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Fichamento - Ler o arquivo hoje

PÊCHEUX, Michel. (1982) Ler o arquivo hoje. Trad. Maria das Graças Lopes Morin
do Amaral. In: ORLANDI, Eni Puccinelli (org.) [et al.]. Gestos de leitura: da história
no discurso. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1994. p. 55-66

➢ “As aporias de uma semântica puramente intralingüística (ou de uma


pragmática insensível às particularidades da língua), e as reflexões sobre a
especificidade do arquivo textual, levam a pensar que uma pesquisa
multidisciplinar é indispensável para um acesso realmente fecundo.” (p. 1)

➢ De forma que este domínio, o qual será conveniente aqui chamarmos do


discurso textual, é o lugar em potencial de um confronto violentamente
contraditório: a figura de Blaise Pascal, refletindo ao mesmo tempo sobre
questões filosóficas e teológicas e sobre os problemas físico-matemáticos de
seu tempo, é evocada de bom grado pelo humanismo contemporâneo, mas a
referência a este ancestral de duplo rosto não basta para dissimular o abismo
que se ampliou desde a Era Clássica entre estas duas culturas que a tradição
escolar-universitária francesa designa respectivamente como a "literária" e a
"científica". (p. 2)

➢ “Por tradição, os profissionais da leitura de arquivos são "literatos"


(historiadores, filósofos, pessoas de letras) que têm o hábito de contornar a
própria questão da leitura regulando-a num ímpeto1, porque praticam cada
um deles sua própria leitura (singular e solitária) construindo o seu mundo de
arquivos.” (p. 2)

➢ “[...] os conflitos explícitos remetem em surdina a clivagens subterrâneas


entre maneiras diferentes, ou mesmo contraditórias, de ler o arquivo
(entendido no sentido amplo de "campo de documentos pertinentes e
disponíveis sobre uma questão").” (p. 3)

➢ “Seria do maior interesse reconstruir a história deste sistema diferencial dos


gestos de leitura subjacentes, na construção do arquivo, no acesso aos
documentos e a maneira de apreendê-los, nas práticas silenciosas da leitura
"espontânea" reconstituíveis a partir de seus efeitos na escritura: consistiria
em marcar e reconhecer as evidências práticas que organizam estas leituras,
mergulhando a "leitura literal" (enquanto apreensão-do-documento) numa
"leitura" interpretativa – que já é uma escritura.” (p. 3)

➢ “Desde a Idade Média a divisão começou no meio dos clérigos, entre alguns
deles, autorizados a ler, falar e escrever em seus nomes [...]” (p. 3)
➢ “Desenvolver socialmente tais métodos de tratamento em massa do arquivo
textual, com fins estatais ou comerciais, supunha torná-los facilmente
comunicáveis, transmissíveis e reproduzíveis [...]” (p 4_

➢ “As necessidades da gestão administrativa dos documentos textuais de todos


os tipos fizeram, assim, na primeira metade do século XX, sua junção
histórica com os projetos científicos visando a construção de línguas lógicas
artificiais [...]” (p. 4)

➢ “Evidentemente, este divórcio cultural entre o "literário" e o "científico" a


respeito da leitura de arquivo não é um simples acidente: esta oposição,
bastante suspeita em si mesma por sua evidência, recobre (mascarando esta
leitura de arquivos) uma divisão social do trabalho de leitura, inscrevendo-se
numa relação de dominação política: a alguns, o direito de produzir leituras
originais, logo "interpretações", constituindo, ao mesmo tempo, atos políticos
(sustentando ou afrontando o poder local); a outros, a tarefa subalterna de
preparar e de sustentar, pelos gestos anônimos do tratamento "literal" dos
documentos, as ditas "interpretações"...” (p. 4-5)

