4 DESTAQUE
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BREVES
BIOGRAFIA DE NATÁLIA
CORREIA, O Dever de Deslumbrar, de
Filipa Martins, vai ser apresentado na
Assembleia da República, amanhã, quinta-
-feira, 20, às 18.
JOVENS CRIADORES, concurso
para atribuição de Bolsas de criação e/ou
formação do Centro Nacional de Cultura
e o Instituto Português do Desporto
e Juventude, nas áreas de Música e
Literatura, com candidaturas abertas até
ao dia 15 de maio.
PATRIMÓNIO E REABILITAÇÃO
continuam na ordem do dia, com Victor
Mestre, Vítor Cóias e Deolinda Folgado e
moderação da Investigadora Ana Isabel
Ribeiro, dentro do ciclo Nuno Teotónio
Pereira, Conversas Essenciais. No Centro
Nacional de Cultura, amanhã, dia 20, às
18 e 30.
WILLY BRANDT: uma vida de luta
pela liberdade, pela paz e pela reconci-
liação entre as nações”, exposição sobre
o legado do chanceler alemão, inaugura
amanhã, 20,na Fundação Mario Soares e
Maria Barroso
MÁRIO LUNDUM apresenta o álbum
Imaterial no Tivoli, sexta feira, 21, às 21
horas.
JOÃO CANIJO recebeu o prémio para
o Melhor realizador do Festival de Cinema
Internacional do Uruguai, onde apresentou
os filmes Mal Viver e Viver Mal.
O ALTRUÍSMO NÃO EXISTE, de
Raul Manarte, é apresentado do dia 29 , às
16, na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto,
na Póvoa de Varzim.
ANTÓNIO CHAINHO, celebra os seus
85 anos, em conversa com Nuno Pacheco,
no Museu do fado, hoje, 19, às 19 horas.
Comemorações do centenário
de Madalena A. Perdigão
No próximo dia 28, em que
passam os cem anos do nascimento
de Madalena de Azeredo Perdigão
(MAP, 28/4/1923 - 5/12/1989), a
Fundação Calouste Gulbenkian
começa a assinalar a efeméride
e homenagear a mulher que nela
teve ação muito relevante. Assim,
nesse dia abrirá ao público uma
exposição sobre a sua vida e obra,
sobretudo na Fundação, intitulada
Vamos correr riscos – uma frase
do Manifesto ACARTE, Serviço
de Animação, Criação Artística e
Educação pela Arte, que MAP criou
e foi determinante no papel da
Gulbenkian nas áreas das artes e
do do espetáculo.
Festivais em Foz Côa, Leiria e Óbidos Manifesto
Poesia, música e revolução
Uma homenagem a Nuno Júdice,
um espetáculo da companhia
APURO sobre três poetas trans-
montanos, um concerto-con-
versa com Luís Represas e muitos
encontros entre escritores e outros
artistas são os destaques da edição
deste ano do Festival de Poesia e
Música de Foz Côa. Promovida pela
autarquia, dirigida e programada
por Jorge Maximino, realiza-se
entre os próximos dias 21 e 25, no
Centro Cultural de Vila Nova de Foz
Côa. O Colóquio-homenagem a
Nuno Júdice decorre, a 21, a partir
das 18, com intervenções de María
Ángeles Pérez López, Fernando
Pinto do Amaral, Fernando de
Castro Branco, Tatiana Faia e
Guilherme d'Oliveira Martins.
Segue-se uma conversa com o
poeta, ensaísta e prof. universitário
e o lançamento do seu mais recente
livro de poesia, Uma Colheita de
Silêncios.
