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Luzes Sobre Lisboa:

A Renovação da
Baixa Pombalina
Tomás T.

Lisboa Iluminista e a Ascensão


do Império Português
O Marquês de Pombal Examinando os Planos da Reconstrução de Lisboa, LUPI Miguel Ângelo
(1826-1883) Altura: 3.313,00 mm Largura: 2.580,00 mm, Óleo sobre Tela.
I

Breve Contextualização e Nota Biográfica

Em 1755, sob o governo de Sua Majestade D. José I, um desastre sísmico, sucedido por um maremoto
avassalador e subsequentes incêndios, perpetraram danos de proporções avultadas, consequentemente
aniquilando a Baixa de Lisboa medieval.
Não se tratava apenas de reconstruir, mas de renovar e reinventar a capital de um império. El Rei incumbiu
o seu secretário de estado dos negócios estrangeiros e da guerra, Sebastião José de Carvalho e Melo , também
conhecido como Marquês de Pombal ou Conde de Oeiras, de liderar os esforços de reconstrução na área
comercial e residencial da cidade.

Sebastião José Nascido a 13 de maio de 1699 em Lisboa, freguesia das Mercês, ano de margem do século
XVII, podendo-se aceitar como um homem antiquado com um pé no Séc. XVII e outro no Séc. XVIII,
baptizado a 6 de Junho na capela da mesma invocação, sita na Rua Formosa, que pertencia à sua família.
Descendente da baixa aristocracia, era filho de Manuel de Carvalho e Ataíde, que desempenhou as funções
distintas de Capitão-Tenente das Fragatas da Armada, Capitão de Cavalos do Regimento da Corte,
ostentando o título de Fidalgo Cavaleiro da Casa Real e sendo honrado como Cavaleiro da Ordem de Cristo
ao longo do seu dedicado serviço militar à coroa portuguesa, simultaneamente devotou-se à pesquisa
genealógica. D. Teresa Luísa de Mendonça e Mello, sua mãe, teria casado uma segunda vez com Francisco
Luís da Cunha de Ataíde, Governador das Justiças. É de aceitar que o seu segundo consórcio, teve lugar em
data incerta ao redor de 1723-1724, com o doutor Francisco Luís da Cunha de Ataíde. Este já viúvo, e sem
filhos, de D. Josefa Leocádia Coutinho.
Sebastião foi o mais velho de doze irmãos, dos quais se destacam Paulo António de Carvalho e Mendonça,
Monsenhor da Sé Patriarcal de Lisboa, e Francisco Xavier de Mendonça Furtado, governador geral do
Estado do Grão-Pará e Maranhão de 1751 a 1759, e secretário de Estado da Marinha e do Ultramar entre
1760 e 1769. Ambos fiéis colaboradores do irmão.
Sob o incentivo de seu tio Paulo de Carvalho e Ataíde, professor na Universidade de Coimbra, Sebastião
José estudou Direito na Faculdade de Leis e na Faculdade de Cânones, que acabou por abandonar para se
dedicar à carreira de armas. No entanto, com a sua percepção ilusória altamente romanceada do exército,
juntamente com a sua inconsistência à obediência militar, conseguiu apenas a humilde patente de cabo, que
por conseguinte obrigou-o a pedir uma carta de demissão. Dedicando-se ao estudo da história, da política e
da legislação.

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Uniformes de Granadeiros do 1º Regimento de infantaria do Porto Século XVIII 1720-1740,
no contexto da melhor visualização dos uniformes das forças armadas, aos quais Sebastião frequentou. É de especular, que ele tenha frequentado um
regimento Lisboeta, em vez de na cidade do Porto.
Depois de uma vida de solteiro bastante agitada, quando contava 23 anos, em 1723, o futuro Marquês de
Pombal casou com D. Teresa de Noronha e Bourbon Mendonça e Almada em segredo, não Obstante, tal
união não logrou aprovação por parte da família desta, que não o reputava à sua altura, que porventura
resultou na ausência de descendência deste casamento. A noiva de 35 anos estava ligada à família do Conde
dos Arcos, sendo viúva de seu sobrinho D. António de Mendonça. Além de boa fortuna, D. Teresa
dispunha de validação de cortesã, por ser dama da Rainha Consorte de Portugal, D. Maria Ana de Áustria,
esposa de El Rei D. João V, pelo que representava um bom partido para um fidalgo arruinado como era
José.