➢ “É esta divisão social do trabalho da leitura que está atualmente se


reorganizando totalmente, aprofundando-se: compreende-se que, de diversos
lados, os poderes "interessem-se" pelas ciências do tratamento dos textos.
Sublinhar até que ponto os procedimentos "objetivos" destas se inscrevem
tão facilmente numa série de efeitos burocráticos não é senão denegrir
exageradamente a situação.” (p. 5)

➢ “[...] a tradição dos grandes praticantes do arquivo vai se encontrar numa


posição cada vez mais delicada, face à proliferação previsível dos "métodos
de tratamentos de textos" induzidos pela desordem informática que se
prepara em nossas sociedades.” (p. 5)

➢ “Logo, nos encontramos diante de uma nova divisão do trabalho de leitura,


uma verdadeira reorganização social do trabalho intelectual, cujas
conseqüências repercutirão diretamente sobre a relação de nossa sociedade
com sua própria memória histórica.” (p. 6)

➢ “Certamente, a difusão maciça desta abre – sob certas condições que
evocamos abaixo, concernentes à análise discursivo-textual – a possibilidade
de uma expansão dos privilégios "literários" da leitura interpretativa em
amplos setores onde (como, por exemplo, discursos políticos de uma parte,
publicitários de outra, o provam suficientemente) a prática da "leitura literal"
se mostra perfeitamente insuficiente.” (p. 6)

➢ “[...] não considerar os procedimentos de interrogação de arquivo como um
instrumento neutro e independente (um aperfeiçoamento das técnicas
documentais) é se iludir sobre o efeito político e cultural que não pode deixar
de resultar de uma expansão da influência das línguas lógicas de referentes
unívocos, inscritos em novas práticas intelectuais de massa.” (p. 6)

➢ “Não faltam boas almas se dando como 7 missão livrar o discurso de suas
ambigüidades, por um tipo de "terapêutica da linguagem" que fixaria enfim o
sentido legítimo das palavras, das expressões e dos enunciados.” (p.

No texto "Ler o Arquivo Hoje", Pecheux discute a importância da leitura de arquivos


e discursos, destacando a evolução histórica dessa prática desde a Era Clássica até
os dias atuais. Ele ressalta a presença de uma grande quantidade de escrivãos,
copistas e "contínuos" ao longo da história, cuja prática de leitura era dedicada ao
serviço de instituições como igrejas, reis, estados e empresas, sem pretensões de
originalidade. Pecheux também aborda a materialidade da língua na discursividade
do arquivo, enfatizando a necessidade de desenvolver práticas diversificadas de
trabalho sobre o arquivo textual, levando em consideração os interesses históricos,
políticos e culturais. Ele destaca a importância de não ceder às facilidades verbais
da denúncia humanista do "computador", nem se contra-identificar com a
informática, mas sim tomar partido no nível dos conceitos e procedimentos para um
trabalho de pensamento em combate com sua própria memória. A obra ressalta a
necessidade de uma abordagem multidisciplinar na leitura de arquivos,
reconhecendo a importância dos historiadores, linguistas e matemáticos, e destaca
a relevância da relação entre nossa sociedade e sua memória histórica.

Pêcheux propõe que a leitura de um arquivo deve ser realizada de forma


multidisciplinar, considerando não apenas os aspectos históricos e psicológicos,
mas também os aspectos matemáticos e informáticos relacionados ao tratamento
dos documentos textuais. Ele destaca a importância de uma abordagem que
reconheça a materialidade da língua na discursividade do arquivo, desenvolvendo
práticas diversificadas de trabalho sobre o arquivo textual. Além disso, Pêcheux
ressalta a necessidade de não apenas analisar a linguagem de forma
intralinguística, mas também considerar as particularidades da língua e a relação do
arquivo com a memória histórica, levando em conta os interesses políticos, culturais
e históricos envolvidos na leitura de arquivos.

