têm se debruçado sobre esse tipo de
dificuldade, seja por meio da edição de manuscritos, seja por estudos paleográficos mais
verticalizados. Tal dinâmica tem proporcionado importantes resultados cujo alcance pode ser
observado por meio de eventos nacionais e internacionais sob a responsabilidade de
pesquisadores brasileiros e portugueses. Um deles, já em sua segunda edição, é o Seminário
Nacional de Paleografia, organizado por docentes da Universidade Federal da Bahia. De
caráter interdisciplinar, coloca em diálogo diversas áreas com a Paleografia como forma de
compreensão do passado, oportunizando o estreitamento das relações entre profissionais de
diferentes áreas – filólogos, arquivistas, historiadores, restauradores, professores de
disciplinas de Paleografia nas universidades do país ou nos núcleos, oficinas e laboratórios
paleográficos1.
À importância filológica e paleográfica de se conhecer a história dos textos e de sua
escrita tem sido acrescentada a relevância de um olhar sobre a materialidade documental, suas
particularidades gráficas, ao longo de uma construção histórica e memorialística, para assim
ampliar também as possibilidades de se compreender o seu contexto de produção e suas
implicações socioculturais. Destaca-se, nesse sentido, a realização em 2019 da I Escola
Internacional de Altos Estudos, do Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem
(PPGEL) da Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão (UFG/RC), atual UFCAT.
Tendo como ponto de partida o papel da memória no contexto acadêmico e social e a
articulação de diferentes linhas de pesquisa, esteve centrada em três eixos temáticos fulcrais
para as ciências humanas, assim como para as ciências de modo geral: linguagem, cultura e
subjetividade2.
Este capítulo se situa nesse contexto interdisciplinar e tem como objetivo promover
reflexão a respeito da leitura, edição de manuscritos e caracterização de diferentes tipos de
escrita utilizados a partir do século XVI. Compõe projeto mais amplo, intitulado Produção e
circulação de manuscritos no período colonial brasileiro: contribuições para a história da
língua portuguesa, desenvolvido no âmbito do grupo de pesquisa ETeP - Edição de Textos em
Português, do Programa de Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa - FFLCH-USP.
Para isso, apresenta-se o resultado do cotejo da edição de cartas quinhentistas
produzidas em diferentes situações e lugares, mas que guardam semelhanças entre si, tendo
em vista forma, módulo, traçado e peso dos caracteres gráficos empregados. Os documentos
foram escritos entre 1540 e 1548, sua escolha se deveu à semelhança entre as escritas e à
importância de seus autores intelectuais para a história política do Brasil e de Portugal. O
1
https://www.even3.com.br/snp2019/.
2
https://www.catalao.ufg.br/e/24502-1-escola-internacional-de-altos-estudos-em-linguagem-cultura-e-identidade.
primeiro deles é o ouvidor de alcobaça Diogo Rodrigues Vale. Os outros dois atribuídos a
pessoas do mesmo grupo familiar, irmãos, cuja fama se estende aos continentes europeu e
americano, Pêro de Góis e Luís de Góis, respectivamente, o primeiro capitão-mor da costa
brasileira e um jesuíta, senhor de engenho.
Situados em contextos semelhantes de escrita e de habilidade gráfica, o confronto
entre os manuscritos e o estado de língua documentado no corpus proporciona ampliar o
conhecimento a respeito dos textos, de seus autores e de fenômenos balizadores para a
periodização da língua portuguesa, em específico, a respeito das terminações nasais no século
XVI, fenômeno escolhido como recorte analítico deste trabalho.
1. As cartas quinhentistas
3
No Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa encontra-se outra carta atribuída ao mesmo autor:
https://digitarq.arquivos.pt/details?id=3779473. A letra do corpo do texto e a da assinatura já apresentam
diferenças. Provavelmente estamos diante de duas autorias, material de algum oficial de escrita, como secretário,
e intelectual, por parte do próprio Góis, marcada por assinar.
3) carta atribuída a Luís de Góis, em que representa ao rei a precisão que a Vila de
Santos, costa do Brasil e mais capitanias tinham de socorro pelo perigo e receio que havia dos
franceses, datada de 12 de maio de 1548, da Vila de Santos. No Arquivo Nacional da Torre do
Tombo, em 2 fólios, encontra-se com cota atual como Corpo Cronológico 1161/1699, Parte I,
mç. 80, n.º 110, Mod. I, Gav. 4, https://digitarq.arquivos.pt/details?id=3777794.
