19 de abril a 2 de maio de 2023 JORNALDELETRAS.

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Celebrar os 49 anos do 25 de Abril Lula em Portugal

A Revolução 25 de Abril de 1974 ao regime, incluindo partidos
assinala-se intensamente em 2023, políticos, sindicatos, movimentos

COMENTÁRIO
registando-se o facto de se viver estudantis e outras organizações".
há mais anos em democracia (49) Este momento marcante é
do que os vividos em ditadura (48). agora recordado a partir dos
Será uma antecipação dos gran- testemunhos (de Carlos Carvalhas, José Carlos de Vasconcelos
des festejos que se preparam para Maria Emília Brederode, António
2024. Em Lisboa, a EGEAC integra Neto Brandão, Helena Pato, Mário
as comemorações da liberdade Simões Teles e João Soares) e

nas Festas de Abril, um programa
variado com diversas propostas,
algumas inéditas. “O regresso do
sol, das flores e da boa disposição
são bons motivos para festejar
abril”, sublinha, ao JL Pedro
Moreira, presidente da EGEAC.
“As Festas de Abril celebram isso
mesmo, proporcionando uma
programação cultural variada,
entre música, exposições, teatro,
cinema, conversas, leituras, arte
urbana, percursos e oficinas para
preencher a vontade de sair de casa
e de fazer coisas com os amigos e
família. Sugestões, na sua maioria
gratuitas, para desfrutar na cidade,
ao ar livre e dentro de portas.”
Um dos momentos altos das
comemorações promovidas
pela EGEAC é o Abril em Flor,
projeto concebido pelo cantautor
Vitorino, com direção artística
de António Miguel Guimarães. O
concerto, que se realiza no dia 24,
no Terreiro do Paço, a partir das
22 horas, inclui música, poesia
e desenho (ao vivo, por António
Jorge Gonçalves), com muitas
canções de esperança e do período
de resistência à ditadura. Ao lado
de Vitorino surgirão Mafalda
Veiga, Márcia, Luís Trigacheiro,
Zeca Medeiros e as cantadeiras e
os cantadores do Redondo. Entre
outras propostas das Festas de
Abril da EGEAC, refiram-se as
peças de teatro Catarina (o Alentejo
a viu nascer), sobre mulheres que
As comemorações do centenário
Vitorino Cantar Abril
aprenderam a resistir, de Catarina
Aidos (Biblioteca de Alcântara,
dia 21, às 21), ou Memória de
uma Falsificadora, adaptação do
livro homónimo de Margarida
Tengarrinha sobre os seus anos de
clandestinidade (dia 22, às 21). E,
nas exposições, Sinais de Liberdade,
com iconografia da democracia a
partir do Arquivo Ephemera (no
antigo tribunal da Boa-Hora, até
28 de maio) e Quase 50 anos, a
partir do Arquivo Vivo de Memórias
Pequenas e Esquecidas do Teatro
do Vestido (Biblioteca de Marvila,
entre os dias 21 e 26).
No CCB, já a 19 e 20 de
abril, assinalam-se os 50 anos
do III Congresso de Oposição
Democrática, realizado em Aveiro,
em 1973, e que juntou "forças
políticas e sociais que se opunham
intervenções (de Fernando Rosas,
Francisco Seixas da Costa, José
Manuel Lopes Cordeiro, Luísa Tiago
Oliveira, José Pacheco Pereira,
Luís Trindade, Manuela Tavares e
Miguel Cardina).
A 20, às 17 horas, no Quartel
do Carmo, em Lisboa, a Fundação
Francisco Manuel dos Santos
(FFMS) promove uma conferência
“Cinco décadas em democracia:
o que mudou?”, a partir do
lançamento de O Essencial da
Política Portuguesa, tradução
do volume Oxford Handbook of
Portuguese Politics, coordenado
por Jorge Fernandes, Pedro
Magalhães e António Costa Pinto. O
lançamento do livro será seguido de
um debate entre os prof. e ensaístas
