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DE CONTEÚDO
APRESENTAÇÃO
Ótimos estudos!
INTRODUÇÃO À DISCIPLINA
AULA PRESENCIAL
Objetivos
• Conhecer e entender a organização da disciplina
Metodologia da História I, bem como as formas de
participação para a compreensão e o aprendizado dos
conteúdos.
Conteúdo
• Apresentação geral da estrutura de desenvolvimento da
disciplina e dos temas e discussões mais relevantes sobre
a Metodologia da História.
O QUE É, PARA QUE
UNIDADE 1
SERVE E COMO SE
ESCREVE A HISTÓRIA?
Objetivos
• Estudar o significado, para que serve e como se escreve
a História na perspectiva dos autores contemporâneos
desta disciplina.
Conteúdos
• Significado(s) de História.
ATENÇÃO!
1
Ao iniciar seus estudos sobre
a metodologia da História,
é importante considerar as
INTRODUÇÃO
seguintes técnicas que poderão
potencializar sua aprendizagem: Nesta unidade, iremos estudar os conceitos e os significados atribuídos ao termo
• tente estabelecer um horário e
lugar fixo para o estudo; “História”. Abordaremos, ainda, o que é e para que serve estudar História, além de refletir
• procure ter à mão todos os sobre qual é o papel desse exercício intelectual na sociedade.
recursos e materiais de que
irá necessitar;
• participe ativamente do estudo: Em seguida, procuraremos elucidar como se escreve a História, de que maneira
com compreensão, atenção e se pesquisa e se constrói uma visão historiográfica e qual é o espaço da reconstituição e
concentração;
• faça as reflexões sugeridas;
da interpretação dos fatos históricos.
• distribua os períodos de estudo
racionalmente. Por fim, discutiremos as relações entre a História e as outras Ciências Sociais,
como a Antropologia, Sociologia, Economia, Política etc.
2 SIGNIFICADO(S) DE HISTÓRIA
Qualquer pessoa que fosse inquirida com a pergunta “O que é História?” se
sentiria, geralmente, à vontade para responder. Possivelmente, ela diria que História é
aquilo que aconteceu em tempos passados e consideraria essa resposta suficientemente
clara para elucidar a dúvida. Mas será mesmo que isso é o suficiente para concluir o
significado de História? Vejamos.
É bom lembrarmos que nem todos os povos que fizeram História se preocuparam
em reconstituí-la, em narrá-la. Muitos, na verdade, procuraram explicar seu passado de
outras formas, utilizando-se, por exemplo, dos mitos.
Podemos, então, dizer que várias civilizações procuravam explicações para seu
passado e para sua origem fora da História.
É claro que esses povos primitivos, como já dissemos, tiveram História, uma
vez que houve acontecimentos humanos ao longo do tempo; contudo, nunca produziram
História, pois não registraram nem narraram os acontecimentos presenciados e vivenciados
por eles.
Dessa forma, podemos afirmar que a História, nesse segundo sentido, nasce na
Grécia Antiga entre os séculos 6º e 5º a.C. A partir desse momento, o homem passou a
sentir necessidade de registrar os fatos do passado, procurando ser fiel a eles.
Sobre a evolução desse processo até os dias atuais, isto é, como o homem
escreveu e escreve sua História, veremos nas próximas unidades. O que nos interessa no
momento é definir que História tem esse duplo caráter: acontecimento humano no tempo
e reconstituição desses acontecimentos por meio da escrita sobre o passado.
Desse modo, o trabalho do historiador é registrar os fatos, ser fiel a eles, mas,
também, buscar interpretá-los, reconstituindo o passado de maneira a dar-lhe sentido.
Assim, toda História escrita é uma análise do passado, mas com as preocupações do
presente.
Nos termos colocados por Carr (1996, p. 79), “não há indicador mais significativo do
caráter de uma sociedade do que o tipo de História que ela escreve ou deixa de escrever”.
Como escreveu Carr (1996, p. 63), História é “um processo contínuo de interação
entre o historiador e seus fatos, um diálogo interminável entre o passado e o presente”.
Assim, é impossível construir uma “História definitiva” ou “História verdadeira”, uma
“História única”, pois o historiador lida a todo o momento com essa dualidade de, por um
lado, reconstituir o passado, e, por outro, interpretá-lo.