Considerar os aspectos históricos e sociais para a leitura de um arquivo é


fundamental para uma análise mais profunda e contextualizada. Ao levar em conta o
contexto histórico em que os documentos foram produzidos e os eventos que os
cercam, é possível compreender melhor as motivações, intenções e significados
presentes nos textos. Além disso, a análise dos aspectos sociais envolvidos na
produção e circulação dos documentos permite identificar as relações de poder, as
ideologias dominantes e as práticas discursivas presentes na sociedade da época.
Dessa forma, a consideração dos aspectos históricos e sociais enriquece a leitura
de arquivos, possibilitando uma interpretação mais ampla e contextualizada dos
textos e contribuindo para uma compreensão mais completa do passado e do
presente.

A leitura de arquivo proposta pelo autor pode colaborar para a leitura de textos
oficiais, como as leis, de diversas maneiras. Ao considerar a materialidade da língua
e a discursividade do arquivo, é possível analisar não apenas o conteúdo explícito
dos textos, mas também os contextos históricos, sociais e políticos que os
envolvem. Isso permite uma interpretação mais aprofundada das leis, identificando
as intenções subjacentes, as relações de poder presentes no texto e as ideologias
que o permeiam.

Além disso, a abordagem multidisciplinar proposta pelo autor, que combina aspectos
históricos, psicológicos, matemáticos e informáticos, pode enriquecer a leitura de
textos oficiais, fornecendo ferramentas analíticas mais amplas e complexas. A
consideração dos interesses históricos, políticos e culturais presentes nas leis pode
contribuir para uma compreensão mais crítica e contextualizada do sistema jurídico
e das normas legais vigentes.

Em resumo, a leitura de arquivo proposta pelo autor pode colaborar para a leitura de
textos oficiais, como as leis, ao oferecer uma abordagem interdisciplinar que permite
uma análise mais profunda e contextualizada dos documentos, revelando aspectos
implícitos, relações de poder e significados subjacentes aos textos legais.

A metodologia de gestos de leitura proposta pela análise de discurso, conforme


delineada por Pêcheux (2008), oferece uma abordagem significativa para a
compreensão da importância de ler arquivos. Essa abordagem se distingue pela sua
ênfase na relação entre interpretação e descrição, destacando a necessidade de
considerar a materialidade do arquivo e os gestos interpretativos envolvidos na
construção do sentido.

Em primeiro lugar, a metodologia de gestos de leitura ressalta a dinâmica intrínseca


entre interpretação e descrição. Ao reconhecer que a leitura de um arquivo implica
um batimento entre esses dois momentos, os estudiosos são instigados a não
apenas descrever o conteúdo dos documentos, mas também a interpretar seu
significado dentro de um contexto específico. Isso promove uma abordagem mais
holística e reflexiva da leitura de arquivos, permitindo uma compreensão mais
profunda das relações discursivas e das práticas sociais subjacentes.

Além disso, ao enfatizar a importância da materialidade do arquivo, a metodologia


de gestos de leitura destaca a necessidade de considerar o impacto das
características físicas e contextuais dos documentos na sua interpretação. Cada
arquivo possui uma materialidade única que influencia a maneira como é percebido
e interpretado pelo sujeito. Essa perspectiva reconhece a complexidade da
construção do sentido e a necessidade de uma abordagem sensível às
especificidades dos documentos analisados.

Por fim, a metodologia de gestos de leitura destaca a natureza contingente e fluida


da interpretação discursiva. Ao reconhecer que um mesmo arquivo nunca é o
mesmo devido à sua materialidade, os estudiosos são desafiados a adotar uma
postura crítica e reflexiva em relação aos processos interpretativos. Isso promove
uma maior consciência da multiplicidade de significados e perspectivas presentes
nos arquivos, incentivando uma abordagem mais plural e aberta à complexidade do
discurso.

Em suma, a metodologia de gestos de leitura proposta pela análise de discurso


oferece uma abordagem rica e significativa para a leitura de arquivos, destacando a
importância de considerar a relação entre interpretação e descrição, a materialidade
dos documentos e a natureza contingente da interpretação discursiva. Ao adotar
essa abordagem, os estudiosos podem desenvolver uma compreensão mais
profunda e nuanceada dos arquivos, contribuindo para uma análise mais robusta e
informada das práticas sociais e discursivas.