2. A escrita no século XVI
Há bastante tempo a escrita deixou de ser pensada apenas como um sistema de signos
gráficos e passou a ser considerada como fonte histórica. Assim, estudando a sua função, uso
e difusão em cada momento histórico, é possível alcançar um conhecimento essencial do
passado (CASTILLO e SÁEZ, 1999, p. 26). A valorização da escrita e de seu aspecto
revelador, não só do conteúdo documental, mas também do seu autor, dos agentes envolvidos
e da sociedade em que foi produzida, traz implicações que, para serem compreendidas,
exigem do pesquisador a utilização de diferentes critérios, que considerem a materialidade
documental, do suporte, do instrumento, da tinta, da própria escrita. Aquilo que está visível à
primeira vista, e superficialmente, é apenas uma pequena parcela do universo ao qual o
documento confere acesso.
Decorre disso a importância de se conhecer a produção gráfica de diferentes contextos
de produção ao longo da história, para que possa ser levantado um número considerável de
dados que permitam sistematizar suas características e promover uma classificação. Não se
trata de tarefa simples, pois os diferentes tipos de escrita se inter-relacionam e, na maioria das
vezes, mesclam características entre si, registrando-se de maneira mista, podendo ser
consideradas de uma forma quanto à formação e de outra maneira em relação ao modo de
execução.
Do ponto de vista gráfico, de acordo com Acioli (1994 p. 191), “no que diz respeito à
escrita o século XVI é o mais eclético possível. Tanto se encontram documentos com lindas
formas gráficas, uniformes e elegantes, como autênticas processadas, degenerescência
máxima da Cortesã”. Esse período é marcado pela presença da escrita gótica, de suas
variações, e da humanística, em determinados contextos e espécies documentais, “período
final da vigência do cânone gótico e na transição para o uso da escrita humanística4”
(PAULO, 2017, p. 120).
No século XV, e com prolongamento até ao século XVI, a escrita vigente era
a “gótica”, nas versões caligráfica utilizada essencialmente nos códices e
cursiva para os textos diplomáticos. No entanto, tal como aconteceu em
Castela, “os escrivães da corte começaram, paulatinamente, a diminuir a
agudeza das hastes, a aliviar a compressão horizontal da escrita, a
4
“Na realidade, a escrita gótica constituiu um dos últimos vestígios de medievalidade na sociedade portuguesa,
mantendo-se em uso ainda durante o século XVI, embora sob uma pluralidade de estilos e modalidades, até à
chegada dos padrões humanísticos, base da escrita atual” (PAULO, 2017, p. 120).
acentuar-lhe a inclinação, a arredondar o traçado de letras e sinais”, dando
origem a uma nova letra para a qual Eduardo Borges Nunes propõe o
apelativo de letra manuelina, afirmando ter sido ela um produto típico dos
meios escreventes da Corte portuguesa do final do século XV e primeira
metade do século XVI. Em simultâneo, num processo natural de
contaminação, começam a surgir “elementos de um sistema gráfico
diferente, neste caso do humanístico” podendo afirmar-se que “o processo de
introdução da escrita humanística na prática escriturária dos escrivães régios
teve início na década iniciada em 1520, prolongando-se pela década
seguinte” (COELHO, 2018, p. 99).
Letra A maiúscula inicial personalizada por diferentes escrivães (PAULO, 2017 p. 89).
5
Não é objetivo do trabalho traçar detalhadamente a história da escrita ao longo do XVI, apenas fazer referência
de modo geral ao contexto de produção das cartas e aos tipos caligráficos que predominaram. No decorrer do
período, da gótica ainda surgiram a cortesã e a processada, com particularidades de acordo com o local e a
finalidade da escrita.
3. Estrutura e escrita das cartas
Houtros Prazeres Ja que per outras cartas Ja os dias passados por meu filho pero de
quisera eu screuer a minhas lhe dou cõta do que guois e escreui a uosa Alteza. alguãs
Vossa Alteza Em estes qua pasa E do que de llaa cousas que comprião ao seruiço de deus
tempos E nã vem . / o mais breue que E seu ./ E nesta asy ho farey ./ por que
despaãchos tã grãdes E poso . por Jorge martins que antes quero ser Reprẽdido de ygnorante
perdohe deus aquem laa vai se achar a tudo E de Escreuẽdo a tam alto E poderosso
he causa tudo hir de mĩ abisado . / prinçipe ./ que maguoar a fee E lealdade
pera o laa abisar do que qua que lhe deuo ./ Emcobrĩdo E calãdo
pasa . /
Diante da obrigação em que os autores se colocam para a escrita das cartas, cada um
deles constrói uma narrativa em que o contexto se divide entre um “eu”, muitas vezes
confundido com o próprio destinatário, uma vez que as ações envolvidas são realizadas
unicamente em função dele, e os outros, normalmente pessoas desprovidas de condutas
apropriadas aos problemas descritos. Dessa forma, a exposição, marcadamente de cunho
pessoal, denotada pelo uso constante do pronome em primeira pessoa, é desenvolvida
estrategicamente até a sua conclusão, por meio da apresentação de comportamento leal e
resoluto, contrário ao prejuízo causado pelos outros. No caso das cartas escritas no Brasil,
esse aspecto é reforçado pelos perigos que a coroa poderia sofrer com a colônia recentemente
explorada.