Em 1733, foi nomeado membro da Academia Real da História Portuguesa(1720 - 1776) , por influência do
cardeal Mota, ministro e favorito do rei D. João V. A instituição foi uma das manifestações do Iluminismo
em Portugal, logo assim começou-se a “martelar” os ideais iluministas na mente de Sebastião.
Durante a sua existência a instituição legou um importante acervo de publicações na sua “Colecção dos
Documentos e Memórias da Academia Real de História” e nas obras individuais dos seus sócios
o 4º Conde da Ericeira, que conseguiu obter o interesse do rei D. João V, para o então moderno estudo da
História. Esse interesse levou a que, por Decreto de 8 de Dezembro de 1720, a Academia de História
Portuguesa, nascida de um conjunto de reuniões iniciadas em 1717 sob o impulso do 4.º conde da Ericeira,
ganhasse protecção da coroa, passando assim a designar-se por Academia Real da História Portuguesa.
A academia fixou-se numa das salas do Palácio dos Duques de Bragança e teve os seus estatutos oficialmente
confirmados por Decreto Real a 4 de Janeiro de 1721. Nesses estatutos estabelecia-se que houvesse 50
académicos de número, os quais foram responsáveis por escrever a história eclesiástica, militar e civil de
Portugal.

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Restituet omnia, Vieira Lusitano,
a frase latina “Restituet omnia”, foi utilizada como motto da Academia Real da História Portuguesa, traduzindo o seu objetivo de escrever a história
de Portugal e assim restituir ao mundo o conjunto de ações gloriosas dos lusitanos.

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Sebastião Carvalho, quando completou 39 anos iniciou a sua vida pública: foi embaixador na Inglaterra -
onde sua mulher veio a falecer - e na Áustria. depois Viena. Foi aqui que conheceu a sua segunda
mulher, companheira de uma vida e mãe dos seus quatro filhos, Maria Leonor Ernestina Daun.
Mas Sebastião José era um homem inteligente, frio, mais dado às suas ambições políticas que às
artes do coração. Há uma mulher que fica na história como a grande protetora e responsável pela
sua ascensão ao poder: a rainha Maria Ana de Áustria que o colocou ao lado de D. João V e depois
do filho D. José I. Mas também foram as mulheres as responsáveis pela sua queda. O seu confronto
com a Marquesa de Távora, D. Leonor, o processo sangrento daquela família e o desafeto de D.
Maria I por este homem levaram-no à desgraça.

casamento de Carvalho e Melo com D. Teresa estendeu-se até 1739,


quando ela veio a falecer, deixando suas propriedades como herança para
seu marido. Poucos anos depois, esse casou-se com D. Leonor
Ernestina de Daun, jovem da alta nobreza austríaca. Ele a conheceu
durante o período que residiu em Viena

trajetória política de Pombal fez com que ele adquirisse inúmeros


inimigos, e depois que o rei D. José I tomou posse de seu governo, esses
voltaram-se contra Pombal. O administrador de Portugal possuía muitas
desavenças entre a alta nobreza portuguesa. A própria filha do rei D. José
I — e sucessora do trono — tinha grande inimizade com o marquês.
O resultado foi que, depois que o rei morreu, Pombal foi perseguido e
demitido por D. Maria I. Depois foi acusado de corrupção, expulso de
Lisboa, passando o resto dos seus dias em sua residência em Pombal.
Acabou sendo perdoado pela rainha, mas morreu no esquecimento e
isolado, em 1782.

Lá, seu trabalho diplomático foi reconciliar o papa Bento 14 e o imperador austríaco Fernando 1o, que
estavam em conflito. Nessa época, Sebastião se casou pela segunda vez, com Leonor, condessa de Daun.
Em 1750, quando o D. José I subiu ao trono de Portugal, depois da morte de D. João V, Sebastião foi
chamado de volta à corte de Lisboa para ser ministro. Em pouco tempo ele se tornou a figura principal no
Estado português.
Sua energia, depois do terremoto de 1755 que destruiu Lisboa e matou centenas de milhares de pessoas, deu-
lhe muito prestígio com o rei. Foi nomeado sucessivamente primeiro-ministro, conde de Oeiras e marquês
de Pombal.

Um primeiro-ministro incomumente determinado e implacável, um dos 'déspotas esclarecidos' mais bem-


sucedidos do século XVIII. Reformou o sistema de educação, iniciou o processo pelo qual os jesuítas foram

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expulsos de Portugal após sua supressão pelo Papa em 1773 e lançou um desafio considerável à hegemonia
comercial britânica em Portugal.

O Marquês de Pombal introduziu medidas urbanísticas inovadoras e implementou um plano de


reconstrução que moldou o desenvolvimento arquitetónico da região.

A sua ligação a Pombal terá surgido em 1724, com a sua vinda para casa do seu tio, o arcipreste Paulo de
Carvalho e Ataíde, proprietário da Quinta da Gramela. Após a morte do seu tio em 1737, herda a Quinta da
Gramela.
A carreira de Sebastião José de Carvalho e Melo, ao serviço do Estado, começou em 1738, em Londres,
enviado com a missão de pôr termo aos litígios de comércio entre a Portugal e Inglaterra.
De Londres foi enviado para Viena de Áustria, em 1743, com a missão de mediar o conflito diplomático
entre a Coroa austríaca e o Papa. Durante a sua estadia em Viena, conheceu D. Maria Leonor Ernestina Eva
Josefa, a Condessa de Daun, pertencente à alta nobreza austríaca, com quem viria a casar, em segundas
núpcias, a 18 de dezembro de 1745.
Com a morte do rei D. João V e a subida ao trono de D. José I, Sebastião José de Carvalho e Melo foi
nomeado Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra em 1750. Como ministro, extinguiu
privilégios ao clero e à nobreza, retirou poderes dispersos na sociedade, centralizando-os na coroa.