Bloch (2001, p. 43) dá alguns indicativos que podem auxiliar na resposta para
essa questão: “mesmo que a história fosse julgada incapaz de outros serviços, restaria
dizer, a seu favor, que ela entretém”.
Mas, evidentemente, o autor vai além dessa observação. Afirma que a História só
sobrevive se mantiver seu caráter estético, ou seja, sua beleza poética. Assim, a História
caminha entre a beleza e o rigor conceitual, entre o texto bem escrito, por um lado, e o
bem construído teoricamente, por outro. A História é “uma ciência em marcha” e, além
disso, está “na infância”, pois necessita ser (re)pensada a todo o momento, algo que à
época de Bloch estava apenas começando.
Define o eminente historiador que o objeto da História, ou seja, aquilo que ela
deve investigar, não é uma entidade metafísica como “o tempo”, mas sim o
homem e, mais precisamente, os homens no tempo, suas ações e práticas em
todas as suas manifestações.
Nesse sentido, para Bloch (2001), onde houver seres humanos, existirá História
e, assim, algo a ser elucidado pelo historiador. Além disso, ele diz que somente um
historiador atento ao presente, conhecedor de seu tempo, pode inquirir, satisfatoriamente,
os homens do passado, pois “o presente bem referenciado e definido dá início ao
processo fundamental do ofício de historiador: compreender o presente pelo passado e,
correlativamente, compreender o passado pelo presente” (BLOCH apud LE GOFF, 2001,
p. 25).
Para encerrar essa primeira abordagem sobre o que significa o estudo da História,
gostaríamos de citar uma metáfora de Carr. Segundo ele, em um determinado momento,
os historiadores definiam que História era um amontoado de fatos. Portanto,
Essa concepção, nos últimos 50 anos, vem sendo substituída por uma mais
condizente com a realidade da produção histórica, isto é:
de que maneira ele seleciona e analisa os documentos e o que para ele se configura um
fato histórico? Essas são as questões que iremos abordar neste tópico.
Borges (1985, p. 48) lembra que, “desde que existem sobre a Terra, os homens
estão em relação com a natureza (para produzirem sua vida) e com os outros homens.
Dessa interação é que resultam os fatos, os acontecimentos, os fenômenos que constituem
o processo histórico”. Desse modo, o objetivo fundamental do historiador deve ser a
reconstituição do passado. Para isso, são necessários levantamentos e estudos de fontes
documentais desse passado.
É bom lembrar que quem produz o documento está imbuído de sua visão de
mundo, de sua forma de interpretar a situação em que se envolveu, de maneira que não
é neutro nem está acima dos fatos para julgá-los com “imparcialidade”. Como afirma Carr
(1996, p. 55), “os fatos e os documentos são essenciais ao historiador. Mas que não se
tornem fetiches”.
Novamente, podemos nos apoiar em Carr para elucidar essa relação entre
documento e interpretação dos fatos.
Para ele, “o historiador começa com uma seleção provisória de fatos e uma
interpretação, também, provisória, a partir da qual a seleção foi feita”. Enquanto está
trabalhando no tema, “tanto a interpretação e a seleção quanto a ordenação de fatos
passam por mudanças sutis e talvez parcialmente inconscientes, através da ação recíproca
de uma ou da outra”. Por isso, “o historiador e os fatos históricos são necessários um ao
outro”, pois “o historiador sem seus fatos não tem raízes e é inútil; os fatos sem seu
historiador são mortos e sem significado” (CARR, 1996, p. 65).
Logo, essa ação mútua de historiador sobre os fatos e estes sobre o historiador
“envolve a reciprocidade entre presente e passado, uma vez que o historiador faz parte do
presente e os fatos pertencem ao passado” (CARR 1996, p. 65).
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UNIDADE 1
Licenciatura em História
Febvre utilizou-se desse argumento para estudar a obra do escritor francês do século
INFORMAÇÃO:
Para aprofundar seus estudos 16, Rabelais, que muitos historiadores diziam ser ateu. Entretanto, Febvre (1989) demonstrou
acerca desse assunto, sugerimos que era impossível ser ateu no século 16 na Europa, utilizando-se de diversos meios para isso,
a leitura das seguintes obras:
Lucien Febvre. Olhares sobre a demonstrando que aqueles que diziam isso estavam sendo anacrônicos.