Eu emtã ueria se hera bem mãdalos fora Esto nõ he menha culpa que que de mĩ diguo que des
do mosteiro E darlhe pera isso fauor Eu ho auisei bem do caso E ho dia que vosa alteza
quãdo uio que Eu portiaua no Caso nõ sey per que se nõ lembra me mãdou que a ella
desistio de asinar ho mãdado que me ||4v.|| do que lhe Escreuo viese cõ martĩ afonso de
fazia Neste momẽto me vierã os pois tudo E seu proueito E soussa; alem de gastar ho
guardias dezer que ho prior nouo sabia serviço E oulhe de quẽ se milhor de minha vida.
do mosteiro cõ houtros frades fui ao llaa fia E de quẽ lhe Jsto ate gora nã fiz se nã
doutor Diogo gth dise que ho leixasse compra porque qua vem gastar. ate mais nã ter E
hir E que lhe deuia mãdar das bestas tudo furtado E nõ perqua o ate mais não poder. E o
que lhe parecia ser Cousa de Vossa seu E pague lho a quẽ no que me fica pera guastar.
Senhoria E que sabia que hiam a Vossa Emtrega ./ E oulhe os he a minha vida e a de
Corte E que Ja la herã outros que feitores que mãda porque minha a molher E meus
porque nã hiriam Estes toda uia mãdo niso Jaz o pomto ./ eu farei filhos. das quaes a deus
tras Elles hũũa espia ate que hos metta Jmda outra pequena sobre E a uosa Alteza. farei
Em camara de Vossa Alteza Ese outro Este homẽ que qua mãdou E sacrifiçio. he Em mẽtes
Caminho tomarẽ passo hũũa precatoria as cousas que faleçẽ nos durar
que mos prẽdam homẽs tam atreuidos
tudo farã.
As cartas são encerradas por meio de saudações, com invocatória de Deus, pedido de
prosperidade, muitos anos de vida, ou por meio de ato simbólico de “beijar as mãos” do
destinatário. Fórmulas comumente empregadas em cartas ascendentes, não só do século XVI,
mas presentes também em documentos de outra natureza, durante todo o período colonial.
Acompanham esse recurso a indicação das datações, tópica e cronológica, e a assinatura do
documento.
Deus Vossa Reall pera beiJo as maos de Rogaremos a deus pola vida E
Estado cõ saude guarde E uosa merçe mil Estado de uosa Alteza. o qual elle mesmo deus
prospere Em muitos dias vezes. desta sua acresçẽte por muitos ||2v.|| Años. desta villa de
De Vida Da Alcobaça oge vyda da Rainha aJa santos capitania de sam viçente. de que he
28 Dj De Julho 1540 ho e baj dagosto de capitão E guovernador. martĩ afonso de soussa.
ouvidor ho doutor Diogo 1545 [ilegível] pero oJe 12 dias do mes de mayo. de 1548 años ./ /
rodriguez Valle de goes as Reaes mãos de vosa Alteza beiJo./ pera El
Rey nosso senhor lluis de guois
A semelhança estrutural das cartas também é observada em sua escrita, desde a sua
disposição no papel, com distanciamento entre o vocativo e o resto do texto, margens e forma
de encerramento do documento. Destaca-se o uso do mesmo recurso de capitular a letra
inicial do primeiro parágrafo (maiúscula capitulada), como uma espécie de ornamento. De
traçado aparentemente rápido, verificado pela inclinação à direita e pela cursividade, embora
de forma não-contínua, a letras possuem regramento regular, com espaçamento na pautação
bem distribuído. Do ponto de vista gráfico, forma, tamanho e traçado das letras se mantêm ao
longo dos textos de forma semelhante. Abaixo seguem alguns exemplos do cotejo realizado
com base no levantamento do alfabeto das cartas.
A
1540
1545
1548
E
1540
1545
1548
H
1540
1545
1548
P
1540
1545
1548
R
1540
1545
1548
S
1540
1545
1548
Desaparecimento da série átona dos possessivos Palatização das fricativas /s/ e /z/
Um dos novos ditongos mais interessantes foi aquele que resultou de hiatos
como mã-o (< MANU). Ele viria a ter um papel decisivo em outra das
transformações deste período: a unificação, precisamente em -ão, de diversas
terminações nasais de substantivos singulares e de verbos, que provinham de
uma grande quantidade de sufixos e de verbos desinenciais latinos e que,
devido a um processo de condensação que decorrera durante o português
antigo, se achavam reduzidas a apenas duas: -ã e -õ. É assim que palavras
como leõ e cã (cão) acabam a rimar com mão, apesar da flutuação gráfica
que durante algum tempo ostentaram. É de finais do séc. XV que Williams
(1938:§157) data a uniformização completa no ditongo [-ɐ̯o] (...)