A descrição no contexto da leitura de arquivo aponta para a necessidade de


reconhecer as diferentes maneiras de ler e interpretar os documentos. Pêcheux
ressalta que a descrição do "trabalho do arquivo enquanto relação do arquivo com
ele-mesmo, em uma série de conjunturas, trabalho da memória histórica em
perpétuo confronto consigo mesma" é essencial para a compreensão dos gestos de
leitura subjacentes na construção do arquivo e na maneira de apreender e
interpretar os documentos.

Além disso, o texto menciona a existência de um trabalho anônimo e necessário


realizado pelos aparelhos do poder das sociedades para gerar a memória coletiva,
destacando a importância da leitura como um processo que impõe ao sujeito-leitor
seu apagamento atrás da instituição que o emprega. Essa abordagem ressalta a
complexidade da leitura de arquivo e a necessidade de considerar não apenas o
conteúdo dos documentos, mas também os processos históricos, sociais e políticos
que os envolvem.

O texto aponta que a interpretação é um elemento fundamental na leitura de


arquivos e textos, destacando a importância de uma abordagem multidisciplinar que
considere não apenas os aspectos linguísticos, mas também os contextos
históricos, sociais e políticos envolvidos. A interpretação é vista como um processo
complexo que envolve não apenas a compreensão do sentido literal dos textos, mas
também a análise das intenções subjacentes, das relações de poder presentes nos
discursos e das ideologias que permeiam as práticas de leitura.

Seria do maior interesse reconstruir a história deste sistema diferencial dos gestos
de leitura subjacentes, na construção do arquivo, no acesso aos documentos e a
maneira de apreendê-los, nas práticas silenciosas da leitura "espontânea"
reconstituíveis a partir de seus efeitos na escritura: consistiria em marcar e
reconhecer as evidências práticas que organizam estas leituras, mergulhando a
"leitura literal" (enquanto apreensão-do-documento) numa "leitura" interpretativa –
que já é uma escritura. Assim começaria a se constituir um espaço polêmico das
maneiras de ler, uma descrição do "trabalho do arquivo enquanto relação do arquivo
com ele-mesmo, em uma série de conjunturas, trabalho da memória histórica em
perpétuo confronto consigo mesma". (p. 3)

A leitura de arquivo proposta pelo autor pode colaborar para a leitura de textos
oficiais, como as leis, de diversas maneiras.

Além disso, a abordagem multidisciplinar proposta pelo autor, que combina aspectos
históricos, psicológicos, matemáticos e informáticos, pode enriquecer a leitura de
textos oficiais, fornecendo ferramentas analíticas mais amplas e complexas. A
consideração dos interesses históricos, políticos e culturais presentes nas leis pode
contribuir para uma compreensão mais crítica e contextualizada do sistema jurídico
e das normas legais vigentes.

Em resumo, a leitura de arquivo através da metodologia da AD pode colaborar para


a leitura de textos oficiais, como o caso da proposta de lei aqui analisada, uma vez
que apreende uma abordagem interdisciplinar que permite uma análise mais
profunda e contextualizada dos documentos, capaz de apontar….

Além disso, o texto ressalta a necessidade de uma interpretação crítica e


contextualizada dos documentos, levando em conta os interesses históricos,
políticos e culturais que influenciam a produção e circulação dos textos. A
interpretação é vista como um trabalho de pensamento em constante diálogo com a
memória histórica, que busca desvendar os significados implícitos, as relações de
poder e as ideologias presentes nos arquivos e textos oficiais.

Em suma, o texto enfatiza a importância da interpretação como um processo


essencial na leitura de arquivos, que requer uma abordagem crítica, multidisciplinar
e contextualizada para uma compreensão mais profunda e abrangente dos textos e
de sua relação com a sociedade e a história.

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