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MULHERES // SÉCS.

XVIII-XIX

D. MARIA I
Piedosa e demente
Não contando com a antiga e discutida Teresa de Leão,
foi a primeira mulher chefe de Estado em Portugal

N
Por Luís Almeida Martins

o Portugal dos finais do século


XVIII, a Revolução Francesa foi
acompanhada com horror por
uma alta nobreza que acabava
de reerguer a cabeça depois do
golpe desferido pelo marquês de
Pombal, por sua vez caído em desgraça após
a morte de D. José I. A rainha D. Maria I,
filha do falecido rei, acabaria por perder o
juízo, não apenas pelas notícias que chega-
vam de Paris, mas também devido às mortes
sucessivas do marido (seu próprio tio, D.
Pedro, irmão do pai), do filho mais velho e
do confessor.
Era uma mulher delicada, muito devota
e atormentada por fantasmas. Educada e
cheia de boas intenções, sempre de breviário
na mão, horrorizada com os extremos de
violência a que chegara Pombal e incapaz de
entender o alcance das suas reformas, con-
sentiu que o outrora homem mais poderoso
do país fosse desterrado para as suas terras
e que lhe enviassem juízes para o inquirir,
mas não concedeu a sua cabeça àqueles que
a pediam.
No tempo de D. Maria I, Portugal recuou,
sob alguns aspetos, ao reinado do avô D. João
V, um tempo em que pululavam a crendice,
o beatério e a miséria, apesar de todo o ouro
que vinha das minas do Brasil. De qualquer
modo, tinham-se passado muitas décadas e
as exigências civilizacionais eram já outras.
Por isso, a criação da Academia das Ciências,
da Biblioteca Nacional, da Escola Naval, da
Casa Pia, de uma polícia permanente ou a
primeira tentativa de iluminação pública de
Lisboa acabam por ser conquistas positivas

Pose régia D. Maria I


posando para o pintor
italiano Giuseppe
Troni, em 1783

26 V I S Ã O H I S T Ó R I A

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