Para Cardeira (uma das pesquisadoras que mais se debruçou sobre documentos de
diferentes naturezas em busca de se conhecer o conjunto de mudanças do português médio e o
processo de elaboração que acabou culminando num patamar de estabilização de novos traços
linguísticos), ao analisar ocorrências retiradas do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende,
afirma que “em 1516 a oscilação é ainda a regra mas trata-se de uma oscilação que é
meramente gráfica. Dela podemos inferir que foi precisamente durante a segunda metade do
século XV que a tendência se inverteu, passando a grafia não etimológica a ser a mais
frequente” (CARDEIRA, 2013, p. 548).
1540
Presente Pret. Perf. Pret. Imperf. Futuro do Pres.
prẽdam 1 atreuerã 1 mostrarã 1 hiam 1 farã 1
Sã 4 callarã 1 quebrarã 1 herã 1 terã 1
Sam 2 descobrirã 1 respõderã 1
diserã 1 teuerã 1
Elegerã 1 vierã 1
respõderã 1
1545
Presente Pret. Perf. Pret. Imperf. Futuro do Pres.
sam 1 chegaõ 1 ficarõ 1 abiã 1 faraõ 1
Estã 1 Emtraõ 1 vierõ 1 dauaõ 1 iraõ 1
Rosam 1 tinhaõ 1 desesauaõ 1 seraõ 1
chamaõ 1 vaõ 1 tinhaõ 1
1548
Presente Pret. Perf. Pret. Imperf. Futuro do Pres.
estão 1 Roubão 1 aJudarõ 1 comprião 1 quereraõ 1
atreuão 1 vão 1 perderõ 1 pasauão 1
Estão 1 são 1 Entrarão 1 Erão 1
hão 1 sam 4 tirarão
leuão 1 ficam 1
A análise de palavras gramaticais, como não e tão, também explicita a distinção entre
os estados de língua do corpus, reforçando a diferença de registro dos punhos quanto ao
fenômeno estudado. Em 1540, o uso já não possui correspondência etimológica no caso do
advérbio de negação, generalizando-se por meio da forma nam, com quinze ocorrências, em
oposição a tam, que aparece 6 vezes exclusivamente. Em 1545, com o advérbio de negação,
há um equilíbrio com a forma do étimo nom, dez casos, e a oscilação entre nam, sete, e não,
três. Com o de intensidade, apenas aparece tam, duas vezes. Em 1548, o registro não
etimológico é quase categórico com o advérbio de negação, com apenas duas ocorrências de
nom, uma de nam e treze de não. Esse escriba, assim como no registro do verbo “ser” na 3ª
pessoa do plural, também apresenta oscilação com as três formas. Com tam, o uso ainda varia
entre a forma etimológica, seis vezes, e tão, duas. Nos estudos de Cardeira (2009, p. 548)
sobre o Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, “o advérbio de negação surge ainda com a
grafia tradicional e etimológica nom (432 ocorrências) e já com a moderna grafia não (23
ocorrências) mas a grafia claramente predominante é nam (2770 ocorrências). Ou seja, a
grafia etimológica representa apenas 13.3% do total”.
Advérbios
1540 1545 1548 1540 1545 1548
nom 0 10 2 tam 6 2 6
nam 15 7 1 tão 0 0 2
não 0 3 13
Nomes
1540 1545 1548
escriuã (-ANE) 1 chãã (-ANU) 1 capitão (-ANU) 1
turbaçã (-ONE) 1 armaçaõ (-ONE) 1 nauegação (-ONE 1
chãm (-ANU) 1 maõ (-ANU) 1 naueguação (-ONE) 1
mão (-ANU) 2 mẽçaõ (-ONE) 1 ocasião (-ONE) 1
Razaõ (-ONE) 1
Rezaõ (-ONE) 2
Considerações finais
ACIOLI, Vera Lúcia Costa. A escrita no Brasil colônia: um guia para leitura de documentos
manuscritos. Recife: UFPe/Massangana, 1994.
CARVALHO, Maria José. Contributo para o estudo da evolução das terminações nasais
portuguesas (sécs. XIII-XVI). Actes del 26é Congrès de Linguistica i Filologia Romàniques
Valência, 2013, p. 567-577.
MONTE, Vanessa Martins do e FACHIN, Phablo Roberto Marchis. Saibham quantos este
estormento de contrato virem: análise das terminações nasais em contratos dos séculos XV e
XVI. LaborHistórico, 2(1), 2016, p. 56-73.