O dia 22 abre com uma mesa
redonda. Fernando Pinto do
Amaral, Jorge Maximino, Perfecto
E. Cuadrado e Fernando de Castro
Branco falam, a partir das 14 e 30,
sobre "Eugénio de Andrade e Mário
Cesariny de Vasconcelos: dois po-
los da poesia portuguesa contem-
porânea". Depois, vários encontros
com leituras: com Maria Ángeles
Pérez López, às 15 e 30, com
Tatiana Faia e Fernando de Castro
Branco, às 16 e 15, e com Fernando
Pinto do Amaral, às 17. À noite, a
partir das 21 e 30, Luís Represas
interpretará e comentará canções
do seu já logo percurso musical. A
23, leituras de Francisca Camelo
(às 15) e Rui Spranger (às 15 e 30),
estas no bar do Museu do Côa. O
A exposição, que ficará patente
até 20 de julho, apresenta também,
segundo os organizadores, “uma
vertente prospetiva, focando tanto
as estruturas que [MAP] lançou e
que ainda hoje permanecem em
atividade como a sua permanente
atitude de abertura a novas pro-
blemáticas, novos modelos e novas
metodologias de intervenção na
gestão artística.”
Ainda nos dias 27 e 28, no Grande
Auditório, será interpretada pelo
Coro e Orquestra Gulbenkian,
dirigida por Myung-Whun Chung,
La Transfiguration de Notre Seigneur
Jésus-Christ, de Olivier Messien, uma
encomenda do Serviço de Música da
Garota Não
Nuno Júdice
Festival de Poesia e de Música de
Foz Côa encerra, a 25, às 15 e 30,
com a apresentação do espetáculo
Cabral, pela companhia APURO.
Trata-se de uma revisitação da
vida e obra de três autores mar-
cados pelas vivências e paisagens
transmontanas: António Cabral,
Rui Cabral e António Manuel Pires
Cabral.
RONDA EM LEIRIA
Poesia e música também em
Leiria, no Festival Ronda Poética,
de 20 a 25, com a participação de
55 autores e artistas e com um
verso de Sophia de Mello Breyner
Andresen como mote - "a paz
sem vencedor e sem vencidos",
pretexto para uma reflexão sobre
a poesia em tempo de guerra.
Organizado pela câmara munici-
pal e a livraria Arquivo), o encon-
Madalena A. Perdigão
19 de abril a 2 de maio de 2023
tro tem curadoria de Luís Filipe
Castro Mendes.
O tema da guerra e da paz será
sobretudo tratado nas quatro mesas
com escritores. A 21, às 17 e 30,
na Biblioteca Municipal Afonso
Lopes Vieira, “Poesia e Guerras
Coloniais”, com António Tavares,
João Melo, José Manuel Mendes
e Zetho Cunha Gonçalves, com
moderação de António Carlos
Crotez. A 22, às 11 e 30, na Livraria
Arquivo, “Poesia e Guerra Civis e
Interétnicas”, com Alfredo Pérez
Alencart, António Carlos Cortez,
Ozias Filho e Luís Filipe Castro
Mendes. A 23, às 15 e 30, no Banco
das Artes Galeria, Poesia e Guerras
de Religião, com Alfredo Pérez
Alencart, José Gardeazabal, Regina
Guimarães, Maria Bochicchio e
Carlos Ascenso André. E, a 24, às
19, outra vez na livraria Arquivo,
Poeisa e Guerra na Europa,
com Lauren Mendinueta, Maria
Andresen, Nuno Júdice, Rui Lage e
António Carlos Cortez.
LATITUDES EM ÓBIDOS
Também de regresso está o
Latitudes, o festival de literatura e
viajantes de Óbidos, que a câmara
organiza de 20 a 23. A madeira
vista por forasteiros oitocentistas,
Virginia Woolf e Sylvia Pankhurst,
viagens iniciáticas no Egipto,
Pérsia ou Cambodja e a vida
noutros mundos são alguns dos
temas em debate. Nas exposições,
refira-se Outros Mundos - Um ano,
um mês de aventuras e fotografias
na Ásia, de Ana Abrão; e a coleti-
va Olho, Mão, Página - O Caderno
como testemunho das Viagens do
Olhar.J
Fundação, quando dirigido por MAP.
