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– ABORDAGENS PRÁTICAS
AULA 5
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a historicidade de seus desenvolvimentos, proporcionam uma certa autonomia
ao pesquisador/historiador que detém essas habilidades e conhecimentos.
A Paleografia pode ser entendida parte como ciência, parte como arte
(Leal, 2016). Ela é ciência no sentido de possuir um aparato teórico e conceitual
que sistematiza as formas de transcrever documentos. Por essa via, a atividade
paleográfica é também uma reflexão sobre o desenvolvimento histórico da
escrita. Não se poderá compreender a escrita sem entender a sua função nas
mais variadas sociedades humanas, tampouco será possível alcançar tais
funções sem um mínimo de compreensão de sua materialidade. É diferente uma
escrita em um suporte duro, como a pedra, de outras em suporte mole, como o
papel. A circularidade de um escrito e seu acessos são distintos a depender de
seu tipo e da própria relação com a palavra escrita nas variadas sociedades,
entre outras características.
Ela é arte na medida em que a atividade paleográfica também traz em si
um corpus variado de técnicas compartilhadas por comunidades de
pesquisadores, acerca de como se transcrever um documento. Por esse
caminho, é importante frisar que, mesmo que entendamos a pesquisa histórica
como atividade mormente autoral e em grande parte solitária, a Paleografia é
mais bem conduzida no trabalho em equipe e no diálogo com outros
pesquisadores. Isso porque o conhecimento prático compartilhado tem grande
importância nessa atividade, que se vale fortemente de comparações,
aproximações, trocas e outras práticas cuja natureza colaborativa se sobrepõe
ao progresso individual.
A rigor, o uso da Paleografia pelo pesquisador/historiador será o de passar
a informação de uma mídia e de um suporte para outro, com caracteres mais
legíveis para si e para outros pesquisadores/historiadores. Ao paleógrafo cabe
produzir uma espécie de versão do documento escrito no passado que seja: 1)
o mais próximo possível do original; 2) de melhor legibilidade possível no
contexto que o pesquisador/historiador esteja fazendo a transcrição; e 3) o mais
adequado possível à sua pesquisa, quando for o caso.
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bem como de comunicá-lo, a si mesmo e a outros, distantes no tempo e no
espaço, compreendendo, sem sombra de dúvidas, um longo período histórico.
Quando falamos da escrita com a qual estamos habituados, usamos a
terminologia daquilo que Fisher (2009) define como uma “escrita completa”, a
qual, além de objetivar a comunicação, é constituída por marcações gráficas
feitas em superfície durável (seja material, como pedra, papel, papiro, peles,
entre outras, ou virtual, como editores de texto e mídias on-line) e utiliza sinais
previamente estabelecidos, convencionados e, portanto, que proporcionem uma
comunicação efetiva entre os que compartilham tais sinais.
Não obstante, Fisher (2009) lembra que não existe uma evolução linear
na escrita, no sentido de que uma mais rudimentar evolua para uma mais
complexa. Tampouco existe um processo natural e inexorável de mudanças na
escrita. Pelo contrário, toda mudança na escrita responde aos hábitos e às
demandas das sociedades humanas quanto a essas atividades, relativos a suas
necessidades, desenvolvimento tecnológico, entre outros fatores.
Por fim, outro pressuposto importante é que, quando se pensa no
desenvolvimento da linguagem escrita nas culturas humanas, deve-se eliminar
a imagem de que o surgimento de uma forma escrita substitui outro que lhe é
anterior. O que ocorre é muito mais dinâmico, no sentido de que muitas formas
de escrever sobrevivem de maneira coeva nos mais variados grupos humanos
e nos usos da escrita que um contexto pode comportar.
Cabe o questionamento aqui: por que um pesquisador/historiador que se
dedique à Paleografia, ou recorra a ela em suas pesquisas, deve ter atenção aos
pressupostos da história da escrita enunciados anteriormente? Resumindo
bastante a resposta, devemos ter em mente que a escrita é uma atividade
humana, com historicidade, à qual o pesquisador/historiador deve ter total
atenção quando for transcrever um documento.
Deve-se ter em vista, por exemplo, que muitas formas de escrita
coexistem no mesmo contexto, de acordo com os usos ou da própria difusão da
escrita. Um compromisso de irmandade do século XVIII, feito por motivações
religiosas e estética mais refinadas, tende a ter tipologias de letras e caracteres
mais legíveis a pessoas da atualidade do que de uma documentação cartorial do
mesmo período. O vocabulário usado também varia conforme o fato de um
documento ser oficial ou não, ter sido redigido por pessoas mais ou menos
eruditas ou circular em meios mais ou menos eruditos.
