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Duarte Coelho, o
patriarca fundador da
Nova Lusitânia

Ele veio pessoalmente administrar a capitania que ganhou do rei,


e essa decisão teve grande influência no processo de colonização do
Brasil

Duarte Coelho Pereira foi um militar português que enriqueceu lutando e fazendo negócios na África
e na Ásia, por mais duas décadas. Por conta disso, em 1534, já cinquentão, ele ganhou do rei D. João III a
posse de Pernambuco, para onde se mudou no ano seguinte e governou muito bem, durante dezoito anos.
Mas, em 1553, voltou para Lisboa, deixando sua propriedade aos cuidados da esposa, D. Brites de
Albuquerque, e do cunhado, Jerônimo.
Sua Majestade vinha pouco a pouco retirando as vantagens concedidas aos donatários de capitanias
no Brasil. E Duarte, que não se conformava com isso, foi levar suas reclamações ao rei em pessoa, já que as
cartas que escrevia não adiantavam de nada. O velho guerreiro ganhara suas terras às léguas, no papel, mas
tivera de conquistá-las palmo a palmo, lutando contra índios, piratas e franceses, e não estava disposto a
abrir mão de nenhum dos seus direitos sobre elas.
O resultado daquela viagem, porém, seria trágico para ele…

A TERRA BRASILIS
Quando chegou por aqui, Duarte não se assombrou com o clima quente e a opulência da natureza
pernambucana, como a maioria dos europeus se assombrava. Ele estivera em Málaca, em Goa, e em outros
sítios que também ficavam no hemisfério sul e na mesma latitude que o nordeste do Brasil, embora do outro
lado do mundo, na Ásia, e eram muito parecidos no calor e na vegetação. A única novidade foi os arrecifes,
aquela fantástica muralha de pedra, ao longo do litoral, que facilitava a atracação das naus e ajudava a
proteger os portos dos assaltos inimigos.
Os nativos também não o impressionaram. Morenos e fisicamente parecidos com alguns povos
orientais, eram, porém, muito primitivos. Mas, como homem, ele apreciou a beleza das mulheres, que
tomavam vários banhos por dia e andavam nuas como vieram ao mundo, exibindo inocentemente as suas
“vergonhas” raspadas.
O donatário, porém, era um sujeito sério. Não se comportou como seu cunhado Jerônimo, o “Adão
pernambucano”, que no seu testamento declararia ser pai de 24 filhos: oito com a índia Tabira, ou Maria do
Espírito Santo, sua primeira mulher; onze com a segunda, D. Felipa de Melo; e mais cinco avulsos, afora os
muitos que não assumiu ou dos quais nem tomou conhecimento. Duarte só procriou com a esposa, D. Brites
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de Albuquerque, tendo com ela dois meninos, Duarte e Jorge, e uma menina, Inês, que casou muito nova
com Jerônimo Moura e morreu tragicamente, na mesma semana que o marido e o filho recém-nascido.

DECISÃO HISTÓRICA
Duarte ganhou Pernambuco através do programa das capitanias hereditárias, lançado por D. João III
— chamado de “o Piedoso”, porque era muito carola — para resolver o problema da ocupação do Brasil, no
qual os franceses já estavam de olho. E, dentre todos os donatários, foi o que melhor se saiu. Não só porque
era maduro e experimentado na luta, mas também porque, ao contrário da maioria, veio pessoalmente
cuidar do seu lote, que batizou de Nova Lusitânia.
Ele poderia ter ficado em Portugal, gozando a fortuna que adquirira, com muita luta, ao lado da jovem
de dezoito anos com quem acabara de casar, de uma das mais nobres famílias do País. Mas, talvez por ser
filho bastardo, queria ascender socialmente; e no aristocrático mundo português daquela época um barão
dono de terras ainda valia mais do que um capitalista endinheirado. Então ele veio para cá de mala e cuia,
acompanhado da sua família e de várias outras da sua província natal, o Entre-Douro e Minho, que também
queriam ser proprietárias e enriquecer no Novo Mundo.
Tal como as outras capitanias, Pernambuco era uma faixa com sessenta léguas de largura, começando
no litoral e estendendo-se horizontalmente até a linha divisória do Tratado de Tordesilhas, que ninguém
sabia onde ficava. Seus limites eram o rio Santa Cruz, ao norte, e o São Francisco, ao sul. E naquele tempo,
servia de palco a ferozes batalhas entre franceses e portugueses e seus aliados indígenas, os potiguares e os
tabajaras, respectivamente.
Pois Duarte veio, viu e venceu aquela guerra, com ajuda de Jerônimo de Albuquerque. Seu cunhado
levou uma flechada no olho e foi capturado por índios, numa batalha; mas, em vez se ser comido por eles,
conquistou a filha do cacique Arcoverde e juntou-se com ela, tornando aquela tribo sua aliada. E a
colonização pôde começar, de fato.