História. Lisboa: Edições ASA,
1996. Para Novais (2005), que é um dos mais importantes historiadores brasileiros, o
Lucien Febvre. Combates pela
História. Lisboa: Presença, 1989. problema do anacronismo aparece de maneira cristalina em um tipo de História específico:
a chamada História “Nacional”, que tem por objeto a nação e o Estado Nacional. Vejamos
como ele apresenta o problema:
Na procura por essa boa História, além de ter que selecionar documentos e
fatos históricos para reconstituir o passado e procurar estabelecer fios condutores para
uma interpretação satisfatória dos acontecimentos humanos, o historiador deve fugir
da tentação de atribuir aos protagonistas dos acontecimentos que estuda o
conhecimento dos resultados de sua ação, na medida em que é impossível que estes
o saibam e, portanto, impossível, também, analisá-los dessa perspectiva.
4
ou, ainda, entrar em contato com
HISTÓRIA E OUTRAS CIÊNCIAS HUMANAS seu tutor.
Se a História, por seu lado, tem um objeto não delimitado, o grande debate
dentro das Ciências Sociais é justamente saber onde delimitar os seus objetos. Qual é a
fronteira que divide a Sociologia da Antropologia, por exemplo?
Apesar do ataque que a História sofreu das outras Ciências Sociais, o fundamental
é que, do ponto de vista do objeto, temos uma vantagem comparativa: o objeto da
História é toda a ação humana no tempo.
Por causa dessa amplitude de seu objeto, foi possível que, no momento em
que ocorreu uma crise das Ciências Sociais no último quarto do século 20, a História
respondesse a essa crise com uma ampliação dos objetos de estudo, dedicando-se a
temas que antes estavam negligenciados (o sexo, o amor, a família, a criança, a mulher, PARA VOCÊ REFLETIR:
entre outros), como veremos na disciplina Metodologia da História II. Você acha que a História pode
ser considerada o carro-chefe
das Ciências Sociais?
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Batatais – Claretiano
UNIDADE 1
Licenciatura em História
Fica claro, portanto, que a História é um ramo do conhecimento muito mais antigo
que as Ciências Sociais e responde a outras demandas. Além disso, o objeto de estudo da
História é muito mais amplo e abrange todo o acontecimento humano no tempo.
Esta obra divide-se em três partes, cada uma das quais pretende ser uma tentativa de
explicação de conjunto.
A primeira trata de uma história, quase imóvel, que é a do homem nas suas relações
com o meio que o rodeia, uma história lenta, de lentas transformações, muitas vezes
feita de retrocessos, de ciclos sempre recomeçados [...].
Acima desta história imóvel, pode distinguir-se uma outra, caracterizada por um ritmo
lento: se a expressão não tivesse sido esvaziada do seu sentido pleno, chamar-lhe-
íamos de bom grado história social, a história dos grupos e agrupamentos. Qual a
influência dessas vagas de fundo no conjunto da vida mediterrânica, eis a pergunta
que a mim próprio pus na segunda parte da minha obra, ao estudar, sucessivamente,
as economias, os Estados, as sociedades, as civilizações, e ao tentar, por fim, e para
melhor esclarecer a minha concepção de história, mostrar como todas estas forças
profundas atuam no complexo domínio da guerra. [...]
O tempo longo seria aquele em que as transformações são muito lentas, quase
imóveis, no qual o fundamental está na relação “homem e espaço”. Já o tempo de média
duração seria aquele em que as transformações ocorrem no nível das estruturas sociais,
com movimentos longos, resultando em grandes sínteses econômicas, sociais, políticas,
culturais. Por fim, o tempo curto, o tempo jornalístico, seria o tempo do registro imediato,
o tempo das paixões, dos acontecimentos e da instantaneidade.
Observamos, pois, que cada uma das Ciências Sociais ajusta-se mais a um
determinado tempo do que a outro, e, na relação desses tempos, seria possível estabelecer
o contato entre as diversas ciências do homem. A História seria, nesse sentido, o carro-
chefe do processo, na medida em que ela, como vimos, é a ciência social que melhor
compreende o homem no tempo.
5 CONSIDERAÇÕES
Nesta primeira unidade, procuramos discutir os conceitos básicos do significado
da ciência histórica. Inicialmente, analisamos o significado do termo “História”; em
seguida, procuramos dar conta das questões sobre o método de pesquisa e de estudo da
História.
Por fim, procuramos discutir a relação, nem sempre amistosa, mas necessária,
entre a História e as outras ciências humanas.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Anotações