Destacam-se entre as medidas as amplas e retas ruas, como a Rua Augusta, e as praças regulares, como o
Terreiro do Paço. Além disso, foram incorporadas inovações arquitetónicas, como estruturas anti-sísmicas
nos edifícios reconstruídos, visando reforçar a resiliência da cidade a futuros desastres naturais. O legado
dessa reconstrução perdura na atualidade, com a Baixa de Lisboa a testemunhar a visão urbanística e
arquitetónica marcante do período pombalino.

Assinatura de Sebastião José de Carvalho e Melo, 1º Marquês de Pombal

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II

A Renovação da Capital do Império

Depois do devastador terramoto de 1755, que arrasou grande parte de Lisboa e impressionou toda a Europa,
começou a desenhar-se uma cidade nova, projetada de acordo com as modernas correntes iluministas. Não
se tratava apenas de reconstruir, mas de renovar e reinventar a capital de um império.

O ministro do rei encomendou planos, estudou as opções de Manuel da Maia, engenheiro-mor responsável
pela obra do Aqueduto, nascera numa família pobre mas ascendeu aos mais altos cargos da administração
portuguesa. Em 1755 era guarda-mor da Torre do Tombo e engenheiro-mor do reino. Conseguiu salvar os
arquivos e definir os contornos da nova cidade.
No dia do terramoto, uma das suas preocupações foi salvar os milhares de documentos que estavam na
Torre do Tomo, em Lisboa, e que contavam a história do reino quase desde a sua fundação.
Apesar do caos conseguiu construir rapidamente um edifício de madeira para os proteger, devendo-se à sua
ação o resgate destes importantes testemunhos da história portuguesa.

Enquanto engenheiro-mor foi a ele que o Marquês de Pombal recorreu para definir como e onde nasceria a
nova capital. Apesar do traçado final ter sido efetuado por outros arquitetos, foram as propostas de Manuel
da Maia que serviram de base a esse trabalho, um plano urbanístico e arquitetónico sem precedentes.
Pombal reconstruía a capital do reino, ao mesmo tempo mudava uma sociedade inteira e consolidava o seu
poder.

Antes de iniciar a construção, era necessário remover o que o terramoto não destruíra. Cerca de 70% dos
edifícios da cidade antiga seriam sacrificados para dar lugar a um projeto de traçado inovador, geométrico e
racionalista.

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Como colaborador de confiança de Manuel da Maia, o engenheiro Eugénio dos Santos e Carvalho
desempenhou um papel crucial na revitalização de Lisboa. Sua obra mais destacada foi a criação da
imponente Praça do Comércio, que ampliou os horizontes da cidade em direção ao Rio Tejo.

Além disso, em parceria com Carlos Mardel, liderou a renovação do Mosteiro de São Bento da Saúde (hoje a
Assembleia da República) e elaborou os planos para edifícios-chave como a Alfândega, o Arsenal, a Fábrica
do Tabaco e a Ribeira das Naus. Contribuiu também para o desenho do Palácio do Grilo nas margens do
Tejo e concebeu o projeto inicial para a estátua de D. José I, que seria erguida no Terreiro do Paço, em
Lisboa, pelo escultor Joaquim Machado de Castro. Essas realizações evidenciam sua influência na
transformação arquitetônica e urbanística da capital.

O plano propunha ruas amplas, alinhadas e quarteirões uniformes, com edifícios de fachadas simples que
refletiam uma "harmonia de proporções". A nova cidade resolvia os desafios de salubridade e circulação que
assolavam Lisboa desde o século XVI. Em apenas três anos, o plano foi finalizado e as obras tiveram início.
Uma monumental praça, aberta ao Tejo, estava planeada para o antigo Terreiro, digna da capital de um
império. Este cenário proporcionaria ao jovem ministro a oportunidade ideal para afirmar seu plano
reformista. Palácios e igrejas foram excluídos da nova Praça do Comércio, indicando o que estava por vir.

Muitos dos trabalhos de Vieira Lusitano se perderam na terrível catástrofe do terramoto de 1755,
sendo mais notável de todos eles o teto da Igreja dos Mártires, pintado em 1750, e em que se
via representada a tomada de Lisboa por D. Afonso Henriques.

Aardbeeving te Lissabon in den Jaare 1755 (Terramoto em Lisboa no ano de 1755), VINKELES, Reinier
(1741-1816); BOHN, François (1757-1819), gravura

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