Daniel Ziblatt e Sheri Berman,
moderada pela jornalista escocesa
Ayesha Hazarika.
As comemorações estendem-
se um pouco por todo o país. No
Porto, por exemplo, a partir de 21,
no átrio da estação de São Bento,
Olhares de Abril reúne imagens
de Bruno Neves, Pereira de Sousa
e Ricardo Pereira. Em Porto de
Mós, na Central das Artes, no dia
22, um encontro com o escritor
Álvaro Laborinho Lúcio a propósito
do seu romance As Sombras
de um Azinheira. Em Leiria, a
performance teatral Ondas da
Liberdade passará, entre os dias
20 e 25, por dez freguesia do
concelho. J
D
o próximo sábado, 22, a terça-feira, 25, o Presidente da
República do Brasil, Lula da Silva, estará em Portugal.
A importância do acontecimento é óbvia, e o seu signi-
ficado ainda maior pelo facto de há dez anos não haver
uma visita de Estado ‘semelhante’ de um Presidente
brasileiro ao nosso país. Uma década assim é coisa rara,
se não única, nos últimos 50 anos das relações luso-brasileiras.
De facto, o anterior Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, nunca
veio, como tal, ao nosso país – parece virá em breve como dirigente
da extrema-direita mais radical, populista e anti-democrática, que
irá reunir em Lisboa. Antes dele, Michel Temmer, o vice que assu-
miu o lugar de Dilma Roussef após o impeachmment de que ela foi
vítima, esteve aqui de passagem e para o funeral de Mário Soares. E
é preciso remontar a junho de 2013 para uma visita de Estado, exa-
tamente da Presidenta Dilma – de cujo programa fez parte a entrega
do Prémio Camões a Mia Couto, acabado de ser distinguido por um
júri que integrei. Dilma, aliás, já tinha feito outra visita oficial ao
nosso país, no final de março de 2011, tendo estado no doutoramen-
to honoris causa de Lula pela Universidade de Coimbra.
Como se sabe, houve uma polémica relacionada com a eventual
intervenção de Lula na Assembleia da República, na sessão co-
memorativa do 25 de Abril. O que não me parecia curial ou o mais
indicado, sendo preferível fazê-lo em sessão própria para o efeito
– como vai acontecer, e muito bem, no próprio dia 25 de Abril,
embora se fosse a 23 ou 24 também não viesse mal ao mundo...
O fundamental é que a visita do Presidente do Brasil tenha
resultados concretos, para além do seu alto simbolismo ao nível
do restabelecimento e fortalecimento das ligações entre os dois
países, que insisto (liricamente?...) em chamar irmãos. Resultados
concretos, em particular no que mais profunda e especificamen-
te nos une – a língua e a cultura. Não sei o que está previsto ou
projetado, inexiste ou escasseia informação a esse respeito; e seio
que mesmo o decidido e anunciado nestas ocasiões demasiadas
vezes não sai do papel: foi o que aconteceu, mau grado a boa von-
tade dos próprios, após as maiores visitas de líderes portugueses,
três Presidentes e um primeiro-ministro (Ramalho Eanes, Mário
Soares, Jorge Sampaio e António Guterres, respetivamente), que
pela minha grande ligação ao Brasil acompanhei.
Ao nível do simbólico, releve-se ainda a entrega do Prémio
Camões de 2019 a Chico Buarque – muito simbólico por tudo que
significa Bolsonaro ter-se recusado a “conferi-lo” e por tudo que o
autor de “Tanto Mar” representa, como fantástico artista, cantau-
tor/escritor, e como cidadão”. Não compreendendo, no entan-
to, porque na circunstância não é entregue também a Silviano

de Eduardo Lourenço Santiago o mesmo Prémio, que em 2022 o distinguiu.