MOVIDO A AÇÚCAR
O donatário fundou a vila dos Santos Cosme e Damião, a primeira de Pernambuco, à beira do rio
Igarassu, e passou a distribuir aos colonos as terras que ia tomando dos nativos. Depois, num sítio belíssimo,
no topo de uma colina, mais ao sul, fundou Olinda, que seria sua capital. E, em seguida, o vilarejo do Recife,
numa península coberta de mangues na foz do rio Capibaribe, sem sequer um poço de água potável, mas
dotada de um porto extraordinário.
O motor econômico do seu projeto era o açúcar, um produto de grande valor na Europa e cuja
fabricação — uma arte aprendida nas Índias, pelos portugueses — não era novidade por aqui. Desde 1516
havia um engenho em Itamaracá. E o retorno não demorou a chegar, devido à capacidade administrativa de
Duarte, que cuidava de tudo detalhadamente — em Olinda, por exemplo, ele determinou que se preservasse
parte da vegetação nativa e se reservassem áreas para uso comum —; assim como à sua mão forte, porque
as pendengas e os inimigos a enfrentar não eram poucos.

As pedras no caminho do donatário


Os índios, expulsos das suas terras e vendo suas mulheres e filhas sendo violadas pelos europeus,
iam à guerra sempre que podiam. Ou, sendo obrigados a trabalhar como escravos, nos engenhos, fugiam
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para o mato. Os contrabandistas de pau-brasil, os piratas que infestavam o Atlântico e os degredados


portugueses — criminosos cujo castigo era seu envio para o Brasil — também causavam um problema atrás
do outro. E o rei não facilitava. Duarte, por exemplo, cansou de escrever pedindo-lhe autorização para
importar escravos negros da Guiné e a suspensão do envio de bandidos para a sua capitania, sem ser
atendido.
Mas ele jamais esmorecia, era um modelo de firmeza. Chegou a aplicar uma surra no capitão-mor da
vizinha capitania de Itamaracá, desmoralizando-o e obrigando-o a ir embora do Brasil, por ser incapaz de
controlar os degredados que lá se homiziavam. E sua maior arma era a autoridade que possuía.
Como donatário, Duarte podia distribuir terras ou reservá-las para si, fundar vilas, nomear tabeliães
e julgar malfeitos das pessoas de menor categoria social até a última instância — os fidalgos, se condenados
por crime de morte, ainda podiam apelar para o rei — etc. etc. E era esse poder que lhe permitia governar,
naquela terra ainda tão violenta e selvagem.
Contudo, essas prerrogativas começaram a ser questionadas após a instalação de uma governança
geral do Brasil, na Bahia, em 1548. Principalmente, a que vedava a entrada de fiscais da coroa nas capitanias
“privadas”, ou seja, as que haviam sido doadas a particulares, como Pernambuco.
“Nessas terras não pode ir provedor-mor, o que me parece um grande desserviço de Deus e de vossa
consciência”, assim reclamou ao rei o primeiro governador-geral, Tomé de Souza. E D. João III começou,
então, a retirar direitos que haviam sido concedidos aos donatários na concessão das capitanias.
Por conta disso, Duarte foi ficando mais e mais furioso, até que, em 1553, ainda forte e bem disposto,
apesar de já estar com 68 anos — idade muito avançada, na época —, ele embarcou de volta para Portugal.
Com ele levou os dois filhos adolescentes, para estudar e desasnar, frequentando a corte; mas seu principal
objetivo era ter uma séria conversa, cara a cara, com D, João III.
Lá chegando, porém, aguardou um ano inteiro por uma audiência, que era sempre postergada, e
morreu sem ser recebido. Quiçá, de desgosto e tristeza pela desconsideração. Mas deixou uma marca
profunda na História do Brasil.
Foi a presença de Duarte Coelho em Pernambuco, por dezoito anos, que fez dessa capitania a mais
próspera do País, durante o início da colonização; a ponto de Olinda, sua capital, ser chamada de “Cabeça
do Brasil” e de “Pequena Lisboa” por um século inteiro, até a chegada dos holandeses. E que ela continuasse
a ser uma das três mais ricas, povoadas e movimentadas, ao lado do Rio de Janeiro e da Bahia, até o século
XIX.

As brasileiras vistas por um europeu


O florentino Américo Vespuccio, que de tanto escrever sobre o Novo Mundo acabou lhe
emprestando seu nome, anotou: “as índias andam sempre nuas e são libidinosas. Não têm nada defeituoso
em seus corpos formosos e limpos, nem são grosseiras, como se poderiam supor (…). Uma coisa nos pareceu
milagrosa: que entre elas nenhuma tinha os peitos caídos. E as que haviam parido, pela forma do ventre e
na estreiteza de certas partes do corpo, as quais, por pudor, não menciono, não se diferenciavam em nada
das virgens”.
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A primeira "PPP" (parceria público-privada) do Brasil


O pequenino Portugal não dispunha de recursos para colonizar o imenso território que chamava de
seu. E os franceses insistiam em estabelecer feitorias por lá, de onde traziam pau-brasil, algodão, papagaios,
plumas, peles e couros negociados com os índios. Então, em 1534, o rei D. João III resolveu doar grandes
lotes de terra a quem se dispusesse a colonizá-los, que seriam herdados pelos seus descendentes. Já o capital
para financiar essa empreitada seria fornecido principalmente por judeus expulsos de Portugal pela
Inquisição e estabelecidos na Holanda.

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