A Academia das
Ciências, a Biblioteca
Nacional, a Escola
Naval e a Casa Pia
foram criações
do seu reinado
de um reinado que começou por ser de paz
e de concórdia.
As ideias revolucionárias importadas de
França eram, claro está, reprimidas, desta-
cando-se na tarefa persecutória a polícia se-
creta do intendente Pina Manique. Tal como
sucederia dois séculos depois com a PIDE
do Estado Novo, as «moscas» do intendente
não conseguiam, porém, calar de todo os
intelectuais progressistas que se reuniam
nas tabernas e nos cafés, influenciados pelo
Iluminismo francês e pela Grande Revolução.
Nesta atividade de bota-abaixo desta-
cava-se o poeta Bocage, que acabou preso
por «maus costumes». Depois de um ano
e meio na cadeia, conformou-se mais com
os padrões vigentes, mas os seus amigos e
admiradores preferiram recordá-lo como
o improvisador de verve que uma noite foi
abordado por uma patrulha policial que, de
arma em riste, o intimou a identificar-se e a
indicar de onde vinha e para onde ia, o que
ele fez assim: «O meu nome é Bocage, venho
do Café Nicola e vou para o outro mundo se
disparares a pistola.»
Descendência e loucura
Em contraste com este ambiente fervilhan-
te e já muito «moderno», D. Maria era de
uma religiosidade meticulosa, cumprindo
todos os ditames da Igreja Católica. O seu
cognome de Piedosa não ilude. A construção
da Basílica da Estrela insere-se nesta veia.
Chama-se-lhe «basílica» (palavra derivada
do grego basileus, «rei») exatamente por
a sua edificação ter sido iniciativa de uma
cabeça coroada. Destinava-se a cumprir o
voto feito por D. Maria de erigir um grande
templo na capital se lhe nascesse um herdeiro
do trono. Nasceram seis.
O mais velho, D. José, a quem cumpriria
vir a reinar, morreu com 27 anos, em 1788,
vitimado pela varíola. Era um afrancesado
D.MARIA II
A supermãe
D. Pedro IV, chefe da causa
liberal triunfante na guerra civil
de 1832-34, morreu ainda novo
e deixou à filha, D. Maria II, então
com 15 anos e nascida durante
a estada da corte no Brasil, a
tarefa de levar por diante uma
política apenas esboçada. Porque
a vitória dos liberais e a adoção
da Carta Constitucional de 1826
não resolvera, por si mesma, os
grandes problemas nacionais.
Os liberais dividiram-se em dois
grupos – um mais progressista
e outro mais conservador – cuja
rivalidade se prolongaria pelas
duas décadas que se seguiram
à guerra e que envolveria novas
movimentações militares.
Finalmente, a meio do século
as coisas acalmaram, quando
se inaugurou o período de
normalização política conhecido
por Regeneração. D. Maria II ainda
assistiu ao começo.
Depois de um breve casamento
com Augusto de Beauharnais,
filho do enteado de Napoleão e
neto de Josefina, rapidamente
falecido, a rainha casaria em
segundas núpcias com o alemão
Fernando de Saxe-Coburgo-Gota,
protetor das artes e construtor
do Palácio da Pena, que ficaria na
História portuguesa como
D. Fernando II.
Sofrendo de obesidade e com
problemas cardíacos, D. Maria II
morreu de parto em 1853, com
apenas 34 anos, mas já depois
de ter engravidado 12 vezes e
dado à luz sete filhos, dois dos
quais seriam reis de Portugal
(D. Pedro V e D. Luís I). Foi pela
forma como se relacionou com
eles que recebeu o cognome de A
Educadora.
Quanto ao Teatro Nacional, foi
uma iniciativa de Almeida Garrett
e ficou com o nome da soberana
por insistência do autor do Frei
Luís de Sousa.
e os portugueses mais progressistas depo-
sitavam esperanças nele. Foi por volta de
1792, já depois dos acontecimentos de Paris
e da morte do primogénito, que a rainha
começou a dar sinais de demência, um mal
que se acentuaria até se tornar irreversível. O
segundo filho de tio e sobrinha era o que viria
a ser o rei D. João VI. D. Maria I, nos seus
últimos tempos de lucidez, não alimentou
grandes ilusões quanto à capacidade deste
jovem para conduzir os assuntos de Estado,
o que lhe agravou a doença.
A pia soberana, que vivia atormentada
com as penas que o pai devia estar a sofrer
no inferno por ter permitido a Pombal que
expulsasse os Jesuítas, acabaria afastada do
trono, por incapacidade.
Sentou-se então nele, como regente, o tal
D. João, em quem ela depositava tão poucas
esperanças. E foi a este homem pacato que
coube tentar resolver o imbróglio para o qual
os acontecimentos da França estavam a ar-
rastar Portugal.
Como se sabe, esse turbilhão conduziria
às Invasões Francesas e à partida da corte
para o Brasil. D. Maria faz parte do grupo
de emigrados e por lá morreu sem recuperar
PAVONA
o tino, com 82 anos, em 1816, data em que
RETIRADO DE PINTURA DE FRANCESCO
o regente passou a ser de p pleno direito o rei
FRANCE
D. João VI.
Princesa da Beira
A futura rainha
ha
com 5 anos, em
ada por
1739, retratada
Francesco Pavona
VISÃO H I S T Ó R I A 27
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