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Além disso, a escrita é parte da história material de uma sociedade e, por
isso, é de se presumir que esse aspecto lhe confira variações. Uma escrita com
um cinzel em pedra possui menos curvas que uma feita com tinta e pena. No
contexto posterior ao maior uso do papel, a qualidade do papel e das tintas
usadas para a escrita variou de acordo com a finalidade da escrita ou dos
agentes dela, e assim ocorrem outras infinitas variedades. Todas são parte de
aspectos que dotam de historicidade a escrita.
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(Figura 2). Este termo (escrita gótica) é bem genérico, referindo-se a um campo
vasto de formas de escrita desenvolvidas em mosteiros e conventos medievais.
Ela é caracterizada pelo uso quase exclusivo de letras minúsculas, escrita
corrida, muitas ligaduras e curvaturas.
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2.3 Sobrevivências de uma forma de escrita em outra
Na medida em que isso for feito com mais letras no documento, é indicado
que o pesquisador/historiador que vá fazer a transcrição consiga traçar a anotar
um alfabeto referente ao documento que esteja transcrevendo. Em outras
palavras, é preciso identificar qual traçado corresponde a qual letra, maiúscula
ou minúscula, anotando-se na forma de uma tabela ou similar (Figura 5). Isso é
importante sobretudo se levarmos em conta que uma mesma letra pode ser
grafada de várias maneiras diferentes no mesmo documento (Figura 6).
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Figura 6 – Quatro formas distintas de traçados do d minúsculo em documentos
da Idade Moderna
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3.3 Arcaísmos e letras ramistas
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documento ainda for legível, ou buscar os recursos adequados de tratamento de
imagem, quando for o caso e houver possibilidade.
Decerto, devemos ter em vista que existem alguns apontamentos a serem
feitos sobre métodos usados para contornar alguns dos problemas
mencionados. Uma primeira técnica recomendável é sempre recorrer a uma
comparação de parciais. A técnica consiste em comparar partes transcritas do
documento com outras ainda não, de maneira que a parte que o
pesquisador/historiador conseguiu transcrever auxilie na transcrição de outra
com a qual tenha mais dificuldade.
Para usar dessa técnica, é imprescindível que uma transcrição não seja
feita letra por letra ou palavra por palavra, embora, como dissemos
anteriormente, identificar esses traçados seja importante. É fundamental abordar
o documento no seu conjunto, em conjuntos de palavras e ajustando as escalas
(no caso, alternando a atenção mais minuciosa em um determinado trecho ou
palavra com outra ampliada em partes maiores do documento), não desistindo
na primeira dificuldade da transcrição, o que possibilita que um trecho transcrito
(e a identificação dos caracteres) sirva de suporte para a transcrição do outro.
4.1 Dicionários
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Biblioteca Brasiliana, da Universidade de São Paulo (São Paulo, [S. d.]). Nele, o
usuário pode fazer buscas por vários dicionários dos séculos XVIII e XIX, sendo
possível encontrar em um dicionário específico ou vários ao mesmo tempo.
Outro recurso é o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (DPLP,
2020), que faz buscas por todos os dicionários on-line de termos em língua
portuguesa, podendo indicar a recorrência de algum que o
pesquisador/historiador procure em algum outro documento.
Não obstante, alguns assuntos específicos pedem usos de dicionários
conforme suas especificidades. Dicionários de termos médicos, náuticos,
militares, entre outros, servem de suporte para transcrever alguns documentos
relacionados a esses assuntos. Também é importante ter em mãos algum
dicionário toponímico, ou seja, aquele referente a lugares, os quais, na medida
em que estão afastados historicamente de nós, podem ter mudado seus nomes
ou a grafia dos nomes. Existem vários também disponíveis on-line, de diversas
regiões.
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TEMA 5 – NORMAS TÉCNICAS PARA A TRANSCRIÇÃO DE DOCUMENTOS
5.1 Grafia
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• Os sinais especiais de origem latina e os símbolos e palavras
monogramáticas serão desdobrados, por exemplo, &rª = etc.; ihr =
christus.
• Os sinais de restos de taquigrafia e notas tironianas serão vertidos para a
forma que representam, grifados.
• O sinal de nasalização ou til, quando com valor de M ou N, será mantido.
• Quando a leitura paleográfica de uma palavra for duvidosa, colocar-se-á
uma interrogação entre colchetes depois dela: [?].
• A acentuação será conforme o original.
• A pontuação original será mantida.
• As maiúsculas e minúsculas serão mantidas.
• A ortografia será mantida na íntegra, não se efetuando nenhuma correção
gramatical.
5.2 Convenções
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5.3 Referências
NA PRÁTICA
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<https://www.facebook.com/oficinadepaleografia>), que, além de atividades,
disponibiliza materiais de suporte.
FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
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FLEXOR, M. H. O. Abreviaturas: manuscritos dos séculos XVI ao XIX. Rio de
Janeiro: Arquivo Nacional, 2008.
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