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Sem o desfecho mágico dos contos de fadas, em que os sapos são transformados em
príncipes e as servas em majestosas princesas, o novo livro de Mary Del Priore revela a
vida privada da Princesa Isabel e de seu marido, o Conde d’Eu, em suas difíceis
relações com os jogos políticos de seu tempo. Assim, O castelo de papel é também boa
metáfora para descrever o processo que transforma o casal d’Eu em sapos no gradativo
desmoronamento e desgaste de suas figuras públicas que culmina com o golpe militar
de 1889.
Dedicada à vida conjugal, esposa fiel, apaixonada pelo marido, boa mãe, Isabel, que não
chegaria a ver o Terceiro Reinado, teria construído seu castelo sobre a rocha, que
considerava mais firme, a felicidade com o Conde d’Eu, o seu Gastão. Seus interesses
pouco pairavam no Paço Imperial. Antes, preferia a serra de Petrópolis, dedicando-se à
educação dos filhos, às viagens com o marido, à religião católica e às obras caritativas.
Com uma escrita agradável e instigante, rico manejo das fontes e excelente domínio
historiográfico, a autora fundamenta seus argumentos debruçando-se sobre o
posicionamento de Isabel e de Gastão diante de um mundo que desmoronava em torno
deles. O cenário político era talvez um pano de fundo desbotado que a princesa via com
olhos míopes e distantes e o seu príncipe com pessimismo e sentimento de impotência.
O conde, a quem Isabel dizia amar mais que a si própria, embora possuísse uma lucidez
política que entrevia a breve ruína do regime, era visto por muitos como estrangeiro
enxerido. Ela, entretanto, demorou a perceber as tendências que anunciavam que o
poder escapava de suas mãos, e os novos tempos que exigiam novas respostas.
Afastados do poder, ela e o marido seguiram unidos para o exílio, e assim permanecem
até a final separação. Escrito para o grande público, mas também altamente
recomendado ao especializado, O castelo de papel é um convite a entrever um casal de
príncipes demasiado humano, em sua intimidade, desejos, frustrações, defeitos e
méritos em meio às tensões e desafios que marcaram o final da monarquia no país.
Afastados do trono, sem a coroa e longe do Brasil, pode-se dizer que, de algum modo,
foram felizes para sempre.
Robert Daibert Jr. eBárbara Simões são professores da Universidade Federal de Juiz
de Fora.