Entre outras iniciativas/home-
nagens, destaque-se, no dia 6 de
junho, um Colóquio sobre a sua vida
e obra, bem como o lançamento de
um livro com textos seus. Recorde-
se que MAP foi também impor-
tante para a criação do Centro de
Arte Moderna da Gulbenkian, e na
reestruturação do Ensino Artístico
em Portugal, enquanto presidente da
Associação Portuguesa de Educação
Musical.
Rui Vieira Nery, coadjuvado por
Inês Thomas Almeida, é o comis-
sário destas comemorações, que se
prolongarão no próximo ano que em
outubro próximo prosseguirão com
uma extensa timeline dos momentos
mais marcantes da história da dança
em Portugal, na qual se incluem o
Grupo Experimental de Bailado e o
Ballet Gulbenkian, criados igual-
mente por Madalena de Azeredo
Perdigão – a quem o JL dedicará um
dos seus próximos Temas.J
JORNALDELETRAS.PT
Publicamos aqui um excerto do
‘manifesto’ que a Garota Não vai ler
e cantar dia 21, no Festival Política.
No 25 de abril de 74 eu não esta-
va no quarto de nenhuma amiga a
trocar ideias sobre livros proibidos.
Não estava a ouvir rádio, não sabia de
senha nenhuma. Não andei pelas ruas a
celebrar a queda de um regime faminto
e repressor, não levantei o braço se-
gurando um cravo. Não estava sequer
no plano dos meus pais, que só se co-
nheciam de se olharem à janela. Com
a agravante da minha mãe ser uma
mulher casada - com outro marido.
No 25 de abril de 74 eu não era
nascida. Isso só aconteceu alguns anos
mais tarde. E fui crescendo a ouvir
falar de eleições, manifestações, de-
mocracia. Primeiro sem fazer grande
ideia dos seus significados. Mais tarde
a tentar compreender o seu pulsar
através da vida do meu bairro e da
vida do país - que via pela televisão.
Fui percebendo que entre o sonho
da democracia e a sua concretização
há muitas mangas por arregaçar. E
que nos cabe a nós o compromisso
de cuidarmos desse campo tão fértil,
cheio de flores e de espinhos, de ca-
minhos verticais e horizontais, becos
sem saída, de avanços e retrocessos,
que é a democracia.
Que nos cabe a nós a sua continui-
dade - o seu cuidado.
Por isso, quando me convidaram
para participar neste Festival Política,
não pude senão - orgulhosamente -
aceitar. Mais do que isso: dar o meu
melhor para que projetos como este,
que buscam um melhor presente
e futuro do conjunto que somos,
possam ter uma vida tão forte e longa
quanto os caminhos que a cidadania e
a democracia percorram.
Mas vir aqui falar sobre quê?
Pensei então que se é para bo-
tar palavra, que seja sobre o que sei,
sobre alguns dos assuntos que ora
me gastam ora me incendeiam. E por
isso peguei na história da minha vida
e num punhado de canções que fui
escrevendo pelo tempo fora. Algumas
falam de amores desfeitos, de abusos e
morte. Outras daquele quotidiano sem
glamour da gente que passa o cabo dos
diabos todos os dias para ter uma casa e
um prato de comida na mesa. Trabalhos
precários, empresas milionárias, go-
vernos aos quais entregamos os nossos
votos e a nossa crença de um país sobe-
rano, empenhado, transparente, justo.
Para depois tantas vezes nos
sentirmos desiludidos, sem uma ver-
dadeira alternativa à vista.
Só que a desilusão - como o ciúme
- é uma das coisas mais inúteis da
nossa vida - se não vier acompanhada
de uma vontade maior do que ela.
Caso contrário será estéril. Dará para
alimentar conversas de café, almoços
de família e publicações nas redes
sociais. Mas não será a força motriz de
nenhuma mudança boa - de nenhuma
bonança.
E por isso vim, vim para falar de
mudanças em que acredito. J