ENTRETANTO, SE COMO ESPERADO A EXTREMA-DIREITA E a

De par com o colóquio já realizado na Fundação
Calouste Gulbenkian, no passado dia 28 de março, como
o JL noticiou, muitas outras iniciativas estão projetadas
ou em curso para assinalar, como devido, o centenário
do nascimento de Eduardo Lourenço, que se cumpre a 23
de maio. E é exatamente neste dia, e no seguinte, que no
Centro de Estudos Ibéricos (CEI), na Guarda, ocorre-
rá, designadamente, o Congresso Leituras de Eduardo
Lourenço, que visa fazer uma revisitação temática do
percurso da sua obra.
O Congresso está estruturado em cinco tópicos, e se-
gundo os organizadores nele intervirão “personalidades
destacadas do universo lusófono para uma interpretação
original e criativa”. Os “tópicos” são: 1) O Esplendor
do Caos (abordagem da transformação do espólio em
obras), a 23 de maio; 2) O Espírito da Heterodoxia; 3)
Existência e Literatura; 4) Mitos e Miragens da Lusofonia;
5) Disseminações & Releituras - todas estas sessões a 24
de maio.
A 23 haverá ainda, no entanto, precedendo o início do
Congresso, uma sessão solene de abertura das comemo-
rações; e, durante o dia, a inauguração de uma exposição
e o lançamento de, pelo menos, um livro. Recorde-se
que Eduardo Lourenço nasceu em Rio Seco, concelho de
Almeida, distrito da Guarda – nesta cidade estudou até
ir para a Universidade em Coimbra, e a ela, como à sua
aldeia, sempre manteve uma ligação afetiva que vários
textos seus documentam.
Quanto ao Centro de Estudos Ibéricos é uma associação
transfronteiriça criada a partir de um desafio de Eduardo
Lourenço, em 1999, e integram-no a Câmara Municipal
da Guarda, onde se situa a sua sede, as Universidades de
Coimbra e Salamanca, e Instituto Politécnico da Guarda.
Eduardo Lourenço foi o “mentor” e “diretor honorifico”
do CEI, que atribui anualmente um prémio com o seu
nome – nome que é também o da Biblioteca Municipal da
Guarda, que tem EL como “patrono”.
O grupo que coordena cientificamente as
Comemorações promovidas pelo CEI é constituído por
António Pedro Pita e Rui Jacinto, da Universidade de
Coimbra, Roberto Vecchi e Margarida Calafate Ribeiro, da
Cátedra Eduardo Lourenço da Universidade de Bolonha.J
direita radical queriam impedir ou menosprezar a intervenção de
Lula no Parlamento, a posição sobre a Ucrânia que ele tomou na
sua visita à China tem contribuído para alguns menos extremistas
se deixarem arrastar para certas confusões. Ora, cumpre dizer:
1) Não faz sentido, e não se pode permitir, que as posições da cada
país em matéria de política externa afetem as relações e a imprescin-
dibilidade do desenvolvimento da cooperação luso-brasileira;
2) Não estou nada de acordo com posições do Brasil quanto à
guerra da Ucrânia (pois foi e é mais do que legítimo o fornecimento
de armas a um país invadido e que sem elas seria destruído, etc.,
etc.), Mas o que Lula disse na China, aliás nada de novo, tem de ser
encarado também na perspetiva de um país que pretende ter um
papel importante num processo de paz, e por isso…
3) Face a tal realidade, não sendo este tema de uma “cimeira”
luso-brasileira, e sendo a justa posição portuguesa, de forte apoio
à Ucrânia, bem clara e conhecida, no máximo deve ser, mas nem
precisa de ser, reafirmada, fora de qualquer contexto conflitivo;
4) Recorde-se que, apesar do acima referido, o Brasil, na as-
sembleia geral da ONU aprovou o voto de condenação à Rússia pela
invasão – o que, por exemplo, Angola e Moçambique não fizeram,
tendo-se abstido. E vamos, por isso, aumentar as dificuldades de
relacionamento com esses países lusófonos? J